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MP 2007 137 PDF
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ARTIGO
________________________________________________________
Resumo
Abstract
Introdução
Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 8, n. 11, jul/dez 2007– ISSN 1679-8678
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desenvolvimento dos alunos. Trata-se de uma Organização Não Governamental que
atende crianças e adolescentes do Jardim São Fernando e Paranapanema, periferia de
Campinas, oferecendo, além da capoeira, oficinas de artes, dança, música e reforço
escolar, sempre no período oposto ao das aulas.
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importância da experiência anterior dos alunos e facilidade dos mesmos em realizar
uma organização do conjunto observado, que é o movimento pronto.
No caso dos treinos de Capoeira realizados por meio do método Global, assim
como na Roda, o professor ou alunos mais adiantados apresentam os movimentos por
inteiro e o aluno iniciante os observa e tenta reproduzi-los. Essa é a forma tradicional
e mais antiga do ensino de Capoeira: no passado, os alunos mais novos aprendiam os
golpes apenas observando a prática de capoeiristas mais experientes no treino ou na
Roda de Capoeira. Até então eu só havia tomado conhecimento deste método para o
ensino da Capoeira, que havia aprendido com meu professor e, por isso, acabei
reproduzindo com meus alunos. No entanto percebi que, se o método era suficiente
quando utilizado em academias de ginástica para um público jovem-adulto, por outro
lado, o mesmo não ocorria em um ambiente como o de um projeto social que atende
crianças e adolescentes de 5 a 15 anos, algumas sem nenhum contato anterior com a
Capoeira.
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O local das aulas e a falta de equipamentos disponíveis também prejudicavam
o aprendizado: o ensino ao ar livre propiciava maior dispersão do aluno, ao contrário
do que nas aulas praticadas no ambiente fechado de uma academia, rodeado de
espelhos e equipamentos que auxiliavam a atividade.
Desta forma, para ensinar alguns movimentos complexos de Capoeira, optei por
utilizar o método Parcial: fragmentava o movimento em várias partes e ia passando-
as uma por uma. Por exemplo, ao mostrar como se faz uma meia-lua-de-compasso,
primeiro pedia para que o aluno virasse de costas para seu colega, depois colocasse
as mãos no chão, olhando o amigo por debaixo das pernas, após isso levantasse a
perna esquerda, e assim por diante.
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alunos ensaiavam diferentes tipos de respostas (repetindo o exercício), eliminavam as
inadequadas e fixavam as adequadas.
O aprendiz que quer dominar a arte da Capoeira utiliza também este ‘método’
de forma intuitiva; ele vai tentando dar (por exemplo) um aú, e, através das
tentativas e erros cometidos, o cérebro do aprendiz vai separando aquilo que foi
‘acerto’ do que foi ‘erro’, e o aú vai aos poucos sendo feito mais corretamente
(CAPOEIRA, Nestor, 2001, p 179)
Foi aí que optei pelo método Misto que, como foi explicado no início deste
trabalho, consiste em ensinar uma destreza motora utilizando os dois métodos: o
Parcial e o Global. Nesta época (2004), já estava de volta ao projeto Quero- Quero e
trabalhando para a Prefeitura de Campinas no Projeto Capoeira Na Escola, promovido
pela Secretaria Municipal. Assim, no início da aprendizagem, por meio de
“brincadeiras” e jogos infantis eu adotava o método Parcial, passando movimentos
fragmentados, num aprendizado gradual. Depois de algum tempo, quando as crianças
já tinham adquirido um conhecimento básico dos movimentos da Capoeira, eu
adotava o Método Global: mostrava o movimento como um todo e nomeava-o para
que os alunos entrassem em contato com o vocabulário da Capoeira.
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Desta forma, as crianças iam aos poucos executando e compreendendo a
finalidade de movimentos como “martelo”, “meia-lua-de-frente”, “meia-lua-de-
compasso”, “rasteira” e “cabeçada” (que são golpes de ataque); “aú”, “volta ao
mundo”, “giro de mão” (movimentos de floreio) e as esquivas, “cocorinha” etc
(movimentos de defesa). Neste estágio, os alunos podiam participar da Roda de
Capoeira, interagindo com o colega de “jogo” por meio do reflexo e destreza corporal.
Após essas duas fases, algumas vezes ainda voltava novamente ao método
Parcial para que o aluno pudesse aperfeiçoar a técnica do movimento ou quando ele
não havia compreendido alguma parte do mesmo.
Percebi bastante progresso por parte dos alunos adotando essa forma diferente
de ensino da que eu estava habituado. No entanto, ainda sentia dificuldades com as
crianças principalmente em relação ao entendimento das instruções e explicações que
dava sobre os golpes da capoeira.
Segundo Gallahue e Ozmun (2003, p. 367), “os indivíduos que trabalham com
crianças devem reconhecer que o desenvolvimento perceptivo é crucial para o
desempenho motor bem sucedido”. O autor define o termo percepção como a
habilidade de interpretar informações. Ainda a partir dos estudos dos autores, pode-se
inferir que a prática da Capoeira, seja por meio do método Global, Parcial ou Misto,
proporciona os seguintes benefícios ao seu praticante:
Os conceitos de direita e esquerda, pra cima e para baixo, topo, fundo, dentro,
fora, em frente, atrás aperfeiçoam -se por meio de atividades motoras que enfatizam
a direção. A direção é dividida em habilidades de direcionalidade e lateralidade. A
lateralidade e a direcionalidade também são constantemente trabalhadas na Capoeira,
pois os golpes têm uma direção, um objetivo, um fim (vão da direita para a esquerda
ou vice versa) . No caso do método de ensino por meio de desenhos, essas
capacidades são trabalhadas mais eficazmente, pois o aluno utiliza as figuras para
distinguir direita de esquerda etc.
Tudo que fazemos possui um elemento de tempo, parte do inicial para o final . O
ritmo é o aspecto básico mais importante para o desenvolvimento de um mundo
temporal estável. Na Capoeira, o ritmo dos exercícios é marcado pela música, pela
batida do atabaque, pelo som do berimbau, do pandeiro e do agogô. É o ritmo do
berimbau que comanda a roda de Capoeira. Ele indica ao jogador a hora certa de
entrar e sair da roda e o tipo de jogo a ser praticado, se de Angola (mais lento, com
movimentos de chão) ou Regional (mais rápido, pedindo golpes de ataque e defesa
velozes), entre outros. Numa época em que a Capoeira era marginalizada, os toques
de berimbau também tinham a função de “avisar” os participantes da roda sobre a
chegada da polícia ou de elementos de grupos adversários.
5) Percepção visual
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Numa aula de capoeira dada a adultos, por exemplo, explica-se que, para se
fazer uma meia-lua-de frente, posiciona-se a perna direita paralelamente à esquerda
e levanta-se a esquerda fazendo um movimento da esquerda para a direita (ou vice-
versa). Com crianças de cinco, seis, sete anos, essas explicações eram complexas e
muitas vezes inúteis. Palavras como paralelo, flexionado, semi-flexionado, direita e
esquerda etc não tinham nenhum significado para elas.
Foi então que, em 2005, comecei a utilizar nas aulas desenhos com figuras de
diferentes formas e cores, para a aprendizagem dos movimentos iniciais da Capoeira.
Na ocasião, além do projeto Quero-Quero, comecei a trabalhar com crianças do
projeto Anhumas e do colégio Objetivo de Campinas, onde permaneço até hoje.
Com esta técnica senti uma melhora e rapidez significativa na apreensão dos
golpes da Capoeira. O que levava de quatro a seis meses para ser absorvido pelos
alunos agora havia passado há dois meses apenas.
Neste estágio, os exercícios passam a ser realizados sem o auxílio dos desenhos
e com o acompanhamento musical do berimbau: o aluno ginga (movimento básico da
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Capoeira de onde partem todos os outros) e, ao repique do instrumento, tenta
executar os golpes assimilados por meio da técnica de desenhos. A partir do momento
que o aluno adquire familiaridade com os movimentos, o professor começa a explicar
seus objetivos e funções dentro do contexto da Capoeira e ele passa a executá-los no
jogo com um colega, na Roda.
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estágio operatório-formal a criança não depende mais da observação da realidade
para abstrair, aplicando o raciocínio lógico na solução de problemas.
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
XAVIER, T.P. Métodos de Ensino em Educação Física. São Paulo: Manole, 1986.
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