Você está na página 1de 43

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO
CURSO DE PEDAGOGIA
RELATÓRIO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS

SANDRA RODRIGUES BARBOSA

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


UM MOMENTO DE ARTICULAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA

Natal/RN
2015
2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO
CURSO DE PEDAGOGIA
RELATÓRIO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS

SANDRA RODRIGUES BARBOSA

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


UM MOMENTO DE ARTICULAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA

Relatório de Estágio apresentado à Universidade


Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos
requisitos para a obtenção do título de licenciada em
Pedagogia.

Orientadora:
Profa. Ms. Louize Gabriela Silva de Souza

Natal/RN
2015
3

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


UM MOMENTO DE ARTICULAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA

Por

SANDRA RODRIGUES BARBOSA

Relatório de Estágio apresentado à


Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como parte dos requisitos para a obtenção do
título de licenciada em Pedagogia.

Aprovado em __________________________________________________ com nota _____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________
Ms. Louize Gabriela Silva de Souza (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________
Ms. Mônica Karina Santos Reis
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________
Ms. Fernanda Mayara Sales de Aquino
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
4

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiro a Deus pelo dom da vida, por me dar saúde e disposição para
enfrentar os desafios da vida e da graduação. Sem sua presença em minha vida, não poderia
alcançar jamais meus objetivos.
Agradeço, em especial, aos meus pais, por terem me oferecido uma base sólida.
Criaram-me com muito esforço e me ensinaram a ser uma pessoa humilde e dedicada em tudo
na vida.
Aos meus irmãos, pelo incentivo de sempre no meu processo de formação.
Ao meu esposo, por estar sempre ao meu lado nesta batalha, e ao meu filho, razão da
minha vida, que me dá forças para batalhar pelo pão de cada dia.
À minha amiga Íris Bezerra da Hora, por ter compartilhado comigo os momentos do
Estágio Supervisionado e pelas tantas contribuições para o meu processo formativo. A
confecção deste Relatório não seria possível sem nossas vivências em sala de aula.
À professora Dra. Soraneide Soares Dantas pela orientação fornecida durante a
disciplina de Estágio Supervisionado I, oferecendo total disponibilidade para o esclarecimento
das minhas duvidas, além da contribuição teórica que sempre proporcionou, me fazendo
refletir sobre a estreita relação entre a teoria e a pratica.
Não poderia deixar de agradecer, principalmente, à professora Ms. Louize Gabriela
Silva de Souza, que aceitou o desafio de me orientar, em um curto espaço de tempo. Não
tenho palavras para descrever minha gratidão pela paciência e pela compreensão para comigo.
Estivemos juntas durante todo o período, acompanhando a realização deste trabalho.
Agradeço imensamente a todos os amigos e colegas que, de forma direta ou
indiretamente, contribuíram para que este trabalho se realizasse, por confiarem e acreditarem
que eu seria capaz e por não permitirem que desistisse nos momentos de fraqueza e de
dificuldades.
5

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo principal analisar e trazer considerações acerca
do Estágio Supervisionado Obrigatório realizado no Nível IV da Educação Infantil, na Escola
Municipal Prof.ª Maria Dalva Bezerra de Oliveira, bem como fazer uma articulação entre as
disciplinas estudadas no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN - e a vivência em sala de aula. Para fundamentar e articular as discussões deste
trabalho, utilizamos os estudos dos seguintes interlocutores: Ariès (1978), Craidy e Kaercher,
(2001), Fernandes e Gremaud (2009), Fontana e Cruz (1997), Geraldi (2010), Libâneo (1986),
Lopes e Vieira (2011), Pimenta e Lima (2004/2005), Santomé (1988), Tardif (2002), Veiga
(1995), Vasconcellos (2000) e Vygotsky (1998), entre outros. Verificamos a importância do
Estágio Curricular para a formação acadêmica do estudante. Além disso, constatamos que o
aprendizado adquirido durante o curso é importante e necessário para o desenvolvimento do
Estágio Curricular Obrigatório.

Palavras-chave: Estágio. Educação Infantil. Teoria e prática.


6

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Fachada da Escola Municipal Maria Dalva Bezerra de Oliveira---------- 20

Figura 02 Estrutura física------------------------------------------------------------------- 21

Figura 03 Crianças trabalhando e crianças brincando no século XVII-------------- 26

Figura 04 Alunos assistindo a um vídeo-------------------------------------------------- 29

Figura 05 Professora titular e os alunos em uma atividade de pintura---------------- 30

Figura 06 Atividade de confecção do mural e crachás---------------------------------- 32

Figura 07 Registro: escrita das crianças--------------------------------------------------- 33

Figura 08 Momento do vídeo--------------------------------------------------------------- 34

Figura 09 Atividade de leitura e escrita no quadro sobre o conteúdo do vídeo------ 34

Figura 10 Atividade de sistematização sobre os assuntos abordados em sala------- 35

Figura 11 O bingo do alfabeto-------------------------------------------------------------- 35

Figura 12 Crianças no parque-------------------------------------------------------------- 36

Figura 13 Atividade complementar de caça-palavras----------------------------------- 37


7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO----------------------------------------------------------------------------------- 8
A importância do Estágio para a atuação do futuro educador------------------------------- 10
Minhas memórias, meu processo formativo, o meu tornar-se professora --------------- 14
CONTEXTUALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO ESTÁGIO CURRICULAR 18
NA EDUCAÇÃO INFANTIL------------------------------------------------------------------
Recursos humanos da escola – corpo docente e demais profissionais--------------------- 23
DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO 24
INFANTIL: DA OBSERVAÇÃO À REGÊNCIA-------------------------------------------
O olhar cuidadoso--------------------------------------------------------------------------------- 27
A regência------------------------------------------------------------------------------------------ 28
Planejando o trabalho docente------------------------------------------------------------------- 30
Primeira Intervenção------------------------------------------------------------------------------ 31
Segunda Intervenção------------------------------------------------------------------------------ 35
CONSIDERAÇÕES FINAIS-------------------------------------------------------------------- 39
REFERÊNCIAS ---------------------------------------------------------------------------------- 42
8

INTRODUÇÃO

Fonte: Google imagens

“Eu sei de muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo o que não
sei – e por ser um campo virgem – está livre de preconceitos.
Tudo o que não sei é minha parte maior e melhor: é a minha
largueza. É com ela que eu compreenderia tudo. Tudo o que não
sei é o que constitui a minha verdade”.
Clarice Lispector
9

O presente trabalho é um relato do Estágio Curricular Obrigatório do curso de


Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, realizado no Nível IV
da Educação Infantil na Escola Municipal Prof.ª Maria Dalva Bezerra de Oliveira. Neste
relato, buscamos apresentar elementos que possibilitam uma reflexão sobre a importância do
Estágio Supervisionado para os alunos do curso de Pedagogia, pois consideramos que este é
um espaço rico de possibilidades de articulação entre teoria e prática. Realizar o relatório das
práticas educativas nos dá a oportunidade não só de socializar o contexto real encontrado na
sala de aula durante o Estágio Supervisionado, mas ainda permitem repensar tanto a relação
que fazemos entre teoria e prática, quanto os teóricos e materiais lidos e compartilhados
durante o nosso processo formativo.
Sabemos que o curso de Pedagogia da UFRN ainda apresenta um currículo bastante
teórico, mas, ao mesmo tempo, nos oferece a oportunidade de vivenciar a prática nas redes
municipal e estadual de ensino da nossa cidade. Consideramos o Estágio Curricular um dos
momentos mais ricos e importantes em aprendizagens significativas com que o aluno de
graduação se depara ao longo do curso, já que traz situações reais, proporcionando aos
educandos espaços de reflexão-ação-reflexão, como defende Paulo Freire, das práticas
pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem.
O trabalho está dividido em capítulos organizados por temáticas diversas. Alguns
apresentam subitens, que consideramos de extrema importância para a compreensão das
atividades realizadas durante o Estágio Supervisionado. No decorrer da escrita, registramos
imagens que foram feitas durante o processo de intervenção e observação. A escolha por
inseri-las neste trabalho se dá porque compreendemos que facilitam o entendimento do leitor
e expõem alguns desses momentos de formação, principalmente nos segmentos destinados às
práticas educacionais desenvolvidas em sala de aula.
No primeiro momento, destacamos a importância do Estágio para a formação do
futuro educador. Na sequência, fazemos a contextualização e a caracterização do Estágio
Curricular na Educação Infantil, trazendo alguns dados sobre a Escola Municipal Prof.ª Maria
Dalva Bezerra de Oliveira, além da explicitação do desejo de realizar as atividades neste
espaço e a importância tanto do PPP - Projeto Político-Pedagógico - quanto das avaliações
educacionais realizadas hoje no Brasil. Apresentamos também os recursos humanos da
Instituição. Apresentadas estas questões, relatamos o momento do desenvolvimento do
Estágio Curricular na Educação Infantil, buscando trabalhar, de forma breve, o contexto
10

histórico da criança enquanto ser social e as mudanças ocorridas. A partir disto, com o olhar
cuidadoso, passamos ao momento da regência, que vai desde a observação do espaço físico à
escolha da turma para realização do Estágio Obrigatório. A próxima temática a ser discutida é
a regência, que foi baseada no projeto alfabetizar com o lúdico. Mais à frente, ainda sobre a
prática educativa, abrimos espaço para dissertarmos sobre a importância de realizar o
planejamento do trabalho docente. Por fim, relatamos as intervenções realizadas em sala de
aula, nossos momentos de aprendizagens e reflexões.
Para a realização deste relatório, utilizamos como referência bibliográfica a
Constituição da República Federativa do Brasil (1988), o Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil (1998), além dos Parâmetros de Qualidade da Educação Infantil (2006).
Para fundamentar e articular as discussões, o aporte teórico utilizado foi baseado nas
contribuições de autores, tais como Ariès (1978), Craidy e Kaercher (2001), Fernandes e
Gremaud (2009), Fontana e Cruz (1997), Libâneo (1986), Lopes e Vieira (2011), Pimenta e
Lima (2004/2005), Santomé (1988), Tardif (2002) e Veiga (1995). Estes foram de suma
importância para a consolidação dos saberes necessários a ser utilizados na escrita deste
relatório.

A importância do Estágio para a atuação do futuro educador

A importância do Estágio Curricular para a formação acadêmica é inquestionável.


Destacamos este momento como uma forma mais efetiva de relacionar teoria e prática,
articulando os conhecimentos compartilhados na graduação.
Em cursos como o de Pedagogia, que ainda é considerado bastante teórico, quando
chegamos à prática, muitas vezes temos a sensação de estar perdidos. Quantas vezes ouvimos
a seguinte afirmação: na teoria é assim, na prática é outra coisa. Para Pimenta e Lima
(2004),
O estágio sempre foi identificado como parte prática dos cursos de formação de
profissionais em geral, em contraposição à teoria. Não é raro ouvir-se dos alunos
que concluem seus cursos se referirem a estes como „teóricos‟, que a profissão se
aprende „na prática‟, que certos professores e disciplinas são por demais „teóricas‟.
Que „na prática‟ a teoria é outra. (PIMENTA; LIMA, 2004, p.06).

Sabemos que não é bem assim. No curso de Pedagogia da UFRN, pudemos perceber
que, embora os primeiros semestres sejam de caráter bastante teórico, algumas disciplinas têm
a preocupação de propor atividades para que possamos, em escolas, conhecer a sua realidade
11

por meio de observações e entrevistas com profissionais da área. Acreditamos que estas
atividades foram de fundamental importância para nossa formação, pois, a partir delas,
passamos a conhecer como se dá a atuação do profissional da educação na prática. Além
disso, na medida em que passamos a vivenciar tal realidade, nos deparamos com situações
ocorridas no ambiente escolar, o que contribui para a nossa futura atuação profissional. A
partir desse momento, começamos a nos questionar: É esta profissão que quero seguir? Será
que, ao final do curso, estarei preparada para atuar como professora? O momento do Estágio
Supervisionado torna-se importante à medida que nos ajuda a responder, de fato, a tais
questionamentos. Podemos afirmar que é um espaço crucial no processo de formação do
pedagogo.
As atividades desenvolvidas neste processo tornam-se essenciais quando pensamos no
desenvolvimento de competências indispensáveis a uma atuação pedagógica responsável. Por
meio delas, é possível refletir de que maneira tais atividades contribuem para o aprendizado
dos alunos envolvidos e para nossa formação continuada.
Analisar a nossa atuação no papel de professores, promovendo a contextualização dos
temas trabalhados na busca da formação do pensamento crítico e reflexivo dos alunos,
almejando sempre uma formação cidadã e para a equidade social, é fator determinante nesse
momento. O Estágio Supervisionado torna-se o eixo central na formação acadêmica do futuro
professor, pois é por meio deste que o educando tem acesso aos conhecimentos indispensáveis
para a construção da identidade e dos saberes do cotidiano (PIMENTA; LIMA, 2004).
Embora o momento da práxis seja aguardado por todos os estudantes dos cursos de
Pedagogia e Licenciaturas com muita ansiedade, algumas questões precisam ser
problematizadas quando refletimos sobre este processo formativo: Como trabalhar os
conceitos, se, quando vamos para a prática, principalmente na rede pública de ensino, existem
barreiras que, muitas vezes, não permitem que a atividade seja realizada com eficiência?
Como promover propostas motivadoras para a turma que iremos atuar? Será que o professor
responsável pela turma oportunizará momentos, em sua aula, para a realização das atividades
propostas pelos estagiários?
Essas e outras questões e problemáticas serão abordadas neste trabalho.
Durante o Estágio Supervisionado, a observação é o primeiro passo deste momento de
formação, tornando-o essencial para o sucesso das atividades a serem desenvolvidas. Permite
conhecer o contexto da sala de aula e as práticas educativas utilizadas pelo professor titular.
12

Verificar o dia a dia dos alunos ajuda a entender o que mais lhes interessa e, assim, abre
caminhos para percebermos de que maneira vamos abordar os temas e trabalhá-los dentro e
fora da sala de aula. Ou seja, dá-nos as condições concretas da escola e da turma escolhida.
Para isso, o professor deve conhecer bem seus alunos e perceber em qual contexto está
inserido, se aquilo que o aluno estuda é interessante para a vida dele ou se não está muito
distante de seu cotidiano. A observação realizada com o objetivo de criar estratégias e
organizar a ação docente está em conformidade com uma proposta de planejamento crítico,
reflexivo e comprometido com o processo de ensino-aprendizagem, pois favorece a seleção
consciente e diversificada de conteúdos, metodologias e avaliação.
A segunda etapa é a identificação do nível de aprendizagem em que os educandos se
encontram. Com estes dados em mãos, é possível trabalhar temas desafiadores e desenvolver
atividades mais significativas, tanto para os alunos quanto para nós, em processo de formação.
Destacamos outro momento importante neste momento: o de conhecer a realidade e a
comunidade escolar a ser trabalhada, e também o de respeitar as opiniões e as “dicas” do
professor titular. Somente assim o estagiário poderá desenvolver uma prática criativa e
transformadora pela inserção de teorias que sustentam o trabalho do professor.
Quando chegamos à prática, realmente percebemos um cenário diferente, muitas vezes
já idealizado por nós, mas nunca com o real tamanho da complexidade do sistema público de
ensino.
Em determinadas situações, é bastante desafiante relacionarmos as teorias aprendidas
na Academia com a prática docente em sala de aula. Principalmente quando lidamos com a
distorção série/idade, algo tão comum nas instituições brasileiras e da nossa cidade. A este
respeito, cabe refletirmos: Como trabalhar alfabetização com crianças que se encontram em
uma mesma sala de aula, com níveis distintos de aprendizagem? Será que vamos conseguir
atingir a todos os alunos? Essa é uma problemática que permeia as instituições públicas e que
vamos identificar, de forma mais efetiva, quando estivermos atuando como professores. Só
podemos planejar uma atividade para determinada situação se nos oferecerem a oportunidade
de vivenciá- las.
A atividade docente é bastante complexa e não se restringe somente aos muros da
escola e à formação inicial. Estamos no momento de constante mudança e o profissional da
educação precisa se preparar para atuar nesse contexto. O professor deve ter em mente que
uma formação continuada é algo necessário em sua vida profissional, já que, quando falamos
13

em educação, não é possível pensarmos em propostas fixas, cristalizadas e em um círculo


fechado, sem espaço para a mudança. É esta formação que valoriza o professor como sujeito
de transformações que precisam se processar continuamente na escola e na sociedade.
Consoante aponta o Plano Nacional de Educação (2001),

A formação continuada do magistério é parte essencial da estratégia de melhoria


permanente da qualidade da educação, e visará à abertura de novos horizontes na
atuação profissional. A formação continuada assume particular importância, em
decorrência do avanço científico e tecnológico e de exigência de um ní vel de
conhecimentos sempre mais amplos e profundos na sociedade moderna.

A formação continuada torna-se imprescindível à medida que possibilita ao professor


a constituição dos seus saberes, num processo contínuo. Promove a ampliação do seu
conhecimento, implicando diretamente o crescimento pessoal e profissional para atuar, de
maneira adequada, no contexto escolar. Logo, reconhecemos, assim como Geraldi (2010), que
o curso de formação docente nos forma, mas não nos torna professores. Para tal empreitada,
faz-se necessária uma formação continuada que articule os saberes vivenciados na prática
com os conhecimentos e desafios diários que se apresentam na sociedade e para a educação.
Segundo Pimenta e Lima (2005), os currículos dos cursos de formação de professores
têm se constituído em um aglomerado de disciplinas, que, muitas vezes, não são utilizados no
campo da atuação profissional. Esta lacuna entre a teoria e prática nos deixa, em determinados
momentos, com dificuldades de planejar situações de aprendizagens que, de fato, sejam
executáveis no contexto das escolas públicas e tragam contribuições para o processo de
ensino-aprendizagem. Porém, esta situação pode ser amenizada quando realizamos o contato
in loco com a realidade do contexto sociocultural do aluno, alicerçado pelas teorias que
estudamos e compartilhamos no interior das disciplinas e, principalmente, quando tornamos
este momento objeto de reflexão. Diante deste contexto de reflexão, podemos propor
atividades para contribuir com uma educação de qualidade.
Torna-se importante, durante o processo de formação, que os estudantes vivenciem
práticas interdisciplinares desde a universidade, pois somente assim poderão ter condições e
coragem de transformar o ato pedagógico num ato de conhecimento da vida. Ao chegar à sala
de aula, o professor deve ter propriedade do conhecimento científico e todo o seu processo de
organização e didática a ser utilizada e, além disso, deve construir com seus alunos o alicerce
do conhecimento, fazendo com que os educandos possam expressar seus sentimentos, desejos
e saberes.
14

Neste sentido, muitas instituições de ensino estão assumindo um caráter


interdisciplinar no que diz respeito aos cursos de Pedagogia, pois acreditam que as questões
sociais e os problemas do cotidiano devem ser contemplados no trabalho curricular nas salas
de aulas e escolas. Por isto, é de extrema importância que os alunos do curso de formação de
professores tenham o contato com a realidade da sala de aula, sempre tentando propor o
intercâmbio de ideias entre o que se diz e o que se faz, ou seja, entre a teoria e a prática.
Os professores em processo de formação precisam estar disponíveis e envolvidos para
trabalhar em sala de aula com uma proposta de ensino que faça uso da interdisciplinaridade,
pois é a partir dela que é possível trabalhar do contexto geral ao particular e articular as
disciplinas umas às outras. Como diz Libâneo, “o importante não é a transmissão do
conhecimento específico, mas despertar uma nova forma da relação com a experiência vivida”
(LIBÂNEO, 1986, p.13). A prática educacional está muito além de compartilhar
conhecimentos, ou seja, não deve permear apenas a transmissão sistematizada do saber, mas
oferecer condições reais para que os alunos possam enfrentar os problemas e as questões
postas pela sociedade.
Segundo adverte Santomé (1988, p. 73),

O ensino baseado na interdisciplinaridade tem um grande poder estruturador, pois


os conceitos, contextos teóricos, procedimentos, etc., enfrentados pelos alunos
encontram-se organizados em torno de unidade mais globais, de estruturas
conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas.

É notório que, quando a escola trabalha com uma prática embasada pela
interdisciplinaridade, os alunos têm mais facilidade de ultrapassar os limites da disciplina
concreta, enfrentando desafios, analisando e solucionando problemas novos, tendo em vista
que existe uma motivação para aprender que vai além dos conhecimentos apresentados nas
disciplinas.

Minhas memórias, meu processo formativo, o meu tornar-se professora:

Iniciei meus estudos em 1987 quando tinha cinco anos, na turma do Jardim I, na
Escola Família do Progresso. Era uma escola pequena com poucas turmas, mas o espaço era
muito organizado. Lembro-me muito bem das brincadeiras, das músicas cantadas na sala de
15

aula, de alguns colegas que até hoje tenho contato, e não esqueço jamais da “cadeirinha feia”.
Ela era verdinha e bem cuidada, por isso não a considerava tão feia. Assim era denominado o
local para onde os alunos indisciplinados eram levados. O ruim estava em ficar olhando para a
parede o tempo inteiro, mas graças ao meu bom comportamento nunca precisei ir para ela.
Nesta época fazíamos atividades de pintura, recorte e colagem, cobríamos os pontilhados que
levavam o coelhinho até a cenoura, entre outros. Estudei nesta escola por dois anos, depois fui
para uma escola pública estadual.
Aos sete anos fui para a Escola Estadual Cônego Luiz Wanderley, situada no Bairro
Lagoa Azul, Zona Norte de Natal. Fiz uma prova e ingressei direto na 1ª série do ensino
fundamental, pois a professora considerou que meu aprendizado já estava bem adiantado. Na
1ª e 2ª série fui aluna de Marluce, que, diga-se de passagem, é minha tia de verdade. Foram
anos maravilhosos, ela trazia atividades bem legais e divertidas. Lembro-me muito bem que
eu adorava ler, estava sempre disposta a fazer a leitura em voz alta para toda turma, fazíamos
ditados e redações.
Já na 3ª série minha professora era Gildete. Destaco neste período as atividades de
matemática. Ela trazia frutas para trabalhar as frações; tampinhas de garrafas e feijão para
fazermos as atividades com as quatro operações. Considerava isso o máximo e minha
aprendizagem neste período foi bastante. As atividades eram realizadas em grupos e podíamos
nos ajudar, então aprendíamos brincando e compartilhando com o outro, momentos diversos
de aprendizagens.
O ano seguinte, na 4ª série, foi muito difícil, pois não me adaptei ao estilo da
professora. Ela era totalmente diferente das demais, extremamente tradicional e grossa. Sofria
ao pensar que estava se aproximando a segunda-feira, era uma tortura ir à escola. Tudo foi
piorando com o passar do tempo, pois muitas das nossas possibilidades de aprendizagem eram
reprimidas pela professora.
Lembro-me de um episódio que me marca até hoje: o dia em que a mesma me
envergonhou perante toda turma. Todo mês ela fazia a vistoria nos cadernos, observando a
organização das matérias e realização das atividades. Algumas folhas do meu caderno, de uma
ou outra disciplina, haviam acabado. Já havia solicitado a minha mãe para comprar outro, mas
ela acabou esquecendo. Como eu sabia que a professora ia passar os vistos nos cadernos, fui
então reorganizá-los. Peguei aquelas disciplinas que sobravam folhas e dividi para poder dar
espaço as que já haviam acabado. Além disso, toda quinta-feira, tínhamos que
16

individualmente falar em voz alta a tabuada, cada semana era uma diferente. Nunca aprendi e
até hoje tenho dificuldades nessa área.
É chegado o grande dia da revisão. Ao pegar meu caderno a professora notou que não
estava organizado do jeito que ela havia determinado e disse – Será possível que sua mãe tem
dinheiro para pagar empregada e ter telefone em casa, mas não pode comprar um caderno
para você? Isso me doeu profundamente, nunca me esqueço deste dia, todos rindo e eu sendo
humilhada diante da turma. Minha mãe trabalhava em uma escola do município e outra do
estado como coordenadora, e sendo assim o seu tempo era bastante reduzido, pois as suas
atribuições tomavam grande parte do seu dia. Isto não importava para a professora. Considero
que ela teve um comportamento antiético e antiprofissional, minha vida particular não
precisava ter sido exposta daquela maneira. No dia seguinte minha mãe foi à escola e
conversou com a docente sobre o ocorrido.
Acreditava que tudo havia sido resolvido naquela conversa, porém a situação piorava
cada vez mais. Eu passei a ter mais pavor da professora e com isso tinha a sensação que seria
o ano mais demorado da minha vida. Tornando-me assim uma criança reprimida por muitos e
muitos anos, pelo menos na escola, tinha medo de falar e não participava das atividades.
Assim foram meus últimos dias na educação infantil: uma criança calada, com medo da figura
do professor e que não participava das atividades. Posso dizer que permaneci desta maneira
por quase todo meu Ensino Fundamental e Médio. Somente depois que comecei a trabalhar e
me envolver com grupos de jovens consegui vencer o trauma. Hoje falar em público, expor
minhas opiniões e participar de qualquer atividade já não é mais um problema e o ingresso no
curso de Pedagogia me fez perceber o quanto é importante à participação do aluno nas
atividades desenvolvidas na escola.
Nessa etapa da educação o desenvolvimento intelectual, emocional, social e motor da
criança estar muito presente. A escola deve ser um ambiente acolhedor e estimulante. O afeto
e a cognição andam lado a lado no que se diz respeito ao papel das emoções para o
desenvolvimento e construção de um ser humano. Segundo a LDB 9394/96, em seu artigo
29, preconiza-se que: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos
físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade”.
17

Durante o meu estágio na Educação Infantil puder fazer diferente, pois acredito que a
criança precisa se sentir segura e acolhida pelo professor. É necessário estabelecer um laço de
afetividade entre professor e aluno. Somente assim a criança estará disposta a participar
ativamente das atividades a serem desenvolvidas na escola. A criança deve sentir prazer em ir
à escola e perceber que o professor acredita no potencial delas.
A afetividade na educação infantil aparece como um fator a colaborar para a
qualidade do ensino, já que está diretamente ligada ao processo de ensino-aprendizagem
dos alunos. Wallon (apud Almeida, 1999, p.51) destaca que “a afetividade e a inteligência
constituem um par inseparável na evolução psíquica, pois ambas têm funções bem definidas e,
quando integradas, permitem à criança atingir níveis de evolução cada vez mais elevados”.
A afetividade estabelecida entre professor e aluno é capaz de aproximar os sujeitos
ao meio em que vivem, através das trocas estabelecidas, além de estimular a capacidade
de desenvolver o conhecimento voltado para o conhecer e o aprender, de maneira que os
vínculos e aprendizados vão se construindo.
Hoje, como professora em processo de formação e por está realizando uma reflexão
sobre o estágio, percebo mais claramente o quanto é importante adotar uma proposta
educacional interdisciplinar, a partir do lúdico e partindo da motivação dos alunos. Trabalhar
temas atuais onde as crianças possam interagir e entender o mundo em que vivem é
primordial para uma educação de base sólida e de qualidade.
18

CONTEXTUALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO ESTÁGIO CURRICULAR NA


EDUCAÇÃO INFANTIL

Fonte: Google imagens

“O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de


fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras
gerações fizeram”.
Jean Piaget
19

A escola escolhida para fazermos o nosso estágio curricular obrigatório foi a Escola
Municipal Prof.ª Maria Dalva Bezerra de Oliveira que fica localizada no conjunto Gramoré,
bairro Lagoa Azul na zona norte de Natal/RN. As atividades no ambiente escolar foram
realizadas no período de 10 de fevereiro a 20 de abril de 2013. A escola contempla Educação
Infantil, atendendo aos níveis III e IV e o fundamental I, do 1º ao 5º ano. A faixa etária dos
alunos é entre 04 e 12 anos. O total de alunos matriculados nos dois turnos, no ano de 2013
(matutino e vespertino) foi de 563 alunos.
Interessamo-nos em realizar o estágio nesta escola, pois é considerada uma das
melhores da região, inclusive, contempla projetos da própria universidade. Por morar próximo
da escola, já conhecia o trabalho que é desenvolvido na comunidade escolar que têm como
proposta o desenvolvimento de uma educação que respeita a diversidade cultural promovendo
o enriquecimento permanente do universo de conhecimentos.
Durante toda a nossa vivência na instituição ficou claro que a equipe escolar se
preocupa, de fato, com a qualidade da educação que oferecem. Este foi um dos pontos mais
importantes para a realização do nosso trabalho, pois é uma preocupação que está registrada
no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, como também é algo que vai de encontro
com as necessidades que existem hoje na educação.
Devido às mudanças ocorridas na última década do século XX, algumas questões
relativas à educação, ganharam uma ênfase maior no que diz respeito ao acesso irrestrito e a
permanência com qualidade das crianças nas escolas. Deixou-se de pensar em uma estrutura
hierarquizada de administração, partindo para a descentralização de responsabilidades e
tarefas, de modo que as instituições e seus envolvidos passassem a ser avaliados. Nesta
perspectiva é de extrema importância mensurar o desempenho e exercer a prestação de contas
à sociedade das políticas e programas implantados.
As avaliações educacionais realizadas hoje em nosso país estão diretamente
relacionadas ao desempenho destas e o seu real funcionamento dentro da educação. Com o
intuito de aumentar o conteúdo informacional da avaliação e suas consequências sobre as
escolas, foi implementado, a partir de 2005, a Prova Brasil, que permite agregar à perspectiva
diagnóstica a noção de responsabilização (FERNANDES; GREMAUD, 2009).
Hoje a realização desta prova nas escolas é considerada pelos educadores um
mecanismo de extrema importância, pois é através dos resultados obtidos na Prova Brasil, que
podem analisar a qualidade da educação em cada instituição, como também se sua prática está
20

coerente. Acredito que esta prova, não traga uma real situação da educação brasileira, tendo
em vista que na correção destas avaliações, não é considerado o contexto como um todo, além
de apresentar um peso maior do aspecto quantitativo sobre o qualitativo. Penso que o
professor não pode depender exclusivamente deste tipo de instrumento para avaliar seus
alunos, tendo em vista que a avaliação deva acontecer de forma contínua, observando todos os
aspectos do educando e seu tempo de aprendizagem.
Ao chegar à escola todos nos receberam muito bem, desde a diretoria, ao pessoal do
suporte pedagógico e os professores. Isso contribuiu bastante para o fácil acesso aos
documentos da escola, como o PPP e as pessoas que fazem parte da gestão escolar, o que foi
de extrema importância para realização das atividades na escola, já que poderíamos nortear
nossas atividades baseadas no projeto da escola.
Considero que o PPP foi muito bem elaborado, pois toma por base as necessidades
encontradas na realidade da instituição e dos educandos, atrelados aos documentos oficiais
nacionais direcionados a Educação Infantil e as teorias abordadas nas diferentes disciplinas do
curso de pedagogia. Um dos documentos importantes para a realização do projeto foi o
Parâmetro de Qualidade da Educação Infantil proposto pelo Ministério da Educação.
Em síntese, para propor parâmetros de qualidade para a Educação
infantil, é imprescindível levar em conta que as crianças desde que
nascem são: cidadãos de direitos; indivíduos únicos, singulares;
seres sociais e históricos; seres competentes, produtores de cultura;
indivíduos humanos, parte da natureza animal, vegetal e mineral.
(BRASIL, 2006, p.18)

É com base nestes princípios e fundamentos primordiais para a qualidade da educação


infantil que a instituição escolhida trabalha.

Figura 01 – Fachada da Escola Municipal Maria Dalva Bezerra de Oliveira

Fonte: acervo da autora


21

A instituição fica localizada em uma comunidade de classe média baixa com uma
população estimada de 61.289 habitantes desses, 15.966 são de pessoas entre 0 a 14 anos, essa
faixa etária representa 26,05% da população do bairro. Essa faixa de 0 a 14 anos é exatamente
a população que a escola atende.
A instituição possui uma estrutura física bem conservada, como podemos perceber nas
fotos abaixo. Em suas dependências encontramos: 20 salas de aula, sendo quatro delas com 2
banheiros (destinadas a educação infantil); 1 cozinha; 1 laboratório de informática com 19
computadores, mas sem uso (por falta de instalações elétricas); 1 quadra de esportes; 1
biblioteca; 1 diretoria; 1 secretaria; 1 almoxarifado; 1 sala multifuncional; 1 sala dos
professores e 13 banheiros divididos da seguinte forma: 6 para os alunos e 3 administrativos.

Figura 02 – Estrutura física

Fonte: Acervo da autora

Como podemos verificar pelas fotos da figura 02 a infraestrutura da escola é de boa


qualidade, porém existem algumas salas que não possuem ventiladores, o que dificulta um
pouco um bom andamento das aulas. Apesar de ser uma escola com boa ventilação natural, o
calor ainda é um grande obstáculo para que se possa ter um ambiente favorável para o
desenvolvimento de uma aprendizagem efetiva.
A escola, também, possui o Conselho Escolar que é constituído por representantes de
pais, estudantes, professores, demais funcionários, membros da comunidade local e o diretor
da escola. Segundo a diretora todos participam das decisões da gestão administrativa,
22

pedagógica e financeira da escola, contribuindo com a melhoria da qualidade do ensino, como


também das funções deliberativas, consultivas, fiscais, mobilizadoras e pedagógicas.
O Projeto Político Pedagógico da escola explícita a importância da participação de
todos para construir uma escola com educação de qualidade. A instituição apresenta uma
gestão democrática que possibilita uma interação entre família, docentes e discentes. Juntos
unem forças para propor um ambiente de formação, seja na escola, em casa ou na
comunidade. Segundo Veiga (1995), é necessário decidir, coletivamente, o que se quer
reforçar dentro da escola e como detalhar as finalidades para se atingir a almejada cidadania.
Para que isto aconteça à educação infantil deve estar fundamentada na função indissociável do
cuidar e educar, como também atender os direitos e necessidades próprias das crianças no que
se refere à saúde, alimentação, higiene, proteção e acesso ao conhecimento sistematizado.
Na Educação Infantil o Cuidar e Educar estão entrelaçados. O desenvolvimento, a
construção dos saberes, a constituição do ser não ocorre em momentos estanques e de maneira
compartimentada, tudo isto acontece de forma conjunta. É necessário, portanto, ter uma visão
integrada do desenvolvimento da criança.
O cuidado preciso considerar, principalmente, as necessidades das
crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar
pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os
procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de
promoção da saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a
preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades
humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam
baseados em conhecimentos específicos sobre desenvolvimento
biológico, emocional e intelectual das crianças, levando em conta
diferentes realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p. 25).

Na educação infantil o cuidar está inserido na educação e precisa estar acompanhado


do verbo educar. O tempo de aprendizagem nesta etapa acontece de maneira diferenciada, por
isso é importante estar atento a esta questão. É necessária a articulação de vários campos do
conhecimento e cooperação de profissionais de diferentes áreas de atuação, Fonoaudiólogos,
Psicólogos, entre outros.
O educar na educação Infantil deve propiciar as crianças situações real de
aprendizagem baseadas nas concepções de desenvolvimento que consideram os educandos
nos seus contextos sociais, ambientais, culturais.
A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as
crianças que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da
cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social.
Cumpre um papel socializador, propiciando o desenvolvimento da
23

identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas,


realizadas em situações de interação (BRASIL, 1998, p. 23).

As situações de aprendizagem devem ocorrer de forma integrada, contribuindo de fato


para o seu desenvolvimento e basear-se em atividades intencionais integradas e que permeiem
as relações interpessoais, propiciando o conhecimento a partir do contexto social.

Recursos humanos da escola – corpo docentes e demais profissionais

A escola funciona há dezenove anos e por ela já passaram quatro gestões, segundo o
PPP a primeira direção foi uma indicação da Secretaria Municipal de Educação, no período de
1993 a 1994. As demais aconteceram por eleições diretas. A atual gestão está no cargo há dois
anos, nesse caso em 2013, no período que as nossas atividades foram realizadas na escola.
Através de dados obtidos pelo PPP da escola, o quadro de funcionários, em 2010 que
foi o ano de construção do projeto, contavam com 68 servidores, dos quais 33 eram
professores, 04 coordenadores pedagógicos, 03 bibliotecários, 02 gestores, 01 inspetor escolar
e mais 25 funcionários.
Atualmente, esse quadro foi reduzido, pois através da nossa pesquisa podemos
perceber que só têm na escola 26 professores com no mínimo graduação; 2 coordenadoras
pedagógicas e 12 funcionários distribuídos em vários setores da escola. Além das 2 gestoras
que ocupam o cargo de direção e vice-direção. A escola, não tem mais bibliotecário em
nenhum dos turnos. Somente um professor em desvio de função que fica no horário da tarde,
mas no período do nosso estágio não estava na escola, pois se encontrava de licença médica.
No momento da nossa pesquisa no ano de 2013 ainda existiam turmas sem
professores. Infelizmente essa foi a realidade encontrada nesta escola que iniciou o ano letivo
com esse déficit, por este motivo algumas turmas só começaram as aulas após um mês das
demais. Esta situação não acontece apenas nesta escola, sabemos o quanto o déficit de
professores na rede pública de ensino é comum.
24

DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


DA OBSERVAÇÃO À REGÊNCIA

Fonte: Google imagens

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as


possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.
Paulo Freire
25

Na idade medieval, a criança era vista como um adulto em miniatura, e desde muito
cedo enviadas para o trabalho, muitas não tinham nem condições de brincar, e logo que
entravam na infância, não precisavam mais de cuidados básicos, pois eram obrigadas a
realizarem atividades de adulto. Isso pode ser verificado nos desenhos e pinturas da época que
enfatizavam essas concepções e não respeitavam as devidas proporções entre criança e um
adulto, muito menos os fatores intrínsecos eram respeitados (como os hormonais),
principalmente, a maneira como as crianças viam o mundo, desta forma observamos também
que as crianças se vestiam e tinham comportamentos de adultos (Figura 03).
Neste período, eram poucas as crianças que iam à escola. A educação acontecia nas
paróquias ou mosteiros. O momento da brincadeira era visto como fútil com uma única
utilidade, a distração. Mulheres e crianças eram consideradas seres inferiores que não
mereciam nenhum tipo de tratamento diferenciado, sendo inclusive a duração da infância
reduzida. De acordo com Ariès (1978), por volta do século XII era provável que não houvesse
lugar para a infância, uma vez que a arte medieval a desconhecia. Os estágios da infância
eram desconsiderados, sua socialização não era controlada pela família e a educação era
garantida pela aprendizagem de tarefas realizadas juntamente com os adultos.
Por volta do século XVII, consolidaram os primeiros conceitos de que a infância era
uma etapa da vida que necessitava de cuidados próprios. Desde então a infância passou a ser
analisada de outra forma. Essa concepção teve como principal representante o pensador Jean
Jacques Rousseau, considerado o “pai da pedagogia contemporânea”.
Além disso, Rousseau também criou inúmeros brinquedos educativos. A princípio
estes brinquedos eram para estudar crianças com deficiência mental, mas, depois foram
utilizados para o ensino das crianças ditas “normais”. Por isso, ele tem até hoje grande
importância para a pedagogia.
Recentemente, depois da década de 70, as escolas brasileiras começaram a trabalhar
com materiais lúdicos, brinquedos pedagógicos e materiais didáticos. Algumas escolas já
deixaram de lado a metodologia de repetição na pré-escola. Porém não são todas as escolas
que trabalham com as brincadeiras para desenvolver o cognitivo das crianças. Segundo
Fontana (1997), nos últimos anos, a psicologia, tem mostrado que a brincadeira tem um papel
importante no desenvolvimento da criança e que ela satisfaz algumas de suas necessidades.
26

Figura 03 - Crianças Trabalhando e Crianças brincando no século XVII

Fonte: http://nanamada.blogspot.com/

No Brasil, as leis recentes para Educação Infantil são reflexos da nossa atual
Constituição que foi promulgada em 1988. A partir dela as crianças no Brasil passaram a
serem consideradas, de fato, sujeitos de direito.
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência e
opressão (BRASIL, 1988).

Oito anos após a Constituição de 1988, tivemos a Lei de Diretrizes de Bases em 1996
que também estabeleceu novas diretrizes para Educação Infantil. A inserção da educação
infantil na educação básica, afirmada no Art. 22 da Lei: “a educação básica tem por finalidade
desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e nos estudos posteriores”
forneceu a esta etapa de ensino mais ênfase e importância.
Estabelecida como primeira etapa da educação, a LDB apresenta em seu Art. 29 que
“A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. Logo,
esta etapa passa a ser o reconhecimento de que a educação começa nos primeiros anos de vida
e é essencial para o cumprimento de sua finalidade.
Segundo Craidy e Kaercher (2001), nem os pais, nem as instituições de atendimento,
nem qualquer setor da sociedade ou do governo poderão fazer com as crianças o que bem
entenderem ou o que considerarem válido. Todos são obrigados a respeitar os direitos
definidos pela Constituição e LDB.
27

Quando cursamos a disciplina de Educação Infantil, percebemos na teoria como de


fato deve ser a postura de um professor lotado nesta etapa de ensino. Sua prática deve ser
organizada de modo que as crianças possam desenvolver com confiança sua capacidade e
percepção das limitações. Conhecer seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites,
desenvolvendo hábitos de higiene pessoal. Ampliar suas relações sociais por meio de vínculos
com outras crianças e adultos. Saber utilizar diferentes linguagens, entender as diversidades e
expressar suas emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades.
Durante os momentos em sala de aula pude perceber que os estudos realizados nesta
disciplina foram primordiais para a realização do planejamento e das aulas no período da
regência. Acredito na importância da realização da atividade de estágio para nossa formação,
pois é o ponto de partida para vivenciar, na prática, as experiências da sala de aula e como
parte integrante de uma comunidade escolar. Além de poder analisar a prática à luz da teoria
estudada na academia e pensar nossa futura atuação enquanto professores.

O olhar cuidadoso

O primeiro encontro para desenvolver as atividades do plano de ação foi no dia 11 de


março de 2013. Foram realizados registros fotográficos do espaço interno da escola e das
dependências, que no período da realização do plano de ação I não foi possível. Nos dias 18 e
25 do corrente mês, em sala de aula continuamos as observações. Este foi o momento apenas
de observar o cotidiano em sala de aula e fazer as anotações que considerássemos
importantes.
A professora foi bastante atenciosa, mas deixou claro no primeiro encontro que sua
intenção era estar no ensino fundamental, mas que por falta de escolha teve que assumir a
turma de educação infantil. Apresentei-me as crianças e percebi que estavam um pouco
tímidas, mas com o decorrer do dia foram se familiarizando.
O processo de familiarização da professora com os alunos durou duas semanas. A
docente buscou conhecer as crianças, onde moravam, quantos anos tinham o que gostavam de
fazer, entre outros. Em seguida iniciou uma atividade de sondagem para perceber o nível de
desenvolvimento das crianças, pelo menos foi o que percebemos, mas só tivemos uma
resposta concreta nas próximas visitas.
28

Nesta turma, onde foi realizado o estágio as aulas começaram um pouco depois da
data prevista no calendário letivo oficial, já que não havia professor. Esta realidade no
presente ano foi muito comum. Fazia parte do nosso cotidiano, ouvir relatos de colegas que já
atuavam na área da educação no âmbito municipal, as deficiências se encontravam nas
escolas, desde a falta de professores até a de materiais para se trabalhar.
Estes momentos foram importantes para que pudéssemos analisar e planejar as aulas e
projetos para turma. Além disso, verificamos a real necessidade dos alunos do nível IV da
educação infantil que foi a turma escolhida por nós para fazermos nosso primeiro estágio
curricular obrigatório na educação infantil. Lembramos que essas crianças tinham entre 5 e 6
anos de idade. Escolhemos esta turma para fazer as observações e regência, pois já havíamos
cursado a disciplina de Alfabetização e Letramento I no semestre anterior e estávamos
cursando a disciplina de Alfabetização e Letramento II. Consideramos que esta turma seria
ideal para colocar em prática o que já havíamos aprendido em tal disciplina. De fato, a
escolha foi bastante certa, no sentido que as atividades propostas desenvolvidas tiveram uma
repercussão bastante significativa para o aprendizado dos alunos, baseada nesta perspectiva,
começamos a articulação para nossa próxima etapa que seria a regência.

A regência

Tomando como base todas as informações da turma escolhida decidimos que nossa
prática pedagógica seria realizada através do projeto: alfabetizar com o lúdico. Foi por meio
de brincadeiras que realizamos as atividades em sala de aula no período de 19 de fevereiro a
20 de maio de 2013. Sentamos com a professora titular, para realizar o planejamento de
nossas atividades na regência. Conforme estabelecido pela professora tutora, não poderíamos
deixar de trazer um filme, pois na segunda-feira, que foi o dia escolhido para o estágio, já era
uma atividade permanente, mas deixou a nosso critério as escolhas dos vídeos. Então, diante
da liberdade que tivemos para planejar nossas atividades e a escolha do vídeo começamos a
idealizar nossas atividades de alfabetização para aquela turma.
Figura 04 – Alunos assistindo a um vídeo

Fonte: Acervo da autora


29

Nos dias de observação percebemos que a professora em sua prática trabalhava com as
famílias das letras. Isso pode ser demonstrado na fala da docente: - “hoje vamos trabalhar a
família do B - ba, be, bi, bo, bu”. Minha intenção neste trabalho não é criticar ou desfazer da
metodologia adotada pela docente, porém considero ser mais significativo trabalhar com as
letras dentro de um contexto mais amplo e fazendo relação com aquilo que a criança vivencia,
trazendo significado para o alfabetizando. Para isso, o professor tem que fazer uma
investigação inicial sobre os conhecimentos prévios dos seus alunos.

Desta forma, as atividades pedagógicas devem ser focadas no


desenvolvimento das capacidades fundamentais às práticas da linguagem oral
e escrita. No contexto da sala de aula, as crianças precisam ouvir e falar, ler e
escrever os mais variados textos. A prática pedagógica organizada em torno
do uso da língua e sua reflexão deve visar não só ao processo de
alfabetização em si mesmo, mas também à possibilidade de inserção e
participação ativa dos alunos na cultura escrita, nas práticas sociais que
envolvem a escrita, na produção e compreensão de diferentes gêneros
textuais. (LOPES E VIEIRA, 2011, p. 10).

Esta perspectiva estabelece um novo caminho a ser seguido pelas escolas, o de rever
as práticas pedagógicas para o ensino das séries iniciais, trazendo um desafio maior aos
profissionais de educação. É neste sentido que a relevância da prática pedagógica se torna
preponderante, pois busca alfabetizar mantendo um equilíbrio entre o trabalho de aquisição do
código, articulado ao domínio da leitura e escrita, contextualizando com os temas trabalhados
em sala de aula a partir de discussões e necessidades atuais, além de propor aos alunos
situações reais de alfabetização e letramento. Sabemos que isso não é tarefa fácil, já que no
Brasil a teoria do conhecimento empirista dominou tudo que se fez em alfabetização até a
década de 70, onde considerava que o aprendizado da leitura e da escrita se dava por meio de
um processo de associação entre grafema e fonema, onde a criança evoluiria por receber e
fixar informações transmitidas pelos adultos.
Infelizmente, mesmo depois de passado tantos anos, podemos observar fortemente na
pratica pedagógica da professora titular da turma que estagiamos, o enraizamento desta teoria
nos dias atuais. Talvez em sua formação a disciplina de alfabetização não tenha
problematizado estas questões. Mas, embora compreendamos a dificuldade, acreditamos na
possibilidade de mudança, pois “o saber dos professores não provém de uma fonte única, mas
de várias fontes e de diferentes momentos da história de vida e da carreira profissional” o que
possibilita a compreensão desse conceito. (TARDIF, P.18, 2004)
30

Figura 05 – Professora titular e os alunos em uma atividade de pintura

Fonte: Acervo da autora

Planejando o trabalho docente

Nossa primeira atividade foi planejada diante da dificuldade dos alunos escrevem seu
próprio nome. Fazer os crachás e o mural para colocar o nome deles foi o ponto de partida
para conhecermos melhor o nível em que as crianças se encontravam, sempre pensando em
trabalhar de forma lúdica e considerando os interesses e necessidades deles. Por isso, tivemos
um momento de investigação de interesses das crianças. Daí então, começamos nosso
trabalho de regência. Segundo Lopes apud Leal (2011), a brincadeira é um poderoso
instrumento que pode auxiliar nas práticas de alfabetização e letramento. Diante desse
pressuposto buscamos alicerçar todo nosso projeto com base lúdica.
Desse modo, confirma que o brincar com a língua faz parte das atividades
sociais que a criança realiza quando canta cantigas de roda, recitam poemas,
quadrinhas e adivinhações, quando lê contos de fadas, faz palavras cruzadas
ou brinca de adedonha. Essas atividades lúdicas que envolvem a formação de
palavras permitem à criança o entendimento do sistema de escrita alfabética,
ao mesmo tempo, que se constituem em momentos prazerosos de utilização
da leitura, escrita e oralidade nas práticas sociais (Lopes apud Leal, p13,
2011).

Foi nesta perspectiva que buscamos desenvolver as atividades em sala de aula na


prática de estágio tendo em vista que articular os jogos e as brincadeiras aos conteúdos
escolares propicia às crianças o conhecimento sobre o uso social da leitura e da escrita. Essa
forma lúdica de se trabalhar é de fundamental importância para o desenvolvimento da criança,
pois, adquirem diversas experiências, interagem com outras pessoas, organizam seu
pensamento, tomam decisões e criam maneiras diversificadas de jogar, brincar e produzir
conhecimentos. Ressaltamos ainda que os processos de desenvolvimento e de aprendizagem
31

envolvidos no jogar e no brincar contribuíram de forma significativa nos processos de


apropriação do conhecimento, além de desenvolver as habilidades físicas, cognitivas, afetivas
e sociais. Para Vygotsky,
“O lúdico influencia enormemente o desenvolvimento da criança. É através
do jogo que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire
iniciativa e autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do
pensamento e da concentração.” (Vygotsky, 1998).

A falta da intencionalidade e situações reais de alfabetização, nas brincadeiras


realizadas na sala de aula nos motivou a desenvolver nosso planejamento nessa perspectiva.
Preencher esta lacuna foi um dos maiores desafios enfrentados por nós, já que passaríamos
dar uma importância maior ao lúdico, trabalhando de maneira intencional, para que as
atividades realizadas fizessem sentido para nós e para as crianças. Acredito que escolhemos o
caminho certo, pois era notória a felicidade das crianças ao estarem conosco e realizando as
atividades, além de terem conseguido grandes avanços no processo de alfabetização.

Primeira Intervenção

Quando chegamos à sala as 07h da manhã, esperamos as crianças chegarem até as


07h15min. Inicialmente a professora titular faz a contagem dos alunos para poder saber
quantos alunos vieram para informar ao pessoal da merenda. Nesse momento não
interferimos. Após esse primeiro contato, a professora informou para as crianças que seriam
nós que conduziríamos a aula naquele dia.
Como planejado, fizemos uma roda da conversa, que não era um procedimento
adotado pela professora, pelo menos nas segundas, pois nunca tínhamos presenciado.
Convidamos os alunos para sentarem no chão formando um círculo, iniciamos as perguntas:
Como foi seu final de semana? Brincaram de quê? O que comeram? Enfim, tentávamos
trabalhar a oralidade com eles, enquanto aproximávamos do contexto social daqueles alunos.
Logo após a roda da conversa, fomos trabalhar os crachás que fizemos para eles e
buscamos fazê-lo de forma lúdica para que não fosse algo cansativo. Espalhamos os crachás
no chão e oferecemos a oportunidade dos alunos procurarem seus próprios crachás e o dos
colegas. Dessa forma podemos perceber quais as crianças precisavam de uma atenção maior
nas atividades de alfabetização diante das dificuldades encontradas durante a brincadeira,
além de trabalhar a socialização entre eles.
32

O sentimento de angústia e tristeza se fizeram presentes dentro de mim, pois era


notório que muitas crianças não sabiam nem a letra que começava seu próprio nome. Diante
disto, todo o processo de planejar, executar e avaliar foi extremamente importante para o
nosso aprendizado. Nesse momento aprendíamos mais do que ensinávamos.

Figura 06 – Atividade de confecção do mural e crachás

Fonte: Acervo da autora

No momento seguinte fomos trabalhar com os nomes das crianças. Na primeira etapa
trabalhamos a leitura e depois a escrita.

Figura 07 – Registro: escrita das crianças

Fonte: Acervo da autora.

Como as crianças têm muita resistência a escrever no caderno, pensamos então em


colocá-los para escrever no quadro. Como em uma brincadeira, todos adoraram a ideia e desta
forma, escreveram o seu nome e dos seus colegas.
33

A partir desse principio de que o brincar é uma prática cultural de construção


de conhecimentos na infância, defendemos que as práticas de alfabetizaçã o
na perspectiva do letramento levem em conta que a brincadeira é uma prática
cultural e histórica, dotada de múltiplas significações, que permite à criança a
assimilação de conhecimento sobre a língua, suas formas de organização e
seus usos sociais (LOPES, p13, 2011).

Segundo Lopes (2011), atividades com os nomes próprios são referências estáveis de
escrita e têm valor afetivo, de identidade. Sua exploração em sala, tanto na leitura, como na
escrita, proporciona aprendizagem de diversos aspectos da escrita (gráficos e conceitos) que
são altamente relevantes no início da alfabetização.
Na volta do intervalo era a hora do vídeo, assim é a rotina da professora titular nas
segundas-feiras. Pensávamos em outra proposta, mas a professora não abriu mão do vídeo,
mas nos deixou escolher o que passaríamos nos dias das nossas regências. A partir deste
momento poderíamos explorar vídeos intencionais, que de fato estivesse inserido em uma
proposta real de alfabetização, já que antes, pelo que percebemos no período da observação,
este era apenas para passar o tempo e acalmar as crianças na volta do recreio. Além disso, as
atividades propostas após o vídeo nem sempre tinham relação com o mesmo.

Figura 08 – Momento do vídeo

Fonte: Acervo da autora

Neste sentido levamos um vídeo curto, que tinha uma “musiquinha” animada com
frutas dançarinas que diziam seus nomes e sua função na alimentação das crianças. Eles
adoraram e prestaram bastante atenção. Assim poderíamos utilizar com utilidade a volta do
recreio. Propomos atividades por meio da produção de listas com o nome das frutas, desta
forma trabalhamos a leitura e a escrita com eles. Para a realização desta atividade buscamos
34

também, por meio da oralidade, enfatizar a importância da alimentação saudável para o


desenvolvimento do ser humano.
É chegada a hora da sistematização dos temas trabalhados. Neste momento
trabalhamos a atividade de leitura e escrita, sempre fazendo a relação das letras encontradas
no nome das frutas com seus próprios nomes.

Figura 09 – Atividade de leitura e escrita no quadro sobre o conteúdo do vídeo

Fonte: Acervo da autora

Assim percebemos que as crianças gostavam muito de escrever no quadro e tinham


uma participação mais efetiva nestas atividades. Este momento foi bastante significativo, pois
as crianças apresentavam um interesse maior e com isso pudemos perceber que não é só com
lápis e papel que se aprende a ler e escrever. O professor precisa estar atento ao que realmente
é de interesse dos alunos, somente desta maneira poderá desenvolver atividades motivadoras e
diferenciadas, trazendo outras propostas que ultrapassam um ensino tradicional.

Figura 10 – Atividade de sistematização sobre os assuntos abordados em sala

Fonte: Acervo da autora


35

A foto acima apresenta uma das atividades propostas por nós para casa, que foi
aprovada pela professora titular e corrigida por ela. Acreditamos que esta atividade tenha sido
fundamental para a sistematização do conhecimento, a partir dela foi possível compreender,
de fato, o que os alunos aprenderam após a exposição do vídeo e do conteúdo.

Segunda intervenção

Como de costume iniciamos a aula com a roda de conversa. Em seguida realizamos as


atividades que estavam inseridas dentro do nosso projeto que era alfabetizar de forma lúdica.
Levamos para sala de aula um jogo com as letras, algo que eles pudessem interagir brincando
e ao mesmo tempo para fazer relação com as letras do alfabeto e dos seus nomes. Foi
idealizado então o Bingo do Alfabeto.
Figura 11 – O bingo do alfabeto

Fonte: Acervo da autora

Para o desenvolvimento desta atividade buscamos trabalhar as letras de forma


diferenciadas e não isoladas, uma vez que, levamos para sala de aula figuras que faziam parte
do cotidiano dos alunos e solicitamos que nos falassem o que era aquela figura e que letra
começava e terminava a palavra.
Com esta proposta foi possível trabalhar as relações entre eles, além da atividade de
leitura e escrita. Segundo Lopes (2011), a exploração específica da forma e nome das letras,
se configuram como jogos e podem ser montadas e desenvolvidas, como bingos com letras e
nomes para identificação e memorização das letras, seus nomes e valores sonoros, dados,
entre outros.
O desenvolvimento desta atividade trouxe a oportunidade de vivenciar de forma
diferenciada o ensinar e o aprender. Neste momento pudemos perceber que a brincadeira em
sala de aula é bastante instigante e motivadora para todos os envolvidos. Os alunos interagem,
36

se expressam, testam seu conhecimento de mundo. Para nós fica a importância destas
atividades para o desenvolvimento dos alunos.
Outro momento de aprendizagem envolvendo as brincadeiras e o lúdico é a hora do
recreio, no qual as crianças podem brincar em um parque que foi adquirido pela escola no ano
de 2012, conforme figura 12.

Figura 12 – Crianças no parque

Fonte: Acervo da autora

Quando voltamos do intervalo as crianças realizaram uma atividade de caça palavras.


De início seria uma atividade para casa, porém a professora nos informou que seria muito
complexa para que eles fizessem sozinhos, segundo ela exigia muito das crianças e alguns
pais poderiam não conseguir ajudá-los. Então trabalhamos a atividade em sala de aula, antes
do vídeo. Este momento foi de fundamental importância para nós, pois remeteu-nos as aulas
de didática quando a professora enfatizava a discussão trazida por vários autores de que Não
existe planejamento rígido!
Todos nós discutimos durante o curso de pedagogia a ideia de que o planejamento
flexível permeia as ações pedagógicas desenvolvidas no contexto escolar, por isto devemos
estar atentos a esta tal flexibilidade.
Precisamos distinguir a flexibilidade de frouxidão: é certo que o
projeto não pode se tornar uma camisa de força, obrigando o
professor a realizá-lo mesmo que as circunstâncias tenham mudado
radicalmente, mas isto também não pode significar que por qualquer
coisa o professor estará desprezando o que foi planejado.
(VASCONCELLOS, 2000, P.159)

Como diz Vasconcelos não podemos ter o planejamento como uma camisa de força.
Precisamos ter consciência de assumi-lo como um dispositivo norteador das atividades. Não
37

podemos deixar de lado, por completo, o que foi planejado sem procurar uma explicação para
o ocorrido. É necessária uma reflexão por parte do professor quando a atividade que foi
prevista não foi concretizada. Acima de tudo o comprometimento deve ser assumido, pelo
professor, no intuito de prever as possíveis mudanças no decorrer do caminho.

Figura 13 – Atividade complementar de caça palavras

Fonte: Acervo da autora

Podemos vivenciar de fato a teoria na prática quando nos deparamos com esta
realidade. Embora o plano de aula e as atividades propostas, tivessem sido passados e
aprovado pela professora na hora houve algumas mudanças. Tivemos que readequar o
momento de realização da atividade.
Nesta semana não trabalhamos com a exposição do vídeo, pois era uma semana
atípica. A comemoração do dia das mães estava se aproximando e a professora solicitou que
destinássemos o segundo momento da aula a uma atividade que pudesse contemplar essa
temática.
Foi então trabalhado atividades de artes. As crianças confeccionaram um cartão
desenhando suas mãos e recortando. Propomos que colocassem seus nomes e deixamos os
desenhos e pinturas livres. Esta atividade proporcionou para nós a compreensão de que com
poucos recursos podemos fazer uma aula diferenciada, além de envolver a disciplina das artes
no contexto da sala de aula. Para esta atividade foi usado apenas, papel A4, tesoura, giz de
cera e coleção de madeira.
Realizamos esta atividade por acreditar que o desenho na educação infantil tem um
papel fundamental. Ao desenhar a criança expressa seu pensamento, conta sua história, realiza
38

suas fantasias, expõem seus medos, alegrias, tristezas e interagem com seu corpo e como
meio.
De acordo com os Parâmetros Curriculares da Educação Infantil (1988):

Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é


simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela sente prazer ao
constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. A percepção de
que os gestos, gradativamente, produzem marcas e representações
mais organizadas permite à criança o reconhecimento dos seus
registros. (BRASIL, 1988, p.92)

A presença das artes na Educação Infantil é essencial. Por meio do desenho as crianças
expressam suas emoções desenvolvendo seus sentimentos e através dele o professor pode
perceber dificuldades de aprendizagem, de interação, entre outros. Mas não basta só o
desenho pelo desenho, o professor deve estar sempre atento e procurar informações para
entender as produções dos seus alunos.
Optamos por trabalhar de forma lúdica, pois segundo Oliveira (1985, p. 74), o lúdico é
“(...) um recurso metodológico capaz de propiciar uma aprendizagem espontânea e natural.
Estimula à crítica, a criatividade, a sociabilização, sendo, portanto reconhecidos como uma
das atividades mais significativas pelo seu conteúdo pedagógico social”.
Foi desta maneira que os nossos educandos vivenciaram momentos de aprendizagem
significativa por meio de brincadeiras e das artes com situações reais de aprendizagem.
Interagiram com os colegas, afloraram suas emoções e desenvolveram habilidades motoras.
39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fonte: Google imagens

“A educação pode ajudar a nos tornarmos melhores, se não mais


felizes, e nos ensinar a assumir a parte prosaica e viver a parte
poética de nossas vidas”.
Edgar Morin
40

A universalização do ensino, as transformações sociais e o aumento dos anos da


escolarização fizeram crescer a expectativa de outras exigências em relação aos professores e
a escola, temos um papel fundamental neste processo por isso devemos trabalhar em conjunto
para atender as necessidades deste novo modelo de ensinar, adquirindo assim mais autonomia
e controle.
O presente trabalho trouxe uma análise sobre o estágio obrigatório na Educação
Infantil. Pensar e elaborar o projeto e os planos de aula como uma professora titular tendo
como suporte os referenciais teóricos já estudados e as disciplinas, já cursadas, como a
disciplina de Didática e Alfabetização e Letramento e tantas outras foi primordial para o
sucesso do nosso estágio obrigatório e para execução das atividades propostas em sala de
aula.
Experiências como essas são extremamente importantes para construção do
conhecimento do pedagogo, sem esses momentos não podemos colocar em prática toda a
bagagem intelectual aprendida e apreendida durante os cinco anos dos cursos de pedagogia da
UFRN. Foi possível articular diversos saberes, conhecimentos e experiências. Nosso estágio
foi bastante rico de aprendizagem, pois nos possibilitou fazer articulações com a teoria
estudada.
Acredito que a atividade de estágio nos trouxe a aproximação de relacionar a teoria
com a prática estudada, revelou-se também como oportunidade para responder vários
questionamentos indagados por nós durante o curso. As dúvidas ficaram para trás, já que a
vivência nos proporcionou uma satisfação ímpar, a de dever cumprido. O planejamento
pensado por nós, para a realização do estágio foi concretizado, mas isso só foi conseguido,
pois tivemos uma base sólida quanto às disciplinas estudadas e a orientação que nos foi dada,
como também total liberdade para planejar as aulas e desenvolver as atividades na sala de
aula.
O estágio curricular obrigatório veio para mim como mais um desafio entre tantos
outros do curso de Pedagogia, acredito que este tenha sido o mais difícil, mas também o mais
prazeroso e real. Digo real, pois é neste momento que colocamos em prática boa parte do que
aprendemos. O processo vivido nesse percurso me fez compreender a importância deste
momento para a formação docente. Já que são hora de resinificar os saberes, refletir sobre a
nossa conduta e construir a nossa identidade enquanto pedagogos.
41

Ser professor é uma satisfação muito grande. Sentir o carinho das crianças e perceber a
evolução no processo de aprendizagem é um momento de muita felicidade, principalmente
quando percebemos a nossa importância para a construção da identidade e da cidadania dos
educandos.
Quanto aos educandos, ficou claro o prazer e comprometimento deles quanto à
participação nas atividades. Muitos diziam: - Tia, adoramos a segunda-feira! Nem era preciso
perguntar o motivo, pois o brilho nos olhos e o entusiasmo com as brincadeiras deixava claro,
que além da nossa presença, as atividades realizadas nestes dias eram diferenciadas. Acredito
que as dinâmicas realizadas por nós contribuíram para melhorar as relações interpessoais, o
respeito às diversidades, apropriar-se dos diversos tipos de linguagem e estabelecer relações
entre os assuntos abordados e o contexto em que vivem.
Penso que quando há comprometimento do profissional, planejamento das aulas e
metas a ser alcançada, a atividade de estágio passa a ser um prazer e não apenas mais uma
disciplina a ser estudada. Posso dizer, ao final deste processo, que esta é uma das disciplinas
primordiais para o processo de formação do pedagogo.
42

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Ana Rita Silva. O que é afetividade? Reflexões para um conceito. Disponível
em: http://www.educacaoonline.pro.br. Acessado em: 28.11.2015.

ARIÈS, P. História social da infância e da família. Tradução: D. Flaksman. Rio de Janeiro:


LCT, 1978.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal, 1988. Disponível
m:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em:
28/10/2015.

BRASIL: MEC/SEB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação no Brasil. Disponível em:


http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Acessado em 15.11.2015
BRASIL: MEC/SEB. Parâmetros de Qualidade da Educação Infantil. V.1, 2006.
Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf>
Acesso em: 08.11.2015.

BRASIL: MEC/SEB. Referencial Curricular Nacional Para A Educação Infantil:


Conhecimento de Mundo. V.3, 1998.

BRASIL: MEC/SEB. Referencial Curricular Nacional Para A Educação Infantil:


Introdução. V.1, 1998. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf acessado em 15.11.2015.

CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis E. Educação infantil: Pra que te quero? Porto
Alegre: Artmed, 2001.

FERNANDES, Reynaldo; GREMAUD, Amaury. Qualidade da educação básica: avaliação,


indicadores e metas. In: VELOSO, Fernando et al. (Orgs.). Educação básica no Brasil:
construindo o país do futuro. Rio de Janeiro: Elseiver, 2009.

FONTANA, Roseli; CRAUZ, Nazaré. A criança e a palavra. In _______. Psicologia e


trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997.
GERALDI, João Wanderley. A aula como acontecimento. In: A aula como acontecimento.
São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola publica: A Pedagogia Crítico Social dos
Conteúdos. São Paulo, Loiola, 1986.

LOPES, Denise M. de Carvalho; VIEIRA, Giane Bezerra. Linguagem, Alfabetização e


Letramento: o trabalho pedagógico nos três primeiros anos do Ensino Fundamental e as
especificidades da criança. In MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/UFRN. CONTINNU –
Programa de Formação Continuada do Professor para a Educação Básica – Curso de
aperfeiçoamento Infância e Ensino Fundamental de nove anos. Módulo III – Linguagem.
Alfabetização e Letramento. Natal: UFRN/CONTINNUM, 2011.
43

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo:
Cortez, 2004/2005.
Plano Nacional de Educação. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf_legislacao/tecnico/legisla_tecnico_lei10172.pdf.
Acessado em: 15/11/2015.
SANTOMÉ, Jurgo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado.
Trad. Cláudia Schilling. Porto Alegre: Editora Arte s Médcas Sul Ltda., 1998.

TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional. 3. ed. Trad. Francisco Pereira.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

VEIGA, Ilma. P.A. Projeto Político Pedagógico da Escola: Uma Construção Possível.
Campinas, SP: Papirus, 1995.

VASCONCELLOS, Celso dos S: Planejamento Projeto de Ensino-Aprendizagem e


Projeto Político-Pedagógico. Ladermos Libertad-1. 7º Ed. São Paulo, 2000.

VYGOTSKY, Lev Semyonovitch. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1998.

Você também pode gostar