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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

RELAÇÃO DE AJUDA: UM ESTUDO SOBRE IDOSOS


E SEUS CUIDADORES FAMILIARES

MONOGRAFIA APRESENTADA COMO TRABALHO DE


CONCLUSÃO DO CURSO DE BACHARELADO EM
PSICOLOGIA DA ALUNA DE GRADUAÇÃO MARCELA
ALICE BIANCO SOB ORIENTAÇÃO DA PROFA. DRA.
ELIZABETH JOAN BARHAM E CO - ORIENTAÇÃO DA PROFA
DRA. SOFIA CRISTINA IOST PAVARINI.

SÃO CARLOS - SÃO PAULO


DEZEMBRO DE 2003
ÍNDICE

Resumo..................................................................................................................................07
Introdução.............................................................................................................................09

128
A presença do idosos na população brasileira...........................................................09
Conceitos sobre velhice.............................................................................................11
A dependência do idoso............................................................................................14
Qualidade de vida na velhice.....................................................................................17
A relação idoso-família na promoção e manutenção da qualidade de
vida na velhice...........................................................................................................20
Redes sociais de apoio...............................................................................................20
Conceitos sobre apoio familiar..................................................................................20
A influência da história familiar................................................................................23
Arranjos familiares....................................................................................................24
Fatores sócio econômicos.........................................................................................26
Fatores interpessoais.................................................................................................27
O estresse entre cuidadores familiares de idosos......................................................28
Fatores que afetam a percepção de estresse..............................................................30
Enfrentamento de estresse.........................................................................................31
Recursos pessoais......................................................................................................32
Recursos ambientais..................................................................................................33
A qualidade do relacionamento entre idosos e seus familiares.................................34
O cuidador familiar de idosos...................................................................................35
Tipos de cuidadores..................................................................................................35
A decisão de cuidar de um idoso dependente...........................................................36
Níveis de apoio familiar............................................................................................37
Dificuldades encontradas no papel de cuidar............................................................39
Benefícios encontrados no cuidado à idosos.............................................................41
A influência da qualidade do relacionamento entre idoso e cuidador familiar.........42
Objetivos...............................................................................................................................43

Método..................................................................................................................................44

Participantes..............................................................................................................44

Local..........................................................................................................................44

Procedimentos...........................................................................................................44

Instrumentos..............................................................................................................46

Resultados.............................................................................................................................51

129
Discussão............................................................................................................................108

Conclusão............................................................................................................................119

Referências Bibliográficas..................................................................................................122

ANEXOS

Anexo A: Instrumento para avaliação do cuidador familiar de idoso.................................128

Anexo B: Instrumento para avaliação do idoso..................................................................138

Índice de tabelas
Tabela 01 – Outras características pessoais dos idosos........................................................55
Tabela 02 - Freqüência média das atividades sociais e de lazer desenvolvidas pelos idosos
(dias por ano)........................................................................................................................57
Tabela 03 - Número de idosos que dependiam da ajuda de mais alguém para desenvolver suas
atividades sociais e de lazer..........................................................................................57
Tabela 04 - Estado de saúde física geral dos idosos.............................................................58
Tabela 05 - Prevalência e grau de severidade de problemas comportamentais ou limitações
físicas encontrados nos idosos, segundo relato dos cuidadores familiares...........................59
Tabela 06 - Expectativa para a etapa da vida que estavam vivendo, entre os idosos...........62
Tabela 07 - Expectativas para o futuro, dos idosos...............................................................63
Tabela 08 - Outras características pessoais dos cuidadores familiares.................................65
Tabela 09 - Freqüência de envolvimento dos cuidadores familiares em atividades domésticas,
sociais e de lazer (dias por ano).........................................................................68
Tabela 10 - Mudanças no envolvimento dos cuidadores em atividades, devido aos cuidados
para com os idosos................................................................................................................69
Tabela 11 - Estado de saúde física geral dos cuidadores familiares.....................................70
Tabela 12 - Expectativa para a etapa da vida que estavam vivendo, entre os cuidadores....72
Tabela 13 - Expectativas para o futuro, entre os cuidadores................................................73
Tabela 14 - Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos cuidadores
que moravam juntos com os idosos......................................................................................75
Tabela 15- Grau de parentesco e profissão das pessoas co-residentes nos domicílios dos
cuidadores que moravam juntos com os idosos....................................................................75

130
Tabela 16 - Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos idosos que
não moravam juntos com seus cuidadores............................................................................76
Tabela 17- Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos cuidadores
que não moravam juntos com os idosos que apoiavam........................................................77
Tabela 18 - Grau de parentesco e profissão das pessoas co-residentes nos domicílios dos
cuidadores que não moravam juntos com os idosos que apoiavam......................................77
Tabela 19 - Aspectos do papel de cuidador, apontados pelos cuidadores............................78
Tabela 20 - Envolvimento e freqüência média (em dias/ano) com a qual os cuidadores ou
outras pessoas ajudavam os idosos em suas AVD’s e AIVD’s, segundo relato dos
cuidadores.............................................................................................................................81
Tabela 21 - Dificuldades apontadas pelos cuidadores em relação ao papel de cuidar de
idosos....................................................................................................................................83
Tabela 22 – Grau de parentesco com os cuidadores de familiares que poderiam auxiliar nos
cuidados dos idosos, mas não o fazem..................................................................................84
Tabela 23 – Número de pessoas que poderiam oferecer apoio aos idosos, mas não
oferecem................................................................................................................................85
Tabela 24 – Grau de parentesco com os cuidadores das pessoas que auxiliam nos cuidados dos
idosos..............................................................................................................................86
Tabela 25 – Número de pessoas que também oferecem suporte aos idosos.........................86
Tabela 26 – Medidas de tendência central e dispersão da satisfação dos cuidadores familiares
em relação ao suporte oferecido aos familiares e aos idosos...............................87
Tabela 27 – Medidas de tendência central e dispersão da satisfação dos cuidadores familiares
em relação ao suporte recebidos dos familiares nas tarefas de cuidar.................88
Tabela 28 – Formas de manifestação de afeto dos cuidadores em relação aos idosos, segundo
relatos dos idosos....................................................................................................89
Tabela 29 – Aspectos que os idosos sentem falta em seu relacionamento com os
cuidadores.............................................................................................................................90
Tabela 30 – Assuntos das conversas entre cuidadores familiares e idosos...........................91
Tabela 31 – Aspectos valorizados na relação idoso - cuidador familiar...............................92
Tabela 32 – Pontos positivos de conflitos segundo os dois grupos......................................94
Tabela 33 – Pontos negativos de conflitos segundo os dois grupos.....................................94
Tabela 34 – Estratégias usadas por idosos e cuidadores para enfrentar conflitos através da
mudança do próprio pensamento..........................................................................................95
Tabela 35 – Estratégias usadas por idosos e cuidadores para enfrentar conflitos através da
solicitação de apoio emocional de alguém............................................................................95

131
Tabela 36 – Estratégias usadas por idosos e cuidadores para melhorar a comunicação numa
situação de conflito...............................................................................................................96
Tabela 37 – Concepção de velhice apresentada pelos idosos...............................................97
Tabela 38 – Concepção de velhice apresentada pelos cuidadores familiares.......................98
Tabela 39 – Características apontadas pelos dois grupos como sendo próprias da
velhice...................................................................................................................................99
Tabela 40 – Comentários dos idosos sobre se considerarem idosos.....................................99
Tabela 41 – Comentários dos idosos sobre não se considerarem idosos..............................99
Tabela 42 – Fontes de preocupação dos idosos em relação ao próprio
envelhecimento...................................................................................................................100
Tabela 43 – Fontes de preocupação dos cuidadores aos idosos..........................................100
Tabela 44 – Concepção de cuidado dos idosos...................................................................104
Tabela 45 – Forma que os idosos gostariam de ser cuidado...............................................104
Tabela 46 – Concepção de cuidado dos cuidadores............................................................105

Índice de Figuras
Figura 1 – Composição da amostra de idosos, por sexo.......................................................53
Figura 2 – Composição da amostra de idosos, por idade......................................................53
Figura 3 – Composição da amostra de idosos, por estado civil............................................54
Figura 4 – Composição da amostra de idosos, por grau de escolaridade..............................54
Figura 5 – Pontuação obtida pelos idosos no “Mini Exame do Estado Mental”..................60
Figura 6 – Grau de dependência dos idosos em relação às Atividades da Vida Diária, segundo
escala de “OARS”...................................................................................................60
Figura 7 – Grau de dependência dos idosos em relação às Atividades da Instrumentais de Vida
Diária, segundo escala de “OARS”..............................................................................61
Figura 8 – Grau de satisfação com a vida, entre os idosos...................................................62
Figura 9 – Composição da amostra de cuidadores familiares, por sexo...............................64
Figura 10 – Composição da amostra de cuidadores familiares, por idade............................64
Figura 11- Composição da amostra de cuidadores familiares, por estado civil....................65
Figura 12 – Composição da amostra de cuidadores familiares, por grau de
escolaridade...........................................................................................................................65
Figura 13 – Satisfação com a vida, entre os cuidadores.......................................................71
Figura 14 – Grau de parentesco do idoso com seu cuidador familiar...................................74
Figura 15 – Intimidade da relação segundo idosos e seus cuidadores Familiares................89

132
RESUMO

O aumento exponencial do número de idosos e da expectativa de vida dos brasileiros vêm


trazendo a necessidade de pesquisas e iniciativas que contribuam para a garantia da satisfação
das necessidades dessa população e de um envelhecimento com qualidade e dignidade. O
número de idosos na sociedade que apresenta algum grau de dependência já é muito
significativo. Como existem poucos serviços públicos ou particulares para idosos no país, a
tarefa de apoiar um idoso é, na maioria das vezes, desempenhada por familiares, sendo que o
cuidador familiar possui um papel crucial nessa tarefa. Para garantir a qualidade e a
continuidade dos cuidados que um familiar oferece a um parente idoso, acredita-se que é
necessário atentar para a qualidade da relação interpessoal, uma vez que esta pode afetar as
estratégias usadas em situações difíceis e sustentar o interesse do cuidador em ajudar. Nesse
sentido, faz-se necessário investigar o status desta relação como primeira etapa na
identificação de fatores que podem interferir na qualidade dos cuidados. Este trabalho
objetivou analisar a relação idoso-cuidador familiar e identificar possíveis variáveis que
podem estar envolvidas nesta questão, por meio de quatro objetivos específicos:
caracterização dos idosos, caracterização dos cuidadores familiares, identificação da forma
como as famílias estão estruturadas e identificação de como se dá o relacionamento entre
idoso e cuidador.
Observando-se os princípios éticos de pesquisa com seres humanos, foram
entrevistados 39 cuidadores e 28 idosos de uma cidade do interior de São Paulo, utilizando
dois roteiros de entrevista construídos com base em uma combinação de itens específicos a
esta pesquisa e algumas escalas já existentes e consideradas de bom padrão de confiabilidade
e precisão. Para a análise dos dados quantitativos, foram feitas análises estatísticas descritivas
e comparativas para verificar a influência de vários fatores sobre o relacionamento idoso-
cuidador familiar, comparando-se as respostas dadas por eles. Para a análise qualitativa dos
dados, foi feita uma análise de conteúdo, buscando consenso entre os juízes em relação à
escolha de categorias e posterior categorização dos dados.
No que diz aos idosos entrevistados, um pouco mais da metade era homens (57%),
com idade variando entre 61 e 95 anos (M = 76 anos). A maioria era casada (60,7%) ou viúva
(32,1%) e possuía, em média, quatro filhos e sete netos. Como é típico desta faixa etária, o
nível de escolaridade era baixo, com a maioria sem formação do primeiro grau. A grande
maioria dos idosos (89,3%) relatou pelo menos uma enfermidade. Para avaliar o grau de
dependência dos idosos, utilizou-se a escala de OARS (que varia de 0 a 14 pontos, sendo que
quanto menor a pontuação, maior o grau de dependência). Verificou-se que a maioria não

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apresentou altos graus de dependência em relação às atividades básicas (M = 12,44, D.P. =
3,1) e instrumentais da vida diária (M = 9,29 , D.P.= 3,4). Além disso, de acordo com o Mini
Exame do Estado Mental, a maioria dos entrevistados (70,8%) não apresentou alterações
cognitivas. Com relação aos cuidadores familiares, 95% era do sexo feminino, com idade
variando entre 30 e 75 anos. Em 66,7% dos casos os cuidadores eram casados e possuíam em
média dois filhos. Em relação ao grau de escolaridade, nenhum dos cuidadores era analfabeto
e 43,6% deles completou o Ensino Fundamental. A grande maioria (70,3%) não possuía
emprego remunerado. Em 43,6% dos casos, os cuidadores relataram apresentar pelo menos
um problema médico.
Quanto a forma como as famílias estavam estruturadas, a maioria dos cuidadores
entrevistados cuidavam de pais idosos (65,8%), seguidos de 15,8% dos entrevistados que
cuidava de seu cônjuge, 13,2% que oferecia suporte a sogra e 2,6% que auxiliava o irmão ou
o cunhado, respectivamente. Em 71,8% dos casos, os cuidadores ofereciam suporte a somente
um idoso e, nos demais casos, a dois idosos. No geral (86,9% dos casos), existiam outras
pessoas envolvidas na tarefa de cuidar dos idosos. Mesmo contando com este apoio, 70% dos
entrevistados eram os cuidadores principais. em 43,6% dos casos, os idosos moravam junto
com seus cuidadores, o que diz respeito à 19 famílias.
No que concerne ao status do relacionamento existente entre idosos e cuidadores, os
resultados encontrados mostraram que os cuidadores avaliavam vários aspectos do
relacionamento de forma mais negativa do que os idosos (por ex., grau de intimidade, emissão
de afeto e freqüência de conversas sobre questões importantes). Apesar desses resultados,
tanto idosos quanto cuidadores valorizavam com maior intensidade aspectos subjetivos da
relação, como a afetividade. Além disso, os cuidadores avaliavam o envolvimento do idoso na
tomada de decisões como sendo bastante restrito, enquanto a maioria dos idosos se
consideravam autônomos. Em relação às dificuldades de relacionamento, as fontes de conflito
mencionadas pelos idosos e cuidadores de forma equivalente nos dois casos foram relativas a
uso de medicamentos (25,4%), controle de dinheiro (12,7%), religião (11,1%) e organização
da casa (6,3%). Somente o modo de educar filhos/netos foi apontado como fonte de conflito
para os dois grupos de forma significativamente diferenciada (X2 (1) = 3,9, p<0,05), sendo
que para os cuidadores, esta questão provoca dificuldades de relacionamento em 33,3% dos
casos, enquanto para os idosos isso ocorre em 11,5% dos casos. Como forma de lidar com tais
dificuldades, tanto os cuidadores como os idosos utilizam mais estratégias passivas que ativas
de enfrentamento de conflitos. As estratégias apontadas como sendo utilizadas com grande
freqüência foram: pedir ajuda a Deus, respeitar o outro como sendo alguém de boas intenções,
melhorar o tom da conversa, encontrar um ponto comum, buscar o lado positivo da situação e
manter a calma. E as estratégias menos utilizadas foram: não deixar que os sentimentos
interfiram na situação, não expressar opinião e pedir ajuda profissional ou de amigos.
Em parte, os resultados encontrados sobre o relacionamento refletem normas culturais
que desfavorecem conversas intergeracionais sobre assuntos mais íntimos, fazendo com que
barreiras interpessoais sejam criadas ao longo da trajetória do relacionamento. Problemas em
relação à intimidade e à preservação da participação do idoso na tomada de decisões podem
contribuir para as dificuldades experimentadas para resolver diferenças de opinião, ou mudar
comportamentos inadequados. Além disso, tanto os idosos quanto os cuidadores possuíam
uma concepção de velhice bastante negativa, enfatizando as perdas e limitações em
detrimento dos pontos positivos encontrados na velhice. Essa concepção negativa da velhice
pode influenciar a qualidade das interações entre os idosos e seus cuidadores, além de afetar
de forma positiva ou negativa a forma como ambos lidam com as mudanças decorrentes da
situação de cuidado e da velhice e a qualidade do suporte oferecido. Deste modo, este estudo
aponta a necessidade de planejamento de intervenções para essa população, que os ajudem a
melhorar suas estratégias de comunicação interpessoal e a diminuir barreiras interpessoais que
possam estar comprometendo a intimidade do relacionamento; e que trabalhem com crenças a
respeito da velhice e do cuidado. Tais intervenções podem promover um impacto importante
sobre a qualidade da relação e por conseqüência, na qualidade dos cuidados prestados aos

134
idoso e na qualidade de vida da díade idoso-cuidador.

Palavras-chave: Idoso – cuidador familiar – relacionamento interpessoal


INTRODUÇÃO
A presença do idoso na população brasileira
O crescimento da população idosa no Brasil e o aumento da expectativa de vida vêm
despertando a atenção para os problemas referentes ao processo de envelhecimento e
mostrando a necessidade de se garantir condições propiciadoras de um envelhecimento com
dignidade e qualidade. Do envelhecimento individual e populacional surgem novas demandas
sociais em função do impacto e das necessidades advindas desse novo cenário social,
acarretando elaboração e modificações de serviços que promovam a qualidade de vida da
população (Mendiondo, 2002). Tal preocupação desperta no meio científico o interesse em
estudar as interfaces da velhice propriamente dita e do envelhecimento populacional, para
compreendê-lo em sua magnitude e especificidade, contribuindo assim para a estruturação de
intervenções e políticas adequadas e para a qualidade de vida daqueles que já envelheceram,
dos que estão por envelhecer e dos indivíduos que se relacionam com essa população.
De acordo com o censo realizado em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o número de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil era, nesta data, de
15,5 milhões, representando 9,1% da população brasileira. A presença dos idosos na
população vem aumentando continuamente através dos anos, sendo que em 1989 representava
7,4%, subindo para 7,9% em 1991 e chegando a 8,3% em 1995 (Garrido & Menezes, 2002).
Estima-se que em 25 anos a população de idosos nesse país poderá ultrapassar os 30 milhões
de habitantes (IBGE, 2003). Dessa forma, percebe-se que a estrutura demográfica da
população brasileira está mudando, alterando as demandas normativas sobre as famílias e
aumentando o interesse em melhorar a qualidade de vida dos idosos e de seus familiares.
Esta mudança na estrutura da população brasileira se tornou possível, principalmente,
em função do aumento na expectativa de vida e queda na fecundidade dos brasileiros nos
últimos anos. De acordo com as estimativas do censo de 2000, a esperança de vida, ao nascer,
da população brasileira cresceu 2,6%, ao passar de 66 anos, em 1991 para 68,6 anos, em
2000. Apesar deste crescimento ter sido evidenciado em ambos os sexos, a expectativa de
vida das mulheres é maior que a dos homens, sendo de 72,6 anos e 64,8 anos respectivamente
(IBGE, 2003). Contribuem para esse fato a redução da morbidade e da mortalidade, devido
aos avanços tecnológicos e científicos, especialmente na área da saúde, que permitem que a
sobrevivência tanto das crianças quanto dos adultos seja maior, apesar do grande número de
pessoas que ainda vivem em condições precárias de nutrição e higiene (Zimerman, 2000). A
redução da taxa de natalidade se tornou viável com a difusão dos métodos contraceptivos, os
quais permitem que a mulher opte por um menor número de filhos. O interesse por parte das
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mulheres em entrar no mercado de trabalho cooperado com demandas econômicas cada vez
maiores sobre as famílias também incentivaram uma redução no número de filhos.
O envelhecimento populacional não é um assunto novo para muitos países
desenvolvidos. Países como China, Japão e alguns países da Europa e da América do Norte, já
convivem com um grande número de idosos em sua população e com todos os problemas
associados ao envelhecimento, como a aposentadoria e as doenças próprias desta fase da vida,
que geram altos custos para o Estado (Garrido & Menezes, 2002). Todavia, em países em
desenvolvimento, como o Brasil, cujo contingente populacional de idosos vem aumentando
mais recentemente, a necessidade de políticas nacionais para lidar com as conseqüências
econômicas, sociais e de saúde do processo de envelhecimento da população se faz presente.
Torna-se importante ressaltar que, além das modificações sócio-demográficas, que exigem
novas demandas e serviços, as condições sócio-econômicas da maioria dos países em
desenvolvimento, que contribuem para a precariedade ou escassez de serviços adequados para
a população e a má distribuição de renda pode ser fonte de inúmeros problemas tanto para os
indivíduos quanto para o Estado. Segundo Papaléo Netto (1996),
“à precária condição sócio econômica, associam-se múltiplas afecções
concomitantes, perdas não raras da autonomia e independência e dificuldade de
adaptação do idoso às exigências do mundo moderno que, em conjunto, levam ao
isolamento social do idoso.”
Tal situação gera um impacto importante na sociedade, exigindo reestruturações que
vão desde mudanças nas estruturas familiares, que tem que se adequar às necessidades do
idoso até a implantação e reestruturação de serviços tanto no setor público quanto no privado.
Para tanto, o conhecimento dos fatores relacionados ao processo de envelhecimento é de
extrema importância, uma vez que fundamentam cientificamente as estratégias a serem
utilizadas pelas agências e por profissionais que trabalham com essa população.

Conceitos sobre a velhice


Os estudos promovidos tanto pela Gerontologia e Geriatria, quanto por outras áreas de saber,
vem proporcionando uma visão bastante complexa do fenômeno envelhecimento, originando
variados conceitos sobre a velhice (Papaléo Netto, 1996).
A necessidade de estabelecer critérios para delimitar serviços oferecidos e direitos
das pessoas idosas, fez com que fosse criado um critério cronológico para identificar os
indivíduos idosos na sociedade. O critério cronológico usado pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) para estabelecer o início da velhice é de 65 anos para os países desenvolvidos e
de 60 para os em desenvolvimento (Papaléo Netto, 1996). Todavia, do ponto de vista
biológico, não se pode afirmar que o envelhecimento se inicia quando um indivíduo completa

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60 ou 65 anos, pois diversos especialistas reconhecem que o mesmo depende de fatores
hereditários, do ambiente, da dieta alimentar e do estilo de vida de cada indivíduo, ou seja, de
fatores biológicos individuais (Duarte, 1998). Existe também, uma relação entre a idade
cronológica e a idade psicológica, que diz respeito às capacidades do indivíduos, como
percepção, memória, aprendizagem, que predizem o potencial funcional do indivíduo no
futuro. Além disso, existe a idade social, relacionada a capacidade do indivíduo em se adequar
à papéis sociais e a apresentar comportamentos esperados para as pessoas de sua faixa etária.
Desta forma, percebe-se que um ou outro critério isoladamente não define a velhice, sendo
necessário o uso conjunto dos mesmos ao conceituar a velhice (Papaléo Netto, 1996).
Deste modo, o envelhecimento pode ser considerado um fenômeno biológico,
psicológico e social, sendo que as alterações que irão ocorrer nesses três aspectos durante a
velhice são geralmente lentas, gradativas e em grande parte, heterogêneas. Isto é, para cada
pessoa, o envelhecimento se dá de forma única e tem características individuais (Neri, 1995;
Zimerman, 2000).
Assim, teorias que prezam tanto os pontos positivos quantos os negativos que
envolvem o processo de envelhecimento, balanceando-os, originam concepções de velhice
mais próximas da realidade de vida dos idosos. Nesse sentido, algumas teorias propõem
modelos multidimensionais que analisam a relação entre perdas e ganhos durante essa fase
(Baltes, 1983; Baltes & Baltes, 1990).
Segundo a perspectiva teórica do curso de vida, o envelhecimento é caracterizado
como uma propriedade exclusiva dos organismos vivos. No caso do ser humano, ele
compreende os processos de transformação que o organismo sofre após a maturação sexual,
podendo ser iniciado em diferentes épocas para as diferentes partes e funções do organismo, e
possuindo um ritmo e velocidade heterogêneos para cada parte, bem como, entre os
indivíduos. O processo de envelhecimento, portanto, implica na diminuição gradual da
probabilidade de adaptação e sobrevivência do indivíduo, sendo acompanhado por alterações
na aparência, no comportamento, nas experiências vivenciadas e nos papéis desempenhados
no ambiente social, que variam para cada indivíduo (Birren & Bengston, 1988 apud Neri,
1995).
As diferenças encontradas no processo de envelhecimento se devem a forma como
cada indivíduo organizou seu curso de vida, dependendo das circunstâncias históricas,
culturais e sociais que estiveram presentes durante sua trajetória, das diferenças genéticas de
cada indivíduo, das interações entre fatores genéticos e ambientais, da incidência de diferentes
patologias durante o desenvolvimento normal, dos hábitos adquiridos durante a vida, da
estimulação mental recebida, das formas como a pessoa lida com fatores estressores da vida,
do apoio psicológico que recebe de outras pessoas e agências em situações difíceis, da atitude

137
positiva ou negativa perante a vida, entre outros fatores que podem minimizar ou maximizar a
qualidade de vida de um idoso (Neri, 1995; Zimerman, 2000).
Portanto, as condições físicas, psicológicas e sociais de um idoso variam de acordo
com as características individuais adquiridas durante toda a vida, sendo impossível
caracterizar o processo de envelhecimento como homogêneo e estabelecer características da
velhice propriamente dita. Como enfatiza Zimerman (2000), as características de uma pessoa
idosa não são peculiares somente de sua faixa etária, mas fazem parte de um repertório
construído durante toda a sua história de vida. Isto é, as características adquiridas durante o
curso da vida são mantidas ou acentuadas durante o envelhecimento. Desta forma, um idoso
poderá apresentar características positivas ou negativas diante da sociedade, de acordo com
aquelas adquiridas desde o seu nascimento.
Apesar do envelhecimento populacional representar uma das maiores conquistas no
presente século, devido ao aumento da longevidade, muitas sociedades ainda valorizam a
competitividade, a capacidade de trabalho, a independência e a autonomia funcional de seus
membros, que nem sempre são encontradas na velhice, devido às perdas e limitações
decorrentes dessa fase (Camargo, 1999, Mendiondo, 2002). Segundo algumas pesquisas
(Debert, 1996; Medrado, 1994; Santos, 1990 apud Camargo, 1999), o idoso ainda é bastante
desvalorizado, sendo sua condição relacionada às perdas, às incapacidades e às doenças da
velhice. Segundo Zimerman (2000), existe na sociedade uma cultura da "velhice infeliz",
onde permanece um conjunto de crenças que marginaliza o idoso, relacionando-o com
aspectos negativos como a perda da produtividade e a debilidade orgânica, que acabam sendo
aceitos sem questionamentos pelas pessoas e inclusive pelos próprios idosos. Paschoal (2002)
acrescenta à essas representações negativas, a impotência, a decrepitude, o desajuste social, os
baixos rendimentos, a solidão, a viuvez, a cidadania de segunda classe, além de estereótipos
que definem o idoso como chato, rabugento, implicante, triste, demente e oneroso.
Além disso, algumas pesquisas brasileiras mostram que os próprios idosos possuem
uma visão enviesada do processo de envelhecimento, enfatizando as perdas em detrimento
dos ganhos existentes, proporcionando a criação de representações negativas, preconceitos e
de estereótipos (Camargo, 1999; Mendiondo, 2002).
Sobre esse aspecto, Medrado (1994 apud Camargo, 1999) realizou uma pesquisa em
uma cidade baiana sobre representações da velhice e encontrou dados que remetem a uma
representação negativa do envelhecimento, ligada por exemplo, à perda da saúde, da utilidade
social e de perspectivas futuras. Um estudo de Santos (1990 apud Camargo, 1999), a respeito
da influência da aposentadoria sobre a idade do sujeito, também apontou uma ênfase em
aspectos negativos da velhice, sendo o idoso representado pelo afastamento do mundo social.
Em contrapartida, a pesquisa de Barros Pinto (1997), sobre conceitos de velhice em diferentes

138
gerações nipo-brasileira apontou aspectos positivos da velhice, relacionados a fatores que
podem proporcionar respeito e poder aos idosos como, sabedoria, experiência de vida,
geratividade, consciência das próprias realizações e continuidade do desenvolvimento
intelectual. Deste modo, existem duas maneiras de pensar na velhice, que levam em
consideração somente aspectos positivos ou negativos do envelhecimento. Qualquer uma
dessas concepções de velhice é parcial, uma vez que em todas as fases do desenvolvimento
humano o indivíduo experiência tanto ganhos e perdas que afetam a sua vida de forma
exclusiva e diversificada (Mendiondo, 2002).
Como alguns comportamentos dos idosos podem passar desapercebidos e até serem
desvalorizados, em função da representação social do envelhecimento, vários autores fazem
questão de destacar os aspectos mais positivos da velhice, mostrando que este é um período
da vida que envolve a continuação do processo de desenvolvimento psíquico e social,
desviando o foco de atenção da deterioração de capacidades físicas (Camargo, 1999; Neri,
1995, Mendiondo, 2002). O declínio biológico normal que ocorre com o envelhecimento do
indivíduo e o progressivo aparecimento de doenças e dificuldades funcionais que podem
aparecer na velhice, podem levar a uma concepção negativa desta fase. Entretanto, com os
avanços na área de saúde e tecnologias assistivas1, existe uma grande possibilidade de
controlar muitos problemas de saúde comuns na velhice e, desta forma, garantir uma boa
qualidade de vida nesta fase do desenvolvimento. Deve-se, portanto, reconhecer as
particularidades de cada organismo que envelhece e considerar a saúde do idoso em termos da
manutenção da sua capacidade funcional (Assis, 1998). Desta forma, pode-se considerar que o
envelhecimento é uma fase de adaptação na vida do indivíduo, como todas as outras. Porém,
neste caso, a necessidade de adaptação às incapacidades físicas, cognitivas e psicossociais se
fazem mais presentes que em outras fases do desenvolvimento. Portanto, como afirma
Papaléo Netto (1996), “é relevante ter uma visão global do envelhecimento como processo e
do idoso como ser humano”, considerando os aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais,
culturais e econômicos envolvidos nesse processo e na vida de cada idoso.
A dependência do idoso
A diminuição das capacidades físicas freqüentes em muitos idosos desencadeia um
processo de adaptação psicossocial (Leme e Silva, 1996). Este processo pode ser
evidenciado em vários graus e aspectos como por exemplo, a necessidade de aceitar e
administrar limitações físicas e cognitivas que podem deixar a pessoa incapaz de lidar com
pequenas coisas, como sair de casa para um passeio ou de se lembrar da mudança de lugar de
um objeto ou móvel dentro de sua casa. Mudanças bruscas e mais amplas, como a perda de

1
.Tecnologias assistivas: Equipamentos que permitem que uma pessoa dependente possa realizar atividades sem
ou com pouca ajuda de outras pessoas.

139
um ente querido ou uma mudança de moradia, exigem alterações muito grandes nas rotinas
cotidianas do idoso, e a reconstrução de alguns dos laços emocionais mais importantes na
sua vida. No caso dos idosos, estas restrições e alterações na sua vida costumam levar a um
aumento na sua dependência do ambiente familiar e doméstico, caracterizado como um local
que costuma oferecer estabilidade, proteção e cuidado ao idoso.
A dependência é caracterizada pela incapacidade ou impotência do indivíduo em
viver satisfatoriamente sem a ajuda de outras pessoas. Em função das alterações físicas,
sociais e psicológicas que podem ocorrer durante o processo de envelhecimento, um idoso
pode se tornar dependente de outras pessoas para que sua qualidade de vida seja mantida
(Pavarini, 1996).
Segundo Baltes e Silverberg (1995), a dependência dos idosos é normalmente
evidenciada em três dimensões: física, estruturada e comportamental. A dependência física
está relacionada à falta de capacidade funcional para realizar as atividades básicas e
instrumentais da vida diária, como tomar banho, cuidar da aparência, alimentar-se, fazer
compras, etc. Este tipo de dependência pode ocorrer em diferentes graus, dependendo do
comprometimento funcional do idoso. A dependência estruturada esta relacionada à perda do
papel produtivo na sociedade e na família, gerada pela perda do trabalho e/ou pela
aposentadoria. Já a dependência comportamental está embutida culturalmente na sociedade e
não depende da competência do idoso em realizar uma tarefa, mas sim da expectativa das
outras pessoas em relação ao que o idoso é capaz de fazer e das oportunidades dadas a ele
por essas pessoas. Este último tipo de dependência normalmente é caracterizado por um
ambiente superprotetor, que estimula a dependência do idoso, onde os familiares acabam
fazendo coisas que ele ainda seria capaz de executar sozinho ou com pouca ajuda.
Neri & Sommerhalder (2002) afirmam que a dependência de um idoso pode estar
relacionada a diversos domínios, além do físico. Por exemplo, ela pode estar ligada à
obtenção de informações que possam auxiliar na tomada de decisões do idoso, ou na
utilização de recursos disponíveis na sociedade para melhorar sua qualidade de vida. Pode
também estar relacionada à necessidade de ajuda na realização de atividades práticas que
ocorrem fora do ambiente doméstico, como compra de roupas, alimentos ou utensílios,
recebimento e execução de pagamentos, deslocamento de um local para outro, etc. Além
disso, pode ser funcional, ou seja, estar associada a déficits das capacidades funcionais do
idoso, podendo resultar na necessidade de ajuda em diferentes graus e dimensões,
dependendo do grau de comprometimento.
Todavia, é importante destacar que a dependência em um determinado domínio não
implica na dependência em outros. Por exemplo, a dependência de um idoso em relação a
outras pessoas para realizar algumas atividades instrumentais da vida diária não significa que

140
esse mesmo idoso também dependa de outras pessoas em outros domínios, como atividades
da vida diária (consigo mesmo), à tomada de decisões, etc. Mesmo dentro de um mesmo
domínio, a necessidade de ajuda pode existir para determinadas tarefas e não para outras
(Neri & Sommerhalder, 2002).
Segundo Gatz, Bengston e Blum (1990) apenas uma minoria da população idosa é
totalmente dependente da ajuda de outras pessoas para realizar suas atividades de vida diária.
Todavia, uma boa parcela apresenta diferentes graus de dependência leve ou moderada,
dependendo da idade.
No Brasil, a presença de idosos que apresentam algum grau de dependência é
bastante freqüente. Um estudo desenvolvido por Ramos (1993) na área metropolitana da
região sudeste do Brasil, por exemplo, evidenciou a presença de 86% de idosos que referiam
possuir ao menos uma doença crônica e 46% de idosos que precisavam de ajuda de outras
pessoas para realizar pelo menos uma das atividades básicas da vida diária.
Nesse mesmo sentido, um estudo realizado por Coelho Filho e Ramos (1999), com
667 idosos residentes na região nordeste do Brasil, evidenciou que 92,4% dos idosos
entrevistados apresentava pelo menos uma doença, sendo que 78,1% mencionou apresentar
de uma a cinco doenças crônicas. Em relação à necessidade de ajuda, 47,7% dos idosos
referiu necessitar da ajuda de outras pessoas para pelo menos três atividades da vida diária.
Ainda em relação à dependência, Medina (1998 apud Karsch, 2003) afirma que cerca
de 40% dos idosos com idade superior a 65 anos necessitam de apoio para realizar pelo
menos uma tarefa como fazer compras, lidar com finanças, preparar refeições e limpar a
casa. Além disso, cerca de 10% precisa de ajuda em atividades básicas de vida diária como,
tomar banho, alimenta-se, etc.
Independente do grau de ajuda necessária, na velhice a pessoa idosa pode passar a
depender cada vez mais do meio social onde vive, especialmente da família que a auxilia e
cuida, por ser a base da estrutura social presente atualmente. Conforme relatos dos próprios
idosos, apenas 2% dos idosos brasileiros não contam com ajuda familiar em caso de doença
ou incapacidade (Ramos, 1992). Assim, a família, na maioria dos casos, passa a ser uma
agência primordial na manutenção e promoção da qualidade de vida dos idosos.

Qualidade de vida na velhice


A qualidade de vida na velhice e as condições responsáveis pela existência da mesma são
questões levantadas em relação ao processo de envelhecimento, sendo estudada por muitas
áreas da ciência. Todavia, apesar do grande número de estudos sobre esse assunto, Neri
(1993a) aponta que até o presente momento, o conhecimento científico se restringe à
existência de diferentes variáveis envolvidas na promoção da qualidade de vida na velhice e

141
no fato de que as mesmas podem ter diferentes impactos sobre o bem-estar subjetivo. Porém,
as pesquisas e teorias relativas a esse fenômeno ainda não estabelecem com clareza em que
grau cada um dos múltiplos fatores envolvidos afeta a qualidade de vida do idoso, como eles
estão inter-relacionados e quais as relações de causalidade existentes.
Atualmente, predomina no meio científico, a visão de que “envelhecer
satisfatoriamente depende do delicado equilíbrio entre as limitações e as potencialidades do
indivíduo, o qual lhe possibilitará lidar, em diferentes graus de eficácia, com as perdas
inevitáveis do envelhecimento” (Neri, 1993a, p.13). Por exemplo, quando um idoso sofre uma
perda física (visão, movimento dos membros, audição, etc.) que altera a forma como
conseguirá realizar suas tarefas cotidianas, ele terá que acionar membros de sua família ou
outras pessoas para lhe ajudar a lidar com essas limitações possibilitando uma qualidade de
vida melhor.
Para avaliar a qualidade de vida na velhice, se faz necessário usar múltiplas medidas
de natureza biológica, psicológica e sócio-estrutural (Neri, 1993a; Paschoal, 2002). Os
indicadores mais comuns de bem-estar na velhice incluem: longevidade, saúde biológica e
mental, satisfação com a vida, funcionamento cognitivo, competência social, atividade, status
social, renda, continuidade de envolvimento em papéis familiares e ocupacionais e
continuidade de relações informais em grupos primários (Neri,1993). As relações sociais
podem ser preditoras de bem-estar uma vez que, promovem sentimentos de felicidade,
satisfação, otimismo, pensamentos positivos sobre si mesmo e podem estar relacionados à
diminuição de estados de ansiedade, baixa auto-estima, depressão, etc. (Norris, 1993;
Hansson, 1994).
Assim, nota-se que a qualidade de vida é um constructo multidimensional, bipolar e
subjetivo, uma vez que envolve inúmeras variáveis, possui dimensões positivas e negativas
(como autonomia e dependência, por exemplo) e depende da avaliação subjetiva que cada
pessoa faz de sua situação (o que também é influenciado por aspectos culturais, históricos,
temporais e disposicionais), tornando-se um conceito extremamente complexo (Paschoal,
2002)
Com base nos conceitos sobre qualidade de vida na velhice, percebe-se que este
fenômeno não é somente um atributo pessoal, mas resulta da interação entre o indivíduo e o
seu meio, ambos em constante transformação. Assim, envelhecer bem é um referencial sujeito
às condições e valores presentes em cada contexto histórico-cultural de uma sociedade (Ryff,
1982; Neri, 1995). Desta forma, a promoção do bem-estar na velhice é algo que ultrapassa os
limites da responsabilidade pessoal, sendo também conseqüência da qualidade das interações
entre as pessoas. Ou seja, a qualidade das relações existentes entre os idosos e as pessoas que
com eles convivem (amigos e familiares, especialmente) é um fator fundamental para a

142
promoção e preservação da qualidade de vida de ambos (Featherman, Smith, e Peterson, 1990
apud Neri, 1993a; Hansson, 1994).
Nesse sentido, a concepção que as pessoas possuem a respeito do processo de
envelhecimento, mediadas por fatores culturais existentes na sociedade, pode ser um dos
determinantes da qualidade das interações entre idosos e seus familiares. Uma sociedade que
encara o envelhecimento de forma negativa e que não consegue distinguir o envelhecimento
normal do patológico, poderá exercer fortes influências sobre o autoconceito do idoso e sobre
a visão que as pessoas têm dele, o que pode afetar o relacionamento idoso-família e o modo
como os mesmos lidarão com as mudanças decorrentes da velhice. Além disso,
representações negativas e estereotipadas da velhice podem influenciar as perspectivas dos
idosos em relação ao seu futuro, limitando as possibilidades de se garantir uma maior
qualidade de vida. Um idoso que se considera ou é considerado pelos outros como uma
pessoa sem valor funcional para a sociedade e para a família, pode ser levado a diminuir os
contatos sociais, a não se envolver em atividades que lhe de prazer, a se conformar com
interações precárias e debilidades vindas com o envelhecimento, etc. Tais aspectos podem
afetar negativamente sua qualidade de vida atual e futura. O suporte e o relacionamento
familiar também podem ser influenciados por crenças relativas ao envelhecimento, uma vez
que as necessidades dos idosos podem ser negligenciadas ou ignoradas, afetando,
consequentemente, a qualidade de vida dos idosos (Paschoal, 2002).
A importância da família na manutenção da qualidade de vida dos idosos é destacada
por diferentes autores (Richards, 1996 apud Duarte & Diogo, 2000; Family Caregiver
Alliance, 1996 apud Duarte, 2001, Hooyman & Kyiak, 1996 apud Neri & Sommerhalder,
2002, Lemos & Medeiros, 2002) que apontam a família americana como provedora de 80 a
90% dos cuidados dispensados aos seus membros idosos, sejam eles relacionados a suporte
material, prático, técnico, social ou psicológico. No Canadá, essa importância é ainda maior,
sendo que em 94% dos casos a família é quem oferece suporte aos idosos. Richards (1996
apud Duarte & Diogo, 2000) também afirma que, quanto maior o grau de fragilidade do
idoso, maior o suporte oferecido por seus familiares.
No Brasil, país onde são oferecidas poucas alternativas de cuidados formais de
qualidade, a tarefa de apoiar um idoso é, na maioria das vezes, desempenhada por familiares,
sendo a família reconhecida legalmente pela constituição brasileira como responsável pelo
cuidados necessários aos seus membros idosos (Duarte, 2001; Neri & Sommerhalder, 2002;
Barros Pinto, 1997, Mediondo, 2002). De acordo com a Lei Federal 8.842/94, que institui a
Política Nacional do Idoso, artigo 3, inciso 1, “a família, a sociedade e o Estado tem o dever
de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito a vida.” (Fernandes, 2002).

143
Desta forma, percebe-se que as relações familiares exercem uma influência muito
importante sobre a qualidade de vida do idoso. Por sua vez, as avaliações subjetivas feitas
pelos familiares das situações que envolvem o idoso são fortemente influenciadas pelas
crenças, prioridades e valores que possuem, pelo relacionamento passado e atual com o idoso
que cuidam e pelas representações sociais de velhice e do papel do cuidador que construíram
(Neri & Sommerhalder, 2002). Assim, pode-se notar que a participação dos familiares é
significativa quando se refere à qualidade de vida das pessoas idosas, sendo de grande valia
estudar essa relação em mais detalhes.

A relação idoso-família na promoção e manutenção da qualidade de vida na velhice


Redes sociais de apoio
No geral, a manutenção e promoção da qualidade de vida de um indivíduo é proporcionada
por meio de redes sociais de apoio. Segundo Neri & Sommerhalder (2002), essas redes são
“grupos hierarquizados de pessoas que mantém entre si laços e relações de dar e receber" (p.
12) e tem como objetivo o suprimento das necessidades básicas do indivíduo, inserido na
sociedade. Entre as redes de apoio para idosos existentes na sociedade atual, pode-se destacar
a família, que em todas as fases da vida, para a maioria das pessoas, a família desempenha
um papel muito importante na vida do indivíduo, apoiando-o prática e emocionalmente.
Como já foi exposto, na velhice, os familiares costumam desempenhar um papel essencial na
manutenção da qualidade de vida dos idosos.
Tais redes sociais de apoio podem sofrer modificações em sua estrutura e função em
conseqüência das necessidades das pessoas em diferentes etapas e situações da vida. Assim,
as famílias que oferecem apoio a idosos possuem normas, condutas, valores e expectativas
específicas que dependem do tipo de ajuda necessária (material, instrumental ou emocional) e
dos serviços, informações e recursos disponíveis a eles e por outros meios.
Conceitos sobre o apoio familiar
De fato, idosos podem receber ajuda por meios não-familiares. Numa análise feita por
Debert (1999) sobre a importância das relações familiares para o bem-estar de idosos, esta
autora encontrou alguns estudos que questionam esta importância. No entanto, ela também
verificou que muitas outras pesquisas demonstram que as relações familiares são
fundamentais na assistência ao idoso e nas expectativas em relação ao processo de
envelhecimento.
A família é a instituição social fundamental em nossa sociedade, sendo um dos grupos
primários (não depende da escolha do indivíduo) e naturais nos quais o indivíduo vive e
consegue se desenvolver (Gargiulo, 2003; Duarte, 2001; Knobel, 1996, Lemos & Medeiros,
2002). Segundo Rodrigues e Rauth (2002), apesar das mudanças ocorridas através dos

144
tempos, a família continua a ser um núcleo promotor de suporte emocional, social e
psicológico indispensável a todas as pessoas, inclusive aos idosos. É no ambiente familiar
que o indivíduo adquire uma série de habilidades que servirão para sua vida, é um dos locais
onde ele é socializado, educado, cuidado e exposto a crenças e valores de sua cultura
(Gargiulo, 2003). Além disso, Camara et al. (1998) apontam que, a família é um lugar de
emoções e conflitos. Por fim, Leme e Silva (1996) consideram a família o habitat “natural” do
indivíduo, em função de nossa cultura atual, sendo o local onde o idoso é conhecido por seus
defeitos e qualidades e, dessa forma, onde ele pode agir naturalmente, sem usar máscaras
sociais.
O ambiente familiar pode ser considerado um ambiente social, uma vez que o
relacionamento entre os membros, a divisão do trabalho e a vida cotidiana da família é ditada
por fatores culturais e sociais. Isto é, a forma como a família está estruturada depende das
idéias transmitidas pela cultura e pela sociedade sobre o modo como as pessoas devem se
comportar no ambiente familiar (Miles, 1982).
As funções da família se referem à proteção e socialização de seus membros, de
acordo com a cultura em que a mesma está inserida, atendendo a objetivos internos (proteção
psicossocial de seus membros) e externos (adaptação à cultura e transmissão da mesma para
as próximas gerações). Desta forma, cabe à família a preservação da integridade física e
psicológica de seus membros (Minuchim 1990, apud Duarte, 2001). Pode-se perceber,
portanto, que a família possui grande importância para a sobrevivência e adaptação do
indivíduo ao seu meio, sendo que seu suporte não se restringe as primeiras fases do
desenvolvimento, mas é necessário durante toda a vida do ser humano.
Entre as necessidades que devem ser satisfeitas pelas famílias podemos destacar:
necessidade de afeto e amizade, caracterizada pelo compromisso emocional e pela
manifestação de afeição; necessidade de socialização, que permite o desenvolvimento de
habilidades sociais e estabelecimento de relações interpessoais; e necessidade de auto-estima,
onde um indivíduo contribui para o desenvolvimento da auto-estima de outro por meio do
reconhecimento de contribuições positivas. Além disso, existe ainda necessidades de cuidados
diários (saúde, educação, alimentação, etc.), econômicas, de recreação e educação que
também devem ser supridas (Gargiulo, 2003). Geralmente, suprir as necessidades acima
citadas é uma tarefa comum para todas as famílias. Todavia, quando se trata de família que
possuem membros com necessidades especiais, como idosos dependentes, algumas
necessidades podem ser exclusivas e as tarefas e atividades necessárias para supri-las podem
afetar negativamente ou positivamente o sistema familiar (Gargiulo, 2003).
Assim, durante todo o ciclo vital, cabe à família cuidar, proteger e ajudar seus
membros. No entanto, apesar de responsabilizar-se, o surgimento de dependência por parte de

145
um familiar idoso pode resultar em diferentes dificuldades no contexto familiar, dependendo
da forma como a família está estruturada e, portanto, das alterações necessárias para lidar com
a situação. A vida normal da família pode ser interrompida, exigindo uma nova estruturação
das atividades desenvolvidas por cada pessoa, sejam elas domésticas, sociais ou relacionadas
ao trabalho (Miles, 1982). Desta forma, as necessidades de adaptação e reorganização da
família refletem no reajustamento dos papéis familiares e das formas como cada membro
interage com os demais (Minuchim, 1982 apud Romano, 1999; Lueckenotte, 2000). Ao
mesmo tempo, reajustes na estrutura familiar dependem de como as mudanças e eventos se
originaram, dos recursos disponíveis para lidar com tais modificações e da importância dada
pelos membros da família ao acontecimento (O'Connor, 1983 apud Romano, 1999).
Geralmente, as famílias passam por um processo de desenvolvimento e evolução,
denominado de ciclo vital da família, ou seja, a história da vida da família. O ciclo vital da
família se refere às mudanças desenvolvimentais que ocorre na maioria das famílias ao longo
do tempo. Essas mudanças podem alterar a estrutura da família e por sua vez, relações
afetivas, funções e interações familiares (Turnbull & Turnbull, 1997 apud Gargiulo, 2003).
Assim, cada família possui características e necessidades únicas que representam sua forma
de ser e de estar em cada situação que experienciam e opera como uma unidade interativa e
interdependente (Duarte & Diogo, 2000; Turnbull & Turnbull, 1997 apud Gargiulo, 2003).
Todos os eventos e experiências que afetam um ou mais membros da família em particular
também afetam os demais membros, caracterizando assim, o desenvolvimento familiar como
uma série de transições e mudanças que exigem reorganizações constantes na estrutura
familiar. Assim, a forma como uma família se reorganiza frente à necessidade de cuidar de
um membro idoso, irá depender então, de como se deu o desenvolvimento familiar até o
presente momento (Duarte & Diogo, 2000). Uma situação nova dentro da família pode ser
acompanhada por períodos de ajustamento e caracterizar as transições percorridas pela
mesma. Essas transições podem ser particularmente estressantes quando se tratam da
dependência de um membro idoso, o que para muitos se traduz em um período de mudanças
e incertezas em relação aos próximos estágios de desenvolvimento tanto familiar, como de
cada indivíduo, trazendo ansiedade e estresse significativo (Gargiulo, 2003). Uma mulher,
filha de um idoso que se torna dependente, por exemplo, terá que reorganizar toda sua rotina
diária de trabalho e doméstica para atender as necessidades desse membro da família, o que
por sua vez, poderá repercutir na rotina de outros membros da família, como filhos e marido,
gerando uma série de sentimentos e reações em todo o ambiente familiar. Nota-se, então, o
quanto é importante considerar todo o sistema familiar e entender e ajudar as famílias nestes
períodos de transição, para que as novas relações que emergem entre pais e filhos, cônjuges,

146
etc., sejam as melhores possíveis, ajudando a obter uma melhor qualidade de vida para todas
essas pessoas (Neri, 1993a; Gargiulo, 2003; Perracini & Neri, 2002).
Entender e ajudar as famílias, então, requer um processo de estudo que se desdobra
em muitas partes, sem esquecer-se do contexto mais amplo. O cuidado oferecido a idosos no
contexto familiar deve ser visto como uma realidade complexa, marcada por contextos sócio-
demográficos, culturais e psicológicos; pela história do relacionamento familiar
(especialmente da relação entre idoso e cuidador); pela natureza das necessidades do idoso e
das demandas de cuidados para suprir tais necessidades; pelos recursos existentes e apoios
oferecidos por redes formais ou informais e pela avaliação subjetiva que cuidador, idoso e
demais membros da família constróem sobre o cuidar e sobre a velhice (Neri &
Sommerhalder, 2002).
A influência da história familiar
Dificuldades em relação a qualquer um dos fatores acima listados podem empobrecer
a maneira como familiares reagem às necessidades materiais, sociais ou psicológicas dos
membros idosos. Por exemplo, quando membros de uma família não possuem um bom
relacionamento com o idoso, seus familiares costumam ter maior dificuldade em se adaptar à
dependência do idoso do que na família cuja história do relacionamento tinha sido
satisfatória. No caso de uma família com uma história de relacionamentos deficitários, o
suporte ao idoso pode ser prejudicado, favorecendo conflitos, maiores dificuldades e atos de
negligência e maus-tratos.
Nesse sentido, Assis (1998) afirma que a relação afetiva entre os membros de uma
família é um dos principais aspectos que favorecem o equilíbrio e o bem-estar dos idosos.
Sentimentos positivos (como respeito e aceitação) e negativos (como raiva ou rancor),
construídos pelos familiares ao longo do tempo em relação ao idoso, irão repercutir no apoio
familiar dado a ele e exigir um novo arranjo das relações familiares e das formas de
convivência social existentes. Segundo Lueckenotte (2000), relacionamentos pobres entre o
idoso e seus familiares podem estar relacionados com o aumento da angústia emocional dos
membros da família em assumir os cuidados. Com base nessas colocações, pode-se afirmar
que as dificuldades de relacionamento entre o idoso e seus familiares podem influenciar
negativamente o apoio oferecido.
Arranjos familiares
Os tipos de arranjos familiares também podem afetar o suporte oferecido a um idoso
dependente e o relacionamento entre os familiares, afetando assim a qualidade de vida de
todos os seus membros. Segundo Ramos (1993), os tipos de famílias devem ser considerados
com base na diversidade dos arranjos de moradia. Ramos descreve três tipos de arranjos
familiares: (a) a família jovem, que não possui nenhuma pessoa idosa em sua constituição;

147
(b) a família do tipo idosa, cuja chefe é idoso, com menor número de pessoas por domicílio e
(c) famílias multigeracionais, que são aquelas que possuem pessoas idosas, mas estas não
chefiam a família.
De outro modo, Aquino & Cabral (2002), decompões os tipos de arranjos familiares
em nuclear, estendida, composta e unipessoal. A família nuclear é aquela que se limita a
relação conjugal e aos filhos desse casamento e eventualmente um avô ou um outro familiar.
A família estendida é aquela que integra membros que possuem laços consangüíneos mais
diretos, mas fazem parte de diversas gerações. No arranjo composto encontra-se pessoas com
laços de parentesco ou laços parciais (como filhos de outros casamentos). Alguns autores
ainda, separam os arranjos familiares de acordo com a renda familiar (Camarano et al.,
1999).
Em relação aos tipos de famílias existentes, Knobel (1996) aponta uma série de
modificações na estrutura familiar ao longo da história, que podem influenciar no apoio
oferecido a um membro que envelhece. Segundo este autor, observava-se no passado e ainda
pode ser encontrada em algumas culturas, a presença de famílias do tipo tribal, nas quais
todos os parentes fazem parte da família. Deste tipo de família, passou-se a observar a
presença de famílias denominada extensas. Atualmente, encontra-se um maior número de
famílias nucleares, e de família reduzidas, que é representada por uma desvinculação
precoce dos filhos e a estruturação complementar do casal.
As mudanças ocorridas nas estruturas familiares são resultado de mudanças de ordem
sócio-econômica, demográfica e de saúde ocorridas durante as últimas décadas. Essas
alterações favorecem novos tipos de arranjos familiares, podendo colocar um indivíduo
idoso em situação de proteção ou de risco (Camara et. al, 1998). Por exemplo, a ida das
mulheres para o mercado de trabalho, sem alterações significativas na participação dos
homens para compensar a redução na disponibilidade da mulher aos familiares, bem como, a
diminuição do número de filhos de um, podem resultar na falta de pessoas que possam se
engajar no apoio a um idoso, ainda mais quando sua dependência for acentuada (Knobel,
1996; Rodrigues e Rauth, 2002; Lemos & Medeiros, 2002).
A redução do convívio intergeracional, devido ao pequeno número de pessoas de
diferentes gerações habitando a mesma residência, também favorece problemas de
relacionamento com o idoso. Isso ocorre à medida que o convívio com um idoso dependente e
os cuidados dirigidos ao mesmo não se encaixam nas rotinas normativas familiares, se
tornando fonte de conflitos entre os familiares e destes com o idoso (Camara et. al, 1998;
Veras et al, 1987 apud Assis, 1998; Lemes & Silva, 1996). As dificuldades em manter o
suporte ao idoso podem ser agravadas, ainda, por fatores como distância entre as moradias
dos idosos e dos familiares, dificuldades de trânsito comuns nos grandes centros urbanos e a

148
falta ou o pouco interesse dos familiares adultos, ou mesmo dos mais jovens, em possuir um
contato mais estreito com seus familiares idosos (Assis, 1998).
Zimerman (2000) também destaca as mudanças ocorridas nas famílias nos últimos
tempos, afirmando que, antigamente, as famílias possuíam papéis mais rígidos, definidos e
estáveis, com maior grau de hierarquização. Atualmente, as famílias possuem papéis mais
dinâmicos e flexíveis, com uma menor hierarquização e que mudam com maior facilidade.
Apesar da maior flexibilidade na estrutura familiar, a convivência entre pais, filhos e netos
tornou-se mais complicada. Constantes mudanças advindas da globalização e da evolução
científica e tecnológica podem facilitar a comunicação e a identificação entre jovens e idosos
por meio de recursos como telefone ou Internet. Por outro lado, essas mesmas mudanças
podem dificultar essa comunicação, porque os jovens podem passar mais tempo entretidos
com aparelhos advindos dessa tecnologia, não querendo interagir com os idosos e acentuando
o choque de gerações e conflitos intergeracionais. Além, disso, em alguns casos, o idoso não
consegue acompanhar essas mudanças e, ao mesmo tempo, os mais jovens não entendem nem
respeitam os conhecimentos e o modo de pensar dos mais velhos (Duarte, 2001; Zimerman,
2000). Essa distância pode favorecer a "falta de assunto" na convivência familiar, os conflitos
e a intolerância entre as duas partes, cuja repercussão tende a privá-los de um possível
crescimento mútuo e do prazer que as relações intergeracionais são capazes de gerar (Assis,
1998).
Apesar da redução no tamanho das famílias nos tempos atuais, em relação ao passado,
vários estudos mostram um predomínio de idosos vivendo em famílias multigeracionais,
mesmo quando a amostra inclua idosos sem fragilidades. Ramos (1993) aponta que 56% dos
idosos entrevistados em sua pesquisa vivia em domicilio com duas ou mais gerações, contra
32% que co-habitavam apenas com moradores da mesma geração e 12% que vivia sozinho.
Coelho Filho & Ramos (1999) também obtiveram dados parecidos: 75% vivia em famílias bi
ou multigeracionais, 10% vivia em domicílios unigeracionais e 6,3% morava sozinho.
Fatores sócio econômicos
As famílias multigeracionais nem sempre são tão bem sucedidas em sua capacidade de
apoiar as necessidades afetivas do idoso, em comparação com os idosos que vivem em
famílias unigeracionais ou que moram sozinhos. Porém, as dificuldades encontradas em
famílias multigeracionais não refletem apenas fatores de mal relacionamento. Segundo,
Ramos et al. (1993), os idosos que vivem em domicílios multigeracionais na América Latina
tendem a ser mais pobres e com maior grau de dependência, do que os que habitam em
domicílios unigeracionais ou sozinhos. A precariedade sócio econômica, o baixo nível de
escolaridade, uma falta de incentivo ao idoso para que ele mantenha sua independência,
apesar de um rebaixamento nas suas capacidades, valores e costumes familiares que definam

149
o espaço familiar atribuído ao idoso podem afetar diretamente o apoio afetivo e prático dado
ao idoso. Quando estas condições são muito desfavoráveis, aumenta a probabilidade de maus
tratos, abandono e asilamento do idoso (Neri & Silva, 1993; Pavarini, 1996).
Uma pesquisa realizada por Ramos, Rosa e Manzochi (1991, apud Neri & Silva, 1993)
exemplifica a relação entre condições sócio econômicas e o contexto familiar de moradia.
Eles levantaram seus dados com 1.602 idosos residentes em uma metrópole brasileira. Entre
os idosos que faziam parte de famílias multigeracionais, predominavam condições de baixa
renda e de baixo grau de instrução, sendo geralmente migrantes rurais e nordestinos. Entre os
moradores de domicílios unigeracionais ou unipessoais, por outro lado, predominavam níveis
mais altos de renda e escolaridade. Apesar de não contarem com o apoio de outras pessoas, os
idosos que vivem em domicílios unigeracionais ou unipessoais, possuíam maiores condições
financeiras para encontrar recursos que os auxiliem a manter uma vida com qualidade.
Segundo esses autores, esta relação entre condições sócio econômicas e moradia também
existe em países desenvolvidos.
Assim, percebe-se que a crença popular, de que os idosos com baixa qualidade de vida
são aqueles “abandonados” pela família, é superficial. O fato do idoso morar com os filhos ou
manter um convívio intergeracional não é, por si só, garantia de uma velhice com qualidade.
Neri & Silva (1993), apontam que as relações de idosos pobres, residentes em grandes áreas
urbanas e com comprometimentos físicos ou cognitivos, com suas famílias, pode ser bastante
problemática. A convivência compulsória entre os familiares pode ser um gerador de
conflitos, uma vez que a convivência não é ditada por laços afetivos, mas por necessidades
financeiras.
Ao analisar a população idosa e a família no Estado de São Paulo, Prata (1993)
também discute se a integração do idoso à família se dá mais por questões de ordem cultural
(respeito e ajuda nas tarefas) ou mais por questões de ordem econômica. Prata conclui que a
situação atual dos idosos varia de acordo com o nível sócio econômico, o qual tende a ser
reduzido pelas demandas financeiras associadas às fragilidades características dessa faixa
etária. Desta maneira, entende-se que, mais do que a proximidade física, a qualidade das
relações familiares depende das condições de vida do idoso e de seus familiares.

Fatores interpessoais
Em relação às dificuldades de relacionamento entre idosos e seus familiares,
Zimerman (2000) aponta que, durante seu trabalho com idosos, observou a existência de
alguns problemas comuns que tornam difícil a convivência familiar quando os membros da
família não encontram estratégias para lidar com a situação de dependência do idoso. Entre os

150
problemas interpessoais destacados por esta autora estão: a dificuldade dos membros da
família em entender como os idosos pensam e sentem; a falta de comunicação entre o idoso e
os outros membros da família; a depressão na velhice; o excesso de medicação e casos de
hipocondria que requerem uma exigência maior da família para atender às necessidades do
idoso; a superproteção por parte da família em relação ao idoso, o que pode aumentar a
dependência do mesmo; um processo demencial envolvendo problemas de memória e
confusão mental por parte do idoso, dificultando imensamente o processo de comunicação; e
dificuldades para lidar com a morte, tanto por parte do idoso quanto dos outros familiares.
Um quadro demencial, por exemplo, prejudica não só a vida do idoso, mas provoca
alterações na vida cotidiana de todos os familiares à sua volta. Como enfatiza Camara et. al.
(1998), os familiares de um idoso demenciado se vêem obrigados a modificar seus projetos
futuros e sua rotina diária para se dedicar aos cuidados ao idoso dependente. Neste caso, os
sentimentos dos familiares em relação à doença do idoso podem prejudicar ainda mais a
situação de cuidado. É comum o cuidador sentir ansiedade, raiva (por achar que o idoso está
agindo de uma maneira difícil, de propósito), desesperança em relação à possibilidade de
tratamento e melhora do quadro, e recusa em acreditar no resultado de exames que
demonstram uma alteração cognitiva. A negação da situação real do idoso pode afetar o apoio
oferecido e gerar diversos conflitos no ambiente familiar, prejudicando a qualidade de vida do
idoso, do cuidador e dos demais familiares.

O estresse entre cuidadores familiares de idosos


Desta forma, a presença de um idoso dependente na família pode desencadear uma grande
desestruturação familiar, gerando uma grande variedade de situações estressantes. As
experiências estressantes vividas pelos familiares podem ser caracterizadas como: estresse
físico, financeiro, ambiental, social e emocional (Caovilla, 2001).
O estresse físico está relacionado à providência de cuidados a serem oferecidos ao
idoso, como atividades domésticas e atividades relacionadas aos cuidados com a manutenção
da alimentação, da higiene e da saúde física do idoso. Esse tipo de estresse pode ser
evidenciado também pela presença de problemas de saúde, insônia ou cansaço do próprio
familiar, devido à situação de cuidar (Caovilla, 2001; Neri & Sommerhalder, 2002).
O estresse financeiro está relacionado a distúrbios nas finanças e consequentemente,
às dificuldades de cuidar do idoso de forma satisfatória e oferecer apoio adequado, devido a
limitações financeiras da família que arca com os gastos do cuidado (Caovilla, 200; Perracini
& Neri, 2002).
O estresse ambiental está ligado à moradia onde o idoso irá permanecer e às
adaptações do ambiente doméstico necessárias às condições do idoso (como adaptação do

151
banheiro, colocação de rampas, etc.). No que se refere à moradia, tanto o fato do idoso
permanecer em sua própria casa, quanto o de se mudar para a residência do cuidador podem
gerar estresse. Em relação à primeira opção, pode ocorrer uma sobrecarga maior para o
familiar que assume os cuidados, pois terá duas casas para administrar. No que concerne a
segunda opção, esta pode gerar conflitos entre os membros da família com a qual o idoso
passa a conviver, quando estes não aceitam a nova situação (Caovilla, 2001).
O estresse social ocorre devido ao isolamento do cuidador familiar de seus próprios
amigos, familiares, vizinhos, reduzindo ou até eliminando sua própria vida social e de lazer,
devido ao tempo e esforço dedicado ao idoso. Este tipo de isolamento pode ser exagerado
quando o cuidador não consegue delegar responsabilidades a outras pessoas, teme receber
críticas sociais por não dedicar-se integralmente ao idoso ou devido à sobrecarga de
atividades que existe quando combina uma vida profissional com o papel de cuidador. Quanto
maior o tempo investido e carga de cuidados oferecidos, quanto maior será o isolamento
social do cuidador familiar (Caovilla, 2001; Perracini & Neri, 2002, Neri & Sommerhalder,
2002).
O estresse emocional está ligado a todas as outras formas de estresse já apontadas.
Envolve a capacidade de administrar as inúmeras responsabilidades adquiridas e os
sentimentos que surgem, a partir do início dos cuidados da pessoa idosa. As demandas e,
como resultado, o estresse enfrentado tende só a aumentar com o avanço do grau de
dependência do idoso. Além disso, o estresse emocional é provocado pela competição entre as
demandas dos vários outros papéis que o cuidador ocupa; sentimentos de embaraço diante de
comportamentos inadequados apresentados pelo idoso; ressentimentos advindo da relação
entre cuidador-idoso, idoso-familiares ou entre cuidador e demais familiares; sentimentos de
impotência diante da doença do idoso e sobrecarga de cuidados (Caovilla, 2001; Lueckenotte,
2000; Perracini & Neri, 2002, Neri & Sommerhalder, 2002).
Os sentimentos em relação ao idoso e ao papel de cuidador podem sofrer
modificações ao longo do tempo, dependendo da situação. No entanto, os sentimentos mais
evidenciados incluem: irritação, medo, esperança, culpa, resignação, remorso, angústia,
raiva, vergonha, pena, preocupação, tristeza, sentimentos de perda, etc. Sentimentos
positivos e agradáveis também podem aparecer, sobretudo quando os mesmos já existiam no
relacionamento, antes do surgimento das limitações do idoso (Camara et. al., 1998; Papaléo
Netto, 1996).
Fatores que afetam a percepção de estresse
A avaliação de um evento como estressante, ou não estressante, dependerá do
envolvimento da pessoa com esse evento. Por sua vez, o envolvimento da pessoa se reflete no
significado e na importância que ela dá a uma determinada situação. As crenças pessoais, isto

152
é, a percepção que o indivíduo tem de si mesmo e do mundo ao redor, são determinantes
muito importantes da reação de estresse (Goldstein, 1995; Neri & Carvalho, 2002). Assim,
um fator primordial no reconhecimento de um evento como estressor ou não é a avaliação
cognitiva que o cuidador faz desse evento, identificando se é capaz de dar conta da situação
com as habilidades, conhecimentos, suporte social e recursos de enfrentamento que dispõe
(Lawton et al. apud Neri & Carvalho, 2002).
Além dessas variáveis, Goldstein (1995) coloca que a avaliação de um evento como
gerador de estresse também pode ser influenciada por fatores situacionais ligados a ele. Entre
esses fatores estão a novidade e a temporalidade. O primeiro está relacionado a situações
novas que o indivíduo vivencia e que podem gerar estresse devido à falta de uma experiência
prévia. Já a temporalidade está relacionada com o contexto do curso de vida em que o evento
ocorre e com a relação do mesmo com outros eventos experenciados anteriormente. Um
evento que ocorre de forma inesperada ou em épocas diferentes das que ele seria percebido
como normal, podem ser avaliados como estressores por gerar uma série de alterações
inesperadas na vida do indivíduo ou por não proporcionarem tempo suficiente para a
preparação para o desempenho desse papel. Assim, quando uma pessoa cuida de um familiar
idoso em algum momento inesperado de sua vida, tal evento pode ser visto como estressor,
devido ao despreparo do cuidador e das perdas que ele poderá vivenciar em decorrência dessa
situação.
Além disso, Leal (2000) aponta o estresse causado pela falta de opção que existe em
relação ao papel de cuidador de idoso. Quando um membro da família se torna dependente
ou incapacitado, mesmo que temporariamente, seus familiares gostariam de escolher se iriam
ou não assumir a responsabilidade de cuidar dessa pessoa, de avaliar suas condições de
continuar sua vida cotidiana e seu trabalho, de receber apoio e assistência de outras agências
e profissionais, etc. Todavia, no geral, os familiares possuem pouca liberdade para escolher
como se envolver, devido a motivos como: o número de outros familiares que podem ou não
se oferecer para apoiar o idoso, fatores culturais e sociais que restringem as opções de
escolha, o grau de dependência do idoso, a falta de assistência oferecida pela rede social e
governamental, limitações financeiras, estrutura familiar presente, etc.
Como resultado, pode-se verificar que cuidar de um idoso fragilizado pode ser um
papel muito estressante, que representa uma grande dificuldade para aquele que o
desempenha. Além do desgaste físico para atender às exigências dos cuidados para com o
idoso, o cuidador também sofre perdas financeiras, sociais, familiares e psicológicas
(sobretudo de sua liberdade) e todas elas podem repercutir sobre a vida do grupo familiar
como um todo (Camara et. al., 1998; Papaléo Netto, 1996). Todavia, isso não quer dizer que
todos os cuidadores sofram de estresse em função do papel que desempenham. Uma vez que

153
a situação de cuidado é multimensional e o bem-estar do cuidador depende de muitos
eventos que ocorrem ao longo do tempo, o estresse ou o bem-estar pode se manifestar de
inúmeras maneiras e em períodos diferentes na vida de cada cuidador (Lawton et al. apud
Neri & Carvalho, 2002).

Enfrentamento de estresse
Para lidar com todos esses fatores relacionados ao envelhecimento e com a situação de
cuidado, os idosos e seus familiares precisam desenvolver comportamentos de coping, ou
seja, estratégias de enfrentamento que diminuam o valor estressante das situações
experienciadas. Os recursos que os indivíduos podem usar para lidar com eventos
estressantes e demandas cotidianas, segundo Lazarus e Folkman (1984 apud Goldstein,
1995), podem ser pessoais (que a pessoa possui) ou ambientais (advindos de outras pessoas
e fontes). Entre os recursos pessoais estão os físicos (como saúde e energia), os psicológicos
(que incluem as crenças pessoais e existenciais) e de competência (como habilidades sociais
para lidar com as situações e solução de problemas interpessoais). Já os recursos ambientais
estão relacionados aos suportes material, social e familiar.
Recursos pessoais
Em relação aos recursos pessoais utilizados como estratégias de enfrentamento, a
literatura mostra a importância do bem-estar físico em todos os momentos estressantes da
vida, em especial, naqueles onde as exigências são muito grandes (Goldstein, 1995).
No que diz respeito às crenças pessoais e existenciais, a autora acima nos mostra que
os estudos sobre o assunto apontam que essas crenças influenciam o comportamento de
coping do indivíduo, sendo que as pessoas que possuem crenças positivas em relação ao
autocontrole tendem a utilizar estratégias de enfrentamento focalizadas no problema e não na
emoção. Todavia, os estudos sobre essa relação ainda são controversos. As crenças religiosas
e existenciais também possuem uma relação com o estresse percebido, sendo esta inversa, ou
seja, quanto mais positivas essas crenças, menor o estresse percebido.
Outros recursos psicológicos valiosos para lidar com eventos estressores são as
habilidades sociais e solução de problemas. As habilidades sociais podem ser definidas como
"o conjunto de desempenhos apresentados pelo indivíduo diante das demandas de uma
situação interpessoal" (Del Prette & Del Prette, 1999, p.47). Segundo esses autores, essas
habilidades podem incluir componentes fisiológicos, comportamentais e cognitivo-afetivos.
Os componentes fisiológicos se referem às reações corporais diante da situação, como taxa
cardíaca, respiração, etc. Entre os componentes comportamentais pode-se citar
comportamentos como solicitar mudança de comportamento, lidar com críticas, opinar,
concordar, discordar, etc. Já os componentes cognitivo-afetivos estão relacionados aos

154
conhecimentos prévios do indivíduo sobre si mesmo, sobre os papéis sociais e sobre a
cultura e o ambiente em que está inserido; às crenças e expectativas (planos, metas, valores
pessoais, autoconceito, estereótipos, etc.); e estratégias e habilidades de processamento
(leitura do ambiente social, solução de problemas, empatia, auto-observação, etc.).
A solução de problemas inclui a busca por informações relevantes, a análise da
situação como forma de identificar o problema de forma adequada, busca dos recursos e
soluções disponíveis, o balanceamento das conseqüências positivas e negativas de cada curso
de ação possível, etc. Todos esses aspectos são essenciais para a delimitação de um curso de
ação eficiente a ser desenvolvido pelo indivíduo para enfrentar eventos estressantes e lidar
com as demandas que surgem durante o curso de vida (Goldstein, 1995).
Recursos ambientais
Em relação aos recursos ambientais, pode-se destacar o suporte social que, além do
que já foi discutido acima, é definido por Goldstein (1995) como uma "rede ou configuração
de ligações pessoais onde se trocam afeto e ajuda instrumental" (p.157). Este tipo de suporte
implica na existência e disponibilidade de pessoas com as quais um indivíduo pode contar, e
que fazem com que ele se sinta importante, valorizado e amado.
O suporte social pode ser dividido em: instrumental (como auxílio financeiro e
físicos), informativo (relacionado ao fornecimento de informações, explicações, etc.),
avaliativo (fornecendo um ponto de referência para que a pessoa determine a gravidade, ou
não, da sua situação) e emocional (que envolve demonstração de afeto e a valorização do
outro). Em geral, as pessoas que oferecem suporte social a outras são os amigos e familiares
que mantém um relacionamento duradouro com as mesmas (Hansson, 1994). O suporte
social não deve ser confundido com o relacionamento social entre as pessoas uma vez que,
apesar de afetar o tipo de suporte social estabelecido, o relacionamento não é garantia desse
suporte, pois isso dependerá da sua qualidade.
Segundo Goldstein (1995), muitos estudos realizados na última década vêm
apontando a importância do suporte social no enfrentamento de crises, transições, doenças,
privações, estresse, etc., principalmente no que diz respeito à qualidade desse suporte. A
importância do suporte social foi abordado por Lowental e Haven (1968 apud Goldstein,
1995), que encontraram em um estudo com 280 idosos uma alta correlação entre a presença
de um relacionamento íntimo entre o idoso e uma outra pessoa e o bem-estar psicológico de
ambos.
A qualidade do relacionamento entre o idoso e seus familiares
A qualidade do relacionamento que existe entre os familiares e o idoso pode afetar as
estratégias usadas em situações difíceis e está intimamente ligada à manutenção e promoção
da qualidade de vida dos indivíduos. Os laços afetivos, a intimidade e as trocas familiares

155
podem amenizar o impacto de várias situações negativas e garantir um suporte social
adequado ao idoso. Por sua vez, a existência de conflitos, dificuldades de relacionamento e
falta de habilidade para lidar com situações conflitantes podem levar a ou manter uma
percepção negativa de si mesmo, baixa satisfação com a vida e tornar o suporte oferecido ao
idoso algo desgastante, aversivo e inadequado, entre outras conseqüências (Hansson, 1994).
Um relacionamento de boa qualidade geralmente é mediado pela qualidade da
comunicação, das trocas afetivas e pela intimidade entre as partes (Brehm 1985; Crawford &
Unger, 1986). Segundo Brehm, uma relação de intimidade é mediada por três fatores: o grau
de interdependência que existe entre duas pessoas, as necessidades psicológicas de cada um
em se relacionar com o outro e o vínculo emocional que existe entre ambos.
A interdependência é caracterizada pela influência de um membro em relação ao
outro, onde a ação de um provoca uma reação no outro e vice-versa (Berscheid & Peplau,
1983 apud Brehm, 1985). Numa relação de intimidade, a interdependência costuma ser forte,
freqüente, duradoura e diversa, isto é, os membros da relação exercem forte influência em
diferentes esferas da vida do outro por um período de tempo significativo (Brehm, 1985).
A necessidade psicológica é outro fator que media uma relação de intimidade (Weiss,
1969 apud Brehm, 1985). Weiss sugeriu a existência de cinco necessidades psicológicas
importantes: necessidade de intimidade, de integração social, de segurança/cuidados (com
relação a alimentação, educação, etc.), de assistência e de valorização.
O vínculo emocional entre as partes também é importante para que uma relação seja
íntima, uma vez que os laços afetivos envolvidos favorecem uma maior confiança de um
membro em relação ao outro, levando a maior interdependência e à satisfação das
necessidades psicológicas.
Em suma, pode-se supor que, na relação entre o idoso e sua família, a qualidade do
relacionamento se torna um aspecto fundamental para a manutenção do bem-estar do idoso
uma vez que, quanto maior a intimidade, maior será a qualidade e aproveitamento do suporte
oferecido.

O cuidador familiar de idosos


No contexto brasileiro, a existência de um familiar que se responsabiliza pelos cuidados de
um idoso é muito freqüente. Assim, quando se enfoca o relacionamento entre idosos e seus
familiares, se faz necessário atentar para a figura do cuidador, uma vez que este possui maior
contato com o idoso e é responsável, em maior grau que os demais familiares pela
manutenção da qualidade de vida da pessoa que necessita de cuidados.
Segundo Papaléo Netto (1996, p.154),
“cuidar é o ato de assistir alguém ou prestar-lhe serviços quando este necessita. É

156
uma atividade complexa, com dimensões éticas, psicológicas, sociais, demográficas,
e que também tem seus aspectos clínicos, técnicos e comunitários.”
Tipos de cuidadores
Existem três tipos de cuidadores de idosos: o cuidador principal e os cuidadores
secundários e terciários. O cuidador principal ou primário é aquele responsável por prestar o
maior número de cuidados ao idoso dependente. Os cuidadores secundários são outros
familiares, voluntários e profissionais que prestam o mesmo tipo de ajuda ou se engajam em
tarefas complementares nos cuidados do idoso, mas que não possuem o mesmo grau de
responsabilidade e poder de decisão do cuidador principal. Já os cuidadores terciários são
coadjuvantes e não possuem responsabilidades no papel de cuidar, substituindo de forma
ocasional ou esporádica os demais cuidadores em situações específicas, por curto período de
tempo ou se envolvendo em tarefas que não exigem contato direto com o idoso, como fazer
compras, pagar contas, etc. (Neri & Sommerhalder, 2002).
Existe ainda uma segunda versão da divisão entre os tipos de cuidadores, usando a
denominação de cuidador informal para os familiares, amigos e voluntários da comunidade
que prestam cuidados ao idoso e que oferecem apoio com base em princípios de solidariedade
e de reciprocidade entre gerações. A denominação cuidador formal é utilizada para classificar
os profissionais contratados para cuidar do idoso, como enfermeiros, auxiliares de
enfermagem, acompanhantes, empregadas domésticas, etc. A diferença essencial entre esses
dois tipos de cuidadores está na base voluntária e não remunerada do primeiro em relação ao
segundo (Caldas, 1998; Neri & Sommerhalder, 2002).
A decisão de cuidar de um idoso dependente
A decisão de um familiar em assumir os cuidados de um idoso está geralmente
relacionada a algumas normas culturais e sociais que têm uma forte influência na designação
de uma pessoa para assumir este papel. Tais normas incluem o gênero do cuidador, o grau de
parentesco existente entre idoso e cuidador, a proximidade física e afetiva entre ambos, a
história de relacionamento do cuidador com o idoso e com outros membros da família, a
personalidade do cuidador, as condições financeiras do mesmo e questões geracionais, nas
quais cabe aos descendentes diretos ou a parentes e não-parentes da mesma faixa etária os
cuidados da pessoa idosa (obrigação filial, Barros Pinto, 1997). Em relação ao parentesco, a
freqüência de envolvimento é maior para o cônjuge e em segundo lugar para os filhos ou
outro familiar adulto. Segundo dados de pesquisa, dos 98% de idosos brasileiros que recebem
algum tipo de ajuda familiar, 40% dos idosos conta com o cônjuge, 35% com a filha, 11%
com o filho e 10% com a família (Perracini & Neri, 2002). Dados muito semelhantes foram
relatados por Karsch (2003), nos quais 44,1% dos cuidadores eram esposas e 31,3% eram
filhas do idoso cuidado. Além disso, nos domicílios unigeracionais, predomina a perspectiva

157
de ajuda do cônjuge (60%) e nos multigeracionais, da filha (56%) ou do filho (13%),
mostrando que o apoio familiar é, realmente muito freqüente (Yazaki, Melo & Ramos, 1993).
A esse aspecto soma-se a relação de intimidade entre idoso e cuidador que costuma ser mais
íntima na relação conjugal e na relação entre pais e filhos, respectivamente. No que diz
respeito ao gênero, a predominância de mulheres que se envolvem nos cuidados de um idoso
é maior, sendo esse fato estritamente relacionado a fatores culturais, onde cabe a mulher
assumir os cuidados de seus familiares. Segundo vários estudos, o índice de participação das
mulheres gira em torno de 70 a 75% (Lueckenotte, 2000; Caldas 1998; Neri & Sommerhalder,
2002). Karsch (2003) relata uma prevalência ainda maior do sexo feminino, girando em torno
de 92,9%. Da mesma forma, Shi (1993, apud Neri & Sommerhalder, 2002) aponta que o
apego emocional existente entre cuidador e idoso também é um fator importante, sendo que as
mulheres idosas possuem mais chances de serem cuidadas pelos familiares do que os homens
idosos, porque geralmente mantém um laço emocional mais forte com seus filhos. Peter-
Davis, Moss & Pruchno (1999 apud Neri & Sommerhalder, 2002) afirmam que este fator
ocupa um lugar mais importante que o grau de parentesco na determinação do familiar que
ocupará o papel de cuidador. Além destes padrões sociais, a decisão de assumir os cuidados
de um idoso também é tomada por meio do balanceamento da disponibilidade e da preparação
de cada um dos envolvidos (Mendes,1995 apud Caldas 1998; Neri & Sommerhalder, 2002).
Segundo Cohen e Eisdorfer (1988 apud Papaléo Netto, 1996), a motivação de um
familiar para cuidar de alguém está subsidiada por quatro razões, que são: amor ao familiar
que necessita de cuidados; gratidão em relação a experiências passadas nas quais a pessoa
atualmente fragilizada ofereceu suporte ao cuidador; moralidade, o que reflete as expectativas
da sociedade em relação ao papel dos familiares no cuidado de um membro dependente e
vontade própria em oferecer suporte a alguém.
Níveis de apoio familiar
O apoio familiar oferecido ao idoso pode se dar em diversos níveis, discutidos e
analisados por diferentes autores. Segundo Cirelli (1993 apud Neri & Silva, 1993), os tipos de
assistência oferecidos aos idosos fragilizados são divididos em primários e secundários. O
primeiro nível inclui assistência quanto à moradia, manutenção da casa, sustento, segurança,
cuidados pessoais e cuidados com a saúde, que ocorrem dentro de casa. O segundo nível
inclui transporte, apoio psicológico, ajuda para participar de atividades sociais e recreativas,
apoio espiritual, proteção e mediação burocrática.
Para Neri & Sommerhalder (2002), existem diversos critérios para classificar os
cuidados oferecidos. Esses critérios podem estar relacionados: ao domínio de ajuda (material,
instrumental, socio-emocional ou cognitivo-informativo), o que determina os tipos de
habilidades exigidas por parte do cuidador; à intensidade (fraca, forte ou moderada) ou grau

158
de esforço físico/emocional ou dificuldade envolvidos (pequeno, médio ou grande) ou,
ainda, quantidade da ajuda (pouca, média, alta); à periodicidade (contínua ou descontínua); à
duração (cuidados de curta ou longa duração); se o início foi súbito ou gradual; o local onde
a ajuda ocorre (fora ou dentro de casa); e o envolvimento de outras pessoas na ajuda (com ou
sem envolvimento de outras).
Adaptando uma esquema apresentada por Stephens (1990 apud Neri & Silva, 1993),
pode-se organizar as atividades desempenhadas para atender às necessidades dos idosos em
quatro domínios: apoio material (ajuda financeira ou recursos objetivos que procuram
manter, melhorar ou propiciar a qualidade de vida dos idosos); apoio prático (ajudar o idoso
a realizar tarefas relacionadas a cuidados corporais, tarefas domésticas e atividades fora de
casa); apoio sócio-emocional (fazer companhia, atuar como confidente, conversar sobre
questões pessoais, compartilhar experiências, ouvir, consolar, aconselhar, dar carinho,
incentivar atividades sociais, ajudar a resgatar laços afetivos importantes, etc.) e apoio
cognitivo-informativo (explicar, orientar, informar, ajudar na tomada de decisões, decidir
pelo idoso quando este já não é mais cognitivamente capaz, etc.).
Na literatura, o apoio prático está dividido em duas áreas: atividades (básicas) da vida diária
(AVD's) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD's). As AVD's compreendem tarefas
ligadas a atividades físicas e cuidados corporais do idoso (como locomoção, alimentação,
toalete, banho, escovar os dentes, trocar roupas, cuidar da aparência, tomar medicamentos,
fazer exercícios, fazer fisioterapia, etc.). As AIVD's incluem tarefas que contribuem para a
manutenção das rotinas domésticas do idoso (como limpeza e arrumação da casa, preparo de
refeições, lavar roupas, etc.) e assistência no desempenho de atividades fora de casa (fazer
compras, transportar e acompanhar o idoso ao médico, levar para fazer exames; levar à igreja
ou para fazer visitas etc.)
Em um estudo realizado sobre a percepção dos próprios cuidadores quanto aos tipos
de ajuda que oferecem ao idoso (Albert, 1991 apud Neri & Silva, 1993), foram identificadas
três dimensões: o tipo de limitação ou dificuldade apresentada pelo idoso (física ou cognitivo-
emocional), o local onde o cuidado ocorre (dentro ou fora de casa) e a resposta à
incompetência do idoso que é objeto de cuidado (estímulo à autonomia ou tutela). Numa
pesquisa realizada por este autor com 52 cuidadores, os mesmos não fizeram distinção entre
prestar ajuda em atividades instrumentais da vida diária (AIVD) ou em atividades da vida
diária (AVD), mas fizeram distinção entre tarefas prestadas em decorrência de deficiências
cognitivas e ao atendimento de necessidades emocionais. Discriminaram também os cuidados
que são prestados dentro de casa daqueles que são oferecidos fora do lar e que incluem outras
pessoas e serviços. Além disso, distinguiram os cuidados prestados em situações que
envolvem a falta de autonomia do idoso (como ter que explicar comportamentos bizarros do

159
idoso, tomar decisões por eles, administrar o dinheiro, etc.) daquelas nas quais o idoso
participa (como ajudá-lo a usar o telefone, levá-lo para visitar amigos, etc.).
Resultados enfocando questões diferentes foram obtidos num outro estudo (Perracini
& Neri, 2002), no qual as autoras também procuravam verificar como os cuidadores
percebam suas tarefas. Estas pesquisadoras fizeram uma análise de escalonamento
multidimensional, com base na maneira como cuidadores familiares primários de idosos,
portadores de comprometimentos físicos e cognitivos graves, dividiram uma série de cartões
descrevendo várias formas de ajuda. Os cuidadores categorizavam as tarefas em três
domínios: 1) tarefas que refletem as necessidades dos idosos (cuidados pessoais e
instrumentais, em oposição a cuidados cognitivo-emocionais); 2) tarefas relativas ao manejo
de tempo (tarefas realizadas rotineiramente em oposição às realizadas esporadicamente); e 3)
tarefas que refletem as redes de apoio de que dispõe o cuidador (o que realiza sozinho em
oposição ao que faz com ajuda de outras pessoas da família). As tarefas consideradas mais
difíceis pelos entrevistados foram as de cuidados pessoais junto ao idoso, que o cuidador
geralmente administra sozinho. Em segundo lugar, apareceram as tarefas ocasionais, para as
quais precisa pedir ajuda de outro familiar.
Dificuldades encontradas no papel de cuidador
As dificuldades encontradas no papel do cuidador surgem de diversas fontes:
isolamento social dentro e fora da família do cuidador, perda de liberdade, privacidade e
tempo de lazer; distância entre as moradias do idoso e do cuidador; necessidade de adaptação
do ambiente doméstico ou até mudanças de moradia; conflitos familiares em conseqüência
do papel do cuidador e da situação de cuidado; exigências do idoso, dos demais familiares e
das condições de trabalho que podem sobrecarregar e estressar o cuidador; insegurança em
relação ao cuidado oferecido (se é correto ou não) e falta de informações sobre a duração do
comprometimento assumido, que pode perdurar até o falecimento do idoso que está sendo
assistido (Crawford & Unger, 1986; Golfarb & Lopes, 1996 apud Leal, 2000; Lueckenotte,
2000).
Segundo Braithwaite (2000 apud Neri & Carvalho, 2002), as dificuldades de
adaptação de um cuidador à situação de cuidado podem estar relacionadas a seis dimensões,
que são: peso das tarefas, relação disfuncional com o cuidado, medo de tornar-se escravo do
papel, intimidade e amor, resiliência do cuidador e distância social entre cuidador e idoso. O
peso das tarefas está relacionado ao tempo e esforço necessários para o oferecimento do
suporte em cuidados pessoais diretos ou na supervisão dos mesmos; ao grau em que o
cuidador é responsável pelas decisões relativas ao cuidado e ao acesso do cuidador a
suportes informais. A relação disfuncional com o cuidado diz respeito à sentimentos de
despreparo para o papel de cuidador, de fragilização e de prejuízo (cognitivo, emocional,

160
social, etc.); e à histórias contínuas de conflitos interpessoais com o idoso. Neste caso, é
comum que os cuidadores busquem estratégias de enfrentamento baseadas no problema e na
emoção para lidar com a situação vivenciada. O medo de se tornar escravo do papel ocorre
quando o cuidador se envolve com os cuidados de forma tal que se vê e é visto apenas como
cuidador, deixando de lado sua identidade, preferências e desejos. A intimidade e o amor são
fatores que predispõe a adaptação do cuidador ao seu papel. Todavia, quando esses aspectos
não estão presentes, seja devido a uma deterioração física ou psíquica do idoso ou porque a
história do relacionamento nunca envolveu uma relação de reciprocidade e apreciação
mútua, a situação de cuidado pode ser percebida como mais onerosa para o cuidador. A
resiliência do cuidador relaciona-se ao grau de resistência e de eficácia internas que
dependem de recursos pessoais como auto estima, saúde física, estabilidade emocional e
senso de controle. Por fim, a distância emocional se refere à situações que, embora haja
contato direto do cuidador para com o idoso no tipo de ajuda oferecida (cuidados com o
corpo, por exemplo), o idoso não é caloroso para com o cuidador nem o inclui em suas
relações mais próximas, fazendo com que, muitos cuidadores se sintam excluídos e
injustiçados.
Assim, para manter o apoio oferecido ao idoso, o cuidador precisa lidar com as
pressões psicológicas decorrentes do papel de cuidar. Pesquisas com cuidadores de idosos
revelam que estes experimentam sentimentos como constrangimento, angústia, culpa,
frustração, ira, desespero, desgaste emocional, baixa satisfação e até distúrbios psicológicos
e psiquiátricos, principalmente a depressão (Caldas, 1998; Camara et al., 1988). Doenças
orgânicas e esgotamento também são comuns, especialmente quando os idosos são altamente
dependentes (Neri & Silva, 1993). Dependendo do grau de comprometimento cognitivo e
psicológico do idoso, as recompensas em relação aos cuidados prestados pelo familiar são
mínimas, tornando o relacionamento entre a díade idoso-cuidador unidirecional, tornando a
tarefa de cuidar ainda mais custosa (Papaléo Netto, 1996).
A negação ou o desconhecimento das limitações e incapacidades do idoso
dependente pode gerar nos familiares diferentes tipos de posicionamentos, sendo eles,
superproteção, evasão da realidade e expectativas exageradas em relação ao desempenho do
idoso nas tarefas cotidianas (Camara et. al., 1998). Quando o idoso é superprotegido, os
familiares podem estimular a dependência do idoso em relação às atividades que ele é capaz
de desempenhar sozinho, ou privá-lo da tomada de decisões. No caso da evasão da realidade,
ocorre a negação das limitações dos idosos e as características do processo de
envelhecimento. Como resultado, os cuidadores esperam e exigem que o idoso desempenhe
atividades que já não possui mais capacidade ou habilidade para efetuar. Tais atitudes podem

161
prejudicar a qualidade dos cuidados oferecidos e no relacionamento existente entre o idoso e
seus familiares, devido à incompreensão da situação real.
Como enfatiza Leal (2000, p.22), “cuidar não é uma tarefa fácil: exige uma mudança
radical na vida de quem cuida, e também demanda a execução de tarefas complexas,
delicadas e sofridas”. Além das informações disponíveis sobre fontes de dificuldades, ainda
se faz necessário uma melhor compreensão dos fatores envolvidos no relacionamento do
cuidador com o idoso que afetam as condições emocionais e de saúde do próprio cuidador,
afim de contribuir para a identificação de como favorecer a boa qualidade dos cuidados
prestados.
Benefícios encontrados no cuidado à idosos
Apesar da crença generalizada e apoiada em dados científicos de que a situação de
cuidar é altamente estressante e desgastante para o cuidador, prejudicando sua qualidade de
vida, alguns pesquisadores mostram possíveis benefícios resultantes do papel de cuidar para
o familiar que assume essa responsabilidade. No entanto, os estudos sobre os impactos
positivos do cuidar são poucos, sendo as informações sobre esse aspecto insatisfatórias (Neri
& Sommerhalder, 2002). Essas autoras relatam que os benefícios citados por diversos
cuidadores, a respeito do papel de cuidar, estão relacionados com sentimentos positivos e
retornos práticos para a vida do cuidador, ou à percepção de que o cuidar tem um significado
existencial. Em geral, os benefícios incluem: retribuição, gratificação, reciprocidade, ganho,
recompensa, alegria, satisfação pessoal, prazer, aumento do sentimento de orgulho e da
habilidade para encarar desafios, crescimento pessoal, melhora do senso de realização e do
relacionamento com o idoso e com outros, aumento do senso de controle e do significado na
vida, continuidade da tradição familiar, sentimentos de bem-estar em relação à qualidade dos
cuidados oferecidos, reconhecimento e valorização social, prazer em servir, cuidar por amor,
amizade e disponibilidade (Neri & Sommerhalder, 2002; Crawford & Unger, 1986, Barros
Pinto, 1997).
A influência da qualidade do relacionamento entre idoso e cuidador familiar
A avaliação que os cuidadores fazem da situação de cuidado pode ser influenciada
pela história de relacionamento passada e atual entre a díade cuidador-idoso. A esse respeito,
um estudo realizado por Neri & Sommerhalder (2002), com 20 cuidadoras familiares de
idosos de alto grau de dependência, mostrou que a história do relacionamento foi descrita
como relevante para a promoção do bem-estar subjetivo das cuidadoras e da avaliação
positiva da situação de cuidar. Nos casos em que a história de relacionamento entre as duas
partes era positiva, as cuidadoras relatavam sentimentos positivos em relação ao papel de
cuidadora, enquanto que, nos casos em que a história de relacionamento envolvia aspectos

162
negativos e conflituosos, as participantes relatavam sentimentos negativos em relação a essa
situação.
Braithwaite (2000 apud Neri & Carvalho, 2002), também se refere ao papel da
qualidade do relacionamento entre idosos e cuidadores, afirmando que quanto maior o amor
e a intimidade presente na relação, menor o senso de ônus e maior o bem-estar do cuidador.
Além disso, Peter-Davis (1999 apud Neri & Carvalho, 2002), ao investigar a influência do
grau de parentesco em avaliações negativas sobre o cuidado, identificaram que a qualidade
do relacionamento era um fator de maior peso do que a relação de parentesco em si.
Desta forma, percebe-se que a relação entre cuidador e idoso pode ter um significado
muito importante para a promoção e manutenção da qualidade de vida de ambos, uma vez
que uma história positiva de relacionamento poderá resultar em avaliações subjetivas
positivas da situação de cuidar o que, por sua vez, aumentará a chance de que o cuidado seja
realizado de forma adequada e com menores prejuízos para a qualidade de vida de ambos.
Assim, para garantir a qualidade e a continuidade dos cuidados que um familiar oferece a um
parente idoso, acredita-se que é necessário atentar para a qualidade da relação interpessoal,
uma vez que esta pode sustentar o interesse do cuidador em ajudar.
Deste modo, estudar e analisar o relacionamento entre o idoso e a sua família, para
conhecer suas peculiaridades, é extremamente importante para que se possa programar e
executar intervenções eficazes tanto com a população de idosos quanto com as famílias a que
eles pertencem, que possam fortalecer os aspectos positivos na relação entre o idoso e seu
cuidador familiar e ajudar a minimizar o impacto dos agravantes, trazendo melhorias na
qualidade destes relacionamentos.
Assim, o que se pretendeu com este esse estudo é analisar a relação idoso-cuidador.
Os resultados certamente contribuirão para o planejamento de intervenções com idosos e
seus cuidadores.

OBJETIVOS

Este trabalho teve por objetivo analisar a relação idoso-cuidador familiar e tem como

objetivos específicos:

1- Caracterizar os idosos.

2- Caracterizar os cuidadores.

3- Identificar como as famílias estão estruturadas.

163
4- Identificar como se dá o relacionamento entre idoso e cuidador, os conflitos entre ambos,
quais os papéis de cada um dentro do grupo familiar, e quais as necessidades a que estão
submetidos no processo de cuidar e ser cuidado.

MÉTODO
O desenvolvimento deste trabalho considerou todos os cuidados a serem tomados para
observar os princípios éticos que regem pesquisas com participação voluntária de seres
humanos. A pesquisa não causou nenhum tipo de dano físico, psicológico ou moral aos
participantes. Os participantes foram informados claramente dos objetivos dos estudos, antes
de solicitada a sua colaboração, e o sigilo de suas respostas foi e será garantido. Os
participantes terão acesso aos resultados e conclusões dos estudos realizados. As entrevistas
para coleta de dados somente foram realizadas após autorização dos participantes.

Participantes
Os sujeitos deste estudo foram idosos e seus respectivos cuidadores familiares, residentes na
cidade de São Carlos, estado de São Paulo. Os idosos que participaram recebiam atendimento
numa Unidade Básica de Saúde da cidade e eram atendidos por médicos geriatras. Tal decisão
foi tomada tendo em vista que idosos com problemas de saúde têm uma alta probabilidade de
possuírem algum grau de dependência, necessitando da ajuda de familiares em algum aspecto
das suas vidas. Os cuidadores entrevistados foram identificados a partir dos contatos
realizados com seus respectivos idosos.
Idosos e cuidadores que procuraram os serviços oferecidos pelo “Centro de Orientação ao
Idoso e seu Cuidador”, localizado em São Carlos, São Paulo durante a realização do estudo
também participaram do mesmo.

Local
A coleta de dados foi realizada através de visitas domiciliares à casa de cada um dos
participantes a serem entrevistados.

Procedimento

164
Este estudo foi dividido em cinco partes: aperfeiçoamento de dois instrumentos de coleta de
dados ("Instrumento para Avaliação do Cuidador Familiar de Idoso" e "Instrumento para
Avaliação do Idoso no seu Contexto Familiar"); treinamento de pessoas para a aplicação dos
instrumentos construídos; busca de pessoas interessadas em participar deste estudo; coleta e
análise dos dados.
Aperfeiçoamento dos instrumentos de coleta de dados
Versões anteriores destes instrumentos demonstraram algumas falhas durante a coleta de
dados, em trabalhos que antecederam este estudo, nos quais esta autora estava envolvida.
Deste modo, foi realizado um aperfeiçoamento dos mesmos, a fim de melhorar sua clareza e
confiabilidade.
Os dois roteiros de entrevista, "Instrumento para Avaliação do Cuidador Familiar de
Idoso" (Anexo A) e "Instrumento para Avaliação do Idoso no seu Contexto Familiar" (Anexo
B) têm por finalidade identificar a forma como a díade idoso-cuidador e suas famílias estão
estruturadas, quais são os papéis de cada um dentro do grupo familiar, estratégias usadas para
lidar com eventuais conflitos entre idosos e cuidadores e quais as necessidades que sentem no
processo de cuidar e ser cuidado. Estes instrumentos também possibilitam a comparação entre
as respostas dadas pelos idosos e por seus cuidadores familiares.

Treinamento para aplicação do instrumento


A coleta de dados para este estudo foi realizada em colaboração com alunos envolvidos num
projeto de extensão, no qual esta autora participou no ano anterior. Assim, foi necessário o
treinamento dos alunos que participaram da coleta de dados, para que a mesma ocorresse de
forma padronizada e correta. Este treinamento funcionou, também, como teste piloto dos
instrumentos, possibilitando a verificação da compreensão e clareza dos itens e correção de
possíveis deficiências.

Busca de participantes
A procura por participantes envolveu três estratégias. Num primeiro momento, foi feita uma
listagem de idosos que recebiam atendimento médico em uma Unidade Básica de Saúde
(UBS) do município, que conta com o serviço médico de um geriatra e com a qual a
Universidade Federal de São Carlos possui convênio. Foram anotados o nome e endereço das
pessoas com consultas marcadas com o geriatra para posterior contato para agendamento de
entrevistas com as pessoas dentro do perfil para este estudo (um idoso dependente que conta
com a ajuda de um cuidador familiar) e interessadas em participar.
Também foram realizados plantões na UBS escolhida, durante o período de consulta
com o geriatra, para explicitação do projeto e solicitação de autorização para a coleta dos

165
dados, junto aos interessados. Além destas maneiras mais formais, foi usada, também, a
técnica de Bola de Neve, perguntando às pessoas encontradas se poderiam indicar outros
idosos e/ou cuidadores do bairro para o projeto.

Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no domicilio dos idosos e dos cuidadores interessados em
participar deste estudo, num horário previamente agendado pelos entrevistadores, de acordo
com os horários disponíveis.

Análise dos dados


A análise dos dados envolveu a organização e interpretação de dados quantitativos (respostas
aos itens com formato fechado) e qualitativos (respostas aos itens com formato aberto), que
foram obtidos por meio dos instrumentos. Os dados quantitativos foram analisados
estatisticamente, segundo medidas descritivas de tendência central e dispersão (média, desvio
padrão, valores mínimos e máximos) e de freqüência relativa. Os itens que são iguais no
instrumento do cuidador e do idoso foram utilizados para comparar as opiniões destes, com
base no uso do teste-t (quando trata-se de pontuações de variáveis escalares) ou do qui-
quadrado (quando trata-se de variáveis nominais).
Para os dados qualitativos, foram realizadas análises de conteúdo, buscando consenso
entre os juízes em relação à escolha de categorias e posterior categorização dos dados.
Procurou-se respeitar a terminologia existente na literatura para definir as categorias.

Instrumentos
O instrumento "Instrumento para Avaliação do Cuidador Familiar de Idoso" (Anexo A) é
constituído de perguntas de formatos abertos e fechados, para levantar o perfil dos cuidadores
e verificar o tipo de envolvimento que eles possuíam com os idosos que cuidam. Este
instrumento é constituído das seguintes partes:
1. Dados de identificação do cuidador. A primeira parte compreende informações
como, data de nascimento, sexo, endereço, grau de parentesco com a pessoa que cuida,
grau de responsabilidade com os cuidados, grau de instrução, estado civil, moradia,
religião, saúde, dados sobre trabalho remunerado, renda pessoal e trabalho doméstico.
2. Percepção do idoso. Este item tem por finalidade verificar a representação de velhice
que o cuidador possui, quais as características da velhice que ele observa no idoso que
cuida e suas preocupações com o envelhecimento deste.
3. Papel de cuidador. Esta parte compreende uma descrição do significado do papel de
cuidador e as dificuldades encontradas neste papel.

166
4. Escala de estresse. Para avaliar o estresse dos participantes é utilizada uma tradução
da escala de Cohen e Williamson (1988), com 11 itens, que tem por objetivo verificar
a freqüência com a qual o respondente sente-se estressado, pontuado entre 1, ‘nunca’ e
5, ‘sempre’.
5. Rotina de atividades. Nesta parte são identificadas: 1) qual o cotidiano geral do
respondente; 2) a freqüência com que realiza atividades sociais, de lazer e
entretenimento e 3) a freqüência com que os respondentes ajudam os idosos a realizar
suas atividades da vida diária (AVD’s) e atividades instrumentais da vida diária
(AIVD’s).
6. Grau de dependência do idoso. Este item visa a verificação de quais os problemas de
saúde apresentados pelo idoso e qual a intensidade destes problemas.
7. Satisfação do cuidador com o próprio desempenho. Este item verifica o grau de
satisfação dos respondentes quanto ao seu próprio desempenho, em relação a sua
família nuclear e em relação ao idoso.
8. Satisfação do cuidador com o apoio familiar. Este item verifica o grau de satisfação
dos respondentes quanto ao apoio recebido pela família nuclear e extensa, nas tarefas
de cuidador de idoso.
9. Habilidades sociais. Nesta parte são apresentadas questões para que o cuidador faça
uma auto avaliação das habilidades que possui em se comunicar com o idoso, o grau
de intimidade entre o cuidador e idoso e questões que dizem respeito à tomada de
decisões.
10. Dificuldades de relacionamento. Este item visa identificar as principais questões que
causam dificuldades de relacionamento entre o idoso e o cuidador.
11. Enfrentamento de conflitos. Este item tem por objetivo identificar as principais
estratégias usadas pelos respondentes para enfrentar seus conflitos com o idoso que
cuida. Por meio dele verifica-se a freqüência do uso de três tipos de estratégias: a)
cognitivas - mudando a maneira como pensa sobre o desentendimento, b) buscando
apoio social - pedindo a ajuda de outros, e c) melhorando o processo de comunicação
- tentando melhorar a maneira como entende e conversa sobre o problema.
12. Situação atual. Neste item identifica-se o que os cuidadores valorizam na sua relação
com o idoso e possíveis diferenças entre sua situação atual e o que esperavam para
este momento da sua vida. Além disso, verifica-se o grau de satisfação dos
respondentes com sua própria vida.
13. Perspectivas futuras. Este item identifica quais as perspectivas dos respondentes para
o seu futuro.

167
O instrumento usado para entrevistar os idosos, "Instrumento para Avaliação do Idoso
no seu Contexto Familiar" (Anexo B) também é constituído de perguntas de formatos abertos
e fechados, visando levantar o perfil dos idosos que recebem cuidados de seus familiares. Este
instrumento é constituído das seguintes partes:
1. Dados de identificação do idoso. Compreende informações sócio demográficas, tais
como, data de nascimento, sexo, endereço, estado civil, número de filhos e netos,
religião, grau de instrução, moradia, dados sobre renda pessoal.
2. Avaliação do estado mental. Para verificar se o idoso possui condições cognitivas
para responder aos itens do instrumento, aplicar-se o Exame Mini-Mental. O teste
consiste em questões subdivididas em 6 itens: orientação temporal e espacial, registro
(memória imediata), cálculo, memória recente e linguagem (Folstein e
Folstein,1974; Ventura e Bottino, 1996).
3. Percepção da velhice. Este item tem por finalidade verificar a representação de
velhice que o idoso entrevistado possui, se o respondente se considera idoso, suas
preocupações em relação à velhice, as características da velhice segundo o
respondente, e duas questões sobre os direitos dos idosos (os direitos que perdeu e que
ganhou com o processo de envelhecimento).
4. Situação atual. Este item objetiva identificar a expectativa do idoso em relação à
etapa que está vivenciando e quais os aspectos que estão melhores e piores do que
esperava.
5. Avaliação de estresse. Diferentemente da escala usado no instrumento do cuidador
para avaliar estresse, no instrumento do idoso é utilizada uma lista de dificuldades que
o idoso pode estar experimentando. Para cada dificuldade que o idoso já
experimentou, verifica-se o grau de dificuldade, pontuado entre 1, ‘pouca dificuldade’
e 5, ‘muita dificuldade’. Em seguida, investiga-se as estratégias que o idoso usa para
lidar com as dificuldades relatadas.
6. Rotina de atividades. Esta parte objetiva a identificação: a) da freqüência com que
realiza atividades sociais, de lazer e entretenimento; e b) qual o cotidiano geral do
respondente
7. Saúde. Neste item, verifica-se o estado de saúde do idoso, se tem algum problema de
saúde e se toma medicação.
8. Cuidar. Este item tem por finalidade identificar a representação de “cuidar” para o
idoso, como ele é cuidado e como gostaria de ser cuidado.
9. Grau de dependência do idoso. Este item verifica qual a concepção do respondente
de ser dependente, independente e autônomo. Também é verificado o grau de
dependência apresentado pelo idoso, através da aplicação da Escala de Atividade

168
Física e Instrumental da Vida Diária (OARS), escala já validada para o contexto
brasileiro.
10. Tomada de decisões. Neste momento, identifica-se em que áreas o idoso toma
decisões e, quando não toma, levanta-se quem cuida dessas questões em seu lugar.
11. Relacionamento idoso-cuidador familiar. Nesta parte verificam-se as habilidades
que o idoso tem em se comunicar, o grau de intimidade entre idoso e cuidador e
questões que dizem respeito à satisfação com o apoio que recebe.
12. Dificuldades de relacionamento. Esta série de perguntas visar identificar as
principais questões que causam dificuldades de relacionamento entre o idoso e seu
cuidador.
13. Enfrentamento de conflitos. Neste item, identifica-se as principais estratégias usadas
pelos idosos para enfrentar seus conflitos. Será verificado a freqüência do uso de três
tipos de estratégias pelos idosos: a) cognitivas - mudando a maneira como pensa sobre
o desentendimento, b) busca de apoio social - pedindo a ajuda de outros, e c) melhoria
do processo de comunicação - tentando melhorar a maneira como entende e conversa
sobre o problema.
14. Perspectivas futuras. Neste último item, identifica-se quais as perspectivas dos
respondentes em relação ao seu futuro.

169
RESULTADOS

Aperfeiçoamento dos instrumentos de coleta de dados


Algumas alterações foram realizadas nos instrumentos de coleta de dados utilizados neste
estudo para que os estivessem de acordo com os objetivos proposto por essa pesquisa. Essas
alterações consistiram em inserções ou exclusões de questões ou itens que foram considerados
relevantes ou não para a pesquisa. Além disso, foram efetuadas modificações na formulação
de perguntas ou itens para que os mesmos apresentassem maior grau de compreensão e
clareza tanto para os aplicadores quanto para os entrevistados, possibilitando melhores
respostas. Outras modificações nos instrumentos foram realizadas após etapa de treinamento
das pessoas que participaram da coleta de dados, pois, nesta fase foram evidenciadas outras
falhas que condiziam com dúvidas e dificuldades apontadas pelos aplicadores.

Treinamento para aplicação do instrumento


O treinamento para a aplicação dos instrumentos foi realizado através de um role play da
aplicação dos mesmos entre as pessoas que fizeram a coleta de dados. Nesta fase os
aplicadores teceram comentários sobre as questões presentes nos instrumentos e sobre
prováveis dificuldades em lidarem com as respostas dos participantes, o que facilitou a
posterior aplicação, uma vez que, as deficiências apontadas nos instrumentos foram corrigidas
e procurou-se buscar soluções para as dificuldades apontadas pelos aplicadores e esclarecer
suas dúvidas.

Busca por participantes


As estratégias utilizadas para buscar participantes atingiram seus objetivos ao encontrar um
grande número de idosos. Inicialmente, foram identificados 145 idosos, os quais foram
contatados para levantar o interesse em participar da pesquisa e se possuíam um cuidador
familiar oferecendo suporte. A partir desses idosos foi possível identificar 55 cuidadores
familiares. Todavia, o número de pessoas que consentiram sua participação no estudo foi
menor que o número total de pessoas consultadas. Em relação aos idosos, os motivos para a

170
redução de participantes estão relacionados com os seguintes fatores: alguns idosos
identificados não possuíam cuidadores familiares, alguns idosos possuíam dificuldades em
responder ao instrumento devido ao alto grau de dependência que possuíam ou por estarem
hospitalizados e outros não se interessaram em participar do estudo. No caso dos cuidadores
familiares, alguns não se dispuseram a participar do estudo ou por indisponibilidade de tempo
ou por falta de interesse. Apesar disso, a colaboração das pessoas que participaram de projetos
paralelos e que auxiliaram na coleta de dados resultou num número significativo de
instrumentos.

Coleta de dados
Durante a coleta de dados foram entrevistados 28 idosos e 39 cuidadores familiares. A
diferença entre o número de idosos e cuidadores familiares entrevistados justifica-se pelas
dificuldades encontradas para a aplicação do instrumento de coleta de dados em alguns idosos
devidos à presença de limitações físicas e/ou cognitivas. Além disso, a pobre expressão oral e
o baixo grau de escolaridade de alguns entrevistados (tanto idosos quanto cuidadores
familiares) também resultaram em dificuldades, devido à falta de compreensão em relação ao
que era perguntado. Como a coleta de dados também foi realizada por outros aplicadores
menos experientes, apesar do treinamento realizado, a qualidade de algumas respostas dadas
por alguns entrevistados não estava de acordo com o esperado, devido às dificuldades
relatadas acima. Mais uma vez, foi reduzido o número de participantes porque foi necessário
excluir as respostas consideradas inadequadas ou confusas.

Análise dos dados


Após a coleta de dados, foi realizada a construção de um banco de dados em um programa de
estatística para as Ciências Humanas (SPSS, versão 10) onde foram inseridos os dados
quantitativos. Os dados qualitativos foram colocados em outro programa (WORD), onde
foram inseridas as respostas de todos os entrevistados e posteriormente foi realizada a criação
de categorias a partir da análise do conteúdo das respostas para cada item qualitativo do
instrumento. Os resultados encontrados estão relatados a seguir:

Objetivo 1: Caracterização dos idosos

Para traçar o perfil dos idosos entrevistados foram analisados: dados demográficos, religião,
dados sobre trabalho e renda, envolvimento em atividades, condições de saúde, satisfação
com a vida e expectativa dos idosos para o futuro. Os resultados encontrados nessa fase estão
171
detalhados a seguir:

Figura 1: Composição da amostra de idosos, por sexo

F em inino
43%

Ma s c ulino
57%

Figura 2 : Composição da amostra de idosos, por idade

2
Std. Dev = 8,45
Mean = 76,2
0 N = 28,00
60,0 65,0 70,0 75,0 80,0 85,0 90,0 95,0

idade

Figura 3: Composição da amostra de idosos, por estado civil

70
60,7
60
50
Porcentagem

40
32,1
30

20
10 3,6 3,6
0
Solteiro Casado Divorciado Viúvo

172
Figura 4 : Composição da amostra de idosos, por grau de escolaridade

37,5 Analfabeto
40

35 Sem escolarizaçao
28,6
30 Primário incompleto
25
Porcentagem

Primário completo
20 17,9
Ginásio incompleto
15
Ginásio completo
10
3,6
3,6 3,6 3,6 3,6 Colegial completo
5
Superior completo
0

Tabela 1: Outras características pessoais dos idosos


Características Média D.P. Valor mín. Valor máx. N
Duração do estado civil: 28
Casados (em anos) 41,7 18,10 3 61
Viúvos (em anos) 14,38 12,11 0,7 36,0
Número de filhos vivos 3,96 1,99 0 8 28
Número de filhos falecidos 0,68 1,12 0 4 28
Número de netos 7,14 4,41 0 16 28
Número de bisnetos 2,8 3,4 0 10 25
Anos de escolaridade 2,8 3,5 0 9 28

Como mostra as figuras 1 e 2, um pouco mais da metade dos idosos eram homens
(57%), com idade variando entre 61 e 95 anos (M = 76,2 anos). A maioria era casada (60,7%)
ou viúva (32,1%) e possuía, em média, quatro filhos, sete netos e três bisnetos. O tempo em
que encontravam-se no seu atual estado civil variou bastante. Entre os que estavam casados, a
média de tempo de matrimônio foi de 41,7 anos (d.p.= 18,10), com mínimo de 3 ano e
máximo de 61 anos. Entre os que estavam viúvos, o tempo médio de viuvez era 14,38 (d.p.=
12,11), com mínimo de 0,7 e máximo de 36 anos.

173
Em relação ao sexo, os resultados do último censo realizado pelo IBGE (2003),
indicam que o número de mulheres acima de 60 anos era maior que o de homens da mesma
faixa etária. Assim, a amostra estudada não pode ser considerada típica para a população geral
de idosos, pois foi encontrado um número maior de idosos do que de idosas.
Como é típico desta faixa etária, o nível de escolaridade era baixo, com a maioria sem
formação do primeiro grau. A média de anos de escolaridade foi de 2,8 anos (d.p.= 3,5), com
máximo de nove anos. Os dados encontrados aqui podem ser comparados aos encontrados
num estudo realizado por Laurenty e Lebrão (2003, usando dados do IBGE). Estes relatam
que, dos 972 mil idosos residentes na cidade de São Paulo, 21% dos idosos nunca
freqüentaram a escola e 60% não ultrapassaram sete anos de escolaridade, mostrando que a
escolaridade dos idosos realmente é baixa.

Religião

Em relação às crenças religiosas dos idosos neste estudo, a grande maioria dos idosos
era católica (77,8% dos casos) e os demais eram evangélicos ou não aderiam a uma religião
organizada, apesar de acreditarem em Deus. A grande maioria dos idosos (82,1%) relatou que
a religião possuía muita importância para suas vidas. Nos demais casos, a religião possuía
pouca (14,3%) ou nenhuma (3,6%) importância. Os dados encontrados nessa população são
semelhantes aos encontrados no censo realizado em 2000 pelo IBGE, ao encontrar uma
maioria católica.

Trabalho e renda

Quando entrevistados, nenhum idoso possuía emprego remunerado. As antigas


profissões dos idosos eram: lavrador/a (21,4% dos casos); dona de casa (21,4% dos casos);
operário de fábrica (17,9% dos casos); pedreiro (7,1% dos casos); e 3,6% dos casos em cada
uma das seguintes profissões: empregada doméstica; sinaleiro ferroviário; segurança,
professora primária, parteira e serralheiro. Somente um dos idosos nunca trabalhou, porque
sofria de epilepsia desde a adolescência. Nota-se que a grande maioria dos trabalhos eram
braçais, exigindo pouco ou nenhuma formação escolar. Tais resultados são semelhantes aos
encontrados no estudo de Lebrão e Laurenty (2003, usando dados do IBGE), no qual foi
evidenciado que 75,7% dos idosos na cidade de São Paulo exerceram trabalhos
predominantemente físicos no passado. Em relação à fonte de renda na época da entrevista, na
grande maioria (93%) dos casos, os idosos disseram que sua renda provinha de aposentadoria
própria ou do companheiro. Apesar de quase a metade dos idosos morar junto com um
cuidador familiar, somente dois idosos disseram que recebiam ajuda financeira dos filhos. Um
174
pouco mais da metade dos idosos (58%) não considerava sua renda adequada, mal atendendo
às suas necessidades básicas.

Envolvimento em atividades

Como mostra a tabela 2, a grande maioria dos idosos estava engajado em atividades
que ocorriam dentro do ambiente doméstico, como: assistir televisão, afazeres domésticos e
ouvir rádio. Uma parcela significativa também se envolvia em atividades físicas, o que mostra
uma preocupação com a manutenção ou melhoria da qualidade de vida. Todavia, o
envolvimento desses idosos em atividades sociais e outras atividades de lazer foi baixo
durante o ano, o que não se justifica pelas condições financeiras dos idosos, uma vez que, a
maioria dessas atividades não necessariamente requer custos financeiros (a cidade oferece
várias opções de lazer gratuitas). Além disso, na maioria dos casos, os idosos relataram não
necessitar de ajuda de outras pessoas para realizar essas atividades. Desse modo, a realização
destas atividades seria possível desde que existisse iniciativa por parte do idoso, alguém que
fizesse companhia ou, em alguns casos, de alguém que ajudasse.

Tabela 2: Freqüência média das atividades sociais e de lazer desenvolvidas pelos idosos (dias
por ano)
Atividades Média D.P. Mínimo Máximo N
Assistir televisão 287,7 147,8 0 365 27
Atividades Domésticas 222,6 175,7 0 365 27
Ouvir rádio 197,0 178,5 0 365 27
Atividade física 105,3 161,6 0 365 26
Receber visitas 93,1 119,4 0 365 26
Leitura 49,9 117,2 0 365 26
Trabalhos manuais 33,4 95 0 365 28
Fazer visitas 27,5 29,6 0 120 27
Participar de um grupo religioso 23,0 25,5 0 52 26
Atividades com amigos 22,1 7,1 0 365 27
Jogos 8,2 18,8 0 52 27
Realizar viagens 1,6 3,7 0 12 28
Eventos culturais 0,5 2,4 0 12 25
Cinema 0,04 0,2 0 1 26

Tabela 3: Número de idosos que dependiam da ajuda de mais alguém para desenvolver suas
atividades sociais e de lazer
Atividades Freqüência Porcentagem (%) N
Trabalhos manuais 3 13,6 22
Fazer visitas 3 13,6 22
Atividade Física 3 13,0 23
Grupo religioso 2 9,52 21
Viagens 1 5,0 20
Receber visitas 1 5,0 21
Leitura 1 5,0 22

175
Cinema 1 5,0 20
Assistir televisão 1 5,0 24
Ouvir rádio 1 5,0 23

As condições de saúde dos idosos

Tabela 4: Estado de saúde física geral dos idosos


Estado de saúde Ruim Razoável Bom Excelente N
17,9% 53,6% 21,4% 7,1% 28
Problemas médicos Sim Não
92,6% 7,4% 27
Número de doenças 01 02 03 04 ou mais
44,0% 12,0% 24,0% 20,0% 25
Toma medicamentos Sim Não
88,9% 11,1 27
Número de medicamentos 01 02 03 04 ou mais
33,3% 25,0% 29,2% 12,5% 24

A grande maioria (92,6%) relatou pelo menos uma enfermidade. Os problemas de


saúde mais freqüentes foram: hipertensão arterial (27,5%); problemas pulmonares (11,8%);
cardiopatias (9,8%). Além disso 5,9% dos entrevistados mencionaram cada uma das seguintes
doenças: acidente vascular cerebral, diabetes, problemas ortopédicos; e 3,9% dos idosos
mencionaram cada um dos seguintes problemas: Mal de Parkinson, depressão, doença de
Chagas, hérnia de disco, epilepsia, arteriosclerose, artrose, catarata, labirintite, dores nas
pernas, edema em membros inferiores, braço fraturado, colesterol alto e problemas de visão
não especificados. Além disso, um idoso fez referência ao envelhecimento em si como
doença. Percebe-se que, na maioria dos casos, os problemas de saúde relatados são crônicos, o
que se assemelha com os tipos mais freqüentes de doenças encontrados numa amostra de
idosos morando na cidade de São Paulo (N = 2.143), entrevistados por Laurenty e Lebrão
(2003), nos quais a freqüência de doenças crônicas também era elevada. Apesar da alta
incidência de problemas de saúde, parece que a maioria sabia controlar seus problemas
médicos, uma vez que a maioria avaliou seu estado de saúde como sendo razoável (53,6% dos
casos), bom (21,4% dos casos) ou excelente (7,1% dos casos).
Em relação ao uso de medicamentos, os valores encontrados coincidem com a
porcentagem de idosos que possuíam algum problema médico, sendo que mais da metade dos
idosos (66,7%) tomavam mais de um medicamento diariamente. A porcentagem de idosos
que usavam medicamentos nesse estudo também é semelhante aos valores encontrados na
pesquisa de Laurenty e Lebrão (2003), que evidenciou que 86,7% dos seus entrevistados

176
tomava algum medicamento cotidianamente.

Tabela 5: Prevalência e grau de severidade de problemas comportamentais ou limitações


físicas encontrados nos idosos, segundo relato dos cuidadores familiares
Problema Prevalência Severidade* D.P. N
Visão 71,1% 1,81 0,68 27
Audição 55,3% 1,38 0,59 21
Dificuldade de compreensão 55,3% 1,8 0,93 21
Memória 54,1% 1,8 0,7 20
Depressão 48,5% 1,7 0,79 16
Locomoção 44,4% 2,1 0,85 16
Confusão Mental 43,2% 1,9 0,96 16
Agressividade 36,8% 1,9 0,92 14
Controle de urina e fezes 23,7% 2,0 0,71 9
Tabagismo 21,6% 2,5 0,76 8
Alcoolismo 0 0 0 0
Nota: *Grau de severidade, entre os portadores do problema:1, ‘leve’; 2, ‘moderado’; 3, ‘grave’.

No que concerne à tabela 5, os problemas como: visão, audição, dificuldade de


compreensão, memória e depressão, atingem entre 50 a 70% dos idosos, mas entre as pessoas
com estas dificuldades, o problema foi considerado leve ou moderado pelos cuidadores
familiares, na maioria dos casos. As dificuldades de saúde que foram avaliadas como sendo
mais graves foram: tabagismo e dificuldade no controle dos esfíncteres. No entanto, apenas
cerca de 20% dos idosos sofriam com estes problemas. Não foram identificados casos de
alcoolismo.

Figura 5: Pontuação obtida pelos idosos no “Mini Exame do Estado Mental”

10

2 Std. Dev = 5,04


Mean = 21,9
0 N = 24,00
12,5 17,5 22,5 27,5
15,0 20,0 25,0 30,0

avaliação mini mental

177
Figura 6: Grau de dependência dos idosos em relação às Atividades da Vida Diária, segundo
escala de “OARS”

16

14

12

10

4
Std. Dev = 3,12
2 Mean = 12,4
0 N = 27,00
0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 15,0

avd/avaliação

Figura 7: Grau de dependência dos idosos em relação às Atividades Instrumentais da Vida


Diária, segundo escala de “OARS”

10

2 Std. Dev = 3,36


Mean = 9,3
0 N = 27,00
2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0

aivd/avaliação

Para avaliar o grau de dependência dos idosos, utilizou-se a escala de OARS (que varia
de 0 a 14 pontos, sendo que quanto menor a pontuação, maior o grau de dependência).
Verificou-se que a maioria não apresentou altos graus de dependência em relação às
atividades básicas (M = 12,44, d.p. = 3,1) e instrumentais da vida diária (M = 9,29 , d.p. =

178
3,4). Além disso, de acordo com o Mini Exame do Estado Mental, a maioria dos entrevistados
(70,8%) não apresentou alterações cognitivas. Tais informações são encontradas nas figuras 5,
6 e 7.
Desta forma, pode-se notar que a maior parte dos idosos entrevistados não apresentava
problemas graves de saúde, entretanto, todos possuíam pelo menos uma restrição. Tal fato,
indica que a maior parte dos idosos não exigia total atenção dos cuidadores familiares, pois
não possuíam alto grau de dependência física, cognitiva ou comportamental, como seria o
caso de idosos acamados ou demenciados.

Satisfação com a vida e expectativas para o futuro

Figura 8: Grau de satisfação com a vida, entre os idosos

5 37

4 14,8
Satisfação

3 25,9

2 11,1

1 11,1

0 5 10 15 20 25 30 35 40
Porcentagem (%)

Escala de satisfação:
1– muito insatisfeito
2 – insatisfeito
3 – nem insatisfeito nem satisfeito
4 – satisfeito
5 – muito satisfeito

Tabela 6: Expectativa para a etapa da vida que estavam vivendo, entre os idosos
Expectativas Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
"Não esperava envelhecer tão
rápido."
Expectativas frustradas 19 65,5
"Esperava que fosse melhor que
agora"
"Esperava estar como está hoje."
Expectativas alcançadas 05 17,2
“Esperava que fosse assim.”

179
"Que estivesse pior de saúde e de
Expectativas ultrapassadas 04 13,8
condições financeiras."
Nunca pensou no assunto "Nunca pensei" 01 3,5
Total 29 100
Nota: N = 27

Tabela 7: Expectativas para o futuro, dos idosos


Expectativas futuras Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
"Queria que meus filhos e meus netos
Boa ou melhor condições de
pudessem viver melhor..." “Terminar 10 22,2
vida para os familiares
a construção da casa..."
"...e viajar mais."
Se manter ativo "Ter coisas para fazer, preencher o 07 15,6
tempo."
"Trabalhar."
Trabalhar/estudar 05 11,1
"Estudar."
Manutenção ou melhoria das "Espero ficar bom para poder pescar
condições de saúde física e de novo." 03 6,7
mental do idoso "Que Deus de saúde."
"Espero ainda fazer muitas coisas
Independência/autonomia 02 4,4
boas da na minha vida."

"Viver em paz, entendimento, família


Boas relações familiares 02 4,4
inteira se entendendo."

Manutenção ou melhoria das "Gostaria de ter melhor condição


02 4,4
condições financeiras financeira, carro melhor."

Longevidade "Espero continuar vivendo...” 01 2,2

Respeito "Respeito." 01 2,2


Expectativa positivas sem
“...melhorar." 01 2,2
especificação
Não possui expectativas "O plano do futuro já está feito." 06 13,4
"Espero mais nada; quando a pessoa
Expectativas negativas 05 11,1
tá doente não tem melhora."
Total 45 100
Nota: N = 28

Para avaliar a satisfação dos idosos com a vida, foi utilizada uma escala variando de 1,
‘muito insatisfeito’ a 5, ‘muito satisfeito’. Quase a metade dos idosos (48,2%) afirmou que
estava ‘insatisfeito’ ou ‘muito insatisfeito’ com seu atual contexto de vida (veja fig. 8). Em
parte, tal insatisfação reflete a frustração dos idosos com o que esperavam para a etapa da vida
que estavam vivendo. Quando questionados a esse respeito, a maioria (65,5%) relatou que
suas expectativas não foram alcançadas, principalmente no que concerne às condições
financeiras e de saúde (veja tabela 6). Em relação às expectativas para o futuro, a maioria
(78%) esperava se manter ativo, proporcionar boa ou melhor condição de vida para si e

180
também desejavam melhores condições de vida para os familiares, apesar de que, em alguns
casos, dificilmente as expectativas seriam realizadas. Além disso, alguns (22%) não possuíam
expectativas ou não esperavam um futuro promissor (veja tabela 7).
Objetivo 2: Caracterização dos cuidadores familiares

Com o objetivo de traçar o perfil dos cuidadores familiares entrevistados, foram analisados os
seguintes fatores: dados demográficos, religião, trabalho e renda, envolvimento em atividades,
condições de saúde, satisfação com a vida e expectativas para o futuro.

Figura 9: Composição da amostra de cuidadores familiares, por sexo

Masculino
5%

Feminino
95%

Figura 10: Composição da amostra de cuidadores familiares, por idade


8

Std. Dev = 12,04


Mean = 50,3
0 N = 34,00

30,0 40,0 50,0 60,0 70,0


35,0 45,0 55,0 65,0 75,0

idade do cuidador

181
Figura 11: Composição da amostra de cuidadores familiares, por estado civil

80 6 6 ,7 Cas ado
Porcentagem (%)
60 S olteiro

40 V iúvo
1 2 ,8 1 2 ,8 Divorc iado
20 5 ,1 2 ,6
S eparado
0

Figura 12: Composição da amostra de cuidadores familiares, por escolaridade2


P rim á rio In c o m p le to
30 2 5 ,6 P rim á rio C o m p le to
25
Porcentagem (%)

1 7 ,9 G in á s io In c o m p le to
20
1 2 ,8 1 2 ,8 1 2 ,8 G in á s io C o m p le to
15 1 0 ,3
C o le g ia l In c o m p le to
10 5 ,1
2 ,6 C o le g ia l C o m p le to
5
S u p e rio r In c o m p le to
0
S u p e rio r C o m p le to

Tabela 8: Outras características pessoais dos cuidadores familiares


Características Média D.P. Valor mín. Valor máx. N
Duração do estado civil (em anos)
Casados 24,10 11,35 6 54 39
Viúvos 6,0 5,8 1 12
Número de filhos 2 1,3 0 5 39

Número de netos 1,6 3,4 0 15 34

Anos de escolaridade 7,6 4,5 1 16 37

Como mostra as figuras 9 e 10, a maior parte dos cuidadores era mulheres (95%), com
idade variando entre 30 e 75 anos (M = 50 anos). A idade dos cuidadores aproxima-se a uma
distribuição normal, com a maioria dos cuidadores possuindo entre 45 e 60 anos. Nota–se que
alguns cuidadores que eram os filhos adultos do idoso que cuidava possuíam idade igual ou
superior a de outros que eram esposos de quem cuidava. Além disso, mais da metade dos
cuidadores eram casados (66,7%) e entre estes, o tempo médio de matrimônio era de 24,10
anos (d.p. = 11,35), com tempo mínimo de 6 anos e máximo de 54 anos. Entre os que eram
viúvos, a média de tempo de viuvez foi de 6 anos (d.p.= 5,8), com mínimo de 1 ano e máximo

2
Atualmente, os níveis de escolaridade são denominados Ensino Fundamental (que engloba o
primário e o ginásio; Ensino Médio (antigo colegial) e o Ensino Superior. Foi utilizada a nomenclatura
mais antiga neste trabalho, por ser de maior compreensão por parte dos entrevistados, pois era a
definição utilizada na época de escolarização dos mesmos.

182
de 12 anos. Entre os que estavam separados ou divorciados, o tempo média em que se
encontravam neste estado civil era de 6 e 9 anos, respectivamente (Fig. 11). Em relação a
outros envolvimentos familiares, os cuidadores possuíam, em média, 2 filhos e 1 neto.
Esperava-se encontrar um número maior de cuidadores do sexo feminino do que
masculino, uma vez que a literatura aponta que, em função de valores culturais, as mulheres
se envolvem com maior freqüência que os homens nos cuidados de familiares, inclusive
familiares idosos (Lueckenotte, 2000, Caldas 1998, Neri & Sommerhalder, 2002, Karsch,
2003). No entanto, o envolvimento de homens enquanto cuidadores de idosos (usualmente,
cuidando de sua esposa) costuma ser mais alto do que é o caso desta amostra. De fato, um
número maior de cuidadores do sexo masculino foi identificado inicialmente, mas a grande
maioria não se interessou em participar do estudo. Assim, existe um porcentagem maior de
homens cuidando de idosos do que aparece neste trabalho, no município onde este estudo foi
realizado. No que diz respeito à escolaridade dos cuidadores (veja figura 12), nenhum dos
cuidadores era analfabeto e 43,6% conseguiu completar o ginásio, chegando, em alguns casos
a cursar o ensino superior. A média de anos de escolaridade foi de 7,6 anos. Desta forma, o
grau de escolaridade dos cuidadores era significativamente maior do que o dos idosos (M =
2,8 anos).

Religião

Como no caso dos idosos, a grande maioria dos cuidadores era católica (84%). Os
demais eram evangélicos (10%), espirita (3%) e testemunha de Jeová (3%). Além disso, a
grande maioria dos cuidadores (92,3%) considerava a religião como sendo muito importante
para sua vida. Somente três cuidadores disseram que essa importância era mediana.
Trabalho e renda

A maior parte dos cuidadores (70,3%) não possuía emprego remunerado. Entre os
cuidadores que trabalhavam, cinco deles trabalhavam em período integral, e os demais no
período da tarde, da manhã ou sem horário fixo de trabalho (um caso para cada situação).
Nesses casos, o número de horas de trabalho por semana era de, em média, 33,2 horas (d.p. =
11,97), com mínimo de 16 e máximo de 50 horas por semana. Em relação à profissão, três
trabalhavam em casa, não especificando o tipo de trabalho e duas eram manicures. As demais
profissões, desenvolvidas por somente um cuidador cada, eram: vendedora (roupas e
chapeados), cabeleireira, funcionária de escola sem especificação, professora de escola
infantil, professora universitária e trabalhador autônomo (sem especificação). Somente 25%
dos entrevistados que possuíam emprego remunerado disseram que, no geral, não possuíam

183
tempo suficiente para completar suas tarefas profissionais.
Hoje em dia, a taxa de envolvimento de mulheres no mercado de trabalho brasileiro é
quase 50% (Montalli, 2000). Assim, parece que o não envolvimento em trabalho remunerado,
ou um envolvimento com carga horária reduzida ou flexível, favoreceu a atuação destas
pessoas no papel de cuidadores de idosos. Nos casos em que a carga de trabalho era maior, os
entrevistados não eram os cuidadores principais dos idosos. Assim, pode-se dizer que, além
de questões de sexo e parentesco, os cuidadores estavam engajados nesse papel também em
função de sua disponibilidade em oferecer algum tipo de suporte aos idosos. Esses três fatores
coincidem com os que são apontados na literatura, como os mais importantes na decisão de
assumir os cuidados de um familiar (Mendes,1995 apud Caldas 1998; Neri & Sommerhalder,
2002).
Em relação à renda individual, 77,7% dos cuidadores ganhava entre um salário
mínimo3 a R$750, 00, com apenas um cuidador ganhando menos de um salário mínimo. Em
um pouco mais da metade dos casos (57%), o cuidador familiar destinava uma parte de sua
renda ao idoso que cuidava. Destes cuidadores, dois mencionaram possuir ‘algumas
dificuldades’ e cinco ‘muitas dificuldades’ em manter esse apoio financeiro. As dificuldades
relatadas foram: características da doença do idoso (seis casos), alimentação do idoso (três
casos), dificuldades financeiras do próprio cuidador (dois casos) e dificuldades de outros
familiares que ajudavam o idoso financeiramente (um caso). Comparando as respostas dos
idosos e dos cuidadores em relação à questão de apoio financeiro oferecido pelo cuidador ao
idoso, nota-se que o número de cuidadores que relatou apoiar o idoso financeiramente é muito
maior do que o número de idosos que relatou receber dinheiro dos familiares. Acredita-se que,
em parte, isto pode ser explicado em função da visibilidade do apoio: ajuda financeira direta
(dar dinheiro para o idoso para ele gerenciar) ou indireta (pagar despesas do idoso – comida,
remédios - como parte dos gastos familiares). Quando a ajuda financeira é indireta, parece que
os idosos não consideram que faça parte da sua renda.

Envolvimento em atividades

Tabela 9: Freqüência de envolvimento dos cuidadores familiares em atividades domésticas,


sociais e de lazer (dias por ano)
Atividades Média D.P. Mínimo Máximo N
Atividades domésticas 365,0 0 365 365 37
Assistir televisão 321,5 115,2 0 365 39
Ouvir rádio 223,6 172,5 0 365 39
Leitura 139,1 166,2 0 365 38
Trabalhos manuais 81,8 146,6 0 365 39

3
Salário Mínimo vigente R$200,00.

184
Grupo religioso 75,9 116,2 0 365 38
Atividade Física 68,5 129,9 0 365 39
Receber visitas 67,0 132,4 0 365 39
Fazer visitas 56,9 107,7 0 365 39
Atividades com amigos 10,1 19,6 0 52 35
Jogos 4,6 14,1 0 52 39
Eventos culturais 3,0 9,2 0 52 36
Viagens 1,4 3,2 0 12 37
Cinema 0,5 1,9 0 12,0 39

185
Tabela 10: Mudanças no envolvimento dos cuidadores em atividades, devido aos cuidados
para com os idosos
Atividades Reduziu (%) Mesma (%) Aumentou (%) N
Assistir televisão 28,9 65,8 5,3 38
Viagens 28,9 65,8 5,3 25
Trabalhos manuais 26,5 67,6 5,9 34
Atividades com amigos 26,7 73,3 - 30
Atividade Física 22,9 65,7 11,4 35
Leitura 22,9 71,4 5,7 35
Fazer visitas 20,0 74,3 5,7 35
Ouvir rádio 19,4 75,0 5,6 36
Cinema 19,4 80,6 - 31
Grupo religioso 17,6 73,5 8,8 34
Eventos culturais 15,6 84,4 - 32
Atividades domésticas 14,7 64,7 20,6 34
Receber visitas 8,6 77,1 14,3 35
Jogos 5,9 91,2 2,9 34

Assim como os idosos, a maioria das atividades desenvolvidas pelos cuidadores


ocorriam no interior do ambiente domiciliar. O engajamento em atividades físicas dos
cuidadores era baixo, sendo que os mesmos não estavam realizando atividades que poderiam
contribuir de forma significativa para sua saúde física e mental. No entanto, segundo a
maioria dos cuidadores, a freqüência de seu engajamento nessas atividades não sofreu
mudanças, devido aos cuidados com os idosos. Por outro lado, a atividade que aumentou de
freqüência, para 20% dos cuidadores, foi a doméstica. Além disso, em 44% dos casos, os
cuidadores reduziram o período de descanso, devido aos cuidados para com os idosos. Outras
atividades que sofreram redução, em alguns casos, foram as sociais e de lazer e atividades
físicas. Assim, parte dos cuidadores passaram a desenvolver mais atividades no ambiente
doméstico devido a sua função de cuidar do idoso. Pode-se perceber que, mesmo no casos de
idosos pouco dependentes, envolver-se no apoio de idosos traz algumas restrições e
modificações na rotina dos cuidadores desta pesquisa.

Condições de saúde dos cuidadores

Tabela 11: Estado de saúde física geral dos cuidadores familiares


Estado de saúde Ruim Razoável Bom Excelente N
2,6% 33,3% 51,3% 12,8% 39

186
Problemas médicos Sim Não
43,6% 56,4% 39
Número de doenças 01 02 03 ou mais
26% 61% 13% 23
Toma medicamentos Sim Não
44% 56% 39
Número de medicamentos 01 02 03 ou mais
43,5% 17,4% 39,1% 23

Em relação ao seu estado de saúde, um pouco mais da metade dos cuidadores (56,4%)
apresentava algum problema, sendo que 60,9% destes relataram duas enfermidades. Os
problemas de saúde relatados foram: hipertensão arterial (sete casos); três casos de depressão
e de colesterol alto; dois casos de diabetes, de problemas ginecológicos, de problemas
ortopédicos, de dores no joelho, de problemas estomacais, de síndrome do pânico, e de asma;
e um caso de artrite, de artrose, de deslocamento de retina, de hilostomia, de osteoporose, de
fibromialgia nervosa, de reumatismo, de catarata e de nódulos benignos. Assim, como no caso
dos idosos, boa parte dos cuidadores desta pesquisa possuíam doenças crônicas. Apesar, de
destes problemas, apenas 2,6% considerou seu estado de saúde como sendo “ruim”. Deste
modo, os cuidadores possuíam suas próprias fragilidades, mas conseguiam oferecer ajuda a
uma outra pessoa.
Em relação ao uso de medicamentos, os cuidadores que faziam uso de medicação eram
aqueles que apresentaram problemas de saúde. Nestes casos, 56,5% dos cuidadores usava
mais de dois medicamentos, chegando a tomar mais de quatro remédios rotineiramente.

Estresse
Para avaliar o nível de estresse no desempenho de cuidar de um idoso vários fatores
estão envolvidos: grau de dependência do idoso cuidado, grau de envolvimento do cuidador
com os cuidados do idoso, suporte oferecido por outras pessoas (familiares, profissionais,
amigos, profissionais da rede de saúde), crenças pessoais dos cuidadores em relação à
situação, fatores culturais e sociais que restringem as opções de escolha, circunstâncias em
que o cuidado foi iniciado, tempo em que o suporte é oferecido pelo cuidador, condições
financeiras do idoso e do cuidador, estrutura familiar presente (Goldstein, 1995; Leal, 2000).
Assim, o estresse é mediado tanto por fatores objetivos como por aspectos subjetivos do
cuidar, dependendo não só da situação de cuidado, mas da percepção dessa situação e da
importância que os cuidadores dão a cada fator.
Para avaliar os níveis de estresse vivenciado cotidianamente pelos cuidadores
entrevistados, aplicou-se uma escala tipo Likert de Cohen e Williamson (1988), composta por
nove itens, avaliados numa escala de freqüência variando de 1, “nunca” a 5, “sempre”. Esta

187
escala apresentou um índice de confiabilidade de 0,52, eliminando um item ("sentiu-se
incapaz de dar conta de tudo") que estava com uma correlação item-total negativa. No geral,
no uso desta escala em estudos anteriores realizadas com pessoas que trabalham fora, na
mesma cidade, a confiabilidade da escala atingiu valores em torno de 0,80 e sempre
superiores a 0,70. Assim, precisa-se investigar porque a confiabilidade da escala abaixou
tanto, com cuidadores familiares de idosos. O valor médio de estresse entre os cuidadores
familiares foi de 2,83, com desvio padrão de 0,47 (valor mínimo de 1,90 e máximo de 3,90).
Assim, a maioria lidava com estresse crônico mas de grau leve a moderado. No entanto,
alguns lidavam com um nível de estresse mais elevado.

Satisfação com a vida e expectativas para o futuro

Figura 13: Satisfação com a vida, entre os cuidadores


5 29
4 25,8
3 38,7

2 3,2
1 3,2

0 10 20 30 40 50
P orc enta gem (% )

Nota: N = 32
Legenda:
1- muito insatisfeito 2 – insatisfeito
3 – nem insatisfeito nem satisfeito 4 – satisfeito 5 – muito satisfeito
Tabela 12: Expectativa para a etapa da vida que estavam vivendo, entre os cuidadores
Expectativas Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
"Esperava que fosse melhor."
"Esperava ter minha casa, situação 23 57,5
Expectativas frustradas
melhor, trabalhando."

"Nunca pensei que iria cuidar dos pais.


Não esperava cuidar de idosos 03 7,5
Não fazia parte das preocupações."

Esperava mais proximidade "Que não houvesse esse distanciamento


entre a família nuclear e a entre a minha família e a família dos 02 5,0
família do idoso idosos."
Não esperava que o idoso
"Esperava estar vivendo somente com a
morasse com sua família 01 2,5
minha família..."
nuclear
Subtotal 29 73,0
“Achava que seria como é.”
Expectativas alcançadas 07 17,5
“Era o que esperava.”
“Esperava que fosse mais difícil, não
Expectativas superadas 02 5,0
tenho dificuldades com filhos, marido.”
Subtotal 09 22,5
Não sabe 02 5,0

188
Total 40 100
Nota: N = 36

Metade dos cuidadores apresentavam bons índices de satisfação com a vida (veja
Figura 13). Coerentemente, a maioria dos cuidadores (73%) avaliou sua situação atual como
sendo aquém do esperado para este momento de suas vidas, com alguns dizendo que não
esperavam estar cuidando de idosos nessa etapa da vida (veja Tabela 12). No entanto, a
maioria apresentou expectativas positivas para o futuro (veja Tabela 13), demonstrando o
desejo de possuir boa saúde para manter suas atividades atuais e, em alguns casos, de
continuar oferecendo suporte aos familiares, inclusive aos familiares idosos. Parece existir
uma aceitação da situação atual pela maioria dos cuidadores e os mesmos esperavam
melhorias futuras.

Tabela 13: Expectativas para o futuro, entre os cuidadores


Expectativas futuras Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
"Espero ter mais saúde para poder
Melhoria ou manutenção da saúde
cuidar da minha mãe, meus filhos e 10 16,9
do cuidador
netos. E o resto a gente se arranja."
“Muito bem, feliz”
Tranqüilidade/ felicidade “Ser uma pessoa tranqüila, muita 05 8,5
paz...”
“Que meus filhos estudem, fiquem
Boa ou melhores condições de
longe das drogas.” 05 8,5
vida para os filhos
“... e que os filhos tenham saúde.”
“Gostaria que a família estivesse
Boas relações familiares 05 8,5
sempre unida.”
Manutenção da independência "Quero continuar independente." 04 6,8

Trabalhar/estudar "Voltar a trabalhar, acabar o estudo." 04 6,8


“Melhora a saúde do pai...”
Melhoria das condições de saúde
“Que minha mãe esteja forte e com 04 6,8
do idoso
saúde.”
“Poder cuidar dos filhos, marido e da
Dedicação à família 04 6,8
mãe”
Melhoria das condições de
"Construir a casa." 03 5,1
moradia
“Crescer mais espiritualmente.
Crescimento pessoal 02 3,3
Gerenciar melhor o tempo. Ler mais.”
“Poder cuidar muitos anos – quero ser
Oferecer apoio a quem necessitar 02 3,3
útil para as pessoas que precisam”

Participar de atividades religiosas “...ir a igreja.” 01 1,7

189
Transmissão de experiência à “Passar experiências para os mais
01 1,7
gerações futuras. novos.”
Expectativas positivas sem
“Melhor que agora” 01 1,7
especificação
“Sem muita expectativa.”
Sem expectativas 05 8,5
Não sabe
Expectativas negativas "Pior do que está agora." 03 5,1
Total 59 100
Nota: N = 37

Objetivo 3: Forma como as famílias estão estruturadas

Para entender a forma como as famílias estavam estruturadas, analisou-se os seguintes


sub-tópicos: grau de parentesco e número de idosos apoiados pelos cuidadores; arranjos de
moradia dos idosos e seus cuidadores; apoio oferecido aos idosos pelos cuidadores
entrevistados; envolvimento de outras pessoas nos cuidados para com os idosos; suporte;
satisfação dos cuidadores com o suporte que ofereciam aos idosos e aos demais familiares e
com o apoio que recebiam de sua família nuclear.

Grau de parentesco entre idosos e cuidadores e número de idosos apoiados

Figura 14 : Grau de parentesco do idoso com seu cuidador familiar

39,5
40 Mãe
Porcentagem (%)

26,3 Pai
30
Sogra
20 13,2 13,2 Esposo
Esposa
10 2,6 2,6 2,6 Irmão

0 Cunhado

Estudos anteriores mostraram que, em relação ao grau de parentesco, o primeiro


familiar a assumir o cuidado de um idoso é seu cônjuge, seguido, em ordem decrescente,
pelas filhas, filhos e outros parentes (Perracini & Neri, 2002, Yazaki, Melo & Ramos, 1993).
No caso deste estudo, a maioria dos cuidadores entrevistados cuidavam de pais idosos
(65,8%), seguidos de 15,8% dos entrevistados que cuidava de seu cônjuge, 13,2% que

190
oferecia suporte a sogra e 2,6% que auxiliava o irmão ou o cunhado, respectivamente.
Observa-se nesta pesquisa, que na maioria dos casos, existia uma relação intergeracional entre
idosos e cuidadores. Quando os idosos precisam de ajuda e não existe um cônjuge presente ou
em condições de ajudar, os filhos adultos costumam assumir o papel de cuidadores, por terem
um vínculo afetivo e uma responsabilidade culturalmente definida. Apesar de 60,7% dos
idosos entrevistados serem casados, parece que seus cônjuges não eram capazes de oferecer o
suporte necessário, necessitando da ajuda dos filhos, que acabavam assumindo o papel de
cuidador.
No que diz respeito ao número de idosos com os quais os cuidadores estavam
envolvidos, 71,8% dos cuidadores ofereciam suporte a somente um idoso e, nos demais casos,
a dois idosos. Em 86,9% dos casos, existiam outras pessoas envolvidas na tarefa de cuidar.
Mesmo contando com este apoio, 70% dos entrevistados eram os cuidadores principais.

Arranjos de moradia dos cuidadores familiares e dos idosos

No que concerne aos arranjos de moradia, encontramos que em 19 famílias (43,6%


dos casos), os idosos moravam junto com seus cuidadores. Assim, os resultados referentes a
esse sub-tópico estão separados entre idosos e cuidadores que moravam juntos e os que não
moravam na mesma residência.

Tabela 14: Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos cuidadores
que moravam juntos com os idosos
Arranjo familiar Unigeracional Bigeracional Multigeracional
21,0% 31,6% 47,4%
Número de co-residentes Média D.P. Mín. Máx.
4,0 2,2 2 10

Tabela 15: Grau de parentesco e profissão das pessoas co-residentes nos domicílios dos
cuidadores que moravam juntos com os idosos
Parentesco com cuidador Situação Profissional Freqüência Porcentagem (%)
Não existem outras pessoas Não se aplica 6 31,6
Esposo Trabalha 6 31,6
Filho (s) acima de 20 anos Trabalha 4 21,0
Filho entre 15 e 20 anos Estudante 4 21,0
Filho (s) entre 7 e 15 anos Estudante 4 21,0
Filho (s) entre menores de 7 anos Não se aplica 3 15,8
Irmão Trabalha 1 5,3
Esposa Não trabalha 1 5,3
Irmão entre 7 e 15 anos Estudante 1 5,3
Irmão dependente Aposentado 1 5,3
Irmã dependente Não trabalha 1 5,3

191
Para os idosos que co-residiam com os cuidadores familiares entrevistados, quase
metade das famílias eram multigeracionais (47,4%). Na maioria das famílias unigeracionais,
os idosos viviam com seu cônjuge e nos demais casos, com irmão. Em média, cada residência
era composta por quatro moradores.
Como mostra a tabela 15, em poucas famílias não existiam outros membros morando
com os idosos e cuidadores. Nas demais famílias, existiam familiares que poderiam auxiliar
os cuidadores no suporte oferecido aos idosos, ou apoiar os cuidadores em outras atividades
(por exemplo, realizando mais tarefas domésticas e oferecendo apoio emocional ao cuidador).
Isto poderia contribuir para a diminuição da sobrecarga sentida pelos cuidadores e para a
diminuição de conflitos familiares.
Por outro lado, quando existe a possibilidade de auxílio por parte de outros membros
da família, mas isso não acontece, os conflitos familiares podem ser mais freqüentes, em
virtude da situação de sobrecarga vivenciada pelo cuidador familiar. Ao mesmo tempo em
que existiam membros da família que poderiam oferecer ajuda, em algumas famílias, também
existiam membros que exigiam demandas de cuidado, como no caso de filhos menores de sete
anos de idade (três casos), outros idosos no domicílio (três casos) ou irmãos que necessitavam
de apoio devido a algum grau de dependência (dois casos). O convívio com os idosos que
precisam de cuidados pode ser fonte de sobrecarga para os cuidadores, que acabam tendo
demandas diferentes a cumprir, visto que, as crianças e adolescentes também requerem grande
apoio e suporte por parte dos mais velhos (pais e responsáveis). Por outro lado, como a
maioria dos idosos ainda era capaz de fazer muitas coisas, poderiam estar auxiliando nos
cuidados das crianças pequenas, de alguma forma, sendo que esta prática está em crescimento
em muitas famílias na sociedade atual.

Tabela 16: Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos idosos que
não moravam juntos com seus cuidadores
Arranjo familiar Unigeracional Bigeracional Multigeracional
57,1% 28,6% 14,3%
Número de moradores Média D.P. Mín. Máx.
2,5 1,16 2 6
Nota: N = 14

Tabela 17: Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos cuidadores
que não moravam juntos com os idosos que apoiavam
Arranjo familiar Mora sozinho Bigeracional Multigeracional

192
5,5% 89,0% 5,5%
Número de moradores Média D.P. Mín. Máx.
3,83 1,25 1 6
Nota: N = 18

Tabela 18: Grau de parentesco e profissão das pessoas co-residentes nos domicílios dos
cuidadores que não moravam juntos com os idosos que apoiavam
Parentesco com cuidador Situação Profissional Freqüência Porcentagem (%)
Filho (s) acima de 18 anos Trabalha 09 50,0
Esposo Trabalha 08 44,4
Esposo Aposentado 05 27,8
Filho (s) acima de 20 anos Estudante 06 33,3
Filho entre 15 e 20 anos Estudante 04 22,2
Filho (s) entre 7 e 15 anos Estudante 04 22,2
Filho (s) menores de 7 anos Não se aplica 02 11,1
Genro Trabalha O1 5,56
Netos entre 7 e 15 anos estudante 01 5,56
Não existem outras pessoas não se aplica 01 5,56
Nota: N= 18

Com relação ao arranjo familiar dos idosos que não moravam com seus cuidadores
(Tabela 16), a maioria vivia em sua própria casa com o cônjuge (família unigeracional –
57,1%) ou com os filhos (família bigeracional – 28,6%). Nas residências multigeracionais, os
familiares presentes incluíam irmãos, netos, mães e genros. Assim, percebe-se que, em grande
parte dos casos, existiam familiares convivendo com os idosos que poderiam estar oferecendo
algum tipo de suporte, seja prático, financeiro ou emocional.
No que concerne aos cuidadores familiares que não moravam com os idosos apoiados
(Tabela 17), a grande maioria vivia com seu cônjuge e filhos (família bigeracionais – 88,8%).
Somente um cuidador morava sozinho e outro com seu marido, filhos e netos (família
multigeracional). Assim, a grande maioria dos cuidadores possuía outras demandas familiares,
que diz respeito ao cuidado com filhos, maridos e para alguns casos, com os netos. Tal fato
pode contribuir para a sensação de sobrecarga dos cuidadores, uma vez que, além dos
cuidados a serem dispensados a sua família nuclear, eles precisavam cuidar de membros
idosos da família. Por outro lado, como na maior parte dos casos os cuidadores entrevistados
não possuíam filhos ou netos pequenos no núcleo familiar, as possibilidades de contribuição
de outros familiares nas demandas domésticas ou no apoio emocional eram maiores. Tal fato
poderia ajudar na diminuição da sensação de sobrecarga dos cuidadores.
Dependendo da forma como ela está estruturada, os arranjos familiares nos quais os
idosos e cuidadores estão inseridos podem influenciar o suporte oferecido aos idosos e o
relacionamento existente entre os familiares, afetando a qualidade de vida de todos os

193
envolvidos. Neste estudo, nota-se que, quase metade dos idosos viviam em famílias bi ou
multigeracionais, com quatro moradores em média na residência. Várias famílias possuíam
membros que poderiam estar oferecendo algum tipo de ajuda, seja diretamente ao idoso ou ao
cuidador entrevistado. Para aquelas famílias em que os idosos não co-residiam com seus
cuidadores, existia uma porcentagem equilibrada de idosos que moravam em domicílios
unigeracionais e em residências bi ou multigeracionais. Portanto, observa-se que sempre
existia alguém morando com os idosos que poderia oferecer algum tipo de ajuda ou que
necessitavam de suporte, assim como os idosos. Os resultados encontrados neste estudo
corroboram com os estudos de Ramos (1993) e de Coelho Filho (1999), que encontraram a
maioria dos idosos vivendo em domicílios bi ou multigeracionais, seguidos por uma parcela
menor que morava com familiares da mesma geração, com poucos idosos morando sozinhos.

Suporte oferecido aos idosos pelos cuidadores entrevistados

Tabela 19: Aspectos do papel de cuidador, apontados pelos cuidadores


Categorias Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
1. Suportes Oferecidos
“Levo ao médico, vou até a casa
dela para ver como ela está, para dar
1.1. Suporte em atividades básicas e
remédio.” 14 23,7
instrumentais da vida diária
“Ajudo nas atividades diárias, de
suas necessidades.”
"...ele costuma aceitar tudo que eu
falo. Sugestões sobre como ele deve
1.2. Suporte sócio-emocional organizar sua vida....” 06 10,2
Gosto de incentivá-lo a fazer coisas
que vão lhe fazer bem."
“Quero fazer o que puder para a
1.3. Suporte multidimensional 02 3,4
minha mãe.”
2. Demandas Psicológicas

194
"A gente tem que ter muita
paciência. Ele pergunta várias vezes
a mesma coisa."
2.1. Habilidades Interpessoais
"Eu já fui mais presente na situação 10 16,9
de cuidar. ...Hoje eu não sou
ausente, mas eu coloco um limite. O
limite foi na parte emocional."
"Eu já havia cuidado do meu pai, da
minha mãe, do meu marido e agora
2.2. Obrigação 08 13,5
do meu irmão. Tem que cuidar dele,
senão fazer o quê?"
3. Sentimentos positivos
3..3.1. Atividade prazerosa/ "Sente-se realizada por estar
07 11,9
Satisfação ajudando..."
"Mas, é muito gratificante para o
3.2. Experiência de vida aprendizado da vida e para a própria 02 3,4
velhice."
4. Sentimentos negativos
"... não achava que seria tão difícil,
4.1. Tarefa difícil 05 8,5
exige muito gerenciamento.."

4.2. Sobrecarga "Sinto-me sobrecarregada..." 05 8,5


Total 59 100
Nota: N = 38

Pode-se perceber, portanto, que, para os entrevistados a situação de cuidado não diz
respeito só ao suporte prático oferecido, mas também envolve questões referentes à qualidade
do relacionamento, que corresponde ao apoio sócio-emocional, às demandas psicológicas e a
avaliações subjetivas do cuidar, que podem contribuir positiva e negativamente para o sucesso
dos cuidadores em cuidar de seus membros idosos adequadamente. Quando os cuidadores
percebem a tarefa de cuidar de maneira positiva e conseguem lidar com as demandas
psicológicas decorrentes desse papel, aumenta a probabilidade que as necessidades de cuidado
dos idosos sejam satisfeitas e de que os conflitos interpessoais e as dificuldades de
relacionamento sejam menores. Todavia, cuidar de um idoso pode ser uma tarefa estressante,
requerendo uma dedicação de tempo e esforço que poucos esperam. Assim, quando o
cuidador percebe seu papel como imposto, desgastante, difícil e ele não consegue lidar com as
demandas psicológicas do cuidar, a qualidade dos cuidados oferecidos pode ser
significativamente prejudicada, influenciando a qualidade de vida do idoso cuidado. Além
disso, nesses casos, a qualidade do relacionamento entre idoso e cuidador também pode ser
influenciada, aumentando conflito interpessoais. Os sentimentos negativos e as dificuldades
em lidar com as demandas psicológicas do papel de cuidar também pode ser fonte de
dificuldades de relacionamento com outros membros da família.

Ajuda ao idoso com atividades básicas e de lazer

195
A Tabela 20 permite identificar o engajamento dos cuidadores em apoiar os idosos
numa série de atividades básicas e de lazer no seu dia a dia, nos casos em que os idosos
necessitavam de ajuda com a atividade em questão. Além disso, permite verificar a freqüência
com a qual outras pessoas estavam envolvidas nessas atividades.
Quanto às atividades relacionadas aos cuidados com o corpo, a participação dos cuidadores
entrevistados era maior para as seguintes atividades: levantar o idoso da cama, vestir e tirar
roupas e dar banho. Quando os idosos realizavam essas atividades com a ajuda dos cuidadores
(quanto maior o “N”, maior o número de idosos que dependiam de ajuda para realizar esta
atividade), este apoio era bastante freqüente, sendo realizado várias vezes por semana.

Tabela 20: Envolvimento e freqüência média (em dias/ano) com a qual os cuidadores ou
outras pessoas ajudavam os idosos em suas AVD’s e AIVD’s, segundo relato dos cuidadores
N Freq. Outra pessoa
Atividade D.P. Mínimo Máximo
Média auxilia idoso (%)
Cuidados com o corpo
Levantar idoso da cama 25 212,7 168,3 0 365 17,5
Supervisionar idoso em atividades 17 205,9 177,5 0 365 12,5
Vestir e tirar roupas 21 171,4 117,6 0 365 22,5
Tomar banho 22 138,9 175,6 0 365 25,9
Tomar medicamentos 11 132,7 184,2 0 365 17,5
Alimenta-se 15 132,1 175,0 0 365 22,5
Locomover-se 16 123,5 155,4 0 365 12,5
Cuidar da aparência 18 111,7 150,5 0 365 20,0
Ir ao banheiro 16 110,8 160,3 0 365 25,0
Tarefas domésticas
Lavar e passar roupas 22 158,9 178,7 0 365 25,0
Limpeza da casa 26 153,6 163,7 0 365 20,0
Preparar refeições 19 139,9 166,8 0 365 25,0
Fazer compras 28 133,4 165,2 0 365 20,0
Acompanhar em lugares 28 87,3 133,4 0 365 7,5
Fazer pequenos consertos da casa 19 86,1 148,8 0 365 17,5
Acompanhar em consultas médicas 35 66,8 124,5 0 365 5,0
Outros Serviços
Preencher formulários 22 107,4 161,9 0 365 5,0
Usar telefone 18 94,3 153,5 0 365 27,5
Marcar consultas 27 80,3 129,7 0 365 10,0
Lidar com finanças 21 69,2 128,6 0 365 22,5
Atividades Sociais e de Lazer
Assistir televisão/ Ouvir rádio 14 130,4 181,5 0 365 22,5
Atividade religiosa 14 48,7 100,4 0 365 15,0
Atividade física 10 48,1 113,4 0 365 15,0
Fazer visitas 20 44,2 110,6 0 365 25,0

196
Receber visitas 14 40,9 96,3 0 365 22,5
Atividades manuais 6 8,7 21,2 0 52 12,5
Jogos 5 6 15,4 0 30 10,0
Viagens 11 1,9 3,6 0 12 17,5
Ir ao cinema/teatro 5 0 0 0 0 12,5
Leituras 4 0 0 0 0 10,0
Passear com amigos 6 0 0 0 0 15,0

No que se refere às tarefas domésticas, um número maior dos idosos recebia apoio dos
cuidadores para tarefas realizadas fora da casa, entre elas: acompanhamento em consultas
médicas, a lugares que exigem condução e a fazer compras. A arrumação e limpeza da casa
também eram atividades nas quais muitos cuidadores participavam e com uma freqüência alta.
Com relação a “outros serviços” (atividades como marcar consultas e preencher
formulários) estes também eram tarefas que a maior parte dos idosos não conseguiam realizar
sozinho. A freqüência com a qual os cuidadores auxiliavam os idosos nessas atividades é
menor do que para as tarefas anteriores, o que reflete a periodicidade menor com a qual estas
atividades precisavam ser executadas. Nota-se que algumas dos cuidadores estavam em
contato diário com profissionais de saúde, marcando consultas e preenchendo papéis todos os
dias.
Quanto às atividades sociais e de lazer realizadas pelos idosos, percebe-se que poucos
recebiam ajuda dos cuidadores. Isso acontecia por dois motivos principais: ou porque essas
atividades não eram desenvolvidas pelo idoso (por exemplo, realizar viagens, assistir eventos
culturais) por falta de interesse ou incapacidade para execução, ou porque eles conseguiam
desempenhá-las sem ajuda (por exemplo, receber visitas). Uma pequena parcela dos idosos
ainda fazia visitas ou viagens, já que essas atividades exigem uma série de habilidades
envolvidas no seu planejamento e realização e um meio de locomoção. O fato de alguns
idosos necessitarem de ajuda para assistir televisão ou ouvir rádio pode estar relacionada com
uma dificuldade em manusear aparelhos eletrônicos.
A freqüência do envolvimento de outros familiares é parecida para a maioria das
atividades avaliadas, girando em torno de 20%.

Dificuldades enfrentadas pelos cuidadores

Quanto às dificuldades que os cuidadores encontravam no desempenho de seu papel


(veja Tabela 21), uma boa parcela (33,3%) citou dificuldades de relacionamento envolvendo o
idoso e o próprio cuidador, mas também houve casos em que apareceram conflitos entre os

197
cuidadores e outros membros da família, ou casos em que o cuidador apontou conflitos entre
o idoso e outros parentes. Além disso, 7,1% dos entrevistados mencionaram dificuldades em
relação à resistência dos idosos com cuidados de higiene, o que também poderia gerar
problemas de relacionamento.

Tabela 21: Dificuldades apontadas pelos cuidadores em relação ao papel de cuidar de idosos
Dificuldades encontradas Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
Nenhuma dificuldade 07 16,6
"Conflitos."
"É o relacionamento. Tem horas
Relacionamento/Conflitos que ela não aceita minha ajuda.
14 33,3
familiares Ela se sente auto-suficiente."
"A família com filhas e marido
não entendem o idoso."
"...minha própria doença."
Condições de saúde do cuidador 04 9,5
"Problemas de saúde do cuidador."
Sobrecarga de cuidados "Estar sobrecarregada." 03 7,1
"Dificuldade em administrar os
Resistência do idoso em relação aos remédios."
03 7,1
cuidados com a saúde e higiene "Ele não gosta muito de tomar
banho."
Distância entre moradias "Morar muito longe." 02 4,8
Desgaste físico e emocional do "...cansaço físico e desgaste
02 4,8
cuidador emocional."
Locomoção dos idosos "Para locomover os pais." 02 4,8
Dificuldades de engajamento social
"Não poder viajar." 01 2,4
do cuidador
"Remédio, saber quando ele está
Condições de saúde do idoso 01 2,4
bem."
Diminuição dos cuidados "Deixar a família sozinha (filhos,
01 2,4
dispensados à família nuclear marido)."
Disponibilidade do cuidador “Disponibilidade.” 01 2,4
“Cuidados básicos, dar banho, por
Dificuldades no suporte
exemplo. As outras atividades 01 2,4
instrumental
dependem da hora.”
Total 42 100
Nota: N = 37

Dificuldades em apoiar os idosos, em função das condições físicas e mentais dos


cuidadores, também foram mencionadas. Para 9,5% dos cuidadores, os próprios problemas de
saúde eram tidos como grande dificuldade frente ao papel de cuidador. Além disso, 7,1%
disseram que tinham dificuldades em lidar com a sobrecarga de cuidados e 4,8%
mencionaram o desgaste físico e emocional provenientes da tarefa de cuidar, seja porque a
condição em que o idoso encontrava-se requeria muita atenção, seja por conta de acumularem
as responsabilidades para com o idoso além de outras que já lhes cabiam, antes do idoso
precisar de seus cuidados (por exemplo, filhos).
Outras dificuldades apontadas com pouca freqüência pelos cuidadores foram: distância
entre moradias, locomoção dos idosos, dificuldades do cuidador em desenvolver atividades

198
sociais, as exigências de cuidado proveniente do estado de saúde dos idosos, a incerteza do
cuidador de estar realizando o suporte instrumental corretamente, a diminuição de cuidados
dispensados a outros familiares e a disponibilidade do cuidador. Além disso, sete cuidadores
não mencionaram dificuldades em desenvolver seus papéis.
As dificuldades relatadas pelos cuidadores deste estudo são semelhantes às relatadas
na literatura por outros cuidadores familiares. Dentre elas, problemas em lidar com conflitos
familiares em conseqüência do papel do cuidador e da situação de cuidado; isolamento social
dentro e fora da família do cuidador e tempo de lazer; distância entre as moradias do idoso e
do cuidador; insegurança em relação ao cuidado oferecido (se é correto ou não) e exigências
do idoso, que podem sobrecarregar e estressar o cuidador; (Crawford & Unger, 1986; Golfarb
& Lopes, 1996 apud Leal, 2000; Lueckenotte, 2000).

Envolvimento de outras pessoas nos cuidados dos idosos

Tabela 22: Grau de parentesco com os cuidadores de familiares que poderiam auxiliar nos
cuidados dos idosos, mas não o fazem
Grau de parentesco com os cuidadores Freqüência Porcentagem (%)
Irmão/irmã 04 44,5
Enteada 01 11,1
Sobrinha 01 11,1
Esposo 01 11,1
Não existem outras pessoas 02 22,2
Total 09 100
Nota: N= 7

Tabela 23: Número de pessoas que poderiam oferecer apoio aos idosos, mas não oferecem
Número de pessoas Freqüência Porcentagem (%)
0 02 28,6
01 01 14,3
02 ou mais 04 57,1
Total 07 100
Nota: N = 7

Entre os cuidadores que desempenhavam sozinhos seu papel, somente dois cuidadores
afirmaram que não existiam outras pessoas que pudessem auxiliar nos cuidados dos idosos.

199
Nos demais casos, os cuidadores apontaram irmãos, enteada, sobrinha e esposo como pessoas
que poderiam estar oferecendo algum tipo de auxílio, mas não o fazem. Além disso, esses
cuidadores afirmaram que, na maioria dos casos, existiam duas ou mais pessoas que poderiam
auxiliar. É importante ressaltar que podem existir diversos motivos para que os familiares
apontados aqui não estejam oferecendo suporte aos idosos e desta forma, os cuidadores
podem ter expectativas acima das possibilidades, achando que os familiares poderiam ajudar,
mesmo quando isso não é verdadeiro. Por outro lado, quando existe uma possibilidade real de
ajuda por parte de outros familiares mas esses não a realizam, isto pode contribuir para o
aparecimento de conflitos familiares, prejudicando o funcionamento familiar como um todo.
Neste estudo, o motivo da não ajuda por parte dos outros familiares não foi averiguado.
Portanto é necessário entender as expectativas de cada pessoa envolvida, as possibilidades e
disponibilidades da dar e receber ajuda, antes de qualquer inferência.

Tabela 24: Grau de parentesco com os cuidadores das pessoas que auxiliam nos cuidados dos
idosos
Grau de parentesco com os cuidadores Freqüência Porcentagem (%)
Irmão/irmã 19 52,8
Tia 01 2,8
Sobrinhos/sobrinha 01 2,8
Cunhado/cunhada 04 11,1
Filho/filha 02 5,5
Mãe 01 2,8
Esposo 02 5,5
Empregada (cuidador formal) 04 11,1
Vizinho 01 2,8
Não especificado 01 2,8
Total 36 100
Nota: N = 28

200
Tabela 25: Número de pessoas que também oferecem suporte aos idosos
Número de pessoas Freqüência Porcentagem (%)
01 09 32,1
02 ou mais 19 67,9
Total 28 100
Nota: N = 28

Na famílias em que existia mais de um cuidador familiar oferecendo suporte ao idoso,


este apoio era oferecido, na metade dos casos, por irmãos ou irmãs dos cuidadores
entrevistados, de tal forma que constata-se que é esperada a colaboração dos filhos frente ao
envelhecimento e necessidade de cuidados que ocorre com os pais. Evidenciando ainda mais
esta questão, verifica-se que quando aparece a categoria cunhado/cunhada como possíveis
auxiliares no cuidado do idoso, o cuidador principal era a nora e, portanto, também refere-se
ao apoio oferecido a um membro por outro de uma geração sucessivamente posterior. As
outras categorias perfazem um total menor, como mostra a Tabela 24.
A maioria dos cuidadores (68%) contavam com o apoio de somente um familiar no
auxílio aos idosos, o que mostra uma pequena contribuição dos familiares em apoiar
diretamente os idosos.
Em algumas famílias (11,1%), os cuidadores contam com a ajuda de cuidadores
formais ou particulares, como auxiliares de enfermagem e empregadas e em um caso, com a
ajuda de vizinhos, mostrando que o cuidado dos idosos não se restringe aos familiares.
Percebe-se, portanto, que na maioria das vezes, o suporte que os idosos recebiam era
oferecido somente por familiares.
Pode-se perceber que a maioria dos cuidadores (72%) contava com outras pessoas para
auxiliar no suporte oferecido aos idosos. Todavia, é importante destacar que, embora os
entrevistados tenham apontado alguém como possível auxiliar nos cuidados ao idoso, a
pessoa que assume o papel de cuidador principal (ou cuidador primário) geralmente é o
responsável por quase todos os cuidados ao idoso, além de outras tarefas não relacionadas ao
idoso que também estão sob sua responsabilidade, enfrentando dificuldades e sobrecarga de
tarefas.

Satisfação dos cuidadores com o suporte que ofereciam aos idosos e aos familiares e com o
apoio que recebiam de suas famílias nucleares

Tabela 26: Medidas de tendência central e dispersão da satisfação dos cuidadores familiares
em relação ao suporte oferecido aos familiares e aos idosos
Média D.P. Mínimo Máximo N
Satisfação com o apoio oferecido a família

201
Cuidados que dedicava a família 4,5 0,7 3,00 5,00 35
Colaboração com a família 4,1 0,9 2,00 5,00 37
Proximidade da relação com a família 4,1 0,7 3,00 5,00 35
Organização de sua casa 3,7 1,0 1,00 5,00 37

Satisfação com o apoio oferecido ao idoso


Cuidados que dedicava ao idoso 4,0 1,2 1,00 5,00 39
Organização da casa do idoso 3,9 1,2 1,00 5,00 27
Proximidade da relação com o idoso 3,9 1,2 2,00 5,00 39
Colaboração com o idoso 3,8 1,2 1,00 5,00 39

Legenda: 1 – “nunca”
2 – “quase nunca”
3 – “às vezes”
4 – “quase sempre”
5 – “sempre”

Tabela 27: Medidas de tendência central e dispersão da satisfação dos cuidadores familiares
em relação ao suporte recebido dos familiares nas tarefas de cuidar
Média D.P. Mínimo Máximo N
Satisfação com o apoio recebido da família nuclear
Com a dedicação da família na manutenção da casa 3,6 1,4 1 5 33
Com as tarefas domésticas realizadas pelos familiares 3,4 1,3 1 5 33

Satisfação com o apoio recebido de outros familiares


Com o grau de concordância dos familiares em relação aos 4,1 1,3 1 5 36
Com o apoio emocional oferecido pelos familiares 3,8 1,4 1 5 36
Com o apoio financeiro oferecido pelos familiares 3,7 1,5 1 5 33
Com a ajuda dos familiares em relação aos cuidados do idoso 3,6 1,6 1 5 36
Com a quantidade de tempo que os familiares dedicam ao 3,5 1,6 1 5 36
Legenda: 1 – “nunca”
2 – “quase nunca”
3 – “às vezes”
4 – “quase sempre”
5 – “sempre”

Além de serem cuidadores de idosos, a maioria dos participantes possuíam outras


responsabilidades familiares e também contavam com a ajuda de alguns membros da família.
A tabela 26 mostra a satisfação dos cuidadores com os cuidados dedicados ao idoso e a sua
família. Já a tabela 27 mostra a satisfação dos cuidadores com o apoio recebido de seus
familiares. Os cuidadores se mostraram satisfeitos com o apoio que dedicavam a sua família e
aos idosos que cuidavam. Porém, mostraram-se um pouco menos satisfeitos com o apoio que
recebiam nas tarefas de cuidador, tanto de sua família nuclear quanto de outros familiares. Tal
insatisfação pode influenciar desentendimentos entre os familiares, provocando maiores
conflitos interpessoais e interferindo diretamente na qualidade de vida dos cuidadores e dos
familiares e indiretamente sobre a qualidade de vida dos idosos apoiados.

202
Objetivo 4: Qualidade do Relacionamento entre idoso e cuidador

Para avaliar a qualidade do relacionamento entre os cuidadores e os idosos, considerou-se as


seguintes informações: intimidade da relação, afetividade e suporte emocional; comunicação
interpessoal; aspectos valorizados no relacionamento; participação dos idosos nas tomadas de
decisões; dificuldades no relacionamento idoso-cuidador; enfrentamento de conflitos; e
representações sociais de velhice e cuidado dos participantes.

Intimidade da relação, afetividade e suporte emocional

Figura 15: Intimidade da relação segundo idosos e seus cuidadores familiares


10 12

10
8

8
6

4
4

2 Std. Dev = 1,21 Std. Dev = 1,21


2
Mean = 3,6 Mean = 2,7
0 N = 26,00 0 N = 36,00
1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

intimidade da relação segundo idosos Intimidade da relação segundo cuidadores

Tabela 28: Formas de manifestação de afeto dos cuidadores em relação aos idosos, segundo
relatos dos idosos
Forma de manifestação de afeto Freqüência Porcentagem (%)
Carinho, afeto 07 21,2
Atenção 05 15,2
Contato físico (beijo, abraço) 04 12,1
Cuidados 04 12,1
Respeito 03 9,2
Dedicação 02 6,2
Paciência 01 3,0
Companhia 01 3,0
Conselhos/ explicações 01 3,0
Insatisfatoriamente 05 15,2
Total 33 100
Nota: N = 28

203
Tabela 29: Aspectos que os idosos sentem falta em seu relacionamento com os cuidadores
Aspectos que fazem falta no relacionamento Freqüência Porcentagem (%)
Nada 22 81,5
Visitas do cuidador 03 11,1
Atenção 01 3,7
Tempo de convivência 01 3,7
Total 27 100
Nota: N = 28

Em relação à intimidade da relação, a avaliação feita pelos cuidadores familiares e


idosos (escala variando de 1 ‘nada íntimo’ a 5 ‘totalmente íntimo’) mostrou diferenças
significativas (t (60) = 2,33, p < 0, 01). Enquanto os idosos avaliavam a relação como sendo
bastante íntima (M = 3,6; d.p. = 0,21), para os cuidadores o relacionamento era considerado
razoavelmente íntimo (M = 2,6; d.p. = 1,21). Além disso, a freqüência com que os cuidadores
emitiam expressões de afeto (avaliação feita por meio de uma escala variando de 1 ’nunca’ à
5 ‘sempre’), também foi avaliada significativamente de forma distinta nos dois grupos, sendo
que para os idosos as expressões de afeto ocorriam com grande freqüência (M = 4,16, d.o. =
1,2), enquanto para os cuidadores isso acontecia somente algumas vezes (M = 3,4; d.p. = 1,3).
Além disso, os idosos relataram estar muito satisfeitos com o apoio emocional e com o
relacionamento que possuíam. Somente 11,1 % dos idosos disseram sentir falta de visitas dos
cuidadores, 3,7% gostaria que o tempo de convivência fosse maior e a mesma porcentagem
gostaria de receber mais atenção de seus cuidadores.

Comunicação interpessoal

Tabela 30: Assuntos das conversas entre cuidadores familiares e idosos


Cuidadores Idosos
Assunto Porcentagem (%) Porcentagem (%)
Familiares/família 22,6 20,5

204
Tudo 16,1 6,8
Ambiente doméstico 11,3 9,1
Televisão/rádio 9,9 4,5
Acontecimentos do passado 8,1 -
Assuntos do cotidiano 6,4 11,3
Saúde/doença 4,8 9,1
Reclamações e sentimentos negativos do idoso 4,8 -
Outras pessoas 4,8 -
Não há diálogo / não costumam conversar 3,2 2,3
Lazer / atividades sociais 1,6 2,3
Política 1,6 -
Problemas 1,6 -
Nada que preocupe o idoso 1,6 -
Religião 1,6 4,5
Opiniões - 11,3
Situação financeira - 6,8
Acontecimentos do passado - 2,3
Sentimentos - 2,3
Aposentadoria - 2,3
Qualidade de vida - 2,3
Total 100 100
Nota: Cuidadores: N = 36; Idosos: N = 27

A freqüência de conversas sobre questões importantes entre idosos e cuidadores


também apresentou diferenças significativas. Para avaliar tal aspecto foi utilizada uma escala
variando de 1 ‘nunca’ a 5 ‘freqüentemente’. Os resultados mostraram que os idosos
costumavam conversar sobre questões importantes com os cuidadores freqüentemente (M =
3,93; d.p. = 1,3), enquanto os cuidadores só apresentavam tais comportamentos algumas
vezes (M = 2,88, d.p. = 1,6). Para avaliar a satisfação dos idosos com as características
comunicação interpessoal foi utilizada uma escala variando de 1 ‘muito insatisfeito’ a 5
‘muito satisfeito’. Neste aspecto, os idosos mostraram estar satisfeitos com a comunicação
existente (M = 4,6; d.p. = 0,8). No caso dos cuidadores, a avaliação também foi positiva,
sendo que a maioria disse que estava satisfeita com o tipo de conversa que tinha com os
idosos.
No que concerne ao assuntos das conversas entre idosos e cuidadores, somente
assuntos sobre a família e os familiares, ambiente doméstico e lazer/ atividades sociais foram
mencionadas de forma equivalente nos dois grupos. Os demais assuntos aparecem com
freqüências diferentes, ou só foram mencionados por um dos grupos. Além disso, somente um
idoso disse sentir necessidade de conversar mais com seu cuidador.

Aspectos valorizados no relacionamento

205
Tabela 31: Aspectos valorizados na relação idoso - cuidador familiar
Cuidadores Idosos
Aspectos valorizados Freqüência Porcentagem (%) Freqüência Porcentagem (%)
Afetividade 14 29,8 05 21,6
Comunicação 11 23,4 02 8,7
Companhia 09 19,1 05 21,6
Respeito 05 10,6 01 4,4
Cuidados oferecidos 04 8,5 03 13,0
Dedicação 02 4,3 03 13,0
Engajamento social 02 4,3 01 4,4
Características do
- - 02 8,7
cuidador
Tudo - - 01 4,4
Total 47 100 23 100
Nota: Cuidadores: N = 34; Idoso: N = 22

No que concerne aos aspectos do relacionamento valorizados por idosos e cuidadores


familiares, a afetividade foi o aspecto mais relatado, aparecendo com freqüência bastante
parecida em ambos os casos. Os demais aspectos mencionados apareceram em menor
freqüência e de forma distinta no relato dos participantes. Pode-se perceber que, com exceção
da categoria cuidados oferecidos, que se trata do suporte prático, todos os aspectos levantados
dizem respeito ao suporte social oferecido pelos cuidadores familiares.

Participação dos idosos nas tomadas de decisões

No que diz respeito ao envolvimento do idoso na tomada de decisões, notou-se que os


cuidadores avaliavam o envolvimento do idoso como sendo bastante restrito, enquanto a
maioria dos idosos se consideravam autônomos na tomada de decisões. Segundo os
cuidadores, a participação dos idosos na tomada de decisões sobre sua vida ou sobre questões
familiares era relativamente baixa. No primeiro caso, o idoso tinha autonomia em apenas 31%
dos casos. No segundo, a participação dos idosos também era restrita, ocorrendo somente em
alguns casos (34%) ou nunca (31%). Todavia, ao contrário do que mencionado pelos
cuidadores, os idosos relataram maior autonomia sobre suas vidas. Em 55,6% dos casos os
idosos disseram possuir autonomia para tomar decisões relativas às questões financeiras, em
79,1% dos casos para questões relativas à moradia, em 96% dos casos para questões relativas
a atividades de lazer e em todos os casos para atividades cotidianas.

206
Dificuldades de relacionamento

No que concerne as dificuldades de relacionamento, as fontes de conflito apareceram


com a mesma freqüência entre os idosos e os cuidadores, ou seja, eles concordavam sobre o
que causa desentendimentos na relação. Somente o modo de educar filhos/netos foi apontado
como fonte de conflito para os dois grupos de forma significativamente diferenciada (X2 (1) =
3,9, p < 0,05), sendo que para os cuidadores, esta questão provocava dificuldades de
relacionamento em 33,3% dos casos, enquanto para os idosos isso ocorria em 11,5% dos
casos. As demais dificuldades apontadas foram: uso de medicamentos (25,4%), controle de
dinheiro (12,7%), religião (11,1%) e organização da casa (6,3%).

Enfrentamento de conflitos

Tabela 32: Pontos positivos de conflitos segundo os dois grupos


Idosos Cuidadores
Pontos positivos Freqüência Freqüência
Disseram não possuir conflitos 03 08
Amadurecimento/aprendizado - 06
Esclarecimentos/compreensão 03 05
Conciliação 02 05
Não menciona pontos positivos 03 05
Aceitação - 01
Arrependimento 01 -
Total 12 30
Nota: Cuidadores: N = 28; Idosos: N = 11

Tabela 33: Pontos negativos de conflitos segundo os dois grupos


Idosos Cuidadores
Pontos negativos Freqüência Freqüência
Sentimentos negativos 02 09
Não possui conflitos 03 05
Desgaste emocional - 05
Não menciona pontos negativos - 02
Desentendimentos 01 02
Abalo na estrutura familiar - 01
Distanciamento 01 01
Agressividade - 01
Dificulta mudanças - 01
Preocupação 02 -
Troca de opiniões 01 -

207
Total 10 27
Nota: Cuidadores: N = 28; Idosos: N = 09

A percepção que uma pessoa possui sobre as conseqüências positivas e negativas de


conflitos interpessoais pode influenciar sua postura quando os mesmos acontecem, facilitando
ou não o entendimento entre as partes conflitantes e influenciando a escolha por uma ou outra
estratégia de enfrentamento de conflitos. Por este motivo, foi perguntado aos entrevistados
quais eram os pontos positivos e negativos de um conflito, segundo seu ponto de vista. Os
resultados mostraram que ambos os entrevistados consideram que os conflitos interpessoais
possuem mais pontos negativos que positivos. Além disso, a freqüência com que a maioria
dos pontos levantados apareceu foi distinta nos dois grupos entrevistados. Os pontos positivos
mencionados por alguns cuidadores e idosos mostraram que, os conflitos podem ser
resolvidos por meio do esclarecimento/compreensão e da conciliação. Já os pontos negativos
relacionados mostram que, para alguns cuidadores, os conflitos podem resultar em
sentimentos negativos, distanciamento e agressividade entre as partes conflitantes, aumentar o
desgaste emocional e os desentendimentos, abalar a estrutura familiar e dificultar mudanças.
Outro ponto a ser ressaltado é de que, em alguns casos cuidadores e idosos disseram
não possuir conflitos interpessoais entre eles.

Tabela 34: Estratégias usadas por idosos e cuidadores para enfrentar conflitos através da
mudança do próprio pensamento
Estratégias Média D.P.
Buscar o lado positivo da situação 4,0 1,1
Esperar o tempo dar um jeito na situação 3,6 1,4
Pensar em outras coisas 3,2 1,3
Não deixar os sentimentos interferirem na situação 2,9 1,5
Não expressa sua opinião 2,8 1,7
Legenda: 1 – “nunca”
2 – “quase nunca”
3 – “às vezes”
4 – “quase sempre”
5 – “sempre”

Tabela 35: Estratégias usadas por idosos e cuidadores para enfrentar conflitos através da
solicitação de apoio emocional de alguém
Estratégias Média D.P.
Pedido de ajuda …
a Deus, rezando 4,9 0,4
a um familiar 3,6 1,4
para alguém fora da situação 2,8 1,6
a um amigo 2,1 1,5
a um profissional 2,4 1,5
Legenda: 1 – “nunca”
2 – “quase nunca”
3 – “às vezes”
4 – “quase sempre”

208
5 – “sempre”

Tabela 36: Estratégias usadas por idosos e cuidadores para melhorar a comunicação numa
situação de conflito
Estratégia Média D.P.
Respeitar a outra pessoa, como sendo alguém com boas intenções 4,5 0,8
Melhorar o tom da conversa, tentando ser amigável 4,1 1,1
Manter a calma 4,0 1,2
Encontrar um ponto comum nas opiniões 4,1 1,0
Explicar melhor seu ponto de vista 3,9 1,3
Entender o ponto de vista do outro 3,7 1,4
Mostrar ou expressar sentimentos ao outro 3,4 1,6
Legenda: 1 – “nunca”
2 – “quase nunca”
3 – “às vezes”
4 – “quase sempre”
5 – “sempre”

As tabelas 34, 35 e 36 mostram as estratégias de enfrentamento utilizadas por idosos e


cuidadores para lidar com conflitos. As estratégias apontadas pelos cuidadores e pelos idosos,
para lidar com tais dificuldades foram muitos semelhantes. As estratégias usadas com maior
freqüência foram: pedir ajuda a Deus, respeitar o outro como sendo alguém de boas intenções,
melhorar o tom da conversa, encontrar um ponto comum, buscar o lado positivo da situação e
manter a calma. As estratégias menos utilizadas foram: não deixar que os sentimentos
interfiram na situação, não expressar opinião e pedir ajuda profissional ou ajuda de amigos.
Percebe-se que as estratégias mais usadas pelos entrevistados para lidar com os
conflitos são predominantemente passivas, envolvendo a aceitação da situação e poucas
tentativas de alterar o problema. No entanto, quando trata-se da relação idoso-cuidador, nem
sempre estratégias assertivas são utilizadas com sucesso, principalmente em casos onde o
idoso está demenciado. Assim, algumas estratégias mais passivas podem ser bem sucedidas
na situação de cuidado, dependendo das especificidades da mesma e do conflito em questão.
Além disso, acredita-se que, apesar de tentar usar essas estratégias, o sucesso
provavelmente não seja tão alto e que as pessoas não são tão habilidosas quanto se
consideram. Isto é, as pessoas podem dizer que são capazes de ter habilidade para lidar com
uma determinada situação, mas na prática não se comportam de tal modo.

Concepção de velhice dos participantes

209
Tabela 37: Concepção de velhice apresentada pelos idosos
Categoria Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
Aspectos negativos
"É ser velho."
"... velho é aquilo que não usa
mais, que vai quebrar..."
1. Estereótipos negativos 12 28,6
"Velhice é idade perdida, nada
volta para trás, cada vez fica mais
difícil."
2. Perdas e Limitações
“Se for idoso sem doença tudo
bem.”
2.1. Debilidade orgânica 04 9,5
“Ver meu corpo não funcionar
mais.”
“Cansaço e falta de vontade de
2.2. Perda da disposição fazer as coisas.” 04 9,5
“Vida cansada...”
"Ser uma pessoa afastada do
2.3. Perda da produtividade trabalho." 04 9,5
“... inutilidade..."
"Não tenho perspectiva...”
1.4. Perda das perspectivas futuras 03 7,1
“Esperar para morrer.”
"Muito bom não é, pois é
3. Afastamento do mundo
rejeitado." 02 4,8
social/solidão
“Ser sozinho.”

Aspectos mistos
"É ter idade avançada."
4.Idade cronológica 06 14,3
“Pessoas que tem bastante anos.”

Aspectos positivos
"É um passado, é uma luta do
passado.... mas é experiência. É
5. Experiência de vida/sabedoria 02 4,8
luta e conhecimentos gerais sobre
a vida. ..."
"Ter ... saúde."
6. Presença de saúde física e
"Enquanto eu estiver...andando, 02 4,8
mental
comendo, dormindo está bom."
"Enquanto eu estiver
7. Produtividade/vida ativa
trabalhando...está bom."
02 4,8
"...porque ainda faz o que gosta e
gosta das coisas, como viajar."
Satisfação "Acho bom." 01 2,4
Total 42 100
Nota: N = 25

Tabela 38: Concepção de velhice apresentada pelos cuidadores familiares


Categoria Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
Aspectos negativos
"É uma criança de novo."
1.Estereótipos negativos "Ser velho." 10 16,7
"...é uma calamidade."
"... que apresenta certas limitações."
2. Perdas e Limitações 09 15,0
"... que depende de alguém."
2.1. Debilidade orgânica "... perda da memória." 05 8,3

210
"...com corpo ruim."
2.2. Dependência sócio – "O idoso é uma pessoa que precisa de
06 10,0
emocional amor, afeto, tudo o que for possível."
2.3. Alterações no "Pessoas que não aceitam as coisas, não
04 6,7
comportamento tem paciência, teimoso..."
3. Afastamento do mundo "... sozinhas, difícil de parente visitar,
03 5,0
social/solidão ficam muito sozinhos."

Aspectos mistos
"É uma pessoa que tem idade avançada..."
4. Idade cronológica 09 15,0
"... definida pela idade."

Aspectos positivos
“... é ter experiência de vida, sabedoria. É
5. Experiência de ter habilidade para passar seus
05 8,3
vida/sabedoria conhecimentos para outras pessoas."
"Uma pessoa com muita experiência..."
6. Presença de saúde física e "Na minha opinião, é envelhecer com
02 3,3
mental saúde e ter a mente funcionando bem."
7. Utilidade social "... está sempre disposta a ajudar." 02 3,3
"Um dia fomos jovens e também temos
8. Fase do desenvolvimento
que envelhecer - processo que faz parte 03 5,0
humano
da vida."
“É observar tudo o que construímos, ver
9. Consciência das próprias
filhos com a vida estabilizada, curtir 01 1,7
realizações
netos.”
10. "Ser especial" "É uma pessoa especial..." 01 1,7
Total 62 100
Nota: N = 39

Tabela 39: Características apontadas pelos dois grupos como sendo próprias da velhice
Cuidadores Idosos
Característica Freqüência Porcentagem (%) Freqüência Porcentagem (%)
Mudanças na aparência 36 92,3 22 81,5
Idade cronológica 24 61,5 18 66,7
Problemas de saúde física 36 92,3 19 70,4
Diminuição das capacidades físicas 38 97,4 18 66,7
Problemas de memória 30 76,9 18 66,7
Diminuição da lucidez e do 26 66,7 17 63,0
raciocínio
Depressão 30 76,9 16 59,3
Falta de companhia 29 74,4 16 59,3

Tabela 40: Comentários dos idosos sobre se considerarem idosos


Categoria Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

211
1. Estereótipos negativos “Porque sou velho.” 02 10
2. Perdas e Limitações
"...hoje eu vou fazer as coisas e não
agüento, daí fico nervosa. Não passeio
2.1. Debilidade orgânica mais. Quando passeio é para ir ao 05 25
médico."
"Saúde que era boa, foi embora."
2.2. Falta de disposição "Não tenho mais disposição.” 02 10
"Porque eu perdi a força para
2.3 Perda de produtividade trabalhar..." 03 15
"Não trabalho mais."
"Me considero idoso pensando na luta e
4. Experiência de vida na experiência, mas pensando como 01 5
velho, me considero jovem."
Total 20 100

Tabela 41: Comentários dos idosos sobre não se considerarem idosos


Categoria Falas Freqüência Porcentagem (%)
Independência física "Não tenho dependência física..." 02 28,6
"Porque faz as coisas, cuida da casa. A
Produtividade 02 28,6
gente tem idade mas vai tocando."
Disposição em realizar "Porque ainda tem vontade de fazer as
01 14,3
atividades coisas."
Idade cronológica "Pela minha idade eu não sou velho." 01 14,3
Atitude das outras pessoas "Ninguém me trata como idoso." 01 14,3
Total 07 100

Tabela 42: Fontes de preocupação dos idosos em relação ao próprio envelhecimento


Preocupação dos idosos Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
1. Perdas e limitações
1.1. Dependência
"Medo de ficar na cama, dependente."
(física/afetiva/social/ 07 20,0
"A gente tem que depender dos outros."
financeira)
"Saúde."
1.2. Estado de saúde 08 22,8
"Ficar doente"
“Um dia não poder cuidar dos filhos e
1.3. Perda da produtividade 01 2,9
netos.”
1.4. Perda da autonomia "...falta de liberdade. 01 2,9
1.5. Morte do idoso "Medo de morrer e deixar o marido." 01 2,9
“Ver meu esposo morrer antes de mim.”
1.6. Morte do cônjuge 02 5,6
“... e ver minha velha morrer.”
"De ficar sozinha, dos filhos a
2. Solidão/abandono 03 8,6
abandonarem."
"...e quando vê que as coisas não andam
3. Problemas familiares 01 2,9
(problemas familiares)."
4. Violência/drogas "Violência, drogas." 01 2,9
5. Cuidador "Quem cuida de mim." 02 5,6
6. Filhos "Preocupação com os filhos." 01 2,9
7. Não possui preocupações 07 20,0
Total 35 100

212
Nota: N = 27

Tabela 43: Fontes de preocupação dos cuidadores em relação aos idosos que cuidam
Preocupação dos cuidadores Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
"A saúde."
Estado de saúde física do
"Que piore a saúde. Tenha que ficar 15 32,6
idoso
hospitalizado."
"Eles moram sozinhos, tenho medo de
Riscos envolvendo o idoso 06 13,0
se machucarem, serem assaltados."
Estado de saúde "A parte psicológica, a cabeça, porque
05 10,9
emocional/mental do idoso ela não tem problemas físicos graves."
Sofrimento do idoso "De ver ele sofrer." 03 6,5
"Tento conversar... eles estão sempre
Relacionamento com o idoso 04 8,7
contrariando o que eu falo."
Estado de saúde do cuidador "Estar com saúde para cuidar dela." 03 6,5
"Complicações físicas que causam
Dependência física do idoso 02 4,3
dependência."
Morte do idoso "A morte." 02 4,3
"A manutenção da vida deles, se eu
Oferecer os cuidados/apoios
estou cuidando direito." 05 10,9
necessários
"A falta de dinheiro para socorrê-los"
"Não ter condição de cuidar da idosa,
Moradia 01 2,3
em casa.”
Total 46 100
Nota: N = 38
Para avaliar os conceitos que idosos e cuidadores familiares possuíam em relação a
velhice foi perguntado aos mesmos o que eles consideravam como características da velhice,
o que está representado nas tabelas 37,38 e 39. Além disso, foi perguntado aos idosos se os
mesmos se consideravam como pertencendo realmente a população idosa e quais os motivos
para seu julgamento (tabelas 40 e 41). Também questionou-se os idosos acerca de suas
preocupações com seu próprio envelhecimento e aos cuidadores sobre suas preocupações com
o envelhecimento das pessoas que cuidam (tabelas 42 e 43 respectivamente).
A concepção de velhice que idosos e cuidadores familiares possuem pode influenciar a
maneira como a relação de ajuda se estabelece e afetar a qualidade do relacionamento entre a
díade idoso-cuidador. Isto é, a concepção que as pessoas possuem a respeito do processo de
envelhecimento pode ser um dos fatores que determinam a qualidade das interações entre os
idosos e seus cuidadores, além de afetar de forma positiva ou negativa a forma como ambos
lidam com as mudanças decorrentes da situação de cuidado e da velhice e a qualidade do
suporte oferecido. No caso da amostra estudada, pode-se afirmar que tanto os idosos como os
cuidadores possuem uma visão de velhice na qual as perdas e os aspectos negativos são
enfatizados em detrimento dos aspectos positivos do processo de envelhecimento. Apesar de
ambos citarem aspectos positivos do envelhecimento, como experiência de vida/ sabedoria,
presença de saúde física e mental, produtividade/vida ativa, satisfação, utilidade social, fase
do desenvolvimento humano, consciência das próprias realizações e ser especial, esses

213
aspectos foram mencionados com menor freqüência do que os aspectos negativos relatados.
Em relação aos aspectos negativos mencionados, uma parte dos idosos (28,6 %) e dos
cuidadores (16,7 %) possuíam uma visão restrita e estereotipada da velhice, percebendo essa
fase como calamitosa, encarando o idoso como “velho” (no sentido de algo que perdeu sua
utilidade) ou infantilizando a velhice. Segundo Mendiondo (2002), é comum encontrar visões
estereotipadas da velhice, principalmente entre pessoas que ainda não atingiram essa etapa da
vida. Assim, rotular os idosos como “velhos”, “velhos gagás”, “esclerosados”, “rabugentos”,
“chorões”, etc., aparecem com muita naturalidade no discurso das pessoas. Para Mendiondo
(2002), tais concepções preconceituosas e estereotipadas ocorrem porque muitas pessoas se
prendem a um pequeno grupo de idosos com um envelhecimento patológico para delinear a
velhice. Além disso, ambos os entrevistados retrataram a velhice como uma fase da vida
envolta por perdas e limitações, que envolvem a perda da saúde, da disposição para fazer as
coisas, da produtividade, das perspectivas futuras, da utilidade social, da dependência sócio-
emocional e de alterações negativas no comportamento. Alguns entrevistados relacionaram
ainda, a velhice como uma fase solitária, na qual ocorre o afastamento do mundo social. A
representação negativa de velhice de grande parte dos entrevistados também pode ser
evidenciada na tabela 39.
Segundo Mendiondo (2002), um dos critérios mais difundidos para delimitar a velhice
é a idade cronológica do indivíduo. Todavia, esse indicador vem gerando várias discussões
devido a sua parcialidade, frente a complexidade do processo de envelhecimento. Assim, a
categoria “idade cronológica” mencionada pelos entrevistados, foi considerada uma categoria
mista, pois pode ser vista tanto de forma positiva quanto negativa. Ao mesmo tempo que essa
categoria mostra que os entrevistados possuíam um conceito restrito de e incompleto de
velhice, a determinação da idade cronológica para delimitar o início da velhice utilizada pelos
órgãos governamentais vem sendo incorporada pelos entrevistados.
A concepção de velhice encontrada neste estudo corrobora para os resultados de outras
pesquisas sobre o assunto, que mostram que os idosos ainda são bastante desvalorizados na
sociedade e a velhice é relacionada as perdas, incapacidade e à doenças, até mesmo pelos
próprios idosos (Debert, 1999; Medrado, 1994; Camargo, 1999). Todavia, apesar da ênfase
dada aos aspectos negativos, alguns estudos mencionam aspectos positivos da velhice
relatados por idosos, como sabedoria, experiência de vida, geratividade, consciência das
próprias realizações e continuidade do desenvolvimento intelectual, os quais também
aparecem nesse estudo. Assim, pode-se concluir, que apesar de enfatizar os aspectos
negativos, a amostra estudada percebe a velhice como uma fase de perdas e ganhos como
outras fases do ciclo vital.
Em 68% dos casos os idosos entrevistados se consideravam idosos. Nestes casos, as

214
justificativas estavam relacionadas à idade cronológica que possuíam; perdas e limitações
decorrentes do envelhecimento, como debilidade orgânica, falta de disposição e perda da
produtividade; estereótipos sobre a velhice e a experiência de vida acumulada. Nos casos em
que os entrevistados não se consideravam idosos as justificativas relacionavam-se à
independência física; produtividade; disposição em realizar atividades; idade cronológica e a
atitude das outras pessoas. Além disso, alguns idosos fazem distinção entre ser idoso e ser
velho, mostrando que esse último possui uma conotação negativa. Assim, os aspectos
negativos estão sempre relacionados ao fato do participante se sentir ou não idoso, mostrando
que a representação negativa de velhice é realmente expressiva no caso dos idosos.
As maiores fontes de preocupação dos idosos com seu próprio envelhecimento,
percebe-se que as perdas em relação à independência e à saúde. A perda da produtividade e da
autonomia, a morte do cônjuge e a solidão/abandono, também eram fontes de preocupação
para alguns idosos. Além disso, 20% dos idosos relataram não possuir preocupações em
relação ao próprio envelhecimento. Assim, a maioria dos idosos parecia se preocupar
essencialmente com fatores que aumentariam sua dependência de outras pessoas para
sobreviver de forma satisfatória.
No que diz respeito as fontes de preocupação dos cuidadores familiares em relação ao
envelhecimento dos idosos que cuidam, o estado de saúde física do idoso, possíveis riscos
envolvendo o idoso (como assaltos, acidentes e quedas), o estado de saúde emocional/mental
do idoso e conseguir oferecer o suporte necessário foram as preocupações mencionadas com
maior freqüência. A qualidade do relacionamento com o idoso foi relatada por 8,7% dos
cuidadores como algo preocupante. O sofrimento do idoso, estado de saúde do cuidador, a
dependência física do idoso, a morte do idoso e a adaptação do ambiente doméstico às
necessidades de cuidado também foram mencionadas por uma parcela menor de cuidadores.
Pode-se notar, portanto, que os cuidadores se preocupam principalmente com questões
diretamente ligadas aos cuidados dos idosos que cuidam e que podem afetar o tipo de suporte
necessário para a manutenção e promoção da qualidade de vida dos mesmos, acarretando em
maior ônus para os cuidadores. Diante desses resultados, percebe-se que as preocupações
de ambos os entrevistados acerca do envelhecimento dos idosos reflete em parte, à
representação negativa de velhice que ambos possuem, ligada, principalmente às perdas e
limitações do envelhecimento. Assim, as concepções de velhice dos entrevistados parece
influenciar o modo como ambos lidam com as questões referentes ao envelhecimento e ao
cuidado.

Concepções de cuidado dos participantes

215
Tabela 44: Concepção de cuidado segundo os idosos
Categoria Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
1. Suportes oferecidos
"Cuidar das coisas, das pessoas. Saber
tratar as pessoas."
1.1. Suporte em atividades
"Lavar roupas, fazer o serviço, cuidar
básicas e instrumentais da 11 34,4
da casa."
vida diária
"Levar no médico se estiver doente,
fazer um serviço de casa."
"Ter carinho."
1.2. Suporte Sócio emocional "É ter amor." 08 25,0
“Dar atenção ao outro.”
“Olhar a pessoa e ver se ela está
bem.”
1.3. Suporte multidimensional 12 37,5
“Tomar conta”
“”Ajudar no que precisa.”
2. Demandas psicológicas
2.1. Obrigação “É uma obrigação de cada um.” 01 3,1
Total 32 100
Nota: N = 24

Tabela 45: Forma que os idosos gostariam de ser cuidado


Cuidados desejados Freqüência Porcentagem (%)
Da forma como já é cuidado 09 34,6
Carinho/amor 07 26,9
Atenção 02 7,7
Suporte em atividades instrumentais da vida diária 02 7,7
Cuidar com dignidade/reconhecimento 02 7,7
Visitas freqüentes 01 3,9
Relacionamento satisfatório entre idoso e cuidador 01 3,9
Evitar riscos ao idoso 01 3,9
Apoio multidimensional 01 3,9
Total 26 100
Nota: N = 23

Tabela 46: Concepção de cuidado segundo os cuidadores


Categorias Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)
1. Suportes oferecidos
"Quando ela precisa ir ao médico, fazer
1.1. Suporte em atividades
exame, ir ao banco, se divertir, lembrá-la
básicas e instrumentais da 15 25,0
de tomar os remédios."
vida diária
"Limpeza, tratar nas horas certas..."
"Companhia."
1.2. Suporte sócio-emocional 20 33,3
"amor, carinho, atenção...ter tato"
"É encarar o outro como um ser
1.3. Suporte muldimensional humano...é o físico, o emocional e o 15 25,0
espiritual juntos."
1.4. Suporte econômico "...não só financeiramente." 02 3,3

216
2. Demandas psicológicas
"Ter que lidar com os conflitos que
surgem em razão de várias pessoas
2.1. Habilidades sociais 04 6,6
cuidarem do idoso ao mesmo tempo."
"...ter paciência."
2.2. Obrigação "Obrigação. Cuidar até o fim." 01 1,7
3. Sentimentos positivos
3.1. Tarefa gratificante “Gratificante” 01 1,7
3.2. Dedicação “Doar, fazer algo para alguém.” 01 1,7
4. Sentimentos negativos
4.1. Tarefa difícil “É difícil, precisa tomar calmante...” 01 1,7
Total 60 100
Nota: N =39

Os idosos entrevistados possuíam uma concepção de cuidar embasada essencialmente


nos suportes oferecidos pelos cuidadores, sendo que boa parte (37,5%) percebe o cuidar como
uma tarefa multimensional, que não se limita a um ou outro tipo de suporte, mas que se
relaciona com o tipo de ajuda que a outra pessoa necessita em vários aspectos de sua vida.
Nos demais casos, os idosos mencionaram o suporte em AVD’s e AIVD’s (34,4%) e o
suporte sócio emocional (25%). Somente um idoso mencionou aspectos subjetivos do cuidar,
relacionado à obrigação. Além disso, quando questionados sobre o tipo e qualidade dos
cuidados que gostariam de receber de seus cuidadores (Tabela 45), os idosos mostraram que o
apoio emocional é muito importante, sendo mais enfatizado que o suporte prático.
Os cuidadores familiares mostraram uma concepção de cuidado, enfatizando não só os
tipos de suporte que podem ser oferecidos, mas também mencionaram alguns aspectos
subjetivos do cuidar. Em relação ao tipo de suporte oferecido, o suporte emocional foi
mencionado por 33% dos entrevistados, seguido do suporte em AVD’s e AIVD’s (25% dos
casos), do suporte multidimensional (26,7%) e do suporte econômico (3,3%). No que
concerne aos aspectos subjetivos do cuidar, os cuidadores mencionaram algumas demandas
psicológicas envolvidas na tarefa de cuidar (habilidades sociais e a obrigação social
existente); os sentimentos positivos proveniente da tarefa de cuidar (cuidar como sendo uma
tarefa gratificante) e os sentimentos negativos (cuidar como sendo uma tarefa difícil).
Todavia, tais aspectos subjetivos do cuidar foram citados com pouca freqüência, mostrando
que a concepção de cuidado dos cuidadores também está mais voltada para os tipos de suporte
oferecidos.
Realmente, o apoio familiar oferecido ao idoso pode se dar em diversos níveis.
Pesquisadores que discutiram e analisaram o suporte à idosos fragilizados mostraram
diferentes formas de classificar os tipos de ajuda que podem ser oferecidas e alguns
mostraram que o papel de cuidar não é restrito aos cuidados oferecidos, mas envolve

217
características subjetivas que dependem de cada situação (Cirelli, 1993 apud Neri & Silva,
1993; Neri & Sommerhalder, 2002).
Em relação aos domínios de ajuda (tipo de suportes oferecidos), a literatura divide-os
em: material (ajuda financeira ou recursos objetivos que procuram manter, melhorar ou
propiciar a qualidade de vida dos idosos); apoio prático (ajudar o idoso a realizar tarefas
relacionadas a cuidados corporais, tarefas domésticas e atividades fora de casa); apoio sócio-
emocional (fazer companhia, atuar como confidente, conversar sobre questões pessoais,
compartilhar experiências, ouvir, consolar, aconselhar, dar carinho, incentivar atividades
sociais, ajudar a resgatar laços afetivos importantes, etc.) e apoio cognitivo-informativo
(explicar, orientar, informar, ajudar na tomada de decisões, decidir pelo idoso quando este já
não é mais cognitivamente capaz, etc.) Stephens (1990 apud Neri & Silva, 1993; Neri &
Sommerhalder, 2002). Assim, pode-se perceber que os idosos podem necessitar de ajuda em
diferentes aspectos de suas vidas, sendo o papel de cuidar multidimensional.
Os aspectos subjetivos do cuidar, não estão estritamente relacionados com o que os
cuidadores fazem para os idosos, mas se referem a estratégias para promover o cuidado de
forma satisfatória (como habilidades interpessoais), crenças, percepções e sentimentos sobre o
cuidado, que por sua vez, podem influenciar na forma como os diversos tipos de suporte são
oferecidos, interferindo na qualidade do cuidado prestado, no relacionamento entre idosos e
cuidadores e na qualidade de vida de ambos.

218
DISCUSSÃO

Resumo dos achados


A análise dos resultados encontrados nos permite traçar um perfil da amostra estudada,
identificar os aspectos principais da forma como as famílias estão estruturadas e do
relacionamento interpessoal entre idosos e cuidadores familiares.

Caracterização dos idosos

Perfil sócio demográfico


A caracterização dos idosos encontrados nos permite dizer que os cuidadores
entrevistados estavam engajados nos cuidados de idosos de ambos os sexos, com baixo grau
de escolaridade, em sua maioria casados ou viúvos, católicos, com idade bastante variada (60
a 95 anos), possuindo, em média, quatro filhos. Em relação ao trabalho, nenhum dos idosos
ainda trabalhava, mas muitos haviam atuados em profissões braçais, necessitando de pouca
qualificação. Os idosos se mostraram insatisfeitos com a renda, provavelmente porque a
mesma era insuficiente para atender suas necessidades. A população estudada foi composta
por usuários do Sistema Único de Saúde, sendo em sua maioria pessoas de nível sócio-
econômico baixo ou médio baixo.

Condições de Saúde e rotinas cotidianas


No que diz respeito ao estado de saúde e grau de dependência, todos os idosos
possuíam pelo menos uma limitação, seja um problema de saúde física, déficits cognitivos ou
problemas comportamentais. Estas limitações deixavam-nos dependentes para pelo menos
uma atividade básica ou instrumental de vida diária, ou para a realização de atividades sociais
e de lazer. Todavia, o grau de dependência encontrado entre os idosos foi baixo. Apesar disso,
os idosos estavam pouco envolvidos socialmente, uma vez que, realizavam atividades sociais
e de lazer com baixa freqüência e estavam mais engajados em atividades que ocorriam no

219
ambiente doméstico. Tal situação pode restringir o suporte social oferecido ao idoso por
outras pessoas que não são da família.

Satisfação com a vida e expectativas para o futuro


Sabendo das condições de vida dos idosos, não é de se surpreender que quase metade
dos idosos mostraram-se insatisfeitos com sua vida, sendo que a maioria possuía expectativas
frustradas no que diz respeito à fase da vida que estavam vivendo. Do lado positivo, apesar de
alguns idosos não possuírem expectativas ou possuírem expectativas negativas para o futuro,
a maioria mencionou possuir expectativas futuras positivas para si mesmo e para seus
familiares, almejando melhores condições de vida para ambos.

Caracterização dos cuidadores familiares

Perfil sócio demográfico


A caracterização dos cuidadores familiares neste estudo permitiu a constatação de que,
como outros estudos brasileiros vêm mostrando, os cuidados de um parente idoso são
oferecidos, na grande maioria das vezes, por mulheres. Sem dúvida, o maior envolvimento
das mulheres ocorre por motivos culturais que favoreçam a disponibilidade delas dentro do
lar, para assumir o papel de cuidador. Segundo a literatura, a escolha do cuidador está
relacionada a padrões sociais e culturais, criadas e mantidas através de interações familiares e
extra familiares, que influenciam na disponibilidade e preparo das mulheres para assumir os
cuidados de um parente idoso (Barros Pinto, 1997; Perracini & Neri, 2002; Karsch, 2003;
Yazaki, Melo & Ramos, 1993; Lueckenotte, 2000; Caldas 1998; Neri & Sommerhalder,
2002). Nesta amostra de cuidadores, por exemplo, a maioria das entrevistadas era casada, não
possuía emprego remunerado e não cuidava de filhos dependentes. As que trabalhavam
contavam com horários bastante flexíveis. Desta forma, estas mulheres não possuíam outras
demandas que competiam com o papel de cuidador. Além disso, todas as cuidadoras
indicaram que a religião era algo muito valorizado em suas vidas. Assim, presume-se que as
crenças religiosas e o senso moral de obrigação eram fatores culturais que também
influenciavam na sua dedicação aos cuidados dos idosos de sua família.
A idade dos cuidadores era muito variada (30 a 75 anos), sendo que alguns também já
eram idosos. No entanto, todos os cuidadores pertenciam ou a mesma geração que o idoso
(esposos, irmãos), ou à geração subsequente (filhos, gêneros).
Apesar de ser responsável pelos cuidados de um idoso, alguns aspectos das condições
dos cuidadores para desempenhar este papel não foram sempre favoráveis. Por exemplo,

220
quase metade dos cuidadores possuía problemas de saúde crônicos, com alguns sofrendo com
um número de enfermidades maior do que no caso dos idosos que eles cuidavam. Assim, os
cuidadores também possuíam suas próprias limitações. No entanto, de modo geral, os
cuidadores não dependiam da ajuda de outras pessoas para desempenhar suas atividades, em
função destes problemas de saúde.
No que diz respeito à escolaridade dos cuidadores entrevistados, percebeu-se que os
mesmos possuíam maiores graus de instrução que os idosos que cuidavam. Por um lado, isto
favorece a qualidade dos cuidados oferecidos, porque estas pessoas poderiam possuir
capacidade verbal para ajudar o idoso a expressar suas necessidades (inclusive em consultas
médicas), possuir acesso a informações atualizadas sobre as dificuldades do idoso e sobre
estratégias para lidar com tais problemas (através de leitura), e poderiam fazer anotações para
organizar os cuidados oferecidos (horários para administração de remédios, manutenção de
registros para monitorar o impacto de tratamentos, etc.). Por outro lado, as diferenças de
escolaridade entre idosos e cuidadores podem influenciar a maneira como o cuidador e o
idoso entendem ou interpretam as situações que enfrentam, sendo fonte de conflitos
interpessoais.

Rotinas cotidianas
Em relação às rotinas cotidianas dos cuidadores, observou-se um padrão igual a outras
pesquisas na área que apontam o isolamento social do cuidador, a perda do tempo de lazer e a
necessidade de adaptação da rotina doméstica como dificuldades de cuidadores familiares de
idosos (Crawford & Unger, 1986, Golfarb & Lopes, 1996 apud Leal, 2000; Lueckenotte,
2000). A freqüência das atividades domésticas realizadas pelos cuidadores aumentou, seu
período de descanso diminuiu e a freqüência e amplitude de sua participação em atividades
sociais e de lazer também sofreu uma redução em função dos cuidados assumidos junto ao
idoso. Dessa forma, além de assumir mais tarefas, os cuidadores abriram mão de várias
atividades prazerosas devido ao seu papel de cuidador.

Bem estar dos cuidadores


Os cuidadores apresentaram níveis moderados de estresse, o que aponta que o papel de
cuidador representou uma demanda significativa. Graus máximos de estresse não foram
encontrados. Provavelmente, pessoas altamente estressadas não estariam envolvidas na tarefa
de cuidar.
Em relação à satisfação com a vida, apenas metade dos cuidadores estavam satisfeitos
com sua situação atual e a maioria esperava estar numa situação melhor. O próprio papel de
cuidador de idoso causava parte desta insatisfação, uma vez que vários cuidadores não

221
esperavam ter que assumir o papel de cuidador de idoso na etapa da vida que estavam
passando ou esperavam um melhor relacionamento entre o idoso e outros membros da
família. Quanto às expectativas futuras, os cuidadores mostraram-se preocupados com o bem-
estar próprio, dos idosos e dos outros familiares.
Com base nestes dados, pode-se afirmar que, assumir o papel de cuidador de idoso
nem sempre é uma situação esperada na vida adulta. Também notou-se que não existe um
preparo adequado nem uma garantia de condições adequadas para exercer a função de
cuidador familiar de idoso. Desta forma, a situação de cuidado normalmente se torna algo
estressante e desgastante para quem cuida, para o idoso e para os demais familiares
envolvidos.

Forma como as famílias estão estruturadas

Sexo e parentesco
No que concerne a forma como as famílias estão estruturadas, o estudo mostrou que a
relação de parentesco entre idosos e cuidadores familiares é bastante próxima, sendo que a
maioria dos cuidados eram dispensados aos pais (com predominância de filhas cuidando de
suas mãe), ao cônjuge (com predominância de mulheres cuidando de seus esposos) ou às
sogras. Assim, os dados obtidos junto aos cuidadores mostraram que os cuidados foram
dispensados mais a mulheres do que a homens. Tendo em vista que as mulheres possuem um
maior expectativa de vida do que os homens, é de se esperar que o número de idosas
precisando de ajuda seja superior ao número de idosos. O fato deste estudo contar com um
número maior de entrevistas com idosos do que idosas pode ser explicado pelo fato de que
algumas idosas não puderam ser entrevistadas, devido às suas condições de saúde.
Além da questão sócio demográfica (um maior número de idosas do que idosos na
população brasileira), a maior probabilidade de um familiar oferecer ajuda a mulheres idosas
do que a homens idosos também está coerente com o que a literatura indica sobre diferenças
na proximidade de relações familiares, em função do gênero. Como apontado por Shi (1993,
apud Neri & Sommerhalder, 2002), as mulheres idosas possuem mais chances do que os
homens idosos de serem cuidadas pelos familiares, em função do maior apego emocional que
existe em relações com mulheres, uma vez que este é o determinante mais importante na
decisão de assumir os cuidados de um familiar idoso.
Além da questão do gênero, também é importante destacar que prevaleciam relações
intergeracionais (e não unigeracionais) entre os idosos e os cuidadores, neste estudo. Como a
natureza do vínculo entre dois esposos é diferente do vinculo entre um pai e um filho
(independente do gênero), pode-se esperar que alguns aspectos do relacionamento analisados

222
neste trabalho refletiram mais o que é típico de uma relação pai-filho do que uma relação
entre esposos.

Moradia
Em relação aos arranjos de moradia dos idosos, notou-se a alta prevalência de
convívio com familiares, o que favorece a co-residência bi e multigeracional. Isto está de
acordo com outros estudos brasileiros, que estimam que mais de 80% dos idosos em algumas
regiões deste país moram com familiares (Ramos, 1993; Coelho Filho & Ramos, 1999), sendo
menos freqüente o idoso que mora sozinho ou num asilo. Como a maioria dos cuidadores
entrevistados neste estudo ocupavam o papel do cuidador principal do idoso, quase metade
dos idosos co-residiam com os cuidadores entrevistados. Nestes casos, uma grande parcela
das famílias eram multigeracionais (três ou quatro gerações), com, em média, quatro
moradores por domicílio. Nos casos em que os idosos não moravam com seus cuidadores, os
idosos residiam, em sua maioria, em domicílios unigeracionais (com o esposo), enquanto os
cuidadores residiam predominantemente em moradias bigeracionais (esposo e filhos), com,
em média, quatro moradores.

Envolvimento dos demais familiares junto ao idoso


Tanto nos casos em que os idosos e cuidadores moravam juntos, quanto nos casos em
que os cuidadores não moravam com os idosos, existiam outros familiares que, teoricamente,
poderiam auxiliar nos cuidados com os idosos ou em outras tarefas domésticas e familiares.
Na maioria das vezes, essas pessoas eram irmãos ou irmãs do cuidador principal entrevistado,
mostrando que o suporte costuma ser intergeracional e está relacionado com a obrigação filial.
Todavia, os cuidadores entrevistados indicaram que a freqüência da participação de demais
familiares junto aos idosos foi baixa, além de se mostrarem insatisfeitos com o suporte
oferecido por familiares. Desta forma, essas pessoas não ofereciam a ajuda que os cuidadores
familiares principais esperavam.. Nestes casos, a sobrecarga de cuidados e o
descontentamento do cuidador poderiam gerar conflitos familiares.

Tipos e intensidade do apoio oferecido


Em relação ao suporte oferecido pelos cuidadores familiares aos idosos,
predominaram o suporte prático (ajuda em AVD’s, AIVD’s e suporte financeiro) e o
emocional. No entanto, de maneira geral, o grau de ajuda não era muito intenso, devido ao
baixo grau de dependência da maior parte dos idosos. Os cuidadores se mostraram satisfeitos
com o apoio que dedicavam a sua família e aos idosos que cuidavam. Além do apoio
oferecido aos idosos, os cuidadores também indicaram que lidavam com várias demandas

223
psicológicas relacionadas a seu papel de cuidador, experimentando sentimentos tanto
positivos quanto negativos que emergem da situação de cuidado. Os cuidadores relataram
várias dificuldades, envolvendo a relação interpessoal existente com o idoso, com outros
familiares e entre o idoso e outros familiares. Assim, parece que a qualidade dos
relacionamentos familiares era realmente importante para os cuidadores, sendo que afetava a
qualidade dos cuidados prestados.

Relacionamento entre cuidadores e idosos

Aspectos sócio-emocionais
Os cuidadores e idosos avaliaram vários aspectos da relação de forma diferente. Os
cuidadores avaliaram a intimidade, a afetividade e a comunicação existente na relação de uma
forma menos positiva do que os idosos. Em parte, isto pode ser explicado por normas
culturais que dificultam conversas intergeracionais sobre assuntos mais íntimos (tópicos
tabus), fazendo com que barreiras interpessoais sejam criadas ao longo da trajetória do
relacionamento. Diferenças nas oportunidades e experiências de vida entre os idosos e seus
cuidadores também podem contribuir para a falta de intimidade entre eles. A maioria das
dificuldades de relacionamento entre os idosos e seus cuidadores foram reconhecidas por
ambas as partes. No entanto, “o modo de educar filhos/netos” foi apontado como provocando
desentendimentos e conflitos para uma parcela maior dos cuidadores do que dos idosos.
Apesar dos cuidadores terem feito uma avaliação menos positiva dos aspectos sócio-
emocionais da relação, em comparação com os idosos, os cuidadores mostraram-se satisfeitos
com a qualidade da comunicação interpessoal que possuíam com os idosos.
Acredita-se que as diferenças nas avaliações da relação feitas pelos idosos e
cuidadores também refletem diferenças nas redes sociais dos idosos e cuidadores. A rede
social dos idosos era restrita devido à diminuição dos contatos sociais dos idosos em
decorrência do envelhecimento (os idosos não se engajavam com freqüência em atividades
sociais e de lazer e muitos já eram viúvos). Para muitos dos idosos, o cuidador familiar era a
pessoa com a qual mantinha mais contato.
A situação da maior parte dos cuidadores era diferente. A maioria dos cuidadores era
filhos dos idosos, com o esposo ainda vivo e filhos adolescentes ou jovens adultos morando
em casa. Assim, possuía um número maior de relações familiares de alto grau de intimidade e
uma rede social extra-familiar maior do que dos idosos. Assim, acredita-se que os cuidadores
possuíam expectativas e padrões mais altos do que os idosos para avaliar a intimidade da
relação entre eles o que pode ter afetado os resultados encontrados.

224
Estratégias para lidar com conflitos
Tanto os idosos, bem como os cuidadores apontaram que usavam, principalmente,
estratégias passivas de resolução de conflito (não defender sua opinião, frente a um
desacordo). Também mencionaram mais pontos negativos que positivos dos conflitos
interpessoais existentes entre eles. Dessa forma, as dificuldades de relacionamento relatadas
tendiam a ser crônicas, a longo prazo, uma vez que estratégias passivas não levam à resolução
dos problemas, o que tende a reforçar a visão negativa dos conflitos, desfavorecendo ainda
mais a possibilidade da resolução construtiva dos mesmos.

Tomada de decisões
Outro resultado importante no que diz respeito à qualidade da relação interpessoal
entre o idoso e o cuidador envolve a tomada de decisões. Os idosos se sentiam mais
envolvidos e autônomos que os cuidadores os consideraram. No geral, os idosos não
possuíam dificuldades de cognitivas que podiam justificar sua exclusão da tomada de decisões
por parte dos cuidadores. Acredita-se que, quando o cuidador não entende a importância de
preservar a participação do idoso na tomada de decisões, isto se soma aos problemas em
relação à intimidade, contribuindo para as dificuldades experimentadas para resolver
diferenças de opinião ou mudar comportamentos inadequados.

Visão da velhice
Sem dúvida, a maneira como os idosos e os cuidadores percebem a velhice refle sua
própria experiência de vida. Para alguns idosos e cuidadores, a velhice era vista como um
processo natural do curso de vida, envolvendo vários aspectos positivos. Mas, para a grande
parte dos entrevistados, as perdas físicas, cognitivas e interpessoais foram os principais traços
que associavam com a velhice. Essa representação negativa da velhice também ficou muito
evidente no discurso dos idosos e dos cuidadores quando indicaram suas preocupações em
relação ao seu próprio envelhecimento. Assim, constatou-se que muitos dos idosos e
cuidadores possuíam uma visão altamente estereotipada da velhice. Este resultado é muito
preocupante, sobretudo em relação ao provável impacto dessa visão negativa sobre as ações
dos cuidadores. Com base na teoria da profecia auto-realizadora, sabe-se que o modo como
um cuidador compreende a velhice interfere diretamente na maneira como o cuidado será
prestado. Assim, um cuidador que espera apenas um declínio no bem-estar do idoso poderá
deixar de incentivar a independência e autonomia da pessoa que cuida, por exemplo. Além
disso, pode influenciar negativamente na qualidade dos relacionamentos interpessoais do
idoso, pois pode contribuir para a aceitação de relacionamentos cada vez mais pobres entre o
idoso e seus familiares. Desta forma, é de extrema importância que sejam realizadas

225
intervenções que expliquem o processo de envelhecimento, atentando para maneiras neutras e
positivas de lidar com as mudanças envolvidas, com a intenção de influenciar positivamente
na qualidade do relacionamento cuidador-idoso e na qualidade dos cuidados oferecidos.

Visão do papel de cuidador


No que concerne a representação do papel de cuidador, pôde-se perceber que os idosos
possuíam uma visão mais restrita ao apoio prático, enquanto os cuidadores mencionaram o
apoio prático e também enfatizaram demandas psicológicas do cuidar. Notou-se que poucos
cuidadores apontaram benefícios da tarefa de cuidar. Assim, os resultados também apontam
para a necessidade de intervenções que abordem a tarefa de cuidar, ressaltando vários
aspectos positivos, que levam ao aprendizado, crescimento pessoal e enriquecimento de
relações, auxiliando os cuidadores a lidar com as dificuldades que encontram neste papel de
uma forma mais construtiva.

Limitações do estudo

Embora este estudo tenha possibilitado o conhecimento de variáveis importantes do


relacionamento entre idosos e cuidadores, que podem afetar a qualidade de vida de ambos, ele
possui algumas limitações que impedem a generalização dos resultados encontrados.

A amostra
Em primeiro lugar, os resultados relatados neste estudo foram baseados numa pequena
amostra de idosos e cuidadores de um município no interior do estado de São Paulo. Portanto,
a amostra possui características específicas quanto ao seu perfil, quanto à forma como as
famílias estão estruturadas e quanto ao relacionamento interpessoal que existia entre os
cuidadores e idosos. Não se sabe o quanto estes resultados são representativos da população
geral, brasileira, de idosos e cuidadores familiares.
Em relação à amostra de idosos, apesar de receber ajuda de seus familiares, uma
maioria apresentou um grau de dependência física e cognitiva baixo ou moderada. A ausência
de limitações físicas e cognitivas maiores entre os idosos possibilitou a realização de
entrevistas com os mesmos, o que permitiu a análise da situação a partir de dois pontos de
vista: os cuidadores e os idosos. Ao mesmo tempo, em função disso, impediu uma análise
apurada do status da relação de ajuda em famílias que possuem idosos com alto grau de
dependência.
No que diz respeito aos cuidadores nesta amostra, encontrou-se, quase que
exclusivamente, cuidadores do sexo feminino. Grande parte dos homens convidados a

226
participar disse que não possuía tempo disponível, ou simplesmente não quiseram se
envolver. Desse modo, a amostra não é representativa da população geral de cuidadores, em
relação ao gênero dos cuidadores.
Também é importante destacar que neste estudo, entrevistou-se somente cuidadores
familiares. Não foram inclusos cuidadores profissionais ou voluntários. O grau de parentesco
encontrado entre cuidadores e idosos foi bastante próximo, sendo que os cuidados eram
dispensados aos pais, sogros, esposos e irmãos. Além disso, a grande maioria dos familiares
entrevistada era cuidadores principais, não trazendo informações sobre a relação de ajuda
entre idosos e cuidadores familiares secundários ou terciários e tampouco possibilitando uma
comparação significativa entre os diferentes tipos de cuidadores familiares.
Compreender a forma como as famílias estão estruturadas a partir do ponto de vista de
somente dois dos seus membros também limita a possibilidade de entender a situação das
famílias em geral, uma vez que a percepção de um ou outro membro sobre a estrutura familiar
pode ser influenciada por crenças e expectativas pessoais. Assim, este estudo investigou
aspectos da estrutura familiar que poderiam estar afetando a situação de cuidado, apenas do
ponto de vista dos idosos e cuidadores entrevistados.

Instrumentos
No que diz respeito aos instrumentos de coleta de dados utilizados, pôde-se perceber,
após a análise dos resultados, que os mesmos necessitam ser aperfeiçoados, tornando-os mais
claros e fidedignos. Além disso, o envolvimento de vários entrevistadores na fase de coleta de
dados trouxe dificuldades em controlar a forma como a entrevista foi realizada, o que
prejudicou a qualidade de algumas das informações obtidas. Além de diferenças na maneira
como as respostas foram registradas (por exemplo, fazendo anotações na primeira pessoa, ora
para representar as respostas do entrevistado, ora para representar o ponto de vista do
entrevistador), foram encontradas algumas respostas confusas ou incompletas. Todavia,
acredita-se que tais dificuldades não afetaram de forma significativa a análise dos dados e os
resultados obtidos no estudo.
Assim, pode-se perceber que, o estudo da relação entre idoso, cuidadores e suas
famílias é algo complexo e que envolve inúmeras variáveis, não sendo possível dar contar de
todas essas variáveis numa única pesquisa.

227
CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos, é possível afirmar que os instrumentos de coleta de
dados utilizados neste estudo permitiram a identificação de características importantes da
relação de ajuda existente entre idosos e seus cuidadores familiares e do processo de cuidar,
possibilitando uma compreensão da qualidade da relação estabelecida entre a díade. Além
disso, a identificação de fatores envolvidos na relação de ajuda existente entre idosos e seus
cuidadores, oferece um suporte científico para a estruturação e implantação de intervenções
capazes de auxiliar os cuidadores e idosos, sobretudo a oferta de informações sobre este
contexto, auxiliando-os na tarefa de cuidar, criando uma relação que propicia uma maior
qualidade de vida para ambos.
Os resultados encontrados sobre o status do relacionamento interpessoal neste estudo
aponta para a necessidade de preparar intervenções para essa população, que os ajudem a

228
melhorar suas estratégias de comunicação interpessoal e a diminuir barreiras interpessoais que
possam estar comprometendo a intimidade do relacionamento, uma vez que isto poderia ter
um impacto importante sobre a qualidade da relação. Além disso, como foi evidenciada uma
visão bastante negativa em relação ao conceito de velhice tanto dos idosos quanto dos
cuidadores, o planejamento de intervenções em relação a esse aspecto também seria
importante. A estruturação de intervenções que abordem a papel de cuidador de forma
multimensional e auxiliem os cuidadores a encontrar estratégias para diminuir a sobrecarga
(como pedir ajudar, modificar comportamento, impor limites, etc.) também se fazem
necessárias para a população estudada. Acredita-se que todas essas estratégias de intervenção
possam contribuir para a qualidade da relação, dos cuidados oferecidos e para a promoção do
bem-estar de cuidadores e idosos.
Além disso, os resultados mostraram que a situação de famílias que possuem membros
idosos que precisam de ajuda em sua composição é bastante complexa, necessitando de
muitos estudos para delinear com precisão as variáveis existentes na situação de cuidado,
como e em que grau elas estão interrelacionadas e como elas afetam a qualidade de vida de
todos os membros da família.
Para que a relação de ajuda existente entre idosos e cuidadores e os fatores que podem
afetar e serem afetados por esta relação possam ser entendidos de forma mais completa, torna-
se necessário a realização de pesquisas futuras que consolidem o conhecimento a esse
respeito.
Assim, este estudo chama a atenção para a realização de estudos que: aumentem o
número de participantes da amostra, tornando os resultados mais abrangentes a população
geral de idosos e cuidadores. Além disso, investiguem diferenças entre gênero; níveis sócio-
econômicos; graus de instrução; regionalidade; faixa etária; grau de parentesco; tipo do
cuidado prestado (familiar ou profissional); tempo em que o cuidado é prestado; forma como
o cuidado foi iniciado; história do relacionamento entre idosos e cuidadores; graus e tipos de
dependência dos idosos, grau de ajuda oferecido pelos cuidadores e tipos de cuidadores
(formal/informal e principal/secundário/terciário). Estudos mais aprofundados sobre fatores
que podem ser afetados negativa ou positivamente pela qualidade da relação interpessoal
também seria de grande valia para o conhecimento de aspectos relativos aos cuidados
prestados a um idoso e para o planejamento de intervenções mais eficientes para essa
população.
Além disso, com a finalidade de suprir as deficiências encontradas nos instrumentos
de coleta de dados e na aplicação dos mesmos vê-se a necessidade de aperfeiçoar os
instrumentos de coleta de dados utilizados. Para tanto, será realizado um projeto de iniciação
científica que terá como objetivo o aperfeiçoamento dos instrumentos de coleta de dados e a

229
confecção de um manual de orientação para aplicadores, para que novas pesquisas realizadas
com esses instrumentos tragam resultados mais significativos em relação aos estudos sobre
aspectos da relação de ajuda existente entre idosos e seus cuidadores.
Espera-se que tais propostas possam ser significativas na construção de novas
pesquisas sobre a população de idosos e cuidadores e para o estudo sobre famílias que
possuem membros idosos dependentes em sua composição, contribuindo para o conhecimento
científico sobre o assunto e para o planejamento de serviços e intervenções eficientes para
essa população.
Em suma, compreender a relação interpessoal do cuidador familiar com o seu parente
idoso parece ser um caminho promissor para melhorar a qualidade do cuidado, uma vez que,
informações desta natureza mostraram-se, neste estudo, importantes para o planejamento de
intervenções adequadas para: rever expectativas e crenças em relação a idosos e papel de
cuidador, para tornar mais realísticos os padrões usados para avaliar a satisfação de idosos e
cuidadores com a vida e melhorar estratégias de comunicação interpessoal, que tanto afetam a
qualidade do relacionamento e podem influenciar a qualidade de vida dessas pessoas e de
outros familiares.

230
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235
ANEXO A - INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DO CUIDADOR FAMILIAR DE IDOSO
(2002)
N °:________
Nome do entrevistador: __________________________________
Data da entrevista: __________/________/____________________
Horário da entrevista: ____________________________________
Início:...................Término:........................

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
1- Nome do cuidador: ___________________________________________ Idade__________
2- Data de Nascimento:_______________ 3- Sexo: ( )M ( )F 4- Tel.:_______________
5- End. :_________________________________________________Bairro:_______________
6- Você é responsável pelos cuidados de uma, ou mais de uma, pessoa idosa? ( ) Sim ( ) Não
b) Se sim, quantas pessoas? ____ 7- Qual(quais) o(s) nome(s)?_______________________________
8- Qual o grau de parentesco?__________________________________________________________
9-a) Você é a única pessoa que ajuda o(s) idoso(s)? ( )Sim ( )Não
b)Caso positivo, existem outras pessoas que poderiam auxiliar o idoso? ( ) Sim ( )Não. Quem são
essas pessoas e qual o seu grau de parentesco com elas?

__________________________________________________________________________________
c) Caso negativo, você é a pessoa da família que mais ajuda o idoso? ( )Sim ( )Não
d) Quem são as outras pessoas que auxiliam nos cuidados com o idoso e qual o seu
grau de parentesco com elas?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
______________________________________________________________
10- a) O idoso que você ajuda mora com você atualmente? ( ) Sim ( ) Não
b) Caso negativo, o idoso já morou com você? ( ) Sim ( ) Não
c) Caso negativo, como você se sente em relação à possibilidade do idoso morar com você?

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
GRAU DE INSTRUÇÃO:
11- a)Você sabe ler e escrever? ( ) Sim ( ) Não
b) Se sim, qual seu grau de escolaridade:

236
( ) Primário Completo(4anos) ( ) Primário Incompleto(___anos)
( ) Ginásio Completo(4 anos) ( ) Ginásio Incompleto(____anos)
( ) Colegial Completo(4 anos) ( ) Colegial Incompleto(___anos)
( ) Superior Completo(___anos) ( ) Superior Incompleto(___anos)
( ) Alfabetizado sem escolarização
ESTADO CIVIL:
12- a) Qual é o seu estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Separado
( ) Desquitado ( ) Divorciado ( ) Viúvo
( ) Outro, especifique:____________________________
b)Em qualquer uma das alternativas assinaladas, especificar quanto tempo: _____________
13- Quantos filhos você têm? _________ 14- Quantos netos você têm? __________

MORADIA:
15- Enumere as pessoas que residem em sua casa:
Nome Idade Grau de Parentesco Ocupação
1
2
3
4
5
6
7
RELIGIÃO:
16- a) Você tem uma crença religiosa? ( ) Sim ( ) Não
b) Se sim, poderia especificar qual? ____________________________________________
c) Qual a importância da religião em sua vida? ( )Nenhuma ( )Pouca ( )Mediana ( )Muita
SAÚDE:
17- Como é seu estado geral de saúde?
( ) Ruim ( ) Razoável ( ) Boa ( ) Excelente ( )Não sabe
18- a) Você tem algum problema médico? ( ) Sim ( ) Não
b) Se sim, poderia especificar qual? ____________________________________________
19- a) Você toma algum medicamento? ( ) Sim ( )Não
b) Se sim, qual?____________________________________________________________

DADOS SOBRE TRABALHO REMUNERADO E RENDA PESSOAL:


20- a) Você mantém algum emprego remunerado? ( ) Sim ( )
Não
Se não, segue para iten 21.
Se sim…
b) Quantas horas pôr semana? _________________________________________________
c) Onde?__________________________________________________________________
d) Qual(quais) o(s) período(s)? ( ) Integral ( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno
21- a) Qual a sua renda individual?
( ) menos de um salário mínimo ( ) entre R$ 751,00 e
R$ 1.000,0
( ) entre um salário mínimo e R$ 300,00 ( ) entre R$ 1.001,00
e R$ 1.500,00
( ) entre R$ 301,00 e R$ 500,00 ( ) entre R$ 1.501,00 e R$ 2.000,00
( ) entre R$ 501,00 e R$ 750,00 ( ) R$ 2.001,00 ou mais

b) Qual a sua renda familiar?


( ) menos de um salário mínimo ( ) entre R$ 1.001,00 e
R$ 1.500,0
( ) entre um salário mínimo e R$ 500,00 ( ) entre R$ 1.501,00
e R$ 2.000,00
( ) entre R$ 501,00 e R$ 750,00 ( ) entre R$ 2.001,00 e R$ 2.500,00

237
( ) entre R$ 751,00 e R$ 1.000,00 ( ) R$ 2.501,00 ou mais

c) Parte de sua renda individual ou familiar é destinada ao idoso? ( ) Sim ( ) Não


d) Caso positivo, qual a dificuldade de estar mantendo este auxílio financeiro?
___________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

TRABALHO REMUNERADO x TRABALHO DOMÉSTICO


22- Caso tenha trabalho remunerado: Enquanto seu trabalho remunerado, com qual
freqüência…
Nunca Quase Às Quase Sempre
nunca vezes sempre
a. Você tem tempo suficiente para completar seu trabalho.
b. No seu emprego, tem coisas demais para fazer.
c. Você tem tempo sobrando.

23- Enquanto o trabalho doméstico sobre sua responsabilidade, com qual freqüência…
Nunca Quase Às Quase Sempre
nunca vezes sempre
a. Você tem tempo suficiente para completar suas atividades
domésticas.
b. Você tem coisas demais para fazer em casa.
c. Você tem tempo sobrando.

PERCEPÇÃO DO IDOSO

24- A) O QUE É SER IDOSO PARA VOCÊ ? NÃO PENSE


SOMENTE NO IDOSO QUE VOCÊ CUIDA, MAS EM
TODOS OS IDOSOS.
__________________________________
____________________________
__________________________________
__________________________________
__________________________________
__________________________________
______________

b) Quais das seguintes características você considera como sendo típicas da velhice?
(Marque somente os itens que o cuidador escolhe; deixe os demais itens em branco.)
( ) Diminuição das capacidades físicas em geral ( ) Problemas com memória
( ) Mudanças na aparência (rugas, cabelos brancos) ( ) Idade cronológica
( ) Problemas de saúde física (fragilidades) ( ) Solidão, depressão
( ) Diminuição de lucidez e raciocínio ( ) Falta de companhia (contato social)
( ) Ser dependente ( ) Outras : ____________________

238
c) O que mais te preocupa em relação ao envelhecimento da pessoa que você cuida?
_______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

O PAPEL DE CUIDADOR
25- Conte um pouco sobre seu papel de cuidador de idoso (pistas: o que faz, como sente-se,
significado deste envolvimento, etc.) ____________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
________________
__________________________________________________________________________
________
__________________________________________________________________________
________
26- O que é cuidar para
você?_____________________________________________________
__________________________________________________________________________
________
__________________________________________________________________________
________
27- Quais as principais dificuldades no seu papel de
cuidador?__________________________________________________________________
________

ESCALA DE ESTRESSE
28- No último mês, pensando em como você estava se sentindo, com qual freqüência você....
Nunca Quase Às Quase Sempre
nunca vezes sempre
a. Se sentiu sobrecarregado pelas coisas.
b. Se sentiu de bem com a vida.
c. Se sentiu ansioso e/ou preocupado.
d. Capaz de lidar com o estresse.
e. Se sentiu cansado e esgotado.
f. Se sentiu calmo e relaxado.
g. Teve dificuldade de se concentrar.
h. Se sentiu cheio de energia.
i. Se sentiu incapaz de dar conta de tudo.
j. Sentiu tudo sob controle.
k. Conseguiu fazer alguma coisa para diminuir os problemas.

ROTINA DE ATIVIDADES:
29- Descreva um dia da semana da sua rotina (as 24 horas):
Horário Atividade
5:00
6:00
7:00
8:00
9:00
10:00
11:00
12:00
13:00
14:00
15:00
16::00
17:00

239
18:00
19:00
20:00
21:00
22:00
23:00
24:00
1:00
2:00
3:00
4:00
Obs.:
30- Vou ler uma lista de atividades. Diga-me a freqüência com a qual você desenvolve cada
atividade, atualmente. Depois, pense sobre a freqüência com a qual desenvolvia estas
atividades antes de ser cuidador de idoso, e diga-me se você reduziu, aumentou ou
manteve a freqüência da atividade, depois de envolver-se nos cuidados do idoso:

Diaria. Seman. Mens. Anual Nunca Reduzi Aument. Mesma


u
Televisão ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Rádio ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Cinema ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Leitura: (Jornais, Revistas,
Livros) Especifique: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Atividade física
Especifique: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Jogos (bingo, xadrez etc.)


Especifique: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Viagens ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Receber visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Fazer visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Grupo religioso ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Tarefas domésticas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Trabalhos manuais (tricô, ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
jardinagem, etc)
Eventos culturais
Especifique: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Passeio com amigos ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )


Outros
Especifique: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

31- Existe alguma outra atividade que você deixou de fazer, para cuidar do idoso? Qual?
__________________________________________________________________________
___
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_________
32- Dentre todas as atividades que foram citadas, quais você considera as mais
prazerosas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
240
________________

241
33. O que você faz para ajudar o idoso? Com qual freqüência você ajuda o idoso a realizar as seguintes atividades:
O idoso depende de minha ajuda para realizar as atividades… O idoso O idoso não
não realiza precisa de
a atividade ajuda
(faz
sozinho)
Diaria- Diversas Uma vez 2 ou 3 vezes Uma vez pôr Algumas Out
mente. vezes por por semana por mês mês vezes por
semana ano ra
pess
oa
ajud
ao
idos
o
1. AVDs
Cuidado

s com o

corpo

Alimentar-se ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Tomar banho ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Cuidar de sua aparência: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
(pentear, barbear, maquiar)
Vestir e tirar as roupas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Ir ao banheiro ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Tomar medicamentos ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Locomover-se ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Deitar-se e levantar-se da ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
cama
Supervisionar o idoso em ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
suas atividades

242
2. AIVDs
Tarefas
domésticas
Limpeza e arrumação da casa ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Lavar e passar roupas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Pequenos consertos na casa ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Preparar a sua refeição ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Fazer compras de alimentos, ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
roupas e de outras
necessidades pessoais
Acompanhar o idoso a ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
lugares que exigem condução
Acompanhar a consultas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
médicas
O idoso depende de minha ajuda para realizar as atividades… O idoso não O idoso não
realiza precisa de
a atividade ajuda
Diaria- Diversas Uma vez 2 ou 3 vezes Uma vez pôr Anualmente Ou
mente vezes por por semana por mês mês ou
semana menos tra
pes
soa
aju
da
o
ido
so
OUTROS
SERVIÇOS
Lidar com suas finanças ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Preencher formulários ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
243
Usar o telefone ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Marcar consultas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
3. Atividades Sociais e
de Lazer
Assistir televisão/ouvir rádio ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Ir ao cinema/ teatro ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Leitura: (Jornais, Revistas, ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Livros) Especifique:

Receber vistas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Fazer visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Atividades manuais (crochê, ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
tricô, jardinagem)
Especifique:
Atividade Física ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Especifique:
Jogos (xadrez, bingo) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Especifique:
Atividade religiosa ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Especifique:
Passear com amigos ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Viagem ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

244
34- Você reduziu seu período de descanso durante o dia ou durante a noite devido aos
cuidados com o idoso? ( ) Sim ( ) Não
35- Quando você precisa ir para algum lugar com o idoso, que transporte você usa? (qual
o tipo de locomoção e quem dirige?)
______________________________________________________

GRAU DE DEPENDÊNCIA DO IDOSO E A TAREFA DE CUIDADOR:


36- O idoso que se encontra sob seus cuidados apresenta algum problema relacionado a:
Leve Moderado Grave Não apresenta
Audição ( ) ( ) ( ) ( )
Visão ( ) ( ) ( ) ( )
Memória ( ) ( ) ( ) ( )
Depressão ( ) ( ) ( ) ( )
Agressividade ( ) ( ) ( ) ( )
Confusão mental ( ) ( ) ( ) ( )
Dificuldade de Compreensão ( ) ( ) ( ) ( )
Locomoção ( ) ( ) ( ) ( )
Alcoolismo ( ) ( ) ( ) ( )
Tabagismo ( ) ( ) ( ) ( )
Controle urina/fezes ( ) ( ) ( ) ( )

SATISFAÇÃO COM O PRÓPRIO DESEMPENHO:


37- Qual a sua satisfação com o seu desempenho no papel familiar, pensando separadamente no que
você faz para as pessoas na sua casa e para o idoso.
Pontue os itens a seguir numa escala de 1 a 5, sendo 1 ‘muito insatisfeito’ e 5 ‘muito satisfeito’.

Com relação à família nuclear (esposo, filhos), o quanto você está satisfeito(a) com…
1 2 3 4 5
a. Sua colaboração com sua família?
b. A organização de sua casa?
c. O quanto você dá conta de tudo que precisa fazer para seus familiares?
d. A proximidade da sua relação com a sua família?
e. A qualidade dos cuidados que dedica a sua família?

Com relação ao idoso, o quanto você está satisfeito(a) com…


1 2 3 4 5
f. Sua colaboração com o idoso?
g. No caso do idoso não morar com o cuidador:
A organização da casa do idoso?
h. O quanto você dá conta das suas tarefas junto ao idoso?
i. A proximidade da relação com o idoso?
j. A qualidade dos cuidados que dedica ao idoso?

SATISFAÇÃO COM O APOIO FAMILIAR


38- Reflita sobre sua satisfação com o apoio dos seus familiares na tarefa de cuidar do idoso,
pensando separadamente nas pessoas que residem na sua casa e nos demais familiares (irmãos,
etc.).
Pontue os itens a seguir numa escala de 1 a 5, sendo 1 ‘muito insatisfeito’ e o 5 ‘muito
satisfeito’:

Pensando nas pessoas que moram com você, o quanto você está satisfeito(a) com…
Tipo de apoio 1 2 3 4 5
a. A quantidade de serviço doméstico que os outros membros da família realizam.
b. A quantidade de tempo que os membros da família dedicam a administração e manutenção
da casa (pagar contas, fazer compras).
Pensando nos demais familiares, o quanto você está satisfeito(a) com…
Tipo de apoio 1 2 3 4 5
c. A quantidade de tempo que os outros membros da família dedicam aos cuidados do idoso.
d. O quanto seus familiares concordam com a maneira que você lida com o idoso.
e. O apoio emocional que você recebe dos seus familiares para lidar com as dificuldades que
você enfrenta com a tarefa de cuidar do idoso.
f. A ajuda que a família oferece ao idoso quando você não pode cuidar dele (quando você está
trabalhando, doente, viaja, etc.)
g. O apoio financeiro que os outros membros da família oferecem.

HABILIDADES SOCIAIS:
AGORA EU GOSTARIA QUE VOCÊ FALASSE UM POUCO SOBRE COMO FUNCIONA A
TROCA DE INFORMAÇÕES, OU SEJA, AS COMUNICAÇÕES, ENTRE VOCÊ E O IDOSO
DE QUEM VOCÊ CUIDA.

39- a) Você costuma compartilhar notícias ou informações com o idoso?


( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes
b) Com que freqüência isso se realiza?
( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Algumas vezes ( )Freqüentemente ( ) Sempre
Se o idoso não mora com o cuidador…
c) Com que freqüência você se encontra com o idoso de quem cuida?
( ) Diariamente ( ) Alguns dias por semana ( ) Semanalmente
( ) Algumas vezes no mês ( ) Mensalmente
d) Você está satisfeita com essa freqüência? ( )Sim ( )Não Caso negativo…
e) Você gostaria que a freqüência do contato fosse: ( ) Maior ( ) Menor

40- a) Você esta satisfeita com o tipo de conversa que tem com o idoso que cuida? ( )Sim ( )Não
b) Sobre o que conversam geralmente?_____________________________________________
____________________________________________________________________________

41- Tratando-se de intimidade como sendo uma troca de sentimentos e pensamentos pessoais e de
poder falar tudo para o outro, você considera o relacionamento com o idoso como sendo:
1( ) 2( ) 3 ( ) 4( ) 5 ( )
Nada Pouco Razoavelmente Bastante Totalmente
Íntimo Íntimo Íntimo Íntimo Íntimo

42- Com qual freqüência você pode trocar idéias com o idoso a respeito de coisas que
sejam realmente importantes em sua vida?
1 ( ) Nunca 2 ( ) Raramente 3 ( ) Algumas Vezes 4 ( ) Freqüentemente 5 ( ) Sempre

42b- Você omite alguma informação do idoso? ( )Sim ( )Não Por que? ____________________

246
43- Com que freqüência você expressa afeto para o idoso, sem ser com palavras (segure a mão,
abraça, beija, toque, senta ao lado) ?
1 ( ) Nunca 2 ( ) Raramente 3 ( ) Algumas Vezes 4 ( ) Freqüentemente 5 ( ) Sempre

44- O idoso participa das decisões familiares? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

45- Quem toma as decisões sobres fatores relacionados ao idoso?


( ) o próprio idoso ( ) o cuidador ( ) o idoso e o cuidador
( ) a família ( ) todos em conjunto

46- a) Aparecem questões relacionadas a sexualidade/intimidade do idoso? ( )Sim ( )Não


b)Caso positivo, quais? _______________________________________________________
c)Você tem ou teria dificuldade para lidar com essas questões? ( ) Sim ( ) Não

DIFICULDADES DE RELACIONAMENTO:
Todos os tipos de relacionamentos, inclusive os familiares, às vezes, atravessam algumas
dificuldades, as quais muitas vezes acabam gerando conflitos. A seguir, gostaria de saber sobre os
desentendimentos e dificuldades que você encontra no convívio com o idoso de quem cuida.

47- O que você acha que provoca maior dificuldade na sua relação com o idoso?
(Marque todas as opções que se apliquem, e explique o problema)
( )Sim ( )Não As atividades do dia-a-dia __________________________________
( )Sim ( )Não Diferenças de opinião______________________________________
( )Sim ( )Não Controle do dinheiro: ______________________________________
( )Sim ( )Não Medicamentos: ___________________________________________
( )Sim ( )Não Modo de educar os filhos: __________________________________
( )Sim ( )Não Religião: ________________________________________________
( )Sim ( )Não Organização da casa : ______________________________________
( )Sim ( )Não Política: _________________________________________________
( )Sim ( )Não Hábitos: _________________________________________________
( )Sim ( )Não Outros, especifique:_________________________________________

ENFRENTAMENTO DE CONFLITOS:
A seguir, as perguntas buscam levantar como você enfrenta conflitos, quando aparecem com o
idoso que você cuida.
48- Pede um exemplo de conflito (veja item 47).
Quais as conseqüências positivas e negativas deste conflito?
POSITIVAS:___________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
NEGATIVAS:___________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
49- EXISTEM VÁRIAS ESTRATÉGIAS QUE PESSOAS USAM PARA ENFRENTAR OS
CONFLITOS. VOU FALAR ALGUMAS DESSAS ESTRATÉGIAS. GOSTARIA QUE VOCÊ

UTILIZA PARA
RESPONDESSE A FREQÜÊNCIA COM A QUAL VOCÊ AS USA

LIDAR COM CONFLITOS COM O IDOSO QUE VOCÊ


CUIDA:
a) tentativas de mudar o próprio pensamento

247
Nunca Quase Algumas Quase Sempre
nunca vezes sempre
1. Buscar o lado positivo da situação
2. Pensar em outras coisas, se distrair e não dar tanta
importância ao problema.
3. Levar sua vida dia-a-dia, esperando que o tempo
dê jeito na situação.
4. Não deixar seus sentimentos interferirem na
situação
5. Não expressar sua opinião
6. Outras, especifique _________

b) estratégia de solicitar ajuda ou apoio emocional de alguém:


Nunca Quase Algumas Quase Sempre
nunca vezes sempre
1. Você conversa e pede conselho a alguém de fora
do problema
2. Pede ajuda a um familiar
3. Pede ajuda a um amigo
4. Pede ajuda a um profissional
5. Reza, pede ajuda a Deus
6. Outras, especifique ____________

248
c)estratégias para melhorar a comunicação:
Nunca Quase Algumas Quase Sempre
nunca vezes sempre
1. Procura entender o ponto de vista do outro
2. Explica melhor o seu ponto de vista
3. Mantem a calma
4. Respeita a outra pessoa, como sendo alguém com
boas intenções
5. Procura encontrar um ponto em comum, algo que
ambos concordem
6. Mostrar ou expressa seus sentimentos às pessoas
7. Procura melhorar o tom da conversa, tentando ser
amigável?
8. Outras, especifique ___________

SITUAÇÃO ATUAL:
50- ATUALMENTE, O QUE VOCÊ GOSTA, VALORIZA OU ACHA IMPORTANTE NA SUA
RELAÇÃO COM O
IDOSO?__________________________________________________
_________________________

________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
51- O que você esperava para esta etapa de sua vida?_____________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
52- Comparando com o que você esperava para esta etapa da vida, como você a considera hoje?
Numa escala de 1 a 5, sendo 1 ‘muito insatisfeito’ e 5 ‘muito satisfeito’. Grau de satisfação:______

PERSPECTIVAS FUTURAS:
53- Como você espera viver sua vida futuramente? _______________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
54- Você gostaria de participar de um grupo de orientação para cuidadores de idosos?( )Sim ( )Não

55- QUAIS OS TEMAS QUE VOCÊ GOSTARIA DE ENTENDER MELHOR EM RELAÇÃO


AOS CUIDADOS COM O IDOSO?
_______________________________________________________
_________________________

249
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
____________________
56- Caso existisse um grupo que oferecesse esse serviço de orientação, o que seria necessário para
você participar? ( proximidade da casa, horários, auxílio para cuidar do idoso durante o encontro do
grupo) __________________________________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
__________________________________________________

Acho que por enquanto eu já perguntei tudo o que precisava. Gostaria de agradecer muito a sua
colaboração e dizer que foram bastante enriquecedoras as informações que você gentilmente cedeu.
Você gostaria de acrescentar algo ou fazer alguma pergunta?

250
ANEXO B - INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DO IDOSO (2002)
N°°:________
Nome do entrevistador: __________________________________
Data da entrevista: __________/________/____________________
Horário da entrevista: ____________________________________
Início:...................Término:........................

I-DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
1. Nome do idoso:_____________________________________________________________________
Data de nascimento:_______________ Sexo: ( ) F ( ) M Telefone:____________
Endereço:_____________________________________________________Bairro:______________

Nome do cuidador:
Endereço:_____________________________________________________Bairro:_____________

• ESTADO CIVIL
2. Qual é o seu estado civil?
a) ( )solteiro ( )casado ( )separado ( )divorciado ( )viúvo
( )outro, especifique ____________________________
b) Em qualquer alternativa acima, diga há quanto tempo. (Por ex: há quanto tempo está viúva?)
___________
3. Quantos filhos você tem? (anotar se há algum falecido) a. _________ vivos b. _________ falecidos
4. a Quantos netos você tem?__________ b. E bisnetos?_________________

• RELIGIÃO
5. a) Você segue alguma religião?( )Não ( )Sim Qual?________________
b) Qual a importância da religião em sua vida? 0 ( ) Nenhuma 1 ( )Pouca 2 ( )Média 3 ( ) Muita

• GRAU DE INSTRUÇÃO
6. A) VOCÊ SABE LER E ESCREVER? ( )SIM ( )NÃO

B) SE SIM, QUAL SEU GRAU DE ESCOLARIDADE:

4( ) Primário Completo (4 anos) ( ) Primário Incompleto (___anos)


8( ) Ginásio Completo (4 anos) ( ) Ginásio Incompleto (___anos)
11 ( ) Colegial Completo (3 anos) ( ) Colegial Incompleto (___anos)
( ) Superior Completo (___ anos) ( ) Superior Incompleto (___anos)
( ) alfabetizado sem escolarização.
7. a) Qual é (era) a sua profissão (dona de casa, balconista, professor(a), etc.)? ____________________

251
b) trabalha fora de casa atualmente? ( )Não ( ) Sim. Em que?_________________________

252
MINIEXAME DO ESTADO MENTAL

Agora, faremos algumas perguntas para saber como está sua memória. Sabemos que, com o tempo, as
pessoas vão tendo mais dificuldades para se lembrarem das coisas. Não se preocupe com o resultado das
perguntas.

Pontuação Pontuação
Máxima obtida
ORIENTAÇÃO TEMPORAL
5 ( ) Qual é o (ano), (dia), (dia da semana), (mês), (estação de ano)?

ORIENTAÇÃO ESPACIAL
5 ( ) Onde estamos?(estado), (país), (cidade), (que tipo de lugar), (andar).

REGISTRO
3 ( ) Repetir: vaso, carro, tijolo.

ATENÇÃO E CÁLCULO.
5 ( ) 100-7=93-7=86-7=79-7=72-7=65
Alternativamente soletrar a palavra “MUNDO” de trás para frente.

MEMÓRIA RECENTE
3 ( ) Quais as três palavras acima?

LINGUAGEM
2 ( ) Mostrar um relógio de pulso e uma caneta e solicitar ao paciente que diga seus
nomes.

1 ( ) Repetir: nem aqui, nem ali, nem lá.

3 ( ) Realizar o seguinte comando: “Pegue esta folha de papel com sua mão direita,
dobre-a ao meio com as duas mãos , coloque-a no chão.”

1 ( ) Leia e obedeça: “Feche os olhos.”

1 ( ) Escreva uma sentença (ela deve conter sujeito e verbo, não há necessidade de
corrigir erros gramaticais).

1 ( ) Copie o desenho (consiste em dois pentagramas que se interseccionam; está


correto se existirem 10 ângulos, dos quais dois devem estar interseccionados).

Total de pontos:_________

• MORADIA

8. a)Você mora sozinho(a) ou com alguém? ( ) Sozinho(a) ( ) Com alguém.

b) Caso mora com mais alguém: Especifique as pessoas com quem mora.
Nome Idade Grau de Parentesco Ocupação
1
2

253
3
4
5
6
7
8
9. a) Você mora em sua própria casa? ( )Sim ( )Não
b) caso não more na própria casa: Por favor, qual o lugar onde mora (casa de filho, casa alugada)?
___________________________________________________________________

10. Em relação à moradia, qual o tipo?


Tipo (ex. apto., sobrado, casa térrea, barraco, asilo, edícula). N.º de cômodos

11. Se fosse possível, onde o(a) senhor(a) gostaria de morar (perto de..., longe de..., asilo, lugar menor, lugar
maior, apartamento, casa)? ___________________________________________________________
12. Houve necessidade de mudar de residência nos últimos anos (mudança mais recente)? ( )Sim ( )Não
13. Se houve, qual o motivo da mudança? (assinalar quantas foram necessárias)
a. Financeiro ( )Sim ( )Não b. Proximidade com família ( )Sim ( )Não
c. Motivos de doença ( )Sim ( )Não
d. Outra necessidade de ajuda:_____________________________________________________

SÓ FAZER AS QUESTÕES ABAIXO SE O IDOSO VIVER EM INSTITUIÇÃO:

a) QUAL O TIPO DE INSTITUIÇÃO ONDE O(A) SENHOR(A) MORA:

( )PARTICULAR ( )PÚBLICA ( )FILANTRÓPICA ( )ONG (


)OUTROS_____________________

B) SE PARTICULAR: QUEM PAGA AS MENSALIDADES?

( ) ELE PRÓPRIO ( )IRMÃOS ( )NETOS

( ) FILHOS ( )AMIGOS (
)OUTROS____________________________________

c) TIPO DE ACOMODAÇÃO:

( )INDIVIDUAL ( )COLETIVA. QUANTAS


PESSOAS______________________________

d) QUAIS ERAM SUAS EXPECTATIVAS COM RELAÇÃO À INSTITUIÇÃO/GRUPO QUANDO INGRESSOU?

____________________________________________________________
_________________________

____________________________________________________________
_________________________

254
SUAS EXPECTATIVAS FORAM ATINGIDAS? ( )SIM ( )NÃO COMENTE:
____________________________________

____________________________________________________________
_________________________

• RENDA PESSOAL

14. Qual a sua fonte de renda? Ela é obtida através de... (marque com um X todas
as opções que se apliquem)
a. ( )Pensão. (Especifique)________________________ b. ( )Salário próprio
c. ( )Salário do marido ou companheiro d. ( )Aposentadoria própria
e. ( )Aposentadoria do marido ou companheiro f. ( )Recebe dinheiro dos filhos
g. ( )Não possui renda h. ( )Outro ____________________
15. Você considera a renda que tem como:
1 2 3 4 5
muito inadequada muito adequada

II - PERCEPÇÃO DA VELHICE
16. a) O que é ser idoso(a) para o senhor(a)__________________________________________________
___________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
17. a. O(A) senhor(a) se considera idoso(a)? ( )Sim ( )Não
b. Por que:______________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
18. a. Quais das seguintes características você considera como sendo típicas da velhice? Você acha que
alguém com essas características é uma pessoa idosa? (Marque somente os itens que o idoso escolhe; deixe
os demais itens em branco.)
1.( ) Diminuição das capacidades físicas em geral 2.( ) Problemas com memória
3. ( ) Mudanças na aparência (rugas, cabelos brancos) 4. ( ) Idade cronológica (número de anos)
5. ( ) Problemas de saúde física (fragilidades) 6. ( ) Solidão, depressão
7. ( ) Diminuição de lucidez e raciocínio 8. ( ) Falta de companhia (contato social)
9. ( ) Ser dependente 10. ( ) Outras: ______________________

19. O que mais te preocupa em relação ao seu envelhecimento?


_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
20. Com o processo de envelhecimento, o senhor acha que perdeu alguns dos seus direitos que tinha
anteriormente (saúde, educação, moradia, lazer, trabalho, voto)? ( )Sim ( ) Não
Quais:__________________________________________________________________________________

21. Com o processo de envelhecimento, o senhor acha que ganhou algum direito que não tinha
anteriormente (aposentadoria, saúde, educação, moradia, lazer, trabalho, voto)? ( )Sim ( )
Não
Quais:__________________________________________________________________________________

III – SITUAÇÃO ATUAL


22. O que você esperava para esta etapa da vida?________________________________________________

255
________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
23. Quais são os aspectos de sua vida atual que você:
a) considera melhores do que esperava?_____________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
b) considera piores do que esperava?_______________________________________________________
_______________________________________________________________________________________

c) Comparando com o que você esperava para esta etapa da vida, o quanto você está satisfeito(a) com sua
vida, hoje? Numa escala de 1 a 5, sendo 1 ‘muito insatisfeito’ e 5 ‘muito satisfeito’. Satisfação:___________

IV - ESCALA DE ESTRESSE

24. EM ALGUNS PERÍODOS DA VIDA, NÓS PASSAMOS POR MOMENTOS DIFÍCEIS QUE PODEM
GERAR ANGÚSTIAS E ESTRESSE. VOCÊ TEVE DIFICULDADE COM ALGUMAS DAS SEGUINTES
ATIVIDADES NO ÚLTIMO MÊS? A) QUAIS? (MARQUE “SIM”, NO QUADRO ABAIXO) B)
PARA AS ATIVIDADES DIFÍCEIS: QUAL O GRAU DE DIFICULDADE QUE O(A) SENHOR(A) SENTIU ?

Situação Sim Pouca Muita


dificuldade dificuldade
(1) (2) (3) (4) (5)
1. Alimentar-se
2. Tomar banho
3. Cuidar de sua aparência: (pentear, barbear ou
maquiar)
4. Vestir e tirar as roupas
5. Ir ao banheiro
6. Tomar medicamentos
7. Locomover-se
8. Deitar-se e levantar-se da cama
9. Limpeza e arrumação da casa
10. Lavar e passar roupas
11. Pequenos consertos na casa
12. Preparar a sua refeição
13. Fazer compras de alimentos, roupas e de outras
necessidades pessoais
14. Outros:

25. Eu vou falar várias coisas que algumas pessoas fazem em situações difíceis. Fale para mim, quais dessas
coisas você faz:
a. ( ) procura ajuda de amigos e parentes
b. ( ) procura ajuda profissional
c. ( ) procura ajuda com alguém que passou por uma situação parecida com a sua

256
V - ROTINA DE ATIVIDADES

26. Me fale: (a) a freqüência com que você desenvolve as atividades abaixo, e (b) se você
depende de ajuda para realizá-las:
Atividades Diariam- Seman- Mensal Anual- Nunca Depende
ente almente -mente. mente de Ajuda
Sim Não
1. Televisão ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
2. Rádio ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
3. Cinema ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
4. Leitura (especifique):__________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
5. Atividade física:_______________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
6. Jogos (bingo, xadrez, baralho): ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
7. Viagens ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
8. Receber visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
9. Fazer visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
10. Grupo religioso ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
11. Atividade ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
doméstica:_____________
12. Trabalhos manuais (jardinagem, ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
crochê):________________
13. Eventos culturais: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
_______________
14. Atividades com amigos:________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
15. Outros:_______________________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
_

27. Descreva, o melhor que puder, um dia da semana típica do(a) senhor(a), incluindo o período da noite:
Horário Atividade
5:00
6:00
7:00
8:00
9:00
10:00
11:00
12:00
13:00
14:00
15:00
16:00
17:00
18:00
19:00
20:00
21:00
22:00
23:00
24:00
1:00
2:00
3:00
4:00

257
OBS.:_____________________________
_________________________________
______
28. Como você descreveria seu estado de saúde? Você diria, em geral, que sua saúde é:
( ) ruim ( ) razoável ( ) boa ( ) excelente ( ) não sabe
29. O senhor(a) tem algum problema de saúde? ( ) Não ( ) Sim
30. Se sim, qual(is)?_____________________________________________________
31. O senhor(a) toma medicamentos? ( ) Sim( ) Não
32. SE SIM, POR
QUE?_____________________________________________________

VII – O CUIDAR
33. O que é cuidar para você?_______________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
34. VOCÊ OFERECE ALGUM TIPO DE AJUDA A ALGUÉM? SIM ( ) NÃO ( ) SE SIM, A QUEM
AJUDA, E O QUE FAZ?

PESSOA A QUEM TIPO DE AJUDA


AJUDA

35. Como você gostaria de ser cuidado? Por que?_______________________________________________


________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
36. Atualmente, quem são as pessoas que cuidam de você?________________________________________
_______________________________________________________________________________________
37. Por quem você gostaria de ser cuidado? Por que?_____________________________________________

_________________________________
_________________________________
_______

VIII - GRAU DE DEPENDÊNCIA

38. O SENHOR(A) SABERIA ME DIZER O QUE É SER


DEPENDENTE?________________________________________

258
____________________________________________________________
___________________________39. O SENHOR(A) SABERIA ME DIZER O QUE É SER
UMA PESSOA INDEPENDENTE?______________________________

____________________________________________________________
___________________________40.O SENHOR(A) SABERIA ME DIZER O QUE É SER
UMA PESSOA QUE TEM AUTONOMIA?_________________________

_______________________________________________________________________________________

ESCALA DE ATIVIDADE FÍSICA E ISNTRUMENTAL DA VIDA DIÁRIA DE “OARS”.


Gostaria de perguntar ao sr.(a) sobre algumas das atividades da vida diária, coisas que todos nós
necessitamos fazer como parte de nossas vidas do dia-a-dia. Eu gostaria de saber se o sr.(a) consegue
fazer estas atividades sem qualquer ajuda ou com alguma ajuda, ou ainda, não consegue fazer de jeito
nenhum.
(circular o número em frente a resposta alternativa que mais se aplica à resposta do paciente.)
1. Atividades instrumentais da vida diária (AIVD)
a) O sr.(a) usa o telefone:
2- sem ajuda tanto para procurar o número na lista, quanto para discar.
1- com uma certa ajuda (consegue atender chamadas ou solicitar ajuda à telefonista em
emergência, mas necessita de ajuda tanto para procurar o número quanto para discar.
0- Ou, é completamente incapaz de usar o telefone.
OBS: _______________________________________________________________________________
b) O sr.(a) vai a lugares distantes que exigam tomar condução:
2- Sem ajuda (viaja sozinho de ônibus, trem, metrô, taxi ou dirige seu próprio carro)
1- com alguma ajuda (necessita de alguém para ajudar-lhe ou ir consigo na viagem)
0- ou, não pode viajar a menos que disponha de veículos especiais ou de arranjos
emergências como ambulância.
OBS:________________________________________________________________________________
c) O sr.(a) faz compras de alimentos, roupas e de outras necessidades pessoais:
2- sem ajuda (incluindo uso de transportes)
1- com alguma ajuda (necessita de alguém que o acompanhe em todo o trajeto das
compras)
0- ou, não pode fazer compras de modo algum.
OBS:________________________________________________________________________________

d) O sr.(a) prepara sua própria refeição:


2- sem ajuda (planeja e prepara as refeições por si só)
1- com certa ajuda (consegue prepara algumas coisas, mas não a refeição toda)
0- ou, não consegue preparar a sua refeição de modo algum.
OBS:________________________________________________________________________________

e)O sr.(a) faz limpeza e arrumação da casa:


2- sem ajuda ( faxina e arrumação diária)
1- com alguma ajuda (faz trabalhos leves, mas necessita ajuda para trabalhos pesados)
0- ou, não consegue fazer trabalho de casa de modo algum.
OBS:________________________________________________________________________________
f) O sr.(a) toma os medicamentos receitados:
2- sem ajuda ( na identificação do nome do remédio, no seguimento da dose e do horário)
1- com alguma ajuda ( toma, se alguém preparar ou quando é lembrado(a) para tomar os
remédios.
0- Ou, não consegue tomar por si só os remédios receitados.
OBS:________________________________________________________________________________
g) O sr.(a) lida com suas próprias finanças:

259
2- Sem ajuda ( assina cheques, paga contas, controla saldo bancário, recebe
aposentadoria ou pensão)
1- Com alguma ajuda (lida com dinheiro para as compras do dia-a-dia, mas necessita de
ajuda para controle bancário e pagamento de contas maiores e/ou recebimento da
aposentadoria ou pensão.
0- Ou, não consegue mais lidar com suas finanças.
OBS:________________________________________________________________________________
2. Atividades físicas da vida diária (AFVD)
a) O sr.(a) toma as refeições:
2- Sem ajuda (capaz de tomar as refeições por si só).
1- Com alguma ajuda (necessita de ajuda para por ex.: cortar a carne, descascar laranja)
0- Ou, é incapaz de alimentar-se por si só.
OBS:_______________________________________________________________________________
b) O sr.(a) consegue vestir e tirar as roupas:
2- Sem ajuda (apanhar as roupas e usá-las por si só).
1- Com alguma ajuda .
0- Ou, não consegue de modo algum apanhar as roupas e usá-las por si só.
OBS:________________________________________________________________________________
c) O sr(a). cuida de sua aparência como pentear-se e barbear-se (para homens), ou maquiar-se
(para mulheres):
2- Sem ajuda.
1- Com alguma ajuda.
0- Ou, não pode cuidar-se por si só de sua aparência.
OBS:________________________________________________________________________________
d) O sr(a). locomove-se:
2- Sem ajuda (exceto com bengala).
1- Com alguma ajuda (de uma pessoa ou com o uso de andador, muletas etc.)
0- Ou, é completamente incapaz de locomover-se.
OBS:________________________________________________________________________________
e) O sr(a). deita-se e levanta-se da cama:
2- Sem qualquer ajuda ou apoio.
1- Com alguma ajuda (de pessoa ou suporte qualquer)
0- Ou, é dependente de alguém para levantar-se/deitar-se da cama.
OBS:________________________________________________________________________________
f) O sr(a). toma banho em banheira ou chuveiro:
2- Sem ajuda.
1- Com alguma ajuda (necessita de ajuda para entrar e sair do banheiro ou um suporte
especial durante o banho).
0- Ou, é incapaz de banhar-se por si só.
OBS:________________________________________________________________________________
g) O sr(a) já teve problemas em conseguir chegar em tempo ao banheiro:
2- Não.
1- Sim.
0- Usa sondagem vesical e/ou colostomia.
Se sim, com que freqüência o Sr(a). se molha ou se suja (seja de noite ou dia)?
1- Uma ou duas vezes por semana.
0- Três ou mais vezes por semana.
OBS:________________________________________________________________________________
AVALIAÇÃO
A Pontuação se obtém pela somatória dos pontos correspondentes às respostas assinaladas. Circular as
pontuações atingidas pelo cliente nas escalas (a) e (b). quanto mais alta é a pontuação significa que o
cliente é mais independente nas suas atividades de vida diária. E o inverso, o cliente é menos
independente.
a) Pontuação da Atividade Instrumental da Vida Diária (AIVD):
14 13 12 11 10 09 08 07 06 05 04 03 02 01
I__I___I___I___I___I___I__I___I___I___I___I___I___I

260
<----------------------------------------------------------------------
Independência
---------------------------------------------------------
Dependência
b) Pontuaçao da Atividade Física da Vida Diária (AFVD):
14 13 12 11 10 09 08 07 06 05 04 03 02 01
I__I___I___I___I___I___I__I___I___I___I___I___I___I
<----------------------------------------------------------------------
Independência
---------------------------------------------------------
Dependência

VIII - TOMADA DE DECISÕES


41. Você toma decisões referentes a:
Sim Não Se não, quem cuida destas questões para você?
a) Questões financeiras

b) Moradia

c) Atividades cotidianas

d) Atividades sociais/de lazer

IX- RELACIONAMENTO ENTRE O IDOSO E SEU CUIDADOR

FAMILIAR

42. Todos nós precisamos de amostras de afeto de outras pessoas. Como o(a) _____________(nome do
cuidador atual) manifesta afeto na relação com você (segure a mão, abraça, beija, toque, senta ao lado)?
_______________________________________________________________________________________
b) Com qual freqüência ele(a) faz estas coisas?
1 2 3 4 5
Nunca Raramente Algumas Freqüentemente Sempre
Vezes
43. O que você gosta, valoriza ou acha importante na sua relação com essa pessoa no presente
momento?_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
44. Tratando-se de intimidade como sendo uma troca de sentimentos e pensamentos pessoais e de poder falar
tudo para o outro, você considera o relacionamento com essa pessoa como sendo: (marque um X no número
que represente o grau de intimidade)
1 2 3 4 5
Nada Pouco Razoavelmente Bastante Totalmente
Intimo Intimo Íntimo Intimo Intimo
.
45 Com qual freqüência você pode trocar idéias com __________(nome da cuidadora) a respeito
de coisas que sejam realmente importantes em sua vida?
1 2 3 4 5
Nunca Raramente Algumas Freqüentemente Sempre
Vezes
46. Tem algo que te faz falta nesse relacionamento?______________________________________________
____________________________________________________________
___________________________

261
47. Com que freqüência você se encontra com essa pessoa: ( )diariamente ( )alguns dias por semana
( )semanalmente ( )algumas vezes no mês ( )mensalmente
48. a) Você está satisfeito(a) com essa freqüência?
1 2 3 4 5
insatisfeito(a) satisfeito(a)

b)Você gostaria que a freqüência do contato fosse:


( ) maior ( ) menor ( ) a mesma

49. a) Você esta satisfeita com o tipo de conversa que tem com essa pessoa?
1 2 3 4 5
insatisfeita satisfeita
b) sobre o que conversam geralmente? ____________________________________________________
_______________________________________________________________________________________

50. Até que ponto você se sente satisfeita com o apoio emocional que dá a essa pessoa e recebe dessa pessoa
(por exemplo, incentivo, atenção, dar força, ter alguém para escutar, etc)?
a) apoio emocional que dá:
1 2 3 4 5
Insatisfeita Satisfeita

b) apoio emocional que recebe:


1 2 3 4 5
Insatisfeita Satisfeita

51. Com qual freqüência sua família compartilha notícias ou informações com você?
1 2 3 4 5
Nunca Raramente Algumas Freqüentemente Sempre
Vezes
52. No seu dia-a-dia, você costuma trocar mais informações com quem? (Marque todas as opções que se
apliquem)
a. Filho ( )sim ( )não b. Filha ( )sim ( )não
c. Companheiro ( )sim ( )não d. Netos ( )sim ( )não
e. Outros parentes ( )sim ( )não f. Amigos ( )sim ( )não
g. Vizinhos ( )sim ( )não h. Outros, especifique ________________

X - POSSÍVEIS DIFICULDADES NO RELACIONAMENTO - Todo tipo de relacionamento, inclusive os


familiares, às vezes atravessa algumas dificuldades, as quais muitas vezes acabam gerando desentendimentos
e conflitos.

53. O que você acha que provoca mais desentendimentos na sua relação com ______(nome do cuidador):
(Marque todas as opções que se apliquem e pede para explicar ou exemplificar)
a. ( ) Controle do dinheiro___________________________________________________________
b. ( ) Modo de educar os filhos (meus netos)____________________________________________
____________________________________________________________________________
c. ( ) Questões de saúde (medicamentos, etc)____________________________________________
d. ( ) Religião__________________________________________________________________
e. ( ) Organização da casa_________________________________________________________
f. ( ) Política____________________________________________________________________
g. ( ) Outros____________________________________________________________________

XI - ENFRENTAMENTO DE CONFLITOS - A seguir, as perguntas buscam levantar como você enfrenta


estes desentendimentos, diferenças de opinião e conflitos, quando aparecem com ______(nome do cuidador).

262
54. Os conflitos podem ter alguns resultados bons e outros ruins. Quais os
resultados que os conflitos tem trazidos para sua relação com ______(nome do cuidador)?
BONS:__________________________________________________
_______________
__________________________________________________________________
_________
RUINS:__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
55. EXISTEM VÁRIAS MANEIRAS PARA LIDAR COM DESENTENDIMENTOS E CONFLITOS. VOU
FALAR ALGUMAS DESSAS MANEIRAS. GOSTARIA QUE VOCÊ RESPONDESSE A FREQÜÊNCIA
COM A QUAL VOCÊ FAZ ESTAS COISAS PARA LIDAR COM DESENTENDIMENTOS COM ______
(NOME DO CUIDADOR FAMILIAR):

b) mudar o próprio pensamento


Nunca Rara- Algumas Muitas Sempre
mente vezes vezes
Enfocar o lado positivo da situação 1 2 3 4 5
Pensar em outras coisas, se distrair 1 2 3 4 5
e não dar tanta importância ao
problema
Levar sua vida dia-a-dia, esperando 1 2 3 4 5
que o tempo dê jeito na situação
Não deixar seus sentimentos 1 2 3 4 5
interferirem na situação e não
expressar sua opinião
Outras, especifique _________ 1 2 3 4 5

c) estratégia de solicitar ajuda ou apoio emocional de alguém


Nunca Rara- Algumas Muitas Sempre
mente vezes vezes
Você conversa e pede conselho a 1 2 3 4 5
alguém de fora do problema
Pede ajuda a um familiar 1 2 3 4 5
Pede ajuda a um amigo 1 2 3 4 5
Pede ajuda a um profissional 1 2 3 4 5
Reza, pede ajuda a Deus 1 2 3 4 5
Outras, especifique _________ 1 2 3 4 5

d) estratégias para melhorar a comunicação


Nunca Rara- Algumas Muitas Sempre
mente vezes vezes
Procuro informações para entender o ponto 1 2 3 4 5
de vista do outro
Explico melhor o seu ponto de vista 1 2 3 4 5
Mantenho a calma 1 2 3 4 5
Respeito a outra pessoa, como sendo 1 2 3 4 5
alguém com boas intenções

263
Procuro encontrar um ponto em comum, 1 2 3 4 5
algo que ambos concordem
Mostro ou expresso seus sentimentos 1 2 3 4 5
Melhoro o tom da conversa, tentando ser 1 2 3 4 5
amigável
Outras, especifique _________ 1 2 3 4 5

XII - SITUAÇÃO FUTURA - como você espera viver sua vida futuramente.

56.Quais são as coisas que você ainda gostaria de fazer em sua vida?
___________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

Acho que já perguntei tudo o que precisava. Gostaria de agradecer muito a sua colaboração e dizer que
foram bastante enriquecedoras as informações que você gentilmente cedeu. Você gostaria de acrescentar
algo ou fazer alguma pergunta?

264

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