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Pedro Costa

Aguafuertes cariocas
Roberto Arlt

Género: crónica/aguafuerte
Lugar de enunciación: escritor
Soporte: diario, libro.
Variedad de lengua: español rioplatense
Movimiento literario: Florida y Boedo.
Campo semántico: trabajo.
Efecto: Humor, ironia
Nivel de lengua: coloquial
Características: Corto, temas de lo cotidiano.
Contexto cultural e histórico: Ambiente urbano de Brasil y Argentina a comienzos del siglo XX.
Recursos literarios: diálogos.
Intertexto: “desde que Febo asoma”; “Pas de propina”; “acua yelada”; “bullion”.
Problemáticas de traducción: términos provenientes de la oralidad, uso del lunfardo.

Traducción: “Ciudad que trabaja y que se aburre”

Cidade que trabalha e se entedia

No conceito de todo cidadão que respeite os direitos da preguiça, porque, segundo os


sociólogos, a preguiça também tem seus direitos, o café desempenha um papel predominante na
civilização dos povos. Quanto mais aficionado à folga é um povo, terá mais e melhores
cafeterias em suas urbes. É uma lei psicológica e nada se pode fazer: assim falam os sábios.

Aqui se trabalha

Nós, moradores da mais bonita cidade da América (estou falando de Buenos Aires),
achamos que os cariocas e, em geral, os brasileiros, ficam tomando sol desde que este começa a
brilhar “no céu da pátria” até que vai roncar. Estamos errados de cabo a rabo. Aqui o pessoal
trabalha, sem brincadeira. Ganha o pão com o suar de seu rosto, e das outras partes do corpo,
que suam do mesmo jeito. Dão duro, pelejam incansavelmente para amealhar alguma coisa.
Suas vidas se regem por um subterrâneo princípio de atividade, como falaria algum senhor que
estivesse escrevendo sobre o Brasil. Por minha vez, digo que dão duro o dia inteiro e se você
quiser a semana inglesa: dane-se! Porque aqui não tem. E acabou a festa. Trabalham, trabalham
brutalmente, e vão pro café apenas uns minutos. Tão breves que se, você fica um tempinho
demais, é jogado pra fora, e não pelos garçons, mas sim pelo encarregado de cobrar.

E o chamado café express?

Primeiramente, não se conhece o café express, essa mistura infame de serragem, borra de
café e outros resíduos vegetais que produzem uma combinação capaz de provocar uma úlcera no
estômago em pouco tempo. Aqui, o café é autêntico, como o fumo e as belezas naturais das
mulheres. Os cafés têm poltronas nas calçadas, mas ali não se serve o café. Há que beber ele
dentro. No interior, as mesas estão cercadas por umas cadeirinhas que dão vontade de jogar elas
na rua com um pontapé. Já vi sentar um gordo, e cada perna precisou de uma cadeira. A
mesinha de mármore é pequena: enfim, parecem feitas para pigmeus ou anões. Você se senta e
começa a esculhambar. Em alguns bares, uma orquestra de negros - com suas cornetas e outros
instrumentos de sopro - fazem um barulho tão infernal que você não acaba de entrar quando já
quer sair.
Você senta e lhe trazem o café. Sem água. Percebeu? Num país com tanto calor, servem o
café sem água.
Você reprime um palavrão e diz berrando:
— Cadê a água? Se vende a água aqui?
— O senhor quere “acua yelada”...Um copo de “acua yelada”. E trazem a “acua yelada”
com um pedacinho de gelo.
O copo é para beber licores, não água.
Você ainda não acabou de beber o café, quando um malandro vestido de preto, que se
passa o dia todo fazendo malabarismos com moedas, aproxima-se da mesa e bate no mármore
com uma moedinha de mil reis. Isto é, aproximadamente, trinta centavos argentinos. Você, que
ignora os costumes, lança um olhar rude ao malandro, que também mira. Então, você diz:
— Porque no bate na sua fusa em vez do mármore?
É preciso desembolsar e ir embora. Pagar os seis centavos que custa o café e se mandar.
Se você quiser se enrolar, tem as poltronas da calçada. Ali se servem bebidas por um mínimo de
600 reis (18 centavos argentinos).

Pas de gorjeta

O garçom não recebe gorjeta. Quer dizer, ninguém a dá com o café. O homem que faz
malabarismos com os cobres é o encarregado de cobrar e, por isso, o único que afana...caso o
faça, porque este é um país de pessoas honestas. De modo que o espetáculo que o olho do
estrangeiro pode desfrutar em nossa cidade, que é o de robustos vagabundos tomando sombra
durante duas horas enquanto bebem um “preto”, é desconhecido aqui. As pessoas enchem as
poltronas das calçadas quando começa a hora da moda. O resto da multidão entra no café só pra
tomar um cafezinho e dar no pé. Aqui se trabalha, dão duro e levam a vida a serio.
Como o fazem? Não sei. Homens e mulheres, crianças e adultos, negros e brancos, todos
trabalham. Na hora do jantar, as ruas fervem que nem formigueiros.

Conclusões

Se não fosse uma metáfora atrevida, diria que os cafés daqui são como certos lugares
incômodos, onde se chega com passo apressado e se sai mais rápido ainda.
Cidade honrada e casta. Não se divisam “mulheres-da-vida” pelas ruas; não se encontra
nenhum café aberto durante a noite toda; não existem jogatinas nem coletores de apostas. Aqui
as pessoas vivem honradissimamente. Às seis e meia todo o mundo está jantando; às oito da
noite os restaurantes estão fechando suas portas...
É como já falei: uma cidade de gente que trabalha de maneira infatigável e que, no
momento de voltar pra suas casas, estão exaustas, com mais vontade de dormir que de passear.
Esta é a absoluta verdade sobre o Rio de Janeiro.

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