Você está na página 1de 18

 

Mediação

Sumário

5.1 Objetivos
5.2 Origem e conceituação
5.3 Paradigmas
5.4 Princípios da mediação
5.5 Atitudes do mediador
5.6 Aplicabilidade da mediação
5.7 Procedimentos de mediação
5.8 Referências bibliográficas e sugestões de leitura

5.1 Objetivos

Ao final da unidade, você estará apto a:

- conceituar a mediação;
- diferenciar a mediação de outros métodos alternativos de resolução de conflitos;
- identificar as técnicas de mediação;
- conhecer os procedimentos de mediação;
- conhecer as situações às quais a mediação se aplica.

5.2 Origem e conceituação


A mediação, junto com os demais métodos alternativos de resolução de conflitos, parte do
pressuposto que existe um interesse genuíno das partes em resolver suas controvérsias de
modo pacífico, rápido e efetivo, decidindo livremente da adequação da presente ou não de um
terceiro personagem na figura de um facilitador. Esse “interesse genuíno” configura a
“autonomia da vontade”.

A mediação apresenta características semelhantes à conciliação, com a diferença situada nas


atribuições do facilitador – o mediador ou conciliador, respectivamente. O mediador não deve
propor às partes a solução para conflito, apenas intermediando o diálogo na busca de uma
solução consensual, enquanto o conciliador pode propor a solução, o que não significa que
a proposta seja obrigatoriamente aceita (nesta hipótese, a autonomia da vontade seria lesada).

A institucionalização da mediação no âmbito do Judiciário, que se configura quando a solução


do conflito é para ela direcionada, seja antes da instauração do processo judicial, seja após seu
início, depende da criação de uma estrutura adequada. Essa estrutura é constituída pela
definição de parâmetros de funcionamento, regulação e disponibilidade de recursos financeiros
e materiais que possibilitem sua implementação.

No Brasil contemporâneo, a institucionalização da mediação, juntamente com a conciliação,


ocorreu de modo sistemático com a criação da “Política Nacional de Tratamento adequado dos
Conflitos de Interesses no âmbito do Judiciário”, em novembro de 2010, pela resolução n° 125,
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Por essa resolução, o Judiciário é protagonista na
efetiva e eficaz implementação da mediação como método alternativo de resolução de
conflitos.

Mediação é o procedimento autocompositivo pelo qual duas ou mais partes, com auxílio de um
terceiro personagem (o mediador) treinado para a função, imparcial, independente e livremente
aceito, explicam as razões reais ou imaginadas do conflito, são ouvidas e questionadas,
dialogam e buscam identificar interesses comuns no objetivo de adotarem uma solução
adequada e duradoura para o conflito. O mediador não tem poder de decisão e nem
ascendência hierárquica sobre as partes.

5.3 Paradigmas
 

“Num processo formal, instaurado sob a garantia do contraditório, o autor deve expor todos os
argumentos que sustentam o seu direito na petição inicial, bem como indicar as provas que
pretende produzir. Depois de constituída a relação processual não pode, sem a concordância
do réu, formular novos pedidos. Da mesma forma, na peça de bloqueio deve o réu rechaçar
todas as alegações do autor, e indicar as provas que contraporá. Isso leva a que se formule
pedidos além do necessário e se formule resposta acima do razoável, para, no processo
dialético, se chegar a uma solução mais satisfatória.
Como consequência lógica de tal princípio tem-se o acirramento de posições, pedidos
excessivos, atribuição de culpa, descolamento de reais interesses. É o conceito legal trazido no
CPC no art. 219: ‘A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a
coisa’.
Já na justiça autocompositiva, a fluidez do meio empregado favorece a construção continuada
do objeto da disputa, sob o aspecto objetivo e sob o aspecto subjetivo. O foco se faz nos
interesses, que podem ser alterados e descobertos pelas partes durante o processo de
construção da solução pactuada” (NETO, 2011, p. 3-4).

A mediação, juntamente com a conciliação, é reconhecida como atividade jurisdicional pelo


Conselho Nacional de Justiça e, para induzir sua adoção como método alternativo de resolução
de conflitos, o art. 6º, III, da Resolução 125/2010, determina que “as atividades relacionadas à
conciliação,mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos sejam
consideradas nas promoções e remoções de magistrados pelo critério do merecimento”. Além
disso, na mesma resolução (art. 6º, V), o CNJ incentiva a “cooperação dos órgãos públicos
competentes e das instituições públicas e privadas da área de ensino, para a criação de
disciplinas que propiciem o surgimento da cultura da solução pacífica dos conflitos, de
modo a assegurar que, nas Escolas da Magistratura, haja módulo voltado aos métodos
consensuais de solução de conflitos, no curso de iniciação funcional e no curso de
aperfeiçoamento” (sem grifo no original).

5.4 Princípios da mediação


Talvez residam nos princípios intrínsecos (ou filosóficos) da mediação sua diferenciação em
relação aos demais métodos alternativos de resolução de conflitos. Em tese de doutorado,
Gabbay assim escreve (GABBAY, 2011, p. 57-58):
“O mediador deve ter em mente que toda relação humana é plena de tensões e que nem o
conflito pode ser definitivamente resolvido, nem isso é desejável, pois a conflituosidade
(mantida, é claro, dentro de certos limites) é requisito e não empecilho a uma convivência
saudável. Por isso, a função da mediação é transformar o modo como as partes percebem
os seus conflitos, de forma a criar uma solução em que as partes sejam capazes de lidar
autonomamente com a conflituosidade inerente à sua relação, no presente e no futuro.
[…] A mediação transformativa ajuda as partes a decidirem por elas mesmas, e a terem suas
próprias vozes, com base no empoderamento de si e no reconhecimento do outro, ainda
que precisem aprender a viver com o conflito e não com a sua solução […]. O acordo não é o
único bom resultado possível. Esta é uma escolha que as partes podem ou não fazer” (sem
grifos no original).

“Notou-se que a conciliação tende a lidar com um volume maior de casos do que a
mediação, podendo atuar na esfera das disputas e nos limites do objeto do processo judicial,
com um procedimento mais simples, voltado ao acordo, e sem que a relação entre as partes
tenha que ser continuada. Já a mediação trabalha mais profundamente as facetas do conflito e
os interesses das partes que estão por trás das disputas, estando voltada a relações
continuadas, com um processo que demanda mais tempo e que não tem o acordo como meta,
mas apenas como um dos resultados possíveis.” (GABBAY, 2011, p 82 – sem grifo no original).

5.5 Atitudes do mediador


A relevância da mediação, juntamente com a conciliação e da figura do mediador (e do
conciliador), adquiriu uma importância de tal envergadura entre os métodos alternativos de
resolução de conflitos que o Conselho Nacional de Justiça editou a resolução 125/2010 que
estabelece o Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais, a seguir reproduzido na
íntegra (fonte: http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/1077812/cod-etica-mediador-
 

conciliador.pdf - consulta em 27/07/2013).

ANEXO III – RESOLUÇÃO 125/2010 – CNJ

CÓDIGO DE ÉTICA DE CONCILIADORES E MEDIADORES JUDICIAIS

Introdução
O Conselho Nacional de Justiça, a fim de assegurar o desenvolvimento da Política
Pública de tratamento adequado dos conflitos e a qualidade dos serviços de conciliação e
mediação enquanto instrumentos efetivos de pacificação social e de prevenção de litígios,
institui o Código de Ética, norteado por princípios que formam a consciência dos terceiros
facilitadores, como profissionais, e representam imperativos de sua conduta.

Dos princípios e garantias da conciliação e mediação judiciais


Artigo 1º São princípios fundamentais que regem a atuação de conciliadores e mediadores
judiciais: confidencialidade, competência, imparcialidade, neutralidade, independência e
autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes.

§1º Confidencialidade – Dever de manter sigilo sobre todas as informações obtidas na sessão,
salvo autorização expressa das partes, violação à ordem pública ou às leis vigentes, não
podendo ser testemunha do caso, nem atuar como advogado dos envolvidos, em qualquer
hipótese;

§2º Competência – Dever de possuir qualificação que o habilite à atuação judicial, com
capacitação na forma desta Resolução, observada a reciclagem periódica obrigatória para
formação continuada;

§3º Imparcialidade – Dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou preconceito,


assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado do trabalho,
compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais aceitando qualquer espécie de
favor ou presente;

§4º Neutralidade – Dever de manter equidistância das partes, respeitando seus pontos de vista,
com atribuição de igual valor a cada um deles;

§5º Independência e autonomia - Dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer pressão
interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão se ausentes
as condições necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo obrigação de
redigir acordo ilegal ou inexequível;

§6º Respeito à ordem pública e às leis vigentes – Dever de velar para que eventual acordo
entre os envolvidos não viole a ordem pública, nem contrarie as leis vigentes.

Das regras que regem o procedimento de conciliação/mediação

Art. 2º As regras que regem o procedimento da conciliação/mediação são normas de conduta a


serem observadas pelos conciliadores/mediadores para seu bom desenvolvimento, permitindo
que haja o engajamento dos envolvidos, com vistas à sua pacificação e ao comprometimento
com eventual acordo obtido, sendo elas:

§1º Informação - Dever de esclarecer os envolvidos sobre o método de trabalho a ser


empregado, apresentando-o de forma completa, clara e precisa, informando sobre os princípios
deontológicos referidos no capítulo I, as regras de conduta e as etapas do processo.

§2º Autonomia da vontade – Dever de respeitar os diferentes pontos de vista dos envolvidos,
assegurando-lhes que cheguem a uma decisão voluntária e não coercitiva, com liberdade para
tomar as próprias decisões durante ou ao final do processo, podendo inclusive interrompê-lo a
qualquer momento.
 

§3º Ausência de obrigação de resultado – Dever de não forçar um acordo e de não tomar
decisões pelos envolvidos, podendo, quando muito, no caso da conciliação, criar opções, que
podem ou não ser acolhidas por eles.

§4º Desvinculação da profissão de origem – Dever de esclarecer aos envolvidos que atua
desvinculado de sua profissão de origem, informando que, caso seja necessária orientação ou
aconselhamento afetos a qualquer área do conhecimento poderá ser convocado para a sessão
o profissional respectivo, desde que com o consentimento de todos.

§4º Teste de realidade – Dever de assegurar que os envolvidos, ao chegarem a um acordo,


compreendam perfeitamente suas disposições, que devem ser exequíveis, gerando o
comprometimento com seu cumprimento.

Das responsabilidades e sanções do conciliador/mediador


Art. 3º Apenas poderão exercer suas funções perante o Poder Judiciário conciliadores e
mediadores devidamente capacitados e cadastrados pelos tribunais, aos quais competirá
regulamentar o processo de inclusão e exclusão no respectivo cadastro.

Art. 4º O conciliador/mediador deve exercer sua função com lisura, respeitando os princípios e
regras deste Código, assinando, para tanto, no início do exercício, termo de compromisso e
submetendo-se às orientações do juiz coordenador da unidade a que vinculado.

Art. 5º Aplicam-se aos conciliadores/mediadores os mesmos motivos de impedimento e


suspeição dos juízes, devendo, quando constatados, serem informados aos envolvidos, com a
interrupção da sessão e sua substituição.

Art. 6º. No caso de impossibilidade temporária do exercício da função, o conciliador/mediador


deverá informar com antecedência ao responsável para que seja providenciada sua
substituição na condução das sessões.

Art. 7º. O conciliador/mediador fica absolutamente impedido de prestar serviços profissionais,


de qualquer natureza, pelo prazo de dois anos, aos envolvidos em processo de
conciliação/mediação sob sua condução.

Art. 8º. O descumprimento dos princípios e regras estabelecidos neste Código, bem como a
condenação definitiva em processo criminal, resultará na exclusão do conciliador/mediador do
respectivo cadastro e no impedimento para atuar nesta função em qualquer outro órgão do
Poder Judiciário nacional.

Parágrafo único – Qualquer pessoa que venha a ter conhecimento de conduta inadequada por
parte do conciliador/mediador poderá representar ao Juiz Coordenador a fim de que sejam
adotadas as providências cabíveis.

5.6 Aplicabilidade da mediação


A Resolução n° 125, de 29 de novembro de 2010, do Conselho Nacional de Justiça, no Anexo
II, determina, no Art. 7°, IV, a criação de Centros Judiciários de Solução de Conflitos e
Cidadania que “concentrarão a realização das sessões de conciliação e mediação que estejam
a cargo de conciliadores e mediadores dos órgãos por eles abrangidos” e indica os tipos de
conflitos abordados pela mediação, divididos em conflitos pré-processuais e processuais:

1) Setor de solução de conflitos pré-processual: o setor pré-processual poderá recepcionar


casos que versem sobre direitos disponíveis em matéria cível, de família, previdenciária e da
competência dos Juizados Especiais, que serão encaminhados para a conciliação, a mediação
ou outro método de solução consensual de conflitos disponível.
O interessado poderá comparecer pessoalmente ou enviar pretensão via e-mail com os dados
essenciais e carta convite será enviada à parte contrária, informando a data, hora e local da
sessão de conciliação ou mediação.

2) Setor de solução de conflitos processual: este setor receberá processos já distribuídos e


 

despachados pelos magistrados, que indicarão o método de solução de conflitos a ser seguido,
retornando sempre ao órgão de origem, após a sessão, obtido ou não o acordo, para extinção
do processo ou prosseguimento dos trâmites processuais normais.

Na página sobre mediação do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul


(http://www.tjrs.jus.br/site/processos/conciliacao/mediacao.html - consulta em 27/07/2013), em
resposta a uma indagação sobre a identificação dos conflitos passíveis de mediação, lê-se:

Qualquer conflito ou desentendimento pode ser mediado, desde que não haja perigo iminente e
nem ameaças sérias entre as partes.
A mediação, por restabelecer um canal de diálogo, é recomendada em conflitos de duração
continuada. Assim, são passíveis de mediação processos que envolvam:

- guarda e visita de filhos;


- pensão alimentícia, divórcio, divisão de bens;
- sucessão;
- dificuldade de convivência entre parentes;
- cuidados com idosos;
- questões de vizinhança e condomínios;
- ações possessórias.

Eventualmente, podem ser objeto de mediação relações, envolvendo direitos do consumidor,


negócios e contratos entre particulares e ações de indenização.

5.7 Procedimentos da mediação


A Resolução n° 125, de 29 de novembro de 2010, do Conselho Nacional de Justiça, apresenta
seção própria sobre as regras de procedimentos para a conciliação e mediação, que são a
seguir transcritas:

Das regras que regem o procedimento de conciliação/mediação


Art. 2º As regras que regem o procedimento da conciliação/mediação são normas de conduta a
serem observadas pelos conciliadores/mediadores para seu bom desenvolvimento, permitindo
que haja o engajamento dos envolvidos, com vistas à sua pacificação e ao comprometimento
com eventual acordo obtido, sendo elas:

§1º Informação - Dever de esclarecer os envolvidos sobre o método de trabalho a ser


empregado, apresentando-o de forma completa, clara e precisa, informando sobre os princípios
deontológicos referidos no capítulo I, as regras de conduta e as etapas do processo.

§2º Autonomia da vontade – Dever de respeitar os diferentes pontos de vista dos envolvidos,
assegurando-lhes que cheguem a uma decisão voluntária e não coercitiva, com liberdade para
tomar as próprias decisões durante ou ao final do processo, podendo inclusive interrompê-lo a
qualquer momento.

§3º Ausência de obrigação de resultado – Dever de não forçar um acordo e de não tomar
decisões pelos envolvidos, podendo, quando muito, no caso da conciliação, criar opções, que
podem ou não ser acolhidas por eles.

§4º. Desvinculação da profissão de origem – Dever de esclarecer aos envolvidos que atua
desvinculado de sua profissão de origem, informando que, caso seja necessária orientação ou
aconselhamento afetos a qualquer área do conhecimento poderá ser convocado para a sessão
o profissional respectivo, desde que com o consentimento de todos.

§4º. Teste de realidade – Dever de assegurar que os envolvidos, ao chegarem a um acordo,


compreendam perfeitamente suas disposições, que devem ser exequíveis, gerando o
comprometimento com seu cumprimento.

5.8 Referências bibliográficas e sugestões de leitura


 

GABBAY, Daniela Monteiro. Mediação e Judiciário. Condições necessárias para a


institucionalização dos meios autocompositivos de solução de conflitos. São Paulo: Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo, tese de doutorado, 2011. Disponível
em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2137/tde-24042012-141447/pt-br.php. Consulta
em 25/07/2013.

NETO, Joaquim Domingos Almeida. A prática da Mediação em contexto Judiciário: Busca de


Meios Adequados de Resolução de Disputas. Rio de Janeiro: TJRJ, 2011. Disponível
em http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/1077863/a-pratica-da-mediacao-em-contexto-
judiciario.pdf. Consulta em 27/07/2013.
RESOLUÇÃO 125/2010 do CNJ. Disponível
em http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/1b991fa1-3a3c-494b-809b-6745aad6209c.
Consulta em 27/07/2013.

VASCONCELOS, Carlos Eduardo. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. São Paulo:


Método, 2008. Disponível em http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/1077863/livro-mediacao-
conflitos.pdf. Consulta em 27/07/2013.
 

Arbitragem

Sumário

6.1 Objetivos
6.2 Origem e conceituação
6.3 Paradigmas
6.4 Princípios da arbitragem
6.5 Atitudes do árbitro
6.6 Aplicabilidade da arbitragem
6.7 Procedimentos de arbitragem
6.8 Referências bibliográficas e sugestões de leitura

6.1 Objetivos
Ao final da unidade, você estará apto a:

- conceituar a arbitragem;
- diferenciar a arbitragem de outros métodos alternativos de resolução de conflitos;
- identificar as técnicas de arbitragem;
- conhecer os procedimentos de arbitragem;
- conhecer as situações às quais a arbitragem se aplica.

6.2 Origem e conceituação


Inicialmente, convém relembrar dois conceitos importantes no contexto dos métodos
alternativos de resolução de conflitos, que são as técnicas autocompositivas e
heterocompositivas na identificação de uma solução racional e adequada para a disputa.
Adicionalmente, a diferenciação entre “regras de direito” e “regras de equidade” torna-se
necessária.

As técnicas autocompositivas fundamentam-se na participação espontânea e ativa das partes,


cabendo a elas, em primeiro lugar, buscar o entendimento e solução para o conflito. A figura de
um terceiro elemento visa facilitar esse entendimento e elaboração de soluções possíveis,
sendo dispensável, como no caso de negociação direta entre as partes.

As técnicas heterocompositivas podem se apoiar na participação espontânea e ativa das partes


que, idealmente, é o comportamento desejável, em especial na arbitragem, ou na participação
coercitiva (a ocorrência de revelia, no processo judicial, é exemplo de participação coercitiva do
demandado. Para a arbitragem, ver observações ao final deste tópico).

Na técnica heterocompositiva, um terceiro ator, livremente escolhido pelas partes no caso da


arbitragem ou imposto pelo Estado no caso de processos judiciais, conduz o conflito e detém o
poder de decidir e sua decisão vincula as partes ao cumprimento dos termos expostos na
sentença.

Regras de direito são os regramentos explicitamente expressos na legislação ordinária, que


determinam formas, tempo e lugar dos procedimentos judiciais. Apresentam resultados de
soma zero, em que, nos contenciosos judiciais, a parte vencedora ganha na exata medida em
que a parte derrotada perde.

Regras de equidade são princípios que suplementam os regramentos explicitamente expressos


na legislação ordinária e que procuram corrigir possíveis efeitos nocivos derivados da imediata
aplicação dessas regras. Apresentam resultados de soma maior que zero em que, nas
disputas, a sentença exprime resultados que atendem equilibradamente os interesses das
partes.

Enquanto a negociação, a conciliação e a mediação baseiam-se na autocomposição como


técnica para definição de uma solução para o conflito de interesses, a arbitragem é técnica
 

heterocompositiva em que a sentença proferida pelo árbitro é tão vinculante quanto a sentença
proferida por um juiz. A particularidade da sentença arbitral é que, se não cumprida, é
necessário apelar aos tribunais para a implementação de atos que resultem em constrição no
patrimônio da parte inadimplente (cumprimento da sentença).

A Lei de Arbitragem, n° 9.307/96, estabelece as condições e requisitos para a arbitragem no


Brasil e equipara a sentença arbitral à sentença judicial, como tacitamente explícito nos
seguintes artigos:

Art. 17. Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, ficam
equiparados aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal.

Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso
ou a homologação pelo Poder Judiciário

Algumas brechas para postergar o cumprimento da sentença presentes na Lei 9.307/96 foram
sanadas pela Lei 11.232/2005, afastando a possibilidade das sentenças arbitrais serem
consideradas como parciais ao ajustá-las ao devido processo legal (para uma visão completa
das alterações promovidas pela Lei 11.232/2005, ver Lei 11.232/05 comentada[LOPES, 2013]).

Um forte incentivo à adoção da arbitragem no Brasil decorre da maior inserção do país no


intercâmbio econômico internacional, em que esse método se define como preferencial na
resolução de possíveis controvérsias por, em larga escala, evitar particulares das legislações
de cada país. Tal argumento está claro nos primeiros artigos da Lei de Arbitragem:

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios
relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes.

§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na


arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.

§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos
princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.

Observações: Se, na arbitragem, uma das partes recusar-se a participar espontaneamente na


solução de conflito, a tendência é a ação migrar para o ambiente judicial. A Lei 9.307/96,
estabelece:

Art. 6º Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a parte interessada
manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via postal ou por outro
meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, convocando-a para,
em dia, hora e local certos, firmar o compromisso arbitral.

Parágrafo único. Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo, recusar-se a


firmar o compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda de que trata o art. 7º
desta Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, originariamente, tocaria o julgamento da
causa (sem grifo no original).

Art. 7º Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da


arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer em
juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal fim.

[…]

Art. 22 […]

§ 3º A revelia da parte não impedirá que seja proferida a sentença arbitral.


 

A Arbitragem é método heterocompositivo e alternativo de resoluções de conflitos em que um


ou mais árbitros, com atribuições definidas em contrato privado e sem intervenção estatal,
julgam e decidem conflitos de interesses e a decisão final (sentença) assume a mesma eficácia
da sentença judicial (título executivo judicial).

6.3 Paradigmas
A arbitragem é método alternativo e adversarial de resolução de conflitos, predominando a
autonomia e vontade das partes na sua escolha para solução de possíveis conflitos. Um
terceiro ator, o árbitro, decide qual a solução adequada para o caso e emite uma sentença, que
deve necessariamente conter os requisitos elencados no art. 26 da Lei nº, 9.307/96. Os efeitos
da sentença incidem sobre direitos patrimoniais disponíveis, de acordo com o artigo 1º da
mesma lei.

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios
relativos a direitos patrimoniais disponíveis. (nenhum dos grifos inclusos nesta transcrição da
Lei existem no original, tendo sido inclusos por razões didáticas)
Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral
mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o
compromisso arbitral.

[…]

Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio;


II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito,
mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por equidade;
III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submetidas e
estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso;
IV - a data e o lugar em que foi proferida.

Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os árbitros.
Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder
ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.

Comparativamente aos outros métodos alternativos de resolução de conflitos, a arbitragem é o


único que possui regramento disposto em lei específica, denominada Lei de Arbitragem n.
9.307/96, de 23 de setembro de 1996. A negociação fundamenta-se nos princípios gerais do
Direito, a mediação possui um projeto de lei (4827/1988) e, juntamente com a conciliação,
aparece em diversos artigos do Código de Processo Civil, em grande parte decorrentes da
Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

6.4 Princípios da arbitragem


Inicialmente, dois conceitos devem ser estabelecidos: cláusula arbitral e compromisso
arbitral.
A cláusula arbitral, ou cláusula compromissória, é a convenção em que as partes, por contrato,
comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a ocorrer no decurso de
suas relações negociais referentes a esse contrato. É cláusula compromisso, necessariamente
escrita, e dela não poderá a parte esquivar-se em razão do princípio “pacta sunt servanda” (art.
4°, da Lei 9.307/96).
A cláusula arbitral é autônoma em relação ao contrato, de modo que, ainda que ocorram
nulidade ou outros vícios, estes não anulam, necessariamente, a cláusula compromissória (art.
8°).
A cláusula arbitral é pacto obrigatório em contratos internacionais, civis, mercantis, e em
negócios unilaterais em que se estabelece que, ocorrendo divergência entre os interessados
na condução do negócio, estes deverão lançar mão do juízo arbitral.
O compromisso arbitral é a convenção bilateral pela qual as partes renunciam à jurisdição
estatal e obrigam-se a submeter suas controvérsias às decisões de árbitros por elas indicados
 

(art. 9° da Lei 9.307/96).

A arbitragem é regulada, em sua gênese, por três princípios:


1 - autonomia da vontade das partes;
2 - condução do processo por um árbitro imparcial consensualmente escolhido;
3 - contraditório com igualdade das partes (oportunidade igual para as partes sustentarem suas
razões por intermédio de provas aptas a influírem na formação da convicção do árbitro).

Quanto à forma, apresenta similaridades com o processo estatal, as denominadas fases


processuais.
Os princípios gerais do Direito, como o devido processo legal (os atos praticados não são
aleatórios ou casuístas, mas seguem sequência pré-definida) e a tutela dos direitos
(possibilidade das partes defenderem juridicamente seus interesses) devem, explícita ou
implicitamente, nortear a prática da arbitragem. Além disso, o árbitro pode guiar-se, em suas
decisões, nas regras do direito nacional ou internacionais, na equidade, nos usos e costumes,
nas regras de comércio, nas regras corporativas (menos abrangentes que as regras de
comércio), além das regras convencionadas pelas partes.

A decisão arbitral tem início no momento de aceitação do árbitro ou árbitros (Lei 9.307/1996,
art. 19) e a sentença, com prazo máximo de seis meses para ser proferida, a menos que
convencionado diferentemente pelas partes (art. 23), finda o procedimento arbitral e deve ser
escrita (art. 24). O art. 26 da Lei de Arbitragem, já exposto anteriormente em “paradigmas”,
detalha os requisitos a serem preenchidos pela sentença.

“A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença
proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo”
(art. 31).

Condições que tornam nula a sentença arbitral (art. 32 da Lei de Arbitragem):


1 - for nulo o compromisso;
2 - emanar de quem não pode ser árbitro;
3 - não contiver os requisitos do art. 26 da Lei de Arbitragem;
4 - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;
5 - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem;
6 - ser comprovadamente proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;
7 - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, III, da Lei de Arbitragem;
8 - forem desrespeitados os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da
imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento.

Finalizando, uma sentença arbitral estrangeira poderá ser reconhecida no Brasil, desde que
obtenha sua homologação (arts. 34 a 40).

6.5 Atitudes do árbitro


O Capítulo III da Lei de Arbitragem (artigos 13 à 18) regulam a figura do árbitro. O art. 13
estabelece que qualquer pessoa capaz e que goze da confiança das partes pode ser árbitro.

O árbitro sujeita-se às mesmas situações de impedimento do Juiz togado (art. 14 da Lei de


Arbitragem) e deve “agir com imparcialidade, independência, competência, diligência e
discrição” (Art. 13, § 6º).

Imparcialidade significa tratamento igualitário às partes, sem privilégios e é consequência da


confiança nele depositada. Deve agir eticamente, sem deixar que objetivos pessoais interfiram
no curso do processo (independência), bem como valer-se de critérios técnicos, sistemáticos e
objetivos (competência e diligência) para tomada de decisões. A discrição significa o requisito
de que divulgar ou compartilhar indevidamente informações a que venha a ter acesso no
desempenho de sua função.

O Art. 14 da Lei de Arbitragem estabelece que “Estão impedidos de funcionar como árbitros as
 

pessoas que tenham, com as partes ou com o litígio que lhes for submetido, algumas das
relações que caracterizam os casos de impedimento ou suspeição de juízes, aplicando-se-lhes,
no que couber, os mesmos deveres e responsabilidades, conforme previsto no Código de
Processo Civil”. O parágrafo 1º desse artigo destaca explicitamente uma questão de natureza
ética quanto aos árbitros: “As pessoas indicadas para funcionarem como árbitros têm o dever
de revelar, antes da aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto às
suas imparcialidades e independências”.

6.6 Aplicabilidade da arbitragem


O artigo 1° da Lei de Arbitragem define a área de aplicação da arbitragem: direitos patrimoniais
disponíveis.

Ronaldo Benevenuti (BENEVENUTI, 2010, p. 36-39), em dissertação sobre vantagens e


desvantagens da adoção da arbitragem como método alternativo de resolução de conflitos na
construção civil, enumera alguns tópicos genéricos que sistematizam, de modo geral, as
diferenças entre este método e judicial, desde que devidamente observados os requisitos para
implementação da arbitragem constantes no art. 26 da Lei 9.307/1996 e já descritos
anteriormente em “paradigmas”:

1) O processo judicial é moroso em decorrência do acúmulo de processos e da forma


ritualista de suas conduções. A arbitragem é mais rápida, pois inexistem os ritos do processo
judicial e a quantidade de regras é reduzida ao mínimo indispensável;
2) O processo judicial é oneroso, pois envolve custas processuais, honorários advocatícios,
custas periciais, além de perdas ocorridas no desenrolar de processos que duram anos. A
arbitragem apresenta custos menores que o processo judicial, principalmente em função do
menor tempo de duração e da possibilidade de contratos de prestação de serviços de longa
duração com as instituições que a desenvolvem (o contrato não está afeito a uma demanda em
específico, mas integra a estrutura administrativa da empresa).
3) O processo judicial é burocrático, pleno de formalidades que possibilitam à parte derrotada
postergar por anos o cumprimento da sentença. A arbitragem é flexível, pois as partes decidem
os termos da arbitragem (número de árbitros, local, prazo e instituição que dirigirá o processo.
Deve ser considerado, ainda, que na arbitragem existe uma única instância, sem possibilidade
sucessivos recursos às instâncias superiores como na Justiça Estatal;
4) O processo judicial é público e informações potencialmente danosas às imagens e
credibilidades das partes, muitas vezes descontextualizadas, podem receber divulgação
indesejada. A arbitragem é sigilosa (privada e discreta), preservando a imagem das empresas
e a divulgação de informações julgadas estratégicas.
5) Juízes não são especialistas em todas as áreas de disputas e dependem, muitas vezes, de
peritos e podem, de modo não intencional, ser induzidos ao erro pela falta de experiência no
assunto. A arbitragem permite decisões com mais qualidade, pois o árbitro é especialista no
assunto afeito à disputa.
6) O processo judicial é impositivo, com a impessoalidade na figura do Juiz e as regras de
condução do processo estabelecidas por um código abrangente e genérico, que é o Código de
Processo Civil. Na arbitragem, as partes elegem as cláusulas arbitrais, os árbitros e a
instituição de arbitragem em comum acordo, propiciando soluções de melhor qualidade aos
seus interesses.
7) No processo judicial, a sentença apresenta soma zero, em que a parte vencedora ganha na
mesma proporção em que a parte derrotada perde. Na arbitragem, a solução pode ser
negociada, tornando a sentença com soma maior que zero (ambas as partes consideram o
resultado satisfatório).

6.7 Procedimentos da arbitragem


Os procedimentos da arbitragem estão descritos nos artigos 19 a 22 da Lei de Arbitragem.
Merece destaque o artigo 21, que explicitamente regula como os procedimentos formais
podem ser estabelecidos e cita os princípios necessariamente obedecidos no desenvolvimento
da arbitragem. Merece menção especial o § 4° que, a exemplo do processo judicial, vincula o
árbitro à tentativa de conciliação entre as partes.
 

Art. 21. A arbitragem obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na convenção de


arbitragem, que poderá reportar-se às regras de um órgão arbitral institucional ou entidade
especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao próprio árbitro, ou ao tribunal arbitral,
regular o procedimento.

§ 1º Não havendo estipulação acerca do procedimento, caberá ao árbitro ou ao tribunal


arbitral discipliná-lo.
§ 2º Serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do contraditório, da
igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento.
§ 3º As partes poderão postular por intermédio de advogado, respeitada, sempre, a faculdade
de designar quem as represente ou assista no procedimento arbitral.
§ 4º Competirá ao árbitro ou ao tribunal arbitral, no início do procedimento, tentar a
conciliação das partes [...]

O art. 22 e parágrafos tratam da tomada de depoimentos das partes, ouvidas de testemunhas e


produção das provas que se fizerem necessárias:

Art. 22. Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes, ouvir
testemunhas e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar necessárias,
mediante requerimento das partes ou de ofício

6.8 Referências bibliográficas e sugestões de leitura


BENVENUTI, Ronaldo. Utilização da arbitragem como forma de solução de disputas por
empresas construtoras. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2010.
Disponível em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-18082010-
161302/publico/Dissertacao_Ronaldo_Benvenuti.pdf. Consulta em 29/07/2013.

LOPES, Rénan Kfuri. A Lei n. 11.232/2.005 comentada. Disponível em


http://www.rkladvocacia.com/arquivos/artigos/RKL_ARTIGO_LEI%2011.232%20COMENTADA.
pdf. Consulta em 29/07/2013.
 

Arbitragem, direito e globalização

Sumário

7.1 Objetivos
7.2 Significados e alcances da globalização
7.3 Globalização e direito
7.4 Arbitragem e globalização
7.5 Referências bibliográficas e sugestões de leitura

7.1 Objetivos
Ao final da unidade, você estará apto a:

- conceituar a minimamente o fenômeno da globalização;


- entender os efeitos da globalização sobre as práticas nacionais;
- entender as influências e os efeitos da globalização no Direito;
- entender as relações da arbitragem com o Direito e a globalização.

7.2 Significados e alcances da globalização


Concepções de cidadania não existem apenas como referenciais teóricos, mas encontram-se
legitimadas em textos constitucionais, como é o caso da atual Constituição Federal que,
explicitamente, cita a cidadania como fundamento da República (Art. 1°, inciso II) e, no Título II
– Dos Direitos e Garantias Fundamentais, elenca de modo não conclusivo, os direitos tutelados
pelo Estado – e, embora não seja formalmente definido o conceito de cidadania, as diferentes
constituições nacionais estabelecem regras gerais de comportamentos para seus cidadãos e
elencam os direitos necessárias para que a vida em sociedade transcorra em ambiente
idealmente harmônico e pacífico.

Os direitos constitucionalmente estabelecidos decorrem de fatores históricos, filosóficos,


culturais e econômicos. Exemplo de elemento histórico na Constituição Brasileira encontra-se
no art. 242, § 2º - “O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na
órbita federal” (que outro sentido, além da direta responsabilização pela preservação de um
monumento histórico, teria essa declaração para ser incluída no texto constitucional?). Já os
elementos de ordem econômica existem em profusão e são justificados pelo modelo político e
social predominante em quase todas as sociedades contemporâneas, derivado de relações de
mercado.

É no âmbito da positivação dos direitos que os princípios constitucionais se chocam com os


princípios dominantes na esfera do comércio internacional e, por consequência, da
globalização de mercados.

Globalização é o processo de interação e integração entre consumidores, organizações


comerciais ou não e governos de diferentes nações. Esse processo apoia-se fortemente no
incremento do comércio internacional e na transnacionalização de investimentos efetuados em
“tempo real”, graças aos rápidos avanços experimentados pela tecnologia da informação e
comunicação. Este processo afeta o meio ambiente, a cultura e o sistema político das nações,
mas é na área econômica que é melhor percebido e na área dos direitos individuais e coletivos
que causa maiores controvérsias.

As organizações globais são fortemente dependentes da tecnologia da informação e


comunicação (TIC), tanto em termos organizacionais e gerenciais quanto nas modernas formas
de produção de bens e serviços e na distribuição destes em nível global. A consequência
ampla do emprego das TICs é a união dos diversos mercados nacionais em um único mercado
mundial – o mercado global. Por exercerem considerável influência econômica e organizacional
no mercado global, convencionou-se chamar as nações produtoras tecnologicamente mais
 

desenvolvidas de “sociedades do conhecimento”. Outra característica marcante das


sociedades do conhecimento é o predomínio do bem estar econômico entre seus habitantes,
com ausências dos desníveis absurdos na apropriação da renda e acesso aos bens básicos
(saúde, educação e habitação) como observados no Brasil. Daí ser, em certo sentido,
compreensível que muitos dos interesses das organizações globalizadas conflitem com direitos
que objetivam mitigar os desníveis de bem estar social e econômico em países menos
desenvolvidos em que atuam pelo simples fato de que, na organização do modelo de mercado
global, predomina a lógica da relativa homogeneidade das condições sociais e econômicos das
populações sob sua influência, a exemplo do que ocorre nos países que desenvolveram esse
modelo.

Uma proposta interpretativa da cidadania adequada para as sociedades do conhecimento


contemporâneas e embasada no ordenamento legal (LADEUR, 1999) encontra-se na
concepção de que, em face da complexidade das relações sociais na contemporaneidade, não
mais é viável a existência de um sistema legal derivado de regras de alcance universal em
suas premissas, onde os juízes imaginam que as relações sociais são idealisticamente
estáveis e tendentes à acomodação dos conflitos. Em lugar de um sistema hierárquico de
regras, logicamente organizado e sistematizado, Ladeur defende um sistema heterárquico, com
diferentes concepções, passadas e futuras, em constante tensão recíproca e limitador das
possibilidades de relações entre os atores envolvidos. Neste sistema, a legalidade não deriva
de uma fonte formal única, a lei criada pelo legislativo, nem é o juiz o detentor absoluto da
faculdade de “dizer” a lei, mas os vários atores envolvidos nas situações conflitivas devem ser
capazes de desenvolver estruturas que possibilitem as formas cooperativas de melhor
expressão de seus interesses que, englobados em limites legais amplos, devem ser levados
em conta, como fontes normativas, pelos juízes no momento de proferirem sentenças.

Algumas características decorrem da proposição de Ladeur:

a) O elemento nuclear da teoria jurídica deixa de ser o sujeito individualmente considerado e


passa a ser um ator coletivo, como o empreendimento econômico, grupos de interesses ou a
associação comunitária, e capaz de gerar modos singulares de funcionamento e
autorreprodução que se traduzam numa racionalidade baseada em relações de comunicação
em rede e apta a lhe garantir autonomia de existência;

b) A decorrência natural da proposição anterior é o pluralismo jurídico. Os contratos assumem


papel preponderante no ordenamento jurídico por que conformados aos padrões de
relacionamentos legalmente vigentes e que se situam na especificidade dos ambientes que
lhes deram origem;

c) Os direitos não são vistos apenas como atributos decorrentes de atividades passadas, mas
voltam-se, principalmente, para as ações futuras, não limitadas pela tradição. Direito torna-se
sinônimo de experimentação. Nesta, o risco e a imprevisibilidade são elementos indissociáveis
da ação e a responsabilidade por danos a terceiros é razoável apenas em senso estrito, ou
seja, não abarca causas externas previamente impossíveis de serem avaliadas como afetando
os direitos subjetivos daqueles. Tal caracterização de “direitos” é necessária como modo de
incentivo à geração de conhecimento e coordenação de ações sob condições de incerteza;
d) Direitos não são disposições de recompensas exclusivas, mas, por se apoiarem na
produção de conhecimento resultantes de processos coletivos de produção e distribuição de
riquezas, tanto de atores públicos quanto privados, devem necessariamente decorrer de
consensos e acordos;

e) A noção de “justiça”, abstratamente considerada, deixa de ser relevante em face dos


incontáveis problemas de interpretação que acarreta e que são decorrentes de visões de
mundo não convergentes. Na tradição liberal adotada por Ladeur jamais esteve pressuposto o
princípio de justiça nos contratos livremente pactuados pelas partes, mas tão somente a
necessidade do estabelecimento de relações estáveis entre os participantes e que melhor
propiciem o alcance de objetivos determinados. Além do mais, no campo privado, as interações
entre atores não necessariamente obedecem a esquemas repetitivos de ação.
 

7.3 Globalização e Direito


O atual processo de globalização teve início nos anos 1980 do século passado. No Brasil, seus
efeitos mais significativos consolidaram-se em 1995, quando, sob o comando de Bresser-
Pereira no Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, teve início a Reforma
gerencial do Estado Brasileiro, ou Reforma da gestão pública (BRESSER-PEREIRA, 2007).
Seu fundamento foi o de tornar o gasto público mais eficiente e proporcionador de melhores
serviços ao cidadão do que aquele obtido sob orientação de uma burocracia tradicional.

Enquanto a burocracia tradicional apresenta-se centralizada e baseada em regulamentos


rígidos, a administração pública gerencial deve necessariamente ser descentralizada e
controlada por resultados sob égide da competição administrativa. Além disso, “o Estado deve
necessariamente terceirizar para empresas os serviços auxiliares e para entidades públicas
não estatais (as organizações sociais) os serviços sociais e científicos; além disso, suas
próprias atividades exclusivas devem ser delegadas para agências executivas e reguladoras”
(BRESSER-PEREIRA, op cit:106). Ao Estado cabe apenas a execução de tarefas que são de
sua exclusiva responsabilidade e sem possibilidade de delegação, como a formulação e
controle das políticas públicas ou atividades legislativas.

As atividades de reforma do Estado desenvolveram-se em três frentes, a saber:

a) reforma institucional legal caracterizada por mudanças jurídico-normativas do setor público e


criação de novos formatos organizacionais, em que se destacam as organizações sociais
(entidades reconhecidas por lei como pessoas privadas de utilidade pública e que se norteiam
em suas ações por princípios de administração pública como legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e racionalidade econômica);

b) adoção de instrumentos de gestão, como contratos de gestão, contabilidade gerencial e de


custos, planejamento e gestão estratégica, melhoria de processos, controle de qualidade,
flexibilidade de decisão, competição administrativa e responsabilização por resultados
indesejáveis. Implícitos estão a abertura da economia ao comércio e investimento, a
privatização de empresas públicas, ajuste fiscal e a Lei de Responsabilidade Fiscal,
rediscussão da função da previdência social, integração e padronização do sistema bancário
ao modelo internacional ocidental e estabilização da inflação;

c) desenvolvimento de uma nova cultura de relacionamento entre servidor e cidadão, mudando


de uma desconfiança generalizada para o relacionamento baseado na confiança, ainda que
controlada.

Os princípios da Reforma do Estado acima indicados claramente apontam para um modelo de


sociedade em que complexas redes de relacionamentos, apoiadas no conhecimento e na
eficiência, dificultam a existência de relações derivadas unicamente de regras empíricas
estáveis, mormente quando novos padrões de conhecimento e gestão organizacionais são
disponibilizados para apropriação privada e emprego por organizações empresariais, quando
não desenvolvidas e patenteadas por estas. Em termos de cidadania, esta caracteriza-se na
figura do agente proativo e autônomo no alcance de seus objetivos, ou seja, no cidadão
globalizado, e não no mero sujeito detentor de direitos.

7.4 Arbitragem e globalização


A década dos anos 1980 do século passado é geralmente valorada como uma “década
perdida” no Brasil. Basta pesquisar na web pelo argumento “década perdida” que uma série
considerável de resultados será disponibilizada.

Mas, “década perdida” por quê? Por acaso os fatos e os acontecimentos cotidianos de então
transcorreram plenos de anormalidades?

A adequada compreensão da expressão requer sua contextualização no âmbito da economia.


A década de 1980 foi marcada no Brasil por graves e recorrentes problemas econômicos, com
queda no produto interno bruto, índices inflacionários absurdos de 330% ao ano, crises
cambiais e sucessivos planos econômicos que invariavelmente fracassavam. Em novembro de
 

1983 foi decretada moratória no pagamento da dívida externa, deixando de pagar o principal e
pagando apenas os juros. Em 20 de fevereiro de 1987, os juros das dívidas externas de médio
e longo prazo deixaram de ser pagos. No período de 10 anos, o Brasil conheceu três moedas
diferentes: Cruzeiro até 27 de fevereiro de 1986, quando o decreto-lei n° 2.283 desvalorizou a
moeda de até então em 1000% e criou o Cruzado. Em janeiro de 1989, com o Plano Verão,
nova troca na unidade monetária, com o Cruzado Novo, e desvalorização de 1000% do
Cruzado. O Cruzado sobreviveu até 15 de março de 1990, sendo substituído no dia seguinte
pelo Cruzeiro.

A partir de 1990, o Brasil iniciou um processo denominado “abertura comercial e econômica”.


Foram planejadas reduções nas tarifas de importações, reestruturações nos modelos
industriais e tecnológicos e implementados processos de privatizações das empresas estatais,
ações voltadas a capacitar o mercado nacional a enfrentar a concorrência internacional e
adequar a economia ao processo globalização.

É nos contextos da “abertura comercial e econômica” e da reforma do estado, descrita na


seção anterior, que a Lei de Arbitragem foi gerada e sancionada no dia 23 de setembro de1996
(aliás, é a única Lei brasileira no contexto dos métodos alternativos de resolução de conflitos).
Seu perfil amolda-se às necessidades de rapidez, eficácia, eficiência e direitos voltados para
ações futuras, como descritas no início desta unidade, requeridas pela economia em um
mercado de características universalizantes. Como bem destaca Benvenuti (BENVENUTI,
2007, p. 36-39), “Juízes não são especialistas em todas as áreas de disputas e dependem de
peritos. Por isso pode faltar qualidade em suas sentenças pela falta de experiência no assunto.
A arbitragem permite decisões com mais qualidade, pois o árbitro é especialista no assunto
afeito à disputa. Além disso, o processo judicial é impositivo, com a impessoalidade na figura
do Juiz e as regras de condução do processo estabelecidas por um código abrangente e
genérico, que é o Código de Processo Civil. Na arbitragem, as partes elegem as cláusulas
arbitrais, os árbitros e a instituição de arbitragem em comum acordo, propiciando soluções de
melhor qualidade aos seus interesses”.

Na abordagem tradicional do direito, ou “de cunho clássico”, como conceitua Norberto Bobbio
(BOBBIO, 2007), o Direito é conceituado como expressão da soberania e engloba os
problemas enfrentados por um ramo da ciência social que se considera, desde o positivismo de
Kelsen, “pura” e autossuficiente. Não propõe a necessidade de uma visão poli contextualizada
e heterogênea do ambiente social (LADEUR, 1999), a exigir a adaptação integrativa do aparato
jurisdicional. Como consequência, os tribunais se configuram fechados na visão de uma ordem
jurídica de cunho iluminista e incapaz de dialogar com ramos correlatos do conhecimento. A
arbitragem rompe com o isolamento e fechamento dos tribunais. Por situar-se na esfera do
eminentemente privado, o processo arbitral mostra-se flexível, maleável e atenta aos
interesses de um mundo globalizado. Qual operador do Direito poderia, por exemplo, imaginar
a seguinte regra de arbitragem (CAMARCOM, 2013).

Art. 24 As partes podem escolher livremente o idioma a ser utilizado no procedimento


Arbitral. Na falta de acordo, a Coordenadoria da CAMARCOM, através da unidade eleita,
determinará o idioma, considerando as circunstâncias relevantes da relação jurídica em litígio,
em especial o idioma em que foi redigido o contrato (sem grifo no original).

Parágrafo único. A Coordenadoria da CAMARCOM, através da unidade eleita, poderá


determinar que qualquer peça processual seja acompanhada de tradução no idioma
convencionado pelas partes ou definidos pela instituição.

7.5 Referências bibliográficas e sugestões de leitura


BENVENUTI, Ronaldo. Utilização da arbitragem como forma de solução de disputas por
empresas construtoras. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2010.
Disponível em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-18082010-
161302/publico/Dissertacao_Ronaldo_Benvenuti.pdf. Consulta em 29/07/2013.

BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função. São Paulo: Manole, 2007.


 

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Macroeconomia da estagnação. Crítica da ortodoxia


convencional no Brasil pós-1994. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 2007.

CAMARCOM. Regulamento para arbitragem. Campinas: Câmara de Arbitragem, Conciliação e


Mediação CAMARCOM. Disponível em http://www.camarcom.com.br/regulamentos.php.
Consulta em 30/07/2013.

LADEUR, Karl-Heinz. The theory of autopoiesis as na approach to a better understanding of


postmodern law. From the hierarchy of norms to the heterarchy of changing patters of legal
inter-relationships. Badia Fiesolana: European University Institute, 1999.

Encerramento e bibliografia para estudos

Palavras finais
Chegamos ao término de nosso curso.

Esta unidade contém apenas algumas citações que, espera-se, sirvam como incentivo para a
continuidade dos estudos sobre os métodos alternativos de resolução de conflitos não apenas
com olhar técnico, mas sob perspectivas do direito político e, por que não, da filosofia e da
teoria geral do direito.
A ideia que norteou a pesquisa e indicação desse material é servir de apoio para o
posicionamento crítico frente às citações apresentadas.

“Apesar das críticas feitas ao judiciário brasileiro, estudos recentes demonstram que o sistema
estatal de resolução de disputas enfrenta problemas em todo o mundo. Analisadas três
variáveis básicas (tempo, custo e isenção das decisões), é difícil encontrar algum país cujo
judiciário apresente uma relação equilibrada entre elas na solução dos litígios. Se, por um lado,
o Judiciário brasileiro é criticado pela sua lentidão e pela quantidade de recursos, o Judiciário
norte-americano, muitas vezes usado como referência de eficiência, é criticado pelos seus
custos e pelo excesso de estímulos à realização de acordos. Estudos demonstram que, desde
1985, apenas 1,8% das ações iniciadas chegaram a ser julgadas nos Estados Unidos.”
(CAVALCANTI, 2010)

“São de duas espécies os argumentos esgrimidos a favor do movimento das ADR [Alternative
Dispute Resolution, ou na nomenclatura correspondente em português, Métodos alternativos
de resolução de conflitos], uma de natureza quantitativa, outra de natureza qualitativa.
O argumento de natureza quantitativa é o mais invocado. Segundo ele, a ADR deveria ser
incentivada porque é uma maneira mais eficiente de solução das disputas, de menor custo e
muito mais rápida.
O segundo argumento, ‘qualitativo’, parte de uma abordagem segundo a qual a ADR
possibilita uma maior participação das partes no desenvolvimento do processo e permite a elas
um maior controle sobre o resultado do processo – afinal, são elas que definem esse resultado.
Além disso, sustenta-se que a ADR oferece uma maior possibilidade de reconciliação entre as
partes, garantindo uma melhor comunicação entre elas, aumentando assim a probabilidade de
manutenção ou recuperação das relações interpessoais. Segundo esta visão, enquanto o
processo judicial ordinário “olha para o passado” da relação litigiosa, a ADR “olha para o
futuro”, ficando mais próxima da ideia de justiça coexistencial da qual se fala frequentemente”
(NETO. 2011, p. 121-122)
 

“Na hipótese de não haver a intenção de um conflito ser levado ao Poder Judiciário, não há
impedimento de o assunto permaneçer na esfera particular. Não existe inconstitucionalidade
nesse procedimento, nem se priva o Poder Judiciário de conhecer qualquer questão que lhe
seja eventualmente aberta. Fica exclusivamente a critério da parte escolher árbitros ou
escolher uma instituição especializada em arbitragem, ou ainda, Tribunal Estatal” (Oporto e
Vasconcellos, texto sem data)

“Por séculos se considerou que a confidencialidade era um traço característico da arbitragem


em oposição ao sistema aberto de livre acesso aos procedimentos judiciais. Não só no Brasil,
mas em todos os países em que a arbitragem foi adotada pelo sistema legal, seja nos de
direito codificado, seja nos países da common law, sempre se afirmou, como vantagens
comparativas da arbitragem em face do Poder Judiciário, a celeridade, a especialização dos
árbitros e a ‘confidencialidade’. Em outras palavras, sempre se admitiu como cristalizada e uma
espécie de dogma ou mito a existência de um dever legal de sigilo por parte dos participantes
ou intervenientes no procedimento arbitral.
No entanto, acontecimentos recentes, na Austrália e na Suécia, fizeram com que o dogma se
desfizesse e o mito caísse. O dever de sigilo, segundo os tribunais desses países, não pode
ser tido como inerente ao procedimento arbitral, e somente existirá se as partes assim o
determinarem. Nesse momento, ruíram as certezas e as convicções de que a lei prestigiaria
esse dever de sigilo, transferido que foi para a vontade das partes ao celebrarem a cláusula
compromissória.” (PINTO, 2004)

Recursos disponíveis na web


A Biblioteca Virtual online disponível para você contém excelente coleção de obras sobre os
métodos alternativos de resolução de conflitos e sobre Direito em geral.
Pesquise!

Referências bibliográficas
CAVALGANTI, Fabiano Rovalinho. Arbitragem e mediação. Rio de Janeiro: FGV, 2010.

NETO, Eugenio Facchini. ADR (Alternative Dispute Resolution) – Meios alternativos de


resolução de conflitos: solução ou problema? in Direitos Fundamentais e Justiça, ano 5, n 17, p
118-141, out/dez 2011.

OPORTO, Silvia Fazzinga; VASCONCELLOS, Fernando. Arbitragem comercial internacional.


Artigo sem data.

PINTO, José Emilio Nunes. A confidencialidade na arbitragem. São Paulo: 2004. Disponível
em http://www.ccbc.org.br/download/artarbit11.pdf. Consulta em 30/07/2013.

Você também pode gostar