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Flávio Aparecido da Silva1; Hugo Patrick Oliveira Mendes2; Leomar de Souza Moraes3;
Michael Jordan Goleme Silva4; Rafael Lara Mazoni Andrade5; Sérgio Augusto Ferreira6;
Silas Sidney Linhares Pinto7, Taiza de Pinho Barroso Lucas8
RESUMO: Este artigo disserta acerca de conceitos atinentes a recursos hídricos, bacias hidrográficas e sua gestão.
O trabalho mostra a imperiosa necessidade de se repensar o relacionamento entre seres humanos e recursos
naturais. Utilizando uma pesquisa in loco aliada a uma metodologia de análise de observação, este artigo mostra
problemas e alternativas de soluções para o córrego Bonsucesso, Belo Horizonte.
PALAVRAS-CHAVE: Gestão ambiental. Gestão integrada de recursos hídricos. Bacias hidrográficas. Recursos
hídricos. Drenagem urbana.
ABSTRACT: This paper explains concepts about water resources, watersheds and their management. It shows how
important it is to (re)think about the relationship between human race and natural resources. Using a field research
allied to an observational analysis, this paper shows troubles and candidate solutions for Bonsucesso creek, Belo
Horizonte.
KEYWORDS: Environmental management. Integrated water resources management. Watersheds. Water resources.
Urban drainage.
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Aplicando a teoria weberiana, o sociólogo brasileiro no tocante à história das ocupações humanas. Sua
Octavio Ianni afirma que o capitalismo traz consigo presença – trazendo consigo as possibilidades de
uma indispensável modificação de práticas, ideais, abastecimento, irrigação, transporte e fornecimento –
padrões e valores (IANNI, 1997). favoreceu as instalações de muitas comunidades
(SPÓSITO, 1997).
Essa mudança do modus operandi das atividades
humanas tem feito com que, cada vez mais, a No entanto, a despeito de sua abundância, a água é
natureza seja desvinculada dos humanos; vista como irregularmente distribuída. 97,5% da água é salgada.
um mero repositório de recursos – tidos como auto- Do pequeno montante de água doce restante, 70%
renováveis – aos processos produtivos. Daí, inclusive, está retida em calotas polares. Apenas 0,4% da água
vem a etimologia do termo “recurso”, cuja raiz em doce do planeta está disponível para o consumo
Latim – surgere – remete à vida, e cuja tradução em (DEMANBORO; MARIOTONI; BETTINE, 1999). E
inglês – resource – traz consigo o prefixo re e a essa pequena porcentagem restante tem sido
palavra source (“fonte”, em português), trazendo a contínua e acentuadamente degradada pelo uso mal
ideia de renovação imediata, auto-regeneração pensado diante das emergentes e crescentes
(SHIVA, 2000, p. 300). Como afirma a física e ativista demandas da população. Por vezes, parece que o
indiana Vandana Shiva: homem pós-moderno se esquece de que a água em
condições para o uso é um bem limitado – como
O relacionamento entre seres humanos e a
natureza deixou de ser baseado na lembra a própria Lei nº 9.433/97, em seu artigo 1o,
responsabilidade, no comedimento e na
reciprocidade para transformar-se em um inciso II. (BRASIL, 1997)
relacionamento cuja base é a exploração ilimitada.
(SHIVA, 2000, p. 301) Esse descaso com os recursos hídricos se vê
agravado nos grandes centros urbanos de países de
As questões relativas à gestão ambiental vêm
ganhando importância na agenda de vários desenvolvimento atrasado, cuja produção espacial –
no movimento de implosão-explosão descrito por
pensadores nos últimos anos. Muitos falam de uma
Lefebvre (1999), com crescimento acelerado e
crise ambiental, lançando luz sobre a obrigação de se
desordenado – se associa aos estragos engendrados
repensar a relação entre o tal homem pós-moderno
pela poluição, à desigualdade na conservação da
capitalista, a natureza ameaçada e seus recursos
natureza e à desigualdade nos acessos a
escassos. São intermináveis as discussões acerca de
aquecimento global, elevação do nível dos oceanos, equipamentos urbanos, serviços públicos e recursos.
Soma-se a isso uma demanda ainda reprimida por
iminência de acidentes nucleares e ameaças de
melhor regulação desses recursos via instrumentos
conflitos relacionados à posse e controle de recursos
jurídicos. Além disso, a cidade é um espaço marcado
naturais, como lembra o economista franco-polonês
por desigualdades (MARICATO, 2001; CALDEIRA,
Ignacy Sachs (SACHS, 1993, p. 30).
2000; CORRÊA; 2002; MAZONI ANDRADE, 2014), o
Emerge daí a necessidade de se gerir tais recursos
que incorre em um acesso desigual à própria água,
naturais. O caso dos recursos hídricos não foge à
aos serviços de abastecimento, esgoto, coleta de lixo,
regra. A água é um recurso essencial às atividades
planejamento; e, enfim, incorre em um desigual
humanas e à vida, em geral – nosso planeta é
acesso a um nível mais alto de qualidade sócio-
frequentemente apelidado de “planeta água”, já que
ambiental.
esse recurso cobre mais de três quartos da superfície
terrestre. Além disso, a água tem grande importância
O caso a ser estudado por este trabalho assenta-se possibilidades de intervenções, com base nos
na análise do baixo curso da bacia do Córrego princípios preconizados pela legislação
Bonsucesso, localizada numa área urbana repleta de referente à gestão ambiental e à gestão das
complexidades: a confluência das regionais Barreiro, águas;
Centro Sul e Oeste de Belo Horizonte, Minas Gerais. elaborar um mapa temático das proposições
de intervenções.
A legislação brasileira, a partir da publicação da Lei nº
9.433, de 1997 (BRASIL, 1997) passa a considerar a É imperativo repensar as relações entre o homem e a
bacia hidrográfica como unidade de planejamento e natureza que o cerca. Isso ocorre sobretudo no que
gestão dos recursos hídricos. Além disso, esse tange aos cursos d’água e bacias hidrográficas em
instrumento normativo – que regulamenta o inciso XIX áreas urbanas, os quais sofrem com todas as
do artigo 21 da Constituição Federal de 1988 – disfunções apresentadas pelas grandes cidades mal
estabelece fundamentos nos quais a Política Nacional planejadas dos países em desenvolvimento.
de Recursos Hídricos deve se embasar (BRASIL,
Demanda-se uma pesquisa cujo produto contemple
1988).
integralmente os princípios preconizados pela
Assim, busca-se uma proposta de intervenção que legislação referente à gestão ambiental e à gestão das
leve em conta as constatações dos problemas, das águas; sobretudo pela Lei nº 9.433/1997 e o princípio
fragilidades socioambientais e das potencialidades de que a gestão dos recursos hídricos deve se dar de
advindas da análise da pesquisa in loco na bacia em maneira descentralizada (incluindo-se aí as
questão, a partir de um protocolo rápido de avaliação instituições de ensino e pesquisa, além dos órgãos
para bacias hidrográficas em ambiente urbano. tomadores de decisões públicas) e participativa.
Assim, busca-se produzir um mapa temático que
O objetivo geral do trabalho é, a partir da análise
apresente à sociedade, com vistas à sua finalidade, as
holística da bacia hidrográfica, propor intervenções a
possibilidades de intervenção em face das fragilidades
fim de melhorar as condições de vida da população
e potencialidades evidenciadas pelo resultado da
que ocupa tal área.
análise sócio-ambiental – após um processo de
Os objetivos específicos são:
deliberação e discussão de melhores alternativas,
Proceder a uma pesquisa bibliográfica acerca junto da população afetada no território. (BRASIL,
da gestão de bacias hidrográficas e recursos 1997)
hídricos;
Ademais, busca-se subsidiar a ação dos próprios
avaliar as condições sócio-ambientais do órgãos governamentais responsáveis pela gestão de
baixo curso da bacia do Córrego Bonsucesso, recursos hídricos com informações relevantes e úteis.
com base num protocolo rápido de avaliação Busca-se, igualmente, incrementar o aporte de dados
para bacias hidrográficas em ambiente dos pesquisadores, com dados e aplicação empírica
urbano; de uma metodologia experimental, e, principalmente,
identificar potencialidades e fragilidades no empoderar a população que reside junto aos cursos
trecho ao longo do referido córrego; d’água do baixo curso da bacia do Córrego
redigir um relatório acerca das condições da Bonsucesso, dando a ela efetiva capacidade de
bacia, apontando as fragilidades e vocalizar suas demandas e mostrando-lhe a
potencialidades encontradas e elencando necessidade de um manejo consciente do território e a
necessidade da conservação das boas condições da públicas concernentes à gestão de recursos hídricos.
bacia hidrográfica. Para isso, busca-se aplicar uma Mais à frente nessa mesma lei, definem-se as
visão holística, considerando as imbricações diretas diretrizes para a gestão desses recursos. Assim, a fim
das condições sócio-ambientais da bacia em questão de maximizar benefícios e reduzir custos, a gestão
às vidas de todos aqueles que habitam dentro de sua desses recursos precisa ter uma visão holística sobre
área – além de todos os indivíduos atingidos pelas as bacias hidrográfica. Essa visão deve considerar a
mais diversas externalidades advindas de problemas e totalidade dos eventos, fenômenos e efeitos sobre as
benefícios. bacias, uma vez que muitos deles estão conexos. Por
exemplo, a ocupação irregular pode causar ausência
de vegetação, que pode dificultar a infiltração e
2 REFERENCIAL TEÓRICO aumentar a velocidade do escoamento superficial, o
Para um entendimento holístico da problemática das que, por sua vez, pode causar maior erosão, que pode
bacias hidrográficas, alguns conceitos têm de ser causar assoreamento, que pode causar desequilíbrio
revistos à luz da teoria. São eles, principalmente, os ecológico na bacia (SIFFERT, 2011).
A bacia hidrográfica é “uma área drenada, parcial ou A complexidade dos impactos inerentes ao urbano
totalmente, por um ou vários cursos d’água” tem como base uma tríade de fatores: (i) o
(SEIFFERT, 2011, p. 131). Basicamente, ela possui crescimento populacional, (ii) o crescimento da
uma estrutura próxima à de uma espinha de peixe ou demanda por matéria prima e energia, e (iii) o
principal (o qual geralmente dá nome à bacia). Por sua Mas o principal problema de drenagem nas grandes
vez, esse rio principal – correndo dos pontos de maior cidades – principalmente nas grandes cidades de
altitude para o ponto de menor altitude, países ainda em desenvolvimento, cujo espraiamento
concomitantemente ao desenrolar do ciclo hidrológico urbano se dá em direção a áreas periféricas, com
–, deságua em outro rio maior, em um lago ou no padrões pouco apropriados de construções e
oceano. Assim, o ponto de encontro entre esse rio apropriações do solo – são as inundações.
(que também marca o fim da sua bacia) chama-se
O engenheiro José Roberto Champs mostra o
exutório.
problema em Belo Horizonte, onde a expansão urbana
Conforme já dispunha a Lei nº 6.938/86, de 1981, foi realizada sem um plano eficaz de controle de
(BRASIL, 1981) e conforme dispõe a Lei nº 9.433, de cheias, o que resultou no aumento das inundações
1997, artigo 1o (BRASIL, 1997), a bacia hidrográfica é (CHAMPS, 2008). Como diz o autor:
a unidade territorial para a atuação das políticas
Com a urbanização, os empoçamentos e lagoas dentro de uma mesma bacia; e (xiv) eventos
temporárias são eliminados, a impermeabilização hidrometeorológicos extraordinários (BARROS, 2005).
se expande e reduz a infiltração de água, os
O também engenheiro Carlos Eduardo Morelli Tucci
volumes escoados aumentam, assim como a
frequência das inundações, a vegetação que antes aponta para vários impactos dos problemas advindos
retinha a água é suprimida, dando lugar a dos fatores listados acima – todos, lembra o autor,
impurezas depositadas no solo ou nos córregos e inter-relacionados. A urbanização impensada e a
rios, degradando a qualidade de suas águas carência em infraestrutura comprometem os
(CHAMPS, 2008, pp. 87-88). mananciais, contaminando-os.
O engenheiro Mario Thadeu Leme de Barros, Essa mesma carência estrutural vê-se acompanhada
professor da USP, amplia essa lista feita por Champs, da ausência de acesso ao abastecimento de água e à
afirmando vários fatores de produção de inundações coleta de esgoto sanitário, o que tem impactos diretos
em áreas urbanas: (i) aumento gradativo do volume de sobre a saúde humana. Muitas doenças são
escoamento superficial para o mesmo índice de transmitidas pela água, ou são relacionadas a ela
precipitação; (ii) crescimento do volume de (casos como cólera, salmonela, diarreia, leptospirose,
sedimentos afluentes aos canais drenadores, infecções, malária, esquitossomose, febre
consequência da erosão, o que causa os hemorrágica, dentre outras).
assoreamentos e reduz a capacidade de transporte de Quanto às inundações, elas têm destaque na obra de
água pelo sistema de drenagem; (iii) inexistência de Tucci. Sua explicação para a complexidade das
planos diretores urbanos que considerem a hidrologia inundações e suas implicações sobre a vida da
e a hidráulica da drenagem da bacia; (iv) lançamento sociedade vai além da concepção dos demais autores
de resíduos nos cursos d’água, sobretudo em áreas citados. Tucci explica que os leitos maiores dos rios
mais pobres, onde há dificuldades na coleta; (v) falta são inundados naturalmente com frequência entre 1 e
de conscientização da população; (vi) falta de 2 anos. Quando há a ocupação irregular da área
investimentos no controle, na execução e na correspondente ao leito maior, os impactos são
manutenção de obras; (vii) obsolescência dos crônicos (TUCCI, 2005). E essas áreas são ocupadas,
sistemas de drenagem; (viii) problemas em obras mal sobretudo, pela parcela mais pobre da população,
executadas; (ix) falta de legislação própria à impossibilitada de adquirir loteamentos regulares, um
drenagem, ou falta de controle e fiscalização quando problema muito relevante nas metrópoles brasileiras
há legislação; (x) problemas relacionados à (CORRÊA, 2002; PAOLUCCI, 2012; MARQUES,
cooperação entre diferentes entes federados – por 2006; MAZONI ANDRADE, 2014).
exemplo, quando há um município a montante que
reluta em contribuir para a redução de determinado
problema que interfere na vida no município a jusante; 2.3 O PLANO DIRETOR DE DRENAGEM DE BELO
(xi) falta de informações acerca de hidrologia e HORIZONTE
meteorologia nas cidades e acerca dos sistemas de
As tentativas de planejar o sistema de drenagem do
drenagem; (xii) ausência de um órgão gestor e
município de Belo Horizonte tiveram como base o
coordenador específico à drenagem urbana; (xiii)
Plano Metropolitano de Águas Pluviais e Proteção
ausência de normatização para projetos de drenagem
Contra Cheias da RMBH, desenvolvido pela Fundação
João Pinheiro, e o Plano de Urbanização e
e-xacta, Belo Horizonte, Vol. X, N.º Y, p. aa-bb. (ano). Editora UniBH.
Disponível em: www.unibh.br/revistas/e e-xacta, Belo Horizonte, v. 7, n. 2, p. 115-130. (2014). Editora UniBH.
Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta//
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Saneamento de Belo Horizonte, elaborado pela Para transportar todo esse volume [de água que
passa a ser canalizada], é necessário ampliar a
SUDECAP. Todavia, esses planos não conseguiram capacidade de condutos e canais ao longo de todo
resolver os problemas relacionados à drenagem o seu trajeto dentro da cidade até um local onde o
seu efeito de ampliação não atinja a população. A
(CHAMPS, [200?]). irracionalidade dos projetos leva a custos
insustentáveis, podendo chegar a ser dez vezes
Isso se deve, nomeadamente, à forma de pensar a maior do que o custo de amortecer o pico dos
hidrogramas e diminuir a vazão máxima para
abordagem clássica ou convencional para o sistema jusante através de uma detenção (TUCCI, 2003, p.
36, grifo nosso).
de drenagem urbana. Essa abordagem clássica se
baseia na somatória de ideias vindas, principalmente, Dessa forma, o Plano Diretor de Drenagem Urbana de
da França (a concepção higienista) e dos Estados Belo Horizonte busca “dotar a Prefeitura de Belo
Unidos da América (método racional, positivista). Os Horizonte de um instrumento de planejamento para a
higienistas pregavam a evacuação rápida de águas gestão dos serviços de controle das cheias”
pluviais, por considerar os empoçamentos como (CHAMPS, [200?]), diante da “constatação de que a
fontes de doenças. Por seu turno, os racionais- demanda ambiental era crescente e de que não cabia
positivistas tinham uma interpretação muito mais a insistência na opção pela canalização”
mecanicista dos fenômenos relacionados à drenagem, (AROEIRA, 2010).
sem levar em conta o quão complexos são os efeitos
Esse Plano Diretor de Drenagem Urbana de Belo
da urbanização sobre o ciclo natural da água. Assim,
Horizonte foi implementado em conformidade com o
os projetos de drenagem implementados em Belo
Plano Diretor da Cidade de Belo Horizonte – Lei nº
Horizonte até os anos 1990 tinham como foco o
7.165 (BELO HORIZONTE, 1996) e com sua premissa
aumento da velocidade aos escoamentos – revestindo de necessidade de um instrumento de planejamento
as calhas e tornando-as retilíneas –, além da
de drenagem.
implantação de avenidas sanitárias tão comuns na
Suas diretrizes básicas são: (i) a intersetorialidade e a
capital (CHAMPS, 2008). Mas os problemas não
integração de várias temáticas (a visão holística)
foram resolvidos:
relacionadas às inundações; (ii) necessidade de
Se por um lado a adoção dessa concepção clássica
reduziu a frequência das inundações, por outro lado conhecer todo o sistema de drenagem; (iii) o preceito
impôs um elevado custo ambiental em razão da da não-transferência de prejuízos – ou externalidades
exclusão desses corpos d’água no cenário urbano,
e também pelo desaparecimento das comunidades negativas, principalmente para jusante; e (iv) a
aquáticas (peixes, moluscos, etc.) devido às altas
velocidades. Além disso, a transferência das
necessidade de estruturar a gestão municipal desse
inundações para trechos de jusante provoca um sistema de drenagem (AROEIRA, 2010).
efeito conhecido como “canhão hidráulico”, ou seja,
com um volume de água superior à condição
natural anterior para o mesmo espaço de tempo
(CHAMPS, 2008, p. 90, grifo nosso).
2.4 DRENURBS
Além desse malefício a jusante, esse tipo de
O DRENURBS (Programa de Revitalização Ambiental
intervenção na drenagem urbana possui uma
e Saneamento dos Fundos de Vale e dos Córregos
avaliação negativa, com custos muito maiores que os
em Leito Natural de Belo Horizonte) é um programa de
benefícios trazidos. Por exemplo, a canalização do rio
saneamento ambiental e tratamento de fundo de vale,
Arrudas, em Belo Horizonte, teve um custo de US$ 25
complementar e em conformidade com o Plano Diretor
milhões por quilômetro, e não foi efetiva (TUCCI,
de Drenagem de Belo Horizonte (CHAMPS, [200?]).
2003). Prosseguindo com a obra de Carlos Tucci:
Seu objetivo é “reverter a degradação dos cursos
d’água do município que ainda estão em seus leitos algumas lacunas a serem preenchidas. A despeito de
naturais” (COSTA; BONTEMPO; KNAUER, 2008). a população estar satisfeita com as obras, a avenida
Além disso, esse programa “busca inovar no sanitária é reconhecida pelo imaginário dos moradores
tratamento do saneamento ambiental e de processos que vivem junto aos corpos d’água nas bacias
participativos de gestão” (COSTA; BONTEMPO; urbanas como algo apreciado (MACEDO, 2009).
KNAUER, 2008).
diagnóstico ambiental, a partir da situação identificada cenário atual macroscópico do curso d’água. Outra de
julgados à luz do referencial teórico revisto; (iv) para potenciais usos e possibilidades de melhorias (a
tratamento e georreferenciamento das informações, partir dos quais será elaborado um mapa temático,
utilizando-se softwares específicos; e, por fim, (v) como explicado no item acima). Assim, os parâmetros
diferentes tipos de uso e ocupação do solo. acima, os pontos selecionados estão elencados
abaixo, expostos e numerados de montante para
A partir dessa primeira etapa de tratamento das
jusante, junto do diagnóstico dos problemas
informações espaciais, foram selecionados pontos
observados:
prováveis para avaliação durante o trabalho de
campo. Essa seleção levou em conta diferentes usos
e ocupações do solo, a fim de que o resultado da PONTO 1: O ponto 1 dista poucos metros do Anel
aplicação do protocolo refletisse, ao máximo, o Rodoviário e é caracterizado pelo depósito de uma
impacto desses diferentes usos. quantidade muito grande de lixo, como se observa na
PONTO 2: O ponto 2 se localiza em um córrego que PONTO 4: O ponto 4 se caracteriza pelas quedas
despeja no Bonsucesso. Sua nascente está protegida d’água e pela presença de material em suspensão
dentro de uma porção de mata. Por conseguinte, sua (sobretudo espuma, outro indicativo da presença de
qualidade ambiental é notável (não há erosão, a água esgoto, como mostra a Imagem 4). Além disso, há
é cristalina e não há presença de qualquer material resíduos sólidos, focos de erosão nas encostas e
estranho), conforme se observa na Imagem 3: obstruções à fluidez da água (como se observa na
Imagem 5).
5 POTENCIALIDADES E PROPOSIÇÕES DE
POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÕES
córrego Bonsucesso, quando ele se encontra com o presença de leito pouco alterado (poucas barreiras à
Ribeirão Arrudas. Os problemas identificados ali são fluidez, pouca canalização – o que possibilita a
odor, presença de material em suspensão, presença atuação do DRENURBS, cujo foco se coloca sobre
de resíduos sólidos, erosão, canalização e alteração esse tipo de corpo d’água), presença de meandros
da vegetação. (especialmente no ponto 5, o que faz uma barreira ao
aumento acelerado de vazão), proteção de certas
partes (há grades e portões que impedem o acesso ou
ocupação de áreas de risco) e preservação de uma
área significativa de planícies de inundação.
participação popular (uma maneira de empoderar a uma gestão responsável e responsiva às crescentes
população ao, por exemplo, garantir vantagens demandas.
pecuniárias em face de auxílio, por parte dos
A partir, então, do estudo de caso do baixo curso da
cidadãos, na fiscalização e no controle do uso e da
bacia do córrego Bonsucesso, na Região
ocupação da área da bacia).
Metropolitana de Belo Horizonte, foi feita uma revisão
Além dessas proposições gerais, aquelas de referencial teórico, um trabalho de campo, a
especificamente atinentes a cada um dos pontos são: aplicação de um protocolo de avaliação rápida
específico para bacias hidrográficas em ambiente
PONTO 1: retirada do lixo, intensificação dos
urbano, diagnóstico ambiental, o tratamento e o
trabalhos de conscientização dos moradores, controle
georreferenciamento das informações, e a elaboração
da recalcitrância e das externalidades a montante;
de um mapa de propostas de intervenção.
PONTO 2: fiscalização e controle da qualidade
Dessa forma, este artigo preenche uma lacuna
ambiental;
deixada pela ausência de uma pesquisa cujo produto
PONTO 3: replantio de espécies nativas e alguma
contemple integralmente os princípios preconizados
intervenção estatal sobre a propriedade privada
pela legislação referente à gestão ambiental e à
(retirada do posto de combustíveis que se encontra gestão das águas; sobretudo pela Lei nº 9.433/1997
demasiadamente próximo do curso d’água);
(BRASIL, 1997) e o princípio de que a gestão dos
PONTO 4: reconstituição da vegetação à margem e recursos hídricos deve se dar de maneira
desobstrução da fluidez; descentralizada (incluindo-se aí as instituições de
ensino e pesquisa, além dos órgãos tomadores de
PONTO 5: retirada dos resíduos e aumento da
decisões públicas) e participativa.
fiscalização;
Ademais, à luz de todo o relevante referencial teórico
PONTO 6: haja visto a enorme área disponível,
concatenado aos métodos científicos empregados,
replantio de espécies nativas e criação de uma área
este artigo pode vir a subsidiar a ação dos próprios
de lazer contemplativa.
órgãos governamentais responsáveis pela gestão de
recursos hídricos com informações relevantes e úteis.
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