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Enzimas microbianas de uso terapêutico

e diagnóstico clínico
Karine Rigon Zimmer1
Gustavo Luís Borré2
Danielle da Silva Trentin2
Clovis Woicickoski Júnior2
Amanda Piccoli Frasson2
Alexandre de Arruda Graeff2
Patrícia Gomes2
Alexandre José Macedo3
Resumo

Enzimas microbianas têm se destacado como um dos principais produtos


tecnológicos do mundo moderno, porém seu uso tem relatos nos tempos mais
remotos. No início do século XX, teve início a produção em grande escala de
enzimas industriais, hoje enzimas para detergentes de roupas, por exemplo,
somam quantias significativas no comércio mundial. Por outro lado, enzimas
de uso em diagnóstico clínico e terapêutico tiveram seu uso iniciado na
década de 60 e década de 80, respectivamente, e vêm recebendo especial
atenção da indústria de biotecnologia. Os avanços já podem ser percebidos
na sociedade com tratamentos mais efetivos e diagnósticos laboratoriais
mais rápidos e precisos. Nesta revisão são apresentados aspectos históricos,
mercadológicos e de aplicações dessas enzimas.
Palavras-chave: Enzimas terapêuticas e diagnóstica. Polimerase. Ribonu-
clease. Colagenase. Fosfatase. Inibidores enzimáticos.

Abstract

Microbial enzymes have been pointed as one of the most important


technological product in the modern World, even that its use has been reported
in the ancient ages. At the beginning of the 20th Century, the industrial enzymes
started to be produced; today the enzymes used in detergents for clothes
washing, for example, sum a significative portion of the world market. On
the other hand, the use of special enzymes for clinical diagnostic and
therapeutic started to be used at the beginning of 60`s and 80`s years
respectively and caught the interest of the companies in biotechnology.
Advances might be realized in the society, such as more effective therapeutic
treatments and faster and more precise diagnostics in the clinic. In this revision
are present aspects of history, market and application of these enzymes.
Keywords: Therapeutic and diagnostic enzymes. Polymerase. Ribonu-
clease. Colagenase. Phosphatase. Enzymatic inhibitors.

1
Pós-Graduando do Programa de Pós-Graduação em Biologia celular e molecular - Centro de Biotecnologia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
2
Pós-Graduando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas - Faculdade de Farmácia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
³ Professor da Faculdade de Farmácia, Laboratório de Tecnologia Bioquímica e do Centro de Biotecnologia, Grupo de Biofilmes & Diversidade
Microbiana - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre - RS, Brasil. E-mail: alexandre.macedo@ufrgs.br
Recebido em 29/05/09 e aceito em 17/08/09.
Zimmer, K. R., Borré, G. L., Trentin, D. S., Júnior, C. W., Frasson, A. P., Graeff, A. A., Gomes, P., Macedo, A.J.

1 Considerações iniciais ta etapa pode representar até 80% do custo do


produto final (KILIKIAN et al., 2001).
“Enzimas especiais” são aquelas destina- O mercado externo brasileiro de enzimas
das ao uso terapêutico, diagnóstico, analítico, foi avaliado no ano de 2005 em 147,2 milhões
química fina e pesquisa. Conceitualmente enzi- de dólares, correspondendo a apenas 3,7% do
mas são proteínas que possuem atividade catalí-
mercado internacional. Das enzimas produ-
tica, ou seja, aceleram a velocidade de reações
zidas em escala industrial, uma fatia significa-
químicas. Atualmente, as enzimas são empre-
tiva do mercado mundial é representada pelas
gadas massivamente em produtos de limpeza,
enzimas especiais. No Brasil, as enzimas diag-
que contém, por exemplo, proteases, ainda na
nósticas são predominantemente importadas
área petroquímica produzindo biodiesel atra-
enquanto que essa classe de enzimas produzi-
vés do uso de lipases, na produção de sucos,
das no Brasil é exportada em uma quantidade
com a utilização das pectinases e na terapêu-
muito menos expressiva. No período de 1998-
tica e em kits de diagnósticos, entre outras tan-
2005, considerando-se enzimas especiais
tas áreas.
como um todo, o Brasil importou o equiva-
Industrialmente uma das principais fon-
tes produtoras de enzimas são os microrganis- lente a US$ 516 milhões e exportou US$
mos. Estes são considerados fontes atrativas e 24,5 milhões, o que corresponde a 84% de
de baixo custo na produção de metabólitos, importação e 16% de exportação. Dentro des-
podendo ser cultivados em grandes quantida- tas, as enzimas terapêuticas são responsáveis
des e em tempo relativamente curto. Acrescen- pela maior parte do mercado neste período,
ta-se ainda a vantagem da produção não estar contando com uma importação de US$ 85
condicionada às questões sazonais e geográfi- milhões (AEHLE, 2007). A previsão de cresci-
cas e pela possibilidade de uso de matérias- mento para o mercado mundial de enzimas é
primas pouco dispendiosas. de 7,6% ao ano, sendo responsável por este
Uma ampla gama de enzimas, de diferen- crescimento tanto a queda no preço e o maior
tes fontes e para diversos usos terapêuticos e acesso às enzimas de aplicação industrial quan-
de diagnóstico pode ser encontrada no merca- to a inclusão de novas enzimas especiais, cada
do. O Brasil apresenta grande potencial para a vez mais sofisticadas e de alto custo. No perío-
busca de novos fármacos e biomarcadores enzi- do de 2003 a 2005, as indústrias brasileiras
máticos uma vez que é inigualável a quantida- que mais importaram e exportaram enzimas
de e variedade de produtos naturais, incluindo foram as de diagnóstico e as farmacêuticas
a notável biodiversidade microbiana disponí- (BON et al., 2008).
vel para transformação em produtos úteis de Esta revisão foi realizada dentro das ativi-
maior valor agregado. A grande eficiência das dades da disciplina “Enzimas microbianas de
enzimas, aliada a sua alta especificidade, tor- uso farmacêutico” do Programa de Pós-Gra-
nam-nas agentes de grande potencial para uso duação em Ciências Farmacêuticas da Universi-
terapêutico. Assim sendo, a relevância do uso dade Federal do Rio Grande do Sul.
de enzimas como medicamento relaciona-se
com o fato de que pequenas quantidades do 2 Histórico do uso de enzimas
catalisador biológico podem produzir efeitos
bastante específicos em condições fisiológicas. Não se sabe precisamente quando as en-
Enzimas especiais exigem alto nível de zimas passaram a ser utilizadas nas atividades
pureza em decorrência da sua aplicação, as- cotidianas das sociedades primitivas. Entre-
sim, uma sequência de processos de purifica- tanto, as enzimas já eram amplamente utiliza-
ção é necessária até a obtenção final da enzi- das sem que se conhecesse seu conceito e
ma. Como o processo de purificação é sofisti- função exata. Sabe-se, porém, que desde o
cado e de extrema complexidade, o custo des- momento em que o homem começou a deixar

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registro escrito de seus atos, há referências ao ções estomacais sobre a carne, porém o isola-
uso de processos enzimáticos. Um dos mais mento de uma enzima só foi realizado em 1833
antigos alimentos processados pelo homem, pelos franceses Anselme Payen e Jean-François
o queijo, produzido na época das primeiras Persoz que precipitaram a diastase, enzima
civilizações – a partir de leite de cabra – foi a atualmente conhecida como amilase (SILVER-
forma rudimentar encontrada para mantê-lo em MAN, 2002). Em 1836, Theodor Schwann, ob-
condições de consumo por longos períodos de servou a primeira enzima descoberta a partir
tempo, e adicionalmente, facilitar seu transporte de um tecido animal, a pepsina, responsável
por longas distâncias. O processo produtivo pela digestão protéica (SILVERMAN, 2002).
envolve a transformação dos açúcares presen- No século XIX, Pasteur descreveu a
tes no leite em ácido lático. Seu consumo está conversão do açúcar em álcool por leveduras,
descrito na Odisséia de Homero, revelando que demonstrando desta forma, que os agentes res-
os Gregos já tinham difundido em sua cultura ponsáveis pela fermentação eram organismos
a produção deste alimento. vivos. Pasteur postulou que estes fermentos
A produção e o consumo de cerveja na eram inseparáveis da estrutura celular do leve-
Babilônia data de 6000 a.C. (JAY, 2000) e os do, declarando que "a fermentação alcoólica é
egípcios fabricavam pão dois milênios antes um ato correlacionado à vida e à organização
de Cristo nascer (CARBALLO, 2002), ambos das células do fermento e não à sua morte ou
produzidos com auxílio da levedura Saccharo- putrefação" (BUCHNER, 1907). Somente em
myces cerevisiae. A cerveja tornou-se rapida- 1878, passou-se a fazer distinção entre os or-
mente um produto de importância social, de ganismos inteiros e as moléculas capazes de
onde deriva o motivo para inclusão de uma realizar a catálise, passando a serem chamadas
série de leis no código de Hamurabi sobre a pelo termo cunhado por Wilhelm Kühne,
fabricação, comercialização e consumo da cer- enzimas, do grego, “no fungo” (PRICE, 1999),
veja. Já o pão, outro importante alimento, nos e a ação destas moléculas, chamada de fermen-
primórdios da humanidade era fermentado tação.
ao ar, naturalmente, sem a adição de nenhum No fim do século XIX, Eduardo Büchner,
tipo de produto. Este processo baseia-se no fato provou que as enzimas permanecem ativas
de que existem esporos microbianos suspensos mesmo fora das células que as produzem,
na atmosfera, os quais, ao atingirem a massa demonstrando que estas não necessitam de
contendo os açúcares do trigo, crescem fermen- células vivas para a sua atividade. Esta desco-
tando a mistura, permitindo a fabricação do berta valeu-lhe o prêmio Nobel de Química de
pão. Já na Idade Média passou-se a guardar 1907 (BUCHNER, 1907). Todavia, depois de
parte da massa fermentada para utilizar-se nas transcorrido um quarto do século XX, não se
produções seguintes, visto que a “massa ve- tinha conhecimento da natureza das enzimas,
lha” contém grande quantidade de microrga- até que em 1926 James Sumner purificou e
nismos fermentadores viáveis, reduzindo-se, cristalizou a urease, sabidamente uma enzima
desta forma, o tempo de fermentação do pão. (PRICE, 1999; NORTHROP, 1946). Tal fato
Inicialmente, esta produção era puramente contribuiu com a elucidação deste mistério que
empírica. A escolha do tipo de microrganismo caiu por terra com os trabalhos de Northrop e
mais adequado para cada processo era reali- Stanley no início da década de trinta do século
zada por tentativa e erro, e o conhecimento era passado com as enzimas pepsina, tripsina e
passado através das gerações. Por muito tem- quimiotripsina, provando inequivocamente que
po não se soube que estas leveduras eram orga- as enzimas são proteínas (NORTHROP, 1946).
nismos vivos. A certeza deste fato veio apenas Em 1955, Sanger desenvolveu o primei-
no século XIX com Louis Pasteur (JAY, 2000). ro método para determinar a estrutura primária
No século XVIII, Spallanzani, um cientista de proteínas, sendo a insulina a primeira a ser
italiano, já conhecia a ação digestiva de secre- sequenciada (SANGER, 1958). Quase dez anos

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depois, foi determinada pela primeira vez a De acordo com a finalidade, as enzimas
estrutura tridimensional de uma proteína, a podem ser administradas por via tópica, oral,
lisozima, através de técnicas de cristalografia intravaginal e parenteral, apresentando-se, no
de raios-X (PRICE, 1999). último caso, geralmente na forma de prepara-
ções liofilizadas contendo sais tamponantes
3 Enzimas de uso terapêutico biocompatíveis. Atualmente existe no merca-
do uma ampla variedade de medicamentos à
O uso terapêutico de enzimas remonta base de enzimas para aplicação como anti-
ao final do século XIX, quando preparações inflamatórios, antissépticos, auxiliares diges-
brutas de enzimas pancreáticas de origem suína tivos, na reposição de enzimas hemostáticas,
já eram empregadas como auxiliares diges- na inibição da coagulação, na reposição de
tivos (CRUZ et al., 2008). Para as enzimas enzimas metabólicas, no tratamento da fibrose
utilizadas em aplicações digestivas e tópicas, cística bem como na terapia contra o câncer
a pureza, a fonte e a dose não são considera- (tabela 1). Dentre as principais enzimas tera-
das cruciais (AEHLE, 2007). Entretanto, o uso pêuticas de origem microbiana, destaca-se a
endovenoso de enzimas microbianas requer L-asparaginase utilizada para o tratamento
uma purificação de alta seletividade acoplada de leucemia linfocítica aguda. Esta enzima é
à preservação da atividade enzimática, evi- capaz de esgotar os estoques de asparagina
tando a desnaturação protéica e a proteólise. plasmática, causando a morte de células blás-
Diversos requisitos devem ser considerados ticas que não possuem a enzima asparagina
para o uso de enzimas com fins terapêuticos, sintetase (NARTA et al., 2007). Células sadias
dentre eles a baixa resposta imunológica, alta não são afetadas, uma vez que não necessitam
atividade e estabilidade em pH fisiológico, de aporte exógeno de asparagina. A enzima
baixa taxa de eliminação e independência de é obtida principalmente através dos microrga-
cofatores exógenos. Além disso, quando se nismos Escherichia coli e Erwinia carotovora,
utilizam microrganismos como fonte destas havendo formulações no mercado da enzima
moléculas, deve-se buscar cepas não pato- nativa de ambos os organismos e da L-aspara-
gênicas objetivando evitar a presença de to- ginase de E. coli conjugada ao polietilenoglicol
xinas (NETO, 2001; AEHLE, 2007). (PEG) (NARTA et al., 2007). As formulações
Na prática, poucas enzimas possuem as lipossomais ainda estão em estudo e apresen-
propriedades necessárias para este fim, cuja tam, assim como a PEG-asparaginase, menor
instabilidade dos biocatalizadores, suscetibi- toxicidade, aumento do tempo de circulação
lidade ao ataque de proteases, dificuldade de na corrente sanguínea e consequente aumento
acesso ao órgão-alvo e antigenicidade repre- da atividade terapêutica (NETO, 2001).
sentam algumas das limitações da terapia A enzima estreptoquinase, produzida por
enzimática. Entretanto, estas dificuldades Streptococcus ß-hemolítico, especialmente S.
podem ser contornadas por diferentes estraté- pyogenes e S. equisimilis, pertence à primeira
gias de formulação, como a conjugação quí- classe de agentes fibrinolíticos a ser utilizada
mica com polímeros utilizada para diminuir a na clínica, sendo capaz de ativar o plasmino-
resposta imune, um dos efeitos mais comuns gênio, substância precursora da plasmina, que
das enzimas microbianas. Além disso, a incor- por sua vez dissolve os coágulos sanguíne-
poração de enzimas a lipossomos (vesículas os (RANG et al., 2004). É utilizada para eli-
microscópicas compostas de uma ou mais minação de trombos venosos e embolias pul-
membranas lipídicas envolvendo um compar- monares agudas e quando administrada na
timento aquoso) confere diminuição da toxi- forma endovenosa, reduz a taxa de mortalida-
cidade, direcionando o acesso ao órgão-alvo de no infarto do miocárdio. Uma das princi-
e reduzem a resposta imunológica (CRUZ pais limitações desta terapia é a resposta anti-
et al., 2008). gênica, variando desde reações menores, como

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Tabela 1 – Exemplos de enzimas terapêuticas (adaptado de AEHLE, 2007 e CRUZ et al., 2008)

Número
Enzima Fonte Nome comercial Uso terapêutico
E.C.
Urato oxidase 1.7.3.3 Aspergillus flavus Uricozyme Gota
Peroxinorm
Superóxido dismutase 1.15.1.1 Fígado bovino e eritrócitos Inflamação
Oxinorm
Lipase 3.1.1.3 Rhizopus arrhizus Auxiliar digestivo
Desoxirribonuclease 3.1.21.1 Células CHO recombinante Pulmozyme Fibrose cística
Desoxirribonuclease
3.1.21.1 Streptococcus haemolyticus Varidase Úlceras gástricas
(streptodornase)
Antiviral e alguns
Ribonuclease 3.1.26.4 Rana pipiens Onconase
cânceres
B-amilase 3.2.1.1 Aspergillus oryzae Auxiliar digestivo
Celulase 3.2.1.4 Trichoderma viride Auxiliar digestivo
Lisozima 3.2.1.17 Clara de ovos Murazyme Colpistar Antibiótico
Células humanas ou
Galactosidade 3.2.1.22 Fabrazyme Replagal Doença de Fabry
CHO recombinantes
Kluyveromyces fragilis,
Lactase 3.2.1.23 Surelac Lactaid Intolerância a lactose
Aspergillus oryzae, A. niger
Glicocerebrosidase 3.2.1.45 Células CHO recombinantes Cerezyme Doença de Gaucher
Estreptoquinase 3.4.21.73 Streptococcus ß hemolitico Streptase Kabikinase Coágulo sanguíneo
Bronquite crônica
Esfericase 3.4.21 Bacillus sphaericus
Pneumonia aguda
Papaína 3.4.22.2 Carica papaya Panafil Digestão Verminose
Colagenase 3.4.24.3 Clostridium histolyticum Santyl Kollagenase Úlceras de pele
Serrapeptase 3.4.24.40 Serratia E15 Danzen Inflamação
Escherichia coli, Leucemia linfocítica
L-asparaginase 3.5.1.1 Elspar Erwinase
Erwinia carotovora aguda

febre e exantema cutâneo – onde a pele apre- 4 Enzimas em diagnóstico


senta-se vermelha, áspera e com prurido in-
tenso – até reações anafiláticas graves. Enzimas diagnósticas ou para uso analí-
As ß-lactamases por sua vez, constituem tico são enzimas utilizadas diretamente ou
outro exemplo de enzimas microbianas terapêu- como componentes de kits diagnósticos para
ticas e apresentam a capacidade de romper o a determinação de diferentes substâncias
anel ß-lactâmico de penicilinas e cefalosporinas. (AEHLE, 2007). São enzimas com papel im-
A produção de ß-lactamases por diversas bacté- portante na análise de amostras de sangue,
rias representa um grande mecanismo de resis- urina, soro, entre outros fluidos corporais, para
tência aos antimicrobianos, por outro lado, o o monitoramento e diagnóstico de diferentes
uso destas enzimas com fins terapêuticos se dá patologias (CRUZ et al., 2008). Dentre as subs-
em reações alérgicas agudas após administra- tâncias que podem ser determinadas com tes-
ção de penicilinas. Estas enzimas podem ser tes e kits compostos por enzimas, podemos
produzidas por uma série de microrganismos, citar substâncias químicas como fosfatos,
dentre eles, Bacillus cereus, Streptomyces amônia, etanol e ácido acético, além de meta-
cacaoi, S. albus, E. coli, e Citrobacter diversus. bólitos tais como glicose, uréia, creatinina e até

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mesmo substâncias tóxicas como pesticidas, (GACESA; HUBBLE, 1990; KOPETZKI et al.,
herbicidas e metais pesados. Antígenos virais, 1994; AEHLE, 2007). As enzimas podem ser
anticorpos, proteínas, medicamentos, vitami- empregadas para uso diagnóstico de uma for-
nas e hormônios estão entre outros compostos ma geral de três diferentes maneiras:
que podem ser analisados por métodos que a) Ensaios enzimáticos. Inúmeros en-
utilizam enzimas. saios, baseados em diferentes enzimas, estão
As enzimas para uso diagnóstico são em atualmente disponíveis utilizando uma ampla
muitos casos obtidas de microrganismos. A variedade de métodos de detecção. Em muitos
principal razão para se utilizar microrganismos casos, as reações enzimáticas são monitoradas
na produção de enzimas que poderiam ser pela medida espectrofotométrica da oxidação/
isoladas de plantas e animais, é a facilidade no redução de coenzimas ou utilizando reações
melhoramento e a eficiência na produção (KO- colorimétricas de ponto final (AEHLE, 2007).
PETZKI et al., 1994; AEHLE, 2007). Enzimas Um dos métodos comercialmente disponíveis
em diagnóstico são normalmente necessárias para a quantificação de glicose emprega a
em quantidades relativamente pequenas (me- enzima glicose oxidase a qual é obtida a partir
nos de 10 kg/ano no mundo), diferentemente de diferentes fontes fúngicas, principalmente
das enzimas industriais que são usualmente pro- do gênero Penicillium e Aspergillus como, por
duzidas em grandes quantidades. exemplo A. niger (WONG et al., 2008). Além
Do ponto de vista industrial, técnicas mo- disso, enzimas microbianas como colesterol
leculares, em especial a tecnologia de DNA esterase (obtida de espécies de Nocardia,
recombinante, têm sido amplamente emprega- Saccharomyces cerevisiae e Saccharopolys-
das na produção destas enzimas. Recentes pora erythraea) e urease (obtida de espécies
avanços nesta área têm permitido a clonagem de Lactobacillus e Streptococcus) têm sido
de numerosos genes de interesse e a manipu- amplamente utilizadas em ensaios enzimáticos
lação de diferentes células (em especial as (WONG et al., 2008) e em biosensores para
bacterianas e fúngicas), permitindo maior pro- determinação de metabólitos importantes em
dução da enzima desejada. Há registros indi- áreas médicas e ambientais. Biosensores enzi-
cando aumentos de até mil vezes na produção máticos são importantes exemplos da utiliza-
de enzimas de uso diagnóstico comparadas ção de enzimas microbianas em testes diag-
com os níveis obtidos do organismo produtor nósticos. Estes têm movimentado milhares de
natural (KOPETZKI et al., 1994). Assim, dólares em todo mundo. Enzimas em bio-
enzimas recombinantes com alto nível de ex- sensores são muito atrativas, devido à varie-
pressão, obtidas a partir de técnicas moleculares, dade de produtos de reação quantificáveis os
reduzem a necessidade de passos de purifica- quais incluem prótons, elétrons, luz e calor
ção, tornando muitas vezes o processo mais (NEWMAN; TURNER, 2005; WONG et al.,
eficiente. Enzimas como glicose-6-fosfato 2008). Na tabela 2, encontram-se alguns exem-
desidrogenase (Leuconostoc dextranicus), plos de enzimas utilizadas nesse tipo de ensaio
creatinase (Pseudomonas putida), galactose com um dos possíveis produtores da enzima
desidrogenase (P. fluorescens) e Taq polimerase em questão.
(Thermus aquaticus) têm sido produzidas com b) Imunoensaios enzimáticos. Dentro des-
sucesso utilizando estas técnicas (KOPETZKI te grupo encontram-se enzimas utilizadas em
et al., 1994). técnicas imunológicas, nas quais elas apresen-
A utilização de enzimas nestes ensaios tam-se acopladas a anticorpos ou antígenos.
apresenta inúmeras vantagens comparada aos A notável especificidade torna o ensaio espe-
métodos químicos convencionais, já que estes cífico, a alta afinidade dos anticorpos pelos
são de difícil realização devido à baixa sensibi- antígenos e o poder amplificador da catálise
lidade, seletividade, custo, tempo de realiza- enzimática tornam o ensaio extremamente sen-
ção e quantidade de amostra que necessitam sível. Nesses métodos, enzimas originárias de

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organismos como E. coli, Vibrio harveyi, Elec- RUGELES, 2006). Estas enzimas estão presen-
trophorous electicus e A. niger são ligadas de tes em bactérias, fungos, protozoários, plan-
forma covalente a um determinado anticorpo tas superiores e vertebrados. As RNases são
e a reação catalisada pela enzima, quando da classificadas em três grandes famílias: super
adição de substrato específico, é utilizada para família A, família T1 e família T2. As RNases
quantificar o sistema (ROITT et al., 1999) têm como substratos diferentes sequências do
(tabela 2). RNA. Por exemplo, a RNase A cliva a extre-
c) Quantificação direta de enzimas micro- midade 3’ de resíduos terminados em C e U,
bianas. Realizada em fluidos corporais repre- dando origem a um produto 3’-fosforilado. A
senta outra ferramenta importante na detecção RNase Phy I apresenta como substratos resí-
de infecções microbianas. Visto que estas en- duos G, A e U e como produtos mononucleo-
zimas são produzidas unicamente por certos tídeos com C 5’ terminal. A RNase U2 cliva
microrganismos, sua detecção em fluidos cor- ligações 3’-fosfodiéster adjacentes às purinas,
porais é um forte indício de infecção. Enzimas originando purinas 3’-fosfato ou ainda oligonu-
potencialmente úteis para este propósito inclu- cleotídeos com esse grupo terminal (RITTIÉ;
em ß-lactamases, glicosidases, neuramidases, PERBAL, 2008).
galactosidases entre outras (YOLKEN, 1981). A produção de ribonucleases por diver-
Tabela 2 – Exemplos de enzimas de origem microbiana
sos microrganismos tem sido amplamente estu-
utilizadas em ensaios diagnósticos dada. A tabela 3 ilustra os principais microrga-
Enzima Microrganismo nismos produtores de RNases as quais já fo-
Ensaios enzimáticos
ram isoladas e caracterizadas.
O cultivo destes microrganismos é geral-
Glicose oxidase Aspergillus niger, Penicillium sp.
mente realizado em meio líquido, e a fermen-
Leuconostoc mesenteroides,
Glicose-6-fosfato desidrogenase tação ocorre sob diferentes condições tais como
L. dextranicus
fermentação submersa com agitação (XIONG
Lactobacillus fermentum,
Urease
Streptococcus sp.
et al., 2005) e com células imobilizadas (MA-
NOLOV et al., 1993). As RNases obtidas a
Creatinase Pseudomonas putida
partir de microrganismos têm sido utilizadas
Galactose desidrogenase Pseudomonas fluorescens
amplamente em técnicas de biologia molecular
Piruvato oxidase Lactobacillus plantarum e na indústria farmacêutica (XIONG et al.,
Saccharomyces cerevisiae, 2004). Muitas RNases são altamente citotóxi-
Colesterol oxidase Saccharopolyspora erythraea, cas e, em alguns casos são seletivas às células
Nocardia sp.
malignas. Como fatores determinantes dessa
Imunoensaios enzimáticos citotoxicidade, podemos citar a atividade catalí-
Acetilcolinesterase Electrophorous electicus tica, a habilidade de escapar de inibidores natu-
Fosfatase alcalina Escherichia coli rais, a estabilidade e a eficiência de internali-
ß-galactosidase Escherichia coli zação. Esse somatório de fatores indica que as
Glicose oxidase Aspergillus niger
RNases podem ser utilizadas como fármacos
alternativos no tratamento de tumores (MAKA-
Glicose-6-fosfato desidrogenase Leuconostoc mesenteroides
ROV; ILINSKAYA, 2003).
Outra aplicação bastante investigada é
5 Ribonucleases
o uso destas enzimas na terapia antiviral. Seu
emprego pode ser justificado pela capacidade
As ribonucleases ou RNases são as proteí- de penetração na célula e degradação do RNA
nas responsáveis pela atividade degradativa de viral (RNA ribossomal, no caso dos vírus de
RNA, participando de diversos processos fisio- RNA e RNA mensageiro após a transcrição,
lógicos, como a transcrição e processamento em vírus de DNA), somado ao fato de promo-
do RNA, morte celular, defesa do hospedeiro ver quimiotaxia às células do sistema imune
e controle do crescimento tumoral (ÚSUGA; (ÚSUGA; RUGELES, 2006).

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Tabela 3 – Exemplos de microrganismos produtores de ribonucleases

Microrganismos produtores
Agaricus bisporus Ganoderma lucidum Pleurotus tuber-regium
Agrocybe cylindracea Hypsizigus marmoreus Rhizopus niveus
Aspergillus clavatus Irpex lacteus Rhizopus oryzae
Aspergillus niger Lentinus edodes Rhizopus stolonifer
Aspergillus oryzae Penicillium brevicompacturn Russulus virescens
Aspergillus pallidus Penicillium citrinum Termitomyces globulus
Calvatia caelata Pleurotus eryngii Thelephora ganbajun
Clitocybe maxima Pleurotus ostreatus Volvariella volvacela
Dictyophora indusiata Pleurotus pulmonarius
Flammulina velutipes Pleurotus sajorcaju

Pesquisadores demonstraram que uma los como a Taq polimerase e as transcriptases


RNase homóloga à RNase A é capaz de ini- reversas advindas de retrovírus. Estas enzimas
bir a replicação viral em células infectadas pelo tornaram-se poderosas ferramentas da biolo-
vírus HIV-1 (SAXENA et al., 1996). Além dis- gia molecular por serem peças-chave das técni-
so, destaca-se o emprego das RNases como cas da PCR (Polymerase Chain Reaction) e
ferramenta analítica. Elas desempenham pa- RT-PCR (Reverse Transcription – Polymerase
pel importante em estudos sobre a estrutura e Chain Reaction), por exemplo, contribuindo
função do RNA; são utilizadas para remover com o rápido avanço da biotecnologia.
RNA de produtos que devem ser livres deste; A Taq polimerase é uma DNA polimerase
e ainda são capazes de produzir nucleotídeos presente na eubactéria extremófila Thermus
para uso clínico (XIONG et al., 2004; RITTIÉ; aquaticus. Sua temperatura ótima de ativida-
PERBAL, 2008). de, próxima a 75 °C e sua relativa estabili-
dade a 95 °C são fatores determinantes para o
6 Polimerases sucesso desta enzima na técnica da PCR. A
técnica, desenvolvida por Kary Mullis em
Polimerase é termo utilizado para desig- 1983, é amplamente utilizada na amplificação
nar enzimas capazes de catalisar a incorpora- de sequências de DNA em estudos básicos de
ção de monômeros em uma cadeia, estando estrutura e função gênica na perícia forense,
associadas à formação de polissacarídeos, bem como no diagnóstico de doenças infec-
terpenos, proteínas e polímeros de ácidos ciosas, como a tuberculose e a AIDS (YANG;
nucléicos. Mais especificamente as polimerases ROTHMAN, 2004). A disseminação da téc-
são enzimas que catalisam a formação de nica da PCR fez com que a obtenção da enzima
cadeias de polinucleotídeos, a partir de seus através de sua fonte natural se tornasse invi-
monômeros, complementares a uma sequência ável, tanto pelas dificuldades de cultivo da
molde. Desta forma, agrupadas nesta cate- bactéria extremófila, quanto pelo baixo rendi-
goria, estão as DNA polimerases (I, II, III e mento de extração da enzima. Graças à tecno-
IV), RNA polimerases (I, II e III), transcrip- logia do DNA recombinante, a enzima foi
tases reversas e telomerases, as quais são clonada com sucesso em E. coli, uma espécie
classificadas oficialmente como nucleotidil- de fácil e amplo cultivo (LAWYER et al.,
transferases (EC 2.7.7). 1989; MANZUR et al., 2006).
Dentre as diversas polimerases mencio- A transcriptase reversa, também conhe-
nadas, algumas possuem uma ampla produ- cida como DNA polimerase dependente de
ção industrial e comercialização, destacando- RNA, é uma enzima heterodimérica que pos-
se as DNA polimerases de organismos termófi- sui um domínio com a ação polimerásica e

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Enzimas microbianas de uso terapêutico...

outro com ação RNásica. O mecanismo da sín- (1937) já investigava as proteinases do C.


tese de DNA a partir de RNA é explorado na histolyticum após o relato da atividade pro-
técnica de RT-PCR, que alia a ação sequencial teolítica por outros pesquisadores. Posterior-
da retrotranscriptase e da Taq polimerase. mente, Jennison (1945) avaliou a atividade
Assim, após a formação da sequência de proteolítica de certas bactérias sobre o colá-
DNA, a mesma é amplificada tornando possí- geno, propondo a utilização do termo colage-
vel a identificação, de forma indireta, de frag- nase somente para as enzimas que comprova-
mentos de mRNA transcritos em uma célula. damente hidrolisam o colágeno, ao contrário
Dentre as exemplares mais conhecidas e explo- daquelas provenientes de bactérias que somente
radas comercialmente destaca-se a retrotrans- têm ação sobre a gelatina.
criptase do vírus da leucemia murina Moloney Experimentos utilizando C. histolyticum
(M-MLV). Pelas adversidades que envolvem levaram ao isolamento e caracterização dos seis
o cultivo e manuseio viral e pelo baixo rendi- tipos de colagenases por ele produzidas e a sua
mento na extração da enzima, a produção em classificação em duas classes conforme suas
larga escala de retrotranscriptases só foi possí- atividades catalíticas (BOND; VANWART,
vel, novamente, com o auxílio da tecnologia 1984). Muitos estudos contribuíram para tor-
do DNA recombinante (ROTH et al., 1985; nar o C. histolyticum o principal microrganis-
MANZUR et al., 2006). mo utilizado para a produção industrial de cola-
genases, entretanto, essas enzimas são também
7 Colagenases obtidas de outras espécies. Lima e colabora-
dores (2009) estudaram uma cepa de Candida
As colagenases são enzimas capazes de albicans produtora de colagenase com resul-
hidrolisar as ligações peptídicas de vários ti- tados promissores para a produção industrial.
pos de colágeno, a proteína mais abundante Outros trabalhos propõem a utilização de orga-
nos mamíferos. O colágeno é virtualmente nismos geneticamente modificados em associ-
encontrado em todos os tecidos, exercendo ação com técnicas de purificação mais avan-
diferentes funções de acordo com a organiza- çadas na obtenção dessas enzimas com níveis
ção de sua estrutura final. Nos organismos, suas elevados de pureza e rendimento.
fibras resistentes são clivadas em fragmentos Quanto à utilização das colagenases,
menores pelas colagenases para posterior pode-se afirmar que as possibilidades são bas-
degradação dos fragmentos peptídicos por tante variadas. Uma delas é o debridamento
outras enzimas. Essas enzimas responsáveis enzimático de ferimentos, pela capacidade
pela hidrólise dos diferentes tipos de colágeno dessas enzimas degradarem o colágeno dos
fazem parte do grupo das metaloproteinases tecidos necrosados e facilitarem a cicatriza-
de matriz (MMPs), endopeptidases dependen- ção. Seu uso, com essa finalidade ocorre há
tes de uma forte ligação com zinco para apre- bastante tempo e uma das colagenases produ-
sentarem suas atividades catalíticas. Dentre as zidas por C. histolyticum, a clostriopeptidase
várias colagenases já identificadas em hu- A, é também utilizada com esse objetivo
manos, pode-se citar como exemplos a (ÖZCAN et al., 2002). Resultados animadores
colagenase intersticial ou de fibroblastos foram obtidos em um estudo de fase III, utili-
(MMP-1) e a colagenase de neutrófilos zando uma colagenase injetável no tratamento
(MMP-8) (BIRKE-DAL-HANSEN et al., 1993). de Contratura de Dupuytren, uma condição
Microrganismos também produzem enzi- que usualmente requer tratamento cirúrgico
mas colagenolíticas, estas são amplamente e intervenções recorrentes (BADALAMENTE;
comercializadas para diversos fins. Mais espe- HURST, 2007).
cificamente, o microrganismo Clostridium Muito frequente também é a utilização das
histolyticum tem sido muito estudado. Em colagenases nas técnicas que envolvem cultu-
1937, um estudo realizado por Weil e Kocholaty ras de tecidos e células animais. O uso de

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Zimmer, K. R., Borré, G. L., Trentin, D. S., Júnior, C. W., Frasson, A. P., Graeff, A. A., Gomes, P., Macedo, A.J.

colagenases é citado em vários métodos, como formas moleculares. De acordo com o pH


no isolamento de células endoteliais de cére- ótimo de atuação podem ser classificadas em
bro, estudos de células tronco, células cardía- fosfa-tases alcalinas (FAL) (EC 3.1.3.1, com
cas, da pele, do tecido ocular, tanto em huma- atividade em pH superior a 8,0) e fosfatases
nos quanto em modelos animais diversos (LI ácidas (EC 3.1.3.2, com atividade em pH
et al., 2007; ZORN-PAULY et al., 2004; SUPP, inferior a 6,0).
WILSON-LANDY, BOYCE, 2002; WOL- O grande uso das fosfatases microbianas
BURG et al., 1994). As colagenases apresen- se dá como insumo em kits de reagentes para
tam potencial para emprego em outras áreas análises clínicas, principalmente para as técni-
que não somente a terapêutica e de pesquisa. cas imunoenzimáticas por ELISA. Os testes
Seu uso pode ser expandido para o setor ali- imunolólogicos baseados na detecção de antí-
mentício, como o beneficiamento de carnes, genos ou anticorpos podem acoplar enzimas,
e até como auxiliar no tingimento de couros tais como a fosfatase alcalina a um anticorpo
(KANTH et al., 2008; BI et al., 2007; KIM ou anti anticorpo, dependendo do ensaio, as
et al., 2007). quais permitem a detecção da reação antígeno-
Com esse amplo campo de utilização, anticorpo e a interpretação do resultado (AL-
observa-se que a produção dessas enzimas MEIDA, 2000).
pode ser muito vantajosa. As colagenases A enzimocosmética é ainda um novo
estão classificadas, para fins de exportação campo de estudo e visa o emprego de enzimas
e importação, como pertencentes ao grupo em produtos cosméticos, dificultando ou facili-
“outras proteases e seus concentrados” (No- tando as reações bioquímicas da pele. Neste
menclatura Comum do Mercosul, NCM: sentido, a FAL vem sendo considerada um
35079049) (BRASIL, 2009). A tabela 4 apre- agente redutor de microrrugas, atuando no estí-
senta o peso desse grupo de enzimas na ba- mulo à proliferação dos fibroblastos (BON et
lança comercial brasileira. Esses dados cor- al., 2008). Além da sua aplicação na área de
roboram com a crescente importância comer- diagnóstico e cosmética, as fosfatases vêm des-
cial da pesquisa e produção de enzimas no pertando interesse também no setor agro-
cenário econômico atual. pecuário, catalisando a conversão do fósforo
da forma orgânica em fósforo solúvel.
8 Fosfatases O interesse na aplicação biotecnológica
de enzimas em ração animal deve-se princi-
As fosfatases são hidrolases que agem palmente ao custo das matérias-primas tradicio-
sobre compostos de fósforo, podendo hidrolisar nais. Além disso, a utilização de enzimas, como
uma variedade de ésteres e anidridos do ácido a fosfatase ácida, capaz de hidrolisar o fitato
fosfórico e liberar fosfato, além de realizar rea- na ração melhora a digestibilidade e a disponi-
ções de transfosforilação de fosfoésteres de bilidade do fósforo pelos animais, reduzindo
glicerol, fenol e p-nitrofenol, para vários acep- também a contaminação ambiental. Além dis-
tores, como por exemplo, glicose e piridoxina. so, a poluição das águas pela lixiviação do
As fosfatases encontram-se em diversas fósforo a partir de excretas pode provocar a

Tabela 4 – Dados comerciais do grupo comercial no qual as colagenases se inserem (adaptado de BRASIL, 2009)

Dados comerciais do grupo "outras proteases e seus concentrados"


Importações Exportações Saldo
Ano
US$ (FOB) US$ (FOB) US$ (FOB)
2008 3.266.513 13.024.401 9.757.888
2009 (jan-mar) 1.000.131 4.129.004 3.128.873

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Enzimas microbianas de uso terapêutico...

eutrofização, ou seja, o crescimento exacer- produtos garantem às empresas que detêm


bado de matéria orgânica e a consequente morte suas patentes, bilhões de dólares anualmente.
dos seres vivos daquele ecossistema (ABEL- Somente os quatro fármacos mais rentáveis
SON, 1999). Ainda, a pesquisa das enzimas baseados em inibição enzimática proporciona-
fosfatases e peroxidases, juntamente com a ram um lucro, no ano de 2007, de mais de
análise microbiológica do leite é usada na veri- 30 bilhões de dólares (tabela 5; WTN, 2009).
ficação da eficiência da pasteurização. Na inibição irreversível, normalmente,
As atividades fosfatásicas têm sido estu- ocorre inativação covalente da enzima. Isso
dadas em bactérias como, por exemplo, Lacto- deve-se em grande parte ao ataque de grupa-
bacillus curvatus (MAGBOUL e McSWEE- mentos eletrofílicos, tais como carboxilas,
NEY, 1999) e Mycobacterium tuberculosis carbonilas, aldeídos, entre outros, presentes no
(SALEH; BELISLE, 2000) e em fungos como inibidor de grupamentos nucleofílicos situados
Aspergillus ficuum (SHIEH et al., 1969), na estrutura protéica da enzima, tais como
Aspergillus nidulans (HARSANYI; DORN, aqueles presentes em aminoácidos como
1972), A. fumigatus (BERNARD et al., 2002). serina, cisteína, treonina e tirosina. No caso do
Segundo Tarafdar et al. (2001), A. niger libera ácido acetilsalicílico, o ataque parte do grupo
elevada quantidade de fosfatases seguida acetila e envolve uma serina do sítio ativo
pelo gênero Penicillium, o qual possui habili- da prostaglandina endoperóxido sintetase
dade para secretar grandes quantidades de fos- (PGHS). A descoberta deste mecanismo de ação
fatase ácida. valeu a John R. Vane o Prêmio Nobel de Medi-
cina em 1982.
9 Inibidores Enzimáticos São de particular interesse para o ramo
farmacêutico os inibidores enzimáticos de
Da mesma forma que o uso de enzimas proteases ou peptidases. Entre as classes de
é importante, muitas vezes faz-se importante interesse na inibição estão as serino-, metalo-,
e necessário a inibição específica de alguma cisteíno- e aspártico-proteases. As serino-prote-
enzima. A ação catalítica de uma série de en- ases tem-se particular interesse no combate
zimas pode ser reduzida inespecificamente a problemas inflamatórios como a asma e a
por ação de agentes químicos, como sais, ou artrite reumatóide além da criação de fármacos
físicos, tais como variação de pH ou tempe- anticoagulantes que atuem sobre a cascata
ratura (LEHNINGER et al., 2002). Porém, de coagulação, composta por uma série de
com o uso de moléculas adequadas é pos- proteases (LEUNG et al., 2000). As cisteíno-
sível inibir especificamente a ação enzimá- peptidases agem preferencialmente em meio
tica, reduzindo seu poder reacional ou mes- redutor e em condições de pH moderada-
mo extinguindo a catálise completamente mente ácido, estando envolvidas no crescimen-
(LEHNINGER et al., 2002). Esta inibição to, replicação e alimentação de uma série de
pode ser irreversível ou reversível, sendo esta protozoários de interesse e na sua interação
a forma mais comum de inibição em relação com o hospedeiro (LECAILLE et al., 2002).
ao mecanismo de ação de fármacos. Atualmente, são alvos para desenvolvimento
Inibidores enzimáticos estão entres os de novos protótipos, peptidases de protozoários
principais produtos de ação farmacêutica, den- como Leishmania spp., Trypanosoma cruzi,
tre os quais destacam-se as classes terapêuti- Plasmodium falciparum, entre outros. Na
cas dos redutores de colesterol (inibidores da classe das metalo-proteases, já há produtos
HMG-CoA redutase), antiulcerantes (inibidores em amplo consumo pela população como o
da secreção ácida estomacal), antidepressivos enalapril e captopril e os inibidores da ECA.
(inibidor seletivo de recaptação da serotonina), A classe das aspártico-proteases apresenta o
antireumáticos não-esteroidais (AINES), inibi- primeiro caso de sucesso na construção de
dores da ECA (enzima conversora da angio- inibidores enzimáticos a partir de técnicas
tensina), entre outros (WTN, 2009). Esses computacionais. Nelfinavir, ritonavir entre

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Zimmer, K. R., Borré, G. L., Trentin, D. S., Júnior, C. W., Frasson, A. P., Graeff, A. A., Gomes, P., Macedo, A.J.

Tabela 5 – Medicamentos baseados em inibidores enzimáticos mais vendidos em 2007 (adaptado de WTN 2009)

Posição Bilhões
no Produto / Empresa / Fármaco Doença de Crescimento
ranking dólares
Liptor (Pfizer / Astellas Pharma) Colesterol
1 $13,7 1%
(atorvastatina) elevado
Plavix (Bristol-Myers Squibb / Sanofi-Aventis)
2 Trombose $8,1 28%
(clopidogrel)
Remicade (Johnson & Johnson, Schering-Plough, Mitsubishi Tanabe) Artrite
5 $5,3 18%
(infliximab) reumatóide
Divan (Novartis)
8 Hipertensão $5,0 19%
(valsartan)

outros, foram desenvolvidos a partir do estudo Referências


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como o ácido clavulânico e o tazobactan, a
GOLDENBERG, S.; BRANCO, L. R. R. C.;
fim de aumentar a ação destes medicamentos
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representam outros exemplos de inibidores ção de Doença de Chagas em saliva. Patente
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que empresas de inovação estão sendo criadas
buscando competitividade internacional. Além BERNARD, M.; MOUYNA, I.; DUBREUCQ,
disso, o enorme potencial da nossa biodiversi- G.; DEBEAUPUIS, J.P.; FONTAINE, T.;
VORGIAS, C.; FUGLSANG, C.; LATGÉ, J.P.
dade, em que novas espécies de microrganis-
Characterization of a cell-wall acid phosphatase
mos, animais e plantas estão por serem desco-
(phoap) in Aspergillus fumigatus. Microbio-
bertas, poderá trazer melhoria da qualidade de
logy. v. 148, p. 2819-2829, 2002.
vida da sociedade com novas moléculas e,
consequentemente, novos produtos. Nesse con- BI, Y. et. al. Identification of tendon stem / pro-
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de científica devem fortalecer suas relações matrix in their niche. Nature Medicine, v. 13,
visando a maior investimento no desenvolvi- n. 10, p. 1219-1227, 2007.
mento de tecnologias a fim de ampliar a produ- BIRKEDAL-HANSEN, H. et. al. Matriz
ção nacional e a exportação de enzimas. Metalloproteinases: A Review. Critical Review
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Agradecimentos 197-250, 1993.

Os autores agradecem à CAPES e ao BON, E.P.S.; COSTA, R.B.; DA SILVA, M.V.A.;


CNPq o apoio recebido. FERREIRA-LEITÃO, V.S.; FREITAS, S.P.;

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