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Secção de Mecânica Estrutural e Estruturas – Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura

ESTÁTICA – Arquitectura – 2006/07

4. Forças Distribuídas: Centróides de Centros de


Gravidade
4.1 Generalidades

A atracção da Terra sobre um determinado corpo é constituída


por um sistema de forças distribuídas aplicadas em cada partícula
do corpo. Considerando tratar-se de um corpo rígido, a acção
gravítica pode ser substituída pela acção da sua resultante – o
peso P do corpo, aplicada no centro de gravidade do corpo.

Exemplos de cargas (acções) gravíticas em edifícios.


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O mesmo se passa com outras forças distribuídas como, por


exemplo, a acção do vento sobre uma superfície, a acção da
pressão hidrostática sobre superfícies submersas, etc..

Acção do vento (pressão).

Acção da pressão hidrostática. Substituição pela resultante.


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Outras acções (uniformemente) distribuídas.


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4.2 Centro de Gravidade e Centróide de Corpo Bidimensional

Centro de Gravidade
Considere-se o caso restrito de superfícies planas (“placas”) ou
de linhas (“arames”) no plano.

No caso duma placa, subdividindo-a em N pequenos elementos


cuja posição é descrita por (xi, yi) e cujo peso é dado por ΔPi, o
peso total P da placa é:
N
P = ∑ ΔPi
i =1

O ponto de aplicação da resultante (“peso”) pode ser determinado


igualando os momentos produzidos por ambos os sistemas de
forças (distribuídas e concentrada) relativamente aos eixos
ordenados x e y do plano da placa, ou seja:
N
∑ My = s P x = ∑ ΔPi xi
i =1

N
∑ Mx = s P y = ∑ ΔPi y i
i =1

No limite, decompondo a placa em elementos infinitesimais, ter-


se-ia:
P = ∫ dP
e
P y = ∫ ydP P x = ∫ xdP

em que (x, y ) descrevem as coordenadas do centro de gravidade


da placa.
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As equações anteriores podem ser generalizadas a um arame


(neste caso o domínio de integração é a linha que descreve o
arame).

Centróide

Tratando-se duma placa delgada homogénea com espessura


uniforme t, tem-se:
ΔPi = tΔAi γ
pelo que

N
P = ∑ ΔPi = tAγ
i =1

em que as equações anteriores que permitiam a determinação do


centro de gravidade degeneram em:

N
∑ My = s Ax = ∑ ΔAi xi
i =1

N
∑ My = s Ay = ∑ ΔAi y i
i =1

Neste caso, o ponto de coordenadas (x, y ) é designado por


centróide da placa. Estes resultados podem ser generalizados a
placas decompostas em elementos infinitesimais.

A = ∫ dA
e
Ay = ∫ ydA Ax = ∫ xdA

No caso da placa não ser homogénea o centróide deixa de


coincidir com o centro de gravidade.
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As equações anteriores definem os chamados momentos


estáticos (ou momentos de primeira ordem) da superfície
relativamente aos eixos ordenados. Estes são referenciados por
Sx e Sy e determinam-se através de:

Sx = Ay = ∫ ydA Sy = Ax = ∫ xdA

Das equações anteriores se conclui que as coordenadas do


centróide duma superfície podem ser determinadas dividindo os
momentos estáticos relativamente aos eixos ordenados pela área
da superfície.

Como consequência, se o centróide duma superfície se situa


sobre um determinado eixo, é nulo o seu momento estático
relativamente ao mesmo eixo. De igual forma se conclui que se o
momento estático relativamente a um determinado eixo é nulo,
então o centróide da superfície situa-se sobre o eixo.

As conclusões anteriores podem ser generalizadas para o caso


de linhas no plano (arames).

Simetria

Simetria relativamente a eixo. Quando uma superfície é simétrica


relativamente a um eixo, o seu momento estático relativamente
ao eixo é nulo e o seu centróide situa-se sobre o eixo.
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Caso a superfície apresente dois eixos de simetria, o centróide


situa-se no ponto de intersecção destes eixos.

Simetria relativamente a ponto. Quando uma superfície é


simétrica relativamente a um ponto, o seu centróide situa-se
nesse ponto.
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4.3 Determinação de Centróides por Integração

Quando se trate da determinação do centróide de uma superfície


delimitada por curvas cujas expressões analíticas são
conhecidas, torna-se possível proceder à integração com vista à
determinação dos momentos estáticos e da área.
A integração pode ser realizada por três processos diferentes:
• Integração dupla em coordenadas cartesianas dA = dxdy
Ex: triângulo rectângulo

H B
S y = ∫ xdA = ∫ ∫ xdxdy
Ω 0 By / H

y =H H B
A = ∫ dA = ∫ ∫ dxdy
Ω 0 By / H

Sy
x=
x =B A

• Integração dupla em coordenadas polares dA = rdrdθ


Ex: quarto de círculo

π/2R
S y = ∫ xdA = ∫ ∫ (r cos θ )rdrdθ
Ω 0 0

π/2R
A = ∫ dA = ∫ ∫ rdrdθ
Ω 0 0

R
Sy
x=
x =B A
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• Integração simples considerando o método das fatias (ou das


faixas)

H
S y = ∫ x el dA = ∫ g ( y ) / 2(g ( y )dy )
H x = g (y ) Ω 0

H
dy A = ∫ dA = ∫ g ( y )dy
Ω 0

Sy
x=
xel = g (y ) / 2 A

Exercício: determinar a posição do centróide sob um arco


parabólico pelo método das faixas.

No caso de uma linha, a posição do centróide pode ainda ser


determinada por integração através de

Sy
S y = ∫ xdL L = ∫ dL x=
Ω Ω
L

Cuja integração pode ser realizada indistintamente em


coordenadas cartesianas ou polares

dL = dx 2 + dy 2 dL = dr 2 + (rdθ )
2

que podem ser explicitados em termos da variável considerada


como independente (em relação à qual a integração é realizada)

2 2
⎛ dy ⎞ ⎛ dx ⎞
dL = 1 + ⎜ ⎟ dx dL = ⎜ ⎟ + 1dy
⎝ dx ⎠ ⎝ dy ⎠

⎛ dθ ⎞
2 2
⎛ dr ⎞
dL = 1 + r ⎜ ⎟ dr dL = ⎜ ⎟ + r dθ
2 2

⎝ dr ⎠ ⎝ dθ ⎠
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4.4 Placas e Arames Compostos

Uma forma eficiente de determinar a posição do centro de


gravidade (ou do centróide) duma superfície consiste em
decompor esta em formas simples (triângulos, círculos,
rectângulos, etc.) cujas características (área e centróide ou centro
de gravidade) sejam previamente conhecidas.

Com efeito,

Sy = Ax = ∫ xdA = ∫ xdA + ∫ xdA + .. + ∫ xdA = A1 x1 + A2 x2 + ..AN xN


Ω Ω1 Ω2 ΩN

pelo que
N N
∑ An xn ∑ An xn
x= n =1
= n =1
N
A ∑ An
n =1

o mesmo se passando com a determinação de y , ou seja


N N
∑ An y n ∑ An y n
y = n =1
= n =1
N
A
∑ An
n =1

As equações anteriores são extensíveis, com as devidas


adaptações à determinação do centróide de curvas compostas.
N N N N
∑ Ln x n ∑ Ln x n ∑ Ln y n ∑ Ln y n
x= n =1
= n =1
N
y= n =1
= n =1
N
L L
∑ Ln ∑ Ln
n =1 n =1

Para a determinação das áreas (ou comprimentos) e posições


dos centróides dos elementos que compõe a superfície (ou linha)
deverão consultar-se Tabelas (por exemplo, as tabelas do
Beer&Jonhston, 7ª Edição, Figs. 5.8A e B, anteriormente
apresentadas).
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4.5 Teoremas de Pappus-Guldinus

Definições:
• Superfície de revolução – superfície gerada pela rotação duma
curva plana (curva geratriz) em torno dum eixo fixo (eixo de
revolução)
Exemplos

Superfície esférica Superfície cónica Superfície de toro

• Corpo de revolução – corpo gerado pela rotação duma


superfície plana (superfície geratriz) em torno dum eixo fixo
(eixo de revolução)
Exemplos

Esfera Cone Toro


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Teorema I . A área duma superfície de revolução é igual ao


produto do comprimento da curva geratriz pelo caminho
percorrido pelo centróide da curva durante o movimento de
rotação que gera a superfície.

Demonstração: considerando a superfície dA gerada por um


segmento dL da curva geratriz

dA = 2π z dL

Considerando agora a totalidade da superfície de revolução

A = ∫ dA = ∫ 2π z dL = 2πSy = 2π z L

Nota: a curva geratriz não pode intersectar o eixo (geraria área


negativa)

Aplicações:
• Determinar a área duma superfície de revolução conhecida a
posição do centróide da curva geratriz;
• Determinar a posição do centróide, conhecida a área da
superfície de revolução.
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Teorema II. O volume de um corpo de revolução é igual ao


produto da área da superfície geratriz pelo caminho percorrido
pelo centróide da superfície durante o movimento de rotação que
gera o corpo.

Demonstração: considerando o volume dV gerado por um


elemento dA da superfície geratriz

dV = 2π z dA

Considerando agora a totalidade do volume de revolução

V = ∫ dV = ∫ 2π z dA = 2π S y = 2π z A

Nota: a superfície geratriz não pode intersectar o eixo (geraria


volume negativo)

Aplicações:
• Determinar o volume dum corpo de revolução, conhecidas a
área e a posição do centróide da superfície geratriz;
• Determinar a posição do centróide da superfície geratriz,
conhecido o volume do corpo de revolução.
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Nota final: Ambos os teoremas (I e II) são aplicáveis


superfícies/volumes de revolução incompletos (com rotação
0<θ<2π em torno do eixo geratriz).

Exercício extraído de Engineering Mechanics: Statics. RILEY, William


F.; STURGES, Leroy. John Wiley and Sons, 1996
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4.6 Cargas Distribuídas em Vigas

As vigas estão habitualmente sujeitas a cargas distribuídas p(x) –


devidas ao peso próprio, ao peso dos restantes elementos
estruturais e não estruturais, à acção do vento, etc..

Podemos, para efeito do equilíbrio global, substituir a carga


distribuída pela sua resultante aplicada na sua linha de acção.

Resultante
L L
R = ∫ dR = ∫ f (x ) dx = A
x =0 x =0

Linha de Acção (igualando momentos relativamente a O)

L L
M OR = ∫ x dR = ∫ x f (x ) dx = x C R = d A
x =0 x =0
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Conclusão: “uma carga distribuída actuante numa viga pode ser


substituída por uma carga concentrada; a intensidade desta carga
única é igual à área da superfície sob a curva de carregamento e
a sua linha de acção passa pelo centróide do carregamento”

Exemplos: carga uniformemente distribuída (rectangular), carga


linear (triangular ou trapezoidal).

Exercícios:
Determine os valores das resultantes (e localização) para os
seguintes carregamentos distribuídos sobre vigas.

Exercício extraído de Engineering Mechanics: Statics. RILEY, William


F.; STURGES, Leroy. John Wiley and Sons, 1996
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4.6 Centro de Gravidade de Corpo Tridimensional

Considere-se o caso restrito de volumes (“corpos”)


tridimensionais.

Subdivida-se
r o corpo em pequenos corpos elementares cujo peso
r r
é ΔW = − ΔW e3 e cuja posição é descrita por r .

Pretende-se que o sistema de forças (pesos) distribuídos sejar


estaticamente equivalente a uma força única – resultante − W e 3 ,
aplicada no centro de gravidade G ≡ (x , y , z ) do corpo.
Considerando elementos de volume infinitesimais, a condição
anterior implica:
Igualdade da resultante

W = ∫ dW

Igualdade do momento resultante (relativamente a O, por


exemplo)
r r r r r
M OR = rG × (− W e 3 ) = − ∫ r × (dW e 3 )
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Do último conjunto de equações se conclui:

x W = ∫ x dW y W = ∫ y dW z W = ∫ z dW

que definem as coordenadas do centro de gravidade do centro


de gravidade do corpo.

Caso se trate dum corpo homogéneo com um peso específico γ,


tem-se:
dW = γ dV
e
W =γV
pelo que reformulando as equações anteriores se obtém

x V = ∫ x dV y V = ∫ y dV z V = ∫ z dV

equações que definem a posição do centróide, coincidente com


o centro de gravidade quando se trate dum corpo homogéneo.

De igual forma as equações anteriores definem os momentos


estáticos (ou momentos de primeira ordem) relativamente aos
planos coordenados.

SIMETRIA

Simetria relativamente um plano. Quando volume é simétrico


relativamente a um plano, o seu momento estático relativamente
ao plano é nulo e o seu centróide situa-se no plano de simetria.

Caso o volume apresente dois planos de simetria, o centróide


situa-se na recta definida pela intersecção destes planos.
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Caso o volume apresente três planos de simetria que se


intersectam num ponto, o centróide situa-se nesse ponto.

DETERMINAÇÃO DE CENTRÓIDES POR INTEGRAÇÃO

Quando se trate da determinação do centróide de um volume


delimitado por curvas cujas expressões analíticas são
conhecidas, torna-se possível proceder à integração com vista à
determinação dos momentos estáticos relativamente aos planos
coordenados, assim como do seu volume.
A integração pode ser realizada por dois processos diferentes:
• Integração tripla em coordenadas cartesianas
• Integração simples através do método das fatias (faixas).
Considerando um volume de revolução obtido em torno do
eixo y

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