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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 035.

458/2017-8

GRUPO I – CLASSE VI – Plenário


TC 035.458/2017-8.
Natureza: Representação.
Entidade: Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura –
MEC.
Responsáveis: Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e
Cultura – MEC (08.469.280/0001-93); Tiago Victor da Silva
(094.397.324-40).
Interessado: Teczap Comercio e Distribuição Ltda.
(08.619.872/0001-44).
Representação legal: não há.

SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO DE
EMPRESA LICITANTE. FUNDAÇÃO
NORTE RIO-GRANDENSE DE PESQUISA E
CULTURA. HABILITAÇÃO IRREGULAR
NO ÂMBITO DE PREGÃO ELETRÔNICO.
ATESTADO DE CAPACIDADE TÉCNICA
MATERIALMENTE INAPTO PARA FINS
DE HABILITAÇÃO. REJEIÇÃO INDEVIDA
DE INTENÇÃO DE RECURSO DE
EMPRESA LICITANTE. PROCEDÊNCIA
PARCIAL. DETERMINAÇÕES. CIÊNCIA
DE OCORRÊNCIAS À ENTIDADE.

RELATÓRIO

Adoto como relatório a instrução de mérito produzida pela Secex-RN (peça 20), que
contou com a anuência do corpo dirigente da unidade (peças 23 e 24), vazada nos seguintes termos:
INTRODUÇÃO
1. Trata-se de representação da empresa Teczap Comércio e Distribuição Ltda. – EPP, CNPJ
08.619.872/0001-44 (Teczap), contra atos praticados pela Administração no curso do Pregão Eletrônico
18/2017 (Pregão 18/2017), da Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec), fundação
de apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O objeto do pregão fora a aquisição
de sistema computacional, com no mínimo 24 nodes Quad Core, oito Gigabytes de RAM e demais
especificações descritas em Termo de Referência (peça 1, p. 19 e 30).
HISTÓRICO
2. Em síntese, a representante Teczap alega que a condução do pregão se deu com a prática de atos
irregulares, que foram os seguintes:
2.1. Habilitação da licitante Conthales Comércio e Construções Eirelli – ME, CNPJ 05.145.997/0001-
91 (Conthales), sem comprovação da veracidade das informações constantes do atestado de capacidade
técnica, com possível fraude.
2.1.1. A Teczap afirmou (peça 1, p. 2) que:
2.1.1.1. O Atestado de Capacidade Técnica apresentado pela Conthales havia sido emitido pela empresa
All-Mobile Tecnologia Indústria e Comércio Ltda., CNPJ 14.027.737/0001-02 (All-Mobile);
2.1.1.2. As informações registradas nesse documento (peça 1, p. 6) teriam sido objeto de diligência pelo
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pregoeiro, na forma de solicitação para que a Conthales apresentasse as notas fiscais referentes aos
serviços registrados no Atestado (peça 1, p. 18);
2.1.1.3. As notas fiscais apresentadas pela Conthales eram referentes a outros fornecimentos e não
àqueles indicados no Atestado de Capacidade Técnica inicialmente apresentado por essa empresa, no
âmbito do Pregão 18/2017 (peça 1, p. 3);
2.1.1.4. Mesmo assim, a Conthales havia sido habilitada pelo pregoeiro da licitação (peça 1, p. 3);
2.1.2. Ainda com relação à confiabilidade do teor do Atestado de Capacidade Técnica apresentado pela
Conthales, a Teczap destacou que:
2.1.2.1. A All-Mobile, emitente do Atestado de Capacidade Técnica da Conthales (peça 1, p. 6) tinha
como uma das sócias, a Sra. Jaqueline Ribeiro da Silva Vedana Espíndola, CPF 055.080.479-05;
2.1.2.2. Essa Sra. Jaqueline Ribeiro da Silva Vedana Espíndola seria, igualmente, procuradora da
licitante Conthales, conforme procuração juntada aos autos (peça 1, p. 12).
2.1.3. Para a Teczap, a conexão apontada reforçaria a compreensão quanto à não confiabilidade das
informações constantes do Atestado de Capacidade Técnica emitido pela All-Mobile, bem como
insinuaria a possibilidade de ocorrência de fraude à licitação (peça 1, p. 4), o que, ao fim, deveria ter
levado a Administração, mesmo, à aplicação de sanção à licitante Conthales, nos termos da Lei
10.520/2002, art. 7º (peça 1, p. 4), e não à habilitação da licitante, como restou concretizado.
2.2. Recusa à intenção de recurso apresentada pela representante.
2.2.1. Para esta situação, que é o desdobramento da ocorrência anterior, a Teczap destacou que:
2.2.1.1. Manifestou intenção de apresentação de recurso, após a publicação da habilitação da Conthales
(peça 1, p. 3 e 16);
2.2.1.2. O pregoeiro rejeitou a intenção de apresentação de recurso, dado que, em seu entender, a
empresa Conthales já tinha entregue o atestado de capacidade técnica, conforme item 9.7 do edital, e
diligências teriam demonstrado que a Conthales havia entregue os objetos de certames anteriores de
outros órgãos, dos quais tinha participado e vencido (peça 1, p. 3 e 16);
3. Ante o quadro, a Teczap encerrou sua peça com requisição para que:
3.1. O Pregão 18/2017 fosse suspenso e todos os seus atos cancelados;
3.2. A Conthales fosse desclassificada do pregão, com a convocação das empresas seguintes; e
3.3. Igualmente a Conthales fosse punida, por cometer fraude e falsificar documentos.
4. A análise e a proposta da primeira instrução (peça 5), com o direcionamento dado pelo gabinete do
Ministro Relator Vital do Rêgo (post-it de 2/1/2018), resultaram no encaminhamento de diligência à
Funpec (peça 9), para que esta se manifestasse quanto às alegadas irregularidades relatadas pela Teczap,
bem como no chamamento em oitiva da licitante vencedora Conthales (peça 10), de modo a lhe garantir o
direito à ampla defesa e à apresentação de contraditório.
5. A Conthales não se manifestou, embora tenha recebido a oitiva em 12/1/2018 (peça 13).
6. Já a Funpec, por meio do Ofício 84/2018-DG, de 16/1/2018 (peça 11), apresentou as seguintes
justificativas:
6.1. O Pregão 18/2017 estava suspenso “por prudência e cautela” e o contrato não havia sido celebrado
(peça 11, p. 1);
6.2. A direção da fundação recomendara o aprofundamento da instrução do processo, especialmente
quanto à alegação de que a Conthales havia fraudado o certame (peça 11, p. 1);
6.3. A solicitação para que a Conthales apresentasse notas fiscais tinha se dado para que fosse
verificado se a licitante já havia fornecido equipamentos compatíveis com o objeto do Pregão 18/2017,
sem necessidade de que o teor dessas notas se referisse estritamente ao conteúdo do Atestado de
Capacidade Técnica inicialmente apresentado por aquela empresa (peça 11, p. 2 e 3);

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6.4. O fato de duas empresas possuírem sócio em comum não constituiria vício ou irregularidade, senão
quando de convites, contratações por dispensa de licitação, existência de relação entre licitante e
responsável pela elaboração do projeto executivo, e contratação de uma das empresas para a fiscalização
do serviço de outra; tudo conforme jurisprudência do TCU (peça 11, p. 4-7); e
6.5. A recusa para a apresentação de recurso havia se dado em face da “convicção de que a
apresentação do atestado de qualificação técnica e as notas fiscais colhidas na instrução do certame
atendia[m] ao item 9.7 o instrumento convocatório” (peça 11, p. 8).
7. É a situação até o presente.
EXAME DE ADMISSIBILIDADE
8. Remanescente a apreciação e decisão quanto à admissibilidade da Representação da TecZap,
ratifica-se a análise da primeira instrução (peça 5, p. 2-3), que foi pelo acolhimento da inicial (peça 1,
p. 1-5), tendo por fundamento os termos da Lei 8.666/1993, art. 113, § 1º, do Regimento Interno do TCU
(RI/TCU), art. 235 e 237, inc. VI, e da Resolução TCU 259/2014, art. 103, § 1º e 106, in fine.
EXAME TÉCNICO
9. Dispondo dos contra-argumentos da Funpec (peça 11), e considerando que os autos ainda carecem
de apreciação de pedido de adoção de medida cautelar, este exame é retomado com o fito inicial de
verificar se os relatos trazidos pela Teczap (peça 1, p. 1-5) apresentam os elementos que devem
fundamentar a concessão de medidas cautelares pelo TCU, nos termos do RI/TCU, art. 276, que são a
plausibilidade jurídica e ao risco de ineficácia da decisão de mérito por parte do Tribunal, se
extemporânea em face da situação atualizada do Pregão 18/2017.
10. A começar pela análise quanto à plausibilidade jurídica, verifica-se que; relativamente à alegada
habilitação indevida da Conthales, e, independentemente das alegações trazidas pela Funpec, de que a as
notas fiscais solicitadas não precisavam guardar coerência com o teor do Atestado de Capacidade Técnica
(parágrafo 6.3); o conjunto probatório apresentado pela licitante vencedora não se revelou suficiente para
comprovar a sua qualificação técnica.
11. Isso se conclui a partir da análise do Atestado em si, das características da atividade da All-Mobile,
da relação da Sr. Jaqueline Ribeiro da Silva Vedana Espíndola, proprietária da All-Mobile com a
Conthales, vencedora do Pregão 18/2017, como explicitado a seguir:
12. Das características internas do Atestado de Capacidade Técnica emitido pela All-Mobile
12.1. Aqui, primeiramente, tem-se que o teor do Atestado de Capacidade Técnica, emitido pela All-
Mobile em favor da Conthales, não apresentou especificidade suficiente, que permitisse à Funpec a
realização de uma análise comparativa suficiente. Isso é o que se percebe do cotejo das descrições dos
objetos constantes do Termo de Referência do edital (peça 1, p. 30) e do Atestado de Capacidade Técnica
apresentado (peça 1, p. 6), conforme realçado à frente:

Descrição dos produtos


Descrição do objeto do Pregão 18/2017 fornecidos pela
Conthales à All-Mobile

Sistema computacional com no mínimo 24 nodes quad core, 8g de ram e • 20 Microcomputadores


com as seguintes configurações: descrição do cluster: 1 servidor frontend Lenovo;
e storage intel; cpu intel 15 7600 vpro; 16gb ram ddr4 2133mhz kingston • 15 Servidores de alto
udimm; 1 hd com capacidade de 300gb para instalação do sistema desempenho Lenovo,
operacional; 6 hds (256mb cache 7200rpm satã 6gb/s) com 8tb de IBM;
capacidade cada um; fonte evga 750w bronze 80+; placa mãe compatível
• 30 Softwares (Sistemas
c/ cpu + 7 hds; chassis nilko 4u nk211 eatx-hd 16 baias. 15 nós intel e5
Operacionais Windows)
2630v4 128gb (20 core - 40 threads); dual cpu e5 2630v4 deca core 2.2-
3.1ghz; 128gb ram ddr4 2133mhz kingston rdimm; 1 hd com capacidade • 15 Monitores de 23.6"
de 300gb para instalação do sistema operacional; mb supermicro mbd-x1 AOC.

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odrl-l-0 dual xeon; fonte 750 evga 80+ bronze 110-bq-0750-v0; gabinete
2u nilko rack 19. Cluster infraestrutura: rack 44u 19" 670mm; switch hp
jg708b 1420-24g; duas unidades; cabeamento elétrico e rede cat. 6; kvm
trendnet 16 portas, acompanha cabeamento; bandeja móvel com monitor
integrado tft aten. Instalação. Garantia mínima de 5 anos

12.2. À luz das duas descrições, pergunta-se: ante o nível de especificidade na descrição do objeto (peça
1, p. 30), como a declaração do Atestado de Capacidade Técnica foi considerada útil para se concluir que
os materiais fornecidos pela Conthales eram “compatíveis e pertinentes com o objeto” da licitação,
conforme item 9.7 do edital (peça 1, p. 23)?
12.3. Semelhantemente, as notas fiscais não elucidam a questão, como se verifica das descrições dos
itens informados como fornecidos pela Conthales (peça 17, p. 1-4), que foram:
12.3.1. Servidor Lenovo System x3650 MS;
12.3.2. Workstation Lenovo Modelo Thinkserver TS1509;
12.3.3. Workstation Prorege Modelo Promax Pro; e
12.3.4. Servidor Lenovo System X3650 MS – com garantia Lenovo 60 meses 24/7 2h.
12.4. Acrescenta-se que o documento Atestado de Capacidade Técnica, além de não apresentar
especificidade suficiente, também não contou com a indicação de referências que pudessem ser checadas,
que, caso comprovadas, emprestariam confiabilidade ao atestado.
12.5. Outra incongruência que se nota diz respeito à assinatura aposta no documento, carente de
autenticidade, dado que sem registro de verificação dessa natureza, por cartório ou pela Funpec.
12.6. Ainda em relação à assinatura, não há indicação de que a signatária dispusesse de lastro técnico
formal ou material que lhe permitisse “atestar” a capacidade técnica de uma terceira empresa. No
contexto, vê-se que a signatária destacou, majoritariamente, aspectos comerciais da capacidade da
Conthales, senão pela indicação de que essa empresa também prestara a “devida assistência técnica”.
12.7. Todo esse quadro sinalizava que o Atestado de Capacidade Técnica, tal como apresentado, além de
não demonstrar conexão suficiente com o objeto do certame (parágrafo 12.1), também não dispunha de
informações ou referências que permitissem à verificação da confiabilidade e da autenticidade do que ali
estava registrado, ou seja, o Atestado não apresentava carga material, prestando-se, de outro modo, tão-
somente, a servir de subsídio e evidência, no caso de eventuais procedimentos posteriores de
responsabilização.
12.8. Dessa forma, constata-se que as características internas do documento Atestado de Capacidade
Técnica, emitido pela All-Mobile em favor da Conthales, bem como as notas fiscais posteriormente
apresentadas, não se revelavam suficientes para subsidiar uma análise pela habilitação da empresa, no
âmbito do Pregão 18/2017.
13. Das características da atividade da All-Mobile
13.1. A esse respeito, embora os dados do CNPJ indiquem que a All-Mobile tenha como atividade
econômica a “fabricação de equipamentos de informática”, CNAE 2621-3-00 (peça 18), foi verificado
que a empresa também tem cadastrada 22 atividades econômicas secundárias (peça 19), que
compreendem atuações de comércio varejista ou atacadista de produtos diversos, como automóveis;
motocicletas; vestuário e acessórios, bicicletas e triciclos; cosméticos; ferragens e ferramentas;
medicamentos; artigos fotográficos; entre outros.
13.2. Aqui, independentemente da miríade de áreas distintas de negócio identificadas, o que importa para
essa análise é o fato de a All-Mobile não somente atuar na “fabricação de equipamentos”, mas também ter
atuação comercial, nesse caso, semelhante à atividade da Conthales.
13.3. Nessa seara, relata-se que pesquisa realizada, em 22/2/2018, no portal dados.gov.br
(http://compras.dados.gov.br/licitacoes/v1/licitacoes.html?cnpj_vencedor=14027737000102) constatou
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que a All-Mobile venceu 36 pregões eletrônicos somente junto a órgãos federais, entre outubro e
dezembro de 2011.
13.4. Com esse contexto, o que resta sem clareza é se o fornecimento declarado no Atestado de
Capacidade Técnica se deu para o fim de posterior revenda pela própria All-Mobile, no âmbito de sua
atuação comercial, ou, por exemplo, para utilização interna. Quanto a isto, verifica-se que, em ambos os
casos, as conclusões depõem contra o relatado no atestado, conforme exposto a seguir:
13.4.1. Se o fornecimento de equipamentos de informática e softwares pela Conthales para a All-
Mobile se deu para posterior revenda, então, a serventia do conteúdo do atestado perderia seu objeto,
visto que não era este o tipo de capacidade técnica visado pela Funpec, mas o de fornecimento de
produtos, com instalação e assistência técnica, o que não estaria contemplado neste tipo de situação;
13.4.2. Se, por outro lado, o fornecimento se deu para a própria All-Mobile, em sua estrutura
administrativa, constata-se que isso não se mostra compatível com o aparente porte da empresa, dado que
seu endereço revela uma operação em uma edificação residencial, com indícios de que não disporia de
estrutura física suficiente para comportar vinte computadores, quinze servidores e quinze monitores de
23.6 polegadas, além das demais atividades da empresa.
13.4.3. Essa compreensão decorre da imagem a seguir, capturada na internet em 22/2/2018
(https://maps.google.com.br), a partir do endereço da empresa registrado na base do CNPJ, na Rua Bom
Pastor, 446, Ipiranga, São José – Santa Catarina (peça 18).

13.5. Vê-se, assim, que essas características corroboram em sentido oposto ao da convicção do
pregoeiro, de que o Atestado de Capacidade Técnica emitido pela All-Mobile “atendia ao item 9.7 do
instrumento convocatório” do Pregão 18/2017 (peça 11, p. 8).
14. Da relação da Sr. Jaqueline Ribeiro da Silva Vedana Espíndola, proprietária da All-Mobile com a
Conthales, vencedora do Pregão 18/2017
14.1. Como informado pela Teczap, a Sr. Jaqueline Espíndola, representante da Conthales (peça 1, p. 12)
também era, e ainda é, sócia da All-Mobile (peça 18), que emitiu o Atestado que declarou a capacidade
técnica da Conthales.

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14.2. Quanto a esta relação, avalia-se que a argumentação trazida pela Funpec (parágrafo 6.4) não seria
aplicável ao caso concreto, visto que a Conthales e a All-Mobile não estavam, ambas, concorrendo no
Pregão 18/2017.
14.3. De outro modo, os vínculos da Sra. Jaqueline Espíndola com a Conthales e All-Mobile se
assemelham a uma das situações em que a jurisprudência do TCU, citada pela Funpec (peça 11, p. 7),
considera, sim, haver ilegalidade, que é nos casos em que se tem a contratação de uma empresa para
fiscalizar o serviço da outra, quando ambas dispõem de sócio em comum. O fundamento para tal
compreensão decorre da análise de que tal quadro revela claro conflito de interesses, e, no caso concreto
em análise, o contorno é semelhante.
14.4. Na hora em que uma empresa, da qual sou sócio, atesta a capacidade de outra empresa, por mim
representada, é como se houvesse uma autodeclaração de capacidade técnica, o que depõe contra o
racional que fundamenta uma verificação de capacidade técnica no âmbito das licitações públicas.
14.5. Assim, sem se imiscuir em análise quanto à possibilidade de ocorrência de fraude no Pregão
18/2017, a mera ciência de que a Sra. Jaqueline Espíndola era representante da Conthales, vencedora do
certame, e, ao mesmo tempo, sócia da All-Mobile, implicaria, por si só, desconsiderar o Atestado
apresentado como sendo útil para formar convicção quanto à suficiência da capacidade técnica da
Conthales, bem como em relação à legalidade de sua posterior habilitação.
15. Ante à análise exposta nos parágrafos 12 a 14 acima, vê-se que o procedimento de verificação de
qualificação técnica promovido pela condução do Pregão 18/2017 não se deu em atenção à Lei 8.666/93,
de aplicação subsidiária em pregões, especificamente em relação ao art. 30, inciso II, que determina que a
qualificação técnica deve buscar a “comprovação da aptidão para o desempenho da atividade pertinente e
compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação”.
16. As providências propostas para o caso são apresentadas no parágrafo 25 desta instrução.
17. Quanto à negativa do pregoeiro à pretensão de interposição de recurso apresentada pela Teczap,
constata-se que o jurisdicionado procedeu de forma contrária à farta jurisprudência do TCU, cujos alguns
enunciados são apresentados a seguir:

Acórdão Enunciado
No pregão, o exame do registro da intenção de recurso deve limitar-se à
1.168/2016-Plenário-
verificação dos requisitos de sucumbência, tempestividade, legitimidade,
Ministro Relator
interesse e motivação, não podendo o mérito do recurso ser julgado previamente
Bruno Dantas
à apresentação das razões e contrarrazões recursais.
No pregão, eletrônico ou presencial, o juízo de admissibilidade das intenções de
2.961/2015-Plenário-
recurso deve avaliar tão somente a presença dos pressupostos recursais
Ministro Relator
(sucumbência, tempestividade, legitimidade, interesse e motivação), constituindo
Benjamim Zymler
irregularidade a denegação fundada em exame prévio do mérito do pedido.
No pregão eletrônico, é irregular a recusa pelo pregoeiro do registro de intenção
757/2015-Plenário- de recurso manifestado por licitante que preencha os pressupostos recursais da
Ministro Relator sucumbência, tempestividade, legitimidade, interesse e motivação, não cabendo
Bruno Dantas ao pregoeiro analisar o mérito do recurso antes do prazo previsto para sua
apresentação (art. 26 do Decreto 5.450/2005).
Na fase de intenção de recurso em pregão, a análise imediata do mérito de
1.615/2013-Plenário-
recurso pelo pregoeiro, com negativa do recurso de licitante, ofende as
Ministro Relator
disposições normativas que regem a matéria, já que, nessa etapa processual,
José Jorge
deve-se examinar tão só a admissibilidade do expediente.

18. Em síntese, verifica-se que o pregoeiro não estava autorizado a proceder juízo de mérito quanto ao
teor do recurso pretendido pela Teczap, independentemente da convicção de que dispusesse naquele
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momento relativamente ao mérito do pretenso recurso, como por ele declarado (peça 11, p. 8).
19. As providências propostas para o caso são apresentadas no parágrafo 25 desta instrução.
20. Com a conclusão pela presença da fumaça do bom direito nas alegações trazidas pela Teczap
(parágrafos 10 a 18), resta o exame quanto ao risco de ineficácia da decisão de mérito pelo TCU, se
intempestiva em face da situação atualizada do Pregão 18/2017.
21. Quanto a isso, realça-se que, hoje, 23/2/2018, o Pregão 18/2017 encontra-se adjudicado e
homologado (peças 15 e 16), conquanto suspenso provisoriamente por decisão discricionária da Funpec
(parágrafo 6.1). Dessa forma, essa decisão pode ser revertida a qualquer momento, com a consequente
contratação da empresa licitante vencedora do certame, cuja habilitação quanto à qualificação técnica não
foi verificada e comprovada de forma suficiente, conforme análise dessa instrução (parágrafos 10 a 15).
22. Ante à realidade fática, vê-se que permanece o risco de que uma decisão de mérito do TCU venha a
ser proferida com o comprometimento de sua eficácia, no caso de a deliberação ocorrer somente após o
cumprimento do rito processual ordinário dessa Corte.
23. Dito isso, fundamentada no RI/TCU, art. 276, a proposta de suspensão cautelar do Pregão 18/2017,
conforme pedido no item 1 da Representação da Teczap (peça 1, p. 5), seria um encaminhamento possível
de ser adotado nessa instrução.
24. Não obstante, uma vez que as questões centrais reclamadas pela Teczap, concernentes à
regularidade do ato de habilitação e à recusa ao direito de apresentar recurso, já foram abordadas,
inclusive levando em conta as contrarrazões do Funpec (parágrafos 10 a 18); e que essa análise não
suscitou novos pontos que requeiram exame posterior, avalia-se que o presente Exame Técnico pode ser
apreciado como já tendo abrangido o mérito da matéria, o que, por seu turno, dispensaria o
encaminhamento com propostas de natureza preliminar, tal como o são as cautelares.
25. Os efeitos dessa compreensão na análise quanto à procedência do requerido pela Representante
(parágrafo 3), bem como os desdobramentos decorrentes para o fim dos encaminhamentos a serem
propostos, são os seguintes:
25.1. Quanto ao pedido de suspensão do Pregão 18/2017, (peça 1, p. 5, item 1), compreende-se que o
requerido perdeu o objeto, dada a análise de que o encaminhamento dos autos já pode, desde agora, se dar
quanto ao mérito da matéria (parágrafo 24);
25.2. Para o cancelamento de todos os atos do certame (peça 1, p. 5, item 1), avalia-se o pedido como
desproporcional, uma vez que as máculas apresentadas pela Teczap, consideradas procedentes nessa
instrução, não comprometeram a totalidade do procedimento licitatório, mas o ato de habilitação de
Conthales e os dele decorrentes, como a adjudicação e a homologação. Assim, à luz do princípio da
proporcionalidade, considera-se suficiente e aderente ao marco legal (Constituição Federal, art. 71, inc.
IX, e Lei 8.443/1992, art. 45) que seja assinado prazo para que a Funpec anule os atos de habilitação da
empresa Conthales e todos os atos dele decorrentes, praticados no curso do Pregão 18/2017, tais como a
adjudicação e a homologação;
25.3. Para o pedido de punição à Conthales e aos seus sócios, em face da alegada fraude (peça 1,
p. 5, item 2), compreende-se que não foi possível concluir que o documento apresentado era, em si
mesmo, fraudulento, com informações, comprovadamente, falsas. A esse respeito, o que essa instrução
pôde concluir foi que o teor do documento apresentado, além de não demonstrar conexão suficiente com
o objeto do certame, não dispunha de informações ou referências que permitissem a verificação da
confiabilidade e da autenticidade do que ali estava registrado (parágrafo 12).
25.4. Quanto à desclassificação da Conthales (peça 1, p. 5, item 3), trata-se de questão que dispensa
análise, dado que será efeito do proposto no parágrafo 25.2.
26. Este é o Exame Técnico ante a situação relatada nos autos.
CONCLUSÃO
27. A representação apresentada pela Teczap (peça 1, p 1-5) deve ser conhecida por preencher os
requisitos previstos no RI/TCU, arts. 235 e 237, inc. VII; na Lei 8.666/1993; art. 113, § 1º; e na

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Resolução TCU 259/2014, art. 103, § 1º (parágrafo 8).


28. Dispondo da manifestação da Funpec (peça 11), o Exame Técnico concluiu que o procedimento de
verificação de qualificação técnica promovido pela condução do Pregão 18/2017 não se deu em atenção à
Lei 8.666/93, de aplicação subsidiária em pregões, especificamente em relação ao art. 30, inciso II, que
determina que a qualificação técnica deve buscar a “comprovação da aptidão para o desempenho da
atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação”
(parágrafos 12 a 14.5).
29. Também foi verificado que a recusa do pregoeiro quanto à intenção de interposição de recurso,
apresentada pela Teczap, com antecipação de juízo de mérito, contrariou jurisprudência pacífica do TCU,
como, por exemplo, os Acórdãos 1.168/2016-Plenário-Ministro Relator Bruno Dantas; 2.961/2015-
Plenário-Ministro Relator Benjamim Zymler; 757/2015-Plenário-Ministro Relator Bruno Dantas; e
1.615/2013-Plenário-Ministro Relator José Jorge (parágrafos 17 e 18).
30. O Exame também considerou que os autos já poderiam ser objeto de análise de mérito (parágrafos
20 a 24).
31. Com isso, o encaminhamento decorrente da análise, com fundamento na Constituição Federal, art.
71, inc. IX, e na Lei 8.443/1992 art. 45, foi de que o TCU assinasse prazo para que a Funpec anulasse os
atos de habilitação da empresa Conthales e todos os atos dele decorrentes, praticados no curso do
Pregão 18/2017, tais como a adjudicação e a homologação (parágrafo 25.2);
32. Quanto às demais petições da Teczap (peça 1, p. 5), o exame concluiu que:
32.1. Os pedidos de suspensão do Pregão 18/2017 e de desclassificação da empresa Conthales haviam
perdido seu objeto (parágrafos 25.1 e 25.4);
32.2. Determinar o cancelamento de todos os atos do certame seria desproporcional ao conjunto de
irregularidades identificadas no processo (parágrafo 25.2);
32.3. Não havia evidências nos autos que justificassem a punição da empresa Conthales em face de
alegada prática de fraude (parágrafo 25.3).
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
33. Ante o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) Conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos no
Regimento Interno do TCU, artigos 235 e 237, inciso VII, na Lei 8.666/1993, art. 113, § 1º e na
Resolução TCU 259/2014, art. 103, § 1º, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente;
b) Com fundamento na Constituição Federal, art. 71, inc. IX, e na Lei 8.443/1992 art. 45, assinar
prazo para que a Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura anule o ato de habilitação da
empresa Conthales e todos os atos dele decorrentes, praticados no curso do Pregão Eletrônico 18/2017,
tais como a adjudicação e a homologação;
c) Determinar à Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura, com o respaldo do
Regimento Interno do TCU, art. 250, inciso II, que encaminhe a este Tribunal, no prazo de trinta dias a
contar da ciência de deliberação, informações acerca das providências tomadas em relação ao
cumprimento do determinado no subitem “b”, acima;
d) Com fundamento na Resolução TCU 265/2014, art. 7º, dar ciência à Fundação Norte-Rio-
Grandense de Pesquisa e Cultura quanto às falhas descritas a seguir, para que sejam adotadas medidas
internas para a prevenção de ocorrências semelhantes:
d.1) Habilitação de licitante, sem a precedente comprovação objetiva da qualificação
estabelecida pelo Pregão Funpec 18/2017, em afronta à Lei 10.520/2002, art. 4º, inc. XIII, e art. 9º; e à
Lei 8.666/1993, art. 30, inc. II, que determina que a verificação quanto à qualificação técnica de licitantes
deve comprovar, objetivamente, se estes estão aptos ou não para o desempenho da atividade pertinente e
compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação;
d.2) Recusa ao registro de intenção de apresentação de recurso por licitante, no curso do Pregão
Funpec 18/2017, o que contraria a jurisprudência do TCU, a exemplo dos Acórdãos 1.168/2016-Plenário-
Ministro Relator Bruno Dantas; 2.961/2015-Plenário-Ministro Relator Benjamim Zymler; 757/2015-
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 035.458/2017-8

Plenário-Ministro Relator Bruno Dantas; e 1.615/2013-Plenário-Ministro Relator José Jorge, que


consubstanciam que o juízo de admissibilidade das intenções de recurso deve avaliar tão somente a
presença dos pressupostos recursais (sucumbência, tempestividade, legitimidade, interesse e motivação),
constituindo irregularidade a denegação fundada em exame prévio do mérito do pedido;
e) Dar ciência do Acórdão a Representante Teczap Comércio e Distribuição Ltda. – EPP
(CNPJ 08.619.872/0001-44) e à Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura, destacando que o
relatório e o voto que fundamentam essa deliberação estão disponíveis no endereço eletrônico
www.tcu.gov.br/acordaos, e que, caso tenham interesse, o TCU pode encaminhar-lhes cópia desses
documentos, sem custos para Vossas Senhorias;
f) Autorizar a unidade técnica a arquivar o presente processo, após a verificação do cumprimento
das medidas pela Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura, conforme Regimento Interno do
TCU, art. 169, inc. V.
É o relatório.

9
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 035.458/2017-8

VOTO

Examina-se representação (peça 1), com pedido de medida cautelar, da empresa Teczap
Comércio e Distribuição Ltda. – EPP, contra atos praticados no curso do Pregão Eletrônico 18/2017,
realizado pela Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec), fundação de apoio da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
2. O objeto do certame trata da aquisição de sistema computacional, com no mínimo 24
nodes Quad Core, oito gigabytes de RAM e demais especificações descritas no edital e no termo de
referência (peça 1, p. 19 e 38). O valor previsto da contratação é de R$ 389.500,00.
3. Em suma, a representante alega as seguintes irregularidades havidas na licitação:
a) habilitação da licitante Conthales Comércio e Construções Eirelli – ME sem comprovação da
veracidade das informações constantes do atestado de capacidade técnica, uma vez que o
pregoeiro promoveu diligência para solicitar, da empresa, cópias das notas fiscais a que se
referiam os serviços declarados no atestado, mas os documentos fiscais apresentados se
referiam a outros serviços; ainda assim, a Conthlaes foi habilitada pelo pregoeiro;
b) ocorrência de fraude, uma vez que a empresa emitente do atestado de capacidade técnica (All-
Mobile Tecnologia Indústria e Comércio Ltda.) teria como uma das sócias a Sra. Jaqueline
Ribeiro da Silva Vedana Espíndola, que também seria procuradora da licitante Conthales,
conforme procuração juntada aos autos (peça 1, p. 12);
c) rejeição à intenção de recurso da ora representante (Teczap), após a habilitação da Conthales.
4. Com base nessas alegações, a representante solicita a suspensão do Pregão 18/2017 e o
cancelamento de todos os seus atos; a desclassificação da empresa Conthales, com a convocação das
empresas seguintes; e punição à empresa Conthales, pelo cometimento de fraude e por falsificação de
documentos.
5. Promovidas diligência junto à Funpec e oitiva da licitante vencedora Conthales, das quais
apenas a primeira se manifestou, a Secex-RN se pronunciou uniformemente, já em análise de mérito
(peças 20, 23 e 24), concluindo pela procedência parcial da representação e ofereceu encaminhamento
no sentido de que seja assinado prazo para anulação do ato de habilitação da empresa Conthales e os
dele decorrentes e dar ciência das ocorrências relatadas nesta representação à fundação.
6. Cumpre ainda registrar que o Pregão 18/2017 encontra-se atualmente adjudicado e
homologado (peças 15 e 16). No entanto, a Funpec informou que o certame encontra-se suspenso
(peça 11, p. 1), “por prudência e cautela, em face da representação de iniciativa da empresa Teczap” no
TCU, com a assinatura do contrato junto à Conthales pendente.
7. Feito este breve resumo dos fatos, manifesto minha concordância com as análises
empreendidas pela unidade técnica, de sorte de que as incorporo às minhas razões de decidir, sem
prejuízo de tecer comentários sobre as principais questões ora tratadas.
II
8. Preliminarmente, consigno que, preenchidos os requisitos previstos na Lei 8.666/1993
(art. 113, § 1º), no Regimento Interno do TCU (arts. 235 e 237, inc. VI) e na Resolução TCU 259/2014
(arts. 103, § 1º, e 106), a representação está apta a ser conhecida.
9. Conquanto seja possível a adoção nos presentes autos de medida cautelar com o fito de
suspender o certame em análise, uma vez que, conforme será exposto, estão presentes os pressupostos
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 035.458/2017-8

jurídicos para tanto, mostra-se mais plausível a tese encapada pela unidade técnica de apreciar
definitivamente a matéria, uma vez que as questões centrais reclamadas pela empresa representante já
foram abordadas, inclusive levando-se em conta as contrarrazões apresentadas pela Funpec.
III
10. Passo a examinar as alegadas irregularidades acerca da habilitação da Conthales, empresa
vencedora do certame.
11. A Funpec relatou, em sua manifestação, que as notas fiscais solicitadas à Conthales, que
foram objeto de diligência na fase de habilitação, não necessariamente precisavam guardar coerência
com o teor do atestado de capacidade técnica apresentado no âmbito do certame.
12. Ainda que essa tese se mostrasse aceitável, observam-se fragilidades no certificado
apresentado pela vencedora do certame que comprometem a comprovação de sua qualificação técnica.
Isso porque, conforme deixou assente a Secex-RN, o teor do Atestado de Capacidade Técnica em
questão, emitido pela All-Mobile em favor da Conthales, não apresentou especificidade suficiente que
permitisse uma plena comparação com o que estava sendo solicitado no edital.
13. Com efeito, o nível de especificidade na descrição do objeto constante do termo de
referência (peça 1, p. 30) contempla detalhamento técnico dos equipamentos, incluindo determinadas
configurações e marcas necessárias à solução. Em contrapartida, o atestado de capacidade técnica
apresentado pela Conthales (peça 1, p. 6) limita-se apenas a descrever que forneceu à All-Mobile
quatro itens de informática (microcomputadores, servidores, software e monitores), o que não permite
garantir que a contratada possui condições técnicas necessárias e suficientes para cumprir o contrato,
objetivo precípuo de tal exigência de habilitação.
14. Além disso, constata-se também que o atestado de capacidade técnica em comento não
contou com a indicação de referências que pudessem ser checadas, que, caso comprovadas,
emprestariam confiabilidade ao atestado.
15. Outra incongruência diz respeito à assinatura aposta no documento, carente de
autenticidade, dado que sem registro de verificação dessa natureza, por cartório ou pela Funpec. Ainda
em relação à assinatura, não há indicação de que a signatária dispusesse de lastro técnico formal ou
material que lhe permitisse “atestar” a capacidade técnica de uma terceira empresa.
16. Diante dessas fragilidades, o atestado, tal como apresentado, além de não demonstrar
conexão suficiente com o objeto do certame, também não dispunha de informações ou referências que
permitissem a verificação da confiabilidade e da autenticidade do que ali estava registrado, ou seja, ele
não apresentava a devida carga material necessária e, portanto, não se revelou suficiente para subsidiar
uma análise pela habilitação da empresa no âmbito do Pregão 18/2017.
IV
17. Passo a tratar dos indícios de fraude alegados pela representante no atestado de capacidade
técnica apresentado pela empresa vencedora do certame.
18. Conforme consulta de CNPJs, a Sra. Jaqueline Ribeiro da Silva Vedana Espíndola,
representante da vencedora da licitação Conthales (peça 1, p. 12), é sócia da All-Mobile, empresa que
emitiu o atestado de capacidade técnica em nome da primeira.
19. Com relação à questão, a Funpec afirmou que, conforme a jurisprudência do TCU, o fato
de duas empresas possuírem sócio em comum não constituiria irregularidade, senão quando da
realização de convites, contratações por dispensa de licitação, existência de relação entre licitante e

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 035.458/2017-8

responsável pela elaboração do projeto executivo, e contratação de uma das empresas para fiscalização
do serviço de outro.
20. O caso concreto em análise difere daqueles elencados pela fundação, de forma que a
argumentação trazida não é aplicável à situação verificada, qual seja, a existência de vínculo entre
empresa licitante e empresa atestadora dos serviços da primeira.
21. Embora não haja uma vedação expressa que proíba esse tipo de ocorrência, há um evidente
conflito de interesse, uma vez que o fato de a empresa All-Mobile apresentar em seu quadro societário
a mesma pessoa que também é representante da empresa Conthales, para a qual foi emitido o atestado,
equivale, na prática, a uma autodeclaração de capacidade técnica.
22. Considero que esse tipo de ocorrência pode até ser relevada em determinadas situações,
contudo, no presente caso, tendo em vista as já comentadas fragilidades apontadas no atestado em
questão, resta evidenciado que o procedimento de verificação da qualificação técnica na condução do
Pregão 18/2017 não se deu em atenção à Lei 8.666/1993, de aplicação subsidiária em pregões,
especificamente em relação ao art. 30, inciso II, que determina que a qualificação técnica deve buscar a
“comprovação da aptidão para o desempenho da atividade pertinente e compatível em características,
quantidades e prazos com o objeto da licitação”.
23. Não obstante, acompanho o entendimento da unidade técnica, para a qual não é possível
concluir, peremptoriamente, pela ocorrência de fraude, com utilização de documentação falsa. A
princípio, a conclusão possível com os elementos presentes nos autos fica circunscrita à comprovação
de que o teor do atestado de capacidade técnica contém fragilidades que impedem a devida correlação
com o que foi solicitado no edital, além de não dispor de informações ou referências que permitissem a
verificação da confiabilidade e da autenticidade do que ali estava registrado.
V
24. Por fim, trato da negativa do pregoeiro à pretensão de interposição de recurso apresentada
pela Teczap, ora representante.
25. A Teczap manifestou intenção de recurso após a publicação da habilitação da empresa
Conthales. No entanto, o pregoeiro rejeitou tal pretensão, por entender que a Conthales já tinha
entregue o atestado de capacidade técnica e as diligências teriam demonstrado que havia fornecido
objetos equivalentes em certames anteriores de outros órgãos.
26. Em sua manifestação, a Funpec alega que a recusa para a apresentação de recurso havia se
dado em face da convicção de que a apresentação do atestado de qualificação técnica e as notas fiscais
colhidas na instrução do certame atendiam ao edital.
27. Ocorre que a jurisprudência desta Casa é uniforme no sentido de que, na fase de intenção
de recursos em pregão, seja ele eletrônico ou presencial, o juízo de admissibilidade das intenções de
recurso não pode adentrar o mérito do pedido, mas se ater ao exame dos pressupostos recursais
(sucumbência, tempestividade, legitimidade, interesse e motivação).
28. No caso em tela, verifica-se que o pregoeiro não estava autorizado a analisar, na fase de
admissibilidade, o mérito do teor do recurso intencionado pela Teczap, independentemente de sua
convicção com relação aos questionamentos, razão pela qual deve ser dada a devida ciência da
ocorrência à Funpec.
29. Diante de todo o exposto, tendo em vista a irregular habilitação da empresa Conthales, a
ausência de comprovação de fraude e a indevida recusa à intenção de recurso por parte de empresa
licitante, a representação deve ser considerada parcialmente procedente, acolhendo-se a proposta de
encaminhamento sugerida pela unidade técnica, consistente na assinatura de prazo para que a
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 035.458/2017-8

Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura anule o ato de habilitação inquinado e todos os


atos dele decorrentes, bem como dar ciência das desconformidades ora relatadas.
Com essas considerações, anuindo aos pareceres prévios, VOTO para que o Tribunal
aprove a minuta de acórdão que ora submeto ao exame deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 21 de março de
2018.

VITAL DO RÊGO
Ministro Relator

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ACÓRDÃO Nº 602/2018 – TCU – Plenário

1. Processo nº TC 035.458/2017-8.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VI – Representação.
3. Responsáveis: Fundação Norte Rio-grandense de Pesquisa e Cultura – MEC (08.469.280/0001-93);
Tiago Victor da Silva (094.397.324-40).
4. Entidade: Fundação Norte Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura – MEC.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio Grande do Norte (Secex-RN).
8. Representação legal: não há.

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação contra atos praticados no
curso do Pregão Eletrônico 18/2017, realizado pela Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e
Cultura;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de Plenário,
ante as razões expostas pelo Relator em:
9.1. conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade
previstos no Regimento Interno do TCU, artigos 235 e 237, inciso VII, na
Lei 8.666/1993, art. 113, § 1º, e na Resolução TCU 259/2014, art. 103, § 1º, para, no mérito,
considerá-la parcialmente procedente;
9.2. com fundamento na Constituição Federal, art. 71, inc. IX, e na Lei 8.443/1992, art. 45,
assinar prazo para que a Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura anule o ato de
habilitação da empresa Conthales e todos os atos dele decorrentes, praticados no curso do Pregão
Eletrônico 18/2017, tais como a adjudicação e a homologação;
9.3. determinar à Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura, com o respaldo do
Regimento Interno do TCU, art. 250, inciso II, que encaminhe a este Tribunal, no prazo de 30 (trinta)
dias, a contar da ciência desta deliberação, informações acerca das providências tomadas em relação ao
cumprimento do determinado no subitem anterior;
9.4. com fundamento na Resolução TCU 265/2014, art 7º, dar ciência à Fundação Norte-
Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura quanto às falhas descritas a seguir, para que sejam adotadas
medidas internas para a prevenção de ocorrências semelhantes:
9.4.1. habilitação de licitante, sem a precedente comprovação objetiva da qualificação
estabelecida pelo Pregão Funpec 18/2017, em afronta à Lei 10.520/2002, art. 4º, inc. XIII, e art. 9º; e à
Lei 8.666/1993, art. 30, inc. II, que determina que a verificação quanto à qualificação técnica de
licitantes deve comprovar, objetivamente, se estes estão aptos ou não para o desempenho da atividade
pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação;
9.4.2. recusa ao registro de intenção de apresentação de recurso por licitante, no curso do
Pregão Funpec 18/2017, o que contraria a jurisprudência do TCU, a exemplo dos Acórdãos
1.168/2016, 2.961/2015, 757/2015 e 1.615/2013, todos do Plenário, segundo a qual o juízo de
admissibilidade das intenções de recurso deve avaliar tão somente a presença dos pressupostos
recursais (sucumbência, tempestividade, legitimidade, interesse e motivação), sem adentrar,
antecipadamente, o mérito da questão;
9.5. dar ciência desta deliberação à representante, Teczap Comércio e Distribuição Ltda. –
EPP (CNPJ 08.619.872/0001-44), e à Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura;

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9.6. autorizar a unidade técnica a arquivar o presente processo, após a verificação do


cumprimento das medidas pela Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura, conforme
art. 169, inciso V, do Regimento Interno do TCU.
10. Ata n° 9/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 21/3/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-0602-09/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues, Augusto
Nardes, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes, Bruno Dantas e Vital do Rêgo (Relator).
13.2. Ministro-Substituto convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa, André Luís de Carvalho e Weder de
Oliveira.

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)


RAIMUNDO CARREIRO VITAL DO RÊGO
Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)
LUCAS ROCHA FURTADO
Procurador-Geral, em exercício

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