Você está na página 1de 15

CAPÍTULO

26
Urgências pediátricas -
intoxicações agudas

Introdução Epidemiologia
“A diferença entre o remédio e o veneno é a O Sistema Nacional de Informações Tóxico-
dose” (Paracelso, século XVI). -Farmacológicas – Sinitox, no ano 2006, registrou
107.958 casos de intoxicação humana pelos Centros
Intoxicação é o contato com qualquer substância
de Informação e Assistência Toxicológica em atividade
que cause dano, se dentro do organismo. Praticamen- no país.
te todos os produtos químicos podem ser tóxicos, se
Em 2006, os principais agentes de intoxicações
em quantidade suficiente para tal.
em seres humanos em nosso país foram: os medica-
A exposição a substâncias nocivas é uma impor- mentos (30,46%), os animais peçonhentos (19,93%),
tante causa de acidentes na infância, principalmente os agrotóxicos de uso agrícola/doméstico (8,88%) e
abaixo dos 6 anos de idade. Felizmente, na maioria os domissanitários (11,02%) (Tabela 19.1). Dentre
dos casos, o agente tem mínimo ou nenhum efeito tó- os medicamentos, destacam-se: analgésicos, antitus-
xico importante. Ocasionalmente, porém, essa exposi- sígenos, antigripais, vitaminas, anti-hipertensivos,
ção pode causar morbidade significativa e até a morte. sedativos benzodiazepínicos, antidepressivos e anti-
-inflamatórios.
Embora medidas preventivas reduzam a frequ-
A principal circunstância é o acidente, respon-
ência das intoxicações agudas, os acidentes desse tipo
sável por 53,7% do total de casos registrados, seguido
continuam a acontecer. É necessária uma estratégia da tentativa de suicídio com 21,39% e da intoxicação
de atendimento e prevenção efetivas, e também que o ocupacional com 6,1%. Para os medicamentos, ratici-
médico generalista esteja familiarizado com o assun- das, agrotóxicos de uso agrícola e drogas de abuso, a
to, já que frequentemente será ele o responsável pelo tentativa de suicídio apresenta a maior participação
primeiro e decisivo suporte. percentual, ficando à frente do acidente (Tabela 19.2).
255
26 Urgências pediátricas - intoxicações agudas

Quanto às faixas etárias mais acometidas, des- do paciente (incluindo controle de hipo/hipertermia)
tacam-se as crianças menores de 5 anos, com 24,07% (E). O choque, as arritmias, a parada cardiorrespira-
do total de casos, os adultos de 20 a 29 anos com tória e as convulsões devem ser tratados como em
18,89% e os de 30 a 39 anos com 13,63%. qualquer outro paciente enfermo. Porém, há algumas
Os principais agentes que causam intoxicações situações que requerem abordagem específica, como:
em crianças menores de 5 anos são os medicamentos administração precoce de bicarbonato de sódio na in-
domissanitários. Para os jovens de 15 a 19 anos desta- toxicação por antidepressivo tricíclico (ATC), evitar
cam-se os medicamentos e as drogas de abuso. De 15 fenitoína nas convulsões secundárias à cocaína e ATC,
a 39 anos é a faixa de maior frequência de intoxicações porque pode haver exacerbação da cardiotoxicidade
com drogas de abuso. dessas drogas pela propriedade de bloqueio de canais
de sódio e nos casos de envenenamento por paraquat,
Foram registrados 488 óbitos (30 em crianças e manter o oxigênio no mínimo indispensável, para
com menos de 5 anos), com letalidade geral de 0,45%. não agravar o estresse oxidativo e a fibrose pulmonar.
Os principais agentes tóxicos envolvidos em óbitos fo-
ram os agrotóxicos de uso agrícola, os medicamentos Nesse passo inicial, é importante atentar que as
e os raticidas. As maiores letalidades foram geradas crianças têm maior risco de desidratação, hipoglice-
pelos agrotóxicos e pelas drogas de abuso, com valo- mia e distúrbios hidroeletrolíticos, que podem neces-
res de 3,03% e 0,95%, respectivamente. Felizmente, sitar de condutas imediatas. Além disso, nessa faixa
os óbitos são menos frequentes em crianças, e a faixa etária, pode haver maus-tratos, o que implica risco de
entre 20 e 39 anos de idade faixa é a de maior número traumas e intoxicações intencionais.
de mortes. Diante desses dados, é importante enfati-
zar que os casos de intoxicação graves são raros, e em
geral os sinais clínicos severos ocorrem em menos de econ ecimento da to síndro-
5% dos pacientes.
me e do a ente ca sa
As tentativas de suicídio respondem por 63%
dos casos de óbitos por intoxicação exógena registra- Essa é a etapa de obtenção de história e exame
dos no Brasil. físico, completos e detalhados, do quadro e da identi-
Mais de 90% dos casos em crianças ocorrem no ficação do agente tóxico por relato, suspeita clínica ou
ambiente doméstico. A rota de exposição mais comum laboratorial.
é a ingestão, correspondendo a 75% dos casos, com as
vias oftálmica, cutânea e inalante ocorrendo cada uma
em cerca de 6% dos acidentes. As crianças de 6 a 12 2.1 Anamnese
anos de idade são bem menos propensas a esse tipo de Obter informações de diferentes membros da
acidente; já os adolescentes e adultos jovens são víti- família e do paciente, se possível. Em situações de ex-
mas de casos intencionais, mais frequentemente pelo posição não presenciada, o início súbito e incaracte-
vício ou suicídio. rístico de sintomas, estado mental alterado, a epide-
miologia e a conjuntura ambiental do paciente podem
fazer suspeitar de intoxicação aguda.
Assistência médica O local onde a vítima foi encontrada, substâncias
nas proximidades, uso de medicações por coabitantes,
ao paciente vítima local onde são guardados remédios e produtos quími-
de intoxicação aguda cos e condutas já efetuadas são informações valiosas
nesses casos suspeitos.
Normalmente se divide o atendimento ao pa- Na situação de exposição sabida e presenciada, é
ciente intoxicado em cinco etapas: importante haver uma descrição o mais precisa e de-
€ estabilização; talhada possível do produto, sempre tentar resgatar a
embalagem, obtendo dados de dose e concentração, e
€ reconhecimento da toxsíndrome e identificação
da hora do contato e início dos sintomas. Além disso,
do agente;
detalhar os antecedentes pessoais da vítima: a gra-
€ descontaminação; videz, por exemplo, é um fator importante de influ-
€ aumento da eliminação; ência na tentativa de suicídio na adolescência e pode
influenciar no plano terapêutico.
€ antídotos.

Perguntas fundamentais na anamnese:


sta i i a o € Qual foi o produto envolvido?
De acordo com as diretrizes do Suporte Avan-
çado de Vida, procede-se ao atendimento inicial do
€ Qual a via de exposição?
paciente em uma sequência de avaliação e manejo da € Qual a dose estimada?
via aérea e coluna cervical (A), da respiração (B), da € A exposição foi acidental ou intencional (mais
circulação (C), do quadro neurológico (D) e exposição
grave)?

SJT Residência Médica – 2016


256
Pediatria geral, emergências pediátricas e neonatologia

€ Onde ocorreu?
€ Quem estava cuidando do paciente (maus-tratos)?
€ Há quanto tempo ocorreu a exposição?
€ O que foi feito?

2.2 Exame físico


Buscar sinais e sintomas clínicos característicos pode dar uma forte pista diagnóstica ou orientar quanto ao
tratamento e prognóstico.
Realizar um exame completo com ênfase nos sinais vitais (pulso, respiração, pressão arterial, temperatura),
no exame neuromuscular (ataxia, delírio, psicoses, convulsões, paralisias, coma), no exame oftalmológico (pupi-
las, nistagmo, desvio do olhar, conjuntivas), na pele (icterícia, cianose, coloração, umidade), nos odores, princi-
palmente o hálito, e na inspeção da boca em busca de sinais de lesões corrosivas e restos do produto.
Dentro do exame clínico do paciente, tentar encaixá-lo em toxsíndromes, que são um complexo de sinais e
sintomas produzidos por substâncias, que, apesar de diferentes, têm um efeito sindrômico semelhante (Tabela 26.1).

Síndromes Sintomas Causas


Anticolinérgica Hipossecreção de glândulas exócrinas com mucosas e Anti-histamínicos H1, atropina, escopo-
pele secas, hipertermia, taquicardia, midríase, retenção lamina (antiespasmódicos), antidepressi-
urinária e diminuição/abolição de RHA* intestinais, de- vos tricíclicos (ATC) e midriáticos.
lírios, alucinações, agitação ou sonolência, sede, pele
ruborizada.
Anticolinesterá- Hipersecreção de glândulas exócrinas com mucosas úmi- Organofosforados, carbamatos, al-
sica das (salivação, hipersecreção brônquica, sudorese, lacri- guns cogumelos e picada de aranha vi-
(colinérgica) mejamento), bradicardia, miose, incontinência urinária úva-negra.
e aumento de RHA intestinais com diarreia e vômitos,
convulsões e coma, fasciculações musculares, broncoes-
pasmo, fraqueza ou paralisia.
Simpaticomimé- Sudorese (pele úmida), hipertermia, taquicardia, mi- Cocaína, ecstasy, efedrina e pseudoefedri-
tica dríase, diminuição de RHA* intestinais não abolidos, na (descongestionantes sistêmicos), an-
(adrenérgica) excitação, psicose, hiperatividade, convulsões, hiper- fetamina e derivados, cafeína e teofilina.
tensão, hiper-reflexia.
Narcótica Depressão respiratória, neurológica, bradicardia, mio- Opiáceos (drogas de abuso, elixir pa-
se, RHA diminuídos e constipação, retenção urinária, regórico, loperamida, morfina e outros
hiporreflexia, hipotensão, hipotermia. analgésicos).
Depressiva do Depressão respiratória e neurológica (sonolência, tor- Benzodiazepínicos, barbitúricos, eta-
SNC** por, coma), bradicardia, hiporreflexia, hipotensão, hi- nol, clonidina, descongestionantes tó-
potermia, pupilas normais, midríase ou miose (nafazo- picos imidazolínicos (nafazolina), opio-
lina) ou alternando miose/midríase (barbitúricos) ou ides, anti-histamínicos.
miose puntiforme (opioide).
Liberação Tremor, opistótono, torcicolo, distonias, crise oculógi- Haloperidol (butirofenonas), meto-
extrapiramidal ra, distúrbios do equilíbrio, distúrbios da movimenta- clopramida (Plasil), clorpromazina e
ção, mioclonias, parkinsonismo. prometazina (fenotiazínicos), domperi-
dona (antirrefluxo gastroesofágico).
Metemoglobinê- Cianose cinza-acastanhada resistente à administração Sulfonas, dapsona, nitratos e nitritos,
mica de oxigênio, taquicardia, irritabilidade, convulsões, cefa- sulfonamidas, metoclopramida, anesté-
leia, confusão mental, dispneia, depressão neurológica. sicos locais, nitrofurantoína, quinonas,
óxido nítrico.
Convulsiva Teofilina, cocaína, anfetaminas, ecs-
tasy, cafeína, carbamazepina, isoniazi-
da, ATC.
Ataxia Hidantoína, piperazina, carbamazepi-
na, anti-histamínicos H1, álcoois.
Rabdomiólise Mialgia generalizada, urina escura (mioglobinúria), insu- Cocaína, ecstasy (hipertermia maligna),
ficiência renal aguda, aumento de enzimas musculares anfetaminas, picada de cascavel.
Tabela 26.1 *Ruídos hidroaéreos. **Sistema nervoso central.

SJT Residência Médica – 2016


257
26 Urgências pediátricas - intoxicações agudas

2.3 Consulta ao centro de intoxicação 3.3 Descontaminação gastrointestinal


de referência Vários procedimentos são usados para impedir
Proporciona ajuda de informação, investigação e a absorção de uma toxina pelo trato gastrointestinal
conduta em todas as fases de condução do paciente. (TGI), e cada um deles tem suas limitações e riscos. A
decisão de usar um determinado método deve se base-
ar na avaliação dos benefícios sobre os riscos do proce-
2.4 Avaliação laboratorial dimento. O papel dessas medidas foi discutido, e con-
Os testes laboratoriais toxicológicos qualitativos sensos foram publicados pela American Academy of
(triagens/ screenings) são limitados a determinadas Clinical Toxicology (AACT) e European Association of
substâncias pesquisadas de acordo com o centro de re- Poison Centers and Clinical Toxicologists (EAPCCT).
ferência. São úteis na identificação de agentes desco- O tempo decorrido da ingestão do agente é uma
nhecidos pela história e quadro clínico e especialmen- limitação importante, já que várias substâncias são ra-
te nas substâncias ilícitas. Muitas vezes, não mudam pidamente absorvidas. As exposições a tóxicos geral-
a condução do caso. Podem ser realizados na urina e/ mente não são graves, principalmente em crianças me-
ou sangue e geralmente detectam ansiolíticos, antiepi- nores de seis anos. Portanto, se for instituída medida
lépticos, antidepressivos, antipsicóticos, analgésicos- de descontaminação após a absorção e em casos desne-
-antipiréticos, teofilina, digoxina, ferro, lítio e álcoois. cessários, trata-se de iatrogenia sujeita a complicações.
Os exames quantitativos geralmente são soli-
citados quando disponíveis e quando a concentração 3.3.1 Xarope de ipeca (indução de vômitos)
sérica influenciar na conduta. São úteis, por exem-
plo, nos casos de intoxicação por paracetamol, sais de Emetizante que age através de dois componentes
ferro, salicilatos, teofilina, fenitoína, carbamazepina, de efeito na mucosa gástrica e no sistema nervoso cen-
fenobarbital e digitálicos. Contudo, na maioria das ve- tral, emetina e cefalina, respectivamente. Produz vômi-
zes, as concentrações plasmáticas dos agentes não se tos em 90% dos pacientes após cerca de 20 a 30 minu-
correlacionam com a intensidade dos achados clínicos. tos da dose ingerida. Não disponível comercialmente
Há exames de identificação indireta, como a do- no Brasil, sendo obtido em farmácias de manipulação.
sagem da atividade enzimática da acetilcolinesterase (or- A AACT/EAPCCT recomenda que não seja uti-
ganofosforados), dosagem de metemoglobinemia (dap- lizado de rotina. Estudos experimentais mostraram
sona) e carboxiemoglobinemia (monóxido de carbono). remoção altamente variável de marcadores, e não há
evidência, nos estudos clínicos, de melhora na evolu-
ção de pacientes intoxicados. Pode atrasar a instalação
escontamina o de outras medidas mais efetivas, e não há dados sufi-
É o conjunto de medidas tomadas para prevenir cientes que justifiquem ou excluam sua administração
a absorção da substância. Uma ação imediata para re- logo após a ingestão do agente tóxico.
mover a toxina do contato com a superfície absortiva é
Contraindicado a pacientes com diminuição do
crucial e pode fazer a diferença na evolução do paciente.
nível de consciência, lactentes menores de seis meses
e ingestão de substâncias cáusticas e hidrocarbonetos,
3.1 Descontaminação dérmica e ocular pelo maior risco de lesão da mucosa digestiva, esofági-
Pode ser realizada lavando-se a área afetada com ca principalmente, e aspiração.
água morna corrente. Recomenda-se um mínimo de Na década de 1980, a Academia Americana de
10 minutos para as exposições oculares, embora al- Pediatria (AAP) recomendou o armazenamento desse
gumas substâncias químicas, principalmente agen- xarope em casa para uso sob recomendação médica
tes corrosivos alcalinos, possam exigir períodos mais ou de centros de intoxicação especializados. Nos últi-
longos de lavagem. Nas exposições dérmicas faz-se mos anos, com base em estudos epidemiológicos e na
procedimento semelhante, dando ênfase aos cabelos
ausência de evidência científica de melhora no prog-
e removendo roupas e acessórios. Não se deve colocar
nóstico, as grandes associações contraindicaram seu
ácido sobre base ou vice-versa para “neutralizar”, pois
uso na sala de emergência, e a AAP (2003) contraindi-
essa reação elimina energia, podendo causar danos ao
tecido vivo subjacente. cou seu uso domiciliar. A AAPCC (2005) restringiu o
seu uso em situações de atendimento pré-hospitalar,
antes de 30-90 minutos da ingestão, sem contraindi-
3.2 Descontaminação de agentes inalantes cações ao xarope, em casos com risco de grande toxi-
Remoção do paciente do ambiente contaminado cidade, sem demais alternativas terapêuticas efetivas
para um local de ar fresco. Administração de oxigênio, (carvão ativado, por exemplo), quando não interferir
se necessário. É importante lembrar da proteção do em possíveis condutas mais definitivas e quando não
socorrista, evitando sua contaminação durante a as- houver possibilidade de chegar ao serviço médico an-
sistência à vítima. tes de 1 hora após a ingestão.

SJT Residência Médica – 2016


258
Pediatria geral, emergências pediátricas e neonatologia

3.3.2 Lavagem gástrica As doses utilizadas são de 1 g/kg de peso; em


crianças maiores varia de 25 a 50 g e em adultos, de 50
Essa técnica consiste em introduzir uma sonda a 60 g por via oral ou por sonda gástrica. É adminis-
no estômago com administração de soro e aspiração trado diluído a 10%-20% em água ou líquidos variados
sequencial do conteúdo gástrico. O objetivo é remover para melhorar sua palatabilidade. Sua tolerância pode
restos do material ingerido que ainda passariam para ser melhorada com o uso de antieméticos.
o intestino e seriam absorvidos. Há descrição de complicações no procedimen-
A AACT/EAPCCT recomenda que não seja utiliza- to gerando vômitos, aspiração de conteúdo gástrico
da de rotina; estudos experimentais mostraram remo- (pneumonia aspirativa), lesões traumáticas no pro-
ção altamente variável de marcadores e diminuição com cedimento de passagem da sonda, barotrauma por
o tempo. Estudos clínicos revelaram maior tendência a passagem da sonda na traqueia, perfuração gástrica e
uma ausência de benefícios na evolução de pacientes in- peritonite purulenta.
toxicados, havendo sérios riscos de complicações. É comprovadamente ineficaz em adsorver ál-
coois (metanol, etilenoglicol), sais de lítio e ferro, me-
Considerada em pacientes admitidos no hospi-
tais pesados e hidrocarbonetos/derivados do petróleo.
tal até 1 hora após o acidente, geralmente em casos
É contraindicado em casos de ingestão de cáusticos,
de ingestão de tóxicos pouco adsorvidos pelo carvão óleos essenciais e hipoclorito de sódio e em pacientes
ativado e em doses potencialmente deletérias. Deve com diminuição do nível de consciência (reflexo de en-
ser realizada através de instilação de solução salina gasgo deprimido) e depressão respiratória antes de ter
0,9% 10 mL/kg/vez (200 a 300 mL em adolescentes a via aérea protegida. Além disso, o carvão ativado não
e adultos), aquecida, aspirando a mesma quantidade pode ser usado em casos com íleo paralítico e obstru-
de volta. Procedimento repetido até retorno claro do ção intestinal.
líquido, com o paciente em posição de Trendelenburg
e decúbito lateral esquerdo.
3.3.4 Catárticos
As complicações da lavagem gástrica descritas
Sua administração isolada não é recomendada
são: aspiração de conteúdo gástrico (pneumonia as-
e não é considerada um método de descontaminação
pirativa), lesões traumáticas no procedimento de pas-
gastrointestinal. Com suporte nos dados disponíveis,
sagem da sonda, desequilíbrio hidroeletrolítico (into-
a AACT/EAPCCT não recomenda seu uso rotineiro em
xicação hídrica, hipo ou hipernatremia), barotrauma
combinação com o carvão ativado. Podem ser consi-
por passagem da sonda na traqueia, e mesmo a pos-
derados em conjunto com este, geralmente quando o
sibilidade de aceleração do esvaziamento gástrico, au-
carvão ativado for administrado em doses seriadas,
mentando o risco de absorção intestinal.
apenas na primeira dose, embora não haja evidência
Contraindicada a pacientes com diminuição do científica de benefícios. O catártico mais comumente
nível de consciência e depressão respiratória antes de ter usado é o sorbitol, na dose de 1 g/kg.
a via aérea protegida, ingestão de substâncias cáusticas Devem ser evitados em crianças pequenas (< 1
e hidrocarbonetos e na coingestão de objetos cortantes. ano), pelo risco de desidratação, em pacientes hipovo-
lêmicos e nos casos com oclusão intestinal. Especifi-
camente, os catárticos contendo magnésio não devem
3.3.3 Carvão ativado em dose única
ser usados em pacientes com insuficiência renal.
Trata-se de um adsorvente de toxinas que tem
como objetivo diminuir a quantidade de substância
3.3.5 Irrigação intestinal
livre disponível para absorção intestinal. Sua apresen-
tação geralmente é em pó, é considerado seguro e pro- Envolve a instilação de grandes volumes de uma
vavelmente efetivo. solução de lavagem colônica osmoticamente equili-
brada e não absorvida. O composto mais usado é o
A AACT/EAPCCT recomenda que não seja utiliza-
polietilenoglicol.
do de rotina; não há estudos clínicos satisfatórios que
mostrem benefícios e não há evidência de melhora na Há alguns estudos com voluntários que eviden-
evolução de pacientes intoxicados agudamente. Com ciam diminuição da biodisponibilidade de algumas
base em estudos com voluntários, pode ser conside- drogas; porém, faltam ensaios clínicos ou provas con-
rado em casos de ingestão potencialmente tóxica de clusivas de benefícios.
agentes comprovadamente adsorvidos pelo carvão e O procedimento pode ser considerado em situa-
de preferência até 1 hora da ingestão (sua eficácia tam- ções de substâncias não adsorvidas pelo carvão ativa-
bém diminui com o tempo). Apesar de a redução na do ingeridas em grande quantidade, pacotes de drogas
absorção de drogas diminuir para valores clinicamente ilícitas (cocaína e heroína), medicamentos de liberação
questionáveis após 1 hora da ingestão do agente tóxi- lenta ou entérica (particularmente se após 2 horas da
co, seu potencial benefício não pode ser excluído. ingestão) e nas intoxicações por sais de ferro. Con-

SJT Residência Médica – 2016


259
26 Urgências pediátricas - intoxicações agudas

traindicado em casos de instabilidade hemodinâmica, obstrução, perfuração ou hemorragia do TGI e depressão


do reflexo de engasgo ou insuficiência respiratória sem proteção das vias aéreas. Deve ser utilizada com cautela
em pacientes debilitados. A administração concomitante da irrigação intestinal e do carvão ativado pode alterar
a capacidade de adsorção do carvão.
A solução de lavagem de polietilenoglicol é administrada por via oral ou por sonda nasogástrica (via prefe-
rencial), até que o efluente retal esteja claro, o que pode levar horas. As doses recomendadas, de acordo com a
idade são: 9 meses-6 anos: 500 mL/h; 6-12 anos: 1.000 mL/h; adolescentes e adultos: 1,5 a 2 L/h.

mento da e imina o
Na prática, a tentativa do aumento de excreção de um tóxico é útil em poucos casos. As técnicas são consi-
deradas em situações específicas, levando em consideração riscos e benefícios.

4.1 Carvão ativado em múltiplas doses (CAMD)


Aumenta a eliminação de drogas que possuem circulação entero-hepática ou enteroentérica. As evidências
que suportam sua eficiência são baseadas em estudos com voluntários, com animais e descrições de casos não
controlados. A AACT/EAPCCT recomenda a consideração de seu uso quando um paciente ingerir doses potencial-
mente fatais de carbamazepina, dapsona, fenobarbital, quinina ou teofilina. Estudos com voluntários demons-
traram aumento de eliminação da amitriptilina, digitoxina, nadolol, fenilbutazona, fenitoína, piroxicam e sotalol;
porém, não há dados suficientes para recomendar ou excluir essa terapia nesses casos. Normalmente, é adminis-
trada uma dose de 1 g/kg de peso seguida de metade da dose inicial a cada 2-4 horas.

4.2 Diurese forçada


Procedimento que associa hiper-hidratação e uso de diurético na intenção de aumentar a eliminação de
substâncias com excreção principal por via renal. Essa técnica deve ser evitada pelos riscos de hipervolemia e
baixa eficácia.

4.3 Diurese alcalina


Tratamento que eleva a eliminação de agentes intoxicantes através da administração de bicarbonato de
sódio endovenoso para produzir urina com um pH > 7,5. Baseia-se no princípio de que as membranas celulares e
tubulares renais são mais impermeáveis a substâncias ionizadas; portanto, produzindo pH alcalino na urina, os
ácidos fracos serão dissociados e menos reabsorvidos.
Recomenda-se um bolo endovenoso de NaHCO3 de 1 a 2 mEq/kg com manutenção de 1,5 a 2 vezes a
dose basal. Aumenta a taxa de excreção do fenobarbital, salicilatos, clorpropamida e metotrexate. Deve ser
considerado como tratamento de primeira linha para intoxicações moderadas e severas por salicilatos que não
preencheram critérios para hemodiálise. Tem como complicações mais comuns a hipocalemia e a tetania por
alcalose metabólica.

4.4 Medidas dialisadoras


São mais proveitosas em substâncias com baixo peso molecular, baixo volume de distribuição, baixa ligação
a proteínas e alta hidrossolubilidade. Procedimento invasivo deve ser usado com cautela e indicação precisa. Pode
ser útil, por exemplo, nos casos de intoxicação por metanol, etilenoglicol, salicilatos, teofilina, vancomicina e lítio.
A hemoperfusão tem alguma vantagem em relação à hemodiálise tradicional, pois o sangue atravessa uma
coluna com carvão ativado e resina, adsorvendo determinadas substâncias. Teria melhor indicação, hipotetica-
mente, nas situações em que o agente tóxico é pouco hidrossolúvel e com alta afinidade pelos adsorventes.

ntídotos
Há poucos tóxicos para os quais existem antídotos. A lista a seguir relaciona alguns exemplos mais relevantes:

SJT Residência Médica – 2016


260
Pediatria geral, emergências pediátricas e neonatologia

Agente Antídoto
Paracetamol N-acetilcisteína
Benzodiazepínicos flumazenil
Opioides naloxone
Betabloqueadores glucagon
Sais de ferro deferoxamina
Inibidores da acetilcolinesterase (organofosfo-
atropina e pralidoxima
rados)
Digoxina anticorpo antidigoxina (Fab)
Arritmias por ATC bicarbonato de sódio
Isoniazida piridoxina
Hipoglicemiantes orais (sulfonilureias) octreotida
Metemoglobinemia azul de metileno
Síndromes extrapiramidais anti-histamínicos e biperideno
Etilenoglicol e metanol etanol/fomepizol
Monóxido de carbono oxigênio
hidroxicobalamina, nitrito de amila + nitrito de sódio + tiossulfato
Cianeto
de sódio

Tabela 26.2

Resumo 1
Principais agentes intoxicantes: medicamentos, domissanitários, produtos químicos
Epidemiologia industriais e agrotóxicos
Principais circunstâncias: acidente, suicídio
Faixa etária mais acometida: crianças < 5 anos
Conduta na emergência ABCDE
Toxsíndromes Anticolinérgica: inibição do parassimpático (anti-H1, ATC)
Anticolinesterásica: estimulação do parassimpático (organofosforados)
Simpaticomimética: estimulação do simpático (cocaína, xantinas)
Narcótica: depressão orgânica com miose puntiforme (opioides)
Liberação extrapiramidal: Plasil, antipsicóticos
Metemoglobinêmica: oxidação do ferro da hemácia (dapsona, sulfonas)
Descontaminação TGI Sem evidências por estudos clínicos controlados satisfatórios
Contraindicada em: ingestão de cáusticos e corrosivos, obstrução e perfuração intestinal,
ingestão de objetos cortantes, hidrocarbonetos, depressão do nível de consciência e respirató-
ria antes da proteção das VA
Xarope de ipeca: a princípio não usar
Lavagem gástrica: não usar de rotina
Carvão ativado dose única: usar o mais precocemente possível (<1 hora), atenção aos
agentes não adsorvidos pelo carvão
Irrigação intestinal: substâncias não adsorvidas pelo carvão ativado ingeridas em grande
quantidade, pacotes de drogas ilícitas, medicamentos de liberação lenta ou entérica e nas in-
toxicações por sais de ferro
Aumento da eliminação Diurese alcalina: salicilatos, fenobarbital, metotrexate, clorpropamida
Hemodiálise: drogas com baixo peso molecular, baixa ligação proteica, baixo volume de
distribuição, alta hidrossolubilidade
Antídotos Memorizar os principais
Tabela 26.3

SJT Residência Médica – 2016


261
26 Urgências pediátricas - intoxicações agudas

oxicaç s sp c ficas Tratamento


€ Suporte da via aérea, oxigenação e ventilação.
€ Instalar monitor cardíaco: tratar arritmias sin-
Antidepressivos tricíclicos tomáticas ou instáveis.
€ Estabelecer acesso venoso, tratar arritmias pre-
(ATC) sentes e choque hemodinâmico.
Fármacos com ação de bloqueio na recaptação € Considerar medidas de descontaminação.
neuronal de norepinefrina, serotonina e dopamina € Administrar bicarbonato de sódio para tratar
nos sistemas nervosos periférico e central. A toxicida- arritmias ventriculares, mantendo pH sérico
de clínica desses agentes é devida a seus três efeitos entre 7,45 e 7,55. Os antiarrítmicos da classe
colaterais principais: efeitos anticolinérgicos, blo- Ia (quinina, procainamida) são contraindicados.
queio excessivo da recaptação de norepinefrina e blo- Em caso de falha de resposta à alcalinização,
queio dos canais de sódio rápidos no miocárdio considerar lidocaína, apesar de essa droga ser
provocando depressão e arritmias cardíacas. No uso contraindicada por alguns autores. Se houver
hipotensão, infundir cristaloides em expansão
terapêutico, também produzem graus variáveis de se-
com monitorização de edema pulmonar. Se ne-
dação e bloqueio α-adrenérgico. A dose tóxica varia de cessário, introduzir drogas vasopressoras.
5 a 20 mg/kg, podendo ser menor com a ingestão de
€ As convulsões costumam responder a benzodia-
nortriptilina e desipramina, por exemplo.
zepínicos (primeira escolha) e fenobarbital. A feni-
Agentes: amitriptilina, desipramina, imiprami- toína pode causar arritmias, devendo ser evitada.
na, nortriptilina, doxepina. € Considerar medidas de descontaminação. Não
Sinais e sintomas: três Cs e A (TCA- tricyclic anti- usar fisiostigmina (inibidor da acetilcolineste-
depressant), regra mnemônica para coma, convulsões, rase), que, apesar de ter um efeito fisiopatoló-
gico aparentemente interessante, pode causar
arritmias cardíacas e acidose.
convulsões e arritmias.
Sistema nervoso: os sintomas podem se apre- € Manter monitorização de ECG internado por
sentar precocemente, causados pelo efeito anticolinér- no mínimo 6 horas em pacientes assintomáti-
gico. Agitação, delírio, psicose, convulsões, mioclonia, cos e por tempo mais prolongado se estiverem
visão borrada, letargia, midríase, sonolência, coma, presentes alterações eletrocardiográficas.
boca seca, pele quente, seca e ruborizada, dimi-
nuição da peristalse intestinal, retenção urinária.
Cardiovascular: precocemente, surgem taqui- Cocaína
cardia sinusal (achado comum), hipertensão e taqui-
cardia supraventricular pelo excesso de norepinefrina A cocaína pode ser usada por via intranasal, injetá-
não recaptada. A inibição dos canais de sódio e potás- vel e fumada, ou inalada nas formas de crack ou pasta. É
sio do miocárdio pode provocar bradicardia, bloqueio absorvida por todas as membranas mucosas, pelos tra-
cardíaco, extrassístoles, taquicardia ventricular, fibri- tos gastrointestinal (rota de exposição mais comum nas
lação ventricular, alargamento do QRS, prolonga- crianças) e genitourinário. Bloqueia a recaptação de no-
mento do QT e PR e infradesnivelamento do ST. Po- radrenalina, adrenalina, dopamina e serotonina na fenda
dem ocorrer ainda hipotensão e acidose metabólica. sináptica, levando ao acúmulo desses neurotransmisso-
res e a efeitos adrenérgicos, dopaminérgicos e serotoni-
No eletrocardiograma, o alargamento do QRS nérgicos no sistema nervoso central e periférico.
(particularmente os 40 ms terminais) e a duração do
QRS ≥ 100 ms podem ser preditivos de convulsões e Sinais e sintomas: normalmente divididos em
arritmias cardíacas. Outros estudos apontaram a onda três fases de duração variável: estimulação precoce, es-
R ≥ 3 mm e a relação R/S ≥ 0,7 em AVR como melhores timulação avançada e depressão. Têm características
preditores. simpaticomiméticas.
Respiratório: hipoventilação, edema pulmonar Sistema nervoso: elevação do humor, euforia, mi-
e hipoxemia. dríase, tremores, convulsões, distúrbios do movimento,
alucinações e hipertermia. Nas fases tardias de depres-
Os efeitos terapêuticos dos ATC podem demorar
são, surgem coma, hiporreflexia e paralisia muscular.
semanas para se manifestar; porém os sintomas tóxi-
cos são precoces, nas primeiras horas após a ingestão, Cardiovascular: taquicardia, hipertensão, sín-
com os sintomas sérios geralmente ocorrendo dentro drome coronariana aguda, insuficiência cardíaca,
de 6 horas. As arritmias cardíacas podem se manifes- taquiarritmias ventriculares e prolongamento dos
tar após uma aparente melhora do paciente, mas acha- intervalos QRS e QT (arritmias por estimulação adre-
dos clínicos severos tipicamente se resolvem dentro nérgica e bloqueio de canais de sódio). Os acidentes
de 24-48 horas de evolução. isquêmicos cerebrais podem fazer parte do quadro.

SJT Residência Médica – 2016


262
Pediatria geral, emergências pediátricas e neonatologia

A síndrome coronariana aguda (SCA) resul- aguda. O uso do ecstasy vem aumentando nos últimos
ta da estimulação beta-adrenérgica, com aumento do anos e é “popular” em festas rave, pois potencializa a
consumo de oxigênio pelo miocárdio, associado à va- desinibição, a disposição e a sexualidade. Pode provocar
soconstrição coronariana pela estimulação alfa-adre- problemas permanentes físicos e psiquiátricos nos usu-
nérgica e serotoninérgica e pelo aumento da agrega- ários e levar à morte por hiperpirexia, hiponatremia,
ção plaquetária. Ocorre em 6% dos pacientes com dor rabdomiólise, coagulação intravascular, arritmias cardí-
torácica e pode acontecer tanto no usuário crônico acas, acidente vascular cerebral e isquemia miocárdica.
como no primeiro contato com a droga. O ECG é útil, A efedrina é um agente adrenérgico de uso
mas pode mostrar-se alterado mesmo na ausência de sistêmico, com ação nos receptores α e β. Utilizado
SCA; a troponina parece ser mais sensível e específica principalmente como descongestionante nasal, na
no diagnóstico. incontinência urinária, na falência ejaculatória, na hi-
Hematológico: ativação e agregação plaquetá- potensão anestésica e, em algumas vezes, como droga
rias; pode causar lesão endotelial e aceleração da ate- de abuso. Tem efeitos simpaticomiméticos, predomi-
rosclerose em usuários crônicos. nantemente hipertensão, taquicardia, midríase e agi-
Muscular: rabdomiólise, mioglobinúria. tação. Pode provocar intoxicações agudas, principal-
mente em crianças.
Renal: insuficiência renal aguda pode ocorrer
pela mioglobinúria. Os derivados imidazolínicos, como a nafa-
zolina e a oximetazolina, são drogas α-2-agonistas
dos receptores pós-sinápticos periféricos, com ação
Tratamento tópica vasoconstritora local. São usados como descon-
€ Suporte da via aérea, oxigenação e ventilação. gestionantes de aplicação nasal e oftálmica. Os efeitos
sistêmicos intoxicantes são provocados pela estimula-
€ Instalar monitor cardíaco – tratar arritmias sin-
ção dos receptores centrais α-2 pré-sinápticos, que são
tomáticas ou instáveis.
inibidores da atividade simpática cerebral. As princi-
€ Estabelecer acesso venoso e tratar arritmias pais manifestações clínicas das intoxicações agudas
presentes e o choque hemodinâmico. são: sonolência e depressão do SNC, sudorese, pali-
€ Considerar medidas de descontaminação. A ir- dez, hipotensão, bradicardia, apneia, hipoventilação,
rigação intestinal é muitas vezes utilizada na alterações pupilares (miose ou midríase), hipotermia
ingestão de pacotes de cocaína. e hipertensão inicial transitória em alguns casos. Por-
€ Para o controle da agitação, administrar benzo- tanto, apesar de ser um agente com ação estimulatória
diazepínicos e evitar as butirofenonas e fenotia- em receptor simpático, perifericamente tem ação va-
zínicos, como o haloperidol e a clorpromazina, soconstritora, mas quando em doses tóxicas atua em
que podem interferir na regulação térmica e receptor inibidor central, provocando depressão.
precipitar ataques convulsivos.
€ O manejo da síndrome coronariana aguda cau-
sada pela cocaína difere do tratamento clássico
do infarto do miocárdio. As medicações de pri-
Bloqueadores de canais
meira linha são: oxigênio, benzodiazepínicos de cálcio
(que reduzem a estimulação central, taquicardia
Fármacos utilizados no tratamento da hiperten-
e hipertensão), nitratos como vasodilatadores
são e na insuficiência cardíaca.
coronarianos, e aspirina e heparina (redução da
agregação plaquetária). Os bloqueadores de ca- Agentes: anlodipino, diltiazem, felodipino, ni-
nais de cálcio e os alfabloqueadores podem ser cardipino, nifedipino, verapamil e nimodipino.
úteis. A trombólise não deve ser usada de rotina,
pois pode não sobrepor o espasmo coronariano.
Sinais e sintomas
€ Não dar betabloqueadores (aumentam a pres-
são arterial e a vasoconstrição coronariana). Sistema nervoso: alteração do estado mental,
síncope, convulsões e coma, causados por hipoperfu-
€ A fentolamina pode ser útil na SCA, e o bicarbo-
nato de sódio, nas arritmias ventriculares. são cerebral.

O crack da cocaína é a base cristalina da droga, Cardiovascular: bradiarritmias causadas por


estável no calor, considerado a forma mais potente e inibição das células dos marca-passos e bloqueio
causadora de dependência, podendo ser fumado. atrioventricular (AV) ou dissociação AV. Hipoten-
são por vasodilatação e depressão da contratilida-
As anfetaminas e derivados, como o ecstasy de miocárdica com insuficiência cardíaca.
(3,4-metilenodioximetanfetamina-MDMA), tam-
bém provocam efeitos simpaticomiméticos, e podem Respiratório: edema pulmonar.
causar arritmias cardíacas e síndrome coronariana Gastrointestinal: íleo paralítico.

SJT Residência Médica – 2016


263
26 Urgências pediátricas - intoxicações agudas

A aspartato aminotransferase (AST) e o INR são


Tratamento
os marcadores mais sensíveis e precoces de hepatoto-
€ Suporte da via aérea, oxigenação e ventilação. xicidade, elevando-se em 24 a 36 horas. Pode haver
€ Instalar monitor cardíaco: tratar arritmias sin- morte por hepatite fulminante.
tomáticas ou instáveis (marca-passo pode ser
necessário para tratar bradiarritmias).
€ Estabelecer acesso venoso e tratar arritmias Tratamento
presentes e choque hemodinâmico.
Uma única dose de 140 a 150 mg/kg requer
€ Considerar medidas de descontaminação. avaliação cuidadosa. Após 4 horas da ingestão, dosar
€ Hipotensão: infundir expansão com solução fi- o nível sérico e marcá-lo no nomograma de Rumack-
siológica 5 a 10 mL/kg. Monitorar o surgimento -Matthew. As dosagens antes desse período podem
de edema pulmonar. Pode ser necessário o uso não refletir os níveis máximos, e após 15 horas da in-
de drogas vasopressoras para tratar bradicar- gestão devem ser interpretadas com cuidado.
dias ou hipotensão. Cloreto de cálcio, ou gluco-
nato, são geralmente administrados durante o Para o paracetamol de liberação lenta, deve-se
tratamento, mas sua eficácia é variável. obter uma segunda dosagem 8 horas após a ingestão.
A insulina mais glicose, o glucagon e a atropina
são terapias alternativas. 200
150 1000

Concentração plasmática de Acetaminofen (µg/mL)

Concentração plasmática de Acetaminofen (µM/L)


100
Provável toxina hepática 500
Acetaminofen 50
Fármaco rapidamente absorvido e metaboli-
zado no fígado. Provoca uma depleção da glutationa
hepática, com a formação de metabólitos tóxicos que 100
se ligam a macromoléculas hepáticas, resultando em
necrose de hepatócitos e lesão renal. 10
Sem toxina hepática 50
A dose hepatotóxica do paracetamol é geralmen- 5 30
te aceita como ≥ 150 mg/kg (7,5 g); porém, em pacien- Possível toxina hepática
25%
tes com fatores de risco, alguns centros consideram
doses menores, ≥ 75 mg/kg. É sabido que as crianças
10
são menos suscetíveis, e as referências de doses tóxi-
cas variam de 150 a 200 mg/kg. 1
0 4 8 12 16 20 24
Horas após ingestão
Fatores de risco na superdosagem por paracetamol
Baixo estoque de glutationa Indução do citocromo Figura 26.1 Nomograma de Rumack-Matthew.
hepática p450
Anorexia nervosa 200 1,3
Fenitoína
Bulimia 180 A- Sem risco de tratamento 1,2
Carbamazepina
HIV 160 B- Alto risco de tratamento 1,2
Rifampicina
Plasma paracetamol (mmol/l)

1,0
Plasma paracetamol (mg/l)

Fibrose cística 140


Fenobarbital 0,9
Desnutrição A
0,8
120
Tabela 26.4 100
0,7
0,6
80 0,5
B
60 0,4

Sinais e sintomas 40
0,3
0,2
Náuseas, vômitos e mal-estar surgem precoce- 20
0,1
mente por 24 horas. Depois, segue-se uma melhora 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
0,0

aparente nas próximas 48 horas, com início de dor em Horas após ingestão
hipocôndrio direito, elevação de enzimas hepáticas, bi- Figura 26.2 Nomograma de Prescott.
lirrubinas, prolongamento do TP e alteração da função
renal, com ureia diminuída por alteração de sua forma-
€ Suporte da via aérea, oxigenação, ventilação e
ção no fígado. Após 72 horas, ocorrem as sequelas da
necrose dos hepatócitos com evidência clínica e labora- circulação.
torial de disfunção hepática. Se o dano for reversível, € Considerar descontaminação gastrointestinal
ocorre recuperação em quatro dias a duas semanas. precoce – carvão ativado, lavagem gástrica.

SJT Residência Médica – 2016


264
Pediatria geral, emergências pediátricas e neonatologia

€ A N-acetilcisteína (NAC) serve como um pre-


cursor disponível para a síntese de glutationa,
Tratamento
e deve ser iniciada se os níveis séricos de ace- € Suporte da via aérea, ventilação, oxigenação e
taminofen estiverem acima da linha mais baixa circulação.
do nomograma. € Considerar descontaminação gastrointestinal.
Esse antídoto é muito eficaz se administrado € Os níveis séricos dos salicilatos se correlacio-
dentro das primeiras 8 horas após o acidente; porém nam mal com a toxicidade. Porém, em pacientes
deve ser usado em até 24 horas. Entretanto, nos casos graves, são obrigatórios para monitorar os pi-
em que houver disfunção hepática, a NAC é indicada cos, a eficiência do tratamento e a necessidade
mesmo após 24 horas após a ingestão. de hemodiálise. Seis horas de nível sérico acima
de 100 mg/dL são consideradas potencialmente
Por via oral a N-acetilcisteína pode ser adminis-
letais e uma indicação de diálise.
trada em bolos lentos ou por infusão contínua. Dose
de ataque de 140 mg/kg e manutenção de 70 mg/kg/ € Tratar os distúrbios hidroeletrolítico (K+ prin-
dose de 4/4 horas por 17 doses. As soluções para uso cipalmente) e da glicemia.
oral devem ser preparadas na proporção de 1:4, e as € Como o salicilato é um ácido fraco, deve-se alca-
endovenosas, em pelo menos 1:5. Por via endovenosa, linizar a urina com a administração de bicarbo-
deve ser dada quando houver intolerância ao medica- nato de sódio e manter a diurese maior do que
mento por via oral, mesmo após o uso de antieméti- 2 mL/kg/h.
cos, obstrução ou sangramentos do TGI e no período € Iniciar hemodiálise se distúrbios hidroeletrolí-
neonatal (overdose materna). tico e/ou metabólicos refratários, insuficiência
renal refratária, piora clínica progressiva, ede-
ma pulmonar e nível sérico de salicilato estive-
rem persistentemente acima de 100 mg/dL.

Salicilatos
A incidência de intoxicação por salicilatos decli-
nou, sobretudo em crianças pequenas, pelo uso mais
Organofosforados e carbamatos
comum de outros antipiréticos. Afeta os sistemas São utilizados como inseticidas ou acaricidas
através do desacoplamento da fosforilação oxidativa, em ambiente doméstico, industrial e agrícola como
inibição das enzimas do ciclo de Krebs e inibição da agrotóxicos. Os organofosforados e carbamatos são
síntese de aminoácidos. Em geral, se considera a dose absorvidos por todas as vias de exposição, mais fre-
tóxica aguda de 150 mg/kg. quentemente pelas vias oral, cutânea e respiratória.
Inibem a atividade da acetilcolinesterase, colinestera-
se verdadeira ou eritrocitária, e promovem o acúmulo
de acetilcolina nas terminações nervosas.
Sinais e sintomas O chumbinho é um raticida sem registro oficial,
vendido clandestinamente no comércio informal, e
Fase 1: estimulação direta do centro respiratório
contém um agrotóxico carbamato de nome técnico
levando a hiperventilação, alcalose respiratória e
Alicarb (figura a seguir).
alcalúria; hiperpirexia, letargia, hiperglicemia, convul-
sões e vômitos pela estimulação de quimiorreceptores
centrais. Essa fase pode durar até 12 horas, ou mesmo
ser inaparente em lactentes.
Fase 2: hipocalemia com acidúria paradoxal
(troca de K+ por H+ nos túbulos renais) na vigência de
alcalose respiratória.
Fase 3: edema cerebral, edema pulmonar, de-
sidratação, hipocalemia, acidose metabólica com
anion gap aumentado e hiperventilação compensa-
tória, secundárias ao acúmulo de ácidos metabólicos.
Pode começar em 4-6 horas nos lactentes pequenos ou
em 24 horas ou mais em adolescentes e adultos.
Os efeitos de irritação gástrica podem provocar
dispepsia, vômitos e hemorragia digestiva, e os efeitos
de inibição da adesividade plaquetária podem provo-
car hemorragias diversas. Figura 26.3

SJT Residência Médica – 2016


265
26 Urgências pediátricas - intoxicações agudas

por carbamatos é controverso, sendo geralmen-


Sinais e sintomas te contraindicada na classe carbaril, quando
Classicamente, provocam uma síndrome co- pode potencializar sua toxicidade. Os carbama-
linérgica pela estimulação muscarínica. Sintomas tos inibem e bloqueiam a atividade das colines-
musculares de fasciculação, tremores, espasmos e fi- terases transitoriamente, enquanto os organo-
brilações ocorrem pela estimulação nicotínica nas jun- fosforados evoluem sua ligação a essa enzima
ções neuromusculares. No SNC, acarretam cefaleia, para a irreversibilidade.
sonolência, ansiedade, confusão, convulsões, coma e € Diazepam: após garantia da ventilação e ade-
ataxia. Podem ainda provocar alguns sintomas sim- quada atropinização, para controlar a ansieda-
páticos pela estimulação ganglionar, ou seja, antes do de, agitação, fasciculações e convulsões.
neurônio terminal.
Após 24 a 96 horas de exposição a alguns or-
ganofosforados, pode surgir uma síndrome inter- T picos sobre agentes que á
mediária com fraqueza e paralisia muscular. Com
7 a 21 dias de exposição a certos compostos dessa foram tema de questões
classe, pode aparecer uma polineuropatia tardia com A intoxicação por FERRO normalmente é dividi-
fraqueza distal, cãibras, parestesias, hiporreflexia e da em 4 fases:
liberação extrapiramidal.
1- Corrosivo para o TGI, causando sintomas de
náuseas, vômitos, dor abdominal, hematêmese e me-
Tratamento lena. De 30 minutos a 6 horas após ingestão.
€ Suporte da via aérea, ventilação, oxigenação e 2- Período latente de 6 a 24 horas após a ingestão.
circulação. 3- Lesão ou insuficiência hepática, choque, aci-
€ Considerar descontaminação gastrointesti- dose, coma, convulsões e hemorragias. De 6 a 48 horas
nal nas ingestões, realizar lavagem da pele em após a ingestão.
contaminações cutâneas e remover a vítima de
4- Complicações tardias de estenose pilórica
ambientes contaminados em caso de contami-
nação inalatória.
ou antral.
€ Para o diagnóstico, dosar a atividade das co- No tratamento da exposição a ferro, a radiografia
linesterases (plasmática e eritrocitária), que abdominal pode localizar tabletes radiopacos. Realizar
estará reduzida em 50% ou mais. Monitorar nível sérico e considerar descontaminação intestinal
enzimas musculares, bioquímica sérica, tran- com lavagem gástrica, endoscopia digestiva alta e/ou
saminases, função renal, gasometria, amilase e irrigação intestinal. Administrar deferoxamina em to-
arritmias cardíacas. dos os casos graves.
€ Atropinização: iniciar na dose de 0,02 a 0,05 O PARAQUAT (Concurso para residência mé-
mg/kg a cada 10 minutos, até sinais de atro- dica do IAMSPE 2007) é um herbicida amplamente
pinização, podendo essa dose ser dobrada. Os utilizado na agricultura, absorvido por via dérmica ou
melhores parâmetros de controle de tratamen- gastrointestinal, e seus efeitos tóxicos são decorrentes
to são a diminuição da secreção brônquica, da indução de estresse oxidativo e lesão direta por ra-
melhora da frequência cardíaca e da saturação dicais livres. Os efeitos iniciais da intoxicação incluem
de oxigênio, sendo o diâmetro pupilar consi- queimaduras e irritação na área exposta. O órgão-alvo
derado um mau controle. A dose em adultos é principal é o pulmão, que pode apresentar edema, he-
de 2 a 5 mg.
morragia, inflamação intersticial e fibrose, levando a
A atropina não deve ser suspensa abruptamen- insuficiência respiratória grave e à morte. Tem efeitos
te, pelo risco de recirculação do produto e retorno da tóxicos no rim, fígado, músculos e sistema nervoso,
sintomatologia, devendo ser espaçada até a retirada podendo ser dosado quantitativamente no sangue e
total. As doses, que inicialmente são administradas na urina. O tratamento se baseia no suporte avança-
a intervalos de 10 ou 15 minutos, posteriormente do de vida, na diminuição da absorção, no estímulo da
passam a intervalos maiores, de 30, 40, 60 minutos excreção e na modificação dos efeitos teciduais. A lava-
e 2 horas (Moraes e Coll., 1995). A atropinização deve gem gástrica e a indução de vômitos devem ser evita-
ser suspensa quando o paciente estiver assintomático das pela ação cáustica do herbicida; podem ser consi-
após algum tempo, com espaçamento de pelo menos 2 derados agentes adsorventes como o carvão ativado e
horas, e nunca antes disso. terras argilosas (terra de Füller e bentonita), as quais
€ Reativação da colinesterase: a pralidoxima dificilmente estão disponíveis. A pele exposta deve ser
(ContrathionÒ) tem ação em receptores nicotí- lavada, e a hemodiálise pode ser utilizada em casos de
nicos periféricos, indicada na intoxicação por insuficiência renal, mas não é efetiva para a toxicida-
organofosforados. Seu uso em envenenamentos de pulmonar. Como medidas antiestresse oxidativas,

SJT Residência Médica – 2016


266
Pediatria geral, emergências pediátricas e neonatologia

há descrições do uso de N-acetilcisteína, vitamina C, Clinicamente, a intoxicação digitálica se apre-


vitamina E e outros agentes, sendo fundamental man- senta com sinais gerais de mal-estar, fadiga, altera-
ter a oferta de oxigênio no mínimo indispensável, para ções visuais, náusea, sonolência, anorexia e cefa-
não agravar a fibrose pulmonar, sendo até mesmo con- leia. As alterações cardíacas podem incluir arritmias
traindicada por alguns autores. variadas e insuficiência. Praticamente qualquer al-
Piretroides (Concurso residência médica no Ce- teração de ritmo pode surgir, e alargamento do PR
ará 2007) são inseticidas sintéticos similares às pire- e encurtamento do QTc são comuns, taquiarritmias
trinas, utilizados frequentemente como pediculocidas, atriais e juncionais, bradicardia sinusal e bloqueio
escabicidas e inseticidas; raramente produzem toxici- atrioventricular são característicos. São muito su-
dade significativa. A via inalatória é a principal forma gestivas de intoxicação por digoxina a taquicardia
de exposição, e os sintomas da intoxicação geralmente ventricular bidirecional, a taquicardia atrial paro-
se limitam a irritação das vias aéreas e irritação cutâ- xística com bloqueio 2:1 e taquicardia juncional.
nea. Pode haver broncoespasmo, tosse, coriza, orofa- O nível sérico da digoxina e os eletrólitos devem
ringite, prurido cutâneo, urticária, náusea, vômitos, ser dosados, bem como o paciente deve ser manti-
dor abdominal e, em exposições maciças, convulsões, do em monitorização de ECG. Os procedimentos de
tremores, fasciculações, paralisia, coma, edema pulmo- descontaminação gastrointestinal costumam ser uti-
nar e até morte. O tratamento deve focar o suporte das lizados no tratamento; o antídoto específico é o Fab-
vias aéreas e ventilação, controle do broncoespasmo -anticorpo (indicado para arritmias) para digoxina, e a
com corticoides e β-2-agonistas, remover a vítima do diálise pode ser útil. Quanto aos eletrólitos, deve ser
ambiente contaminado, lavar a pele exposta, considerar corrigida a hipocalemia, no tratamento da hipercale-
anti-histamínicos e medidas de descontaminação gas- mia evitar a administração de cálcio e na hipomagne-
trointestinal em ingestões maciças. semia administrar magnésio cautelosamente para não
Atenção! Os organoclorados são pesticidas di- provocar bloqueios.
ferentes dos organofosforados, e seu principal repre- A lidocaína e a fenitoína são usadas com sucesso
sentante é o lindano, utilizado como inseticida, que no manejo de disritmias ventriculares, e para as ta-
foi retirado do mercado na forma de escabicida pelo quiarritmias supraventriculares podem ser utilizados
potencial de toxicidade. Provoca principalmente esti- magnésio e fenitoína. A atropina é opção no tratamen-
mulação do SNC e convulsões. to das bradiarritmias.
A digoxina inibe a bomba de sódio/potássio
ATPase, aumentando os níveis de cálcio intracelulares,
potencializando o inotropismo cardíaco. Atua tam-
Prevenção das
bém no tônus vagal, reduzindo a frequência cardíaca intoxicações agudas
por diminuição da condução elétrica no miocárdio e € Mantenha todos os produtos tóxicos em local seguro
no nodo atrioventricular. Doenças cardíacas de base e e trancado, fora do alcance das mãos e dos olhos das
pacientes idosos são fatores predisponentes à intoxi- crianças, de modo a não despertar sua curiosidade.
cação. As interações da digoxina com doenças e distúr-
€ Os remédios são ingeridos por crianças que os
bios são resumidas na tabela a seguir:
encontram em local de fácil acesso, deixados
Drogas que diminuem pelo adulto.
Bloqueadores de canais de cál-
a condução e promo-
cio, betabloqueadores € Para ajudar a prevenir intoxicações com remé-
vem bradicardia
dios ou produtos de limpeza, adquira, se pos-
Quinidina, quinina, verapa-
Drogas que aumen- sível, produtos com trava de segurança. As
mil, diltiazem, amiodarona,
tam o nível sérico da medidas de intervenção passiva, ou seja, que
varfarina, eritromicina e te-
digoxina não dependem da ação direta da criança ou de
traciclina
seus familiares, são as mais efetivas em evitar
Diminui a eliminação dos di-
Insuficiência renal acidentes.
gitálicos
Diminui a eliminação da digi- € Nunca deixe de ler o rótulo ou a bula antes de
Insuficiência hepática usar qualquer medicamento ou produto domés-
toxina
Drogas que diminuem tico, e siga as instruções cuidadosamente.
Nifedipino, espironolactona,
a eliminação renal da € Evite tomar remédio na frente de crianças.
triantereno, amilorida
digoxina € Não dê remédio no escuro, para que não haja
Distúrbios eletrolíti- trocas perigosas.
Hipocalemia, hipomagnese-
cos e metabólicos que
mia, hipotireoidismo e hiper- € Não utilize remédios sem orientação médica.
potencializam a toxi-
calcemia
cidade € Mantenha os medicamentos e produtos nas
Tabela 26.5 embalagens originais.

SJT Residência Médica – 2016


267
26 Urgências pediátricas - intoxicações agudas

€ Cuidado com remédios de uso infantil e de adulto com embalagens muito parecidas. Erros de identificação
podem causar intoxicações graves e, às vezes, fatais.
€ Nunca use medicamentos com prazo de validade vencido.
€ Descarte remédios vencidos. Não guarde restos de medicamentos. Despeje o conteúdo no vaso sanitário ou na
pia e lave a embalagem antes de descartá-la.
€ É importante que a criança aprenda que remédio não é bala, doce ou refresco. Quando sozinha, ela poderá
ingerir o medicamento.
€ Pílulas coloridas, embalagens e garrafas bonitas, brilhantes e atraentes, com odor e sabor adocicados, desper-
tam a atenção e a curiosidade natural das crianças. Não estimule essa curiosidade.
€ Guarde detergentes, sabão em pó, inseticidas e outros produtos de uso doméstico longe dos alimentos e dos
medicamentos, trancados e fora do alcance das crianças.
€ Nunca coloque produtos derivados de petróleo (querosene, gasolina), alvejantes e domissanitários
em embalagens de refrigerantes e sucos.
€ Ensine às crianças que não se deve colocar plantas na boca.
€ Conheça as plantas que tem em casa e arredores pelo nome e características; não coma plantas desconhecidas.
Lembre-se de que não há regras ou testes seguros para distinguir as plantas comestíveis das venenosas. Nem
sempre o cozimento elimina a toxicidade das plantas.
€ Não faça remédios ou chás caseiros preparados com plantas sem orientação médica.

Resumo 2
Antidepressivos Sintomas: anticolinérgicos/TCA (Coma, Convulsão, arritmia Cardíaca, Acidose)
tricíclicos Bicarbonato de sódio no tratamento das arritmias e benzodiazepínicos nas convulsões
Sintomas: simpaticomiméticos, síndrome coronariana aguda (SCA)
Cocaína MONA no tratamento da SCA, não dar betabloqueadores, benzodiazepínicos para seda-
ção e controle da agitação
Sintomas: depressão hemodinâmica e arritmias com bloqueios
Bloqueadores de Tratamento com expansões volêmicas, cloreto de cálcio, drogas vasoativas e marca-passo se ne-
canais de cálcio
cessário
Sintomas: inicialmente sintomas gerais seguidos de uma melhora aparente e posterior insufi-
Paracetamol ciências hepática e renal
Tratamento com N-acetilcisteína
Sintomas: inicialmente alcalose respiratória com posterior acidose metabólica com anion gap
Salicilatos aumentado
Tratamento com alcalinização urinária e diálise em casos graves refratários
Sintomas: colinérgicos
Organofosforados
Tratamento com atropina e pralidoxima
Ferro Corrosivo do TGI, deferoxamina como antídoto
Paraquat Fibrose pulmonar, evitar oxigênio no tratamento
Hipocalemia, hipomagnesemia e hipercalcemia potencializam sua toxicidade
Digoxina
Arritmias cardíacas diversas e anticorpo Fab específico para digoxina
Prevenção Trava de segurança é a medida mais efetiva
Tabela 26.6

Casos registrados de intoxicação humana por agente tóxico – Brasil 2006


Agente Nº %
Medicamentos 32.884 30,46
Agrotóxicos – uso agrícola/doméstico 9.585 8,88
Produtos veterinários 1.159 1,07
Raticidas 4.437 4,11
Domissanitários 11.896 11,02
Cosméticos 1.329 1,23
Produtos químicos industriais 6.025 5,58

SJT Residência Médica – 2016


268
Pediatria geral, emergências pediátricas e neonatologia

Casos registrados de intoxicação humana por agente tóxico – Brasil 2006 (Cont.)
Agente Nº %
Metais 606 0,56
Drogas de abuso 4.404 4,08
Plantas 1.691 1,57
Alimentos 1.518 1,41
Animais peçonhentos 21.522 19,93
Animais não peçonhentos 4.388 4,06
Desconhecido 4.928 4,56
Outro 1.586 1,47
Total 107.958 100
Tabela 26.7

Casos registrados de intoxicação humana por agente tóxico e circunstância – Brasil 2006
Circunstância/Agente Acidente Ocupacio- Automedica- Abuso Tentativa Violência/
nal ção Suicídio Homicídio
Medicamentos 10.223 43 1.036 381 14.263 53
Agrot./Uso Agrícola e Doméstico 3.690 2.045 1 10 3.360 56
Produtos veterinários 643 64 4 4 342 2
Raticidas 1.556 9 - 7 2.642 43
Domissanitários 9.611 560 2 26 939 7
Cosméticos 1.141 27 1 6 52 1
Produtos químicos industriais 4.340 861 1 86 396 22
Metais 315 246 - 2 15 8
Drogas de abuso 152 3 - 3.566 312 30
Plantas 1.420 32 23 24 38 4
Alimentos 360 2 4 50 85 13
Animais peçonhentos 13.046 1.998 - - - -
Total 53,7% 6,1% 1,0% 3,94% 21,39% 0,27%
Tabela 26.8

Casos registrados de intoxicação humana por agente tóxico e faixa etária – Brasil 2006
Faixa etária – Agente <5 05-09 10-14 15-19 20-29 30-39 40-49 Total
Medicamentos 9.389 2.288 1.736 3.201 6.540 4.341 2.698 32.884 30,46
Agrotóxicos/uso agrícola 448 108 167 569 1.534 1.168 946 5.873 5,44
Agrotóxicos/uso doméstico 1.350 165 157 253 582 443 325 3.712 3,44
Produtos veterinários 346 57 54 90 208 154 73 1.159 1,07
Raticidas 1.212 127 173 574 1.016 567 391 4.437 4,11
Domissanitários 5.512 685 371 611 1.476 1.134 809 11.896 11,02
Cosméticos 911 67 32 43 83 70 53 1.329 1,23
Produtos químicos indus- 2.313 363 175 311 1.026 725 459 6.025 5,58
triais
Metais 219 40 19 19 57 82 85 606 0,56
Drogas de abuso 43 19 134 612 1.476 922 602 4.404 4,08
Plantas 759 300 122 73 122 97 74 1.691 1,57
Alimentos 30 171 137 158 303 233 120 1.518 1,41
% 24,07 6,59 5,29 8,56 18,89 13,63 10,07
Tabela 26.9

SJT Residência Médica – 2016

Você também pode gostar