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ARTIGO ARTICLE
duas revisões e uma proposta
Abstract This paper presents two revisions: one Resumo Neste artigo realizam-se duas revisões:
discusses the absorption of information technol- a primeira discute a incorporação de tecnologias
ogies in Health and Education; the other presents de informação na saúde e na educação. A segunda
a revision of technological concepts applicable to apresenta uma revisão de conceitos tecnológicos
professional healthcare education. The objectives aplicáveis na Educação na Saúde. O objetivo é
are to demonstrate the relevance of including these evidenciar a pertinência de incorporação de tec-
technologies in large-scale institutional training nologias de informação em projetos institucio-
projects for healthcare practitioners in Brazil’s nais de formação de profissionais para o Sistema
National Health System, presenting material and Único de Saúde brasileiro, em larga escala, e apre-
political devices for teaching-learning processes sentar dispositivos materiais e políticos para pro-
that foster the sharing of content, the reusability cessos de ensino-aprendizagem em saúde que fa-
of educational materials and interdisciplinarity. voreçam o compartilhamento de conteúdos, a reu-
This paper thus illustrates the possibilities of tilização de materiais educativos e a interdisci-
adopting standards and the development of learn- plinaridade. Como resultado, ilustram-se possi-
ing objects as content creation, distribution and bilidades de adoção de padrões e do desenvolvi-
management technologies. In the political sphere, mento de objetos de aprendizagem, tecnologias
institutional leadership and cooperation networks aplicáveis para a criação, distribuição e gestão de
are highlighted as key elements for clustering the conteúdos. Na dimensão política, destacam-se li-
efforts of academic institutions, training centers derança institucional e redes de cooperação como
and services for collectively building up a Health- os elementos estruturantes para a articulação de
care Education Technology base. esforços de instituições acadêmicas, centros de for-
Key words Information technology, Healthcare mação e serviços para a criação coletiva de uma
education, Standards, Learning objects base tecnológica para a Educação na Saúde.
Palavras-chave Tecnologia de informação, Edu-
cação na saúde, Padrões, Objetos de aprendiza-
1
gem
Escola Nacional de Saúde
Pública, Fundação Oswaldo
Cruz. Rua Leopoldo
Bulhões 1480/727,
Manguinhos. 21041-210
Rio de Janeiro RJ.
maria.tereza@ensp.fiocruz.br.
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Cavalcante, M. T. L. & Vasconcellos, M. M.
Não alimento nenhuma ilusão quanto a um ção de proceder a uma reorientação do ensino.
pretenso domínio possível do progresso técnico, O campo educacional, como estudado por
não se trata tanto de dominar ou prever com Struchiner4, vive um processo de reformulação
exatidão, mas sim de assumir coletivamente um favorecido pela incorporação de tecnologias de
certo número de escolhas. informação, como ensino à distância e metodo-
Pierre Levy logias de educação continuada, em que se desta-
cam a descentralização e a individualização do
processo ensino-aprendizagem. Por outro lado,
Introdução Struchiner4 destaca que, apesar da formação em
recursos humanos em saúde ser estratégica des-
Vivenciam-se hoje, no Sistema Único de Saúde de os anos 80, a formação continuada, do ponto
(SUS), iniciativas voltadas para a Educação na de vista pedagógico, tem utilizado métodos de
Saúde, que colocam na agenda dos centros de ensino reprodutivistas que conduzem à passivi-
formação e das instituições acadêmicas questões dade e à superficialidade.
como a reorientação do ensino, a reorganização A exigência de mudanças nos conteúdos e
curricular, a revisão de modalidades de oferta de projetos de formação profissional tampouco é
cursos, de práticas pedagógicas e de conteúdos. exclusiva da Saúde. Santos5 identifica nas Ciênci-
Podem ser de pronto enumeradas iniciativas as Sociais a necessidade de repensar e atualizar os
em curso ou em proposição, nos termos defini- seus conteúdos frente à transição de paradigmas
dos pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de científicos em que se exige o desenvolvimento de
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SG- um pensamento complexo e relacional e, para
TES)1, a saber: a Política de Educação Permanen- tanto, discute a formação dos cientistas sociais
te e a Formação de Formadores e de Formuladores em metodologias computacionais.
de Políticas, que visam a superação das concep- Esse cenário desafia às instituições de ensino
ções tradicionais de educação e que incorporam de saúde a:
como estratégia modalidades de educação a dis- a) posicionar-se criticamente frente à agenda
tância2 e a Rede de Ensino para a Gestão Estratégi- da educação na saúde
ca do SUS, que propõe estabelecer parcerias e b) proceder à inovação dos processos de en-
apoiar os processos formativos das diversas Es- sino-aprendizagem
colas de Saúde Pública e Instituições Públicas de c) aumentar a produção de conhecimento
Ensino Superior. sobre o uso de tecnologias de informação em
Soma-se a estas iniciativas governamentais a saúde na pesquisa, no ensino-aprendizagem e na
proposição pelo Conselho Nacional de Saúde gestão do sistema de saúde.
(CNS) da realização, em 2006, da 3ª Conferência A adoção de metodologias de compartilha-
Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação mento de conteúdos em redes de escolas pode
na Saúde, com o objetivo de estabelecer diretrizes ser um elemento estruturante da resposta a estes
para a implementação da Política Nacional de desafios. Neste artigo, ilustram-se possibilida-
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde des tecnológicas, como a adoção de padrões e do
(PNGTES). No documento3 que subsidiou o desenvolvimento de objetos de aprendizagem em
processo preparativo para Conferência, estão instituições de ensino em Saúde, ao mesmo tem-
propostas a educação permanente em saúde e a po em que se revisam recursos políticos para uma
reorientação do ensino em saúde pelo enfoque resposta coletiva, em rede, por parte de institui-
na integralidade e humanização em saúde. Iden- ções acadêmicas, centros de formação e serviços.
tifica-se a necessidade de descentralizar e disse- Duas revisões de literatura são realizadas: a
minar capacidade pedagógica no interior do se- primeira discute a incorporação de tecnologias
tor saúde, fazendo do SUS uma rede-escola3. de informação na saúde e na educação ao longo
A agenda da Conferência e a forte demanda das décadas de 90 até atualidade. São evidencia-
governamental, expressa nos programas menci- das convergências e lacunas nessa literatura e ar-
onados, colocam para os centros de formação ticula-se as produções de Informações em Saúde
em saúde questões na relação entre oferta e de- com as de Educação na Saúde no que diz respeito
manda de cursos. Se, por um lado, as institui- à incorporação de tecnologias de informação.
ções formadoras têm o desafio de repensar a es- A segunda revisão apresenta conceitos tecno-
truturação de seus conteúdos, seus processos de lógicos aplicáveis na Educação na Saúde. Em es-
planejamento e gestão, por outro, devem forta- pecial, são apresentados os conceitos de objetos
lecer sua capacidade crítica frente à recomenda- de aprendizagem, as iniciativas de padronização
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sora17. Discute a fragilização do papel da escola tuações contraditórias são consideradas germes dos
como agência de socialização e analisa alguns processos de criação19.
programas de educação à distância brasileiros Contemporânea aos estudos de Moraes 8,
que, mesmo fundamentados em teorias psico- Nunes19 baseia-se no entendimento de educação
pedagógicas inovadoras (como construtivismo, de Cury20, em que esta assume um caráter medi-
sociointeracionismo e interculturalismo), não ador propositivo em que os homens são agentes
conseguem romper tendências enraizadas na ins- históricos e não meros produtos sociais. Nunes19
tituição escolar. refere-se a Cury20 para ressaltar que a educação é
(...) a questão fundamental não estaria tanto produto humano e conservará o caráter dialético
na modalidade do ensino oferecido – se em presen- dos fenômenos existentes na estrutura social e que,
ça ou à distância, mas, sobretudo na capacidade de se os modos de produção são mediados entre os
os sistemas ensinantes inovarem quanto aos con- homens, os homens mediados podem se converter
teúdos e às metodologias de ensino, de inventarem em mediadores entre a estrutura econômica e um
novas soluções para os problemas antigos e tam- novo homem.
bém para aqueles problemas novíssimos gerados Frente ao exposto, como desenhar uma base
pelo avanço técnico nos processos de informação e tecnológica inovadora para os processos de en-
comunicação, especialmente aqueles relacionados sino-aprendizagem em saúde que favoreça o
com as novas formas de aprender17. compartilhamento de conteúdos, a reutilização
Convém reproduzir as ressalvas realizadas de materiais educativos, a interdisciplinaridade e
em 2005 por Jiménez18 às tecnologias de infor- a incorporação de diferentes discursos em Saú-
mação na educação, cuja incorporação consi- de? Quais tecnologias constituem uma possível
dera não representar uma questão metodológi- base material capaz de suportar projetos políti-
ca presumidamente neutra, concernente ao aper- cos institucionais que respondam às necessida-
feiçoamento dos procedimentos destinados à des de formação de profissionais para o SUS em
consecução de objetivos pedagógicos de currí- larga escala?
culo. Para Jiménez18, a questão central, base de Dentre os elementos fundamentais para res-
toda discussão sobre a educação, é o papel pri- ponder estas questões estão os objetos de apren-
mordial que os dispositivos pedagógicos repre- dizagem e os padrões de metadados, apresenta-
sentam nos processos de produção, reprodu- dos e discutidos a seguir.
ção e transformação da cultura dominante e
das relações de poder vinculadas a ela. O co-
mando pedagógico – próprio do que Jiménez18 Orientação a objetos
denomina Capitalismo (Disciplinário) de Redes
- responde ao desenvolvimento de lógicas de Do universo das tecnologias de informação e
dominação complexas e a estratégias de poder comunicação emergem os Objetos de Aprendi-
que cristalizam, concretizam e se instalam em zagem inspirados pelos modelos de Orientação
uma nova Escola cada vez mais permeada pelo a Objetos da Engenharia de Software.
pragmatismo capitalista. Trata-se da Escola do A Orientação a Objetos, conforme apresen-
Espetáculo e Hegemonia Tecnocapitalista.. As tada por Yourdon21, nasceu da engenharia de sof-
principais referências de Jiménez18 para esta lei- tware baseada em modelos que, por sua vez, rege-
tura são Gramsci, Baudrillard, Foucault, Berns- se pelo princípio da separação das preocupações,
tein e Debord. expresso pela construção de um modelo de aná-
Aqui retornamos quase uma década para ilus- lise separado de um modelo de projeto. Os mo-
trar que Nunes19, em 1998, ao recuperar os mar- delos de análise capturam requisitos essenciais
cos da formação de sanitaristas no Brasil nas de um domínio de problema e descrevem o com-
décadas de 70 e 80, entende o fenômeno educati- portamento desejado, independente de qualquer
vo como “objetivação da produção intelectual dos abordagem de implementação ou tecnologia es-
grupos que conformam as instituições pedagó- pecífica. Os modelos de projeto são construídos
gicas em um determinado momento, portanto, por quem possui extenso conhecimento do am-
fruto de relações sociais”. biente de implementação e mostram em detalhes
Nessas instituições se realizam as idéias peda- como um sistema específico será construído (pla-
gógicas, em torno das quais convivem, dialetica- taforma, rede, sistema operacional, banco de
mente, o caráter progressista com o conservador, o dados, interface com o usuário)21.
novo e o velho, o dominante e o dominado. As O modelo de análise orientada a objetos é
instituições pedagógicas são espaços em que as si- um esforço de abstração de um determinado
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Vale destacar que, de acordo com a ISO32 (In- Defesa dos Estados Unidos, que desenvolveu um
ternational Organization for Standardization), conjunto de modelos de referências para o com-
um padrão é um documento aprovado por um partilhamento de conteúdos, conhecido como
organismo reconhecido que provê, pelo uso comum SCORM34 (Sharable Content Object Reference
e repetitivo, regras, diretrizes ou características de Model).
produtos, processos ou serviços cuja obediência não Os modelos de referência são coleções de es-
é obrigatória. pecificações e padrões do IEEE Learning Techno-
Os padrões ISO32 e de outros grandes con- logy Standards Committee (como o padrão
sórcios internacionais, como o IEEE26, são fru- LOM26, por exemplo), do IMS Global Learning
tos de acordos e consensos voluntários entre de- Consortium35, da AICC (Aviation Industry Com-
legações nacionais e outras partes interessadas, puter-Based Training Committee)36 e da Aliança
como fornecedores, usuários, entidades de regu- Européia Ariadne37. Estes modelos garantem que
lação governamental e consumidores. Por con- os conteúdos sejam modelados de forma padro-
senso, acordam-se especificações e critérios que nizada, viabilizando assim, em larga escala, a sua
devem ser consistentemente aplicados na pro- utilização em quaisquer plataformas educacio-
dução ou na provisão dos serviços em questão32. nais, chamadas pelo SCORM de LMS (Learning
Os padrões internacionais garantem um modelo Management Systems). Uma vez modelados sob
de referência e uma linguagem tecnológica co- os parâmetros do SCORM – conteúdos e siste-
mum para o fornecimento e consumo de produ- mas educacionais na WEB – estão aptos a inter-
tos e serviços, o que facilita a transferência de cambiar objetos e funcionalidades34.
tecnologia10,11,26,32. São exemplos de padrões ado- Reunindo os padrões LOM26 (metadados de
tados na Saúde a Classificação Internacional de objetos de aprendizagem) e HL710 (trocas eletrô-
Doenças – CID10 e os padrões do Health Level nicas de informações em saúde) e apoiado nos
Seven (HL7)10, comunidade internacional de ex- modelos de referência do SCORM34, destaca-se
pertos em Saúde e Ciência da Informação que o Consórcio MedBiquitous38, fundado pela Jo-
colaboram para criar padrões para a troca, ge- hns Hopkins Medicine e por sociedades médicas
renciamento e integração de informações eletrô- de reconhecida liderança, incluindo organizações
nicas de saúde10, 33. internacionais, associações de assistência à saú-
Na última década, diversas organizações in- de, universidades, organizações comerciais e não
ternacionais disputam o protagonismo na padro- governamentais. O Consórcio Medbiquitous é
nização e na oferta de tecnologias para o desen- um exemplo concreto da conjugação de esforços
volvimento de Objetos de Aprendizagem. Os pa- interinstitucionais para a padronização, o com-
drões desenvolvidos por estas organizações bus- partilhamento de conteúdos educacionais em
cam consenso sobre quais são os metadados ne- saúde. Baseado nas recomendações do IEEE, o
cessários para descrever um objeto de aprendiza- MedBiquitous desenvolveu o Healthcare Learning
gem. Uma vez aceitos, estes padrões permitem a Object Metadata39, que provê um modo padro-
criação, o armazenamento e a recuperação de nizado de descrever atividades e recursos educa-
objetos em diversas plataformas tecnológicas. cionais em saúde.
É representativa a atuação do Learning Tech- Com um grupo de trabalho especialmente
nology Standards Committee (LTSC) do IEEE26, dedicado a desenvolver padrões para a interope-
cuja missão é desenvolver padrões técnicos para rabilidade, accessibilidade e reusabilidade de con-
a interoperação de componentes e de sistemas de teúdos de saúde em sistemas de aprendizado na
educação e treinamento em computadores. O Web, o consórcio utiliza-se ainda do padrão XML
desenvolvimento de padrões é realizado por meio (eXtended Markup Language), que torna mais
do grupo de trabalho Learning Object Metadata fácil a troca de dados estruturados pela Internet
(LOM) por uma combinação de encontros pre- e de Web Services, aplicações que possuem inter-
senciais, teleconferências e trocas em grupos de face baseadas em XML e que descrevem uma co-
discussão. O Padrão LOM26 especifica a sintaxe e leção de operações acessíveis através de rede, in-
a semântica de metadados de objetos de apren- dependentemente da tecnologia usada na imple-
dizagem e tem como foco o conjunto mínimo de mentação do serviço40. Um dos maiores benefíci-
atributos necessários para que possam ser ge- os dessa interface é a abstração dos detalhes de
renciados, localizados e avaliados. implementação do serviço, permitindo que seja
Outra iniciativa significativa em Objetos de acessado independente da plataforma de hardwa-
Aprendizagem foi realizada pelo ADL34 - Advan- re ou software na qual foi implementado.
ced Distributed Learning do Departamento de Apesar das propostas de uso generalizado de
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tos). Recorrem à Teoria do Ator Rede porque su- processo de ensino-aprendizagem (mediações
põem a existência de uma rede onde todos são tecnologia-professor-aluno) para os processos
chamados atores e não há distinção, a priori, de institucionais de pesquisa, métodos de investiga-
nenhum tipo de elemento: seres humanos, arte- ção, ensino, formação de redes e gestão. Essa
fatos tecnológicos, organizações, instituições, perspectiva acrescenta outras possibilidades à
dentre outros. Essa teoria supõe que todas as forma de pensar a modelagem dos conteúdos
redes são heterogêneas ou sociotécnicas e que, educacionais, tradicionalmente limitados a cada
portanto, não há nenhuma rede constituída so- escola, disciplina ou curso, segundo linhas pro-
mente por seres humanos ou por componentes gramáticas departamentais, expertise de profes-
tecnológicos. Isso significa que o “artefato tecno- sores e pesquisadores e demandas de programas
lógico” é também em si uma rede que inclui seres de governo.
humanos ou organizações, tão heterogênea como Deve-se considerar o desenvolvimento de
a tecnologia em prática. conteúdo e de formas de aprendizado de modo
No caso da constituição de uma base tecno- dialógico entre escolas, em operações de coorde-
lógica para a Educação na Saúde, os conceitos nação de comportamentos com outras e com si
de ator rede e de redes sociotécnicas permitem mesmas,, pelas quais se produz um mundo de ações
romper com o dilema entre a valorização exces- possíveis54. Estas possibilidades estão na base do
siva da técnica em detrimento dos processos pe- processo dialógico e consensual do estabeleci-
dagógicos e políticos e vice-versa. Sem atribuir mento de padrões e das redes em que não se pac-
a priori nenhum protagonismo, o conceito de tuam apenas uma sintaxe e uma semântica para
ator rede não subjuga uma dimensão à outra e os conteúdos, mas nos quais estão em jogo pro-
permite relações mais simétricas entre socieda- jetos políticos institucionais. A construção de um
de e tecnologia. padrão para a representação de metadados de
É precisamente nesse espaço heterogêneo da objetos de aprendizagem em saúde é um requisi-
rede sociotécnica, no qual se encontram presen- to essencial ao compartilhamento de conteúdos
tes as tecnologias de informação, que se tecem as entre instituições de ensino e serviços de saúde.
condições para uma Coletividade Científica In- A padronização exige uma formalização vo-
formacional5 - lócus de interação entre pesqui- luntária dos saberes institucionais e disciplinares
sadores e de inter-relações sociais envolvidas na e a modelagem de conteúdos exige rigoroso pro-
produção da ciência e da tecnologia. cesso de análise e abstração, com o objetivo de
No entanto, Nunes19 identifica que a rede de formalizar e tornar consensual quais elementos
relações não se processa espontaneamente e que e requisitos essenciais dos objetos podem ser re-
as redes de cooperação introduzem idéias de combinados entre diversas disciplinas, cursos e
monitoramento, aumentando a capacidade de programas. Essa técnica favorece a interdiscipli-
gestão dos seus processos internos, e, portanto, naridade e o enfoque intersubjetivo habermasia-
de recriação de suas práticas associativas. O de- no já defendido por Artmann55 que, reunindo
senvolvimento dos projetos colaborativos está conceitos de Siebeneichcler e Japiassu, define in-
associado a uma seqüência de negociações, que terdisciplinaridade como a busca da superação
começa com a problematização e envolve os ele- das fronteiras disciplinares pelo estabelecimento
mentos dos diversos grupos, dando início a uma de uma linguagem consensualmente construída
seqüência de operações de tradução, ao longo das entre os cientistas.
quais os objetos e produtos se redefinem, até cons- Do mesmo modo, o estabelecimento de gru-
tituírem o produto final53. pos e comitês interinstitucionais de padrões e
Neste sentido, sugere-se que instituições de modelagem de conteúdo, amparados em uma
ensino em saúde com processos educacionais prática argumentativa, fortalece a capacidade crí-
com base em tecnologias (presenciais ou à dis- tica frente à recomendação de proceder a uma
tância) discutam no campo institucional e políti- reorientação do ensino. A forte demanda gover-
co a presença desses recursos tecnológicos em namental, expressa nos diversos programas
suas redes. Isto porque a constituição de uma mencionados, e a oferta de cursos para a forma-
base tecnológica para a Educação na Saúde re- ção de mão-de-obra em programas específicos
quer uma apropriação coletiva de técnicas em de governo, colocam para os centros de forma-
decisões tomadas pelo conjunto de escolas, cen- ção delicadas questões na relação entre oferta e
tros de formação e instituições de ensino. demanda de cursos, em que é preciso ir além da
Trata-se de transcender a usual abordagem cena das mídias e discutir os processos sociotéc-
instrumental das tecnologias de informação no nicos implicados nestes programas (as estratégi-
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