Você está na página 1de 3

DIPLOMACIA APLICADO

PORTUGUÊS

Texto I: Texto II: Para Viver Um Grande Amor

1 Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um
grande amor.
2 Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem
nenhum valor.
3 Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há
que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande
amor.
4 Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção com o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo
para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está
sempre preparado pra chatear o grande amor.
5 Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver
um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade
que traz um só amor.
6 Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande
amor.
7 Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de
remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado
amor.
8 É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer
ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho
com torresmo conta ponto a favor...
9 Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do
amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu
grande amor?
10 Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não
morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a
amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar
dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
11 É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não
quer nada com o amor.
12 Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um
grande amor.
(MORAES, Vinicius de. Para Viver Um Grande Amor, José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.)

Questão 1
Considerando a construção do texto e suas inferências, julgue os itens a seguir.

I. Pode-se afirmar que o texto é uma prosa poética, pois, embora esteja estruturado em parágrafos, foram empregados recursos
fônicos próprios da poesia, como a anáfora, repetição de expressão ao longo do texto, e as rimas.
II. Embora escrito em época posterior, o texto exemplifica alguns dos ideais modernistas da fase heroica, como o uso acadêmico
da língua ao lado do uso popular, a introdução de vocábulos estrangeiros — como queriam os antropofágicos — e a mistura
entre os gêneros textuais.
III. É possível perceber, na construção do texto, a sobreposição do autor ao enunciador, visto que há várias referências a
aspectos conhecidos do próprio Vinícius de Moraes, como nos trechos “é preciso também ter muito peito — peito de
remador” (7º parágrafo), “saber ganhar dinheiro com poesia” (10º parágrafo) e “É preciso saber tomar uísque” (11º
parágrafo).
IV. No quinto parágrafo, a palavra “indizível”, em “dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.”, faz alusão a
certo misticismo, visto que foi empregada com o sentido de algo que não pode ser dito.
DIPLOMACIA APLICADO
Questão 2
Acerca dos aspectos linguísticos e gramaticais, julgue os itens seguintes:

I. A mudança de posição do vocábulo “preciso” em relação ao verbo, nos trechos “preciso é muita concentração e muito
siso” (1º parágrafo) e “é preciso atenção com o ‘velho amigo’” (4º parágrafo), acarreta alteração de função sintática.
II. No trecho “não basta ser apenas bom sujeito” (7º parágrafo), o verbo bastar foi empregado de forma intransitiva.
III. No trecho “Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs —
comidinhas para depois do amor. ” (9º parágrafo), podem ser verificadas duas formas de aposto para o mesmo núcleo
substantivo.
IV. O emprego das aspas que isolam o termo “velho amigo”, na oração “é preciso atenção com o ‘velho amigo’” (4º
parágrafo), é justificado a fim de imprimir ao termo um sentido particular, em especial, o de desconfiança.

Questão 3
Considerando os aspectos gramaticais e linguísticos do texto, julgue os itens abaixo:

I. Pode-se afirmar que o texto apresenta características do tipo injuntivo e que, embora os recursos poéticos tenham sido muito
utilizados, a função da linguagem predominante é a emotiva.
II. A reescrita do período “Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com
uma espada — para viver um grande amor.” (3º parágrafo) como Há de se fazer do corpo uma morada onde se clausure
a mulher amada e se postar de fora com uma espada, para viver um grande amor., estaria gramaticalmente correta e não
alteraria o sentido original.
III. A palavra “vanidade”, em “Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade” (5º parágrafo),
poderia ser substituída por vaidade, visto que podem ser empregadas como sinônimas.
IV. Em “É preciso saber tomar uísque” (11º parágrafo), a forma nominal do infinitivo indica a locução verbal “saber tomar”
como substantivo, portanto só há uma oração no trecho destacado.

Questão 4
Assinale a única afirmativa correta acerca do último período do texto, “Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura
e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.”

a. O período é iniciado por um marcador discursivo, e não por uma conjunção coordenativa adversativa.
b. Na frase, foram empregadas duas figuras de linguagem, respectivamente, antítese e prosopopeia.
c. Não haveria qualquer alteração gramatical ou semântica, caso o travessão fosse substituído por vírgula.
d. O vocábulo “desvairada” é formado por derivação sufixal.
e. O vocábulo “se”, presente em “não se souber achar”, deve ser classificado como parte integrante do verbo, sem função
sintática.
DIPLOMACIA APLICADO
GABARITO:

1. CCCE
2. ECEC
3. CECE
4. D

Você também pode gostar