Você está na página 1de 73

Capítulo 3

Ciclos de Potência a Gás


Objetivos

Estudar o funcionamento dos motores alternativos (a pistão)

Estudar o funcionamento de motores de turbina a gás


3.1. Considerações Básicas
Definições:

Máquinas Térmicas, Motores Térmicos: Dispositivos que operam segundo um dado


ciclo de potência.

Ciclos de Potência: Ciclos termodinâmicos para conversão de calor em trabalho

Ciclo a gás: O fluido de trabalho permanece na fase gasosa durante todo o ciclo

Ciclo a vapor: Há mudança de fase no ciclo (fluido de trabalho é vapor em parte


do ciclo e líquido em outra)

Ciclo fechado: O fluido de trabalho volta ao estado inicial ao fim o ciclo e recircula

Ciclo aberto: O fluido de trabalho é renovado ao fim do ciclo (ex. motor de automóvel)
3.1. Considerações Básicas

Ciclo Otto: Motores de ignição por centelha

Ciclo Diesel: Motores de ignição por compressão

Ciclo Brayton: Motores de turbina a gás


3.1. Considerações Básicas

A análise simplificada (ou idealizada) é um recurso de modelagem valioso


3.1. Considerações Básicas

A análise dos ciclos reais envolve a investigação


de processos de não-equilíbrio, como:

1.  Escoamento de fluidos com atrito


2.  Transferência de calor com ΔT finito
3.  Gradientes internos de p e T
(processos não-estáticos)

Nos ciclos idealizados, processos complexos


de não-equilíbrio e irreversibilidades são
desprezados em detrimento de uma análise
quantitativa simplificada.

Entretanto, os processos idealizados reproduzem o comportamento dos reais!


3.1. Considerações Básicas

Simplificações normalmente efetuadas:

1.  Escoamento de fluidos sem atrito


2.  Compressão e expansão quase-estáticas
3.  Tubos que conectam os dispositivos são bem isolados

(ou seja, os ciclos idealizados são INTERNAMENTE REVERSÍVEIS)

(seriam eles também EXTERNAMENTE REVERSÍVEIS?)


3.2. Ciclo de Carnot
O ciclo de Carnot é composto por quatro processos TOTALMENTE REVERSÍVEIS

4-1: Compressão reversível e


adiabática (s = cte.)

1-2: Fornecimento de calor a


T = cte., com ΔT → 0

2-3: Expansão reversível e


adiabática (s = cte.)

3-4: Rejeição de calor a


T = cte., com ΔT → 0

Nenhum sistema possui eficiência térmica mais elevada


que a máquina de Carnot
3.2. Ciclo de Carnot
Implementação do ciclo de Carnot em um dispositivo
Q ⎡ kW kJ ⎤ com escoamento em regime permanente
q= ⎢ kg/s , kg ⎥
m ⎣ ⎦
W ⎡ kW kJ ⎤
w= ⎢ kg/s , kg ⎥
m ⎣ ⎦

Transferência de calor é efetuada com


ΔT → 0 no compressor e turbina
isotérmicos

(reservatórios a TH e TL)
3.2. Ciclo de Carnot
Eficiência Térmica do Ciclo de Carnot

wnet (potência produzida)


ηth ≡
qin (calor fornecido)

Δu = q + w (1ª Lei)

Δu = 0 (ciclo) qin − qout + win − wout = 0


qin − qout − wnet = 0
wnet = qin − qout (kJ/kg)

qin − qout qout


Assim: ηth = = 1−
qin qin
3.2. Ciclo de Carnot
Eficiência Térmica do Ciclo de Carnot (cont.)

como os processos (1-2) e (3-4) ocorrem a T cte.

qin = TH (s2 − s1 ) TL
(2ª Lei) ηth,Carnot = 1−
qout = TL (s3 − s4 ) TH
Se TL↓, TH↑: η↑

Na prática, é difícil transferir calor de forma isotérmica e reversível (A→∞)

Assim, nos ciclos IDEALIZADOS, admitimos que a transferência de calor


ocorre com ΔT>0.

ηth,qualquer < ηth,Carnot


(irreversibilidade externa) ciclo
3.3. Hipóteses do Padrão a Ar
Reduzem o nível de complexidade da análise, sem comprometer os resultados

Em máquinas a combustão interna (motores a gasolina, diesel e turbinas a gás),


a composição do fluido de trabalho varia ao longo do circuito

Nestes sistemas, o fluido de trabalho não executa um ciclo fechado.


Os gases quentes são expelidos e renovados por ar fresco.
3.3. Hipóteses do Padrão a Ar

1.  O fluido de trabalho é o ar (% massa de combustível é baixo);


2.  O ar é um gás ideal;
3.  O fluido de trabalho executa um ciclo fechado hipotético:

3.a. Processo de combustão é substituído por um


fornecimento de calor a partir de uma fonte externa

3.b. Processo de exaustão é substituído por uma rejeição de


calor que restaura o fluido de trabalho ao estado inicial
4. O ar tem cp e cV constantes, determinados a Tamb = 25oC.

(1,2,3,4: padrão a ar frio)


3.4. Visão Geral dos Motores Alternativos
Sistema Pistão-Cilindro

admissão descarga

TDC = PMS
Diâmetro

Curso

BDC = PMI

Vol. deslocado Vol. morto


3.4. Visão Geral dos Motores Alternativos

Razão de compressão

Vmax VPMI PMS

r= =
Vmin VPMS
PMI

Vol. deslocado Vol. morto


3.4. Visão Geral dos Motores Alternativos

Cilindrada de um Motor

N cil
Vdes ,tot = ∑ (Vmax − Vmin )i
i =1
PMS

= N cil × Vdes ,cil PMI

Vol. deslocado Vol. morto


3.4. Visão Geral dos Motores Alternativos
Poder Calorífico de um Combustível

Quantidade de energia produzida pela queima completa de 1 kg de combustível

⎡ kJ ⎤
[PC] = ⎢ ⎥
⎢⎣ kg (C) ⎥⎦
Entrada de calor no ciclo (queima de combustível)

Qin = ηC × mC × PC (kJ)

Taxa com que calor é gerado pela queima do combustível

Q = ηC × m C × PC (kW)

onde ηC é a eficiência de combustão (0 ≤ ηC ≤ 1)


3.4. Visão Geral dos Motores Alternativos

Pressão Média Efetiva (PME)

Pressão (fictícia) que se agisse sobre o pistão


durante todo o curso, produziria a mesma
quantidade de trabalho do ciclo real

Wnet = PME × area × curso


[kJ]
= PME × vol. deslocado

wnet
PME = [kPa]
vmax − vmin

A PME é um parâmetro de comparação do


desempenho de motores de igual tamanho
3.5. O Ciclo Otto
O Ciclo Otto é o ciclo ideal dos motores alternativos de ignição por centelha

Representação esquemática de um motor 4 tempos real

Animação Otto 4t
3.5. O Ciclo Otto
Representação esquemática do ciclo Otto

1-2: Compressão reversível e 3-4: Expansão reversível e


adiabática (s = cte.) adiabática (s = cte.)

2-3: Fornecimento de calor a 4-1: Rejeição de calor a


v = cte (ext. irrerversível). v = cte (ext. irrerversível).
3.5. O Ciclo Otto

Motor 4 tempos: Dois ciclos mecânicos para


cada ciclo termodinâmico

Motor 2 tempos: Um ciclo mecânico para


cada ciclo termodinâmico

Características dos motores 2 tempos:


Cárter é vedado
Janelas de exaustão e admissão
Menos eficientes que os motores 4 tempos
(expulsão incompleta)
Mais leves e baratos que os motores 4 tempos Representação esquemática
(alta relação potência/peso) (motor 2 tempos)

Animação Otto 2t
3.5. O Ciclo Otto
Potência Produzida pelo Motor

Para um motor 4 tempos Para um motor 2 tempos

n

Wnet = N cil × Wnet × W net = Ncil ×Wnet × n
2
.
onde n é o giro do motor em RPS

1 hp = 745,7 W
3.5. O Ciclo Otto

Consumo Específico de Combustível

m C
C= [kg/kJ]
W net

m C ⎡ kg ⎤ 6
C= ⎢ kJ ⎥ × 3,6 ×10
[g/kWh]
W net ⎣ ⎦
3.5.1. Análise Termodinâmica do Ciclo Otto Ideal
Assumindo sistema fechado, desprezando Δec e Δep

1ª Lei aplicada ao ciclo qin − qout = wnet


(Δu = 0)
wnet qin − qout qout
ηth ≡ = = 1−
qin qin qin

Como qin e qout ocorrem a v cte.


qin = u3 − u2 = cv (T3 − T2 )
qout = u4 − u1 = cv (T4 − T1 )
Com a hipótese do padrão a ar frio (cv = cte.):

ηth = 1 −
(T4 − T1 ) T1 (T4 T1 − 1)
ou η th = 1 −
(T3 − T2 ) T2 (T3 T2 − 1)
3.5.1. Análise Termodinâmica do Ciclo Otto Ideal
Como os processos (1-2) e (3-4) são isentrópicos

p1v1k = p2v2k k = c p cv

Como o ar é um gás ideal: pv = RT

Temos: k −1 k −1
T1 ⎛ v2 ⎞ T4 ⎛ v3 ⎞
= ⎜⎜ ⎟⎟ = ⎜⎜ ⎟⎟
T2 ⎝ v1 ⎠ T3 ⎝ v4 ⎠

T4 T3
Como v4 = v1 e v3 = v2 temos que =
T1 T2
Usando a razão de compressão r = v1 v2

1
ηth,Otto = 1 −
r (k −1)
3.5.1. Análise Termodinâmica do Ciclo Otto Ideal
1 eficiência aumenta
ηth,Otto = 1 − (k −1)
r com r e k

r muito altas aumentam T:


autoignição (“batida”)
3.5.2. Exemplo: Ciclo Otto Ideal

Um ciclo Otto ideal tem razão de compressão 8.


No início da compressão, o ar está a 100 kPa e
17oC, e 800 kJ/kg de calor são transferidos ao ar
a volume constante. Considerando a variação dos
calores específicos com a temperatura, calcule:
a) Tmax e pmax no ciclo
b) wnet
c) ηth
d) PME
3.5.2. Exemplo: Ciclo Otto Ideal

a)  Tmax e pmax ocorrem no pto. 3:

Tab. Ar G.I. (A-17): T1 = 290 K → u1 = 206,9 kJ/kg


vr1 = 676,1

Proc. (1-2): compressão isentrópica

v2 vr 2 1 vr 1
= = ∴ vr 2 = = 84,51 Tab. GI: T2 = 652,4 K
v1 vr1 r r u2 = 475,1 kJ/kg

Como o ar é gás ideal


p2 v2 p1v1 ⎛ 654,2 ⎞
= ∴ p2 = 100 × ⎜ ⎟ × 8
T2 T1 ⎝ 290 ⎠
p2 = 1799,7 kPa
3.5.2. Exemplo: Ciclo Otto Ideal

Proc. (2-3): fornecimento de calor a v cte.


qin = u3 − u2 ∴ u3 = u2 + qin
= 475,1 + 800 = 1275,1 kJ/kg

Tab. Ar GI: vr3 = 6,108


T3 = 1575,1 K

Como o ar é gás ideal

p3v3 p2 v2 ⎛ 1575,1 ⎞
= ∴ p3 = 1799,7 × ⎜ ⎟ ×1
T3 T2 ⎝ 652,5 ⎠
p3 = 4345 kPa
3.5.2. Exemplo: Ciclo Otto Ideal

b) w = q − q
net in out

= qin − (u4 − u1 )

onde u4 é calculada a partir de (3-4) expansão isentrópica:

v4 vr 4
= = r ∴ vr 4 = rv r 3 = 8 × 6,108 = 48,684
v3 vr 3
Tab. Ar GI: u4 = 588,74 kJ/kg
T4 = 795,6 K
Assim:
wnet = 800 − 588,74 + 206,91 = 418,17 kJ/kg
3.5.2. Exemplo: Ciclo Otto Ideal

c) wnet
ηth = = 0,523
qin

wnet wnet
d) PME = =
v1 − v2 v1 (1 − 1 r )
onde
RT1 m3
v1 = = 0,832
p1 kg
Exercício: Repita os cálculos adotando
Então: a hipótese do padrão a ar frio
e compare os resultados.
PME = 574 kPa
3.6. O Ciclo Diesel
O Ciclo Diesel é o ciclo ideal dos motores alternativos de ignição por compressão

O ar é comprimido a uma temperatura


maior que a temperatura de auto-ignição
do combustível

O combustível é atomizado (“spray”) no


ar quente

Animação Diesel
3.6. O Ciclo Diesel

1-2: Compressão reversível e 3-4: Expansão reversível e


adiabática (s = cte.) adiabática (s = cte.)

2-3: Fornecimento de calor a 4-1: Rejeição de calor a


p = cte (ext. irrerversível). v = cte (ext. irrerversível).
3.6. O Ciclo Diesel
Assumindo sistema fechado, desprezando Δec e Δep

1ª Lei aplicada ao ciclo qin − qout = wnet


(Δu = 0)
wnet qin − qout qout
ηth ≡ = = 1−
qin qin qin

Como qin é a p cte. e qout é a v cte.

qout = u4 − u1 = cv (T4 − T1 )
qin = u3 − u2 + p2 (v3 − v2 )
= h3 − h2
= c p (T3 − T2 )
3.6. O Ciclo Diesel

Com a hipótese do padrão a ar frio: c p − cv = R k = c p cv


Temos:

ηth = 1 −
(T4 − T1 ) T1 (T4 T1 − 1)
ou ηth = 1 −
k (T3 − T2 ) kT2 (T3 T2 − 1)

Como o ar é um gás ideal: pv = RT

Temos: k −1 k −1
T1 ⎛ v2 ⎞ T4 ⎛ v3 ⎞
= ⎜⎜ ⎟⎟ = ⎜⎜ ⎟⎟
T2 ⎝ v1 ⎠ T3 ⎝ v4 ⎠

Usando a razão de compressão: r = v1 v2

1
ηth = 1 − (k −1)
(T4 T1 − 1)
r k (T3 T2 − 1)
3.6. O Ciclo Diesel
V3 v3
Definindo a razão de corte como: rc = =
V2 v2

E usando v4 = v1 e v3 = rc v2

Podemos mostrar que:

k
1 ⎡ rc − 1 ⎤
ηth, Diesel = 1 − (k −1) ⎢ ⎥
r ⎣ k (rc − 1)⎦

como rc > 1

η th,Otto > η th, Diesel


3.6. O Ciclo Diesel

Na prática, entretanto, os motores Diesel são mais eficientes que os a gasolina pois:

1.  Operam com r mais alta

2.  A queima do combustível é mais completa


(operam a rotações mais baixas e com
maior relação mar/mfuel)

O óleo diesel costuma ser mais barato também pela ausência da preocupação
com o fenômeno de batida do motor.

maior eficiência + menor custo = aplicação em grandes motores


Animações de ciclos de potência a gás:

Animação Rotativo Animação Radial


3.7. Ciclo Brayton
O Ciclo Brayton é o ciclo ideal dos motores de turbina a gás

Motores de turbina a gás reais operam em um ciclo aberto


3.7.1. Análise Termodinâmica do Ciclo Brayton

O ciclo de turbina a gás pode ser modelado como um ciclo fechado, segundo as
hipóteses do padrão a ar

1-2: Compressão a s = cte.

2-3: Fornecimento de calor a p = cte.

3-4: Expansão a s = cte.

4-1: Rejeição de calor a p = cte.


3.7.1. Análise Termodinâmica do Ciclo Brayton
3.7.1. Análise Termodinâmica do Ciclo Brayton

Os processos são executados em dispositivos com


escoamento em regime permanente:

qin = h3 − h2 = c p (T3 − T2 ) qout = h4 − h1 = c p (T4 − T1 )

com a hipótese do padrão a ar frio:

ηth ≡
wnet q (T − T ) T (T T − 1)
= 1 − out = 1 − 4 1 = 1 − 1 4 1
qin qin (T3 − T2 ) T2 (T3 T2 − 1)

como os processos de compressão e expansão são isentrópicos


(k −1) k (k −1) k
T1 ⎛ p1 ⎞ T4 ⎛ p 4 ⎞
= ⎜⎜ ⎟⎟ = ⎜⎜ ⎟
T2 ⎝ p2 ⎠ T3 ⎝ p3 ⎟⎠
T4 T3
como p2 = p3 e p1 = p4, temos que =
T1 T2
3.7.1. Análise Termodinâmica do Ciclo Brayton

Definindo a razão de pressão

rp = p2 p1

1
ηth, Brayton = 1 −
rp(k −1) k

eficiência aumenta
com rp e k
3.7.1. Análise Termodinâmica do Ciclo Brayton

Razão de consumo de trabalho

wC
RCT =
wT

costuma ser elevada nos motores de turbina a gás


3.7.2. Exemplo: Ciclo Brayton

Uma usina a turbina a gás (ciclo Brayton ideal)


tem razão de pressão 8. A temperatura do gás
é de 300 K na entrada do compressor e de
1300 K na entrada da turbina. Considerando
a variação dos calores específicos com
a temperatura, calcule:
a) T nas saídas do compressor
e da turbina
b) RCT
c) ηth
3.7.2. Exemplo: Ciclo Brayton

a)  Proc. (1-2): compressão isentrópica


p2 pr 2
= = rp ∴ pr 2 = 8 pr1
p1 pr1
onde, da Tab. Ar GI (A-17): T1 = 300 K
h1 = 300,19 kJ/kg
pr1= 1,386

Assim: pr2 = 11,09 saída compressor

da Tab. Ar GI: T2 = 540 K


h2 = 544,35 kJ/kg
3.7.2. Exemplo: Ciclo Brayton

a)  cont.
Proc. (3-4): expansão isentrópica
p4 pr 4 1 pr 3
= = ∴ pr 4 =
p3 pr 3 rp 8
onde, da Tab. Ar GI: T3 = 1300 K
h3 = 1395,97 kJ/kg
pr3= 330,9

Assim: pr4 = 41,36 saída turbina

da Tab. Ar GI: T4 = 770 K


h4 = 789,37 kJ/kg
3.7.2. Exemplo: Ciclo Brayton

b)
wC h2 − h1 244,16
RCT = = = = 0,403
wT h3 − h4 606,6

ou seja, 40,3% do trabalho da turbina são


usados apenas para acionar o compressor.

wnet wT − wC (h3 − h4 ) − (h2 − h1 )


c)ηth ≡ = = = 0,426
qin h3 − h2 (h3 − h2 )

Obs.: Se tivéssemos usado a 1 1


hipótese do padrão a ar frio: ηth, Brayton = 1 − (k −1) k = 1− (1, 4−1) 1, 4 = 0,448
rp 8
3.7.2. Exemplo: Ciclo Brayton
Supondo que o compressor e a turbina tenham eficiências isentrópicas
de 80% e 85%, respectivamente

ws h2 s − h1
ηC = =
wreal h2 a − h1

wreal h3 − h4 a
ηT = =
ws h3 − h4 s

Como ficam T2, T4, RCT e ηth?


3.7.2. Exemplo: Ciclo Brayton
ws h2 s − h1 244,16
No compressor: wreal = = = = 305,2 kJ/kg
ηC ηC 0,8
Na turbina: wreal = ηT ws = ηT (h3 − h4 s ) = 0,85 ⋅ 606,6 = 515,6 kJ/kg
aumentou...
wC ,real 305,2
Assim: RCT = = = 0,592
wT ,real 512,6

Entalpias nas saídas do compressor e da turbina:

h2 a = h1 + wC ,real = 605,39 kJ/kg da Tab. Ar GI: T2a = 598 K

h4 a = h3 − wT ,real = 880,4 kJ/kg da Tab. Ar GI: T4a = 853 K

wnet wT ,real − wC ,real diminuiu...


ηth ≡ = = 0,266
qin h3 − h2a
3.8. O Ciclo Brayton com Regeneração

No exemplo anterior, vimos que T4 > T2

saída do
saída da compressor
turbina

Se usarmos um regenerador (trocador de calor) para transferir calor dos gases quentes
da descarga da turbina para os gases na saída do compressor, podemos ECONOMIZAR
COMBUSTÍVEL NA CÂMARA, REDUZIR qin e AUMENTAR ηth,Brayton.
3.8. O Ciclo Brayton com Regeneração

Um balanço de energia entre a saída do


compressor e a entrada da câmara fornece:

qreg = h5 − h2
A máxima transferência de calor ocorre quando:

h5 → h4
Nesta situação, dizemos que o regenerador tem
uma efetividade de 100%.

qreg ,real h5 − h2
ε= =
qreg ,max h4 − h2
3.8. O Ciclo Brayton com Regeneração

Com a hipótese do padrão a ar frio:

T5 − T2
ε≈
T4 − T2

Note que, se ε ↑: ηth ↑, pois qin↓

Entretanto, o regenerador tem um custo $$!

ε tipico ≈ 85%
3.8. O Ciclo Brayton com Regeneração
Continuação do exemplo da seção 2.7.2:

Calculemos a nova eficiência térmica do ciclo


Brayton se um regenerador de ε = 80% for
instalado.

wnet wT ,real − wC ,real


ηth ≡ =
qin h3 − h5

onde:

h5 − h2 a
ε= ∴ h5 = h2 a + ε (h4 a − h2 a ) = 605,4 + 0,8(880,4 − 605,4) = 825,4 kJ/kg
h4 a − h2 a

wnet wT ,real − wC ,real


Então: ηth ≡ = = 0,369 (aumentou!)
qin h3 − h5
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

O resfriamento intermediário é uma técnica utilizada para aumentar o wnet

Este aumento pode ser atingido por meio de um aumento do trabalho


produzido na turbina, ou por meio de uma redução do trabalho consumido no
compressor
wnet = wT − wC
Em FUNDAMENTOS DA TERMODINÂMICA, aprendemos que em um sistema fechado,
o trabalho de fronteira móvel reversível (quase-estático) é dado por:

2
Wrev = ∫ p dV [kJ]
1
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Em um sistema aberto com escoamento em regime permanente, passando por um


processo internamente reversível, temos que:

δ qrev − δ wrev = dh + dec + de p [kJ/kg] (1)

onde
δqrev = Tds

Das relações Tds: Tds = dh − vdp ∴ δqrev = dh − vdp


1
A Eq. (1) fica: δ wrev = −vdp − dec − de p

Integrando: 2
wrev = − ∫ v dp − Δec − Δe p
1 2
(Sistema que realiza trabalho)
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Se as variações de energia cinética e potencial entre 1 e 2 forem desprezíveis:

2 2
wrev = − ∫ v dp [kJ/kg] (2) Wrev = − ∫ V dp [kJ]
1 1

Note a semelhança entre as relações para sistemas abertos e fechados...

Caso v = cte. (fluido de trabalho incompressível)


1
2

(
wrev = −v ∫ dp = −v p2 − p1 ) (3)
1

Bomba ou compressor: p2 > p1 → wrev < 0 (entrando no sistema)


2
Turbina: p2 < p1 → wrev > 0 (saindo do sistema)
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

2
Observamos, da Eq. (2) que: wrev = ∫ vdp [kJ/kg]
1

“Quanto maior o volume específico, maior o trabalho reversível produzido ou consumido


pelo dispositivo com escoamento em regime permanente”

Ou seja, para um mesmo Δp é mais vantajoso:

comprimir um fluido com menor v (menor consumo de trabalho)


(bomba ou compressor)

expandir um fluido com maior v (maior produção de trabalho)


(turbina)

ESTA CONCLUSÃO VALE TANTO PARA wrev QUANTO PARA wreal


3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Exemplo: Compressão de água de 100 kPa a 1MPa (liq. sat. ou vapor sat.?)

água

wrev = 0,94 kJ/kg wrev = 519,5 kJ/kg


3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Minimizando o Trabalho de Compressão

Para minimizar o wrev de compressão de um gás, devemos manter v o menor


possível durante a compressão

A forma de se fazer isto é resfriar o gás à medida que ele é comprimido

Comparemos 3 situações para um gás ideal (pv = RT)


comprimido entre p1 e p2:

a)  processo isentrópico (pvk = cte.): SEM resfriamento

b) processo politrópico (pvn = cte.): ALGUM resfriamento

c) processo isotérmico (pv = cte.): MÁXIMO resfriamento

1< n < k
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Substituindo as relações funcionais entre p e v para cada caso


e integrando entre 1 e 2, temos:

(k −1) k
⎡
kRT1 ⎛ p2 ⎞ ⎤
wrev = ⎢⎜⎜ ⎟⎟ − 1⎥ (isentrópico)
k − 1 ⎢⎝ p1 ⎠ ⎥⎦
⎣
(n −1) n
⎡
nRT1 ⎛ p2 ⎞ ⎤
wrev = ⎢⎜⎜ ⎟⎟ − 1⎥ (politrópico)
n − 1 ⎢⎝ p1 ⎠ ⎥⎦
⎣

⎛ p2 ⎞
wrev = RT ln⎜⎜ ⎟⎟ (isotérmico)
⎝ p1 ⎠

Exercício: Demonstre as relações para os processos acima.


3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

A área sob a curva

∫ vdp
1

representa o trabalho de compressão,


e é menor para o processo
ISOTÉRMICO
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Na prática, a compressão a T = cte. é difícil de ser realizada


(muito rápida para se remover todo o calor da compressão...)

Os métodos disponíveis são eficazes, mas não


o suficiente para manter a temperatura constante

O que se faz é uma COMPRESSÃO EM ESTÁGIOS COM RESFRIAMENTO INTERMEDIÁRIO


(“intercooling”)
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Uma compressão em dois estágios economiza trabalho


(px é a pressão intermediária)

O resfriamento intermediário é efetuado em um trocador de calor


3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

qual é o valor da pressão intermediária px que minimiza o trabalho de compressão?

(n −1) n (n −1) n
⎡
nRT1 ⎛ p x ⎞ ⎤ ⎡
nRT1 ⎛ p2 ⎞ ⎤
wrev = ⎢⎜⎜ ⎟⎟ − 1⎥ + ⎢⎜⎜ ⎟⎟ − 1⎥
n − 1 ⎢⎝ p1 ⎠ ⎥⎦ n − 1 ⎢⎣⎝ p x ⎠ ⎥⎦
⎣

estágio 1 estágio 2

d
Fazendo: wrev = 0
dp x

Encontramos: px = p1 p 2
Neste caso: wrev ,est1 = wrev ,est 2
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Implementação do ciclo com reaquecimento


e resfriamento intermediário (2 estágios)

O reaquecedor tem o objetivo de Reaquecedor: simplesmente


aumentar o volume específico na aspergir combustível nos gases
expansão e maximizar o trabalho com excesso de ar
produzido pela turbina
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Implementação do ciclo com reaquecimento


e resfriamento intermediário (2 estágios)

Para um melhor desempenho,


as razões de pressão devem
ser tais que:

p2 = p1 p 4 (= p3 )
p7 = p6 p 9 (= p8 )
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

À medida que o no de estágios de compressão


e expansão aumenta, o ciclo de turbina a gás
com resfriamento intermediário, reaquecimento
e regeneração se aproxima do ciclo Ericsson.

Ou seja, em teoria, a máxima eficiência é igual


à do ciclo de Carnot.

Na prática, o número de estágios não passa de


2 por razões econômicas.
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Exemplo: Um ciclo de turbina a gás com dois


estágios de compressão e dois estágios de
expansão tem uma razão de pressão global
igual a 8. O ar entra em cada estágio do
compressor a 300 K e em cada estágio da
turbina a 1300 K. Determine a RCT e a ηth
deste ciclo considerando (a) nenhum
regenerador e (b) um regenerador ideal
com efetividade de 100%.
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

Considerando o trabalho de compressão minimizado e


o de expansão maximizado:

p2 p4 p6 p8
= = 8 = 2,83 = = 8 = 2,83
p1 p3 p7 p9

O ar entra em cada estágio à mesma T, e cada estágio


tem a mesma eficiência isentrópica (neste caso, 100%).
Assim:

Nas entradas: T1 = T3, h1 = h3 e T6 = T8, h6 = h8

Nas saídas: T2 = T4, h2 = h4 e T7 = T9, h7 = h9

Nestas condições, o trabalho fornecido a cada estágio do compressor será igual,


bem como o trabalho realizado por cada estágio da turbina.
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

a) A RCT e a eficiência térmica do ciclo SEM regeneração


são dadas por:
wcomp 2west1,comp west1,comp h2 − h1
RCT = = = =
wturb 2west1,turb west1,turb h6 − h7
wnet wturb − wcomp 2(h6 − h7 ) − 2(h2 − h1 )
ηth = = =
qin q prim + qreheat (h6 − h4 ) + (h8 − h7 )
Obtendo as propriedades da Tab. Ar GI:

T1 = 300 K → h1 = 300,19 kJ/kg


pr1 = 1,386
p2
pr 2 = pr1 = 8 ×1,386 = 3,92 → T2 = 403,3 K, h2 = 404,31 kJ/kg
p1
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

a) cont.

T6 = 1300 K → h6 = 1395,97 kJ/kg


pr6 = 330,9
p7 1
pr 7 = pr 6 = × 330,9 = 117,0 → T7 = 1006,4 K, h7 = 1053,33 kJ/kg
p6 8

Assim: 404,3 − 300,19


RCT = ≈ 0,304
1396 − 1053
685,3 − 208,2
ηth = ≈ 0,358
1334,3
Em comparação com o exemplo da seção 2.8.2 (Brayton simples),
vemos que RCT ↑ e a η ↓. Isto é uma indicação de que o
resfriamento intermediário e o reaquecimento devem
sempre vir acompanhados da regeneração...
3.9. Ciclo Brayton com Resfr. Intermediário, Reaquecimento e Regeneração

b) A RCT e a eficiência térmica do ciclo COM regeneração são calculadas a seguir:

Observamos que o regenerador 100% efetivo (e sem atrito) não afeta wcomp e nem wturb.

Com isso, nem o wnet nem a RCT são alterados pela regeneração.

Entretanto o qin diminui, sendo agora dado por:

qin = q prim + qreheat = (h6 − h5 ) + (h8 − h7 )

Como h5 = h7

685,3 − 208,2
ηth = ≈ 0,696
685,3

Você também pode gostar