inconscientes, ou uns irresponsáveis, se não tivéssemos medo. Todas as mudanças importantes dão medo… Há riscos? Sim, há. Há obstáculos que parecem intransponíveis? Sim, claro que há! E onde vamos e iremos buscar força e coragem? Não nas nossas racionalizações. Não na troca entre nós de argumentos, por mais bonitos e límpidos que nos pareçam; Por mais que nos entretenham, por mais que, por nós, preencham os silêncios incómodos da nossa timidez. Sim na troca de olhares e sorrisos com carinho. Sim nos abraços fortes, macios e demorados, e nas carícias, nos beijos, na junção e fusão dos nossos quentinhos quando gela lá fora… E vendo-nos lado-a-lado ao pequeno-almoço, e ao pôr-do- sol na praia - numa nossa praia, se tu deixares -, e em todos os cenários e mundos que queiramos juntos abarcar; E de mãos dadas e de rosto firme e peito feito expostos ao vento e à chuva, e felizes. E felizes rodeados e aconchegados por todas as nossas magníficas crias. Já o merecemos. E desejar e esperar que seja para sempre tal como se sente o que é desde sempre… - não nos conceber fim. Temos o tempo que for preciso. Vamos os dois achar a nossa linda praia? Ela lá está… Eu sei.
Atalhos
Com este já decorrido meu tempo de vida, a Felicidade é,
cada vez mais, momentos, e cada vez menos uma ideia, um O Tempo, Eu e Tu, por Pôncio Arrupe 2 desejo ou uma ambição e, muito menos ainda, um projeto. E o caminho é – o tempo já escasseia! – o primeiro atalho que me aparecer à mão. E depois o atalho seguinte, e o seguinte…, de momento em momento. Que não me faltem os atalhos e haja quem os queira fazer comigo!
Metálicas Exigências
Colocaste a fasquia muito alta, impuseste condições e
normas draconianas, rígidas e cegas, desprezando o que de momento eu conseguiria, como se nada quisesses saber do que me era materialmente possível. Quem tem amigos assim, não precisa de inimigos, é costume dizer-se. E, com frieza exasperante, puseste-te à distância, aguardando não sei bem o quê. Nunca o soube. Nunca me disseste o que sentias, o que pensavas, o que desejavas. Sempre fugiste a assumires-te, a comprometeres-te. Quase nunca - tão pouco! -, demonstraste confiança, transparência e afeto. Exigiste que tudo acontecesse com se estivéssemos há quinze ou vinte anos atrás… Em nome de princípios abstratos, cuidaste em primeiro lugar de que não te apontassem o dedo, de nunca te poderem acusar de me teres “roubado”. Que indignidade! Um ultraje. Como se eu fosse propriedade de alguém, como se não me coubesse, e não a ti, decidir sobre o quê, quando e como quanto a outros. Como se fosse reprovável da minha parte procurar zelar pelos meus interesses de modo a, de facto, me subtrair às dependências que não desejo, com os meios que as circunstâncias me permitam. Colocaste-me sempre atrás de outros que mal conheces, com base em ideias gerais – arquétipos - sobre eles, desvalorizando-me enquanto indivíduo concreto que foste conhecendo melhor. Que exaspero! Colocaste-me friamente em último lugar.
O Tempo, Eu e Tu, por Pôncio Arrupe 3
Cheguei a sorrir para dentro entretendo-me com a ideia de que gostarias de propor, a título de pedido de autorização, a quem supostamente me detém, um contrato de cedência de direitos sobre o meu usufruto. Ou uma qualquer autorização escrita, assinada, sempre que eu desejasse estar na tua presença. Enfim… Muitas vezes desesperei porque outros, sem que o soubessem, e por tua mão, determinavam as tuas atitudes e comportamentos, logo a minha vida. Se isso voltar a acontecer, quero que seja por decisão minha. Se eu não te valho alguns sobressaltos teus, se não mereço riscos e incertezas, enfim, alguma sensação de descontrolo dos acontecimentos, então não tens para mim o que é bom; Não tens para mim o que há de melhor na vida! Enganei-me, mas cheguei a acreditar. Cheguei a pensar que tínhamos uma causa nossa, que não era só minha. Cheguei a entusiasmar-me porque tinha algo por que lutar, algo de bom e transcendente, mas que só fazia sentido contigo. Enganei-me. Vi-me sozinho, incompreendido, abandonado. Restam-me um ou outro olhar e sorriso, e um só abraço… Não quero continuar a perturbar – sim, perturbei, estou certo - quem entende que eu não mereço esse incómodo e se coloca a salvo longe, sem pontinha de ternura, repetindo o mesmo comportamento de fingimento expectante, de ocultação, pela enésima vez. É que nada de muito bom acontece sem perturbação. E eu quero, só, o muito bom, sejam quais forem as circunstâncias de partida. Umas, é certo, mais fáceis e cómodas do que outras. Não somos nós que as escolhemos quando nos acontece a surpresa e a excitação da descoberta de um novo caminho. E alguém disse que o caminho só se faz caminhando… E também - ouve-me -, ninguém volta a “roubar” o que já tinha “roubado”. Tem uma boa vida. Beijo.