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Prefácio da 1° edição
Prefácio da 2° edição
Essa nova edição sai revisada, com vários erros corrigidos e melhoria de redação em alguns
trechos. Este livro foi recebido com louvores e censuras.
De acordo com o autor, o livro é sobretudo um estudo de obras; a sua validade deve ser
encarada em função do que traz ou deixa de trazer a este respeito. E não apenas a '”introdução”
como fizeram os críticos.
Candido deixa claro que jamais afirmou a inexistência de literatura no Brasil. Cita o início
dela a partir do séc. XVI; ralas e esparsas manifestações, mas que estabelecem posições para o
futuro. Elas aumentam no séc. XVII, quando surgem escritores baianos de porte; e na primeira
metade do XVIII as Academias dão à vida literária uma primeira densidade.
O pressuposto geral do livro em relação ao problema de divisão de períodos é que a
literatura brasileira não nasceu. Ela foi se configurando no decorrer do século XVIII. Isso é
verificado pelas obras dos autores, postas em primeiro plano, desde aquela época até o último
quartel do séc. XIX.
O segundo pressuposto é relativo aos períodos do Arcadismo e Romantismo, pois se a
atitude estética os separa, a vocação histórica os aproxima, constituindo ambos um grande
movimento.
Entretanto, esse tipo de visão requer um método histórico e estético, mostrando por
exemplo, como determinados elementos da formação nacional levam o escritor a escolher e tratar
de maneira determinada alguns temas literários. Este pode ser considerado o terceiro pressuposto
relativo à atitude metodológica no sentido mais amplo. Não há qualquer pretensão de originalidade.
É uma posição crítica bastante comum. Segundo a tese universitária do autor, ele procurou mostrar
a inviabilidade da crítica determinista em geral. A obra é uma entidade autônoma no que tem de
especificamente seu. Esta precedência do estético, mesmo em estudos literários de orientação ou
natureza histórica, leva a jamais considerar a obra como produto.
Isso permitiu chegar ao quarto pressuposto fundamental do livro, referente ao papel
representado pelos dois períodos em foco.
Um dos aspectos centrais é o movimento arcádico, que ao invés de ser uma forma de
alienação, foi admiravelmente ajustada à constituição da literatura brasileira. O argumento
romântico é que os árcades fizeram literatura de empréstimo, submetendo-se a critérios estranhos à
nossa realidade. No entanto, é necessário atentar-se a duas coisas: este modo de ver foi tomado
pelos românticos aos autores estrangeiros que estudaram a literatura do Brasil. E que eles o
completavam por outro, a saber, que os árcades foram seus antepassados espirituais, e que fizeram a
literatura nacional.
O Arcadismo foi importante poque plantou de vez a literatura do Ocidente no país, graças
aos padrões universais, e que permitiram articular a atividade literária com o sistema expressivo da
civilização. Os árcades contribuíram ativamente para essa definição. Quando quiseram exprimir as
particularidades do Brasil, conseguiram elevá-las à categoria depurada dos melhores modelos. Seria
injusto inverter o raciocínio corrente e mostrar que os românticos é que poderiam ser considerados
alienadores. Os velhos temas, são os problemas fundamentais do homem, que eles preferem
considerar privilégio das velhas literaturas.
Quem escreve, contribui e se inscreve num processo histórico de elaboração nacional. Os
árcades tinham a noção mais ou menos definida de que ilustravam o país produzindo literatura; e
levaram à Europa sua mensagem. A literatura brasileira é marcada por este compromisso com a vida
nacional no seu conjunto, circunstancia que inexiste nas obras dos países de velha cultura.
As considerações históricas, longe de desvirtuarem a interpretação dos autores e dos
movimentos, podem levar a um juízo estético mais justo. Estas coisas, afirmadas através do livro,
talvez ajudassem a compreender melhor seus intuitos se tivessem sido todas sistematizadas na
introdução. Foi um erro segundo o autor, pensar que o leitor os encontraria em seu lugar. Assim,
procurou remediar isso nessa nova edição.