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Operários e camponeses
por Prabhat Patnaik [*]
A razão para esta ligação das fortunas económicas dos trabalhadores e dos camponeses
é a que se segue. O neoliberalismo desencadeia um processo vigoroso de acumulação
primitiva de capital no campo, onde a oligarquia corporativo-financeira e as corporações
multinacionais se chocam com o sector tradicional de pequena produção, especialmente a
agricultura camponesa, causando grande sofrimento aos camponeses. Este sofrimento,
cuja manifestação no nosso país assumiu a forma de suicídios camponeses em massa,
de mais de 300 mil pessoas nas últimas duas décadas, também obriga os camponeses a
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Nas cidades, entretanto, o número de postos de trabalho criados, mesmo quando a taxa
de crescimento do PIB parece muito alta, é extremamente insignificante, insuficiente até
mesmo para absorver a taxa natural de crescimento da própria força de trabalho urbana,
muito menos dos migrantes das aldeias. Entre 2004-5 e 2009-10, dois anos em que a
Pesquisa Nacional por Amostra realizou amplas pesquisas por amostragem e que
abrangem um período de alto crescimento do PIB, a taxa anual de crescimento do
emprego como "status habitual" (ou seja, daqueles que consideram como “Status habitual”
estar empregado), era de apenas 0,8%. Isso era bem abaixo da taxa natural de
crescimento da própria força de trabalho urbana, que não poderia estar demasiado abaixo
da taxa de crescimento populacional de 1,5%.
aberto, mas sim numa proliferação de empregos em tempo parcial, emprego casual,
emprego intermitente e desemprego disfarçado (muitas vezes camuflado como "pequeno
empreendedor"). Por outras palavras, o racionamento do emprego assume a forma não
de mais pessoas estarem realmente desempregadas, mas de cada pessoa, em média,
estar desempregada por um período de tempo mais longo.
Mas não importando a forma que assume, a ascensão relativa do exército de trabalho de
reserva tem o efeito de rebaixar as condições médias de vida dos trabalhadores urbanos
como um todo. Isto acontece porque não se verificam aumentos na taxa salarial, devido
ao crescimento do exército de reserva, ao passo que o reduzido número de horas de
trabalho em média implica um rendimento médio mais baixo para todos os trabalhadores
urbanos.
pela qual o neoliberalismo também provoca tal enfraquecimento das condições e da força
organizacional dos trabalhadores (como por exemplo a privatização de unidades do sector
público). Mas a aflição do campesinato e, portanto, dos trabalhadores agrícolas, agrava
esta tendência.
Devido a isto, a aliança operária-camponesa emerge como a arma primária na luta para
ultrapassar o capitalismo neoliberal. E uma vez que o neoliberalismo sustenta a actual
conjuntura que desova o crescimento da tendência comunal-autoritária, com o generoso
apoio da oligarquia corporativo-financeira, a aliança operário-camponesa também se torna
a arma primária para ultrapassar esta conjuntura e então para a derrota final das forças
comunais-autoritárias.
Este complexo processo de transformar esta aliança em si numa aliança para si começou.
O comício Mazdoor-Kisan a ser efectuado em Delhi dia 5 de Setembro, o qual se segue à
marcha kisan verificada em Maharashtra alguns meses antes, é um marco importante
neste processo de transformação. Até agora havia comícios separados de operários, de
camponeses e de trabalhadores agrícolas. O comício de 5 de Setembro será o primeiro
comício conjunto destas três classes e, embora suas exigências imediatas sejam por
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alívio
económico,
seu potencial
histórico para
combater o
neoliberalismo
e o comunal-
autoritarismo
que ele desova
é imenso. Sua
significância
torna-se ainda
maior quando
o comunal-
autoritarismo
está a mostrar os dentes, com prisões à escala nacional de activistas de direitos civis sob
toda espécie de acusações arbitrárias e forjadas – e com o anúncio insolente de que mais
prisões estão em vias de acontecer.
02/Setembro/2018
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