A psicologia hospitalar é um campo de atuação da Psicologia da Saúde que
ainda não está presente em vários países, e configura-se mais que uma atuação determinada pelo local que se atua, o hospital, a psicologia hospitalar se dedica a aplicação de conhecimentos teóricos da psicologia clínica, psicologia comunitária e psicologia da saúde para intervir em pacientes a nível secundário e terciário, principalmente em hospitais, mas também em centros de saúde, centros comunitários, escolas, dentre outros locais (CASTRO; BORNHOLDT, 2004). Desse modo, a atuação do psicólogo no contexto do hospital objetiva ajudar o paciente a passar pela experiência do adoecimento e contribuir para a melhora do quadro geral deste. As atividades realizadas por estes profissionais incluem
atendimento psicoterapêutico, grupos psicoterapêuticos; grupos de
psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria. (CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 50). A existência da psicologia hospitalar como uma especialidade exclusivamente brasileira se deve ao fato segundo Castro & Bornholdt (2004) da construção sociopolítica dos sistemas de saúde, que foram construídos tendo o hospital como referência central, desde a década de 40, em um modelo que prioriza ações em saúde voltadas para os níveis secundário e terciário, principalmente a nível individual, quando já há uma doença instalada, (modelo médico-assistencial) e em detrimento de ações interventivas coletivas (modelo sanitarista). Assim, temos que o psicólogo hospitalar atua com o objetivo de reestabelecer o equilíbrio provocado pela presença da patologia que se instalou no paciente e nas possíveis consequências psicológicas nele e na família. Os instrumentos utilizados pelo psicólogo no contexto do hospital constituem-se de uma escuta psicológica, livre de julgamentos e expectativas na qual o paciente sente-se acolhido e compreendido, apoio psicológico com o objetivo de mostrar ao paciente que este não está sozinho no enfrentamento da sua doença, que pode inclusive contar com o apoio da equipe do hospital e da família, dentre outras atividades que serão descritas ao longo desse trabalho. Desse modo as possíveis angústias com relação ao adoecimento são reelaboradas, o que possibilita que o paciente consiga encarar o quadro de adoecimento de uma forma mais positiva, reencontrando, ainda que parcialmente, o equilíbrio perdido. As atividades que podem fazer parte da atuação do psicólogo serão descritas a seguir, porém citadas aqui de forma breve: Apoio psicológico; Escuta Psicológica; Atendimento a familiares Evolução de prontuários Grupos de psicoprofilaxia, Participação em reuniões com os demais profissionais do hospital, dentre outras atribuições. E porque a presença desse profissional torna-se importante no contexto do hospital?Quais as consequências psicológicas do adoecimento que podem justificar a presença do psicólogo nesse contexto? A presença de uma doença provoca alterações tanto físicas como psicológicas no corpo humano, e significa uma ruptura na rotina da vida humana. A doença representa uma ameaça ao que estávamos acostumados a fazer ou aos nossos planos para o futuro, ela traz consigo a incerteza no destino e na própria restauração da saúde, ela desequilibra aquilo que parecia está em perfeito estado de harmonia. Percebemos que independente da gravidade da doença, ela sempre representa uma quebra naquilo que estava bem, ela nos traz sentimentos de onipotência e lembramos o quanto somos frágeis, imortais e dependemos dos outros. Uma doença pode significar muito sofrimento para os familiares, frustrações nos nossos projetos de vida, ameaça diante da perspectiva da morte ainda que todos esses sentimentos possam ser vivenciados de formas diferentes pelas pessoas que adoecem, já que depende da experiência pessoal e do sentido que aquela pessoa atribuirá à doença, um ou outro pode se fazer presente. Pode ser que tenham pessoas que diante de um diagnóstico encontrem-se diante de total desespero, sem estratégias de enfrentamento diante da doença, e há aqueles que veem em tal adoecimento a possibilidade de repensar a própria existência e reestruturar- se a partir dela, como uma fênix que ressurge das próprias cinzas. Enfim, cada paciente vivenciara sua enfermidade de forma diferente, dependendo de vário fator tais como o apoio social que recebe, histórico de hábitos saudáveis ou não, experiências pessoais, estado psicológico, gravidade da doença, dentre outros. No entanto, o que podemos inferir é que o adoecimento pode vim acompanhado de aspectos psicológicos, tais como os citados acima, e nestes aspectos, que o psicólogo hospitalar atua. Algerami-Camon (2003) aponta que “o paciente ao ser hospitalizado sofre um processo de total despersonalização, deixa de ter o seu próprio nome e passa a ser um número de leito ou então alguém portador de uma determinada patologia” (ALGERAMI-CAMON, 2003, p.16) o que se faz necessário à presença do psicólogo no contexto do hospital, sobre essa atuação ao trabalhar no sentido de estancar os processos de despersonalização no âmbito hospitalar, o psicólogo estará ajudando na humanização do hospital, pois seguramente esse processo é um dos maiores aniquiladores da dignidade existencial da pessoa hospitalizada. (ALGERAMI-CAMON, 2003, p.18). Ante o exposto, percebemos a importância do profissional da psicologia inserido no contexto do hospital e como sua presença inverte a dicotomia doença versus saúde para ampliar essa dimensão para a do reconhecimento de uma pessoa além a sua doença.
ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto (Org). Psicologia Hospitalar: Teoria e
Prática. 1 ed. São Paulo: Pioneira, 2003.
CASTRO, E. K.; BORNHOLDT, E.. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar:
Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. Psicologia: Ciência e Profissão. v. 3, n. 24, p. 48-57, 2004.