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vídeo aulas e a imensa lista de produtos e Clarke (1994), uma importante referência na
títulos, distribuídos pela WEB ou nos formatos discussão da aplicação do vídeo no âmbito
de DVD e VHS, têm se tornado mais acessíveis. educacional, questiona se é possível aprender a
partir de vídeos. Kuomi (2006) destaca a
Assim como existem diferentes teorias possibilidade dos estudantes adotarem uma
relacionadas a aspectos e objetivos de postura de rejeição inconsciente ao vídeo como
aprendizagem diversos, é possível que material instrucional, conseqüência da
diferentes soluções metodológicas para o associação desta linguagem ao entretenimento.
desenvolvimento e a avaliação de vídeos A associação entre vídeo e entretenimento é
instrucionais sejam aplicáveis. A revisão da apontada também por Moran (1995), quando se
bibliografia sobre o tema corrobora esta refere à utilização, por alguns professores, de
hipótese ao indicar uma ausência de consenso vídeos em salas de aula como prêmios para os
sobre a metodologia mais adequada para definir alunos.
as especificações de desenvolvimento e
avaliação de vídeos instrucionais. A defesa dos vídeos como ferramentas
instrucionais necessita esclarecer, inicialmente,
Múltiplas áreas do conhecimento auxiliam as as definições sobre as linhas mestras para
organizações na busca de soluções para a construção de vídeos instrucionais eficientes.
capacitação de profissionais que leve ao
aprendizado de novas habilidades e forneçam O aprendizado do aluno é o ponto de
respostas precisas às demandas do mercado e da divergência entre TV e vídeo instrucionais e o
sociedade. A Ergonomia Cognitiva disponibiliza entretenimento de acordo com Laaser (1996),
ferramentas para análise, diagnósticos e que destaca características favoráveis ao
soluções que podem contribuir para direcionar aprendizado: conteúdo relevante para o grupo-
os projetos de vídeos instrucionais. alvo; o estilo e a densidade da informação
adequados; apresentação do assunto em uma
O enfoque da Ergonomia Cognitiva vem sendo seqüência lógica; a relação com os outros cursos
utilizado em inúmeros estudos relacionados a já existentes; a oferta de uma motivação inicial;
processos educacionais e de interatividade em apresentar bem o problema; e apoiar o
aplicações de multimídia. Para a concepção de aprendizado com recursos estruturais. Estas
vídeos instrucionais, a contribuição específica características podem ser princípios
desta área do conhecimento não foi identificada, orientadores para a análise de filmes
ainda que o tema venha sendo pesquisado pelas instrucionais.
Ciências Cognitivas, uma das disciplinas que
fazem parte da abordagem da Ergonomia O autor faz, também, um delineamento de
Cognitiva. quatro elementos básicos que devem existir em
um vídeo instrucional e oferece, assim, um
O objetivo deste artigo é refletir sobre a possível roteiro de análise de produção.
contribuição da Ergonomia Cognitiva para a 1. Apresentador:
avaliação da eficácia de vídeos instrucionais, a Geralmente é membro da equipe da instituição
partir de um estudo de caso - a produção de de ensino a distância;
vídeos para o curso de Formação de Agentes Aparece em tomadas curtas entremeadas por
Fiscais em Metrologia Legal, oferecido na outros elementos;
modalidade a distância pelo Centro de Não deve ler o texto durante a gravação;
Capacitação (Cicma) do Inmetro. 2. Entrevista:
Usada para incorporar o conhecimento de um
2. Ferramentas instrucionais audiovisuais perito externo à equipe acadêmica;
O entrevistado deve desempenhar papel de
Há certo descrédito sobre a utilização de vídeo destaque;
como veículo de conhecimento. O estudo de
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O entrevistador deve assumir a perspectiva do O vídeo encontra os objetivos que se
espectador ou do aluno que está assistindo o propõe?
programa; O vídeo interage com a audiência?
O entrevistador deve reagir às respostas dadas O vídeo integra com o ambiente de
pelo entrevistado; aprendizagem?
A primeira e a última perguntas devem ser
elaboradas de modo a dar à entrevista uma 3º Módulo:Produção Técnica
mensagem clara; As características gerais do design do
3. Discussões em grupo: vídeo;
O papel do mediador é crucial e deve ser O vídeo foca o conteúdo pretendido?
sempre posicionado no meio do grupo; A qualidade visual e de áudio;
As partes debatedoras são posicionadas em
lados opostos, formando um semicírculo; 4º Módulo: Fornecimento de materiais
Deve ter 10 pessoas no máximo; suplementares ao conteúdo:
São necessárias, pelo menos, três câmeras; O vídeo clarifica e sumariza os
Deve mostrar a reação dos debatedores por conteúdos?
tomadas próximas;
Devem ser evitados zooms ou panorâmicas; Kuomi (2006) realiza uma análise do tipo
4. Representações gráficas: específico de material instrucional para cada
Incluem desenhos, diagramas e ilustrações; tipo de objetivo, tratando diferentes formatos de
Deve ser respeitado o formato da tela (4 por vídeos e de exibição. O autor sugere uma lista
3); de questões e regras que devem nortear a
Os caracteres devem ser legíveis: tamanho confecção de roteiros para vídeos instrucionais:
mínimo 4 cm de altura e 3,4 cm de largura; Questões:
As cores em tom pastel e materiais não- Para quem? (Público-alvo)
refletores são recomendados; Em que contexto de aprendizado?
O projeto de todas as seqüências gráficas deve Com que propósito? (Objetivos
manter características comuns, como cores de instrucionais)
fundo, caracteres, símbolos e estilo de projeto; Regras:
Faça com que eles queiram aprender:
Beaudin e Quick (1996), apresentam um capture a atenção;
instrumento para a avaliação de vídeos Fale o que você vai fazer: o que será
instrucionais baseado em alguns parâmetros, visto no vídeo;
agrupados em 4 módulos, classificáveis numa Facilite a atenção: use exemplos claros
escala de apreciação que vai de 1 a 5 (pobre a no nível da audiência.
excepcional): Possibilite a construção individual do
conhecimento;
1º Módulo: Conteúdo Sensibilize;
É acurado? Elucide;
É útil ? Teça uma estória;
É não-tendencioso? Reforce;
Consolide o conteúdo mostrando o que
2º Módulo: Plano Instrucional foi visto;
Os objetivos são declarados no vídeo? Ofereça fontes para aprofundamento e
O conteúdo é apresentado de forma clara links para os próximos vídeos;
para audiência?
O vídeo induz à reflexão do Wetzel et alli (1994) apresentam uma extensiva
aprendizado? revisão da produção teórica sobre vídeo
instrucional e suas várias modalidades.
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Encontram estudos empíricos e comparativos O estudo de caso é baseado na experiência
que relacionam tipos/linguagens de mídias e recente de produção de material instrucional em
objetivos didáticos específicos. A conclusão dos vídeo para o Curso de Formação de Agentes
autores é que o vídeo é eficaz como elemento de Fiscais em Metrologia Legal, oferecido na
veiculação de informação sobretudo quando é modalidade a distância de forma semipresencial
necessário demonstrar procedimentos. A pelo Centro de Capacitação (Cicma) do Instituto
possibilidade das mídias poderem ser vistas e Nacional de Metrologia, Normalização e
revistas compensa, até mesmo, a perda de Qualidade Industrial (Inmetro). O projeto-piloto
qualidade instrucional de aulas expositivas envolveu quatro Estados (Mato Grosso,
simplesmente gravadas. Alagoas, Pernambuco e Sergipe) e está sendo
atualmente avaliado.
3. Contribuições da Ergonomia Cognitiva
O curso é composto por dois módulos,
Segundo Moraes e Mont’Alvão (2007), a Metrologia Básica e Metrologia Legal, e
Ergonomia aplica teoria, princípios, dados e direcionado para formação de técnicos de nível
métodos para projetar a fim de otimizar o bem- médio que atuarão como agentes fiscais para a
estar humano e o desempenho geral de um verificação de diversos instrumentos
sistema. A Ergonomia Cognitiva estuda os metrológicos, tais como taxímetro,
processos mentais (percepção, atenção, esfigmomanômetros, bomba medidora de
cognição, controle motor, armazenamento e combustível líquido, instrumentos de pesagem
recuperação de memória) e avalia seus efeitos não-automáticos, além do controle quantitativo
sobre as interações entre seres humanos e outros de produtos pré-medidos.
elementos de um sistema.
O projeto instrucional do curso caracterizou
Diversos tópicos são relevantes para Ergonomia cada aula como um conjunto de atividades
Cognitiva: carga mental de trabalho, vigilância, desenvolvidas em quatro horas no ambiente
tomada de decisão, desempenho de habilidades, virtual de aprendizagem Moodle. O material
erro humano, interação humano - computador e impresso e as instruções normativas de cada
treinamento. aula foram o conteúdo-base para a elaboração
dos storyboards dos vídeos. No módulo de
Sua aplicabilidade no processo de elaboração de Metrologia Básica, o vídeo foi apresentado após
vídeos instrucionais envolve a análise da forma a leitura do material impresso. Esta ordem foi
como a informação é organizada e estruturada - invertida no módulo de Metrologia Legal.
processos de comunicação com a audiência,
mecanismos que afetam a percepção do Houve a produção de 35 vídeos, 446 min. e 23
conteúdo e possibilidades e limites da cognição seg. - cerca de 8 horas de filmagens -
humana como percepção, memória e raciocínio. distribuídos ao longo das 17 aulas. Diversas
propostas para apresentar fatos, conceitos e
Os relatos na área da engenharia cognitiva procedimentos foram utilizadas, tais como:
evidenciam que o modo utilizado para veicular aulas expositivas do tipo conferência; vídeo
o conteúdo pode ser decisivo no grau de estilo documentário com narração conectada a
retenção da informação. O processo de retenção conteúdo gráfico, fotográfico ou videográfico; e
da informação audível, por exemplo, é reduzido vídeos que reproduziam procedimentos no estilo
de acordo com o nível educacional da audiência passo a passo.
e se perde com o volume de material.
Os vídeos foram construídos de acordo com as
4. Vídeos Instrucionais para o Curso de etapas de pré-produção, filmagem e pós-
Formação de Agentes Fiscais em Metrologia produção, comuns ao processo de elaboração de
Legal mídias. Os técnicos em metrologia, que atuaram
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como conteudistas para o curso, participaram de c) Fragmentação do conteúdo: pequenas
todas as etapas. seqüências de informações.
Ao aplicar sugestões correntes na literatura O vídeo foi acessado como um objeto único,
relacionada à Ergonomia Cognitiva e sem a disponibilização de time code para
normalmente utilizadas para a elaboração de demarcar seqüências ou mesmo de sistemas de
multimídias, foi possível identificar alguns navegação que permitissem pular para outras
parâmetros úteis para a concepção dos vídeos: seqüências definidas.
A curta duração visa não tornar os vídeos Por considerar os vídeos instrucionais como
enfadonhos, evitar uma sobrecarga de sistemas de signos e de informações,
informações e diminuir o tamanho dos arquivos construídos com esquemas gráficos, desenhos,
distribuídos via web. A opção foi fornecer animações, ou com seqüências ricas em ações, o
pequenas quantidades de informação através de artigo propõe a aplicação da abordagem da
vídeos com pausas, já que algumas vezes mais Ergonomia Cognitiva no campo da
de um vídeo foi apresentado na mesma aula. Comunicação Didática.
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dos storyboards. Infelizmente, o critério não
Nos processos de Interação Humano- pôde ser empregado para as aulas expositivas do
Computador (IHC), a literatura aponta a tipo palestras e conferências, com apenas a
essencialidade da presença de possíveis imagem gravada da cabeça do professor
usuários, em todas as fases do projeto do narrando o conteúdo e sem praticamente
sistema. Esta prática poderá ser útil para o nenhuma ilustração.
desenvolvimento de vídeos instrucionais que
sejam mais próximos do domínio do não Nesta experiência, grande parte do
especialista. conhecimento foi transmitida na forma de
vídeo-áudio, com um professor apresentando
Dessa forma, o processo atual de avaliação do uma aula sem praticamente nenhum recurso
curso de Formação de Agentes Fiscais em visual. A adição de interatividade e a
Metrologia Legal deve envolver o mapeamento combinação de diversos outros recursos
do modelo cognitivo dos alunos, através da didáticos aumentam a eficácia do vídeo como
definição de um procedimento que levante uma ferramenta instrucional.
aspectos diversos sobre os vídeos apresentados,
sugestões de como cenas ou partes delas
poderiam ser refeitas e indicações sobre quais Ou seja, a Ergonomia Cognitiva contribui com o
partes não foram compreensíveis ou foram processo de adequar o curso ao aluno, ao invés
monótonas. de adequar o aluno ao curso.
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MORAN, José Manuel. “O Vídeo na Sala de
Aula”. Comunicação & Educação. São Paulo,
USP/ECA-Editora Moderna, [2]: 27 a 35,
jan./abr. 1995