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 DIREITO PROCESSUAL PENAL 


PODERES INVESTIGATÓRIOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
 DEFINIÇÃO DO INSTRUMENTO
É necessário que se defina o instrumento utilizado pelo MP para sua investigação, ou seja, não se valerá do inquérito
policial do Delegado, outrossim, trata-se da dilatação da via investigatória, tendo seu próprio instrumento de investigação.
Não existe previsão legal que dê nomenclatura a esse instrumento, que pode ser chamado de PIC (Procedimento Investi-
gatório Criminal) ou TAC (Termo de Ajustamento de Conduta).

 FONTE NORMATIVA (Resolução n.º 13, CNMP)


A base normativa do poder investigatório do MP é esta resolução, que foi editada pelo Conselho Nacional do MP, ou
seja, é o próprio MP se autodisciplinando sua função investigatória.
O grande problema de não haver uma lei, é que não haverá o estabelecimento de direitos e deveres entre o MP e o cidadão
investigado dentro desse instrumento investigatório. Portanto, significa que os direitos e deveres, nesse caso, serão esti-
pulados por mera Resolução, o que se apresenta como uma afronta ao Estado de Direito.

 ENFOQUE REPUBLICANO DA INVESTIGAÇÃO


A falta de legislação retira o enfoque republicano da investigação, ou seja, essa investigação não será delimitada por lei,
não havendo então, a vontade coletiva da sociedade para delimitar os poderes do MP.
Mais do que isso, significa a falta de imposição de o MP fundamentar os atos investigatórios por ele praticados, observado
que apenas a lei que poderá prever o dever de o MP prestar contas à sociedade dentro das balizas legais, e, com isso, que
o MP pudesse sofrer um controle judicial de seus atos para conter eventuais abusos.

 ARGUMENTOS FAVORÁVEIS
a. MP COMO PARTE DA AÇÃO PENAL
Esse argumento é bastante relevante, visto que por esse motivo, a parte tem o ônus de provar suas informações,
confirmando suas teses acusatórias, se desdobrando no Princípio do Devido Processo Legal, onde a parte tem o
direito de provar em juízo o que se alega.
b. TEORIA PODERES IMPLÍCITOS (Implied Powers)
Essa teoria é oriunda do direito comparado (EUA), criado pelo fato de a CF/EUA ser sintética, devendo criar esses
direitos para ampliar a interpretação. Significa dizer que quando a Constituição institui, implicitamente, uma fun-
ção a determinado órgão, ela (CF) está instituindo os instrumentos necessários para viabilizar sua função.
Nesse sentido, a função principal do MP é ingressar com a Ação Penal, e assim, fica implícito que para isso, o MP
terá o poder implícito de poder adquirir provas para viabilizar sua atividade.
Esse argumento justifica a possibilidade de o MP editar a resolução para materializar sua atividade.
c. PODERES REQUISITÓRIOS / NOTIFICAÇÃO
Esses poderes são instituídos pela CF, onde o MP pode requisitar documentos ou abertura de inquéritos, e noti-
ficar autoridades, para que possa construir o conteúdo probatório, desde que não descumpra a lei.
Assim, se ele pode fazer tudo isso, o objetivo final é agrupar informações que irão viabilizar a propositura da Ação
Penal, e assim, tem-se uma investigação do MP.
d. CONTROLE EXTERNO ATIVIDADE POLICIAL
Essa é uma incumbência do MP, que é responsável pelo controle externo da atividade policial (porque o interno é
feito pelas corregedorias da própria polícia).
Se o MP tem essa incumbência, ele a fará mediante investigação, para, inclusive, suprir a ineficiência da polícia.
e. DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO
Por esse motivo é que o inquérito não é o único caminho, visto que se até um particular pode investigar, haveria
total legalidade na atividade investigatória do MP.
f. MP RESOLUTIVO (Gregório Assagra de Almeida)
Esse é o perfil dado ao MP pelo fato de investigar, ou seja, é o MP que atua de maneira extrajudicial, sem depender
do Judiciário, de forma menos burocráticas, submetendo-se apenas às leis e às resoluções, visando a resolução do
conflito.
g. INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL
O MP não se subordina à uma chefia política.
h. INQUÉRITO CIVIL
O MP pode investigar no âmbito civil, onde não haveria razoabilidade de não poder investigar crime, sendo ple-
namente possível a investigação criminal.

 ARGUMENTOS CONTRÁRIOS
a. CF ANALÍTICA
É aquela CF que fala muito, e isso justifica que o silêncio da CF não é descaso, mas falta de direitos para que o
MP investigue, sendo uma superfetação (acréscimo inútil) do Poder Constituinte Originário.

Raphael Vilela
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b. AUSENCIA DE LEI
A inexistência de um texto expresso declarando esse poder ao MP, o que geraria uma insegurança jurídica.
c. ISONOMIA PROCESSUAL
Quando se associa a Polícia ao MP para investigar, estaria criando uma superinvestigação, acabando com o Prin-
cípio da Paridade de Armas, deixando o acusado em posição totalmente desfavorável.
d. SISTEMA ACUSATÓRIO
Esse sistema seria posto em risco se o MP juntasse as funções de investigação e a propositura da Ação.
e. DEVIDO PROCESSO SUBSTANCIAL
Seria violado, pois seria um excesso do poder investigatório.
f. MP DEMANDISTA
O MP não pode ser resolutista, e sim, demandista, sendo o MP clássico, que depende do Judiciário para impulsionar
a Ação Penal.
g. Art. 144, §1, IV, CF
A utilização da palavra exclusivamente para definir as funções da Polícia Judiciária, dentre as quais investigar
crimes.
É o caso da PEC n.º 37, que queria vedar o poder investigatório do MP, que acabou não dando certo.
h. PROVA ILÍCITA
A falta de legislação para fundamentar o poder investigatório, e assim, a prova colhida se torna ilícita.

 STF – RE 593.727 - REPERCUSSÃO GERAL


O STF decidiu nesse RE que o MP pode investigar sim, criando uma jurisprudência que legitima a investigação do MP,
fixando parâmetros gerais para definir a investigação do MP.
Sendo as seguintes situações:
1. Preservação dos direitos fundamentais da investigação;
2. Deve haver um procedimento regular, ou seja, os atos e diligências devem ser colocados por escrito nos
mínimos detalhes, devendo, inclusive, ter suas folhas datadas e numeradas, e em ordem cronológica dos atos
investigatórios;
3. Fundamentar os atos investigatórios, visto que é uma instituição republicana;
4. Publicidade, sendo, excepcionalmente, sigiloso;
5. Respeito às prerrogativas da advocacia, sobretudo, dever de o investigado ser ouvido na presença de seu
advogado;
6. Deve ser uma função subsidiária, ou seja, só poderá investigar em ocasiões extremas;
7. Controle Judicial da investigação, toda investigação do MP deve ser distribuída em alguma vara criminal,
para que o juiz possa analisar a legalidade constantemente.
8. *** é proibido ao MP proceder indiciamento, que só pode ocorre mediante solicitação ao Delegado para
que o faça, visto que é um ato discricionário do Delegado de Polícia (Lei 12.830/14).

TERMO CIRCUNSTANCIADO
 LEI 9.099/95 – SISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS
Utiliza-se a nomenclatura sistema, pelo fato de haver toda uma estrutura própria. O que torna esse juizado especial é a
relevância que são tratadas, que são de menor relevância/importância, seja econômica ou criminal.
Por ter menor relevância, elas ocorrem em maior quantidade na sociedade, e por esse motivo é que o sistema especial
surge com a intenção de dar maior vazão e celeridade à essas causas, para que não abarrotem o Sistema Comum do
Judiciário.
 INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO (art. 61, Lei 9.099/951)
Esse artigo traz o conceito dessas infrações penais de menor potencial ofensivo, que são aquelas em que a pena máxima
cominada em abstrato para o crime é de até 2 anos, envolvendo também as contravenções penais.
Quando essas infrações ocorrerem, será o rito do JECRIM em conjunto com todos seus institutos jurídicos, excluindo-se
a necessidade de inquérito policial, que é substituído pelo termo circunstanciado.
 PRINCÍPIOS
1. CONSENSUALIDADE
Considera-se a autonomia da vontade do cidadão, dando-lhe maior importância e significado nesse sistema, ou
seja, é possível que haja a realização de transações e acordos, para que possa dirimir conflitos.
Quando se fala em consensualidade, há uma relativização de 2 dogmas do Processo Penal:
a. Obrigatoriedade da ação penal, pois nem sempre haverá ação penal;
b. Presunção de inocência, pois o indivíduo aceita o crime para não responder por crime.

1 Art. 61 - “Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”.

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2. ORALIDADE
Existe um protagonismo do diálogo, que passa a ser mais importante do que o ato processual escrito, visando
humanizar a relação processual, diminuindo a quantidade de atos escritos, e desburocratizando o processo.
3. INFORMALIDADE
O rito do JECRIM é flexível, ou seja, é informal, isso se visualiza no ponto de que não há a necessidade de se
respeitar um formalismo muito rígido, o que acaba dificultando as hipóteses de nulidade do processo.
Esse princípio só existe, pois, as penas dos atos aqui envolvidos são muito pequenas.
4. ECONOMIA PROCESSUAL
Há a proposta de mais resultados com menos atos processuais a serem praticados, visando um maior aproveita-
mento do processo.
5. CELERIDADE
Esse princípio visa uma rápida solução dos conflitos.

 TERMO CIRCUNSTANCIADO (CONTEÚDO - Art. 69, Lei 9.099/952)


Conceitua-se como “um instrumento investigatório informal e simplificado, conduzido e lavrado pelo Delegado de
Polícia, no sentido de agrupar informações para a resolução da lide penal, seja ela judicial ou extrajudicial”.
Quanto ao seu conteúdo, nada mais é do que um B.O. mais sofisticado, isto porque ele trará algumas informações a
mais do que o B.O. traz, como a declaração de testemunhas e perícias (bem simplificadas). Isso demonstra uma capacidade
cognitiva muito limitada, visto que ele não é feito para evoluir em termos investigatórios, ou seja, ele só existe por infor-
mações pré-concebidas, e diretamente ligadas ao fato, para instruir em uma audiência preliminar.
Se o caso envolver alguma complexidade investigatória a mais, o TC será convertido em inquérito (ex.: infração de autoria
desconhecida ou que depende de perícia mais complexa). Da mesma forma, se houver prisão em flagrante, não haverá
TC, visto que o auto de prisão em flagrante delito se converte em inquérito.
O art. 88 da Lei 9.099/953 admite que as lesões corporais leves e culposas serão Ação Penal Pública Condicionada a
Representação.
O principal propósito do TC é induzir um acordo na audiência preliminar, para que possa solucionar duas lides em uma
só audiência; a civil e a penal.
a. Autor do fato e vítima
b. Audiência Preliminar
i. Composição civil dos danos (Art. 744)
O juiz irá propor uma composição para uma resolução patrimonial do fato. O juiz criminal irá homologar
essa composição civil dos danos, criando um título executivo judicial, que será irrecorrível.
Quando há a realização da composição civil do dano, a vítima estará renunciando a representação,
extinguindo a punibilidade na esfera penal.
ii. Transação penal (Art. 765)
Quando não há composição, o MP irá representar mediante a Ação Penal Pública Condicionada, onde o
MP também poderá dialogar com o réu, ou seja, ofertando uma proposta de transação penal, em que ele
poderá substituir uma pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos, sendo uma medida alter-
nativa de cunho sancionatório.
Trata-se de uma troca, onde ao invés de ser processado, o indivíduo irá se comprometer a fazer algo em
troca, e sequer haverá uma ação penal. Para esse caso também haverá uma sentença homologatória.
Começou a haver vários casos de descumprimento do acordo, problema que foi solucionado pela Súmula
Vinculante n.º 35, que traz a em sua redação que “A homologação da transação penal prevista no artigo
76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação
anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante ofereci-
mento de denúncia ou requisição de inquérito policial.”.
O efeito imediato do descumprimento da transação é o oferecimento da denúncia, onde o autor do fato
será réu no processo penal.
c. Suspensão Condicional do Processo (Art. 896)
O SURSIS Processual interrompe o curso do processo, suspendendo-o para um período de prova, que irá variar de
2 a 4 anos, onde é marcada uma audiência para apresentar umas condições a serem cumpridas, dentre elas, poderá
a haver a condição de reparar dano ou prestação pecuniária, bem como condições de caráter pessoal.
Transcorrido o período de prova sem descumprimento de alguma das condições, haverá a extinção da punibili-
dade. Antes disso, não haverá o trânsito em julgado, enquanto o réu permanecer em período de prova.

2 Art. 69 - “A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários”.
3 Art. 88 – “Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas”.
4 Art. 74 - “A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil

competente”.
5 Art. 76 – “Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a

aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta”.


6 Art. 89 - “Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá

propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais
requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal)”.

Raphael Vilela
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FASE JUDICIAL DA PERSECUÇÃO PENAL
 AÇÃO PENAL
1. CONCEITO
É o mecanismo/instrumento utilizado para judicializar a lide penal, ou seja, para que esta lide seja levada até o Poder
Judiciário, para que ela possa ser dirimida.
Dá-se como conceito da Ação Penal como “direito público subjetivo de caráter processual, que visa provocar a prestação
jurisdicional do Estado para fazer aplicar o direito penal ao caso concreto”.
Deve ficar claro que a proposição de ação é o exercício de um direito de movimentar a prestação jurisdicional, onde
o Estado-juiz exerce o dever de dar uma resposta jurisdicional à ação ajuizada. Isso não significa que o conteúdo dessa
resposta jurisdicional deve ser o que o autor quer, mas o que ele deverá analisar o direito material que o autor tem.

2. ELEMENTOS
2.1. Direito
A propositura da ação é um direito que pode ser exercido por qualquer pessoa.
2.2. Público
Essa relação jurídica processual é de direito público, porque é oponível ao Estado, que é devedor da obrigação de
responder a ação.
A ação se submete à um regime jurídico de direito público, e isso não se dá apenas pelo fato de o Estado fazer
parte da ação, mas pelo fato de se tratar de exercício de uma função republicana, e, por esse motivo, para dar a
resposta, ele não pode se pautar em suas vontades e anseios particulares, outrossim, deve se pautar na estrita lega-
lidade e nos princípios e garantias constitucionais.
2.3. Subjetivo
É subjetivo pois é possível que se identifique de forma clara quem é o sujeito que irá exercê-lo (ofendido ou MP).
2.4. Autônomo
Também chamado de Direito Potestativo, o qual é definido por Chiovenda como “direito que se exercita e atua
mediante uma simples declaração de vontade, tendendo à produção de um efeito jurídico a favor de um sujeito e
a cargo de outro que nada deve fazer e nem pode esquivar-se ao referido direito”.
Pode ocorrer que a lei mitigue essa autonomia, como é o caso de Ação Penal Pública Incondicionada.
2.5. Abstrato
Significa dizer que o direito de ação não se vincula/depende da resolução do caso concreto, ou seja, o resultado do
direito de ação não se confunde com o direito material, visto que pode ocorre de o direito de ação ser reconhecido,
porém, o direito material negado.
Sobre o assunto destacam-se algumas teorias:
 Teoria Imanentista
Para essa teoria o direito de ação era nada mais era do que o direito material em debate (“pé de guerra”),
tanto era que não havia nenhuma teoria que trouxesse independência científica.
 Teoria Concretista (Chiovenda)
Surgiu após a Teoria Imanentista, e para essa teoria o direito de ação tem vida própria, independentemente
do direito material, mas, o direito de ação só existe se houver a análise do caso concreto favorável ao autor,
ou seja, só haverá direito de ação se o autor tiver direito material, e assim, o direito de ação está
condicionado ao resultado do processo.
 Teoria Abstrata
Defende-se que o direito de ação não se confunde com o direito material, assim, não importa a natureza
do julgamento, se o autor tem ou não o direito material.
Nessa teoria, as condições da ação são requisitos de validade.
 Teoria Eclética (Liebman)
Entre as teorias concreta e abstrata, existe a Teoria Eclética de Liebman, onde o direito de ação só é exercido
quando o juiz analisa o mérito da ação, ou seja, aplicar o direito material no caso concreto.
 Teoria da Asserção ou da Prospecção
Teoria surgida na Itália, que visa transpor todos os obstáculos processuais para se enfrentar o mérito. Por
essa teoria, todas as condições da ação se convertem em mérito.

3. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL (Art. 5º, XXXV, CF7 e Art. 129, I, CF8)


O art. 5º, XXXV da Constituição é o fundamento para toda ação, que dá o direito de demandar, que não se confunde com o
direito de ação, que está previsto no art. 129, inc. I da Constituição, em que ação penal é função institucional do MP.

4. DISTINÇÃO ENTRE AÇÃO x PROCESSO


A Ação é um direito, ao passo que o processo o instrumento destinado ao exercício desse direito.

7 Art. 5º, inc. XXXV, CF - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
8 Art. 129, CF - São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

Raphael Vilela
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5. CLASSIFICAÇÃO
5.1. QUANTO AO SUJEITO LEGITIMADO
O direito de ação é sempre público em sua essência, porém, a denominação de ação penal pública ou privada, não leva
em consideração a natureza da ação, outrossim, analisa-se a sua titularidade.
É a lei quem diz se determinados crimes serão de Ação Penal Pública ou Privada (Art. 100, CP). Se a lei nada dizer, a
regra é que o crime seja de Ação Penal Pública Incondicionada.
5.1.1. AÇÃO PÚBLICA
Na Ação Pública, o Estado que é titular, e assim o é por ser um direito-dever ou direito-função, porque o
MP não tem opção, ele é obrigado a propor a ação por força da lei, lhe é indisponível (Princípio da Indis-
ponibilidade).
5.1.2. AÇÃO PRIVADA
Essa ação é privada, porque o particular é o titular, e prevalece a autonomia da vontade do titular, onde este
tem a opção de litigar, ou de permanecer litigando, havendo regimes jurídicos absolutamente distintos, e
assim, não se aplicam a este os Princípios da Obrigatoriedade e da Indisponibilidade, mas possui princípios
próprios, que serão vistos mais além.

5.2. QUANTO AO PROVIMENTO JURISDICIONAL


Deve-se observar qual a finalidade prática da ação, que poderá ser:
5.2.1. AÇÃO PENAL CONDENATÓRIA
É aquela ação que é movida para promover uma sentença condenatória procedente, que ocorre na maioria
dos casos.
Toda condenação implica em restrição de um direito fundamental.
5.2.2. AÇÃO PENAL CONSTITUTIVA
Ação que cria uma situação jurídica até então inexistente, como é o caso de uma revisão criminal, sendo
uma Ação Penal Constitutiva Negativa.
5.2.3. AÇÃO PENAL DECLARATÓRIA
É a ação que atesta um direito preexistente para solucionar uma crise de certeza, como é o caso do Habeas
Corpus.

6. CONDIÇÕES DA AÇÃO
São categorias/institutos jurídicos processuais que visam preparar o julgamento de mérito. São pressupostos que devem ser
satisfeitos, para que o processo venha ter seu mérito analisado.
6.1. LEGITIMIDADE “AD CAUSAM”
Serve para definir quem é o titular do direito de ação (ativa), e em face de quem este direito pode ser exercido
(passiva).
Liebman chamava essa condição como pertinência subjetiva da causa, significa que o titular do direito de ação é
titular do direito material.
No processo criminal, é a lei penal que irá dizer quem tem legitimidade para a ação.
6.2. INTERESSE DE AGIR
É uma categoria quase inútil no processo criminal, que é a demonstração de que a ação é um direito útil, necessário
e adequado à obtenção do direito material. Demonstrar o direito de agir, é dizer que o direito de ação é necessário
para que a pessoa goze de seus direitos.
Deve se basear no trinômio necessidade, utilidade e adequação.
A ação penal sempre será necessária, pois não há como se aplicar o direito material que não seja pela via
processual.
6.3. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO
Quando se promove Ação Penal o juiz deve analisar o pedido imediato, ou seja, a potencial probabilidade de
condenar o réu, e isso é feito mediante análise dos fundamentos legais.
Para isso, deve haver uma delimitação jurídica do pedido, adequando-o ao tipo penal requerido.
O NCPC aderiu a crítica estabelecida pela doutrina, e deixou de ter a possibilidade jurídica do pedido como con-
dição da ação, e por esse motivo, a sentença que, à luz da CPC/73 (revogado) seria de carência da ação, à luz do
NCPC é de improcedência, resolvendo definitivamente a controvérsia no âmbito civil.
Discussão essa que também se mantém no âmbito penal, porém, ainda sem pacificação legal.

AÇÃO PENAL PÚBLICA


É a ação exercida pelo MP por força da Constituição Federal (art. 129, inc. I, CF).
Sendo assim, é um direito-dever atribuído ao MP por força constitucional de provocar a prestação jurisdicional do Estado, no
sentido de satisfazer sua pretensão punitiva.
A ação penal pública incondicionada é uma regra geral, motivo que, em caso de silencio da lei penal, o crime será da Ação Penal
Pública Incondicionada, e assim, o MP terá plena autonomia no exercício do direito de ação (art. 100, CP9), ingressão com a ação “ex
officio”.

9 Art. 100 – “A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido”.

Raphael Vilela
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 PEÇA INICIAL
Quando o crime for de ação penal pública, pouco importando se condicionada ou incondicionada, sempre será o MP que irá
propor, onde a peça inicial se chama denúncia.

 DENÚNCIA
1. FIXAÇÃO DOS LIMITES
Essa é a peça inicial acusatório do MP, onde são fixados os limites da lide penal, ou seja, estabelece um campo de
debate, que são responsáveis me limitação da atividade jurisdicional, onde o réu só irá se defender do que está escrito
na denúncia, e o juiz só poderá julgar sobre o que está em debate.
Assim, a limitação do poder decisório é importante, porque irá determinar os limites da coisa julgada, em obediência ao
Princípio da Correlação entre o que foi pedido na denúncia e a sentença.
Esses limites podem ser:
a. Objetivos: estabelecimento dos fatos criminosos imputados;
b. Subjetivos: sujeitos ativos do crime.
2. DESCRITIVA
A denúncia é uma peça descritiva, devendo ser narrada de forma detalhada e pormenorizada, visto que uma denúncia
genérica, lacunosa e omissa é inepta, não tendo aptidão para apontar uma acusação, em razão de uma falha estrutural em
sua narrativa, o que não permite a confrontação pontual por parte da defesa.
Para isso, a denúncia deve conter:
2.1. Tempo (quando – ubi);
2.2. Lugar (quando);
2.3. Modo de prática (quomodo);
2.4. Autores/vítimas;
2.5. Bem jurídico lesado.
Não obstante, a necessidade de fundamentação se dá pelo fato de o MP ser um órgão republicano.
a. Rejeição
Diferentemente da inépcia, a denúncia é rejeitada quando o inquérito não tiver justa causa, que já era para ter
sido trancado na fase de inquérito, e aqui o promotor irá rejeitar a denúncia por falta de justa causa (falta de
elemento probatório, atipicidade, excludente de ilicitude), fazendo coisa julgada material.
b. Inepta
Nesse caso, haverá coisa julgada formal, visto que o vício contido na denúncia poderá ser sanado, ocasionando
a propositura de uma nova denúncia.

 PRINCÍPIOS
Os princípios a seguir orientam a ação penal pública, pouco importando se incondicionada ou condicionada.
1. OBRIGATORIEDADE ou LEGALIDADE
É um princípio que impõe um dever republicano de promoção da ação penal ao MP como órgão de acusação, cumprindo
um dever imposto por lei, uma determinação legal, justificando a nomenclatura de “legalidade”.
A lei criou alguns espaços discricionários, com reduzida liberdade ao promotor, que é chamado de Princípio da Discri-
cionariedade Regrada, como os seguintes casos a seguir, em que o promotor terá possibilidade de propor:
 Transação Penal (art. 76, Lei 9.099/95);
 Acordos de Colaboração Premiada (art. 4º, Lei 12.850/14)
Uma vez homologado o acordo, o MP está dispensado de propor a denúncia.
2. INDISPONIBILIDADE
Esse princípio impõe ao MP o dever de prosseguir litigando, não podendo desistir da ação em curso, devendo conduzi-la
até o final.
Para esse caso também há a exceção do Sursis Processual, ou Suspensão Condicional do Processo, prevista no art. 89 da
Lei 9.099/95.
3. INTRANSCENDÊNCIA
A ação penal não pode ir além das pessoas envolvidas no crime que foram investigas, se pautando pela Teoria Monista,
motivando a impossibilidade de se admitir intervenção de terceiros.

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA A REPRESENTAÇÃO


1. CONCEITO
Trata-se de um direito-dever do MP de deflagrar a persecução penal na fase judicial, porém, com a autonomia decisória mitigada
pela Lei Penal, mediante o instituto da representação.
Metaforizando, a Ação Penal Pública é feita mediante movimentação das ‘mãos’ do MP, porém, na Ação Penal Pública Condi-
cionada, a chave que libera o MP para se movimentar está nas mãos da vítima.
O direito de ação continua sendo, e sempre será do MP, porém, está condicionado a um ato de vontade individual do cidadão,
que terá a opção de conferir ou não a autonomia ao MP.

Raphael Vilela
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2. NATUREZA JURÍDICA DA REPRESENTAÇÃO
Pelo prisma processual, a representação é uma condição de procedibilidade, ou seja, só será possível o ajuizamento da ação
penal, mediante a representação.
Na sua essência, a representação é um ato jurídico livre (qualquer documento de forma escrita) de manifestação da vontade
pelo cidadão que foi ofendido.

3. FORMA / EFICÁCIA OBJETIVA


Significa dizer que o ofendido representa pelo fato criminoso integralmente considerado, e não em face de um agente/autor.
Assim, não há como escolher em face de quem irá representar, onde a representação é indivisível (Princípio da Intranscendência).
A eficácia deve ser objetiva, para que não haja utilização da vontade pessoal para controlar/manipular o poder persecutório, que
seria uma postura antirrepublicana.

4. DECADÊNCIA
A decadência é a perda do direito de representar, pela inércia do ofendido, por um prazo superior a 6 (seis) meses, contados a
partir da data do conhecimento da autoria até a data da representação, gerando extinção da punibilidade.
Por ser um ato de vontade do particular, contra este corre o prazo decadencial, que poderá atingir:
a. Direito de representar;
b. Direito de queixa.
O fato de o MP propor a ação litigar (mesmo sem representação) não supre a falta dessa representação. Diferente da prescrição,
a decadência não se interrompe com a propositura da ação.

5. CO-TITULARIDADE DO DIREITO DE REPRESENTAR (Súmula 594, STF)


O direito de representar pode pertencer ao ofendido e/ou a seu representante legal, podendo ser de cada um individualmente, ou
conjuntamente, conforme os exemplos a seguir:
Ex. 1: a vítima criança deve ser representada pelos representantes legais, que são os únicos que poderão representar
em nome do absolutamente incapaz.
Ex. 2: vítima maior de 14 e menor de 18 anos, poderá propor a representação, e seus representantes por cotitula-
ridade também.
Diante disso, pergunta-se: Nesse caso, a representação depende da vontade dos dois?
As manifestações de vontade são independentes, ou seja, qualquer titular poderá liberar o MP para propor a Ação
Penal (Súmula 594, STF10). Assim, não será necessário que haja consenso de vontades, bastando que apenas um
dos titulares queira, para que valide a representação.
Ex. 3: somente a vítima maior de idade é que poderá propor a representação.
Sobre as vítimas que não possuem representantes, o juiz irá nomear um CURADOR para suprir essa manifestação de vontade
do relativamente incapaz.
Há um entendimento doutrinário no sentido de que “se o indivíduo que ainda não completou 18 anos sem representantes e que
foi vítima do crime, não contará o prazo decadencial até que ele complete a maioridade ou a partir da nomeação do curador”.
A “Teoria da Actio Nata” diz que a fruição dos prazos só ocorrerá a partir do nascimento do direito de ação, que se dá a partir
do momento em que o ofendido atinge a maioridade, visto que só a partir daí é que ele terá o exercício pleno do direito

6. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO
Por se tratar de um ato jurídico de vontade, é possível que o indivíduo venha se retratar da representação, porém, só é possível
que produza efeitos na persecução penal se ela ocorrer antes do oferecimento da denúncia (art. 25, CPP11). Isso porque, se o MP já
ofereceu a denúncia, ele esgotou o exercício do direito de ação, onde o direito de retratação precluiu.

7. RETRATAÇÃO DA RETRATAÇÃO
É caso de uma “nova representação” da representação que a pessoa havia desistido, o que é plenamente possível, desde que
não tenha transcorrido os prazos da decadência.
Facilitando, é o caso da pessoa que representa, porém, desiste, e posteriormente ‘desiste de desistir’ e volta a representar.
 Art. 16, Lei Maria da Penha – 11.340/0612
Espécie de Ação Afirmativa, onde o Estado, deliberadamente tenta compensar uma dívida histórica de direitos,
resultado de um histórico de discriminação feminina, baseado em uma cultura machista, sobretudo, no tocante ao
âmbito doméstico.
Essa lei inovou, trazendo na redação do art. 16 a criação de uma audiência, onde a mulher poderia se retratar sobre
a representação na presença do juiz (que irá homologar) e do MP, podendo renunciar até o momento do recebi-
mento da denúncia.
A ocorrência dessa audiência se justificava pelo pensamento de que na frente do juiz elas teriam mais coragem do
que na delegacia.
 ADI 4424
Em 2013, foi julgada a ADI 4424, que visava a inconstitucionalidade dos artigos:

10 Súmula 594, STF - Direito de queixa e representação. Independência. Ofendido e representante legal. CPP, arts. 34, 38, 50 e 52.
“Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal”.
11 Art. 25, CPP - “A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia”.
12 Art. 16 – “Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência

especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público”.

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 Art. 12, inc. I – dizia que a representação deve ser feita na presença do delegado. Fica ainda
mais intimidada;
 Art. 16 – continuavam com medo, oprimidas, no contexto de violência e não conseguiam repre-
sentar;
 Art. 41 – lei 9.099/95 era inaplicável nos casos da Lei Maria da Penha, os benefícios do JECRIM
não poderiam ser estendidos ao marido agressor
O STF invocou o Princípio do Devido Processo Substancial na vertente da vedação à Infra-proteção ou da
proteção deficiente, como parâmetro para o controle de constitucionalidade, afirmando que esses dispositivos são
insuficientes para proteger a dignidade da mulher violentada no lar, visto que mesmo com o art. 16, a criminalidade
continuava crescendo.
Foi utilizado também como parâmetro a o Princípio da Isonomia Substancial.
O resultado da ADI não trouxe supressão do texto, observado que a redação dos artigos se mantém, contudo, houve
modificação quanto as técnicas de interpretação, devendo ser interpretados de acordo com esses princípios, con-
forme a Constituição (interpretação conforme).
Efeito prático: Esse acórdão (com caráter vinculante) passou a considerar que as lesões corporais leves (e só
esses crimes) passam a ser crimes de Ação Penal Pública Incondicionada, mesmo que a Lei Penal não tenha
dito isso, demonstrando o nível de Ativismo Judicial, que pela primeira vez foi utilizado no âmbito do Direito
Penal.
O art. 41 diz que é inaplicável a lei 9.099 para essa lei, ou seja o art. 88 que transformou a lesão leve em condici-
onada a representação, só que seria inaplicável apenas a partir de 2006. O Supremo racionalizou dizendo que o
Art. 88 da Lei 9.099/9513 é inaplicável à mulher que é violentada dentro de casa desde 1995. É como se o art. 88
nunca fosse aplicável na violência doméstica. Sempre foi crime então de ação penal pública incondicionada.

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA A REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA


1. CONCEITO
É uma ação penal pública onde o MP é o legitimado ativo. Porém, esse é um direito de ação conferido ao MP, onde sua autonomia
é suprimida por uma questão de ordem política de natureza diplomática, onde em alguns casos, existe um interesse público maior do
que o interesse persecutório, para que se evite uma crise diplomática entre dois países.
Trata-se de hipóteses de politização da persecução penal, onde MP sede poder a um órgão político (Ministro da Justiça),

2. CABIMENTO
Seu cabimento ocorrerá quando a Lei Penal disser.
Ex. 1: crime contra a honra do Presidente da República ou de Chefe de Estado (art. 141, I e 145, CP)
Ex. 2: crime de estrangeiro contra um brasileiro praticado fora do Brasil (art. 7º, III, CP)

3. REQUISIÇÃO – NATUREZA JURÍDICA


É um ato política liberatório enviado ao PGR, onde o Ministro da Justiça libera o MP.

4. RETRATABILIDADE
A maioria da doutrina entende que sim, visto que todo ato público administrativo é revogável, e a requisição pode ser revogada,
desde que não tenha ocorrido o oferecimento da denúncia.

5. POSSIBILIDADE DE DECADÊNCIA?
A decadência só corre com ente privado, não corre para órgão público. Assim, o Ministro da Justiça se limitará a representação
até que o crime não se prescreva.

AÇÃO PENAL PRIVADA


 CONCEITO
Trata-se de um direito público subjetivo, conferido pela Lei Penal ao particular (vítima do crime) para provocar a prestação
jurisdicional do Estado no sentido de fazer aplicar o Direito Penal ao caso concreto. É a Lei Penal que estabelece, porque ela cria o tipo,
dizendo qual a espécie de procedimento a ser tomado (queixa ou representação).
Nessa ação, o direito de ação é do ofendido ou de seu representante legal, e não do MP. Assim, não existe mais um órgão
público acusatório.
O fato de o artigo 129, inc. I da CF definir como função institucional do MP a promoção de penal pública, destaca-se que é uma
função privativa, e não exclusiva, porque nesse último caso haveria uma inconstitucionalidade. Portanto, dizer que uma função é
privativa do MP, significa dizer que o a titularidade do MP não exclui a legitimidade do ofendido.

 FUNDAMENTO
A grande razão de a Lei Penal abrir essa exceção é oriunda de uma questão de política criminal, visto que na maioria dos casos,
trata-se de direitos privados não públicos, e assim, caberá a vítima escolher se haverá Ação Penal ou não.

13Art. 88 – “Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culpo-
sas”.

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O fundamento mais importante para o estabelecimento dessa política criminal é o Escândalo do Processo (“Streptus Iudicis”),
ocasião em que a propositura da ação poderá trazer vergonha ainda maior à vítima do que a ocorrência do próprio crime.
Haveria um outro fundamento, mesmo que menos utilizado, que se trata de crime com predominante deslocamento patrimonial,
como é o caso de crime de dano.

 SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL
Trata-se de uma técnica adotada pelo legislador, que também é chamada como “Legitimação Extraordinária”.
Para isso, é necessário entender que “Legitimação Ordinária” é quando o Estado detém o poder de punir e o direito de ação.
Recebe esse nome porque o Estado litiga em nome próprio para atender o seu próprio interesse, e essa é a regra do Processo Penal.
Diante disso, a Substituição Processual ou “Legitimidade Extraordinária”, onde a Lei Penal estabelece uma cisão/divisão de
interesses, ou seja, a Lei Penal irá transferir o direito de ação para o particular (“Ius Perseguendi in Juditio”), porém, irá manter
o poder de punir com o Estado.
Assim, o ofendido litiga em nome próprio para defender o interesse material do Estado (a aplicação do direito material –
Jus Puniendi).

 CABIMENTO
É cabível quando a Lei Penal disser que o crime é de Ação Penal Privada, como é o caso de Crimes Contra a Honra, dano, dentre
outros, onde o ofendido é que irá decidir se irá ou não ingressar com a ação.
 Peça Inicial (Queixa-Crime)
A queixa-crime é a peça inicial que deflagra a Ação Penal Privada, aplicando-se todos os requisitos destinados à
denúncia, inclusive, as hipóteses de rejeição e de inépcia.
A diferença entre a queixa-crime e a denúncia se encontra no profissional que elabora a queixa-crime, que é o advo-
gado, que é um agente que atua em prol do particular, que não tem poder legal para acusar ninguém de algum crime.
Diante disso, há a imposição de algumas exigências formais, dentre elas a procuração, que deve ser outorgada pela
vítima, devendo conter a narrativa do mesmo fato criminoso contido na queixa-crime, dando poderes especiais para que
o advogado ingresse com a queixa-crime.
Isso serve para que o advogado restrinja sua atividade apenas no caso narrado, sob pena de o advogado incorrer em
denunciação caluniosa.
Não se aplica ao promotor em sua propositura da denúncia, visto que ele não precisa da outorga de ninguém, visto que é
o seu direito.

 Decadência do Direito de Queixa (art. 38, CPP14)


É a perda do direito de queixa pela inércia superior a 6 meses contados da data do conhecimento da autoria.
Existe a possibilidade da cotitularidade do direito de queixa (art. 34, CPP15).
O inquérito deverá ser provocado, visto que não se aplica o Princípio da Oficiosidade. Após a conclusão do inquérito, ele
ficará no cartório criminal até que se opere a decadência, para que o advogado possa utilizar-se desse instrumento para
propor a queixa-crime.
O MP exercerá sua função de “Custos Legis” (fiscal da lei), visto que ainda é do Estado o poder de punir.
Caso o MP proponha a queixa, a ação será extinta por ilegitimidade ativa ad causam (carência do direito de ação). Por
fazer apenas coisa julgada formal, isso não irá impedir que a parte venha, posteriormente, propor a ação penal.

 PRINCÍPIO DA AÇÃO PENAL PRIVADA


1. PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE
Em contraposição ao Princípio da Obrigatoriedade da denúncia, aqui, a ação penal é um mero direito/faculdade do
ofendido, e não seu dever.
Assim, o ofendido só litigará se ele quiser, prevalecendo a autonomia da vontade do cidadão vítima do crime, não se
aplicando o art. 28 do CPP, porque ninguém poderá obriga-lo a propor a ação, onde o Estado não poderá estabelecer
nenhum tipo de ingerência, chamando para si a responsabilidade em eventual inércia do cidadão.
2. PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE
Em decorrência óbvia ao princípio anterior, o cidadão, por não ter obrigatoriedade, poderá dispor da ação penal em
curso, ou seja, desistir de sua continuidade.
Porém, essa disponibilidade do cidadão é limitada, visto que haverá o interesse do querelado em jogo, tendo interesse
em prosseguir com o processo.
3. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE (art. 47 e 48, CPP)
Esse princípio é apenas da Ação Penal Privada, visto que na ação penal pública há um princípio mais intenso e abrangente,
o da obrigatoriedade.
Esse princípio é aplicado no contexto do concurso de agentes, na hipótese em que a queixa-crime deve ser ajuizada em
face de todos os coautores, e não apenas em face de um ou outro, sendo caso de litisconsórcio necessário.
Assim, ou ajuíza-se a ação em face de todos, ou não se ajuíza em face de ninguém, não sendo facultada a escolha dos
réus, que estão atrelados pelo fato material delituoso (crime), que nada mais é do que uma arguição de que existe uma
Teoria Monista do Crime.

14 Art. 38, CP - Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis
meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
15 Art. 34, CPP - Se o ofendido for menor de 21 (vinte e um) e maior de 18 (dezoito) anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal.

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Se fosse possível que a parte fragmentasse a ação penal, esse instrumento perderia sua característica republicana, do qual,
o MP, mediante suas manifestações, exerce sua função de fiscal da lei, e, além disso, ele fiscalizará o caráter republicano
da persecução penal (custos legis), que por sua vez será fiscalizado em sua obrigatoriedade.

 MODALIDADE
Existem 3 (três) modalidades de ação penal privada, que existem para representar o âmbito do exercício do direito de ação de
acordo com sua abrangência.
1. AÇÃO PENAL PRIVADA PROPRIAMENTE DITA
Essa é a regra geral, e tem como característica a transferibilidade do direito de ação, podendo também, ser repartido
com outras pessoas, onde o direito de queixa não é exclusivo da vítima, podendo ser exercido pelo seu representante
legal, sucessores em caso de morte, ou ainda, por uma PJ.
1.1. Transferibilidade do direito de queixa
É a principal característica dessa modalidade de ação, podendo ocorrer por:
1.1.1. Co-Titularidade
Assunto que já foi tratado de maneira pormenorizada anteriormente.
1.1.2. Sucessão
Ocorre em caso de falecimento do titular de ação, onde os sucessores (CADI - cônjuge, as-
cendente, descendente e irmão) herdarão o direito de ação.
Se não houver nenhum herdeiro, fatalmente ocorrerá a impunidade, visto que o MP é parte
ilegítima para propor essa ação.

2. AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA


Diferentemente do que ocorre na propriamente dita, nessa hipótese o direito de queixa, por determinação da Lei Penal
é intransferível.
A Lei Penal assim o faz em reconhecimento à condição de vítima dessas espécies de crime, que possui especial particu-
laridade, onde se busca impedir que outras pessoas tenham conhecimento do fato.
É inaplicável a súmula 594 do STF16 nessa espécie de ação penal, pois não haverá co-titularidade.
Exemplifica-se pelo crime de induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento (art. 236, CP), em poderão
ensejar a anulação do casamento. Assim, só poderá promover essa ação quem é parte da relação, ou seja, a ação penal
depende de manifestação do cônjuge enganado.
2.1. Decadência
Conta-se 6 (seis) meses a partir do conhecimento da autoria, que se dá a partir do trânsito em julgado da
sentença que anulou o casamento.

3. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA


Trata-se de espécie de procuração secundária/substituta, ou ainda, como dizia o saudoso professor Nelson Hungria: “um
soldado reserva”, com o fulcro de minorar a impunidade.
3.1. Fundamento Constitucional
Essa ação é um mecanismo constitucional de combate à impunidade decorrente da inércia do MP, sendo,
inclusive, cláusula pétrea (art. 5º, inc. LIX, CF17).
Possui previsão no art. 29 do CPP18.
A doutrina moderna tem tido esse tipo de ação decorrente do devido processo substancial, visto que uma
postura inerte do MP desguarnece a população, o que é vedado por esse princípio (Infra-proteção).
Essa modalidade de ação é aplicada a todos os crimes de ação penal pública, pouco importando se é condi-
cionada ou incondicionada, muito menos as causas da inércia do MP.
A inércia do MP seria uma atitude ilegal, inconstitucional e antirrepublicana.
Em casos de arquivamento direto ou indireto não haverá ação subsidiária, visto que o MP se manifestou, por
outra banda, isso não ocorre em casos de arquivamento implícito, onde caberá a Ação Penal Privada Subsi-
diária da Pública, visto que existe uma inércia parcial, o que é algo gravíssimo, não existindo espaço para a
aplicação do art. 28 do CPP, observado que não há ato do MP a ser questionado pelo Judiciário perante o
Procurador Geral.
3.2. Expansão da legitimidade ativa
Trata-se de ampliação da legitimidade, onde a partir da inércia do MP o direito de ação será, além deste, do
particular/ofendido. É nítido caso de legitimidade concorrente, ou seja, não se exclui a legitimidade do MP,
porém ele passa a ter legitimidade juntamente com o ofendido.
Assim, por não ter perdido a característica de legitimado, o MP poderá voltar para o processo a qualquer
tempo e interferir integralmente na ação penal, ou seja, ele poderá reassumir o polo ativo da ação, fazendo
tudo que normalmente faria se o ofendido não tivesse se manifestado.
O MP poderá, inclusive, aditar a queixa, modificando seus fundamentos.

16 Súmula 594, STF – “Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal”.
17 Art. 5º, inc. LIX, CF - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;
18 Art. 29, CPP – “Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e

oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante,
retomar a ação como parte principal”.

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Em suma, ocorre uma oscilação da legitimidade, ou seja, a priori ocorrerá uma expansão da legitimidade,
havendo uma legitimidade concorrente, que durará 6 meses (decadência), e, após isso, somente o MP é que
poderá continuar com o direito de entrar com a ação até que o crime não prescreva, isso ocorre porque a deca-
dência só ocorre em face do particular, e nunca em face do Estado.
Por fim, deve-se ater que a expansão da legitimidade ativa é proporcional à inércia do que não foi obser-
vado pelo MP.
3.3. Queixa-Subsidiária
Nesse caso, a peça inaugural/inicial será a queixa-subsidiária, que poderá sofrer toda e qualquer análise e
reparo por parte do MP, onde poderá complementar a queixa, emendando-a, colocando mais um réu ou mais
um fato criminoso.
Assim, conclui-se que a queixa-subsidiária admite modificações por parte do MP, restabelecendo os limites da
acusação.
Deve ser destacado que nessa ação o MP não atuará como “custos legis”, porque ele é litisconsorte ativo.
Pode acontecer de a queixa-subsidiária servir apenas para aditar a denúncia em pontos que o MP não obser-
vou, como é o que ocorre nos casos de arquivamento implícito.
3.4. Denúncia Substitutiva
É possível que o MP rejeite integralmente a queixa, e apresente uma denúncia substitutiva, o que não exclui
o particular como litisconsorte.
3.5. Decadência do direito de queixa
Reafirmando, a decadência é um fenômeno que só irá fulminar os direitos persecutórios do particular (queixa
e representação).
Deve ser observado que a decadência do direito de queixa tem como termo a quo (inicial) o momento em que
o MP ficou inerte, desde que recebeu o inquérito e não se manifestou, podendo ser de 5 ou 15 dias (réu preso
e solto, respectivamente).

 AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


1. SITEMÁTICA ANTERIOR A LEI. 12.015/09 COMO CRIME DE AÇÃO PRIVADA (REGRA)
O estupro e o atentado violento ao pudor, em regra eram crimes de ação penal privada, desde que a vítima fosse pessoa
capaz, que seria a detentora da legitimidade. Nessa época, só a mulher é que poderia ser vítima do crime de estupro.
Em meados da década de 90, constatou-se, mediante dados sociológicos, que pouquíssimas mulheres haviam ingressado
com a ação penal, levando impunidade a muitos crimes de estupro, criando uma cifra negra alta.
1.1. EXCEÇÃO (SÚMULA 608, STF19)
Diante desses fatores, o MP/SP começou a ajuizar várias ações penais públicas incondicionadas quando a ví-
tima do estupro tinha alguma lesão corporal, mesmo que leve ou levíssima, considerando qualquer tipo de lesão
que o crime de estupro tenha deixado, o que é chamado de crime de violência real, oriundo de oposição da
vítima ao cometimento do crime.
Muitos advogados impetraram com HC com o intuito de alertar sobre a ilegitimidade ativa ad causam do
MP, que acabaram chegando no STF, que por sua vez editou a súmula 608, dizendo que “estupro com violência
real é crime de Ação Penal Pública Incondicionada”.
Assim, corroborou para o posicionamento do MP/SP, bastando a existência de lesão corporal, para que o MP
tivesse legitimidade ativa.
1.2. CRIMES COMPLEXOS (Art. 101, CP20)
São crimes que possuem mais de um tipo penal dentro deles. A redação do art. 101 do CP diz que em hipótese
de crime complexo, se um dos crimes for de Ação Penal Pública, todo crime complexo será também.
O crime de estupro, tecnicamente não seria crime complexo, porém, o STF aderiu a doutrina italiana, onde o
crime complexo poderia ser:
a. Sentido estrito: dois crimes em um tipo penal;
b. Sentido lato: é o crime mais uma elementar do tipo.
Assim, o STF entendeu que o estupro é crime complexo em sentido lato, e neste caso, a própria conjunção
carnal é que um dado que se acopla ao constrangimento, visto que ambos têm a intenção de satisfazer a lascívia.
A interpretação dada ao art. 101 do STF seria extensiva.
1.3. INTERPRETAÇÃO (Art. 225, CP21)
A Lei 12.015/09 alterou a redação do art. 225 do CP, e assim, qualquer estupro passou a ser crime de Ação
Penal Pública Condicionada à Representação, mesmo que haja violência real, lesão corporal grave ou morte.
Diante disso, a Lei mudou o Direito de Ação, que deixou de ser do particular, passando a ser do MP, porém,
deve-se ressaltar que esta lei não trouxe disposição transitória, o que acarreta em carência superveniente do
direito de ação por alteração legislativa, trazendo nulidade ao processo.
O mesmo ocorreu com o art. 88 da Lei 9.099/95, porém, esta trouxe uma norma de transição (art. 90), para que
não houvesse decadência.

19 Súmula 608, STF – “No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada”.
20 Art. 101, CP – “Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde
que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério Público”.
21 Art. 225, CP – Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.

Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável

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A ausência dessa norma de transição por parte da lei 12.015/09, demonstra atecnia (falta de precisão técnica),
que poderá acarretar em decadência.

2. SISTEMÁTICA POSTERIOR LEI 12.015/09


2.1. CRIME DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO (ADI 4301)
Essa ADI foi ajuizada pelo PGR, visando declarar a inconstitucionalidade à nova redação do art. 225 do CP,
que ainda não foi julgada.
O PGR argumentou a inconstitucionalidade usando como parâmetro de controle de constitucionalidade alguns
fundamentos:
1. Dignidade sexual é um bem jurídico penalmente relevante que é uma vertente do postulado da
dignidade humana, que está ligada à liberdade de escolha para o parceiro sexual. Assim, a impuni-
dade do crime de estupro tira essa liberdade do indivíduo.
2. Violação do Devido Processo Substancial, na vertente da vedação à Infra-proteção ou proteção de-
ficiente, ou seja, dizendo que é uma lei que projeta a impunidade.
Não dá para esperar que a vítima que morreu represente, ou ainda, que a pessoa que sofreu o crime
evite a decadência, visto que a lei não especificou o termo inicial para contagem do prazo.
Defende-se que essa lei viola a tripartição dos poderes, visto que é uma intervenção política que atenta, inclusive, contra
a tecnicidade do direito.
Atualmente, mesmo diante da revogação do art. 225 do CP, aplica-se normalmente a súmula 608 do STF, em que nos
crimes de estupro em que se tenha pratica mediante violência real (lesão corporal, mesmo que levíssima), a ação penal é
pública incondicionada.

3. Extinção da punibilidade na Ação Penal Privada


A hipóteses abaixo só fulminam a Ação Penal Privada, mas nunca da Ação Penal Pública.
Isso só ocorre em razão dos Princípios da Oportunidade e da Disponibilidade.

Pré processual Fase processual


Perdão do Ofendido
É equivalente à renúncia, consiste em uma liberalidade
Renúncia
que o autor oferece ao réu da ação no sentido de desistir
Ato do ofendido de abdicar do direito de ação antes de ser
da continuidade da Ação Penal. Agora, porém, é um ato
exercido (ato de vontade). Assim, é um ato unilateral in-
bilateral, visto que só produzirá efeitos se o ofendido
divisível (P. da Indivisibilidade), visto que não há réu
oferecer e o réu aceitar.
para concordar com a renúncia, porém, inclui-se nessa
Trata-se de exceção ao P. da Indivisibilidade, onde exis-
possibilidade todos os potenciais réus.
tindo pluralidade de réus, onde mesmo que um deles não
aceite, o aceite valerá apenas para quem o der.

Perempção (art. 60, CPP)


É uma sanção processual em razão da inércia do autor em
praticar atos processuais, que irá gerar a extinção da pu-
nibilidade, podendo ocorrer nos seguintes casos:
Inc. I – autor deixa de impulsionar o processo por
Decadência
mais de 30 dias;
É a perda do direito de ação penal privada (direito de
Inc. II – morte do autor. Se no prazo de 60 dias ne-
queixa) pela inércia do autor pelo prazo decadencial de 6
nhum herdeiro assumir a ação, haverá perempção;
meses que é ininterrupto e fatal, contados a partir do co-
Inc. III – deixar de praticar qualquer ato processual
nhecimento da autoria até a data do ajuizamento da ação.
sem motivo justificado. Ou ainda, se o autor não pe-
dir a condenação do réu nas Alegações Finais, visto
que se o autor pedir a absolvição o juiz não poderá
absolver, porém, ele irá declarar a extinção da puni-
bilidade por perempção.
Inc. IV – PJ que foi dissolvida sem outra pessoa su-
cessora.

AÇÃO CIVIL “EX DELICTO”


 INTRODUÇÃO
O código estabelece normas para regulamentar a responsabilidade civil conexa com a criminal, já que, muitas vezes, os fatos que
constituem objeto do processo penal podem embasar pretensão reparatória do lesado.
A Ação Civil “Ex Delicto” é a ação “ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, para obter indenização pelo dano causado pelo
crime, quando existente” (Nucci).
Nesse contexto, esclarece-se que ela envolve tanto a execução, no juízo cível, da sentença penal condenatória, a qual, por tornar
certa a obrigação de repara o dano causado pelo crime, servirá de título executivo judicial, com base no artigo 475-N, inc. VI do

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NCPC , como também na ação civil de conhecimento (ação para ressarcimento do dano), em que se pleiteia reparação dos danos
22

causados à vítima (art. 64, CPP23).

 RESPONSABILIDADE PENAL E CIVIL


Existe uma semelhança entre a teoria da responsabilidade penal e civil, onde o fato é o mesmo, mudando-se apenas o rótulo
jurídico, como é o caso de homicídio, onde o que ficou vivo será submetido aos efeitos carcerários e cumprir a pena, assim como os
efeitos civis reparatórios.
Portanto, há em comum o mesmo suporte fático para ambas as responsabilidades, que nos leva a constatar que há como racio-
nalizar a justiça, assim, se a justiça reconhece o fato, apenas se mudará a rotulagem.
Nesse trilhar é que o art. 63, caput, do CPP24 apregoa que transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe
a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros. Com efeito, quanto
à indenização, tem-se que, no juízo cível, "não se discutirá se esta é devida (an debeatur), mas tão-somente o quanto é devido pelo réu
(quantum debeatur)" (Nucci).

 DEVEDER DE REPARAÇÃO DO DANO RECORRENTE DO CRIME


Todo e qualquer crime gera dano na esfera cível, e, por consequência, haverá o dever de reparação desse dano. Isso ocorre porque
todo crime fere bem jurídico, e todo bem jurídico é aferível de valoração econômica.
O art. 91, inc. I do Código Penal25 destaca que, a lei penal mais benéfica que gera “abolitio criminis” retira apenas a tipificação,
porém, permanece o dever reparatório civil decorrente da prática da atividade que outrora era tida como crime.

 PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA DE INSTÂNCIAS


As instâncias cíveis e criminais são independentes, porém, essa independência é relativa, visto que se submetem ao mesmo
suporte fático, além do fato de a jurisdição ser una, coerente e harmônica.
Deste modo, se o fato existe para o juiz criminal, ele deverá existir para o juiz cível.
Nesse tema, deve ficar claro que a jurisdição penal prepondera sobre a jurisdição civil, visto que a jurisdição penal não
encontra barreiras/limites legais de verdade, ou seja, ela só se pauta em verdades demonstradas de forma categórica, não tendo limites
para a busca dessa verdade real, mergulhando a fundo nos acontecimentos, nas evidências fáticas, não podendo contar com presunções
para se perquirir os fatos.
Tudo isso por uma razão muito simples: a jurisdição penal lida com a liberdade humana, que é indisponível. Ou demonstra-se o
fato, ou o fato não existe.
Nem mesmo a vontade do réu de ser preso é capaz de obscurecer a verdade real dos fatos.

 PREJUDICIALIDADE EXTERNA
A prejudicialidade externa nada mais é do que o reconhecimento do efeito de uma decisão transposta de um processo para o
outro, que é a dinâmica que ocorre no caso da ação civil “ex delicto”, quando um juiz penal declara a existência de um fato na esfera
penal, que por sua vez terá força para interferir na esfera cível.
Ponto, segundo Carnelutti, é toda afirmação/assertiva do processo.
Sendo assim, quando um ponto encontra um contraponto, formada está uma questão.
Por outra banda, um ponto que não tem um contraponto é denominado ponto pacífico. No processo penal, não há como com-
pactuar com pontos pacíficos, pois a lide penal é indisponível.
Quando a questão envolve pontos fáticos, ela é chamada de questão de fato, que só será solucionada mediante instrução de
atividade probatória. E, quando essa questão fática é decidida por um juiz criminal, e essa sentença transita em julgado, a declaração do
fato fará coisa julgado na esfera cível, e isso é a chamada de prejudicialidade externa, visto que houve um pré-julgamento de uma
questão de fato, que tornou-se indiscutível na esfera cível, servindo, inclusive, de título executivo judicial.
Não obstante, a questão de direito não depende de prova, visto que o juiz conhece o direito (iura novit cúria).
Quando se tratar de questões jurídicas processuais que discutem a própria validade do processo, denomina-se como questão
preliminar.

 CONDENAÇÃO CRIMINAL COMO TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL


Quando houver uma condenação criminal, o juiz julgará mediante uma convicção categórica do fato, e assim, pode-se afirmar
que toda condenação criminal enseja em título executivo judicial, o que é um “atalho processual”, observado que é suprimida a
necessidade de uma fase conhecimento/cognitiva na esfera cível, que é superada (art. 515, IV, NCPC).
Exemplo para se atentar: fazendeiro mata o capataz, ficando devidamente comprovado. Nesse caso, a mãe de família,
mulher do capataz, terá na sentença penal a certeza da culpa, ou seja, da dívida (an debeatur, mas não dá o quantum
debeatur) que não é quantificada, ficando “non liquet”, visto que o dano não é quantificado pela sentença criminal.
A regra é que para se executar, o título deve ser líquido e certo, que deverá ser mensurado em uma Ação de Liquidação, e
é essa regra que se aplica à sentença criminal, para que se mensure o quantum debeatur do dever reparatório da pessoa que
foi condenada na ação criminal.
Apurado o valor, o título poderá ser executado.

22 Art. 515, NCPC - São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
23 Art. 64, CPP - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra
o responsável civil.
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela.
24 Art. 63, CPP – “Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu repre-

sentante legal ou seus herdeiros”.


25 Art. 91, CP - São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

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A alteração do art. 387 do CPP permitiu ao juiz criminal a arbitrar o início de condenação, abrindo um capítulo na sentença penal
condenatória, para liquidar parte da condenação, garantindo uma efetividade do processo.

 ABSOLVIÇÃO
A depender da categoria a ser adotada na sentença, esta terá ou não eficácia na esfera cível, podendo ser:
1. DUBIDATIVA
Trata-se em absolvição baseada em juízo de dúvida quanto a culpa e/ou a ocorrência do fato, diante na insuficiência do
conteúdo probatório formado nos autos, onde o juiz não consegue dirimir uma questão de fato.
Essa sentença é vazia de conteúdo fático comprovado (“sentença oca”), que também é um “non liquet” em seu mais alto
grau, sendo incapaz de gerar coisa julgada material, e, desta forma, não produzirá efeitos na esfera cível.
A decisão de arquivamento de inquérito, e a extinção da punibilidade não geram coisa julgada material.
2. CATEGÓRICA
Nesse caso o juiz declara peremptoriamente a inocência, que é evidenciada por um lastro probatório suficiente, para
que o juiz se convença da inocência.
Ela existe quando o juiz reconhece e declara que o autor não participou do crime, ou que sua conduta não é crime, ou
ainda que não aconteceu nenhum fato criminoso.
Deste modo, essa sentença faz coisa julgada na esfera cível.

 EFEITOS DA SENTENÇA PENAL NA ESFERA CÍVEL


1. ABERRATIO ICTUS
O agressor agride o defensor, que ao se defender erra o golpe e atinge um terceiro.
Nesse caso, em eventual ação penal, o defensor será réu no processo, porém, haverá uma sentença categórica, provando
que ele errou o golpe, visto que estava agindo em legítima defesa.
Essa sentença não beneficia o terceiro, visto que o terceiro não se submete aos limites subjetivos da coisa julgada, porque
ele não participou do processo penal em contraditório como parte.
2. Art. 68, CPP26
Esse artigo não foi recepcionado pelo art. 134 da CF27, pois não poderia desvirtuar a atividade do MP.
O STF criou a teoria da inconstitucionalidade progressiva, ou seja, é uma inconstitucionalidade que irá progredindo no
tempo, como é o caso de Estados onde não há Defensoria Pública, essa norma seria inconstitucional.

JURISDIÇÃO
 CONCEITO
Por jurisdição compreende-se o poder atribuído com exclusividade ao Judiciário para decidir um determinado litígio segundo as
regras legais existentes (Norberto Avena).
Jurisdição é o poder-dever do Estado em aplicar o direito ao caso concreto (Nestor Távora).
Em suma, jurisdição é o poder de julgar (que é inerente a todos os juízes). É a possibilidade de aplicar a lei abstrata aos casos
concretos que lhe forem apresentados, o poder de solucionar lides. Todos os membros do Poder Judiciário têm jurisdição.

 ≠ COMPETÊNCIA
São institutos correlatos, visto que não há jurisdição sem competência, e vice-versa.
Desta forma, todo juiz é investido de jurisdição, que é delimitada pelos casos em que cada juiz poderá exercer a atividade
jurisdicional.

 PRINCÍPIOS
 Inafastabilidade (art. 5º, XXXV, CF)
A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Significa dizer que o Estado não tem a
faculdade de exercer a atividade jurisdicional.
Não confunde com a indeclinabilidade, quando o juiz se declara incompetente, o que não viola esse princípio, isso por 2
motivos:
1. As regras de competência são previstas em lei, e assim, quando o juiz se declara incompetente, é porque há
uma regra jurídica;
2. A inafastabilidade prevê que o Judiciário não pode deixar de exercer jurisdição sobre o caso concreto, e assim,
quando o juiz se declarar incompetente, haverá remessa dos autos para o juízo competente.
 Juiz Natural (art. 5º, XXXVII e LIII CF)
Significa que ninguém pode ser processado ou julgado senão pelo juiz competente, de acordo com normas preestabele-
cidas (art. 5º, LIII, CF28). São vedados, da mesma forma, juízos e tribunais de exceção, ou seja, aqueles que são criados
para julgar um caso específico (art. 5º, XXXVII, CF29).

26 Art. 68, CPP – “Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será
promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público”.
27 Art. 134, CF – “A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático,

fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal”.
28 LIII – “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”.
29 XXXVII – “não haverá juízo ou tribunal de exceção”.

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 Indelegabilidade
Nenhum juiz poderá delegar sua jurisdição a outro, pois, se isso ocorrer, estar sendo desrespeitado o princípio do juiz
natural. A expedição de carta precatória ou carta de ordem não fere este princípio, porque a delegação é apenas para a
realização de determinado ato processual (oitiva de testemunhas, por exemplo), sem a transferência do poder decisório
ao juiz deprecado.
É por essa razão que o juízo não pode, via de regra, homologar proposta de suspensão condicional do processo proveniente
do juízo deprecante. Assim, caso a proposta seja aceita pelo réu, a precatória deverá ser devolvida para homologação do
juiz da causa.
 Investidura
A jurisdição só pode ser exercida por quem foi aprovado em concurso público da magistratura, nomeado, empossado e
que está no exercício de suas atividades. Nesse sentido, todo agente público pertencente aos quadros da magistratura é
investido de jurisdição.
 Irrecusabilidade
As partes que integram o conflito não pode se recusar a cumprir a decisão proferida em atividade jurisdicional.
 Correlação
Esse princípio nasce da necessidade de delimitação do objeto da ação penal, não podendo julgar coisas estranhas ao
processo.
 Devido Processo Legal
Existem diversas peculiaridades que devem ser cumpridas para que o processo seja válido

 CARACTERÍSTICAS
 Inércia
O juiz não pode dar início à Ação Penal.
Significa dizer que o Estado só exercerá a jurisdição quando ele for provocado, que no processo penal ocorre mediante
denúncia ou queixa-crime.
 Substitutividade
Nasce da substituição da autotutela, onde o Estado passou a substituir as partes, se responsabilizando para a resolução
dos conflitos existentes.
 Atuação do Direito
Funda-se na ideia de aplicação da lei no caso concreto.
Quando há a prática de um crime, existe uma violação do ordenamento, e assim, haverá desestabilização do ordenamento
jurídico, e a atividade jurisdicional irá reafirmar a estabilidade do ordenamento jurídico.
 Imutabilidade
Tem a finalidade de trazer segurança jurídica, ou seja, até determinado momento processual as decisões são mutáveis,
porém, a partir do transito em julgado, ela é abarcada pelo instituto da coisa julgada, impedindo sua rediscussão.
 Lide
Esse conflito de interesses é um pressuposto inerente ao exercício jurisdicional. Para a ação penal, não é necessário um
conflito de interesses, porque a partir de 88 o MP passou a ter uma atuação com “custos legis”, não atuando de modo a
objetivar a aplicação de pena, mas, ele atua objetivando a correta e justa aplicação da lei, seja para condenar ou para
absolver.
Não há pretensão resistida, porque ambas as partes objetivam a aplicação da lei.

DISTINÇÃO ENTRE JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA


 CONCEITO DE COMPETÊNCIA
Um juiz não pode julgar todos os casos, de todas as espécies, sendo necessária uma delimitação de sua jurisdição. Essa delimi-
tação do poder jurisdicional dos juízes e dos tribunais denomina-se “competência”.
Essas regras são estudadas pelo fato de todo e qualquer poder é fragmentado pela CF, o que não é diferente quando se trata de
jurisdição.
Diante disso, as regras de competência existem para dividir o poder jurisdicional do Estado.
Competência á a divisão/fragmentação da jurisdição, por meio de regras constitucionais, e infraconstitucionais.
Por esse motivo, pode-se afirmar que essas regras de competência concretizam o Princípio do Juiz Natural, que por ser um
princípio aberto, precisa ser preenchido por essas normas para se concretizar.
Quando uma norma da CF se acopla com uma norma de competência do CPP, haverá a concretização da competência, especifi-
cando assim, quem será o juiz natural.

 COMPETÊNCIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


É necessário definir se o caso em análise está na justiça comum ou especializada, e se for pela comum, deve-se saber se está na
estadual (competência residual) ou federal.
Na esfera penal não se aplica a competência dos Tribunais Trabalhistas.
Se o crime não for da justiça eleitoral ou da justiça militar, então será da justiça comum.

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 COMPETÊNCIA COM CPP (Critérios Legais – art. 69 ao 92, CPP)
Os critérios legais estão contidos nos incisos do artigo 69 do CPP, que serão tratados de forma pormenorizada a seguir:
I. Lugar da Infração;
II. Domicílio ou residência do réu;
As competências estabelecidas nos incisos I e II tem a finalidade de estabelecer o foro (a comarca) onde se dará o
julgamento.
III. Natureza da infração
Uma vez fixada a comarca, é o critério de natureza da infração que apontará a Justiça competente (Comum,
Eleitoral ou Militar). Dentro da mesma justiça, a natureza da infração pode ainda levar o julgamento a varas espe-
cializadas, como, por exemplo, ao júri, ao Jecrim para as infrações de menor potencial ofensivo.
IV. Distribuição
Se não houver nenhum juiz prevento (inc. IV), deverá ser feita a distribuição, uma espécie de sorteio, para que os
autos sejam direcionados a um juiz determinado (aquele a quem foi feita a distribuição).
V. Conexão e Continência
São institutos que determinam a alteração ou prorrogação da competência em situações específicas.
Ex.: João, armado, subtrai um carro em SP e vende a Lucas em Campinas. Os crimes são conexos e por isso deve
haver um só processo para a apuração de ambos. O CPP, então, estabelece regras para que ambos sejam julgados
em uma mesma comarca, embora tenham ocorrido em locais diversos. Pelo fato do crime de roubo ser mais grave
que o de receptação, ambos serão julgados em SP (art. 78, II, a, CPP30).
Se houver conexão entre duas competências constitucionais, as regras de conexão não suportam essas circunstan-
cias, e assim, haverá cisão, e o caso não se “curvará” às regras de conexão, visto que essas são regras infraconsti-
tucionais, passando, inclusive, sobre a Teoria Monista.
VI. Prevenção
Fixados o foro e a Justiça, será possível que coexistam vários juízes igualmente competentes. Assim, caso algum
deles tenha se adiantado aos demais na prática de algum ato relevante, ainda que antes do início da ação, estará ele
prevento e será o competente.
VII. Prerrogativa de função
Verifica-se essa regra quando o legislador, levando em consideração a relevância do cargo ou função ocupados
pelo autor da infração, estabelece órgãos específicos do Judiciário que julgarão o detentor daquele cargo caso ele
cometa infração penal. Essas hipóteses estão previstas na CF, e, residualmente, nas Constituições Estaduais.
 COMPETÊNCIA EM ABSTRATO
São as regras previstas na legislação, ou seja, o próprio arcabouço normativo que prevê a possibilidade de um juiz atuar numa
causa, sendo uma competência em potencial, uma jurisdição aberta a receber o caso.
 COMPETENCIA EM CONCRETO
É a competência em que existe um determinado caso que é submetido à jurisdição de um determinado juiz.
Diante disso, destacam-se dois momentos distintos: o momento em que juiz poderá estar (competência em abstrato) e no mo-
mento em que ele está no processo (competência em concreto).
Portanto, só poderá haver modificação de competência sobre aquilo que já se concretizou, visto que não se pode modificar o
que ainda está em abstrato.
 COMPETÊNCIA ABSOLUTA
É a competência que não pode ser modificada/prorrogada pela vontade das partes, mas só poderá ser instituída e modificada por
vontade da lei. Essas regras atendem ao interesse da justiça, e não ao interesse das partes.
Têm-se por interesse da justiça como o interesse voltado para uma boa formação e prestação jurisdicional, sendo rápida, e muitas
vezes especializada, podendo ser aperfeiçoável/aprimorável.
Essas regras seriam aquelas que estabelecem, por exemplo, a hierarquização da competência recursal, permitindo que haja um
controle sobre o exercício jurisdicional.
As competências em razão da pessoa e da matéria são absolutas, pois é de interesse público, e não apenas das partes, o seu
estrito cumprimento, e o desrespeito à essas regras traz nulidade absoluta.
Do mesmo modo, trata-se sobre os critérios de especialização da justiça, para que o juiz se aprimore sobre determinado tema do
direito.
 COMPETÊNCIA RELATIVA
São regras processuais que atendem interesses das partes, sobretudo, no que diz respeito ao seu deslocamento, visando contenção
de gastos, para que não seja necessário o deslocamento.
A competência territorial é relativa, de modo que, se não for alegada pela parte interessada até o momento oportuno da ação
penal, considera-se prorrogada, sendo válido o julgamento pelo juízo que, em princípio, não tinha competência territorial, visando
atender a vontade das partes.
Diante disso, se essa regra for violada, não haverá invalidade do processo, visto que essa violação se convalida, e o ato jurisdi-
cional é plenamente válido (“Perpetuatio Jurisdicitionis”).
A prevenção31 tem efeito semelhante às regras de competência relativa, visto que se não houver fixação da competência por
regras territoriais, a competência será do juiz prevento (que primeiro teve contato com o processo).

30 Art. 78, CPP – Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras:
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
31 É o juízo prevento, ou seja, o juízo que primeiro teve acesso aos autos.

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 COMPETÊNCIA MATERIAL
Trata-se de regras competência que leva em conta os elementos de uma relação jurídica penal material (partes, tipo de crime e
onde aconteceu).
 Em razão da pessoa (Ratione Personae)
Considera-se a pessoa que praticou o delito (réu) e assim, ocupa o polo passivo da ação penal.
Essa competência é Foro por Prerrogativa de Função (ratione muneris vel personae) quando a pessoa ocupa cargo
público.
Para essa competência, pode ser utilizado para a fixação da competência a vítima do crime, como é o caso de crimes
contra a União Federal. Importante destacar que não modificará a competência quando a vítima for qualquer outra pessoa
que não seja a União.
 Em razão da matéria (Ratione Materiae)
Deve ser levado em consideração a natureza da infração. É o caso do crime de homicídio, que é julgado pelo Tribunal do
Júri, ou ainda, a competência do Jecrim, que é determinado em razão da natureza da matéria.
 Em razão do território (Ratione Loci)
É a única hipótese de competência relativa no processo penal, considerando o local onde houve a ocorrência da conduta.
 COMPETÊNCIA FUNCIONAL
São regras voltadas para atender o interesse da justiça ao exercer sua função jurisdicional, e por isso, são regras de caráter
absolutas.|
 Objeto do juízo ou Capítulos Decisórios
São aplicadas em sentenças subjetivamente complexas ou Plúrimas, que são decisões construídas por mais de uma pessoa,
como é o caso da Sentença do Júri, em que há um capítulo decidido pelo juiz togado e outro pelo juízo popular.
 Fases do processo
Cada juiz tem poder jurisdicional para decidir sobre uma determinada fase do processo.
São regras que delimitam as etapas de atuação dos juízes nas fases do processo.
 Grau de jurisdição
Competência para definir as competências:
a. Originárias
Se faz quando uma ação é distribuída para ter o seu primeiro pronunciamento.
b. Recursal
Competência para reanalisar uma decisão já prolatada, que ainda pode ser:
I. Ordinária: matéria de fato;
II. Extraordinária: matéria de direito.
 PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Trata-se da possibilidade de modificação do poder jurisdicional de um juízo por outro, ou melhor, dos limites dos poderes
jurisdicionais de dois ou mais juízes, onde um juiz amplia, ao passo que o outro tem sua competência reduzida.
A prorrogação pode ser:
 Voluntária ou Convencional
Está adstrita à vontade particular das partes, portanto, essa prorrogação só incidirá em competência relativa.
Só existe um tipo de competência relativa no Processo Penal: a territorial.
Essa prorrogação se subdivide em:
a. Expressa
Se dá por ato de vontade manifestado pela parte, que é o ajuizamento da ação penal privada, unicamente,
que também é chamado de Foro Optativo na Ação Penal Privada, onde, mediante um ato de vontade mani-
festo, a ação é ajuizada perante um juiz, onde a ação poderá seguir.
b. Implícita ou Por Omissão
Acontece pela inércia da parte interessada, onde ocorre a “Perpetuatio Jurisdictionis”.
Ex.: furto realizado em Prudente, e a vítima faz o B.O. em São Paulo, e o promotor ingressa com a Ação
Penal de furto lá. Porém, o réu não ajuíza “excptio fori” (exceção de foro), requerendo a remessa dos
autos para o lugar da infração, e com essa atitude, o réu, implicitamente anuiu com o foro de ajuiza-
mento.
 Necessária, Obrigatória ou Legal
É aquela modificação dos limites do poder jurisdicional que acontece por maneira imperativa, onde a lei determina
que se modifique.
Essa prorrogação poderá modificar, inclusive, a competência absoluta, visto que se trata de determinação normativa,
visando atender o interesse da justiça.
Porém, essa prorrogação não modifica a competência constitucional, quando a norma que prevê a prorrogação tiver status
infraconstitucional, por questões de hierarquia entre as normas (Ex.: conexão e continência, previsto no CPP, modifica a
competência absoluta prevista na CF – Art. 76 e 77, CPP).
Ex.: IDC (federalização da persecução penal), é um instrumento de prorrogação necessária constitucional, que
modifica a competência absoluta prevista no próprio texto da CF.
Ex.: conexão e continência, instrumento de prorrogação necessária infraconstitucional, aplica-se supletiva-
mente.

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 DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA
É a transferência de poder jurisdicional de um juízo para o outro com base na lei, e nunca por um ato de vontade do juiz, visto
que o poder é do Estado.
 Interna
Quando ocorre dentro de um mesmo órgão jurisdicional.
Ex.: sai o juiz titular e entra um substituto na mesma vara, ou, constituição do Tribunal do Júri, onde há a transferência
de poder jurisdicional aos jurados.
 Externa
Transferência de poder jurisdicional entre órgãos jurisdicionais diversos.
Ex.: carta precatória.
 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR DA INFRAÇÃO (Ratione Loci)
Deve se saber o “locus commissi delicti”, ou seja, onde o crime foi praticado.
Trata-se de competência relativa, portanto, prorrogável, o que nos leva a termos várias regras e várias exceções.
 Regra Teria do Resultado (art. 70, CPP32)
Teoria adotada pelo processo penal, onde o lugar do crime é o local onde ocorreu a consumação do crime
o Exceção
A jurisprudência destacou algumas exceções:
a. Crimes dolosos contra a vida (art. 121 a 126, CP)
São crimes que vão a júri, onde a regra é que seja no lugar da conduta, para que os presentes no ato
participem.
b. Crimes qualificados pelo resultado
Não será onde ocorreu o resultado, mas competente será onde ocorreu a conduta.
Ex.: estupro com resultado morte, será onde ocorreu o estupro; latrocínio.
Ex.: falso testemunho praticado por carta precatória. Processo que corre em Prudente, e há pre-
catória em Pirapó em que a testemunha comete o crime de falso testemunho. Nesse caso, o juiz
competente para julgar essa ação, será o juízo deprecado (Pirapó).
Ex.: estelionato com falsificação de folha de cheque. O crime será apurado no local da conduta
(SP), e não onde o dinheiro sumiu (Prudente).
o Tentativa
Competência firmada último local da prática do ato de execução.
 Crimes a Distância
Possui dois tipos:
o Crimes de Espaço máximo (art. 70, CPP)
Nesse caso a conduta começa em um país, e o resultado é em outro. Sendo assim, o agente responde no lugar
onde foi praticado o último ato de execução.
Ex.: carta com gás tóxico é enviado do Brasil para uma pessoa na Argentina. Nesse caso, ele responde no
Brasil, onde ocorreu o último ato de execução.
Se ocorre o contrário, o crime é praticado em outro país, mas o resultado ocorre no Brasil, o foro competência
será onde o resultado ocorrerá.
o Crimes Plurilocais
A conduta começa em uma comarca e termina em outra, dentro do mesmo território nacional (exemplos da
exceção da Teoria do Resultado).
 JURISDIÇÕES INCERTAS (art. 71, CPP33)
Essa regra visa dirimir dúvidas que existem entre jurisdições de comarcas distintas, ou porque não se sabe ao certo as linhas
divisórias, ou porque não se sabe ao certo onde o crime foi consumado.
Quando houver esse tipo de dúvida, utilizar-se-á o critério de prevenção, ou seja, será competente a comarca do juiz que pri-
meiro tomou conhecimento da ocorrência do crime, e não o que primeiro receber a Ação Penal (ATENÇÃO).
A prevenção é um critério de competência relativa para desempatar a competência territorial.
 CRIMES PERMAMENTES E CONTINUADOS
São crimes cuja consumação se arrasta pelo tempo:
a. Permanentes
Crime de tráfico, onde o traficante varia entre comarcas cometendo o crime.
b. Crime Continuado
Ladrão de toca fitas em vários lugares diferentes.

32 Art. 70, CPP - A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução.
§ 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último
ato de execução.
§ 2o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia
produzir seu resultado.
§ 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais
jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
33 Art. 71, CPP - Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

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 COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU – Foro Subsidiário
Quando não tiver conhecimento de nenhuma informação do lugar da infração, então, o critério a ser adotado é do art. 72, porém,
só será adotado se não souber o lugar da infração. Esse foro é chamado de Foro Subsidiário ou Secundário.
 Mais de um domicílio
Nesse caso, o foro competente será o prevento.
 Ausência de domicílio
A competência será do primeiro juiz que tomar conhecimento do caso.
 Foro optativo da ação penal privada
É optativo apenas para o autor/querelante.
Ex.: crime de difamação cometido em SP, mas o ofendido é de Prudente. Ele poderá escolher onde irá ingressar com a
ação.

COMPETÊNCIA FIXADA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO


A competência pela natureza da infração é de natureza material absoluta por especialização, onde há um tribunal especiali-
zado para julgar um tipo de delito. Assim o é por interesse da justiça, visando aprimorar a qualidade dos julgamentos.
Uma grande maioria dessa espécie de competência está na Constituição, e no que diz respeito à competência do júri, trata-se de
cláusula pétrea, encontrada no art. 5º, inc. XXXVIII, alínea d. É o caso de crimes militares, eleitorais, foro por prerrogativa de função,
JECRIM (crimes de menor potencial ofensivo).
Excepcionalmente, poderá haver competência por natureza da infração fora da Constituição, como é o caso de se poder criar
uma Vara para julgar crimes de lavagem de dinheiro, por exemplo, assim como a criação de uma vara que só trate de violência doméstica.
Ainda poderá haver competência por constituições estaduais, como é o caso de prerrogativa de função em face de crime praticado por
procurador do Estado.

 TRIBUNAL DO JÚRI, COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS E VIA ATRATIVA


Julga crimes dolosos contra a vida consumados ou tentados e seus conexos. O júri só atrairá os crimes conexos, desde que a
competência não venha a ser constitucional, e assim, haverá cisão da competência, e cada um responderá em seu foro competente.
Melhor elucidando, percebe-se que o júri tem competência atrativa, de maneira que atrairá todos os crimes conexos, e, repetindo,
desde que a competência do crime conexo não seja constitucional.
A tradição da via atrativa do júri decorre do fato de o júri ser o rito mais solene, com amplo debate e contraditório, o que permite
ao réu o luxo de gozar da plenitude de defesa, e assim, é confortável que seja dado ao réu a possibilidade de ser julgado pelo rito do
júri.
O rito do júri é chamado de “Rito Escalonado Bifásico”, composto de duas fases:
1ª Fase – Formação da Culpa
Fase eminentemente técnica, presidida pelo juiz togado, que se inicia com o recebimento da denúncia, onde há uma prática
instrutória. Porém, essa atividade de instrução processual não visa, em um primeiro momento, condenar ou absolver, mas ser para que
o juiz forme um juízo classificatório da conduta, ou seja, para saber se é uma conduta passível de julgamento pelo Tribunal do Júri.
Desta forma, o recebimento da pronúncia quer dizer que o juiz classifica/categoriza a conduta, remetendo o réu ao plenário do
júri.
Nessa fase pode ocorrer:
a. Impronúncia
Quando juiz conclui que não há prova de nada capaz de formar um juízo crítico sobre o caso, fazendo coisa julgada
formal.
b. Absolvição Sumária
Hipótese de difícil ocorrência, onde o juiz não tem indício algum para pronunciar, antes, tem para absolver o réu.
c. Desclassificação
c.1) na 1ª Fase do Rito do Júri: é feita pelo juiz togado, que vivencia a fase de formação de culpa (1ª fase), ouvindo
o réu e testemunhas, onde ele conclui que há crime, porém, não é doloso contra a vida. O juiz poderá, se for o caso,
desclassificar par o julgamento do juiz singular, ou ainda para o Jecrim.
Nessa hipótese o juiz termina de instruir, forma seu convencimento, e remete ao juízo competente para julgar.
Crime doloso contra a vida de militar contra civil vai a júri, visto que se trata de vis atrativa, ou seja, dá mais chance
de o réu se defender (art. 125, §4º, CF). Além disso, em caso de dúvida sobre a existência de dolo, é a vara do júri que
deverá decidir, visto que tem um rito mais dilatado, sendo esse o entendimento do STJ.
2ª Fase – Julgamento na Sala Secreta pelo Tribunal do Júri
a. Desclassificação
a.2) Desclassificação na Sala Secreta do Júri: é feita pelos jurados, que são os juízes naturais da causa, que tem a
responsabilidade de decidirem o fato. Quando ocorrer de os jurados julgarem que o crime não é doloso contra a vida,
declarando-se incompetentes para julgar o fato, o juiz togado é quem deverá julgar esse crime, aplicando uma sen-
tença, condenando pelo crime pelo qual fora desclassificado, sendo desnecessário que o juiz togado remeta ao juiz
singular. Os crimes conexos deverão ser julgados pelo juiz singular, inexistindo a via atrativa para ser julgado no rito
do júri, visto que o crime principal foi desclassificado.
c.2) Absolvição e Crimes Conexos: quando a pretensão punitiva for improcedente por negativa de autoria, o crime
conexo (ex.: porte de arma) deverá ser julgado pelo júri, e poderá ocorrer de o réu ser absolvido por homicídio e
condenado por porte de arma.

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 COMPETÊNCIA DO JECRIM
Pode ocorrer de o réu, na Sala Secreta ter o crime desclassificado do júri para o JECRIM, sendo duas competências constituci-
onais, motivo que enseja a vedação de decisão sobre essa competência na Sala Secreta.
Nesse caso, nem os jurados e nem o juiz togado poderão julgar. Assim, o juiz deverá esperar o trânsito em julgado da decisão
dos julgados, para remeter ao JECRIM.
Se ocorre de haver uma vara especializada para violência doméstica, o crime que inicialmente foi submetido ao rito do júri, os
jurados poderão julgar o crime de violência doméstica, e não será remetido a vara especializada, visto que não se trata de competência
constitucional.
Pode acontecer de o juiz se julgar incompetente para julgar, e nesse caso, o juiz remeterá o processo para a instância superior,
para que se decida acerca do conflito de competência negativo, hipótese que Tourinho chama de “competência da competência”.
 COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO (Art. 75, CPP34)
Quando há mais de um juiz na Comarca, igualmente competente para julga matéria criminal, sem haver qualquer distinção em
razão da natureza da infração, atinge-se o critério da fixação da competência por distribuição. Assim, através de um processo seletivo
casual, determinado pela sorte, escolhe-se o magistrado competente.
Em outras palavras, significa dizer que esse critério de fixação de competência ocorre dentro do mesmo foro/comarca, sendo que
o critério por distribuição é absoluto, pois visa atender o interesse da justiça, visando equilibrar o número de processos entre os juízes
da mesma comarca.
No processo penal, essa distribuição é feita, normalmente, pré-processualmente, ou seja, quando houver a necessidade de decisão
do magistrado a respeito de qualquer matéria atinente ao inquérito (que ainda não é processo), e para se decidir sobre essa questão do
inquérito, ele deverá ser distribuído no fórum. Essa distribuição previne o juízo (o torna prevento).
 COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO (Art. 83 e Súmula 706, STF)
Ocorre quando a infração se espalhar por mais de um local, não se encontrando o domicílio do réu, inexistindo o critério da
natureza do delito, nem tampouco houver condições de se distribuir o feito, visto que magistrados estão em Comarcas diferentes, além
de não estar presente a conexão e a continência.
A distribuição pode gerar a prevenção, porém, enquanto a distribuição é intracomarca, o critério de prevenção é extraforo, visto
que a fixação pela prevenção se dá para desempatar o conflito de competência entre foros distintos;
Essa competência é relativa, visto que tem o fulcro de desempatar competência de cunho territorial, que é a única hipótese no
processo de penal de competência relativa.

CONEXÃO e CONTINÊNCIA
 CONCEITO e FINALIDADE
Tratam-se de institutos que visam, como regra, à modificação da competência e não sua fixação inicial. Deste modo, tem-se
que a finalidade dos institutos, são, sobretudo:
 Facilitar a colheita de provas;
 Fomentar a economia processual, ou seja, que haja a prática de menos atos processuais com mais resultados deci-
sórios, bem como para;
 Evitar decisões contraditórias.
São hipóteses em que a lei permite que a competência seja modificada.
Nesse sentido, os feitos conexos ou continentes serão julgados por apenas um juiz (in simultaneus processus).

 CONEXÃO (art. 76, CPP35)


O professor Guilherme de Souza Nucci acredita que “a única, sólida e viável razão para a junção de fatos num único processo,
a fim de obterem uma apreciação unitária, é uma produção de provas mais eficaz”, e assim, se, eventualmente, a prova de uma
infração ou de qualquer de suas circunstâncias não servir para influir na prova de outra infração, qual a vantagem da conexão?
a. Penal Intersubjetiva (inc. I)
É chamada por conexão penal por levar em conta o próprio direito penal, orientado pela Teoria Monista, considerando a
relação entre os sujeitos dos crimes.
Para que haja a conexão, é necessário que haja dois ou mais crimes cometidos por duas ou mais pessoas.
i. Por simultaneidade ou Ocasional (a ocasião faz o ladrão)
Várias pessoas cometem infrações diversas, embora praticadas ao mesmo tempo, no mesmo lugar, não
existindo um liame subjetivo entre os agentes, eles não têm um planejamento, ou seja, os crimes são
praticados ocasionalmente.
Ex.: acidente entre caminhões de carne e cerveja, onde pessoas cometem seus crimes separadamente. Será aberto um único
inquérito, facilitando a produção de provas, porém, cada um responderá pelo seu delito isoladamente.

34 Art. 75, CPP - A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente.
Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa
prevenirá a da ação penal.
35 Art. 76, CPP - A competência será determinada pela conexão:

I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo
e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

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ii. Por Concurso de agentes
Vários agentes cometem crimes em momentos distintos e locais diversos, porém, existe um planejamento
e um liame subjetivo entre os agentes.
Ex.: dois sujeitos que se unem para prestação de auxílio mútuo: um furta um documento, o outro falsifica para, futura-
mente, tornar-se viável o estelionato por um terceiro.
iii. Por Reciprocidade
Os sujeitos ativos e passivos se confundem, ou seja, agentes que comentem crimes uns contra os outros.
Ex.: A desfere tiro em B, com a finalidade de mata-lo, possuindo B a mesma intenção no revide, onde nenhum dos dois
poderá falar em legítima defesa.

b. Penal Objetiva (inc. II)


Não é baseada na relação entre sujeitos, mas, na relação entre delitos.
i. Consequencial
Um crime é desdobramento natural do outro, visando obter vantagem ou impunidade/ocultação do
que já foi feito.
Ex.: matar a testemunha que viu o agente praticando um crime, visando obter impunidade.
ii. Teleológica
Um crime é praticado para facilitar a prática de outro. Não se trata de crime progressivo.
Para haver essa conexão, deve haver mais de um dolo.
Essa espécie de conexão tem reprodução ipsis litteris no art. 121, §5º do CP36.
Ex.: matar marido para ter facilidade para estuprar a mulher. Trata-se de hipótese em que o homicídio é praticado para
estuprar “em paz”.

c. Processual / Instrumental / Probatória (inc. III)


Significa que todos os feitos/processos somente deveriam ser reunidos se a prova de uma infração servisse, de algum
modo, para a prova do outro, ou seja, de comprovar que os crimes estão interligados em uma relação de principal e
acessório.
É o caso de crime parasitário ou acessório, ou seja, é necessário que um crime seja comprovado para que o outro seja
comprovado também, é o caso de comprovação do furto para que a receptação seja caracterizada, ocasião em que é
suscitada uma questão prejudicial.
Em suma, é caso em que o crime acessório só existirá se houver o principal.

 CONTINÊNCIA
Apenas um crime é cometido, onde está contida mais de uma pessoa, ou mais de um resultado lesivo, significa a hipótese de
um fato criminoso conter outros, tornando todos uma unidade indivisível.
Quer dizer que a continência é fundamental para a avaliação unificada dos fatos criminosos gerados por um ou mais autores.
Não teria, de fato, cabimento julgar os coautores em processos distintos, visto que cometem o mesmo delito. O mesmo se diga doo
concurso formal, quando uma pessoa através de uma única ação, atinge mais de um resultado criminoso.
A continência poderá ser:
a. Por Cumulação Subjetiva (em razão do concurso de pessoas)
Crime praticado em concurso de agentes, onde vários agentes cometem vários fatos criminosos, desde que fique com-
provado que eles estavam em conluio, com unidade de propósitos, tornando único o fato a ser apurado.
Ex.: um segurou e o outro matou, ambos respondem em um só processo por continência subjetiva.

b. Por Cumulação Objetiva


Um só crime traz desdobramentos e resultados lesivos variáveis. São os casos de:
i. Concurso Formal
Uma só conduta com dois ou mais resultados lesivos.
Ex.: acidente de trânsito em que se atropela duas pessoas; onde uma se machuca e a outra morre.
ii. Erro na Execução em unidade complexa (Aberratio Ictus)
Nesse caso uma única conduta traz mais de um resultado lesivo.
Ex.: sujeito ao atirar acerta a pessoa que se quer, e outra que não queria.
iii. Resultado diverso do pretendido em unidade complexa
Atinge-se o que quer cometer um conduta, porém, sem intenção, acaba chegando ao resultado diverso.
Ex.: menino que só quer quebrar a vidraça, ao quebrar a vidraça ele atinge uma pessoa que estava sentada lá dentro.

 FORO PREVALENTE (art. 78)


Deverá ser analisado o foro que terá mais força atrativa.
I) Júri x Jurisdição Comum
O júri sempre terá força atrativa em relação à jurisdição comum, visto que se trata de jurisdição especiali-
zada constitucional.
II) Jurisdição de mesma categoria (art. 78, II)
Preponderará:
a. Foro que tiver a infração com maior pena cominada;
b. Local onde houver maior número de infrações, se forem todas da mesma gravidade;
c. Por prevenção.

36§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal
se torne desnecessária.

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III) Jurisdição Categorias Distintas
A jurisdição superior se sobrepõe à jurisdição inferior (critério de hierarquia), ou seja, foro por prerroga-
tiva de função absorve a primeira instância.
Ex.: o prefeito e seu assessor praticam crime eleitoral em continência, ambos serão julgados pelo TRE
(Súmula 704, STF37).
IV) Jurisdição Comum x Especial
A jurisdição especial sempre irá se sobrepor.
Existe exceção à essa regra, onde o STJ diz que a justiça federal se sobrepõe à justiça estadual (Súmula
122, STJ38). É exceção porque a justiça federal é justiça comum, porém, um pouco mais específica que a
justiça estadual.

 CISÃO OBRIGATÓRIA (art. 7939)


Haverá um rompimento com a conexão e continência, mediante cisão obrigatória prevista em lei, seguindo os seguintes casos:
a. Jurisdição Comum e Militar
Porque a justiça militar é altamente especializada, visto que possui código e rito próprios, que não se confundem com
os da jurisdição comum.
b. Jurisdição Comum e Vara Infância
Criança e adolescente não se submetem à pena e o rito penal do CPP, e deverão ser submetidos à vara especializada.
c. Superveniência de Doença Mental
Isso é relevante, visto que para o doente mental haverá apenas medida de segurança, e para quem tem aptidão mental
haverá aplicação de pena.
d. Revelia de Corréu
O processo prosseguirá para quem está presente, porém, será suspenso em relação ao corréu revel.
A jurisprudência também criou hipóteses de cisão obrigatória.

 CISÃO FACULTATIVA (art. 80, CPP40)


O artigo 80 do CPP traz uma faculdade ao juiz de cindir o processo, baseando-se em seu prudente arbítrio, visando atender o
bom interesse da justiça e do andamento do processo, sendo possível em 3 situações:
1. Diversidade de tempo e lugar entre os crimes
Poderá até haver conexão, porém, em virtude dessa grande diferença de tempo e lugar, não haverá vantagem, não se
aplicando a conexão, e assim, não haverá foro prevalente.
2. Excesso de acusados
Quando o processo tiver muitos réus, ele ficará demorado por haver muita atividade probatória, ocasião em que o juiz
poderá cindir o processo, visando a celeridade processual.
3. Quando houver qualquer outro motivo relevante
Hipótese em que o juiz decidirá por qualquer outro motivo que ele ache pertinente e interessante de cindir o processo.
Ex.: o juiz Sérgio Moro fez uma cisão facultativa entre políticos e empresários.
Ex.: o prefeito e o capataz entram na fila de eleição para comprar votos. O fiscal dá voz de
prisão para ambos, e eles matam o fiscal.
O prefeito responde no TJ e pelo crime eleitoral no TRE
O Capataz responde no TRE pela compra do voto, e no local de cometimento do crime.

FORO DE PRERROGATIVA DE FUNÇÃO


1. CONCEITO
Não se diz foro privilegiado, porque esse seria um foro baseado em privilégio individual, o que não é o caso do foro em questão,
que visa manter o caráter republicano da função/cargo exercido por determinada pessoa, ou seja, a prerrogativa é em razão da função,
visando proteger a função, e não as condições pessoais do indivíduo.
Assim, o foro por prerrogativa de função é critério de fixação de competência originária absoluta, e, portanto, improrrogável,
pois atende interesse constitucional/republicano, é a materialização do juiz natural no próprio texto constitucional.

2. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL
Esse foro só pode ser criado por normas constitucionais (federal ou estadual). Lei infraconstitucional não pode constituir foro,
nem inovar, ampliando ou reduzindo foro.

37 Súmula 704, STF – “Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro
por prerrogativa de função de um dos denunciados”.
38 Súmula 122, STJ – “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78,

II «a», do CPP”.
39 Art. 79, CPP - A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:

I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;


II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.
§ 1o Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-réu, sobrevier o caso previsto no art. 152.
§ 2o A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.
40 Art. 80, CPP – “Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo

excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação”.

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O foro de prerrogativa é um desdobramento do Princípio da Hierarquia Administrativa do Estado, porque a hierarquia confere
uma possibilidade de se aprimorar as decisões, visando manter uma consonância desse princípio com a jurisdição.
Ainda visa preservar a isonomia, porque é destinado a quem está na função, e não para ex-ocupante de cargo, visto não se tratar
de herança política, como era na época da ditadura militar.
Quando se aplica esse foro, não se aplicar a fixação de competência em razão do local da infração porque tem um interesse
particular, ou seja, não importa onde o crime ocorreu, e sim a função exercida pela pessoa.
Só se aplica na seara criminal, não existindo foro cível, nem para improbidade ou infrações administrativas, sendo exclusiva-
mente criminal.
A súmula 451 do STF41 argumenta posicionando o instituto como violador da separação dos poderes.
O STF ainda determinou que o foro não poderá ser modificado nem mesmo por emenda.
Esse foro sofre uma interferência constitucional da especialização da jurisdição, que seria:
a. Justiça Eleitoral;
b. Justiça Federal;
c. Justiça Comum Estadual.
Nesses casos, teoricamente é possível IDC para federalizar foro por prerrogativa, desde que o prefeito, por exemplo, prati-
que crime que viole tratado internacional e o Estado se mantenha inerte, onde o PGR poderá requerer que o processo passe a tramitar
na Justiça Federal, e não na Justiça Estadual.

 ABRANGÊNCIA DO FORO (Súmula 394 e 451, STF)


A súmula 394 criou a possibilidade de se criar foro para prerrogativa de função para ex-ocupantes de cargos públicos,
que sucumbiu, ou seja, foi cancelada, passando a ser substituída pela súmula 451 do STF, que instituiu que o foro
por prerrogativa de função só seria para ocupantes de cargos públicos.
 LEI 10.628/02 / ART. 84, §1º e 2º, CPP / ADI 2797/DF
Essa lei quis recriar o conteúdo da súmula 394 do STF, só que agora em texto de lei nos §§ 1º e 2º do artigo 84 do
CPP, criando foro pós função para ex-ocupantes de cargo e o foro civil, que eram para crimes contra a administração
pública, que posteriormente foi vetado pela ADI 2797/DF, que declarou os dispositivos integralmente inconstituci-
onal.
Por fim, trata-se de uma tentativa frustrada de repristinação da súmula 394.
Após isso, os tribunais mandaram os processos descerem.
3. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO PREVISTO EXCLUSIVAMENTE EM CONSTITUIÇÃO ESTADUAL
E JÚRI (SUM. 721, STF42)
Existe foro por prerrogativa de função só previsto apenas em Constituição Estadual, o que é plenamente possível. Sendo assim,
se uma autoridade pratica crime em conexão ou continência com um cidadão comum (crime doloso contra a vida), nesse caso, ambos
serão julgados no júri, porque a conexão e a continência puxaram o foro de prerrogativa de função estadual para o júri, visto se tratar
de competência constitucional, a única em voga.
Se uma autoridade mata alguém sozinho, ele será julgado sozinho no TJ.
4. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E EXCEÇÃO DA VERDADE (art. 8543)
Utilizando-se do crime de calúnia como exemplo, esse crime só existirá se os fatos imputados pelo autor forem falsos, pois se o
fato imputado for verdadeiro, não haverá calúnia.
Assim, uma das defesas da pessoa acusada de calúnia é a exceção (= defesa) da verdade, ou seja, o réu defende-se da acusação
de calúnia provando que sua declaração não é falsa.
Observe o seguinte exemplo: Pedro afirma que João (desembargador) “vendeu” decisão favorável no processo “X”. Inconfor-
mado, João decide tomar providências penais contra Pedro. João poderá oferecer uma representação ao Ministério Público,
narrando o que Pedro declarou e pedindo que o Parquet ofereça denúncia contra este. Como outra opção, João poderá, ele
próprio, por intermédio de advogado, ajuizar queixa-crime contra Pedro (art. 714, STF44).
Imaginemos que João tenha ajuizado uma queixa-crime.
A ação penal privada proposta por João (desembargador) contra Pedro deverá ser julgada pelo juízo de 1ª instância, conside-
rando que o réu não tem foro por prerrogativa de função. Em nosso exemplo, quem tem foro por prerrogativa de função é João, mas
ele não é réu e sim autor.
Caso Pedro (querelado) queira se defender provando que suas declarações são verdadeiras, ele deverá oferecer a “exceção da
verdade” (exceptio veritatis), provando que João, de fato, “vendeu” a decisão, e assim, não haverá crime contra a honra, considerando
que só existe calúnia se o fato imputado for falso.
Em regra, quem julga a exceção da verdade é o próprio juiz competente para a ação penal privada. No entanto, se o excepto for
uma autoridade que possua foro por prerrogativa de função, a competência para julgar a exceção será do Tribunal competente para
julgar o excepto. Como João é desembargador, caso ele pratique algum crime, deverá ser julgado pelo STJ (seu foro privativo é no
STJ). Logo, a exceção da verdade contra ele proposta deverá ser também julgada pelo STJ.
Isso justifica-se porque se a exceção da verdade for julgada procedente, isso significa que ficou provado que o fato imputado é
verdadeiro, ou seja, restou demonstrado, indiretamente, que aquela autoridade praticou um crime. E só quem pode reconhecer que a
autoridade praticou um delito é o Tribunal competente (art. 85, CPP).

41 Súmula 451, STF – “A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional”.
42 Súmula 721, STF –“A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição
estadual”.
43 Art. 85, CPP – “Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos

Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade”.
44 Súmula 714, STF – “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por

crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.

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