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Processo: 06591/10
Secção: CA - 2.º JUÍZO
Data do Acordão: 14-09-2010
Relator: TERESA DE SOUSA
Descritores: INTIMAÇÃO PARA PROTECÇÃO DE DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS
CONCURSO DE PROFESSORES
Sumário: I - A Intimação para Protecção de Direitos, Liberdades e Garantias é um processo principal
de intimação, cuja finalidade é a obtenção, por parte do interessado de uma sentença de
condenação, mediante a qual o tribunal impõe a adopção de uma conduta, que tanto pode
consistir numa acção (conduta positiva ou de facere), como consistir numa abstenção
(conduta negativa ou de non facere);
II - Trata-se de um processo destinado a proteger direitos, liberdades e garantias, sejam eles
pessoais ou patrimoniais, posto que se verifique o preenchimento dos requisitos (dois)
contidos no nº 1 do art. 109º do CPTA: situação de especial urgência carecida de tutela
definitiva através da prolação de uma decisão de intimação para assegurar o exercício, em
tempo útil, de um direito, liberdade ou garantia (1º); que a célere intimação se revele
indispensável por não ser possível, nas circunstâncias do caso, o decretamento provisório de
uma providência cautelar (2º), de acordo com o disposto no artigo 131º, nº 1 do CPTA;
III - Inexiste a urgência exigida pelo art. 109º do CPTA se há mais de um ano que o
Recorrente conhece a matéria atinente à causa de pedir que alega no presente meio
processual, podendo ter lançado mão, em devido tempo, de acção comum inibitória prevista
no art. 37º, nº 2, al. c) do CPTA, com vista a impedir, a título preventivo que, por efeito de
uma provável e previsível actuação administrativa (abertura de concurso para o ano lectivo
de 2010/2011), viesse a consumar-se um facto lesivo, tal como o invocado na presente
acção;
IV - Por outro lado, a tutela jurisdicional podia ser efectivada, em tempo útil, através do
recurso à acção administrativa especial, na qual se impugnasse o aviso de abertura do
procedimento concursal por ilegal (no todo ou em algum dos seus pontos), nos termos do
artigo 51º, nº 1 CPTA, e, requerendo-se providência cautelar de suspensão de eficácia e/ou
intimação à adopção de conduta (correspondentes aos pedidos formulados na presente
acção, e, desde logo o respectivo decretamento provisório, que era possível e suficiente para
assegurar os direitos que se visam proteger.
Aditamento:
Decisão Texto Integral: Acordam na 1ª Secção do tribunal Central Administrativo Sul
Os Factos
A sentença recorrida considerou provados os seguintes factos:
A) Pelo Aviso n° 7173/2010 da Direcção-Geral dos Recursos
Humanos da Educação do Ministério da Educação, publicado no
Diário da República, 2a série, n° 69, de 9 de Abril de 2010, foi aberto
o “Concurso anual com vista ao suprimento das necessidades
transitórias de pessoal docente, para o ano escolar de 2010-2011”
estabelecendo-se no n°3 daquele aviso o seguinte: “1- Declaro
abertos os concursos de acordo com os n°2 e 6 do artigo 8° do
Decreto-Lei n°20/2006, de 31 de Janeiro, na redacção dada pelo
Decreto-Lei n° 51/2009, de 27 de Fevereiro, destinados a
educadores de infância e a professores dos ensinos básico e
secundário com vista ao suprimento das necessidades transitórias de
pessoal docente, estruturadas em horários completos ou
incompletos, para o ano escolar de 2010-2011, através de
destacamentos destinados aos docentes dos quadros e candidatos á
contratação a termo resolutivo.”
B) No ponto XII daquele aviso relativo a “Publicitação de listas
provisórias de admissão, ordenação e de exclusão do concurso de
destacamento por condições específicas de contratação” refere-se o
seguinte: “2- As listas provisórias de candidatos admitidos publicitam
os seguintes dados:
Número de ordem no grupo de recrutamento a que foram opositores;
Número de candidato;
Nome;
Tipo de concurso (DCE - destacamento por condições especificas ou
CN - contratação);
Tipo de candidato (quadra de agrupamento de escolas ou escola não
agrupada, quadro de zona pedagógica, licença sem vencimento de
longa duração, contratados e outros);
Lugar de provimento actual (Continente);
Código de agrupamento de escola ou escola não agrupada ou de
zona pedagógica em que se encontra
Grupo de recrutamento em que se encontra provido/colocado;
Grau que a habilitação profissional confere - Licenciatura (L) Diploma
de Estudos Superiores Especializados (DE), Mestrado em Ensino,
nos termos do Decreto-Lei n°43/2007, de 22 de Fevereiro, 2° Ciclo
do Processo de Bolonha (M). Bacharelato + Formação Especializada
(B+FE), Licenciatura (com variante Espanhol) (L+E), Licenciatura +
Diploma Espanhol de Língua Estrangeira (L+DELE), Bacharelato +
Diploma Espanhol de língua Estrangeira (B-DELE), Mestrado em
Ensino, nos termos do Decreto-Lei nº 43/2007, de 22 de Fevereiro,
2° Ciclo do Processo de Bolonha + Diploma Espanhol de Língua
Estrangeira (M+DELE), ou Outros, Licenciatura + Formação
Especializada (L+FE), Mestrado em Ensino, nos termos do Decreto-
Lei n°437200?, de 22 de Fevereiro, 2° Ciclo do Processo de Bolonha
+ Formação Especializada {M+FE} e Bacharelato + Formação
Complementar (B+FC);
Prestou serviço com qualificação profissional em estabelecimentos
de educação ou ensino públicos num dos dois anos imediatamente
anteriores ao concurso: Prioridade era que se posiciona;
Graduação, arredondada às milésimas, dos candidatos detentores de
qualificação profissional para a docência obtida com base no
disposto no artigo 14º do Decreto-Lei nº20/2006, na redacção dada
pelo Decreto-Lei nº 51/2009;
Tempo de serviço prestado antes da qualificação profissional (dias);
Tempo de serviço prestado após a qualificação profissional (dias);
Classificação profissional;
Data de nascimento;
Candidatura ao abrigo do Decreto-Lei nº 29/2001, de 3 de Fevereiro."
C) No “Manual de instruções” para a “Candidatura Electrónica” do
“Concurso de Contratação” elaborado pela Direcção de Serviços de
Recrutamento de Pessoal Docente refere-se designadamente o
seguinte:
“4. Opções de Candidatura
Candidatura Electrónica (...)
4.5. Avaliação de Desempenho
4.5. 1. Qualitativa 4.5.2. Quantitativa
(...)
4.5 Avaliação de Desempenho
4.5.1 Qualitativa
Deve seleccionar a menção qualitativa, obtida no ano escolar
2008/2009, de acordo com o ponto 2, do art. 46º, do ECD, com a
redacção dada pelo DL nº 270/2009, de 30 de Setembro. Por “Outra”
entende-se Regular ou Insuficiente. A lista inclui a hipótese de não
ter sido avaliado. Os docentes do Ensino de Português no
Estrangeiro (EPE), do Ensino Particular e Cooperativo e do Ensino
Profissional (EPCP), que pretendam ser opositores ao Concurso de
2010/2011, concorrem sem avaliação.
4.5.2 Quantitativa
Deve registar a menção quantitativa, obtida no ano escolar de
2008/2009, cumprindo os intervalos definidos, de acordo com o ponto
2, do art. 46, do ECD, com a redacção dada pelo D.L. 270/2009, de
30 de Setembro. O intervalo definido para “Outra” é o legislado para
as menções insuficiente e Regular (1,0 a 6,4),
Este campo encontra-se inactivo quando o candidato não foi
avaliado."Cfr.
documento de folhas 27 a 61 dos autos.
O Direito
A sentença recorrida julgou inidóneo o meio processual de intimação
para a protecção de direitos, liberdades e garantias, deduzido, no
qual se formulou o pedido de intimação do aqui recorrido, por
referência aos concursos destinados a educadores de infância e a
professores dos ensinos básicos e secundário com vista ao
suprimento das necessidades transitórias de pessoal docente,
estruturadas em horários destinados aos docentes dos quadros e
candidatos á contratação a termo resolutivo, abertos por despacho
proferido pelo director da D.G.R.H.E., em 31.03.2010, a: eliminar o
campo 4.5 (avaliação de desempenho) do boletim electrónico de
candidatura; corrigir nas fases seguintes, do procedimento concursal,
permitindo a igualdade de acesso e valoração de todos os opositores
ao concurso; assegurar, através dos serviços competentes do
Ministério da Educação, designadamente, a Direcção Geral dos
Recursos Humanos da Educação o cumprimento da intimação.
Para tanto, escreveu-se na sentença recorrida, nomeadamente, o
seguinte:
“O pedido que o requerente formula é que a presente intimação seja
julgada procedente e o Ministério da Educação seja intimado a
eliminar o campo 4.5 (avaliação do desempenho) do boletim
electrónico de candidatura.
Estabelece o artigo 51º nº1 do CPTA que “Ainda que inseridos num
procedimento administrativo, são impugnáveis os actos
administrativos com eficácia externa, especialmente aqueles cujo
conteúdo seja susceptível de lesar direitos ou interesses legalmente
protegidos.”
Dispõe o n°3 do mesmo artigo 51º do CPTA que “Salvo quando o
acto em causa tenha determinado a exclusão do interessado do
procedimento e sem prejuízo do disposto em lei especial, a
circunstância de não ter impugnado qualquer acto procedimental não
impede o interessado de impugnar o acto final com fundamento em
ilegalidades cometidas ao longo do procedimento."
Ou seja, num procedimento concursal se se invoca que um aviso de
abertura é ilegal (no todo ou em algum dos seus pontos), ele pode
ser desde logo impugnado (nos termos do artigo 51º nº 1 CPTA) ou,
não o sendo imediatamente, pode ser contenciosamente impugnada
a decisão final de homologação da lista de graduação final dos
candidatos (que não fica, nos termos do artigo 51º, nº 3 precludida).
A forma de remover actos administrativos da ordem jurídica é pois
pela respectiva impugnação, e a forma de obstar à sua execução
imediata é pelo pedido cautelar de suspensão de eficácia associado,
eventualmente, ao respectivo decretamento provisório.
Também no caso dos autos, entendendo o requerente que o aviso
de abertura do concurso é ilegal (o seu ponto XII - por pressupor a
aplicação do artigo 14º do Decreto-Lei nº 20/2006, de 31 de Janeiro
com a redacção que lhe foi dada pelo Decreto-Lei nº 51/2009 de 27
de Fevereiro ao ano escolar de 2010-2011 e tal consubstanciar
violação dos artigos 13º e 47º da Constituição) a forma de remover
da ordem jurídica aquele ponto do aviso é impugnando-o
contenciosamente. A forma de impedir que tal ponto do aviso seja
imediatamente executado e requerendo a respectiva suspensão de
eficácia.
(…)
A intimação é um processo de tramitação rápida e flexível que tem
como finalidade obter a tutela de um direito fundamental da categoria
de direitos, liberdades e garantias, ameaçado, no seu exercício útil,
por um comportamento positivo ou omissivo da Administração
Pública (ou de um particular). Este meio processual pressupõe que
no caso concreto haja uma situação de natureza improrrogável, que
reivindica uma decisão judicial inadiável
A intimação prevista nos artigos 109º e seguintes do CPTA constitui
um meio subsidiário de tutela que não é utilizável sempre que o
exercício dos meios normais assegure a satisfação do direito em
causa.
É requisito da adopção do meio processual intimação para a
protecção de direitos liberdades e garantias a respectiva
indispensabilidade e a urgência, isto é, só é admissível a sua
utilização quando não seja possível lançar mão de outro meio
adequado, em tempo útil, para acautelar o direito lesado ou “em vias
de ser lesado”.
Ora, no caso dos autos, não está demonstrada a indispensabilidade
da intimação para protecção de direitos liberdades e garantias,
pressuposto da utilização deste meio processual, nos termos da
segunda parte do nº 1 do artigo 109º do CPTA.
É que suspensa a eficácia do ponto do aviso que refere que “a
graduação arredondada às milésimas, dos candidatos detentores de
qualificação profissional para a docência obtida com base no
disposto no artigo 14º do Decreto-Lei nº 20/2006, na redacção dada
pelo Decreto-Lei nº 51/2009” também o ponto 4.5 do formulário
electrónico de candidatura, como consequência daquele ponto do
aviso, teria de ver paralisada a sua eficácia.
Razão porque cabe julgar procedente a excepção dilatória de
inidoneidade do meio processual, questão que obsta ao
conhecimento do mérito da causa e importa a absolvição da
instância, conforme resulta do disposto no artigo 493º, nº 2, do
C.P.C., aplicável por força do artigo 1º do C.P.T.A..”
II- Tais actos distinguem-se dos actos internos, que se inscrevem no âmbito das relações
interorgânicas ou das relações de hierarquia.
1. Relatório
FENPROF – Federação Nacional dos Professores, com sede na
Rua Fialho de Almeida, n.º3, Lisboa, intentou no TAF de
Lisboa, acção administrativa especial de impugnação do
Despacho nº3/DGRHE/2007, de 30 de Maio, proferido pelo Sr.
Director Geral dos Recursos Humanos da Educação, que
autorizou a abertura do concurso para a categoria de
professor titular e sustentou os Avisos, subscritos pelos
Presidentes do Júri do concurso, abertos em cada
agrupamento de escola ou escolas não agrupadas para
lugares da referida categoria.
O Ministério Público contestou, invocando a
inimpugnabilidade do acto e a ineptidão da petição inicial e,
quanto ao mérito, defendeu a improcedência da acção.
Por sentença de 17 de Outubro de 2009, a Mmª Juíza “ a
quo” julgou procedente a questão prévia de
inimpugnabilidade do acto e absolveu o R. da instância.
Inconformada, a FENPROF interpôs recurso jurisdicional para
este TCA Sul, em cujas alegações enunciou as seguintes
conclusões:
1. O objectivo a que a recorrente se propôs com os
presentes autos foi o de obter a anulação do Despacho n°
3/DGRHE/2007, de 30 de Maio, proferido pelo Sr. Director
Geral dos Recursos Humanos devidamente identificado nos
mesmos autos.
2. Para o efeito alegou a ora recorrente que tal acto se
encontrava ferido de nulidade, com fundamento em
usurpação de poder, nos termos do artigo 133°, n.º2, a) do
C.P.A, ou, se assim não fosse entendido, que o mesmo
padecia do vicio de violação de lei por contrariar
designadamente, os artigos 15°, n.º5, do D.L. n°15/07,
artigos 4° n°2, b) ii) e 13°, n°1 do D.L. 200/07, de 22 de
Maio, artigos 13° e 112° da Constituição e artigo 5º do C.P.A.
3. Através da sentença recorrida, veio o Tribunal
Administrativo de Circulo de Lisboa decidir no sentido da
absolvição da instância, arguindo, para o efeito, a
inimpugnabilidade do acto, nos termos do artigo 51°, n°1 do
C.P.T.A.
4. Ora, tal decisão não faz a correcta interpretação e
aplicação do Direito, encontrando-se, por isso, ferida de
ilegalidade.
5. Do conteúdo do despacho em crise resulta que os
Directores Regionais são apenas intermediários no processo
concursal entre o respectivo autor e os docentes
destinatários do concurso já que a sua intervenção é
meramente procedimental ou seja, são estes docentes e não
os Directores Regionais os destinatários de tal acto.
6. A recorrente procedeu, assim, à impugnação do
identificado despacho porquanto a autoria da minuta do
Aviso de Abertura, que ao mesmo se encontra anexa,
pertence também ao seu Autor e é dele que consta a regra
concursal que afecta os seus associados.
7. Tal regra é a constante do ponto 10.6 do Aviso de
Abertura referido e é questionada pela recorrente por
impedir um determinado universo de docentes de se
candidatarem ao concurso em questão em manifesta
violação do disposto no artigo 4°, n°2, b) ii) e 13º do D.L.
n°200/07 e ainda do princípio da igualdade inserto do artigo
5° do C.P.A. e 13° da Constituição e o artigo 112° da
Constituição que regula o principio da hierarquia das
normas.
8. Ao decidir no sentido descrito o acto impugnado não é de
todo, um mero acto interno, como conclui a douta sentença
recorrida, mas sim um verdadeiro acto administrativo
impugnável porquanto o seu conteúdo afecta um universo
de associados da recorrente lesando directamente os seus
direitos e interesses legalmente protegidos.
9. De facto, o acto impugnado visou produzir efeitos jurídicos
numa situação individual e concreta já que, ao estatuir no
sentido descrito, inviabilizou irremediavelmente cada
um daqueles docentes de se candidatarem ao
concurso em questão e, ao fazê-lo, definiu a respectiva
situação jurídica concreta.
10. O acto em crise nos autos também reúne claramente os
requisitos para ser considerado um acto impugnável, na
definição do artigo 51° do C.P.T.A. já que, não só afectou a
esfera jurídica do universo de docentes identificado, quando
os impediu de se candidataram ao concurso, como também
porque, ao ser devidamente publicitado, tal regra
impeditória produziu, inquestionavelmente, efeitos externos.
11. Em suma, do conteúdo do acto em questão resulta que
os respectivos efeitos extravasam o âmbito das relações
inter-orgânicas já que se projectou na esfera jurídica de cada
um dos docentes que se viram, irremediavelmente
impedidos de se candidatarem ao concurso de acesso a
professor titular. Nesta medida, mostrou-se lesivo dos
direitos e interesses legalmente protegidos de tais docentes
o que o converte num acto contenciosamente impugnável.
12. Mas mesmo que de um acto interno se tratasse, ainda
assim isso não constituía, por si só, fundamento para a
alegada impugnabilidade do acto em crise já que os actos
internos também, podem ser sindicados desde que se
demonstre, como foi o caso, que são lesivos.
13. Em suma, a sentença recorrida encontra-se ferida, de
ilegalidade por erro de julgamento, pelo que deve ser
revogada.
O Ministério da Educação contra-alegou, nos termos
seguintes:
a) Nos presentes autos de recurso jurisdicional, vem a
Recorrente impugnar a sentença do Tribunal Administrativo
de Círculo de Lisboa que julgou procedente a excepção de
inimpugnabilidade do acto e, consequentemente, absolveu o
Réu da instância, pedindo a sua revogação por erro de
julgamento.
Ass.
( José Joaquim Leitão)
d) Na sua contestação, o R. invocou a inimpugnabilidade do
acto e a ineptidão da petição inicial.
xx
3. Direito Aplicável
A decisão recorrida é do seguinte teor:
“ O Réu invocou a questão da inimpugnabilidade do acto
proferido pelo Director-Geral dos Recursos Humanos da
Educação, em 30.5.2007, que autorizou a abertura do
concurso para a categoria de professor titular, porquanto os
seus destinatários são os Directores Regionais da Educação
e os órgãos de gestão dos agrupamentos de ensino ou
escolas não agrupadas do ensino básico e secundárias,
apenas produzindo efeitos no domínio das relações inter-
orgânicas, sem possuir aptidão para definir qualquer
situação jurídica concreta dos associados da Autora ou
qualquer outra entidades, e, por maioria de razão, revela-se
desprovido de eficácia externa e lesividade imediata. Trata-
se de um acto interno.
Donde não preenche os requisitos previstos no art 51 n°1 do
CPTA.
A Autora refuta tal entendimento, pronunciando-se pela
improcedência da questão prévia, alegando que o acto de
autorização de abertura do concurso vem, simultaneamente,
determinar e definir as regras a que o mesmo deve
obedecer, anexo ao despacho. Pelo que a autoria do Aviso
de Abertura e das regras concursais pertence ao Director-
Geral dos Recursos Humanos da Educação. Daí que os
Directores Regionais são meros intermediários no processo
concursal entre o autor do acto impugnado e os docentes
destinatários.
Analisemos
A Autora interpôs a presente acção administrativa especial,
impugnando o despacho n°3/DGRHE/2007, de 30.5, proferido
pelo Director-Geral dos Recursos Humanos da Educação, que
autorizou a abertura do concurso interno de acesso limitado
para a categoria de professor titular, destinado aos docentes
de nomeação definitiva com a categoria de professor
posicionados nos índices remuneratórios 340, 299 e 245.
Nos termos do art 51 n°1 do CPTA, ainda que inseridos num
procedimento administrativo, são impugnáveis os actos
administrativos com eficácia externa, especialmente aqueles
cujo conteúdo seja susceptível de lesar direitos ou interesses
legalmente protegidos.
Significa isto que, à luz da lei vigente, o critério de selecção
dos actos sindicáveis centra-se na susceptibilidade desses
actos lesarem direitos ou interesses legalmente tutelados.
São, por conseguinte, impugnáveis os actos com eficácia
externa lesiva imediata e efectiva da esfera jurídica dos
administrados.
Contrariamente, os actos internos e os preparatórios não são
impugnáveis, salvo se revestidos de idoneidade para
produzir efeitos imediatamente lesivos. Mas, por regra, eles
não produzam efeitos externos ou deles apenas decorrem
efeitos prodrómicos de um acto procedimental que só se
torna acto decisório através do acto conclusivo do
procedimento.
Especificamente, no que tange aos actos autorizadores de
abertura de concursos, tem a Jurisprudência do STA
entendido tratar-se de simples actos internos e
preparatórios, desprovidos de lesividade própria e, nessa
medida, insusceptível de impugnação (cfr. Ac STA n°1819/02
de 12.5.2004).
Aliás, idêntica interpretação tem sido feita, de um modo
geral, a propósito do acto de abertura do concurso
facultativo, por não constitutivo de direitos, mas simples
actos de trâmite, preparatórios da decisão final (cfr. Ac. STA
n°41366 de 21.2.2001)
No caso sub Júdice, na senda das explanações tecidas,
impõe-se também concluir pela insusceptibilidade de
impugnação do despacho n°3/DGRHE/2007, datado de 30.5,
da autoria do Director-Geral dos Recursos Humanos da
Educação, que autorizou a abertura do concurso para a
categoria de professor titular, em virtude de consubstanciar
um acto interno, cujos destinatários são os Directores
Regionais da Educação e os órgãos de gestão dos
agrupamentos de ensino ou escotas não agrupadas do
ensino básico e secundários e apenas se destina a produzir
efeitos no domínio das relações inter-orgânicas. Ele não
define a situação jurídica concreta dos associados da Autora,
nem tem lesividade própria e imediata, pelo que é
insusceptível de impugnação.
Pelo exposto, nos termos do art 51 n°1e 89 n°1 al.c) do
CPTA, procede a questão de inimpugnabilidade do acto,
determinante da absolvição do Réu da instância.
(...)
Pelo exposto, nos termos sobreditos, julgo procedente a
questão prévia de inimpugnabilidade do acto e,
consequentemente, absolvo o Réu da instância.”.
Discordando deste entendimento, a FENPROF, nas suas
alegações, defende que os Directores Regionais são apenas
intermediários no processo concursal, entre o autor do acto
em crise e os docentes destinatários, já que a sua
intervenção é meramente procedimental. Ou seja, diz a
FENPROF, são os docentes abrangidos por esse concurso e
os Directores Regionais os destinatários do referido acto. Por
isso, a recorrente procedeu à impugnação do Despacho
n.º3/DGRHE/2007, porquanto a autoria da minuta do Aviso
de Abertura que ao mesmo está anexa pertence também ao
seu autor (Director Geral dos Recursos Humanos da
Educação) e é dele que constam as regras reguladoras do
concurso que afectam os seus associados (sublinhado
nosso).
Assim, o acto impugnado, contrariamente ao determinado
pela decisão recorrida, não constitui um mero acto interno,
mas sim um verdadeiro acto administrativo recorrível,
porquanto o seu conteúdo afecta um universo de associados
da recorrente, lesando directamente os seus interesses
legalmente protegidos.
Em nosso entender, a recorrente tem razão.
Como dispõe o artigo 51º nº1 do CPTA, “ Ainda que inseridos
num procedimento administrativo são impugnáveis os actos
administrativos com eficácia externa, especialmente aqueles
cujo conteúdo seja susceptível de lesar direitos ou interesses
legalmente protegidos”.
É o que sucede no caso dos autos.
O teor do ponto 10.6 do Aviso de Abertura, anexo ao
despacho impugnado e dele indissociável produz efeitos
imediatos e irremediáveis na esfera jurídica de um universo
de professores, ao estabelecer que “ Só podem ser
opositores ao concurso os candidatos pertencentes aos
grupos de recrutamento constantes do Anexo 1 ao Dec.Lei
nº200/2007 “(sublinhado).
Ao preceituar desta maneira, o Aviso impede que
determinado grupo de professores (os docentes de “técnicas
especiais” e os docentes do ensino artístico dos
Conservatórios de Música e Dança) referidos nos artigos 13º
e seguintes da petição inicial, possam ser opositores ao
concurso, o que, segundo a FENPROF, constitui uma
ilegalidade.
Estamos, pois, perante um acto impugnável de natureza
externa. Não obstante o mesmo se encontrar inserido num
procedimento, é desde logo lesivo de determinado universo
de destinatários, que ficarão irremediavelmente
prejudicados se contra ele não reagirem no momento
oportuno.
Conclui-se, pois, que a sentença recorrida julgou
erradamente, ao considerar inimpugnável o despacho
n.º3/DGRHE/2007, de 30 de Maio, proferido pelo Sr. Director
Geral dos Recursos Humanos.
xx
4. Decisão.
Em face do exposto, acordam em conceder provimento ao
recurso, revogando a decisão recorrida e ordenando o
prosseguimento dos autos, se outra causa a tal não obstar.
Sem custas.
Lisboa, 23/09/2010
COELHO DA CUNHA
FONSECA DA PAZ
RUI PEREIRA