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Artigo CONFLUÊNCIAS FUZIL, CANETA E CARIMBO

Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito


ISSN 1678-7145 || EISSN 2318-4558

FUZIL, CANETA E CARIMBO:


NOTAS SOBRE BUROCRACIA E TECNOLOGIAS DE GOVERNO1

Juliana Farias
Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UERJ; bolsista
do Programa Nacional de Pós-Doutorado da CAPES.
E-mail: farias.ju@gmail.com

RESUMO
No intuito de analisar seções emblemáticas de “trajetórias documentais” (Ferreira,
2009) relativas a casos de execução sumária ocorridos durante incursões policiais
em favelas do Rio de Janeiro, este artigo é pautado pelo entendimento de que de-
terminadas “práticas de governamentalidade” (Foucault, 2008) estão diretamente
articuladas a expedientes burocráticos de delegacias, institutos médico-legais e
defensorias públicas, dentre outros segmentos de Estado. A documentação pro-
duzida pelo Estado é enxergada, portanto, enquanto elemento chave para a atua-
lização de engrenagens governamentais de controle de territórios e corpos.
Palavras-chave: práticas de governamentalidade; documentos de estado; favelas.

ABSTRACT
In order to analyze emblematic sections of “documental trajectories” (Ferreira,
2009) concerning cases of summary execution occurred during police raids in
favelas of Rio de Janeiro, this article is guided by the understanding that certain
“governmentality practices” (Foucault, 2008) are directly articulated to bureau-
cratic formalities of police stations, forensic institutes and public defender’s
offices, among other government segments. The documentation produced by
the state is understood, therefore, as a key element in upgrading government
gears that control territories and bodies.
Palavras-chave: governmentality practices; state documents; favelas.
1
Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada no GT – Antropologia, burocracia e documentos do IV ENADIR.
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Deixo registrados meus sinceros agradecimentos a Letícia Ferreira e Larissa Nadai pelo debate generoso que propor-
cionaram e às/aos demais colegas pela oportunidade de aprendizado e troca.
FARIAS, Juliana

MORRO DO RUSSO, ZONA entraram em contato com a Comissão


SUL DO RIO DE JANEIRO – de Direitos Humanos da OAB-RJ e com
JUNHO DE 2008 a Rede de Comunidades e Movimentos
Durante uma incursão da Polícia Mi- contra Violência, para a continuidade
litar realizada no fim da tarde no Morro dos encaminhamentos. Quatro policiais
do Russo, agentes que participavam da militares foram denunciados pelo Minis-
operação se esconderam em um dos be- tério Público, acusados pelo homicídio2
cos da favela. Ao sairem do esconderijo, de Emanuel e, aproximadamente um ano
os policiais, encapuzados, atiraram e ma- após sua morte, foi marcada a primeira
taram Fernando Sabino de Figueiredo, audiência de instrução e julgamento do
Jonathan Freitas Murtinho, Pedro Hen- caso, dando o seguimento esperado pela
rique de Almeida Lopes, Rodrigo Firmi- família ao processo judicial, que passou a
no da Silva e Hugo Venâncio de Souza correr na 2ª Vara Criminal da Comarca
no momento em que Emanuel se dirigia da Capital. O processo relativo à execu-
para um bar próximo do local onde havia ção de Emanuel vinha sendo acompa-
sido preparada a emboscada. Outros mo- nhado pelo NUDEDH3 e, durante o pe-
radores que se encontravam nas proximi- ríodo do trabalho de campo que realizei
dades viram quando Emanuel Cardoso para a pesquisa da minha tese de dou-
da Conceição foi abordado. Contam que torado4, o profissional deste núcleo res-
ele chegou a levantar os braços, dizendo ponsável pelo caso era o defensor público
que estava voltando do trabalho, pedin- Frederico Chagas, também chamado de
do para mostrar os documentos, mas os Dr. Frederico pelos familiares de vítimas.
policiais o levaram ao chão e atiraram Dentre os familiares de Emanuel, dois de
na sua cabeça. Algumas pessoas que não seus irmãos – João Luiz e Mário –, e tam-
viram as execuções, mas que estavam bém sua irmã Alexandra, mostraram-se
próximas do local e também prestaram mais dispostos a acompanhar de perto os
depoimento na delegacia encarregada do devidos encaminhamentos. Foi através
inquérito, afirmaram que ouviram um deles e dela que se aproximaram do caso
“rajadão”1, depois vários tiros bem alter- 2
Os quatro policiais militares foram acusados por homicí-
nados, e depois outro “rajadão” – e todos dio qualificado. A ação empreendida é caracterizada, então,
os depoentes explicaram que aquele não como uma ação penal de competência do Júri.
3
era o mesmo som que ouvem quando Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública
do Rio de Janeiro.
acontece troca de tiros no morro. 4
A tese intitulada “Governo de Mortes: Uma etnografia
Os familiares de Emanuel acompa- da gestão de populações de favelas no Rio de Janeiro” foi
nharam a investigação desde o início, realizada no Programa de Pós-Graduação em Sociologia
e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janei-
1
Expressão reproduzida do “Termo de declaração” produ- ro (PPGSA/IFCS/UFRJ), sob a orientação de Luiz Antonio
zido pela Delegacia de Polícia responsável pelo inquérito. Machado da Silva, com apoio do CNPQ e da FAPERJ.

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outros profissionais capazes de somar perior juntamente com seus colegas de


forças aos encaminhamentos relativos ao farda do batalhão fizeram incursão no
processo, como Dr. Saul, um perito legis- morro do Russo com vistas a reprimir
ta aposentado da Polícia Civil que, em o tráfico local, sendo os mesmos recebi-
função de uma atuação enquanto pes- dos a tiros por traficantes do local. Que
quisador do seu próprio ofício, realizou na localidade conhecida como [nome]
um parecer técnico a partir da documen- após serem recebidos com disparos de
tação relativa à execução de Emanuel5. arma de fogo revidaram a justa agres-
Até o momento de conclusão deste texto, são, ocasião em que alvejaram seis in-
o processo ainda se encontrava na etapa divíduos, sendo quatro identificados e
de audiências de instrução e julgamento. que após prestarem socorro os mesmos
vieram a falecer. Que no local foram
DO REGISTRO DE OCOR- apreendidas armas de fogo, além de
RÊNCIA À DECISÃO DO JUIZ: material entorpecente.6
o vai e vem das disputas de versões
Neste caso do Morro do Russo, as- Configura-se, assim, o conhecido
sim como na grande maioria dos casos registro do “auto de resistência”7, que
de execuções sumárias de moradores de neste – como em muitos outros casos
favelas cometidas por policiais militares, semelhantes – vem acompanhado da in-
o registro de ocorrência traz a versão da formação de que os policiais prestaram
troca de tiros entre traficantes e policiais: socorro à vítima, levando-a para o hos-
pital mais próximo, onde ela teria faleci-
Segundo o comunicante [patente e do. A versão da troca de tiros preenchida
nome] informa que hoje por volta de no RO aparece em outros documentos
18:30h cumprindo determinação su- relativos ao inquérito policial, que pos-
5
Tive acesso aos documentos trazidos para a análise neste
teriormente seria acionado, no decorrer
trabalho através da autorização da família de Emanuel, que do processo judicial. No relatório final
solicitou ao defensor público responsável pelo caso o emprés-
timo das pastas do processo para cópia. A todos eles deixo do inquérito, o confronto é justificado
registrado, mais uma vez, um agradecimento sincero por sua porque os policiais, na iminência de se-
interlocução. Neste resumo do caso e ao longo do texto, o
nome da favela foi substituído por nome fictício, assim como rem alvejados por tantos disparos, não ti-
os nomes das vítimas fatais e de seus respectivos familiares; as
datas (mês e ano, especificamente) do episódio também so-
veram outro modo de agir, a não ser fazer
freram modificações; o número do batalhão no qual estavam
lotados os policiais militares que participaram da operação 6
Trecho do registro de ocorrência do caso, peça do inquéri-
em questão foi ocultado, bem como os nomes dos agentes in- to policial incluída no processo judicial.
diciados; por fim, foram substituídos também os nomes dos 7
profissionais ligados a outros órgãos estatais envolvidos com Diferentes aspectos do registro são explorados ao longo da
os processos judiciais de cada caso. Deixo registrados tam- tese, tendo como fonte primeira de consulta as análises de
bém meus agradecimentos à Rede de Comunidades e Mo- Verani (1996). Abordagens mais recentes sobre o tema tam-
vimentos contra Violência, movimento social junto ao qual bém informam a presente reflexão, com destaque para Leite
construí o projeto de pesquisa que resultou neste trabalho. (2012), Líbano (2010), Ferreira (2013) e Misse et al (2013).

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uso das armas de fogo que traziam con- Público, através do Promotor de Justiça
sigo, em legítima defesa e como forma de responsável pelo caso, ao Juiz Presidente
fazer cessar a resistência oposta pelos in- do Tribunal do Júri da Comarca da Capi-
fratores8. Tal versão da troca de tiros, no tal, no intuito de iniciar o processo.10
entanto, além de não encontrar eco nos No primeiro parágrafo do texto as-
depoimentos das pessoas que moram no sinado pelo promotor, são mencionados
Morro do Russo, também é negada na os exames cadavéricos como fonte
denúncia9 apresentada pelo Ministério central da informação a ser denunciada.
8
Trecho do relatório de inquérito final. É através daqueles registros que se sabe
9
Texto da denúncia, na íntegra: “No dia 4 de junho de 2008, quais foram as lesões corporais, quais
por volta de 17 horas e 30 minutos, no Morro do Russo, bair- foram os ferimentos que, seguindo a
ro do Atalaia, no local em que se situa o Bar do Sergio, os de-
nunciados, com vontade livre e consciente de matar, efetuaram denúncia, foram a causa das mortes das
disparos de arma de fogo contra Emanuel Castilho da Silva, vítimas. Ao se referir ao transporte dos
Fernando Sabino de Figueiredo, Jonathan Freitas Murtinho,
Pedro Henrique de Almeida Lopes, Rodrigo Firmino da Silva, cadáveres para o hospital – ação inter-
Hugo Venâncio de Souza, causando nas vítimas as lesões cor- pretada como tentativa de dar aparência
porais descritas nos autos de exame cadavérico de fls. 268, 243,
237, 251, 264 e 259, respectivamente. Tais ferimentos, por sua de licitude aos atos violentos cometidos11
natureza e sede, em sua grande maioria na cabeça e pelas costas, –, o MP menciona a evidente letalidade
foram a causa das mortes das vítimas. Os denunciados, todos
policiais militares em serviço – segundo alegaram por determi- dos ferimentos. Mais uma vez os exames
nação superior – realizavam incursão no citado morro, tendo nas penas do artigo 121, §2º, incisos I e IV (6 vezes), na forma
em dado momento detido as vítimas e as levado para o local em do artigo 69, todos do Código Penal. Isto posto, requer a V.EX.a.
que decidiram consumar os homicídios. As provas orais e tes- que, recebendo a presente, determine a citação dos acusados
temunhais colhidas ao longo da investigação rechaçaram a tese para responderem à imputação ora deduzida, esperando vê-
de legítima defesa lançada pelos policiais em seus depoimentos -la, ao final, julgada procedente com a prolação de sentença de
por ocasião da apresentação da ocorrência em sede policial, pronúncia, levando os réus a julgamento pelo Tribunal do Júri
tendo se demonstrado que agiram com violência imoderada desta Comarca. (Neste trecho da denúncia produzida pelo Mi-
e desnecessária, sem que tenham comprovado haver sofrido nistério Público foram modificados também o nome do bairro
qualquer ataque. Ainda buscando dar aparência de licitude aos onde se localiza a favela em questão, o nome do bar próximo ao
atos violentos que cometeram e sob o pretexto de prestar socor- local dos crimes e os números das folhas do processo relativas às
ro às vítimas, os denunciados transportaram os cadáveres para cópias dos laudos cadavéricos das vítimas fatais da operação.).
o Hospital Municipal [mais próximo], não obstante a evidente 10
Vale lembrar que este caso é uma exceção, visto que a imensa
letalidade dos ferimentos que haviam provocado, demonstrada
maioria dos casos relativos a homicídios decorrentes de inter-
com abundância nos esquemas de lesões que ilustram os autos
venção policial são arquivados pelo Ministério Público. Para
de exames cadavéricos. Agiram os denunciados por motivo tor-
uma abordagem deste tema específico, ver Zaccone (2015).
pe, eis que se vingaram das vítimas indiscriminadamente sob
11
o falacioso fundamento de que seriam traficantes, o que ainda A remoção dos corpos configura prática frequente em casos
que verdadeiro jamais os autorizaria a praticar o “justiçamento de execuções em favelas, motivo pelo qual uma das demandas
sumário” que perpetraram. Do mesmo modo, a descrição mi- dos familiares de vítimas de violência institucional no Rio de
nuciosa dos ferimentos suportados pelas vítimas demonstra que Janeiro é que se cumpra a determinação da Portaria PCERJ no
os denunciados agiram de forma a não lhes permitir qualquer 553 de 7 de julho de 2011. O Artigo 1o desta portaria, que trata
chance de defesa e nem mesmo a tentativa de fuga ou rendição. das diretrizes básicas a serem seguidas pela Autoridade Policial
A participação de cada um dos denunciados no conjunto de ho- em caso de ocorrência que lhe seja apresentada como enseja-
micídios, ainda que, em relação a alguma das seis vítimas tenha dora da lavratura do denominado “Auto de Resistência”, traz no
consistido numa atitude corporal inerte, redundou em força inciso I a seguinte diretriz: acionamento imediato de equipe de
moral cooperativa, pela certeza da solidariedade entre todos, apoio policial, para fins de isolamento e preservação do local,
tendo eles mantido odiodo pacto de silêncio da verdade ao lon- acaso ainda não tenha sido providenciado, determinando que
go de toda a investigação. Estão assim os denunciados incursos não seja alterado o estado e a conservação das coisas.

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cadavéricos são acionados enquanto fon- nela da sua casa viu uma arma (fuzil
te documental central, sendo feita refe- 762 cromado) no chão do beco; que
rência direta ao conteúdo imagético des- também ouvia vozes dos policiais con-
ta documentação, pois são destacados os versando em tom alto e que depois disso
esquemas de lesões que ilustram os autos. houve um grande silêncio; por fim, con-
Esta prática de desfazer o local do ta que quando já estava escurecendo,
crime é mais uma peça na construção viu policiais fardados da PM – talvez
da versão da troca de tiros, que ao lon- uns 6 ou 7 – recolherem os corpos.12
go do desenvolvimento da denúncia, vai
sendo contestada. Essa desconstrução Para além da atitude dos agentes em
também se vale dos depoimentos orais relação às vítimas e ao tratamento dado
das testemunhas do caso, qualificados àquelas mortes, que discuto a seguir, gos-
como provas orais e testemunhais nesta taria de chamar atenção para a descrição
denúncia. No intuito de trazer à reflexão da cena que antecede o recolhimento dos
o devido peso deste tipo de prova, trago corpos – visto que torna evidente o fato
o trecho do depoimento de um mora- de aqueles moradores estarem mortos,
dor do Morro do Russo que viu e ouviu não cabendo, portanto, qualquer tenta-
parte da ação dos policiais naquele dia tiva de socorro, conforme mencionado
em que Emanuel foi executado: anteriormente. Qualifica-se, no texto da
denúncia, também a violência que ca-
[...] escutou o barulho de muita racterizou a ação dos policiais: violência
água descendo pela rua e que viu essa imoderada e desnecessária – exercida em
água suja de sangue; conta que ouviu contexto no qual os policiais não teriam
um policial gritando de forma debocha- ao quê reagir, visto que não comprova-
da e rindo “Tá morrendo afogado? Mor- ram haver sofrido qualquer ataque.
re, morre afogado desgraçado!”. Conta Ainda que na denúncia aqui transcrita
que soube depois que o cano foi estou- tenham sido utilizadas expressões como
rado por um tiro dos policiais e que eles vontade livre e consciente de matar para
mesmos fecharam o registro da CEDAE. caracterizar o momento de efetuação dos
Observou que os policiais estavam mui- disparos, é fundamental ressaltar que esses
to eufóricos, rindo muito e que tinham disparos partiram de fuzis adquiridos pela
a fala meio “embolada” e que gritavam corporação através de investimentos gover-
“sob nova direção! Não tem mais arre- namentais na área da segurança pública13. A
go!”. Conta que nesse momento não viu 12
Trecho final de um dos depoimentos que constam do
quantos policiais estavam ali, mas que processo do caso em questão.
eles não deixavam ninguém subir nem 13
Como destacam Misse et al. (2013: 15), “o governo do
descer o beco; conta ainda que pela ja- Estado do Rio de Janeiro adotou, a partir de meados dos

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partir desta colocação, não estou querendo por José Mariano Beltrame, desde então
retirar as qualificações de imoderada e des- Secretário de Segurança Pública do Esta-
necessária atribuídas pelo MP à ação vio- do do Rio de Janeiro, sobre a marca de 19
lenta dos agentes de Estado que participa- pessoas mortas na mega-operação reali-
ram da operação no Morro do Russo aqui zada na Vila Cruzeiro (no episódio que
discutida – a referência aos investimentos ficou conhecido como Chacina do Ale-
no armamento da corporação PMERJ tem mão): o remédio para trazer a paz, muitas
o objetivo de demarcar as condições de vezes, passa por alguma ação que traz san-
possibilidade daquele disparo, visto que no gue15. Adiciono ao debate a declaração de
debate aqui proposto ele é compreendido um policial civil sobre o fato de os agentes
enquanto produto e produtor dessa lógica terem chegado a determinados pontos
militarizada que caracteriza as políticas de do Complexo do Alemão considerados
segurança pública que vêm sendo imple- inacessíveis escoltados por caveirões e,
mentadas no Estado do Rio de Janeiro, es- portanto, em posição que facilitou a exe-
pecialmente a partir da década de 90.14 cução do ataque que tinham planejado16:
Dentre as diferentes frentes de am- Foi igual a dar tiro em pato no parque de
pliação desse quadro político a partir dos diversões17. Enquanto no Alemão foi igual
anos 2000, aciono mais uma vez um ícone a dar tiro em pato, no Morro do Russo o
desses investimentos para uma seguran- morador já atingido gravemente teve que
ça pública mais militarizada: o caveirão, engolir a água que lavava o sangue do seu
veículo blindado adquirido para ser uti- próprio corpo, ouvindo o policial dizer:
lizado pelo Batalhão de Operações Poli- morre, morre afogado desgraçado, como
ciais Especiais da Polícia Militar (BOPE) relatou uma das testemunhas do caso.
em operações nas favelas. Vale relemrar A declaração do secretário e a declara-
duas declarações importantes para a dis- ção do policial da ponta podem ser lidas
cussão aqui travada: a primeira proferida
15
Jornal O Globo, edição de 29 de junho de 2007, p. 14.
anos 90, a estratégia de investir, cada vez mais, em recursos
16
materiais e humanos principalmente para a polícia militar, As 19 pessoas mortas não configuram o único número
através da aquisição de armas de alto potencial letal, como impressionante a respeito daquela operação: essas 19 pes-
os fuzis .762, da contratação de membros para a corporação soas mortas foram atingidas por um total de 78 tiros, dos
e da expansão considerável de sua frota de viaturas, incluin- quais 32 foram disparados pelas costas das vítimas, como
do veículos blindados, apelidados de “caveirões”.” registrado nos laudos cadavéricos examinados por perito
14 legista independente a pedido da Comissão de Direitos Hu-
Vale lembrar aqui que foi na década de 90 que se consolidou
manos da OAB-RJ. Relatório da Sociedade Civil para o Re-
a legitimidade do enfrentamento militarizado à favela e seus
lator Especial das Nações Unidas para Execuções Sumárias,
moradores, por serem estes entendidos por diferentes setores da
Arbitrárias e Extrajudiciais. Rio De Janeiro: 2007.
sociedade residente no Rio de Janeiro como o foco irradiador da
17
violência urbana que assolava a cidade (Leite, 2000; Machado da “Secretário nega excessos da polícia no Complexo do
Silva, 2002). Assim se pautaram políticas de segurança pública Alemão”. Carta Maior, 29 de junho de 2007. Disponível em
para todo o Estado – marcadas pela diferença entre a atuação <http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Hu-
das polícias no “asfalto” e na favela. Configurava-se um contexto manos/Secretario-nega-excessos-da-policia-em-operaco-
político pautado pela “metáfora da guerra” (Leite 2000). es-no-Complexo-do-Alemao/5/13631>.

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como exemplos do entrelaçamento entre BOPE), essa institucionalização da vin-


o posicionamento institucional a respeito gança aparece no mesmo discurso que
das mortes dos moradores de favelas e o defende a interpretação de que aconte-
que o MP denominou vontade livre e cons- ce uma guerra nos morros do Rio. Após
ciente de matar. Não há como (e esse não Pimentel dizer que se ele estivesse nas
é um objetivo deste estudo) negar a impli- Forças Armadas talvez não tivesse a
cação do policial que efetua o disparo fatal oportunidade de participar de uma ação
na engrenagem governamental que faz a real, ele é surpreendido pela pergunta:
gestão dessas mortes – a insistência dessa você sente falta de ter participado de uma
argumentação é para que não se deixe de guerra?19 Esse agente de Estado, à época
enxergar a engrenagem. Afinal, há trechos capitão do BOPE, se refere ao sentimen-
da documentação do processo judicial que to de ódio que um policial pode ter de
abrem espaço para uma leitura das execu- um traficante na mesma entrevista em
ções como ações orientadas especificamen- que diz que matar é cumprir um dever.
te pelo campo afetivo/pessoal, como a pas- 19
Transcrevo aqui a resposta, seguida de outros trechos da
sagem da denúncia que traz a compreensão entrevista que merecem espaço no debate: “Eu estou partici-
de que os policiais denunciados agiram por pando de uma guerra, acontece que eu tô voltando pra casa
todo dia. É a única diferença. Nossa guerra é diariamente
motivo torpe, que se vingaram das vítimas nesses morros do Rio. Esse mês no Batalhão de Operações
indiscriminadamente. Ainda que sentimen- Especiais nós tivemos quatro policiais feridos a bala. Só esse
mês. Então eu tenho consciência de que eu estou participan-
tos de vingança e revanchismo habitem do de uma guerra. [...] De seis meses pra cá, eu poderia dizer
dimensões de ordem pessoal, há processos que 100% das nossas missões foram em favelas, com exceção
de uma ocorrência num estabelecimento prisional, com re-
de institucionalização da vingança que não fém. [...] Quando mata? Quando mata a sensação é só de de-
podem ser ofuscados neste debate – ins- ver cumprido, né. Dizer que cheguei em casa e não dormi, eu
vou estar mentindo. Mas logicamente sem sadismo, é porque
titucionalização declarada, inclusive, por houve a necessidade. O BOPE é uma unidade consagrada até
quadros da PMERJ que atuaram na ponta por não matar muito na polícia. A maioria das nossas gran-
des prisões, o bandido nem baleado estava. O BOPE prendeu
enquanto agentes de segurança pública. o Escadinha, o BOPE prendeu o Meio Quilo, o BOPE pren-
Em entrevista realizada durante as deu o Marcinho VP e nenhum deles o BOPE matou. [...] Ne-
nhum deles nem baleado foi. E eles estavam armados. Com
filmagens do documentário Notícias de exceção do Marcinho VP que tava desarmado, os outros esta-
uma guerra particular18, em 1997, com vam armados atirando contra a equipe. [...] Durante 17 anos
de vida da unidade, nós tivemos 4 policiais mortos, feridos à
Rodrigo Pimentel (à época capitão do bala em confronto. [...] É uma guerra sem fim. Por mais que
toda noite você vá lá... Durante duas semanas o BOPE qua-
18
Utilizo aqui trechos da entrevista completa realizada com se toda noite matava um traficante ali [aponta para o Morro
Rodrigo Pimentel, então capitão do BOPE, durante as fil- da Mineira]. Apreendia uma pistola, matava um traficante,
magens do documentário Notícias de uma guerra particu- apreendia um fuzil, matava um traficante. [...] A nossa guerra
lar (1999), dirigido por João Moreira Salles e Katia Lund. já se tornou particular, é uma guerra de polícia com trafican-
Disponibilizada nos extras do DVD do filme, a entrevista te. A sociedade tá alheia a isso tudo. [...] A polícia vive essa
completa (dividida em duas partes) também pode ser aces- guerra particular, onde você mata um traficante, o trafican-
sada através dos links: <http://www.youtube.com/watch?- te fica com ódio da polícia. Aí eles matam um policial, você
v=h9Jngj99NlI> e <http://www.youtube.com/watch?v=ZA- fica com ódio do traficante, essa coisa vai nesse nível, é uma
voKor-XjQ>. Acesso em: 20/08/2013. guerra quase que particular já. [...] A política é de combate.”

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FARIAS, Juliana

Se a guerra à qual se refere o capitão é um traficante foi morto por um policial.


particular, é de polícia com traficante, se Considerando que quase todas as noites,
o policial sente ódio do traficante, se essa em uma conta por baixo, poderia corres-
guerra é gerida por uma política de com- ponder a uma morte a cada dois dias, em
bate na qual matar é cumprir seu dever, duas semanas o total de mortes de mora-
estamos diante de um quadro no qual dores de favelas (visto que não se sabe –
essa mesma vingança, que pode habitar e, no limite, não importa – se eram trafi-
cada policial que sentiu ódio, é uma vin- cantes ou não) equivaleria a 7 mortes em
gança que está institucionalizada. duas semanas de operação militar.
Considerando ainda a leitura do MP O que nos é apresentado em núme-
sobre o fato de os policiais denunciados ros, então, em menos de 20 minutos de
pela ação no Morro do Russo terem ma- entrevista, é o seguinte quadro: nos 17
tado aqueles seis moradores por vingança primeiros anos de atuação do BOPE
sob o falacioso fundamento de que seriam nas favelas do Rio de Janeiro, 4 policiais
traficantes, gostaria de chamar atenção foram mortos por traficantes locais, en-
para a perenidade desse sentimento de quanto em duas semanas de operação do
vingança. Nessa operação do Morro do BOPE no Morro da Mineira, 7 morado-
Russo nenhum policial foi morto, sequer res foram mortos por policiais. Quando
ferido – caso contrário, tais informações me referi à perenidade do sentimento de
constariam dos autos do processo em vingança, pensava em assimetrias como
diferentes documentos examinados ao essa e, finalizando essa minha brevíssi-
longo deste estudo. Assim sendo, a pos- ma incursão no campo da análise (qua-
sibilidade de vingança dos policiais de- se) quantitativa, faço questão de utilizar
nunciados estaria então relacionada à su- como unidade de medida a locução ad-
posta morte de um policial ocorrida em verbial de tempo que o capitão usou em
momento anterior àquele. sua entrevista: quase toda noite. Afinal,
Aciono novamente a entrevista do não é preciso trazer aqui o número de
capitão da tropa de elite para recuperar moradores de favelas mortos por agentes
dois trechos, não necessariamente na or- do BOPE durante os 17 primeiros anos
dem em que aparecem: 1) a justificativa de atuação deste batalhão para enten-
de que se trata de uma guerra porque em dermos que os tais 4 policiais mortos no
17 anos de vida da unidade, 4 policiais mesmo período foram e ainda são vin-
foram mortos, feridos à bala em con- gados quase toda noite em operações po-
fronto; 2) o fato de o BOPE ter realizado liciais – realizadas pelo BOPE ou outras
incursões diárias durante duas semanas unidades da PMERJ – nas favelas do Rio
no Morro da Mineira, período no qual, de Janeiro. A vingança à qual se refere
segundo o capitão, quase todas as noites o MP na denúncia é produzida institu-
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cionalmente; a vontade livre e consciente Dito isto, retorno ao enquadramento


de matar, mencionada no mesmo docu- demarcado no texto assinado pelo pro-
mento, também é institucional – cada motor de justiça ao ressaltar que os de-
disparo efetuado durante uma operação nunciados – todos policiais militares em
na favela está atravessado pelo Estado. serviço – segundo alegaram por determi-
Retorno à entrevista de Pimentel para nação superior – realizavam incursão no
refletir sobre o posicionamento do MP a citado morro. Aqui, na própria denúncia
respeito de os policiais denunciados não em discussão, a corporação está presente
estarem autorizados a matarem aqueles enquanto determinação superior e a insti-
seis moradores, ainda que os mesmos fos- tucionalidade da ação é ratificada pela re-
sem traficantes. O termo utilizado pelo dação de duas palavras: em serviço. Após a
MP para qualificar as ações letais dos agen- identificação e descrição de todos os atos
tes foi justiçamento sumário. Relembro, condenatórios, o texto condensa em um
então, a afirmação do capitão do BOPE único parágrafo essas duas dimensões – a
de que quando um agente da sua unidade individual e a corporativa – mencionan-
mata é por necessidade. Em seguida, o en- do o fato de que a participação de cada
trevistado apresenta uma lista de bandi- um dos denunciados no conjunto de homi-
dos cariocas conhecidos que foram presos cídios, ainda que, em relação a alguma das
sem serem baleados, fazendo questão de seis vítimas tenha consistido numa atitude
dizer que eles estavam armados e atiran- corporal inerte, redundou em força moral
do contra a equipe. O que o entrevistado cooperativa. Assinada por um promotor
não explicou foi sob quais argumentos, de justiça, essa denúncia chega ao Fórum
portanto, se sustenta a necessidade de ma- para ser entregue às mãos do juiz em três
tar. Pelas pistas oferecidas por ele mesmo, folhas de papel timbrado do MP.
é possível entender que essa necessidade Na decisão, então, o juiz afirma que a
estaria atrelada ao cumprimento do de- denúncia oferecida pelo MP preenche os
ver (já que matar traz a sensação de dever pressupostos legais para o seu recebimento.
cumprido) – essa seria, então, outra pos- A decisão é curta e cifrada (não só por
sibilidade de caminho interpretativo para citar artigos do Código de Processo Pe-
a leitura das mortes em questão como nal, mas especialmente pela composição
produtos de uma orientação institucional, lexical que marca o campo jurídico), mas
cumprida pelo profissional da ponta que ainda assim se faz evidente o status que
tem a necessidade de realizar bem sua mis- ocupa no desenvolvimento do caso o re-
são. Como propaga uma das músicas de sultado dos exames realizados no IML:
treinamento do BOPE mais difundidas, a
missão da tropa de elite é entrar pela favela Há justa causa para a defla-
e deixar corpos no chão. gração da ação penal, consubs-
CONFLUÊNCIAS | Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito. Vol. 17, nº 3, 2015. pp. 75-91 83
FARIAS, Juliana

tanciada na materialidade deli- eventualmente estiveram em


tiva, que se encontra positivada atividade de segurança pública.
pelos Autos de Exames Cadavé- Ausência de justa causa se faz
ricos anexados às fls. 268/269, a todos os olhos!!! A presunção
243/244, 237/238, 251/252, do atuar dos réus na forma da
264/265 e 259/260 e nos indí- peça acusatória se faz pelos lo-
cios de autoria, que exsurgem cais das lesões. Ora, como ad-
do teor dos depoimentos presta- mitir a conjectura para exercí-
dos pelas testemunhas [nomes/ cio acionário, quando a norma
testemunhas ouvidas na oitiva]. processual federal requer indí-
cios de autoria como exigido?
Este trecho da decisão do juiz ao
aceitar a denúncia do MP não deixa dú- Assim, então, a defesa dos policiais
vidas quanto à centralidade do laudo mobiliza o resultado dos exames ca-
cadavérico para a condução do caso: a davéricos para dizer que a partir deles
apresentação da documentação produ- não é possível sustentar aquela denún-
zida no IML juntamente com os depoi- cia. Certamente foi a busca pela argu-
mentos das testemunhas ratifica não mentação especializada que orientou
apenas o peso do laudo enquanto prova, a elaboração de uma nova listagem de
mas a equivalência entre inscrições que testemunhas a serem ouvidas: das sete
marcam no corpo sua própria morte e pessoas escolhidas, solicitou-se um pe-
relatos orais que trazem informações rito em armamento do Instituto de Cri-
fundamentais para a investigação. Um minalística Carlos Éboli e também um
mês após a divulgação da decisão, a De- perito legista.20 Oito dias após o posi-
fensoria Pública do Estado do Rio de 20
A defesa requisitou ainda que fosse incorporada aos autos
Janeiro envia ao juiz o posicionamento publicação jornalística da atividade ilícita em comunidades
da defesa escrita prelinar, criticando a cariocas, dentre as quais o Morro do Russo – requisição que
generalização da autoria descrita na de- expõe um dos caminhos utilizados pelos operadores do di-
reito que atuam na defesa de policiais acusados durante a
núncia apresenta pelo MP e solicitando elaboração da inversão operada nas audiências de instrução
a rejeição da mesma por parte do juiz: e, em especial, no dia do julgamento dos policiais em casos
como esse. Tal inversão, como trabalhamos Adriana Vianna e
eu a respeito do julgamento de policiais militares envolvidos
[...] Emérito Julgador, assim em um caso semelhante ao do Morro do Russo, acontece da
ante ao exposto, espera a defe- seguinte forma: o réu deixa de ser o alvo das acusações da-
sa a rejeição da inicial, dada a quele julgamento, pois estas são direcionadas pela defesa para
as vítimas da chacina [...], fazendo com que o promotor e o
inépcia, como a própria gene-
assistente de acusação tivessem que se esforçar para defen-
ralidade das narrativas envol- der as próprias vítimas. Nesse sentido, a equipe responsável
vendo os policiais militares que pela acusação dos policiais é obrigada a usar a maior parte do

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FUZIL, CANETA E CARIMBO

cionamento da defesa dos policiais de- do à reflexão o conteúdo do parecer técni-


nunciados, a promotoria se manifestou co-científico por ele produzido.
mais uma vez, encaminhando ao juiz Cabe explicar que este parecer co-
documento de resposta à defesa inicial: meçou a ser produzido quando o pro-
verifica-se que em nenhum momento foi cesso já estava em andamento, mas
levantada alguma questão relevante que como é permitido que ambas as partes
possa conduzir à extinção do feito de for- apresentem documentos em qualquer
ma prematura. Finalmente o vai e vem fase do processo22, após as negociações
de papéis relativos ao início do processo entre os familiares de Emanuel, Dr.
se encerra com a divulgação da última Saul e Frederico Chagas23, decidiu-se
decisão do juiz, dois dias após a respos- pela juntada do estudo ao processo.
ta da promotoria à defesa dos acusados. Vale registrar que todos os presentes
É ratificada a primeira decisão, são re- naquela reunião dedicaram atenção
petidos os motivos pelos quais deveria especial a uma anotação “T”, assina-
ser instaurada a ação penal e designa-se lada à mão, nos esquemas do laudo
o dia da primeira audiência do caso – cadavérico de Emanuel, a tal zona de
para dali a três meses. tatuagem24. Sua existência no corpo
da vítima e, mais especificamente, seu
PERFURAÇÕES ENQUANTO adequado registro no laudo cadavéri-
REGISTROS BUROCRÁTICOS co somado às informações acerca da
Em meio às disputas descritas na se- gas, com o objetivo de apresentar ao defensor Dr. Saul, o perito
ção anterior, registrei a centralidade dos legista aposentado da Polícia Civil mencionado anteriormente.
22
exames cadavéricos para a condução do “Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apre-
sentar documentos em qualquer fase do processo (art. 231
caso do Morro do Russo a partir dos tex- do CPP). Não é permitida a exibição ou leitura de docu-
tos de outros documentos mobilizados mento no plenário do Júri sem a ciência antecipada da par-
te contrária (art. 479).” CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
na composição do processo. Agora, dedi- Decreto-Lei 3689 de 3 de outubro de 1941.
co atenção especial ao laudo cadavérico 23
Nesta seção me refiro a Frederico Chagas também como “o
enquanto plataforma de registros oficiais defensor”. Gostaria de lembrar que tata-se de um dos defensores
que atua enquanto assistente de acusação do caso, não podendo
– elaboro uma descrição analítica a partir ser confundido, portanto, com o defensor público que atua na
do que foi dito pelo perito legista durante defesa dos policiais acusados. Na tentativa de evitar qualquer
mal entendido nesse sentido, busquei utilizar na redação deste
uma reunião no NUDEDH21, adicionan- texto o termo “defesa” para me referir à defesa dos réus, sem
apresentá-la através do profissional que a desempenha.
tempo das audiências de instrução e julgamento “limpando 24
Tratada como zona de tatuagem nos estudos sobre trauma-
moralmente” as vítimas e, por extensão, seus familiares. A
tologia médico-legal, a marca “é produzida pelos grânulos de
inversão completa do quadro, portanto, faz com que durante
pólvora, queimada ou não que, partindo com o projétil, per-
o julgamento de um processo deste tipo, a defesa acuse e a cutem o contorno do orifício de entrada e se incrustam mais
acusação defenda. (Vianna e Farias, 2011: 100). ou menos profundamente na região atingida.” (Fávero, 1991).
21
Uma reunião realizada em outubro de 2010, que os familiares Exploro aspectos específicos da releitura do laudo cadavérico
de Emanuel marcaram com antecedência com Frederico Cha- nos encaminhamentos do caso em questão em Farias (2015).

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FARIAS, Juliana

entrada e da saída do projétil, são in- SEM OUTRAS ALTERA-


formações capazes de comprovar que o ÇÕES. (sic) 25
tiro fatal foi dado pelas costas e à curta
distância. Informações que, segundo Segundo as explicações de Dr. Saul
o perito legista convocado pelos fami- para os familiares e o defensor, apesar
liares, deveriam aparecer articuladas da referência à zona de tatuagem na
na continuidade do preenchimento do descrição da necropsia e a indicação da
laudo cadavérico no momento da perí- marca no esquema que compõe o lau-
cia no IML, através da seção do laudo do cadavérico, a forma como os cinco
reservada para as respostas aos que- quesitos foram respondidos prejudi-
sitos, constituída de cinco perguntas, cam de forma concreta a investigação
que reproduzo aqui com as respectivas do caso. A crítica deste profissional ao
respostas preenchidas no documento trabalho realizado no IML Afrânio Pei-
relativo à vítima Emanuel: xoto acompanha a ideia de que há si-
tuações em que o perito não vê e o que
Houve morte? vê não descreve (recuperando uma pas-
SIM. sagem da explicação durante a reunião
Qual foi a causa da morte? no NUDEDH). Vale complementar a
FERIMENTO TRANSFI- argumentação com a versão formal (e
XIANTE DE CRÂNIO COM técnica) da crítica:
LESÃO DE ENCÉFALO.
3) Qual foi o instrumento Quando o perito legista não
ou meio que produziu a morte? encontra sinais cadavéricos que
AÇÃO PÉRFURO-CON- expressem o emprego de “vene-
TUNDENTE. no, fogo, explosivo, asfixia ou
4) Foi produzido por meio tortura ou outro meio insidioso
de veneno, fogo, explosivo, as- ou cruel”, resta absolutamente
fixia ou tortura, ou por outro errôneo prejudicar o QUARTO
meio insidioso ou cruel (respos- QUESITO, sob a alegação de
ta especificada)? “PREJUDICADO”, ou “SEM
SEM ELEMENTOS PARA ELEMENTOS DE CONVIC-
RESPONDER POR DESCONHE- ÇÃO PARA RESPONDER”, ou
CER A DINÂMICA DO FATO. “SEM ELEMENTOS POR DES-
5) Outras considerações ob- CONHECER A DINÂMICA
jetivas relacionadas aos vestígios 25
Trecho do laudo de exame de necropsia de Emanuel,
produzidos pela morte, a crité- produzido no Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, no
rio do Senhor Perito Legista. dia seguinte de sua morte.

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FUZIL, CANETA E CARIMBO

DO EVENTO”, ou mesmo, como zado, o que trará prejuízos para


se pode ler no Laudo de Exame o processo penal. Respondê-lo
Cadavérico em comento, “SEM corretamente é dever de ofício
ELEMENTOS PARA RESPON- do perito legista. (sic) 26
DER POR DESCONHECER A
DINÂMICA DO FATO”. Ora, A produção do laudo cadavérico
se o perito quer ter informações pode ser entendida, então, como um
sobre a dinâmica do evento, ele procedimento orientado por uma espé-
poderá solicitar ao delegado de cie de negativo da revelação, não por-
polícia que preside o inquérito que esconde informações, mas porque
policial, ou mesmo ao INSTI- revela a força de um indizível burocrá-
TUTO DE CRIMINALÍSTICA tico, porque explicita a intimidade do
CARLOS ÉBOLI, informações especialista com uma economia de pa-
sobre a Perícia de Local de Cri- lavras em um documento crucial para
me. E, ainda, quando o cadáver o prosseguimento de investigações,
provém de unidade hospitalar, para o encaminhamento de acusações,
solicitar informações hospitala- para o tratamento jurídico/legal de vio-
res, sobre o atendimento pres- lações e crimes de estado. Aqui reside,
tado, ou, no caso de morte no portanto, o caráter de (i)legibilidade
ingresso da unidade hospitalar, desta documentação, nos termos tra-
o que foi evidenciado pelos mé- balhados por Das e Poole (2004: 9-11)
dicos. E, como vimos, o perito le- em suas reflexões sobre processos de
gista independe de informações construção e reconstrução do Estado
adicionais, de Local de Crime, através das suas práticas de escrita – (i)
para afirmar ou negar se houve legibilidade que pode ser compreen-
emprego de “VENENO, FOGO, dida, ainda, através da chave interpre-
EXPLOSIVO, ASFIXIA OU tativa de que governar é também não
TORTURA OU OUTRO MEIO fazer, conforme sugerem os trabalhos
INSIDIOSO OU CRUEL”. [...] de Vianna (2002: 194-232) e Lugones
Em suma, “PREJUDICAR” a (2012). Seguindo a chave analítica pro-
resposta ao QUARTO QUESI- posta por Das e Poole (2004), o proble-
TO é pura tergiversação capaz ma da (i)legibilidade da documentação
de deixar pairarem dúvidas ina- do Estado é encarado como uma das
ceitáveis sobre os fatos, que obri- bases de consolidação do controle esta-
gatoriamente têm de ser deter- tal sobre populações, territórios e vidas.
minados por meio de um Exame 26
Trecho do parecer técnico-científico produzido por Dr. Saul
Cadavérico corretamente reali- para ser anexado ao processo do caso do Morro do Russo.

CONFLUÊNCIAS | Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito. Vol. 17, nº 3, 2015. pp. 75-91 87
FARIAS, Juliana

Uma simples anotação “T”, feita nagem estatal que se supõe soberana e
à mão pelo perito de plantão no IML, rearticula cotidianamente estes saberes
no dia seguinte da morte de Emanuel, específicos a fim de renovar e perpetuar
carrega consigo uma determinada ver- tal soberania. No caso em questão, o
são dos fatos e o devido preenchimento domínio do campo da medicina legal
desta informação na documentação em tanto possibilitou o esclarecimento de
questão orienta, correlaciona ou con- informações, quanto sua omissão – e o
fronta diversas outras informações a res- controle dessas informações passou por
peito da morte deste morador de favela. especialistas que trabalham produzindo
É possível explorar nesta documentação registros oficiais:
de Estado uma informação visual
(mesmo que o conteúdo imagético A Ciência Forense prescinde
e seu potencial comunicativo sejam de peritos legistas que, proposi-
radicalmente distintos de fotografias talmente escudados da evasiva
e outros suportes utilizados pelos resposta ao QUARTO QUE-
familiares). Mas é também indiscutível SITO – “SEM ELEMENTOS
o fato de que não peritos (ou seja, PARA RESPONDER POR DES-
leigos, como eu) possam enxergar a CONHECER A DINÂMICA
anotação “T” no laudo. O ponto a ser DO FATO” –, lavam suas mãos
destacado a partir desta leitura é que o (mãos claramente irresponsá-
fato de não peritos enxergarem (e até veis), como se PILATOS pós-mo-
entenderem) a anotação “T” não faz dernos fossem, diante de fatos
do laudo cadavérico um documento científicos, de suma importância
completamente “legível”. para a Justiça; e mais que para
Aqui, entra em debate a questão esta, para a própria sociedade,
das especializações, afinal, mesmo que ao final de tudo. [...] O povo, pelo
muitos possam enxergar a anotação geral, atribui a impunidade à
referente à zona de tatuagem, não são Justiça; mas nesse caso, em parti-
todos que podem realizar esta anota- cular, a impunidade fora referen-
ção no documento e não são todos que, dada por exame cadavérico mal
dentro do tribunal do júri, podem cons- feito, desidioso, incompleto, falho,
truir argumentações a partir desta ano- omisso e incompetente.27
tação durante o julgamento do policial
que efetuou o disparo. Neste pequeno Apesar do enfoque dado à perícia
(mas determinante) trajeto burocráti- na discussão aqui travada e de uma
co, estão conectados saberes de áreas possível interpretação da escolha da ci-
distintas que se entrecruzam na engre- 27
Idem.

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FUZIL, CANETA E CARIMBO

tação acima como aglutinadora de posi- administrativa (Foucault, 2008: 419-441).


cionamentos políticos afins, considero Articulo ao ato da execução sumária aqui
fundamental enfatizar que este estudo discutida o preenchimento do laudo ca-
é produzido a partir da compreensão davérico da vítima, refletindo sobre as
de que no percurso deste caso de exe- imbricações entre o ofício do agente da
cução de Emanuel (e dos demais casos polícia militar e do agente da polícia ci-
de violações cometidos por agentes do vil enquanto potencialidades para a ad-
Estado nas favelas e periferias do Rio de ministração da população residente em
Janeiro) há múltiplas esferas e agências favelas via controle, classificação e identi-
de estado intercaladas. Não se trata de ficação de suas mortes. A partir deste re-
arrastar para cima de determinado pe- corte analítico, a zona de tatuagem pode
rito legista ou para o IML-RJ holofotes ser entendida também enquanto registro
(ou acusações) que recaem com maior burocrático indexador dessa população,
frequência sobre ações individuais de sendo consideradas as especificidades do
policiais ou sobre a instituição da Polícia processo de oficialização desse registro.
Militar como um todo, ou sobre o siste- Tal processo de oficialização da zona
ma de Justiça em curso.28 Mas se a forma de tatuagem enquanto registro de Estado
de responder aos cinco quesitos do laudo é produzido por pelo menos dois agen-
pode prejudicar concretamente a inves- tes: 1) um policial militar (ou, eventual-
tigação do caso, a produção deste docu- mente um policial civil) que tenha efe-
mento não pode ter seu lugar diminuído tuado o disparo e 2) o perito legista do
na engrenagem de gestão dessas mortes. IML (agente da polícia civil) para o qual
Perseguir a leitura dos documentos o corpo da vítima tenha sido levado. O
– em especial a leitura do laudo cadavé- primeiro agente produz a marca direta-
rico – junto aos familiares de Emanuel mente no corpo do favelado ainda vivo,
me permitiu dar continuidade à análise o segundo reproduz a marca na silhueta
dessa engrenagem de gestão das mortes de corpo padronizada que integra a ficha
dos moradores de favelas enxergando correspondente ao laudo cadavérico, a
também os exercícios de poder de Estado partir do exame de necrópsia do corpo
através da polícia enquanto modernidade do favelado. Os dois agentes têm aces-
28
so àquele corpo durante um período de
Em relação a este ponto da discussão, ressalto que não é des-
considerado aqui o fato de o Instituto Médico Legal Afrânio
tempo que, independente do número de
Peixoto fazer parte da estrutura da Policia Civil do Estado do horas que se passem, engloba a demar-
Rio de Janeiro, alocado especificamente no Departamento de
Polícia Técnico-Científica da instituição. No entanto, não seria
cação da fronteira entre a vida e a morte.
analiticamente coerente deslocar o foco de acusação de uma Considerando essas etapas do pro-
polícia para a outra, visto que no presente estudo as polícias
civil e militar são compreendidas enquanto integrantes da en-
cesso de oficialização da zona de tatua-
grenagem que faz a gestão das mortes dos moradores de favelas. gem, é possível identificar uma dupla
CONFLUÊNCIAS | Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito. Vol. 17, nº 3, 2015. pp. 75-91 89
FARIAS, Juliana

marcação governamental: trata-se deState. New Mexico: School of American


uma lesão produzida no corpo do fave-
Research Press, 2004.
lado ao ser executado que vira registroFARIAS, Juliana. “Da capa de revis-
através de uma anotação num papel tim-
ta ao laudo cadavérico”. Em: BIRMAN,
brado de IML. As duas formas da mesma
P.; LEITE, M.; MACHADO. C; CAR-
inscrição são “feitas à mão” pelos agentes
NEIRO, S. Dispositivos urbanos e tra-
de estado já mencionados, sendo que um
ma dos viventes: ordens e resistências.
utiliza como instrumento de marcação o
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.
fuzil e outro, a caneta. Enxergo em am-______. Governo de Mortes: Uma
bas as ações uma reedição da rotina de-
etnografia da gestão de populações de
sencantada do funcionário que carimba
favelas no Rio de Janeiro. Tese de Dou-
documentos enquanto cumprimento de torado. Programa de Pós-Graduação
seu dever, mas que assim o faz exercendo
em Sociologia e Antropologia/UFRJ–
o poder decisório, “revestido de autori-
PPGSA/UFRJ, 2014.
dade” (Ferreira 2009; 2013) atribuído ao
FÁVERO, Flamínio. Medicina Le-
funcionário público que na repartição
gal: Introdução ao Estudo da Medicina
onde trabalha é responsável por preen-
Legal. Identidade, Traumatologia, In-
cher, carimbar e assinar papéis. fortunística, Tenatologia. 10ª ed. Belo
A linha de argumentação desenvolvi-
Horizonte: Vila Rica, 1991.
da neste texto se alimenta desse ensina-
FERREIRA, Letícia. Dos autos da
mento trazido pelas reflexões de Ferreira
cova rasa: a identificação de corpos não
(2009: 160-173) sobre como a desimpor-
identificados no Instituto Médico-Legal
tância atribuída à documentação de po-
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: E-pa-
pulações específicas corresponde também
pers/LACED/Museu Nacional, 2009.
a uma desimportância sobre os corpos ______. Apenas preencher papel: re-
aos quais essa documentação está relacio-
flexões sobre registros policiais de desapa-
nada. Os laudos cadavéricos dos corpos
recimento de pessoa e outros documentos.
daquelas pessoas que foram/são executa-
Mana, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, abr. 2013.
das nas favelas também são produto de FERREIRA, Natália. Testemunhas
uma gestão burocrática específica, dessa
do esquecimento: uma análise do auto
administração pública atravessada pelo
de resistência a partir do estado de ex-
que Foucault (2005: 98) denominou me-
ceção e da vida nua. Programa de Pós-
canismos mudos de um racismo de Estado.
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