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Queríamos ser fortes, mas não há tolerância quando erramos ou

acertamos. Sempre fomos submissas e sempre seremos. Não importa se é


gari, garçonete, gerente de loja, ajudante de pedreiro, empresária, professora,
médica, enfermeira, lixeira. Onde está a nossa voz quando queremos dizer sim,
dizer não?. Para mim é como um “ah, tudo bem...”, ou então “claro que sim”,
com uma eterna doçura na voz trêmula com vontade de gritar “vai à merda!”.

Tudo é um treino, um jogo de paciência no qual a mulher sempre perde.

Ainda não tinha percebido como é difícil ser mulher, ter opinião, fazer o
que o seu corpo pede, fazer o que quer se quer e ser julgada pela própria
classe. Como é difícil ser mulher, mãe, filha, nora. Como é difícil dizer sim ou
não. Como é difícil mandar alguém à merda.

Fingimos ter voz e opinião, mas na verdade somos apenas idiotas


pensando que temos. Ninguém dá a mínima para a mulher.

Gostaria de ser uma das personagens de Alfred Hitchcock, forte,


determinada, intrigante, sexy, doce, amarga, fria, chata, mas o mais importante:
com voz.

Não quero um amor para sempre, ter filhos, ter cachorro, fazer almoço
aos domingos, ter religião, e apoiá-los em tudo (me refiro aos do sexo
masculino).

Quando seremos independentes? Sinto que nenhuma mulher é dona de


sua vida...ou pelo menos, não me sinto dona da minha. Sei que estamos a
mercê do acaso, mas me refiro às escolhas. Sinto-me presa, forçada pela
sociedade a ser algo que eu não sou.

E quando tomamos alguma atitude? Vou até escrever em maiúsculo:


PROSTITUTA, VADIA, VACA e por aí vai. E quando nos matam? Sim nos
matam. Porque quando uma mulher é estuprada ou assassinada pelo marido
ou namorado violento e concordamos, morremos aos poucos também. Cada
dia que passa, morre nosso direito de lutar por nossas próprias escolhas, um
mundo mais justo e digno para nós, mulheres.
Isso não é um apelo para os homens, muito pelo contrário. É para
próprias mulheres que não ligam em ter voz, para toda mulher que abaixa a
cabeça e dizem sempre SIM, que apanham e envergonhadas ou com medo se
rebaixam ainda mais.

Quando a mulher vai se escutar? Quando a mulher vai escutar seu grito
de desespero nessa sociedade machista, preconceituosa e hipócrita?

Mas, felizmente, ainda temos a falsa impressão de que tudo mudou e


que vai continuar mudando, que nunca mais vamos apanhar de novo, que
amanhã tudo vai mudar e nossa vida vai ser diferente...

Sim, somos mulheres, divinas e graciosas, donas de um amor e uma


esperança que não cabem em nosso coração.

Eu sou mulher, mas não sou divina, nem graciosa, e nem preciso dizer o
resto.

“A mulher é o negro do mundo. A mulher é a escrava dos escravos. Se ela


tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama. Se ela pensa, tu dizes que ela quer
ser homem.” John Lennon

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