Você está na página 1de 3

III.

Método de ensino nas Universidades medievais (método


escolástico)
(Retirado de “História das instituições e pensamento político”, do autor Joaquim
de Carvalho, filósofo e historiador português)
O ensino cirúrgico era essencialmente prático, aprendendo-se rotineiramente.
Considerado como ofício, o exercício da cirurgia exigiu nalgumas partes, designadamente
em França, um exame perante as Faculdades de Medicina, cuja aprovação conferia a
licentia operandi.
A disputatio consistia no diálogo entre o mestre e os alunos acerca de determinada
tese ou assunto; ao contrário da lectio, que implicava a atitude passiva, despertava a
atividade intelectual dos alunos. Tornou-se, por isso, o processo demonstrativo dos
conhecimentos adquiridos e da respetiva compreensão e aplicação doutrinal, filiando-se
a sua origem na quaestio, a qual, por seu turno, nasceu da expositio e da comentatio.
A discussão dos temas de disputatio fazia-se por pro, contra e solutio, isto é, pela
exposição da argumentação afirmativa, pela da negativa, ou contrária, terminando pela
resolução. As disputationes podiam ser: ordinárias, nas quais o mestre formulava o tema
da disputatio (ou quaestio), assistia à respetiva discussão e terminava por formular a
resolução; gerais ou de quodlibet, que versavam sobre temas livres (quaestiones de
quodlibet), mais solenes, e que tinham lugar, em regra, pelo Natal e pela Páscoa;
magistrais, entre dois mestres, sustentando cada um o seu modo de ver; e sophismata, que
eram justas dialéticas para a demonstração ou refutação de paralogismos.
O ato de quodlibet foi inicialmente obrigação dos mestres regentes; no decurso da
segunda metade do século XIV, porém, sem perder o carácter solene, passou a ser uma
prova que os bacharéis tinham de prestar antes de serem admitidos à licenciatura.
Desenvolvia-se em duas partes distintas e até separadas por intervalo mais ou menos
longo: a disputatio, na qual o bacharel expunha o tema e se produziam as livres objeções
dos assistentes, e a determinatio, que cumpria ao mestre e na qual este examinava o tema
e as objeções suscitadas na disputatio e expunha a sua opinião.
É nesta estrutura da didática que radicam as formas características da literatura
teológica e filosófica desta época — os Comentários, as Sumas e as Quaestiones, que, em
regra, eram redigidas sob o título de Quaestiones disputatae ou de Quaestiones
quodlibetales (Quodlibetalia ou Quodlibetos). Os Comentários diretamente ligados ao
texto, designadamente de Aristóteles, de Boécio, de Pedro Lombardo, do Pseudo-
Dionísio Areopagita, etc., contam-se por grande número.
Nas Sumas, o autor desprendia-se da letra para atentar no fundo doutrinal, cuja
exposição é feita com feição sistemática. É, por excelência, representativa destas obras a
Suma Teológica de São Tomás de Aquino (1224-1274), a qual expressamente assenta na
técnica das disputas (pro, contra e solutio). As Questões discutidas expunham a matéria
versada nas Disputationes, que eram normalmente quinzenais, e os Quodlibetos ou
Questões quodlibetais, a matéria das disputas solenes. Os escritos independentes ou de
exposição mais curta reuniam-se, em geral, sob o título de Opúsculos.
O processo das disputas, que peculiariza o método escolástico e tem no Sic et non
de Abelardo uma das principais raízes literárias e metodológicas, assentava na memória
e desenvolvia a capacidade dialética, a oratória e a presença de espírito, mas deu ensejo
ao abuso das discussões verbais, à argumentação especiosa e sem ligação com a realidade,
e ao formalismo vão e estéril.
A metodologia escolástica, dominante até fins do século XV, contribuiu para que
a ciência oficial se tivesse esterilizado e devido ao abuso da argúcia e da sofistaria, em
que por fim degenerou, houvesse suscitado a repulsa dos espíritos independentes e das
mentes atentas à lição dos factos.
O ensino cirúrgico era essencialmente prático, aprendendo-se rotineiramente.
Considerado como ofício, o exercício da cirurgia exigiu nalgumas partes, designadamente
em França, um exame perante as Faculdades de Medicina, cuja aprovação conferia a
licentia operandi.
A disputatio consistia no diálogo entre o mestre e os alunos acerca de determinada
tese ou assunto; ao contrário da lectio, que implicava a atitude passiva, despertava a
atividade intelectual dos alunos. Tornou-se, por isso, o processo demonstrativo dos
conhecimentos adquiridos e da respetiva compreensão e aplicação doutrinal, filiando-se
a sua origem na quaestio, a qual, por seu turno, nasceu da expositio e da comentatio.
A discussão dos temas de disputatio fazia-se por pro, contra e solutio, isto é, pela
exposição da argumentação afirmativa, pela da negativa, ou contrária, terminando pela
resolução. As disputationes podiam ser: ordinárias, nas quais o mestre formulava o tema
da disputatio (ou quaestio), assistia à respetiva discussão e terminava por formular a
resolução; gerais ou de quodlibet, que versavam sobre temas livres (quaestiones de
quodlibet), mais solenes, e que tinham lugar, em regra, pelo Natal e pela Páscoa;
magistrais, entre dois mestres, sustentando cada um o seu modo de ver; e sophismata, que
eram justas dialéticas para a demonstração ou refutação de paralogismos.
O ato de quodlibet foi inicialmente obrigação dos mestres regentes; no decurso da
segunda metade do século XIV, porém, sem perder o carácter solene, passou a ser uma
prova que os bacharéis tinham de prestar antes de serem admitidos à licenciatura.
Desenvolvia-se em duas partes distintas e até separadas por intervalo mais ou menos
longo: a disputatio, na qual o bacharel expunha o tema e se produziam as livres objeções
dos assistentes, e a determinatio, que cumpria ao mestre e na qual este examinava o tema
e as objeções suscitadas na disputatio e expunha a sua opinião.
É nesta estrutura da didática que radicam as formas características da literatura
teológica e filosófica desta época — os Comentários, as Sumas e as Quaestiones, que, em
regra, eram redigidas sob o título de Quaestiones disputatae ou de Quaestiones
quodlibetales (Quodlibetalia ou Quodlibetos).
Os Comentários diretamente ligados ao texto, designadamente de Aristóteles, de
Boécio, de Pedro Lombardo, do Pseudo-Dionísio Areopagita, etc., contam-se por grande
número. Nas Sumas, o autor desprendia-se da letra para atentar no fundo doutrinal, cuja
exposição é feita com feição sistemática. É, por excelência, representativa destas obras a
Suma Teológica de São Tomás de Aquino (1224-1274), a qual expressamente assenta na
técnica das disputas (pro, contra e solutio). As Questões discutidas expunham a matéria
versada nas Disputationes, que eram normalmente quinzenais, e os Quodlibetos ou
Questões quodlibetais, a matéria das disputas solenes. Os escritos independentes ou de
exposição mais curta reuniam-se, em geral, sob o título de Opúsculos.
O processo das disputas, que peculiariza o método escolástico e tem no Sic et non
de Abelardo uma das principais raízes literárias e metodológicas, assentava na memória
e desenvolvia a capacidade dialética, a oratória e a presença de espírito, mas deu ensejo
ao abuso das discussões verbais, à argumentação especiosa e sem ligação com a realidade,
e ao formalismo vão e estéril.
A metodologia escolástica, dominante até fins do século XV, contribuiu para que
a ciência oficial se tivesse esterilizado e devido ao abuso da argúcia e da sofistaria, em
que por fim degenerou, houvesse suscitado a repulsa dos espíritos independentes e das
mentes atentas à lição dos factos.

Você também pode gostar