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peloautor dotexto?
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Gehringer é um sujeito sem perfil no LinkedIn e que carrega (a maior parte do tempo
desligado) um antiquado celular cuja bateria faz durar 30 dias. Lá pelas tantas, um aluno
ergue o braço: não vale a pena sacrificar fins de semana para aumentar a chance de ser
promovido, ao menos no início da carreira? Gehringer olha o grupo de aspirantes a
cargos de gerentes. E provoca:
O ciclo dos jovens nas empresas tem sido cada vez mais curto. Conforme o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), sete em cada 10 pessoas de 15 a
24 anos saem do emprego antes de completarem um ano.
O que está faltando nessa química?
Sempre me perguntam quanto tempo se deve ficar em uma empresa, e eu digo que o
tempo ideal é a vida inteira. Se você encontra uma companhia que oferece tudo –
oportunidade de carreira, treinamento, ambiente de trabalho, salário – vai sair por quê?
Não faz sentido. O que aconteceu é que nós não criamos oportunidades de emprego em
quantidade suficiente para uma geração que foi a primeira a ter, massivamente, curso
superior no Brasil. A gente colocou no mercado de trabalho ao longo de 15 ou 20 anos
quase o triplo de formandos do que existia. Muitos desses jovens foram a primeira
pessoa da família a ter um curso superior. Quando isso acontece, vira algo grandioso,
com a expectativa de um futuro brilhante: ter o emprego que quiser, ganhar o quanto
quiser. O problema é que esses jovens passaram 14 anos de suas vidas estudando e,
quando chegaram ao mercado de trabalho, descobriram que não havia tanto emprego
bom disponível. Era preciso entrar no nível hierárquico baixo, o mesmo que alguém da
família, o pai ou o avô, teria entrado apenas com o diploma de ginásio. É claro que isso
frustra.
Talvez haja duas vertentes no mercado atual. A primeira é formada pelas pessoas que
abrem um negócio próprio. Nunca houve tanta gente empreendendo no Brasil como nos
últimos anos. Há disponibilidade de gente. E há a crise econômica, que não gera
emprego nas empresas já consolidadas. A outra vertente que percebo: os jovens
realmente perderam o medo de mudar de uma empresa para outra até encontrarem o
local que julgam ideal para trabalhar. Hoje, quem tem cinco anos de carreira já passou
por três empregos. As próprias empresas estão contratando com objetivo de curto prazo.
Se existe perspectiva de um funcionário sair em menos de um ano do trabalho, você não
vai estabelecer uma meta de três anos. Vai, isso sim, ter meta para os próximos seis
meses.
Uma coisa chamada plano de carreira, que eu ouvia muito falar nas empresas, com
planejamento para os funcionários para daqui a três ou cinco anos, pelo menos, não
existe mais. São raríssimas as companhias que mantêm planos de carreira. Se você faz
um tipo de promessa dizendo que daqui a dois ou três anos o funcionário vai ser líder ou
gerente, e não a cumpre, terá um cara descontente. A meritocracia está prevalecendo.
Quem tem mais condições de ser promovido irá crescer, e não o mais antigo da casa. As
empresas com mais visibilidade, grandes empresas nas quais todo mundo gostaria de
trabalhar, estão contratando pessoas esperando que elas produzam muito em muito
pouco tempo.
Mas isso aumenta o risco de perder os jovens depois que dão o gás inicial, não?
Aí você pega outro que faz exatamente a mesma coisa, e o trabalho continua.
Esse rodízio admitido pelas próprias empresas não é ruim para seus planos de
longo prazo?
Nenhuma empresa deixou de fazer plano de longo prazo. Os cargos chave estão
mantidos e mudam com menos frequência. A grande mudança está naquela fervura da
entrada do primeiro emprego, nas primeiras funções ainda sem nível de liderança. Os
diretores e gerentes continuam envolvidos no planejamento, sabem qual é o orçamento,
as necessidades de pessoal. É com esses que as empresas se preocupam, pagam cursos,
proporcionam viagens, mandam para subsidiárias no Exterior. E é isso que quem
começa a trabalhar espera que aconteça rapidamente, já nos primeiros seis meses de
casa. O problema é que o ¿rapidamente¿ da empresa é daqui a três anos. Essa diferença
de ¿fuso horário¿ leva o empregado a começar a mudar achando que em outra
companhia vai ser diferente.
Há uma certa tendência de os jovens pensarem assim: ¿Eu estudei, então, já entro na
empresa para observar o que está errado, porque há esse erro e, então, vou dar grandes
ideias¿. Não, não. Primeiro precisamos confiar em você. Depois que confiarmos, vamos
deixar você dar uma ideia. De preferência, com investimento zero. Não vamos comprar
um reator nuclear porque você acha uma boa. Não nos interessa se você é um gênio.
Você tem que nos dar provas de que podemos confiar em você. Como fazer isso? Se
ouvir alguma coisa, sai correndo e vai fazer. Se alguém precisar de ajuda, se ofereça. Se
precisar de ajuda, peça. Talvez tenhamos perdido um pouco isso.
Por quê?
Talvez tenhamos perdido por causa das escolas. Já não há mais o melhor e o pior aluno,
o professor não pode falar alto com o aluno porque ele se sente humilhado, não tem
mais ranking de quem é o primeiro, segundo e o último da classe. O estudante passa de
ano sem ter nota. Se a pessoa acredita que não vai ter de lidar com concorrência, está
muito enganada. Todos os colegas querem ser melhores. O mundo muda radicalmente
da escola para o trabalho. Aí a pessoa estuda, faz mestrado, doutorado, intercâmbio e
entra aos 28 anos no primeiro emprego. No primeiro dia tem de procurar terapia. Muita
gente não se acostuma com isso, acha que a empresa vai ser uma continuidade da
escola: o professor era bonzinho comigo, então o chefe não vai reclamar. O professor
não me cobrava, o chefe não vai me cobrar. Eu errava na escola, diziam que errar é
humano, mas na empresa não é tão humano assim.
Por que o senhor é cético quanto aos programas de avaliação aplicados pelas
grandes empresas?
Sou a favor das avaliações de desempenho e metas, desde que fique claro ao
funcionário, desde o começo, pelo que ele vai ser avaliado e que haja uma conversa
franca sobre os resultados. Mas o que eu vi em empresas nas quais passei é que
simplesmente havia um programa implantado porque alguém decidiu – não que a
empresa quisesse efetivamente avaliar os funcionários. Para mim, essa é uma enorme
perda de tempo. E dupla: para a empresa, que tem que preparar o programa, colocar no
computador, tocar o processo todo com prazos e distribuição, e pior ainda para quem vai
participar. O empregado acha que, se for bem avaliado, vai haver um reconhecimento,
mas no fim praticamente não há avaliação nenhuma. Colocam-se duas ou três perguntas
básicas, preenche-se, e só se fala no assunto no ano que vem, na próxima avaliação.
Então algumas avaliações viraram uma ferramenta para inglês ver, que nem as
próprias corporações dão crédito?
Cada empresa poderia responder por si mesma, mas há coisas no mercado que uma
companhia faz e a outra diz ¿que legal, vou fazer também¿, até que chega um momento
que a maioria está fazendo, e as que não fazem têm que ficar explicando ao funcionário
por que não têm análise de desempenho e plano de carreira. Então elas trazem alguém
para implantar isso para o pessoal parar de reclamar. Aí, sim, é para inglês ver. As
avaliações começam a cair no gosto dos empregados quando eles percebem que essas
avaliações de fato geram alguma coisa. Caso contrário, eles sentem que a avaliação
virou um trabalho a mais: tem que responder a um monte de pergunta que, nos últimos
três ciclos, não trouxe efeito para ninguém.
Essa euforia com as franquias não aumenta o risco de os novatos entrarem numa
fria nesse setor?
Sim. Principalmente por franquias que fazem algo que ninguém entende. O site da
ABF (Associação Brasileira de Franchising) tem o preço de todas as franquias, quanto
precisa ter de capital para entrar etc. Há franquias que custam de R$ 600 a R$ 14
milhões. Ora, é investimento para qualquer bolso. Mas é importante a pessoa se
autoavaliar e ter noção de não entrar em uma franquia que nunca ouviu falar e que não
saiba como funciona. A outra ideia é pesquisar na internet, ver o que o pessoal posta de
reclamações no YouTube. No próprio site da ABF a empresa que se registra precisa ter
toda parte documental e fiscal em dia. Sabendo disso, dá segurança.
A definição de startup é: ninguém entende isso. Você não vai fazer uma startup de uma
loja que vende bolo. Logo, a própria palavra startup já presume que é a primeira vez que
algo está sendo feito, então, se você não é do ramo, é melhor não se aventurar. É um
tipo de negócio que uns caras investem seu capital e então têm de vender para uma
Venture Capital (empresa que investe em negócios de alto risco). É um mundo à parte.
As melhores vagas cada vez mais serão direcionadas aos profissionais super-
qualificados, com pós-graduação e cursos no Exterior?
As empresas valorizam esse perfil, desde que seja super qualificado em experiência
também. Se tiver as duas coisas, vai chegar à presidência da empresa. Não adianta
querer substituir um quilo de falta de experiência por uma tonelada de currículo. A
experiência pesa, inclusive para questões como saber para que serve o chefe, como se
trata o colega chato, o outro que não usa desodorante... Há coisas que não se aprende na
escola, só convivendo. Então é o equilíbrio: estude bastante, mas comece a trabalhar
cedo para ter experiência.
Não deixa de ser um alento às gerações mais antigas, que muitas vezes temem pelos
seus empregos quando enxergam hordas de jovens qualificados chegando ao
mercado.
Isso é tipo embarcar no Titanic e levar sua própria boia: nunca se sabe o que vai
acontecer. Ser multitask, saber fazer um monte de coisa, dá possibilidade maior na
carreira, caso algo dê errado. Mas, em uma empresa, normalmente os especialistas se
dão melhor. Já lidei com pessoas que faziam tanta coisa que não sabiam no que eram
melhor. Tipo o jogador de futebol curinga, que atua em todas posições mas nunca é
titular porque sempre tem um cara melhor do que ele. Na empresa, é mais ou menos a
mesma coisa.
Qual dica o senhor dá para o jovem que começa a desbravar agora o mercado de
trabalho?
Minha recomendação é que comece a trabalhar aos 16, 17 anos, faça estágio, entre em
programa de trainee. Entre em um emprego que você não quer. Quem começa a
trabalhar com 16 anos, aos 19 já é veterano. As pessoas ficam desesperadas quando vão
fazer a primeira entrevista de emprego. Eu digo: faça com que a sua primeira entrevista
seja a décima: candidate-se a nove vagas em empresas e cargos que você não trabalharia
de jeito nenhum. Daí, quando chegar a hora da entrevista séria, você estará pronto.