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Lin Chau Ming, Sandra Maria Pereira da Silva, Magnólia Aparecida Silva da Silva,
Ari de Freitas Hidalgo, José Abramo Marchese, Francisco Célio Maia Chaves.
Departamento de Produção Vegetal Setor Horticultura
Faculdade de Ciências Agronômicas UNESP – Botucatu – SP
CEP 18.603 –970 – email: linming@fca.unesp.br
Introdução
O uso de plantas como medicamento vem aumentando dia a dia em todo o
mundo e essa realidade também é bastante visível no Brasil. Por diversos motivos,
sejam de ordem médica, social, cultural, econômica ou filosófica, as plantas
medicinais têm sido opção terapêutica para uma parcela crescente da população
brasileira, rural ou urbana. Não se têm números precisos dessa porcentagem da
população que usa as plantas medicinais, mas se observa um aumento desse
contingente, com o desenvolvimento de iniciativas que dedicam atenção a elas, tanto
em medicamentos produzidos pelas indústrias farmacêuticas, fitoterápicos produzidos
por centenas de entidades e organizações não governamentais, programas de
prefeituras municipais e governos estaduais e a continuidade de um programa
nacional visando fortalecer os fitomedicamentos e as plantas medicinais como opção
terapêutica importante na vida da população brasileira, atingindo milhões de famílias;
constituem-se, sem dúvida nenhuma, em uma realidade nacional na situação atual. O
uso das plantas medicinais no Brasil, em suas várias categorias tem sua origem nos
antepassados que habitavam o continente americano antes da chegada dos
colonizadores e as diversas etnias que aqui chegaram a seguir, dos diversos
continentes. Rever a história do povo brasileiro até os tempos atuais pode dar
excelentes informações para o entendimento sobre o comportamento que se observa
hoje em dia em função dos avanços tecnológicos e do poder de alcance dos meios de
O uso das plantas pode se dar em nível familiar ou em situações em que há a
necessidade de uma maior quantidade de material vegetal. Se apenas para uso
familiar, doméstico, elas podem estar cultivadas nos quintais das casas, ser
coletadas em áreas próximas às casas, compradas ou recebidas de parentes, amigos
e/ou vizinhos. Para programas de saúde, com o uso de forma mais social e coletiva,
a obtenção dos materiais vegetais já passa a ter outra característica. Se a espécie é
exótica, ela pode ser cultivada ou importada. Se for uma espécie nativa, na maior
parte das situações, ela ainda é coletada nos locais onde ocorrem naturalmente.
Neste caso, conhecido como extrativismo, a intensidade de coleta e a não
preocupação com a reposição das plantas podem levar ao desaparecimento da
espécie naquela localidade ou região.
Pode parecer estranho imaginar que plantas medicinais nativas utilizadas como
medicamento, seja pela indústria farmacêutica e/ou programas de ampla difusão no
país, sejam coletadas e não cultivadas, num momento em que as tecnologias
agrícolas de produção estão avançadas. Mas essa é claramente a característica mais
importante no tocante à obtenção desses materiais vegetais. Poucas são as
iniciativas e/ou experiências no cultivo de espécies medicinais nativas. Alguns
exemplos podem ser citados, como o cultivo de Pilocarpus microphyllus (jaborandi) no
Piauí, pela Merck, de Duboisia sp, pela Boehringer, no Paraná e de Maytenus ilicifolia
(espinheira santa), por agricultores, também no Paraná. As outras espécies, que se
constituem na sua imensa maioria, são, isso mesmo, coletadas nos seus locais de
ocorrência natural. Isso também inclui as espécies que são exportadas. Em
levantamento do IBAMA, as espécies mais exportadas são ipê roxo, fáfia, espinheira
santa, erva de bicho, pedra-ume-caá, chapéu de couro e outras, não sendo
registradas áreas de cultivos dessas espécies, podendo-se concluir que elas são
coletadas.
Pode-se alegar diversos motivos para evitar a coleta indiscriminada das plantas
medicinais. Há uma grande variabilidade química em material de uma mesma
a constância na sua oferta, podem haver confusões e/ou trocas de
espécies botânicas, a qualidade do material pode ser questionada, há espécies
intensamente coletadas que correm o risco de extinção, as áreas naturais estão
sendo sistematicamente desmatadas, a legislação ambiental não é obedecida, enfim,
toda uma situação que justifica o cultivo dessas espécies. Mas não é o que ocorre. A
coleta é ainda a forma mais utilizada para a obtenção do material vegetal usado com
fins medicamentosos. E dezenas de milhares, quem sabe, centenas de milhares de
famílias, desempenham e se beneficiam dessa atividade, fornecendo a um grande
número de empresas de comercialização ou de produção de medicamentos à base
de plantas, a matéria prima essencial.
Uma pergunta então se coloca perante essa situação. Como oferecer uma
alternativa tecnológica para esse grande número de famílias brasileiras que fazem da
atividade de coleta de plantas medicinais, se não sua principal fonte de renda, uma
das mais importantes, sem que haja um depauperamento irreversível do estoque
dessas plantas e que também seja importante para a satisfação das necessidades de
Sem dúvida, uma questão cujas alternativas para solucioná-la requerem uma
análise muito qualificada da situação. A pura e simples proibição da coleta não seria
solução, pois a clandestinidade seria estimulada. O estabelecimento de unidades de
conservação com suas divisas protegidas seria um dos grandes trunfos e
necessidades para se manter e conservar os recursos genéticos vegetais existentes
no país. A demanda por coleta das espécies medicinais tem um fator econômico que
a incentiva, quanto mais as espécies têm valor comercial, maior a demanda por sua
extração. A domesticação das espécies vegetais é um processo complexo, lento e
continuado; não se pode esperar resultados imediatos para o cultivo melhor
controlado dessas espécies, com o risco de se desenvolver atividades incompletas e/
ou inadequadas, fadadas ao fracasso, à frustração e ao desestímulo para novas
experiências.
Literatura Citada
ALBUQUERQUE, U.P.; ALVES, A. G.C.; SILVA, A.C.B.; SILVA, V.A. (Org.).
Atualidades em etnobiologia e etnoecologia. Sociedade Brasileira de
Etnobiologia e Etnoecologia. Recife – PE, 2002, 151p.
MING, L.C. (Coord.); SCHEFFER, M.C.; CORRÊA JR.; BARROS, I. B.I.;
MATTOS, F.J.A. Plantas medicinais, aromáticas e condimentares: avanços na
pesquisa agronômica. Vols. I e II, 1998.