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GEOMETRIA DIFERENCIAL

UMA INTRODUÇÃO FUNDAMENTAL

(Versão provisória da 3a Edição)

Armando Machado

UNIVERSIDADE DE LISBOA
Faculdade de Ciências
Departamento de Matemática
2009
ii

Classificação A.M.S. (1991): 53-01, 57-01


ISBN: 972-8394-08-X
ÍNDICE

Introdução v
Capítulo I. Revisão de Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
§1. Algumas propriedades dos espaços vectoriais de dimensão finita 1
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 9
§3. Os produtos internos de Hilbert-Schmidt 24
§4. Orientação de espaços vectoriais reais 31
§5. Cálculo Diferencial em espaços vectoriais de dimensão finita 42
§6. Aplicações de classe G 5 52
§7. Derivadas parciais 62
§8. Teoremas da função implícita e da função inversa 66
§9. Integral de funções vectoriais de variável real 72
§10. Diferenciabilidade do integral paramétrico 74
Exercícios 77
Capítulo II. Vectores Tangentes e Variedades
§1. Vectores tangentes a um conjunto num ponto 89
§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos 92
§3. Partições da unidade 102
§4. Variedades sem bordo 111
§5. Alguns exemplos importantes de variedade 136
§6. Variedades com bordo 143
§7. Teorema de Sard 163
Exercícios 176
Capítulo III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
§1. Fibrados vectoriais 193
§2. Orientação de fibrados vectoriais reais 204
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 210
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 227
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 241
§6. Tensor de curvatura 252
§7. Invariância por isometria. Teorema Egrégio 261
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 267
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 295
Exercícios 316
Capítulo IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades
§1. Solução geral e fluxo de um campo vectorial 355
§2. Continuidade da solução geral 360
§3. Propriedades da solução geral quando o domínio é aberto 364
§4. Equações diferenciais dependentes do tempo 368
iv Índice

§5. Equações diferenciais lineares 371


§6. Diferenciabilidade da solução geral 376
§7. Equações diferenciais em variedades 379
§8. Equações diferenciais totais. Teorema de Frobenius 383
§9. Versão geométrica local do teorema de Frobenius 393
Exercícios 399
Capítulo V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais
§1. Transporte paralelo 413
§2. Consequências da nulidade do tensor de curvatura 416
§3. Geodésicas e aplicação exponencial 419
Exercícios 428
Capítulo VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas
§1. Estruturas diferenciáveis e aplicações suaves 443
§2. Variedades abstractas 457
§3. A colagem de variedades: O teorema de Whitney 469
§4. Variedades quociente 481
§5. Subvariedades imersas e teorema de Frobenius global 489
§6. Espaço vectorial tangente 512
Exercícios 539
Índice de Símbolos 553
Índice Remissivo 559
Bibliografia 565
INTRODUÇÃO

Este texto teve a sua origem num curso de Geometria Diferencial dado pelo
autor aos estudantes do terceiro ano das licenciaturas em Matemática e Ensino
da Matemática da Faculdade de Ciências de Lisboa e desenvolve duas versões
anteriores, a primeira publicada em 1985 na colecção Textos e Notas do CMAF
e a segunda [14] editada conjuntamente em 1991 pela Editora Cosmos e pela
Fundação da Universidade de Lisboa. Em quase todos os pontos o texto vai
bastante mais longe do que tem sido possível estudar no curso e vários capítulos
não foram sequer aflorados neste.
De um modo geral procurou-se realizar um texto ao mesmo tempo intro-
dutório e fundamental que, mantendo-se a um nível tanto quanto possível ele-
mentar, constituísse uma exposição coerente e razoavelmente completa dos
conceitos e técnicas mais frequentemente utilizados no estudo da geometria das
variedades diferenciáveis. O carácter introdutório do texto não nos inibiu de
apresentar demonstrações detalhadas de todos os resultados expostos, mesmo
quando estas são tecnicamente mais sofisticadas. Procurou-se assim garantir que
o conteúdo fosse tão auto-suficiente quanto possível de modo a que o trabalho
pudesse também servir como texto de referência. Essa mesma preocupação
levou-nos a incluir o tratamento de vários pontos que saiem do âmbito de
Geometria Diferencial, entre os quais se incluem revisões de certos pontos de
Álgebra Linear e das noções básicas do Cálculo Diferencial, em ambos os casos
no quadro dos espaços vectoriais de dimensão finita e privilegiando os
enunciados que não dependem da fixação de uma base, e o exame sistemático
dos resultados sobre equações diferenciais ordinárias, que tivémos necessidade
de utilizar, incluindo os resultados globais que envolvem a dependência das
condições iniciais e de eventuais parâmetros. Pressupomos, de qualquer modo,
que o leitor, para além de uma certa destreza matemática, possui conhecimentos
básicos de Cálculo Diferencial e Integral, Álgebra Linear e Topologia Geral.
Ao longo da maior parte do trabalho as variedades são estudadas sob o ponto
de vista concreto, isto é, uma variedade será um subconjunto de um espaço
vectorial ambiente, de dimensão finita, e o espaço vectorial tangente em cada
ponto aparece então como subespaço vectorial desse espaço vectorial ambiente.
Este ponto de vista, seguido também, por exemplo, nos livros de Milnor [19] e
de Guillemin e Pollack [10], permite trabalhar desde o início num quadro
geométrico intuitivo em que se podem estudar rapidamente resultados
interessantes e não triviais. A introdução precoce das variedades abstractas pode
ter, na nossa opinião, um carácter desmotivador, ao atrasar o aparecimento dos
resultados geométricos importantes, por implicar a construção prévia de um
imponente edifício abstracto, constituído na maioria por definições e resultados
triviais, embora essenciais. Se é de aceitação pacífica a importância pedagógica
vi Introdução

de estudar os rudimentos da teoria das variedades concretas antes da introdução


das variedades abstractas, já não há unanimidade quanto ao momento em que
esta última deve ser feita. Neste texto as variedades abstractas são estudadas
apenas no último capítulo e organizamos o seu estudo de forma a tirar o maior
partido possível dos resultados já estudados nos capítulos anteriores, incluindo
aqueles com carácter global. Esse objectivo, assim como o desejo de diminuir o
formalismo inicial, levou-nos a optar por definir a noção de variedade abstracta à
custa duma classe de equivalência de cartas globais (com contradomínios, em
geral, não abertos) em vez duma classe de equivalência de atlas constituídos por
cartas locais, como é mais habitual. Esta opção teve naturalmente um preço a
pagar, para podermos dispor da possibilidade de colar estruturas de variedade
em subconjuntos abertos, e, em particular, de fazer a ponte com as variedades
definidas por cartas locais, tivémos que estabelecer um resultado não elementar,
que se pode considerar essencialmente o teorema do mergulho de Whitney,
olhado pelo avesso.
Uma diferença, em relação ao conteúdo usual de livros com o âmbito deste,
está na definição e utilização sistemática do conceito de fibrado vectorial,
conceito que só costuma ser introduzido a um nível mais avançado. Natural-
mente, em consonância com a opção de trabalhar no quadro das variedades
concretas, também estudamos os fibrados vectoriais enquanto subfibrados vecto-
riais de um fibrado vectorial constante. Este estudo parece-nos ser justificado
pela simplicidade e naturalidade do métodos utilizados e pela riqueza das suas
aplicações. Para além, evidentemente, do fibrado vectorial tangente a uma varie-
dade, teremos ocasião de utilizar, por exemplo, o fibrado osculador de uma
curva, que ajuda a compreender o significado da torção, ou o fibrado vectorial
normal de uma variedade, importante para a construção de vizinhaças tubulares,
assim como os fibrados vectoriais obtidos como imagens recíprocas.
Passamos agora a apresentar algumas observações mais concretas sobre o
conteúdo de cada capítulo.
O primeiro capítulo tem como objectivo a revisão de algumas propriedades
básicas dos espaços vectoriais de dimensão finita, reais e complexos, e dos
conceitos e resultados do Cálculo Diferencial que são usualmente estudados num
curso de Análise Real. No que diz respeito à Álgebra Linear, o objectivo
principal é o de fixar notações e relembrar enunciados que serão utilizados mais
tarde; supomos naturalmente que o leitor está habituado a trabalhar com espaços
vectoriais, aplicações lineares, matrizes, etc… Para além disso, serão referidos
com um pouco mais de detalhe alguns pontos que o leitor porventura ainda não
encontrou, como as relações entre espaços vectoriais reais e complexos, através
da noção de estrutura complexa dum espaço vectorial real, os produtos internos
de Hilbert-Schmidt nos espaços de aplicações lineares, a orientação de espaços
vectoriais reais ou a possibilidade de representar uma aplicação linear por uma
matriz de aplicações lineares, quando se está em presença de decomposições em
soma directa do domínio e do codomínio. A exposição dos assuntos de Álgebra
Linear acabou por resultar um pouco longa pelo que será porventura mais útil ao
leitor saltá-la numa primeira leitura e voltar atrás quando tiver necessidade. No
que diz respeito ao Cálculo Diferencial, a palavra revisão é aqui utilizada no
Introdução vii

sentido generalizado na medida em que pretendemos trabalhar, no quadro dos


espaços vectoriais de dimensão finita, com enunciados que não dependam da
fixação de um sistema de coordenadas (é o que se faz usualmente no quadro
mais geral do Cálculo Diferencial em espaços normados de dimensão infinita —
ver, por exemplo, os livros de Dieudonné [6] e Lang [13] ou o nosso trabalho
[15]). Muitas demonstrações mais simples são omitidas, esperando-se que o
leitor, que esteja habituado a trabalhar apenas no quadro dos espaços cartesianos
‘8 , adapte facilmente as que conhece nesse contexto. A opção aqui tomada é
essencial para se poder trabalhar naturalmente com os espaços de aplicações
lineares e permite olhar de um modo unificado o que se passa no estudo das
variedades, onde as derivadas das aplicações lineares estão definidas em espaços
vectoriais tangentes que não possuem bases naturalmente fixadas. Supomos de
qualquer modo, aqui como no resto do curso, que o leitor possui os
conhecimentos elementares de Topologia Geral e de espaços vectoriais
normados e que conhece, em particular, as propriedades especiais dos espaços
vectoriais normados de dimensão finita (cf., por exemplo, [15]). Apesar de,
como referimos, a revisão do Cálculo Diferencial se enquadrar no que é
usualmente estudado no quadro da Análise Real, não deixamos de referir o
conceito de diferenciabilidade no sentido complexo, no caso em que os espaços
vectoriais em questão são complexos. Essa referência limita-se no entanto às
generalizações triviais do que se passa no caso real e não abordamos as
propriedades especiais que se estudam no quadro da Análise Complexa.
No segundo capítulo inicia-se o estudo das variedades num espaço vectorial
ambiente de dimensão finita. Começa-se por introduzir as noções de cone
tangente e cone tangente alargado de um subconjunto arbitrário em cada um dos
seus pontos, a segunda das quais na base da definição de espaço vectorial
tangente que utilizamos. Estas noções, embora muito antigas (foram introduzidas
no livro de Bouligand [3]) não são utilizadas normalmente em textos da natureza
deste, mas parecem-nos úteis, tanto pelo seu evidente conteúdo geométrico como
por nos permitirem trabalhar por vezes com conjuntos que não sabemos a priori
serem variedades. Estudamos em seguida a generalização da noção de aplicação
de classe G 5 ao caso em que o domínio não é obrigatoriamente um conjunto
aberto, a partir da existência de prolongamentos locais de classe G 5 ß assim
como as derivadas de tais aplicações, que vão ser aplicações lineares definidas
nos espaços vectoriais tangentes. São estudados os teoremas de partição da
unidade, que se aplicam em muitas situações para passar de resultados de
natureza local para outros com carácter global e que são utilizados na prova de
que toda a aplicação de classe G 5 admite um prolongamento de classe G 5 a um
aberto contendo o domínio, e não só prolongamentos locais de classe G 5 . Estes
teoremas são também utilizados para estabelecer resultados de aproximação de
funções contínuas por funções de classe G _ . Definem-se então as variedades
sem bordo, como sendo os subconjuntos que são localmente difeomorfos a
abertos de espaços vectoriais de dimensão finita, e estudam-se, no quadro destas,
algumas consequências importantes do teorema da função inversa, como os
resultados que caracterizam localmente as imersões e as submersões, os que
viii Introdução

permitem construir as variedades como imagens recíprocas, mediante condições


de transversalidade convenientes, e, em particular, os que estudam a intersecção
de duas subvariedades. Para além dos resultados que permitem construir
variedades como imagens recíprocas, é estabelecido também um resultado que
permite identificar variedades associadas a imagens directas de aplicações
suaves, resultado que é aplicado, em particular, na construção das variedades de
Grassmann, encaradas como conjuntos de projecções ortogonais sobre subespa-
ços vectoriais. Generalizam-se em seguida as definições e alguns dos resultados
estudados, de modo a englobar mais geralmente o caso das variedades com
bordo e, eventualmente, com cantos. O capítulo termina com a demonstração do
teorema de Sard, numa versão que não utiliza o conceito de medida, resultado
que é essencial em várias aplicações geométricas e que é, em particular, utilizado
na demonstração do teorema de Whitney, abordada no último capítulo.
O capítulo III constitui a parte central do curso. São introduzidos os fibrados
vectoriais, como famílias de subespaços vectoriais de um certo espaço vectorial
(as fibras) indexadas por um subconjunto de outro espaço vectorial (a base),
famílias para as quais se deve verificar uma condição de suavidade conveniente.
Essa condição de suavidade é apresentada através da exigência de existência de
campos de referenciais locais e prova-se que, no caso em que o espaço vectorial
ambiente das fibras está munido de um produto interno, ela é equivalente à
suavidade da aplicação que a cada ponto da base associa a projecção ortogonal
sobre a respectiva fibra. A derivada desta última aplicação permite-nos definir a
segunda forma fundamental de um fibrado vectorial, que vai ser uma aplicação
bilinear, definida no produto cartesiano do espaço vectorial tangente à base pela
fibra e com valores no complementar ortogonal desta. Esta segunda forma
fundamental, que caracteriza o modo como as fibras variam de ponto para ponto,
é utilizada, por um lado, no estudo da geometria do espaço total do fibrado
vectorial, aplicado, por exemplo, na construção de vizinhanças tubulares, e, por
outro lado, na abordagem da teoria clássica das curvas e das hipersuperfícies
num espaço euclidiano, abordagem que inclui o exame da curvatura e da torção
das primeiras e, no contexto das segundas, o estudo da aplicação linear de
Weingarten (operador de forma, na terminologia de O'Neill [22]), tal como o das
curvaturas e direcções principais e o dos pontos focais. É também no quadro
mais geral dos fibrados vectoriais que é estudada a questão da orientabilidade
das variedades. Em relação estreita com o estudo da segunda forma fundamental,
aparece-nos a noção de derivada covariante de uma secção de um fibrado vec-
torial com as fibras contidas num espaço euclidiano, derivada essa que é introdu-
zida como uma modificação conveniente da derivada usual, de modo a obter
valores na fibra correspondente. As secções paralelas, isto é, aquelas cuja deri-
vada covariante é identicamente nula, são apresentadas como a generalização
natural das secções constantes. É definido o tensor de curvatura de Riemann,
cuja não nulidade é uma obstrução à existência de secções paralelas de um
fibrado vectorial, e é estabelecida a fórmula de Gauss, que relaciona este tensor
de curvatura com a segunda forma fundamental. Prova-se a propriedade
fundamental de invariância por isometria do tensor de curvatura do fibrado
tangente duma variedade, resultado que é aplicado na demonstração do Teorema
Introdução ix

Egrégio de Gauss. São abordados os morfismos entre fibrados vectoriais e as


respectivas derivadas covariantes e, como aplicação, é feito um estudo elementar
das estruturas quase complexas numa variedade e das variedades holomorfas.
O capítulo IV, na sua maior parte de natureza mais analítica do que
geométrica, justifica-se pela importância das suas aplicações à Geometria.
Trata-se de estabelecer os resultados fundamentais sobre as soluções de uma
equação diferencial ordinária com condições iniciais dadas. Inspirando-nos nos
métodos utilizados no livro de Pontriaguine [23], obtemos resultados globais
sobre o modo como as soluções dependem da variável independente, das
condições iniciais e de eventuais parâmetros. As equações diferenciais
paramétricas são aplicadas, em particular, para demonstrar, pelo método
utilizado no livro de Dieudonné [6], o teorema de Frobenius sobre as soluções de
equações diferenciais totais, equações diferenciais em que a variável
independente real é substituída por uma variável multidimensional. Este último
teorema é utilizado para obter a chamada versão geométrica do teorema de
Frobenius, sobre as variedades integrais de um subfibrado vectorial do fibrado
tangente, neste capítulo apenas no seu aspecto local.
No quinto capítulo examinamos algumas aplicações geométricas das equa-
ções diferenciais ordinárias, estudadas no capítulo precedente. O transporte para-
lelo, no quadro dos fibrados vectoriais cuja base é um intervalo de ‘, aparece
como um corolário da teoria das equações diferenciais lineares, sendo aplicado
para mostrar que, quando a base dum fibrado vectorial é uma variedade conexa,
não pode existir mais que uma secção paralela com um valor dado numa das
fibras. A existência local de uma tal secção, no caso em que o tensor de curva-
tura é identicamente nulo, aparece como uma consequência do teorema de Fro-
benius. As geodésicas duma variedade contida num espaço euclidiano são apres-
entadas do ponto de vista das trajectórias de velocidade paralela, o que conduz
ao seu estudo no quadro duma equação diferencial sobre o espaço total do fibra-
do vectorial tangente à variedade. Os resultados estudados sobre a dependência
das soluções das equações diferenciais em relação aos valores iniciais são então
aplicados ao estudo das propriedades da aplicação exponencial.
No último capítulo abordamos finalmente o estudo das variedades abstractas,
procurando, sempre que possível, tirar partido do que foi estudado nos capítulos
anteriores. Começamos por examinar uma noção um pouco mais geral que a de
variedade abstracta, a de estrutura diferenciável, definida como uma classe de
equivalência de cartas globais cujos contradomínios são subconjuntos arbitrários
de espaços vectoriais de dimensão finita. Esta noção é uma versão simplificada
da que foi introduzida por Aronszajn [1], sob o nome de “espaço subcartesiano”,
e desenvolvida posteriormente por Marshall [17]; ela abarca ao mesmo tempo as
variedades, eventualmente com bordo, e os subconjuntos arbitrários de espaços
vectoriais de dimensão finita. As noções e resultados básicos, envolvendo as
aplicações suaves e os difeomorfismos, são estudados no quadro geral das
estruturas diferenciáveis e as variedades são definidas em seguida como
estruturas diferenciáveis localmente difeomorfas a abertos de ‘8 , ou de sectores
de ‘8 , ou, equivalentemente, como estruturas diferenciáveis cujas cartas têm
como contradomínio variedades concretas. Seguindo a via de Guillemin e
x Introdução

Pollack [10], o teorema de Sard é utilizado para demonstrar a versão do teorema


de Whitney que garante que, para uma variedade de dimensão 8, existe sempre
uma carta global para um subconjunto de um espaço vectorial de dimensão
#8  ". Seguidamente, utilizando uma ideia atribuida a Spanier e baseando-nos
num lema topológico que encontrámos no livro de Greub Halperin e Vanstone
[9], demonstramos o teorema de existência e unicidade da colagem de estruturas
de variedade dadas sobre os subconjuntos de uma cobertura aberta e verificando
uma condição natural de compatibilidade, teorema esse que pode ser consi-
derado como o teorema do mergulho de Whitney examinado de outro ponto de
vista. O resultado que acabamos de referir é utilizado para referir o modo de
fazer a ponte com a definição mais usual de variedade, através de atlas consti-
tuídos por cartas locais. Ele é também utilizado, mais adiante, no estudo das
variedades quociente e no exame da versão global da forma geométrica do
teorema de Frobenius.
Uma noção que costuma ser introduzida desde cedo na teoria das variedades
abstractas, e à qual nós damos uma importância claramente inferior no nosso
texto é a de espaço vectorial tangente a uma variedade abstracta num dos seus
pontos e o correspondente conceito global de fibrado tangente. Do nosso ponto
de vista, a importância que esta noção apresenta nas exposições usuais está
ligada principalmente à necessidade de trabalhar globalmente numa estrutura que
foi definida por cartas locais. A partir do momento em que se optou por definir
as estruturas diferenciáveis através de cartas globais, todas os contextos em que
os vectores tangentes às variedades abstractas são utilizados podem ser
adaptados de modo a utilizar os vectores tangentes ao contradomínio de uma
carta global. É este o ponto de vista que seguimos quando definimos as imersões
e as submersões entre variedades abstractas sem passar pela derivada como
aplicação linear entre os espaços vectoriais tangentes abstractos, e, em particular,
quando tratamos o problema das variedades quociente e quando nos limitamos a
examinar a versão geométrica global do teorema de Frobenius no contexto dos
subfibrados vectoriais do fibrado vectorial tangente de uma variedade concreta.
Neste último caso, apesar de as folhas associadas serem variedades abstractas, os
respectivos espaços tangentes são definidos como subespaços vectoriais do
espaço vectorial tangente à variedade concreta (caso particular da situação mais
geral em que definimos os espaços tangentes a uma aplicação suave, cujo
domínio é uma variedade abstracta e cujo codomínio é uma variedade concreta,
como subespaços vectoriais dos espaços vectoriais tangentes a esta última). Para
além das adaptações que acabamos de referir, o tratamento que apresentamos das
subvariedades imersas e do teorema de Frobenius inspirou-se fortemente no que
se encontra no livro de Warner [26].
Apesar de não atribuirmos aos vectores tangentes a uma variedade abstracta
o mesmo relevo que estes têm usualmente, não deixamos de nos referir a eles, na
última secção do livro, uma vez que é importante que o leitor esteja alertado para
o papel que desempenham na literatura. Há vários métodos diferentes para
definir os espaços vectoriais tangentes no quadro das variedades abstractas, cada
um com as suas vantagens e desvantagens: Para alguns autores os vectores
tangentes num ponto aparecem como classes de equivalência de caminhos
Introdução xi

passando por esse ponto, para outros como operadores diferenciais, para outros
ainda como classes de equivalência de pares constituídos por uma carta para um
aberto de ‘8 e um vector de ‘8 Þ Cada um desses métodos tem as suas vantagens
e desvantagens, entre estas últimas o facto de aparecerem amiúde isomorfismos
canónicos, nem sempre triviais, onde esperaríamos ter igualdades. À partida, em
vez de tomarmos partido por um desses métodos, preferimos definir quando é
que um espaço vectorial pode ser considerado como espaço tangente, deixando
assim um grau de liberdade ao utilizador que poderá, em cada caso, fazer a
escolha que se revele mais cómoda e, nalgumas situações, subordinar a escolha
de um espaço vectorial tangente a outras feitas anteriormente, de modo a
conseguir que certos isomorfismos sejam efectivamente igualdades. Examina-
mos em seguida, uma das concretizações da noção de espaço vectorial tangente
mais utilizada, aquela para a qual os vectores tangentes são definidos como
operadores diferenciais.
No fim de cada capítulo é apresentada uma lista de exercícios, nalguns casos
destinados a testar a compreensão do texto, noutros apresentando resultados que
complementam os estudados antes.
Na bibliografia, apresentada no fim do volume, encontram-se, além dos
trabalhos citados no texto, outros livros em que o leitor interessado poderá apro-
fundar, ou estudar doutro ponto de vista, os assuntos que foram aqui abordados.
De entre eles recomendamos especialmente os dois volumes do livro de Spivak
[25], o livro de Gray [8], este último com ênfase no estudo, com a ajuda do
computador, das curvas e superfícies em ‘$ e repleto de figuras elucidativas,
assim como os livros de Manfredo do Carmo [4,5].
Gostaríamos de terminar com uma palavra de agradecimento a todos aqueles
que contribuíram para melhorar a versão final do texto. A estudante Élia Ferreira
coligiu pacientemente dezenas de erros de dactilografia que figuravam numa
versão preliminar posta à disposição dos alunos. Os colegas Cecília Ferreira e
Luís Trabucho leram cuidadosamente partes do manuscrito e, para além da loca-
lização de outros erros de dactilografia, contribuíram com as suas observações
para a melhoria de vários pontos da exposição. Apraz-nos também registar o
empenho generoso e competente que este último tem dedicado à edição da
colecção em que este trabalho se insere, contribuíndo assim, de modo decisivo,
para a qualidade desta.
CAPÍTULO I
Revisão de Álgebra Linear e
Cálculo Diferencial

§1. Algumas propriedades dos espaços vectoriais


de dimensão finita.

I.1.1 No que se segue todos os espaços vectoriais serão reais ou complexos e,


quando não nos referirmos ao corpo dos escalares, estará subentendido que
este é o corpo ‘ dos números reais. É claro que todo o espaço vectorial
complexo é, de modo trivial, também um espaço vectorial real (se está
definido o produto de um complexo por um vector, está também definido, em
particular, o produto de um número real por um vector). Se um espaço
vectorial complexo I admite uma base, finita ou infinita, ÐB4 Ñ4−N , é imediato
constatar-se que I , enquanto espaço vectorial real, admite uma base formada
pelos vectores B4 e 3B4 ; em particular, se I , enquanto espaço vectorial
complexo, tiver dimensão finita 8, então I , enquanto espaço vectorial real,
tem dimensão #8. Quando estivermos numa situação em que o corpo dos
escalares pode ser indistintamente ‘ ou ‚, usaremos frequentemente o
símbolo Š para designar esse corpo dos escalares.
I.1.2 O que dissémos atrás pode ser precisado: Se I é um espaço vectorial
complexo e ÐB4 Ñ4−N é uma família de vectores de I , então ela é linearmente
independente (respectivamente é geradora) se, e só se, a família formada
pelos vectores B4 e 3B4 é linearmente independente (respectivamente gera-
dora) para a estrutura de espaço vectorial real de I .
I.1.3 Se I e J são espaços vectoriais, reais ou complexos, vamos notar PÐIà J Ñ
o espaço vectorial, real ou complexo respectivamente, cujos elementos são as
aplicações lineares 0À I Ä J . No caso em que I e J têm dimensões finitas
7 e 8, PÐIà J Ñ tem dimensão finita 78. Mais precisamente, se B" ß á ß B7 é
uma base de I e C" ß á ß C8 é uma base de J , PÐIà J Ñ vai admitir uma base
formada pelas aplicações lineares 05ß4 , com " Ÿ 4 Ÿ 7 e " Ÿ 5 Ÿ 8, onde
05ß4 está definida pela condição de aplicar B4 em C5 e os restantes vectores da
base de I em ! (lembrar que uma aplicação linear fica univocamente
determinada se dermos de modo arbitrário as imagens dos vectores de uma
base). De facto, se 0 − PÐIà J Ñ, tem-se 0 œ ! +5ß4 05ß4 , onde as componen-

tes +5ß4 estão definidas pela condição de se ter 0ÐB4 Ñ œ ! +5ß4 C5 (ambos os
5ß4

5
2 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

membros são aplicações lineares que dão o mesmo resultado quando


aplicados a cada um dos vectores da base), por outras palavras, cada +5ß4 é o
elemento da linha 5 e da coluna 4 da matriz de 0 nas bases consideradas.
Note-se que, no caso em que I é um espaço vectorial real e J é um espaço
vectorial complexo, PÐIà J Ñ designa naturalmente o espaço das aplicações
lineares de I para J , quando se considera J como espaço vectorial real, mas
PÐIà J Ñ tem uma estrutura natural de espaço vectorial complexo, subespaço
do espaço vectorial complexo de todas as aplicações de I para J . As
observações anteriores sobre bases e dimensões estendem-se a este caso; em
particular, no caso em que I tem dimensão 7 e J , enquanto espaço
vectorial complexo, tem dimensão 8, PÐIà J Ñ, enquanto espaço vectorial
complexo, tem dimensão 78.
No caso em que I e J são espaços vectoriais complexos, eles podem ser
também considerados como espaços vectoriais reais mas o significado a dar a
PÐIà J Ñ não é o mesmo nos dois casos. Por esse motivo, e para evitar
confusões, usa-se por vezes as notações P‚ ÐIà J Ñ e P‘ ÐIà J Ñ para os
espaços de aplicações lineares, relativamente às estruturas complexas e reais,
respectivamente (costumamos referir os elementos destes espaços como apli-
cações lineares complexas e aplicações lineares reais, respectivamente).
Repare-se que P‚ ÐIà J Ñ é um subespaço vectorial complexo de P‘ ÐIà J Ñ.
I.1.4 Mais geralmente, dados espaços vectoriais, reais ou complexos, I" ß á ß I:
e J , notamos PÐI" ß á ß I: à J Ñ o espaço vectorial, real ou complexo
respectivamente, cujos elementos são as aplicações multilineares
0À I" ‚ â ‚ I: Ä J , isto é, as aplicações que, quando se fixam :  " das
variáveis, são lineares como função da restante. No caso particular em que os
espaços I" ß á ß I: são todos iguais a um mesmo espaço I , usamos também
a notação P: ÐIà J Ñ, em vez de PÐI" ß á ß I: à J Ñ. É por vezes cómodo
admitir o caso particular em que : œ !, caso em que consideramos
P! ÐIà J Ñ œ PÐ à J Ñ como sinónimo de J .1 Como anteriormente, no caso em
que os espaços vectoriais I4 são reais e J é um espaço vectorial complexo,
PÐI" ß á ß I: à J Ñ tem uma estrutura de espaço vectorial complexo e, quando
todos os espaços vectoriais são complexos e queremos distinguir a situação
em que os consideramos como tal daquela em que olhamos para eles como
espaços vectoriais reais, usamos o índice ‚ ou ‘ para indicar o contexto em
que nos colocamos, obtendo-se assim um subespaço vectorial complexo
P‚ ÐI" ß á ß I: à J Ñ de P‘ ÐI" ß á ß I: à J Ñ.
I.1.5 Notemos Š um dos corpos ‘ ou ‚ e seja J um espaço vectorial sobre Š.
Tem então lugar um isomorfismo

1Trata-se de uma convenção que poderia ser facilmente prevista por quem possua um
razoável treino lógico: I ! é um conjunto com um único elemento ‡ (a única aplicação
cujo domínio é o conjunto vazio) e todas as aplicações de I ! em J são multilineares,
pelo que tudo o que temos que fazer é identificar cada uma dessas aplicações de I ! em J
com a imagem de ‡ por essa aplicação.
§1. Algumas propriedades dos espaços vectoriais… 3

EÀ PЊà J Ñ Ä J ,
definido por EÐ0Ñ œ 0Ð"Ñ; o isomorfismo inverso associa a cada C − J a
aplicação linear de Š em J definida por + È + C . Mais geralmente, para
cada :   !, vai ter lugar um isomorfismo
EÀ P: Њà J Ñ Ä J ,
definido por
EÐ0Ñ œ 0Ð"ß á ß "Ñ,
e o isomorfismo inverso E" À J Ä P: Њà J Ñ associa a cada C − J a aplica-
ção multilinear de Š: em J definida por
E" ÐCÑÐ+" ß á ß +: Ñ œ +" â+: C.

É claro que, no caso em que : œ !, o isomorfismo E não é mais do que a


aplicação identidade.
I.1.6 Sejam I , I w e J espaços vectoriais, reais ou complexos e 0À I ‚ I w Ä J
uma aplicação bilinear. Para cada B − I , tem então lugar uma aplicação
linear s0ÐBÑÀ I w Ä J , definida por s0ÐBÑÐBw Ñ œ 0ÐBß Bw Ñ. A aplicação
s0À I Ä PÐI w à J Ñ, assim definida, é linear e podemos então considerar uma
aplicação linear
E" À PÐIß I w à J Ñ Ä PÐIà PÐI w à J ÑÑ,

definida por E" Ð0Ñ œ s0, aplicação linear essa que se constata imediatamente
ser mesmo um isomorfismo.
Mais geralmente, dados os espaços vectoriais, reais ou complexos,
I" ß á ß I: e J , vai ter lugar, para cada ! Ÿ 4 Ÿ : , um isomorfismo
E4 À PÐI" ß á ß I: à J Ñ Ä PÐI" ß á ß I4 à PÐI4" ß á ß I: à J ÑÑ,

definido por
E4 Ð0ÑÐB" ß á ß B4 ÑÐB4" ß á ß B: Ñ œ 0ÐB" ß á ß B4 ß B4" ß á ß B: ÑÞ

I.1.7 Usando os isomorfismos E4 , atrás definidos, verifica-se imediatamente que,


se os espaços vectoriais I" ß á ß I: têm dimensões finitas 7" ß á ß 7: e se o
espaço vectorial J tem dimensão finita 8, então PÐI" ß á ß I: à J Ñ tem
dimensão finita 7" ‚ â ‚ 7: ‚ 8.
I.1.8 Se I é um espaço vectorial de dimensão finita, então existe em I pelo
menos uma norma e duas normas quaisquer são equivalentes, em particular
definem a mesma topologia e têm os mesmos conjuntos limitados. Quando
considerarmos I como espaço topológico estará subentendido que estamos a
considerar a topologia associada a qualquer das suas normas. Um conjunto
4 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

E § I é compacto se, e só se, é fechado e limitado. O espaço I , com


qualquer das suas normas, é completo e, em consequência, qualquer
subespaço vectorial de I é fechado.
I.1.9 Se I e J são espaços vectoriais de dimensão finita, reais ou complexos,
toda a aplicação linear 0À I Ä J é contínua; por outras palavras, se conside-
rarmos normas em I e J , existe Q   ! tal que, para cada B − I ,
m0ÐBÑm Ÿ Q mBm. Ao menor dos números Q   ! nestas condições dá-se o
nome de norma de 0, notada m0m. Fica assim definida uma norma no espaço
vectorial PÐIà J Ñ.
I.1.10 Mais geralmente, se I" ß á ß I: e J são espaços vectoriais de dimensão
finita, reais ou complexos, toda a aplicação multilinear
0À I" ‚ â ‚ I: Ä J é contínua, ou seja, se considerarmos normas nestes
espaços vectoriais, existe Q   ! tal que, quaisquer que sejam
B" − I" ß á ß B: − I: , se tenha
m0ÐB" ß á ß B: Ñm Ÿ Q mB" mâmB: m.

Ao menor dos números Q   ! nestas condições dá-se o nome de norma de


0, notada m0m. Fica assim definida uma norma no espaço vectorial
PÐI" ß á ß I: à J Ñ.
I.1.11 Se J" ß á ß J: são espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensões
finitas 7" ß á ß 7: , então o produto cartesiano J" ‚ â ‚ J: tem dimensão
finita 7"  â  7: e, se considerarmos uma norma em cada um daqueles
espaços, uma das normas possíveis no produto cartesiano é a norma do
máximo, definida por
mÐB" ß á ß B: Ñm œ max mB4 m.
"Ÿ4Ÿ:

I.1.12 Suponhamos que, para cada " Ÿ 4 Ÿ :, -4 À I4w Ä I4 é uma aplicação


linear e que .À J Ä J w é uma aplicação linear. Tem então lugar uma aplica-
ção linear
PÐ-" ß á ß -: à .ÑÀ PÐI" ß á ß I: à J Ñ Ä PÐI"w ß á ß I:w à J w Ñ

definida por
PÐ-" ß á ß -: à .ÑÐ0Ñ œ . ‰ 0 ‰ Ð-" ‚ â ‚ -: Ñ

ou seja,
PÐ-" ß á ß -: à .ÑÐ0ÑÐB" ß á ß B: Ñ œ .Ð0Ð-" ÐB" Ñß á ß -: ÐB: ÑÑÑ.

No caso particular em que todos os -4 À I4w Ä I4 são iguais a uma certa apli-
cação linear -À I w Ä I , usamos também a notação
§1. Algumas propriedades dos espaços vectoriais… 5

P: Ð-à .ÑÀ P: ÐIà J Ñ Ä P: ÐI w à J w Ñ


em vez de PÐ-" ß á ß -: à .Ñ.
Repare-se que, quando -" ß á ß -: e . são isomorfismos, PÐ-" ß á ß -: à .Ñ é
também isomorfismo, tendo PÐ-"" ß á ß -:" à ." Ñ como isomorfismo
inverso.

De certo modo em sentido inverso ao que percorremos atrás, vamos agora


examinar o mínimo que é necessário acrescentar a um espaço vectorial
real para determinarmos um espaço vectorial complexo.

I.1.13 Se I é um espaço vectorial real, chamaremos estrutura complexa de I a


uma aplicação linear N À I Ä I tal que N ‰ N œ M.I .
Se I é um espaço vectorial complexo, tem lugar uma estrutura complexa
N À I Ä I , definida por N Ð?Ñ œ 3?, a que daremos o nome de estrutura com-
plexa associada ao espaço vectorial complexo.
I.1.14 Sejam I um espaço vectorial real e N À I Ä I uma estrutura complexa de
I . Existe então sobre I uma, e uma só, estrutura de espaço vectorial
complexo, estendendo a estrutura de espaço vectorial real e cuja estrutura
complexa associada seja N .
Dem: A unicidade é clara, uma vez que, se ? − I e - − ‚, com - œ +  ,3,
+ß , − ‘, não pode deixar de ser -? œ +?  ,N Ð?Ñ. Para provarmos a
existência, definamos a multiplicação de um escalar complexo por um vector
de I pela fórmula anterior e comecemos por reparar que, no caso em que o
complexo é real a multiplicação coincide com a multiplicação dada e que, no
caso em que o complexo é 3 œ !  " 3, vem efectivamente 3? œ N Ð?Ñ.
Resta-nos mostrar que I fica efectivamente um espaço vectorial complexo, a
única propriedade não trivial a demonstrar sendo a identidade -Ð- w ?Ñ œ
Ð-- w Ñ?. Ora, sendo - œ +  ,3 e - w œ +w  , w 3, com +ß ,ß +w ß , w − ‘, vem
-Ð- w ?Ñ œ -Ð+w ?  , w N Ð?ÑÑ œ +Ð+w ?  , w N Ð?ÑÑ  ,N Ð+ w ?  , wN Ð?ÑÑ œ
œ ++w ?  +, w N Ð?Ñ  ,+w N Ð?Ñ  ,, w N ÐN Ð?ÑÑ œ
œ Ð++w  ,, w Ñ?  Ð+, w  ,+w ÑN Ð?Ñ œ Ð-- w Ñ?,
uma vez que -- w œ Ð++w  ,, w Ñ  Ð+, w  ,+w Ñ3. …
I.1.15 Em particular, se I é um espaço vectorial real de dimensão finita 8, a
existência de uma estrutura complexa N À I Ä I implica que 8 é par. Com
efeito, se : é a dimensão de I , enquanto espaço vectorial complexo, então
tem-se 8 œ #:. Repare-se que, reciprocamente, se I é um espaço vectorial
real com dimensão par 8 œ #:, então I admite uma estrutura complexa;
basta, com efeito, notar ?" ß á ß ?: ß @" ß á ß @: uma base de I e definir
N À I Ä I como sendo a aplicação linear que verifica N Ð?4 Ñ œ @4 e
N Ð@4 Ñ œ ?4 .
6 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

I.1.16 Se I é um espaço vectorial complexo, com estrutura complexa N ,


podemos considerar um novo espaço vectorial complexo, com o mesmo
espaço vectorial real associado, a saber o definido pela estrutura complexa
N . A este novo espaço vectorial complexo, que será notado I , dá-se o
nome de espaço vectorial conjugado do primeiro. Dados ? − I e - − ‚, o
produto de - por ?, para a estrutura de espaço vectorial complexo conjugado
vai coincidir com o produto -?, relativamente à estrutura original, do
complexo conjugado - por ?.
I.1.17 Sejam I e J espaços vectoriais complexos, com estruturas complexas N e
N w . Se -À I Ä J é uma aplicação linear real, então - é uma aplicação linear
complexa se, e só se, se tem N w ‰ - œ - ‰ N .
Dem: Se - é uma aplicação linear complexa, então
N w Ð-Ð?ÑÑ œ 3-Ð?Ñ œ -Ð3?Ñ œ -ÐN Ð?ÑÑ,
o que mostra que N w ‰ - œ - ‰ N . Reciprocamente, se N w ‰ - œ - ‰ N ,
tem-se, para cada ? − I e - − ‚, com - œ +  ,3, +ß , − ‘,
-Ð-?Ñ œ -Ð+?  ,N Ð?ÑÑ œ +-Ð?Ñ  , -ÐN Ð?ÑÑ œ +-Ð?Ñ  ,N w Ð-Ð?ÑÑ œ - -Ð?Ñ,

o que mostra que - é uma aplicação linear complexa. …


I.1.18 Se I e J são espaços vectoriais complexos, uma aplicação antilinear
-À I Ä J é uma aplicação linear real que verifica a condição -Ð-?Ñ œ
- -Ð?Ñ, para cada - − ‚ e ? − I . Por outras palavras, uma aplicação linear
real -À I Ä J é antilinear se, e só se, é uma aplicação linear complexa de I
para J (ou, equivalentemente, de I para J ), o que acontece se, e só se,
N w ‰ - œ - ‰ N .

Examinemos agora o modo como as noções usuais de traço e de


determinante de uma matriz quadrada podem ser apresentadas no quadro
das aplicações lineares de um espaço vectorial de dimensão finita para si
mesmo.

I.1.19 Lembremos as seguintes propriedades bem conhecidas do traço e do


determinante das matrizes quadradas:
a) Se E e F são matrizes dos tipos 7 ‚ 8 e 8 ‚ 7, respectivamente, então
TrÐE ‚ FÑ œ TrÐF ‚ EÑ

iguais a ! +3ß4 ‚ ,4ß3 ).


(sendo +3ß4 e ,4ß3 os elementos das matrizes E e F , ambos os membros são
"Ÿ3Ÿ7
"Ÿ4Ÿ8

b) Se E e F são matrizes quadradas, então


detÐE ‚ FÑ œ detÐEÑ ‚ detÐFÑ.
§1. Algumas propriedades dos espaços vectoriais… 7

I.1.20 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8, real ou complexo, e


-À I Ä I uma aplicação linear. Ficam então bem definidos dois escalares

base B" ß á ß B7 de I , com -ÐB4 Ñ œ ! +3ß4 B3 , se ter TrÐ-Ñ œ TrÐÐ+3ß4 ÑÑ e


TrÐ-Ñ e detÐ-Ñ, o traço e o determinante de -, pela condição de, para cada

3
detÐ-Ñ œ detÐÐ+3ß4 ÑÑ. Por outras palavras, o traço e o determinante de - são
os da sua matriz numa base arbitrária de I .2

-ÐC4 Ñ œ ! ,3ß4 C3 , tem-se detÐÐ+3ß4 ÑÑ œ detÐÐ,3ß4 ÑÑ e TrÐÐ+3ß4 ÑÑ œ TrÐÐ,3ß4 ÑÑ.


Dem: Tudo o que temos que ver é que, se C" ß á ß C8 é outra base de I , com

Ora, sendo B4 œ ! -5ß4 C5 e notando E, F e G as matrizes de elementos +3ß4 ,


3

5
,3ß4 e -5ß4 , respectivamente, a última das quais é invertível, em particular tem
determinante não nulo, podemos escrever

-ÐB4 Ñ œ " -5ß4 -ÐC5 Ñ œ " -5ß4 ,3ß5 C3

-ÐB4 Ñ œ " +5ß4 B5 œ " +5ß4 -3ß5 C3 ,


5 5ß3

5 5ß3

donde F ‚ G œ G ‚ E, o que implica que


detÐFÑ ‚ detÐGÑ œ detÐGÑ ‚ detÐEÑ,
portanto detÐEÑ œ detÐFÑ, e que F œ G ‚ E ‚ G " , portanto
TrÐFÑ œ TrÐG ‚ ÐE ‚ G " ÑÑ œ TrÐÐE ‚ G " Ñ ‚ GÑ œ TrÐEÑ. …

I.1.21 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensões 7 e 8 sobre Š. Tem-se


então:
a) A aplicação TrÀ PÐIà IÑ Ä Š é linear.
b) Se -À I Ä J e .À J Ä I são aplicações lineares, então TrÐ. ‰ -Ñ œ
TrÐ- ‰ .Ñ.
Dem: Trata-se de uma consequência directa das correspondentes proprie-
dades do traço das matrizes. …
I.1.22 Seja I um espaço vectorial de dimensão 8 sobre Š. Tem-se então:
a) A aplicação detÀ PÐIà IÑ Ä Š é homogénea de grau 8, isto é, para cada
- − PÐIà IÑ e + − Š, tem-se detÐ+-Ñ œ +8 detÐ-Ñ.
b) Para a aplicação identidade M.I À I Ä I , tem-se detÐM.I Ñ œ ".
c) Se -ß . − PÐIà IÑ, então detÐ. ‰ -Ñ œ detÐ.Ñ ‚ detÐ-Ñ.
d) Uma aplicação linear - − PÐIà IÑ é um isomorfismo se, e só se,
detÐ-Ñ Á ! e, nesse caso, detÐ-" Ñ œ "ÎdetÐ-Ñ.
e) Se 0À I Ä J é um isomorfismo e - − PÐIà IÑ, tem-se, para o
correspondente 0 ‰ - ‰ 0" − PÐJ à J Ñ, detÐ0 ‰ - ‰ 0" Ñ œ detÐ-Ñ.

2Repare-se que, se I e J são espaços vectoriais distintos, com a mesma dimensão, não
definimos nem o traço nem o determinante de uma aplicação linear -À I Ä J .
8 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

Dem: As propriedades a), b) e c) são consequências directas das correspon-


dentes propriedades do determinante das matrizes, tal como o é d), se lem-
brarmos que uma aplicação linear é um isomorfismo se, e só se, a sua matriz
é invertível e que, de - ‰ -" œ M.I resulta que detÐ-ÑdetÐ-" Ñ œ ". A alí-
nea e) resulta de que, fixada uma base B" ß á ß B8 em I , a matriz de - nessa
base coincide com a matriz de 0 ‰ - ‰ 0" na base 0ÐB" Ñß á ß 0ÐB8 Ñ de J . …

Se I é um espaço vectorial complexo de dimensão 8 e -À I Ä I é uma


aplicação linear, sabemos que podemos também olhar para I como um
espaço vectorial real de dimensão #8, mas, em geral, o traço e o
determinante de - não serão os mesmos dos dois pontos de vista (no
primeiro caso eles são números complexos e, no segundo, são números
reais). O resultado seguinte explica a relação entre as duas situações.

I.1.23 Sejam I um espaço vectorial complexo de dimensão 8 e -À I Ä I uma


aplicação linear e usemos as notações Tr‚ Ð-Ñ, det‚ Ð-Ñ e Tr‘ Ð-Ñ, det‘ Ð-Ñ
para indicar se estamos a considerar o traço e o determinante no quadro dos
espaços vectoriais complexos ou no dos espaços vectoriais reais. Tem-se
então:
Tr‘ Ð-Ñ œ #dÐTr‚ Ð-ÑÑ, det‘ Ð-Ñ œ ldet‚ Ð-Ñl# .

Dem: Seja B" ß á ß B8 uma base de I , enquanto espaço vectorial complexo e

-ÐB5 Ñ œ ! -4ß5 B4 . Podemos escrever -4ß5 œ +4ß5  3,4ß5 , com +4ß5 ß ,4ß5 − ‘, e
seja G , com elementos -4ß5 , a matriz de - nesta base, portanto a definida por

4
então, considerando a base B" ß á ß B8 ß 3B" ß á ß 3B8 de I , enquanto espaço
vectorial real, podemos escrever, lembrando que -Ð3B5 Ñ œ 3-ÐB5 Ñ,
Ú
Ý -ÐB5 Ñ œ ! +4ß5 B4  ! ,4ß5 3B4
Û
Ý -Ð3B5 Ñ œ ! ,4ß5 B5  ! +4ß5 3B4
4 4

Ü 4 4

de onde deduzimos que


Tr‘ Ð-Ñ œ " +5ß5  " +5ß5 œ #" dÐ-5ß5 Ñ œ #dÐTr‚ Ð-ÑÑ
5 5 5

e que a matriz G w , de tipo #8 ‚ #8, da aplicação linear - na base real consi-


derada pode ser apresentada por blocos do tipo 8 ‚ 8 na forma

Gw œ ”
E •
E F
.
F

Para calcular o determinante de G w utilizamos um artifício que encontrámos


em [21]. Para isso reparamos que, sendo \ a matriz de tipo #8 ‚ #8 com
divisão em blocos do tipo 8 ‚ 8
§1. Algumas propriedades dos espaços vectoriais… 9

\œ”
M8 •
M8 3M8
,
3M8

onde M8 nota a matriz identidade do tipo 8 ‚ 8, cuja matriz conjugada é

\œ” 8
M8 •
M 3M8
,
3M8

tem-se

\ ‚ Gw ‚ \ œ # ‚ ”
E  3F •
E  3F !
.
!

Substituindo E por M8 e F por ! (ou seja, considerando o caso - œ M.I ),


vem também
\ ‚ M#8 ‚ \ œ # ‚ M#8 ,
e daqui deduzimos que

detÐ\Ñ ‚ detÐG w Ñ ‚ detÐ\Ñ œ ##8 detŠ” ‹


E  3F •
E  3F !
!
detÐ\Ñ ‚ detÐM#8 Ñ ‚ detÐ\Ñ œ ##8 detÐM#8 Ñ,

ou seja, detÐ\Ñ ‚ detÐ\Ñ œ ##8 , donde

detÐG w Ñ œ detŠ” ‹ œ detŠ” •‹ œ


E  3F •
E  3F ! G !
! ! G
œ detÐGÑ ‚ detÐGÑ œ ldetÐGÑl# ,

ou seja, detÐ-‘ Ñ œ ldetÐ-‚ Ñl# . …

§2. Espaços euclidianos e hermitianos.

I.2.1 No que segue continuaremos a utilizar Š para designar um dos corpos ‘ ou


‚. No sentido de evitar duplicação de enunciados, tratando simultaneamente
os casos real e complexo, será cómodo estender trivialmente a ‘ algumas
noções que a priori só faziam sentido em ‚. Assim:
a) Quando - − ‚, nota-se - o complexo conjugado do complexo - . No
quadro dos números reais vamos considerar que, para cada - − ‘, - é
sinónimo de - , o que é compatível com o facto de, quando identificamos ‘ a
uma parte de ‚, ‘ ser precisamente o conjunto dos complexos que
coincidem com os respectivos conjugados.
b) Quando I é um espaço vectorial complexo, definimos em I.1.16 o espaço
vectorial conjugado I . Quando I é um espaço vectorial real, consideramos
10 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

que I é sinónimo de I .
c) Quando I e J são espaços vectoriais complexos, chamámos aplicações
antilineares às aplicações lineares reais -À I Ä J que verificam a condição
-Ð-?Ñ œ - -Ð?Ñ, para cada - − ‚ e ? − I . Em consonância com o que se
disse em a), quando I e J são espaços vectoriais reais, vamos considerar
que as aplicações antilineares -À I Ä J são simplesmente as aplicações
lineares.
d) Quando I e J são espaços vectoriais complexos, diremos que uma aplica-
ção 0À I ‚ I Ä J é sesquilinear se ela é linear na primeira variável e
antilinear na segunda. Quando I e J são espaços vectoriais reais,
consideramos que uma aplicação sesquilinear 0À I ‚ I Ä J é precisamente
a mesma coisa que uma aplicação bilinear. É claro que uma aplicação
sesquilinear I ‚ I Ä J é precisamente a mesma coisa que uma aplicação
bilinear I ‚ I Ä J .
I.2.2 Seja I um espaço vectorial sobre Š, onde Š é ‘ ou ‚. Relembremos que
um produto interno sobre I é uma aplicação sesquilinear I ‚ I Ä Š,
notada usualmente ÐBß CÑ È ØBß CÙ, verificando as seguintes condições:

a) Quaisquer que sejam Bß C − I , ØBß CÙ œ ØCß BÙ;3


b) Para cada B − I , ØBß BÙ   !;
c) Se ØBß BÙ œ !, então B œ !.4
(a propriedade b) poderá parecer um pouco estranha quando Š œ ‚, mas ela
faz sentido na medida em que, por a), tem-se ØBß BÙ œ ØBß BÙ, e portanto
ØBß BÙ − ‘). Relembremos ainda que, se I está munido de um produto
interno, podemos considerar sobre I uma norma associada, definida por
mBm œ ÈØBß BÙ,

tendo então lugar a desigualdade de Schwarz, que nos afirma que, quaisquer
que sejam Bß C − I ,
lØBß CÙl Ÿ mBmmCm,
com lØBß CÙl œ mBmmCm se, e só se, B e C são linearmente dependentes.
Aos espaços vectoriais de dimensão finita, munidos de um produto interno,
dá-se o nome de espaços euclidianos ou espaços hermitianos, conforme
Š œ ‘ ou Š œ ‚.
I.2.3 O exemplo mais simples de espaço vectorial sobre Š com produto interno é
o espaço cartesiano Š8 , com o produto interno canónico, definido por
ØÐ+" ß á ß +8 Ñß Ð," ß á ß ,8 ÑÙ œ +" ,"  â  +8,8 .

3No caso em que Š œ ‘, esta propriedade diz-nos que a aplicação bilinear é simétrica.
4É claro que a recíproca é também verdadeira. Mais geralmente, a bilinearidade real do
produto interno implica que se tem ØBß CÙ œ !, sempre que B œ ! ou C œ !.
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 11

É este o produto interno que consideraremos sempre em Š8 , salvo aviso em


contrário. Repare-se que a norma associada a este produto interno está
definida por
mÐ+" ß á ß +8 Ñm œ Èl+" l#  â  l+8 l# .

I.2.4 Se I é um espaço vectorial de dimensão 8 sobre Š, então existe sempre


um produto interno sobre I . Mais precisamente, dada uma base A" ß á ß A8
de I pode definir-se um produto interno associado a esta base pondo, para
B œ +" A "  â  + 8 A 8 e C œ , " A "  â  , 8 A 8 ,
ØBß CÙ œ +" ,"  â  +8 ,8 .
O produto interno canónico sobre Š8 não é mais do que o associado à base
canónica de Š8 .
I.2.5 Seja I um espaço vectorial complexo de dimensão finita, munido de um
produto interno Ø ß Ù‚ . Sabemos que I pode ser também olhado como espaço
vectorial real mas é evidente que, nesse contexto, Ø ß Ù‚ não vai ser um
produto interno (trata-se de uma aplicação com valores em ‚ e não em ‘).
No entanto é fácil constatar-se que se pode definir em I , considerado como
espaço vectorial real, um produto interno, que notaremos Ø ß Ù‘ , pondo
ØBß CÙ‘ œ dÐØBß CÙ‚ Ñ 5
(reparar que um número complexo e o seu conjugado têm a mesma parte
real). Dizemos que Ø ß Ù‘ é o produto interno real associado ao produto
interno complexo Ø ß Ù‚ . Repare-se que as normas associadas ao produto
interno complexo e ao produto interno real associado coincidem.
I.2.6 Seja I um espaço vectorial complexo, munido de um produto interno
complexo Ø ß Ù‚ e do produto interno real associado Ø ß Ù‘ . Se N é a estrutura
complexa associada de I , então, quaisquer que sejam ?ß @ − I , tem-se
ØN Ð?Ñß N Ð@ÑÙ‚ œ Ø3?ß 3@Ù‚ œ 3 ‚ 3 ‚ Ø?ß @Ù‚ œ Ø?ß @ Ù‚ ,
em particular também ØN Ð?Ñß N Ð@ÑÙ‘ œ Ø?ß @Ù‘ .
I.2.7 Seja, reciprocamente, I um espaço vectorial real, munido de um produto
interno Ø ß Ù‘ . Diz-se que uma estrutura complexa N À I Ä I é compatível
com o produto interno se se tem ØN Ð?Ñß N Ð@ÑÙ‘ œ Ø?ß @Ù‘ , quaisquer que
sejam ?ß @ − ‘ (diz-se então também que o produto interno real é um
produto interno hermitiano do espaço vectorial complexo definido por N ).
Quando isso acontecer, existe um, e um só, produto interno complexo Ø ß Ù‚
do espaço vectorial complexo definido por N , cujo produto interno real
associado seja Ø ß Ù‘ , nomeadamente o definido por

5Notamos, para cada complexo D , dÐDÑ e eÐDÑ a parte real e o coeficiente da parte
imaginária de D .
12 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

Ø?ß @Ù‚ œ Ø?ß @Ù‘  Ø?ß N Ð@ÑÙ‘ 3.

Dem: Comecemos por mostrar a unicidade. Para isso, reparamos que, se


Ø ß Ù‚ é um produto interno complexo de I cujo produto interno real
associado seja Ø ß Ù‘ , então, sendo Ø?ß @Ù‚ œ +  ,3, com +ß , − ‘, vem
+ œ Ø?ß @Ù‘ e
Ø?ß N Ð@ÑÙ‚ œ Ø?ß 3@Ù‚ œ 3Ø?ß @Ù‚ œ ,  +3,
e portanto , œ Ø?ß N Ð@ÑÙ‘ , donde Ø?ß @Ù‚ œ Ø?ß @Ù‘  Ø?ß N Ð@ÑÙ‘ 3. Defina-
mos agora Ø?ß @Ù‚ pela fórmula anterior. Para terminar a demonstração basta
verificarmos que obtemos assim um produto interno complexo em I , visto
que é então imediato que o produto interno real associado é Ø ß Ù‘ . É imediato
que a aplicação Ð?ß @Ñ È Ø?ß @Ù‚ é bilinear real e, uma vez que se tem
ØN Ð?Ñß @Ù‘ œ ØN ÐN Ð?ÑÑß N Ð@ÑÙ‘ œ Ø?ß N Ð@ÑÙ‘ ,
podemos escrever
ØN Ð?Ñß @Ù‚ œ ØN Ð?Ñß @Ù‘  ØN Ð?Ñß N Ð@ÑÙ‘ 3 œ
œ Ø?ß N Ð@ÑÙ‘  Ø?ß @Ù‘ 3 œ 3 Ø?ß @Ù‚

e
Ø?ß N Ð@ÑÙ‚ œ Ø?ß N Ð@ÑÙ‘  Ø?ß N ÐN Ð@ÑÑÙ‘ 3 œ
œ Ø?ß N Ð@ÑÙ‘  Ø?ß @Ù‘ 3 œ 3 Ø?ß @Ù‚ ,

o que mostra que ela é linear complexa na primeira variável e antilinear na


segunda, e portanto temos uma aplicação sesquilinear. A igualdade
ØN Ð?Ñß @Ù‘ œ Ø?ß N Ð@ÑÙ‘ implica também que se tem Ø@ß ?Ù‚ œ Ø?ß @Ù‚ , em
particular Ø?ß ?Ù‚ é real, e portanto igual a Ø?ß ?Ù‘ , o que implica, em
particular, que temos um produto interno complexo. …
I.2.8 Seja I um espaço vectorial real munido de um produto interno Ø ß Ù‘ e de
uma estrutura complexa compatível N À I Ä I . Para cada ? − I , tem-se
então Ø?ß N Ð?ÑÙ‘ œ !.
Dem: Tem-se
Ø?ß N Ð?ÑÙ‘ œ ØN Ð?Ñß N ÐN Ð?ÑÑÙ‘ œ ØN Ð?Ñß ?Ù‘ œ Ø?ß N Ð?ÑÙ‘ . …

I.2.9 Se I é um espaço vectorial de dimensão finita sobre Š, munido de um


produto interno, tem lugar um isomorfismo )À I Ä PÐIà ŠÑ, definido por
)ÐCÑÐBÑ œ ØBß CÙ.

Dem: É imediato que, para cada C − I , tem lugar uma aplicação linear de I
em Š, definida por B È ØBß CÙ, o que mostra que se pode definir uma
aplicação )À I Ä PÐIà ŠÑ pela igualdade do enunciado. É trivial constatar
que a aplicação ) é antilinear, isto é, é uma aplicação linear I Ä PÐIà ŠÑ,
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 13

pelo que, uma vez que I e PÐIà ŠÑ têm a mesma dimensão, para vermos
que ela é um isomorfismo basta vermos que o seu núcleo é Ö!×. Ora, se
)ÐCÑ œ !, tem-se, em particular, ! œ )ÐCÑÐCÑ œ ØCß CÙ, donde C œ !. …
I.2.10 Seja I é um espaço vectorial de dimensão finita sobre Š, munido de um
produto interno. Diz-se que dois vectores Bß C − I são ortogonais se se tem
ØBß CÙ œ !. Se J § I é um subespaço vectorial, chama-se complementar
ortogonal de J o conjunto J ¼ dos vectores B − I tais que ØBß CÙ œ !, para
todo o C − J .
I.2.11 Seja I um espaço hermitiano, com o produto interno complexo Ø ß Ù‚ e
seja Ø ß Ù‘ o produto interno real associado.
Se Bß C − I são vectores ortogonais, relativamente ao produto interno com-
plexo, então B e C são também ortogonais, relativamente ao produto interno
real, mas a recíproca já não é válida: Por exemplo, se B Á !, tem-se
Ø3Bß BÙ‚ œ 3ØBß BÙ‚ Á ! e Ø3Bß BÙ‘ œ !.
No entanto, no caso em que J § I é um subespaço vectorial complexo, o
complementar ortogonal J ¼ , relativamente a Ø ß Ù‚ , coincide com o comple-
mentar ortogonal relativamente a Ø ß Ù‘ .
Dem: É claro que, se B pertence ao complementar ortogonal de J ,
relativamente a Ø ß Ù‚ , então B também pertence ao complementar ortogonal
de J , relativamente a Ø ß Ù‘ . Suponhamos, reciprocamente, que B pertence ao
complementar ortogonal de J , relativamente a Ø ß Ù‘ . Para cada C − J , vem
também 3C − J , pelo que podemos escrever
dÐØBß CÙ‚ Ñ œ ØBß CÙ‘ œ !,
eÐØBß CÙ‚ Ñ œ dÐ3ØBß CÙ‚ Ñ œ dÐØBß 3CÙ‚ Ñ œ ØBß 3CÙ‘ œ !,

donde ØBß CÙ‚ œ !. …


I.2.12 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8 sobre Š, munido de um
produto interno e J § I um subespaço vectorial de dimensão 7. Tem-se
então:
a) J ¼ é um subespaço vectorial de dimensão 8  7;
b) ÐJ ¼ Ѽ œ J ;
c) Tem lugar a soma directa I œ J Š J ¼ ;
d) Ö!×¼ œ I e I ¼ œ Ö!×.
Dem: Comecemos por reparar que tem lugar uma aplicação linear sobrejec-
tiva de PÐIà ŠÑ sobre PÐJ à ŠÑ, que a cada aplicação linear 0À I Ä Š
associa a restrição 0ÎJ À J Ä Š (para ver que toda a aplicação linear de J em
Š pode ser prolongada numa aplicação linear de I em Š, basta considerar
uma base de J , prolongá-la numa base de I e atender a que uma aplicação
linear fica definida se dermos, de modo arbitrário, as imagens dos elementos
duma base). Por composição desta aplicação linear com o isomorfismo
)À I Ä PÐIà ŠÑ, somos conduzidos a uma aplicação linear sobrejectiva
s)À I Ä PÐJ à ŠÑ, definida ainda por s)ÐCÑÐBÑ œ ØBß CÙ. Por definição, J ¼ é o
núcleo da aplicação linear s) pelo que, uma vez que I e PÐJ à ŠÑ têm
14 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

dimensões 8 e 7, respectivamente, concluímos que J ¼ é um subespaço


vectorial de dimensão 8  7 (de I ou de I , é o mesmo). Aplicando de novo
a mesma conclusão, vemos que ÐJ ¼ Ѽ é um subespaço vectorial de
dimensão 8  Ð8  7Ñ œ 7; uma vez que se tem evidentemente
J § ÐJ ¼ Ѽ , podemos concluir que ÐJ ¼ Ѽ œ J . Se B − J  J ¼ , tem-se
ØBß BÙ œ !, donde B œ !. Concluímos daqui que J e J ¼ formam soma
directa pelo que, uma vez que a soma das suas dimensões é igual à dimensão
8 de I , tem-se I œ J Š J ¼ . É imediato que Ö!×¼ œ I e o facto de se ter
I ¼ œ Ö!× é, por exemplo, uma consequência daquele facto e do que vimos
em b). …
I.2.13 Nas condições anteriores nota-se 1J a aplicação linear de I sobre J
associada à soma directa referida. Tem-se portanto que, para cada B − I ,
pode-se escrever, de maneira única B œ Bw  Bww , com Bw − J e Bww − J ¼ , e
então 1J ÐBÑ œ Bw , por outras palavras, 1J ÐBÑ é o único vector de J tal que
B  1J ÐBÑ − J ¼ . Diz-se que 1J é a projecção ortogonal de I sobre J .
Repare-se que, tendo em conta a alínea b) do resultado precedente, a
projecção ortogonal 1J ¼ ÐBÑ de B sobre J ¼ é igual a Bww , isto é, a B  1J ÐBÑ.
É claro que se tem B − J se, e só se, 1J ÐBÑ œ B, assim como B − J ¼ se, e
só se, 1J ÐBÑ œ !.
Tendo em conta I.2.11, vemos que, se I é um espaço hermitiano e J § I é
um subespaço vectorial complexo, então a projecção ortogonal 1J não
depende de se considerar o produto interno complexo ou o produto interno
real associado.
I.2.14 Seja I um espaço vectorial de dimensão 8 sobre Š, munido de um
produto interno. Diz-se que um sistema de 7 vectores A" ß á ß A7 é
ortogonal se se tem ØA4 ß A5 Ù œ !, para cada 4 Á 5 . Um sistema ortogonal de
vectores não nulos é sempre linearmente independente e, no caso em que
7 œ 8, é uma base de I (uma base ortogonal de I ), tendo-se, para cada
B − I,

Bœ"
8
ØBß A4 Ù
A4 .
4œ"
ØA4 ß A4 Ù

Dem: Suponhamos que A" ß á ß A7 é um sistema ortogonal de vectores não


nulos e que se tinha ! +4 A4 œ !. Para cada 5 , podíamos então escrever

! œ  " +4 A4 ß A5 ¡ œ " +4 ØA4 ß A5 Ù œ +5 ØA5 ß A5 Ù,


4 4

donde +5 œ !, o que mostra que o sistema é linearmente independente. No

B − I , podemos escrever B œ ! +4 A4 . Tem-se então, para cada 5 ,


caso em que 7 œ 8, temos portanto uma base de I pelo que, para cada
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 15

ØBß A5 Ù œ " +4 ØA4 ß A5 Ù œ +5 ØA5 ß A5 Ù,


4

ØBßA5 Ù
donde +5 œ ØA5 ßA5 Ù . …

I.2.15 Nas condições anteriores, um sistema de 7 vectores A" ß á ß A7 ./ I


diz-se ortonormado se for ortogonal e constituído por vectores de norma ",
por outras palavras, se se tiver ØA4 ß A5 Ù œ $4ß5 , quaisquer que sejam 4ß 5 ,
onde $4ß5 é o símbolo de Kronecker6. A um sistema ortonormado de vectores
que constitua uma base também se dá o nome de base ortonormada de I .
Repare-se que, a partir de um sistema ortogonal de vectores não nulos
C" ß á ß C7 , pode sempre obter-se um sistema ortonormado A" ß á ß A7 ,
C
pondo simplesmente A4 œ mC44 m .
Quando A" ß á ß A8 é uma base ortonormada, a fórmula obtida atrás diz-nos
que, para cada B − I , tem-se

B œ " ØBß A4 Ù A4 .
8

4œ"

Uma das vantagens das bases ortonormadas é a de elas permitirem uma


caracterização simples do produto interno de dois vectores a partir das
suas componentes.

I.2.16 Seja A" ß á ß A8 uma base ortonormada de I . Dados Bß C − I , com


B œ +" A"  â  +8 A8 e C œ ," A"  â  ,8 A8 , tem-se
ØBß CÙ œ +" ,"  â  +8 ,8 .

Dem: Vem
ØBß CÙ œ  " +4 A4 ß " ,5 A5 ¡ œ " Ø+4 A4 ß ,5 A5 Ù œ

œ " +4 ,5 ØA4 ß A5 Ù œ " +4 ,4 .


4 5 4ß5

…
4ß5 4

I.2.17 Em particular, vemos que, se I é um espaço vectorial com uma base


A" ß á ß A8 , então o produto interno construído a partir dela em I.2.4 vai ser o
único para o qual aquela base é ortonormada.
I.2.18 (Existência de bases ortonormadas) Seja I um espaço vectorial de
dimensão 8 sobre Š, munido de um produto interno. Cada sistema

6Recordemos que o símbolo de Kronecker $4ß5 é, por definição, igual a ", se 4 œ 5 , e igual
a !, se 4 Á 5 .
16 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

ortonormado de vectores de I pode então ser prolongado numa base


ortonormada de I , em particular, existe uma base ortonormada de I .
Dem: Façamos a demonstração da existência de uma base ortonormada para
I por indução na dimensão 8 de I . Se 8 œ !, o resultado é trivial, visto que
a família vazia de vectores é uma base ortonormada. Suponhamos o resultado
verdadeiro para os espaços vectoriais de dimensão 8 e vejamos o que
acontece no caso em que I tem dimensão 8  ". Seja B um vector não nulo
de I e seja J œ ŠB o subespaço vectorial, de dimensão ", gerado por B. O
B
vector A" œ mBm é um vector de norma " de J , e portanto uma base
ortonormada deste subespaço. Pela hipótese de indução podemos considerar
uma base ortonormada A# ß á ß A8" do complementar ortogonal J ¼ , que é
um espaço vectorial de dimensão 8, e é então imediato que A" ß A# ß á ß A8"
é um sistema ortonormado de 8  " vectores de I e portanto uma base
ortonormada deste espaço. Mais geralmente, se C" ß á ß C7 for um sistema
ortonormado de vectores de I , podemos considerar o subespaço vectorial J
de dimensão 7 gerado por este sistema e é imediato que, juntando a estes
vectores os 8  7 vectores duma base ortonormada do complementar
ortogonal J ¼ , obtemos um sistema ortonormado de I com 8 vectores, logo
uma base ortonormada deste espaço. …
I.2.19 Seja I um espaço hermitiano, com o produto interno complexo Ø ß Ù‚ e
seja A" ß á ß A7 um sistema ortogonal de vectores de I (respectivamente um
sistema ortonormado). Então o sistema de vectores A" ß á ß A7 ß 3A" ß á ß 3A7
é ortogonal (respectivamente ortonormado), relativamente ao produto interno
real associado Ø ß Ù‘ . Relembremos que, quando o primeiro sistema é uma
base de I , enquanto espaço vectorial complexo, o segundo é uma base de I ,
enquanto espaço vectorial real.
Dem: Para cada 4 Á 5 , tem-se
! œ ØA4 ß A5 Ù‚ œ ØA4 ß A5 Ù‘  ØA4 ß 3A5 Ù‘ 3,

donde ØA4 ß A5 Ù‘ œ ! e ØA4 ß 3A5 Ù‘ œ !; daqui deduzimos, lembrando I.2.6,


que se tem também Ø3A4 ß 3A5 Ù‘ œ ØA4 ß A5 Ù‘ œ !. Por outro lado, para cada
4, tem-se
ØA4 ß A4 Ù‘  ØA4 ß 3A4 Ù‘ 3 œ ØA4 ß A4 Ù‚ − ‘,

donde ØA4 ß 3A4 Ù‘ œ !, o que acaba de provar que temos um sistema


ortogonal de vectores de I , relativamente ao produto interno real associado.
No caso em que o sistema de partida é mesmo ortonormado, esta mesma
fórmula mostra que, por ser ØA4 ß A4 Ù‚ œ ", é também ØA4 ß A4 Ù‘ œ " e daqui
deduzimos que se tem também Ø3A4 ß 3A4 Ù‘ œ ØA4 ß A4 Ù‘ œ ". …

O resultado que se segue estabelece um processo muito útil de


caracterizar a projecção ortogonal sobre um subespaço J , quando se
dispõe de uma base ortonormada para esse subespaço, ou, mais
geralmente, de uma base ortogonal. É claro que, tendo em conta o que
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 17

vimos em I.2.13, o resultado em questão poderá ser também utilizado


quando possuirmos uma base ortogonal para J ¼ , em vez de uma base
ortogonal para J .

I.2.20 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, munido de produto


interno, e J § I um subespaço vectorial, munido de uma base ortogonal
A" ß á ß A7 . Para cada B − I , tem-se então

1J ÐBÑ œ "
7
ØBß A4 Ù
A4
4œ"
ØA4 ß A4 Ù

em particular, no caso em que a base é mesmo ortonormada,

1J ÐBÑ œ " ØBß A4 ÙA4 .


7

4œ"

Dem: Uma vez que C œ ! ØA4 ßA44 Ù A4 pertence evidentemente a J , tudo o que
ØBßA Ù

temos que mostrar é que B  C pertence a J ¼ . Ora, para cada 5 , tem-se

 B  Cß A5 ¡ œ ØBß A5 Ù  "
7
ØBß A4 Ù
ØA4 ß A5 Ù œ
4œ"
ØA4 ß A4 Ù
ØBß A5 Ù
œ ØBß A5 Ù  ØA5 ß A5 Ù œ !
ØA5 ß A5 Ù
e daqui segue-se que, para cada D − J , com D œ !,5 A5 ,

 B  Cß D ¡ œ " ,5  B  Cß A5 ¡ œ !,
7

5œ"

o que termina a demonstração. …


I.2.21 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, munidos de produtos
internos, e -À I Ä J uma aplicação linear. Tem então lugar uma aplicação
linear -‡ À J Ä I , dita adjunta de -, tal que, para cada C − J , -‡ ÐCÑ é o
único elemento de I que verifica a condição
ØBß -‡ ÐCÑÙ œ Ø-ÐBÑß CÙ,
para todo o B − I .
Dem: Para cada C − J , tem lugar uma aplicação linear 0C À I Ä Š, definida
por 0C ÐBÑ œ Ø-ÐBÑß CÙ, pelo que a existência e unicidade de um elemento
-‡ ÐCÑ − I, verificando a igualdade do enunciado, fica garantida por I.2.9,
tendo-se nas notações desse resultado, -‡ ÐCÑ œ )" Ð0C Ñ. O facto de -‡ ser
uma aplicação linear é uma consequência de que a aplicação de J em
PÐIà ŠÑ, que a C associa 0C , é antilinear, tal como )" . …
18 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

I.2.22 Sejam I e J espaços hermitianos, com produtos internos notados Ø ß Ù‚ , e


-À I Ä J uma aplicação linear. Tem-se então que a aplicação linear adjunta
-‡ À J Ä I de - coincide com a adjunta de - relativamente aos produtos
internos reais associados Ø ß Ù‘ .
Dem: Basta atender a que a igualdade ØBß -‡ ÐCÑÙ‚ œ Ø-ÐBÑß CÙ‚ implica tri-
vialmente a igualdade ØBß -‡ ÐCÑÙ‘ œ Ø-ÐBÑß CÙ‘ . …
I.2.23 Nas condições de I.2.21, tem lugar uma aplicação antilinear de PÐIà J Ñ
em PÐJ à IÑ, que a cada - associa -‡ .
Dem: Dados -ß . − PÐIà J Ñ, tem-se
ØBß -‡ ÐCÑ  .‡ ÐCÑÙ œ ØBß -‡ ÐCÑÙ  ØBß .‡ ÐCÑÙ œ
œ Ø-ÐBÑß CÙ  Ø.ÐBÑß CÙ œ Ø-ÐBÑ  .ÐBÑß CÙ œ ØÐ-  .ÑÐBÑß CÙ,
o que implica que Ð-  .ч ÐCÑ œ -‡ ÐCÑ  .‡ ÐCÑ. Do mesmo modo, se
- − PÐIà J Ñ e + − Š,
ØBß +-‡ ÐCÑÙ œ +ØBß -‡ ÐCÑÙ œ +Ø-ÐBÑß CÙ œ Ø+ -ÐBÑß CÙ œ ØÐ+ -ÑÐBÑß CÙ ,
o que implica que +-‡ ÐCÑ œ Ð+-ч ÐCÑ. …
I.2.24 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita, munidos de
produto interno, e -À I Ä J e .À J Ä K duas aplicações lineares. Tem-se
então:
a) Ð-‡ ч œ -;
b) Ð. ‰ -ч œ -‡ ‰ .‡ ;
c) ÐM.I ч œ M.I .

Dem: Quaisquer que sejam B − I e C − J , vem


ØCß -ÐBÑÙ œ Ø-ÐBÑß CÙ œ ØBß -‡ ÐCÑÙ œ Ø-‡ ÐCÑß BÙ,
o que mostra que Ð-‡ ч ÐBÑ œ -ÐBÑ. Quaisquer que sejam B − I e D − K ,
tem-se
ØBß -‡ Ð.‡ ÐDÑÑÙ œ Ø-ÐBÑß .‡ ÐDÑÙ œ Ø.Ð-ÐBÑÑß DÙ,
pelo que Ð. ‰ -ч ÐDÑ œ -‡ ‰ .‡ ÐDÑ. A afirmação feita em c) é trivial. …
I.2.25 Se I é um espaço vectorial de dimensão finita, munido de produto
interno, diz-se que uma aplicação linear -À I Ä I é autoadjunta, se se tem
-‡ œ -, isto é, se se tem
ØBß -ÐCÑÙ œ Ø-ÐBÑß CÙ,
quaisquer que sejam Bß C − I (no caso em que Š œ ‘, também se dá o nome
de simétricas às aplicações lineares autoadjuntas). O subconjunto de
PÐIà IÑ, cujos elementos são as aplicações lineares autoadjuntas é um
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 19

subespaço vectorial real7 que notaremos P++ ÐIà IÑ.


Analogamente, chamamos antiautoadjuntas às aplicações lineares -À I Ä I
tais que -‡ œ -, isto é, tais que ØBß -ÐCÑÙ œ Ø-ÐBÑß CÙ, quaisquer que
sejam Bß C − I , e notamos P++ ÐIà IÑ o subespaço vectorial real de
PÐIà IÑ constituído pelas aplicações lineares antiautoadjuntas.
I.2.26 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, munido de produto
interno e J § I um subespaço vectorial. Sendo +J À J Ä I a inclusão e
1J À I Ä J a projecção ortogonal de I sobre J , tem-se +J‡ œ 1J , e portanto
também 1J‡ œ +J . Em consequência, quando se encara 1J como aplicação
linear I Ä I , 1J é uma aplicação linear autoadjunta.
Dem: Para provar que 1J À I Ä J é a adjunta de +J À J Ä I , o que temos
que mostrar é que, quaisquer que sejam B − J e C − I , tem-se Ø+J ÐBÑß CÙ œ
ØBß 1J ÐCÑÙ, isto é, ØBß CÙ œ ØBß 1J ÐCÑÙ, igualdade que é equivalente a
ØBß C  1J ÐCÑÙ œ !. Ora, isto acontece efectivamente, uma vez que se tem
B − J e, por definição de projecção ortogonal, C  1J ÐCÑ − J ¼ . O facto de
se ter também 1J‡ œ +J é agora uma consequência da alínea a) de I.2.24 e o
facto de 1J , como aplicação linear I Ä I , ser autoadjunta resulta da alínea
b) do mesmo resultado, uma vez que se pode considerar que temos a
composta +J ‰ 1J , e portanto
Ð+J ‰ 1J ч œ 1J‡ ‰ +J‡ œ +J ‰ 1J . …

Repare-se que o resultado anterior sublinha o cuidado necessário, ao


referir a adjunta de uma aplicação linear, de ter bem presente qual o
espaço de chegada que se está a considerar: Para a mesma aplicação linear
1J , de domínio I , a sua adjunta é +J , quando o espaço de chegada consi-
derado é J , e é a própria aplicação linear 1J , quando o espaço de chegada
considerado é I .
A noção de aplicação linear adjunta é talvez mais claramente entendida se
examinarmos o que acontece à respectiva matriz, desde que, e isso é
fundamental, esta seja tomada relativamente a bases ortonormadas dos
espaços euclidianos em questão:

I.2.27 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, munidos de produto


interno, A" ß á ß A7 uma base ortonormada de I e D" ß á ß D8 uma base
ortonormada de J . Se - − PÐIà J Ñ, tem-se então que a matriz da aplicação
linear -‡ − PÐJ à IÑ naquelas bases é a matriz transconjugada da matriz de -
nas mesmas bases. Em particular, no caso em que Š œ ‘, uma aplicação
linear - − PÐIà IÑ é simétrica se, e só se, a sua matriz numa base
ortonormada é simétrica.
Dem: A matriz da aplicação linear - é a matriz cujo elemento +5ß4 , da linha 5

7Repare-se que, quando I é um espaço vectorial hermitiano, apenas podemos garantir


que P++ ÐIà IÑ é um subespaço vectorial real. A razão está no facto de a aplicação
- È -‡ ser antilinear, e não linear complexa.
20 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

e coluna 4, está definido por

-ÐA4 Ñ œ " +5ß4 D5 ,


8

5œ"

tendo-se portanto, uma vez que a base D" ß á ß D8 é ortonormada,


+5ß4 œ Ø-ÐA4 Ñß D5 Ù.

Do mesmo modo se vê que o elemento da linha 4 e coluna 5 da matriz de -‡


é
,4ß5 œ Ø-‡ ÐD5 Ñß A4 Ù œ ØD5 ß -ÐA4 ÑÙ œ Ø-ÐA4 Ñß D5 Ù œ +5ß4 ,

donde o resultado. …
I.2.28 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8, munido de
produto interno, e -À I Ä I uma aplicação linear com adjunta -‡ À I Ä I .
Tem-se então
TrÐ-‡ Ñ œ TrÐ-Ñ, detÐ-‡ Ñ œ detÐ-Ñ.

Dem: Fixando uma base ortonormada B" ß á ß B8 de I , sabemos que a matriz


de -‡ naquela base é a transposta da conjugada da matriz de - na mesma
base, pelo que basta repararmos que uma matriz e a sua transposta têm o
mesmo traço e o mesmo determinante e que o traço e o determinante da
matriz cujos elementos são os conjugados dos duma matriz dada são respec-
tivamente iguais aos conjugados do traço e do determinante desta. …
I.2.29 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, munidos de produto
interno. Diz-se que uma aplicação linear -À I Ä J é ortogonal se se tem
Ø-ÐBÑß -ÐCÑÙ œ ØBß CÙ,
quaisquer que sejam Bß C − I . Uma tal aplicação linear verifica então
trivialmente a condição m-ÐBÑm œ mBm, qualquer que seja B − I , em
particular é sempre uma aplicação linear injectiva. Dá-se o nome de
isometria linear a um isomorfismo ortogonal, isto é, a uma aplicação linear
ortogonal -À I Ä J , que seja um isomorfismo de I sobre J . No caso em
que Š œ ‚ é mais comum chamar aplicações lineares unitárias às aplicações
lineares ortogonais.
I.2.30 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, munidos de produto
interno, A" ß á ß A7 uma base ortonormada de I e -À I Ä J uma aplicação
linear. São então equivalentes as condições seguintes:
a) - é uma aplicação linear ortogonal;
b) m-ÐBÑm œ mBm, qualquer que seja B − I ;
c) -‡ ‰ - œ M.I ;
d) -ÐA" Ñß á ß -ÐA7 Ñ é um sistema ortonormado de vectores de J .
Além disso, no caso em que Š œ ‚, a aplicação linear complexa -À I Ä J é
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 21

ortogonal, relativamente aos produtos internos complexos, se, e só se, é


ortogonal relativamente aos produtos internos reais associados.
Dem: Vamos começar por verificar que cada uma das condições c) e d) é
equivalente à condição a). É trivial que a condição a) implica a condição d) e
o facto de ela implicar c) vem de que podemos então escrever, quaisquer que
sejam Bß C − I ,
ØBß -‡ ‰ -ÐCÑÙ œ Ø-ÐBÑß -ÐCÑÙ œ ØBß CÙ,
o que implica que -‡ ‰ -ÐCÑ œ C . Supondo que se verifica c), tem-se, do
mesmo modo,
Ø-ÐBÑß -ÐCÑÙ œ ØBß -‡ Ð-ÐCÑÑÙ œ ØBß CÙ,

para Bß C − I , B œ ! +4 A4 e C œ ! ,5 A5 , portanto
o que não é mais do que a condição a). Supondo que se verifica d), tem-se,

4 5

Ø-ÐBÑß -ÐCÑÙ œ  " +4 -ÐA4 Ñ ß " ,5 -ÐA5 Ñ¡ œ

œ " +4 ,5 Ø-ÐA4 Ñß -ÐA5 ÑÙ œ " +4 ,5 ØA4 ß A5 Ù œ


4 5

œ  " +4 A4 ß " ,5 A5 ¡ œ ØBß CÙ,


4ß5 4ß5

4 5

o que mostra que - é uma aplicação linear ortogonal. Reparemos agora que,
no caso em que Š œ ‚, a caracterização em c) implica, tendo em conta
I.2.22, que - é ortogonal, relativamente aos produtos internos complexos, se,
e só se, é ortogonal relativamente aos produtos internos reais associados. Por
esse motivo, para demonstrar a equivalência entre a) e b), que nos falta,
podemos examinar apenas o que se passa no caso em que Š œ ‘. Ora, a
condição a) implica evidentemente b) e, supondo que se verifica b), partimos
da identidade
ØB  Cß B  CÙ œ ØBß BÙ  ØBß CÙ  ØCß BÙ  ØCß CÙ œ
œ ØBß BÙ  #ØBß CÙ  ØCß CÙ,
que implica que
"
ØBß CÙ œ ÐmB  Cm#  mBm#  mCm# Ñ,
#
para deduzir que
"
Ø-ÐBÑß -ÐCÑÙ œ Ðm-ÐBÑ  -ÐCÑm#  m-ÐBÑm#  m-ÐCÑm# Ñ œ
#
"
œ Ðm-ÐB  CÑm#  m-ÐBÑm#  m-ÐCÑm# Ñ œ
#
22 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

"
????? œ ÐmB  Cm#  mBm#  mCm# Ñ œ ØBß CÙ,
#
o que prova a). …
I.2.31 Por exemplo, se I é um espaço euclidiano e N À I Ä I é uma estrutura
complexa, então N é uma estrutura complexa compatível se, e só se, é uma
aplicação linear ortogonal (e portanto uma isometria linear), o que é
equivalente a N ser antiautoadjunta.
Dem: O facto de N ser compatível se, e só se, é uma aplicação linear ortogo-
nal é simplesmente a definição. Por outro lado, a identidade N ‰ N œ M.I
garante que N é um isomorfismo, com N " œ N , e, pelo resultado prece-
dente, N é uma aplicação linear ortogonal se, e só se, N ‡ œ N " , ou seja, se, e
só se, N ‡ œ N . …

Vimos em I.1.15 que todo o espaço vectorial real de dimensão par admite
uma estrutura complexa. Como exemplo de aplicação do que estabele-
cemos atrás, vemos agora que, quando o espaço é euclidiano, podemos
afirmar um pouco mais.

I.2.32 Seja I um espaço euclidiano de dimensão par 8 œ #: . Existe então sobre


I uma estrutura complexa compatível N . Mais precisamente, dada uma base
ortonormada de I , que notamos ?" ß á ß ?: ß @" ß á ß @: , podemos tomar para
N a aplicação linear definida por N Ð?4 Ñ œ @4 e N Ð@4 Ñ œ ?4 (N aplica aquela
base ortonormada numa base ortonormada).

A noção de aplicação linear ortogonal admite uma generalização em que,


em vez das normas serem conservadas, elas vêm multiplicadas por uma
certa constante.

I.2.33 Sejam I e J espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão finita,


munidos de produto interno, A" ß á ß A7 uma base ortonormada de I e
-À I Ä J uma aplicação linear. Se -   !, são então equivalentes as condi-
ções seguintes:
a) Ø-ÐBÑß -ÐCÑÙ œ - # ØBß CÙ, quaisquer que sejam Bß C − I ;
b) m-ÐBÑm œ -mBm, qualquer que seja B − I ;
c) -‡ ‰ - œ - # M.I ;
d) -ÐA" Ñß á ß -ÐA7 Ñ é um sistema ortogonal de vectores de J de norma - .
Se - œ !, elas são equivalentes a - œ ! e se -  !, elas são ainda
equivalentes ao facto de "- - ser uma aplicação linear ortogonal e implicam,
em particular, que - é uma aplicação linear injectiva.
Dizemos que - é uma aplicação linear conforme, com coeficiente de confor-
malidade - , se se verificam as condições anteriores. Dizemos simplesmente
que - é uma aplicação linear conforme se - é conforme para algum
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 23

coeficiente de conformalidade -   !.
Dem: É fácil de ver que, se - œ !, cada uma das condições a) a d) é equiva-
lente a - œ ! (reparar que a) pode-se escrever, de modo equivalente, na
forma ØBß -‡ ‰ -ÐCÑÙ œ ! e implica trivialmente b)). Se -  !, as condições
a) a d) são respectivamente equivalentes a
aw ) Ø "- -ÐBÑß "- -ÐCÑÙ œ ØBß CÙ
bw ) m "- -ÐBÑm œ mBm
cw ) ( "- -ч ‰ Ð "- -Ñ œ M.I
dw ) "- -ÐA" Ñß á ß "- -ÐA7 Ñ é um sistema ortonormado de vectores de J ,
a primeira das quais corresponde a afirmar que "- - é uma aplicação linear
ortogonal e cada uma das outras reduz-se à condição correspondente em
I.2.30, para a aplicação linear "- -. …
I.2.34 (Notas) a) Uma aplicação linear ortogonal -À I Ä J é precisamente a
mesma coisa que uma aplicação linear conforme com coeficiente de
conformalidade ".
b) No caso em que I e J são espaços vectoriais complexos, a condição c)
mostra que a aplicação linear complexa -À I Ä J é conforme, com
coeficiente de conformalidade - se, e só se, o é quando se olha para I e J
como espaços vectoriais reais, com os produtos internos reais associados.
c) No caso em que I tem dimensão ", a condição d) mostra que toda a
aplicação linear -À I Ä J é conforme.

O resultado que se segue dá-nos uma caracterização, muitas vezes útil,


das aplicações lineares que são projecções ortogonais sobre subespaços.

I.2.35 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, munido de produto


interno, e -À I Ä I uma aplicação linear. Tem-se então que - é a projecção
ortogonal sobre algum subespaço J de I se, e só se, -‡ œ - e - ‰ - œ - e,
nesse caso, um tal J é único e igual a -ÐIÑ.
Dem: Comecemos por supor que - é a projecção ortogonal de I sobre o
subespaço J § I . Já vimos em I.2.26 que - é autoadjunta e, uma vez que,
para cada ? − I , -Ð?Ñ − J e que, para cada ? − J , -Ð?Ñ œ ?, vemos que
-ÐIÑ œ J e que, para cada ? − I , -Ð-Ð?ÑÑ œ -Ð?Ñ, isto é, - ‰ - œ -.
Suponhamos, reciprocamente, que - − PÐIà IÑ é tal que -‡ œ - e
- ‰ - œ -. Seja J œ -ÐIÑ e tomemos ? − I arbitrário. Tem-se -Ð?Ñ − J e,
para cada @ − J , podemos escrever @ œ -ÐAÑ, para algum A − I , pelo que
Ø?  -Ð?Ñß @Ù œ Ø?ß -ÐAÑÙ  Ø-Ð?Ñß -ÐAÑÙ œ
œ Ø?ß -ÐAÑÙ  Ø?ß -Ð-ÐAÑÑÙ œ Ø?ß -ÐAÑÙ  Ø?ß -ÐAÑÙ œ !,
o que mostra que ?  -Ð?Ñ − J ¼ , e portanto -Ð?Ñ é a projecção ortogonal de
? sobre J . …
24 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

§3. Os produtos internos de Hilbert-Schmidt.

I.3.1 Suponhamos que, para cada " Ÿ 4 Ÿ :, I4 é um espaço vectorial de


dimensão 84 , munido de produto interno. No produto cartesiano
I" ‚ â ‚ I: , que é um espaço vectorial de dimensão 8"  â  8: , tem
então lugar um produto interno definido por
ØÐB" ß á ß B: Ñß ÐC" ß á ß C: ÑÙ œ ØB" ß C" Ù  â  ØB: ß C: Ù.

Por exemplo, se cada I4 fosse igual a ‘ ou ‚, com o produto interno usual


(Ø+ß ,Ù œ +, ), obtínhamos o produto cartesiano Š: , com o produto interno
usual.

Repare-se que a norma sobre I" ‚ â ‚ I: , associada a este produto


interno, não é, em geral, a norma do máximo, definida em I.1.11.

I.3.2 Sejam I e J espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensões 7 e 8,


respectivamente, munidos de produto interno. Existe então sobre o espaço
vectorial PÐIà J Ñ, de dimensão 8 ‚ 7, um, e um só, produto interno, tal
que, qualquer que seja a base ortonormada A" ß á ß A7 de I , se tenha, para
-ß . − PÐIà J Ñ,

Ø-ß .Ù œ " Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ.


7

4œ"

Além disso, considerando também o produto interno correspondente sobre


PÐJ à IÑ, tem-se. para -ß . − PÐIà J Ñ,

Ø - ‡ ß . ‡ Ù œ Ø - ß .Ù .
Alternativamente, fixadas bases ortonormadas A" ß á ß A7 de I e D" ß á ß D8

-ÐA4 Ñ œ ! +5ß4 D5 e .ÐA4 Ñ œ ! ,5ß4 D5 , tem-se


de J , onde - e . têm matrizes de elementos +5ß4 e ,5ß4 , definidas portanto por

5 5

Ø-ß .Ù œ " +5ß4 ,5ß4 .8


5ß4

Dem: Fixemos uma base ortonormada A" ß á ß A7 de I e definamos, para


-ß . − PÐIà J Ñ,

8Por outras palavras, identificando as aplicações lineares, com as respectivas matrizes e


estas com elementos de Š78 , de uma das maneiras naturais, ao produto interno de
PÐIà J Ñ fica a corresponder o produto interno canónico de Š78 (cf. I.2.3).
§3. Os produtos internos de Hilbert-Schmidt 25

Ø-ß .Ù œ " Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ.


7

4œ"

Se nos lembrarmos que uma aplicação linear, que se anula nos elementos de
uma certa base, é nula, constatamos facilmente que fica assim definido um
produto interno no espaço vectorial PÐIà J Ñ. Para justificar a primeira
afirmação do enunciado, tudo o que teríamos que ver é que este produto
interno não depende da base ortonormada que fixámos em I . Para
verificarmos isso vamos utilizar um processo que nos permite, ao mesmo
tempo, demonstrar a segunda afirmação do enunciado, assim como a fórmula
que envolve as matrizes de - e . em bases ortonormadas arbitrárias.
Consideremos então uma base ortonormada D" ß á ß D8 de J , assim como o
produto interno em PÐJ à IÑ definido a partir desta base ortonormada. Se
verificarmos que se tem Ø-‡ ß .‡ Ù œ Ø-ß .Ù, a independência da escolha das
bases ortonormadas ficará demonstrada (o primeiro membro da igualdade
não depende da base fixada em I e o segundo não depende da base fixada
em J , pelo que nenhum deles pode depender de nenhuma das escolhas). Ora,
considerando as matrizes de - e . nas duas bases ortonormadas
consideradas, vem

Ø-ß .Ù œ " Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ œ


4

œ "   " +5ß4 D5 ß " ,5w ß4 D5w ¡ œ


4 5 5w

œ " +5ß4 ,5w ß4 ØD5 ß D5w Ù œ " +5ß4 ,5ß4


4ß5ß5 w 4ß5

e, do mesmo modo, tendo em conta I.2.27,

Ø-‡ ß .‡ Ù œ " +5ß4 ,5ß4 œ Ø-ß .Ù. …


5ß4

I.3.3 Ao produto interno sobre PÐIà J Ñ que definimos atrás costuma-se dar o
nome de produto interno de Hilbert-Schmidt. Repare-se que a norma de
PÐIà J Ñ associada a este produto interno não é, em geral, a mesma que a
definida em I.1.9, a partir das normas de I e J associadas aos respectivos
produtos internos.

Reparemos que, se fixarmos uma base ortonormada A" ß á ß A7 de I


ficamos com um isomorfismo de PÐIà J Ñ sobre J ‚ â ‚ J (7
factores), que a cada - associa Ð-ÐA" Ñß á ß -ÐA7 ÑÑ, isomorfismo que vai
ser uma isometria linear, quando se considera em PÐIà J Ñ o produto
interno de Hilbert-Schmidt e em J ‚ â ‚ J o produto interno referido
em I.3.1.
26 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

I.3.4 Sejam I , J e K três espaços euclidianos ou hermitianos, - − PÐIà J Ñ,


. − PÐJ à KÑ e 0 − PÐIà KÑ. Tem-se então
Ø-ß .‡ ‰ 0Ù œ Ø. ‰ -ß 0Ù œ Ø.ß 0 ‰ -‡ Ù.

Dem: Fixemos uma base ortonormada A" ß á ß A7 de I . Tem-se então

Ø. ‰ -ß 0Ù œ " Ø.Ð-ÐA4 ÑÑß 0ÐA4 ÑÙ œ


4

œ " Ø-ÐA4 Ñß .‡ Ð0ÐA4 ÑÑÙ œ Ø-ß .‡ ‰ 0Ù.


4

o que demonstra a primeira igualdade. Quanto à segunda, ela vai ser uma
consequência da primeira e da última conclusão de I.3.2, visto que podemos
escrever
Ø. ‰ -ß 0Ù œ ØÐ. ‰ -ч ß 0‡ Ù œ Ø-‡ ‰ .‡ ß 0‡ Ù œ
œ Ø.‡ ß -‡ ‡ ‰ 0‡ Ù œ Ø.‡ ß Ð0 ‰ -‡ ч Ù œ Ø.ß 0 ‰ -‡ ÙÞ …

I.3.5 (O caso em que I é real e J é complexo) a) Sejam I um espaço


vectorial real de dimensão 7, munido de um produto interno real Ø ß Ù‘ e J
um espaço vectorial complexo de dimensão finita, munido de um produto
interno complexo Ø ß Ù‚ e notemos também Ø ß Ù‘ o produto interno real
associado de J . Tem-se então que o produto interno de Hilbert-Schmidt de
PÐIà J Ñ, enquanto espaço vectorial real, associado aos produtos internos
Ø ß Ù‘ , é o associado a um produto interno de PÐIà J Ñ, enquanto espaço
vectorial complexo, nomeadamente o definido por

Ø-ß .Ù‚ œ " Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ‚ ,


7

4œ"

onde A" ß á ß A7 é uma base ortonormada arbitrária de I .


b) Sejam I e J espaços vectoriais complexos, munidos de produtos
internos, que notaremos Ø ß Ù‚ , e consideremos o produto interno complexo
sobre P‘ ÐIà J Ñ referido em a), correspondente a considerar I como espaço
vectorial real com o produto interno real associado Ø ß Ù‘ . Tem-se então que o
produto interno complexo induzido por este em P‚ ÐIà J Ñ § P‘ ÐIà J Ñ é o
dobro do produto interno de Hilbert-Schmidt complexo de P‚ ÐIà J Ñ.
c) No quadro descrito em a), valem as adaptações naturais de I.3.4, nomeada-
mente:
c1) Se I é um espaço euclidiano, J e K são espaços hermitianos,
- − PÐIà J Ñ, . − P‚ ÐJ à KÑ e 0 − PÐIà KÑ, então
Ø- ß . ‡ ‰ 0 Ù ‚ œ Ø . ‰ - ß 0 Ù ‚ .

c2) Se I , J são espaços euclidianos, K é um espaço hermitiano,


- − PÐIà J Ñ, . − PÐJ à KÑ e 0 − PÐIà KÑ, então
§3. Os produtos internos de Hilbert-Schmidt 27

Ø. ‰ - ß 0 Ù ‚ œ Ø .ß 0 ‰ - ‡ Ù ‚ .

Dem: a) É fácil constatar, tal como na definição do produto interno de


Hilbert-Schmidt no caso em que temos o mesmo corpo de escalares, que,
fixada a base ortonormada A" ß á ß A7 de I , a expressão do enunciado
define efectivamente um produto interno complexo sobre PÐIà J Ñ, cujo
produto interno real associado está definido por

Ø-ß .Ù‘ œ " Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ‘ ,


7

4œ"

sendo portanto o de Hilbert-Schmidt. Basta então repararmos que o facto de


este produto interno complexo não depender da base ortonormada escolhida
resulta de que isso acontece com o produto interno real associado.
b) Basta atender a que, sendo A" ß á ß A7 uma base ortonormada complexa
de I , relativamente ao produto interno Ø ß Ù‚ , podemos considerar a base
ortonormada real A" ß á ß A7 ß 3A" ß á ß 3A7 de I , relativamente ao produto
interno real associado, tendo-se portanto, para -ß . − P‚ ÐIà J Ñ,

Ø-ß .Ù‚ œ " Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ‚  " Ø-Ð3A4 Ñß .Ð3A4 ÑÙ‚ œ
7 7

4œ" 4œ"

œ " Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ‚  " Ø3-ÐA4 Ñß 3.ÐA4 ÑÙ‚ œ


7 7

4œ" 4œ"

œ # ‚ " Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ‚ .


7

4œ"

c) Trata-se de uma consequência das fórmulas em I.3.4, se repararmos que,


pela relação entre um produto interno complexo e o produto interno real
associado, estabelecida em I.2.7, podemos escrever, no primeiro caso,
Ø-ß .‡ ‰ 0Ù‚ œ Ø-ß .‡ ‰ 0Ù‘  3Ø-ß 3Ð.‡ ‰ 0ÑÙ‘ œ
œ Ø-ß .‡ ‰ 0Ù‘  3Ø-ß .‡ ‰ Ð30ÑÙ‘ œ
œ Ø. ‰ -ß 0Ù‘  3Ø. ‰ -ß 0Ù‘ œ Ø. ‰ -ß 0Ù‚
e, no segundo caso,
Ø. ‰ -ß 0Ù‚ œ Ø. ‰ -ß 0Ù‘  3Ø. ‰ -ß 30Ù‘ œ
œ Ø.ß 0 ‰ -‡ Ù‘  3Ø.ß 30 ‰ -‡ Ù‘ œ Ø.ß 0 ‰ -‡ Ù‚ . …

Estudámos atrás a caracterização da adjunta de uma aplicação linear e do


produto interno de duas aplicações lineares em termos das respectivas
matrizes em bases ortonormadas. Por vezes interessa examinar uma
situação análoga, em que as matrizes relativas a bases são substituídas por
matrizes associadas a somas directas. Começamos, para isso, por
examinar o que são essas matrizes.
28 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

I.3.6 Sejam I e J espaços vectoriais e fixemos subespaços vectoriais


I" ß á ß I7 , de I , e J" ß á ß J8 , de J , tais que tenham lugar as decomposi-
ções em soma directa I œ I" Š â Š I7 e J œ J" Š â Š J8 . Se
-À I Ä J é uma aplicação linear, vamos chamar matriz de -, relativamente
às somas directas consideradas, à família de aplicações lineares Ð-3ß4 Ñ "Ÿ3Ÿ8 ,
"Ÿ4Ÿ7

com -3ß4 À I4 Ä J3 definida por -3ß4 œ 13w ‰ -ÎI4 , onde 13w À J Ä J3 são as
projecções associadas à segunda soma directa. A matriz é frequentemente
notada

Ô -"ß" â -"ß7 ×
Ö -#ß" â -#ß7 Ù
-"ß#
Ö Ù
-#ß#

Õ -8ß" â -8ß7 Ø
ã ã ä ã
-8ß#

ou ainda, se quisermos tornar visualmente mais claro quais as somas directas


consideradas,
I" I# â I7
J" Ô -"ß" -"ß# â -"ß7 ×
J# Ö -#ß" -#ß# â -#ß7 Ù
Ö Ù.
J8 Õ -8ß" -8ß# â -8ß7 Ø
ã ã ã ä ã

I.3.7 Nas condições anteriores, dada uma matriz arbitrária de aplicações lineares
-3ß4 À I4 Ä J3 , com " Ÿ 3 Ÿ 8 e " Ÿ 4 Ÿ 7, vai existir uma, e uma só,

por - œ ! -3ß4 ‰ 14 , onde 14 À I Ä I4 são as projecções associadas à pri-


aplicação linear -À I Ä J cuja matriz seja aquela, nomeadamente a definida
"Ÿ3Ÿ8
"Ÿ4Ÿ7

meira soma directa. O espaço vectorial PÐIà J Ñ fica assim isomorfo ao


produto cartesiano dos espaços vectoriais PÐI4 à J3 Ñ, com " Ÿ 4 Ÿ 7 e
" Ÿ 3 Ÿ 8, pelo isomorfismo que a cada - associa a respectiva matriz de
aplicações lineares.
Dem: Se -À I Ä J é uma aplicação linear tal que 13w ‰ -ÎI4 œ -3ß4 , tem-se,
para cada B − I
-ÐBÑ œ " 13w Ð-ÐBÑÑ œ " 13w Ð-Ð14 ÐBÑÑÑ œ " -3ß4 Ð14 ÐBÑÑ,
"Ÿ3Ÿ8 "Ÿ3Ÿ8 "Ÿ3Ÿ8
"Ÿ4Ÿ7 "Ÿ4Ÿ7

donde - œ ! -3ß4 ‰ 14 . Reciprocamente, definindo - − PÐIà J Ñ por esta

igualdade, tem-se, para cada B − I4 , -ÐBÑ œ ! -3ß4 ÐBÑ, com -3ß4 ÐBÑ − J3 ,
"Ÿ3Ÿ8
"Ÿ4Ÿ7

"Ÿ3Ÿ8
para cada 3, pelo que -3ß4 ÐBÑ œ 13w Ð-ÐBÑÑ. …
I.3.8 (Functorialidade) Consideremos espaços vectoriais Iß J ß K e subespaços
vectoriais I" ß á ß I7 , de I , J" ß á ß J8 , de J , e K" ß á ß K: , de K , tais que
§3. Os produtos internos de Hilbert-Schmidt 29

tenham lugar as somas directas


I œ I" Š â Š I7 , J œ J" Š â Š J8 , K œ K" Š â Š K: .

Tem-se então:
a) A matriz da aplicação linear M.I À I Ä I é

Ô M.I" ! ×
Ö ! ! Ù
! â
Ö Ù.
M.I# â

Õ ! â M.I8 Ø
ã ã ä ã
!

b) Se -À I Ä J e .À J Ä K têm matrizes

Ô -"ß" â -"ß7 × Ô ."ß" â ."ß8 ×


Ö -#ß" â -#ß7 Ù Ö. â .#ß8 Ù
-"ß# ."ß#
Ö Ù e Ö #ß" Ù,
-#ß# .#ß#

Õ -8ß" â -8ß7 Ø Õ .:ß" â .:ß8 Ø


ã ã ä ã ã ã ä ã
-8ß# .:ß#

respectivamente, então . ‰ -À I Ä K tem matriz

Ô 3"ß" â 3"ß7 ×
Ö 3#ß" â 3#ß7 Ù
3"ß#
Ö Ù,
3#ß#

Õ 3:ß" â 3:ß7 Ø
ã ã ä ã
3:ß#

onde 33ß5 œ ! .3ß4 ‰ -4ß5 .9


"Ÿ4Ÿ8
Dem: A demonstração de a) é trivial e, quanto a b), atendemos a que, para
cada B − I5 , tem-se
. ‰ -ÐBÑ œ .ˆ" 14w Ð-ÐBÑщ œ " .Ð-4ß5 ÐBÑÑ œ

œ" " 13ww Ð.Ð-4ß5 ÐBÑÑÑ œ " " .3ß4 ‰ -4ß5 ÐBÑ,
"Ÿ4Ÿ8 "Ÿ4Ÿ8

"Ÿ3Ÿ: "Ÿ4Ÿ8 "Ÿ3Ÿ: "Ÿ4Ÿ8

com .3ß4 ‰ -4ß5 ÐBÑ − K3 , para cada 3, donde 33ß5 ÐBÑ œ ! .3ß4 ‰ -4ß5 ÐBÑ. …
"Ÿ4Ÿ8

I.3.9 No quadro de um espaço vectorial I , munido de produto interno, sabemos


que as bases ortonormadas jogam um papel especialmente relevante. Do
mesmo modo, nesse quadro, de entre as decomposições em soma directa
I œ I" Š â Š I7 vão ser especialmente importantes aquelas em soma
directa ortogonal, isto é, aquelas em que, para cada 3 Á 4, B − I3 e Bw − I4 ,
tem-se ØBß Bw Ù œ !. Repare-se que, como se verifica facilmente, dizer que a
decomposição em soma directa I œ I" Š â Š I7 é ortogonal equivale a

9Reparar na analogia com a matriz identidade e com a fórmula usual para o produto de
matrizes.
30 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

dizer que as projecções 13 À I Ä I3 associadas à soma directa coincidem com


as projecções ortogonais de I sobre as parcelas I3 .
I.3.10 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, munidos de produto
interno e de decomposições em soma directa ortogonal I œ I" Š â Š I7 e
J œ J" Š â Š J8 . Sejam -ß . − PÐIà J Ñ, com matrizes

Ô -"ß" â -"ß7 × Ô ."ß" â ."ß7 ×


Ö -#ß" â -#ß7 Ù Ö .#ß" â .#ß7 Ù
-"ß# ."ß#
Ö Ùß Ö Ù.
-#ß# .#ß#

Õ -8ß" â -8ß7 Ø Õ .8ß" â .8ß7 Ø


ã ã ä ã ã ã ä ã
-8ß# .8ß#

Tem-se então:
a) A aplicação linear -‡ À J Ä I tem matriz

Ô Ð-"ß" Ñ â Ð-8ß" ч ×

Ð-#ß" ч
Ö Ð-"ß# ч â Ð-8ß# ч Ù
Ö Ù,
Ð-#ß# ч

Õ Ð-"ß7 ч ‡Ø
ã ã ä ã
Ð-#ß7 ч â Ð-8ß7 Ñ

por outras palavras, tem-se Ð-‡ Ñ4ß3 œ Ð-3ß4 ч .


b) Tem-se, para os produtos internos de Hilbert-Schmidt,
Ø-ß .Ù œ " Ø-3ß4 ß .3ß4 Ù.
"Ÿ3Ÿ8
"Ÿ4Ÿ7

Dem: Sejam 14 À I Ä I4 e 13w À J Ä J3 as projecções ortogonais e


+4 À I4 Ä I e +3w À J3 Ä J as inclusões. Tem-se então

Ð-‡ Ñ4ß3 œ 14 ‰ -ÎJ

3
œ 14 ‰ -‡ ‰ +3w œ +4‡ ‰ -‡ ‰ 13w œ Ð13w ‰ - ‰ +4 ч œ Ð-3ß4 ч ,

tem-se ØCß C w Ù œ ! Ø13w ÐCÑß 13w ÐCÑÙ, uma vez que C œ ! 13w ÐCÑ, C w œ !
o que prova a). Quanto a b), comecemos por notar que, se Cß C w − J , então

"Ÿ3Ÿ8 3 3w

13ww ÐC w Ñ e, para 3 Á 3w , Ø13w ÐCÑß 13w w ÐC w ÑÙ œ !. Daqui resulta, tendo em conta a


definição dos produtos internos de Hilbert-Schmidt, que, para !ß " −
PÐIà J Ñ, tem-se
Ø!ß " Ù œ " Ø13w ‰ !ß 13w ‰ " Ù.
3

Uma vez que, fixada uma base ortonormada em cada I4 , a união dessas
bases vai ser uma base ortonormada de I , concluímos que
Ø-ß .Ù œ " Ø-ÎI4 ß .ÎI4 Ù œ " " Ø13w ‰ -ÎI4 ß 13w ‰ .ÎI4 Ù œ

œ " Ø-3ß4 ß .3ß4 Ù.


"Ÿ4Ÿ7 "Ÿ4Ÿ7 "Ÿ3Ÿ8

…
"Ÿ3Ÿ8
"Ÿ4Ÿ7
§3. Os produtos internos de Hilbert-Schmidt 31

Por vezes ser-nos-á útil sabermos calcular determinantes e traços de apli-


cações lineares em termos das suas matrizes relativas a uma
decomposição em soma directa. Para simplificar examinamos apenas o
que se passa quando com as somas directas de duas parcelas. Os
resultados gerais podem facilmente ser deduzidos destes por indução no
número de parcelas.

I.3.11 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8 e I" ß I# dois subespaços


vectoriais tais que tenha lugar a soma directa I œ I" Š I# . Seja -À I Ä I
uma aplicação linear com matriz

”- -#ß# •
-"ß" -"ß#
,
#ß"

relativa à decomposição considerada. Tem-se então:


a) TrÐ-Ñ œ TrÐ-"ß" Ñ  TrÐ-#ß# Ñ.
b) Se -#ß" œ ! ou -"ß# œ !, então detÐ-Ñ œ detÐ-"ß" Ñ ‚ detÐ-#ß# Ñ.
Dem: Sendo : e ; as dimensões de I" e I# , respectivamente, fixemos uma
base de I cujos primeiros : elementos estejam em I" e os últimos ;
elementos em I# . A matriz E de - nesta base pode ser dividida em blocos,

Eœ”
E#ß# •
E"ß" E"ß#
,
E#ß"

onde E3ß4 é a matriz da aplicação linear -3ß4 nas bases consideradas. O


resultado é então uma consequência de que, para uma matriz E assim
dividida, tem-se trivialmente TrÐEÑ œ TrÐE"ß" Ñ  TrÐE#ß# Ñ e de que é bem
conhecido que, com a hipótese de se ter E#ß" œ ! ou E"ß# œ !, tem-se
também detÐEÑ œ detÐE"ß" Ñ ‚ detÐE#ß# Ñ (O leitor que não conhecesse esse
resultado prová-lo-ia facilmente reparando que, na soma correspondente ao
determinante de E, só podem ser não nulas as parcelas correspondentes a
permutações 5 que apliquem cada um dos dois subconjuntos Ö"ß á ß :× e
Ö:  "ß á ß 8× em si mesmo). …

§4. Orientação de espaços vectoriais reais.

I.4.1 Seja I um espaço vectorial real de dimensão 8 e sejam ?" ß á ß ?8 e


@" ß á ß @8 duas bases de I . Podemos então considerar a matriz de mudança
da primeira base para a segunda, que é a matriz com 8 linhas e 8 colunas,
cujo elemento +4ß5 , da linha 4 e coluna 5 , está definido por

@5 œ " +4ß5 ?4 .
8

4œ"
32 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

Trata-se de uma matriz invertível, cuja matriz inversa é a matriz da mudança


da segunda base para a primeira. Diz-se que as duas bases têm a mesma
orientação se a matriz de mudança da primeira base para a segunda tem
determinante positivo; caso contrário, isto é, se esse determinante é negativo,
diz-se que as duas bases têm orientações opostas.10
A razão por que esta noção só é apresentada no quadro dos espaços vectoriais
reais está em que, no caso de termos um espaço vectorial complexo, a matriz
de mudança de base terá elementos complexos pelo que o seu determinante
será em geral um número complexo, não fazendo portanto sentido pedir que
ele seja positivo ou negativo. Não esquecer, no entanto, que um espaço
vectorial complexo I de dimensão 8 pode ser olhado como espaço vectorial
real, de dimensão #8, e, desse ponto de vista, já faz sentido falar de duas
bases reais de I terem ou não a mesma orientação.
I.4.2 A relação “têm a mesma orientação” é uma relação de equivalência no con-
junto H8 ÐIÑ das bases de I . Além disso, se as bases ?" ß á ß ?8 e @" ß á ß @8
têm orientações opostas e as bases @" ß á ß @8 e A" ß á ß A8 têm orientações
opostas, então as bases ?" ß á ß ?8 e A" ß á ß A8 têm a mesma orientação.
Dem: A reflexividade vem de que o determinante da matriz identidade é
igual a ". A simetria é uma consequência do facto de o determinante da
matriz inversa ser o inverso do determinante da matriz de partida, tendo, em
particular, o mesmo sinal que este. Quanto à transitividade e à última
afirmação do enunciado, basta atendermos a que a matriz de mudança da
base ?" ß á ß ?8 para a base A" ß á ß A8 é o produto da matriz de mudança da
base ?" ß á ß ?8 para a base @" ß á ß @8 pela matriz de mudança da base
@" ß á ß @8 para a base A" ß á ß A8 , tendo portanto determinante igual ao
produto dos determinantes daquelas. …
I.4.3 A propriedade suplementar referida no enunciado precedente implica que o
conjunto H8 ÐIÑ das base de I tem, no máximo, duas classes de equivalência
para a relação de equivalência em questão, visto que, se duas bases não
forem equivalentes, qualquer base que não seja equivalente a uma delas é
equivalente à outra.
De facto, se I Á Ö!×, H8 ÐIÑ tem mesmo duas classes de equivalência: Para
o ver, basta reparar que, se multiplicarmos um dos vectores de uma base por
", obtemos uma base não equivalente (se multiplicarmos uma coluna duma
matriz por ", o seu determinante vem multiplicado por "). Diga-se a
propósito que, se trocarmos a ordem de dois vectores de uma base, obtemos
também uma base não equivalente (se trocarmos duas colunas de uma matriz,
obtemos uma nova matriz, cujo determinante é simétrico do da primeira).
Já se I œ Ö!×, I tem uma única base, a família vazia de vectores, e portanto
H8 ÐIÑ tem uma única classe de equivalência.

10Repare-se que a ordenação dos elementos da base é aqui essencial.


§4. Orientação de espaços vectoriais reais 33

Repare-se que, embora tenhamos definido quando é que duas bases têm a
mesma orientação, não dissemos o que se deve entender por orientação de
uma base. É verdade que, no espaço vectorial dos vectores livres da nossa
Geometria euclidiana, estamos habituados a falar de bases directas e de
bases retrógradas, mas essa classificação é algo que ultrapassa a simples
estrutura de espaço vectorial e tem muito a ver com uma escolha arbitrária
de uma base como modelo.
Outra observação é a de que a ideia intuitiva que temos de duas bases
terem ou não a mesma orientação não corresponde directamente à defi-
nição que apresentámos acima11. Intuitivamente, duas bases ?" ß á ß ?8 e
@" ß á ß @8 têm a mesma orientação se pudermos deformar continuamente
a primeira na segunda, isto é, se existir uma aplicação contínua do
intervalo Ò!ß "Ó no conjunto H8 ÐIÑ das bases de I (uma parte do espaço
vectorial I 8 de dimensão 8# ), que em ! tome como valor a primeira base
e em " a segunda. É fácil provar que duas bases que tenham a mesma
orientação, neste sentido intuitivo, têm também a mesma orientação, no
sentido da definição que apresentámos: à deformação da primeira base na
segunda vai corresponder uma deformação da matriz identidade na matriz
de mudança de base, feita ao longo do conjunto das matrizes invertíveis, e
a função determinante, sendo contínua e nunca se anulando ao longo
dessa deformação, vai ter que ter sempre o mesmo sinal. A implicação
recíproca é também verdadeira, mas a respectiva demonstração é menos
elementar e não será aqui abordada (o leitor interessado poderá examinar
o exercício I.18 para o caso particular de duas bases ortonormadas e o
exercício III.6 para o caso geral). No caso particular do espaço vectorial
dos vectores livres do nosso espaço da Geometria euclidiana, esta
implicação recíproca pode ser demonstrada de modo simples se
admitirmos uma propriedade, que já todos “verificámos experi-
mentalmente” e que refere que, se não for possível deformar continua-
mente uma base ?" ß ?# ß ?$ numa base @" ß @# ß @$ , então é possível deformar
continuamente a primeira base na base @" ß @# ß @$ . Em qualquer caso, no
que se vai seguir utilizaremos a definição apresentada atrás e não o
conceito intuitivo de duas bases terem a mesma orientação.

I.4.4 Se I é um espaço vectorial real de dimensão 8, chama-se orientação de I


a uma aplicação ! do conjunto H8 ÐIÑ das bases de I no conjunto Ö"ß "×,
tal que, quaisquer que sejam as bases ?" ß á ß ?8 e @" ß á ß @8 de I , se tenha
!Ð?" ß á ß ?8 Ñ œ !Ð@" ß á ß @8 Ñ se, e só se, as duas bases têm a mesma
orientação. Por outras palavras a aplicação ! deve ser constante sobre cada
classe de equivalência e tomar valores distintos em classes de equivalência
distintas.
Chama-se espaço vectorial orientado a um espaço vectorial no qual se fixou
uma orientação. Às bases ?" ß á ß ?8 , para as quais se tem !Ð?" ß á ß ?8 Ñ œ "
dá-se o nome de bases directas e àquelas para as quais !Ð?" ß á ß ?8 Ñ œ ",
o de bases retrógradas.

11Uma criança consegue aprender qual é a sua mão direita antes de saber calcular o
determinante de uma matriz.
34 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

Dito de outro modo, um espaço vectorial orientado é um espaço vectorial em


que se dá uma regra que permita dizer quando é que uma base é directa ou
retrógrada, mas isto de modo compatível com a definição I.4.1.
I.4.5 Sejam I um espaço vectorial real de dimensão 8 e ?" ß á ß ?8 uma base
fixada de I . Para cada & − Ö"ß "×, existe então uma, e uma só, orientação !
de I , tal que !Ð?" ß á ß ?8 Ñ œ & . Por outras palavras, uma orientação fica
bem definida, se tomarmos uma base arbitrária e decretarmos se ela deve ser
directa ou retrógrada. Em particular cada espaço vectorial real I de
dimensão finita tem duas, e só duas orientações; se uma delas é !, a outra é
!.
Dem: Basta definir, para cada base @" ß á ß @8 de I , !Ð@" ß á ß @8 Ñ œ &, se as
duas bases tiverem a mesma orientação, e !Ð@" ß á ß @8 Ñ œ &, caso
contrário. O facto de a aplicação ! assim definida ser uma orientação é uma
consequência simples de I.4.2. …
I.4.6 Repare-se que, na discussão anterior, admitimos também o caso em que o
espaço vectorial I é Ö!×. Nesse caso, I admite uma única base, a saber, a
família vazia de vectores, mas, mesmo assim, I admite ainda duas orienta-
ções, a saber, aquela para a qual a base em questão é directa (dizemos que
esta é a orientação positiva de I ) e aquela para a qual ela é retrógrada (dize-
mos que esta é a orientação negativa de I ).
No caso em que I Á Ö!×, H8 ÐIÑ tem, como referimos, duas classes de
equivalência e dar uma orientação equivale a escolher uma dessas classes de
equivalência (aquela cujos elementos são as bases aplicadas em ").12
I.4.7 Se I é um espaço vectorial real de dimensão ", uma base de I é
simplesmente um vector não nulo e duas bases B e C têm a mesma orientação
se, e só se, se tem C œ +B, com +  ! (os dois vectores têm o mesmo
sentido). O conjunto das bases de I é simplesmente I Ï Ö!× e às duas
classes de equivalência dá-se o nome de semi-rectas abertas de I .
Quando I está orientado, chamamos vectores positivos (respectivamente
negativos) àqueles que constituem bases directas (respectivamente
retrógradas). As semi-rectas abertas de I são assim o conjunto I dos
vectores positivos e o conjunto I dos vectores negativos. Em particular,
constatamos que as semi-rectas abertas são conjuntos abertos convexos, uma
vez que, fixada uma base directa B, I e I são as imagens dos conjuntos
abertos convexos Ó!ß _Ò e Ó_ß !Ò de ‘ pelo isomorfismo > È >B.
Orientar um espaço vectorial real de dimensão " equivale assim a escolher

12Alguns autores definem orientação de um espaço vectorial como sendo uma classe de
equivalência, para a relação de equivalência definida em I.4.1. O que acabamos de dizer
mostra que, para um espaço vectorial distinto de Ö!×, esta definição é equivalente à que
apresentámos. No entanto, a definição apresentada por esses autores faz com que, ao
contrário do que acontece com a que estamos a utilizar, o espaço vectorial Ö!× tenha
apenas uma orientação, o que é uma flagrante injustiça.
§4. Orientação de espaços vectoriais reais 35

uma das duas semi-rectas abertas, aquela que vai ser constituída pelos vec-
tores positivos para a orientação.

A geometria do complementar de Ö!× num espaço vectorial real de


dimensão " generaliza-se naturalmente quando estamos em presença de
um espaço vectorial real I de dimensão 8 e de um subespaço vectorial de
dimensão 8  "Þ

I.4.8 Sejam I um espaço vectorial real de dimensão 8 e J § I um hiperplano,


isto é, um subespaço vectorial de dimensão 8  ". Podemos então considerar
o espaço vectorial quociente I J , que tem dimensão ", e a aplicação linear
I
sobrejectiva I Ä J , que a cada B associa a sua classe de equivalência ÒBÓJ ,
cujo kernel é precisamente o subespaço vectorial J . O complementar I Ï J ,
que é a imagem recíproca de I J Ï Ö!×, fica assim união de dois subconjuntos
abertos convexos, a que damos o nome de semi-espaços abertos de I asso-
ciados a J , nomeadamente o constituído pelos vectores B − I tais que ÒBÓJ
pertence a uma das semi-rectas e aquele cujos elementos são os vectores B
tais que ÒBÓJ pertence à outra semi-recta.
Nas condições anteriores, chamamos orientação transversa de J em I , a
uma orientação do espaço vectorial I J de dimensão ". Dada uma orientação
transversa, notamos I e I os dois semi-espaços abertos determinados por
J , respectivamente o constituído pelos vectores B tais que ÒBÓJ é positivo e o
constituído pelos vectores B tais que ÒBÓJ é negativo.
É claro que, no caso em que I tem dimensão ", Ö!× é um hiperplano de I e
os semi-espaços abertos de I são precisamente as semi-rectas abertas de I
I
(a aplicação linear canónica I Ä Ö!× é um isomorfismo).

I.4.9 O espaço vectorial ‘8 é um espaço vectorial de dimensão 8, com uma base


privilegiada, a saber, a base canónica /" ß á ß /8 , onde /4 é o vector que tem
uma coordenada " na posição 4 e todas as outras coordenadas !. Chama-se
orientação canónica de ‘8 a orientação para a qual essa base é directa,
sendo esta a orientação que se considera em ‘8 , sempre que não se faça
aviso em contrário. No caso particular em que 8 œ " a orientação canónica
de ‘ é aquela para o qual os vectores positivos são os números positivos e os
vectores negativos são os números negativos.
I.4.10 Sejam I e J espaços vectoriais reais de dimensão 8, munidos de
orientações, e 0À I Ä J um isomorfismo. Tem-se então que, ou 0 aplica
bases directas de I em bases directas de J e bases retrógradas de I em
bases retrógradas de J , caso em que dizemos que 0 conserva as orientações,
ou 0 aplica bases directas de I em bases retrógradas de J e bases retrógradas
de I em bases directas de J , caso em que dizemos que 0 inverte as
orientações.
Dem: Tudo o que é preciso verificar é que, se ?" ß á ß ?8 e @" ß á ß @8 são
duas bases de I , elas têm a mesma orientação se, e só se, as bases
36 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

0Ð?" Ñß á ß 0Ð?8 Ñ e 0Ð@" Ñß á ß 0Ð@8 Ñ de J têm a mesma orientação. Ora, isso é


uma consequência de que, se se tiver @4 œ ! +5ß4 ?5 , tem-se também

0(@4 ) œ " +5ß4 0(?5 ). …

I.4.11 Sejam I e J espaços vectoriais reais, de dimensão 8, e 0À I Ä J um


isomorfismo. Dada uma orientação de I , existe então uma, e uma só, orien-
tação de J tal que 0 conserve as orientações (dizemos que esta última é
obtida a partir da primeira por transporte por meio do isomorfismo 0).
Dem: Toma-se uma orientação qualquer em J e, se essa não servir, serve a
outra. …
I.4.12 Como exemplo da situação anterior, temos aquele em que I é um espaço
vectorial real de dimensão " e consideramos o hiperplano Ö!× § I e o
I I
quociente Ö!× . A aplicação canónica I Ä Ö!× , que vai ser assim um isomor-
I
fismo e dada uma orientação em I fica determinada uma orientação de Ö!× ,
isto é uma orientação transversa de Ö!× em I , pela condição deste isomor-
fismo conservar as orientações. Constatamos que os semi-espaços abertos de
I associados ao hiperplano Ö!× são, neste caso, simplesmente as semi-rectas
abertas e que as notações I e I não dependem dos dois contextos.

No caso em que temos um isomorfismo 0À I Ä I , de um espaço


vectorial I de dimensão finita sobre si mesmo, o facto de 0 conservar ou
inverter as orientações não depende da orientação que se considera em I ,
desde que se considere a mesma no domínio e no codomínio. De facto,
tem lugar a seguinte relação com o determinante:

I.4.13 Sejam I um espaço vectorial real de dimensão finita, sobre o qual


consideramos uma das suas orientações, e 0À I Ä I um isomorfismo.

Dem: Basta lembrar que, se B" ß á ß B8 é uma base de I e 0ÐB4 Ñ œ !+5ß4 B5 ,


Tem-se então que 0 conserva as orientações se, e só se, detÐ0Ñ  !.

então detÐ0Ñ é o determinante da matriz dos +5ß4 , que não é mais do que a
matriz de mudança da base B" ß á ß B8 para a base 0ÐB" Ñß á ß 0ÐB8 Ñ. …
I.4.14 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial complexo de dimensão 8 e
0À I Ä I um isomorfismo complexo. Considerando então I como espaço
vectorial real de dimensão #8, tem-se então que 0 conserva as orientações.
Dem: Basta atender a que, por I.1.23, det‘ Ð0Ñ œ ldet‚ Ð0Ñl# , em particular
det‘ Ð0Ñ  !. …

Apesar de, como já referimos, só fazer sentido falar de orientações para


espaços vectoriais reais, uma das consequências do corolário anterior é a
possibilidade de definir uma orientação canónica de qualquer espaço
vectorial complexo, quando considerado como espaço vectorial real.
§4. Orientação de espaços vectoriais reais 37

I.4.15 Seja I um espaço vectorial complexo de dimensão 8. Existe então sobre


I, enquanto espaço vectorial real, uma, e uma só, orientação, a que daremos
o nome de orientação canónica, tal que, qualquer que seja a base complexa
B" ß á ß B8 de I , a base real B" ß 3B" ß B# ß 3B# ß á ß B8 ß 3B8 seja directa.13
Dem: Tudo o que temos que verificar é que, se fixarmos uma base complexa
B" ß á ß B8 de I e considerarmos a orientação para a qual a base real
B" ß 3B" ß á ß B8 ß 3B8 é directa, então, dada outra base complexa C" ß á ß C8 , a
base real C" ß 3C" ß á ß C8 ß 3C8 é também directa. Ora, isso é uma consequência
de o isomorfismo complexo 0À I Ä I , definido por 0ÐB4 Ñ œ C4 , que, pelo
corolário precedente, conserva as orientações, aplicar a primeira base na
segunda. …
I.4.16 Se I e J são espaços vectoriais complexos de dimensão 8 e 0À I Ä J é
um isomorfismo complexo, então, considerando I e J como espaços
vectoriais reais, com as orientações canónicas, 0 conserva as orientações.
Dem: Basta atender a que, se B" ß á ß B8 é uma base complexa de I , então
0ÐB" Ñß á ß 0ÐB8 Ñ é uma base complexa de J e 0 aplica a base directa
B" ß 3B" ß á ß B8 ß 3B8 de I na base directa 0ÐB" Ñß 30ÐB" Ñß á ß 0ÐB8 Ñß 30ÐB8 Ñ de
J. …
I.4.17 Seja I um espaço vectorial real de dimensão 7  8, tal que tenha lugar
uma soma directa I œ J Š K , com J e K subespaços vectoriais de
dimensões 7 e 8 respectivamente. Tem-se então:
a) Se ?" ß á ß ?7 e ?w" ß á ß ?w7 são duas bases de J com a mesma orientação
(resp. com orientações opostas) e se @" ß á ß @8 é uma base de K , então as
bases de I ?" ß á ß ?7 ß @" ß á ß @8 e ?w" ß á ß ?w7 ß @" ß á ß @8 têm a mesma
orientação (resp. têm orientações opostas);
b) Se ?" ß á ß ?7 é uma base de J e se @" ß á ß @8 e @"w ß á ß @8w são bases de K
com a mesma orientação (resp. com orientações opostas), então as bases de
I ?" ß á ß ?7 ß @" ß á ß @8 e ?" ß á ß ?7 ß @"w ß á ß @8w têm a mesma orientação
(resp. têm orientações opostas).
Dem: a) Se E é a matriz de mudança da base ?" ß á ß ?7 para a base
?w" ß á ß ?w7 e se notarmos M a matriz identidade de tipo 8 ‚ 8, a matriz de
mudança da base ?" ß á ß ?7 ß @" ß á ß @8 para a base ?w" ß á ß ?w7 ß @" ß á ß @8 é
uma matriz da forma

”! M•
E !
,

tendo portanto determinante igual ao da matriz E.


b) Se F é a matriz de mudança da base @" ß á ß @8 para a base @"w ß á ß @8w e se
notarmos M a matriz identidade de tipo 7 ‚ 7, a matriz de mudança da base
?" ß á ß ?7 ß @" ß á ß @8 para a base ?" ß á ß ?7 ß @"w ß á ß @8w é uma matriz da

13Alguns autores usam uma convenção diferente, considerando como directa a base
B" ß á ß B8 ß 3B" ß á ß 3B8 . A convenção aqui seguida tem a vantagem de funcionar melhor
em relação com a definição em I.4.18.
38 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

forma

”! F•
M !
,

tendo portanto determinante igual ao da matriz F . …


I.4.18 Nas condições anteriores, dadas orientações !J de J e !K de K existe
uma única orientação !I de I , a que chamamos a orientação associada à
soma directa, tal que, quaisquer que sejam as bases ?" ß á ß ?7 de J e
@" ß á ß @8 de K , se tem, para a correspondente base ?" ß á ß ?7 ß @" ß á ß @8 de
I,
!I Ð?" ß á ß ?7 ß @" ß á ß @8 Ñ œ !J Ð?" ß á ß ?7 Ñ ‚ !K Ð@" ß á ß @8Ñ.
Além disso, se trocarmos uma das duas orientações !J e !K e conservarmos
a outra, a orientação !I vem trocada.
Dem: Consideremos uma base ?" ß á ß ?7 de J e uma base @" ß á ß @8 de K e
a orientação !I de I , para a qual
!I Ð?" ß á ß ?7 ß @" ß á ß @8 Ñ œ !J Ð?" ß á ß ?7 Ñ ‚ !K Ð@" ß á ß @8Ñ.
Usando o resultado precedente, vemos sucessivamente que, qualquer que seja
a base ?w" ß á ß ?w7 de J ,
!I Ð?w" ß á ß ?w7 ß @" ß á ß @8 Ñ œ !J Ð?w" ß á ß ?w7 Ñ ‚ !K Ð@" ß á ß @8Ñ
e que, quaisquer que sejam as bases ?w" ß á ß ?w7 de J e @"w ß á ß @8w de K ,
!I Ð?w" ß á ß ?w7 ß @"w ß á ß @8w Ñ œ !J Ð?w" ß á ß ?w7 Ñ ‚ !K Ð@"w ß á ß @8w Ñ
pelo que a orientação !I verifica a condição do enunciado. A afirmação
sobre o que sucede quando se troca uma das orientações é uma consequência
imediata da definição. …
I.4.19 (Nota) Nas condições dos resultados anteriores, se tem lugar a soma
directa I œ J Š K , é claro que tem também lugar a soma directa
I œ K Š J . Dadas as bases ?" ß á ß ?7 de J e @" ß á ß @8 de K , podemos
considerar as bases ?" ß á ß ?7 ß @" ß á ß @8 e @" ß á ß @8 ß ?" ß á ß ?7 de I e
pode-se passar da primeira destas bases para a segunda fazendo
sucessivamente 7 ‚ 8 trocas de posição entre pares de elementos; podemos
portanto concluir que estas duas bases têm a mesma orientação, no caso em
que 7 ‚ 8 é par e têm orientações opostas, no caso em que 7 ‚ 8 é ímpar.
Concluímos daqui que, dadas orientações !J / !K de J e de K, as
orientações de I determinadas pelas somas directas I œ J Š K e
I œ K Š J coincidem se, e só se, 7 ‚ 8 é par.

Como aplicação directa da noção de orientação determinada por uma


soma directa temos a orientação produto de um produto cartesiano de
espaços vectoriais orientados.
§4. Orientação de espaços vectoriais reais 39

I.4.20 Sejam I e J espaços vectoriais reais, com dimensões 7 e 8, munidos de


orientações !I e !J . Tem-se então que
I ‚ J œ ÐI ‚ Ö!×Ñ Š ÐÖ!× ‚ J Ñ,
em que podemos considerar em I ‚ Ö!× e em Ö!× ‚ J as orientações !wI e
!wJ para as quais os isomorfismos canónicos I Ä I ‚ Ö!×, B È ÐBß !Ñ, e
J Ä Ö!× ‚ J , C È Ð!ß CÑ, conservam as orientações. Define-se então a
orientação produto !I‚J œ !I ‚ !J de I ‚ J como sendo a associada
àquela soma directa e às orientações !wI e !wJ . Concretizando a definição
precedente, vemos que, se ?" ß á ß ?7 é uma base de I e @" ß á ß @8 é uma
base de J , tem-se uma base correspondente
Ð?" ß !Ñß á ß Ð?7 ß !Ñß Ð!ß @" Ñß á ß Ð!ß @8Ñ
de I ‚ J , para a qual
!I‚J ÐÐ?" ß !Ñß á ß Ð?7 ß !Ñß Ð!ß @" Ñß á ß Ð!ß @8 ÑÑ œ
œ !I Ð?" ß á ß ?7 Ñ ‚ !J Ð@" ß á ß @8 Ñ.

Outra aplicação da noção de orientação associada a uma soma directa é a


possibilidade de definir uma orientação induzida num hiperplano dum
espaço vectorial orientado, quando é dada uma orientação transversa
desse hiperplano.

I.4.21 Sejam I um espaço vectorial real de dimensão 8, munido de uma


orientação !I , e J § I um hiperplano. Para cada vector B − I Ï J tem
então lugar a soma directa I œ БBÑ Š J e definimos a orientação !J de J
associada a B e à orientação de I como sendo aquela para a qual a
orientação dada !I é a associada àquela soma directa, à orientação !J e à
orientação de ‘B para a qual B é uma base directa. Por outras palavras, para
cada base ?" ß á ß ?8" de J , Bß ?" ß á ß ?8" é uma base de I para a qual se
tem
!J Ð?" ß á ß ?8" Ñ œ !I ÐBß ?" ß á ß ?8" Ñ.
A propriedade fundamental desta noção é a de que, dado outro vector
C − I Ï J , a orientação de J determinada pelo vector C coincide com a
determinada pelo vector B se, e só se, B e C pertencem ao mesmo semi-es-
paço aberto de I determinado por J .
Dem: Fixemos uma base ?" ß á ß ?8" de J . Dados dois vectores
Bß C − I Ï J , podemos escrever

C œ + B  " +4 ? 4 ,
8"

4œ"

com + Á !, vindo então ÒCÓJ œ + ÒBÓJ e a matriz de mudança da base


40 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

Bß ?" ß á ß ?8" para a base Cß ?" ß á ß ?8" é

Ô + !×
Ö +" !Ù
! ! â
Ö Ù
Ö +# !Ù
" ! â
Ö Ù
! " â

Õ +8" "Ø
ã ã ã ä ã
! ! â

e tem portanto determinante igual a +. Vemos assim que se tem


!I ÐBß ?" ß á ß ?8" Ñ œ !I ÐCß ?" ß á ß ?8" Ñ se, e só se, +  !, se, e só se, B e
C pertencem ao mesmo semi-espaço aberto. …
I.4.22 Se I é um espaço vectorial real de dimensão 8, munido de uma
orientação !I , e J § I é um hiperplano, munido de uma orientação
transversa, define-se a orientação !J de J induzida pela de I e pela
orientação transversa como sendo a associada a qualquer vector B no
semi-espaço positivo, no sentido que acabamos de referir.
É claro que a orientação induzida vem trocada, se trocarmos a orientação
transversa, mantendo a orientação de I , ou se trocarmos a orientação de I ,
mantendo a orientação transversa.

Terminamos esta secção com algumas observações sobre propriedades


envolvendo as orientações nas dimensões mais baixas, nos casos em que
se está também em presença de um produto interno.

I.4.23 Seja I um espaço euclidiano orientado de dimensão ".


a) Existe um, e um só, vector positivo B tal que mBm œ ", o vector unitário
positivo de I.
b) B e B são os únicos vectores de I de norma ", o segundo não sendo
mais do que o vector unitário positivo para a orientação oposta de I .
C
Dem: Partindo de um vector não nulo arbitrário C , o vector B œ mCm verifica
mBm œ ". Se Bw é um vector arbitrário, tem-se Bw œ +B, com + − ‘, e então
mBw m œ l+lmBm œ l+l, pelo que mBw m œ " se, e só se, + œ " ou + œ ", o que
mostra que B e B são os únicos vectores de norma " de I , sendo claro que,
destes, um, e um só, é positivo. …
I.4.24 Seja I um espaço euclidiano orientado de dimensão #.
a) Existe uma, e uma só, estrutura complexa N À I Ä I compatível com o
produto interno e cuja orientação associada (cf. I.4.15) seja a dada. Para cada
? Á ! em I , N Ð?Ñ é o único vector de I tal que mN Ð?Ñm œ m?m,
ØN Ð?Ñß ?Ù œ ! e ?ß N Ð?Ñ é uma base directa de I .14
b) N e N são as únicas estruturas complexas de I compatíveis com o
produto interno, a segunda não sendo mais do que aquela cuja orientação
associada é a oposta.

14Intuitivamente, N é a rotação de um quarto de volta no sentido directo.


§4. Orientação de espaços vectoriais reais 41

Dem: Comecemos por reparar que, se ? − I é não nulo, então o espaço dos
vectores ortogonais a ? tem dimensão ", e portanto possui dois, e só dois,
vectores @ de norma m?m, um simétrico do outro, e que destes há um, e um
só, para o qual a base ?ß @ é directa.
Fixemos então um vector ?! − I com m?! m œ " e seja @! − I o vector para
o qual ?! ß @! é uma base ortonormada directa. Seja N À I Ä I a aplicação
linear definida pela condição de se ter N Ð?! Ñ œ @! e N Ð@! Ñ œ ?! , aplicação
linear que é um isomorfismo ortogonal, por aplicar a base ortonormada ?! ß @!
na base ortonormada @! ß ?! , e que verifica N ‰ N œ M.I , sendo portanto
uma estrutura complexa de I compatível com o produto interno. Se ? − I é
um vector não nulo arbitrário, podemos escrever ? œ +?!  ,@! e então
N Ð?Ñ œ +N Ð?! Ñ  ,N Ð@! Ñ œ ,?!  +@! ,
o que mostra que mN Ð?Ñm œ +#  , # œ m?m e que Ø?ß N Ð?ÑÙ œ !, pelo que
?ß N Ð?Ñ é uma base de I , esta base sendo directa uma vez que

detŒ”
+ •
+ ,
œ + #  , #  !.
,

Esta estrutura complexa compatível N de I verifica assim a condição enun-


ciada em a). É claro que N é outra estrutura complexa compatível, para a
qual, para cada ? − I com m?m œ ", ?ß N Ð?Ñ é uma base ortonormada
retrógrada de I , pelo que N não verifica a condição de a), mas verifica-a
relativamente à orientação oposta de I . Para terminar a demonstração res-
ta-nos mostrar que, se N w é uma estrutura complexa compatível arbitrária de
I , então N w œ N ou N w œ N . Ora, vem ØN w Ð?! Ñß N w Ð?! ÑÙ œ Ø?! ß ?! Ù œ ",
donde mN w Ð?! Ñm œ ", e Ø?! ß N w Ð?! ÑÙ œ ! (cf. I.2.8), pelo que, como referimos
no início, tem-se N w Ð?! Ñ œ @! ou N w Ð?! Ñ œ @! , no primeiro caso tendo-se
também N w Ð@! Ñ œ N w ÐN w Ð?! ÑÑ œ ?! , donde N w œ N , e no segundo caso
tendo-se também N w Ð@! Ñ œ N w ÐN w Ð?! ÑÑ œ ?! , donde N w œ N . …
I.4.25 Sejam I e J espaços euclidianos orientados de dimensão # e sejam N e
N w as correspondentes estruturas complexas de I e J (cf. a alínea a) de
I.4.24). Seja -À I Ä J uma aplicação linear real. Tem-se então que - é uma
aplicação linear conforme (cf. I.2.33) se, e só se, - é linear complexa ou
antilinear. Mais precisamente, no caso em que - Á ! é conforme, - é um
isomorfismo, sendo linear complexa se conservar as orientações e antilinear
se inverter as orientações.
Dem: Suponhamos que - é linear complexa. Uma vez que I e J são
espaços vectoriais complexos de dimensão ", considerando em I e J os
produtos internos complexos cujas partes reais são os produtos internos
dados (cf. I.2.7), podemos ter em conta as alíneas b) e c) de I.2.34 para
garantir que - é uma aplicação linear conforme. Além disso, se - Á 0, - é
um isomorfismo complexo e portanto, tendo em conta I.4.16, - conserva as
orientações.
Suponhamos agora que - é antilinear. Trocando a orientação de I e
42 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

substituindo N por N , caímos no caso anterior, o que nos permite deduzir


que - é conforme e que, no caso em que - Á !, - é um isomorfismo que
conserva as orientações, isto é, que inverte as orientações quando se consi-
dera a orientação original.
Uma vez que ! é simultaneamente linear complexa e antilinear, resta-nos
mostrar que, se - Á ! é conforme, então - é linear complexa ou antilinear.
Seja ? − I com m?m œ ". Tendo em conta I.4.24, ?ß N Ð?Ñ é uma base
ortonormada directa de I e portanto, por I.2.33, os vectores -Ð?Ñ e -ÐN Ð?ÑÑ
são ortogonais e com um mesma norma -  !, em particular constituem uma
base de J e portanto - é um isomorfismo. Se - conserva as orientações, esta
base é directa e portanto, mais uma vez por I.4.24, -ÐN Ð?ÑÑ œ N w Ð-Ð?ÑÑ;
neste caso tem-se também
- ‰ N ÐN Ð?ÑÑ œ -Ð?Ñ œ N w ÐN w Ð-Ð?ÑÑÑ œ N w Ð-ÐN Ð?ÑÑÑ,
pelo que - ‰ N œ N w ‰ - (temos duas aplicações lineares a coincidir na base
?ß N Ð?Ñ de I ) e - é uma aplicação linear complexa. Se - inverte as orienta-
ções então, trocando a orientação de I e subsituindo N por N , caímos no
caso anterior e deduzimos que, relativamente a N , - é linear complexa,
sendo assim antilinear para a estrutura complexa original. …

§5. Cálculo Diferencial em espaços vectoriais de dimensão finita.

O leitor estudou decerto já os fundamentos do Cálculo Diferencial no


quadro das aplicações definidas em abertos de ‘7 e com valores em ‘8 .
Nas aplicações à Geometria será muitas vezes útil trabalhar com uma
ligeira generalização, em que os espaços cartesianos ‘7 e ‘8 são
substituídos por espaços vectoriais reais I e J com dimensões 7 e 8. É
claro que um espaço vectorial real I de dimensão 7 é sempre isomorfo a
‘7 , mas há muitos isomorfismos possíveis, um associado a cada base que
se escolha em I , e os conceitos expressos directamente em termos de
espaços vectoriais ajudam a sublinhar o seu aspecto invariante, isto é, a
sua independência relativamente à escolha das bases. Na exposição que
apresentamos em seguida tentaremos colocar o Cálculo Diferencial no
quadro invariante referido. Algumas demonstrações mais simples serão
omitidas, mas o leitor poderá facilmente construí-las, eventualmente por
adaptação das que conhece no quadro dos espaços cartesianos.
Uma segunda observação é a de que, apesar de ser o quadro dos espaços
vectoriais reais aquele que será mais importante no seguimento, há situa-
ções em que não envolve esforço suplementar considerar simultaneamente
o caso em que o corpo dos escalares envolvido é ‚.

I.5.1 Sejam I e J espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão finita,


Y § I um aberto e 0 À Y Ä J uma aplicação. Diz-se que 0 é diferenciável
§5. Cálculo Diferencial em espaços vectoriais… 43

no ponto B! − Y se existe uma aplicação linear 0À I Ä J tal que, definindo


!À Y Ä J pela igualdade
0 ÐBÑ œ 0 ÐB! Ñ  0ÐB  B! Ñ  !ÐBÑ,
a aplicação ! verifique a seguinte propriedade: Para cada $  !, existe &  !
tal que, sempre que mB  B! m Ÿ &, tem-se B − Y e
m!ÐBÑm Ÿ $ mB  B! m
(é fácil de ver que esta condição, que, salvo no caso trivial em que I tem
dimensão !, pode ser expressa, de modo equivalente, por
m!ÐBÑm
lim œ !,
BÄB! mB  B! m
não depende das normas que se consideram sobre I e J ). Não pode haver
mais do que uma aplicação linear 0À I Ä J nas condições anteriores, como
se pode concluir, por exemplo, a partir do resultado I.5.3 adiante, e a essa
aplicação linear dá-se o nome de derivada ou diferencial de 0 no ponto B! ,
sendo notada H0 ÐB! Ñ ou H0B! . Para cada ? − I é costume referirmo-nos
então ao valor H0B! Ð?Ñ − J como sendo a derivada de 0 no ponto B! na
direcção de ?. Se 0 é diferenciável no ponto B! , então 0 é contínua em B! .
I.5.2 Repare-se que, no caso em que I e J são espaços vectoriais complexos, a
definição anterior pode ser entendida em dois sentidos, conforme se exija que
0 œ H0B! seja uma aplicação linear real ou uma aplicação linear complexa.
Temos assim uma noção de diferenciabilidade no sentido real e uma de
diferenciabilidade no sentido complexo. No que se segue, quando falarmos
simplesmente de diferenciabilidade estará subentendido que é o sentido real
que está em jogo, mesmo no caso em que I e J são espaços vectoriais
complexos. Quando quisermos significar a diferenciabilidade no sentido
complexo, falaremos de aplicação ‚-diferenciável.
É claro que toda a aplicação ‚-diferenciável em B! é, em particular,
diferenciável nesse ponto. Além disso, como se constata sem dificuldade,
uma aplicação 0 diferenciável em B! é ‚-diferenciável nesse ponto se, e só
se, o seu diferencial H0B! é uma aplicação ‚-linear.
A observação anterior permite generalizar trivialmente muitas propriedades
da diferenciabilidade à ‚-diferenciabilidade. Para aligeirar o texto,
abster-nos-emos de enunciar explicitamente a maioria das generalizações
desse tipo.
I.5.3 Nas condições de I.5.1, se 0À I Ä J é uma aplicação linear verificando as
condições referidas, tem-se, para cada ? − I ,
0 ÐB!  >?Ñ  0 ÐB! Ñ
H0B! Ð?Ñ œ 0Ð?Ñ œ lim ,
>Ä! >
onde > − ‘, no caso da diferenciabilidade, e > − ‚, no caso da ‚-diferen-
44 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

ciabilidade.
Dem: Atender a que, afastando já o caso trivial em que ? œ !, deduz-se de
0 ÐB!  >?Ñ œ 0 ÐB! Ñ  0Ð>?Ñ  !ÐB!  >?Ñ
que
0 ÐB!  >?Ñ  0 ÐB! Ñ !ÐB!  >?Ñ
œ 0Ð?Ñ  ,
> >
onde
!ÐB!  >?Ñ m!ÐB!  >?Ñm
m m œ m?m Ä !,
> m>?m
quando > Ä !. …
I.5.4 A diferenciabilidade de uma aplicação num ponto é uma noção local. Mais
precisamente, suponhamos que Y § I é um aberto, que 0 À Y Ä J é uma
aplicação, que Z § Y é outro aberto e que B! − Z . Tem-se então que 0 é
diferenciável em B! se, e só se, a restrição 0ÎZ À Z Ä J é diferenciável em B!
e, nesse caso, as aplicações lineares H0 ÐB! Ñ e H0ÎZ ÐB! Ñ coincidem.
I.5.5 Se Y § I é um aberto e se 0 À Y Ä J é uma aplicação constante, então 0 é
diferenciável em todos os pontos B − Y e com H0B œ !.
Se 0À I Ä J é uma aplicação linear, então 0 é diferenciável em todos os
pontos B − I e tem-se H0B œ 0.
I.5.6 Se Y § I é um aberto e B! − Y , então a derivação em B! de aplicações
com valores num espaço vectorial J de dimensão finita é um operador
linear, no sentido que, se 0 À Y Ä J e 1À Y Ä J são diferenciáveis em B! e
se + − ‘, então 0  1À Y Ä J e +0 À Y Ä J são ainda diferenciáveis em B!
e tem-se
HÐ0  1ÑB! œ H0B!  H1B! , HÐ+0 ÑB! œ +H0B! .

No caso em que J é mesmo um espaço vectorial complexo, esta última


conclusão é válida, mais geralmente, para cada + − ‚.
É claro que a propriedade de diferenciabilidade da soma de duas aplicações
diferenciáveis estende-se trivialmente, por indução, à soma de um número
finito de aplicações diferenciáveis.
I.5.7 Sejam Y § I um aberto e 0 À Y Ä J uma aplicação diferenciável no ponto
B! − Y . Se -À J Ä K é uma aplicação linear, então - ‰ 0 À Y Ä K é
diferenciável em B! e
HÐ- ‰ 0 ÑB! œ - ‰ H0B! ,

isto é,
HÐ- ‰ 0 ÑB! Ð?Ñ œ -ÐH0B! Ð?ÑÑ.
§5. Cálculo Diferencial em espaços vectoriais… 45

I.5.8 Sejam Y § I um aberto e, para cada " Ÿ 4 Ÿ : , 04 À Y Ä J4 uma


aplicação. Notemos 0 À Y Ä J" ‚ â ‚ J: a aplicação cujas componentes
são os 04 , isto é, a definida por
0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß á ß 0: ÐBÑÑ.

Tem-se então que 0 é diferenciável em B! − Y se, e só se, cada 04 é


diferenciável em B! e, nesse caso,
H0 ÐB! ÑÐ?Ñ œ ÐH0" ÐB! ÑÐ?Ñß ß á ß H0: ÐB! ÑÐ?ÑÑ.

Dem: Apesar de estarmos a omitir a muitas demonstrações e de a deste


resultado poder ser feita de forma tão simples como as dos anteriores, é ins-
trutivo reparar que este enunciado é uma consequência dos dois anteriores.
Considerando, com efeito, as projecções e as injecções canónicas,
14 À J" ‚ â ‚ J: Ä J4 e +4 À J4 Ä J" ‚ â ‚ J: , aplicações lineares defi-
nidas respectivamente por
14 ÐB" ß á ß B: Ñ œ B4 , +4 ÐBÑ œ Ð!ß á ß Bß á ß ! Ñ

(B na posição 4), tem-se 04 œ 14 ‰ 0 e 0 œ ! +4 ‰ 04 . …

I.5.9 Sejam Y § I um aberto, 0 À Y Ä J uma aplicação e J w § J um


subespaço vectorial tal que 0 ÐY Ñ § J w . Tem-se então que 0 é diferenciável
em B! − Y , como aplicação de Y em J , se, e só se, isso acontece a 0 , como
aplicação de Y em J w e, nesse caso, H0B! é o mesmo dos dois pontos de
vista.
Dem: É fácil constatar-se que a única coisa não trivial a demonstrar é que, se
0 é diferenciável em B! , como aplicação de Y em J , então a respectiva
derivada H0B! À I Ä J é uma aplicação linear que toma valores no
subespaço J w . Ora, isso resulta, por exemplo, da fórmula para H0B! Ð?Ñ em
I.5.3, se nos lembrarmos de que J w é fechado em J . …
I.5.10 (Teorema da derivada da função composta) Sejam os espaços
vectoriais de dimensão finita I , J e K , os abertos Y § I e Z § J e as
aplicações 0 À Y Ä Z , diferenciável em B! , e 1À Z Ä K , diferenciável em
0 ÐB! Ñ (ao dizermos que 0 À Y Ä Z é diferenciável em B! estamos a significar
que o é como aplicação de Y em J ). Tem-se então que 1 ‰ 0 À Y Ä K é
diferenciável em B! e
HÐ1 ‰ 0 ÑB! œ H10 ÐB! Ñ ‰ H0B! ,

isto é,
HÐ1 ‰ 0 ÑB! Ð?Ñ œ H10 ÐB! Ñ ÐH0B! Ð?ÑÑ.

Repare-se que o resultado referido em I.5.7 é um caso particular deste.


Dem: Apesar de a demonstração deste resultado não apresentar novidades
em relação à do que lhe corresponde no quadro dos espaços cartesianos ‘8 , o
46 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

facto de ela ser um pouco mais delicada que as dos resultados anteriores
leva-nos a apresentá-la aqui. Para uma melhor sistematização, dividimo-la
em várias alíneas:
a) Tendo em conta a definição, tudo o que temos que mostrar é que,
definindo uma aplicação #À Y Ä K por
1Ð0 ÐBÑÑ œ 1Ð0 ÐB! ÑÑ  H10 ÐB! Ñ ÐH0B! ÐB  B! ÑÑ  #ÐBÑ,

a aplicação # verifica a condição na definição de diferenciabilidade, isto é,


para cada $  !, existe &  ! tal que, sempre que mB  B! m Ÿ &, se tenha
B − Y e m# ÐBÑm Ÿ $ mB  B! m. Seja então dado $  !.
b) Fixemos Q  ! tal que, para cada ? − I e cada @ − J , se tenha
mH0B! Ð?Ñm Ÿ Q m?m, mH10 ÐB! Ñ Ð@Ñm Ÿ Q m@m

(lembrar que toda a aplicação linear é contínua).


c) Tendo em conta a diferenciabilidade de 0 em B! , considerando a aplicação
!À Y Ä J definida por
0 ÐBÑ œ 0 ÐB! Ñ  H0B! ÐB  B! Ñ  !ÐBÑ,

podemos fixar &w  ! tal que, sempre que mB  B! m Ÿ &w , se tenha B − Y e


$
m!ÐBÑm Ÿ mB  B! m, m!ÐBÑm Ÿ mB  B! m.
#Q
A segunda desigualdade implica, em particular, que, sempre que
mB  B! m Ÿ &w , tem-se
m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm Ÿ mH0B! ÐB  B! Ñm  m!ÐBÑm Ÿ ÐQ  "ÑmB  B! m.

d) Tendo em conta a diferenciabilidade de 1 em 0 ÐB! Ñ, considerando a


aplicação "À Z Ä K definida por
1ÐCÑ œ 1Ð0 ÐB! ÑÑ  H10 ÐB! Ñ ÐC  0 ÐB! ÑÑ  "ÐCÑ,

podemos considerar &ww  ! tal que, sempre que mC  0 ÐB! Ñm Ÿ &ww , tem-se
C−Z e
$
m" ÐCÑm Ÿ mC  0 ÐB! Ñm.
#ÐQ  "Ñ

e) Tendo em conta a continuidade de 0 em B! , consideremos enfim


!  & Ÿ &w tal que, sempre que mB  B! m Ÿ &, se tenha
m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm Ÿ &ww . Sempre que mB  B! m Ÿ &, podemos escrever
1Ð0 ÐBÑÑ œ 1Ð0 ÐB! ÑÑ  H10 ÐB! Ñ Ð0 ÐBÑ  0 ÐB! ÑÑ  "Ð0 ÐBÑÑ œ
œ 1Ð0 ÐB! ÑÑ  H10 ÐB! Ñ ÐH0B! ÐB  B! Ñ  !ÐBÑÑ  "Ð0 ÐBÑÑ œ
œ 1Ð0 ÐB! ÑÑ  H10 ÐB! Ñ ÐH0B! ÐB  B! ÑÑ  H10 ÐB! Ñ Ð!ÐBÑÑ  " Ð0 ÐBÑÑ,

ou seja, # ÐBÑ œ H10 ÐB! Ñ Ð!ÐBÑÑ  " Ð0 ÐBÑÑ, e portanto


§5. Cálculo Diferencial em espaços vectoriais… 47

m# ÐBÑm Ÿ mH10 ÐB! Ñ Ð!ÐBÑÑm  m" Ð0 ÐBÑÑm Ÿ


$
Ÿ Q m!ÐBÑm  m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm Ÿ
#ÐQ  "Ñ
$ $
Ÿ mB  B! m  mB  B! m œ $ mB  B! m,
# #
como queríamos. …
I.5.11 Sejam J ß Kß L espaços vectoriais de dimensão finita e " À J ‚ K Ä L
uma aplicação bilinear. Tem-se então que " é diferenciável em cada ÐB! ß C! Ñ
e
H"ÐB! ßC! Ñ Ð?ß @Ñ œ " Ð?ß C! Ñ  " ÐB! ß @Ñ.

Dem: Dado ÐB! ß C! Ñ − J ‚ K, podemos escrever, para cada ÐBß CÑ,


" ÐBß CÑ œ " ÐB! ß C! Ñ  " ÐB  B! ß C! Ñ  " ÐB! ß C  C! Ñ  "ÐB  B! ß C  C!Ñ,
onde, para um certo Q  !,
m" ÐB  B! ß C  C! Ñm Ÿ Q mB  B! mmC  C! m,
e portanto, considerando por exemplo em J ‚ K a norma do máximo,
m" ÐB  B! ß C  C! Ñm Ÿ Q mÐB  B! ß C  C! Ñm# .
$
Dado $  !, vemos que, para & œ Q, tem-se, para mÐB  B! ß C  C! Ñm Ÿ &,
m" ÐB  B! ß C  C! Ñm Ÿ $ mÐB  B! ß C  C! Ñm,
que implica que " é diferenciável em ÐB! ß C! Ñ e que a aplicação linear
H"ÐB! ßC! Ñ À J ‚ K Ä L está definida por
H"ÐB! ßC! Ñ Ð?ß @Ñ œ " Ð?ß C! Ñ  " ÐB! ß @Ñ. …

A fórmula para a derivada de uma aplicação bilinear obtida atrás permite,


em conjunto com o teorema de derivação da função composta, enunciar
uma regra de derivação, de utilização muito frequente na prática, que
generaliza a regra usual de derivação de um produto de funções reais.

I.5.12 (Regra de Leibnitz) Sejam J ß Kß L espaços vectoriais de dimensão finita


e "À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear. Sejam I um espaço vectorial de
dimensão finita, Y § I um aberto e 0 À Y Ä J e 1À Y Ä K duas aplicações
diferenciáveis em B! − Y . É então também diferenciável em B! a aplicação
2À Y Ä L definida por
2ÐBÑ œ " Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ
e tem-se
48 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

H2B! Ð?Ñ œ " ÐH0B! Ð?Ñß 1ÐB! ÑÑ  " Ð0 ÐB! Ñß H1B! Ð?ÑÑ.

Dem: Tem-se 2 œ " ‰ :, onde :À Y Ä J ‚ K está definida por :ÐBÑ œ


Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ, pelo que, tendo em conta o resultado precedente e a regra de
derivação da função composta,
H2B! Ð?Ñ œ H":ÐB! Ñ ÐH:B! Ð?ÑÑ œ H"Ð0 ÐB! Ñß1ÐB! ÑÑ ÐH0B! Ð?Ñß H1B! Ð?ÑÑ œ
œ " ÐH0B! Ð?Ñß 1ÐB! ÑÑ  " Ð0 ÐB! Ñß H1B! Ð?ÑÑ. …

I.5.13 A regra de Leibnitz usual, para a derivação do produto de duas funções


reais, não é mais do que o caso particular do resultado precedente em que
J œ K œ L œ ‘ e em que " ÐCß DÑ œ C ‚ D . Esse caso particular conduz a
uma mnemónica útil para a fórmula geral e que consiste em utilizar a notação
multiplicativa para a aplicação bilinear " , escrevendo, para C − J e D − K ,
C ‚ D para significar " ÐCß DÑ − L . Nesse quadro, a aplicação 2 pode ser
notada como 0 ‚ 1 e a regra de Leibnitz escreve-se na forma familiar
HÐ0 ‚ 1ÑB! Ð?Ñ œ H0B! Ð?Ñ ‚ 1ÐB! Ñ  0 ÐB! Ñ ‚ H1B! Ð?Ñ.

É claro que, em cada caso concreto, a fórmula anterior será apenas um passo
intermédio, muitas vezes não explicitado, e que o símbolo ‚ deverá ser
substituído no fim pelo significado que tem nesse caso.
Para além da multiplicação de números reais (ou complexos) apresentamos
agora exemplos de outras aplicações bilineares relativamente às quais é
comum aplicar a regra de Leibnitz:
a) J é um espaço vectorial sobre Š (igual a ‘ ou ‚) e " À Š ‚ J Ä J é a
multiplicação de um escalar por um vector.
b) J é um espaço vectorial real, munido de um produto interno, e
" À J ‚ J Ä ‘ é o produto interno de vectores.
c) " À ‘$ ‚ ‘$ Ä ‘$ é o produto externo usual de dois vectores de ‘$ .
d) J e K são espaços vectoriais de dimensão finita e " À PÐJ à KÑ ‚ J Ä K é
a aplicação de avaliação, definida por " Ð-ß CÑ œ -ÐCÑ.
e) Sendo `8 o espaço vectorial das matrizes (reais ou complexas) com 8
linhas e 8 colunas, " À `8 ‚ `8 Ä `8 é a multiplicação de matrizes.
Será talvez um exercício útil explicitar, em cada um destes exemplos, qual o
modo como se enuncia a correspondente regra de Leibnitz.

Com frequência teremos ocasião de estudar a diferenciabilidade de


aplicações com valores num espaço de aplicações lineares PÐJ à KÑ. O
resultado que apresentamos em seguida poderá ser útil nessa situação, por
permitir reduzir esse estudo ao da diferenciabilidade de aplicações com
valores em K . Note-se que, ao contrário dos resultados que temos vindo a
estudar e que podem facilmente ser generalizados ao quadro dos espaços
vectoriais normados de dimensão infinita, este utiliza de modo essencial o
facto de J ser de dimensão finita.
§5. Cálculo Diferencial em espaços vectoriais… 49

I.5.14 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I um aberto


e 0 À Y Ä PÐJ à KÑ uma aplicação. Para cada vector @ − J , notemos
0Ð@Ñ À Y Ä K a aplicação definida por 0Ð@Ñ ÐBÑ œ 0 ÐBÑÐ@Ñ. Tem-se então que 0
é diferenciável no ponto B! − Y se, e só se, para cada @, 0Ð@Ñ é diferenciável
em B! e, quando isso acontecer, tem-se, para cada ? − I ,
H0B! Ð?ÑÐ@Ñ œ H0Ð@Ñ B! Ð?Ñ. 15

Mais precisamente, dada uma base @" ß á ß @8 de J , para garantir que 0 é


diferenciável em B! , basta verificar que 0Ð@Ñ é diferenciável em B! quando @ é
um dos 8 vectores daquela base.
Dem: Comecemos por supor que 0 é diferenciável em B! . Para cada @ − J ,
podemos considerar uma aplicação linear 1Ð@Ñ À PÐJ à KÑ Ä K , definida por
. È .Ð@Ñ. Uma vez que 0Ð@Ñ œ 1Ð@Ñ ‰ 0 , concluímos que 0Ð@Ñ é diferenciável
em B! e que
H0Ð@Ñ B! Ð?Ñ œ 1Ð@Ñ ÐH0B! Ð?ÑÑ œ H0B! Ð?ÑÐ@Ñ.

Suponhamos, reciprocamente, que cada 0Ð@Ñ é diferenciável em B! . Conside-


remos uma base @" ß á ß @8 de J . Tem então lugar um isomorfismo
FÀ PÐJ à KÑ Ä K ‚ â ‚ K , FÐ.Ñ œ Ð.Ð@" Ñß á ß .Ð@8 ÑÑ

(lembrar que uma aplicação linear de J para K fica determinada quando se


dão arbitrariamente as imagens dos vectores de uma base de J ) e, portanto,
utilizando I.5.7 com a aplicação linear F" , para verificar que 0 é diferen-
ciável em B! , basta verificar que F ‰ 0 À Y Ä K ‚ â ‚ K é diferenciável em
B! . Ora, isso é uma consequência de se ter
F ‰ 0 ÐBÑ œ Ð0Ð@" Ñ ÐBÑß á ß 0Ð@8 Ñ ÐBÑÑ. …

I.5.15 Suponhamos que J é um espaço vectorial real (respectivamente com-


plexo) de dimensão finita, que N § ‘ (respectivamente N § ‚) é um aberto
e que 0 À N Ä J é uma aplicação. Tem-se então que 0 é diferenciável (resp. é
‚-diferenciável) no ponto >! − N se, e só se, existe o limite
0 Ð>!  =Ñ  0 Ð>! Ñ 0 Ð>Ñ  0 Ð>! Ñ
lim œ lim .
=Ä! = >Ä>! >  >!
.0
Esse limite é designado por 0 w Ð>! Ñ, ou .> Ð>! Ñ, e verificam-se as seguintes

15A fórmula anterior tem por vezes algo de chocante para quem a examina pela primeira
vez: Para se calcular H0B! Ð?ÑÐ@Ñ, calcula-se primeiro 0 ÐBÑÐ@Ñ e depois deriva-se o resul-
tado em B! na direcção de ?. Poderia parecer mais natural considerar que o resultado
deveria ser H0B! Ð@ÑÐ?Ñ mas, se repararmos bem é aquele, e não este, que faz sentido: Se
0 é uma aplicação definida num aberto de I e com valores em PÐJ à KÑ, faz sentido deri-
vá-la num ponto na direcção de um vector de I e o resultado é então um elemento de
PÐJ à KÑ, que aplicado a um vector de J dá um vector de K .
50 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

relações entre H0>! − PБà J Ñ (respectivamente − PЂà J Ñ) e 0 w Ð>! Ñ − J :


a) 0 w Ð>! Ñ œ H0>! Ð"Ñ œ EÐH0>! Ñ;
b) H0>! Ð=Ñ œ =0 w Ð>! Ñ.

Repare-se que, no caso em que N § ‘ é um intervalo, não obrigatoriamente


aberto mas de interior não vazio, é usual tomar-se a existência do limite
anterior como definição da diferenciabilidade de 0 no ponto >! .
Dem: O facto de a diferenciabilidade de 0 em >! implicar a existência do
limite e o facto de este ser igual a H0>! Ð"Ñ não é mais do que um caso
particular de I.5.3. Reciprocamente, supondo que existe o limite, que
notamos 0 w Ð>! Ñ, podemos considerar a aplicação linear 0À ‘ Ä J definida
por 0Ð=Ñ œ =0 w Ð>! Ñ e então, pondo
0 Ð>Ñ œ 0 Ð>! Ñ  0Ð>  >! Ñ  !Ð>Ñ œ 0 Ð>! Ñ  Ð>  >!Ñ0 wÐ>!Ñ  !Ð>Ñ,
tem-se que
m!Ð>Ñm !Ð>Ñ 0 Ð>Ñ  0 Ð>! Ñ
œm mœm  0 w Ð>! Ñm,
l>  >! l >  >! >  >!
vai ter limite ! quando > Ä >! . …
I.5.16 No contexto anterior podemos examinar algumas formulações alternativas
do teorema da derivação da função composta quando alguns dos espaços
envolvidos são abertos de ‘ ou de ‚, formulações que se reduzem
trivialmente à formulação geral através das igualdades em a) e b) de I.5.15.
Temos assim:
a) Sejam N um aberto de ‘, J e K espaços vectoriais de dimensão finita,
Z § J um aberto e 0 À N Ä Z e 1À Z Ä K duas aplicações diferenciáveis
nos pontos >! − N e 0 Ð>! Ñ − Z , respectivamente. Tem-se então que
1 ‰ 0 À N Ä K é diferenciável em >! e
Ð1 ‰ 0 Ñw Ð>! Ñ œ H10 Ð>! Ñ Ð0 w Ð>! ÑÑ.

b) Sejam N w um aberto de ‘, I e K espaços vectoriais de dimensão finita,


Y § I um aberto e 0 À Y Ä N w e 1À N w Ä K duas aplicações diferenciáveis
nos pontos B! − Y e 0 ÐB! Ñ − N w , respectivamente. Tem-se então que
1 ‰ 0 À Y Ä K é diferenciável em B! e
HÐ1 ‰ 0 ÑB! Ð?Ñ œ H0B! Ð?Ñ † 1w Ð0 ÐB! ÑÑ.

c) Sejam N § ‘ e N w § ‘ dois abertos, K um espaço vectorial de dimensão


finita e 0 À N Ä N w e 1À N w Ä K duas aplicações diferenciáveis nos pontos
>! − Y e 0 Ð>! Ñ − N w , respectivamente. Tem-se então que 1 ‰ 0 À N Ä K é
diferenciável em >! e
Ð1 ‰ 0 Ñw Ð>! Ñ œ 0 w Ð>! Ñ † 1w Ð0 Ð>! ÑÑ.
§5. Cálculo Diferencial em espaços vectoriais… 51

São também válidos os resultados análogos no quadro dos abertos de ‚ e da


‚-diferenciabilidade.

A fórmula da média, que apresentamos em seguida em várias versões,


permite majorar a variação de uma aplicação a partir de majorações
envolvendo as respectivas derivadas. Ela é um instrumento de utilização
frequente nas aplicações do Cálculo Diferencial

I.5.17 (Fórmula da média) Sejam N § ‘ um intervalo aberto, J um espaço


vectorial de dimensão finita, munido de uma norma e 0 À N Ä J uma aplica-
ção diferenciável em todos os pontos. Sejam +ß , − N e Q   ! tais que, para
cada > no intervalo de extremidades + e , , m0 w Ð>Ñm Ÿ Q . Tem-se então
m0 Ð,Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ Q l,  +l.

Dem: Pode-se já supor que +  ,, uma vez que o caso + œ , é trivial e que
aquele em que +  , se reduz ao primeiro por troca do papel das variáveis.
Fixemos $  ! arbitrário. Consideremos o conjunto G dos > − Ò+ß ,Ó tais que
m0 Ð>Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ ÐQ  $ ÑÐ>  +Ñ.
Trata-se de um subconjunto fechado de Ò+ß ,Ó, que é não vazio, por conter +,
pelo que podemos considerar o máximo - do conjunto G , que verifica
portanto a desigualdade
m0 Ð-Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ ÐQ  $ ÑÐ-  +Ñ.
Se se tivesse -  , , então o facto de se ter
0 Ð>Ñ  0 Ð-Ñ
lim m m œ m0 w Ð-Ñm Ÿ Q  Q  $
>Ä- >-
implicava a possibilidade de escolher >, com -  >  , tal que
0 Ð>Ñ  0 Ð-Ñ
m m  Q  $,
>-
de onde deduzíamos que
m0 Ð>Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ m0 Ð>Ñ  0 Ð-Ñm  m0 Ð-Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ
Ÿ ÐQ  $ ÑÐ>  -Ñ  ÐQ  $ ÑÐ-  +Ñ œ ÐQ  $ ÑÐ>  +Ñ,

ou seja, > − G , o que contrariava a hipótese de - ser o máximo de G . Tem-se


assim - œ , , ou seja, m0 Ð,Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ ÐQ  $ ÑÐ,  +Ñ. Por fim, uma vez
que $  ! é arbitrário, a desigualdade anterior implica que se tem mesmo
m0 Ð,Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ Q l,  +l. …
I.5.18 (Segunda versão da fórmula da média) Sejam I e J espaços vectoriais
de dimensão finita, munidos de normas, Y § I um aberto e 0 À Y Ä J uma
aplicação diferenciável em todos os pontos. Sejam Bß C − Y e Q   ! tais
52 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

que, para cada D no segmento de extremidades B e C , D − Y e mH0D m Ÿ Q .


Tem-se então
m0 ÐCÑ  0 ÐBÑm Ÿ Q mC  Bm.

Dem: Basta aplicar a propriedade anterior à aplicação 1À N Ä J definida por


1Ð>Ñ œ 0 ÐB  >ÐC  BÑÑ, num certo intervalo aberto N , contendo Ò!ß "Ó, que
verifica 1Ð!Ñ œ 0 ÐBÑ, 1Ð"Ñ œ 0 ÐCÑ e
1w Ð>Ñ œ H0B>ÐCBÑ ÐC  BÑ. …

I.5.19 (Corolário) Sejam Y § I um aberto conexo e 0 À Y Ä J uma aplicação


diferenciável em todos os pontos, tal que H0B œ !, para cada B − Y . Tem-se
então que 0 é uma aplicação constante.
Dem: Se o aberto Y fosse mesmo convexo, tínhamos uma consequência
directa do resultado precedente, visto que se pode tomar aí Q œ !. No caso
em que Y é apenas conexo, fixado B! − Y , o facto de cada ponto de Y
admitir uma vizinhança aberta e convexa contida em Y (por exemplo uma
bola) implica, tendo em conta o caso particular atrás referido, que o conjunto
dos pontos B − Y tais que 0 ÐBÑ œ 0 ÐB! Ñ é simultaneamente aberto e fechado
em Y , logo igual a Y . …
I.5.20 (Terceira versão da fórmula da média) Sejam I e J espaços vectoriais
de dimensão finita, munidos de normas, Y § I um aberto e 0 À Y Ä J uma
aplicação diferenciável em todos os pontos. Sejam Bß C − Y , 0À I Ä J uma
aplicação linear e $   ! tais que, para cada D no segmento de extremidades B
e C , se tenha D − Y e mH0D  0m Ÿ $ . Tem-se então
m0 ÐCÑ  0 ÐBÑ  0ÐC  BÑm Ÿ $ mC  Bm.

Dem: Basta aplicar o resultado anterior à aplicação 1À Y Ä J definida por


1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  0ÐBÑ. …

§6. Aplicações de classe G 5 .

I.6.1 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita e Y § I um aberto.


Define-se recursivamente quando é que uma aplicação 0 À Y Ä J é de classe
G 5 , do seguinte modo:
a) 0 diz-se de classe G ! se for contínua.
b) 0 diz-se de classe G 5" se for diferenciável em todos os pontos e se for de
classe G 5 a aplicação H0 À Y Ä PÐIà J Ñ, que a B associa H0B . Verifica-se
imediatamente por indução que, se 0 À Y Ä J é de classe G 5 , então 0 é
também de classe G 4 , para cada ! Ÿ 4 Ÿ 5 . A aplicação 0 À Y Ä J diz-se de
classe G _ se for de classe G 5 , para cada 5 . Às aplicações de classe G _
daremos também o nome de aplicações suaves (trata-se de uma tentativa de
§6. Aplicações de classe G 5 53

tradução do inglês smooth).


Repare-se que, mesmo no caso em que algum dos espaços vectoriais I e J é
um espaço vectorial complexo, é a sua estrutura de espaço vectorial real que
está exclusivamente em jogo nesta definição, assim como na quase totalidade
desta secção. Apenas no fim da secção abordaremos o análogo das aplicações
de classe G 5 no quadro dos espaços vectoriais complexos e da ‚-diferencia-
bilidade.

No caso em que I é o espaço cartesiano ‘7 , a definição de aplicação de


classe G 5 costuma ser dada em termos das derivadas parciais e não da
aplicação H0 À Y Ä PБ7 à J Ñ. Veremos adiante a equivalência das duas
definições (cf. I.7.6).

I.6.2 Sejam Y § I e 0 À Y Ä J uma aplicação de classe G 5 . Define-se


recursivamente a derivada de ordem 5 de 0 como sendo a aplicação
H5 0 À Y Ä P5 ÐIà J Ñ verificando as seguintes propriedades:
a) H! 0 À Y Ä P! ÐIà J Ñ œ J coincide com a aplicação 0 .
b) Supondo que 0 é de classe G 5" , podemos considerar a aplicação de
classe G 5 H0 À Y Ä PÐIà J Ñ e já sabemos recursivamente o que é a
derivada de ordem 5 H5 ÐH0 ÑÀ Y Ä P5 ÐIà PÐIà J ÑÑ, definindo-se então a
aplicação H5" 0 À Y Ä P5" ÐIà J Ñ como sendo a composição de H5 ÐH0 Ñ
com o isomorfismo
E" 5
5 À P ÐIà PÐIà J ÑÑ Ä P
5"
ÐIà J Ñ
referido em I.1.6. Por outras palavras, tem-se
H5" 0B Ð?" ß á ß ?5" Ñ œ H5 ÐH0 ÑB Ð?" ß á ß ?5 ÑÐ?5" Ñ.
Em particular, a aplicação H" 0 À Y Ä PÐIà J Ñ não é mais do que H0 .
I.6.3 No sentido de compreender melhor a definição precedente, examinemos o
caso particular, que se encontra com muita frequência, da derivada de
segunda ordem. Se 0 À Y Ä J é uma aplicação de classe G # , a derivada de
segunda ordem H# 0 À Y Ä P# ÐIà J Ñ associa a cada B − Y uma aplicação
bilinear H# 0B À I ‚ I Ä J definida pela igualdade
H# 0B Ð?ß @Ñ œ HÐH0 ÑB Ð?ÑÐ@Ñ.
Repare-se no significado do segundo membro da igualdade anterior: Uma
vez que H0 À Y Ä PÐIà J Ñ é uma aplicação de classe G " , em particular
diferenciável em cada ponto, faz sentido considerar a sua derivada no ponto
B e na direcção de ?, HÐH0 ÑB Ð?Ñ, a qual é um elemento do espaço de
chegada PÐIà J Ñ, ou seja, uma aplicação linear I Ä J , e portanto o valor
HÐH0 ÑB Ð?ÑÐ@Ñ desta aplicação linear em @ é um elemento de J .
Apesar da interpretação do segundo membro da igualdade anterior que
acabamos de referir, o cálculo da derivada de segunda ordem H# 0B Ð?ß @Ñ é
54 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

feito usualmente de um modo ligeiramente diferente, de modo a evitar ter que


derivar uma aplicação com valores num espaço de aplicações lineares
PÐIà J Ñ: O que se faz é utilizar I.5.14 para calcular HÐH0 ÑB Ð?ÑÐ@Ñ. Assim,
para determinar H# 0B Ð?ß @Ñ, seguir-se-á em geral o seguinte caminho:
1) Considerando @ fixado, considera-se a aplicação de Y para J , que a B
associa H0B Ð@Ñ.
2) Deriva-se a aplicação assim obtida no ponto B, na direcção de ?.
I.6.4 (Exemplos) a) Se 0 À Y Ä J é uma aplicação constante, então H0B œ !,
para cada B − Y , de onde resulta imediatamente que 0 é de classe G _ e com
H5 0 œ !, para cada 5   ".
b) Se 0À I Ä J é linear, sabemos que 0 é diferenciável em todos os pontos e
com H0B œ 0, para cada B − I , o que mostra que H0 é uma aplicação
constante. Concluímos daqui que 0 é uma aplicação de classe G _ e que
H5 0 œ 0, para cada 5   #.
c) Se " À J ‚ K Ä L é bilinear, já verificámos que " é diferenciável em
todos os pontos e com H"ÐBßCÑ Ð?ß @Ñ œ " Ð?ß CÑ  " ÐBß @Ñ, o que implica, em
particular, que H" À J ‚ K Ä PÐJ ‚ Kà LÑ é uma aplicação linear.
Concluímos daqui que " é uma aplicação de classe G _ e que H5 " œ !, para
cada 5   $.
I.6.5 Sejam os espaços vectoriais de dimensão finita I , J e K , Y § I um
aberto, 0 ß 1À Y Ä J duas aplicações de classe G 5 , - − ‘ e .À J Ä K uma
aplicação linear. São então de classe G 5 as aplicações 0  1À Y Ä J ,
-0 À Y Ä J e . ‰ 0 À Y Ä K e tem-se
H5 Ð0  1ÑB Ð?" ß á ß ?5 Ñ œ H5 0B Ð?" ß á ß ?5 Ñ  H 5 1B Ð?" ß á ß ?5 Ñ,
H5 Ð-0 ÑB Ð?" ß á ß ?5 Ñ œ -H5 0B Ð?" ß á ß ?5 Ñ
H5 Ð. ‰ 0 ÑB Ð?" ß á ß ?5 Ñ œ .ÐH5 0B Ð?" ß á ß ?5 ÑÑ.

A segunda conclusão é válida, mais geralmente, para cada - − ‚, no caso em


que J é um espaço vectorial complexo, e a primeira estende-se naturalmente,
por indução, à soma de um número finito de aplicações de classe G 5 .
Dem: A demonstração faz-se facilmente por indução em 5 . Repare-se, em
relação com a propriedade de composição com uma aplicação linear ., que a
igualdade HÐ. ‰ 0 ÑB Ð?Ñ œ .ÐH0B Ð?ÑÑ pode ser reescrita na forma
HÐ. ‰ 0 ÑB œ PÐM.I à .ÑÐH0B Ñ,
onde PÐM.I à .ÑÀ PÐIà J Ñ Ä PÐIà KÑ está definido em I.1.12. …
I.6.6 Se I e J são espaços vectoriais de dimensão finita, diz-se que uma
aplicação -À I Ä J é afim se existe uma aplicação linear -À I Ä J e um
elemento C − J tais que -ÐBÑ œ -ÐBÑ  C , para cada B − I . A aplicação
linear - e o elemento C − J estão univocamente determinados por - (reparar
que C œ -Ð!Ñ); diz-se que - é a aplicação linear associada à aplicação afim.
§6. Aplicações de classe G 5 55

É claro que toda a aplicação linear é uma aplicação afim, tendo ela mesmo
como aplicação linear associada.
I.6.7 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita, -À I Ä J uma
aplicação afim, de aplicação linear associada -, e Y § I e Z § J dois
conjuntos abertos tais que -ÐY Ñ § Z . Se 0 À Z Ä K é uma aplicação de
classe G 5 , tem-se então que 0 ‰ -ÎY À Y Ä K é também de classe G 5 e

H5 Ð0 ‰ -ÑB Ð?" ß á ß ?5 Ñ œ H5 0-ÐBÑ Ð-Ð?" Ñß á ß -Ð?5 ÑÑ.

Dem: Como anteriormente, a demonstração faz-se facilmente por indução


em 5 , reparando que a igualdade HÐ0 ‰ -ÎY ÑB Ð?Ñ œ H0-ÐBÑ Ð-Ð?ÑÑ se pode
escrever na forma
HÐ0 ‰ -ÎY ÑB œ PÐ-à M.K ÑÐH0-ÐBÑ Ñ,

onde PÐ-à M.K ÑÀ PÐJ à KÑ Ä PÐIà KÑ é uma aplicação linear. …


I.6.8 (A noção de aplicação de classe G é local) Sejam I e J espaços
5

vectoriais de dimensão finita, Y § I um conjunto aberto e 0 À Y Ä J uma


aplicação. Tem-se então:
a) Se 0 é de classe G 5 e se Z § Y é outro aberto, a restrição 0ÎZ À Z Ä J é
também de classe G 5 e, para cada 5 , H5 Ð0ÎZ Ñ œ ÐH5 0 ÑÎZ .
b) Se ÐY4 Ñ4−N é uma família de abertos de I , de união Y , tal que cada
restrição 0ÎY4 À Y4 Ä J seja de classe G 5 (ou, o que é equivalente, se, para
cada B − Y , existe um aberto Z , com B − Z § Y , tal que 0ÎZ seja de classe
G 5 ), então 0 é de classe G 5 .
I.6.9 Sejam os espaços vectoriais de dimensão finita I e, para cada " Ÿ 4 Ÿ :,
J4 , seja Y § I um aberto e seja, para cada " Ÿ 4 Ÿ :, 04 À Y Ä J4 uma
aplicação. Seja 0 À Y Ä J" ‚ â ‚ J: a aplicação cujas componentes são os
04 , isto é, a definida por
0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß á ß 0: ÐBÑÑ.

Tem-se então que 0 é de classe G 5 se, e só se, cada 04 é de classe G 5 e, nesse


caso,
H5 0B Ð?" ß á ß ?5 Ñ œ ÐH5 0" B Ð?" ß á ß ?5 Ñß á ß H 5 0: B Ð?" ß á ß ?5 ÑÑ.

Dem: Pode-se apresentar uma justificação decalcada pela de I.5.8. …


I.6.10 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I um conjunto
aberto e 0 À Y Ä J uma aplicação de classe G 5 . Para cada ! Ÿ 4 Ÿ 5 tem-se
então que H4 0 À Y Ä P4 ÐIà J Ñ é uma aplicação de classe G 54 e
H54 ÐH4 0 ÑB Ð?" ß á ß ?54 ÑÐ?54" ß á ß ?5 Ñ œ H5 0B Ð?" ß á ß ?5 Ñ.

Dem: Repare-se que o caso em que 4 œ ! é trivial e aquele em que 4 œ " não
56 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

é mais do que a definição. Façamos então a demonstração por indução em 5 ,


o caso 5 œ ! sendo trivial. Suponhamos então o resultado válido para um
certo 5 e que 0 À Y Ä J é de classe G 5" e seja ! Ÿ 4 Ÿ 5 . Uma vez que
H0 À Y Ä PÐIà J Ñ é de classe G 5 , a hipótese de indução garante que
H4 ÐH0 ÑÀ Y Ä P4 ÐIà PÐIà J ÑÑ é de classe G 54 e com
H54 ÐH4 ÐH0 ÑÑB Ð?" ß á ß ?54 ÑÐ?54" ß á ß ?5 Ñ œ H 5 ÐH0 ÑB Ð?" ß á ß ?5 Ñ.

Reparemos agora que a igualdade de definição


H4" 0B Ð@" ß á ß @4" Ñ œ H4 ÐH0 ÑB Ð@" ß á ß @4 ÑÐ@4" Ñ

diz-nos que se tem, nas notações de I.1.6, H4" 0B œ E"


4 ÐH ÐH0 ÑB Ñ, onde
4

E4 À P ÐIà PÐIà J ÑÑ Ä P ÐIà J Ñ é uma aplicação linear, pelo que


" 4 4"

podemos concluir que H4" 0 À Y Ä P4" ÐIà J Ñ é de classe G 54 , ou seja,


G Ð5"ÑÐ4"Ñ , e que
HÐ5"ÑÐ4"Ñ ÐH4" 0 ÑB Ð?" ß á ß ?54 ÑÐ?54" ß á ß ?5" Ñ œ
œ E"
4 ÐH
54
ÐH4 ÐH0 ÑÑB Ð?" ß á ß ?54 Ñ ÑÐ?54" ß á ß ?5" Ñ œ
œ H54 ÐH4 ÐH0 ÑÑB Ð?" ß á ß ?54 ÑÐ?54" ß á ß ?5 ÑÐ?5" Ñ œ
œ H5 ÐH0 ÑB Ð?" ß á ß ?5 ÑÐ?5" Ñ œ
œ H5" 0B Ð?" ß á ß ?5" Ñ,

o que termina a prova por indução. …


I.6.11 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I um aberto e
0 À Y Ä J uma aplicação de classe G 5 , tal que a aplicação derivada
H5 0 À Y Ä P5 ÐIà J Ñ seja de classe G 4 . Tem-se então que 0 é de classe
G 54 .
Dem: Tal como anteriormente, fazemos a demonstração por indução em 5 , o
caso 5 œ ! sendo trivial e o caso 5 œ " não sendo mais do que a definição.
Suponhamos o resultado válido para um certo 5 e que 0 À Y Ä J é de classe
G 5" e com H5" 0 À Y Ä P5" ÐIà J Ñ de classe G 4 . Tem-se então que
H0 À Y Ä PÐIà J Ñ é de classe G 5 e, reparando que a igualdade
H5 ÐH0 ÑB Ð?" ß á ß ?5 ÑÐ?5" Ñ œ H5" 0B Ð?" ß á ß ?5" Ñ
pode ser reescrita na forma H5 ÐH0 ÑB œ E5 ÐH5" 0B Ñ, concluímos que
H5 ÐH0 ÑÀ Y Ä P5 ÐIà PÐIà J ÑÑ é de classe G 4 . Pela hipótese de indução
podemos assim garantir que H0 À Y Ä PÐIà J Ñ é de classe G 54 e portanto
0 é de classe G 5"4 . …
I.6.12 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I e Z § J
dois abertos e 0 À Y Ä Z e 1À Z Ä K duas aplicações de classe G 5 . Tem-se
então que 1 ‰ 0 À Y Ä K é também de classe G 5 .
Dem: Tal como nos casos anteriores, a demonstração faz-se por indução em
5 . No caso 5 œ ! temos simplesmente a asserção de a composta de duas
§6. Aplicações de classe G 5 57

aplicações contínuas ser ainda contínua. Suponhamos que o resultado é


válido para um certo 5 e que 0 e 1 são de classe G 5" . Sabemos que 1 ‰ 0 é
então diferenciável em todos os pontos e que, para cada B − Y ,
HÐ1 ‰ 0 ÑB œ H10 ÐBÑ ‰ H0B .

Uma vez que H1À Z Ä PÐJ à KÑ é de classe G 5 e que 0 À Y Ä Z é de classe


G 5 , concluímos, pela hipótese de indução, que tem lugar uma aplicação de
classe G 5 de Y em PÐJ à KÑ, que a cada B associa H10 ÐBÑ . Temos também
uma aplicação de classe G 5 H0 À Y Ä PÐIà J Ñ, pelo que obtemos uma
aplicação de classe G 5 de Y em PÐJ à KÑ ‚ PÐIà J Ñ, que a cada B − Y
associa o par ÐH10 ÐBÑ ß H0B Ñ, aplicação essa que, composta com a aplicação
de composição, que é uma aplicação bilinear, logo de classe G _ , de
PÐJ à KÑ ‚ PÐIà J Ñ em PÐIà KÑ, vai dar, mais uma vez pela hipótese de
indução, uma aplicação de classe G 5 de Y em PÐIà KÑ, a qual, como referi-
mos, não é mais do que HÐ1 ‰ 0 Ñ. Concluímos portanto que 1 ‰ 0 é de classe
G 5" . …
I.6.13 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita e J w § J um
subespaço vectorial. Sejam Y § I um conjunto aberto e 0 À Y Ä J uma
aplicação tal que 0 ÐY Ñ § J w . Tem-se então que 0 é de classe G 5 , como
aplicação de Y em J , se, e só se, 0 é de classe G 5 , como aplicação de Y em
J w , e, nesse caso, H5 0 é o mesmo dos dois pontos de vista.
I.6.14 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I um aberto
e 0 À Y Ä PÐJ à KÑ uma aplicação. Para cada vector @ − J , notemos
0Ð@Ñ À Y Ä K a aplicação definida por 0Ð@Ñ ÐBÑ œ 0 ÐBÑÐ@Ñ. Tem-se então que 0
é de classe G 5 se, e só se, para cada @, 0Ð@Ñ é de classe G 5 e, quando isso
acontecer, tem-se, para ?" ß á ß ?5 − I ,
H5 0B! Ð?" ß á ß ?5 ÑÐ@Ñ œ H5 0Ð@Ñ B! Ð?" ß á ß ?5 Ñ.

Mais precisamente, dada uma base @" ß á ß @8 de J , para garantir que 0 é de


classe G 5 , basta verificar que 0Ð@Ñ é de classe G 5 quando @ é um dos 8
vectores daquela base.
Dem: Basta adaptar trivialmente a demonstração apresentada para I.5.14. …
I.6.15 Sejam N § ‘ um aberto, J um espaço vectorial de dimensão finita e
0 À N Ä J uma aplicação de classe G 5 . Define-se então uma aplicação
0 Ð5Ñ À N Ä J como sendo a composta da aplicação H5 0 À N Ä P5 Бà J Ñ com
o isomorfismo canónico EÀ P5 Бà J Ñ Ä J (cf. I.1.5). Por outras palavras,
0 Ð5Ñ Ð>Ñ œ H5 0> Ð"ß á ß "Ñ.

É claro que 0 Ð"Ñ é o que atrás se chamou 0 w e, em vez da notação 0 Ð#Ñ ,


ww
também é costume escrever 0 . Uma notação alternativa bem conhecida para
5
0 Ð5Ñ Ð>Ñ é ..>05 Ð>Ñ.
58 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

Vamos agora estabelecer uma propriedade muito importante da derivada


de segunda ordem de uma aplicação de classe G # , nomeadamente que ela
é sempre, em cada ponto, uma aplicação bilinear simétrica. Começamos,
para isso, por demonstrar um lema.

I.6.16 (Lema) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I um


aberto, 0 À Y Ä J uma aplicação de classe G # e B! − Y . Para cada $  !,
existe então &  ! tal que, sempre que ?ß @ − I verificam m?m Ÿ & e
m@m Ÿ &, tem-se
m0 ÐB!  ?  @Ñ  0 ÐB!  ?Ñ  0 ÐB!  @Ñ  0 ÐB! Ñ  H# 0B! Ð?ß @Ñm Ÿ $m?mm@m.

Dem: Seja <  ! tal que a bola fechada de centro B! e raio < esteja contida
em Y e que, para cada B nessa bola fechada, mHÐH0 ÑB  HÐH0 ÑB! m Ÿ $ e
tomemos & œ #< . Seja ? − I tal que m?m Ÿ & e consideremos a aplicação 1Ð?Ñ ,
com valores em J , definida por
1Ð?Ñ ÐCÑ œ 0 ÐB!  ?  CÑ  0 ÐB!  CÑ

no aberto de I , contendo a bola fechada de centro ! e raio &, cujos elementos


são os C tais que B!  C − Y e B!  ?  C − Y . Tem-se
H1Ð?Ñ C Ð@Ñ œ H0B! ?C Ð@Ñ  H0B! C Ð@Ñ

ou seja, H1Ð?Ñ C œ H0B! ?C  H0B! C , e portanto, tendo em conta a terceira


versão da fórmula da média em I.5.20, com 0 œ HÐH0 ÑB! À I Ä PÐIà J Ñ,
podemos concluir que, para cada C na bola fechada de centro ! e raio &,
mH1Ð?Ñ C  HÐH0 ÑB! Ð?Ñm œ mH0B! ?C  H0B! C  HÐH0 ÑB! Ð?Ñm Ÿ $m?m.

Podemos agora aplicar segunda vez a mesma versão da fórmula da média,


com 0 œ HÐH0 ÑB! Ð?ÑÀ I Ä J , para garantir que, para cada @ − I com
m@m Ÿ &,
m0 ÐB!  ?  @Ñ  0 ÐB!  ?Ñ  0 ÐB!  @Ñ  0 ÐB! Ñ  H # 0B! Ð?ß @Ñm œ
œ m1Ð?Ñ Ð@Ñ  1Ð?Ñ Ð!Ñ  HÐH0 ÑB! Ð?ÑÐ@Ñm Ÿ $ m?mm@m. …

I.6.17 (Simetria da derivada de segunda ordem) Sejam I e J espaços


vectoriais de dimensão finita, Y § I um aberto e 0 À Y Ä J uma aplicação
de classe G # . Para cada B − Y , tem-se então que a derivada de segunda
ordem
H # 0B À I ‚ I Ä J
é uma aplicação bilinear simétrica, isto é, tem-se H# 0B Ð?ß @Ñ œ H# 0B Ð@ß ?Ñ,
quaisquer que sejam ?ß @ − I .
Dem: Seja $  ! arbitrário. Tendo em conta o lema anterior, podemos
considerar &  ! tal que, sempre que m?m Ÿ & e m@m Ÿ &, tem-se
§6. Aplicações de classe G 5 59

m0 ÐB  ?  @Ñ  0 ÐB  ?Ñ  0 ÐB  @Ñ  0 ÐBÑ  H# 0B Ð?ß @Ñm Ÿ $m?mm@m,

assim como, evidentemente, a desigualdade que se obtém desta por troca dos
papéis de ? e @. Uma vez que a soma das quatro primeiras parcelas dentro da
norma no primeiro membro fica invariante por troca dos papéis de ? e @,
concluímos que, sempre que m?m Ÿ & e m@m Ÿ &, tem-se
mH# 0B Ð@ß ?Ñ  H# 0B Ð?ß @Ñm Ÿ #$ m?mm@m.
Deduzimos agora que, se ? e @ são vectores não nulos arbitrários de I ,
podemos escrever
m?m &? m@m &@
?œ , @œ ,
& m?m & m@m
&? &@
com m?m e m@m vectores de norma &, pelo que podemos escrever

mH# 0B Ð@ß ?Ñ  H# 0B Ð?ß @Ñm œ


m?m m@m # &@ &? &? & @
œ mH 0B Ð ß Ñ  H # 0B Ð ß Ñm Ÿ
& & m@m m?m m?m m@m
m?m m@m
Ÿ ‚ # $ &# œ #$ m?mm@m,
& &
o que, tendo em conta a arbitrariedade de $  !, implica que
mH# 0B Ð@ß ?Ñ  H# 0B Ð?ß @Ñm œ !,
isto é, H# 0B Ð?ß @Ñ œ H# 0B Ð@ß ?Ñ, o que termina a demonstração, uma vez que
esta igualdade é trivialmente também verificada quando um dos vectores ? e
@ é !. …
I.6.18 (Corolário) Sejam Y § I um aberto e 0 À Y Ä J uma aplicação de
classe G 5 . Então, para cada B − Y , a aplicação multilinear
H5 0B À I ‚ â ‚ I Ä J é simétrica.
Dem: A demonstração faz-se por indução em 5 , a partir do caso 5 œ #, que
já foi demonstrado. Na passagem de 5 para 5  ", para vermos que
H5" 0B − P5" ÐIà J Ñ é simétrica, basta vermos que H5" 0B Ð?" ß á ß ?5" Ñ
não muda quando se troca ?4 com ?4" . No caso em que 4 Ÿ 5  ", isso é
uma consequência da hipótese de indução e do facto de se ter
H5" 0B Ð?" ß á ß ?5" Ñ œ H5 ÐH0 ÑB Ð?" ß á ß ?5 ÑÐ?5" Ñ.
No caso em que 4 œ 5 , isso é uma consequência da igualdade
H5" 0B Ð?" ß á ß ?5" Ñ œ H5" ÐH# 0 ÑB Ð?" ß á ß ?5" ÑÐ?5 ß ?5" Ñ,

desde que se repare que a aplicação de classe G 5" H# 0 À Y Ä P# ÐIà J Ñ


toma valores no subespaço vectorial P#=37 ÐIà J Ñ de P# ÐIà J Ñ, formado pelas
60 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

aplicações bilineares simétricas, o que implica que H5" ÐH# 0 ÑB aplica I 5"
em P#=37 ÐIà J Ñ. …

Como referimos no início desta secção, até agora apenas a


diferenciabilidade no sentido real interveio no que estivémos a estudar.
Vamos agora abordar rapidamente a adaptação do que temos estado a
fazer para o quadro da ‚-diferenciabilidade.

I.6.19 Sejam I e J espaços vectoriais complexos de dimensão finita, Y § I


um aberto e 0 À Y Ä J uma aplicação. Diz-se que 0 é uma aplicação
holomorfa se 0 é uma aplicação suave (isto é, de classe G _ , relativamente às
estruturas de espaço vectorial real de I e de J ) e, para cada B − Y , 0 é
‚-diferenciável em B (isto é, cada H0B À I Ä J é uma aplicação linear
complexa).
I.6.20 No sentido de aligeirar o texto, abstemo-nos de enunciar explicitamente os
resultados sobre aplicações holomorfas que resultam trivialmente dos corres-
pondentes resultados sobre aplicações suaves e da constatação que as
derivadas envolvidas são efectivamente aplicações lineares complexas. Por
exemplo, as constantes são holomorfas, tal como o são as aplicações lineares
complexas e as aplicações bilineares complexas, a composta de aplicações
holomorfas é holomorfa, etc…

A definição de aplicação holomorfa levanta talvez duas questões: Uma


sobre se não estaremos a “pedir demais”, outra sobre se não estaremos a
“pedir de menos”.
A primeira questão tem a ver com a razão por que nos limitamos a estudar
as aplicações de classe G _ que são ‚-diferenciáveis em cada ponto e não
estudamos, mais geralmente, as aplicações de classe G 5 que são ‚-dife-
renciáveis em cada ponto. A explicação está em que não se ganhava nada
com a generalização, na medida em se pode provar que toda a aplicação
que seja ‚-diferenciável em todos os pontos é automaticamente de classe
G _ (propriedade que evidentemente não é válida no quadro da
diferenciabilidade no sentido real). A propriedade que acabamos de referir
é extremamente forte e está infelizmente fora de questão podermos
abordar a sua justificação neste curso (o seu local natural é num curso
sobre funções de várias variáveis complexas).
A segunda questão tem a ver com a razão por que pedimos simplesmente
que a aplicação seja de classe G _ e ‚-diferenciável em todos os pontos e
não exigimos também que a aplicação H0 À Y Ä P‚ ÐIà J Ñ seja ainda
‚-diferenciável em todos os pontos. Esta segunda questão tem felizmente,
e como veremos a seguir, uma resposta muito mais simples que a
primeira.

I.6.21 Sejam I e J espaços vectoriais complexos de dimensão finita, Y § I


um aberto e 0 À Y Ä J uma aplicação holomorfa. Tem-se então que a
§6. Aplicações de classe G 5 61

aplicação H0 À Y Ä P‚ ÐIà J Ñ é também holomorfa e, para cada B − Y , a


derivada H# 0B À I ‚ I Ä J é bilinear complexa.
Dem: Como vamos ver, o resultado vai ser uma consequência simples do
facto de a derivada de segunda ordem em cada ponto ser uma aplicação
bilinear simétrica. Uma vez que H0 À Y Ä PÐIà J Ñ é de classe G _ , por isso
acontecer a 0 , e toma valores em P‚ ÐIà J Ñ, para vermos que esta aplicação é
holomorfa tudo o que temos que verificar é que, para cada B − Y ,
HÐH0 ÑB À I Ä P‚ ÐIà J Ñ é mesmo uma aplicação linear complexa. Tendo
em conta a igualdade de definição
H# 0B Ð?ß @Ñ œ HÐH0 ÑB Ð?ÑÐ@Ñ,
vemos que a aplicação bilinear H# 0B À I ‚ I Ä J é ‚-linear na segunda
variável e que o que queremos provar é que ela é também ‚-linear na
primeira variável. Ora, isso resulta do facto de esta aplicação bilinear ser
simétrica, visto que podemos escrever, para cada + − ‚,
H# 0B Ð+?ß @Ñ œ H# 0B Ð@ß +?Ñ œ + H # 0B Ð@ß ?Ñ œ + H # 0BÐ?ß @Ñ. …

I.6.22 Nas condições anteriores, para cada 5 , tem-se, mais geralmente, que as
derivadas H5 0B À I 5 Ä J são multilineares complexas e a aplicação
H5 0 À Y Ä P5‚ ÐIà J Ñ é holomorfa.
Dem: Demonstramos, por indução em 5   " que cada H5 0 À Y Ä P5‚ ÐIà J Ñ
é holomorfa e cada H5" 0B À I 5" Ä J é multilinear complexa, o caso 5 œ "
sendo o resultado precedente. Supondo o resultado verdadeiro para um certo
5 , podemos utilizá-lo com a aplicação holomorfa H0 À Y Ä P‚ ÐIà J Ñ para
garantir que
H5+1 ÐH0 ÑB À I 5" Ä P‚ ÐIà J Ñ
é multilinear complexa e a igualdade de definição
H5# 0B Ð?" ß á ß ?5# Ñ œ H5" ÐH0 ÑB Ð?" ß á ß ?5" ÑÐ?5# Ñ

mostra então que H5# 0B À I 5# Ä J é multilinear complexa. Este último


facto implica que a aplicação suave H5" 0 À Y Ä P5"
‚ ÐIà J Ñ é holomorfa,
5"
isto é, que cada HÐH 0 ÑB À I Ä P‚ ÐIà J Ñ é linear complexa, se
5"

tivermos em conta a igualdade


HÐH5" 0 ÑB Ð?" ÑÐ?# ß á ß ?5# Ñ œ H5# 0B Ð?" ß ?# ß á ß ?5# ÑÞ …
62 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

§7. Derivadas parciais.

I.7.1 Sejam os espaços vectoriais de dimensão finita I" ß á ß I: e J , o conjunto


aberto Y § I" ‚ â ‚ I: e a aplicação 0 À Y Ä J . Se ÐB" ! ß á ß B: ! Ñ − Y , e
se " Ÿ 4 Ÿ :, diz-se que 0 é 4-parcialmente diferenciável naquele ponto se
for diferenciável em B4 ! , como função da 4-ésima variável, isto é, se, sendo
Y4 o aberto de I4 , que contém B4 ! ,
Y4 œ ÖB4 − I4 ± ÐB" ! ß á ß B4" ! ß B4 ß B4" ! ß á ß B: ! Ñ − Y ×,

a aplicação 04 À Y4 Ä J , definida por


04 ÐB4 Ñ œ 0 ÐB" ! ß á ß B4" ! ß B4 ß B4" ! ß á ß B: ! Ñ,

é diferenciável em B4 ! . Nesse caso, define-se a 4-ésima derivada parcial de 0


naquele ponto como sendo o elemento
H4 0 ÐB" ! ß á ß B: ! Ñ œ H04 ÐB4 ! Ñ − PÐI4 à J Ñ,

que se nota também H4 0ÐB" ! ßáßB: ! Ñ .


I.7.2 Nas condições anteriores, e no caso em que um dos espaços vectoriais I4 é
‘, usa-se a notação
`0
ÐB" ! ß á ß B: ! Ñ
`B4

para o elemento
H4 0 ÐB" ! ß á ß B: ! ÑÐ"Ñ œ EÐH4 0 ÐB" ! ß á ß B: ! ÑÑ − J

(comparar com I.5.15).


I.7.3 Se Y é um aberto de I" ‚ â ‚ I: e se 0 À Y Ä J é diferenciável no
ponto ÐB" ! ß á ß B: ! Ñ − Y , então, para cada " Ÿ 4 Ÿ :, 0 é também
4-parcialmente diferenciável nesse ponto, tendo-se as seguintes relações entre
a derivada de 0 e as respectivas derivadas parciais:
H4 0ÐB" ! ßáßB: ! Ñ Ð?Ñ œ H0ÐB" ! ßáßB: ! Ñ Ð!ß á ß !ß ?ß !ß á ß !Ñ

(? na posição 4),

H0ÐB" ! ßáßB: ! Ñ Ð?" ß á ß ?: Ñ œ " H4 0ÐB" ! ßáßB: ! Ñ Ð?4 Ñ.


:

4œ"

Dem: A primeira igualdade é uma consequência simples do teorema da


§7. Derivadas parciais 63

derivação da função composta e a segunda resulta da primeira, tendo em


conta a linearidade da derivada e o facto de Ð?" ß á ß ?: Ñ ser soma de :
parcelas, cada uma com uma das coordenadas, 4, igual a ?4 e as restantes
coordenadas nulas. …
I.7.4 (Teorema Fundamental) Sejam Y um aberto de I" ‚ â ‚ I: e
0 À Y Ä J uma aplicação que, para cada " Ÿ 4 Ÿ :, seja 4-parcialmente
diferenciável em todos os pontos e com H4 0 À Y Ä PÐI4 à J Ñ contínua.
Tem-se então que 0 é diferenciável em todos os pontos.
Dem: Para ver que 0 é diferenciável no ponto ÐB" ! ß á ß B: ! Ñ, basta ver que
isso acontece à sua restrição a um aberto mais pequeno que contenha esse
ponto, pelo que se pode já supor que Y é da forma Y" ‚ â ‚ Y: , com cada
Y4 aberto convexo de I4 , contendo B4 ! . Nesse caso, escrevemos

0 ÐB" ß á ß B: Ñ œ 0 ÐB" ! ß á ß B: ! Ñ  " 14 ÐB" ß á ß B: Ñ,


:

4œ"

onde
14 ÐB" ß á ß B: Ñ œ 0 ÐB" ! ß á ß B4" ! ß B4 ß B4" ß á ß B: Ñ 
 0 ÐB" ! ß á ß B4" ! ß B4 ! ß B4" ß á ß B: Ñ,

e, para provarmos a diferenciabilidade de 0 em ÐB" ! ß á ß B: ! Ñ, ficamos


reduzidos a provar a diferenciabilidade de cada 14 nesse ponto. Para isso,
escrevemos
14 ÐB" ß á ß B: Ñ œ 14 ÐB" ! ß á ß B: ! Ñ  H4 0ÐB" ! ßáßB: ! Ñ ÐB4  B4 ! Ñ 
 !ÐB" ß á ß B: Ñ

e ficamos reduzidos a provar que a aplicação ! verifica a condição na


definição de diferenciabilidade, o que é uma consequência simples da conti-
nuidade de H4 0 e da terceira versão da fórmula da média (cf. I.5.20). …
I.7.5 Sejam Y um aberto de I" ‚ â ‚ I: e 0 À Y Ä J uma aplicação. Tem-se
então que 0 é de classe G 5" se, e só se, para cada " Ÿ 4 Ÿ :, 0 é
4-parcialmente diferenciável em todos os pontos e H4 0 À Y Ä PÐI4 à J Ñ é
uma aplicação de classe G 5 .
Dem: A base da demonstração é o resultado anterior. Consideram-se, além
disso, as injecções canónicas +4 À I4 Ä I" ‚ â ‚ I: e as projecções
canónicas 14 À I" ‚ â ‚ I: Ä I4 , às quais ficam associadas aplicações
lineares
PÐ+4 à M.J ÑÀ PÐI" ‚ â ‚ I: à J Ñ Ä PÐI4 à J Ñ,
PÐ14 à M.J ÑÀ PÐI4 à J Ñ Ä PÐI" ‚ â ‚ I: à J Ñ,

bastando então reparar que as fórmulas de I.7.3 podem ser traduzidas na


64 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

forma
H4 0 œ PÐ+4 à M.J Ñ ‰ H0 ,

H0 œ " PÐ14 à M.J Ñ ‰ H4 0 .


:
…
4œ"

I.7.6 (Corolário) Sejam J um espaço vectorial de dimensão finita, Y § ‘7 um


aberto e 0 À Y Ä J uma aplicação. tem-se então que 0 é de classe G 5" se, e
só se, 0 é 4-parcialmente diferenciável em todos os pontos e cada aplicação
`0
`B4 À Y Ä J é de classe G .
5

Dem: Basta atender a que, tendo em conta I.6.14, é equivalente dizer que
`0
H4 0 À Y Ä PБà J Ñ é de classe G 5 e dizer que `B 4
À Y Ä J é de classe G 5 . …

I.7.7 (Corolário) Seja 0À I" ‚ â ‚ I: Ä J uma aplicação multilinear. Tem-se


então que 0 é de classe G _ e

H0ÐB" ßáßB: Ñ Ð?" ß á ß ?: Ñ œ " 0ÐB" ß á ß B4" ß ?4 ß B4" ß á ß B: Ñ.16


:

4œ"

Dem: A demonstração faz-se por indução em :, reparando que o facto de 0


ser multilinear vai implicar que 0 é parcialmente diferenciável em cada ponto
relativamente a cada variável, com
H4 0ÐB" ßáßB: Ñ Ð?4 Ñ œ 0ÐB" ß á ß B4" ß ?4 ß B4" ß á ß B: Ñ,

o facto de cada H4 0À I" ‚ â ‚ I: Ä PÐI4 à J Ñ ser de classe G _ sendo


então uma consequência da hipótese de indução e do facto de a composta de
aplicações de classe G _ ser de classe G _ . …
I.7.8 (Regra de Leibnitz generalizada) Seja 0À J" ‚ â ‚ J: Ä K uma
aplicação multilinear. Sejam Y § I um aberto e, para cada " Ÿ 4 Ÿ :,
04 À Y Ä J4 uma aplicação diferenciável no ponto B! − Y (resp. uma
aplicação de classe G 5 ). Tem-se então que a aplicação 2À Y Ä K , definida
por
2ÐBÑ œ 0Ð0" ÐBÑß á ß 0: ÐBÑÑ,

é também diferenciável em B! e com

16Repare-se que a conclusão de I.5.11, em conjunto com a alínea c) de I.6.4 é


essencialmente o caso particular : œ # deste resultado, o que poderia levar a crer que a
sua apresentação naquele momento poderia ter sido uma perda de tempo. Tal não é o caso
visto que na demonstração adiante vamos utilizar o facto de a composta de aplicações de
classe G 5 ser ainda de classe G 5 , resultado que utiliza a versão : œ # na sua demons-
tração.
§7. Derivadas parciais 65

H2B! Ð?Ñ œ " 0Ð0" ÐB! Ñß á ß 04" ÐB! Ñß H04 B! Ð?Ñß 04" ÐB! Ñß á ß 0: ÐB!ÑÑ
:

4œ"

(resp. é uma aplicação de classe G 5 ).


Dem: Basta atender à regra de derivação da função composta e ao facto de 2
ser a composta de 0 com a aplicação de Y em J" ‚ â ‚ J: , que a B associa
Ð0" ÐBÑß á ß 0: ÐBÑÑ. …

Como aplicação da suavidade das aplicações multilineares e do valor da


sua derivada em cada ponto, podemos estudar a suavidade da função
determinante.

I.7.9 Seja I um espaço vectorial de dimensão finita sobre Š, igual a ‘ ou ‚. A


aplicação detÀ PÐIà IÑ Ä Š é então suave, sendo mesmo holomorfa no caso
em que Š œ ‚. Além disso, a sua derivada em M.I − PÐIà IÑ é dada por
H detM.I Ð!Ñ œ TrÐ!Ñ.

Dem: Fixemos uma base ?" ß á ß ?8 em I e consideremos o correspondente


isomorfismo FÀ PÐIà IÑ Ä I 8 definido por FÐ0Ñ œ Ð0Ð?" Ñß á ß 0Ð?8 ÑÑ. A
aplicação det ‰ F" À I 8 Ä Š vai ser multilinear, como consequência do
facto bem conhecido de o determinante de uma matriz do tipo 8 ‚ 8 ser
linear em cada coluna separadamente. Podemos concluir daqui que
det ‰ F" À I 8 Ä Š é suave e com

HÐdet ‰ F" ÑÐB" ßáßB8 Ñ Ð@" ß á ß @8 Ñ œ " det ‰ F" ÐB" ß á ß @4 ß á ß B8 Ñ


8

4œ"

pelo que, compondo com o isomorfismo F, vemos que detÀ PÐIà IÑ Ä Š é


suave e com
H det0 Ð!Ñ œ HÐdet ‰ F" ÑÐ0Ð?" Ñßáß0Ð?8 ÑÑ Ð!Ð?" Ñß á ß !Ð?8 ÑÑ œ

œ " det ‰ F" Ð0Ð?" Ñß á ß !Ð?4 Ñß á ß 0Ð?8 ÑÑ,


8

4œ"

holomorfa, no caso em que Š œ ‚. Escrevendo agora !Ð?4 Ñ œ ! +5ß4 ?5 , o


fórmula que nos mostra, em particular, que detÀ PÐIà IÑ Ä Š é mesmo

facto de se ter det ‰ F" Ð?" ß á ß ?4" ß ?4 ß ?4" ß á ß ?8 Ñ œ detÐM.I Ñ œ " e,


para cada 5 Á 4, det ‰ F" Ð?" ß á ß ?4" ß ?5 ß ?4" ß á ß ?8 Ñ œ ! (determinante
de uma matriz com duas colunas iguais) implica que se tem
det ‰ F" Ð?" ß á ß !Ð?4 Ñß á ß ?8 Ñ œ
66 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

œ " +5ß4 det ‰ F" Ð?" ß á ß ?4" ß ?5 ß ?4" ß á ß ?8 Ñ œ


8

5œ"
œ +4ß4 det ‰ F" Ð?" ß á ß ?4" ß ?4 ß ?4" ß á ß ?8 Ñ œ +4ß4

pelo que obtemos, em particular,

H detM.I Ð!Ñ œ " det ‰ F" Ð?" ß á ß !Ð?4 Ñß á ß ?8 Ñ œ " +4ß4 œ TrÐ!Ñ,
8 8

4œ" 4œ"

como queríamos. …

§8. Teoremas da função implícita e da função inversa.

I.8.1 Sejam I e J espaços vectoriais reais (respectivamente complexos) de


dimensão finita e notemos P3=9 ÐIà J Ñ o subconjunto de PÐIà J Ñ formado
pelos isomorfismos de I sobre J . Tem-se então que P3=9 ÐIà J Ñ é um
subconjunto aberto, eventualmente vazio, de PÐIà J Ñ e a aplicação
FÀ P3=9 ÐIà J Ñ Ä PÐJ à IÑ , FÐ0Ñ œ 0" ,
é de classe G _ (respectivamente é holomorfa) e verifica
HF0 Ð(Ñ œ 0" ‰ ( ‰ 0" .

Dem: Vamos dividir a demonstração em várias alíneas:


a) Vamos começar por provar que, se 0 − PÐIà IÑ verifica m0  M.I m Ÿ "# ,
então 0 é invertível e m0" m Ÿ #. Ora, de se ter
"
m0ÐBÑ  Bm œ mÐ0  M.I ÑÐBÑm Ÿ mBm,
#
deduzimos que
"
mBm Ÿ mB  0ÐBÑm  m0ÐBÑm Ÿ mBm  m0ÐBÑm,
#
donde
"
m0ÐBÑm   mBm.
#
Resulta daqui que, se 0ÐBÑ œ !, então B œ !, o que mostra que 0 é injectiva,
logo um isomorfismo de I sobre I e, fazendo agora B œ 0" ÐCÑ, obtemos
mCm   "# m0" ÐCÑm, ou seja, m0" ÐCÑm Ÿ #mCm, o que mostra que m0" m Ÿ #.
b) O que vimos em a) mostra que M. é interior a P3=9 ÐIà IÑ em PÐIà IÑ.
Reparemos agora que, para cada 0 − P3=9 ÐIà J Ñ, tem lugar um isomorfismo
§8. Teoremas da função implícita e da função inversa 67

de PÐIà IÑ sobre PÐIà J Ñ, que a cada - associa 0 ‰ -, o isomorfismo


inverso aplicando . em 0" ‰ .. Uma vez que este isomorfismo, em
particular homeomorfismo, aplica P3=9 ÐIà IÑ sobre P3=9 ÐIà J Ñ e M.I em 0,
concluímos que 0 é interior a P3=9 ÐIà J Ñ em PÐIà J Ñ, o que mostra que
P3=9 ÐIà J Ñ é aberto em PÐIà J Ñ.
c) Vamos verificar que, no caso particular em que I œ J , F é diferenciável
em M.I , em particular contínua nesse ponto, e que
HFM.I Ð(Ñ œ (.

Para isso, escrevemos


FÐ0Ñ œ FÐM.I Ñ  Ð0  M.I Ñ  !Ð0Ñ
e tentamos mostrar que a aplicação ! verifica a condição na definição de
diferenciabilidade. Ora, podemos escrever
!Ð0Ñ œ 0"  M.I  0  M.I œ 0" ‰ Ð0  M.I Ñ ‰ Ð0  M.I Ñ

pelo que, dado $  !, vem, sempre que m0  M.I m Ÿ minÐ #$ ß "# Ñ, tendo em
conta a conclusão de a),
m!Ð0Ñm Ÿ m0" mm0  M.I mm0  M.I m Ÿ
$
Ÿ # m0  M.I m œ $ m0  M.I m,
#
como queríamos.
d) Seja agora 0 − P3=9 ÐIà J Ñ arbitrário. Notemos GÀ PÐIà J Ñ Ä PÐIà IÑ e
sÀ PÐIà IÑ Ä PÐJ à IÑ as aplicações lineares definidas por
G
sÐ.Ñ œ . ‰ 0" ,
GÐ-Ñ œ 0" ‰ - , G
a primeira das quais aplica P3=9 ÐIà J Ñ sobre P3=9 ÐIà IÑ e 0 em M.I .
Notando agora F! a aplicação F no caso particular em que I œ J , o facto
de se ter, para cada - − P3=9 ÐIà J Ñ,
-" œ Ð0" ‰ -Ñ" ‰ 0" ,

permite-nos escrever F œ G s ‰ F! ‰ G/P3=9 ÐIàJ Ñ pelo que o facto de F! ser


diferenciável em M.I , e com derivada aplicando ( em (, implica, pelo
teorema da derivação da função composta, que a aplicação F é diferenciável
em 0, e com
sÐGÐ(ÑÑ œ 0" ‰ ( ‰ 0" .
H F 0 Ð( Ñ œ G

e) Acabamos de ver que F é diferenciável, em particular contínua, em todos


os pontos do aberto P3=9 ÐIà J Ñ de PÐIà J Ñ e com
HF0 Ð(Ñ œ FÐ0Ñ ‰ ( ‰ FÐ0Ñ.
68 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

Se repararmos que tem lugar uma aplicação bilinear, em particular de classe


G _ , de PÐJ à IÑ ‚ PÐJ à IÑ em PÐPÐIà J Ñà PÐJ à IÑÑ, que a cada Ð!ß "Ñ
associa a aplicação linear ( È ! ‰ ( ‰ " , concluímos por indução, utilizando
I.6.12, que F é de classe G 5 , para todo o 5 , isto é, de classe G _ . Além disso,
no caso em que os espaços vectoriais são complexos, a fórmula obtida para
HF0 mostra que se trata de uma aplicação linear complexa, pelo que F é uma
aplicação holomorfa. …
I.8.2 (Um lema, caso particular do teorema das funções implícitas) Sejam I
e J espaços vectoriais reais (respectivamente complexos) de dimensão finita,
H § I ‚ J um conjunto aberto, 0 À H Ä J uma aplicação de classe G 5" ,
onde ! Ÿ 5 Ÿ _, (respectivamente uma aplicação holomorfa) e B! − I tal
que ÐB! ß !Ñ − H, que 0 ÐB! ß !Ñ œ ! e que H# 0ÐB! ß!Ñ œ M.J . Existem então um
aberto Y de I , com B! − Y , e um aberto Z de J , com ! − Z , tais que
Y ‚ Z § H e que se verifiquem as condições seguintes:
a) Para cada B − Y , existe um, e um só, C − Z tal que 0 ÐBß CÑ œ !;
b) A aplicação 1À Y Ä Z , definida por 0 ÐBß 1ÐBÑÑ œ !, é de classe G 5"
(respectivamente é holomorfa).
Dem: Tendo em conta a continuidade de H# 0 À H Ä PÐJ à J Ñ e o facto de
P3=9 ÐJ à J Ñ ser aberto em PÐJ à J Ñ, podemos fixar V w  ! tal que,
considerando as bolas abertas de centros B! e ! e raio V w , se tenha
FVw ÐB! Ñ ‚ FVw Ð!Ñ § H e, para cada B − FVw ÐB! Ñ e C − FVw Ð!Ñ,
H# 0ÐBßCÑ − PÐJ à J Ñ seja um isomorfismo, verificando
"
(1) mH# 0ÐBßCÑ  M.J m Ÿ .
#
Fixemos !  V  V w . A continuidade de 0 implica a existência de
!  < Ÿ V tal que, para cada B − F< ÐB! Ñ,
V
(2) m0 ÐBß !Ñm œ m0 ÐBß !Ñ  0 ÐB! ß !Ñm  .
#
Para cada B − F< ÐB! Ñ, seja 2ÐBÑ À FVw Ð!Ñ Ä J a aplicação de classe G 5"
definida por
(3) 2ÐBÑ ÐCÑ œ C  0 ÐBß CÑ.
ÐBÑ "
Tem-se mH2C m œ mM.J  H# 0ÐBßCÑ m Ÿ # pelo que, pela fórmula da média,
vem, para Cß C w − FVw Ð!Ñ,
"
(4) m2ÐBÑ ÐCÑ  2ÐBÑ ÐC w Ñm Ÿ mC  C w m.
#
Em particular, para cada C na bola fechada de centro ! e raio V , F V Ð!Ñ,
" V
(5) m2ÐBÑ ÐCÑm œ m2ÐBÑ ÐCÑ  2ÐBÑ Ð!Ñ  0 ÐBß !Ñm  mCm  Ÿ V,
# #
§8. Teoremas da função implícita e da função inversa 69

o que mostra que 2ÐBÑ aplica F V Ð!Ñ em FV Ð!Ñ. O teorema do ponto fixo para
aplicações contractivas implica agora que, para cada B − Y œ F< ÐB! Ñ, existe
um, e um só, C − Z œ FV Ð!Ñ, tal que 2ÐBÑ ÐCÑ œ C , isto é, tal que
0 ÐBß CÑ œ !. Notando C œ 1ÐBÑ, resta-nos ver que a aplicação 1À Y Ä Z é de
classe G 5" . Seja Q  mH" 0ÐB! ß!Ñ m. Suponhamos que V w foi escolhido
suficientemente pequeno para que, para cada B − FVw ÐB! Ñ e C − FVw Ð!Ñ, se
tenha mH" 0ÐBßCÑ m Ÿ Q ; pela fórmula da média, deduzimos então que, se
Bß Bw − Y e C − Z , tem-se
(6) m0 ÐBß CÑ  0 ÐBw ß CÑm Ÿ Q mB  Bw m.
Usando (4), obtemos agora, para Bß Bw − Y ,
w
m1ÐBÑ  1ÐBw Ñm œ m2 ÐBÑ Ð1ÐBÑÑ  2 ÐB Ñ Ð1ÐBw ÑÑm Ÿ
w w w
Ÿ m2ÐBÑ Ð1ÐBÑÑ  2 ÐB Ñ Ð1ÐBÑÑm  m2 ÐB Ñ Ð1ÐBÑÑ  2 ÐB Ñ Ð1ÐBw ÑÑm Ÿ
"
Ÿ m0 ÐBw ß 1ÐBÑÑ  0 ÐBß 1ÐBÑÑm  m1ÐBÑ  1ÐBw Ñm Ÿ
#
w " w
Ÿ Q mB  B m  m1ÐBÑ  1ÐB Ñm,
#
de onde se deduz que "# m1ÐBÑ  1ÐBw Ñm Ÿ Q mB  Bw m, ou seja,
(7) m1ÐBÑ  1ÐBw Ñm Ÿ #Q mB  Bw m.
Esta última fórmula implica, em particular, a continuidade da aplicação 1.
Vamos agora ver que, para cada B" − Y , 1 é diferenciável em B" , e com
(8) H1B" œ ÐH# 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ Ñ" ‰ H" 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ .

Para isso, ponhamos


(9) 1ÐBÑ œ 1ÐB" Ñ  ÐH# 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ Ñ" ‰ H" 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ ÐB  B" Ñ  !ÐBÑ

e provemos que a aplicação ! verifica as condições da definição de


diferenciabilidade. Seja $  ! arbitrário. Seja Q w œ mÐH# 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ Ñ" m. Pela
diferenciabilidade da aplicação 0 no ponto ÐB" ß 1ÐB" ÑÑ, existe &  ! tal que,
sempre que mÐBß CÑ  ÐB" ß 1ÐB" ÑÑm Ÿ &, se tenha
m0 ÐBß CÑ  H" 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ ÐB  B" Ñ  H# 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ ÐC  1ÐB" ÑÑm Ÿ
(10) $
Ÿ w mÐBß CÑ  ÐB" ß 1ÐB" ÑÑm.
Q Ð"  #Q Ñ
&
Se B − Y verifica a condição mB  B" m Ÿ minÐ&ß #Q Ñ, tem-se, por (7),
mÐBß 1ÐBÑÑ  ÐB" ß 1ÐB" ÑÑm Ÿ & e, pondo C œ 1ÐBÑ em (10), vem
70 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

mH" 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ ÐB  B" Ñ  H# 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ Ð1ÐBÑ  1ÐB" ÑÑm Ÿ


$
Ÿ w mÐBß 1ÐBÑÑ  ÐB" ß 1ÐB" ÑÑm Ÿ
(11) Q Ð"  #Q Ñ
$
Ÿ w mB  B" m,
Q
donde
m!ÐBÑm œ mÐH# 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ Ñ" ˆH# 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ Ð1ÐBÑ  1ÐB" ÑÑ 
 H" 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ ÐB  B" щm Ÿ $ mB  B" m,
(12)

o que mostra a diferenciabilidade pretendida.


A igualdade H1B œ ÐH# 0ÐBß1ÐBÑÑ Ñ" ‰ H" 0ÐBß1ÐBÑÑ mostra-nos agora, tendo
em conta I.8.1 e o facto de a composição ser uma aplicação bilinear de
PÐJ à J Ñ ‚ PÐIà J Ñ em PÐIà J Ñ, que H1À Y Ä PÐIà J Ñ é uma aplicação
contínua. O mesmo raciocínio vai-nos mostrar, por indução, que H1 é de
classe G 3 , para cada 3 Ÿ 5 , o que prova que 1 é de classe G 5" . No caso em
que os espaços vectoriais são complexos e 0 é holomorfa, esta mesma
igualdade mostra que 1 é holomorfa. …
I.8.3 (Teorema das funções implícitas) Sejam I , J e K espaços vectoriais
reais (respectivamente complexos) de dimensão finita, H § I ‚ J um
conjunto aberto, 0 À H Ä K uma aplicação de classe G 5" , onde
! Ÿ 5 Ÿ _, (respectivamente uma aplicação holomorfa) e ÐB! ß C! Ñ − H e
D! − K, tais que 0 ÐB! ß C! Ñ œ D! e que H# 0ÐB! ßC! Ñ − PÐJ à KÑ seja um iso-
morfismo. Existem então conjuntos abertos Y , de I , e Z , de J , com
B! − Y , C! − Z e Y ‚ Z § H, verificando as condições seguintes:
a) Para cada B − Y , existe um, e um só, C − Z tal que 0 ÐBß CÑ œ D! ;
b) A aplicação 1À Y Ä Z , definida por 0 ÐBß 1ÐBÑÑ œ D! , é de classe G 5"
(respectivamente é holomorfa).
Dem: Seja 0À K Ä J a aplicação linear inversa do isomorfismo H# 0ÐB! ßC! Ñ .
Seja Hs o aberto de I ‚ J formado pelos ÐBß CÑ tais que ÐBß C!  CÑ − H e
seja s0 À H
s Ä J a aplicação de classe G 5" (respectivamente holomorfa)
definida por
s0 ÐBß CÑ œ 0Ð0 ÐBß C!  CÑ  D! Ñ,

a qual verifica s0 ÐB! ß !Ñ œ ! e H#s0 ÐB! ß!Ñ œ 0 ‰ H# 0ÐB! ßC! Ñ œ M.J . Aplicando o
lema anterior a s0 , concluímos a existência de um aberto Y de I , com
B! − Y , e de um aberto Z s de J , com ! − Z s , com a correspondente aplicação
de classe G 5"
(respectivamente holomorfa) s1À Y Ä Z s e, sendo
s
Z œ C!  Z , Y e Z vão verificar as condições do enunciado, com 1À Y Ä Z
definido por 1ÐBÑ œ C!  s1ÐBÑ. …
§8. Teoremas da função implícita e da função inversa 71

I.8.4 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I e Z § J


conjuntos abertos e 0 À Y Ä Z uma bijecção. Diz-se que 0 é um difeomor-
fismo de classe G 5 se tanto 0 como 0 " são aplicações de classe G 5 . No caso
em que 5 œ _, dizemos simplesmente que 0 é um difeomorfismo. No caso
em que I e J são espaços vectoriais complexos, diz-se que 0 À Y Ä Z é um
difeomorfismo holomorfo se for uma bijecção e 0 À Y Ä Z e 0 " À Z Ä Y
forem aplicações holomorfas.
I.8.5 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I e Z § J
conjuntos abertos e 0 À Y Ä Z um difeomorfismo de classe G 5 , com 5   ".
Para cada B − Y , H0B À I Ä J é um isomorfismo com inverso HÐ0 " Ñ0 ÐBÑ .
Em particular, no caso em que I e J são espaços vectoriais complexos, se
0 À Y Ä Z é um difeomorfismo e é aplicação holomorfa, então 0 À Y Ä Z é
mesmo um difeomorfismo holomorfo.
Dem: Por derivação das identidades 0 " ‰ 0 œ M.Y e 0 ‰ 0 " œ M.Z , em B
e em 0 ÐBÑ, respectivamente, obtemos HÐ0 " Ñ0 ÐBÑ ‰ H0B œ M.I e
H0B ‰ HÐ0 " Ñ0 ÐBÑ œ M.J , o que implica que H0B é um isomorfismo, com
inverso HÐ0 " Ñ0 ÐBÑ . No caso em que, além disso, I e J são espaços
vectoriais complexos e o difeomorfismo 0 é uma aplicação holomorfa, o
facto de cada H0B ser uma aplicação linear complexa implica que cada
HÐ0 " Ñ0 ÐBÑ é uma aplicação linear complexa, e portanto que a aplicação de
classe G _ 0 " À Z Ä Y é também holomorfa. …

O teorema da função inversa, que demonstramos em seguida, é um


recíproco local da primeira parte do resultado precedente.

I.8.6 (Teorema da função inversa) Sejam I e J espaços vectoriais reais (res-


pectivamente complexos) de dimensão finita, Y § I um aberto, 0 À Y Ä J
uma aplicação de classe G 5" , onde ! Ÿ 5 Ÿ _, (respectivamente uma
aplicação holomorfa) e B! − Y tal que H0B! À I Ä J seja um isomorfismo.
Existe então um aberto Y w de I , com B! − Y w § Y , tal que a restrição 0ÎY w
seja um difeomorfismo de classe G 5" (respectivamente um difeomorfismo
holomorfo) de Y w sobre um aberto Z de J .
Dem: Seja 1À J ‚ Y Ä J a aplicação de classe G 5" definida por
1ÐCß BÑ œ 0 ÐBÑ  C . Tem-se 1Ð0 ÐB! Ñß B! Ñ œ ! e H# 1Ð0 ÐB! ÑßB! Ñ œ H0B! pelo
que, pelo teorema das funções implícitas, concluímos a existência de um
aberto Y ww de I , com B! − Y ww § Y , e de um aberto Z de J , com
0 ÐB! Ñ − Z , tais que, para cada C − Z , existe um, e um só, B − Y ww tal que
1ÐCß BÑ œ !, isto é, tal que 0 ÐBÑ œ C , e que, notando B œ 2ÐCÑ, a aplicação
2À Z Ä Y ww é de classe G 5" . Sendo Y w o conjunto dos B − Y ww tais que
0 ÐBÑ − Z , Y w vai ser um aberto de I , contendo B! e contido em Y , e a
restrição de 0 a Y w vai ser uma bijecção de Y w sobre Z , que é de classe G 5" ,
assim como a sua inversa, que não é mais do que a aplicação 2 . …
72 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

§9. Integral de funções vectoriais de variável real.

Ao contrário do Cálculo Diferencial, que temos estado a rever, que será


constantemente utilizado ao longo deste livro, as propriedades
elementares do Cálculo Integral, para funções contínuas de variável real e
com valores num espaço vectorial de dimensão finita, que vamos abordar
nesta e na próxima secção vão ser utilizadas com muito menor frequência.
Elas serão utilizadas apenas no estudo das equações diferenciais ordiná-
rias e na construção da reparametrização por comprimento de arco de um
caminho. A maior parte das demonstrações será omitida, por se tratar de
aplicações directas das propriedades da convergência de sucessões
generalizadas ou de adaptações triviais de demonstrações já conhecidas
no quadro das funções reais de variável real.

I.9.1 Sejam + e , dois números reais, com + Ÿ , . Chama-se partição do


intervalo Ò+ß ,Ó a um subconjunto finito T de Ò+ß ,Ó, que contenha + e , . Um
tal subconjunto pode sempre escrever-se, de uma única maneira, na forma
T œ Ö+! ß +" ß á ß +R ×, com + œ +!  +"  â  +R œ , , tendo-se evidente-
mente R œ !, se + œ , , e R   ", se +  , , caso em que se dá o nome de
diâmetro da partição ao maior dos números +4  +4" . A partição T w é mais
fina que a partição T se se tem T w ¨ T ; o conjunto das partições de Ò+ß ,Ó,
com esta relação, fica a ser um sistema parcialmente ordenado filtrante, por-
tanto um bom candidato para conjunto de índices de uma sucessão genera-
lizada.
I.9.2 Sejam J um espaço vectorial de dimensão finita e 0 À Ò+ß ,Ó Ä J uma
aplicação contínua. Para cada partição T œ Ö+! ß +" ß á ß +R × de Ò+ß ,Ó, com
+ œ +!  +"  â  +R œ , , defina-se um elemento WT Ð0 Ñ − J , por

WT Ð0 Ñ œ " Ð+4  +4" Ñ0 Ð+4 Ñ.


R

4œ"

A família dos WT Ð0 Ñ é então uma sucessão generalizada de elementos de J ,


que se verifica facilmente ser de Cauchy, pelo que converge, e ao seu limite
dá-se o nome de integral da aplicação 0 no intervalo Ò+ß ,Ó, notado
' , 0 Ð>Ñ .>.
+

I.9.3 Sejam J e K espaços vectoriais de dimensão finita e -À J Ä K uma


aplicação linear. Se 0 À Ò+ß ,Ó Ä J é uma aplicação contínua, tem-se

( -Ð0 Ð>ÑÑ .> œ -ˆ( 0 Ð>Ñ .>‰.


, ,

+ +
§9. Integral de funções vectoriais de variável real 73

I.9.4 Sejam J um espaço vectorial de dimensão finita, 0 ß 1À Ò+ß ,Ó Ä J duas


aplicações contínuas, - − ‘ e B − J . Tem-se então

( 0 Ð>Ñ  1Ð>Ñ .> œ ( 0 Ð>Ñ .>  ( 1Ð>Ñ .>,


, , ,

+ + +

( -0 Ð>Ñ .> œ - ( 0 Ð>Ñ .>,


, ,

+ +

( B .> œ Ð,  +ÑB,
,

a primeira igualdade podendo ser trivialmente generalizada, por indução, a


uma soma com um número finito de parcelas e a segunda igualdade sendo
válida, mais geralmente, para - − ‚, no caso em que J é um espaço vectorial
complexo.
I.9.5 Para cada " Ÿ 4 Ÿ :, seja J4 um espaço vectorial de dimensão finita e seja
04 À Ò+ß ,Ó Ä J4 uma aplicação contínua. Sendo 0 À Ò+ß ,Ó Ä J" ‚ â ‚ J: a
aplicação contínua definida por
0 Ð>Ñ œ Ð0" Ð>Ñß á ß 0: Ð>ÑÑ,

tem-se

( 0 Ð>Ñ .> œ ˆ( 0" Ð>Ñ .>ß á ß ( 0: Ð>Ñ .>‰.


, , ,

+ + +

(comparar com o que se disse na demonstração de I.5.8).


I.9.6 Seja J um espaço vectorial de dimensão finita, sobre o qual se considera
uma norma. Se 0 À Ò+ß ,Ó Ä J é uma aplicação contínua, tem-se

¼( 0 Ð>Ñ .>¼ Ÿ ( m0 Ð>Ñm .>.


, ,

+ +

I.9.7 Se 0 ß 1À Ò+ß ,Ó Ä ‘ são aplicações contínuas tais que 0 Ð>Ñ Ÿ 1Ð>Ñ, para cada
>, então

( 0 Ð>Ñ .> Ÿ ( 1Ð>Ñ .>.


, ,

+ +

I.9.8 Sejam 0 À Ò+ß ,Ó Ä J uma aplicação contínua e - − Ò+ß ,Ó. Tem-se então

( 0 Ð>Ñ .> œ ( 0 Ð>Ñ .>  ( 0 Ð>Ñ .>.


, - ,

+ + -
74 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

Em particular, tem-se

(
+
0 Ð>Ñ .> œ !.
+

I.9.9 Sejam N § ‘ um intervalo, J um espaço vectorial de dimensão finita e


0 À N Ä J uma aplicação contínua. Já se sabe o que é '+ 0 Ð>Ñ .> no caso em
,

que + Ÿ , são dois elementos de N , e generaliza-se esta definição pondo, no


caso em que +  , ,

( 0 Ð>Ñ .> œ (
, +
0 Ð>Ñ .>.
+ ,

Verifica-se então, após uma discussão fácil, que são válidas, quaisquer que
sejam +ß ,ß - − N , as igualdades

( 0 Ð>Ñ .> œ (
, +
0 Ð>Ñ .>,
+ ,

( 0 Ð>Ñ .> œ ( 0 Ð>Ñ .>  ( 0 Ð>Ñ .>.


, - ,

+ + -

I.9.10 Sejam N § ‘ um intervalo aberto, J um espaço vectorial de dimensão


finita e 0 À N Ä J uma aplicação contínua. Seja + − N fixado e seja
s0 À N Ä J a aplicação integral indefinido, definida por

s0 Ð>Ñ œ ( 0 Ð=Ñ .=.


>

+
w
Tem-se então que 0 é diferenciável em todos os pontos e s0 Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ.
I.9.11 (Fórmula de Barrow) Sejam N § ‘ um intervalo aberto, J um espaço
vectorial de dimensão finita, 0 À N Ä J uma aplicação contínua e s0 À N Ä J
w
uma aplicação diferenciável em todos os pontos e com s0 Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ, para
cada > − N . Tem-se então, para cada +ß , − N ,

( 0 Ð>Ñ .> œ s0 Ð,Ñ  s0 Ð+Ñ.


,

§10. Diferenciabilidade do integral paramétrico.

I.10.1 Sejam N § ‘ um intervalo, I e J espaços vectoriais de dimensão finita,


E § I um conjunto arbitrário e 0 À N ‚ E Ä J uma aplicação contínua. Se
+ß , − N , tem então lugar uma aplicação contínua 1À E Ä J (o integral para-
§10. Diferenciabilidade do integral paramétrico 75

métrico), definida por

1ÐBÑ œ ( 0 Ð>ß BÑ .>.


,

Dem: Suponhamos já que + Ÿ , e provemos a continuidade de 1 em B! − E.


Seja $  ! arbitrário e fixemos $ w  ! tal que Ð,  +Ñ$ w  $ . Pela
continuidade uniforme (no sentido forte) de 0 no compacto Ò+ß ,Ó ‚ ÖB! ×,
existe &  ! tal que, sempre que > − Ò+ß ,Ó e B − E verifica mB  B! m  &,
tem-se m0 Ð>ß BÑ  0 Ð>ß B! Ñm Ÿ $ w . Sempre que B − E verifica mB  B! m  &
tem-se então

m1ÐBÑ  1ÐB! Ñm Ÿ ( m0 Ð>ß BÑ  0 Ð>ß B! Ñm.> Ÿ $ w Ð,  +Ñ  $.


,
…
+

I.10.2 Mais geralmente, nas condições anteriores, tem lugar, para cada + − N ,
uma aplicação contínua 2À N ‚ E Ä J (misto de integral paramétrico e de
integral indefinido), definida por

2Ð>ß BÑ œ ( 0 Ð=ß BÑ .=.


>

Dem: Para provar a continuidade em Ð>! ß B! Ñ escrevemos


2Ð>ß BÑ  2Ð>! ß B! Ñ œ 2Ð>ß BÑ  2Ð>!ß BÑ  2Ð>!ß BÑ  2Ð> !ß B !Ñ
e reparamos que m2Ð>! ß BÑ  2Ð>! ß B! Ñm pode ser controlado pelo resultado
precedente, com , œ >! , e que podemos escolher Q  ! e &w  ! tais que,
sempre que l=  >! l  &w e lB  B! l  &w se tenha m0 Ð=ß BÑm Ÿ Q , o que
implica que, se l>  >! l  &w e lB  B! l  &w ,

m2Ð>ß BÑ  2Ð>! ß BÑm œ m( 0 Ð=ß BÑ .=m Ÿ Q l>  >!l.


>
…
>!

I.10.3 Sejam os espaços vectoriais de dimensão finita I e J , Y § I um


conjunto aberto, N § ‘ um intervaloß H um aberto de ‘ ‚ I , contendo
N ‚ Y e 0 À H Ä J uma aplicação de classe G " . Para cada + − N e , − N ,
tem então lugar uma aplicação de classe G " 1À Y Ä J , definida por

1ÐBÑ œ ( 0 Ð>ß BÑ .>,


,

tendo-se, para cada B − Y e ? − I ,

H1B Ð?Ñ œ ( H# 0Ð>ßBÑ Ð?Ñ .> œ ( H0Ð>ßBÑ Ð!ß ?Ñ .>.


, ,

+ +

Dem: Podemos já supor que se tem + Ÿ , . Dado B! − Y , a continuidade


76 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

uniforme, no sentido forte, de H# 0 sobre o compacto Ò+ß ,Ó ‚ ÖB! × implica


que, dado $  !, existe &  ! tal que, sempre que > − Ò+ß ,Ó e mB  B! m Ÿ &,
se tenha
mH# 0Ð>ßBÑ  H# 0Ð>ßB! Ñ m Ÿ $.

A fórmula da média permite-nos deduzir que

m1ÐBÑ  1ÐB! Ñ  ( H# 0Ð>ßB! Ñ ÐB  B! Ñ .>m œ


,

œ m( 0 Ð>ß BÑ  0 Ð>ß B! Ñ  H# 0Ð>ßB! Ñ ÐB  B! Ñ .>m Ÿ


,

+
Ÿ $ Ð,  +ÑmB  B! m,

o que mostra que 1 é diferenciável em B! e com a derivada dada na fórmula


do enunciado. Tendo em conta a propriedade I.9.3, relativa à aplicação linear
de PÐIà J Ñ em J , que a ! associa !Ð?Ñ, vemos que se pode escrever
também

H1B œ ( H# 0Ð>ßBÑ .>,


,

pelo que o facto de H1À Y Ä PÐIà J Ñ ser contínua é uma consequência de


I.10.1. …
I.10.4 Com as hipóteses anteriores, se a aplicação 0 for de classe G 5 , então a
aplicação 1 é também de classe G 5 e

H5 1B Ð?" ß á ß ?5 Ñ œ ( H5 0Ð>ßBÑ ÐÐ!ß ?" Ñß á ß Ð!ß ?5 ÑÑ .>.


,

Dem: Os casos 5 œ ! e 5 œ " são já conhecidos e o caso geral obtém-se


então por indução, reparando que, se 0 é de classe G 5" , H0 é de classe G 5
e portanto, a fórmula

H1B Ð?5" Ñ œ ( H0Ð>ßBÑ Ð!ß ?5" Ñ .>


,

implica, tendo em conta I.6.14, que H1À Y Ä PÐIà J Ñ é de classe G 5 , ou


seja, 1 é de classe G 5" , e que
H5" 1B Ð?" ß á ß ?5" Ñ œ H5 ÐH1ÑB Ð?" ß á ß ?5 ÑÐ?5" Ñ œ
œ H5 ÐH1Ð?5" ÑÑB Ð?" ß á ß ?5 Ñ œ

œ ( H5 ÐH0 Ð!ß ?5" ÑÑÐ>ßBÑ ÐÐ!ß ?" Ñß á ß Ð!ß ?5 ÑÑ .> œ


,

œ ( H5" 0Ð>ßBÑ ÐÐ!ß ?" Ñß á ß Ð!ß ?5" ÑÑ .>.


,
…
+
§10. Diferenciabilidade do integral paramétrico 77

I.10.5 Mais geralmente, se o intervalo N é aberto e 0 À N ‚ Y Ä J é de classe


G 5 , tem lugar uma aplicação de classe G 5 2À N ‚ Y Ä J , definida por

2Ð>ß BÑ œ ( 0 Ð=ß BÑ .=.


>

Tem-se além disso, no caso em que 5   ",

H2Ð>ßBÑ Ð-ß ?Ñ œ -0 Ð>ß BÑ  ( H# 0Ð=ßBÑ Ð?Ñ .=.


>

Dem: A demonstração faz-se por indução em 5 , determinando-se as deriva-


das parciais relativamente às duas variáveis e aplicando I.7.4 e os resultados
já demonstrados nesta secção. …

EXERCÍCIOS

Ex I.1 Sejam I e J espaços euclidianos ou hermitianos, -À I Ä J uma


aplicação linear e -‡ À J Ä I a respectiva adjunta.
a) Mostrar que o núcleo kerÐ-Ñ de - é o complementar ortogonal da imagem
-‡ ÐJ Ñ de -‡ , e que a imagem -ÐIÑ de - é o complementar ortogonal do
núcleo kerÐ-‡ Ñ de -‡ .
b) Deduzir de a) que -‡ é sobrejectiva se, e só se, - é injectiva e que -‡ é
injectiva se, e só se, - é sobrejectiva.
Ex I.2 Sejam I e J espaços euclidianos ou hermitianos e -À I Ä J um
isomorfismo. Mostrar que a aplicação linear adjunta -‡ À J Ä I é também
um isomorfismo e que Ð-‡ Ñ" œ Ð-" ч .
Ex I.3 Sejam I e J espaços vectoriais complexos, com estruturas complexas N
e N w , respectivamente.
a) Mostrar que a estrutura complexa s N de P‘ ÐIà J Ñ, associada à estrutura de
espaço vectorial complexo que se considera usualmente neste espaço (cf.
I.1.3), está definida por s
N Ð- Ñ œ N w ‰ - .
b) Mostrar que se pode definir outra estrutura complexa Ñ em P‘ ÐIà J Ñ por
N˜ Ð-Ñ œ - ‰ N e que esta estrutura é, em geral, distinta da anterior. O que será
o produto de um complexo - por - − P‘ ÐIà J Ñ na estrutura de espaço
vectorial complexo associada a Ñ ?
c) Mostrar que P‘ ÐIà J Ñ é soma directa dos subespaços vectoriais comple-
xos (para qualquer das duas estruturas complexas s N e N˜ ) P‚ ÐIà J Ñ e
P‚ ÐIà J Ñ e que as projecções 1" e 1# associadas à soma directa
P‘ ÐIà J Ñ œ P‚ ÐIà J Ñ Š P‚ ÐIà J Ñ
estão definidas por
78 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

-  Nw ‰ - ‰ N -  Nw ‰ - ‰ N
1" Ð-Ñ œ , 1# Ð - Ñ œ .
# #
N e N˜ em P‚ ÐIà J Ñ
Mostrar ainda que as estruturas complexas induzidas por s
coincidem e as induzidas em P‚ ÐIà J Ñ são simétricas uma da outra.
d) Nas condições de c), e supondo que I e J estão munidos de produtos
internos complexos e que consideramos em P‘ ÐIà J Ñ o produto interno
complexo referido na alínea a) de I.3.5, mostrar que as parcelas directas de
P‘ ÐIà J Ñ referidas em c) são mutuamente ortogonais, em particular cada
uma é o complementar ortogonal da outra e 1" e 1# são as projecções ortogo-
nais sobre cada uma das parcelas.
Ex I.4 Mostrar que, se I é um espaço vectorial complexo, com estrutura
complexa N , munido de um produto interno real Ø ß Ù‘ , não obrigatoriamente
hermitiano, então I admite um produto interno real hermitiano Ø ß Ùw‘ , defi-
nido por
Ø?ß @Ù‘  ØN Ð?Ñß N Ð@ÑÙ‘
Ø?ß @Ùw‘ œ
#
(a divisão por # não é essencial; que interesse poderá ter?).
Ex I.5 Sejam I e J espaços vectoriais complexos, com estruturas complexas N
e N w , respectivamente, e K um espaço vectorial sobre Š (igual a ‘ ou ‚).
Diz-se que uma aplicação bilinear real 0À I ‚ J Ä K é circular (respectiva-
mente anticircular) se se tem 0ÐN Ð?Ñß @Ñ œ 0Ð?ß N w Ð@ÑÑ (respectivamente
0ÐN Ð?Ñß @Ñ œ 0Ð?ß N w Ð@ÑÑ), quaisquer que sejam ? − I e @ − J .
a) Mostrar que 0 é circular (respectivamente anticircular) se, e só se, quais-
quer que sejam ? − I e @ − J , se tem 0ÐN Ð?Ñß N w Ð@ÑÑ œ 0Ð?ß @Ñ (respecti-
vamente 0ÐN Ð?Ñß N w Ð@ÑÑ œ 0Ð?ß @Ñ). Mostrar ainda que os produtos internos
reais hermíticos são anticirculares e que, no caso em que Š œ ‚, as aplica-
ções bilineares complexas são circulares e as aplicações sesquilineares são
anticirculares.
b) Notemos P‘ ÐIß J à KÑ e P‘ ÐIß J à KÑ os subespaços vectoriais (sobre
Š) de P‘ ÐIß J à KÑ constituídos, respectivamente, pelas aplicações bilineares
circulares e pelas anticirculares. Mostrar que tem lugar a soma directa
P‘ ÐIß J à KÑ œ P‘ ÐIß J à KÑ Š P‘ ÐIß J à KÑ
e que as projecções 1" e 1# associadas a esta soma directa estão definidas
respectivamente por
0  0 ‰ ÐN ‚ N w Ñ 0  0 ‰ ÐN ‚ N w Ñ
1" Ð0Ñ œ , 1# Ð 0 Ñ œ .
# #
c) No caso em que Š œ ‚, Mostrar que tem lugar a soma directa de subes-
paços vectoriais complexos
Exercícios 79

P‘ ÐIß J à KÑ œ P‚ ÐIß J à KÑ Š P‚ ÐIß J à KÑ Š P‚ ÐIß J à KÑ Š P‚ÐIß J à KÑ,

determinando as projecções associadas a esta soma directa, e mostrar que se


tem
P‘ ÐIß J à KÑ œ P‚ ÐIß J à KÑ Š P‚ ÐIß J à KÑ,
P‘ ÐIß J à KÑ œ P‚ ÐIß J à KÑ Š P‚ ÐIß J à KÑ.

Ex I.6 Sejam I um espaço euclidiano ou hermitiano e -À I Ä I um isomor-


fismo ortogonal. Mostrar que ldetÐ-Ñl œ ". Sugestão: Partir da identidade
-‡ ‰ - œ M.I e ter em conta I.2.28.
Ex I.7 Sejam I e J espaços vectoriais reais ou complexos com dimensões 7 e
8, respectivamente, munidos de produtos internos.
a) Mostrar que, se -À I Ä J é uma aplicação linear injectiva, então
-‡ ‰ -À I Ä I é uma aplicação linear injectiva, e portanto um isomorfismo.
b) Mostrar que, se -À I Ä J é uma aplicação linear injectiva então a
projecção ortogonal 1-ÐIÑ , de J sobre -ÐIÑ, é dada por

1-ÐIÑ œ - ‰ Ð-‡ ‰ -Ñ" ‰ -‡ .

Sugestão: Verificar que o segundo membro é uma aplicação linear J Ä J


autoadjunta, idempotente e com imagem -ÐIÑ.
c) Se -À I Ä J é uma aplicação linear ortogonal, mostrar que a projecção
ortogonal de J sobre -ÐIÑ é - ‰ -‡ .
Ex I.8 Sejam I e J espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão finita,
munidos de produtos internos, e -À I Ä J uma aplicação linear. Mostrar
que são equivalentes as propriedades seguintes:
a) - é uma aplicação linear conforme;
b) mBm œ mCm Ê m-ÐBÑm œ m-ÐCÑm;
c) ØBß CÙ œ ! Ê Ø-ÐBÑß -ÐCÑÙ œ !.
Mostrar ainda que, no caso em que os espaços vectoriais são reais, se - Á ! é
conforme então - não só conserva a prependicularidade de vectores como
conserva mesmo o ângulo de pares de vectores não nulos (lembrar que o
ângulo dos vectores não nulos B e C é o valor ! − Ò!ß 1Ó definido pela
ØBßCÙ
igualdade cosÐ!Ñ œ mBmmCm ).
Sugestão: Pode afastar-se o caso trivial em que I œ Ö!×. Supondo b), tomar
para - o valor m-ÐBÑm, sempre que mBm œ ". Supondo c), considerar uma
base ortonormada B" ß á ß B8 de I e, para 4 Á 5 , utilizar o facto de B4  B5 e
B4  B5 serem ortogonais para deduzir que -ÐB4 Ñ e -ÐB5 Ñ têm a mesma
norma.
Ex I.9 Sejam I e J espaços vectoriais reais ou complexos com dimensões 7 e
8, respectivamente, munidos de produtos internos. Diremos que uma
80 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

aplicação linear -À I Ä J é coortogonal se se tem - ‰ -‡ œ M.J (comparar


com I.2.30).
a) Mostrar que uma aplicação linear coortogonal é sempre sobrejectiva.
b) Mostrar que, se 7 œ 8, uma aplicação linear é coortogonal se, e só se, é
ortogonal.
c) Mostrar que -À I Ä J é coortogonal se, e só se, a restrição de - a
kerÐ-Ѽ é um isomorfismo ortogonal de kerÐ-Ѽ sobre J .
d) Mostrar que, se -À I Ä J é uma aplicação linear coortogonal, então a
projecção ortogonal de I sobre kerÐ-Ñ é M.I  -‡ ‰ -.
Sugestão: Lembrar que, se -À I Ä J é uma aplicação linear, então
-‡ ÐJ Ñ œ kerÐ-Ѽ e kerÐ-‡ Ñ œ -ÐIѼ .
Ex I.10 Seja I um espaço vectorial de dimensão 8 sobre Š, munido de produto
interno.
a) Mostrar que o espaço vectorial PÐIà IÑ é soma directa dos subespaços
vectoriais reais P++ ÐIà IÑ e P++ ÐIà IÑ (cf. I.2.25) e verificar que as
projecções 1 e 1 associadas a esta soma directa estão definidas por
-  -‡ -  -‡
1 Ð-Ñ œ , 1 Ð-Ñ œ .
# #
b) Consideremos em PÐIà IÑ o produto interno de Hilbert-Schmidt, se
Š œ ‘, e o produto interno real associado ao produto interno de
Hilbert-Schmidt, se Š œ ‚. Mostrar que os subespaços P++ ÐIà IÑ e
P++ ÐIà IÑ são mutuamente ortogonais e que, consequentemente, cada um é
o complementar ortogonal do outro e 1 e 1 são as projecções ortogonais
sobre cada um deles.
c) Mostrar que, se Š œ ‘, P++ ÐIà IÑ tem dimensão 8Ð8"Ñ # e que
8Ð8"Ñ
P++ ÐIà IÑ tem dimensão # . Sugestão: Fixar uma base para I e racio-
cinar em termos das matrizes nesta base.
d) No caso em que Š œ ‚, mostrar que tem lugar um isomorfismo real de
P++ ÐIà IÑ sobre P++ ÐIà IÑ, que a cada - associa 3-, e deduzir daí que a
dimensão real de cada um daqueles subespaços é 8# .
e) Obter de modo alternativo a conclusão sobre a dimensão real dos subes-
paços P++ ÐIà IÑ e P++ ÐIà IÑ pelo exame do que se passa com as matrizes
dos respectivos elementos numa base ortonormada complexa de I .
f) Suponhamos que Š œ ‚ e que consideramos em PÐIà IÑ o produto
interno de Hilbert-Schmidt complexo. Mostrar que, se -ß . estão ambos em
P++ ÐIà IÑ ou ambos em P++ ÐIà IÑ, então Ø-ß .Ù é um número real e que,
se - − P++ ÐIà IÑ e . − P++ ÐIà IÑ, então Ø-ß .Ù é imaginário puro17.
Ex I.11 Sejam I e J espaços euclidianos ou hermitianos, com dimensões 7 e 8,
respectivamente, e notemos mm a norma de PÐIà J Ñ definida em I.1.8, a
partir das normas de I e J associadas aos respectivos produtos internos, e

17Esta última afirmação resulta também do que já foi feito na alínea b).
Exercícios 81

Mostrar que se tem, para cada - − PÐIà J Ñ, m-m Ÿ m-mLW Ÿ È7 m-m.


mmLW a norma de PÐIà J Ñ associada ao produto interno de Hilbert-Schmidt.

Ex I.12 Generalizar os produtos internos de Hilbert-Schmidt dos espaços de


aplicações lineares aos espaços de aplicações multilineares do seguinte
modo: Sejam I" ß á ß I: ß J espaços vectoriais de dimensão finita sobre Š
(igual a ‘ ou ‚), munidos de produto interno. Mostrar que existe um, e um
só, produto interno sobre PÐI" ß á ß I: à J Ñ tal que, quaisquer que sejam as
bases ortonormadas A5ß" ß á ß A5ß85 dos I5 (" Ÿ 5 Ÿ :), se tenha

Ø-ß .Ù œ " Ø-ÐA"ß4" ß á ß A:ß4: Ñß .ÐA"ß4" ß á ß A:ß4: ÑÙ


"Ÿ4" Ÿ8"
â
"Ÿ4: Ÿ8:

(o produto interno de Hilbert-Schmidt). Reparar que a alínea a) de I.3.5 se


generaliza naturalmente a este quadro e adaptar o enunciado da alínea b) do
mesmo resultado. Sugestão: Fazer a demonstração por indução em :, repa-
rando que tem lugar um isomorfismo natural
PÐI" à PÐI# ß á ß I: à J ÑÑ Ä PÐI" ß I# ß á ß I: à J Ñ,

que pode ser usado para transportar um produto interno no primeiro espaço.
Ex I.13 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensões 7 e 8 sobre Š, munidos
de produto interno, e -ß .À I Ä J duas aplicações lineares. Mostrar que o
produto interno de Hilbert-Schmidt Ø-ß .Ù é dado por Ø-ß .Ù œ TrÐ.‡ ‰ -Ñ.
Ex I.14 (Isomorfismos ortogonais na dimensão 1) Seja I um espaço
euclidiano ou hermitiano de dimensão ". Mostrar que, para cada + − Š, com
l+l œ ", tem lugar um isomorfismo ortogonal 0+ À I Ä I definido por
0+ ÐBÑ œ +B e que todo o isomorfismo ortogonal 0À I Ä I é da forma 0+ ,
para um único + naquelas condições (em particular, no caso em que Š œ ‘,
existem dois, e só dois isomorfismos ortogonais I Ä I , nomeadamente M.I
e M.I , o primeiro conservando e o segundo invertendo as orientações).
Ex I.15 (Isomorfismos ortogonais na dimensão #) Seja I um espaço
euclidiano de dimensão #. Seja N uma das duas estruturas complexas de I
compatíveis com o produto interno (cf. I.4.24). Consideremos, como
auxiliares, em I a estrutura de espaço vectorial complexo de dimensão "
definida por N e o produto interno complexo cujo produto interno real
associado é o dado.
a) Seja 0À I Ä I um isomorfismo ortogonal que conserve (respectivamente
inverta) as orientações. Mostrar que 0 é uma aplicação linear complexa
(respectivamente é antilinear) e lembrar que, no primeiro caso, 0 é também
um isomorfismo ortogonal relativamente ao produto interno complexo
correspondente.
b) Para cada > − ‘, seja 3> À I Ä I o isomorfismo ortogonal, conservando as
orientações, definido por
82 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

3> ÐBÑ œ /3> B œ cosÐ>Ñ B  sinÐ>Ñ N ÐBÑ


(nas notações do exercício precedente, trata-se do isomorfismo ortogonal
complexo 0+ , onde + é o complexo /3> œ cosÐ>Ñ  3 sinÐ>Ñ, de módulo 1).
Mostrar que, se 0À I Ä I é um isomorfismo ortogonal (real), que conseva as
orientações, então 0 é da forma 0> , para algum > − ‘ (0 é a rotação de ângulo
> para a orientação determinada por N ). Concluir que o conjunto
S ÐIÑ œ WSÐIÑ dos isomorfismos ortogonais 0À I Ä I que conservam as
orientações é um grupo isomorfo ao grupo multiplicativo dos complexos de
módulo ", em particular é comutativo.
c) Para cada subespaço vectorial J § I , de dimensão ", mostrar que existe
uma única aplicação linear 0J À I Ä I tal que 0ÐBÑ œ B, para cada B − J , e
0ÐBÑ œ B, para cada B − J ¼ (a simetria relativamente a J ) e que 0 é um
isomorfismo ortogonal invertendo as orientações. Mostrar que, se 0À I Ä I
é um isomorfismo ortogonal que inverte as orientações, então 0 é da forma
0J , para algum subespaço vectorial J § I , de dimensão ", em particular
0 ‰ 0 œ M.I . Sugestão: Mostrar que, para cada B − I , 0Ð0ÐBÑÑ œ B,
escrevendo 0ÐBÑ œ -B, com - − ‚ e l-l œ ", e aplicando a conclusão de a).
Partindo de B − I Ï Ö!× arbitrário, considerar os subespaços ortogonais
gerados por B e por N ÐBÑ, se 0ÐBÑ œ „B e, caso contrário, os gerados por
B  0ÐBÑ e por B  0ÐBÑ.
Ex I.16 (Subespaços vectoriais invariantes por uma aplicação linear) Se I é
um espaço vectorial, real ou complexo, e 0À I Ä I é uma aplicação linear,
diz-se que um subespaço vectorial J § I é 0-invariante se se tem
0ÐJ Ñ § J .
a) Mostrar que um vector não nulo B − I é um vector próprio de 0 se, e só
se, o subespaço vectorial gerado por B é 0-invariante e que, em consequência,
0 admite um valor próprio se, e só se, I admite um subespaço vectorial
invariante de dimensão ".
b) Lembrar que, como consequência do teorema fundamental da Álgebra,
toda a matriz do tipo 8 ‚ 8 (8   "Ñ com entradas reais ou complexas admite
pelo menos um valor próprio complexo. Deduzir que, se I é um espaço
vectorial complexo, com dimensão 8   ", e 0À I Ä I é uma aplicação linear
complexa, então existe um subespaço vectorial 0-invariante J § I com
dimensão ".
c) Seja I um espaço vectorial real de dimensão 8   " e seja 0À I Ä I uma
aplicação linear real. Mostrar que I admite um subespaço vectorial 0-inva-
riante com dimensão 8  " ou 8  # e deduzir, por indução, que 0 admite um
subespaço 0-invariante de dimensão " ou #. Sugestão: Reparar que
P‘ ÐIà ‚Ñ é um espaço vectorial complexo de dimensão 8 e que tem lugar
uma aplicação linear complexa P‘ ÐIà ‚Ñ Ä P‘ ÐIà ‚Ñ, . È . ‰ 0 . Sendo
.! Á ! em P‘ ÐIà ‚Ñ um vector próprio desta aplicação linear, verificar que
J œ kerÐ.! Ñ verifica a propriedade pedida.
d) Sejam I um espaço euclidiano ou hermitiano e 0À I Ä I uma aplicação
Exercícios 83

linear ortogonal ou autoadjunta ou antiautoadjunta. Mostrar que, se J § I é


0-invariante, então J ¼ é também 0-invariante.
Ex I.17 (Y ÐIÑ é conexo) Seja I um espaço vectorial complexo de dimensão 8,
munido de um produto interno e seja Y ÐIÑ o conjunto dos isomorfismos
ortogonais18 0À I Ä I.
a) Utilizar as alíneas b) e d) do exercício precedente para mostrar que, se
0 − Y ÐIÑ, I é soma directa ortogonal de subespaços vectoriais 0-invariantes
de dimensão ", e portanto existe uma base ortonormada B" ß á ß B8 de I e
+" ß á ß +8 − ‚, com l+4 l œ " tais que 0ÐB4 Ñ œ +4 B4 .
b) Notemos W " § ‚ o conjunto dos complexos de módulo ", que sabemos
ser conexo. Mostrar que, para cada base ortonormada B" ß á ß B8 de I , tem
lugar uma aplicação contínua (aliás, mesmo suave) GÀ ÐW " Ñ8 Ä Y ÐIÑ,
definida pela condição de GÐ+" ß á ß +8 Ñ ser o isomorfismo ortogonal que
aplica B4 em +4 B4 , e que Y ÐIÑ é a união das imagens destas aplicações.
c) Concluir de b) que Y ÐIÑ é conexo. Utilizar a mesma alínea para mostrar
que, para cada 0 − Y ÐIÑ, existe uma aplicação contínua (aliás, mesmo
suave) <À ‘ Ä Y ÐIÑ tal que <Ð!Ñ œ M.I e <Ð"Ñ œ 0. Concluir, a partir
daqui, que, dados 0ß ( − Y ÐIÑ, existe uma aplicação contínua (aliás, mesmo
suave) <À ‘ Ä Y ÐIÑ tal que <Ð!Ñ œ 0 e <Ð"Ñ œ ( (Y ÐIÑ é conexo por
arcos). Sugestão: Começar por considerar <! com <! Ð!Ñ œ M.I e
<! Ð"Ñ œ 0" ‰ (.
d) Sendo Z8 ÐIÑ § I 8 o conjunto das bases ortonormadas de I , concluir de
c) que Z8 ÐIÑ é conexo, aliás é mesmo conexo por arcos.
Ex I.18 (WSÐIÑ é conexo) Seja I um espaço vectorial real de dimensão 8,
munido de um produto interno e seja SÐIÑ o conjunto dos isomorfismos
ortogonais 0À I Ä I , S ÐIÑ œ WSÐIÑ o conjunto dos isomorfismos orto-
gonais que conservam as orientações e S ÐIÑ o conjunto dos isomorfismos
ortogonais que invertem as orientações.
a) Reparar que, tendo em conta o exercício I.6, S ÐIÑ é o conjunto dos
isomorfismos ortogonais 0À I Ä I com detÐ0Ñ œ " e S ÐIÑ é o conjunto
dos isomorfismos ortogonais 0À I Ä I com detÐ0Ñ œ " e concluir, tendo
em conta a continuidade da aplicação detÀ PÐIà IÑ Ä ‘, que S ÐIÑ e
S ÐIÑ são abertos em SÐIÑ.
b) Seja 0 − SÐIÑ que não admita nenhum valor próprio. Mostrar que I é
soma directa ortogonal de subespaços vectoriais 0-invariantes de dimensão #
(em particular 8 é par) e que 0 − S ÐIÑ. Sugestão: Raciocinar por indução,
tendo em conta as alíneas c) e d) do exercício I.16, a alínea c) do exercício
I.15 e I.3.11.
c) Seja 0 − S ÐIÑ. Mostrar que I é soma directa ortogonal de subespaços
vectoriais 0-invariantes I œ I Š I Š I! tais que 0ÎI œ M.I , 0ÎI œ
M.I e 0ÎI! À I! Ä I! não admite valor próprio e que então I tem

18Também chamados unitários.


84 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

dimensão par.
d) Nas condições de c), mostrar que I w œ I Š I! é soma directa ortogonal
de uma família de subespaços vectoriais 0-invariantes J4 com dimensão #
tais que cada 0ÎJ4 conserve as orientações e concluir que I w admite uma
estrutura complexa N , compatível com o produto interno, relativamente à
qual 0ÎI w é ‚-linear (e portanto 0ÎI w − Y ÐI w Ñ). Sugestão: Fixar em cada J4
uma das duas estruturas complexas compatíveis e tomar para N a soma
directa destas estruturas complexas.
e) Utilizar a alínea c) do exercício precedente para concluir que, para cada
0 − WSÐIÑ œ S ÐIÑ, existe uma aplicação contínua (aliás, mesmo suave)
<À ‘ Ä S ÐIÑ tal que <Ð!Ñ œ M.I e <Ð"Ñ œ 0. Concluir daqui que, dados
0ß ( − S ÐIÑ (respectivamente 0ß ( − S ÐIÑ), existe uma aplicação
contínua (aliás, mesmo suave) <À ‘ Ä S ÐIÑ (respectivamente
<À ‘ Ä S ÐIÑ) tal que <Ð!Ñ œ 0 e <Ð"Ñ œ (. Concluir que S ÐIÑ e
S ÐIÑ são conexos por arcos, em particular conexos e que, portanto, salvo
no caso trivial em que I œ Ö!×, S ÐIÑ e S ÐIÑ são as componentes
conexas de I .
f) Fixada uma orientação em I , mostrar que o conjunto Z8 ÐIÑ das bases
ortonormadas de I é a união dos subconjuntos Z8 ÐIÑ e Z8 ÐIÑ, constituí-
dos respectivamente pelas bases ortonormadas directas e pelas bases ortonor-
madas retrógradas, que são abertos em Z8 ÐIÑ e ambos conexos por arcos, em
particular conexos. Deduzir que, salvo no caso trivial em que I œ Ö!×,
Z8 ÐIÑ e Z8 ÐIÑ são as componentes conexas de Z8 ÐIÑ.
Ex I.19 Se I é um espaço vectorial complexo de dimensão 8, que relação
existirá entre a orientação associada de I e a associada ao espaço vectorial
conjugado I ?
Ex I.20 Seja 0À I ‚ I Ä J uma aplicação bilinear. Seja 0 À I Ä J a aplicação
definida por 0 ÐBÑ œ 0ÐBß BÑ. Mostrar que 0 é diferenciável em todos os
pontos e que
H0B ÐAÑ œ 0ÐBß AÑ  0ÐAß BÑ.

Ex I.21 Sejam N § ‘ um intervalo aberto, I um espaço vectorial de dimensão


finita e FÀ N Ä PÐIà IÑ e 0 À N Ä I duas aplicações diferenciáveis em
>! − N . Mostrar que é diferenciável em >! a aplicação 1À N Ä I definida por
1Ð>Ñ œ FÐ>ÑÐ0 Ð>ÑÑ e calcular 1w Ð>! Ñ.
Ex I.22 Seja I um espaço vectorial real de dimensão finita, munido de um
produto interno. Mostrar que é de classe G _ a aplicação 2À I Ï Ö!× Ä ‘
definida por 2ÐBÑ œ mBm (a norma associada ao produto interno) e calcular
H2B ÐAÑ.
Ex I.23 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita. Diz-se que uma
aplicação 0 À I Ä J é positivamente 8-homogénea (onde 8   ! é um
inteiro) se, para cada B − I e >  !, tem-se
Exercícios 85

0 Ð>BÑ œ >8 0 ÐBÑ.

a) Mostrar que, se 8   " e se 0 À I Ä J é uma aplicação de classe G "


positivamente 8-homogénea, então a aplicação H0 À I Ä PÐIà J Ñ é positi-
vamente Ð8  "Ñ-homogénea.
b) Mostrar que, se 8   " e se 0 À I Ä J é uma aplicação de classe G "
positivamente 8-homogénea, então
H0B ÐBÑ œ 80 ÐBÑ.

c) Mostrar que, se 0 À I Ä J é de classe G ! e positivamente !-homogénea,


então 0 é constante.
d) Mostrar que, se 0 À I Ä J é de classe G " e positivamente "-homogénea,
então 0 é uma aplicação linear.
Ex I.24 Sejam N § ‘ um aberto, J um espaço vectorial de dimensão finita e
0 À N Ä J uma aplicação de classe G 5 .
a) Mostrar que, para cada ! Ÿ 4 Ÿ 5 , a aplicação 0 Ð4Ñ À N Ä J é de classe
Ð54Ñ
G 54 e 0 Ð4Ñ œ 0 Ð5Ñ .
b) Mostrar que, se a aplicação 0 Ð5Ñ é de classe G 4 , então 0 é de classe G 54 .
Ex I.25 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I um aberto e
0 À Y Ä J uma aplicação de classe G 5" . Dados A# ß á ß A5" − I , mostrar
que a aplicação 1À Y Ä J , definida por
1ÐBÑ œ H5 0B ÐA# ß á ß A5" Ñ,
é de classe G " e que se tem
H1B ÐA" Ñ œ H5" 0B ÐA" ß A# ß á ß ß A5" Ñ.

Nota: Este resultado constitui normalmente um dos processos mais simples


de calcular derivadas de ordem superior.
Ex I.26 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita e 0À I ‚ J Ä K
uma aplicação bilinear. Calcular H# 0ÐBßCÑ .
Ex I.27 Seja 0À I ‚ J ‚ K Ä L uma aplicação trilinear. Calcular H$ 0ÐBßCßDÑ .
Ex I.28 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita.
Mostrar que, se 0 À I Ä J é uma aplicação de classe G # positivamente
#-homogénea, então existe uma aplicação bilinear 0À I ‚ I Ä J tal que se
tenha 0 ÐBÑ œ 0ÐBß BÑ (comparar com as alíneas c) e d) do exercício I.23).
Sugestão: Utilizar as alíneas a), b) e d) do exercício I.23 e definir 0ÐBß CÑ œ
"
# H0B ÐCÑ.

Ex I.29 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita e 0 À I Ä J uma


aplicação de classe G " . Mostrar que é de classe G " a aplicação 1À I Ä J
definida por
86 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

1ÐBÑ œ (
"
0 Ð>BÑ .>
!

e obter uma fórmula para H1B ÐAÑ.


Ex I.30 Supondo conhecida uma versão de I.8.1 que garantisse a diferenciabili-
dade da aplicação F mas nada dissesse sobre a respectiva derivada, obter esta
última por derivação de ambos os membros da identidade FÐ0Ñ ‰ 0 œ M.I .
Obter também uma fórmula para H# F0 Ð(ß (w Ñ.
Ex I.31 Seja I um espaço euclidiano e seja 0 À I Ä I a aplicação definida por
0 ÐBÑ œ ØBß BÙB. Determinar H# 0B ÐBß BÑ. Atenção: Este exercício, com o seu
aspecto inocente, pode conter uma casca de banana. Determinar, mais geral-
mente, H# 0B Ð?ß @Ñ, substituir no resultado ? e @ por B e, no caso do resultado
obtido não coincidir com a primeira resposta, tentar descobrir qual o erro que
foi feito.
Ex I.32 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita, H § I ‚ J um
aberto e 0 À H Ä K uma aplicação de classe G 5" , onde 5   !. Sejam Y um
aberto de I , D! − K e 1À Y Ä J uma aplicação contínua tal que, para cada
B − Y , ÐBß 1ÐBÑÑ − H, 0 ÐBß 1ÐBÑÑ œ D! e H# 0B ÐBß 1ÐBÑÑ − PÐJ à KÑ seja um
isomorfismo. Mostrar que 1 é então uma aplicação de classe G 5" .
Ex I.33 Nas hipóteses do exercício anterior, utilizar a identidade 0 ÐBß 1ÐBÑÑ œ D!
para obter directamente a seguinte fórmula para a derivada de 1:
H1B œ ÐH# 0ÐBß1ÐBÑÑ Ñ" ‰ H" 0ÐBß1ÐBÑÑ .

Ex I.34 Sejam os espaços vectoriais de dimensão finita I , J e K, os abertos


Y § I e Z § J e as aplicações de classe G # 0 À Y Ä Z e 1À Z Ä K .
Mostrar que
H# Ð1 ‰ 0 ÑB Ð?ß @Ñ œ H# 10 ÐBÑ ÐH0B Ð?Ñß H0B Ð@ÑÑ  H10 ÐBÑÐH #0BÐ?ß @ÑÑ.

No caso em que 0 e 1 são de classe G $ , obter uma fórmula análoga para


H$ Ð1 ‰ 0 ÑB Ð?ß @ß AÑ.
Ex I.35 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, Y § I um aberto e
0 À Y Ä J uma aplicação de classe G # . Mostrar que, quaisquer que sejam
B − Y e ?ß @ − I ,
0 ÐB  >?  >@Ñ  0 ÐB  >?Ñ  0 ÐB  >@Ñ  0 ÐBÑ
H# 0B Ð?ß @Ñ œ lim .
>Ä! >#

Ex I.36 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e GÀ P# ÐIà IÑ ‚ I Ä


I a aplicação definida por GÐ0ß BÑ œ 0ÐBß BÑ. Mostrar que G é de classe G _
e calcular HGÐ0ßBÑ Ð(ß ?Ñ.
Exercícios 87

Ex I.37 Se I é um espaço vectorial de dimensão finita, diz-se que uma aplicação


bilinear 0À I ‚ I Ä ‘ é definida positiva se, para cada B Á ! em I ,
0ÐBß BÑ  !. Mostrar que o subconjunto P# ÐIà ‘Ñ de P# ÐIà ‘Ñ, constituído
pelas aplicações bilineares definidas positivas, é aberto em P# ÐIà ‘Ñ.
Sugestão: Fixando uma norma em I e considerando o subconjunto
compacto de I , W œ ÖB − I ± mBm œ "×, tomar, para cada 0 − P# ÐIà ‘Ñ, o
mínimo estritamente positivo de 0ÐBß BÑ para B − W .
Ex I.38 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Y § I um aberto e
0 À Y Ä ‘ uma aplicação de classe G # . Seja B! − Y tal que H0B! œ ! e que
H# 0B! − P# ÐIà ‘Ñ seja definida positiva. Mostrar que 0 admite no ponto B!
um mínimo local estrito, isto é, que existe um aberto Y w , com B! − Y w § Y ,
tal que, para cada B − Y w Ï ÖB! ×, se tenha 0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñ. Sugestão: Fixar
uma norma em I e considerar <  ! tal que, sempre que mB  B! m  <, se
tenha B − Y e H# 0B definida positiva; mostrar que, dado B − Y , para o qual
!  mB  B! m  <, a aplicação 1À Ò!ß "Ó Ä ‘, 1Ð>Ñ œ 0 ÐB!  >ÐB  B! ÑÑ,
verifica 1Ð!Ñ œ 0 ÐB! Ñ, 1Ð"Ñ œ 0 ÐBÑ, 1w Ð!Ñ œ ! e 1ww Ð>Ñ  !, para cada >.
Ex I.39 Seja Š um dos corpos ‘ ou ‚, notemos `8 ÐŠÑ o espaço vectorial de
dimensão 8# , constituído pelas matrizes de elementos de Š com 8 linhas e 8
colunas, e seja KPÐ8ß ŠÑ o subconjunto de `8 ÐŠÑ constituído pelas
matrizes invertíveis. Notemos M a matriz identidade de `8 ЊÑ.
a) Mostrar que KPÐ8ß ŠÑ é aberto em `8 ÐŠÑ e que tem lugar uma aplicação
de classe G _ , GÀ KPÐ8ß ŠÑ Ä `8 ЊÑ, definida por GÐ\Ñ œ \ " . Mostrar
ainda que
HG\ ÐEÑ œ \ " ‚ E ‚ \ " ,
em particular, na matriz identidade M , HGM ÐEÑ œ E. Reparar que, no caso
em que Š œ ‚, a aplicação G é mesmo holomorfa. Sugestão: Trata-se de
uma consequência imediata de I.8.1, considerando o isomorfismo canónico
de `8 ÐŠÑ sobre PЊ8 à Š8 Ñ. Alternativamente, considerar a caracterização
das matrizes invertíveis a partir do determinante, assim como a fórmula
explícita de cada elemento da matriz inversa como quociente de dois
determinantes, usando a identidade GÐ\Ñ ‚ \ œ M para calcular a derivada.
b) Mostrar que tem lugar a seguinte fórmula, para a derivada de segunda
ordem de G na matriz identidade:
H# GM ÐEß FÑ œ F ‚ E  E ‚ F .

Ex I.40 Nas condições do exercício anterior, notemos, para cada \ − `8 ЊÑ,


detÐ\Ñ o determinante da matriz \ e TrÐ\Ñ o seu traço (soma dos elementos
diagonal principal). Mostrar que a aplicação detÀ `8 ÐŠÑ Ä Š é de classe
G _ , sendo mesmo holomorfa no caso em que Š œ ‚. Mostrar que, na matriz
identidade M , a sua derivada é dada por
H detM ÐEÑ œ TrÐEÑ.
88 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial

Sugestão: Considerar a fórmula explícita para o determinante como soma de


8x parcelas. Alternativamente, reduzir este resultado, por isomorfismo, ao
correspondente resultado sobre PÐIà IÑ.
Ex I.41 Seja I um espaço vectorial de dimensão 8 sobre o corpo Š, igual a ‘ ou
‚, e lembremos que, como se viu em I.7.9, a aplicação determinante
detÀ PÐIà IÑ Ä Š é suave e verifica H detM.I Ð!Ñ œ TrÐ!Ñ.
a) Mostrar que, sendo P3=9 ÐIà IÑ o aberto de PÐIà IÑ cujos elementos são
os isomorfismos, tem-se, mais geralmente, para cada 0 − P3=9 ÐIà IÑ,
H det0 Ð!Ñ œ TrÐ! ‰ 0" Ñ detÐ0Ñ.

Sugestão: Fixado 0, atender a que, para cada ( − PÐIà IÑ, se tem detÐ(Ñ œ
detÐ( ‰ 0" ÑdetÐ0Ñ, derivando em seguida ambos os membros desta
identidade como funções de (, no elemento 0.
b) Deduzir a seguinte fórmula para a derivada de segunda ordem de det na
aplicação linear identidade:
H# detM.I Ð!ß " Ñ œ TrÐ" Ñ TrÐ!Ñ  TrÐ" ‰ !Ñ.

Ex I.42 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, Y um aberto de I e


B! − Y e suponhamos que Y é convexo ou, mais geralmente, estrelado rela-
tivamente a B! . Seja 0 À Y Ä J uma aplicação de classe G _ .
a) Verificar que existe uma aplicação de classe G _ , - œ Ð-B ÑB−Y , de Y em
PÐIà J Ñ tal que, para cada B − Y ,
0 ÐBÑ œ 0 ÐB! Ñ  -B ÐB  B! Ñ
e que se tem então necessariamente -B! œ H0B! .
Sugestão: Definir -B œ '! H0B! >ÐBB! Ñ .>, reparando que, para cada B − Y ,
"

tem-se, para :Ð>Ñ œ 0 ÐB!  >ÐB  B! ÑÑ,

0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñ œ :Ð"Ñ  :Ð!Ñ œ (


"
:w Ð>Ñ .>.
!

b) Deduzir de a) que existe uma aplicação de classe G _ , . œ Ð.B ÑB−Y , de Y


em PÐIß Ià J Ñ, com cada .B simétrica, tal que, para cada B − Y ,
0 ÐBÑ œ 0 ÐB! Ñ  H0B! ÐB  B! Ñ  .B ÐB  B! ß B  B! Ñ

e que se tem então necessariamente .B! œ "# H# 0B! .


Sugestão: Partindo de .wB não necessariamente simétrica, tomar
" w
.B Ð?ß @Ñ œ Ð. Ð?ß @Ñ  .wB Ð@ß ?ÑÑ.
# B
CAPÍTULO II
Vectores Tangentes e Variedades

§1. Espaço vectorial tangente a um conjunto num ponto.

II.1.1 Sejam I um espaço vectorial real de dimensão finita, E § I um


subconjunto arbitrário e B! − E. Utilizando a definição de Bouligand ([3]),
vamos chamar cone tangente (ou contingente) de E em B! ao conjunto
tB! ÐEÑ dos vectores A − I para os quais existe uma sucessão de elementos
B8 − E, com B8 Ä B! , e uma sucessão de números reais >8  ! tais que
>8 ÐB8  B! Ñ Ä A e cone tangente alargado (ou paratingente) de E em B! ao
conjunto t B! ÐEÑ dos vectores A − I para os quais existem sucessões de
elementos B8 e C8 de E, ambas convergentes para B! , e uma sucessão de
números reais >8  !, tais que >8 ÐB8  C8 Ñ Ä A.
Repare-se que se tem sempre tB! ÐEÑ § tB! ÐEÑ, uma vez que se pode tomar
para ÐC8 Ñ a sucessão com todos os termos iguais a B! .
Vamos notar XB! ÐEÑ o subespaço vectorial de I gerado por tB! ÐEÑ,
subespaço a que daremos o nome de espaço vectorial tangente a E no ponto
B! . Aos elementos de XB! ÐEÑ daremos o nome de vectores tangentes a E no
ponto B! .
II.1.2 (As noções são locais) Suponhamos que E e F são subconjuntos do
espaço vectorial I , de dimensão finita, que B! − E  F e que os conjuntos
E e F coincidem na vizinhança de B! , no sentido que existe uma vizinhança
Z de B! em I tal que E  Z œ F  Z ; verifica-se então trivialmente que
tB! ÐEÑ œ tB! ÐFÑ, t
B! ÐEÑ œ tB! ÐFÑ, e portanto também XB! ÐEÑ œ XB! ÐFÑ.

Como consequência do que acabamos de dizer, vemos que, se B! − E § I e


se Ew § E é uma vizinhança de B! em E, então E e Ew coincidem na
vizinhança de B! (tem-se Ew œ E  Z , para uma certa vizinhança Z de B!
em I ) e portanto tB! ÐEw Ñ œ tB! ÐEÑ, t
B! ÐE Ñ œ tB! ÐEÑ e XB! ÐE Ñ œ XB! ÐEÑ.
w  w

II.1.3 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B! − E § F § I .


Verifica-se então trivialmente que tB! ÐEÑ § tB! ÐFÑ e tB! ÐEÑ § t
B! ÐFÑ, e
portanto também XB! ÐEÑ § XB! ÐFÑ.
II.1.4 As noções anteriores também não dependem do espaço vectorial ambiente,
no sentido seguinte: Suponhamos que I é um espaço vectorial de dimensão
finita, que B! − E § I e que I w é um subespaço vectorial de I tal que
E § I w . Tem-se então que os conjuntos tB! ÐEÑ, t
B! ÐEÑ e XB! ÐEÑ são os
mesmos, quer se considere E como parte de I ou como parte de I w . Para
90 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

justificar esta afirmação basta relembrarmos a definição, tendo presente o


facto de todo o subespaço vectorial de I ser um subconjunto fechado de I .
II.1.5 Podemos apresentar as seguintes caracterizações equivalentes de tB! ÐEÑ e
t
B! ÐEÑ, que, nalguns casos, é importante utilizar:
Seja I um espaço vectorial de dimensão finita, sobre o qual se considera
uma das suas normas, e seja B! − E § I . Para cada A − I , tem-se então:
a) A − tB! ÐEÑ se, e só se, quaisquer que sejam $  ! e &  !, existe B − E e
>  ! com mB  B! m  $ e m>ÐB  B! Ñ  Am  &.
b) A − t B! ÐEÑ se, e só se, quaisquer que sejam $  ! e &  !, existe Bß C − E
e >  ! com mB  B! m  $ , mC  B! m  $ e m>ÐB  CÑ  Am  &.
Dem: Uma vez que as demonstrações são muito semelhantes, apresentamos
apenas a de b). Supondo que A − t B! ÐEÑ, podemos considerar as sucessões
de elementos B8 ß C8 − E e >8  !, nas condições da definição, e então, dados
$  ! e &  !, basta tomar B œ B8 , C œ C8 e > œ >8 , para 8 suficientemente
grande, para se verificar a condição do enunciado. Suponhamos, reciproca-
mente, verificada a condição do enunciado. Para cada 8 escolhamos
B8 ß C8 − E e >8  ! tais que mB8  B! m  8" , mC8  B! m  8" e
m>8 ÐB8  C8 Ñ  Am  8" ; obtemos assim sucessões que vão verificar
B8 Ä B! , C8 Ä B! e >8 ÐB8  C8 Ñ Ä A, o que mostra que A − t B! ÐEÑ. …
II.1.6 Se I é um espaço vectorial, diz-se que um conjunto F § I é um cone se
! − F e, quaisquer que sejam B − F e >  !, tem-se >B − F . Dizemos que
ele é um cone simétrico se, além disso, se tem B − F sempre que B − F .
Para um cone simétrico tem-se assim >B − F , sempre que B − F e > − ‘.
II.1.7 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B! − E § I . Tem-se
então que tB! ÐEÑ é um cone fechado e t B! ÐEÑ é um cone simétrico fechado.
Dem: Vejamos que tB! ÐEÑ é um cone fechado. Para vermos que ! − tB! ÐEÑ,
basta tomarmos para B8 a sucessão com todos os termos iguais a B! e para >8
uma sucessão arbitrária de números reais estritamente positivos. Supondo
que A − tB! ÐEÑ e que >  !, podemos escolher B8 − E e >8  ! tais que
B8 Ä B! e >8 ÐB8  B! Ñ Ä A e tem-se então Ð> >8 ÑÐB8  B! Ñ Ä >A, com >
>8  !, o que mostra que >A − tB! ÐEÑ. Acabamos de mostrar que tB! ÐEÑ é um
cone e vamos agora ver que temos um conjunto fechado, para o que será
cómodo utilizar a caracterização de tB! ÐEÑ apresentada em II.1.5. Notando,
para cada $  !, G$ o conjunto dos elementos da forma >ÐB  B! Ñ, com
>  !, B − E e mB  B! m  $ , a caracterização referida vai-nos garantir que
A − tB! ÐEÑ se, e só se, para cada $  !, A é aderente ao conjunto G$ . Por
outras palavras, tB! ÐEÑ é a intersecção dos conjuntos fechados aderência dos
G$ , com $  !, e é portanto um conjunto fechado. A prova de que t B! ÐEÑ é
também um cone fechado é análoga e o facto de este último ser simétrico
resulta de que, se B8 Ä B! , C8 Ä B! e >8 ÐB8  C8 Ñ Ä A, então
>8 ÐC8  B8 Ñ Ä A. …
§1. Vectores tangentes a um conjunto num ponto 91

Os dois resultados que apresentamos a seguir exibem casos particulares


em que é especialmente simples a determinação do cone tangente ou do
cone tangente alargado.

II.1.8 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e F § I um cone


fechado. Tem-se então t! ÐFÑ œ F e, mais geralmente, para cada B! − I ,
tB! ÐB!  FÑ œ F .19
Dem: Dado A − F , podemos considerar a sucessão B8 œ B!  8" A de
elementos de B!  F , convergente para B! , e a sucessão de reais >8 œ 8  !,
tendo-se >8 ÐB8  B! Ñ œ A Ä A, o que mostra que A − tB! ÐB!  FÑ.
Suponhamos, reciprocamente, que A − tB! ÐB!  FÑ; existe então uma
sucessão de elementos B8 − B!  F , convergente para B! , e uma sucessão de
reais >8  !, tais que >8 ÐB8  B! Ñ Ä A, pelo que, uma vez que se tem
B8  B! − F , donde também >8 ÐB8  B! Ñ − F , o facto de F ser fechado
garante que A − F . …
II.1.9 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I um conjunto e
B! − E que seja aderente ao interior de E. Tem-se então t B! ÐEÑ œ I , e
portanto também XB! ÐEÑ œ I .
Dem: Vamos aplicar a caracterização do cone tangente alargado em II.1.5
para o que, dado A − I , consideramos $  ! e &  ! arbitrários.
Escolhamos então C − intÐEÑ tal que mC  B! m  $# e !  $ w Ÿ $# tal que a
bola aberta de centro C e raio $ w esteja contida em E. Escolhamos >  ! tal
que "> mAm  $ w e seja B œ C  "> A. Tem-se assim também B − E,
"
mB  B! m Ÿ mC  B! m  m Am  $
>
e m>ÐB  CÑ  Am œ !  &, o que mostra que A − t
B! ÐEÑ. …
II.1.10 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I e
B! − intÐEÑ. Tem-se então tB! ÐEÑ œ t
B! ÐEÑ œ XB! ÐEÑ œ I .
Dem: Uma vez que E coincide com I na vizinhança de B! , ficamos
reduzidos a mostrar que se tem tB! ÐIÑ œ I e isso é uma consequência de se
ter I œ B!  I , com I cone fechado. …
II.1.11 (Corolário) Consideremos o espaço vectorial ‘ e +  , dois números
reais. Tem-se então:
a) Se E é um dos conjuntos Ò+ß ,Ò, Ò+ß ,Ó ou Ò+ß _Ò, tem-se t+ ÐEÑ œ Ò!ß _Ò
e t
+ ÐEÑ œ X+ ÐEÑ œ ‘.
b) Se E é um dos conjuntos Ó+ß ,Ó, Ò+ß ,Ó ou Ó_ß ,Ó, tem-se t, ÐEÑ œ Ó_ß !Ó
e t
, ÐEÑ œ X, ÐEÑ œ ‘.
Dem: O facto de se ter t+ ÐÒ+ß _ÒÑ œ Ò!ß _Ò vem de que se pode escrever

19Este resultado, juntamente com o precedente, mostra que os conjuntos que podem ser
da forma tB! ÐEÑ são precisamente os cones fechados.
92 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Ò+ß _Ò œ +  Ò!ß _Ò, onde Ò!ß _Ò é um cone fechado em ‘, e o facto de
se ter t+ ÐÒ+ß _ÒÑ œ X+ ÐÒ+ß _ÒÑ œ ‘ resulta de + ser aderente ao interior
Ó+ß _Ò de Ò+ß _Ò. Para as restantes conclusões de a), basta atender a que
Ò+ß ,Ò e Ò+ß ,Ó coincidem com Ò+ß _Ò na vizinhança de +, porque todos têm a
mesma intersecção com o aberto Ó_ß ,Ò de ‘, que contém +. As conclusões
de b) são análogas, a partir do facto de se poder escrever Ó_ß ,Ó œ
,  Ó_ß !Ó, onde Ó_ß !Ó é um cone fechado em ‘ e de , ser aderente ao
interior de Ó_ß ,Ó. …
II.1.12 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B! − E § I . Tem-se
então
tB! ÐEÑ œ Ö!× Í t
B! ÐEÑ œ Ö!× Í B! é um ponto isolado de E.

Dem: Se B! é um ponto isolado de E, então, quaisquer que seja as sucessões


B8 e C8 de elementos de E, com B8 Ä B! e C8 Ä B! , tem-se B8 œ B! œ C8 a
partir de certa ordem, de onde se deduz trivialmente que ! é o único vector
no cone tangente alargado de E em B! . Suponhamos agora que B! é um ele-
mento não isolado de E. Podemos então considerar uma sucessão de elemen-
tos B8 − E, distintos de B! , convergente para B! . Sendo W § I o conjunto
dos vectores de norma ", que é fechado e limitado, portanto compacto,
"
podemos considerar a sucessão dos elementos mB8 B !m
ÐB8  B! Ñ − W . A
compacidade de W implica que, se necessário substituindo a sucessão B8 por
"
uma subsucessão, pode-se já supor que mB8 B !m
ÐB8  B! Ñ Ä A − W , tendo-se
então que A é um elemento não nulo de tB! ÐEÑ. …

§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos.

Vamos começar por estender a noção de aplicação de classe G 5 , que até


agora se aplica apenas a aplicações definidas em abertos de espaços
vectoriais de dimensão finita, ao quadro das aplicações cujo domínio é um
subconjunto não obrigatoriamente aberto.

II.2.1 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um conjunto


arbitrário e 0 À E Ä J uma aplicação. Um prolongamento de 0 a um aberto
Y de I , com E § Y , é uma aplicação 0 À Y Ä J tal que 0 seja a restrição de
0 . Um prolongamento local de 0 no ponto B! − E é uma aplicação
0 À Y Ä J , com Y aberto de I contendo B! , tal que 0 e 0 tenham a mesma
restrição a E  Y . É claro que um prolongamento de 0 a um aberto Y
contendo E é, em particular, um prolongamento local de 0 em todos os
pontos de E.
Diz-se que 0 é de classe G 5 (onde ! Ÿ 5 Ÿ _) se, para cada B! − Eß existe
§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos 93

um prolongamento local de classe G 5 de 0 no ponto B! . Como


anteriormente, às aplicações de classe G _ também se dá o nome de
aplicações suaves.20

É claro que, em geral, poder-se-ão considerar muitos prolongamentos


locais de classe G 5 e não haverá nenhum que seja melhor que os outros.
Um primeiro cuidado a ter com a definição anterior é evidentemente o
seguinte:

II.2.2 No caso em que E é um aberto de I , uma aplicação 0 À E Ä J é de classe


G 5 , no sentido da definição anterior, se, e só se, é de classe G 5 , no sentido já
conhecido.
Dem: Se 0 é de classe G 5 , no sentido já conhecido, então o próprio 0 é um
prolongamento local de 0 em todos os pontos de E, pelo que 0 é de classe
G 5 , no sentido da definição anterior. Suponhamos, reciprocamente, que 0 é
de classe G 5 , no sentido da definição anterior. Para cada B − E, podemos
então considerar um aberto YB de I , com B − YB , e uma aplicação de classe
G 5 0ÐBÑ À YB Ä J tal que 0 e 0ÐBÑ tenham a mesma restrição a E  YB . Em
particular a restrição de 0 a cada E  YB é de classe G 5 , no sentido já
conhecido. Uma vez que o aberto E é a união dos abertos E  YB , com
B − E, podemos ter em conta I.6.8 para concluir que 0 À E Ä J é de classe
G 5 , no sentido já conhecido. …
II.2.3 (Notas) a) Na maioria das situações concretas, para mostrar que uma dada
aplicação 0 À E Ä J é de classe G 5 , será extremamente simples explicitar um
prolongamento de classe G 5 de 0 a um aberto contendo o domínio, não
sendo assim necessário procurar prolongamentos locais nos diferentes
pontos. De facto, usando o teorema da partição da unidade, que será estudado
mais adiante, pode-se provar que toda a aplicação de classe G 5 admite um
prolongamento de classe G 5 a um aberto contendo o domínio.
b) Se 0 À E Ä J é de classe G 5 , então é de classe G 4 , para cada ! Ÿ 4 Ÿ 5 .
c) É evidente que toda a aplicação de classe G ! , 0 À E Ä J , é contínua mas,
no caso em que o conjunto E não é aberto, uma aplicação contínua
0 À E Ä J pode perfeitamente não ser de classe G ! (no entanto, quem
conheça o teorema de extensão de Tietze-Urysohn21 verificará sem
dificuldade que, no caso em que o conjunto E é localmente fechado22, é

20Poderíamos evidentemente ter definido a noção de aplicação diferenciável num ponto


B! − E de maneira análoga. A razão por que nos limitamos a definir a classe G 5 é sim-
plesmente para tentar aligeirar o texto.
21Ver, por exemplo, o exercício II.21, no fim do capítulo.
22Um conjunto E § I diz-se localmente fechado se, para cada B − E, existe um aberto
!
Y de I , com B! − Y , tal que E  Y seja fechado em Y , condição que se pode verificar
ser equivalente à existência de um aberto Z de I com E § Z e E fechado em Z .
Pode-se mostrar facilmente que E § I é localmente fechado se, e só se, E § I é
localmente compacto, para a topologia induzida (ver a prova de II.6.22 adiante).
94 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

ainda verdade que uma aplicação 0 À E Ä J é de classe G ! se, e só se, é


contínua).
d) É evidente que toda a aplicação de classe G _ é também de classe G 5 , para
todo o 5 finito. No entanto, no caso em que o domínio E não é aberto, nada
nos garante que uma aplicação que seja de classe G 5 , para todo o 5 finito,
tenha que ser de classe G _ .
e) Seria perfeitamente possível definir, na mesma linha que anteriormente, a
noção de aplicação holomorfa tendo como domínio uma parte arbitrária de
um espaço vectorial complexo de dimensão finita. Não exploraremos, no
entanto, aqui essa via, uma vez que o estudo das aplicações holomorfas fora
do quadro dos domínios abertos será adiante abordado de um ponto de vista
diferente (cf. a secção III.9).
II.2.4 (Lema) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um
subconjunto arbitrário, 0 À E Ä J uma aplicação de classe G " e B! − E.
Consideremos sucessões de números reais >8  ! e de elementos B8 ß C8 − E
tais que B8 Ä B! , C8 Ä B! e >8 ÐB8  C8 Ñ Ä A − I . Tem-se então
>8 Ð0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 ÑÑ Ä H0 B! ÐAÑ,

onde 0 À Y Ä J é um prolongamento local arbitrário de classe G " de 0 em


B! .
Dem: Seja $  ! arbitrário. Seja &  ! tal que, sempre que B − I verifica
mB  B! m  &, tem-se B − Y e mH0 B  H0 B! m Ÿ $ . Pela terceira versão da
fórmula da média (cf. I.5.20), e uma vez que a bola aberta de centro B! e raio
& é um conjunto convexo, concluímos que, se mB  B! m  & e mC  B! m  &,
tem-se
m0 ÐBÑ  0 ÐCÑ  H0 B! ÐB  CÑm Ÿ $ mB  Cm.

Escolhendo 8! tal que, sempre que 8   8! , mB8  B! m  & e mC8  B! m  &,


tem-se, para esses valores de 8, B8 ß C8 − E  Y , portanto 0 ÐB8 Ñ œ 0 ÐB8 Ñ e
0 ÐC8 Ñ œ 0 ÐC8 Ñ, donde
m0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 Ñ  H0 B! ÐB8  C8 Ñm Ÿ $ mB8  C8 m,

e portanto também, tendo em conta o facto de a aplicação H0 B! ser linear,

m>8 Ð0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 ÑÑ  H0 B! Ð>8 ÐB8  C8 ÑÑm Ÿ $m>8ÐB8  C8Ñm.

Para 8   8! tem-se então


m>8 Ð0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 ÑÑ  H0 B! ÐAÑm œ
œ m>8 Ð0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 ÑÑ  H0 B! Ð>8 ÐB8  C8 ÑÑ  H0 B! Ð>8ÐB8  C8ÑÑ  H0 B! ÐAÑm Ÿ
Ÿ m>8 Ð0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 ÑÑ  H0 B! Ð>8 ÐB8  C8 ÑÑm  mH0 B! Ð>8 ÐB8  C8 ÑÑ  H0 B! ÐAÑm Ÿ
Ÿ $ m>8 ÐB8  C8 Ñm  mH0 B! Ð>8 ÐB8  C8 ÑÑ  H0 B! ÐAÑm.

O facto de se ter >8 ÐB8  C8 Ñ Ä A, e portanto m>8 ÐB8  C8 Ñm Ä mAm e


§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos 95

H0 B! Ð>8 ÐB8  C8 ÑÑ Ä H0 B! ÐAÑ, implica a existência de 8"   8! tal que,


sempre que 8   8" ,
m>8 ÐB8  C8 Ñm Ÿ mAm  ",
mH0 B! Ð>8 ÐB8  C8 ÑÑ  H0 B! ÐAÑm Ÿ $ ,

pelo que concluímos que, para 8   8" ,


m>8 Ð0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 ÑÑ  H0 B! ÐAÑm Ÿ $ ÐmAm  #Ñ.

Tendo em conta a arbitrariedade de $, ficou assim provado que se tem efecti-


vamente >8 Ð0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 ÑÑ Ä H0 B! ÐAÑ. …
II.2.5 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um conjunto
arbitrário e 0 À E Ä J uma aplicação de classe G " . Para cada B! − E, fica
então bem definida uma aplicação linear H0B! À XB! ÐEÑ Ä J , o diferencial ou
aplicação linear derivada de 0 no ponto B! , pela condição de se ter
H0B! ÐAÑ œ H0 B! ÐAÑ, onde 0 À Y Ä J é um prolongamento local de classe
G " arbitrário de 0 em B! .
É claro que, no caso em que E é um aberto de I , tem-se XB! ÐEÑ œ I e a
definição de H0B! que estamos de apresentar é equivalente à já conhecida.
Dem: Tudo o que é necessário mostrar é que, se 0 À Y Ä J e s0 À Z Ä J são
dois prolongamentos locais de classe G " de 0 em B! , então as aplicações
lineares H0 B! À I Ä J e H0 s B À I Ä J coincidem no subespaço vectorial
!
XB! ÐEÑ de I . Uma vez que o conjunto dos vectores de I onde duas aplica-
ções lineares coincidem é sempre um subespaço vectorial e que XB! ÐEÑ é o
subespaço vectorial gerado por t B! ÐEÑ, basta-nos provar que, para cada
s
A − tB! ÐEÑ, tem-se H0 B! ÐAÑ œ H0 B! ÐAÑ. Ora isso resulta do lema II.2.4,

uma vez que existem sucessões de números reais >8  ! e de elementos


B8 ß C8 − E tais que B8 Ä B! , C8 Ä B! e >8 ÐB8  C8 Ñ Ä A e então a
sucessão >8 Ð0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 ÑÑ converge tanto para H0 B! ÐAÑ como para
H0s B ÐAÑ. …
!

II.2.6 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I e F § J


conjuntos arbitrários, 0 À E Ä F uma aplicação de classe G " (isto é, uma
aplicação de classe G " de E em J , tal que 0 ÐEÑ § F ) e B! − E. Tem-se
então que a aplicação linear H0B! À XB! ÐEÑ Ä J aplica XB! ÐEÑ em X0 ÐB! Ñ ÐFÑ,

tB! ÐEÑ em t0 ÐB! Ñ ÐFÑ e t
B! ÐEÑ em t0 ÐB! Ñ ÐFÑ.
Dem: Seja 0 À Y Ä J um prolongamento local de classe G " de 0 em B! .
Suponhamos que A − t B! ÐEÑ. Podemos então escolher sucessões de números
reais >8  ! e de elementos B8 ß C8 − E tais que B8 Ä B! , C8 Ä B! e
>8 ÐB8  C8 Ñ Ä A − I e tem-se então, pelo lema II.2.4,
>8 Ð0 ÐB8 Ñ  0 ÐC8 ÑÑ Ä H0 B! ÐAÑ œ H0B! ÐAÑ.

Uma vez que 0 ÐB8 Ñß 0 ÐC8 Ñ − F e, pela continuidade de 0 , 0 ÐB8 Ñ Ä 0 ÐB! Ñ e


96 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

0 ÐC8 Ñ Ä 0 ÐB! Ñ, concluímos que H0B! ÐAÑ − t0 ÐB! Ñ ÐFÑ. No caso em que se
tem mesmo A − tB! ÐEÑ, sabemos que se pode tomar atrás para ÐC8 Ñ a
sucessão com todos os termos iguais a B! , pelo que podemos concluir que se
tem mesmo H0B! ÐAÑ − t0 ÐB! Ñ ÐFÑ. Uma vez que o conjunto dos vectores de
XB! ÐEÑ, cuja imagem pela aplicação linear H0B! À XB! ÐEÑ Ä J está no
subespaço vectorial X0 ÐB! Ñ ÐFÑ de J , é um subespaço vectorial de XB! ÐEÑ,
que, pelo que vimos, contém t B! ÐEÑ, podemos agora concluir que ele é
precisamente o subespaço vectorial gerado XB! ÐEÑ, o que mostra que a
aplicação linear H0B! À XB! ÐEÑ Ä J aplica efectivamente XB! ÐEÑ em
X0 ÐB! Ñ ÐFÑ. …

Como primeira aplicação dos resultados precedentes, podemos obter


facilmente uma condição necessária para uma aplicação de classe G " ,
com valores reais e definida num subconjunto de um espaço vectorial de
dimensão finita, atingir um máximo ou um mínimo num ponto do seu
domínio.
O leitor relacionará facilmente o resultado que vamos enunciar com o
caso, que decerto já encontrou, em que o domínio é um aberto de ‘8 , no
qual a condição em questão é o anulamento das derivadas parciais.

II.2.7 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I um subconjunto


e 0 À E Ä ‘ uma aplicação de classe G " atingindo um máximo (respectiva-
mente um mínimo) num ponto B! − E. Tem-se então:
a) Para cada ? − tB! ÐEÑ, H0B! Ð?Ñ Ÿ ! (respectivamente H0B! Ð?Ñ   !).
b) No caso particular em que tB! ÐEÑ œ XB! ÐEÑ,23 tem-se H0B! Ð?Ñ œ !, para
cada ? − XB! ÐEÑ.
Dem: Examinemos apenas o caso em que 0 atinge um máximo em B! , uma
vez que o caso do mínimo é análogo. Como 0 atinge um máximo em B! , 0
aplica E em Ó_ß 0 ÐB! ÑÓ e portanto, pelo resultado precedente, para cada
? − tB! ÐEÑ,
H0B! Ð?Ñ − t0 ÐB! Ñ ÐÓ_ß 0 ÐB! ÑÓÑ œ Ó_ß !Ó,

o que prova a). Quanto a b), se ? − XB! ÐEÑ œ tB! ÐEÑ, tem-se também
? − XB! ÐEÑ œ tB! ÐEÑ pelo que, aplicando a conclusão de a) a ? e a ?,
concluímos que H0B! Ð?Ñ Ÿ ! e
H0B! Ð?Ñ œ H0B! Ð?Ñ Ÿ !,

e portanto H0B! Ð?Ñ œ !. …


II.2.8 (Nota) Pareceria possível proceder do mesmo modo que para a derivada
de primeira ordem, para definir, para cada aplicação 0 À E Ä F de classe G # ,
uma derivada de segunda ordem H# 0B! , que seria uma aplicação bilinear de

23É o que acontece no quadro das variedades sem bordo, estudadas adiante (cf. II.4.10).
§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos 97

XB! ÐEÑ ‚ XB! ÐEÑ em J (ou, melhor ainda, em X0 ÐB! Ñ ÐFÑ). Tudo o que
haveria a fazer seria tomar um prolongamento local de classe G # , 0 À Y Ä J ,
de 0 em B! e definir H# 0B! como a restrição da aplicação bilinear
H# 0 B! À I ‚ I Ä J . Esta definição não é, no entanto, legítima, visto que, em
geral, o resultado depende do prolongamento 0 (ver, por exemplo, o
exercício II.14 no final do capítulo).

A maioria das propriedades das aplicações de classe G 5 em conjuntos


abertos estende-se trivialmente ao caso em que o domínio é um conjunto
arbitrário. Apresentamos em seguida um exemplo do tipo de demonstra-
ção trivial que se pode fazer para obter um resultado para domínios arbi-
trários a partir do correspondente resultado para domínios abertos.

II.2.9 Sejam os espaços vectoriais de dimensão finita Iß J" ß á ß J8 , o conjunto


E § I e, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, 04 À E Ä J4 uma aplicação e consideremos a
correspondente aplicação
0 À E Ä J" ‚ â ‚ J8 , 0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß á ß 08 ÐBÑÑ.

Tem-se então que 0 é de classe G 5 se, e só se, cada 04 é de classe G 5 e então,


no caso em que 5   ", tem-se, para cada B! − E e ? − XB! ÐEÑ,
H0B! Ð?Ñ œ ÐH0" B! Ð?Ñß á ß H08 B! Ð?ÑÑ.

Dem: Suponhamos que 0 é de classe G 5 . Se B! − E, podemos considerar um


prolongamento local de classe G 5 0 À Y Ä J" ‚ â ‚ J8 de 0 em B! e então
as aplicações 0 4 À Y Ä J4 definidas por 0 ÐBÑ œ Ð0 " ÐBÑß á ß 0 8 ÐBÑÑ vão ser
prolongamentos locais de classe G 5 dos 04 , o que mostra que estas aplicações
são de classe G 5 . Suponhamos, reciprocamente, que cada 04 é de classe G 5 e
seja, mais uma vez, B! − E arbitrário. Para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, podemos
considerar um prolongamento local de classe G 5 0 4 À Y4 Ä J4 de 04 em B! .
8
Tem-se então que Y œ  Y4 é um aberto de I contendo B! e a aplicação de
4œ"
classe G 5 0 À Y Ä J" ‚ â ‚ J8 definida por 0 ÐBÑ œ Ð0 " ÐBÑß á ß 0 8 ÐBÑÑ é
um prolongamento local de classe G 5 de 0 . Ficou assim provado que 0 é de
classe G 5 e podemos agora escrever, para cada B! − E e ? − XB! ÐEÑ,
H0B! Ð?Ñ œ H0 B! Ð?Ñ œ
œ ÐH0 " B! Ð?Ñß á ß H0 8 B! Ð?ÑÑ œ ÐH0" B! Ð?Ñß á ß H08 B! Ð?ÑÑ. …

Daqui para a frente aplicaremos frequentemente generalizações do tipo da


anterior sem as enunciarmos explicitamente. Pela especial importância
que ele vai ter, vamos, no entanto, observar detalhadamente o que se
passa com o teorema da derivada da função composta.
98 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

II.2.10 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita, E § I e F § J


dois subconjuntos e 0 À E Ä F e 1À F Ä K duas aplicações de classe G 5 .
Tem-se então que 1 ‰ 0 À E Ä K é também de classe G 5 e, no caso em que
5   ",
HÐ1 ‰ 0 ÑB! œ H10 ÐB! Ñ ‰ H0B! .

Dem: Seja B! − E arbitrário. Sejam 1À Z Ä K um prolongamento local de


classe G 5 de 1 em 0 ÐB! Ñ e 0 À Y Ä J um prolongamento local de classe G 5
de 0 em B! . Tendo em conta a continuidade de 0 , vemos que, se necessário
"
substituindo o aberto Y pelo aberto 0 ÐZ Ñ, que ainda contém B! , e 0 pela
sua restrição, pode-se já supor que 0 ÐY Ñ § Z . Concluímos daqui que
1 ‰ 0 À Y Ä K é um prolongamento local de classe G 5 de 1 ‰ 0 À E Ä K em
B! . Ficou assim provado que 1 ‰ 0 é de classe G 5 . Se 5   ", tem-se
HÐ1 ‰ 0 ÑB! œ H10 ÐB! Ñ ‰ H0 B! pelo que, para cada A − XB! ÐEÑ,

HÐ1 ‰ 0 ÑB! ÐAÑ œ HÐ1 ‰ 0 ÑB! ÐAÑ œ H10 ÐB! Ñ ÐH0 B! ÐAÑÑ œ
œ H10 ÐB! Ñ ÐH0B! ÐAÑÑ œ H10 ÐB! Ñ ÐH0B! ÐAÑÑ,

o que mostra que HÐ1 ‰ 0 ÑB! œ H10 ÐB! Ñ ‰ H0B! . …


II.2.11 (A noção de aplicação de classe G é local) Sejam I e J espaços
5

vectoriais de dimensão finita, E § I um subconjunto e 0 À E Ä J uma


aplicação. Tem-se então:
a) Se 0 é de classe G 5 e se F § E é outro conjunto, a restrição 0ÎF À F Ä J
é também de classe G 5 e, para cada B! − F , HÐ0ÎF ÑB! é a restrição de H0B! a
XB! ÐFÑ.
b) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família de abertos de E, de união E, tal que cada
restrição 0ÎE4 À E4 Ä J seja de classe G 5 (ou, o que é equivalente, se, para
cada B − E, existe um aberto Z de E, com B − Z , tal que 0ÎZ seja de classe
G 5 ), então 0 é de classe G 5 .
Dem: A alínea a) resulta simplesmente de que, se B! − F e 0 À Y Ä J é um
prolongamento local de classe G 5 de 0 em B! , então 0 é também um prolon-
gamento local de 0ÎF em B! . Provemos então b). Seja B! − E arbitrário.
Podemos escolher 4 tal que B! − E4 e então o facto de 0ÎE4 À E4 Ä J ser de
classe G 5 garante a existência de um prolongamento local 0 À Y Ä J de
classe G 5 de 0ÎE4 em B! . Apesar de 0 não ter que ser um prolongamento
local de 0 em B! , uma vez que nada sabemos sobre os valores de 0 nos
pontos de E  Y que não estejam em E4 , o facto de E4 ser aberto em E
garante a existência de um aberto Y4 de I tal que E4 œ E  Y4 , tendo-se
evidentemente B! − Y4 , e então 0 ÎY4 Y À Y4  Y Ä J já é um prolongamento
local de 0 em B! . Ficou assim provado que 0 À E Ä J é de classe G 5 . …
§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos 99

Outro resultado que será utilizado com frequência, e que já encontrámos


no caso dos domínios abertos, tem a ver com o estudo de aplicações com
valores num espaço de aplicações lineares.

II.2.12 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um


subconjunto e 0 À E Ä PÐJ à KÑ uma aplicação. Tem-se então que 0 é de
classe G 5 se, e só se, para cada @ − J , for de classe G 5 a aplicação
0Ð@Ñ À E Ä K , definida por 0Ð@Ñ ÐBÑ œ 0 ÐBÑÐ@Ñ, e então, quando 5   ", tem-se,
para cada B − E e ? − XB ÐEÑ,
H0Ð@Ñ B Ð?Ñ œ H0B Ð?ÑÐ@Ñ.

Mais precisamente, dada uma base @" ß á ß @8 de J , para garantir que 0 é de


classe G 5 , basta verificar que 0Ð@Ñ é de classe G 5 quando @ é um dos 8
vectores daquela base.
Dem: A razão por que referimos esta generalização de I.6.14 está no facto de
a sua justificação se fazer de modo mais natural por repetição do caminho
seguido na demonstração daquele resultado e não por aplicação deste a
prolongamentos locais convenientes. …
II.2.13 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I e F § J dois
subconjuntos e 0 À E Ä F uma bijecção. Tal como no caso dos conjuntos
abertos, diz-se que 0 é um difeomorfismo de classe G 5 se ambas as apli-
cações 0 À E Ä F e 0 " À F Ä E forem de classe G 5 . Como antes, chamamos
simplesmente difeomorfismos aos difeomorfismos de classe G _ , isto é, às
bijecções que são suaves, assim como as respectivas inversas. Diz-se que E e
F são difeomorfos se existe um difeomorfismo 0 À E Ä F .
Repare-se que dizer que a bijecção 0 é um difeomorfismo de classe G 5 quer
dizer que tanto 0 como 0 " admitem prolongamentos locais de classe G 5 ,
mas isso não implica de modo nenhum que 0 admita prolongamentos locais
que sejam difeomorfismos de classe G 5 entre abertos de I e de J .24
II.2.14 Dados E § I , F § J e um difeomorfismo de classe G " , 0 À E Ä F ,
tem-se que, para cada B! − E, H0B! é um isomorfismo de XB! ÐEÑ sobre

X0 ÐB! Ñ ÐFÑ, que aplica tB! ÐEÑ sobre t0 ÐB! Ñ ÐFÑ e t B! ÐEÑ sobre t0 ÐB! Ñ ÐFÑ, o
isomorfismo inverso sendo igual a HÐ0 " Ñ0 ÐB! Ñ .
Dem: Já sabemos que H0B! é uma aplicação linear de XB! ÐEÑ em X0 ÐB! Ñ ÐFÑ,

que aplica tB! ÐEÑ em t0 ÐB! Ñ ÐFÑ e t B! ÐEÑ em t0 ÐB! Ñ ÐFÑ. Do mesmo modo,
HÐ0 " Ñ0 ÐB! Ñ é uma aplicação linear de X0 ÐB! Ñ ÐFÑ em XB! ÐEÑ, que aplica
t0 ÐB! Ñ ÐFÑ em tB! ÐEÑ e t
0 ÐB! Ñ ÐFÑ em tB! ÐEÑ. Uma vez que 0
 "
‰ 0 œ M.E e que
0 ‰ 0 œ M.F , concluímos do teorema da derivação da função composta
"

que HÐ0 " Ñ0 ÐB! Ñ ‰ H0B! œ HÐ0 " ‰ 0 ÑB! é a identidade de XB! ÐEÑ e que
H0B! ‰ HÐ0 " Ñ0 ÐB! Ñ œ HÐ0 ‰ 0 " Ñ0 ÐB! Ñ é a identidade de X0 ÐB! Ñ ÐFÑ, o que

24Estes últimos não existem certamente se I e J tiverem dimensões diferentes.


100 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

mostra que H0B! é um isomorfismo de XB! ÐEÑ sobre X0 ÐB! Ñ ÐFÑ, tendo
HÐ0 " Ñ0 ÐB! Ñ como isomorfismo inverso. Por fim, o facto de H0B! aplicar

tB! ÐEÑ sobre t0 ÐB! Ñ ÐFÑ e t
B! ÐEÑ sobre t0 ÐB! Ñ ÐFÑ vem de que, para cada

A − t0 ÐB! Ñ ÐFÑ (respectivamente A − t0 ÐB! Ñ ÐFÑ), tem-se Aw œ H0B! ÐAÑ, onde
w w

A œ HÐ0 " Ñ0 ÐB! Ñ ÐAw Ñ − tB! ÐEÑ

(respectivamente A − t
B! ÐEÑ). …
II.2.15 É o resultado anterior que nos permite, em muitos casos, determinar
explicitamente, sem recorrer à definição, os cones tangentes, os cones
tangentes alargados e os espaços vectoriais tangentes. Bastará, para isso,
arranjar um difeomorfismo de classe G " entre o conjunto em questão e um
outro conjunto, relativamente ao qual aqueles conjuntos sejam conhecidos.
A título de exemplo, suponhamos que I e J são espaços vectoriais de
dimensão finita, que E § I e que 0 À E Ä J é uma aplicação de classe G " .
Consideremos o respectivo gráfico, que é o subconjunto F de I ‚ J ,
F œ ÖÐBß CÑ − I ‚ J ± B − E e C œ 0 ÐBÑ×.
Podemos então considerar um difeomorfismo de classe G " 1À E Ä F , defi-
nido por 1ÐBÑ œ ÐBß 0 ÐBÑÑ (reparar que a bijecção inversa de 1 é mesmo de
classe G _ , por estar definida por ÐBß CÑ È B). Concluímos assim que, para
cada B! − E, a aplicação linear
H1B! À XB! ÐEÑ Ä XÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ,

que está definida por A È ÐAß H0B! ÐAÑÑ, é um isomorfismo que aplica

tB! ÐEÑ sobre tÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ e t B! ÐEÑ sobre tÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ (em particular,
XÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ é o gráfico da aplicação linear H0B! ). Vemos portanto que, no
caso em que XB! ÐEÑ, tB! ÐEÑ e t B! ÐEÑ são conhecidos (por exemplo, se E for
um aberto de I ), ficamos a conhecer XÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ, tÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ e
t
ÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ.

II.2.16 Para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, seja I4 um espaço vectorial de dimensão finita e


seja B4 ! − E4 § I4 . Considerando então o subconjunto E" ‚ â ‚ E8 do
espaço vectorial de dimensão finita I" ‚ â ‚ I8 , tem-se
tÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ § tB" ! ÐE" Ñ ‚ â ‚ tB8 ! ÐE8 Ñ,25
t  
ÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ § tB" ! ÐE" Ñ ‚ â ‚ tB8 ! ÐE8 Ñ,
XÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ œ XB" ! ÐE" Ñ ‚ â ‚ XB8 ! ÐE8 ÑÑ.

Dem: Uma vez que cada projecção canónica 14 À I" ‚ â ‚ I8 Ä I4 é uma

25O exercício II.8, no fim do capítulo, mostra que nesta e na próxima inclusão a igualdade
dos dois membros pode não ser verificada.
§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos 101

aplicação linear, logo de classe G _ e com H14 ÐB" ! ßáßB8 ! Ñ œ 14 , a qual aplica
E" ‚ â ‚ E8 em E4 , concluímos que 14 aplica
XÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ em XB4 ! ÐE4 Ñ,
tÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ em tB4 ! ÐE4 Ñ,
t 
ÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ em tB4 ! ÐE4 Ñ,

o que mostra que


XÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ § XB" ! ÐE" Ñ ‚ â ‚ XB8 ! ÐE8 Ñ,
tÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ § tB" ! ÐE" Ñ ‚ â ‚ tB8 ! ÐE8 Ñ,
t  
ÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ § tB" ! ÐE" Ñ ‚ â ‚ tB8 ! ÐE8 Ñ.

Consideremos, por outro lado, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, a aplicação de classe


G _ 04 À E4 Ä E" ‚ â ‚ E8 definida por
04 ÐBÑ œ ÐB" ! ß á ß B4" ! ß Bß B4" ! ß á ß B8 ! Ñ,

para a qual se tem H04 B4 ÐAÑ œ Ð!ß á ß !ß Aß !ß á ß !Ñ (com A na posição 4).


!
Se, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, A4 − XB4 ! ÐE4 Ñ, podemos portanto concluir que
Ð!ß á ß !ß A4 ß !ß á ß !Ñ − XÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ, pelo que, por este ser
um subespaço vectorial, também

ÐA" ß á ß A8 Ñ œ " Ð!ß á ß !ß A4 ß !ß á ß !Ñ − XÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8Ñ,


8

4œ"

o que termina a demonstração. …


II.2.17 (Nota) Sejam I e J espaços vectoriais, E § I um conjunto e 0 À E Ä J
uma aplicação.
a) Suponhamos que I w § I é um subespaço vectorial contendo E. Se
repararmos na definição de aplicação de classe G 5 , apresentada em II.2.1,
vemos que não é a priori evidente que dizer que 0 é de classe G 5 , quando se
considera E como parte de I , seja equivalente a dizer que 0 é de classe G 5 ,
quando se considera E como parte de I w . Com efeito, um prolongamento
local de 0 num ponto está, no primeiro caso, definido num aberto de I e, no
segundo caso, num aberto de I w .
No entanto, como vamos ver, as duas afirmações são de facto equivalentes e,
no caso em que 5   ", a derivada H0B! À XB! ÐEÑ Ä J é a mesma dos dois
pontos de vista. Para verificarmos isso, o mais fácil é talvez aplicar o teorema
da derivação da função composta, reparando que a identidade de E é um
difeomorfismo de classe G _ de E, como parte de I w , sobre E, como parte de
I , cuja derivada em cada B! − E é a identidade de XB! ÐEÑ; para
confirmarmos que assim é, basta considerar, como prolongamentos da
aplicação e da sua inversa, respectivamente, a inclusão +À I w Ä I e a
projecção ortogonal 1À I Ä I w , relativamente a um produto interno de I .
102 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

b) Suponhamos, analogamente, que J w § J é um subespaço vectorial tal que


0 ÐEÑ § J w . Mais uma vez, e embora isso não seja a priori evidente, vai ser
equivalente dizer que 0 é de classe G 5 , quando considerada com valores em
J ou que o é, quando considerada com valores em J w , o valor H0B! , no caso
em que 5   ", sendo o mesmo dos dois pontos de vista. Para verificarmos
isso, aplicamos mais uma vez o teorema da derivação da função composta,
reparando que a identidade de J w é um difeomorfismo de classe G _ de J w ,
considerado como parte de J w , sobre J w , considerado como parte de J ,
difeomorfismo cuja derivada em cada ponto é a identidade de J (mesma
justificação que anteriormente).

§3. Partições da unidade.

O conteúdo desta secção é de carácter técnico e pode ser dispensado numa


primeira leitura. Os resultados obtidos são, no entanto, de utilização
frequente em Matemática e teremos ocasião de os aplicar mais adiante.

II.3.1 (Lema) Para cada inteiro 8   0, tem-se


lim >8 /> œ !.
>Ä_

Dem: O resultado é trivial para 8 œ !. O caso geral resulta por indução em


8, com o auxílio de regra de Cauchy para determinar o limite quando
8
> Ä _ de >/> . …
II.3.2 (Lema) Existe uma aplicação de classe G _ , :À ‘ Ä Ò!ß "Ò, definida por

:Ð>Ñ œ œ
! , se > Ÿ !
.
/"Î> , se >  !

Dem: Seja, mais geralmente, para cada inteiro 8   !, :8s À ‘ Ä ‘ a aplicação


definida por

:8s Ð>Ñ œ œ
! , se > Ÿ !
" ,
>8 /"Î> , se >  !

aplicação que é contínua, pelo lema precedente. A aplicação : do enunciado


não é mais do que a aplicação :s! . Para cada > Á !, a aplicação :8 é derivável
em > e com
:8w Ð>Ñ œ 8 :8" Ð>Ñ  :8# Ð>Ñ
e, tendo em conta a continuidade de :8 e do segundo membro da igualdade
anterior, concluímos que a igualdade anterior é ainda válida para > œ !. É
§3. Partições da unidade 103

agora imediato concluir, por indução em 5 , que todas as funções :8 são de


classe G 5 , para todo o 5 , e portanto de classe G _ . …
II.3.3 Suponhamos que E é um espaço topológico, que J é um espaço vectorial
de dimensão finita e que, para cada 4 − N , 04 À E Ä J é uma aplicação.
Diz-se que a família de aplicações Ð04 Ñ4−N é localmente finita se, para cada
B! − E, existe um aberto Z de E, com B! − Z , e uma parte finita N w de N ,
tais que, para cada B − Z e 4 − N Ï N w , se tenha 04 ÐBÑ œ ! (Por outras
palavras, com um número finito de excepções possíveis, as aplicações 04 são
identicamente nulas no aberto Z ).
No caso em que temos uma família localmente finita de aplicações
04 À E Ä J , podemos definir a soma ! 04 como sendo a aplicação de E em

J , que a cada B − E associa a soma ! 04 ÐBÑ (para cada B esta soma tem
4−N

4−N
apenas um número finito de parcelas não nulas).
Se tivermos uma família localmente finita de aplicações contínuas
04 À E Ä J , a sua soma ! 04 é ainda uma aplicação contínua de E em J .
4−N
Com efeito, para vermos que uma aplicação definida em E é contínua, basta
vermos que, para cada ponto B! − E, existe um aberto Z de E, com B! − Z ,
onde a restrição da aplicação é contínua, e, por definição, podemos escolher
esse aberto de modo que a restrição seja uma soma finita de aplicações
contínuas.
Com a mesma justificação, no caso em que E é uma parte arbitrária dum
espaço vectorial I de dimensão finita e temos uma família localmente finita
de aplicações de classe G 5 , 04 À E Ä J , a sua soma ! 04 é ainda uma aplica-
4−N
ção de classe G 5 de E em J .
II.3.4 (Primeira versão do teorema da partição da unidade) Sejam I um
espaço vectorial de dimensão finita e ÐY4 Ñ4−N uma família de conjuntos
abertos de I e notemos Y a união dos abertos Y4 . Existe então uma família
contável26 de aplicações suaves, 0# À Y Ä Ò!ß "Ó, onde # − >, verificando as
condições seguintes:
a) A família Ð0# Ñ#−> é localmente finita;
b) Para cada # − >, existe um índice 4 e um conjunto compacto G# § Y4 tais
que se tenha 0# ÐBÑ œ !, para cada B − Y Ï G# , por outras palavras, a
aplicação 0# tem suporte compacto contido em Y4 .
c) Para cada B − Y , tem-se ! 0# ÐBÑ œ ".27
# −>
Dem: Fixemos em I um produto interno e consideremos sobre I a norma

26Ao dizermos que a família é contável estamos a significar que o conjunto > dos índices
é finito ou numerável.
27É esta igualdade que está na origem do nome partição da unidade.
104 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

associada, reparando que se pode então considerar uma aplicação suave


2À I Ä ‘, definida por 2ÐBÑ œ mBm# œ ØBß BÙ.
Para cada natural 8   ", notemos
"
Z8 œ ÖB − I ± mBm  8 • .ÐBß I Ï Y Ñ  ×,
8
"
O8 œ ÖB − I ± mBm Ÿ 8 • .ÐBß I Ï Y Ñ   ×,
8
onde omitimos as segundas condições no caso particular em que Y œ I
(para evitar falar da distância de B ao conjunto vazio; alternativamente
podemos considerar essa distância, por definição, igual a _ÑÞ Reparemos
que os conjuntos O8 são fechados e limitados em I , portanto compactos, e
estão contidos em Y , que os conjuntos Z8 são abertos em I , que se tem
Z8 § O8 § Z8" § O8"
e que a união dos compactos O8 é igual a Y (se B − Y , podemos escolher 8
tal que mBm Ÿ 8 e que, no caso em que Y Á I , 8" seja menor ou igual à
distância .ÐBß I Ï Y )  !). Ponhamos, por comodidade, Z" œ Z! œ g e
O" œ O! œ g, o que é compatível com as inclusões atrás referidas.
Para cada 8   " consideremos o compacto O8 Ï Z8" . Para cada
C − O8 Ï Z8" , tem-se C Â O8# pelo que, escolhendo 4 tal que C − Y4 ,
podemos fixar um raio <8ßC  ! tal que a bola fechada F <8ßC ÐCÑ esteja contida
no aberto Y4 Ï O8# . Uma vez que as correspondentes bolas abertas F<8ßC ÐCÑ
constituem uma cobertura aberta do compacto O8 Ï Z8" , podemos escolher
uma parte finita M8 de O8 Ï Z8" tal que a união dos F<8ßC ÐCÑ, com C − M8 ,
ainda contenha O8 Ï Z8" .
Para cada 8   " e C − M8 , seja s0 8ßC À I Ä Ò!ß "Ò a aplicação suave definida
por
s0 8ßC ÐBÑ œ :Ð<8ßC
#
 mB  Cm# Ñ,

onde :À ‘ Ä [0,"[ é a aplicação suave do lema II.3.2, aplicação para a qual


se tem assim
s0 8ßC ÐBÑ  ! Í B − F<8ßC ÐCÑ,

em particular a aplicação s0 8ßC é nula fora do compacto F <8ßC ÐCÑ contido num
dos Y4 .
Vamos agora verificar que a família das restrições das aplicações s0 8ßC a Y é
localmente finita (isto apesar de a família das aplicações s0 8ßC não ter que ser
localmente finita). Consideremos para isso D − Y arbitrário. Existe 8! tal que
D − O8! e então Z8! " é um aberto de Y , contendo D tal que, para cada
8   8!  $ e C − M8 (portanto salvo para um número finito de pares Ð8ß CÑ),
s0 8ßC ÐBÑ œ ! para todo o B − Z8! " , visto que, se s0 8ßC ÐBÑ  !, tinha-se
§3. Partições da unidade 105

B − F<8ßC ÐCÑ § Y4 Ï O8# § Y4 Ï O8! " § Y4 Ï Z8! " .

A família contável das aplicações suaves s0 8ßC ÎY À Y Ä Ò!ß "Ò verifica assim as

que, para cada B − Y , tem-se ! s0 8ßC ÐBÑ  !, uma vez que, escolhendo o
condições a) e b) do enunciado. Quanto a c), tudo o que podemos dizer é

menor dos 8 tais que B − O8 , tem-se B − O8 Ï Z8" , e portanto


B − F<8ßC ÐCÑ, para algum C − M8 , o que implica s0 8ßC ÐBÑ  !.
O facto de termos uma família localmente finita de funções suaves,
permite-nos definir uma função suave s0 À Y Ä Ó!ß _Ò por
s0 ÐBÑ œ " s0 8ßC ÐBÑ
8 "
C−M8

e, a partir dela, uma família contável de funções suaves 08ßC À Y Ä Ò!ß "Ó,
onde 8   " e C − M8 , definidas por
s0 8ßC ÐBÑ
08ßC ÐBÑ œ ,
s0 ÐBÑ

as quais vão verificar as condições a), b) e c) do enunciado. …


II.3.5 (Nota) No caso em que o espaço vectorial I é um espaço vectorial
complexo não é verdade que as aplicações suaves 08ßC , construídas na
demonstração precedente, sejam holomorfas, mesmo que se tenha tido o
cuidado de utilizar um produto interno complexo (hermítico) em I . A razão
por que as coisas não funcionam está em que a função 2ÐBÑ œ mBm# œ ØBß BÙ
não é holomorfa, por o produto interno não ser uma aplicação bilinear
complexa, uma vez que é antilinear, e não linear, na segunda variável. Aliás,
para quem conheça os rudimentos da teoria das aplicações holomorfas, é
óbvia a impossibilidade de existência de partições da unidade holomorfas,
tendo em conta o facto de toda a aplicação holomorfa, de domínio conexo,
que seja nula numa parte aberta não vazia do seu domínio, ter que ser
identicamente nula.
II.3.6 Nas aplicações será muitas vezes mais útil a versão do teorema da partição
da unidade, que enunciamos em seguida, em que se perde a garantia da
existência de suporte compacto mas, em compensação, se consegue que a
partição da unidade tenha o mesmo conjunto de índices que a família de
abertos.
II.3.7 (Segunda versão do teorema da partição da unidade) Sejam I um
espaço vectorial de dimensão finita e ÐY4 Ñ4−N uma família de abertos de I , e
notemos Y a união dos conjuntos Y4 . Existe então uma família Ð14 Ñ4−N de
funções suaves 14 À Y Ä Ò!ß "Ó tal que:
a) A família Ð14 Ñ4−N é localmente finita.
b) Para cada 4 − N , existe um subconjunto G4 de Y4 , fechado em Y , tal que
106 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

14 ÐBÑ œ !, para cada B − Y Ï G4 (por outras palavras, 14 tem suporte contido

c) Para cada B − Y , ! 14 ÐBÑ œ ".


em Y4 ).

4−N
Dem: Seja Ð0# Ñ#−> uma família nas condições de II.3.4 e notemos agora G s#
os correspondentes subconjuntos compactos de abertos Y4 fora dos quais os
0# se anulam. Para cada # − >, escolhamos um índice 4Ð# Ñ − N tal que
Gs # § Y4Ð#Ñ . Para cada 4 − N , seja >4 o conjunto dos # − > tais que 4 œ 4Ð# Ñ.
Os conjuntos >4 são evidentemente disjuntos dois a dois e de união > (alguns
deles podem ser vazios). Para cada 4 − N , a família Ð0# Ñ#−>4 é trivialmente
também localmente finita pelo que podemos definir uma aplicação suave
14 À Y Ä Ò!ß "Ó por

14 ÐBÑ œ " 0# ÐBÑ.


# −>4

Para cada B − Y , existe uma vizinhança Z de B em Y e um conjunto finito


>w § > de modo que, para cada # − > Ï >w , a restrição de 0# a Z seja
identicamente nula; se N w § N é o conjunto finito formado pelos 4Ð# Ñ, com
# − >w , tem-se então que, para cada 4 − N Ï N w , a restrição de 14 a Z é

finita. É trivial que, para cada B − Y , ! 14 ÐBÑ œ ". Resta-nos portanto


identicamente nula, o que mostra que a família das aplicações 14 é localmente

4−N
demonstrar a propriedade b) do enunciado. Seja, para cada 4 − N , [4 o
conjunto dos B − Y tais que 14 ÐBÑ  ! e notemos G4 a aderência de [4 em
Y ; tudo o que temos que verificar é que se tem G4 § Y4 . Seja portanto
B − G4 arbitrário. Sejam Z uma vizinhança aberta de B em Y e >w § > uma
parte finita, de modo que, para cada # − > Ï >w , a restrição de 0# a Z seja
nula. Seja Z w uma vizinhança arbitrária de B em Y . O facto de B pertencer à
aderência de [4 implica a existência de C − Z  Z w  [4 ; tem-se então
14 ÐCÑ  ! pelo que existe # − >4 tal que 0# ÐCÑ  !, o que implica que
C−G s # e # − >w ; isto mostra que B é aderente à união finita dos G
s # , com
# − >  >4 , união essa que é fechada, por ser uma união finita de
w

compactos; concluímos assim que B pertence àquela união, pelo que B − Y4 ,


o que termina a demonstração. …
II.3.8 (Notas) Nas condições anteriores costuma dizer-se que a família Ð14 Ñ4−N é
uma partição da unidade de Y subordinada à cobertura aberta ÐY4 Ñ4−N de Y .
Mais uma vez, e tal como já referimos atrás, não há esperança de se poder
obter uma versão holomorfa do resultado precedente, no caso em que I é um
espaço vectorial complexo.
É natural perguntarmo-nos se não seria possível melhorar o resultado
anterior, de modo a exigir na condição b) que o conjunto G4 seja compacto
ou, pelo menos, que seja fechado em I (e não somente em Y ). Para vermos
que isso não é possível, basta repararmos que, no caso em que consideramos
§3. Partições da unidade 107

uma família constituída por um único aberto Y , diferente de I e do conjunto


vazio, a correspondente aplicação 1À Y Ä Ò!ß "Ó não pode deixar de ser a
função identicamente igual a ", a qual só é nula fora de Y (isto é, sobre o
conjunto vazio…); o conjunto Y é evidentemente fechado em Y mas não o é
em I e muito menos é compacto. No corolário que se segue veremos como é
possível exigir que G4 seja fechado em I , à custa de obter uma conclusão
mais fraca em c).

conjunto fechado e ÐY4 Ñ4−N uma família de abertos de I , tal que E § - Y4 .


II.3.9 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I um

4−N
Existe então uma família Ð14 Ñ4−N , de funções suaves 14 À I Ä Ò!ß "Ó tal que:
a) A famíliaÐ14 Ñ4−N é localmente finita.
b) Para cada 4 − N , existe um subconjunto G4 de Y4 , fechado em I , tal que
14 ÐBÑ œ !, para cada B − I Ï G4 .
c) Para cada B − E, ! 14 ÐBÑ œ " e, para cada B − I , ! 14 ÐBÑ Ÿ ".
4−N 4−N
Dem: Basta aplicar a segunda versão do teorema da partição da unidade à
cobertura aberta de I formada pelos conjuntos abertos Y4 e I Ï E,
ignorando em seguida a função correspondente a este último aberto. …
II.3.10 (Prolongamentos globais de aplicações de classe G 5 ) Sejam I e J
espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um conjunto arbitrário e
0 À E Ä J uma aplicação de classe G 5 . Existe então um aberto Y de I , com
E § Y , e um prolongamento de classe G 5 0 À Y Ä J de 0 .
Dem: Para cada B − E, seja 0 ÐBÑ À YB Ä J um prolongamento local de classe
G 5 de 0 no ponto B. Seja Y a união dos abertos YB de I , com B − E, que é
um aberto de I , contendo E. Pela segunda versão do teorema da partição da
unidade, podemos considerar uma família localmente finita de funções
suaves 1ÐBÑ À Y Ä Ò!ß "Ó tal que cada 1ÐBÑ seja nula fora de um certo

! 1ÐBÑ ÐCÑ œ ". Para cada B − E, podemos considerar uma aplicação


subconjunto GB de YB , fechado em Y , e que, para cada C − Y , se tenha

B−E
s0 ÐBÑ À Y Ä J , de classe G 5 , definida por

s0 ÐBÑ ÐCÑ œ œ
! , se C Â YB
.
1ÐBÑ ÐCÑ0 ÐBÑ ÐCÑ , se C − YB

O facto de esta aplicação ser efectivamente de classe G 5 é uma consequência


de termos uma noção local, visto que ela vai ter restrição de classe G 5 a cada
um dos dois abertos YB e Y Ï GB , de união Y , a segunda por ser
identicamente nula. Uma vez que a família das aplicações de classe G 5
s0 ÐBÑ À Y Ä J , com B − E, é localmente finita, por a família das funções 1ÐBÑ
o ser, podemos considerar uma aplicação 0 À Y Ä J , de classe G 5 , definida
por
108 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

0 ÐCÑ œ " s0 ÐBÑ ÐCÑ.


B−E

Se C − E, tem-se s0 ÐBÑ ÐCÑ œ 1ÐBÑ ÐCÑ0 ÐCÑ, quer C pertença ou não a YB , no


segundo caso porque ambos os membros são nulos e no primeiro caso
porque, sendo C − YB  E, tem-se 0 ÐBÑ ÐCÑ œ 0 ÐCÑ. Podemos assim concluir
que, se C − E, tem-se
0 ÐCÑ œ " s0 ÐBÑ ÐCÑ œ " 1ÐBÑ ÐCÑ0 ÐCÑ œ ˆ" 1ÐBÑ ÐCщ0 ÐCÑ œ 0 ÐCÑ,
B−E B−E B−E

o que mostra que 0 é efectivamente um prolongamento de 0 . …


II.3.11 (Teorema da partição da unidade para conjuntos arbitrários) Sejam
I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I um conjunto arbitrário e
ÐE4 Ñ4−N uma família de abertos de E de união E. Existe então uma família
localmente finita de funções suaves 14 À E Ä Ò!ß "Ó, onde 4 − N , tal que cada

B − E, ! 14 ÐBÑ œ "Þ
14 é nula fora de uma certa parte G4 de E4 , fechada em E, e que, para cada

4−N
Como anteriormente, dizemos que a família das aplicações 14 é uma partição
da unidade de E subordinada à cobertura aberta de E constituída pelos
conjuntos E4 .
Dem: Para cada 4 − N , seja Y4 um aberto de I tal que E4 œ E  Y4 . Sendo
Y a união dos Y4 , que é um aberto contendo E, podemos, por II.3.7,
considerar uma família localmente finita de funções suaves s14 À Y Ä Ò!ß "Ó tal
s 4 de Y4 , fechada em Y , e que,
!
que cada s14 seja nula fora de uma certa parte G
para cada B − Y , s14 ÐBÑ œ ". Basta-nos agora tomar para 14 À E Ä Ò!ß "Ó as
4−N
s 4  E.
restrições das aplicações s14 e para G4 as intersecções G …
II.3.12 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um
subconjunto, F um conjunto fechado em E e 0 À F Ä J uma aplicação de
classe G 5 . Existe então uma aplicação de classe G 5 , 0 À E Ä J , prolongando
a aplicação 0 .
Dem: Tendo em conta II.3.10, vai existir um aberto Y de I , com F § Y , e
um prolongamento s0 À Y Ä J , de classe G 5 , de 0 . Vem que Y  E e E Ï F
são dois abertos em E, de união E, pelo que a versão precedente do teorema
da partição da unidade garante a existência de aplicações suaves
:ß <À E Ä Ò!ß "Ó tais que : se anula fora de uma certa parte G de Y  E,
fechada em E, < se anula fora de uma certa parte G w de E Ï F , fechada em
E, e, para cada B − E, :ÐBÑ  <ÐBÑ œ ". Em particular, para cada B − F ,
tem-se <ÐBÑ œ !, donde :ÐBÑ œ ". Seja agora 0 À E Ä J a aplicação de
classe G 5 definida por
§3. Partições da unidade 109

0 ÐBÑ œ œ
! , se B Â Y
s ÐBÑ Þ
:ÐBÑ0 , se B − Y

O facto de 0 ser de classe G 5 é uma consequência de termos uma noção


local, visto que isso vai acontecer às suas restrições aos abertos Y  E e
E Ï G de E, com união E (a segunda restrição é identicamente nula). Por
fim, para cada B − F , o facto de ser :ÐBÑ œ " implica que
0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ, pelo que temos um prolongamento de 0 . …
II.3.13 (Nota) Sabemos, por definição, que uma aplicação de classe G 5 , definida
num conjunto não obrigatoriamente aberto, pode ser prolongada numa
aplicação de classe G 5 definida nalgum aberto contendo o seu domínio, mas,
em geral, não temos nenhuma informação sobre o aberto que podemos
escolher nessas condições. A vantagem do resultado precedente é a possibili-
dade de garantirmos a existência de um prolongamento de classe G 5 a um
conjunto dado a priori. Por exemplo, quando E é fechado em I , o resultado
precedente garante que toda a aplicação de classe G 5 de domínio E é
restrição de uma aplicação de classe G 5 cujo domínio é o espaço todo I .

Vamos agora referir mais um exemplo de aplicação dos teorema de


partição da unidade, a possibilidade de aproximar aplicações contínuas
por aplicações suaves.

II.3.14 (Aproximação de aplicações contínuas por aplicações suaves) Sejam


I e J espaços vectoriais de dimensão finita, o segundo dos quais munido de
uma norma, E § I um conjunto e 0 À E Ä J uma aplicação contínua. Para
cada aplicação contínua $À E Ä Ó!ß _Ò, existe então um aberto Y de I ,
com E § Y , e uma aplicação suave 1À Y Ä J tal que, para cada B − E,
m1ÐBÑ  0 ÐBÑm  $ ÐBÑ. 28
Além disso, se G é um subconjunto convexo de J tal que 0 ÐEÑ § G ,
pode-se exigir que se tenha também 1ÐY Ñ § G .29
Dem:30 Para cada C − E, consideremos o aberto EC de E, com C − EC ,
EC œ ÖB − E ± m0 ÐBÑ  0 ÐCÑm  $ ÐBÑ×,

e seja YC um aberto de I tal que EC œ E  YC . Seja Y o aberto de I ,


contendo E, união dos YC , com C − E. Pelo teorema da partição da unidade,

28Repare-se que podemos, em particular, tomar como função $ uma função de valor cons-
tante maior que !, caso em que o resultado garante a existência de uma aproximação
uniforme da aplicação contínua 0 por uma aplicação suave 1.
29No caso em que E é fechado em I , pode-se tomar Y œ I (cf. o exercício II.20, no fim
do capítulo), desde que se afaste o caso trivial em que G œ g (e portanto E œ gÑ.
30Esta demonstração baseia-se na demonstração de um resultado análogo em [16].
110 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

na versão em II.3.7, podemos considerar uma família localmente finita de

identicamente nula fora de YC e que, para cada B − Y , ! :C ÐBÑ œ ". Seja


aplicações suaves :C À Y Ä Ò!ß "Ó, onde C − E, tais que cada :C é

C
1À Y Ä J a aplicação suave definida por
1ÐBÑ œ " :C ÐBÑ 0 ÐCÑ
C−E

(soma duma família localmente finita de aplicações suaves) e reparemos,


desde já, que, se G § J é um subconjunto convexo de J contendo 0 ÐEÑ,
tem-se ainda 1ÐBÑ − G , para cada B − Y (1ÐBÑ é uma combinação convexa
de elementos de G ). Para cada B − E, podemos considerar o subconjunto
finito MB de E formado pelos C tais que :C ÐBÑ  ! e podemos então escrever

m1ÐBÑ  0 ÐBÑm œ ½Š" :C ÐBÑ 0 ÐCÑ‹  Š" :C ÐBÑ 0 ÐBÑ‹½ œ


C−E C−E

œ ½" :C ÐBÑ Ð0 ÐCÑ  0 ÐBÑѽ Ÿ

Ÿ " :C ÐBÑm0 ÐCÑ  0 ÐBÑm  " :C ÐBÑ $ ÐBÑ œ $ ÐBÑ,


C−MB

C−MB C−MB

visto que, para cada C − MB , o facto de ser :C ÐBÑ  ! implica que


B − E  YC œ EC , e portanto m0 ÐBÑ  0 ÐCÑm  $ ÐBÑ. …

No resultado precedente o papel do aberto Y , contendo E, só é importante


no caso em que quisermos tirar partido da afirmação suplementar de que a
aproximação suave toma valores num conjunto convexo G que contenha a
imagem da aplicação 0 ; caso contrário, poderíamos ter afirmado apenas a
existência de uma aplicação suave E Ä J a aproximar 0 e, se necessitás-
semos de uma aplicação suave definida num aberto contendo E, prolongá-
vamos a aplicação suave de domínio E (cf. II.3.10).
O resultado que enunciamos em seguida diz-nos que, quando a aplicação
contínua 0 que pretendemos aproximar já é suave num certo subconjunto
fechado do domínio, podemos construir uma aproximação suave cuja res-
trição ao subconjunto referido seja a aplicação de partida. Uma vez que
agora já não é possível garantir que a aproximação tome valores em
qualquer convexo que contenha o contradomínio de 0 , é desnecessário
referir qualquer aberto a conter o domínio de 0 . Para uma generalização
desse resultado, em que a aplicação 0 toma valores numa certa subvarie-
dade sem bordo de J e exigimos que o prolongamento tome valores nessa
subvariedade, ver o exercício III.24, no fim do capítulo III.

II.3.15 (Aproximação sem mudar o que já está bem) Sejam I e J espaços


vectoriais de dimensão finita, o segundo dos quais munido de uma norma,
E § I um conjunto e 0 À E Ä J uma aplicação contínua. Seja F § E, F
fechado em E, tal que 0ÎF À F Ä J seja suave. Para cada aplicação contínua
§3. Partições da unidade 111

$À E Ä Ó!ß _Ò, existe então uma aplicação suave 2À E Ä J tal que


2ÎF œ 0ÎF e que, para cada B − E,
m2ÐBÑ  0 ÐBÑm  $ ÐBÑ.

Dem: Pelo resultado precedente, podemos considerar uma aplicação suave


1À E Ä J tal que, para cada B − E, m1ÐBÑ  0 ÐBÑm  $ ÐBÑ (restringir a E a
aplicação de domínio Y nesse resultado). Tendo em conta II.3.12, podemos
considerar uma aplicação suave 0 À E Ä J tal que 0 ÎF œ 0ÎF . Seja Y o
aberto de E, com F § Y ,
Y œ ÖB − E ± m0 ÐBÑ  0 ÐBÑm  $ ÐBÑ×.
Pelo teorema da partição da unidade II.3.11, aplicado aos abertos Y e E Ï F
de E, com união E, podemos considerar duas aplicações suaves
:ß <À E Ä Ò!ß "Ó tais que : seja nula fora de Y , < seja nula em F e, para
cada B − E, :ÐBÑ  <ÐBÑ œ ", em particular, para cada B − F , :ÐBÑ œ ".
Seja agora 2À E Ä J a aplicação suave definida por
2ÐBÑ œ :ÐBÑ0 ÐBÑ  <ÐBÑ1ÐBÑ.

Para cada B − F , tem-se 2ÐBÑ œ 0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ e, reparando que, sempre que
:ÐBÑ Á !, tem-se B − Y , e portanto m0 ÐBÑ  0 ÐBÑm  $ ÐBÑ, vemos que, para
cada B − E,
m2ÐBÑ  0 ÐBÑm œ m:ÐBÑ0 ÐBÑ  <ÐBÑ1ÐBÑ  :ÐBÑ0 ÐBÑ  <ÐBÑ0 ÐBÑm œ
œ m:ÐBÑÐ0 ÐBÑ  0 ÐBÑÑ  <ÐBÑÐ1ÐBÑ  0 ÐBÑÑm Ÿ
Ÿ :ÐBÑm0 ÐBÑ  0 ÐBÑm  <ÐBÑm1ÐBÑ  0 ÐBÑm 
 :ÐBÑ$ ÐBÑ  <ÐBÑ$ ÐBÑ œ $ ÐBÑ,

como queríamos. …

§4. Variedades sem bordo.

II.4.1 No que se vai seguir, e no sentido de simplificar os enunciados, vamos


muitas vezes limitar o estudo ao caso das aplicações de classe G _ e dos
difeomorfismos de classe G _ . O leitor que o desejar verificará muito
facilmente como obter enunciados análogos, exigindo apenas que as
aplicações sejam de classe G 5 , para 5 suficientemente grande.
II.4.2 Sejam I e J espaços vectoriais reais de dimensão finita, B! − E § I e
C! − F § J . Diz-se que o par ÐEß B! Ñ é localmente difeomorfo ao par
ÐFß C! Ñ se existe um aberto Y de E, com B! − Y , um aberto Z de F , com
C! − Z , e um difeomorfismo 0 À Y Ä Z , verificando 0 ÐB! Ñ œ C! . Diz-se
então que 0 é um difeomorfismo local de ÐEß B! Ñ sobre ÐFß C! Ñ.
112 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Um caso particular é aquele em que se pode escolher Y œ E e Z œ F ; nesse


caso também se diz que ÐEß B! Ñ e ÐFß C! Ñ são difeomorfos e que 0 é um
difeomorfismo de ÐEß B! Ñ sobre ÐFß C! Ñ.
II.4.3 A relação “…é localmente difeomorfo a…” é uma relação de equivalência.
Dem: A única parte não completamente trivial é a transitividade. Sejam por-
tanto B! − E § I , C! − F § J e D! − G § K , tais que ÐEß B! Ñ seja
localmente difeomorfo a ÐFß C! Ñ e ÐFß C! Ñ seja localmente difeomorfo a
ÐGß D! Ñ. Podemos então considerar um difeomorfismo local 0 À Y w Ä Z w , de
ÐEß B! Ñ sobre ÐFß C! Ñ, e um difeomorfismo local 1À Z ww Ä [ ww , de ÐFß C! Ñ
sobre ÐGß D! Ñ. Se os abertos Z w e Z ww de F coincidissem, tínhamos o
problema resolvido, visto que, como é evidente, 1 ‰ 0 À Y w Ä [ ww seria um
difeomorfismo local de ÐEß B! Ñ sobre ÐGß D! Ñ. No caso geral, reparamos que,
uma vez que 0 e 1 são, em particular, homeomorfismos, podemos concluir
que Y œ 0 " ÐZ w  Z ww Ñ e [ œ 1ÐZ w  Z ww Ñ são abertos em Y w e [ ww , e
portanto também em E e G , respectivamente, com B! − Y e D! − [ , sendo
então imediato que
1ÎZ w Z ww ‰ 0ÎY À Y Ä [

é um difeomorfismo local de ÐEß B! Ñ sobre ÐGß D! Ñ. …


II.4.4 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, B! − I e E e F dois
subconjuntos de I , contendo B! , e coincidindo na vizinhança de B! . Tem-se
então que ÐEß B! Ñ e ÐFß B! Ñ são localmente difeomorfos; mais precisamente,
sendo Z vizinhança de B! em I , com E  Z œ F  Z , Y œ intÐZ Ñ e
Y w œ E  Y œ F  Y , a aplicação identidade de Y w é um difeomorfismo
local entre aqueles dois pares.
Como caso particular do que acabamos de dizer, se B! − E § I e se Ew é
uma vizinhança de B! em E, então E e Ew coincidem na vizinhança de B!
(tem-se Ew œ E  Z , para uma certa vizinhança Z de B! em I ) e portanto
ÐEß B! Ñ e ÐEw ß B! Ñ são localmente difeomorfos.
II.4.5 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, B! − E § I ,
C! − F § J e 0 À Y Ä Z um difeomorfismo local de ÐEß B! Ñ sobre ÐFß C! Ñ.
Tem-se então que H0B! é um isomorfismo de XB! ÐEÑ sobre XC! ÐFÑ, que
aplica tB! ÐEÑ sobre tC! ÐFÑ e t
B! ÐEÑ sobre tC! ÐFÑ.

Dem: É uma consequência imediata de II.2.14 e II.1.2. …


II.4.6 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B! − Q § I . Diz-se
que o par ÐQ ß B! Ñ é uma variedade sem bordo31 com dimensão 8 se
existirem um espaço vectorial J , de dimensão 8, e C! − J tais que ÐQ ß B! Ñ
seja localmente difeomorfo a ÐJ ß C! Ñ. Diz-se então também que o conjunto
Q é no ponto B! uma variedade sem bordo com dimensão 8. A um

31Por vezes utiliza-se o termo variedade em vez de variedade sem bordo. A razão por que
utilizamos este último é a de que encontraremos mais adiante uma noção mais geral,
relativamente à qual empregaremos o termo variedade.
§4. Variedades sem bordo 113

difeomorfismo local de ÐQ ß B! Ñ sobre ÐJ ß C! Ñ costuma-se dar o nome de


carta local de Q no ponto B! .

Figura 1

Dizemos que o conjunto Q é uma variedade sem bordo se, para cada
B − Q , ÐQ ß BÑ é uma variedade sem bordo (com uma dimensão que pode
eventualmente variar de ponto para ponto32). No caso em que, para cada
B − Q , o par ÐQ ß BÑ é uma variedade sem bordo, com a mesma dimensão 8,
dizemos também que Q é uma variedade sem bordo com dimensão 8.
II.4.7 Intuitivamente, uma variedade sem bordo com dimensão 8 é portanto um
conjunto que, localmente, é parecido com um espaço vectorial de dimensão
8. Uma variedade sem bordo com dimensão " é o que estamos habituados a
chamar de curva e as variedades sem bordo com dimensão # correspondem à
noção usual de superfície.
No nosso caso estamos a atribuir à noção intuitiva de parecido o significado
difeomorfo. Se por parecido entendêssemos homeomorfo, obteríamos uma
noção mais fraca, a de variedade topológica. Por exemplo, pode-se verificar
que a união dos quatro lados dum quadrado é uma variedade topológica sem
bordo, embora não seja uma variedade sem bordo, no sentido que utilizamos
neste curso.
II.4.8 (Exemplos) a) Como primeiro exemplo, trivial, de variedade sem bordo
com dimensão 8, temos o de um aberto Y de um espaço vectorial I de
dimensão 8: Para cada B − Y , ÐY ß BÑ é, com efeito, localmente difeomorfo a
ÐIß BÑ (cf. II.4.4).
b) Um segundo exemplo trivial de variedade é o das variedades de dimensão
!: Se B! − Q § I , o par ÐQ ß B! Ñ é uma variedade sem bordo com dimensão
! se, e só se, B! é um ponto isolado de Q , isto é, se, e só se, o conjunto
unitário ÖB! × é aberto em Q . Para o constatarmos, basta reparar que um
espaço vectorial de dimensão ! é constituído pelo único vector ! e que uma
bijecção entre conjuntos unitários é sempre um difeomorfismo, uma vez que
as aplicações constantes são suaves.
c) Como primeiro exemplo não trivial de variedade sem bordo, podemos
considerar o duma hipersuperfície esférica. Consideremos em ‘8 , com

32Ver no entanto o que dizemos adiante em II.4.11.


114 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

8   ", o produto interno canónico e a norma associada e seja W § ‘8 a


hipersuperfície esférica de centro ! e raio ",
W œ ÖB − ‘8 ± mBm œ "× œ
œ ÖÐB" ß á ß B8 Ñ − ‘8 ± B#"  â  B#8 œ "×.

Consideremos um elemento arbitrário B! œ ÐB! " ß á ß B! 8 Ñ − W . O facto de se


ter B! #"  â  B! #8 œ " implica que podemos fixar 5 tal que B! 5 Á !.
Suponhamos, para começar, que B! 5  !. Podemos então considerar o aberto
Y de W formado pelos ÐB" ß á ß B8 Ñ − W tais que B5  ! e o aberto Z de
‘8" constituído pelos Ð>" ß á ß >8" Ñ tais que >#"  â  >#8"  " e vai ter
lugar um difeomorfismo 0 À Z Ä Y definido por

0 Ð>" ß á ß >8" Ñ œ Ð>" ß á ß >5" ß É"  >#"  â  >#8" ß >5 ß á ß >8" Ñ,

difeomorfismo cujo inverso é a aplicação 1À Y Ä Z , definida por


1ÐB" ß á ß B8 Ñ œ ÐB" ß á ß B5" ß B5" ß á ß B8 Ñ.
Uma vez que 0 aplica o ponto ÐB! " ß á ß B! 5" ß B! 5" ß á ß B! 8 Ñ em
ÐB! " ß á ß B! 5 ß á ß B! 8 Ñ, concluímos que W é no ponto B! uma variedade sem
bordo de dimensão 8  ". A mesma conclusão se tira no caso em que
B! 5  !, tomando para Y o aberto formado pelos ÐB" ß á ß B8 Ñ − W tais que
B5  ! e pondo o sinal  atrás do sinal da raiz na definição do difeomor-
fismo 0 . Concluímos assim que W é uma variedade sem bordo, com
dimensão 8  ". É claro que, no caso em que 8 œ ", W é o conjunto discreto
com dois elementos Ö"ß "×, portanto uma variedade de dimensão !.
O exemplo anterior será reexaminado adiante, em II.4.33, de forma mais sim-
ples e mais geral.
II.4.9 (Notas) a) Se J é um espaço vectorial real de dimensão 8 e se C! − J , o
par ÐJ ß C! Ñ é localmente difeomorfo ao par ÐJ ß !Ñ; para o verificarmos basta
notar que a translação 7C! À J Ä J , que a cada C associa C  C! , é um
difeomorfismo (com a translação 7C! como difeomorfismo inverso), que
aplica C! em !. Uma vez que a relação localmente difeomorfo é de equiva-
lência, concluímos que, se um par ÐQ ß B! Ñ é uma variedade sem bordo com
dimensão 8, então ele é mesmo localmente difeomorfo a um par do tipo
ÐJ ß !Ñ, com J espaço vectorial real de dimensão 8.
b) Se J é um espaço vectorial real de dimensão 8, então existe um
isomorfismo -À ‘8 Ä J . Basta, com efeito, fixar uma base C" ß á ß C8 de J e
definir - por
-Ð+" ß á ß +8 Ñ œ +" C"  â  +8 C8 .
Uma vez que este isomorfismo é evidentemente também um difeomorfismo,
que aplica ! em !, concluímos que ÐJ ß !Ñ e Б8 ß !Ñ são localmente
difeomorfos pelo que, como anteriormente, vemos que, se ÐQ ß B! Ñ é uma
§4. Variedades sem bordo 115

variedade sem bordo com dimensão 8, então ÐQ ß B! Ñ é mesmo localmente


difeomorfo ao par Б8 ß !Ñ.
II.4.10 Se ÐQ ß B! Ñ é uma variedade sem bordo com dimensão 8, então
tB! ÐQ Ñ œ t
B! ÐQ Ñ œ XB! ÐQ Ñ é um espaço vectorial de dimensão 8. Em
particular, a dimensão de uma variedade sem bordo num dos seus pontos é
um número bem definido.
II.4.11 Suponhamos que ÐQ ß B! Ñ é uma variedade sem bordo com dimensão 8.
Existe então um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que, para cada B − Y ,
ÐQ ß BÑ é também uma variedade sem bordo com dimensão 8. Em
consequência, se Q é uma variedade sem bordo conexa, então Q tem a
mesma dimensão em todos os pontos.
Dem: Sejam J um espaço vectorial real de dimensão 8 e C! − J tais que
exista um difeomorfismo local 0 À Y Ä Z de ÐQ ß B! Ñ sobre ÐJ ß C! Ñ. É então
imediato que, para cada B − Y , 0 é também um difeomorfismo local de
ÐQ ß BÑ sobre ÐJ ß 0 ÐBÑÑ, o que mostra que ÐQ ß BÑ é também uma variedade
sem bordo com dimensão 8. No caso em que Q é uma variedade sem bordo
conexa, o que acabamos de ver mostra que, para cada inteiro 8, o conjunto
Q8 dos pontos de Q onde a dimensão é 8 é um aberto de Q pelo que, uma
vez que Q é a união destes abertos, que são disjuntos dois a dois,
concluímos que não pode haver mais que um deles que seja não vazio, ou
seja, a dimensão de Q em todos os pontos é a mesma. …
II.4.12 Sejam B! − Q § I e C! − Q s §I s , tais que ÐQ ß B! Ñ e ÐQ s ß C! Ñ sejam
variedades sem bordo, com dimensões 7 e 8 respectivamente. Tem-se então
que o subconjunto Q ‚ Q s de I ‚ I s é, no ponto ÐB! ß C! Ñ, uma variedade
sem bordo com dimensão 7  8.
Dem: Podemos considerar espaços vectoriais J e J s , com dimensões 7 e 8,
respectivamente, e difeomorfismos locais 0 À Y Ä Z , de ÐQ ß B! Ñ sobre
ÐJ ß !Ñ, e s0 À Y
s ÄZ
s , de ÐQ s ß C! Ñ sobre ÐJ s ß !Ñ. J ‚ J s é então um espaço
vectorial de dimensão 7  8 e tem lugar um difeomorfismo local
0 ‚ s0 À Y ‚ Y s ÄZ ‚Z s , de ÐQ ‚ Q s ß ÐB! ß C! ÑÑ sobre ÐJ ‚ Js ß Ð!ß !ÑÑ. …
II.4.13 Suponhamos, mais geralmente, que, para cada " Ÿ 4 Ÿ R ,
B4 ! − Q4 § I4 são tais que ÐQ4 ß B4 ! Ñ é uma variedade sem bordo com
dimensão 84 . Tem-se então que ÐQ" ‚ â ‚ QR ß ÐB" ! ß á ß BR ! ÑÑ é uma
variedade sem bordo com dimensão 8"  â  8R .
Dem: Trata-se de uma generalização imediata da demonstração precedente,
em que apenas as notações são um pouco mais pesadas. …
II.4.14 Sejam Q § I uma variedade conexa, J um espaço vectorial de
dimensão finita e 0 À Q Ä J uma aplicação de classe G " tal que, para cada
B − Q , H0B œ ! − PÐXB ÐQ Ñà J Ñ. Tem-se então que 0 é uma aplicação
constante.
Dem: Comecemos por mostrar que, se B! − Q , então existe um aberto Y de
Q tal que a restrição de 0 a Y seja constante. Consideremos então um aberto
116 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Z de ‘8 , com ! − Z , um aberto Y de Q , com B! − Y , e um difeomorfismo


:À Z Ä Y , com :Ð!Ñ œ B! . Se necessário substituindo Z por um aberto
mais pequeno, por exemplo uma bola aberta de centro !, podemos já supor
que Z é conexo. Pelo teorema de derivação da função composta, a aplicação
de classe G " 0 ‰ :À Z Ä J tem derivada nula em todos os pontos, pelo que,
tendo em conta I.5.19, 0 ‰ : é constante, o que implica que a restrição de 0 a
Y œ :ÐZ Ñ também é constante. A partir de agora a demonstração é
puramente topológica: O que acabamos de mostrar implica que, para cada
, − J , o conjunto ÖB − Q ± 0 ÐBÑ œ ,× é aberto em Q ; uma vez que este
conjunto é evidentemente também fechado, o facto de a variedade Q ser
conexa implica que este conjunto ou é igual a g ou igual a Q e daqui
podemos concluir que a aplicação 0 não pode tomar mais que um valor. …

Os resultados precedentes podem ser considerados como a parte trivial da


teoria das variedades sem bordo. Os resultados que se vão seguir vão ser
mais interessantes e de demonstração menos trivial e têm em comum o
facto de utilizarem de modo essencial o teorema da função inversa,
estudado no capítulo I.

II.4.15 Sejam I um espaço vectorial real de dimensão 8 e B! − Q § I . Tem-se


então que ÐQ ß B! Ñ é uma variedade sem bordo de dimensão 8 se, e só se,
B! − intÐQ Ñ. Em particular, um conjunto Q § I é uma variedade sem
bordo com dimensão igual à de I se, e só se, Q for um aberto de I .
Dem: Se B! − intÐQ Ñ, vimos em II.4.4 que ÐQ ß B! Ñ é localmente difeomorfo
a ÐIß B! Ñ, pelo que é uma variedade sem bordo com dimensão 8.
Suponhamos, reciprocamente, que Q é uma variedade sem bordo, com
dimensão 8, no ponto B! . Podemos então considerar um espaço vectorial real
J , de dimensão 8, e um difeomorfismo local 0 À Y Ä Z de ÐJ ß !Ñ sobre
ÐQ ß B! Ñ. Tem-se então que H0! À J Ä XB! ÐQ Ñ é um isomorfismo, o que
implica que XB! ÐQ Ñ é um subespaço vectorial de dimensão 8 do espaço
vectorial I de dimensão 8, portanto XB! ÐQ Ñ œ I . Concluímos assim que
H0! é um isomorfismo de J sobre I , pelo que, aplicando o teorema da fun-
ção inversa, podemos garantir a existência de um aberto Y w de J , com
! − Y w § Y , tal que a restrição de 0 seja um difeomorfismo de Y w sobre um
aberto Z w de I . Uma vez que B! œ 0 Ð!Ñ − Z w e que Z w § Z § Q , deduzi-
mos finalmente que B! é um ponto interior a Q . …
II.4.16 (Teorema da função inversa para variedades) Sejam B! − Q § I e
C! − Q s §I s tais que ÐQ ß B! Ñ e ÐQs ß C! Ñ sejam variedades sem bordo e seja
s
0 À Q Ä Q uma aplicação suave, tal que 0 ÐB! Ñ œ C! e que
H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä XC! ÐQ s Ñ seja um isomorfismo. Existe então um aberto Y de
Q , com B! − Y , e um aberto Y s de Qs , com C! − Y s , tais que a restrição de 0
s
seja um difeomorfismo de Y sobre Y . Em particular, para cada B − Y ,
H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ s Ñ também é um isomorfismo.
§4. Variedades sem bordo 117

Dem: Sejam J e J s espaços vectoriais de dimensão finita, <À Z sw ÄY s w um


difeomorfismo local de ÐJ s ß !Ñ sobre ÐQ
s ß C! Ñ e :À Z w Ä Y w um difeomor-
fismo local de ÐJ ß !Ñ sobre ÐQ ß B! Ñ. Tendo em conta a continuidade de 0 ,
vemos que, se necessário substituindo : por uma restrição, podemos já supor
s w . Podemos então considerar a composta
que se tem 0 ÐY w Ñ § Y
w
s ,
<" ‰ 0ÎY w ‰ :À Z w Ä Z

que é uma aplicação suave para a qual


s
HÐ<" ‰ 0ÎY w ‰ :Ñ! œ ÐH<! Ñ" ‰ H0B! ‰ H:! À J Ä J

é um isomorfismo. Estamos portanto em condições de aplicar a versão do


teorema da função inversa no quadro dos abertos para concluir a existência
de um aberto Z de J , com ! − Z § Z w , tal que a restrição de <" ‰ 0ÎY w ‰ :
seja um difeomorfismo de Z sobre um aberto Z s de Js , o qual verifica eviden-
w
temente ! − Zs §Z s . Podemos agora considerar o aberto Y œ :ÐZ Ñ de Q ,
s œ <ÐZ
que contém B! , e o aberto Y s Ñ de Q s , que contém C! , tendo-se então
que a restrição de 0 vai ser um difeomorfismo de Y sobre Y s , por ser a
s
composta do difeomorfismo de Z sobre Z , restrição de < ‰ 0ÎY w ‰ :, com
"

os difeomorfismos Zs ÄY s e Y Ä Z , restrições de < e de :" , respectiva-


mente. A última afirmação do enunciado resulta de que a derivada de um
difeomorfismo é um isomorfismo. …

A demonstração que acabamos de apresentar pode parecer, à primeira vis-


ta, um pouco confusa, mas a ideia que está por detrás dela é muito
simples: Para estudarmos, no quadro das variedades, uma propriedade de
tipo local que é já conhecida no quadro dos abertos de espaços vectoriais
de dimensão finita, usamos cartas, que olhamos intuitivamente como
fotografias, e aplicamos o resultado já conhecido, ao nível das fotografias,
usando de novo as cartas para obter o resultado pretendido, ao nível das
variedades. No nosso caso, os difeomorfismos locais : e < permitem
olhar intuitivamente para os abertos Z w , de J , e Zs w , de J
s , como fotogra-
s w , de Q
fias dos abertos Y w , de Q , e Y s ; deste ponto de vista, a aplicação
<" ‰ 0ÎY w ‰ : pode ser olhada como uma fotografia da aplicação 0ÎY w , ou,
se quisermos, como uma fotografia local da aplicação 0 .
Teremos ocasião de encontrar mais adiante outros exemplos de generali-
zações deste tipo e omitiremos as respectivas demonstrações quando
forem do tipo da que acabamos de apresentar. Espera-se naturalmente que
o leitor procure fazer sozinho essas demonstrações, pelo menos até se
sentir convencido de que elas são completamente evidentes.
Vamos estudar agora duas generalizações do teorema da função inversa,
em que, em vez de exigirmos que a derivada da aplicação seja um isomor-
fismo, exigimos, num caso, que ela seja uma aplicação linear injectiva e,
no outro caso, uma aplicação linear sobrejectiva. Em ambos os casos
começamos por examinar as versões ao nível dos abertos de espaços
vectoriais de dimensão finita e enunciamos em seguida as generalizações
118 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

às variedades sem bordo, que são consequências simples daquelas


versões. Estes dois teoremas vão ter consequências importantes para a
teoria das variedades.

II.4.17 (Teorema da derivada injectiva) Sejam J e J s espaços vectoriais reais


(respectivamente complexos), com dimensões 7 e 8, Z w § J um aberto e
0À Z w Ä Js uma aplicação suave (respectivamente holomorfa). Seja B! − Z w
tal que H0B! À J Ä Js seja uma aplicação linear injectiva. Existe então um
espaço vectorial real (respectivamente complexo) K, de dimensão 8  7,
um aberto Z de J , com B! − Z § Z w , um aberto [ de K , com ! − [ , um
aberto Zs de J s , com 0 ÐB! Ñ − Zs , e um difeomorfismo (respectivamente
difeomorfismo holomorfo) 1À Z ‚ [ Ä Z s tal que, para cada B − Z , se
s.
tenha 0 ÐBÑ œ 1ÐBß !Ñ, em particular, 0 ÐZ Ñ § Z
BÈÐBß!Ñ
Z qqqqqp Z ‚ [
M. Æ Æ1
Z qqqqqp s
Z
0ÎZ

Dem: O facto de H0B! ser uma aplicação linear injectiva implica que
H0B! ÐJ Ñ é um subespaço vectorial de dimensão 7 de J s pelo que podemos
considerar um subespaço vectorial K de J s , com dimensão 8  7, tal que
tenha lugar a soma directa J s œ H0B! ÐJ Ñ Š K (por exemplo, o ortogonal de
H0B! ÐJ Ñ, relativamente a um produto interno que se considere em sJ ). Seja
1w À Z w ‚ K Ä Js a aplicação suave definida por

1w ÐBß DÑ œ 0 ÐBÑ  D .
s está
Tem-se 1w ÐB! ß !Ñ œ 0 ÐB! Ñ e a aplicação linear H1wÐB! ß!Ñ À J ‚ K Ä J
definida por
H1wÐB! ß!Ñ Ð?ß AÑ œ H0B! Ð?Ñ  A.

O facto de ter lugar a soma directa atrás referida e de a aplicação linear H0B!
ser injectiva implica trivialmente que a aplicação linear H1wÐB! ß!Ñ é também
injectiva pelo que, uma vez que J ‚ K e J s têm a mesma dimensão 8, esta
última aplicação linear vai ser um isomorfismo. Estamos assim em condições
de aplicar o teorema da função inversa para garantir a existência de um
aberto de J ‚ K , contendo ÐB! ß !Ñ e contido em Z w ‚ K , que podemos já
supor ser da forma Z ‚ [ , com B! − Z aberto de I e ! − [ aberto de K ,
tais que a restrição 1 de 1w a Z ‚ [ seja um difeomorfismo de Z ‚ [ sobre
um aberto Z s de J s , sendo imediato, pela definição de 1w , que se tem
1ÐBß !Ñ œ 0 ÐBÑ. …
§4. Variedades sem bordo 119

As conclusões do resultado precedente podem ser enunciadas de modo


equivalente dizendo-se que 0 aplica Z em Z s e que a composta de
s " s
0ÎZ À Z Ä Z com o difeomorfismo 1 À Z Ä Z ‚ [ é a aplicação de Z
em Z ‚ [ definida por B È ÐBß !Ñ.
De maneira menos precisa, mas mais incisiva: Toda a aplicação suave de
derivada injectiva é, localmente e a menos de difeomorfismo, uma
aplicação do tipo B È ÐBß !Ñ.

II.4.18 Em geral, se I e I s são espaços vectoriais de dimensão finita, Q § I e


Qs §I s são subconjuntos arbitrários e 0 À Q Ä Q s é uma aplicação, diremos
que 0 é uma imersão no ponto B! se 0 for suave e a aplicação linear
s Ñ for injectiva e que 0 é uma imersão se for uma
H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä X0 ÐB! Ñ ÐQ
imersão em todos os pontos de Q .
Repare-se que, nesta definição, o papel de Q s é ilusório: Uma aplicação
s
0 À Q Ä Q é uma imersão em B! − Q se, e só se, o for enquanto aplicação
Q ÄI s.
II.4.19 (Teorema da imersão em variedades sem bordo) Sejam ÐQ ß B! Ñ e
ÐQs ß C! Ñ duas variedades sem bordo, com dimensões 7 e 8 respectivamente,
e seja 0 À Q Ä Q s uma imersão em B! tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Existe então:
a) Um aberto Y de Q , com B! − Y , e um aberto Y s de Q s , com C! − Y s , tais
que 0 ÐY Ñ § Y s;
b) Espaços vectoriais J e K , com dimensões 7 e 8  7, respectivamente, e
abertos Z de J , com ! − Z , e [ de K , com ! − [ ;
c) Difeomorfismos :À Z Ä Y , com :Ð!Ñ œ B! , e <À Z ‚ [ Ä Y s , com
<Ð!ß !Ñ œ C! ;
De modo que a composta <" ‰ 0ÎY ‰ :À Z Ä Z ‚ [ esteja definida por
Bw È ÐBw ß !Ñ.
Bw ÈÐBw ß!Ñ
Z qqqqqp Z ‚ [
:Æ Æ<
Y qqqqqp s
Y
0ÎY

Dem: Usando difeomorfismos locais, reduzimos facilmente este resultado à


versão já estabelecida do teorema da derivada injectiva. …
II.4.20 (Teorema da derivada sobrejectiva) Sejam J e J s espaços vectoriais
reais (respectivamente complexos) de dimensões 7 e 8, Z w § J um aberto,
0À Z w Ä Js uma aplicação suave (respectivamente holomorfa) e B! − Z w tal
que a aplicação linear H0B! À J Ä J s seja sobrejectiva. Existe então um
espaço vectorial real (respectivamente complexo) K, de dimensão 7  8,
um aberto Z de J , com B! − Z § Z w , um aberto Zs de Js , com 0 ÐB! Ñ − Z
s,
um aberto [ de K, com ! − [ , e um difeomorfismo (respectivamente
120 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

difeomorfismo holomorfo) 1À Zs ‚ [ Ä Z , verificando as condições


s ‚ [ , 0 Ð1ÐCß DÑÑ œ C , em
1Ð0 ÐB! Ñß !Ñ œ B! e, para cada ÐCß DÑ − Z
s
particular, 0 ÐZ Ñ œ Z .
ÐCßDÑÈC
s ‚ [ qqqqqp
Z s
Z
1Æ Æ M.
Z qqqqqp s
Z
0ÎZ

Dem: Seja K § J o subespaço vectorial núcleo de H0B! :


K œ kerÐH0B! Ñ œ Ö? − J ± H0B! Ð?Ñ œ !×.

O facto de a aplicação linear H0B! ser sobrejectiva implica que a dimensão


de K é 7  8. Consideremos uma aplicação linear 1À J Ä K , tal que
1Ð?Ñ œ ?, para cada ? − K (por exemplo, a projecção ortogonal sobre K,
relativamente a um produto interno que se fixe em J ). Seja agora
s0 À Z w Ä J
s ‚ K a aplicação suave definida por
s0 ÐBÑ œ Ð0 ÐBÑß 1ÐB  B! ÑÑ.

Tem-se s0 ÐB! Ñ œ Ð0 ÐB! Ñß !Ñ e a aplicação linear H0


sB ÀJ Ä J
!
s ‚ K está
definida por
s B Ð?Ñ œ ÐH0B! Ð?Ñß 1Ð?ÑÑ.
H0 !

Se fosse H0 s B Ð?Ñ œ !, olhando para a primeira componente da fórmula


!
anterior, concluíamos que H0B! Ð?Ñ œ !, ou seja, ? − K , e portanto, olhando
para a segunda componente, ? œ 1Ð?Ñ œ !. Verificámos portanto que a
aplicação linear H0 sB ÀJ Ä J s ‚ K é injectiva, pelo que o facto de J e
!
s ‚ K terem a mesma dimensão 7 implica que é mesmo um isomorfismo.
J
Estamos portanto em condições de aplicar o teorema da função inversa para
garantir a existência de um aberto Z de J , com B! − Z § Z w , tal que a
restrição de s0 a Z seja um difeomorfismo de Z sobre um aberto de J s ‚ K,
que, se necessário substituindo Z por um aberto mais pequeno, pode-se já
supor ser da forma Z s ‚ [ , com Z s aberto de J s , contendo 0 ÐB! Ñ, e [ aberto
s
de K , contendo !. Seja 1À Z ‚ [ Ä Z o difeomorfismo inverso desta
restrição de s0 . É claro que 1Ð0 ÐB! Ñß !Ñ œ B! . Por fim, dado ÐCß DÑ − Z s ‚ [,
tem-se evidentemente s0 Ð1ÐCß DÑÑ œ ÐCß DÑ pelo que, tendo em conta a
definição de s0 , C œ 0 Ð1ÐCß DÑÑ. …

Como anteriormente, podemos dizer, de modo menos preciso, mas mais


incisivo, que toda a aplicação suave com derivada sobrejectiva é,
localmente e a menos de difeomorfismo, uma aplicação do tipo
ÐCß DÑ È C.
§4. Variedades sem bordo 121

II.4.21 Em geral, se I e I s são espaços vectoriais de dimensão finita, Q § I e


s s
Q § I são subconjuntos arbitrários e 0 À Q Ä Q s é uma aplicação, diremos
que 0 é uma submersão no ponto B! − Q se 0 for suave e a aplicação linear
s Ñ for sobrejectiva e que 0 é uma submersão se for
H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä X0 ÐB! Ñ ÐQ
uma submersão em todos os pontos de Q .
Repare-se que, ao contrário do que acontecia com as imersões, o papel de Q s
nesta definição já é essencial.
II.4.22 (Teorema da submersão em variedades sem bordo) Sejam ÐQ ß B! Ñ e
ÐQs ß C! Ñ variedades sem bordo, com dimensões 7 e 8, respectivamente, e
0À Q Ä Q s uma submersão no ponto B! tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Existe então:
a) Um aberto Y de Q , com B! − Y , e um aberto Y s de Q s , tais que
s
0 ÐY Ñ œ Y ;
b) Espaços vectoriais de dimensões 8 e 7  8, respectivamente, J s eK e
s s s
abertos Z de J , com ! − Z , e [ de K , com ! − [ ;
c) Difeomorfismos :À Z s ‚ [ Ä Y , com :Ð!ß !Ñ œ B! , e <À Z s ÄY s , com
<Ð!Ñ œ C! ;
De modo que a composta <" ‰ 0ÎY ‰ :À Z s ‚[ ÄZ s esteja definida por
ÐC ß DÑ È C .
w w

ÐCw ßDÑÈCw
s ‚ [ qqqqqp
Z s
Z
:Æ Æ<
Y qqqqqp s
Y
0ÎY

Além disso, nas condições anteriores, 0 é ainda uma submersão em cada


ponto B − Y .
Dem: Usando difeomorfismos locais, reduzimos facilmente este resultado,
sem a última afirmação, à versão já estabelecida do teorema da derivada
sobrejectiva. A última afirmação resulta de que, para cada ÐC w ß DÑ − s
Z ‚[ e
w s
Ð@ ß AÑ − J ‚ K , sai, por derivação da igualdade <ÐC Ñ œ 0 Ð:ÐC ß DÑÑ,
w w

H<Cw Ð@w Ñ œ H0:ÐCw ßDÑ ÐH:ÐCw ßDÑ Ð@w ß AÑÑ,

pelo que o facto de H<Cw ser um isomorfismo implica trivialmente que a


aplicação linear H0:ÐCw ßDÑ é sobrejectiva. …

Vamos estudar agora alguns resultados importantes que são consequência


do teorema da imersão.

II.4.23 Sejam ÐQ ß B! Ñ uma variedade sem bordo, F uma parte arbitrária dum
espaço vectorial I s de dimensão finita e 0 À Q Ä F uma imersão no ponto
B! . Existe então um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que a restrição 0ÎY seja
122 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

um difeomorfismo de Y sobre 0 ÐY Ñ (ao contrário do que se passa no


teorema da função inversa, não afirmamos que 0 ÐY Ñ seja aberto em Q s ). Em
particular, para cada B − Y , 0 é ainda uma imersão no ponto B.
Dem: Comecemos por reparar que o papel de F é ilusório, visto que se pode
também olhar para 0 como aplicação suave de Q no espaço ambiente I s de
F , o que não altera em nada o facto de H0B! ser uma aplicação linear
injectiva (agora de XB! ÐQ Ñ em I s ). Sendo C! œ 0 ÐB! Ñ, podemos aplicar o
teorema da imersão para variedades sem bordo (cf. II.4.19) e garantir a
existência de abertos Y de Q , com B! − Y , e Y s de Is , com C! − Y
s , de es-
paços vectoriais de dimensão finita J e K , de abertos Z de J , com ! − Z , e
[ de K, com ! − [ , e de difeomorfismos :À Z Ä Y e <À Z ‚ [ Ä Y s,
com :Ð!Ñ œ B! e <Ð!ß !Ñ œ C! , de modo que se tenha 0 ÐY Ñ § Y s e que a
composta
<" ‰ 0ÎY ‰ :À Z Ä Z ‚ [

esteja definida por Bw È ÐBw ß !Ñ. Esta composta é um difeomorfismo de Z


sobre a sua imagem, igual a Z ‚ Ö!×, a aplicação inversa sendo a restrição
da projecção ÐBw ß DÑ È Bw . Concluímos agora que
0 ÐY Ñ œ 0 Ð:ÐZ ÑÑ œ <Ð<" ‰ 0ÎY ‰ :ÐZ ÑÑ œ <ÐZ ‚ Ö!×Ñ,

pelo que a aplicação 0ÎY À Y Ä 0 ÐY Ñ vai ser a composta dos difeomorfismos


:" À Y Ä Z , <" ‰ 0ÎY ‰ :À Z Ä Z ‚ Ö!× e <ÎZ ‚Ö!× À Z ‚ Ö!× Ä 0 ÐY Ñ,
sendo portanto um difeomorfismo de Y sobre 0 ÐY Ñ. Em particular, para cada
B − Y , H0B é um isomorfismo de XB ÐQ Ñ sobre X0 ÐBÑ Ð0 ÐY ÑÑ, e portanto uma
aplicação linear injectiva. …
II.4.24 O resultado precedente poderia levar-nos a acreditar que uma imersão
fosse obrigatoriamente um difeomorfismo sobre a sua imagem. Tal não é o
caso, como decorre das duas observações seguintes:
a) Uma imersão, embora seja sempre localmente injectiva, pode não ser uma
aplicação injectiva. Para nos convencermos disso, basta pensar, por exemplo,
na aplicação 0 À ‘ Ä ‘# definida por 0 Ð>Ñ œ ÐcosÐ>Ñß sinÐ>ÑÑ, que é uma
imersão periódica, com período #1.
b) Uma imersão, mesmo que seja injectiva, pode não ser um difeomorfismo
sobre a sua imagem. Um exemplo clássico desta situação é o da aplicação do
intervalo Ó!ß #1Ò para ‘# , que a > associa ÐsinÐ>Ñß sinÐ#>ÑÑ, que é uma imersão
suave e injectiva, cuja imagem é a figura oito (este exemplo será examinado
com mais cuidado na alínea d) de VI.5.13). Esta imersão injectiva não é um
difeomorfismo sobre a sua imagem, nem sequer um homeomorfismo, como
se reconhece, por exemplo, se repararmos que a imagem é compacta, sem
que o domínio o seja. Veremos adiante, em II.4.26, que uma imersão
injectiva que seja um homeomorfismo é automaticamente também um
§4. Variedades sem bordo 123

difeomorfismo.

0.5

0.5

Figura 2

II.4.25 Sejam Q § I variedade sem bordo e 0 À Q Ä I s uma imersão. Sejam K


um espaço vectorial de dimensão finita, G § K um subconjunto arbitrário e
1À G Ä Q uma aplicação contínua, tal que a composta 0 ‰ 1À G Ä I s seja de
classe G . Tem-se então que a aplicação 1À G Ä Q é de classe G .
: :

Dem: Seja D! − G arbitrário. Por II.4.23, podemos considerar um aberto Y


de Q , com 1ÐD! Ñ − Y , tal que a restrição 0ÎY seja um difeomorfismo de Y
sobre 0 ÐY Ñ. Pela continuidade de 1, podemos considerar um aberto [ de G ,
com D! − [ , tal que 1Ð[ Ñ § Y . Tem-se então que a restrição de 1 a [ é de
classe G : , por ser a composta da restrição da aplicação de classe G : 0 ‰ 1 a
[ , com o difeomorfismo de 0 ÐY Ñ sobre Y , inverso da restrição de 0 a Y . O
facto de a noção de aplicação G : ser local implica finalmente que 1À G Ä Q
é uma aplicação de classe G : . …
II.4.26 (Corolário) Sejam Q § I variedade sem bordo e 0 À Q Ä I s uma
imersão que seja um homeomorfismo de Q sobre 0 ÐQ Ñ. Tem-se então que
0 é um difeomorfismo de Q sobre 0 ÐQ Ñ, em particular, 0 ÐQ Ñ é também
uma variedade sem bordo.
Dem: Tendo em conta o resultado precedente, a aplicação contínua de 0 ÐQ Ñ
sobre Q , inversa de 0 , é também suave, por isso acontecer à sua composta
s.
com 0 , igual à inclusão de 0 ÐQ Ñ em I …
II.4.27 (Fotografia duma subvariedade) Seja ÐQ s ß B! Ñ uma variedade sem bor-
do, com dimensão 8, e seja Q § Q s tal que B! − Q e que ÐQ ß B! Ñ seja uma
variedade sem bordo, com dimensão 7. Existem então espaços vectoriais J
e K, com dimensões 7 e 8  7, respectivamente, conjuntos abertos Y s de
s s
Q , com B! − Y , Z de J , com ! − Z , e [ de K , com ! − [ , e um
difeomorfismo <À Z ‚ [ Ä Y s , tal que <Ð!ß !Ñ œ B! e que
124 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

s  Q Ñ œ ÖÐCß DÑ − Z ‚ [ ± D œ !×.
<" ÐY

Dem: Aplicando o teorema da imersão em variedades sem bordo à inclusão


+À Q Ä Q s , podemos considerar espaços vectoriais J e K , com dimensões
7 e 8  7, abertos Y s w de Q s e Y w de Q , com B! − Y w § Ys w , abertos Z w de
J , com ! − Z w , e [ w de K , com ! − [ w , e difeomorfismos :À Z w Ä Y w e
<w À Z w ‚ [ w Ä Ys w, tais que :Ð!Ñ œ B! , <w Ð!ß !Ñ œ B! , e
"
< ‰ :À Z Ä Z ‚ [ esteja definida por C È ÐCß !Ñ. A ideia é mostrar
w w w w

agora que <w verifica quase a propriedade do enunciado (as plicas são por
causa do quase) e verificar em seguida que com uma restrição conveniente
de <w temos o problema resolvido. Em primeiro lugar, se ÐCß DÑ − Z w ‚ [ w é
tal que D œ !, vem <w ÐCß DÑ œ <w Ð<w " ‰ :ÐCÑÑ œ :ÐCÑ − Y w § Q pelo que
tudo o que seria necessário mostrar era que, se ÐCß DÑ − Z w ‚ [ w é tal que
<w ÐCß DÑ − Q , então D œ !. Isto, infelizmente, pode ser falso, pelo que vamos
tentar reduzir os abertos de modo a deitar fora os pontos pirata (cf. figura 3).

Figura 3

O facto de Y w ser aberto em Q implica a existência de um aberto Y˜ de Q s,


w ˜
tal que Y œ Q  Y . A continuidade de < no ponto Ð!ß !Ñ implica a
w

existência de abertos Z de J , com ! − Z § Z w , e [ de K , com


! − [ § [ w , tais que <w ÐZ ‚ [ Ñ § Y˜ . Seja Y s œ <w ÐZ ‚ [ Ñ, que é um
aberto de Q s contendo B! e contido em Y˜  Y s w e seja <À Z ‚ [ Ä Ys o
difeomorfismo restrição de < . É claro que, por < ser restrição de <w , se
w

ÐCß DÑ − Z ‚ [ é tal que D œ !, então <ÐCß DÑ − Q . Reciprocamente, se


ÐCß DÑ − Z ‚ [ é tal que <ÐCß DÑ − Q , vem <ÐCß DÑ − Q  Y˜ œ Y w , donde
a existência de Cw − Z w tal que <ÐCß DÑ œ :ÐC w Ñ; podemos então escrever
<w ÐCß DÑ œ <ÐCß DÑ œ :ÐC w Ñ œ <w ÐC w ß !Ñ,
pelo que a injectividade de <w implica que ÐCß DÑ œ ÐC w ß !Ñ, em particular
D œ !, o que termina a demonstração. …

Intuitivamente, e por definição, uma variedade sem bordo é uma coisa


torta que admite localmente fotografias direitas (abertos de espaços
§4. Variedades sem bordo 125

vectoriais). O ponto fundamental na proposição anterior é que, quando


temos uma variedade sem bordo contida noutra, podemos tomar uma
fotografia direita da variedade grande de modo que a parte da variedade
pequena que está nessa fotografia é ainda direita. A fotografia não serve
só para estudar a variedade pequena; ela descreve também o modo como
esta está metida na variedade maior.
Passamos agora a estabelecer algumas consequências importantes do
teorema da submersão.

II.4.28 Sejam ÐQ ß B! Ñ e ÐQs ß C! Ñ duas variedades sem bordo e 0 À Q Ä Q s uma


aplicação suave, tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . São então equivalentes as duas proprie-
dades seguintes:
a) A aplicação 0 é uma submersão em B! ;
b) Existe um aberto Y s de Q s , com C! − Y s , e uma aplicação suave
s
1À Y Ä Q , tal que 1ÐC! Ñ œ B! e que, para cada C − Y s , 0 Ð1ÐCÑÑ œ C .33
Além disso, quando estas propriedades se verificarem, para cada vizinhança
E de B! em Q , 0 ÐEÑ é uma vizinhança de C! em Q s.
Dem: Supondo verificada a condição b), obtemos por derivação de ambos os
membros da identidade 0 Ð1ÐCÑÑ œ C ,
H0B! ‰ H1C! œ M.XC s Ñ,
ÐQ
!

o que implica trivialmente que a aplicação linear H0B! é sobrejectiva.


Suponhamos, reciprocamente, que H0B! é uma aplicação linear sobrejectiva.
Pelo teorema da submersão para variedades sem bordo, vão existir abertos Y
de Q , com B! − Y e Y s de Qs , com C! − Y
s , espaços vectoriais de dimensão
s s s
finita J e K , abertos Z de J , com ! − Z s , e [ de K , com ! − [ , e
difeomorfismos :À Z s ‚ [ Ä Y e <À Z s ÄY s , verificando as condições
:Ð!ß !Ñ œ B! e <Ð!Ñ œ C! , de modo que 0 ÐY Ñ œ Y s e que a composição
s s
< ‰ 0ÎY ‰ :À Z ‚ [ Ä Z esteja definida por ÐC ß DÑ È C w . Podemos então
" w

s Ä Q , definida por
considerar a aplicação suave 1À Y
1ÐCÑ œ :Ð<" ÐCÑß !Ñ,
a qual verifica 1ÐC! Ñ œ B! e
0 Ð1ÐCÑÑ œ <Ð<" Ð0 Ð:Ð<" ÐCÑß !ÑÑÑÑ œ <Ð<" ÐCÑÑ œ C .
Para provarmos a última afirmação do enunciado basta vermos que 0 ÐQ Ñ é
uma vizinhança de C! em Q s , visto que, se E for uma vizinhança de B! em
Q , podemos aplicar a referida conclusão à restrição de 0 a E, que ainda
verifica evidentemente a propriedade a) do enunciado. Ora o facto de 0 ÐQ Ñ

33Costuma-se traduzir esta última condição dizendo que 1 é uma secção suave de 0 sobre
s.
o aberto Y
126 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

ser uma vizinhança de C! em Q s é uma consequência de C! pertencer ao


s
aberto Y œ 0 ÐY Ñ, que está contido em 0 ÐQ Ñ. …
II.4.29 A última afirmação do resultado precedente pode ser reenunciada
dizendo que 0 é uma aplicação aberta no ponto B! .
Em geral, diz-se que uma aplicação 0 À Q Ä Q s , entre dois espaços
topológicos, é aberta no ponto B! − Q se, para cada vizinhança E de B! ,
0 ÐEÑ é uma vizinhança de 0 ÐB! Ñ, ou, o que é equivalente, se, para cada
aberto Y de Q , com B! − Y , 0 ÐY Ñ é uma vizinhança de 0 ÐB! Ñ. Em
particular, as aplicações abertas 0 À Q Ä Q s , isto é, as aplicações 0 com a
s
propriedade de 0 ÐY Ñ ser aberto em Q , para cada aberto Y de Q , são
precisamente as aplicações que são abertas em todos os pontos de Q .
II.4.30 (Corolário) Se Q e Qs são variedades sem bordo e se 0 À Q Ä Q
s é uma
submersão, então 0 é uma aplicação aberta.
II.4.31 Sejam Q § I e Q s §I s variedades sem bordo e 0 À Q Ä Q s uma
submersão sobrejectiva. Se L é um espaço vectorial de dimensão finita,
G § L um subconjunto e 2À Q s Ä G é uma aplicação tal que a composta
2 ‰ 0 À Q Ä G seja de classe G : , então 2À Qs Ä G é de classe G : .
Dem: Seja C! − Q s arbitrário. O facto de 0 ser sobrejectiva implica a
existência de B! − Q , tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Deduzimos então, de II.4.28, a
existência de um aberto Y s de Q s , com C! − Y
s , e de uma aplicação suave
s
1À Y Ä Q , tal que 1ÐC! Ñ œ B! e que, para cada C − Y s , 0 Ð1ÐCÑÑ œ C .
s
Concluímos daqui que a restrição de 2 a Y é G , por ser a composta das
:

aplicações G : 2 ‰ 0 À Q Ä G e 1À Y s Ä Q . O facto de a noção de aplicação


s Ä G é de classe G : . …
de classe G : ser local garante finalmente que 2À Q
II.4.32 (Construção de variedades como imagens recíprocas) Sejam ÐQ ß B! Ñ
e ÐQs ß C! Ñ variedades sem bordo, com dimensões 7 e 8, respectivamente, e
0À Q Ä Q s uma submersão no ponto B! tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Seja
w
s
C! − Q § Q s , tal que ÐQs w ß C! Ñ seja uma variedade sem bordo, com
dimensão 8w . Sendo então
s w Ñ œ ÖB − Q ± 0 ÐBÑ − Q
Q w œ 0 " ÐQ s w ×,

tem-se que ÐQ w ß B! Ñ é uma variedade sem bordo, com dimensão


7  Ð8  8w Ñ e XB! ÐQ w Ñ é o conjunto dos ? − XB! ÐQ Ñ tais que
H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ s w Ñ.
Dem: Tendo em conta o teorema da submersão em variedades sem bordo,
podemos considerar abertos Y de Q , com B! − Y , e Y s de Qs , com C! − Y s,
espaços vectoriais de dimensões 8 e 7  8, J s e K , abertos Z s de Js , com
!−Z s , e [ de K , com ! − [ , e difeomorfismos :À Z s ‚[ ÄY e
s ÄY
<À Z s , verificando :Ð!ß !Ñ œ B! e <Ð!Ñ œ C! , de modo que 0 ÐY Ñ œ Y s e
s s
que a aplicação composta < ‰ 0ÎY ‰ :À Z ‚ [ Ä Z esteja definida por
"
§4. Variedades sem bordo 127

ÐC w ß DÑ È C w .
ÐCw ßDÑÈCw
s ‚ [ qqqqqp
Z s
Z

: ºl ºl <
l l

Æ Æ
Y qqqqqp s
Y
0ÎY

s ‚ [ , tendo-se, por
Para cada B − Y , vem B œ :ÐC w ß DÑ, com ÐC w ß DÑ − Z
w
s
definição, B − Q se, e só se, 0 ÐBÑ − Q , ou, por outras palavras se, e só se,
w

sw  Y
Cw œ <" Ð0 Ð:ÐC w ß DÑÑÑ − <" ÐQ s Ñ.
O facto de < ser um difeomorfismo e de Q sw  Y s w,
s ser um aberto de Q
w
s Y
contendo C! , implica que <" ÐQ s Ñ é no ponto ! uma variedade sem
bordo com dimensão 8 . O que vimos atrás mostra-nos que
w

w
s Y
:" ÐQ w  Y Ñ œ <" ÐQ sÑ ‚ [,

pelo que :" ÐQ w  Y Ñ é no ponto Ð!ß !Ñ uma variedade sem bordo com
dimensão 8w  Ð7  8Ñ. O facto de : ser um difeomorfismo implica agora
que Q w  Y , e portanto também Q w , é no ponto B! uma variedade sem bordo
com dimensão 8w  Ð7  8Ñ œ 7  Ð8  8w Ñ. Provemos por fim a afirmação
relativa aos vectores tangentes. O facto de se ter Q w § Q implica
trivialmente que XB! ÐQ w Ñ § XB! ÐQ Ñ. Dado ? − XB! ÐQ Ñ, o facto de H:Ð!ß!Ñ
ser um isomorfismo de J s ‚ K sobre XB! ÐQ Ñ, que aplica o espaço vectorial
" s w s
XÐ!ß!Ñ Ð< ÐQ  Y Ñ ‚ [ Ñ sobre XB! ÐQ w Ñ, implica que se pode escrever
? œ H:Ð!ß!Ñ Ð@ß AÑ, com Ð@ß AÑ − J s ‚ K , e que se tem então ? − XB! ÐQ w Ñ se,
e só se
sw  Y
Ð@ß AÑ − XÐ!ß!Ñ Ð<" ÐQ sw  Y
s Ñ ‚ [ Ñ œ X! Ð<" ÐQ s ÑÑ ‚ K ,

isto é, se, e só se, @ − X! Ð<" ÐQ sw  Y


s ÑÑ, o que é ainda equivalente, tendo
em conta o facto de < ser um difeomorfismo, à condição de se ter
H<! Ð@Ñ − XC! ÐQ s w Ñ. Mas, o facto de <" ‰ 0ÎY ‰ : ser a aplicação definida
por ÐC w ß DÑ È C w implica que
@ œ HÐ<" ‰ 0ÎY ‰ :ÑÐ!ß!Ñ Ð@ß AÑ œ
œ ÐH<! Ñ" ÐH0B! ÐH:Ð!ß!Ñ Ð@ß AÑÑÑ œ
œ ÐH<! Ñ" ÐH0B! Ð?ÑÑ

pelo que o que dissemos atrás mostra que se tem ? − XB! ÐQ w Ñ se, e só se,
s w Ñ.
H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ …
128 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Veremos adiante que, no quadro da proposição precedente, a hipótese de


0 ser uma submersão em B! pode, em certos casos, ser substituída por
uma hipótese mais fraca (a condição de transversalidade).
Uma maneira mais simples de nos lembrarmos da fórmula para a
dimensão da imagem recíproca é utilizar o conceito de codimensão.
Chama-se codimensão de uma subvariedade a diferença entre a dimensão
da variedade ambiente e a da variedade em questão. Vemos portanto que,
nas condições da proposição anterior, a codimensão de Q w na variedade
Q é igual à codimensão de Q s w na variedade Q s.
Reparemos também que, no quadro da proposição precedente, é simples
recordar a caracterização dos vectores tangentes a Q w em B! : O facto de
se ter Q w § Q implica trivialmente que todo o vector tangente a Q w em
B! é também tangente a Q em B! e o facto de a restrição de 0 aplicar Q w
em Q s w implica que H0B! aplica XB! ÐQ w Ñ em XC! ÐQ
s w Ñ. Tudo o que temos
que lembrar é que o teorema afirma que estas condições necessárias para
um vector pertencer a XB! ÐQ Ñ são também suficientes.
Como exemplo de aplicação do resultado precedente, apresentamos a
seguir uma prova simples de que as hipersuperfícies esféricas são varie-
dades, assim como uma caracterização dos respectivos espaços vectoriais
tangentes.

II.4.33 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8   ", B! − I e <  ! e


consideremos a hipersuperfície esférica W< ÐB! Ñ § I , de centro B! e raio <,
W< ÐB! Ñ œ ÖB − I ± mB  B! m œ <×.
Tem-se então que W< ÐB! Ñ é uma variedade sem bordo com dimensão 8  " e,
para cada B − W< ÐB! Ñ,
XB ÐW< ÐB! ÑÑ œ Ö? − I ± ØB  B! ß ?Ù œ !×.34

Dem: Seja 0 À I Ä ‘ a aplicação suave definida por 0 ÐBÑ œ


ØB  B! ß B  B! Ù, para a qual se tem H0B Ð?Ñ œ #ØB  B! ß ?Ù. Vemos
portanto que, para cada B Á B! , H0B À I Ä ‘ é uma aplicação linear
sobrejectiva (H0B ÐB  B! Ñ œ mB  B! m# Á ! e uma aplicação linear com
valores em ‘, que não seja identicamente nula é sobrejectiva), em particular,
isso acontece para cada B − W< ÐB! Ñ. Uma vez que I e ‘, sendo espaços
vectoriais, são trivialmente variedades sem bordo com dimensões 8 e ",
respectivamente, e que o conjunto unitário Ö<# × é evidentemente uma
variedade de dimensão !, o resultado precedente garante-nos que W< ÐB! Ñ é
em todos os pontos uma variedade sem bordo com dimensão 8  " e que,
para cada B − W< ÐB! Ñ, XB ÐW< ÐB! ÑÑ é o conjunto dos vectores ? − I tais que
ØB  B! ß ?Ù œ !. …
II.4.34 Um caso particular de II.4.32, que se encontra frequentemente na prática
é aquele em que Q s w é o conjunto unitário ÖC! ×,
s œ ‘8 , C! œ Ð," ß á ß ,8 Ñ e Q

34Os vectores tangentes são portanto, neste caso, aqueles que são perpendiculares ao raio.
§4. Variedades sem bordo 129

portanto uma variedade sem bordo com dimensão !. Nesse caso, a aplicação
suave 0 À Q Ä ‘8 vai ter 8 componentes, que são as aplicações suaves
0" ß á ß 08 À Q Ä ‘ definidas por
0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß á ß 08 ÐBÑÑ,
e o conjunto Q w vai ser o conjunto dos pontos B − Q tais que se tenha
0" ÐBÑ œ ," , 0# ÐBÑ œ ,# ß á ß 08 ÐBÑ œ ,8 , ou seja, vai ser o conjunto das
soluções de um sistema de equações. Concluímos portanto que, se ÐQ ß B! Ñ é
uma variedade sem bordo com dimensão 7, o conjunto das soluções de um
sistema de 8 equações (verificadas pelo elemento B! ) vai ser em B! uma
variedade sem bordo com dimensão 7  8,35 isto se se verificar a hipótese
fundamental de a derivada H0B! ser uma aplicação linear sobrejectiva de
XB! ÐQ Ñ sobre ‘8 .36
Esta hipótese fundamental pode ser enunciada, de modo equivalente, em
termos das derivadas em B! das aplicações componentes 04 À Q Ä ‘,
4 œ "ß á ß 8, com a exigência de que as aplicações lineares
H0" ÐB! Ñß H0# ÐB! Ñß á ß H08 ÐB! ÑÀ XB! ÐQ Ñ Ä ‘

sejam elementos linearmente independentes de PÐXB! ÐQ Ñà ‘Ñ, o que traduz,


ao menos intuitivamente, a ideia que as diferentes equações devem ser inde-
pendentes junto de B! . O facto de estes dois enunciados da hipótese
fundamental serem realmente equivalentes é uma consequência imediata do
lema de Álgebra Linear que enunciamos em seguida.
II.4.35 (Lema de Álgebra Linear) Sejam I um espaço vectorial real de
dimensão 7, -À I Ä ‘8 uma aplicação linear e -" ß á ß -8 À I Ä ‘ as
aplicações lineares componentes, definidas por
-Ð?Ñ œ Ð-" Ð?Ñß á ß ß -8 Ð?ÑÑ.
Tem-se então que - é uma aplicação linear sobrejectiva se, e só se, as
aplicações lineares -" ß á ß -8 forem elementos linearmente independentes de
PÐIà ‘Ñ.
Dem: Consideremos em ‘8 o produto interno usual. As aplicações lineares
-" ß á ß -8 são linearmente dependentes se, e só se, existirem números reais
+" ß á ß +8 , não todos nulos, tais que, para cada ? − I ,
+" -" Ð?Ñ  â  +8 -8 Ð?Ñ œ !,
isto é, tal que Ð+" ß á ß +8 Ñ seja um vector de ‘8 ortogonal ao subespaço
vectorial -ÐIÑ de ‘8 . Por outras palavras, aquelas aplicações lineares são
linearmente dependentes se, e só se, o complementar ortogonal do subespaço

35Portanto a codimensão é igual ao número de equações.


36É evidente que teria que haver alguma hipótese restritiva,
sem o que nada nos impedia
de escrever duas vezes a mesma equação, o que não alterava em nada o conjunto das
soluções.
130 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

vectorial -ÐIÑ de ‘8 for não nulo, o que é equivalente a dizer que


-ÐIÑ Á ‘8 . …

Vamos agora estabelecer uma generalização do resultado sobre a cons-


trução de variedades como imagens recíprocas, onde a hipótese de a
derivada de 0 em B! ser sobrejectiva é substituída por uma hipótese em
geral mais fraca. Começamos para isso por estabelecer um lema.

II.4.36 (Lema) Seja ÐQ s ß C! Ñ uma variedade sem bordo com dimensão 8 e seja
w
C! − Qs §Q s tal que ÐQ s w ß C! Ñ seja uma variedade sem bordo com dimensão
8w . Existe então um aberto Y s de Q s , com C! − Y s Ä ‘88w ,
s , e 1À Y
submersão no ponto B! tal que 1ÐC! Ñ œ !, de modo que se tenha
sw  Y
Q s œ ÖC − Y
s ± 1ÐCÑ œ !×.

Por outras palavras, toda a subvariedade pode ser definida localmente por um
sistema de equações, verificando a hipótese de independência referida em
II.4.34.
Dem: Este lema vai ser uma consequência do resultado sobre fotografia
duma subvariedade referido em II.4.27. Esse resultado permite-nos
considerar espaços vectoriais J e K , com dimensões 8w e 8  8w , conjuntos
abertos Ys de Q s , com C! − Y
s , Z de J , com ! − Z , e [ de K , com ! − [ ,
e um difeomorfismo <À Z ‚ [ Ä Y s tal que <Ð!ß !Ñ œ C! e que
" s w s Ñ seja o conjunto dos ÐC ß DÑ − Z ‚ [ tais que D œ !. Podemos
w
< ÐQ  Y
então considerar a aplicação suave s1À Y s Ä K , composta do difeomorfismo
" s
< À Y Ä Z ‚ [ com a segunda projecção 1# À Z ‚ [ Ä [ § K . Tem-se
s1ÐC! Ñ œ !, a aplicação linear H1 sC! é sobrejectiva, como composta da
aplicação linear sobrejectiva 1# À J ‚ K Ä K com o isomorfismo
s Ñ Ä J ‚ K,
HÐ<" ÑC! À XC! ÐQ

e Qsw  Ys vai ser o conjunto dos C − Ys tais que s1ÐCÑ œ !. Por fim, para
88w
substituir K por ‘ , basta tomar para 1 a composta de s1 com um
w
isomorfismo .À K Ä ‘88 . …
II.4.37 (Versão mais geral do resultado sobre construção de variedades
como imagens recíprocas) Sejam ÐQ ß B! Ñ e ÐQ s ß C! Ñ variedades sem bordo,
com dimensões 7 e 8, respectivamente e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave
w w
s §Q
tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Seja C! − Q s tal que ÐQs ß C! Ñ seja uma variedade
sem bordo, com dimensão 8w e suponhamos verificada a seguinte condição
de transversalidade:
w
s Ñ œ XC! ÐQ
H0B! ÐXB! ÐQ ÑÑ  XC! ÐQ sÑ

(trata-se da simples soma de subespaços vectoriais, não obrigatoriamente


§4. Variedades sem bordo 131

uma soma directa).37 Sendo então


w w
s Ñ œ ÖB − Q ± 0 ÐBÑ − Q
Q w œ 0 " ÐQ s ×,

tem-se que ÐQ w ß B! Ñ é uma variedade sem bordo, com dimensão


7  Ð8  8w Ñ e
s w Ñ×.
XB! ÐQ w Ñ œ Ö? − XB! ÐQ Ñ ± H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ

Dem: Pelo lema anterior, podemos considerar um aberto Y s de Q


s , com
C! − Ys , e uma aplicação suave 1À Y s Ä ‘88w , tal que 1ÐC! Ñ œ ! e que
s Ñ Ä ‘88w seja sobrejectiva, de modo que, para cada C − Y
H1C! À XC! ÐQ s , se
w
tenha C − Q s se, e só se, 1ÐCÑ œ !, resultando então de II.4.32 que

s w Ñ œ Ö@ − XC! ÐQ
XC! ÐQ s Ñ ± H1C! Ð@Ñ œ !×.

Pela continuidade de 0 , podemos considerar um aberto Y de Q , com


s . Seja s0 œ 1 ‰ 0ÎY , que é uma aplicação suave de
B! − Y , tal que 0 ÐY Ñ § Y
w
Y em ‘88 , verificando s0 ÐB! Ñ œ !, e reparemos que, para cada B − Y ,
tem-se B − Q w se, e só se, s0 ÐBÑ œ !, por outras palavras,
"
Q w  Y œ s0 ÐÖ!×Ñ œ ÖB − Y ± s0 ÐBÑ œ !×.
Vamos agora verificar que a condição de transversalidade implica que a apli-
cação linear H0 s B À XB! ÐQ Ñ Ä ‘88w é sobrejectiva. Ora, dado A − ‘88w
!

arbitrário, podemos escolher @w − XC! ÐQ s Ñ tal que H1C! Ð@w Ñ œ A e a condição


de transversalidade implica a existência de ? − XB! ÐQ Ñ e de @ww − XC! ÐQ s wÑ
tais que @w œ H0B! Ð?Ñ  @ww ; tem-se então H1C! Ð@ww Ñ œ !, pelo que
s B Ð?Ñ.
A œ H1C! Ð@w Ñ œ H1C! ‰ H0B! Ð?Ñ  H1C! Ð@ww Ñ œ H0 !

Podemos agora aplicar II.4.32 para garantir que Q w  Y , e portanto Q w , é,


no ponto B! , uma variedade sem bordo, com dimensão 7  Ð8  8w Ñ, e que
XB! ÐQ w Ñ é o conjunto dos ? − XB! ÐQ Ñ tais que
s B Ð?Ñ œ !,
H1C! ÐH0B! Ð?ÑÑ œ H0 !

w
s Ñ.
isto é, tais que se tenha H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ …
s ß C! Ñ uma variedade sem bordo, com dimensão 8 e
II.4.38 (Corolário) Sejam ÐQ
Q e Q dois subconjuntos de Q
w s , contendo C! , e tais que ÐQ ß C! Ñ e ÐQ w ß C! Ñ
sejam variedades sem bordo, com dimensões 7 e 7w , respectivamente.

37É claro que esta condição se encontra automaticamente verificada no caso em que a
s Ñ é sobrejectiva, as duas condições sendo equi-
aplicação linear H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä XC! ÐQ
w
s
valentes no caso em que Q é o conjunto unitário ÖC! ×.
132 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Supondo verificada a condição de transversalidade


XC! ÐMÑ  XC! ÐM w Ñ œ XC! ÐM
s Ñ,

tem-se então que a intersecção Q  Q w é, no ponto C! , uma variedade sem


bordo, com dimensão 7  7w  8, e
XC! ÐQ  Q w Ñ œ XC! ÐQ Ñ  XC! ÐQ w Ñ.
s , repa-
Dem: Basta aplicarmos o resultado precedente à inclusão +À Q w Ä Q
rando que Q  Q w é a imagem recíproca de Q por meio desta inclusão. …

Examinamos agora outro resultado que se revela frequentemente útil para


provar que certos conjuntos são variedades sem bordo

II.4.39 (Segundo teorema da submersão) Sejam I e J espaços vectoriais de


dimensão finita, B! − Q § I , tal que ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade sem
bordo, C! − E § J e 0 À Q Ä E uma submersão no ponto B! tal que
0 ÐB! Ñ œ C! . Tem-se então que ÐEß C! Ñ é uma variedade sem bordo.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias alíneas:
a) Fixemos produtos internos em I e J e seja K œ XC! ÐEѼ . Vamos provar
nesta alínea a existência de um aberto Y de Q , com B! − Y , e de um aberto
Z de K, com ! − Z , tais que, para cada ÐBß DÑ − Y ‚ Z se tenha
0 ÐBÑ  D − E Í D œ !.
Suponhamos, com efeito, que isso não acontecia. Considerando para Y e Z
bolas abertas de Q e K com centros B! e ! e raio 8" , concluíamos a
existência de sucessões de elementos B8 − Q , com B8 Ä B! , e D8 − K , com
D8 Ä !, tais que D8 Á ! e 0 ÐB8 Ñ  D8 − E. Uma vez que o conjunto dos
vectores de K com norma " é fechado e limitado, e portanto compacto,
podíamos já supor, se necessário tomando subsucessões, que existia D − K ,
com mDm œ ", tal que mDD88 m Ä D . Podíamos então considerar as sucessões de
elementos 0 ÐB8 Ñ  D8 e 0 ÐB8 Ñ de E, ambas convergentes para 0 ÐB! Ñ œ C! , e
de reais estritamente positivos mD"8 m , para as quais se tinha
"
ÐÐ0 ÐB8 Ñ  D8 Ñ  0 ÐB8 ÑÑ Ä D ,
mD8 m
o que implicava que D − t C! ÐEÑ § XC! ÐEÑ, uma contradição, tendo em conta
o facto de se ter XC! ÐEÑ  K œ Ö!×.
b) Seja 1À Y ‚ Z Ä J a aplicação suave definida por
1ÐBß DÑ œ 0 ÐBÑ  D.
Vamos verificar que a derivada H1ÐB! ß!Ñ À XB! ÐQ Ñ ‚ K Ä J é sobrejectiva.
Com efeito, dado - − J , podemos escrever - œ +  , , com + − XC! ÐEÑ e
§4. Variedades sem bordo 133

, − K e existe então ? − XB! ÐQ Ñ tal que H0B! Ð?Ñ œ +, vindo então


H1ÐB! ß!Ñ Ð?ß ,Ñ œ H0B! Ð?Ñ  , œ - .

c) Tendo em conta II.4.28, podemos concluir que existe um aberto [ de J ,


com C! − [ e uma aplicação suave 2À [ Ä Y ‚ Z tal que 2ÐC! Ñ œ ÐB! ß !Ñ
e que, para cada C − [ , 1Ð2ÐCÑÑ œ C . Por outras palavras, sendo
2" À [ Ä Y e 2# À [ Ä Z as aplicações suaves componentes de 2 , definidas
por 2ÐCÑ œ Ð2" ÐCÑß 2# ÐCÑÑ, tem-se 2" ÐC! Ñ œ B! , 2# ÐC! Ñ œ ! e, para cada
C − [ , 0 Ð2" ÐCÑÑ  2# ÐCÑ œ C .
d) Vamos mostrar que a derivada H2#C! À J Ä K é sobrejectiva.
Ora, por derivação da identidade 0 Ð2" ÐCÑÑ  2# ÐCÑ œ C , obtemos, para cada
A − J,
A œ H0B! ÐH2" C! ÐAÑÑ  H2# C! ÐAÑ,

com H0B! ÐH2" C! ÐAÑÑ − XC! ÐEÑ e H2# C! ÐAÑ − K œ XC! ÐEѼ , o que mostra
que H2#C! ÐAÑ é a projecção ortogonal de A sobre K, em particular, se
A − K, A œ H2#C! ÐAÑ.
e) Para cada C − [ , o facto de se ter C œ 0 Ð2" ÐCÑÑ  2# ÐCÑ, com 2" ÐCÑ − Y
e 2# ÐCÑ − Z , implica, pelo que vimos em a), que C − E se, e só se,
2# ÐCÑ œ !. O teorema de construção de variedades como imagens recíprocas
garante agora que [  E, e portanto E, é no ponto C! uma variedade sem
bordo. …

Apresentamos em seguida um primeiro exemplo de aplicação do resultado


precedente. Outros exemplos aparecerão na próxima secção.

II.4.40 (Teorema da aplicação idempotente) Sejam Q § I uma variedade


sem bordo e 0 À Q Ä Q uma aplicação suave idempotente, isto é, tal que
0 ‰ 0 œ 0 . Tem-se então que
0 ÐQ Ñ œ ÖB − Q ± 0 ÐBÑ œ B×
é uma variedade sem bordo e, para cada B − 0 ÐQ Ñ,
XB Ð0 ÐQ ÑÑ œ H0B ÐXB ÐQ ÑÑ œ Ö? − XB ÐQ Ñ ± H0B Ð?Ñ œ ?×.

Dem: Comecemos por notar que ÖB − Q ± 0 ÐBÑ œ B× está evidentemente


contido em 0 ÐQ Ñ e que a inclusão oposta resulta de que, se C − 0 ÐQ Ñ,
tem-se C œ 0 ÐBÑ, para um certo B − Q , donde 0 ÐCÑ œ 0 Ð0 ÐBÑÑ œ 0 ÐBÑ œ C .
Por derivação da identidade 0 ‰ 0 œ 0 , deduzimos que, para cada
B − 0 ÐQ Ñ, H0B ‰ H0B œ H0B e portanto, como anteriormente,
H0B ÐXB ÐQ ÑÑ œ Ö? − XB ÐQ Ñ ± H0B Ð?Ñ œ ?×.
O facto de, para cada B − 0 ÐQ Ñ se ter 0 ÐBÑ œ B implica, por derivação, que,
para cada ? − XB Ð0 ÐQ ÑÑ § XB ÐQ Ñ, tem-se H0B Ð?Ñ œ ?, em particular ?
134 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

pertence à imagem de H0B À XB ÐQ Ñ Ä XB Ð0 ÐQ ÑÑ. Podemos agora aplicar o


segundo teorema da submersão para garantir que 0 ÐQ Ñ é uma variedade em
B e que XB Ð0 ÐQ ÑÑ œ H0B ÐXB ÐQ ÑÑ. …

Vamos terminar esta secção com o estudo de outra consequência do


teorema da função inversa, do mesmo tipo que os teoremas da imersão e
da submersão. Este resultado, embora importante, não será utilizado no
resto deste trabalho.

II.4.41 (Teorema da característica constante) Seja B! − Q § I tal que


ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade sem bordo, com dimensão 7. Sejam I s um
s
espaço vectorial de dimensão 8 e 0 À Q Ä I uma aplicação suave tal que
todos os subespaços vectoriais H0B ÐXB ÐQ ÑÑ de I s tenham a mesma
w 38
dimensão 8 . Existe então um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que 0 ÐY Ñ
seja uma variedade sem bordo com dimensão 8w .
Dem: Compondo 0 com um difeomorfismo local conveniente, ficamos redu-
zidos a provar o resultado no caso em que Q é um aberto dum espaço
vectorial J de dimensão 7, B! œ ! e, para cada B − Q , H0B ÐJ Ñ é um
s.
subespaço vectorial de dimensão 8w de I
Seja K § J o subespaço vectorial de dimensão 7  8w
K œ Ö? − J ± H0! Ð?Ñ œ !×
e seja 1À J Ä K uma aplicação linear tal que, para cada ? − K , 1Ð?Ñ œ ?
(por exemplo, a projecção ortogonal de J sobre K, relativamente a um
produto interno que se considere em J ). Do mesmo modo, seja
1 s Ä H0! ÐJ Ñ uma aplicação linear tal que, para cada @ − H0! ÐJ Ñ,
sÀ I
sÐ@Ñ œ @. Sendo então
1
s±1
L œ Ö@ − I sÐ@Ñ œ !×,
s , vai ter lugar a soma
que é um subespaço vectorial de dimensão 8  8w de I
directa
s œ H0! ÐJ Ñ Š L ,
I

em que a projecção associada de I s sobre H0! ÐJ Ñ é precisamente 1 s


(@ œ 1 sÐ@ÑÑ, onde se tem 1
sÐ@Ñ  Ð@  1 sÐ@ÑÑ œ !). Consideremos agora
sÐ@  1
a aplicação suave :À Q Ä H0! ÐJ Ñ ‚ K definida por
sÐ0 ÐBÑÑß 1ÐBÑÑ.
:ÐBÑ œ Ð1
Vem :Ð!Ñ œ ÐC! ß !Ñ, com C! œ 1sÐ0 Ð!ÑÑ, e a derivada H:! À J Ä
H0! ÐJ Ñ ‚ G está definida por

38Por outras palavras, H0B tem característica constante 8w .


§4. Variedades sem bordo 135

sÐH0! Ð?ÑÑß 1Ð?ÑÑ œ ÐH0! Ð?Ñß 1Ð?ÑÑ.


H:! Ð?Ñ œ Ð1

Se ? − J é tal que H:! Ð?Ñ œ !, tem-se, olhando a primeira componente,


H0! Ð?Ñ œ !, logo ? − K, e então, olhando a segunda componente,
! œ 1Ð?Ñ œ ?. Ficou portanto provado que H:! é uma aplicação linear
injectiva, logo um isomorfismo, visto que J e H0! ÐJ Ñ ‚ K têm a mesma
dimensão 7. Podemos agora aplicar o teorema da função inversa para
garantir a existência de um aberto Y de Q , com ! − Y , tal que a restrição :
de : seja um difeomorfismo de Y sobre um aberto de H0! ÐJ Ñ ‚ K , que
podemos já supor da forma Z ‚ [ , com Z e [ bolas abertas de centros C!
e !, respectivamente.
Se ÐCß DÑ − Z ‚ [ , tem-se ÐCß DÑ œ :ÐBÑ, com B œ :" ÐCß DÑ, e portanto
Cœ1 sÐ0 ÐBÑÑ. Podemos portanto escrever, tendo em conta a soma directa
Is œ H0! ÐJ Ñ Š L ,

0 ‰ :" ÐCß DÑ œ 0 ÐBÑ œ C  2ÐCß DÑ,


com 2À Z ‚ [ Ä L aplicação suave. Para cada ÐCß DÑ − Z ‚ [ , o facto de
HÐ:" ÑÐCßDÑ À H0! ÐJ Ñ ‚ K Ä J ser um isomorfismo implica, pela hipótese
da característica constante, que
HÐ0 ‰ :" ÑÐCßDÑ ÐH0! ÐJ Ñ ‚ KÑ œ H0:" ÐCßDÑ ÐJ Ñ

s . O facto de se ter
é um subespaço vectorial de dimensão 8w de I
HÐ0 ‰ :" ÑÐCßDÑ Ð@ß AÑ œ @  H2ÐCßDÑ Ð@ß AÑ

implica que este subespaço contém, em particular, os vectores da forma


@  H2ÐCßDÑ Ð@ß !Ñ, com @ − H0! ÐJ Ñ, sendo portanto igual ao conjunto destes
vectores, por este constituir também um subespaço vectorial de dimensão 8w
(tem lugar a aplicação linear injectiva, que a @ associa @  H2ÐCßDÑ Ð@ß !Ñ, por
ter lugar a soma directa I s œ H0! ÐJ Ñ Š L ). Resulta daqui que, para cada
A − K,
H2ÐCßDÑ Ð!ß AÑ œ HÐ0 ‰ :" ÑÐCßDÑ Ð!ß AÑ,

que está naquele subespaço, tem que ser da forma @  H2ÐCßDÑ Ð@ß !Ñ, pelo
que, mais uma vez por ter lugar a soma directa referida, tem que ser @ œ !, e
portanto
H2ÐCßDÑ Ð!ß AÑ œ H2ÐCßDÑ Ð@ß !Ñ œ H2ÐCßDÑ Ð!ß !Ñ œ !.

Em consequência, para cada C − Z , a aplicação da bola aberta [ em L , que


a D associa 2ÐCß DÑ, tem derivada identicamente nula, pelo que ela é
constante. Podemos portanto escrever
0 ‰ :" ÐCß DÑ œ C  2ÐCß DÑ œ C  2ÐCß !Ñ œ 0 ‰ :" ÐCß !Ñ,
136 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

pelo que
0 ÐY Ñ œ 0 ‰ :" ÐZ ‚ [ Ñ œ 0 ‰ :" ÐZ ‚ Ö!×Ñ.
O facto de a restrição de 0 ‰ :" a Z ‚ Ö!×, que está definida por
ÐCß !Ñ È C  2ÐCß !Ñ, ser um difeomorfismo sobre a sua imagem (que é
bijectiva resulta da soma directa referida e, pela mesma razão, a inversa está
definida por Cw È Ð1 sÐC w Ñß !Ñ) implica agora que 0 ÐY Ñ, tal como Z ‚ Ö!×, é
uma variedade sem bordo, com dimensão 8w . …

§5. Alguns exemplos importantes de variedade

Vamos estudar nesta secção alguns exemplos de variedade sem bordo que
aparecem com frequência nas aplicações. O primeiro exemplo é algo
trivial, na medida em que se está em presença de um aberto de um espaço
vectorial de dimensão finita, e é aqui apresentado apenas como referência.

II.5.1 Sejam I e J espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão 8.


Tem-se então que o conjunto P3=9 ÐIà J Ñ dos isomorfismos 0À I Ä J é um
aberto de PÐIà J Ñ e, consequentemente, uma variedade sem bordo, com
dimensão 8# no caso real e dimensão #8# no caso complexo.
Dem: O facto de termos um aberto de PÐIà J Ñ já foi estabelecido em I.8.1,
pelo que basta repararmos que PÐIà J Ñ é um espaço vectorial, real ou
complexo, de dimensão 8# , sendo, no segundo caso, um espaço vectorial real
de dimensão #8# . …
II.5.2 O caso particular do resultado anterior em que I œ J é especialmente
importante, usando-se a notação KPÐIÑ para designar o aberto P3=9 ÐIà IÑ
de PÐIà IÑ e escrevendo, com maior precisão, KP‘ ÐIÑ ou KP‚ ÐIÑ quando
for importante tornar claro qual o corpo dos escalares que está em jogo. A
razão da importância especial deste caso está em que KPÐIÑ, além de ser
uma variedade, tem uma estrutura de grupo, definida pela operação de
composição, em que o elemento neutro é M.I e o elemento inverso de um
isomorfismo 0À I Ä I é o isomorfismo inverso 0" . A KPÐIÑ dá-se
também o nome de grupo linear geral.
II.5.3 Em geral, chama-se grupo de Lie a uma variedade sem bordo K , munida
de uma estrutura de grupo, relativamente à qual são suaves a aplicação
K ‚ K Ä K, Ð1ß 2Ñ È 1 † 2 e a aplicação K Ä K , 1 È 1" .
II.5.4 A variedade KPÐIÑ, com a sua estrutura de grupo, é um grupo de Lie.
Dem: A suavidade da operação de composição KPÐIÑ ‚ KPÐIÑ Ä KPÐIÑ
é uma consequência de se tratar da restrição de uma aplicação bilinear
§5. Alguns exemplos importantes de variedade 137

PÐIà IÑ ‚ PÐIà IÑ Ä PÐIà IÑ. A suavidade da aplicação, 0 È 0" ,


KPÐIÑ Ä KPÐIÑ, foi estabelecida em I.8.1. …
II.5.5 No caso em que o corpo dos escalares é ‘, KPÐIÑ é união de dois
subconjuntos abertos disjuntos, KP ÐIÑ e KP ÐIÑ, constituídos respectiva-
mente pelos isomorfismos 0À I Ä I que verificam detÐ0Ñ  ! (ou seja, que
conservam as orientações) e por aqueles que verificam detÐ0Ñ  ! (ou seja,
que invertem as orientações). Aqueles subconjuntos são, em particular,
variedades sem bordo, com a mesma dimensão que KPÐIÑ, e o primeiro é
também um subgrupo e portanto, trivialmente, um grupo de Lie.
II.5.6 Sejam I e J espaços vectoriais, reais ou complexos, com dimensões 7 e
8, respectivamente, munidos de produto interno. O subconjunto SÐIà J Ñ de
PÐIà J Ñ, constituído pelas aplicações lineares ortogonais, é então uma
variedade compacta sem bordo com dimensão 78  7Ð7"Ñ # , no caso real, e
#78  7# , no caso complexo. Além disso, o espaço vectorial tangente em
- − SÐIà J Ñ é
X- ÐSÐIà J ÑÑ œ Ö! − PÐIà J Ñ ± !‡ ‰ -  -‡ ‰ ! œ !×Þ
No caso complexo é mais frequente utilizar a notação Y ÐIà J Ñ em vez de
SÐIà J Ñ, mas continuaremos a usar esta última quando for cómodo tratar
simultaneamente os casos real e complexo.
Dem: Para cada - − PÐIà J Ñ, tem-se Ð-‡ ‰ -ч œ -‡ ‰ -‡ ‡ œ -‡ ‰ -, pelo
que, sendo P++ ÐIà IÑ o subespaço vectorial real de PÐIà IÑ constituído
pelas aplicações lineares autoadjuntas, podemos considerar uma aplicação
suave FÀ PÐIà J Ñ Ä P++ ÐIà IÑ definida por FÐ-Ñ œ -‡ ‰ -. Uma vez que,
tendo em conta I.2.30, SÐIà J Ñ é o conjunto dos - − PÐIà J Ñ tais que
FÐ-Ñ œ M.I , vemos que SÐIà J Ñ é fechado em PÐIà J Ñ e o facto de
SÐIà J Ñ ser efectivamente uma variedade resultará do teorema de constru-
ção de subvariedades como imagens recíprocas se mostrarmos que, para cada
- − SÐIà J Ñ, a derivada HF- À PÐIà J Ñ Ä P++ ÐIà IÑ, que está definida por
HF- Ð!Ñ œ !‡ ‰ -  -‡ ‰ !, é uma aplicação linear sobrejectiva. Ora, dado
" − P++ ÐIà IÑ, podemos considerar o elemento ! œ "# - ‰ " − PÐIà J Ñ,
para o qual se tem
" "
H F - Ð!Ñ œ Ð - ‰ " Ñ ‡ ‰ -  - ‡ ‰ Ð - ‰ " Ñ œ
# #
" ‡ ‡ " ‡
œ " ‰ - ‰ -  - ‰ - ‰ " œ ",
# #
o que prova a sobrejectividade. O mesmo teorema garante-nos que
X- ÐSÐIà J ÑÑ é o espaço referido no enunciado e que a dimensão de SÐIà J Ñ
é a diferença entre a dimensão de PÐIà J Ñ (igual a 78, no caso real, e #78,
no caso complexo) e a dimensão de P++ ÐIà IÑ. Para provar que a dimensão
de SÐIà J Ñ é a referida no enunciado, resta-nos mostrar que a dimensão de
P++ ÐIà IÑ é 7Ð7"Ñ
# , no caso real, e 7# , no caso complexo. Fixemos, para
138 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

isso, uma base ortonormada em I e consideremos o isomorfismo de PÐIà IÑ


sobre o espaço vectorial `7 ÐŠÑ das matrizes com 7 linhas e 7 colunas e
coeficientes em Š, que a cada aplicação linear associa a respectiva matriz na
base considerada. Tendo em conta I.2.27, a imagem de P++ ÐIà IÑ por este
isomorfismo é o espaço das matrizes que coincidem com as respectivas
transconjugadas pelo que ficamos reduzidos a determinar a dimensão do
espaço de tais matrizes. No caso real uma tal matriz fica determinada se
dermos, de modo arbitrário, os seus elementos +4ß5 com 4 Ÿ 5 pelo que, M o
conjunto destes pares Ð4ß 5Ñ, que tem 7Ð7"Ñ
# elementos, o espaço daquelas
matrizes é isomorfo a ‘ e tem assim dimensão 7Ð7"Ñ
M
# . No caso complexo
uma tal matriz fica determinada se dermos, de modo arbitrário em ‚, os seus
elementos +4ß5 com 4  5 e, de modo arbitrário em ‘, os seus elementos +4ß4 ,
pelo que, notando M w o conjunto dos pares Ð4ß 5Ñ com 4  5 , que tem 7Ð7"Ñ
#
elementos, e M! o conjunto dos pares Ð4ß 4Ñ, que tem 7 elementos, o espaço
w
daquelas matrizes é isomorfo a ‚M ‚ ‘M! e tem portanto dimensão real #
7Ð7"Ñ
#  7 œ 7# . Por fim, para mostrar que SÐIà J Ñ é um subconjunto
compacto de PÐIà J Ñ, basta escolher uma das normas deste espaço e mostrar
que SÐIà J Ñ é então um conjunto limitado. Ora, considerando a norma usual
das aplicações lineares entre espaços vectoriais normados, para cada
- − SÐIà J Ñ, tem-se, para todo o B − I Ï Ö!×, m-mBmÐBÑm
œ " donde, afastando
já o caso trivial em que I œ Ö!×, m-m œ ". …
II.5.7 Como caso particular, vemos que, se I é um espaço vectorial, real ou
complexo, de dimensão 8, munido de produto interno, então o subconjunto
SÐIÑ de PÐIà IÑ, cujos elementos são os isomorfismos ortogonais
0À I Ä I é uma variedade compacta sem bordo com dimensão 8Ð8"Ñ # , no
caso real, e 8# , no caso complexo, o espaço tangente em M.I sendo
XM.I ÐSÐIÑÑ œ P++ ÐIà IÑ.

É claro que um isomorfismo 0À I Ä I é ortogonal se, e só se, 0" œ 0‡ , em


particular, para um tal isomorfismo, tem-se, não só 0‡ ‰ 0 œ M.I , como
0 ‰ 0‡ œ M.I .
Como anteriormente, no caso complexo é mais frequente utilizar a notação
Y ÐIÑ, em vez de SÐIÑ. A SÐIÑ e Y ÐIÑ dá-se respectivamente os nomes de
grupo ortogonal e grupo unitário de I , designações que estão de acordo
com o facto de se tratar de subgrupos de KPÐIÑ. É claro que SÐIÑ e Y ÐIÑ
são ainda grupos de Lie, uma vez que as respectivas operações de
multiplicação e de inversão são suaves, por serem restrições das correspon-
dentes operações em KPÐIÑ.
II.5.8 Tal como acontecia com KPÐIÑ, no caso em que o corpo dos escalares é
‘, SÐIÑ vai ser a união de dois subconjuntos disjuntos, abertos em SÐIÑ,
S ÐIÑ e S ÐIÑ, constituídos respectivamente pelos isomorfismos
ortogonais 0À I Ä I que verificam detÐ0Ñ  ! (ou seja, que conservam as
§5. Alguns exemplos importantes de variedade 139

orientações) e por aqueles que verificam detÐ0Ñ  ! (ou seja, que invertem as
orientações). Aqueles subconjuntos são, em particular, variedades sem bordo,
com a mesma dimensão que SÐIÑ, e o primeiro é também um subgrupo e
portanto, trivialmente, um grupo de Lie. Uma vez que cada um dos conjuntos
S ÐIÑ e S ÐIÑ é o complementar do outro, estes conjuntos são também
fechados em SÐIÑ, e portanto compactos.
O grupo S ÐIÑ é também notado WSÐIÑ e conhecido como o grupo
ortogonal especial.39
II.5.9 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8   ".
Tem-se então que o subconjunto WPÐIÑ de PÐIà IÑ, cujos elementos são as
aplicações lineares 0 com detÐ0Ñ œ ", é uma variedade sem bordo com
dimensão 8#  ", no caso real, e dimensão #8#  #, no caso complexo.
Tem-se além disso, para o espaço vectorial tangente em M.I − WPÐIÑ,
XM. ÐWPÐIÑÑ œ Ö! − PÐIà IÑ ± TrÐ!Ñ œ !×.
WPÐIÑ é um subgrupo de KPÐIÑ e portanto. também um grupo de Lie.
Dem: O facto de WPÐIÑ ser um subgrupo de KPÐIÑ é uma consequência
das propriedades do determinante em I.1Þ22. Tendo em conta I.7.9,
detÀ PÐIà IÑ Ä Š é uma aplicação suave e a sua derivada em M.I é a
aplicação linear complexa ! È TrÐ!Ñ, a qual é sobrejectiva, uma vez que
cada + − Š é igual a TrÐ 8+ M.I Ñ. O teorema de construção de subvariedades
como imagens recíprocas garante agora que WPÐIÑ é uma variedade em
M.I , com a dimensão e o espaço tangente indicados no enunciado. Para
vermos que WPÐIÑ é ainda uma variedade com a mesma dimensão em cada
0 − WPÐIÑ, basta repararmos que tem lugar um difeomorfismo
P0 À WPÐIÑ Ä WPÐIÑ, definido por P0 Ð(Ñ œ 0 ‰ ( (com P0" como
difeomorfismo inverso), o qual aplica M.I em 0. …

Os próximos exemplos de variedade sem bordo serão construídos com o


auxílio do segundo teorema da submersão.

II.5.10 Seja I um espaço vectorial real de dimensão par 8 œ #: e seja


Y w ÐIÑ § PÐIà IÑ o conjunto das estruturas complexas N À I Ä I . Então
Y w ÐIÑ é uma variedade sem bordo com dimensão #:# e, para cada
N − Y w ÐIÑ, XN ÐY w ÐIÑÑ é o conjunto das aplicações lineares ! − PÐIà IÑ
tais que ! ‰ N œ N ‰ ! (ou seja, o conjunto das aplicações antilineares para
a estrutura de espaço vectorial complexo definida por N ).
Dem: Seja N! − Y w ÐIÑ fixado. Uma vez que, N ‰ N œ M.I , para cada
N − Y w ÐIÑ, concluímos, por derivação, que, para cada ! − XN! ÐY w ÐIÑÑ,

39A palavra “especial” e o símbolo “W ” são normalmente associados à condição de o


determinante ser " (cf. II.5.9). O seu uso aqui respeita esse hábito, uma vez que, como se
viu no exercício I.6, para um isomorfismo ortogonal 0 , a condição detÐ0Ñ  ! é
equivalente à condição detÐ0Ñ œ ".
140 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

! ‰ N!  N! ‰ ! œ !. Reparemos agora que, para cada 0 no aberto


KPÐIÑ œ P3=9 ÐIà IÑ de PÐIà IÑ, tem-se ainda 0 ‰ N! ‰ 0" − Y w ÐIÑ, pelo
que podemos considerar a aplicação suave FÀ KPÐIÑ Ä Y w ÐIÑ definida por
FÐ0Ñ œ 0 ‰ N! ‰ 0" , cuja derivada em M.I é
HFM.I À PÐIà IÑ Ä XN! ÐY w ÐIÑÑ, HFM.I Ð" Ñ œ " ‰ N!  N! ‰ "

(cf. I.8.1). Dado ! − PÐIà IÑ tal que ! ‰ N! œ N! ‰ !, em particular dado


! − XN! ÐY w ÐIÑÑ, podemos considerar " − PÐIà IÑ definido por
" "
"œ N! ‰ ! œ  ! ‰ N ! ,
# #
para o qual se tem
" " " "
HFM.I Ð" Ñ œ  ! ‰ N! ‰ N!  N! ‰ N! ‰ ! œ !  ! œ !,
# # # #
o que mostra que HFM.I À PÐIà IÑ Ä XN! ÐY w ÐIÑÑ é uma aplicação linear
sobrejectiva. Ficou assim provado que XN! ÐY w ÐIÑÑ é o conjunto dos
! − PÐIà IÑ tais que ! ‰ N! œ N! ‰ ! e, tendo em conta II.4.39, que
Y w ÐIÑ é uma variedade em N! . Quanto à dimensão da variedade, basta
repararmos que, como vimos, o espaço vectorial tangente é o conjunto das
aplicações antilineares, ou seja, o espaço das aplicações lineares complexas
I Ä I , o qual é um espaço vectorial complexo de dimensão :# , e portanto
um espaço vectorial real de dimensão #:# . …
II.5.11 Seja I um espaço euclidiano de dimensão par 8 œ #: e seja
Y ÐIÑ § PÐIà IÑ o conjunto das estruturas complexas compatíveis
N À I Ä I (cf. I.2.7). Então Y ÐIÑ é uma variedade compacta sem bordo com
dimensão :#  : e, para cada N − Y ÐIÑ, XN ÐY ÐIÑÑ é o conjunto das
aplicações lineares ! − PÐIà IÑ tais que !‡ œ ! e ! ‰ N œ N ‰ ! (ou
seja, o conjunto das aplicações antiautoadjuntas que são antilineares para a
estrutura de espaço vectorial complexo definida por N ).
Dem: Comecemos por reparar que, tendo em conta I.2.31, tem-se
Y ÐIÑ œ Y w ÐIÑ  SÐIÑ œ Y w ÐIÑ  P++ ÐIà IÑ.
Uma vez que Y w ÐIÑ é fechado em PÐIà IÑ e SÐIÑ é compacto, a primeira
igualdade implica já que Y ÐIÑ é compacto. Seja N! − Y ÐIÑ fixado. Para
cada ! − XN! ÐY ÐIÑÑ, tem-se ! − XN! ÐY w ÐIÑÑ e ! − P++ ÐIà IÑ, ou seja,
! ‰ N! œ N! ‰ ! e !‡ œ !. Reparemos agora que, para cada 0 no grupo
ortogonal SÐIÑ § PÐIà IÑ, tem-se ainda 0 ‰ N! ‰ 0‡ − Y ÐIÑ, uma vez que
Ð0 ‰ N! ‰ 0‡ Ñ ‰ Ð0 ‰ N! ‰ 0‡ Ñ œ 0 ‰ N! ‰ N! ‰ 0‡ œ 0 ‰ 0‡ œ M.I ,
Ð0 ‰ N! ‰ 0‡ ч œ 0 ‰ N!‡ ‰ 0‡ œ 0 ‰ N! ‰ 0.

Podemos assim considerar uma aplicação suave FÀ SÐIÑ Ä Y ÐIÑ definida


por FÐ0Ñ œ 0 ‰ N! ‰ 0‡ . Lembrando que XM.I ÐSÐIÑÑ œ P++ ÐIà IÑ, vemos
§5. Alguns exemplos importantes de variedade 141

que a derivada de F em M.I é a aplicação linear


P++ ÐIà IÑ Ä XN! ÐY ÐIÑÑ, HFM.I Ð" Ñ œ " ‰ N!  N! ‰ " ‡ .

Dado ! − PÐIà IÑ tal que !‡ œ ! e ! ‰ N! œ N! ‰ !, em particular


dado ! − XN! ÐY ÐIÑÑ, podemos considerar " − PÐIà IÑ definido por
" "
"œ N! ‰ ! œ  ! ‰ N ! ,
# #
para o qual se tem
" ‡ "
"‡ œ ! ‰ N!‡ œ ! ‰ N! œ " ,
# #
isto é, " − P++ ÐIà IÑ, vindo então
" "
HFM.I Ð" Ñ œ  ! ‰ N! ‰ N!  N! ‰ N! ‰ ! œ !,
# #
o que mostra que HFM.I À P++ ÐIà IÑ Ä XN! ÐY ÐIÑÑ é uma aplicação linear
sobrejectiva. Ficou assim provado que XN! ÐY ÐIÑÑ é o conjunto dos
! − PÐIà IÑ tais que !‡ œ ! e ! ‰ N! œ N! ‰ ! e, tendo em conta o
segundo teorema da submersão, que Y ÐIÑ é uma variedade em N! .
Examinemos enfim a dimensão de Y ÐIÑ, igual à dimensão do espaço
vectorial tangente XN! ÐY ÐIÑÑ. Para isso, começamos por lembrar que, tendo
em conta a dimensão de SÐIÑ, P++ ÐIà IÑ œ XM.I ÐSÐIÑÑ tem dimensão
#:Ð#:"Ñ
# œ :Ð#:  "Ñ e reparamos em seguida que P++ ÐIà IÑ é soma
directa de XN! ÐY ÐIÑÑ com o espaço vectorial dos ! − P++ ÐIà IÑ que
verificam ! ‰ N! œ N! ‰ !, uma vez que a intersecção dos dois é
evidentemente Ö!× e que cada # − P++ ÐIà IÑ se pode escrever na forma
#  N! ‰ # ‰ N! #  N! ‰ # ‰ N !
#œ  ,
# #
com a primeira parcela no primeiro espaço e a segunda parcela no segundo.
Este segundo espaço não é mais do que o espaço das aplicações lineares
complexas antiautoadjuntas I Ä I (relativamente à estrutura de espaço
vectorial complexo definida por N! e ao produto interno complexo associado
ao produto interno real) e, mais uma vez, tendo em conta a dimensão de
SÐIÑ, ele tem dimensão real :# . Podemos assim concluir que
:Ð#:  "Ñ  :# œ :#  : é a dimensão de XN! ÐY ÐIÑÑ. …
II.5.12 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8. Vamos
notar †ÐIÑ o conjunto dos subespaços vectoriais de I e, para cada
! Ÿ 5 Ÿ 8, †5 ÐIÑ o subconjunto daqueles cuja dimensão é 5 .
No caso em que I está munido de um produto interno, notamos,
analogamente, KÐIÑ o subconjunto de PÐIà IÑ cujos elementos são as
projecções ortogonais sobre subespaços vectoriais de I e, para cada
! Ÿ 5 Ÿ 8, K5 ÐIÑ o subconjunto de KÐIÑ cujos elementos são as
142 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

projecções ortogonais sobre subespaços vectoriais de dimensão 5 .


Relembremos que, como foi observado em I.2.35, existe uma bijecção
natural de †ÐIÑ sobre KÐIÑ, aplicando †5 ÐIÑ sobre K5 ÐIÑ, que associa a
cada subespaço vectorial J § I a projecção ortogonal 1J de I sobre J e
que se tem
KÐIÑ œ Ö- − P++ ÐIà IÑ ± - ‰ - œ -×. 40

II.5.13 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8, munido de


produto interno. Tem-se então que KÐIÑ é uma variedade compacta sem
bordo, tendo os K5 ÐIÑ como subvariedades simultaneamente abertas e
fechadas (as variedades de Grassmann), e, para cada -! œ 1J − K5 ÐIÑ, a
dimensão de KÐIÑ em -! é 5Ð8  5Ñ ou #5Ð8  5Ñ, conforme Š é ‘ ou ‚, e
o espaço vectorial tangente X-! ÐKÐIÑÑ admite as seguintes caracterizações:
X-! ÐKÐIÑÑ œ Ö! − P++ ÐIà IÑ ± ! ‰ -!  -! ‰ ! œ !×
œ Ö! − P++ ÐIà IÑ ± !ÐJ Ñ § J ¼ • !ÐJ ¼ Ñ § J ×.

Em termos de matrizes de aplicações lineares relativas à decomposição em


soma directa ortogonal I œ J Š J ¼ (cf. I.3.6), X-! ÐKÐIÑÑ é o conjunto dos
! − PÐIà IÑ cuja matriz é do tipo

”! ! •
! !‡#ß"
,
#ß"

com !#ß" − PÐJ à J ¼ Ñ arbitrária.


Dem: Seja -! œ 1J − K5 ÐIÑ fixado. O facto de se ter KÐIÑ § P++ ÐIà IÑ
implica que X-! ÐKÐIÑÑ § P++ ÐIà IÑ e, por derivação da identidade
- ‰ - œ -, vemos que, para cada ! − X-! ÐKÐIÑÑ, tem-se ! ‰ -!  -! ‰ ! œ
!. Reparamos agora que, se 0À I Ä I é um isomorfismo ortogonal, então,
para cada B œ Bw  Bww − I , com Bw − J e Bww − J ¼ , tem-se 0ÐBÑ œ 0ÐBw Ñ 
0ÐBww Ñ, com 0ÐBw Ñ − 0ÐJ Ñ e 0ÐBww Ñ − 0ÐJ Ѽ , pelo que 0Ð-! ÐBÑÑ œ 0ÐBw Ñ é a
projecção ortogonal de 0ÐBÑ sobre o subespaço vectorial 0ÐJ Ñ de dimensão 5
de I , por outras palavras, a projecção ortogonal de I sobre 0ÐJ Ñ é a
aplicação linear 0 ‰ -! ‰ 0" œ 0 ‰ -! ‰ 0‡ . Podemos assim considerar a apli-
cação suave FÀ SÐIÑ Ä K5 ÐIÑ § KÐIÑ definida por FÐ0Ñ œ 0 ‰ -! ‰ 0‡ ,
que aplica M.I em -! e cuja derivada em M.I é a aplicação linear
P++ ÐIà IÑ Ä X-! ÐKÐIÑÑ, HFM.I Ð" Ñ œ " ‰ -!  -! ‰ " ‡ .

Dado ! − P++ ÐIà IÑ tal que ! ‰ -!  -! ‰ ! œ !, em particular, dado


! − X-! ÐKÐIÑÑ, tem-se
! ‰ -!  -! ‰ ! ‰ -! œ ! ‰ -! ‰ -!  -! ‰ ! ‰ -! œ ! ‰ -! ,

40Por esse motivo, é útil pensar em KÐIÑ como sendo “moralmente” o conjunto dos
subespaços vectoriais de I .
§5. Alguns exemplos importantes de variedade 143

donde -! ‰ ! ‰ -! œ ! e vemos então que, sendo " œ ! ‰ -!  -! ‰ !,


tem-se " ‡ œ -! ‰ !  ! ‰ -! œ " , isto é, " − P++ ÐIà IÑ, e
HFM.I Ð" Ñ œ Ð! ‰ -!  -! ‰ !Ñ ‰ -!  -! ‰ Ð! ‰ -!  -! ‰ !Ñ
œ ! ‰ -!  -! ‰ ! œ !,

o que mostra que HFM.I À XM.I ÐSÐIÑÑ Ä X-! ÐKÐIÑÑ é uma aplicação linear
sobrejectiva. Ficou assim provado que X-! ÐKÐIÑÑ é o conjunto dos
! − P++ ÐIà IÑ tais que ! ‰ -!  -! ‰ ! œ ! e, tendo em conta o segundo
teorema da submersão, que KÐIÑ é uma variedade em -! . Por II.4.28,
podemos garantir que FÐSÐIÑÑ é uma vizinhança de -! em KÐIÑ e portanto,
por FÐSÐIÑÑ estar contido em K5 ÐIÑ, K5 ÐIÑ é também uma vizinhança de
-! em KÐIÑ, o que mostra que cada K5 ÐIÑ é aberto em KÐIÑ. Vemos agora
que, se J w é um subespaço arbitrário de dimensão 5 , então, considerando
bases ortonormadas arbitrárias para J e para J w e prolongando-as em bases
ortonormadas de I , podemos considerar o isomorfismo ortogonal 0 − SÐIÑ
definido pela condição de aplicar a primeira base ortonormada de I na
segunda, isomorfismo esse que vai aplicar J sobre J w ; fica assim provado
que se tem mesmo FÐSÐIÑÑ œ K5 ÐIÑ pelo que, por SÐIÑ ser compacto,
K5 ÐIÑ é também compacto, em particular fechado em KÐIÑ. O facto de
KÐIÑ ser a união finita dos compactos K5 ÐIÑ implica que KÐIÑ é também
uma variedade compacta. Vejamos agora que X-! ÐKÐIÑÑ também admite as
caracterizações alternativas no enunciado. Se ! − PÐIà IÑ verifica
! ‰ -!  -! ‰ ! œ ! então, se B − J , tem-se -! ÐBÑ œ B, donde
!ÐBÑ œ !Ð-! ÐBÑÑ  -! Ð!ÐBÑÑ œ !ÐBÑ  -! Ð!ÐBÑÑ,
portanto -! Ð!ÐBÑÑ œ !, ou seja, !ÐBÑ − J ¼ , e, se B − J ¼ , tem-se -! ÐBÑ œ !,
donde
!ÐBÑ œ !Ð-! ÐBÑÑ  -! Ð!ÐBÑÑ œ -! Ð!ÐBÑÑ,
portanto !ÐBÑ − J . Reciprocamente, se !ÐJ Ñ § J ¼ e !ÐJ ¼ Ñ § J , então,
para cada B − J , !Ð-! ÐBÑÑ  -! Ð!ÐBÑÑ œ !ÐBÑ  ! œ !ÐBÑ e, para cada
B − J ¼ , !Ð-! ÐBÑÑ  -! Ð!ÐBÑÑ œ !Ð!Ñ  !ÐBÑ œ !ÐBÑ e portanto, uma vez
que I œ J Š J ¼ , !Ð-! ÐBÑÑ  -! Ð!ÐBÑÑ œ !ÐBÑ, para todo o B − I . A
caracterização de X-! ÐKÐIÑÑ como o conjunto dos ! − P++ ÐIà IÑ tais que
!ÐJ Ñ § J ¼ e !ÐJ ¼ Ñ § J é trivialmente equivalente à caracterização
matricial referida no enunciado e esta última mostra que X-! ÐKÐIÑÑ é
isomorfo a PÐJ à J ¼ Ñ e tem portanto a dimensão no enunciado. 

§6. Variedades com bordo.

II.6.1 Dissemos atrás que uma variedade sem bordo, com dimensão 8, pode ser
olhada intuitivamente como um conjunto que é localmente parecido com um
144 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

espaço vectorial de dimensão 8 e sugerimos graficamente meia superfície


esférica como exemplo da variedade sem bordo, com dimensão #. Se olhar-
mos com atenção para esse exemplo, veremos que, para que ele funcione
devidamente, temos que supor que consideramos a meia superfície esférica
aberta,41 isto é, sem incluir os pontos do bordo (o local onde a faca cortou a
laranja). Se considerarmos a meia superfície esférica fechada já vai haver
pontos que não vão ter vizinhanças abertas difeomorfas a abertos dum plano,
a saber, os pontos do bordo. Estes vão ter, no entanto, vizinhanças abertas
difeomorfas a abertos de um semi-plano. Na mesma ordem de ideias, se
considerarmos um igloo de esquimó (ou, equivalentemente, meia casca de
laranja com uma dentada de um rato42), vão existir dois pontos que não têm
vizinhanças abertas difeomorfas a abertos dum plano nem dum semi-plano,
mas têm vizinhanças abertas difeomorfas a um aberto dum quadrante.
Torna-se assim natural generalizar a noção de variedade sem bordo, de modo
a abarcar exemplos como os precedentes. Essa generalização obtém-se
permitindo que os modelos, para além de espaços vectoriais de dimensão
finita, possam ser, mais geralmente, abertos de certos subconjuntos destes
espaços, a que daremos o nome de sectores.

Figura 4

II.6.2 Sejam J um espaço vectorial real de dimensão 8 e ! Ÿ : Ÿ 8. Diz-se que


um subconjunto E de J é um sector de índice : se existir uma base
A" ß á ß A8 de J tal que E seja o conjunto dos vectores cujas últimas :
componentes nessa base sejam maiores ou iguais a !:

41O termo aberto não tem aqui um significado topológico. A superfície em questão não é
evidentemente um conjunto aberto no espaço vectorial ambiente.
42Supomos naturalmente que o rato tem uma dentadura de classe G _ .
§6. Variedades com bordo 145

E œ ÖB œ +" A"  â  +8 A8 − J ± a +4   !×.


48:

Em particular, J é o único sector de índice ! de J .


Repare-se que, para um dado sector E, poderá haver, em geral, várias bases
adaptadas, isto é, várias bases verificando a condição da definição.

Uma questão que se põe naturalmente é a de saber se um mesmo conjunto


E § J poderá ser, ao mesmo tempo, um sector com dois índices
distintos, isto é, se poderíamos encontrar duas bases adaptadas em que o
valor de : não fosse o mesmo. A resposta, que é negativa, é uma
consequência da seguinte caracterização intrínseca do índice dum sector:

II.6.3 Se J é um espaço vectorial real de dimensão 8 e se E § J é um sector de


índice :, então J é o subespaço vectorial gerado por E e K œ E  ÐEÑ é
um subespaço vectorial de J , com dimensão 8  :.
Dem: Seja A" ß á ß A8 uma base de J tal que E seja o conjunto dos vectores
de J cujas últimas : componentes sejam maiores ou iguais a !. Então
A4 − E e E é o conjunto dos vectores cujas últimas : componentes são
menores ou iguais a !, pelo que K œ E  ÐEÑ sendo o conjunto dos
vectores cujas últimas : componentes são nulas, é o subespaço vectorial
gerado por A" ß á ß A8: . …
II.6.4 Em particular, se J é um espaço vectorial de dimensão 8 e E § J é um
sector de índice ", K œ E  ÐEÑ é um hiperplano de J e os semi-espaços
abertos associados (cf. I.4.8) são J Ï E e E Ï K . Define-se então a
orientação transversa de K associada ao sector E como sendo aquela cujo
semi-espaço aberto positivo é J Ï E.
Dem: Seja A" ß á ß A8 uma base de J tal que E seja o conjunto dos vectores
de J cuja última componente seja maior ou igual a !. Tem-se então que
K œ E  ÐEÑ é o subespaço vectorial constituído pelos vectores com
última coordenada igual a !, ou seja, o gerado por A" ß á ß A8" , e daqui
J
concluímos a existência de um isomorfismo de ‘ sobre K , que a > associa
J
Ò>A8 ÓK . Resulta daqui que as semi-rectas abertas de K são as constituídas
respectivamente pelos Ò>A8 ÓK com >  ! e por aqueles com >  ! pelo que
tido o que nos resta é reparar que, se A œ >" A"  â  >8 A8 − J , tem-se
ÒAÓK œ Ò>8 A8 ÓK . …
II.6.5 (Exemplos) a) Num plano, isto é, num espaço vectorial de dimensão #, um
sector de índice " é um semiplano e um sector de índice # é um ângulo.
b) Num espaço vectorial de dimensão $, um sector de índice " é um
semiespaço (parte do espaço que está dum dos lados dum plano), um sector
de índice # é um diedro (parte do espaço limitada por dois semiplanos) e um
sector de índice $ é um triedro (parte do espaço limitada por três ângulos
146 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

planos).

A# A#
A" A"

Figura 5

II.6.6 Sejam J e J s dois espaços vectoriais de dimensão 8 e E § J e E s§J s


dois sectores de índice :. Existe então um isomorfismo 0À J Ä J s , tal que
0ÐEÑ œ E s.
Dem: Sejam A" ß á ß A8 uma base de J e A s , tais que
s8 uma base de J
s" ß á ß A
E seja o conjunto dos vectores de J cujas últimas : coordenadas sejam
maiores ou iguais a ! e que E s seja o conjunto dos vectores de J s cujas
últimas : coordenadas sejam maiores ou iguais a !. Sendo 0À J Ä J s o
isomorfismo que aplica cada A4 em A s
s4 , é imediato que se tem 0ÐEÑ œ E. …
II.6.7 Sejam J e J s dois espaços vectoriais de dimensão 8 e 0À J Ä J s um
s
isomorfismo. Se E § J é um sector de índice :, tem-se então que E œ 0ÐEÑ
s.
é um sector de índice : de J
Dem: Seja A" ß á ß A8 uma base de J tal que E seja o conjunto dos vectores
de J cujas últimas coordenadas são maiores ou iguais a !. Sendo
As4 œ 0ÐA4 Ñ, tem-se então que A s tal que 0ÐEÑ é o
s8 é uma base de J
s" ß á ß A
conjunto dos vectores que nesta base têm as últimas : coordenadas maiores
ou iguais a !. …
II.6.8 Sejam J e J s espaços vectoriais com dimensões 8 e 8 s, respectivamente, e
E§J e E s§J s sectores de índices : e s:, respectivamente. Tem-se então
que E ‚ E s é um sector de índice :  s: do espaço vectorial J ‚ J s , com
dimensão 8  8 s.
Mais geralmente, suponhamos que, para cada " Ÿ 4 Ÿ R , J4 é um espaço
vectorial de dimensão 84 e E4 § J4 é um sector de índice :4 . Tem-se então
que E" ‚ â ‚ ER é um sector de índice :"  â  :R do espaço vectorial
J" ‚ â ‚ JR , com dimensão 8"  â  8R .
Dem: Vamos demonstrar apenas a primeira afirmação, visto que a segunda é
de demonstração análoga, embora com notação mais pesada (ou, alternati-
vamente, pode ser demonstrada por indução a partir da primeira). Seja
A" ß á ß A8 uma base de J , tal que E seja o conjunto dos vectores cujas
últimas : coordenadas sejam maiores ou iguais a !, e seja A s8s uma
s" ß á ß A
s s
base de J , tal que E seja constituído pelos vectores cujas últimas s:
coordenadas sejam maiores ou iguais a !. Tem-se então que J ‚ J s admite
§6. Variedades com bordo 147

uma base constituída pelos vectores


ÐA" ß !Ñß á ß ÐA8 ß !Ñß Ð!ß A
s" Ñß á ß Ð!ß A
s8sÑ
s verificam
e, se B − J e C − J
B œ +" A "  â  + 8 A 8 ,
C œ ," A s8s ,
s"  â  ,8s A
tem-se
ÐBß CÑ œ +" ÐA" ß !Ñ  â  +8 ÐA8 ß !Ñ  ," Ð!ß A s8s Ñ,
s" Ñ  â  ,8s Ð!ß A
o que mostra que, depois de reordenarmos convenientemente os elementos da
s, E ‚ E
base obtida para J ‚ J s é constituído pelos pares ÐBß CÑ cujas últimas
:  s: componentes são maiores ou iguais a !. …
II.6.9 Os resultados II.6.6 e II.6.7 mostram que, a menos de isomorfismo, existe
apenas um sector de índice : num espaço vectorial de dimensão 8. Um
exemplo de um tal sector é o conjunto ‘8: § ‘8 ,
‘8: œ ‘8: ‚ ‘: œ ÖÐB" ß á ß B8 Ñ − ‘8 ± a B4   !×,
48:

a que damos o nome de sector canónico de índice : de ‘8 .


Repare-se que notamos ‘ o intervalo Ò!ß _Ò, que é portanto o sector
canónico de índice " de ‘.
II.6.10 Sejam J um espaço vectorial de dimensão 8 e E § J um sector de
índice :. Tem-se então t! ÐEÑ œ E e t! ÐEÑ œ X! ÐEÑ œ J .
Dem: Podemos considerar um isomorfismo 0À ‘8 Ä J tal que 0Б8: Ñ œ E e
então, uma vez que a restrição de 0 é um difeomorfismo de ‘8: sobre E,
concluímos que uma restrição de 0 vai ser um isomorfismo de X! Б8: Ñ sobre
X! ÐEÑ que aplica t! Б8: Ñ sobre t! ÐEÑ e t 
! Б: Ñ sobre t! ÐEÑ. O resultado
8

ficará assim demonstrado se verificarmos as igualdades t! Б8: Ñ œ ‘:8 e


t
! Б: Ñ œ X! Б: Ñ œ ‘ . Ora, a primeira igualdade resulta de ‘: ser um cone
8 8 8 8

fechado e a segunda é uma consequência de ! ser aderente ao interior de ‘8: ,


igual a ‘8: ‚ Ó!ß _Ò: . …
II.6.11 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B! − Q § I . Diz-se
que o par ÐQ ß B! Ñ é uma variedade com dimensão 8 e índice : se existir um
espaço vectorial J de dimensão 8 e um sector E § J de índice :, tal que
ÐQ ß B! Ñ seja localmente difeomorfo a ÐEß !Ñ. Diz-se então também que Q é,
no ponto B! , uma variedade com dimensão 8 e índice :. Dizemos que o
conjunto Q é uma variedade43 se, para cada B − Q , o par ÐQ ß BÑ é uma

43Os autores que dão o nome de variedade ao que nós chamámos de variedade sem bordo
usam o termo variedade com bordo para designar o que aqui estamos a chamar de
variedade.
148 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

variedade com dimensão 8B e índice :B (a dimensão e o índice podem, em


geral, variar de ponto para ponto — ver no entanto o que dizemos adiante em
II.6.17). No caso em que a variedade Q tem a mesma dimensão 8 em todos
os pontos, também dizemos que Q é uma variedade de dimensão 8.
II.6.12 (Notas) a) Tendo em conta o que dissemos na nota a) em II.4.9, vemos
que um par ÐQ ß B! Ñ é uma variedade sem bordo com dimensão 8, no sentido
da definição II.4.6, se, e só se, ele é uma variedade com dimensão 8 e índice
!, no sentido da definição que acabamos de apresentar. Note-se também que,
ao contrário do que sucedia no quadro das variedades sem bordo, o facto de,
no caso em que E é um sector de índice : , um par do tipo ÐEß C! Ñ não ser, em
geral, localmente difeomorfo ao par ÐEß !Ñ não nos permite definir as
variedades de dimensão 8 e índice : como sendo os pares localmente
difeomorfos a algum ÐEß C! Ñ, com E sector de índice : num espaço vectorial
de dimensão 8.
b) Como dissemos em II.6.6 e II.6.9, se E é um sector de índice : dum
espaço vectorial J de dimensão 8, então existe um isomorfismo 0À ‘8 Ä J ,
que aplica o sector canónico de índice : ‘8: sobre E. Em particular, e uma
vez que um isomorfismo é evidentemente um difeomorfismo, vemos que
ÐEß !Ñ é localmente difeomorfo (aliás, mesmo difeomorfo) a Б8: ß !Ñ.
Concluímos daqui que, se ÐQ ß B! Ñ é uma variedade com dimensão 8 e índice
:, então ÐQ ß B! Ñ é localmente difeomorfo a Б8: ß !Ñ.
II.6.13 Sejam B! − Q § I tais que ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade com dimensão
8 e índice :. Tem-se então que t B! ÐQ Ñ œ XB! ÐQ Ñ é um espaço vectorial de
dimensão 8 e tB! ÐQ Ñ é um sector de índice : de XB! ÐQ Ñ. Em particular, a
dimensão e o índice de uma variedade ÐQ ß B! Ñ são números bem definidos.
Dem: Tendo em conta II.4.5 e II.6.10, vai existir um espaço vectorial J , de
dimensão 8, um sector E § J de índice : e um isomorfismo 0 de
J œ X! ÐEÑ sobre XB! ÐQ Ñ, que aplica E œ t! ÐEÑ sobre tB! ÐQ Ñ e J œ t ! ÐEÑ
sobre t
B! ÐQ Ñ . O resultado é agora uma consequência de II.6.3 . …

II.6.14 Sejam B! − Q § I e C! − Q s §Is , tais que ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade


s
com dimensão 8 e índice : e ÐQ ß C! Ñ seja uma variedade com dimensão 8 se
índice s:. Tem-se então que Q ‚ Q s é, no ponto ÐB! ß C! Ñ, uma variedade com
dimensão 8  8 s e índice :  s: e
XÐB! ßC! Ñ ÐQ ‚ Qs Ñ œ XB! ÐQ Ñ ‚ XC! ÐQ s Ñ,
s Ñ œ tB! ÐQ Ñ ‚ tC! ÐQ
tÐB! ßC! Ñ ÐQ ‚ Q s Ñ.

Dem: Sejam J e J s espaços vectoriais de dimensões 8 e 8


s, E § J e E s§J s
sectores de índices : e s: , :À Y Ä Z um difeomorfismo local de ÐEß !Ñ sobre
s ÄZ
ÐQ ß B! Ñ e <À Y s um difeomorfismo local de ÐEß s !Ñ sobre ÐQ s ß C! Ñ .
s s
Tem-se então que a aplicação : ‚ <À Y ‚ Y Ä Z ‚ Z , definida por
§6. Variedades com bordo 149

: ‚ <ÐBß CÑ œ Ð:ÐBÑß <ÐCÑÑ,


s Ð!ß !ÑÑ sobre ÐQ ‚ Q
é um difeomorfismo local de ÐE ‚ Eß s ß ÐB! ß C! ÑÑ, para
o qual se tem
HÐ: ‚ <ÑÐ!ß!Ñ œ H:! ‚ H<! .

Tendo em conta o facto de E ‚ Es ser um sector de índice :  s: do espaço


s de dimensão 8  8
vectorial J ‚ J s, concluímos que ÐQ ‚ Q s ß ÐB! ß C! ÑÑ é
uma variedade de dimensão 8  8
s e índice :  s: . Por outro lado,
s œ
s Ñ œ HÐ: ‚ <ÑÐ!ß!Ñ ÐtÐ!ß!Ñ ÐE ‚ EÑÑ
tÐB! ßC! Ñ ÐQ ‚ Q
œ HÐ: ‚ <ÑÐ!ß!Ñ ÐE ‚ EÑ s œ
s œ
œ ÐH:! ‚ H<! ÑÐt! ÐEÑ ‚ t! ÐEÑÑ
s œ
œ H:! Ðt! ÐEÑÑ ‚ H<! Ðt! ÐEÑÑ

œ t! ÐQ Ñ ‚ t! ÐQ
e a igualdade envolvendo os espaços vectoriais tangentes é válida mesmo
para conjuntos arbitrários. …
II.6.15 Mais geralmente, seja, para cada " Ÿ 4 Ÿ R , B4 ! − Q4 § I4 , tal que
ÐQ4 ß B4 ! Ñ seja uma variedade com dimensão 84 e índice :4 . Tem-se então que
Q" ‚ â ‚ QR é, no ponto ÐB" ! ß á ß BR ! Ñ uma variedade com dimensão
8"  â  8R e índice :"  â  :R e
XÐB" ! ßáßBR ! Ñ ÐQ" ‚ â ‚ QR Ñ œ XB" ! ÐQ" Ñ ‚ â ‚ XBR ! ÐQR Ñ,
tÐB" ! ßáßBR ! Ñ ÐQ" ‚ â ‚ QR Ñ œ tB" ! ÐQ" Ñ ‚ â ‚ tBR ! ÐQR Ñ.

Dem: Trata-se de uma demonstração análoga à do resultado precedente, que


é um caso particular deste, em que a única dificuldade são as notações mais
pesadas. Alternativamente, podemos fazer uma demonstração por indução, a
partir do resultado anterior. …
II.6.16 Seja ‘8: œ ‘8: ‚ ‘: o sector canónico de índice : de ‘8 . Tem-se
então que ‘8: é uma variedade de dimensão 8 em todos os pontos, o seu
índice num ponto Ð+" ß á ß +8 Ñ sendo igual ao número de índices 4 tais que
4  8  : e +4 œ ! .
Dem: É claro que ‘8: é, no ponto !, uma variedade com dimensão 8 e índice
:, visto que ‘8: é um sector de índice : de ‘8 . A questão é verificar o que
sucede nos restantes pontos. Para isso, começamos por reparar que, por
II.4.15, ‘ é uma variedade com dimensão " e índice ! em todos os pontos e
‘ œ Ò!ß _Ò é uma variedade com dimensão " e índice ! em todos os
pontos distintos de ! (trata-se de pontos interiores). Por outro lado, ‘ é um
sector de índice " de ‘, sendo portanto, no ponto !, uma variedade com
dimensão " e índice ". Podemos agora aplicar o resultado precedente para
150 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

garantir que ‘8: œ ‘8: ‚ ‘: é uma variedade, tendo em cada ponto
Ð+" ß á ß +8 Ñ dimensão 8 (igual à soma das dimensões dos factores nos pontos
+4 ) e índice igual à soma dos índices de ‘ nos pontos +4 com 4 Ÿ 8  : com
os índices de ‘ nos pontos +4 com 4  8  :, isto é, igual ao número de
índices 4  8  : tais que +4 œ !. …
II.6.17 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B! − Q § I tais que
ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade com dimensão 8 e índice :. Tem-se então:
a) Existe um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que, para cada B − Y , ÐQ ß BÑ
seja uma variedade com dimensão 8 e índice menor ou igual a :.
b) Qualquer que seja a vizinhança Z de B! em Q e qualquer que seja
! Ÿ 4 Ÿ :, existe B − Z tal que ÐQ ß BÑ seja uma variedade com dimensão 8
e índice 4.
Em particular, se Q é uma variedade conexa, então Q tem a mesma
dimensão em todos os pontos.
Dem: Seja :À Y Ä Y w um difeomorfismo local de ÐQ ß B! Ñ sobre Б8: ß !Ñ. É
então imediato que, para cada B − Y , : é um difeomorfismo local de ÐQ ß BÑ
sobre Б8: ß :ÐBÑÑ, que, pelo resultado anterior, é uma variedade com dimen-
são 8 e índice menor ou igual a :, o que nos permite concluir que ÐQ ß BÑ é
uma variedade com dimensão 8 e índice menor ou igual a :. Para demonstrar
b), e uma vez que, para cada vizinhança Z de B! , intÐZ Ñ é também, no ponto
B! , uma variedade com dimensão 8 e índice :, basta-nos provar que,
qualquer que seja ! Ÿ 4 Ÿ :, existe B − Q tal que ÐQ ß BÑ seja uma
variedade com dimensão 8 e índice 4. Ora, considerando, como acima, um
difeomorfismo local :À Y Ä Y w de ÐQ ß B! Ñ sobre Б8: ß !Ñ, esta conclusão é
uma consequência de que, pelo resultado anterior, vão existir pontos na
vizinhança aberta Y w de ! em ‘8: onde ‘8: é uma variedade com qualquer
índice 4 entre ! e : (tomar as últimas :  4 coordenadas estritamente posi-
tivas e suficientemente pequenas e todas as restantes iguais a !). A última
conclusão do enunciado resulta de que, tendo em conta a), para cada inteiro 8
o conjunto dos pontos de Q onde a dimensão é 8 é aberto em Q pelo que,
uma vez que Q é a união destes abertos que são disjuntos dois a dois, apenas
um deles pode ser não vazio. …
II.6.18 Tendo em conta a alínea b) do resultado anterior, vemos que as únicas
variedades em que o índice é o mesmo em todos os pontos são aquelas em
que esse índice é !, isto é, as variedades sem bordo. Costuma-se também dar
o nome de variedades sem cantos àquelas em que o índice em cada ponto é
sempre ! ou ". Nesta ordem de ideias, chamam-se cantos duma variedade os
pontos desta em que o índice é maior ou igual a #.
II.6.19 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I um conjunto.
Para cada :   !, vamos notar `: ÐQ Ñ o conjunto dos pontos B − Q tais que
ÐQ ß BÑ seja uma variedade com índice : , conjunto a que daremos o nome de
bordo de índice : de Q .
§6. Variedades com bordo 151

É claro que, no caso em que Q é uma variedade de dimensão 8, tem-se


`: ÐQ Ñ œ g, para cada :  8, e Q é a união disjunta dos `: ÐQ Ñ.
II.6.20 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I um conjunto.
Se B! − `: ÐQ Ñ é tal que a variedade ÐQ ß B! Ñ tenha dimensão 8, então
Ð`: ÐQ Ñß B! Ñ é uma variedade de dimensão 8  : e índice ! e
tB! Ð`: ÐQ ÑÑ œ t
B! Ð`: ÐQ ÑÑ œ XB! Ð`: ÐQ ÑÑ œ tB! ÐQ Ñ  ÐtB! ÐQ ÑÑ.

Em particular, cada `: ÐQ Ñ é uma variedade sem bordo.


Dem: Seja B! − `: ÐQ Ñ, onde Q tenha dimensão 8. Seja :À Y Ä Z um
difeomorfismo local de ÐQ ß B! Ñ sobre Б8: ß !Ñ. Para cada B − Y , : é também
um difeomorfismo local de ÐQ ß BÑ sobre Б8: ß :ÐBÑÑ, pelo que : aplica
Y  `: ÐQ Ñ sobre Z  `: Б8: Ñ e obtemos, por restrição de :, um difeomor-
fismo local de Ð`: ÐQ Ñß B! Ñ sobre Ð`: Б8: Ñß !Ñ. Mas, por II.6.16, tem-se
`: Б8: Ñ œ ‘8: ‚ Ö!×: , que é um subespaço vectorial de ‘8 , com dimensão
8  :, o que nos permite concluir que Ð`: ÐQ Ñß B! Ñ é uma variedade de
dimensão 8  : e índice !, em particular tB! Ð`: ÐQ ÑÑ œ t B! Ð`: ÐQ ÑÑ œ
XB! Ð`: ÐQ ÑÑ é um espaço vectorial de dimensão 8  : . Por outro lado, uma
vez que `: ÐQ Ñ § Q , temos trivialmente tB! Ð`: ÐQ ÑÑ § tB! ÐQ Ñ, donde, uma
vez que tB! Ð`: ÐQ ÑÑ é um subespaço vectorial de XB! ÐQ Ñ, também
tB! Ð`: ÐQ ÑÑ § tB! ÐQ Ñ  ÐtB! ÐQ ÑÑ.

Uma vez que, tendo em conta II.6.13 e II.6.3, o segundo membro é também
um subespaço vectorial de dimensão 8  :, concluímos finalmente a igual-
dade de ambos os membros da inclusão anterior. …
II.6.21 (Algumas propriedades topológicas das variedades) Sejam I um
espaço vectorial de dimensão finita e Q § I uma variedade. Tem-se então:
a) Q é um espaço topológico localmente compacto, isto é, cada ponto
B − Q admite um sistema fundamental de vizinhanças compactas.
b) Q é um espaço topológico localmente conexo, isto é, cada ponto B − Q
admite um sistema fundamental de vizinhanças conexas.44 Em particular as
componentes conexas de Q são conjuntos abertos em Q , e portanto também
variedades, com a mesma dimensão e índice que Q em cada ponto.
Dem: Se atendermos a que um difeomorfismo é também um homeo-
morfismo, para provar a) e b), basta-nos provar que ! admite em ‘8: um
sistema fundamental de vizinhanças compactas e conexas. Ora, isso acontece
ao sistema fundamental de vizinhanças constituído pelos conjuntos
Ò<ß <Ó8: ‚ Ò!ß <Ó: , com <  !. …
II.6.22 (As variedades são localmente fechadas) Sejam I um espaço vectorial
de dimensão finita e Q § I uma variedade. Existe então um aberto Y de I ,
com Q § Y , tal que Q seja fechado em Y .

44Aliás, é mesmo um espaço localmente conexo por arcos.


152 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Dem: De facto, o que vamos demonstrar é que todo o subconjunto


localmente compacto Q de I verifica a propriedade do enunciado. Para cada
B − Q , seja ZB uma vizinhança compacta de B em Q . Vem que intQ ÐZB Ñ é
um aberto de Q , contendo B, pelo que existe um aberto YB de I , com
B − YB , tal que intQ ÐZB Ñ œ Q  YB . Seja Y a união dos abertos YB , que é
um aberto de I , contendo Q . Vamos ver que Q é fechado em Y , para o que
tomamos um ponto arbitrário C − Y , que seja aderente a Q . Seja B − Q tal
que C − YB . Se [ é uma vizinhança arbitrária de C , vem que [  YB é
também uma vizinhança de C , pelo que, por C ser aderente a Q , tem-se
[  YB  Q Á g, donde também [  ZB Á g; ficou portanto provado que
C é aderente a ZB , pelo que, por ZB ser compacto, logo fechado em I ,
segue-se que C − ZB , em particular C − Q . …

É bem conhecido o resultado de Topologia que nos diz que todo o espaço
topológico conexo, que seja localmente conexo por arcos, isto é, em que
cada ponto admita um sistema fundamental de vizinhanças conexas por
arcos, é também um espaço topológico conexo por arcos. Uma vez que o
raciocínio da demonstração de II.6.21 mostra também que toda a varie-
dade é localmente conexa por arcos, podemos concluir que toda a
variedade conexa é também conexa por arcos. De facto, torna-se muitas
vezes útil dispôr de um resultado mais forte em que se garante que dois
pontos podem ser unidos não só por um arco contínuo, mas também por
um arco suave. A demonstração, que apresentamos em seguida, é um
pouco mais delicada, na medida que temos que ser cuidadosos com o
modo como unimos dois arcos, para evitar o perigo dos cantos, que não
existia ao nível das aplicações contínuas.

II.6.23 Seja Q uma variedade conexa. Dados Bß C − Q , existe uma aplicação


suave 0 À Ò!ß "Ó Ä Q , tal que 0 Ð!Ñ œ B e 0 Ð"Ñ œ C . Mais precisamente, existe
mesmo uma aplicação suave 1À ‘ Ä Q e &  !, tal que 1Ð>Ñ œ B, para cada
> Ÿ &, e 1Ð>Ñ œ C , para cada >   "  &.
Dem: Basta evidentemente mostrar a existência de 1 nas condições do enun-
ciado, visto que se pode então tomar para 0 a restrição de 1. Considere-se em
Q a relação µ , definida pela condição de se ter B µ C se, e só se, existe
uma aplicação suave 1À ‘ Ä Q e &  !, tal que 1Ð>Ñ œ B, para cada > Ÿ &, e
1Ð>Ñ œ C , para cada >   "  &. A primeira propriedade fundamental a
verificar é que µ é uma relação de equivalência. O facto de se ter B µ B é
claro, se tomarmos para 1 a aplicação constante de valor B, e, supondo que
B µ C , com a correspondente aplicação suave 1À ‘ Ä Q , o facto de se ter
C µ B resulta de que se pode considerar a aplicação suave 2À ‘ Ä Q ,
definida por 2Ð>Ñ œ 1Ð"  >Ñ. Quanto à transitividade, se B µ C e C µ D ,
podemos considerar as aplicações suaves 1ß s1À ‘ Ä Q tais que, para um
certo &  ! se tenha 1Ð>Ñ œ B, para > Ÿ &, 1Ð>Ñ œ C , para >   "  &, s1Ð>Ñ œ C ,
para > Ÿ &, e s1Ð>Ñ œ D , para >   "  &; e podemos então considerar a
aplicação 2À ‘ Ä Q , definida por
§6. Variedades com bordo 153

2Ð>Ñ œ 
"
1Ð#>Ñ , se > Ÿ #
" ;
s1Ð#>  "Ñ , se >  #

trata-se de uma aplicação suave por isso acontecer à respectiva restrição a


cada um dos abertos Ó_ß "# Ò, Ó "# ß _Ò e Ó "# & ß "# & Ò, com união ‘, a última
por ser constantemente igual a C; uma vez que 2Ð>Ñ œ B, se > Ÿ #& , e
2Ð>Ñ œ D , se >   "  #& , concluímos que B µ D , como queríamos. Se
verificarmos que cada uma das classes de equivalência, para esta relação, é
um conjunto aberto, teremos o problema resolvido, visto que, Q sendo uma
união disjunta destes conjuntos abertos, o facto de Q ser conexo implica que
apenas um deles pode ser não vazio, por outras palavras, tem-se B µ C ,
quaisquer que sejam B e C. Seja portanto B! pertencente a uma das classes de
equivalência. Seja :À Y Ä Z um difeomorfismo local de ÐQ ß B! Ñ sobre
Б8: ß !Ñ. Se necessário substituindo : por uma restrição, podemos já supor
que Z é convexo (por exemplo, que Z é da forma Ó<ß <Ò8: ‚ Ò!ß <Ò: ).
Aplicando o teorema da partição da unidade à cobertura aberta de ‘
constituída pelos intervalos Ó_ß #$ Ò e Ó "$ ß _Ò, podemos considerar uma
aplicação suave !À ‘ Ä Ò!ß "Ó, tal que !Ð>Ñ œ !, para cada > Ÿ "$ , e !Ð>Ñ œ ",
para cada >   #$ (a função da partição da unidade correspondente ao segundo
aberto). Podemos agora, para cada B − Y , considerar a aplicação suave
1À ‘ Ä Q , definida por
1Ð>Ñ œ :" Ð!Ð>Ñ:ÐBÑÑ,

para a qual se tem 1Ð>Ñ œ B! , se > Ÿ "$ , e 1Ð>Ñ œ B, se >   #$ , o que mostra
que B µ B! . Ficou portanto provado que Y está contido na classe de
equivalência em questão, o que mostra que esta é aberta. …
II.6.24 (Corolário) Sejam Q § I uma variedade conexa, J um espaço
vectorial de dimensão finita e 0 À Q Ä J uma aplicação de classe G " tal que,
para cada B − Q , H0B œ ! − PÐXB ÐQ Ñà J Ñ. Tem-se então que 0 é uma apli-
cação constante.
Dem:45 Dados Bß C − Q , consideremos uma aplicação suave 1À ‘ Ä Q , tal
que 1Ð!Ñ œ B e 1Ð"Ñ œ C . Podemos então considerar a aplicação 2À ‘ Ä J ,
de classe G " , definida por 2Ð>Ñ œ 0 Ð1Ð>ÑÑ, para a qual se tem 2 w Ð>Ñ œ
H01Ð>Ñ Ð1w Ð>ÑÑ œ !, pelo que 2 é constante, em particular
0 ÐBÑ œ 2Ð!Ñ œ 2Ð"Ñ œ 0 ÐCÑ. …

Embora o teorema da função inversa seja falso no quadro das variedades


com bordo, algumas das aplicações deste teorema, que foram estudadas na

45Este enunciado pode ser também demonstrado facilmente sem recorrer ao resultado
precedente, mas parece-nos instrutivo apresentar esta demonstração.
154 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

secção precedente no quadro das variedades sem bordo, são generali-


záveis para as variedades com bordo. O que se passa é que é por vezes
possível tirar conclusões sobre as variedades com bordo, aplicando o teo-
rema da função inversa a variedades sem bordo convenientes. É isso que
vamos fazer nos próximos resultados.

II.6.25 Sejam ÐQ ß B! Ñ uma variedade com dimensão 8 e índice :, F uma parte


dum espaço vectorial I s de dimensão finita, e 0 À Q Ä F uma imersão no
ponto B! . Existe então um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que a restrição
0ÎY seja um difeomorfismo de Y sobre 0 ÐY Ñ. Em particular 0 é uma imersão
em todos os pontos de Y (generalização de II.4.23).
Dem: Compondo 0 com um difeomorfismo local de um par ÐEß !Ñ sobre
ÐQ ß B! Ñ, onde E é um sector, ficamos reduzidos a provar o resultado no caso
particular em que Q é um aberto de um sector E de índice : de um espaço
vectorial J de dimensão 8. Uma vez que Q é um aberto de E, vai existir um
aberto Z de J , tal que Q œ E  Z . O facto de E ser fechado em J implica
que Q é fechado em Z pelo que, tendo em conta II.3.12, podemos
considerar uma aplicação suave s0 À Z Ä I s prolongando 0 . A aplicação
s
linear H0! vai ser uma restrição de H0 ! , pelo que, uma vez que ambas têm o
mesmo domínio J , elas vão coincidir. Concluímos assim que H0 s ! é uma
s
aplicação linear injectiva pelo que, uma vez que o domínio de 0 é um aberto
de J , em particular uma variedade sem bordo, podemos aplicar a versão
particular já demonstrada em II.4.23 para garantir a existência de um aberto
Z w de J , com ! − Z w § Z , tal que a restrição s0 ÎZ w seja um difeomorfismo de
Z w sobre s0 ÐZ w Ñ. O conjunto Y œ E  Z w é então um aberto de E, com
! − Y § Q , tal que a restrição de s0 a Y , igual à restrição a Y de 0 , é um
difeomorfismo de Y sobre o conjunto s0 ÐY Ñ œ 0 ÐY Ñ de F . O facto de, para
cada B − Y , a aplicação linear H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ s Ñ ser ainda injectiva
resulta de que se trata de um isomorfismo de XB ÐY Ñ œ XB ÐQ Ñ sobre
X0 ÐBÑ Ð0 ÐY ÑÑÞ …

II.6.26 Sejam Q § I uma variedade, eventualmente com bordo, e 0 À Q Ä I s


uma imersão. Sejam K um espaço vectorial de dimensão finita, G § K um
subconjunto arbitrário e 1À G Ä Q uma aplicação contínua tal que
s seja G : . Tem-se então que a aplicação 1À G Ä Q é G : .
0 ‰ 1À G Ä I
Dem: Repetir a demonstração apresentada no quadro das variedades sem
bordo. …
II.6.27 (Corolário) Sejam Q § I uma variedade, eventualmente com bordo, e
0À Q Ä I s uma imersão, que seja um homeomorfismo de Q sobre 0 ÐQ Ñ.
Tem-se então que 0 é um difeomorfismo de Q sobre 0 ÐQ Ñ, em particular
0 ÐQ Ñ é também uma variedade.
Dem: Repetir a demonstração apresentada no quadro das variedades sem
bordo. …
§6. Variedades com bordo 155

II.6.28 (Fotografia de uma subvariedade) Seja ÐQ s ß B! Ñ uma variedade sem


s
bordo, com dimensão 8, e seja Q § Q , tal que B! − Q e que ÐQ ß B! Ñ seja
uma variedade, com dimensão 7 e índice :. Existem então espaços
vectoriais J e K , com dimensões 7 e 8  7, um sector E de índice : de J ,
conjuntos abertos Y s de Q
s , com B! − Y
s , Z de J , com ! − Z , e [ de K ,
com ! − [ , e um difeomorfismo <À Z ‚ [ Ä Y s , tal que <Ð!ß !Ñ œ B! e
que
s Ñ œ ÖÐCß DÑ − Z ‚ [ ± C − E e D œ !×.
<" ÐQ  Y

Dem:46 Para uma melhor sistematização, vamos dividir a demonstração em


várias alíneas.
a) Usando um difeomorfismo local de ÐQ s ß B! Ñ sobre ÐJs ß !Ñ, em que J s é um
espaço vectorial de dimensão 8, verificamos facilmente que basta demonstrar
o resultado no caso particular em que B! œ ! e Q s é um aberto dum espaço
s
vectorial J de dimensão 8. É esse caso particular que vamos demonstrar em
seguida.
b) Sejam J um espaço vectorial de dimensão 7, E § J um sector de índice
ww
: e :À Z˜ Ä Y w um difeomorfismo local de ÐEß !Ñ sobre ÐQ ß !Ñ.
ww ww
c) Uma vez que Z˜ é aberto em E, podemos escrever Z˜ œ E  Z ww , com
ww
Z ww aberto em J . O facto de E ser fechado em J implica que Z˜ é fechado
em Z ww pelo que, por II.3.12, podemos garantir a existência de uma aplicação
suave :À Z ww Ä J s , prolongando :.
d) H:! é um isomorfismo de J œ X! ÐEÑ sobre X! ÐQ Ñ, sendo portanto uma
aplicação linear injectiva de J em J s . Uma vez que H:! é um
prolongamento de H:! , com o mesmo domínio J , segue-se que
H:! œ H:! e portanto H:! é uma aplicação linear injectiva de J em J s.
e) Pelo teorema da derivada injectiva, podemos considerar um espaço
vectorial K de dimensão 8  7, um aberto Z w de J , com ! − Z w § Z ww , um
aberto [ w de K , com ! − [ w , um aberto Y s w de Js , com ! − Y s w , e um difeo-
morfismo <w À Z w ‚ [ w Ä Y s w , tal que, para cada C − Z w , <w ÐCß !Ñ œ :ÐCÑ, em
particular, < Ð!ß !Ñ œ !.
w
ww
f) Uma vez que E  Z w é um aberto de E contido em E  Z ww œ Z˜ e que
ww
:À Z˜ Ä Y w é um homeomorfismo, concluímos que o conjunto
:ÐE  Z w Ñ œ :ÐE  Z w Ñ é um aberto de Y w , portanto também de Q ,
w
contendo ! œ :Ð!Ñ, pelo que vai existir um aberto Y˜ de Q s , com ! − Y˜ w , tal
que
w
:ÐE  Z w Ñ œ Q  Y˜ .

46Repararque este resultado é uma generalização de II.4.27, mas a sua demonstração,


embora seguindo as mesmas ideias que a daquele resultado, é tecnicamente um pouco
mais complicada.
156 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

g) Pela continuidade de <w em Ð!ß !Ñ, existe um aberto Z de J , com


! − Z § Z w , e um aberto [ de K , com ! − [ § [ w , de modo que, sendo
s œ <w ÐZ ‚ [ Ñ, que é um aberto de J
Y s , contendo ! œ <w Ð!ß !Ñ, se tenha
w
s ˜ s s
Y § Y , em particular, Y § Q . Vamos ver que a restrição <À Z ‚ [ Ä Y s
de < verifica as condições do enunciado.
w

h) Se ÐCß DÑ − Z ‚ [ verifica C − E e D œ !, vem


s,
<ÐCß DÑ œ <w ÐCß !Ñ œ :ÐCÑ œ :ÐCÑ − Q  Y
s Ñ.
e portanto ÐCß DÑ − <" ÐQ  Y
s Ñ. Tem-se
i) Suponhamos agora que ÐCß DÑ − Z ‚ [ pertence a <" ÐQ  Y
portanto
w
s § Q  Y˜ œ :ÐE  Z w Ñ,
<ÐCß DÑ − Q  Y
pelo que existe Cw − E  Z w tal que
<w ÐCß DÑ œ <ÐCß DÑ œ :ÐC w Ñ œ <w ÐC w ß !Ñ,
o que, tendo em conta o facto de <w ser injectiva, implica que C œ C w e D œ !,
em particular, C − E. …
II.6.29 (Construção de variedades como imagens recíprocas) Sejam ÐQ ß B! Ñ
e ÐQs ß C! Ñ variedades sem bordo, com dimensões 7 e 8, respectivamente, e
0À Q Ä Q s uma submersão no ponto B! , tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Seja
w
C! − Q s §Q s w ß C! Ñ seja uma variedade com dimensão 8w e
s , tal que ÐQ
índice :. Sendo então
s w Ñ œ ÖB − Q ± 0 ÐBÑ − Q
Q w œ 0 " ÐQ s w ×,

tem-se que ÐQ w ß B! Ñ é uma variedade com dimensão 7  Ð8  8w Ñ e índice :


e

XB! ÐQ w Ñ œ Ö? − XB! ÐQ Ñ ± H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ s w Ñ×,


s w Ñ×.
tB! ÐQ w Ñ œ Ö? − XB! ÐQ Ñ ± H0B! Ð?Ñ − tC! ÐQ

Dem: Basta repetir a demonstração de II.4.32, resultado do qual este é uma


generalização, reparando que a afirmação sobre o cone tangente se demonstra
do mesmo modo que aquela sobre os espaços vectoriais tangentes. …
II.6.30 (Exemplo) Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8   ", B! − I ,
<  ! e F < ÐB! Ñ § I a bola fechada de centro B! e raio < de I ,
F < ÐB! Ñ œ ÖB − I ± mB  B! m Ÿ <× œ ÖB − I ± <#  ØB  B! ß B  B! Ù   !×.
Consideremos a aplicação suave 0 À I Ä ‘, definida por
0 ÐBÑ œ <#  ØB  B! ß B  B! Ù,
§6. Variedades com bordo 157

e reparemos que H0B Ð?Ñ œ #ØB  B! ß ?Ù, pelo que a aplicação linear
H0B À I Ä ‘ é sobrejectiva, excepto para B œ B! . Uma vez que I e ‘ são
variedades sem bordo com dimensões 8 e ", respectivamente, e que se tem
F < ÐB! Ñ œ 0 " Б Ñ, onde ‘ œ Ò!ß _Ò é uma variedade com dimensão ",
tendo índice " no ponto ! e índice ! nos restantes pontos, concluímos que
F < ÐB! Ñ é uma variedade, com a possível excepção do ponto B! , tendo
dimensão 8 em todos os pontos, índice ! nos pontos da bola aberta
F< ÐB! Ñ œ ÖB − I ± mB  B! m  <× e índice " nos pontos da esfera W< ÐB! Ñ œ
ÖB − I ± mB  B! m œ <×. O resultado precedente não nos permite tirar direc-
tamente nenhuma conclusão sobre o que se passa no ponto B! − F < ÐB! Ñ, mas
vemos que, de facto, ele não é uma excepção, visto que, sendo um ponto
interior a F < ÐB! Ñ, este conjunto é naquele ponto uma variedade de dimensão
8 e índice ! (aliás, este mesmo raciocínio serviria também para mostrar que
F < ÐB! Ñ é uma variedade de dimensão 8 e índice ! em qualquer ponto da bola
aberta F< ÐB! Ñ).
Em conclusão F < ÐB! Ñ é uma variedade sem cantos com dimensão 8, tendo-se
`! ÐF < ÐB! ÑÑ œ F< ÐB! Ñ e `" ÐF < ÐB! ÑÑ œ W< ÐB! Ñ. É claro que, para cada
B − F < ÐB! Ñ, XB ÐF < ÐB! ÑÑ œ I (sendo um espaço vectorial de dimensão 8 não
pode ser outra coisa…) e, quanto ao cone tangente, tem-se tB ÐF < ÐB! ÑÑ œ I ,
para cada B − F< ÐB! Ñ (pontos onde o índice é !), e, aplicando mais uma vez
o resultado precedente, vemos que, para cada B − W< ÐB! Ñ,
tB ÐF < ÐB! ÑÑ œ Ö? − I ± H0B Ð?Ñ   !× œ Ö? − I ± ØB  B! ß ?Ù Ÿ !×
(o conjunto dos vectores que fazem um ângulo recto ou obtuso com o raio
B  B! ).
II.6.31 Um caso particular de II.6.29, que se encontra frequentemente na prática,
é aquele em que Q s œ ‘8 ‚ ‘: , C! œ Ð!ß !Ñ e Q s w œ Ö!×8 ‚ ‘: , que é, no
ponto Ð!ß !Ñ, uma variedade com dimensão : e índice :. Sendo ÐQ ß B! Ñ uma
variedade sem bordo com dimensão 7 e 0 À Q Ä ‘8 ‚ ‘: uma aplicação
suave, podemos escrever
0 ÐBÑ œ Ð1" ÐBÑß á ß 18 ÐBÑß 2" ÐBÑß á ß 2: ÐBÑÑ

e a condição de H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä ‘8 ‚ ‘: ser uma aplicação linear sobrejec-


tiva é equivalente, tal como vimos no lema de Álgebra Linear II.4.35, ao
facto de as derivadas H13 B! e H24 B! , das aplicações suaves componentes
13 ß 24 À Q Ä ‘, serem linearmente independentes em PÐXB! ÐQ Ñà ‘Ñ. Se essa
condição se verificar e se se tiver 0 ÐB! Ñ œ Ð!ß !Ñ, ou seja 13 ÐB! Ñ œ ! œ
24 ÐB! Ñ, podemos concluir que
Q w œ ÖB − Q ± a 13 ÐBÑ œ !, a 24 ÐBÑ   !×
3 4

é no ponto B! uma variedade com dimensão 7  8 e índice : e que


158 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

XB! ÐQ w Ñ œ Ö? − XB! ÐQ Ñ ± a H13 B! Ð?Ñ œ !×,


3
tB! ÐQ w Ñ œ Ö? − XB! ÐQ Ñ ± a H13 B! Ð?Ñ œ !, a H24 B! Ð?Ñ   !×.
3 4

Repare-se que Q w pode ser olhado como o conjunto dos elementos de Q que
verificam um sistema de 8 equações e : inequações e que o número de
equações é igual à codimensão de Q w em B! e o número de inequações é
igual ao respectivo índice.
II.6.32 Vamos olhar de novo, com um pouco mais de atenção, para a situação
que acabamos de descrever.
Suponhamos que temos uma variedade sem bordo Q , com dimensão 7, e
8  : aplicações suaves 1" ß á ß 18 ß 2" ß á ß 2: À Q Ä ‘ e que consideramos o
subconjunto Q w de Q , definido por 8 equações e : inequações,
Q w œ ÖB − Q ± a 13 ÐBÑ œ !, a 24 ÐBÑ   !×.
3 4

As considerações anteriores apenas nos permitem estudar o que se passa com


Q w nos seus elementos B! , para os quais se tenha 24 ÐB! Ñ œ !, para cada 4,
isto é, para os quais todas as inequações sejam realizadas como igualdades,
supondo evidentemente que nesses elementos B! se verifica a hipótese
fundamental de serem linearmente independentes as aplicações lineares
H13 B! e H24 B! .
Poderíamos assim ficar com a impressão que os métodos ao nosso dispôr não
nos permitiam estudar o que se passa com Q w nos pontos B! para os quais,
para alguns valores de 4, 24 ÐB! Ñ  !. Há, no entanto, uma maneira muito
simples de tornear esta dificuldade: Suponhamos, com efeito, que N é o
conjunto dos índices 4 − Ö"ß á ß :× tais que 24 ÐB! Ñ  !. Podemos então
considerar um novo conjunto Q ww definido por todas as equações mas apenas
pelas inequações correspondentes aos restantes índices 4,
Q ww œ ÖB − Q ± a 13 ÐBÑ œ !, a 24 ÐBÑ   !×,
3 4ÂN

conjunto que já pode ser estudado no ponto B! pelos métodos anteriores.


Uma vez que Q w e Q ww coincidem na vizinhança de B! , visto que ambos têm
a mesma intersecção com o aberto de Q
Y œ ÖB − Q ± a 24 ÐBÑ  !×
4−N

(e portanto com um aberto do espaço vectorial ambiente que intersectado


com Q seja igual a Y ), as conclusões sobre o estudo de Q ww em B!
estendem-se imediatamente ao de Q w nesse ponto.

Tal como acontecia na secção precedente, no quadro das variedades sem


bordo, também aqui se pode enunciar uma versão mais forte de II.6.29,
s Ñ ser
em que a hipótese de a aplicação linear H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä XC! ÐQ
§6. Variedades com bordo 159

sobrejectiva é substituída por uma hipótese, em geral mais fraca, a condi-


ção de transversalidade. Começamos por estabelecer um lema, que vai
jogar o papel paralelo ao de II.4.36.

s ß C! Ñ uma variedade sem bordo com dimensão 8 e seja


II.6.33 (Lema) Seja ÐQ
w
s s
C! − Q § Q tal que ÐQ s w ß C! Ñ seja uma variedade com dimensão 8w e índice
:. Existe então um aberto Y s de Q s , com C! − Ys , e uma submersão
s Ä ‘88w ‚ ‘: , tal que 1ÐC! Ñ œ Ð!ß !Ñ e se tenha
1À Y
sw  Y
Q s ± 1ÐCÑ − Ö!×88w ‚ ‘: ×.
s œ ÖC − Y

Por outras palavras, toda a variedade pode ser definida localmente por um
sistema de equações e de inequações, verificando a hipótese de independên-
cia referida em II.6.32.
Dem: Este lema vai ser uma consequência do resultado sobre fotografia de
uma subvariedade referido em II.6.31. Esse resultado permite-nos considerar
espaços vectoriais J e K , com dimensões 8w e 8  8w , um sector E de índice
: de J , conjuntos abertos Ys de Q
s , com C! − Y
s , Z de J , com ! − Z , e [
de K, com ! − [ , e um difeomorfismo <À Z ‚ [ Ä Y s , tal que
<Ð!ß !Ñ œ C! e que
w
s Y
<" ÐQ s Ñ œ ÖÐC w ß DÑ − Z ‚ [ ± C w − E, D œ !×.
w
Considerando um isomorfismo de ‘8 sobre J , que aplique o sector canónico
w w
‘8: sobre E, e um isomorfismo de ‘88 sobre K, vemos que, se necessário
compondo < com a restrição do produto cartesiano destes isomorfismos,
pode-se já supor que J œ ‘8 , E œ ‘8: œ ‘8 : ‚ ‘: e K œ ‘88 . Toma-
w w w w

mos agora para 1À Ys Ä ‘88w ‚ ‘: a composta de <" À Ys Ä ‘8w ‚ ‘88w


w w w
com a aplicação linear sobrejectiva de ‘8 ‚ ‘88 sobre ‘88 ‚ ‘: , defi-
nida por
Ð+" ß á ß +8w ß ," ß á ß ,88w Ñ È Ð," ß á ß ,88w ß +8w :" ß á ß +8w Ñ. …

II.6.34 (Segunda versão da construção de variedades como imagens recípro-


s ß C! Ñ variedades sem bordo, com dimensões 7 e 8,
cas) Sejam ÐQ ß B! Ñ e ÐQ
respectivamente, e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Seja
w w
C! − Q s §Q s tal que ÐQs ß C! Ñ seja uma variedade com dimensão 8w e índice
:, e suponhamos verificada a seguinte condição de transversalidade47:
s w ÑÑ œ XC! ÐQ
H0B! ÐXB! ÐQ ÑÑ  XC! Ð`: ÐQ s Ñ.

47É claro que esta condição se encontra automaticamente verificada no caso em que a
s w ß C! Ñ não
s Ñ é sobrejectiva. No caso em que ÐQ
aplicação linear H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä XC! ÐQ
tem bordo, reencontramos a condição em II.4.37.
160 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Sendo então
w w
s Ñ œ ÖB − Q ± 0 ÐBÑ − Q
Q w œ 0 " ÐQ s ×,

tem-se que ÐQ w ß B! Ñ é uma variedade com dimensão 7  Ð8  8w Ñ e índice :


e

XB! ÐQ w Ñ œ Ö? − XB! ÐQ Ñ ± H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ s w Ñ×,


s w Ñ×.
tB! ÐQ w Ñ œ Ö? − XB! ÐQ Ñ ± H0B! Ð?Ñ − tC! ÐQ

Dem: Tendo em conta o lema precedente, podemos considerar um aberto Y s


de Q s , com C! − Y s , e uma submersão 1À Y s Ä ‘88w ‚ ‘: , com
1ÐC! Ñ œ Ð!ß !Ñ, de modo que, para cada C − Y s w se, e só se,
s , se tenha C − Q
1ÐCÑ − Ö!×88 ‚ ‘: . Resulta então de II.6.29 que se tem
w

XC! ÐQs w Ñ œ Ö@ − XC! ÐQs Ñ ± H1C! Ð@Ñ − Ö!×88w ‚ ‘: ×,


s w Ñ œ Ö@ − XC! ÐQ
tC! ÐQ s Ñ ± H1C! Ð@Ñ − Ö!×88w ‚ ‘: ×,

e portanto, tendo em conta II.6.20,


s w ÑÑ œ tC! ÐQ
XC! Ð`: ÐQ s w Ñ  ÐtC! ÐQ
s w ÑÑ œ Ö@ − XC! ÐQ
s Ñ ± H1C! Ð@Ñ œ !×.

Pela continuidade de 0 , podemos considerar um aberto Y de Q , com


s . Seja s0 œ 1 ‰ 0ÎY , que é uma aplicação suave de
B! − Y , tal que 0 ÐY Ñ § Y
88w
Y em ‘ ‚ ‘ , verificando s0 ÐB! Ñ œ Ð!ß !Ñ, e reparemos que, para cada
:

B − Y , tem-se B − Q w se, e só se, s0 ÐBÑ − Ö!×88 ‚ ‘: , por outras palavras,


w

" w w
Q w  Y œ s0 ÐÖ!×88 ‚ ‘: Ñ œ ÖB − Y ± s0 ÐBÑ − Ö!×88 ‚ ‘: ×.

Vamos agora verificar que a condição de transversalidade implica que a


aplicação linear H0 s B À XB! ÐQ Ñ Ä ‘88w ‚ ‘: é sobrejectiva. Ora, dado
!
w
A − ‘88 ‚ ‘: arbitrário, podemos escolher @w − XC! ÐQ s Ñ tal que
H1C! Ð@ Ñ œ A e a condição de transversalidade implica a existência de
w

? − XB! ÐQ Ñ e de @ww − XC! Ð`: ÐQ s w ÑÑ tais que @w œ H0B! Ð?Ñ  @ww , tendo-se
então H1C! Ð@ww Ñ œ !, pelo que
s B Ð?Ñ.
A œ H1C! Ð@w Ñ œ H1C! ‰ H0B! Ð?Ñ  H1C! Ð@ww Ñ œ H0 !

Podemos agora aplicar II.6.29, para garantir que Q w  Y , e portanto Q w , é,


no ponto B! , uma variedade com dimensão 7  Ð8  8w Ñ e índice : , que
XB! ÐQ w Ñ é o conjunto dos ? − XB! ÐQ Ñ tais que
s B Ð?Ñ − Ö!×88w ‚ ‘: ,
H1C! ÐH0B! Ð?ÑÑ œ H0 !

s w Ñ, e que tB! ÐQ w Ñ é o conjunto dos


isto é, tais que H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ
? − XB! ÐQ Ñ tais que
§6. Variedades com bordo 161

w
s B Ð?Ñ − Ö!×88 ‚ ‘: ,
H1C! ÐH0B! Ð?ÑÑ œ H0 !

w
s Ñ.
isto é, tais que H0B! Ð?Ñ − tC! ÐQ …
II.6.35 (Versão mais geral da construção de variedades como imagens recí-
procas) Sejam ÐQ ß B! Ñ uma variedade de dimensão 7 e índice :, ÐQ s ß C! Ñ
uma variedade sem bordo com dimensão 8 e 0 À Q Ä Q s uma aplicação
w
s s
suave tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Seja C! − Q § Q tal que ÐQs w ß C! Ñ seja uma
variedade com dimensão 8w e índice :w e suponhamos que
s w ÑÑ œ XC! ÐQ
H0B! ÐXB! Ð`: ÐQ ÑÑÑ  XC! Ð`:w ÐQ sÑ

(condição de transversalidade48). Sendo então


w w
s Ñ œ ÖB − Q ± 0 ÐBÑ − Q
Q w œ 0 " ÐQ s ×,

ÐQ w ß B! Ñ é uma variedade de dimensão 7  Ð8  8w Ñ e índice :  :w e

XB! ÐQ w Ñ œ Ò? − XB! ÐQ Ñ ± H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ s w Ñ×,


s w Ñ×Þ
tB! ÐQ w Ñ œ Ò? − tB! ÐQ Ñ ± H0B! Ð?Ñ − tC! ÐQ

Dem: Para uma melhor sistematização, dividimos a demonstração em várias


alíneas:
a) Seja I o espaço vectorial ambiente da variedade ÐQ ß B! Ñ e notemos 5 a
respectiva dimensão. Tendo em conta o lema II.6.33, podemos considerar um
aberto Y de I , com B! − Y , e uma submersão 1À Y Ä ‘57 ‚ ‘: , tal que
1ÐB! Ñ œ Ð!ß !Ñ e se tenha
(*) Q  Y œ ÖB − Y ± 1ÐBÑ − Ö!×57 ‚ ‘: ×.

Tendo em conta II.6.29, tem-se


XB! ÐQ Ñ œ Ö? − I ± H1B! Ð?Ñ − Ö!×57 ‚ ‘: ×,
tB! ÐQ Ñ œ Ö? − I ± H1B! Ð?Ñ − Ö!×57 ‚ ‘: ×,

e portanto também
XB! Ð`: ÐQ ÑÑ œ tB! ÐQ Ñ  ÐtB! ÐQ ÑÑ œ
œ Ö? − I ± H1B! Ð?Ñ œ !×.

b) Mostremos agora que, se necessário substituindo Y por um aberto mais


pequeno e 1 pela sua restrição, pode-se já supor que existe uma aplicação

48A novidade em relação à versão precedente está em que permitimos que a variedade
ÐQ ß B! Ñ tenha bordo. No entanto, a variedade de chegada ÐQ s ß C! Ñ continua a não ter
bordo. No caso em que a variedade de partida ÐQ ß B! Ñ também não tem bordo,
reencontramos a condição de transversalidade na versão precedente.
162 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

suave s0 À Y Ä Q s , constituindo um prolongamento da restrição de 0 a


Q  Y.
Para isso, basta considerar um difeomorfismo local <À Y s ÄZ s de ÐQs ß C! Ñ
s
sobre Б ß !Ñ, reduzir Y de modo que 0 ÐQ  Y Ñ § Y , reparar que, por (*),
8

Q  Y é fechado em Y pelo que, por II.3.12, < ‰ 0ÎQ Y admite um


prolongamento suave a Y , prolongamento que, se necessário reduzindo de
s , bastando por fim tomar para s0
novo Y , se pode já supor tomar valores em Z
a composição deste prolongamento com <" .
c) Seja 2À Y Ä Q s ‚ Б57 ‚ ‘: Ñ a aplicação suave definida por
s ÐBÑß 1ÐBÑÑ.
2ÐBÑ œ Ð0
Tem-se 2ÐB! Ñ œ ÐC! ß !Ñ e vamos mostrar que 2 verifica, no ponto B! , a
condição de transversalidade descrita no resultado precedente, relativamente
ao conjunto Q s w ‚ ÐÖ!×57 ‚ ‘: Ñ, que é, no ponto ÐC! ß !Ñ, uma variedade
com dimensão 8w  : e índice :  :w (reparar que Y é, em B! , uma variedade
sem bordo com dimensão 5 e que Q s ‚ Б57 ‚ ‘: Ñ é, em ÐC! ß !Ñ, uma
variedade sem bordo com dimensão 8  Ð5  7Ñ  :).
s Ñ ‚ Б57 ‚ ‘: ) arbitrário. O facto de H1B! ser
Seja então Ð@ß AÑ − XC! ÐQ
uma aplicação linear sobrejectiva implica a existência de ? − I tal que
H1B! Ð?Ñ œ A. Tem-se então @  H0 s B Ð?Ñ − XC! ÐQs Ñ, pelo que, pela
!
condição de transversalidade do enunciado, vai existir ?w − XB! Ð`: ÐQ ÑÑ e
w w w
s ÑÑ œ tC! ÐQ
@w − XC! Ð`:w ÐQ s Ñ  Ð>C! ÐQ
s ÑÑ

tais que
s B Ð?Ñ.
H0B! Ð?w Ñ  @w œ @  H0 !

O que vimos em a) mostra-nos que H1B! Ð?w Ñ œ ! pelo que, sendo


?ww œ ?  ?w , tem-se ainda H1B! Ð?ww Ñ œ A e, pela última fórmula destacada,
@ œ H0s B Ð?ww Ñ  @w . Podemos assim escrever
!

s B Ð?ww Ñß H1B! Ð?ww ÑÑ  Ð@w ß !Ñ œ H2B! Ð?ww Ñ  Ð@w ß !Ñ,


Ð@ß AÑ œ ÐH0 !

onde Ð@w ß !Ñ pertence a


w w
s ‚ ÐÖ!×57 ‚ ‘: ÑÑ  ÐtÐC! ß!Ñ ÐQ
tÐC! ß!Ñ ÐQ s ‚ ÐÖ!×57 ‚ ‘: ÑÑÑ

portanto
s w ‚ ÐÖ!×57 ‚ ‘: ÑÑÑ,
Ð@w ß !Ñ − XÐC! ß!Ñ Ð`::w ÐQ

o que prova a condição de transversalidade pretendida.


d) Para cada B − Y , tem-se B − Q w se, e só se, B − Q e 0 ÐBÑ − Qs w ou seja
w
se, e só se, 1ÐBÑ − Ö!×57 ‚ ‘: e s0 ÐBÑ − Q s , portanto se, e só se,
§6. Variedades com bordo 163

2ÐBÑ − Qs w ‚ ÐÖ!×57 ‚ ‘: Ñ. Aplicando o resultado precedente, concluí-


mos agora que Q w  Y , e portanto Q w , é, no ponto B! , uma variedade com
dimensão
5  Ð8  Ð5  7Ñ  :  Ð8w  :ÑÑ œ 7  Ð8  8w Ñ
e índice :  :w e que um vector ? − I está em XB! ÐQ w Ñ se, e só se,
s w ‚ ÐÖ!×57 ‚ ‘: ÑÑ ou seja, se, e só se, se verifica
H2B! Ð?Ñ − XÐC! ß!Ñ ÐQ
H1B! Ð?Ñ − Ö!×57 ‚ ‘: e H0 s w Ñ, o que é ainda equivalente,
s B Ð?Ñ − XC! ÐQ
!
tendo em conta o que vimos em a), às condições ? − XB! ÐQ Ñ e
H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ w Ñ. Do mesmo modo se verifica que um vector ? − I está
s w Ñ.
em tB! ÐQ w Ñ se, e só se, ? − tB! ÐQ Ñ e H0B! Ð?Ñ − tC! ÐQ …
II.6.36 (Corolário) Sejam ÐQ s ß C! Ñ uma variedade sem bordo, com dimensão 8,
e Q e Q dois subconjuntos de Q
w s , contendo C! , tais que ÐQ ß C! Ñ seja uma
variedade com dimensão 7 e índice : e ÐQ w ß C! Ñ seja uma variedade com
dimensão 7w e índice :w . Se se verifica a condição de transversalidade
XC! Ð`p ÐMÑÑ  XC! Ð`pw ÐM w ÑÑ œ XC! ÐM
s Ñ,

Q  Q w é uma variedade em C! com dimensão 7  7w  8 e índice :  :w e


XC! ÐQ  Q w Ñ œ XC! ÐQ Ñ  XC! ÐQ w Ñß
tC! ÐQ  Q w Ñ œ tC! ÐQ Ñ  tC! ÐQ w Ñ.

Dem: Tal como em II.4.38, o caso particular em que ÐQ ß C! Ñ e ÐQ w ß C! Ñ não


s.
têm bordo, basta aplicar o resultado precedente à inclusão +À Q w Ä Q …

§7. Teorema de Sard.

II.7.1 Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades sem bordo e 0 À Q Ä Q s uma


aplicação suave. Diz-se que B − Q é um ponto regular de 0 se 0 for uma
submersão no ponto B; caso contrário, diz-se que B é um ponto crítico de 0 .
Diz-se que um ponto C − Q s é um valor regular de 0 se, todos os
B − 0 " ÐÖC×Ñ são pontos regulares; caso contrário, isto é, se existe um ponto
crítico B − 0 " ÐÖC×Ñ, diz-se que C é um valor crítico de 0 .

A importância dos valores regulares é que eles são os pontos C − Q s para


os quais se pode garantir que a imagem recíproca 0 " ÐÖC×Ñ é uma subva-
riedade, eventualmente vazia, de Q . O teorema de Sard, que estudamos
em seguida, vai garantir a existência de muitos valores regulares, provan-
do, mais precisamente, que o conjunto dos valores críticos é pequeno em
Qs , num sentido conveniente. Repare-se que, no caso em que, para cada
B − Q , Q tem em B uma dimensão menor que a de Q s em 0 ÐBÑ, todos os
164 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

pontos de Q são críticos, pelo que os valores regulares de 0 são


simplesmente aqueles que não pertencem a 0 ÐQ Ñ.
A primeira coisa que temos que fazer é explicar o que entendemos por
“conjunto pequeno” numa variedade. No teorema de Sard, propriamente
dito, isso significa que se trata de um conjunto de medida nula. No
entanto, para evitar utilizar argumentos de Teoria da Medida, preferimos
examinar uma versão mais fraca deste teorema49, mas que é suficiente
para a maioria das suas aplicações, em que a noção de conjunto pequeno é
meramente topológica. Os conjuntos pequenos vão ser os conjuntos
magros que definimos em seguida.

II.7.2 Seja Q um espaço topológico localmente compacto e separado (por


exemplo uma variedade, eventualmente com bordo). Diz-se que um conjunto

subconjuntos fechados de Q com interior vazio tal que E § - G4 .


E § Q é magro se existir uma família finita ou numerável ÐG4 Ñ4−N de

4−N

Nos dois resultados seguintes, cujas demonstrações são triviais, isolamos


algumas propriedades elementares dos conjuntos magros.

II.7.3 Seja Q um espaço topológico localmente compacto e separado. Tem-se


então:
a) Todo o conjunto fechado de interior vazio é magro, em particular g é um
conjunto magro.
b) Se E § Q é magro e F § E, então F é magro.

- E4 é um conjunto magro.
c) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família finita ou numerável de conjuntos magros, então

4−N

II.7.4 Sejam Q e Q s espaços topológicos localmente compactos e separados e


s
0 À Q Ä Q um homeomorfismo. Se E § Q , então E é magro em Q se, e
só se, 0 ÐEÑ é magro em Qs.

O que referimos nos dois resultados precedentes mostra que certas


construções que se esperava que conduzissem de conjuntos pequenos a
conjuntos pequenos fazem-no de facto. Para a noção ser verdadeiramente
útil precisamos, no entanto, de algo que garanta que não há demasiados
conjuntos pequenos e é isso que faz o teorema de Baire que examinamos
em seguida.
Repare-se que a definição de conjunto magro e as respectivas proprie-

49Em rigor, não deveríamos dar o nome de “teorema de Sard” à versão que estudaremos,
na medida em que se trata de um resultado estabelecido anteriormente por Brown (ver,
por exemplo, [19] para uma discussão mais detalhada desta questão). Preferimos utilizar o
nome “teorema de Sard” por ser essa a designação pela qual é reconhecido pela comu-
nidade matemática actual um resultado deste tipo.
§7. Teorema de Sard 165

dades elementares podiam ter sido dadas no quadro dos espaços topoló-
gicos arbitrários e que só no teorema de Baire vamos utilizar o facto de
estarmos a trabalhar com espaços localmente compactos e separados.50

II.7.5 (Teorema de Baire) Seja Q um espaço topológico localmente compacto


e separado. Se E § Q é magro então intÐEÑ œ g.

fechados de interior vazio, então - G8 tem interior vazio. Suponhamos que


Dem: Basta mostrarmos que, se ÐG8 Ñ8− é uma família de conjuntos

isso não acontecia, ou seja, que existia B − Q interior a - G8 . Seja então


8 "

O! § - G8 uma vizinhança compacta de B. Vamos construir recursi-


8 "

8 "
vamente compactos O8 , 8   ", de interior não vazio, verificando O8 §
O8"  ÐQ Ï G8 Ñ. Para isso, atendemos a que intÐO8" Ñ é um aberto não
vazio, e portanto não contido em G8 , e daqui deduzimos que o aberto
intÐO8" Ñ  ÐQ Ï G8 Ñ é não vazio, pelo que nos basta tomar para O8 uma
vizinhança compacta de um dos pontos deste aberto que esteja contida nele.
Vemos agora que
, O8 § O!  Ð, Q Ï G8 Ñ œ O!  ÐQ Ï . G8 Ñ œ g,
8 " 8 " 8 "

o que é absurdo, uma vez que se trata da intersecção de uma sucessão decres-
cente de compactos não vazios (os O! Ï O8 são abertos do compacto O! ,
com união O! , pelo que teria de haver uma união finita, igual a um dos
O! Ï O8 , que fosse igual a O! , o que implicava que O8 œ g). …

Repare-se que, apesar de os conjuntos magros terem interior vazio, nem


todos os conjuntos de interior vazio têm que ser magros; por exemplo, em
‘, o conjunto dos racionais, sendo união numerável de conjuntos
unitários, é magro mas o conjunto dos irracionais, apesar de ter interior
vazio, não é magro (senão ‘ seria magro). Há, no entanto, uma classe
importante de conjuntos para os quais ser magro equivale a ter interior
vazio:

II.7.6 Se Q é um espaço topológico localmente compacto e separado, um


conjunto E § Q diz-se 5-compacto se for união de uma família contável de
subconjuntos compactos de Q . Se E § Q é 5 -compacto, então E é um
conjunto magro se, e só se, tem interior vazio.
Dem: Pelo teorema de Baire, já sabemos que, se E é magro, então

50De facto o teorema de Baire também é verificado num enquadramento diferente, muito
importante, por exemplo para as aplicações à Análise Funcional, a saber o dos espaços
métricos completos, mas trata-se de um resultado que não teremos ocasião de aplicar no
nosso estudo.
166 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

intÐEÑ œ g. Reciprocamente, se E tem interior vazio e é 5 -compacto, então


E é uma união de uma família contável de conjuntos compactos G4 , os quais
vão, em particular, ser conjuntos fechados de interior vazio, o que mostra que
E é magro. …

Para podermos estabelecer mais uma propriedade importante dos conjun-


tos magros, temos necessidade de rever uma noção topológica que utiliza-
remos em várias outras situações.

II.7.7 (Generalidades sobre espaços de base contável) Se E é um espaço


topológico, uma base de abertos de E é um conjunto h de partes abertas de
E, com a propriedade de todo o aberto Y de E ser a união de uma família de
abertos pertencentes a h 51 ou, o que é equivalente, com a propriedade de,
para cada aberto Y de E e cada B − Y , existir Z − h tal que B − Z § Y . O
espaço topológico E diz-se de base contável se admitir uma base de abertos
h finita ou numerável. Como propriedades elementares destas noções, temos:
a) Sejam E um espaço topológico e F § E um subespaço topológico. Se h é
uma base de abertos de E, então a classe dos conjuntos Y  F , com Y − h ,
é uma base de abertos de F . Em particular, se E é de base contável, então F
é também de base contável.
b) Seja h uma base de abertos de E e escolhamos, para cada conjunto não
vazio Y − h , um elemento BYs . O conjunto G , dos elementos BYs assim esco-
lhidos, é então uma parte densa de E. Em particular, todo o espaço topoló-
gico de base contável é separável, isto é, tem uma parte densa finita ou
numerável.
c) Se E é um espaço métrico, então E é de base contável se, e só se, é
separável. Com efeito, dado um subconjunto denso G , finito ou numerável, o
conjunto das bolas abertas de E com centro num ponto de G e raio racional
constitui uma base contável de abertos de E.
d) Se I é um espaço vectorial de dimensão finita 8, então I é de base
contável. Com efeito, I é isomorfo, e portanto homeomorfo, ao espaço
métrico ‘8 , que admite uma parte densa finita ou numerável, constituída
pelos pontos com coordenadas racionais.

As observações anteriores vão permitir tirar algumas conclusões impor-


tantes sobre as variedades.

II.7.8 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I uma variedade.


Tem-se então:
a) Q é um espaço topológico de base contável.
b) O conjunto das componentes conexas de Q é finito ou numerável.
c) Se Q tem dimensão !, então as componentes conexas de Q são os

51Olhamos para o conjunto vazio como sendo a união da família vazia de subconjuntos.
§7. Teorema de Sard 167

subconjuntos unitários e portanto Q é finito ou numerável.


Dem: A alínea a) resulta de Q ser um subespaço topológico de um espaço
vectorial de dimensão finita, o qual é de base contável. Quanto a b), sendo h
uma base finita ou numerável de abertos de Q , o facto de as componentes
conexas de Q serem abertos de Q (cf. II.6.21) disjuntos dois a dois e não
vazios implica a existência de uma aplicação injectiva do conjunto das
componentes conexas em h , que a cada componente conexa associa um
aberto não vazio escolhido em h que esteja contido nela. No caso em que Q
tem dimensão !, a topologia de Q é a topologia discreta, o que implica que
as suas componentes conexas são os conjuntos unitários, uma vez que só
estes podem ser conexos não vazios (qualquer subconjunto de Q é simulta-
neamente aberto e fechado em Q ). …
II.7.9 (Lema) Seja Q um espaço topológico localmente compacto, separado e

compactos de Q , ÐO8 Ñ8 " tal que O8 § intÐO8" Ñ e que Q œ - O8 . Em


de base contável, por exemplo uma variedade. Existe então uma sucessão de

8 "
particular Q é 5-compacto.
Dem: Seja h uma base contável de abertos de Q e notemos ÐY8 Ñ8 " uma
sucessão cujo conjunto de termos seja o dos abertos pertencentes a h cuja

por juntar o conjunto vazio g a h ). Tem-se ainda Q œ - Y8 , visto que, para


aderência seja compacta (no caso trivial Q œ g pode ser necessário começar

8 "
cada B − Q , vai existir uma vizinhança compacta Z de B e podemos então
escolher Y − h com B − Y § intÐZ Ñ, donde adÐY Ñ § Z , e portanto adÐY Ñ é
compacto. Construamos agora recursivamente uma sucessão estritamente
crescente Ð58 Ñ8 " de números naturais, do seguinte modo: 5" œ "; supondo
construído 58 , e notando O8 o compacto de Q

O8 œ . adÐY3 Ñ,
58

3œ"

o facto de a família de todos os Y3 ser uma cobertura aberta do compacto O8


permite-nos escolher 58"  58 tal que

O8 § . Y 3 .
58"

3œ"

É agora imediato que os compactos O8 , definidos pela fórmula acima, veri-


ficam as condições pedidas. …
II.7.10 Seja Q um espaço topológico localmente compacto, separado e de base
contável, por exemplo uma variedade. Seja Y § Q um aberto. Se E § Y ,
então E é magro relativamente a Y se, e só se, é magro relativamente a Q .
Dem: Se E é magro em Q , então E está contido numa união contável de
conjuntos G4 , fechados em Q e de interior vazio, e então E também está
contido na união dos conjuntos G4  Y , fechados em Y e de interior vazio, o
168 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

que mostra que E é magro em Y . Suponhamos, reciprocamente, que E é


magro em Y . O conjunto E está assim contido numa família contável de
conjuntos G4 fechados em Y e de interior vazio. Uma vez que Y também é
localmente compacto, separado e de base contável, o lema anterior garante
que Y é união de uma família de compactos ÐO8 Ñ8 " e então os G4  O8
constituem uma família contável de conjuntos de interior vazio, cuja união
contém E, conjuntos esses que são fechados nos O8 , logo compactos e
portanto fechados em Q , o que mostra que E é magro em Q . …

O lema seguinte é o único resultado com algum sabor de Teoria da


Medida de que vamos necessitar.

4 − N , +4 Ÿ ,4 em ‘ e suponhamos que se tem Ò+ß ,Ó § - Ò+4 ß ,4 Ó. Tem-se


II.7.11 (Lema) Sejam + Ÿ , em ‘, N um conjunto finito de índices, e, para cada

então ,  + Ÿ ! Ð,4  +4 Ñ.
4−N

4−N
Dem: Vamos fazer a demonstração por indução no número de índices em N .
No caso em que N œ Ö4× tem um único elemento, o facto de se ter
+ß , − Ò+4 ß ,4 Ó implica que +4 Ÿ + e , Ÿ ,4 , donde ,  + Ÿ ,4  +4 e temos o
resultado. Suponhamos o resultado válido quando N tem 8 elementos e
vejamos o que sucede quando N tem 8  " elementos. Seja 4! − N tal que
+ − Ò+4! ß ,4! Ó, portanto +4! Ÿ + Ÿ ,4! . Podemos já supor que se tem ,  ,4! ,
sem o que Ò+ß ,Ó estava contido em Ò+4! ß ,4! Ó e tínhamos uma consequência

Ó,4! ß ,Ó § - Ò+4 ß ,4 Ó, donde Ò,4! ß ,Ó § - Ò+4 ß ,4 Ó, uma vez que o conjunto do


trivial do caso já estudado em que N tem um único elemento. Tem-se então

4Á4! 4Á4!

,  ,4! Ÿ ! ,4  +4 , e portanto
segundo membro é fechado. Pela hipótese de indução, concluímos que

4Á4!

,  + œ ,4!  +  ,  ,4! Ÿ ,4!  +4!  " ,4  +4 œ " ,4  +4 . …


4Á4! 4−N

No teorema de Sard, o conjunto que queremos garantir ser magro é a


imagem de outro conjunto por uma aplicação contínua. Na sua demons-
tração utilizaremos mais que uma vez o lema seguinte:

II.7.12 (Lema) Sejam Q e Q s dois espaços topológicos localmente compactos,


separados e de base contável, por exemplo duas variedades, e 0 À Q Ä Q s
uma aplicação contínua. Seja E § Q um conjunto tal que, para cada B − E,
exista um aberto Z de Q , com B − Z , tal que 0 ÐE  Z Ñ seja magro. Tem-se
então que 0 ÐEÑ é magro.
Dem: Seja h uma base contável de abertos de Q . A hipótese do enunciado e
§7. Teorema de Sard 169

o facto de toda o subconjunto de um conjunto magro ser ainda magro


permite-nos garantir que, para cada B − E, existe Y − h tal que B − Y e que
0 ÐE  Y Ñ seja magro. Sendo h w § h o conjunto contável constituído pelos
abertos Y − h com esta propriedade, vemos que 0 ÐEÑ vai ser a união
contável dos conjuntos magros 0 ÐE  Y Ñ, com Y − h w , sendo assim também
magro. …

Vamos agora provar um lema que tem já o espírito do teorema de Sard


mas em que o conjunto que se garante ser “pequeno” é apenas uma parte
do conjunto dos valores críticos, parte essa que faz intervir derivadas de
ordem superior.

II.7.13 (Lema) Sejam Y § ‘7 um aberto e 0 À Y Ä ‘ uma aplicação suave e


notemos, para cada :   ", G: Ð0 Ñ o subconjunto fechado de Y constituído
pelos pontos B tais que, para todo o " Ÿ 4 Ÿ :, a derivada de ordem 4,
H4 0B − P4 Б7 à ‘Ñ é nula. Tem-se então que o subconjunto 0 ÐG7 Ð0 ÑÑ de ‘
é magro.
Dem: Fixemos em ‘7 a norma do máximo e recordemos que, dado um
ponto B œ ÐB" ß á ß B7 Ñ − ‘7 e <  !, a bola fechada F < ÐBÑ é o produto de
intervalos
F < ÐBÑ œ ÒB"  <ß B"  <Ó ‚ ÒB#  <ß B#  <Ó ‚ â ‚ ÒB7  <ß B7  <Ó.
Vamos dividir a demonstração em duas partes:
a) Comecemos por mostrar que, dados B − Y e <  ! tais que F < ÐBÑ § Y ,
existe, para cada :   ", uma constante -:   ! tal que, quaisquer que sejam
C − F < ÐBÑ  G: Ð0 Ñ e D − F < ÐBÑ, se tenha
(1) l0 ÐDÑ  0 ÐCÑl Ÿ -: mD  Cm:" .

Isto pode ser visto facilmente a partir da Fórmula de Taylor mas, para não
ultrapassarmos a “revisão do Cálculo Diferencial” que apresentámos no iní-
cio, podemos apresentar um argumento directo alternativo, por indução em : ,
para o que convém generalizar o que se pretende provar, permitindo que o
espaço de chegada seja um espaço vectorial normado J , de dimensão finita,
substituindo em (1) o valor absoluto em ‘ pela norma em J e reparando que
a definição de G: Ð0 Ñ se estende trivialmente a este quadro mais geral. No
caso em que : œ ", a fórmula (1) resulta de aplicarmos duas vezes a segunda
versão da fórmula da média, desde que se tome para -" o máximo sobre o
compacto F < ÐBÑ da aplicação contínua que a A associa mHÐH0 ÑA m. Com
efeito, uma primeira aplicação garante que, para cada A no segmento de
extremidades C e D ,
mH0A m œ mH0A  H0C m Ÿ -" mA  Cm Ÿ -" mD  Cm

e uma segunda aplicação garante então que m0 ÐDÑ  0 ÐCÑm Ÿ -" mD  Cm# .
170 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Por fim, supondo o resultado verdadeiro para um certo :   ", vemos que,
sendo -:" a constante -: , correspondente à aplicação suave
H0 À Y Ä PБ7 à J Ñ, tem-se, para cada
C − F < ÐBÑ  G:" Ð0 Ñ § F < ÐBÑ  G: ÐH0 Ñ

e D − F < ÐBÑ e cada A no segmento de extremidades C e D ,


mH0A m œ mH0A  H0C m Ÿ -:" mA  Cm:" Ÿ -:" mD  Cm:" ,

donde m0 ÐDÑ  0 ÐCÑm Ÿ -:" mD  Cm:# .


b) Passemos agora à demonstração da afirmação no enunciado. Seja
B − G7 Ð0 Ñ arbitrário e fixemos <  ! tal que F < ÐBÑ § Y . Tendo em conta o
lema II.7.12, o resultado estará demonstrado se verificarmos que o
subconjunto compacto 0 ÐG7 Ð0 Ñ  F < ÐBÑÑ de ‘ tem interior vazio, e
portanto é magro, visto que ele contém 0 ÐG7 Ð0 Ñ  F< ÐBÑÑ. Suponhamos que
isso não acontecia e tentemos chegar a um absurdo. Sejam então + − ‘ e
$  ! tais que Ò+  $ ß +  $ Ó § 0 ÐG7 Ð0 Ñ  F < ÐBÑÑ. Pelo que vimos atrás,
podemos considerar uma constante -7   ! tal que, sempre que
C − G7 Ð0 Ñ  F < ÐBÑ e D − F < ÐBÑ,
l0 ÐDÑ  0 ÐCÑl Ÿ -7 mD  Cm7" .
Seja R   " um inteiro a concretizar posteriormente e reparemos que o com-
pacto F < ÐBÑ se pode escrever como união dos R 7 conjuntos F <ÎR ÐB! Ñ, com
B! da forma
Ð#5"  "Ñ< Ð#5#  "Ñ< Ð#57  "Ñ<
ÐB"  <  ß B#  <  ß á ß B7  <  Ñ,
R R R
com " Ÿ 54 Ÿ R (olhar para cada uma destas bolas na forma de um produto
de intervalos). Se ! for um índice tal que em F <ÎR ÐB! Ñ exista um ponto C!
em G7 Ð0 Ñ, tem-se então, para cada D − F <ÎR ÐB! Ñ,
#< 7"
l0 ÐDÑ  0 ÐC! Ñl Ÿ -7 mD  C! m7" Ÿ -7 Ð Ñ ,
R
o que mostra que
#< 7" #<
0 ÐF <ÎR ÐB! ÑÑ § Ò0 ÐC! Ñ  -7 Ð Ñ ß 0 ÐC! Ñ  -7 Ð Ñ7" Ó.
R R
Concluímos daqui que
Ò+  $ ß +  $ Ó § 0 ÐG7 Ð0 Ñ  F < ÐBÑÑ §
§ . Ò0 ÐC! Ñ  -7 Ð Ñ7" ß 0 ÐC! Ñ  -7 Ð Ñ7" Ó,
#< #<
!
R R

com a união estendida aos índices ! para os quais existe C! nas condições
§7. Teorema de Sard 171

referidas, de onde deduzimos, pelo lema II.7.11, que

#$ Ÿ " #-7 Ð
#< 7" #< #7# -7 <7"
Ñ Ÿ #R 7 -7 Ð Ñ7" œ .
!
R R R

Fomos assim conduzidos a um absurdo, uma vez que a expressão da direita


converge para !, quando R Ä _, e podemos portanto escolher R tal que
essa expressão seja menor que #$. …
II.7.14 (Teorema de Sard) Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades sem bordo
s
e 0 À Q Ä Q uma aplicação suave. Sendo GÐ0 Ñ § Q , o conjunto dos
pontos críticos de 0 , o conjunto 0 ÐGÐ0 ÑÑ § Q s , dos valores críticos de 0 , é
magro.
Dem:52 Para maior clareza, vamos dividir a demonstração em várias alíneas:
a) Reparemos que nos basta demonstrar o resultado no caso particular em
que Q tem a mesma dimensão 7 em todos os pontos e Q s tem a mesma
dimensão 8 em todos os pontos, hipótese que faremos de aqui em diante.
Com efeito, no caso geral, podemos considerar a família finita ou numerável
das componentes conexas Q4 de Q e a família finita ou numerável das
componentes conexas Q s 5 de Qs (cf. II.7.8), que são abertos em Q e Q s,
respectivamente, e já são variedades sem bordo com essa propriedade, e
então a imagem de cada Q4 vai estar contida nalgum Q s 5 e o conjunto dos
s
valores críticos de 0 À Q Ä Q vai ser a união contável dos conjuntos dos
valores críticos dos 0ÎQ4 À Q4 Ä Qs e portanto, lembrando II.7.10, vai ser um
conjunto magro.
b) Notemos agora que o resultado é trivialmente verdadeiro no caso em que
8 œ !. Com efeito, tem-se então que todos os pontos de Q são trivialmente
regulares, pelo que GÐ0 Ñ œ g e 0 ÐGÐ0 ÑÑ œ g. Nas alíneas seguintes vamos
supor sempre que 8  !.
c) Vamos demonstrar o resultado por indução em 7. Comecemos por supor
que 7 œ !. Neste caso Q é finito ou numerável (cf. a alínea c) de II.7.8).
Resulta daqui que 0 ÐQ Ñ œ 0 ÐGÐ0 ÑÑ é um conjunto finito ou numerável,
portanto uma união finita ou numerável de conjuntos unitários, que são
compactos de interior vazio, pelo que 0 ÐGÐ0 ÑÑ é magro.
d) Seja 7   " tal que o resultado seja válido sempre que a variedade Q
tenha dimensão 7  ". Para terminar a demonstração, temos que ver que o
resultado é ainda válido quando Q tem dimensão 7.
e) Vamos examinar agora o caso particular em que Q é um aberto Y de ‘7
e em que Q s é ‘8 . Consideramos portanto um aberto Y de ‘7 e uma
aplicação suave 0 À Y Ä ‘8 , com as componentes 04 À Y Ä ‘, " Ÿ 4 Ÿ 8, e
notamos GÐ0 Ñ § Y o conjunto dos pontos críticos de 0 . Para cada inteiro

52A demonstração que apresentamos é baseada na que se encontra no livro de Milnor


[19], com as adaptações decorrentes de utilizarmos conjuntos magros em vez de
conjuntos de medida nula.
172 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

:   ", notamos G: Ð0 Ñ o subconjunto de GÐ0 Ñ formado pelos pontos B − Y


tais que H4 0B œ !, para cada " Ÿ 4 Ÿ :. Os conjuntos G: Ð0 Ñ verificam
G: Ð0 Ñ ¨ G:" Ð0 Ñ e GÐ0 Ñ ¨ G" Ð0 Ñ. Tem-se que GÐ0 Ñ é a união de
GÐ0 Ñ Ï G" Ð0 Ñ com os conjuntos G: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 Ñ, com 1 Ÿ : Ÿ 7  ", e
com G7 Ð0 Ñ. Tem-se então que 0 ÐGÐ0 ÑÑ vai ser a união de 0 ÐGÐ0 Ñ Ï G" Ð0 ÑÑ
com os 0 ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑ e com 0 ÐG7 Ð0 ÑÑ, pelo que, para ver que o
conjunto 0 ÐGÐ0 ÑÑ é magro, basta verificarmos que são magros os conjuntos
0 ÐGÐ0 Ñ Ï G" Ð0 ÑÑ, 0 ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑ e 0 ÐG7 Ð0 ÑÑ. É isso que vamos fazer
nas três próximas alíneas.
f) Vamos verificar que 0 ÐGÐ0 Ñ Ï G" Ð0 ÑÑ é um conjunto magro, para o que
podemos já supor que 8   #, sem o que se tinha trivialmente GÐ0 Ñ œ G" Ð0 Ñ.
Seja B! − GÐ0 Ñ Ï G" Ð0 Ñ arbitrário. Existe então A − ‘7 tal que
H0B! ÐAÑ Á !, e portanto, para alguma componente 4, H04 B! ÐAÑ Á !. Por
continuidade, podemos escolher um aberto Z de Y , com B! − Z , tal que,
para cada B − Z , H04 B ÐAÑ Á !, em particular H04 B À ‘7 Ä ‘ seja
sobrejectiva. Tendo em conta o lema II.7.12, o objectivo desta alínea estará
alcançado se mostrarmos que o conjunto 0 ÐZ  ÐGÐ0 Ñ Ï G" Ð0 ÑÑÑ é magro.
Suponhamos que isso não acontecia e tentemos chegar a um absurdo.
Reparemos que G" Ð0 Ñ é fechado em Y e que, tendo em conta II.4.22, o
mesmo acontece a GÐ0 Ñ. Z Ï G" Ð0 Ñ é assim um aberto de ‘7 , em particular
é localmente compacto, separado e de base contável, pelo que, por II.7.9, é
união de uma sucessão de compactos O3 , 3   ", o que implica que o conjunto
0 ÐZ  ÐGÐ0 Ñ Ï G" Ð0 ÑÑÑ é união dos compactos 0 ÐO3  GÐ0 ÑÑ, tendo
portanto, por II.7.6, interior não vazio. Sejam C! œ Ð," ß á ß ,8 Ñ − ‘8 e <  !
tais que
F< ÐC! Ñ œ Ó,"  <ß ,"  <Ò ‚ â ‚ Ó,8  <ß ,8  <Ò § 0 ÐZ  ÐGÐ0 Ñ Ï G" Ð0 ÑÑÑ
(como antes, consideramos em ‘8 a norma do máximo). Seja Q § Z ,
Q œ ÖB − Z ± 04 ÐBÑ œ ,4 ×,

que vai ser assim uma variedade de dimensão 7  ". Para cada
C œ ÐC" ß á ß C4" ß ,4 ß C4" ß á ß C8 Ñ −
− Ó,"  <ß ,"  <Ò ‚ â ‚ Ö,4 × ‚ â ‚ Ó,8  <ß ,8  <Ò,

podemos considerar um ponto crítico B − Z de 0 tal que 0 ÐBÑ œ C , vindo,


em particular, B − Q e o facto de a aplicação linear H0B À ‘7 Ä ‘8 não ser
sobrejectiva e a sua imagem conter o vector H0B ÐAÑ, não pertencente ao
subespaço ‘4" ‚ Ö!× ‚ ‘84 de ‘8 , com dimensão 8  ", implica que esta
imagem não contém
‘4" ‚ Ö!× ‚ ‘84 œ XC Б4" ‚ Ö,4 × ‚ ‘84 Ñ

e portanto que C é também um valor crítico da restrição


§7. Teorema de Sard 173

0ÎQ À Q Ä ‘4" ‚ Ö,4 × ‚ ‘84 .

Concluímos assim que o conjunto dos valores críticos desta restrição tem
interior não vazio, e portanto não é magro em ‘4" ‚ Ö,4 × ‚ ‘84 , o que é
um absurdo, tendo em conta a hipótese de indução.
g) Vamos agora verificar que 0 ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑ é magro. Seja
B! − G: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 Ñ arbitrário. Tem-se portanto H: 0B! œ ! e H:" 0B! Á !,
pelo que existem A" ß á ß A:" em ‘7 tais que H:" 0B! ÐA" ß á ß A:" Ñ Á ! e
podemos escolher uma componente 4 tal que H:" 04 B! ÐA" ß á ß A:" Ñ Á !.
Por continuidade, podemos escolher um aberto Z de Y , com B! − Z , tal que,
para cada B − Z , H:" 04 B ÐA" ß á ß A:" Ñ Á !. Tendo em conta o lema
II.7.12, o objectivo desta alínea estará alcançado se mostrarmos que o
conjunto 0 ÐZ  ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑÑ é magro. Seja 1À Z Ä ‘ a aplicação
suave definida por
1ÐBÑ œ H: 04 B ÐA# ß á ß A:" Ñ.

Uma vez que, para cada B − Z , H1B ÐA" Ñ Á !, e portanto H1B À ‘7 Ä ‘ é


sobrejectiva, vemos que o conjunto Q œ ÖB − Z ± 1ÐBÑ œ !× é uma varie-
dade de dimensão 7  ". Se C − 0 ÐZ  ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑÑ, podemos
considerar B − Z  ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑ tal que 0 ÐBÑ œ C e o facto de ser
B − G: Ð0 Ñ implica que 1ÐBÑ œ !, e portanto que B − Q ; para além disso, o
facto de se ter H0B œ ! implica que B é um ponto crítico de 0 , e portanto
também da restrição 0ÎQ À Q Ä ‘8 . Vemos assim que o conjunto
0 ÐZ  ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑÑ está contido no conjunto dos valores críticos de
0ÎQ À Q Ä ‘8 que, pela hipótese de indução, é magro, o que mostra que
0 ÐZ  ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑÑ é também magro, como queríamos.
h) Vamos agora verificar que 0 ÐG7 Ð0 ÑÑ é magro. Suponhamos então que
isso não acontecia. Como em f), o aberto Y de ‘7 , sendo localmente
compacto, separado e de base contável, é união de uma sucessão de
compactos O3 , 3   ", pelo que 0 ÐG7 Ð0 ÑÑ ia ser a união dos compactos
0 ÐG7 Ð0 Ñ  O3 Ñ e portanto, por II.7.6, teria interior não vazio, ou seja, existia
C! œ Ð," ß á ß ,8 Ñ − ‘8 e <  ! tais que
F< ÐC! Ñ œ Ó,"  <ß ,"  <Ò ‚ â ‚ Ó,8  <ß ,8  <Ò § 0 ÐG7 Ð0 ÑÑ.
Uma vez que se tem trivialmente G7 Ð0 Ñ § G7 Ð0" Ñ, podíamos então concluir
que Ó,"  <ß ,"  <Ò § 0" ÐG7 Ð0" ÑÑ, pelo que 0" ÐG7 Ð0" ÑÑ não tinha interior
vazio em ‘, em particular não era magro, o que era absurdo, tendo em conta
o lema II.7.13.
i) Tal como observámos em e), o que vimos nas três últimas alíneas mostra
que o teorema de Sard, com Q de dimensão 7, está demonstrado no caso
particular em que Q é um aberto de ‘7 e Q s é ‘8 . Passemos, por fim, à
demonstração no caso geral. Seja B! − GÐ0 Ñ arbitrário. Sejam Z s um aberto
de Qs , com 0 ÐB! Ñ − Z
s,Ys um aberto de ‘8 e <À Z s ÄY s um difeomorfismo.
174 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Sejam Z um aberto de Q , com B! − Z , Y um aberto de ‘7 e :À Y Ä Z um


difeomorfismo; se necessário reduzindo estes abertos, podemos já supor que
s . O facto de a derivada de um difeomorfismo ser um isomorfismo
0 ÐZ Ñ § Z
implica, tendo em conta o teorema de derivação da função composta, que
Bw − Y é um ponto crítico de < ‰ 0ÎZ ‰ :À Y Ä Y s § ‘8 se, e só se, :ÐBw Ñ é
um ponto crítico de 0 , pelo que 0 ÐGÐ0 Ñ  Z Ñ é a imagem por <" do con-
junto dos valores críticos de < ‰ 0ÎZ ‰ :, conjunto esse que é magro em ‘8 ,
e portanto em Y s , pelo caso particular já estudado. Concluímos assim que
0 ÐGÐ0 Ñ  Z Ñ é magro em Z s , e portanto em Q s , o que, tendo em conta o
lema II.7.12, implica que 0 ÐGÐ0 ÑÑ é magro em Q s. …

Uma vez que a definição de ponto crítico ou de valor crítico apenas faz
intervir a derivada de primeira ordem da função 0 , poderíamos ser
levados a pensar na possibilidade de o teorema de Sard ser verdadeiro
apenas com a exigência de 0 ser de classe G " . Se examinarmos a
demonstração precedente e os lemas nela utilizados, verificamos que
tivemos necessidade de trabalhar com derivadas de ordem superior e, de
facto, um exemplo clássico de Whitney (cf. [27]) mostra que a classe G "
não é em geral suficiente. Com uma demonstração mais cuidadosa,
pode-se verificar que, quando Q e Q s têm dimensões 7 e 8, o teorema é
válido para as aplicações de classe G : , onde o inteiro : depende apenas
de 7 e 8 (cf. [6], problema 2 de XVI.23). Por exemplo, quando 7 Ÿ 8,
pode-se mostrar que a classe G " é suficiente. De facto, examinando as
demonstrações que fizemos, constatamos que é suficiente exigir que a
aplicação 0 À Q Ä Q s seja de classe G 7" , onde 7 é a dimensão de Q ,
mas pode-se mostrar que, em geral, não é necessário exigir tanto.
O teorema de Sard e as definições de ponto crítico, ponto regular, valor
crítico e valor regular foram apresentados apenas no quadro das varieda-
des sem bordo. No entanto, eles são trivialmente generalizáveis à situação
em que a variedade domínio pode ter bordo:

II.7.15 Sejam Q § I e Q s §I s variedades, a segunda das quais sem bordo, e


0À Q Ä Q s uma aplicação suave. Generalizando o que foi feito no caso em
que Q também não tem bordo, dizemos que um ponto B − Q é um ponto
regular de 0 se, sendo 4   ! tal que B − `4 ÐQ Ñ, B é um ponto regular da
restrição 0Î`4 ÐQ Ñ À `4 ÐQ Ñ Ä Qs e, caso contrário, dizemos que B é um ponto
crítico de 0 . Como antes, chamam-se valores críticos de 0 aos elementos de
Qs que são imagem de algum ponto crítico e valores regulares de 0 aos
restantes elementos de Q s.
II.7.16 (Teorema de Sard para variedades com bordo) Sejam Q § I e
Qs §I s duas variedades a segunda das quais sem bordo, e seja 0 À Q Ä Q s
uma aplicação suave. Tem-se então que o conjunto 0 ÐGÐ0 ÑÑ § Q s , dos valo-
res críticos de 0 , é magro.
Dem: Por definição, o conjunto dos valores críticos de 0 é a união dos con-
§7. Teorema de Sard 175

juntos dos valores críticos das restrições de 0 às diferentes variedades sem


bordo `4 ÐQ Ñ, conjuntos esses que, pela versão do teorema de Sard já
demonstrada, são magros. …
II.7.17 (Corolário) Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades, a segunda das
quais sem bordo, e seja 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave. Se, para cada
B − Q , a dimensão de Q em B é menor que a dimensão de Q s em 0 ÐBÑ,
s
então 0 ÐQ Ñ é um conjunto magro em Q .
Dem: Basta atender a que 0 ÐQ Ñ é trivialmente o conjunto dos valores críti-
cos de 0 . …
II.7.18 (Corolário) Sejam Q § I uma variedade com dimensão menor ou igual
a : em cada ponto, I s um espaço vectorial de dimensão finita e 0 À Q Ä I s
uma aplicação suave. Tem-se então que 0 ÐQ Ñ não contém nenhuma
subvariedade, não vazia, de dimensão maior que :, de Is.
Dem: Suponhamos que 0 ÐQ Ñ continha uma tal subvariedade. Considerando
um ponto do bordo de índice ! desta, concluímos a existência de um espaço
vectorial J , de dimensão maior que :, de um aberto não vazio Y de J e de
um difeomorfismo :À Y Ä Z , com Z § 0 ÐQ Ñ. Sejam Z s um aberto de Is,
s
contendo Z , e <À Z Ä J um prolongamento suave de : À Z Ä Y . "

Considerando o aberto não vazio Q w de Q , constituído pelos B − Q tais que


s , que é, em particular, uma variedade com dimensão menor ou
0 ÐBÑ − Z
igual a : em cada ponto, obtemos uma aplicação suave < ‰ 0ÎQ w À Q w Ä J
cuja imagem contém Y , o que é absurdo, pelo teorema de Baire (II.7.5), já
que, pelo corolário precedente, essa imagem é magra. …

Com o fim de apresentar outra aplicação importante do teorema de Sard,


definimos em seguida as noções de subconjunto homogéneo de um espaço
vectorial de dimensão finita e de aplicação suave homogénea.

II.7.19 Sejam I um espaço vectorial real de dimensão finita e E § I um


subconjunto. Dizemos que E é um conjunto homogéneo se, quaisquer que
sejam B! ß B" − E, existe um difeomorfismo :À E Ä E tal que :ÐB! Ñ œ B" .53
II.7.20 Se Q § I é uma variedade homogénea, então Q não tem bordo e tem a
mesma dimensão em todos os pontos.
Dem: Quaisquer que sejam B! e B" em Q , a existência de um difeomorfismo
:À Q Ä Q tal que :ÐB! Ñ œ B" implica que ÐQ ß B! Ñ e ÐQ ß B" Ñ são
localmente difeomorfos e portanto que Q tem a mesma dimensão e o mesmo
índice em todos os pontos. Basta agora repararmos que, tendo em conta

53Intuitivamente, todos os pontos de E estão situados do mesmo modo dentro de E, ou


são indistinguíveis dentro de E. Note-se que, como aplicação das equações diferenciais,
pode-se provar que toda a variedade conexa sem bordo é homogénea (cf. o exercício
IV.17 adiante).
176 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

II.6.17, o facto de Q ter o mesmo índice em todos os pontos implica que


esse índice comum é !. …
II.7.21 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I e F § J dois
subconjuntos e 0 À E Ä F uma aplicação suave. Diz-se que 0 é uma
aplicação homogénea se, quasiquer que sejam B! ß B" − E, existem dois
difeomorfismos :À E Ä E e <À F Ä F com :ÐB! Ñ œ B" e 0 ‰ : œ < ‰ 0 .
Repare-se que se tem então, em particular, <Ð0 ÐB! ÑÑ œ 0 ÐB" Ñ.
Podemos assim garantir que, se 0 À E Ä F é uma aplicação suave
homogénea, então E é um conjunto homogéneo e, no caso em que 0 é
sobrejectiva, F também é um conjunto homogéneo.
II.7.22 (Corolário do teorema de Sard) Sejam Q § I e Q s §I s duas varie-
dades e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave homogénea e sobrejectiva. Tem-se
então que 0 é uma submersão.
Dem: Podemos já afastar o caso trivial em que Q œ g. Pelo teorema de Sard
s e
o conjunto dos valores críticos de 0 , sendo magro, não pode ser todo o Q
existe assim pelo menos um valor regular. Uma vez que 0 é sobrejectiva,
concluímos assim, em particular, a existência de B! − Q onde 0 seja uma
submersão. Dado B − Q arbitrário, existem então difeomorfismos
:À Q Ä Q e < À Q s ÄQ s tais que :ÐB! Ñ œ B e 0 ‰ : œ < ‰ 0 , ou seja
0 œ < ‰ 0 ‰ :" , e derivando ambos os membros em B, obtemos
H0B œ H<0 ÐB! Ñ ‰ H0B! ‰ HÐ:" ÑB ,

pelo que H0B , sendo a composta de dois isomorfismos com uma aplicação
linear sobrejectiva, é uma aplicação linear sobrejectiva. …

EXERCÍCIOS

Ex II.1 Mostrar que, nas definições do cone tangente e do cone tangente


alargado de um conjunto num dos seus pontos, pode-se exigir que a sucessão
de números reais estritamente positivos >8 convirja para _.
Ex II.2 Encontrar uma definição e enunciar um resultado que implique simulta-
neamente II.1.2 e II.1.3.
Ex II.3 a) Dar um exemplo de um subconjunto E § ‘# e de um ponto B! − E
tais que o cone tangente alargado tB! ÐEÑ contenha estritamente tB! ÐEÑ.
b) Dar um exemplo de um subconjunto E § ‘# e de um ponto B! − E tais
que o cone tangente alargado tB! ÐEÑ não seja um subespaço vectorial.

Ex II.4 Seja I um espaço vectorial de dimensão finita. Mostrar que se F e G são


duas partes de I e B! − F  G , então
Exercícios 177

tB! ÐF  GÑ œ tB! ÐFÑ  tB! ÐGÑ,


t  
B! ÐF  GÑ ¨ tB! ÐFÑ  tB! ÐGÑ,
XB! ÐF  GÑ ¨ XB! ÐFÑ  XB! ÐGÑ.

Dar um exemplo em que se tenha tB! ÐF  GÑ Á tB! ÐFÑ  tB! ÐGÑ e


 

XB! ÐF  GÑ Á XB! ÐFÑ  XB! ÐGÑ.


Ex II.5 a) (Continuidade do cone tangente alargado) Sejam B! − E § I , ÐB8 Ñ
uma sucessão de elementos de E, com B8 Ä B! e, para cada 8, A8 − t B8 ÐEÑ.
Supondo que A8 Ä A − I , mostrar que A − t B! ÐEÑ. Sugestão: Atender à
caracterização alternativa do cone tangente alargado.
b) Mostrar, com um contraexemplo, que a propriedade de continuidade refe-
rida em a) não é verificada pelos cones tangentes tB ÐEÑ.
Ex II.6 Recorrendo apenas à intuição, determinar quais os cones tangentes e
cones tangentes alargados dos seguintes conjuntos nos pontos indicados:54
a) E œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± " Ÿ B Ÿ #, " Ÿ C Ÿ #×, nos pontos B! œ Ð"ß "Ñ, C! œ
Ð"ß #Ñ e D! œ Ð $# ß $# Ñ.
b) E œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B   !, C œ B# ×, nos pontos B! œ Ð!ß !Ñ e C! œ Ð"ß "Ñ.
c) E œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B  !, C œ sinÐ B" Ñ×  ÐÖ!× ‚ ‘Ñ, nos pontos B! œ
Ð!ß !Ñ e C! œ Ð!ß "Ñ.
d) E œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B#  C #  D # œ ", D   !×, no ponto B! œ Ð"ß !ß !Ñ.
Ex II.7 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B! − E § I . Mostrar
que, para cada $  !, existe &  ! tal que, qualquer que seja B − E, com
!  mB  B! m  &, existe A − tB! ÐEÑ Ï Ö!× tal que
A B  B!
m  m$
mAm mB  B! m
e, quaisquer que sejam Bß C − E, com B Á C , mB  B! m  & e mC  B! m  &,
existe A − t
B! ÐEÑ Ï Ö!× tal que
A BC
m  m  $.
mAm mB  Cm
Reparar que este resultado generaliza a parte não trivial de II.1.12.
Ex II.8 Seja E § ‘ o conjunto constituído pelo ! e pelos números da forma
"Î#8 , com 8 − .
a) Verificar que
tÐ!ß!Ñ ÐE ‚ EÑ Á t! ÐEÑ ‚ t! ÐEÑ.

Sugestão: Verificar que os logaritmos na base # dos declives das secantes


oblíquas de Ð!ß !Ñ para os pontos de E ‚ E são todos números inteiros.

54Em cada caso será útil desenhar uma figura.


178 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

b) Com um pouco mais de trabalho verificar que


t  
Ð!ß!Ñ ÐE ‚ EÑ Á t! ÐEÑ ‚ t! ÐEÑ.

Sugestão: O conjunto dos logaritmos na base # dos valores absolutos dos


declives das secantes oblíquas entre pontos de E ‚ E tem os inteiros como
únicos pontos de acumulação possíveis, sendo portanto fechado.
Ex II.9 Seja E § ‘# o conjunto
E œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± C Á !×  ÖÐ!ß !Ñ×

e seja 0 À E Ä ‘ a aplicação definida por 0 ÐBß CÑ œ B sinÐ "C Ñ, se C Á !, e


0 Ð!ß !Ñ œ !. Mostrar que 0 é contínua mas não é de classe G ! .
Ex II.10 Demonstrar rigorosamente o que foi feito intuitivamente na alínea b) do
exercício II.6. Sugestão: Construir um difeomorfismo entre E e ‘ œ
Ò!ß _Ò.
Ex II.11 Seja W § ‘$ a superfície esférica
W œ ÖÐBß Cß DÑ ± B#  C #  D # œ #&×.

determinar os vectores tangentes a W nos pontos Ð#È#ß #È#ß $Ñ e Ð$ß %ß !Ñ,


Utilizar difeomorfismos do tipo dos utilizados no exemplo c) em II.4.8 para

justificando o resultado.
Ex II.12 Seja I um espaço vectorial de dimensão finita, munido de um produto
interno, e seja W § I a hipersuperfície esférica
W œ ÖB − I ± ØBß BÙ œ "×.
Mostrar que, se B! − W e se ? − XB! ÐWÑ, então ? é prependicular a B! , isto é,
Ø?ß B! Ù œ !. Sugestão: Considerar dois prolongamentos suaves da aplicação
identicamente igual a " sobre W e derivá-los na direcção de ?.
Ex II.13 Mostrar que, se I Á Ö!× é um espaço vectorial de dimensão finita e se
E § I é um subconjunto compacto e não vazio, então existe pelo menos um
ponto B! − E tal que tB! ÐEÑ Á I . Sugestão: Considerar em I um produto
interno e tomar um ponto B! − E de norma máxima.
Ex II.14 Seja E § ‘# , E œ ÖÐBß CÑ ± C œ B# ×, e seja 0 À E Ä ‘ a aplicação
suave definida por 0 ÐBß CÑ œ C . Mostrar que se podem escolher dois
prolongamentos suaves 0 e s0 de 0 a ‘# tais que as derivadas de segunda
ordem
H# 0 Ð!ß!Ñ ß H#s0 Ð!ß!Ñ À ‘# ‚ ‘# Ä ‘

não tenham a mesma restrição a XÐ!ß!Ñ ÐEÑ ‚ XÐ!ß!Ñ ÐEÑ.


Exercícios 179

Ex II.15 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e E § I um conjunto


arbitrário. Se ÐY4 Ñ4−N é uma família de abertos de E de união E, mostrar que
existe uma outra família ÐZ4 Ñ4−N de abertos de E, ainda de união E, que seja
localmente finita (isto é, tal que cada ponto de B admita uma vizinhança em
E, que intersecta Z4 apenas para um número finito de índices 4) e que
verifique adE ÐZ4 Ñ § Y4 .55 Sugestão: Considerar uma partição da unidade de
E subordinada à cobertura aberta constituída pelos Y4 .
Ex II.16 Nas condições do enunciado do primeiro teorema da partição da
unidade II.3.4, verificar que a união dos compactos G# tem que ser o aberto
Y e portanto que, salvo na caso trivial em que Y œ g, o conjunto contável >
dos índice tem que ser infinito.
Ex II.17 A demonstração do corolário II.3.9 permite que se reforce um pouco
mais a conclusão da alínea c) do respectivo enunciado. Qual o reforço que
poderia ser feito?
Ex II.18 Nas hipóteses de II.3.9, mostrar que, se o conjunto E for compacto,
pode-se exigir que os conjuntos G4 , aparecendo em b), sejam também
compactos. Sugestão: Diminuir convenientemente os conjuntos Y4 .
Ex II.19 Seja E uma parte dum espaço vectorial I de dimensão finita e sejam F
e G dois subconjuntos disjuntos fechados em E. Mostrar que existe uma
aplicação suave 0 À E Ä Ò!ß "Ó, tal que 0 ÐBÑ œ !, para cada B − F , e
0 ÐBÑ œ ", para cada B − G . Sugestão: Considerar uma partição da unidade
para uma cobertura aberta conveniente de E.
Ex II.20 (Refinamento de II.3.14) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão
finita, o segundo dos quais munido duma norma, E § I um conjunto (por
exemplo, E œ I …), F § E um subconjunto fechado em E, G § J um
conjunto convexo não vazio e 0 À F Ä J uma aplicação contínua tal que
0 ÐFÑ § G . Mostrar que, para cada aplicação contínua $ À F Ä Ó!ß _Ò,
existe uma aplicação suave s1À E Ä J tal que s1ÐEÑ § G e que, para cada
B − F , m1ÐBÑ
s  0 ÐBÑm  $ ÐBÑ.
Sugestão: Já conhecemos a existência de uma aplicação suave 1À Y Ä J ,
com F § Y aberto em I , 1ÐY Ñ § G e m1ÐBÑ  0 ÐBÑm  $ ÐBÑ, para cada
B − F . Escolher C! − G e definir

s1ÐBÑ œ œ
:ÐBÑ1ÐBÑ  <ÐBÑC! , se B − Y  E
,
C! , se B − E Ï Y

onde :ß <À E Ä Ò!ß "Ó são as funções duma partição da unidade associada aos
abertos Y  E e E Ï F de E.

55Esta propriedade exprime o facto de E ser um espaço topológico paracompacto.


Pode-se provar, mais geralmente, que todo o espaço topológico metrizável é paracom-
pacto, mas trata-se de um resultado de difícil demonstração.
180 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Ex II.21 (Uma versão do teorema de extensão de Tietze-Urysohn) Sejam I e


J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um conjunto (por exemplo,
E œ I …), F § E um subconjunto fechado em E e 0 À F Ä J uma
aplicação contínua. Mostrar que existe uma aplicação contínua 0 À E Ä J tal
que 0 ÎF œ 0 .
Sugestão: Começar por utilizar a conclusão do exercício precedente para
encontrar uma aplicação suave 1À E Ä J tal que, para cada B − F ,
m0 ÐBÑ  1ÐBÑm  ". Utilizando de novo a mesma conclusão, construir
recursivamente aplicações suaves 14 À E Ä J , onde 4   ", começando por
escolher 1" tal que m1" ÐBÑm  ", para cada B − E, e
"
m0 ÐBÑ  1ÐBÑ  1" ÐBÑm  ,
#
para cada B − F , e supondo já escolhidos 1" ß á ß 14 , escolher 14" de modo
que m14" ÐBÑm  #"4 , para cada B − E, e
"
m0 ÐBÑ  1ÐBÑ  1" ÐBÑ  â  14 ÐBÑ  14" ÐBÑm  ,
#4"
para cada B − F . Verificar que se pode então definir uma aplicação contínua
0 À E Ä J por

0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ  " 14 ÐBÑ


_

4œ"

e que se tem 0 ÎF œ 0 .
Ex II.22 Seja F § ‘$ o conjunto
F œ ÖÐBß Cß DÑ ± B#  C #  D # œ ", B#  #C # œ "×.
Mostrar que F é uma variedade sem bordo com dimensão " em todos os
pontos, com a excepção de Ð"ß !ß !Ñ e Ð"ß !ß !Ñ, e que nestes pontos F não é
uma variedade.
Ex II.23 Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades sem bordo e 0 À Q Ä Q s uma
aplicação suave, injectiva e tal que, para cada B − Q , H0B seja um
s Ñ. Mostrar que então 0 ÐQ Ñ é aberto
isomorfismo de XB ÐQ Ñ sobre X0 ÐBÑ ÐQ
s
em Q e que 0 é um difeomorfismo de Q sobre 0 ÐQ Ñ.
Ex II.24 Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades sem bordo e 0 À Q Ä Q s uma
aplicação suave. Seja O § Q um conjunto compacto tal que a restrição
0ÎO À O Ä Q s seja uma aplicação injectiva e que, para cada B − O , H0B seja
um isomorfismo de XB ÐQ Ñ sobre X0 ÐBÑ ÐQ s Ñ. Mostrar que existe então um
aberto Y de Q , com O § Y , tal que 0ÎY seja um difeomorfismo de Y sobre
Exercícios 181

um aberto Z de Q s .56
Sugestão: Demonstrar e utilizar o seguinte resultado de natureza puramente
topológica: Sejam Q e Q s espaços topológicos, o segundo dos quais de
Hausdorff. Seja 0 À Q Ä Q s uma aplicação contínua em todos os pontos de
um certo conjunto compacto O § Q tal que a restrição 0ÎO seja injectiva e
que, para cada B − O , exista um aberto YB de Q , com B − YB , tal que a
restrição 0ÎYB seja injectiva. Existe então um aberto Y de Q , com O § Y ,
tal que a restrição 0ÎY é injectiva. Para demonstrar este resultado utilizar duas
vezes a propriedade das coberturas abertas dum compacto, demonstrando,
como passo intermédio, que, para cada B! − O , existem abertos ZB! e [B! de
Q , com B! − ZB! e O § [B! , tais que, se B − ZB! , C − [B! e 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ,
então B œ C .
Ex II.25 Seja I um espaço vectorial real, de dimensão 8   ", munido de
produto interno. Lembrar que uma aplicação linear 0À I Ä I se diz
autoadjunta se, quaisquer que sejam Bß C − I , se tem Ø0ÐBÑß CÙ œ ØBß 0ÐCÑÙ.
Mostrar que toda a aplicação linear autoadjunta 0À I Ä I admite um vector
próprio não nulo B! , isto é, um vector para o qual 0ÐB! Ñ œ +B! , para um
certo + − ‘. Sugestão: Lembrar que W œ ÖB − I ± mBm œ "× é uma
variedade sem bordo com dimensão 8  " e que, para cada B! − W , XB! ÐWÑ é
o conjunto dos vectores ? − I tais que ØB! ß ?Ù œ !. Tomar para B! um ponto
onde seja máxima a aplicação suave 0 À W Ä ‘, definida por
0 ÐBÑ œ Ø0ÐBÑß BÙ.
Ex II.26 Sejam B! − Q § I , C! − Q w § I w e D! − Q s §Is tais que ÐQ ß B! Ñ,
s ß D! Ñ sejam variedades sem bordo, com dimensões 7, 7w e 8,
ÐQ w ß C! Ñ e ÐQ
respectivamente. Sejam 0 À Q Ä Q s e 1À Q w Ä Qs duas aplicações suaves,
tais que 0 ÐB! Ñ œ D! œ 1ÐC! Ñ e que seja verificada a seguinte condição de
transversalidade:
s Ñ.
H0B! ÐXB! ÐQ ÑÑ  H1C! ÐXC! ÐQ w ÑÑ œ XD! ÐQ

Mostrar que, sendo E § Q ‚ Q w o produto fibrado


E œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ Q w ± 0 ÐBÑ œ 1ÐCÑ×,
o conjunto E é, no ponto ÐB! ß C! Ñ, uma variedade sem bordo, com dimensão
7  7w  8, e caracterizar o espaço vectorial tangente XÐB! ßC! Ñ ÐEÑ.
Ex II.27 Mostrar que, para cada inteiro 8 − ™, fica bem definida uma aplicação
08 À ‘# Ï Ö!× Ä ‘# Ï Ö!×, pela condição de se ter, para <  ! e > − ‘,
08 Ð< cosÐ>Ñß < sinÐ>ÑÑ œ Ð< cosÐ8>Ñß < sinÐ8>ÑÑ,
e utilizar II.4.31 para mostrar que a aplicação 08 é suave.

56Reparar que o teorema da função inversa não é mais do que o caso particular deste
resultado, em que o compacto O é um conjunto unitário.
182 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Ex II.28 (Um resultado de Álgebra Linear) Sejam I um espaço vectorial de


dimensão 8 e 0" ß á ß 07 À I Ä ‘ 7 aplicações lineares.
a) Mostrar que, se a dimensão do subespaço vectorial de PÐIà ‘Ñ gerado
pelos 04 for :, então
I w œ Ö? − I ± a 04 Ð?Ñ œ !×
4

é um subespaço vectorial de I com dimensão 8  :. Sugestão: Reduzir o


resultado ao caso em que os 04 são linearmente independentes e, nesse caso,
utilizar o lema II.4.35.
b) Mostrar que, se 0À I Ä ‘ é uma aplicação linear, então 0 anula-se sobre o
subespaço vectorial I w , referido em a), se, e só se, existem +" ß á ß +7 − ‘,
tais que 0 œ +" 0"  â  +7 07 .
Ex II.29 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8, Y § I um aberto e
0" ß á ß 07 À Y Ä ‘ aplicações suaves. Seja
Q œ ÖB − I ± 0" ÐBÑ œ !ß á ß 07 ÐBÑ œ !×
e suponhamos que, para um certo B! − Q , as aplicações lineares
H04 B! − PÐIà ‘Ñ são linearmente independentes. Mostrar que, se 0 À Y Ä ‘
é uma aplicação suave, tal que 0ÎQ admita no ponto B! − Q um máximo
relativo ou um mínimo relativo, então existem +" ß á ß +7 − ‘ tais que
H0B! œ +" H0" B!  â  +7 H07 B! .

(Este resultado é a base do conhecido método dos multiplicadores de


Lagrange, para a determinação de extremos condicionados).
Sugestão: Utilizar II.4.34 e a alínea b) de II.2.7.
Ex II.30 Seja Š um dos corpos ‘ ou ‚ e notemos `8 ÐŠÑ o espaço vectorial de
dimensão 8# , cujos elementos são as matrizes quadradas de elementos de Š,
com 8 linhas e 8 colunas. Para cada matriz \ − `8 ЊÑ, seja detÐ\Ñ − Š o
respectivo determinante, e notemos WPÐ8ß ŠÑ o subconjunto de `8 ЊÑ,
WPÐ8ß ŠÑ œ Ö\ − `8 ÐŠÑ ± detÐ\Ñ œ "×,
conjunto a que se costuma dar o nome de grupo linear especial.
a) Mostrar que WPÐ8ß ŠÑ é um grupo, relativamente à operação de
multiplicação de matrizes, tendo a matriz identidade M como elemento neutro.
b) Mostrar que WPÐ8ß ŠÑ é, no elemento M , uma variedade sem bordo com
dimensão 8#  ", no caso Š œ ‘, e dimensão #8#  #, no caso Š œ ‚, e
que o espaço vectorial XM ÐWPÐ8ß ŠÑÑ é o conjunto das matrizes E tais que
trÐEÑ œ ! (notamos trÐEÑ o traço da matriz E, isto é, a soma dos elementos
da sua diagonal principal). Sugestão: A aplicação detÀ `8 ÐŠÑ Ä Š é suave
e tem-se H detM ÐEÑ œ trÐEÑ.
c) Mostrar que, para cada \ − WPÐ8ß ŠÑ, tem lugar um difeomorfismo de
WPÐ8ß ŠÑ sobre WPÐ8ß ŠÑ, que a cada ] associa \ ‚ ] e deduzir daqui que
Exercícios 183

WPÐ8ß ŠÑ é uma variedade sem bordo com a mesma dimensão em todos os


pontos, caracterizando cada espaço vectorial tangente X\ ÐWPÐ8ß ŠÑÑ.
Ex II.31 Para cada matriz \ − `8 БÑ, notamos \ ‡ a respectiva matriz
transposta e lembremos que uma matriz \ é dita simétrica (resp. antissi-
métrica) se se tem \ ‡ œ \ (resp. \ ‡ œ \ ). Lembremos também que uma
matriz \ − `8 Ð‘Ñ é dita ortogonal se for invertível e com \ " œ \ ‡ .
Notemos SÐ8Ñ o conjunto das matrizes ortogonais, conjunto a que se costu-
ma dar o nome de grupo ortogonal.
a) Mostrar que SÐ8Ñ é um grupo, relativamente à operação de multiplicação
de matrizes, tendo a matriz identidade M como elemento neutro.
b) Mostrar que SÐ8Ñ é, na matriz identidade M , uma variedade sem bordo,
com dimensão 8Ð8"Ñ
# e que XM ÐSÐ8ÑÑ é o espaço vectorial constituído pelas
matrizes antissimétricas. Sugestão: Aplicar II.4.32 a 0 À `8 Ð‘Ñ Ä `8 БÑ,
definida por 0 Ð\Ñ œ \ ‡ ‚ \ , reparando que esta aplicação toma valores no
subespaço vectorial de `8 Ð‘Ñ constituído pelas matrizes simétricas.
c) Utilizar o mesmo raciocínio que na alínea c) do exercício precedente para
mostrar que SÐ8Ñ é uma variedade sem bordo com dimensão 8Ð8"Ñ # em todos
os seus elementos e determinar o espaço vectorial tangente em cada um
deles.
Ex II.32 Mais geralmente, para cada \ − `8 ЂÑ, notamos \ ‡ a respectiva
matriz transconjugada e dizemos que uma matriz \ é unitária se for
invertível e com \ " œ \ ‡ . Notemos Y Ð8Ñ o conjunto das matrizes com-
plexas unitárias, com 8 linhas e 8 colunas, conjunto a que se costuma dar o
nome de grupo unitário.
a) Mostrar que Y Ð8Ñ é um grupo, relativamente à operação de multiplicação
de matrizes, tendo a matriz identidade M como elemento neutro.
b) Mostrar que Y Ð8Ñ é, na matriz identidade M , uma variedade sem bordo,
com dimensão 8# e que XM ÐY Ð8ÑÑ é o espaço vectorial constituído pelas
matrizes complexas \ tais que \ ‡ œ \ . Sugestão: A mesma que para o
exercício precedente.
c) Mostrar que Y Ð8Ñ é uma variedade sem bordo com dimensão 8# em todos
os seus elementos e determinar o espaço vectorial tangente em cada um
deles.
Ex II.33 Seja K uma variedade, munida de uma estrutura de grupo, tal que a
aplicação .À K ‚ K Ä K , definida por .ÐBß CÑ œ B † C , seja suave.
a) Mostrar que, para cada B − K , têm lugar difeomorfismos PB ß VB À K Ä K ,
definidos por PB ÐCÑ œ B † C e VB ÐCÑ œ C † B (a translação à esquerda e a
translação à direita).
b) Deduzir de a) que K é variedade sem bordo e com a mesma dimensão em
todos os pontos.
c) Mostrar que, se ÐBß CÑ − K ‚ K , tem-se
H.ÐBßCÑ Ð?ß @Ñ œ HÐPB ÑC Ð@Ñ  HÐVC ÑB Ð?Ñ
184 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

e que, em particular, notando / o elemento neutro de K ,


H.Ð/ß/Ñ Ð?ß @Ñ œ ?  @.

d) Mostrar que tem lugar uma bijecção . sÀ K ‚ K Ä K ‚ K , definida por


sÐBß CÑ œ ÐBß .ÐBß CÑÑ, e utilizar o exercício II.23 para mostrar que .
. s é um
difeomorfismo. Deduzir daqui que é suave a aplicação :À K Ä K , definida
por :ÐBÑ œ B" (o inverso no grupo) e que se tem H:/ Ð?Ñ œ ?. Concluir,
em particular, que K é um grupo de Lie.
Ex II.34 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8, munido
de produto interno. Se 5 Ÿ 8, mostrar que o subconjunto Z5 ÐIÑ de I 5 ,
constituído pelos sistemas ortonormados ÐB" ß á ß B5 Ñ, é uma variedade com-
pacta sem bordo, com dimensão 58  5Ð5"Ñ # , no caso real, e #58  5 # , no
caso complexo (aos Z5 ÐIÑ costuma-se dar o nome de variedades de Stiefel).
Mostrar ainda que, para cada ÐB" ß á ß B5 Ñ − Z5 ÐIÑ, o espaço tangente
XÐB" ßáßB5 Ñ ÐZ5 ÐIÑÑ é o conjunto dos Ð?" ß á ß ?5 Ñ − I 5 tais que, quaisquer que
sejam 3ß 4 entre " e 5 ,
Ø?3 ß B4 Ù  ØB3 ß ?4 Ù œ !.

Sugestão: Utilizar II.5.6 e um isomorfismo conveniente de PЊ5 à IÑ sobre


I5.
Ex II.35 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8, munido
de um produto interno, e consideremos a respectiva variedade de Grassmann
KÐIÑ, com as subvariedades abertas K5 ÐIÑ (cf. II.5.13). Mostrar que as
variedades K5 ÐIÑ são conexas. Sugestão: Lembrar que, como foi visto nos
exercícios I.17 e I.18, os grupos de Lie Y ÐIÑ e WSÐIÑ são conexos.
Ex II.36 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8 e seja
Kw ÐIÑ o conjunto das aplicações lineares - − PÐIà IÑ tais que - ‰ - œ - .
Mostrar que existe uma bijecção natural entre Kw ÐIÑ e o conjunto dos pares
ÐJ ß KÑ de subespaços vectoriais de I tais que I œ J Š K , associando a
cada - o par Ð-ÐIÑß kerÐ-ÑÑ, e adaptar o que foi feito em II.5.13 para mostrar
que Kw ÐIÑ é uma variedade sem bordo e com
X- ÐKw ÐIÑÑ œ Ö! − PÐIà IÑ ± ! ‰ -  - ‰ ! œ !×.
Se - corresponde ao par ÐJ ß KÑ, com J de dimensão 5 , apresentar uma
caracterização matricial de X- ÐKw ÐIÑÑ realtiva à soma directa referida e
deduzir que Kw ÐIÑ tem em - dimensão #5Ð8  5Ñ, no caso real, e
%5Ð8  5Ñ, no caso complexo. Verificar ainda que, como no caso referido,
Kw ÐIÑ é união disjunta de subvariedades abertas K5w ÐIÑ, onde ! Ÿ 5 Ÿ 8.
Ex II.37 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8, munido
de um produto interno.
a) Para cada - − Kw ÐIÑ, isto é, para cada - − PÐIà IÑ tal que - ‰ - œ -,
mostrar que a aplicação linear -  -‡  M.I À I Ä I é um isomorfismo.
Exercícios 185

Sugestão: Se B − I é tal que -ÐBÑ  -‡ ÐBÑ œ B, mostrar que -Ð-‡ ÐBÑÑ œ !


e -‡ Ð-ÐBÑÑ œ ! e, considerando os produtos internos por B, deduzir que
-‡ ÐBÑ œ ! e -ÐBÑ œ !, donde B œ !.
b) Nas condições de a), reparar que a imagem de -‡  M.I está contida em
kerÐ-‡ Ñ œ -ÐIѼ (cf. o exercício I.1) e deduzir da identidade
B œ -ÐÐ-  -‡  M.I Ñ" ÐBÑÑ  Ð-‡  M.I ÑÐÐ-  -‡  M.I Ñ" ÐBÑÑ
que a projecção ortogonal :Ð-Ñ de I sobre -ÐIÑ é dada por
:Ð-Ñ œ - ‰ Ð-  -‡  M.I Ñ" .

c) Concluir que é suave a aplicação :À Kw ÐIÑ Ä KÐIÑ, que a cada - associa


a projecção ortogonal de I sobre -ÐIÑ,57 e determinar, para cada
- − Kw ÐIÑ, a aplicação linear derivada H:- À X- ÐK w ÐIÑÑ Ä X:Ð-Ñ ÐKÐIÑÑ.
d) No caso particular em que - œ 1J − KÐIÑ § K w ÐIÑ, reparar que
:Ð-Ñ œ - e mostrar que, considerando as matrizes relativas à soma directa
ortogonal I œ J Š J ¼ , H:- associa a cada ! − X- ÐK w ÐIÑÑ com matriz
”! • , a aplicação linear com matriz ”
! •
! !"ß# ! !‡#ß"
.
#ß" ! !#ß"
Ex II.38 Sejam I e I w espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão 8,
munidos de produtos internos, e seja 0À I Ä I w um isomorfismo, não
necessariamente ortogonal. Mostrar que tem lugar um difeomorfismo
associado
0‡ À KÐIÑ Ä KÐI w Ñ,
que associa a cada 1J , projecção ortogonal de I sobre o subespaço vectorial
J , a projecção ortogonal 10ÐJ Ñ de I w sobre 0ÐJ Ñ. Sugestão: Basta mostrar
que 0‡ é uma aplicação suave. Para isso utilizar o exercício anterior,
reparando que 0 ‰ 1J ‰ 0" pertence a Kw ÐI w Ñ e tem imagem 0ÐJ Ñ.
Ex II.39 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão finita e seja
8   ". Seja
e8 ÐIÑ œ Ö0 − PÐIà IÑ ± 08 œ M.I × § KPÐIÑ
o conjunto das raízes de índice 8 da identidade no grupo de Lie KPÐIÑ.
a) Mostrar que e8 ÐIÑ é uma variedade sem bordo e que, para cada
0 − e8 ÐIÑ,
X0 Ðe8 ÐIÑÑ œ Ö! − PÐIà IÑ ± ! ‰ 08"  0 ‰ ! ‰ 0 8#  â  0 8# ‰ ! ‰ 0  0 8" ‰ ! œ !×.

Verificar ainda que X0 Ðe8 ÐIÑÑ pode ser caracterizado alternativamente


como o conjunto das aplicações lineares que se pode escrever na forma

57“Moralmente”, : associa J a cada par ÐJ ß KÑ.


186 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

" ‰ 0  0 ‰ " , com " − PÐIà IÑ.58


Sugestão: Para cada 0 − e8 ÐIÑ fixado, considerar uma aplicação suave
:À KPÐIÑ Ä e8 ÐIÑ, definida por :Ð(Ñ œ ( ‰ 0 ‰ (" , que aplica M.I em 0,
e aplicar o segundo teorema da submersão, reparando que, se ! − PÐIà IÑ
verifica
! ‰ 08"  0 ‰ ! ‰ 08#  â  08# ‰ ! ‰ 0  08" ‰ ! œ !,
então tem-se ! œ " ‰ 0  0 ‰ " , com " − PÐIà IÑ definido por
"
" œ  Ð! ‰ 08"  # 0 ‰ ! ‰ 08#  â  Ð8  "Ñ 08# ‰ ! ‰ 0  8 08" ‰ !Ñ.
8
b) Lembrar que dois elementos 0ß 0w − KPÐIÑ (como, mais geralmente, dois
elementos de um grupo arbitrário) se dizem conjugados se existe ( − KPÐIÑ
tal que 0w œ ( ‰ 0 ‰ (" e que se está em presença de uma relação de
equivalência em KPÐIÑ a cujas classes de equivalência se dá o nome de
classes de conjugação. Verificar que o raciocíno feito na alínea precedente
mostra, mais geralmente, que e8 ÐIÑ é uma união de classes de conjugação
de KPÐIÑ e que cada uma destas é aberta em e8 ÐIÑ. Concluir, em
particular, que M.I é um ponto isolado de e8 ÐIÑ.
c) Verificar que existe um difeomorfismo da variedade Kw ÐIÑ, referida no
exercício precedente, sobre e# ÐIÑ, que a cada - − K w ÐIÑ associa #-  M.I .
Ex II.40 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão finita,
munido de produto interno, e seja 8   ". Sendo SÐIÑ o grupo ortogonal,
seja
s8 ÐIÑ œ Ö0 − SÐIÑ ± 08 œ M.I × § SÐIÑ
e
o conjunto das raízes de índice 8 da identidade no grupo de Lie SÐIÑ.
a) Mostrar que e s8 ÐIÑ é uma variedade sem bordo e que, para cada
s
0 − e8 ÐIÑ,
s8 ÐIÑÑ œ Ö! − X0 ÐSÐIÑÑ ± ! ‰ 08"  0 ‰ ! ‰ 0 8#  â  0 8# ‰ ! ‰ 0  0 8" ‰ ! œ !×.
X0 Ðe

Verificar ainda que X0 Ðe s8 ÐIÑÑ pode ser caracterizado alternativamente


como o conjunto das aplicações lineares que se podem escrever na forma
" ‰ 0  0 ‰ " , com " − P++ ÐIà IÑ.
Sugestão: Análoga à do exercício precedente, mas utilizando o grupo
ortogonal SÐIÑ no lugar de KPÐIÑ e lembrando a caracterização do espaço
tangente ao grupo ortogonal.
b) Verificar que o raciocíno feito na alínea precedente mostra, mais geral-
mente, que e s8 ÐIÑ é uma união de classes de conjugação de SÐIÑ e que
cada uma destas é aberta em e s8 ÐIÑ. Concluir, em particular, que M.I é um

58Esteexercício e o próximo, assim como as sugestões para as respectivas resoluções, são


devidos a Cecília Ferreira.
Exercícios 187

ponto isolado de e s8 ÐIÑ.


c) Verificar que existe um difeomorfismo da variedade de Grassmann KÐIÑ,
referida em II.5.13, sobre e s# ÐIÑ, que a cada - − KÐIÑ associa #-  M.I .
Interpretar esse difeomorfismo, mostrando que e s# ÐIÑ é o conjunto das
simetrias relativas a subespaços vectoriais de I .
Ex II.41 Seja I um espaço vectorial de dimensão 8   " e seja E § I . Mostrar
que E é um sector de índice " se, e só se, existe uma aplicação linear
-À I Ä ‘, com - Á !, tal que
E œ ÖB − I ± -ÐBÑ   !×.

Ex II.42 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I uma

a) Mostrar que, para cada :   !, - `4 ÐQ Ñ é fechado em Q .


variedade.

4 :
b) Mostrar que, se B − `: ÐQ Ñ, então, para cada ! Ÿ 4 Ÿ :, B é aderente a
`4 ÐQ Ñ.
Ex II.43 Sejam +  , dois números reais. Mostrar que o intervalo Ò+ß ,Ó é uma
variedade de dimensão ", com `" ÐÒ+ß ,ÓÑ œ Ö+ß ,×.
Ex II.44 Mostrar que os seguintes conjuntos não são variedades no ponto
Ð!ß !Ñ − ‘# :
a) E œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B   !, C   !, BC œ !×.
b) F œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B   ! ” C   !×.
c) G œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B   !, ! Ÿ C Ÿ B# ×.
Ex II.45 Considerar a pirâmide quadrangular E de ‘$ , constituída pelos pontos
que se podem escrever na forma Ð>Bß >Cß >Ñ, com B − Ò!ß "Ó, C − Ò!ß "Ó e
> − Ò!ß "Ó. Mostrar que E não é uma variedade no ponto Ð!ß !ß !Ñ.
Sugestão: Mostrar que o cone tangente tÐ!ß!ß!Ñ ÐEÑ não é um sector de ‘$ .
Ex II.46 Considerar o cone E de ‘$ , constituído pelos pontos que se podem
escrever na forma Ð>Bß >Cß >Ñ, com > − Ò!ß "Ó e B#  C # Ÿ ". Mostrar que E
não é uma variedade no ponto Ð!ß !ß !Ñ.
Ex II.47 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, B! − Q § I , tal que
ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade com dimensão 8 e índice :, e 0 À Q Ä ‘ uma
aplicação suave. Mostrar que os conjuntos
K0 œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ ‘ ± C œ 0 ÐBÑ×,
K0 œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ ‘ ± C   0 ÐBÑ×,
K0 œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ ‘ ± C Ÿ 0 ÐBÑ×,

são variedades no ponto ÐB! ß 0 ÐB! ÑÑ e determinar quais as dimensões e


índices nesse ponto.
188 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

Ex II.48 Seja W § ‘$ a meia superfície esférica


W œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B#  C #  D # œ ", D   !×.
Mostrar que W é uma variedade de dimensão # e determinar, para cada um
dos pontos Ð!ß !ß "Ñ e Ð!ß "ß !Ñ, o índice e o cone tangente.
Ex II.49 Seja Q § ‘$ o igloo de esquimó,
"
Q œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B#  C #  D # œ ", D   !, B Ÿ ×.
#
Mostrar que Q é uma variedade de dimensão # e determinar os subconjuntos
`! ÐQ Ñ, `" ÐQ Ñ e `# ÐQ Ñ. Determinar qual o cone tangente de Q no ponto
È$
Ð "# ß # ß !Ñ.

Ex II.50 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8 e B! − Q § I tais que


ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade com dimensão 8 e índice ". Seja ? − I tal que
? − tB! ÐQ Ñ, mas ? Â tB! ÐQ Ñ.59
Mostrar que existe &  ! e um aberto Y de `" ÐQ Ñ, com B! − Y , tal que:
1) Para cada B − Y e > − Ó!ß &Ò, B  >? − `! ÐQ Ñ e B  >? Â Q ;
2) Tem lugar um difeomorfismo de Y ‚ Ó&ß &Ò sobre um aberto Y s de I ,
com B! − Y s , que a cada ÐBß >Ñ associa B  >?.60
Sugestão: Utilizar II.6.33 para garantir a existência de um aberto Y s w de I ,
com B! − Y s w , e de uma submersão :À Y s w Ä ‘ tal que :ÐB! Ñ œ ! e que
w w
Q Y s seja o conjunto dos B − Y s tais que :ÐBÑ   !. Verificar que se pode
escolher Y e & de modo que, para cada B − Y e > − Ó&ß &Ò, se tenha
B  >? − Y s w e, notando 0 ÐBß >Ñ œ :ÐB  >?Ñ,
`0
ÐBß >Ñ œ H:B>? Ð?Ñ  !.
`>

Ex II.51 a) Seja B! − Q § ‘8 tal que ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade sem bordo


com dimensão 8  ". Mostrar que existe " Ÿ 4 Ÿ 8 tal que o vector /4 da
base canónica de ‘8 não pertença a XB! ÐQ Ñ e que, para cada 4 nessas condi-
ções, existe &  ! verificando a condição seguinte: Sendo
s œ $ ÓB! 5  &ß B! 5  &Ò § ‘8 ,
Y

Y œ $ ÓB! 5  &ß B! 5  &Ò § ‘8" ,


5

5Á4

existe uma aplicação suave 0 À Y Ä ÓB! 4  &ß B! 4  &Ò tal que, para cada

59Intuitivamente, um vector que aponta “estritamente para dentro” de Q .


60Estas s
conclusões costumam ser expressas intuitivamente pela afirmação de que Q  Y
s que está de um dos lados de `" ÐQ Ñ.
é constituído pela parte de Y
Exercícios 189

B−Y s , tem-se B − Q se, e só se, B4 œ 0 ÐB" ß á ß B4" ß B4" ß á ß B8 Ñ.61


Sugestão: Aplicar o teorema da função inversa à restrição a Q da projecção
‘8 Ä ‘8" que “esquece” a coordenada 4.
b) Seja B! − Q § ‘8 tal que ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade com dimensão 8 e
índice ". Mostrar que existe " Ÿ 4 Ÿ 8 tal que o vector /4 da base canónica
de ‘8 não pertença a XB! Ð`" ÐQ ÑÑ e que, para cada 4 nessas condições, existe
&  ! tal que, sendo
s œ $ ÓB! 5  &ß B! 5  &Ò § ‘8 ,
Y

Y œ $ ÓB! 5  &ß B! 5  &Ò § ‘8" ,


5

5Á4

existe uma aplicação suave 0 À Y Ä ÓB! 4  &ß B! 4  &Ò para a qual se verifica
uma das duas condições seguintes:62
1) Se B − Ys , tem-se B − Q se, e só se, B4   0 ÐB" ß á ß B4" ß B4" ß á ß B8 Ñ;
2) Se B − Ys , tem-se B − Q se, e só se, B4 Ÿ 0 ÐB" ß á ß B4" ß B4" ß á ß B8 Ñ.
Sugestão: Aplicar a conclusão de a) à variedade `" ÐQ Ñ, no ponto B! , e ter
em conta a conclusão do exercício II.50.
Ex II.52 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, +  , dois números
reais e 0 À Ò+ß ,Ó Ä I uma aplicação suave, tal que 0 w Ð>Ñ Á !, para cada
> − Ò+ß ,Ó (um caminho regular). Mostrar que, se 0 é injectiva, então 0 é um
difeomorfismo de Ò+ß ,Ó sobre a sua imagem, em particular 0 ÐÒ+ß ,ÓÑ é uma
variedade de dimensão ", com bordo Ö0 Ð+Ñß 0 Ð,Ñ×. Determinar quais o cone
tangente e o espaço vectorial tangente em cada elemento de 0 ÐÒ+ß ,ÓÑ.
Ex II.53 Generalizar o que foi feito no exercício II.26, permitindo que as
variedades ÐQ ß B! Ñ e ÐQ w ß C! Ñ tenham bordo, à custa de reforçar convenien-
temente a condição de transversalidade.
Ex II.54 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8 e Q § I uma variedade
sem cantos, de dimensão igual à do espaço ambiente (portanto `4 ÐQ Ñ œ g,
para cada 4   #). Mostrar que existe um aberto Y de I , com Q § Y , e uma
aplicação suave 0 À Y Ä ‘ tal que, para cada B − `" ÐQ Ñ, H0B À I Ä ‘ seja
uma aplicação linear sobrejectiva e que se tenha
Q œ ÖB − Y ± 0 ÐBÑ   !×,
`" ÐQ Ñ œ ÖB − Y ± 0 ÐBÑ œ !×

(a variedade é definível globalmente por uma inequação). Mostrar ainda que,


no caso em que Q é fechado em I , pode-se tomar Y œ I . Sugestão: A

61Localmente, pelo menos no caso em que 4 œ 8, podemos dizer que Q é o gráfico da


aplicação 0 .
62Pelo menos no caso em que 4 œ 8, podemos dizer que, localmente, Q é a parte de
cima ou a parte de baixo do gráfico de 0 .
190 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

versão local deste resultado é uma consequência do lema em II.6.33. Para


passar para a versão global, utilizar uma partição da unidade, começando por
substituir provisoriamente o intervalo Ò!ß _Ò e o conjunto Ö!× por Ò"ß _Ò
e Ö"×, respectivamente.
Ex II.55 Seja Q um espaço topológico localmente compacto, separado e de base
contável. Mostrar que a classe dos subconjuntos 5-compactos de Q é
fechada para as intersecções finitas e para as uniões finitas ou numeráveis e
contém tanto os subconjuntos abertos como os subconjuntos fechados de Q .
Mostrar ainda que, se Q s é outro espaço topológico localmente compacto,
separado e de base contável e 0 À Q Ä Q s é uma aplicação contínua, então a
imagem directa de um subconjunto 5 -compacto de Q é um subconjunto
5 -compacto de Q s e a imagem recíproca de um subconjunto 5 -compacto de
s
Q é um subconjunto 5 -compacto de Q .
Ex II.56 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8, Y um aberto de I e
O § Y um conjunto compacto. Mostrar que existe uma variedade compacta,
sem cantos, de dimensão 8, Q § Y , tal que O § `! ÐQ Ñ. Sugestão: Pelo
teorema da partição da unidade, e depois de substituir eventualmente Y por
um aberto mais pequeno que seja limitado, considerar uma função suave
0 À I Ä Ò!ß "Ó, nula fora duma certa parte compacta de Y e tal que 0 ÐBÑ œ ",
para cada B − O . Construir a variedade Q a partir dum valor regular de 0 no
intervalo Ó!ß "Ò.
Ex II.57 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8 e Q § I uma variedade
de dimensão menor ou igual a 7 em cada um dos seus pontos.
a) Mostrar que, se 8   #7  ", então, para cada $  !, existe A − I , com
mAm  $, tal que Q  ÐA  Q Ñ œ g. Constatar que a condição 8   #7  "
não é desnecessária, examinando o que se passa com a circunferência de
centro ! e raio " em ‘# . Sugestão: Aplicar o teorema de Sard, ou
directamente o seu corolário II.7.17, à aplicação 0 À Q ‚ Q Ä I , definida
por 0 ÐBß CÑ œ C  B.
b) Mostrar que, se 8   #7  #, então existe A − I tal que, para cada
> − ‘ Ï Ö!× e B − Q , B  >A Â Q . Sugestão: Considerar a aplicação
1À Q ‚ Q ‚ ‘ Ä I , definida por 1ÐBß Cß =Ñ œ =ÐC  BÑ.
Ex II.58 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I uma
variedade. Mostrar que o bordo total
`ÐQ Ñ œ . `5 ÐQ Ñ
5 "

é um subconjunto magro de Q .
Ex II.59 Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades, ambas eventualmente com
bordo e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave. Generalizando as definições em
II.7.1 e II.7.15, chamemos pontos regulares de 0 aos pontos B − Q tais
que, sendo B − `5 ÐQ Ñ, a aplicação linear
Exercícios 191


HÐ0Î`5 ÐQ Ñ ÑÀ XB Ð`5 ÐQ ÑÑ Ä X0 ÐBÑ ÐQ

seja sobrejectiva, chamemos pontos críticos de Q aos restantes pontos de


Q , chamemos valores críticos de 0 àqueles que são imagem de algum ponto
crítico de 0 e valores regulares de 0 aos elementos de Q s que não são
valores críticos. Verificar que, se B − Q é um ponto regular de Q , então
0 ÐBÑ − `! ÐQs Ñ e que, ainda neste caso, o conjunto dos valores críticos de 0 é
um subconjunto magro de Q s.
Ex II.60 Lembrar a noção de grupo de Lie referida em II.5.3 e as respectivas
propriedades, estudadas no exercício II.33.
Mostrar que, se K § I e K s§I s são grupos de Lie e 0 À K Ä Ks é um
morfismo de grupos suave e sobrejectivo então 0 é uma submersão.
Sugestão: Utilizar o corolário do teorema de Sard em II.7.22, depois de
mostrar que 0 é uma aplicação suave homogénea.
Ex II.61 Sejam K um grupo de Lie, com elemento neutro /, e Q uma variedade.
Chama-se acção suave (à esquerda) de K em Q a uma aplicação suave
K ‚ Q Ä Q , que notaremos Ð1ß BÑ È 1B, verificando as propriedades
/B œ B e Ð1 † 2ÑB œ 1Ð2BÑÑ, para B − Q e 1ß 2 − K . Uma tal acção diz-se
transitiva se, quaisquer que sejam Bß C − Q , existe 1 − K tal que C œ 1B.
a) Mostrar que, dada uma acção suave, tem lugar, para cada 1 − K , um
difeomorfismo P s1 À Q Ä Q , definido por P s1 ÐBÑ œ 1B, cujo inverso é P
s1" e
deduzir que, no caso em que a acção suave é transitiva, Q é uma variedade
homogénea, em particular não tem bordo e tem a mesma dimensão em todos
os pontos.
b) Mostar que, se I é um espaço euclidiano ou hermitiano de dimensão 8,
então, para cada ! Ÿ 5 Ÿ 8, tem lugar uma acção suave transitiva do grupo
de Lie SÐIÑ na variedade de Grassmann K5 ÐIÑ definida, por Ð0ß -Ñ È
0 ‰ - ‰ 0‡ , ou, equivalentemente, por Ð0ß 1J Ñ È 10ÐJ Ñ .
c) Mostrar que, dada uma acção suave transitiva, tem lugar, para cada
B − Q , uma aplicação suave sobrejectiva V s B À K Ä Q , definida por
Vs B Ð1Ñ œ 1B. Verificar que esta aplicação é homogénea e deduzir, pelo
corolário do teorema de Sard em II.7.22, que a aplicação é uma submersão.
Ex II.62 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8, munido
de um produto interno. Seja ! Ÿ 5 Ÿ 8 e consideremos a variedade de Stiefel
Z5 ÐIÑ § I 5 , dos sistemas ortonormados de 5 vectores de I (cf. o exercício
II.34), e a variedade de Grassmann K5 ÐIÑ § PÐIà IÑ, das projecções
ortogonais sobre subespaços vectoriais de dimensão 5 de I (cf. II.5.13).
a) Mostrar que tem lugar uma aplicação suave FÀ Z5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ, que a
cada ÐB" ß á ß B5 Ñ associa a projecção ortogonal 1J , onde J é o subespaço
vectorial gerado por por B" ß á ß B5 e que esta aplicação é sobrejectiva.
b) Verificar que a aplicação suave F é homogénea e aplicar o corolário do
teorema de Sard em II.7.22 para concluir que FÀ Z5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ é uma
192 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades

submersão. Sugestão: Cada isomorfismo ortogonal 0À I Ä I determina um


difeomorfismo natural Z5 ÐIÑ Ä Z5 ÐIÑ e um difeomorfismo natural
K5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ, que a cada 1J associa 10ÐJ Ñ œ 0 ‰ 1J ‰ 0" .
Ex II.63 Sejam Q § I , Q s §I s e Q˜ § I˜ três variedades sem bordo,
0À Q ‚ Q s Ä Q˜ uma aplicação suave e D! − Q˜ um valor regular de 0 .
Verificar que existe um conjunto magro E § Q tal que, para cada
B − Q Ï E, D! é um valor regular da aplicação 0ÐBÑ À Qs Ä Q˜ , definida por
0ÐBÑ ÐCÑ œ 0 ÐBß CÑ. Sugestão: Reparar que o conjunto
s ± 0 ÐBß CÑ œ D! ×
G œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ Q
é uma variedade sem bordo, determinar o respectivo espaço vectorial
tangente em cada ponto, e aplicar o teorema de Sard à restrição da primeira
projecção Q ‚ Qs Ä Q a G.
CAPÍTULO III
Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

§1. Fibrados vectoriais.

III.1.1 Sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita e E § K um


subconjunto arbitrário. Se I é um espaço vectorial, real ou complexo, de
dimensão finita, vamos chamar família de subespaços vectoriais de I de
base E a uma família I œ ÐIB ÑB−E em que, para cada B − E, IB é um
subespaço vectorial de I . Dizemos então que E é a base de I e que IB é a
fibra de I no ponto B − E. Dizemos também que K é o espaço ambiente da
base e que I é o espaço ambiente das fibras.

Uma família de subespaços vectoriais de I de base E é uma aplicação


cujo domínio é E e que toma valores no conjunto dos subespaços
vectoriais de I . Os fibrados vectoriais, que definiremos em seguida, vão
ser intuitivamente as famílias de subespaços vectoriais que, enquanto apli-
cações de domínio E, são suaves. O facto de o conjunto dos subespaços
vectoriais de I não ser uma parte de um espaço vectorial faz com que
esta definição não possa ser formalizada, dentro do contexto em que nos
colocamos. Somos portanto obrigados a encontrar uma definição ad hoc,
que corresponda à ideia intuitiva atrás referida. Será cómodo começar por
apresentar algumas definições que correspondem, neste contexto, à
composição e à restrição de aplicações.

III.1.2 Sejam Es§K s e E § K dois subconjuntos de espaços vectoriais de


s Ä E uma aplicação. Se I œ ÐIB ÑB−E é uma família
dimensão finita e 0 À E
de subespaços vectoriais de I de base E, define-se a sua imagem recíproca
s
por meio de 0 como sendo a família de subespaços vectoriais de I de base E
0 ‡ I œ ÐI0 ÐCÑ ÑC−Es

(olhando para I como aplicação de domínio E, 0 ‡ I vai ser portanto a


composta de I com 0 ). Um caso particular importante é aquele em que
Es § E § K e em que tomamos para 0 À E s Ä E a inclusão, definida por
s. Dizemos então que a imagem recíproca 0 ‡ I é a
0 ÐBÑ œ B, para cada B − E
s e notamo-la I s . Tem-se portanto
restrição de I a E ÎE

I ÎEs œ ÐIB ÑB−Es


194 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

(olhando para I como aplicação de domínio E, temos simplesmente a restri-


s de E).
ção desta aplicação ao subconjunto E
III.1.3 Sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita, E § K um
subconjunto, I um espaço vectorial e I œ ÐIB ÑB−E uma família de subes-
s é outro espaço vectorial e 0À I Ä I
paços vectoriais de I de base E. Se I sé
uma aplicação linear, define-se a imagem directa de I por meio de 0 como
s de base E
sendo a família de subespaços vectoriais de I
0‡ I œ Ð0ÐIB ÑÑB−E .

III.1.4 Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E uma família de subespaços vectoriais de I


de base E. Chama-se secção de I a uma família [ œ Ð[B ÑB−E tal que, para
cada B − E, [B − IB (uma secção é portanto uma escolha de um elemento
em cada uma das fibras). Uma secção é uma aplicação de E em I , verifi-
cando uma condição restritiva, e dizemos que a secção é suave se isso lhe
acontecer enquanto aplicação de E em I .
III.1.5 Sejam E § K, I œ ÐIB ÑB−E uma família de subespaços vectoriais de I
de base E e [ œ Ð[B ÑB−E uma secção de I . Dados E s§K s e a aplicação
s
0 À E Ä E, define-se a imagem recíproca da secção [ por meio de 0 como
sendo a secção 0 ‡ [ œ Ð[0 ÐCÑ ÑC−Es de 0 ‡ I . É claro que 0 ‡ [ não é mais do
que a composta de [ com 0 pelo que, se a aplicação 0 À E s Ä E é suave e se
[ é uma secção suave de I , então 0 [ é uma secção suave de 0 ‡ I .

Como caso particular importante, temos mais uma vez aquele em que E s§E
e tomamos para 0 À Es Ä E a inclusão. A secção imagem recíproca 0 [ não ‡

é então mais do que a restrição de [ a E s, restrição essa que se nota natural-


mente [ÎEs .

III.1.6 Sejam E § K, I œ ÐIB ÑB−E uma família de subespaços vectoriais de I


de base E e [ œ Ð[B ÑB−E uma secção de I . Dados outro espaço vectorial
Is e uma aplicação linear 0À I Ä Is , define-se a imagem directa da secção
[ por meio de 0 como sendo a secção 0‡ [ œ Ð0Ð[B ÑÑB−E de 0‡ I . É claro
que 0‡ [ não é mais do que a composta de 0 com [ pelo que, se [ é uma
secção suave de I , também 0‡ [ é uma secção suave de 0‡ I .
III.1.7 Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E uma família de subespaços vectoriais de I ,
de base E. Chama-se campo de referenciais de I a um sistema de secções
suaves [" ß á ß [8 de I , tal que, para cada B − E, [" B ß á ß [8 B seja uma
base da fibra IB . Diz-se que I é um fibrado vectorial trivial se admitir um
campo de referenciais. Diz-se que I é um fibrado vectorial se I é local-
mente um fibrado vectorial trivial, no sentido que, para cada B − E, exista
um aberto Y de E, com B − Y , tal que I ÎY seja um fibrado vectorial trivial.
III.1.8 Sejam E § K, I um espaço vectorial de dimensão finita e J § I um
subespaço vectorial. Tem então lugar um fibrado vectorial trivial, que
§1. Fibrados vectoriais 195

notaremos JE , cuja fibra em cada B − E é igual a J . Dizemos que JE é o


fibrado vectorial constante de fibra J .
Dem: Se A" ß á ß A8 é uma base de J , é claro que as secções suaves cons-
tantes de valores A" ß á ß A8 constituem um campo de referenciais de JE . …
III.1.9 Seja Q § K uma variedade. Tem então lugar um fibrado vectorial
X ÐQ Ñ, de base Q , com as fibras contidas em K , cuja fibra em cada B − Q é
o espaço vectorial tangente XB ÐQ Ñ. Dizemos que X ÐQ Ñ é o fibrado vectorial
tangente da variedade Q . Mais precisamente, se Y é um aberto de Q
difeomorfo a um aberto dum sector dum espaço vectorial de dimensão finita,
então X ÐQ ÑÎY é um fibrado vectorial trivial.
Dem: Sabemos, por definição, que, para cada B − Q , existe um aberto Y de
Q , com B − Y , um aberto Z dum sector E dum espaço vectorial J de
dimensão finita e um difeomorfismo :À Z Ä Y . O resultado ficará portanto
demonstrado se virmos que, para cada Y nestas condições, X ÐQ ÑÎY é um
fibrado vectorial trivial. Fixemos uma base A" ß á ß A8 de J . Para cada
B − Y , H::" ÐBÑ é um isomorfismo de
X:" ÐBÑ ÐZ Ñ œ X:" ÐBÑ ÐEÑ œ J

sobre XB ÐY Ñ œ XB ÐQ Ñ pelo que, sendo, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8,


[4 B œ H::" ÐBÑ ÐA4 Ñ,

[" B ß á ß [8 B vai ser uma base de XB ÐQ Ñ. Se provarmos que cada


[4 œ Ð[4 B ÑB−Y é uma secção suave de X ÐQ ÑÎY , obtivemos portanto um
campo de referenciais de X ÐQ ÑÎY e o resultado ficará demonstrado. Ora,
sendo Zs um aberto de J , contendo Z , e : s Ä K uma aplicação suave
sÀ Z
prolongando :, sabemos que vai ter lugar uma aplicação suave
H:sÀ Zs Ä PÐJ à KÑ, aplicação essa que, restringida a Z e composta à direita
com o difeomorfismo :" À Y Ä Z e à esquerda com a aplicação linear de
PÐJ à KÑ em K , que a - associa -ÐA4 Ñ, vai dar precisamente a aplicação
[4 À Y Ä K, o que nos permite concluir que cada [4 é efectivamente uma
aplicação suave. …
III.1.10 Em geral, quando a variedade Q não admitir uma carta global, isto é,
quando não for difeomorfa a um aberto dum sector, o fibrado vectorial
X ÐQ Ñ poderá não ser trivial. O exemplo que apresentamos em seguida
mostra um caso em que uma variedade, que não admite uma carta global,
verifica mesmo assim a propriedade de o seu fibrado vectorial tangente ser
trivial.
Seja W § ‘# a circunferência de centro Ð!ß !Ñ e raio ",
W œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B#  C # œ "×.
Para cada ÐBß CÑ − W , sabemos que XÐBßCÑ ÐWÑ é o subespaço vectorial de
dimensão " de ‘# constituído pelos vectores ortogonais a ÐBß CÑ. Uma vez
196 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

que ÐCß BÑ é não nulo e ortogonal a ÐBß CÑ, concluímos que tem lugar o
campo de referenciais de X ÐWÑ constituído pela secção suave [ , definida
por [ÐBßCÑ œ ÐCß BÑ.
Não se deve pensar que este resultado seja generalizável para qualquer
dimensão. Por exemplo, pode-se provar, embora com instrumentos de que
não dispômos neste curso, que, sendo W w § ‘$ a superfície esférica de centro
Ð!ß !ß !Ñ e raio ",
W w œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B#  C #  D # œ "×,
X ÐW w Ñ não é um fibrado vectorial trivial, não existindo sequer uma secção
suave de X ÐW w Ñ que nunca se anule.63
III.1.11 Sejam E s§K s e E § K dois subconjuntos de espaços vectoriais reais de
dimensão finita e 0 À E s Ä E uma aplicação suave. Seja I œ ÐIB ÑB−E uma
família de subespaços vectoriais de I de base E, e consideremos a imagem
recíproca 0 ‡ I . Tem-se então:
a) Se I é um fibrado vectorial trivial, o mesmo acontece a 0 ‡ I ;
b) Se I é um fibrado vectorial, o mesmo acontece a 0 ‡ I .
Dem: Se I é um fibrado vectorial trivial, podemos considerar um campo de
referenciais [" ß á ß [8 de I e então é imediato que se obtém um campo de
referenciais 0 ‡ [" ß á ß 0 ‡ [8 para 0 ‡ I . Suponhamos agora que I é
simplesmente um fibrado vectorial. Dado C − E s arbitrário, vai existir um
aberto Y de E, com 0 ÐCÑ − Y , tal que I ÎY seja um fibrado vectorial trivial.
Pela continuidade de 0 , podemos considerar um aberto Z de E s, com C − Z ,
tal que 0 ÐZ Ñ § Y . Tem-se então que Ð0 IÑÎZ œ Ð0ÎZ Ñ I ÎY é um fibrado
‡ ‡

vectorial trivial, o que mostra que 0 ‡ I é um fibrado vectorial. …


III.1.12 Sejam 0À I Ä I s uma aplicação linear, E § K um subconjunto dum
espaço vectorial real de dimensão finita e I œ ÐIB ÑB−E uma família de
subespaços vectoriais de I de base E, e consideremos a imagem directa
0‡ I œ Ð0ÐIB ÑÑB−E . Suponhamos que, para cada B − E, a restrição
0ÎIB À IB Ä I s é injectiva (o que acontece, em particular se a aplicação linear
0À I Ä I s for injectiva). Tem-se então:
a) Se I é um fibrado vectorial trivial, o mesmo acontece a 0‡ I ;
b) Se I é um fibrado vectorial, o mesmo acontece a 0‡ I .
Dem: A conclusão de b) é uma consequência imediata da de a) e esta resulta
de que, se [" ß á ß [8 é um campo de referenciais de I , então 0‡ [" ß
á ß 0‡ [8 é um campo de referenciais de 0‡ I . …
III.1.13 Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial trivial, com IB § I ,
onde I é um espaço vectorial sobre Š. Seja [" ß á ß [8 um campo de
referenciais de I . Seja [ uma secção de I e sejam 0" ß á ß 08 À E Ä Š as

63Éeste facto que está na origem da impossibilidade, que se pode intuir experimental-
mente, de pentear uma bola cabeluda, sem permitir a formação de remoínhos.
§1. Fibrados vectoriais 197

aplicações definidas por


[B œ 0" ÐBÑ[" B  â  08 ÐBÑ[8 B .
Tem-se então que [ é uma secção suave se, e só se, cada aplicação
04 À E Ä Š é suave.
Dem: É imediato que, se cada 04 À E Ä Š é uma aplicação suave, então [ é
uma aplicação suave de E em I , portanto uma secção suave de I .
Suponhamos, reciprocamente, que [ é uma secção suave de I . Seja B! − E
arbitrário. Podemos então considerar vectores A8" ß á ß A7 − I tais que se
obtenha uma base [" B! ß á ß [8 B! ß A8" ß á ß A7 de I . Seja . œ Ð.B ÑB−E a
aplicação suave de E em PЊ7 à IÑ definida por
.B Ð+" ß á ß +7 Ñ œ +" [" B  â  +8 [8 B  +8" A8"  â  +7 A7
(cf. II.2.12). Uma vez que .B! aplica a base canónica de Š7 numa base de I ,
concluímos que .B! é um isomorfismo de Š7 sobre I . Tendo em conta I.8.1,
podemos garantir a existência de um aberto Y de E, com B! − Y , tal que,
para cada B − Y , .B seja um isomorfismo de Š7 sobre I e que seja suave a
aplicação de Y em PÐIà Š7 Ñ, que a B associa ." B . Uma vez que, para cada
B − Y,
[B œ .B Ð0" ÐBÑß á ß 08 ÐBÑß !ß á ß !Ñ,
e portanto Ð0" ÐBÑß á ß 08 ÐBÑß !ß á ß !Ñ œ ."
B Ð[B Ñ, concluímos que é suave a
restrição de cada 04 a Y . O facto de a noção de aplicação suave ser local
permite-nos concluir finalmente que cada 04 é uma aplicação suave de E em
Š. …
III.1.14 É evidente que, se I œ ÐIB ÑB−E é um fibrado vectorial trivial, então
todas as fibras IB são espaços vectoriais com a mesma dimensão. Resulta
daqui que, se I œ ÐIB ÑB−E é um fibrado vectorial, então, para cada B! − E,
existe um aberto Y de E, com B! − Y , tal que cada IB , com B − Y , tem a
mesma dimensão que IB! . Podemos assim concluir que, se a base E for
conexa, todas as fibras IB dum fibrado vectorial I œ ÐIB ÑB−E têm a mesma
dimensão (fixado B! , o conjunto dos B tais que a dimensão de IB é a mesma
que a de IB! vai ser simultaneamente aberto e fechado em E).
Em geral, dizemos que um fibrado vectorial I œ ÐIB ÑB−E tem dimensão 8
se todas as fibras IB tiverem dimensão 8.

Ao revermos o estudo dos espaços euclidianos e hermitianos, verificámos


que um tal espaço admite sempre uma base ortonormada. Em particular,
para cada sistema linearmente independente B" ß á ß B7 de vectores de um
tal espaço I , sabemos que vai existir uma base ortonormada para o
subespaço vectorial de I gerado por aquele sistema de vectores. No que
se vai seguir teremos necessidade de estabelecer a possibilidade de
escolher os elementos dessa base ortonormada como funções suaves dos
198 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

vectores B" ß á ß B7 . Isso vai ser conseguido a partir do conhecido método


de ortogonalização de Gram-Schmidt.

III.1.15 Se I é um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão finita. Para


cada 7   1, vamos notar H7 ÐIÑ o subconjunto de I 7 constituído pelos
sistemas linearmente independentes ÐB" ß á ß B7 Ñ e, supondo fixado um
produto interno em I , definimos uma aplicação 07 À H7 ÐIÑ Ä I pela
condição de 07 ÐB" ß á ß B7 Ñ ser a projecção ortogonal de B7 sobre o
complementar ortogonal do subespaço vectorial gerado por B" ß á ß B7" .
III.1.16 Seja I é um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão finita,
munido de um produto interno. Para cada 7   " tem-se então:
a) H7 ÐIÑ é aberto em I 7 ;
b) A aplicação 07 À H7 ÐIÑ Ä I é suave.
c) Para cada ÐB" ß á ß B7 Ñ − H7 ÐIÑ, os vectores
0" ÐB" Ñß 0# ÐB" ß B# Ñß á ß 07 ÐB" ß á ß B7 Ñ
constituem uma base ortogonal do subespaço vectorial de I gerado por
B" ß á ß B7 (diz-se que estes vectores são os construídos a partir de
B" ß á ß B7 pelo método de ortogonalização de Gram-Schmidt).
Dem: A demonstração é por indução completa em 7. O caso 7 œ " resulta
simplesmente de que H" ÐIÑ œ I Ï Ö!× e de que 0" ÐB" Ñ é a projecção
ortogonal de B" sobre Ö!×¼ œ I , portanto 0" ÐB" Ñ œ B" . Seja então 7  " e
suponhamos o resultado verdadeiro quando o número de vectores é menor
que 7. Tendo em conta a hipótese de indução, podemos considerar o aberto
Hw 7 ÐIÑ de I 7 , contendo H7 ÐIÑß constituído pelos ÐB" ß á ß B7 Ñ tais que
ÐB" ß á ß B7" Ñ − H7" ÐIÑ e prolongar, com a mesma definição, a aplicação
07 À H7 ÐIÑ Ä I a Hw 7 ÐIÑ. Pela hipótese de indução, para cada
ÐB" ß á ß B7 Ñ − Hw 7 ÐIÑ, 0" ÐB" Ñß 0# ÐB" ß B# Ñß á ß 07" ÐB" ß á ß B7" Ñ é uma
base ortogonal do subespaço vectorial gerado por B" ß á ß B7" , pelo que,
tendo em conta I.2.20,

07 ÐB" ß á ß B7 Ñ œ B7  "
7"
ØB7 ß 04 ÐB" ß á ß B4 ÑÙ
04 ÐB" ß á ß B4 Ñ.
4œ"
Ø04 ÐB" ß á ß B4 Ñß 04 ÐB" ß á ß B4 ÑÙ

Esta fórmula mostra, mais uma vez pela hipótese de indução, que
07 À Hw 7 ÐIÑ Ä I é suave e o facto de se ter ÐB" ß á ß B7 Ñ − H7 ÐIÑ se, e só
se, ÐB" ß á ß B7 Ñ − Hw 7 ÐIÑ e 07 ÐB" ß á ß B7 Ñ Á ! vai implicar que H7 ÐIÑ é
aberto em I 7 . Para cada ÐB" ß á ß B7 Ñ − H7 ÐIÑ, a mesma fórmula mostra
que 07 ÐB" ß á ß B7 Ñ, que, por construção, é ortogonal ao subespaço gerado
por B" ß á ß B7" , e portanto, em particular, ortogonal a cada 04 ÐB" ß á ß B4 Ñ
com 4  7, pertence ao subespaço vectorial gerado por B" ß á ß B7 , o que
implica que 0" ÐB" Ñß 0# ÐB" ß B# Ñß á ß 07 ÐB" ß á ß B7 Ñ é efectivamente uma base
ortogonal desse subespaço. …
§1. Fibrados vectoriais 199

Repare-se que, no caso em que o corpo Š dos escalares é ‚, não


afirmamos, de modo nenhum, que as aplicações 07 sejam holomorfas,
uma vez que o produto interno é antilinear, e não linear complexo, na
segunda variável.
Por vezes é mais conveniente trabalharmos com bases ortonormadas, e
não apenas ortogonais, mas estas são obtidas de modo trivial a partir do
resultado precedente.

III.1.17 (Corolário) Seja I é um espaço vectorial, real ou complexo, de dimen-


são finita, munido de um produto interno. Para cada 7   " tem então lugar
uma aplicação suave 17 À H7 ÐIÑ Ä I definida por
07 ÐB" ß á ß B7 Ñ
17 ÐB" ß á ß B7 Ñ œ ,
m07 ÐB" ß á ß B7 Ñm
e, para cada ÐB" ß á ß B7 Ñ − H7 ÐIÑ,
1" ÐB" Ñß 1# ÐB" ß B# Ñß á ß 17 ÐB" ß á ß B7 Ñ
é uma base ortonormada do subespaço vectorial gerado por B" ß á ß B7 (que
se diz ser a obtida a partir destes vectores pelo método de ortonormalização
de Gram-Schmidt).

Vamos agora utilizar os resultados precedentes para apresentar uma


caracterização alternativa dos fibrados vectoriais, no caso em que o
espaço vectorial I , ambiente das fibras, está munido de um produto
interno. Essa caracterização vai ser fundamental para o estudo da
Geometria Diferencial dos fibrados vectoriais e das variedades, com
espaço ambiente euclidiano ou hermitiano.

III.1.18 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E


uma família de subespaços vectoriais de I de base E. Notemos, para cada
B − E, 1B À I Ä IB e 1B¼ À I Ä IB¼ as projecções ortogonais sobre a fibra e
sobre o respectivo complementar ortogonal. Tem-se então:
a) Se I é um fibrado vectorial trivial, então I admite um campo de
referenciais ortonormado, isto é, um campo de referenciais [" ß á ß [8 tal
que, para cada B − E, [" B ß á ß [8 B seja uma base ortonormada de IB ;
b) I é um fibrado vectorial se, e só se, a aplicação 1 œ Ð1B ÑB−E , de E em
PÐIà IÑ, é suave;
c) Se I é um fibrado vectorial, então, dados B! − E, uma base A" ß á ß A8 de
IB! e uma base A8" ß á ß A7 de IB¼! , existe um aberto Y de E, com B! − Y ,
tal que, para cada B − Y , 1B ÐA" Ñß á ß 1B ÐA8 Ñ seja uma base da fibra IB e
1B¼ ÐA8" Ñß á ß 1B¼ ÐA7 Ñ seja uma base de IB¼ .
Dem: Comecemos por supor que I é um fibrado vectorial trivial. Podemos
então considerar um campo de referenciais [" ß á ß [8 de I , isto é, uma
família de aplicações suaves de E em I tal que, para cada B − E,
200 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

[" B ß á ß [8 B seja uma base de IB . Tendo em conta III.1.17 podemos então


considerar as aplicações suaves ^" ß á ß ^8 À E Ä I , definidas por
^4 B œ 14 Ð[" B ß á ß [4 B Ñ,

as quais vão constituir um campo de referenciais ortonormado de I .


Suponhamos agora que I é um fibrado vectorial, não forçosamente trivial.
Seja B! − E arbitrário. Podemos então considerar um aberto Y de E, com
B! − Y , tal que I ÎY seja um fibrado vectorial trivial, existindo portanto
aplicações suaves [" ß á ß [8 , de Y em I , tais que, para cada B − Y ,
[" B ß á ß [8 B seja uma base ortonormada de IB . Para cada B − Y e A − I ,
tem-se então
1B ÐAÑ œ ØAß [" B Ù[" B  â  ØAß [8 B Ù[8 B ,
de onde se deduz, tendo em conta II.2.12, que é suave a aplicação de Y em
PÐIà IÑ, que a B associa 1B . Uma vez que a noção de aplicação suave é
local, concluímos portanto que é suave a aplicação de E em PÐIà IÑ, que a
B associa 1B .
Suponhamos agora que é suave a aplicação de E em PÐIà IÑ, que a B
associa 1B . É claro que é então também suave a aplicação de E em PÐIà IÑ,
que a B associa 1B¼ œ M.I  1B . Seja B! − E arbitrário e consideremos uma
base A" ß á ß A8 de IB! e uma base A8" ß á ß A7 de IB¼! . Podemos então
considerar uma aplicação suave de FÀ E Ä I 7 , definida por
FÐBÑ œ Ð1B ÐA" Ñß á ß 1B ÐA8 Ñß 1B¼ ÐA8" Ñß á ß 1B¼ ÐA7 ÑÑ.
Uma vez que a imagem de B! por esta aplicação é a base A" ß á ß A7 de I ,
concluímos de III.1.16 que existe um aberto Y de E, com B! − Y , tal que,
para cada B − Y , FÐBÑ seja uma base de I . Uma vez que as primeiras 8
componentes de FÐBÑ pertencem a IB e que as últimas 7  8 componentes
de FÐBÑ pertencem a IB¼ , concluímos que, para cada B − Y ,
1B ÐA" Ñß á ß 1B ÐA8 Ñ é uma base de IB e 1B¼ ÐA8" Ñß á ß 1B¼ ÐA7 Ñ é uma base
de IB¼ .64 Obtivemos assim um campo de referenciais [" ß á ß [8 de I ÎY ,
definido por [4 B œ 1B ÐA4 Ñ, pelo que ficou provado que I ÎY é um fibrado
vectorial trivial e portanto I é um fibrado vectorial. …

No caso em que I é um espaço euclidiano ou hermitiano, podemos agora


reexaminar a interpretação intuitiva dos fibrados vectoriais I œ ÐIB ÑB−E
como aplicações suaves de E no conjunto †ÐIÑ dos subespaços
vectoriais de I . Podemos considerar que uma tal aplicação é suave
quando o for a sua composição com a bijecção deste conjunto sobre o
subonjunto KÐIÑ § PÐIà IÑ, que a cada subespaço J associa a
projecção ortogonal 1J (cf. II.5.12 e II.5.13).

64Trata-sede um exercício simples de Álgebra Linear, que pode ser resolvido, por
exemplo, pelo exame das dimensões dos espaços em questão.
§1. Fibrados vectoriais 201

III.1.19 (Corolário) Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com as


fibras IB contidas no espaço euclidiano ou hermitiano I . Tem então lugar
um novo fibrado vectorial I ¼ œ ÐIB¼ ÑB−E .
Dem: Uma vez que é suave a aplicação de E em PÐIà IÑ, que a cada B
associa a projecção ortogonal 1B , de I sobre IB , vem também suave a
aplicação de E em PÐIà IÑ, que a cada B associa a projecção ortogonal 1B¼ ,
de I sobre IB¼ , que é igual a M.I  1B . 
III.1.20 (Corolário) Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com
IB § I . Dados B! − E e A − IB! , existe então uma secção suave
[ œ Ð[B ÑB−E de I , tal que [B! œ A.
Dem: Fixando um produto interno em I , sabemos que tem lugar uma
aplicação suave de E em PÐIà IÑ, que a cada B associa a projecção
ortogonal 1B , de I sobre IB , bastando então definir [B œ 1B ÐAÑ. 
III.1.21 (Aplicação às variedades de Grassmann) Sejam I e I s dois espaços
vectoriais de dimensão finita, reais ou complexos, munidos de produto
interno e seja 0À I Ä Is uma aplicação linear injectiva, não necessariamente
ortogonal. Considerando as variedades de Grassmann KÐIÑ § PÐIà IÑ e
KÐIÑs § PÐIà s IÑ
s (cf. II.5.12 e II.5.13), tem então lugar uma aplicação suave
s
0‡ À KÐIÑ Ä KÐIÑ
que associa a cada projecção ortogonal 1J a projecção ortogonal 10ÐJ Ñ. Esta
aplicação é mesmo um difeomorfismo de KÐIÑ sobre um subconjunto de
KÐIÑs .65
Dem: Consideremos a família de subespaços vectoriais de I de base KÐIÑ
cuja fibra em cada - œ 1J − KÐIÑ é o subespaço vectorial J de I . Esta
família é um fibrado vectorial (o fibrado vectorial tautológico) uma vez que
é suave a aplicação que a cada - œ 1J associa a projecção ortogonal 1J
sobre a fibra. Tendo em conta III.1.12, podemos considerar o fibrado
vectorial de base KÐIÑ e fibras contidas em I s que a cada - œ 1J associa o
subespaço vectorial 0ÐJ Ñ de I s e, aplicando mais uma vez a alínea b) de
III.1.18, concluímos que é suave a aplicação 0‡ À KÐIÑ Ä PÐIà s IÑs que a
s
cada - œ 1J associa 10ÐJ Ñ . A aplicação suave 0‡ À KÐIÑ Ä KÐIÑ é uma
bijecção de KÐIÑ sobre um subconjunto K! ÐIÑ s , a saber, o constituído pelas
s
projecções ortogonais 1Js , com J subespaço vectorial de 0ÐIÑ.
s Ä KÐIÑ é também
Resta-nos mostrar que a aplicação inversa 0‡" À K! ÐIÑ
suave. Seguimos para isso um caminho análogo ao anterior, começando por
considerar uma aplicação linear (À I s Ä I cuja restrição a 0ÐIÑ seja 0"
(podemos, por exemplo, tomar para ( a composta de 0" com a projecção
ortogonal de I s sobre 0ÐIÑ). Consideramos então a família de subespaços

65Reparar que este resultado generaliza a conclusão do exercício II.38 e tem uma
demonstração mais simples que o argumento utilizado para a respectiva resolução.
202 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

vectoriais de I s de base K! ÐIÑ


s que a cada - s œ 1 s associa o subespaço
J
s
vectorial J , família que vai ser mais uma vez um fibrado vectorial por ser
suave a aplicação que a cada - œ 1Js associa a projecção ortogonal 1Js sobre
a fibra, e deduzimos daqui, mais uma vez por III.1.12, que tem lugar um
fibrado vectorial de base K! ÐIÑ s cuja fibra em cada 1 s é o subespaço
J
s " s
vectorial (ÐJ Ñ œ 0 ÐJ Ñ de I . Aplicando de novo III.1.18, concluímos que
é suave a aplicação de K! ÐIÑ s em KÐIÑ que a cada 1 s associa 1 " s ,
J 0 ÐJ Ñ
aplicação essa que não é mais do que 0‡" . …
III.1.22 (Corolário) Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão
finita, munido de dois produtos internos e notemos 1J e 1 sJ as projecções
ortogonais de I sobre J relativas ao primeiro e ao segundo produto internos
e KÐIÑ e KÐIÑ s as variedades de Grassmann correspondentes. Tem então
lugar um difeomorfismo AÀ KÐIÑ Ä KÐIÑs , que a cada 1J associa 1
sJ .
Dem: Trata-se do caso particular do resultado precedente em que se toma
para 0À I Ä I a aplicação identidade, com o primeiro produto interno no
domínio e o segundo no espaço de chegada. …
s ) Nas condições de III.1.21, para
III.1.23 (A derivada de 0‡ À KÐIÑ Ä KÐIÑ
cada 1J − KÐIÑ a derivada
s
HÐ0‡ Ñ1J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä X10ÐJ Ñ ÐKÐIÑÑ

está definida pela seguinte condição: Para cada ! − X1J ÐKÐIÑÑ e ? − J ,


HÐ0‡ Ñ1J Ð!ÑÐ0Ð?ÑÑ œ 10ÐJ Ѽ Ð0Ð!Ð?ÑÑ. 66

Dem: Para cada 1J − KÐIÑ e ? − I , tem-se 0Ð1J Ð?ÑÑ − 0ÐJ Ñ donde


0‡ Ð1J Ñ ‰ 0 ‰ 1J Ð?Ñ œ 10ÐJ Ñ ‰ 0 ‰ 1J Ð?Ñ œ 0 ‰ 1J Ð?Ñ.

Derivando a primeira e a terceira expressões como funções de 1J na direcção


de ! − X1J ÐKÐIÑÑ, obtemos
HÐ0‡ Ñ1J Ð!Ñ ‰ 0 ‰ 1J Ð?Ñ  10ÐJ Ñ ‰ 0 ‰ !Ð?Ñ œ 0 ‰ !Ð?Ñ.

No caso particular em que ? − J , tem-se 1J Ð?Ñ œ ? pelo que a igualdade


anterior dá
HÐ0‡ Ñ1J Ð!ÑÐ0Ð?ÑÑ œ 0Ð!Ð?ÑÑ  10ÐJ Ñ Ð0Ð!Ð?ÑÑ œ 10ÐJ Ѽ Ð0Ð!Ð?ÑÑ. …

Até agora, no estudo dos fibrados vectoriais, o espaço vectorial I


ambiente das fibras, foi considerado como podendo ser indiferentemente
um espaço vectorial real ou complexo. No caso em que este é um espaço

66Lembrar que um vector tangente a KÐIÑs em 10ÐJ Ñ fica determinado pela sua restrição a
0ÐJ Ñ (cf. a caracterização matricial em II.5.13).
§1. Fibrados vectoriais 203

vectorial complexo, podemos encará-lo também como espaço vectorial


real, mas as noções de campo de referenciais, de fibrado vectorial trivial e
de fibrado vectorial vão depender naturalmente do contexto em que nos
colocamos. Quando houver dúvida sobre o contexto que estamos a consi-
derar usaremos as palavras “real” e “complexo” para o clarificar. O
resultado que apresentamos em seguida explica a relação entre os dois
contextos.

III.1.24 Sejam E § K, I um espaço vectorial complexo e I œ ÐIB ÑB−E uma


família de subespaços vectoriais complexos de I . Tem-se então:
a) Se I é um fibrado vectorial complexo (respectivamente um fibrado vecto-
rial trivial complexo), então I é também um fibrado vectorial real
(respectivamente um fibrado vectorial trivial real).
b) Se I é um fibrado vectorial real, então I é também um fibrado vectorial
complexo.
Dem: Tendo em conta a definição de fibrado vectorial, vemos que, para
provar a), basta mostrar que, se I é um fibrado vectorial complexo trivial,
então I é também um fibrado vectorial real trivial, e isso resulta de que, se
as famílias Ð[" B ÑB−E ß á ß Ð[8 B ÑB−E constituem um campo de referenciais
complexo de I , então estas famílias, conjuntamente com as famílias
Ð3 [" B ÑB−E ß á ß Ð3 [8 B ÑB−E constituem um campo de referenciais real. A
conclusão de b) é uma consequência da alínea b) de III.1.18, uma vez que,
fixando um produto interno complexo em I , a projecção ortogonal 1B de I
sobre IB , relativa ao produto interno complexo, é a mesma que a relativa ao
produto interno real associado. …
III.1.25 Há ainda outra noção que faz sentido apresentar no caso em que a base
E é um aberto num espaço vectorial complexo K . Se I é um espaço
vectorial complexo, diz-se que uma família de subespaços vectoriais
complexos de I , I œ ÐIB ÑB−E , é um fibrado vectorial holomorfo trivial se
ela admite um campo de referenciais holomorfo, isto é, um campo de
referenciais complexo [" ß á ß [8 constituído por aplicação holomorfas
E Ä I ; diz-se que I é um fibrado vectorial holomorfo se, para cada B − E,
existe um aberto Y de E, com B − Y , tal que I ÎY seja um fibrado vectorial
holomorfo trivial. Note-se que, salvo em casos particulares triviais, já não é
verdade que, para um fibrado vectorial holomorfo I œ ÐIB ÑB−E , com as
fibras contidas num espaço hermitiano I , venha holomorfa a aplicação de E
em P‚ ÐIà IÑ, que a cada B associa a projecção ortogonal 1B , de I sobre IB
(A razão está em que, como observámos atrás, o método de ortonormalização
de Gram-Schmidt não é uma operação holomorfa.).

No resultado que apresentamos em seguida, o espaço ambiente das fibras


será explicitamente considerado como real, uma vez que, na definição de
variedade que temos estado a estudar, uma eventual estrutura complexa
no espaço ambiente é irrelevante.
204 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.1.26 Sejam E § K, I um espaço vectorial real de dimensão finita e


I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I . Vamos chamar espaço
total de I o subconjunto I˜ de K ‚ I :
I˜ œ ÖÐBß AÑ − K ‚ I ± B − E, A − IB ×,
conjunto que será também notado simplesmente I , quando daí não vier
perigo de confusão.
III.1.27 Sejam B! − Q § K, tais que ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade, com
dimensão 7 e índice :, I um espaço vectorial real de dimensão finita e
I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § I , e seja 8 a dimensão de
IB! . Tem-se então que, para cada A! − IB! , o espaço total I § Q ‚ I é,
no ponto ÐB! ß A! Ñ, uma variedade de dimensão 7  8 e índice :.
Dem: Seja Y um aberto de Q , com B! − Y , tal que I ÎY seja um fibrado
vectorial trivial. Seja [" ß á ß [8 um campo de referenciais ortonormado de
I ÎY (cf. III.1.18). Tem-se então que Y s œ I  ÐY ‚ IÑ é um aberto de I ,
s
contendo ÐB! ß A! Ñ, pelo que o resultado ficará demonstrado se virmos que Y
é, no ponto ÐB! ß A! Ñ, uma variedade com dimensão 7  8 e índice :. Ora,
vai ter lugar uma bijecção suave de Y ‚ ‘8 sobre Y s , definida por
ÐBß Ð+" ß á ß +8 ÑÑ È ÐBß +" [" B  â  +8 [8 B Ñ,
pelo que, uma vez que Y ‚ ‘8 é, em cada ÐB! ß Ð+" ß á ß +8 ÑÑ, uma variedade
com dimensão 7  8 e índice :, ficamos reduzidos a provar que a inversa da
bijecção referida é também suave. Basta-nos assim provar que são suaves as
aplicações s0 4 À Y
s Ä ‘, 4 œ "ß á ß 8, definidas pela condição de se ter, para
cada ÐBß AÑ − Y , s
A œ 0" ÐBß AÑ[" B  â  08 ÐBß AÑ[8 B
e isso resulta de se ter 04 ÐBß AÑ œ ØAß [4 B Ù. …

§2. Orientação de fibrados vectoriais reais.

III.2.1 Sejam E § K, I um espaço vectorial real de dimensão finita e


I œ ÐIB ÑB−E uma família de subespaços vectoriais de I de base E. Vamos
chamar orientação de I a uma família ! œ Ð!B ÑB−E , em que cada !B é uma
orientação da fibra IB .
Se Es§K s Ä E é uma aplicação, define-se a orientação imagem
s e se 0 À E
recíproca da família imagem recíproca 0 ‡ I œ ÐI0 ÐCÑ ÑC−Es como sendo a
orientação
0 ‡ ! œ Ð!0 ÐCÑ ÑC−Es .
§2. Orientação de fibrados vectoriais reais 205

No caso particular em que E s § E e 0À E s Ä E é a inclusão, a orientação


imagem recíproca 0 ‡ ! de 0 ‡ I œ I ÎEs é também notada !ÎEs e chamada de
s.
restrição da orientação ! a E
III.2.2 Sejam E § K, I um espaço vectorial real de dimensão finita e
I œ ÐIB ÑB−E uma família de subespaços vectoriais de I de base E. Vamos
dizer que uma orientação ! œ Ð!B ÑB−E de I é suave se, para cada B! − E,
existe um aberto Y de E, com B! − Y , e um campo de referenciais
[" ß á ß [7 de I ÎY , que seja directo ou seja retrógrado (no sentido que,
para cada B − Y , a base [" B ß á ß [7 B de IB seja directa ou, para cada
B − Y , esta base seja retrógrada). É claro que I é então automaticamente um
fibrado vectorial.
III.2.3 Sejam E s§K s, E § K e 0 À E s Ä E uma aplicação suave. Se
I œ ÐIB ÑB−E é um fibrado vectorial, munido de uma orientação suave
! œ Ð!B ÑB−E , é então também suave a orientação imagem recíproca
0 ‡ ! œ Ð!0 ÐCÑ ÑC−Es de 0 ‡ I .
Dem: Seja C! − E s arbitrário. Sejam Y um aberto de E, com 0 ÐC! Ñ − Y , tal
que exista um campo de referenciais [" ß á ß [7 de I ÎY , que seja directo
ou retrógrado. Pela continudade de 0 , podemos considerar um aberto Z de
Es, com C! − Z , tal que 0 ÐZ Ñ § Y . Temos então secções suaves de Ð0 ‡ IÑÎZ ,
Ð0ÎZ ч [" ß á ß Ð0ÎZ ч [7 , as quais constituem um campo de referenciais,
que é directo ou retrógrado. …
III.2.4 (Exemplo) Sejam E § K, I um espaço vectorial de dimensão finita e
J § I um subespaço vectorial, sobre o qual se fixou uma orientação !.
Sobre o fibrado vectorial constante JE fica então definida uma orientação
constante !, que associa a cada B − E a orientação ! da fibra J em B. É
evidente que esta orientação constante é uma orientação suave.
III.2.5 (Teorema fundamental) Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado
vectorial, com IB § I , munido de uma orientação suave ! œ Ð!B ÑB−E . Se
[" ß á ß [7 é um campo de referenciais de I , então, para cada B! − E,
existe um aberto Y de E, com B! − Y , tal que, para cada B − Y , a base
[" B ß á ß [7 B de IB é directa, ou, para cada B − Y , aquela base é
retrógrada; em consequência, no caso em que a base E é conexa, o campo de
referenciais é directo ou retrógrado.
Dem: Seja B! − E arbitrário. Por definição, sabemos que existe um aberto Z
de E, com B! − Z , tal que I ÎZ admita um campo de referenciais
^" ß á ß ^7 , que seja directo ou retrógrado. Tendo em conta III.1.13,
podemos considerar aplicações suaves 04ß5 À Z Ä ‘, onde " Ÿ 4ß 5 Ÿ 7,
definidas pela condição de se ter

[5 B œ " 04ß5 ÐBÑ ^4 B .


7

4œ"
206 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Para cada B − Z , a matriz de elementos 04ß5 ÐBÑ é uma matriz de mudança de


base, portanto uma matriz invertível, pelo que, considerando a aplicação
suave que a cada B − Z associa o determinante daquela matriz, vai existir
um aberto Y de E, com B! − Y § Z , tal que, para cada B − Y , aquele
determinante no ponto B tem o mesmo sinal que no ponto B! . Concluímos
portanto que ou, para cada B − Y , a base [" B ß á ß [7 B é directa, ou, para
cada B − Y , ela é retrógrada. No caso em que a base E é conexa, o que
acabamos de provar mostra-nos que E é a união de dois abertos disjuntos, a
saber, o conjunto dos pontos de B onde [" B ß á ß [7 B é uma base directa e o
conjunto dos pontos B onde aquela base é retrógrada, pelo que um destes
abertos tem que ser igual a E, o que quer precisamente dizer que o campo de
referenciais [" ß á ß [7 é directo ou retrógrado. …
III.2.6 Sejam E § K, I um espaço vectorial de dimensão finita e I œ ÐIB ÑB−E
um fibrado vectorial, com IB § I . Dadas duas orientações suaves ! e !w de
I , são então abertos em E o conjunto dos pontos B tais que !B œ !wB e o
conjunto dos pontos B tais que !B œ !wB ; em particular, no caso em que a
base E é conexa, ou ! œ !w ou ! œ !w .
Dem: Seja B! − E tal que !B! œ !wB! (resp. !B! œ !wB! ). Seja Z um aberto
de E, com B! − Z , tal que exista um campo de referenciais [" ß á ß [7 de
I ÎZ , que seja directo ou retrógrado, relativamente à orientação !w . Pelo
resultado precedente, podemos considerar um aberto Y de E, com
B! − Y § Z , tal que ou, para cada B − Y , [" B ß á ß [7 B é directa,
relativamente à orientação !, ou, para cada B − Y , [" B ß á ß [7 B é
retrógrada, relativamente a !. Resulta daqui que se tem !B œ !wB (resp.
!B œ !wB ), para cada B − Y , o que mostra que os conjuntos em questão são
abertos. O conjunto E é portanto união destes dois abertos disjuntos pelo
que, no caso em que E é conexo, um destes abertos é igual a E. …
III.2.7 Diz-se que um fibrado vectorial I œ ÐIB ÑB−E é orientável se admitir pelo
menos uma orientação suave.
III.2.8 Se Q § I é uma variedade, chama-se orientação de Q a uma orientação
do fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ e diz-se que Q é orientável se isso
acontecer ao fibrado vectorial X ÐQ Ñ.
III.2.9 Se I œ ÐIB ÑB−E é um fibrado vectorial orientável, com a base E conexa
e não vazia, então I admite duas, e só duas, orientações suaves; se uma delas
for !, a outra é !.
Dem: Se ! é uma orientação suave de I , é imediato que ! é também uma
orientação suave, que não coincide com a primeira por E não ser vazio;
resulta então de III.2.6 que, para cada orientação suave " de I tem-se " œ !
ou " œ ! (fixado B! − E, tem-se "B! œ !B! ou "B! œ !B! , sendo então,
no primeiro caso, " œ ! e, no segundo, " œ !). …
III.2.10 Se I œ ÐIB ÑB−E é um fibrado vectorial trivial, então I é orientável.
Dem: Se [" ß á ß [7 é um campo de referenciais de I , podemos, para cada
§2. Orientação de fibrados vectoriais reais 207

B − E, considerar a orientação !B de IB , relativamente à qual a base


[" B ß á ß [7 B é directa, tendo-se então que [" ß á ß [7 é um campo de
referenciais directo. …
III.2.11 Sejam E § K, I um espaço euclidiano e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado
vectorial orientável de dimensão ", com IB § I . Fixemos uma das
orientações suaves de I e seja, para cada B − E, [B − IB o vector unitário
positivo, isto é, o único vector deste espaço vectorial de dimensão ", que tem
norma " e constitui uma base directa de IB (cf. I.4.23). Tem-se então que
[ œ Ð[B ÑB−E é um campo de referenciais de I , o qual vai ser portanto um
fibrado vectorial trivial.
Dem: Seja B! − E arbitrário. Seja Y um aberto de E, com B! − Y , tal que
exista um campo de referenciais directo ^ œ Ð^B ÑB−E , de I ÎY (se ele fosse
retrógrado podíamos multiplicá-lo por "). É então imediato que, para cada
B − Y,

ÈØ^B ß ^B Ù
^B ^B
^Bw œ œ
m^B m

é um vector de norma " deste espaço, constituindo uma base directa, ou seja,
^Bw œ [B . Deduzimos assim que a restrição de [ a Y é uma secção suave
de I ÎY , pelo que o facto de a noção de aplicação suave ser local implica que
[ é uma secção suave de I . …
III.2.12 (Nota) O resultado precedente é um fenómeno exclusivo dos fibrados
vectoriais de dimensão ". Por exemplo, se W § ‘$ é a superfície esférica,
veremos em III.2.16 que o fibrado vectorial tangente X ÐWÑ é orientável e,
como já referimos, pode-se provar, embora com técnicas que não
examinaremos neste texto, que este fibrado vectorial não é trivial.
¨
III.2.13 (Exemplo: O fibrado vectorial de Mobius) Seja W § ‘# a circunferên-
cia de centro Ð!ß !Ñ e raio ":
W œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B#  C # œ "×.
Sabemos que W é uma variedade sem bordo, com dimensão " e podemos
considerar a aplicação suave 0 À ‘ Ä W , definida por
0 Ð>Ñ œ ÐcosÐ>Ñß sinÐ>ÑÑ,
a qual se verifica imediatamente ser uma submersão sobrejectiva. Conside-
remos agora a família I œ ÐIÐBßCÑ ÑÐBßCÑ−W de subespaços vectoriais de ‘# ,
que a cada ÐBß CÑ − W , com ÐBß CÑ œ 0 Ð>Ñ, associa o subespaço vectorial
gerado pelo vector não nulo
> >
ÐcosÐ Ñß sinÐ ÑÑ − ‘#
# #
(cf. a figura 6).
208 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Figura 6
O facto de IÐBßCÑ estar bem definido vem de que, se =ß > − ‘ verificam
0 Ð=Ñ œ 0 Ð>Ñ, então =  > é múltiplo de #1, pelo que #=  #> é múltiplo de 1, o
que implica que ÐcosÐ=Î#Ñß sinÐ=Î#ÑÑ e ÐcosÐ>Î#Ñß sinÐ>Î#ÑÑ são iguais ou
simétricos, em qualquer caso geram o mesmo subespaço vectorial de ‘# .
Vamos agora verificar que I é um fibrado vectorial de dimensão " não
orientável, e portanto não trivial.
Para vermos que I é um fibrado vectorial, basta, tendo em conta a carac-
terização destes dada na alínea b) de III.1.18 e a propriedade das submersões
sobrejectivas referida em II.4.31, verificar que 0 ‡ I é um fibrado vectorial.
Ora 0 ‡ I é mesmo um fibrado vectorial trivial, por admitir o campo de
referenciais constituído por uma única secção suave, aquela que a cada >
associa ÐcosÐ>Î#Ñß sinÐ>Î#ÑÑ.
Para vermos que I é não orientável, vamos supor que I admitia uma
orientação suave ! e chegar a um absurdo. Então 0 ‡ ! era uma orientação
suave de 0 ‡ I , pelo que, uma vez que ‘ é conexo, o campo de referenciais de
0 ‡ I , constituído pela secção suave, que a > associa ÐcosÐ>Î#Ñß sinÐ>Î#ÑÑ,
seria directo ou retrógrado. Mas isso é impossível, visto que 0 Ð!Ñ œ 0 Ð#1Ñ e
que os vectores ÐcosÐ>Î#Ñß sinÐ>Î#ÑÑ, para > œ ! e > œ #1, são simétricos,
constituindo assim bases com orientações opostas.
III.2.14 Sejam I e K espaços vectoriais reais de dimensão finita, E § K , e
Is œ ÐIs B ÑB−E e I˜ œ ÐI˜ B ÑB−E dois fibrados vectoriais, com I s B ,I˜ B § I ,
munidos de orientações Ð! sB ÑB−E e Ð!˜B ÑB−E . Suponhamos que, para cada
B − E, I s B  I˜ B œ Ö!× e seja, para cada B − E, IB œ I s B Š I˜ B e !B a
orientação de IB associada à soma directa (cf. I.4.18). Tem-se então:
a) I œ ÐIB ÑB−E é também um fibrado vectorial.
b) Se duas das orientações Ð! sB ÑB−E , Ð!˜B ÑB−E e Ð!B ÑB−E forem suaves, a
terceira também é suave.
Dem: Seja B! − E arbitrário. Sejam Z w e Z ww abertos de E, contendo B! , tais
§2. Orientação de fibrados vectoriais reais 209

que os fibrados vectoriais IsÎZ w e I˜ ÎZ ww sejam triviais. Sendo Z œ Z w  Z ww ,


que é ainda um aberto de E, contendo B! , podemos considerar campos de
referenciais [" ß á ß [7 de IsÎZ e [7" ß á ß [8 de I˜ ÎZ e tem-se então que
[" ß á ß [7 ß [7" ß á ß [8 é um campo de referenciais de ÐIB ÑB−Z . Ficou
assim provado que I ÎZ é um fibrado vectorial trivial, e portanto que I é um
fibrado vectorial. Reparemos, além disso, que, por definição da orientação
associada à soma directa, tem-se, para cada B − Z ,
!B Ð[" B ß á ß [7 B ß [7" B ß á ß [8 B Ñ œ
œ! sB Ð[" B ß á ß [7 B Ñ!˜B Ð[7" B ß á ß [8 B Ñ.
Suponhamos que as orientações Ð! sB ÑB−E e Ð!˜B ÑB−E são suaves. Tendo em
conta III.2.5 , podemos considerar abertos Y w e Y ww de E, contendo B! e
contidos em Z , tais que ! sB ([" B ß á ß [7 B Ñ seja constante em Y w e que
!˜B Ð[7" B ß á ß [8 B Ñ seja constante em Y ww , de onde deduzimos que
!B Ð[" B ß á ß [7 B ß [7" B ß á ß [8 B Ñ é constante no aberto Y w  Y ww de E,
que contém B! , e portanto que Ð!B ÑB−E é suave.
Analogamente, supondo que as orientações Ð!B ÑB−E e Ð! sB ÑB−E são suaves,
podemos considerar abertos Y w e Y ww de E, contendo B! e contidos em Z , tais
que !B Ð[" B ß á ß [7 B ß [7" B ß á ß [8 B Ñ seja constante em Y w e que
sB Ð[" B ß á ß [7 B Ñ seja constante em Y ww , de onde deduzimos que
!
!˜B Ð[7" B ß á ß [8 B Ñ é constante no aberto Y w  Y ww de E, que contém B! , e
portanto que Ð!˜B ÑB−E é suave.
Do mesmo modo se verifica que, se as orientações Ð!B ÑB−E e Ð!˜B ÑB−E são
suaves, a orientação Ð! sB ÑB−E é também suave. …
III.2.15 (Corolário) Sejam E § K, I um espaço vectorial de dimensão finita e
I œ ÐIB ÑB−E e I s œ ÐIs B ÑB−E dois fibrados vectoriais, com IB § I e
s
I B § I , tais que, para cada B − E, tenha lugar a soma directa
I œ IB Š I s B . Tem-se então que I é orientável se, e só se, I
s é orientável.
Em particular, no caso em que I é um espaço euclidiano, um fibrado
vectorial I œ ÐIB ÑB−E , com IB § I , é orientável se, e só se, o fibrado
vectorial I ¼ œ ÐIB¼ ÑB−E é orientável.
III.2.16 (Orientação canónica das esferas) Sejam I um espaço euclidiano
orientado de dimensão 8   " e seja W § I a hipersuperfície esférica de
centro ! e raio ":
W œ ÖB − I ± mBm œ "×.
Sabemos que, para cada B − W , XB ÐWÑ é o conjunto dos vectores de I
ortogonais a B, ou, o que é o mesmo, ortogonais ao subespaço vectorial
gerado por B. Vemos assim que X ÐWѼ é um fibrado vectorial trivial de
dimensão ", por admitir o campo de referenciais formado pela secção que a
cada B − W associa o gerador B de XB ÐWѼ . Em particular X ÐWѼ é orientável
e podemos considerar a orientação suave de X ÐWѼ definida pela condição
de B ser uma base directa de XB ÐWѼ . Tendo em conta III.2.14, ficamos com
210 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

uma orientação suave associada de W , a que daremos o nome de orientação


canónica, definida a partir das somas directas I œ XB ÐWѼ Š XB ÐWÑ, isto é,
pela condição de uma base ?" ß á ß ?8" de XB ÐWÑ ser directa se, e só se, a
base Bß ?" ß á ß ?8" de I for directa.

§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental.

III.3.1 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um


fibrado vectorial, com IB § I .
Dada uma secção suave [ œ Ð[B ÑB−E de I , [ é, em particular, uma
aplicação suave de E em I , pelo que podemos, para cada B! − E e
? − XB! ÐEÑ, considerar a derivada H[B! Ð?Ñ, que será um elemento de I
mas, em geral, não terá que pertencer à fibra IB! . Nas aplicações geométricas
é importante ter algo que tenha a ver com a derivada referida mas que esteja
ligado ao fibrado vectorial, no sentido que deve ser um elemento da fibra IB!
no ponto em que se deriva. É assim natural apresentar a seguinte definição:
Se [ œ Ð[B ÑB−E é uma secção suave de I , define-se, para cada B! − E, a
derivada covariante de [ , no ponto B! como sendo a aplicação linear
f[B! À XB! ÐEÑ Ä IB! definida por
f[B! Ð?Ñ œ 1B! ÐH[B! Ð?ÑÑ,

onde 1B! é a projecção ortogonal de I sobre IB! .67


III.3.2 (Exemplo) Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e
J § I um subespaço vectorial e consideremos o fibrado vectorial constante
JE , de fibra J . Dada uma secção suave [ œ Ð[B ÑB−E de JE , tem-se que,
para cada B! − E e ? − XB! ÐEÑ, a derivada usual H[B! Ð?Ñ é um elemento de
J (derivada duma aplicação suave de E em J ). Concluímos portanto que,
neste caso, a derivada covariante f[B! coincide com a derivada usual
H[B! , não dependendo, em particular, do produto interno que se considera
em I .
III.3.3 (Exemplo) Seja W § ‘# a circunferência de centro Ð!ß !Ñ e raio ":
W œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B#  C # œ "×.
Uma vez que XÐBßCÑ ÐWÑ é constituído pelos vectores ortogonais a ÐBß CÑ,
podemos considerar uma secção suave [ do fibrado vectorial tangente
X ÐWÑ, definida por [ÐBßCÑ œ ÐCß BÑ. Considerando o ponto Ð"ß !Ñ − W e o
vector tangente Ð!ß "Ñ − XÐ"ß!Ñ ÐWÑ, vemos que H[Ð"ß!Ñ Ð!ß "Ñ œ Ð"ß !Ñ, que

67Repare-se que não definimos a derivada covariante duma secção senão quando o espaço
vectorial ambiente das fibras está munido de um produto interno. Essa derivada
covariante dependerá, em geral, do produto interno fixado.
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 211

não pertence à fibra XÐ"ß!Ñ ÐWÑ. Uma vez que Ð"ß !Ñ é ortogonal a XÐ"ß!Ñ ÐWÑ,
tem-se, para a derivada covariante, f[Ð"ß!Ñ Ð!ß "Ñ œ Ð!ß !Ñ.

Os dois resultados que se seguem mostram que a derivação covariante


verifica certas propriedades análogas às da derivação usual.

III.3.4 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um


fibrado vectorial, com IB § I . Tem-se então, para cada B! − E e
? − XB! ÐEÑ:
a) Se [ e ^ são secções suaves de I e se - − Š,
fÐ[  ^ÑB! Ð?Ñ œ f[B! Ð?Ñ  f^B! Ð?Ñ,
fÐ-[ ÑB! Ð?Ñ œ -f[B! Ð?Ñ.

b) (Regra de Leibnitz) Se [ é uma secção suave de I e se 0 À E Ä Š é


uma aplicação suave,
fÐ0 [ ÑB! Ð?Ñ œ H0B! Ð?Ñ[B!  0 ÐB! Ñf[B! Ð?Ñ.68

c) (Regra de Leibnitz) Se [ e ^ são secções suaves de I , tem lugar uma


aplicação suave Ø[ ß ^ÙÀ E Ä Š, definida por B È Ø[B ß ^B Ù, e
HØ[ ß ^ÙB! Ð?Ñ œ Øf[B! Ð?Ñß ^B! Ù  Ø[B! ß f^B! Ð?ÑÙ.

Dem: As propriedades bem conhecidas da derivação usual permitem-nos


escrever
HÐ[  ^ÑB! Ð?Ñ œ H[B! Ð?Ñ  H^B! Ð?Ñ,
HÐ-[ ÑB! Ð?Ñ œ -H[B! Ð?Ñ,
HÐ0 [ ÑB! Ð?Ñ œ H0B! Ð?Ñ[B!  0 ÐB! ÑH[B! Ð?Ñ.

Aplicando 1B! a ambos os membros de cada uma destas igualdades, obtemos


as fórmulas das alíneas a) e b). Do mesmo modo, sabemos que
HØ[ ß ^ÙB! Ð?Ñ œ ØH[B! Ð?Ñß ^B! Ù  Ø[B! ß H^B! Ð?ÑÙ

e a fórmula na alínea c) vai ser uma consequência de que, uma vez que, por
definição de projecção ortogonal, H[B! Ð?Ñ  f[B! Ð?Ñ é ortogonal a IB! ,
podemos escrever
ØH[B! Ð?Ñ  f[B! Ð?Ñß ^B! Ù œ !,

ou seja,

68Também podemos olhar para 0 como uma secção suave do fibrado vectorial constante
ŠE e, desse ponto de vista, a derivada covariante f0B! Ð?Ñ concide com a derivada usual
H0B! Ð?Ñ, pelo que a fórmula anterior pode ser reescrita, com um aspecto mais
homogéneo, fÐ0 [ ÑB! Ð?Ñ œ f0B! Ð?Ñ[B!  0B! f[B! Ð?Ñ.
212 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Øf[B! Ð?Ñß ^B! Ù œ ØH[B! Ð?Ñß ^B! Ù,

e, analogamente,
Ø[B! ß f^B! Ð?ÑÙ œ Ø[B! ß H^B! Ð?ÑÙ. …

III.3.5 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um


s§K
fibrado vectorial, com IB § I . Sejam E s e 0À Es Ä E uma aplicação
suave. Para cada secção suave [ œ Ð[B ÑB−E de I , tem-se, para a corres-
pondente secção 0 ‡ [ de 0 ‡ I ,
fÐ0 ‡ [ ÑC! Ð@Ñ œ f[0 ÐC! Ñ ÐH0C! Ð@ÑÑ,

quaisquer que sejam C! − E s .69


s e @ − XC! ÐEÑ
Dem: Pelo teorema da derivação da função composta, podemos escrever
HÐ0 ‡ [ ÑC! Ð@Ñ œ H[0 ÐC! Ñ ÐH0C! Ð@ÑÑ e, aplicando a ambos os membros desta
igualdade a projecção ortogonal 10 ÐC! Ñ de I sobre I0 ÐC! Ñ (que é a fibra de
0 ‡ I no ponto C! ), obtemos a igualdade do enunciado. …
III.3.6 Seja Q § K uma variedade. Chama-se campo vectorial sobre Q a uma
secção \ œ Ð\B ÑB−Q do fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ. Se I é um
espaço euclidiano ou hermitiano, se I œ ÐIB ÑB−Q é um fibrado vectorial,
com IB § I , se [ œ Ð[B ÑB−Q é uma secção suave de I e se
\ œ Ð\B ÑB−Q é um campo vectorial sobre Q , obtemos uma nova secção
f[ Ð\Ñ de I , definida por
f[ Ð\ÑB œ f[B Ð\B Ñ.
É usual notar também a secção f[ Ð\Ñ por f\ Ð[ Ñ.
III.3.7 Nas condições anteriores, se [ é uma secção suave de I e se \ é um
campo vectorial suave sobre Q , então a secção f\ [ œ f[ Ð\Ñ de I é
também suave.
Dem: Uma vez que [ é uma aplicação suave de Q em I , podemos
considerar um aberto Y de K , com Q § Y , e um prolongamento suave
[s À Y Ä I de [ . Temos então uma aplicação suave H[ s À Y Ä PÐKà IÑ, o
que nos garante que é suave a aplicação de Q em I , que a B associa
H[B Ð\B Ñ œ H[ s B Ð\B Ñ. Como se viu na alínea b) de III.1.18, é suave a
aplicação de Q em PÐIà IÑ, que a B associa a projecção ortogonal 1B de I
sobre IB . Uma vez que f[B Ð\B Ñ œ 1B ÐH[B Ð\B ÑÑ, concluímos finalmente
ser suave a aplicação de Q em I , que a B associa Ðf\ [ ÑB œ f[B Ð\B Ñ. …

69Lembrando que 0 ‡ [ é a composição de [ , que é uma aplicação de E em I , com


s Ä E, salta à vista a semelhança entre a fórmula precedente e a do teorema da
0À E
derivação da função composta.
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 213

Se [ œ Ð[B ÑB−E é uma secção suave dum fibrado vectorial


I œ ÐIB ÑB−E , então a derivada covariante f[B! Ð?Ñ, tal como a derivada
usual H[B! Ð?Ñ, depende não só do valor da secção [ no ponto B! como
dos valores desta nos outros pontos de E. Veremos no entanto que a sua
diferença H[B! Ð?Ñ  f[B! Ð?Ñ só depende de [ através do valor [B! ,
sendo algo que está relacionado com a forma do fibrado vectorial I , mais
precisamente com o modo como as fibras variam de ponto para ponto.
Uma maneira de estudar essa variação é estudar a derivada da aplicação
1, que a cada B − E, associa a projecção ortogonal 1B , de I sobre IB .

III.3.8 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um


fibrado vectorial, com IB § I , e consideremos a aplicação suave
1 œ Ð1B ÑB−E , de E em PÐIà IÑ, que a cada B − E associa a projecção
ortogonal 1B , de I sobre IB . Para cada B! − E e ? − XB! ÐEÑ, tem-se então
que a aplicação linear H1B! Ð?Ñ − PÐIà IÑ é autoadjunta e aplica IB! em IB¼!
e IB¼! em IB! .
Dem: Tendo em conta I.2.26, a aplicação 1, de E em PÐIà IÑ, toma valores
no subespaço vectorial P++ ÐIà IÑ, constituído pelas aplicações lineares auto-
adjuntas. Concluímos daqui que a aplicação linear derivada H1B! aplica
XB! ÐEÑ em P++ ÐIà IÑ, o que mostra que H1B! Ð?Ñ é autoadjunta. Por outro
lado, dado A − I , tem-se, para cada B − E,
1B Ð1B ÐAÑÑ œ 1B ÐAÑ.
Derivemos ambos os membros desta identidade, como funções de B, no
ponto B! , na direcção de ?: Obtemos
H1B! Ð?ÑÐ1B! ÐAÑÑ  1B! ÐH1B! Ð?ÑÐAÑÑ œ H 1B! Ð?ÑÐAÑ.

No caso em que A − IB! , vem 1B! ÐAÑ œ A e a igualdade anterior dá-nos


H1B! Ð?ÑÐAÑ  1B! ÐH1B! Ð?ÑÐAÑÑ œ H1B! Ð?ÑÐAÑ,

ou seja, 1B! ÐH1B! Ð?ÑÐAÑÑ œ !, o que mostra que H1B! Ð?ÑÐAÑ pertence a
IB¼! . Do mesmo modo, no caso em que A − IB¼! , tem-se 1B! ÐAÑ œ !, pelo
que a igualdade em questão dá-nos
1B! ÐH1B! Ð?ÑÐAÑÑ œ H1B! Ð?ÑÐAÑ,

portanto H1B! Ð?ÑÐAÑ − IB! . …


III.3.9 (Nota) Em rigor, a demonstração anterior era dispensável: Se a aplicação
suave B È 1B toma valores na variedade de Grassmann KÐIÑ, referida em
II.5.13, a sua derivada em B! na direcção de ? terá que ser tangente a KÐIÑ
em 1B! pelo que bastaria lembrar a caracterização dos espaços tangentes à
variedade de Grassmann então apresentada. A caracterização matricial desses
espaços tangentes nesse resultado também serviria como demonstração
alternativa para o corolário seguinte.
214 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.3.10 (Corolário) Nas condições anteriores, a restrição da aplicação linear


H1B! Ð?Ñ a IB! , considerada como aplicação linear de IB! em IB¼! , tem como
aplicação linear adjunta a restrição de H1B! Ð?Ñ a IB¼! , considerada como
aplicação linear de IB¼! em IB! . Em particular, o conhecimento da aplicação
linear H1B! Ð?ÑÀ I Ä I fica determinado pelo conhecimento da respectiva
restrição a IB! .
Dem: O facto de H1B! Ð?ÑÀ I Ä I ser autoadjunta diz-nos que, quaisquer
que sejam Aß Aw − I , tem-se
ØH1B! Ð?ÑÐAÑß Aw Ù œ ØAß H1B! Ð?ÑÐAw ÑÙ.

Em particular, esta igualdade verifica-se quaisquer que sejam A − IB! e


Aw − IB¼! pelo que, uma vez que se tem então H1B! Ð?ÑÐAÑ − IB¼! e
H1B! Ð?ÑÐAw Ñ − IB! , fica provada a primeira asserção do enunciado. A
segunda asserção é agora uma consequência de que, se conhecermos a
restrição de H1B! Ð?Ñ a IB! , ficamos a conhecer a sua restrição a IB¼! , como
adjunta da primeira, e portanto ficamos a conhecer H1B! Ð?Ñ, uma vez que I
é soma directa de IB! e IB¼! . …
III.3.11 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E
um fibrado vectorial, com IB § I . Para cada B! − E, define-se então a
segunda forma fundamental de I no ponto B! como sendo a aplicação
bilinear
2B! À XB! ÐEÑ ‚ IB! Ä IB¼!

definida por
2B! Ð?ß AÑ œ H1B! Ð?ÑÐAÑ.

Repare-se que, no caso em que Š œ ‚, esta aplicação é uma aplicação


bilinear real com a propriedade suplementar de ser linear complexa na
segunda variável.
III.3.12 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E
um fibrado vectorial, com IB § I . Tem-se então:
a) Se I é um fibrado vectorial constante, isto é, se existe J § I tal que
IB œ J , para cada B − E, então, para cada B − E, a segunda forma
fundamental 2B é nula.
b) Reciprocamente, no caso em que a base E é uma variedade conexa, se,
para cada B − E, 2B œ !, então I é um fibrado vectorial constante.70
Dem: No caso em que I é um fibrado vectorial constante, a aplicação
1 œ Ð1B ÑB−E , de E em PÐIà IÑ é constante pelo que, para cada B − E e
? − XB ÐEÑ, H1B Ð?Ñ œ !, em particular, para cada A − IB , 2B Ð?ß AÑ œ
H1B Ð?ÑÐAÑ œ !. Suponhamos, reciprocamente, que E é uma variedade

70Esteresultado justifica assim a interpretação intuitiva da segunda forma fundamental


como algo que descreve o modo como as fibras variam de ponto para ponto.
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 215

conexa e que, para cada B − E, 2B œ !. Concluímos assim que, para cada


B − E e ? − XB ÐEÑ, a aplicação linear H1B Ð?ÑÀ I Ä I tem restrição nula a
IB , de onde se deduz, tendo em conta III.3.10, que ela tem também restrição
nula a IB¼ , o que implica que H1B Ð?Ñ œ !. Vemos agora que a aplicação
suave 1À E Ä PÐIà IÑ, tendo derivada nula em todos os pontos, tem que ser
constante, o que implica que I é um fibrado vectorial constante. …
III.3.13 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E
um fibrado vectorial, com IB § I . Sejam E s§K s Ä E uma
s e 0À E
s
aplicação suave. Para cada C − E, as segundas formas fundamentais
s ‚ I0 ÐCÑ Ä I ¼ ,
s C À XC ÐEÑ
2 0 ÐCÑ
20 ÐCÑ À X0 ÐCÑ ÐEÑ ‚ I0 ÐCÑ Ä I0¼ÐCÑ ,

de 0 ‡ I , no ponto C, e de I , no ponto 0 ÐCÑ, verificam


s C Ð@ß AÑ œ 20 ÐCÑ ÐH0C Ð@Ñß AÑ.
2

Dem: Uma vez que a projecção ortogonal 1 sC , de I sobre Ð0 ‡ IÑC œ I0 ÐCÑ , é


igual a 10 ÐCÑ , o resultado é uma consequência da definição e do teorema de
derivação da função composta. …
III.3.14 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E
um fibrado vectorial, com IB § I . Sejam [ œ Ð[B ÑB−E uma secção suave
de I , B! − E e ? − XB! ÐEÑ. Tem-se então
f[B! Ð?Ñ œ H[B! Ð?Ñ  2B! Ð?ß [B! Ñ,

onde 2B! À XB! ÐEÑ ‚ IB! Ä IB¼! é a segunda forma fundamental de I no


ponto B! .71
Dem: O facto de [ ser uma secção de I implica que, para cada B − E,
[B œ 1B Ð[B Ñ. Derivando ambos os membros desta identidade no ponto B! e
na direcção de ?, obtemos
H[B! Ð?Ñ œ H1B! Ð?ÑÐ[B! Ñ  1B! ÐH[B! Ð?ÑÑ œ 2B! Ð?ß [B! Ñ  f[B! Ð?Ñ. …

III.3.15 (Corolário) Nas condições anteriores, se B! − E é tal que [B! œ !,


vem, para cada ? − XB! ÐEÑ, f[B! Ð?Ñ œ H[B! Ð?Ñ, em particular a derivada
covariante f[B! Ð?Ñ não depende do produto interno que se considera em I
e a derivada usual H[B! Ð?Ñ pertence à fibra IB! .

Vamos agora estudar uma caracterização alternativa da segunda forma


fundamental dum fibrado vectorial, apresentada no quadro da geometria
do espaço total do fibrado vectorial.

71Fica assim justificada a afirmação, feita anteriormente, de que a diferença


H[B! Ð?Ñ  f[B! Ð?Ñ só depende da secção [ através do seu valor no ponto B! .
216 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.3.16 (Revisão sobre subespaços afins) a) Lembremos que, se I é um


espaço vectorial, real ou complexo, chama-se subespaço afim de I a um
subconjunto J § I , tal que existe um subespaço vectorial J! § I e um
vector B − I , tais que J œ B  J! .
b) Um subespaço vectorial J! nas condições da definição é único, visto que
se verifica imediatamente que ele tem que ser igual ao conjunto J  J das
diferenças C  D , com Cß D − J ; diz-se que ele é o subespaço vectorial
associado ao subespaço afim J e à sua dimensão dá-se também o nome de
dimensão do subespaço afim.
c) Já um elemento B nas condições da definição não será em geral único: Se
J é um subespaço afim de subespaço vectorial associado J! , verifica-se ime-
diatamente que a igualdade J œ B  J! é equivalente a B − J .
d) É claro que todo o subespaço vectorial J § I é também um subespaço
afim de I , tendo o próprio J como subespaço vectorial associado. O que
dissemos atrás mostra aliás que um subespaço afim J é subespaço vectorial
se, e só se, ! − J .
III.3.17 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e J § I um subespaço
afim, com subespaço vectorial associado J! . Para cada B − J tem-se então
tB ÐJ Ñ œ t
B ÐJ Ñ œ XB ÐJ Ñ œ J! .
Dem: Sabemos que J œ B  J! pelo que tem lugar um difeomorfismo
:À J! Ä J , definido por :ÐCÑ œ B  C (com inverso D È D  B), que aplica
! em B e verifica H:! Ð?Ñ œ ?, para cada ? − X! ÐJ! Ñ. Basta agora
repararmos que H:! é um isomorfismo de X! ÐJ! Ñ œ J! sobre XB ÐJ Ñ, que
aplica t! ÐJ! Ñ œ J! sobre tB ÐJ Ñ e t
! ÐJ! Ñ œ J! sobre tB ÐJ Ñ.

…
III.3.18 Se I é um espaço euclidiano ou hermitiano e se J § I é um subespaço
afim de subespaço vectorial associado J! , então existe em J um, e um só,
vector ortogonal a J! .
Dem: Comecemos por provar a unicidade. Se B e C fossem dois vectores de
J , que estivessem em J!¼ , B  C seria um vector ao mesmo tempo em J! e
em J!¼ , pelo que B  C œ ! e B œ C . Quanto à existência, comecemos por
tomar B − J arbitrário. Uma vez que tem lugar a soma directa
I œ J! Š J!¼ , existem C − J! e D − J!¼ , tais que B œ C  D . Tem-se então
que D œ B  C é um elemento de J , que está em J!¼ . …
III.3.19 Sejam E § K, I um espaço vectorial de dimensão finita e
I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I , e consideremos o
respectivo espaço total
I œ ÖÐBß AÑ − K ‚ I ± B − E, A − IB ×.
Tem-se então:
a) I é fechado em E ‚ I ;
b) Para cada ÐB! ß A! Ñ − I , XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ é um subespaço vectorial de
XB! ÐEÑ ‚ I e, para cada ? − XB! ÐEÑ, o conjunto dos vectores D − I tais que
Ð?ß DÑ − XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ é um subespaço afim, cujo subespaço vectorial associado
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 217

é IB! ;
c) No caso em que I é um espaço euclidiano ou hermitiano, para cada
B! − E, A! − IB! e ? − XB! ÐEÑ, o valor da segunda forma fundamental
2B! Ð?ß A! Ñ é o único vector de IB¼! tal que
Ð?ß 2B! Ð?ß A! ÑÑ − XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ.

Dem: Fixemos em I um produto interno e notemos, para cada B − E,


1B À I Ä IB a projecção ortogonal. Sabemos que tem lugar uma aplicação
suave, em particular contínua, 1 œ Ð1B ÑB−E , de E em PÐIà IÑ. Uma vez que
se tem
I œ ÖÐBß AÑ − E ‚ I ± 1B ÐAÑ œ A× œ
œ ÖÐBß AÑ − E ‚ I ± 1B ÐAÑ  A œ !×,
concluímos que I é fechado em E ‚ I . O facto de se ter I § E ‚ I
implica evidentemente que
XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ § XÐB! ßA! Ñ ÐE ‚ IÑ œ XB! ÐEÑ ‚ I .

Uma vez que, para cada ÐBß AÑ − I , 1B ÐAÑ œ A, concluímos, por derivação
de ambos os membros desta igualdade no ponto ÐB! ß A! Ñ − I , na direcção de
um vector arbitrário Ð?ß DÑ − XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ,
H1B! Ð?ÑÐA! Ñ  1B! ÐDÑ œ D ,

portanto
D  2B! Ð?ß A! Ñ œ 1B! ÐDÑ − IB! ,

ou seja, D − 2B! Ð?ß A! Ñ  IB! . Por outro lado, podemos considerar uma
aplicação suave de E ‚ I em I , que a ÐBß AÑ associa ÐBß 1B ÐAÑÑ pelo que,
derivando esta aplicação em ÐB! ß A! Ñ − I na direcção de um vector
Ð?ß D w Ñ − XB! ÐEÑ ‚ I arbitrário, concluímos que
Ð?ß H1B! Ð?ÑÐA! Ñ  1B! ÐD w ÑÑ − XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ.

Em particular, se ? − XB! ÐEÑ e D w − IB! , sai


Ð?ß 2B! Ð?ß A! Ñ  D w Ñ œ Ð?ß H 1B! Ð?ÑÐA! Ñ  1B! ÐD w ÑÑ − XÐB! ßA! ÑÐIÑ.

Ficou assim provado que, para cada ? − XB! ÐEÑ e A! − IB! , o conjunto dos
D − I tais que Ð?ß DÑ − XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ é igual a 2B! Ð?ß A! Ñ  IB! , sendo
portanto um subespaço afim de I , cujo subespaço vectorial associado é IB! ,
subespaço afim esse que contém 2B! Ð?ß A! Ñ. Já sabemos que
2B! Ð?ß A! Ñ − IB¼! e o facto de este ser o único elemento do referido espaço
afim que pertence a IB¼! é uma consequência de III.3.18. …
III.3.20 (Corolário) Sejam E § K, I um espaço vectorial de dimensão finita e
I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I , e consideremos o respec-
218 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

tivo espaço total


I œ ÖÐBß AÑ − K ‚ I ± B − E, A − IB ×.
Tem-se então:
a) Para cada B − E, XÐBß!Ñ ÐIÑ œ XB ÐEÑ ‚ IB ;
b) Para cada B! − E, a condição de se ter 2B! œ ! não depende do produto
interno que se escolha em I e é equivalente à condição de se ter, para cada
A − IB! , XÐB! ßAÑ ÐIÑ œ XB! ÐEÑ ‚ IB! (podemos então dizer que B! é um
ponto de estacionaridade do fibrado vectorial I ). Quando ela se verificar,
tem-se, para cada secção suave [ œ Ð[B ÑB−E de I , f[B! œ H[B! , em
particular, a derivada covariante em B! não depende do produto interno que
se considera em I e a derivada usual nesse ponto toma valores na fibra IB! .
c) Em geral, fixado um produto interno em I , para A − IB! , o espaço
vectorial tangente XÐB! ßAÑ ÐIÑ pode decompor-se numa soma directa
XÐB! ßAÑ ÐIÑ œ [B! ßA Š ÐÖ!× ‚ IB Ñ,

onde [B! ßA (a que se costuma dar o nome de subespaço horizontal associado


ao produto interno) é a imagem da aplicação linear injectiva de XB! ÐQ Ñ em
XÐB! ßAÑ ÐIÑ que a ? associa Ð?ß 2B! Ð?ß AÑÑ.
Dem: Pelo resultado precedente, fixado um produto interno em I , XÐB! ßAÑ ÐIÑ
é o conjunto dos pares Ð?ß DÑ, tais que ? − XB! ÐEÑ e D − 2B! Ð?ß AÑ  IB!
(subespaço afim de espaço vectorial associado IB! , contendo o elemento
2B! Ð?ß AÑ), em particular os elementos de XÐB! ßAÑ ÐIÑ são exactamente os que
se podem escrever como soma de um elemento da forma Ð?ß 2B! Ð?ß AÑÑ com
um elemento de Ö!× ‚ IB! . Tem-se assim XÐB! ßAÑ ÐIÑ œ [B! ßA  ÐÖ!× ‚ IB Ñ
e esta soma é directa, uma vez que os dois subespaços têm evientemente
Ð!ß !Ñ como único elemento comum. Se A œ !, vem 2B! Ð?ß !Ñ œ !, pelo que
XÐB! ß!Ñ ÐIÑ œ XB! ÐEÑ ‚ IB! . No caso em que 2B! œ !, tem-se, pela mesma
razão, para cada A − IB! , XÐB! ßAÑ ÐIÑ œ XB! ÐEÑ ‚ IB! . Reciprocamente, se
esta igualdade é verificada, para cada A − IB! , concluímos, de se ter
Ð?ß 2B! Ð?ß AÑÑ − XÐB! ßAÑ ÐIÑ, que 2B! Ð?ß AÑ pertence ao mesmo tempo a IB! e
a IB¼! , pelo que 2B! Ð?ß AÑ œ !, ou seja, 2B! œ !. A condição 2B! œ !, sendo
equivalente à de se ter XÐB! ßAÑ ÐIÑ œ XB! ÐEÑ ‚ IB! , para cada A − IB! , não
vai depender do produto interno que se considera em I . O facto de, para um
ponto B! de estacionaridade, se ter f[B! œ H[B! resulta da fórmula
f[B! Ð?Ñ œ H[B! Ð?Ñ  2B! Ð?ß [B! Ñ. …
III.3.21 (Corolário) Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano,
I w § I um subespaço vectorial e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com
IB § I w . Para cada B − E, a segunda forma fundamental 2B não depende de
se considerar I ou I w como espaço ambiente das fibras sendo, em particular,
uma aplicação bilinear de XB ÐEÑ ‚ IB em I w .
Dem: Notando 2B a segunda forma fundamental quando se considera I w
como espaço ambiente das fibras, para cada A − IB e ? − XB ÐEÑ, 2B Ð?ß AÑ
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 219

vai ser um vector de I w , em particular de I , ortogonal a IB e tal que


Ð?ß 2B Ð?ß AÑÑ − XÐBßAÑ ÐIÑ pelo que, tendo em conta III.3.18, 2B Ð?ß AÑ
coincide com o valor da segunda forma fundamental, quando se considera I
como espaço ambiente das fibras (temos dois vectores ortogonais a IB ,
pertencentes a um mesmo subespaço afim de I de subespaço vectorial
associado IB ). …

O corolário seguinte é utilizado com muita frequência para deterninar o


valor das segundas formas fundamentais.

III.3.22 (Corolário) Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e


I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I . Dados B − E, A − IB e
Ð?ß DÑ − XÐBßAÑ ÐIÑ, tem-se então que o valor da segunda forma fundamental
2B Ð?ß AÑ é a projecção ortogonal de D sobre IB¼ .
Dem: Uma vez que Ð?ß 2B Ð?ß AÑÑ − XÐBßAÑ ÐIÑ, concluímos que se tem
D  2B Ð?ß AÑ − IB , bastando agora lembrar que 2B Ð?ß AÑ − IB¼ . …
III.3.23 (Propriedade de simetria do fibrado vectorial tangente) Sejam K um
espaço vectorial de dimensão finita e Q § K uma variedade e consideremos
o fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ, assim como o respectivo espaço total,
notado também X ÐQ Ñ, que é uma parte de Q ‚ K § K ‚ K . Tem-se então:
a) Dados B! − Q , ?ß @ − XB! ÐQ Ñ e D − K, tem-se Ð?ß DÑ − XÐB! ß@Ñ ÐX ÐQ ÑÑ se,
e só se, Ð@ß DÑ − XÐB! ß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ;
b) Fixado um produto interno em K, para cada B! − Q a segunda forma
fundamental 2B! À XB! ÐQ Ñ ‚ XB! ÐQ Ñ Ä XB! ÐQ Ѽ é uma aplicação bilinear
simétrica.
Dem: Dados B! − Q e ?ß @ − XB! ÐQ Ñ, sabemos que tanto o conjunto dos
D − K, tais que Ð?ß DÑ − XÐB! ß@Ñ ÐX ÐQ ÑÑ, como o conjunto dos D − K , tais que
Ð@ß DÑ − XÐB! ß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ, são subespaços afins de K , tendo XB! ÐQ Ñ como
subespaço vectorial associado. Para demonstrar a asserção de a), basta assim
mostrar que estes dois subespaços afins têm um elemento comum. Conside-
remos então um sector E dum espaço vectorial J , de dimensão finita, um
aberto Y de E, com ! − Y , um aberto Z de Q , com B! − Z , e um
difeomorfismo 0 À Y Ä Z , tal que 0 Ð!Ñ œ B! . Sejam Y s um aberto de J ,
s
contendo Y , e 0 À Y s Ä K um prolongamento suave de 0 . Uma vez que H0! é
um isomorfismo de J œ X! ÐEÑ sobre XB! ÐQ Ñ, podemos considerar
?w ß @w − J , tais que H0! Ð?w Ñ œ ? e H0! Ð@w Ñ œ @. Considerando a aplicação
suave de Y em X ÐQ Ñ, definida por
s C Ð@w ÑÑ,
C È Ð0 ÐCÑß H0C Ð@w ÑÑ œ Ð0 ÐCÑß H0

obtemos, por derivação no ponto !, na direcção de ?w ,

Ð?ß H#s0 ! Ð?w ß @w ÑÑ œ ÐH0! Ð?w Ñß H#s0 ! Ð?w ß @w ÑÑ − XÐB! ß@ÑÐX ÐQ ÑÑ.
220 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Por simetria dos papéis de ? e @, também Ð@ß H#s0 ! Ð@w ß ?w ÑÑ pertence a


XÐB! ß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ, o que, tendo em conta a simetria da derivada de segunda
ordem H#s0 ! , implica que o vector H#s0 ! Ð?w ß @w Ñ œ H#s0 ! Ð@w ß ?w Ñ pertence à
intersecção dos referidos subespaços afins. A demonstração de a) está assim
terminada. Quanto a b), sabemos que 2B! Ð?ß @Ñ e 2B! Ð@ß ?Ñ são elementos do
referido espaço afim, ambos pertencentes ao complementar ortogonal do
subespaço vectorial associado XB! ÐQ Ñ pelo que, tendo em conta III.3.18,
concluímos que eles são iguais. …
III.3.24 Sejam K um espaço vectorial de dimensão finita, Q § K uma
variedade e \ß ] dois campos vectoriais suaves sobre Q , isto é, duas
secções suaves do fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ. Em particular \ e ] são
aplicações suaves de Q em K , pelo que faz sentido considerar as aplicações
de Q em K, que a B − Q associam respectivamente H]B Ð\B Ñ e H\B Ð]B Ñ,
aplicações essas que não serão, em geral, campos vectoriais sobre Q
(comparar com o que se disse em III.3.1). Tem no entanto lugar um campo
vectorial suave sobre Q , Ò\ß ] Ó, chamado parêntesis de Lie dos campos
vectoriais \ e ] , definido por
Ò\ß ] ÓB œ H]B Ð\B Ñ  H\B Ð]B Ñ.
Além disso, se considerarmos um produto interno em K, tem-se a seguinte
caracterização alternativa do parêntesis de Lie:
Ò\ß ] ÓB œ f]B Ð\B Ñ  f\B Ð]B Ñ.

Dem: Fixemos um produto interno em K. Sabemos que se tem então


f]B Ð\B Ñ œ H]B Ð\B Ñ  2B Ð\B ß ]B Ñ,
f\B Ð]B Ñ œ H\B Ð]B Ñ  2B Ð]B ß \B Ñ,

pelo que, subtraindo membro a membro as igualdades precedentes e tendo


em conta a simetria da aplicação bilinear 2B , obtemos
Ò\ß ] ÓB œ H]B Ð\B Ñ  H\B Ð]B Ñ œ f]B Ð\B Ñ  f\B Ð]B Ñ.
Ficou assim provado que Ò\ß ] Ó, sendo a diferença de dois campos vectoriais
suaves, é também um campo vectorial suave. …
III.3.25 Sejam Q § K uma variedade, J um espaço vectorial de dimensão finita
e 0 À Q Ä J uma aplicação suave. Para cada campo vectorial \ œ Ð\B ÑB−Q
sobre Q , tem lugar uma nova aplicação H0 Ð\Ñ, de Q em J , definida por
H0 Ð\ÑB œ H0B Ð\B Ñ,
aplicação essa que notaremos também H\ 0 . Reparar que estas observações
se podem enquadrar no que foi dito em III.3.6, na medida em que uma
aplicação 0 À Q Ä J não é mais do que uma secção do fibrado vectorial
constante JQ , a derivada usual não sendo mais que a derivada covariante,
relativa ao fibrado vectorial constante. É claro que, como caso particular do
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 221

que se viu em III.3.7, no caso em que não só a aplicação 0 À Q Ä J é suave


como o mesmo acontece ao campo vectorial \ , podemos garantir que a
aplicação H\ 0 À Q Ä J é também suave.
Uma notação alternativa usada frequentemente em vez de H\ 0 é \ † 0 .
Preferimos a primeira por tornar mais claro o parentesco com a derivação
covariante de secções.
III.3.26 Sejam Q § K uma variedade, J um espaço vectorial de dimensão finita
e 0 À Q Ä J uma aplicação suave. Dados os campos vectoriais suaves
\ œ Ð\B ÑB−Q e ] œ Ð]B ÑB−Q sobre Q , com o respectivo parêntesis de Lie
Ò\ß ] Ó, tem-se então
HÒ\ß] Ó 0 œ H\ H] 0  H] H\ 0 .72

Dem: Sejam Y s um aberto de K , contendo Q , e s0 À Y


s Ä J um prolonga-
mento suave de 0 . Tem-se, para cada B − Q ,
s B Ð]B Ñ,
ÐH] 0 ÑB œ H0B Ð]B Ñ œ H0
pelo que

ÐH\ H] 0 ÑB œ H#s0 B Ð\B ß ]B Ñ  H0


s B ÐH]B Ð\B ÑÑ.

Analogamente se tem

ÐH] H\ 0 ÑB œ H#s0 B Ð]B ß \B Ñ  H0


s B ÐH\B Ð]B ÑÑ,

pelo que, subtraindo membro a membros as duas igualdades e tendo em


conta a simetria da aplicação bilinear H#s0 B À K ‚ K Ä J e o facto de se ter
H]B Ð\B Ñ  H\B Ð]B Ñ œ Ò\ß ] ÓB − XB ÐQ Ñ, obtemos
s B ÐH]B Ð\B Ñ  H\B Ð]B ÑÑ œ
ÐH\ H] 0 ÑB  ÐH] H\ 0 ÑB œ H0
œ H0B ÐÒ\ß ] ÓB Ñ œ ÐHÒ\ß] Ó 0 ÑB . …

III.3.27 Chama-se álgebra de Lie a um espaço vectorial I , em que está definida


uma aplicação bilinear de I ‚ I em I , notada Ð?ß @Ñ È Ò?ß @Ó, verificando
as propriedades seguintes:
a) Ò?ß @Ó œ Ò@ß ?Ó; em particular, Ò?ß ?Ó œ !;
b) ÒÒ?ß @Óß AÓ  ÒÒ@ß AÓß ?Ó  ÒÒAß ?Óß @Ó œ !.
À igualdade em b) costuma-se dar o nome de identidade de Jacobi.
III.3.28 Seja Q § K uma variedade e seja k ÐQ Ñ o espaço vectorial dos campos
vectoriais suaves sobre Q . Tem-se então que k ÐQ Ñ, com o parêntesis de
Lie definido em III.3.24, é uma álgebra de Lie.

72Repare-seque a fórmula com que definimos o parêntesis de Lie Ò\ß ] Ó pode ser obtida
como o caso particular da fórmula precedente, em que se toma para 0 a inclusão de Q
em K.
222 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Dem: É trivial que, dados os campo= vectorais suaves \ß ] sobre Q , tem-se


Ò] ß \Ó œ Ò\ß ] Ó. Sejam agora \ß ] ß ^ três campos vectoriais sobre Q .
Podemos então escrever
ÒÒ\ß ] Óß ^Ó œ HÒ\ß] Ó ^  H^ Ò\ß ] Ó œ
œ H\ H] ^  H] H\ ^  H^ ÐH\ ]  H] \Ñ œ
œ H\ H ] ^  H ] H \ ^  H ^ H \ ]  H ^ H ] \ ,

e, por permutação circular dos papéis de \ , ] e ^ ,


ÒÒ] ß ^Óß \Ó œ H] H^ \  H^ H] \  H\ H] ^  H\ H^ ] ,
ÒÒ^ß \Óß ] Ó œ H^ H\ ]  H\ H^ ]  H] H^ \  H] H\ ^ .

Somando as três igualdades anteriores, obtemos finalmente


ÒÒ\ß ] Óß ^Ó  ÒÒ] ß ^Óß \Ó  ÒÒ^ß \Óß ] Ó œ !. …

Vamos terminar esta secção com uma aplicação da geometria do espaço


total dos fibrados vectoriais ao estudo do comportamento do espaço
ambiente “próximo” duma subvariedade sem bordo.

III.3.29 (Vizinhanças tubulares) Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma


variedade sem bordo e consideremos o fibrado vectorial normal
X ÐQ Ѽ œ ÐXB ÐQ Ѽ ÑB−Q . Existe então uma aplicação suave :À Q Ä Ó!ß "Ò
tal que:
a) Notando H o aberto do espaço total de X ÐQ Ѽ , contendo Q ‚ Ö!×,
H œ ÖÐBß AÑ − X ÐQ Ѽ ± mAm  :ÐBÑ×,

tem lugar um difeomorfismo 0 de H sobre um aberto Y de I , contendo Q ,


definido por 0 ÐBß AÑ œ B  A, difeomorfismo que verifica 0 ÐBß !Ñ œ B;
b) Para cada ÐBß AÑ − H, B é o único ponto de Q a distância mínima do
ponto B  A − Y .
Nas condições anteriores, diz-se que Y é a vizinhança tubular de Q definida
pela função suave :.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
") Vamos começar por mostrar que, para cada + − Q , existe !  <+  "
verificando as seguintes propriedades:
!) Sendo H+ o aberto do espaço total X ÐQ Ѽ , contendo Ð+ß !Ñ,
H+ œ ÖÐBß AÑ − X ÐQ Ѽ ± mB  +m  <+ • mAm  <+ ×,
tem lugar um difeomorfismo 0Ð+Ñ de H+ sobre um aberto Y+ de I , com
+ − Y+ , definido por 0Ð+Ñ ÐBß AÑ œ B  A;
") Para cada ÐBß AÑ − H+ , B é o único ponto de Q a distância mínima
do ponto B  A − Y+ .
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 223

Subdem: Consideremos a aplicação suave 0 À X ÐQ Ѽ Ä I definida por


0 ÐBß AÑ œ B  A. Sabemos que X ÐQ Ѽ é uma variedade sem bordo e que
XÐ+ß!Ñ ÐX ÐQ Ѽ Ñ œ X+ ÐQ Ñ ‚ X+ ÐQ Ѽ (cf. III.1.27 e III.3.20) pelo que a apli-
cação linear derivada
H0 Ð+ß!Ñ À X+ ÐQ Ñ ‚ X+ ÐQ Ѽ Ä I ,

que está definida por Ð?ß @Ñ È ?  @, é um isomorfismo. Podemos assim


aplicar o teorema da função inversa para garantir a existência de um aberto
s+ de X ÐQ Ѽ , contendo Ð+ß !Ñ tal que a restrição de 0 seja um
H
difeomorfismo de H s+ sobre um aberto Y s + de I . Seja G+ uma vizinhança
compacta de + em Q e fixemos !  V+  % tal que, sempre que
ÐBß AÑ − X ÐQ Ѽ verifica mB  +m  V+ e mAm  V+ se tenha B − G+ e
ÐBß AÑ − Hs+ . Vamos verificar que <+ œ " V+ verifica as condições pedidas.
%
A propriedade !) resulta de que H+ é um aberto de X ÐQ Ѽ contido em H s+ e
contendo Ð+ß !Ñ e portanto a restrição 0Ð+Ñ de 0 é um difeomorfismo de H+
sobre um aberto Y+ de I , que contém + œ 0 Ð+ß !Ñ.
Provemos então a propriedade " ), fixando ÐBß AÑ − H+ e notando C œ B  A.
Comecemos por mostrar a existência de um ponto B s − Q a distância mínima
de C . Consideremos o conjunto G s + œ ÖBw − Q ± mBw  +m Ÿ $<+ × que
contém B, é fechado em Q e contido em G+ , logo fechado em G+ e portanto
é compacto. A função contínua Q Ä ‘, Bw È mC  Bw m restrita ao compacto
s + atinge o seu mínimo num certo B
G s−G s + , tendo-se, é claro,

s Ÿ mC  Bm œ mAm  <+ .
mC  Bm
O que se passa é que Bs não é só um minimizante para a restrição da função a
s + , é mesmo um minimizante da função em todo o Q , podendo mesmo
G
dizer-se que, se Bw − Q verificasse mC  Bw m Ÿ mC  Bm
s vinha mC  Bw m  <+
portanto
mBw  +m Ÿ mBw  Cm  mC  Bm  mB  +m  $<+ ,

donde Bw − G s + o que mostra não só que B


s é um minimizante da distância a C
em todo o Q como que qualquer um desses minimizantes tem que estar em
s + . Para terminarmos a prova de a) vamos considerar que B
G s é um
minimizante qualquer em Q da distância a C , lembrar que tem que ser
B
s−G s + e mostrar que é necessariamente B
s œ B. Ora, uma vez que a função
suave :À Q Ä ‘ definida por :ÐBw Ñ œ mC  Bw m# também atinge um mínimo
em B s, a sua derivada nesse ponto tem que ser !, portanto, para cada
? − XBs ÐQ Ñ
s ?Ù,
! œ H:Bs Ð?Ñ œ # ØC  Bß
o que implica que C  B
s − XBs ÐQ Ѽ . Uma vez que
224 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

s Ÿ mC  Bm œ mAm  <+ ,
mC  Bm

vemos agora que ÐBß AÑ e ÐBß s são dois elementos de X ÐQ Ѽ em H


s C  BÑ s+
com 0 ÐBß AÑ œ C œ 0 ÐBß s pelo que, por a restrição de 0 ser injectiva
s C  BÑ
sai, em particular, B œ B
s, como queríamos.
2) Notemos H s o aberto de X ÐQ Ѽ , contendo Q ‚ Ö!×, união dos H+ , com
s
+ − Q , e Y o aberto de I , contendo Q , união dos Y+ , com + − Q . Tem
então lugar uma aplicação sobrejectiva
s0 À H
sÄY
s, s0 ÐBß AÑ œ B  A,

que é suave por ter restrições suaves 0Ð+Ñ aos abertos H+ de união H sÞ Além
disso, para cada ÐBß AÑ − Hs, B é o único ponto de Q a distância mínima de
s0 ÐBß AÑ e A œ s0 ÐBß AÑ  B, o que mostra que a aplicação s0 é injectiva, e
portanto uma bijecção de H s sobre Ys , sendo mesmo um difeomorfismo de H s
sobre Ys uma vez que a inversa é suave, por ter restrições suaves, iguais a
"
0Ð+Ñ s.
aos abertos Y+ de união Y
3) Vamos provar a existência de uma aplicação suave :À Q Ä Ó!ß "Ò tal que
o aberto H œ ÖÐBß AÑ − X ÐQ Ѽ ± mAm  :ÐBÑ× de X ÐQ Ѽ , contendo
Q ‚ Ö!×, esteja contido no aberto H s referido em 2). Será então trivial que se
verificam as condições a) e b) no enunciado.
Subdem: Para cada + − Q seja Z+ œ ÖB − Q ± mB  +m  <+ ×, que é um
aberto de Q , contendo +. Consideremos uma partição da unidade associada à
cobertura aberta de Q pelos conjuntos Z+ , portanto uma família localmente

cada B − Q , ! :+ ÐBÑ œ " (cf. II.3.11). Vamos ver que a aplicação suave
finita de aplicação suaves :+ À Q Ä Ò!ß "Ó com :+ nula fora de Z+ e, para

+−Q
:À Q Ä ‘ definida por
:ÐBÑ œ " :+ ÐBÑ <+
+−Q

toma valores em Ó!ß "Ò e verifica as condições pretendidas.


Sejam B − Q e A − XB ÐEѼ com mAm  :ÐBÑ. Apenas para um número
finito de índices + (pelo menos um) tem-se :+ ÐBÑ Á ! e podemos chamar +!
a um desses índices para os quais <+ seja mínimo e +" a um daqueles para os
quais <+ seja máximo. Tem-se então
:ÐBÑ œ " :+ ÐBÑ <+   " :+ ÐBÑ <+! œ <+!  !

:ÐBÑ œ " :+ ÐBÑ <+ Ÿ " :+ ÐBÑ <+" œ <+"  "


+−Q +−Q

+−Q +−Q

s.
e, tem-se B − Z+" e mAm  :ÐBÑ Ÿ <+" , portanto ÐBß AÑ − H+" § H …
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 225

III.3.30 (Corolário) Sejam I um espaço euclidiano, Q § I uma variedade sem


bordo e Y ¨ Q uma vizinhança tubular de Q , definida por uma aplicação
suave :À Q Ä Ó!ß "Ò. Tem-se então:
a) Tem lugar uma submersão 3À Y Ä Q , definida pela condição de 3ÐCÑ ser
o único ponto de Q à distância mínima de C, a qual é uma retracção, no
sentido que 3ÐBÑ œ B, para cada B − Q .
b) Q é um retracto por deformação forte de Y , isto é, existe uma aplicação
suave LÀ Ò!ß "Ó ‚ Y Ä Y tal que LÐ"ß BÑ œ B, LÐ!ß BÑ − Q e, para cada
> − Ò!ß "Ó e B − Q , LÐ>ß BÑ œ B.
Dem: Nas notações do enunciado precedente, consideremos as aplicações
suaves 3À Y Ä Q e 2À Y Ä I , definidas por 0 " ÐCÑ œ Ð3ÐCÑß 2ÐCÑÑ, a pri-
meira das quais, pela alínea b) desse resultado, tem a interpretação na alínea
a) do enunciado. Definindo LÐ>ß CÑ œ 3ÐCÑ  >2ÐCÑ e reparando que, para
cada B − Q , 0 " ÐBÑ œ ÐBß !Ñ, ou seja, 3ÐBÑ œ B e 2ÐBÑ œ !, fica justificada
a alínea b) do enunciado, assim como o facto de 3 ser uma retracção.
Resta-nos mostrar que a aplicação suave 3 é mesmo uma submersão. Uma
vez que 3 é a composta do difeomorfismo 0 " À Y Ä H com a restrição da
primeira projecção X ÐQ Ѽ Ä Q , ficamos reduzidos a mostrar que esta
restrição é uma submersão, isto é, que, para cada ÐBß AÑ − X ÐQ Ѽ , a
restrição da primeira projecção XÐBßAÑ ÐX ÐQ Ѽ Ñ Ä XB ÐQ Ñ é uma aplicação
linear sobrejectiva e isso resulta de, para cada ? − XB ÐQ Ñ, existir D − I tal
que Ð?ß DÑ − XÐBßAÑ ÐX ÐQ Ѽ Ñ. …
III.3.31 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I
uma variedade sem bordo. Sejam I s um espaço vectorial de dimensão finita,
s
E§I s Ä Q uma aplicação suave. Existe
s um subconjunto arbitrário e 1À E
então um aberto Y s de I s§Y
s , com E s e uma aplicação suave s1À Y
s Ä Q tal
que s1ÎEs œ 1. 73
Dem: Tendo em conta II.3.10, sabemos que existe um aberto Y de I s , com
Es § Y , e uma aplicação suave 1À Y Ä I tal que 1 s œ 1; o problema é que
ÎE
nada nos diz que 1 tome valores em Q . Consideremos, no entanto, uma
vizinhança tubular Y ¨ Q de Q , com a correspondente retracção suave
s o
3À Y Ä Q , nas condições da alínea a) do resultado precedente. Sendo Y
s s
aberto de I , contendo E, constituído pelos B − Y tais que 1ÐBÑ − Y ,
podemos considerar a aplicação suave s1À Y s Ä Q definida por s1ÐBÑ œ
s
3Ð1ÐBÑÑ, a qual tem restrição a E igual a 1. …

73Ao contrário do que sucede com o problema do prolongamento de aplicações suaves


com valores em I , em que sabemos que, quando Q s é fechado em Is , podemos obter um
prolongamento a I s , no caso presente, em que pretendemos prolongamentos com valores
na subvariedade Q , isso, em geral, não é possível. Pensar, por exemplo, no caso em que
pretendemos estender a ‘ a aplicação identidade de Ö"ß "×, de forma a tomar valores
em Ö"ß "×.
226 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Repare-se que, como é evidente, se uma aplicação suave :À Q Ä Ó!ß "Ò


define uma vizinhança tubular Y da variedade sem bordo Q § I ,
qualquer aplicação suave <À Q Ä Ó!ß "Ò tal que <ÐBÑ Ÿ :ÐBÑ, para cada
B − Q , define também uma vizinhança tubular Z § Y de Q . Um caso
particular importante é aquele em que a variedade Q é compacta e não
vazia, caso em que, sendo <  ! o mínimo de : em Q , pode-se
considerar a vizinhança tubular definida pela função constante de valor <.
Nesse caso, o corolário seguinte aponta para uma caracterização
importante da vinhança tubular.

III.3.32 (Corolário) Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma variedade


sem bordo, compacta e não vazia. Existe então !  <  " tal que a função
<À Q Ä Ó!ß "Ò de valor constante < define uma vizinhança tubular Y< e,
qualquer que seja < nessas condições, Y< é o conjunto dos C − I tais que
.ÐCß Q Ñ  <.
Dem: Como já referimos, sendo :À Q Ä Ó!ß "Ò uma aplicação suave que
defina uma vizinhança tubuluar de Q , podemos tomar para < o mínimo de :
e então a função de valor constante < também define uma vizinhança tubular
Y< , que vai ser constituída pelos pontos da forma C œ B  A, com B − Q ,
A − XB ÐQ Ѽ e mAm  <. Para cada C − Y< , tem-se, na decomposição
precedente, mC  Bm œ mAm  <, o que mostra que .ÐCß Q Ñ  <. Recipro-
camente, suponhamos que C − I é tal que .ÐCß Q Ñ  <. O facto de Q ser
compacta implica que a função suave 1À Q Ä Ò!ß _Ò, 1ÐBÑ œ mC  Bm#
atinge o seu mínimo num ponto B! − Q , tendo-se 1ÐB! Ñ œ .ÐCß Q Ñ#  <# .
Tem-se então #ØC  B! ß ?Ù œ H1B! Ð?Ñ œ !, para todo o ? − XB! ÐQ Ñ, ou seja,
A! œ C  B! − XB! ÐQ Ѽ e vem mA! m  < e C œ B!  A! , o que mostra que
C − Y< . …

Na figura 7 estão representadas vizinhanças tubulares de duas subvarie-


dades sem bordo do plano, uma compacta (uma circunferência) e outra
não compacta (uma semicircunferência).

Figura 7
Em ambos os casos as vizinhanças estão associadas a uma função
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 227

constante < e, apesar disso, no caso não compacto, a vizinhança tubular


está contida estritamente no conjunto dos pontos a distância menor que < .

§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas.

III.4.1 Seja I um espaço vectorial real de dimensão finita. Vamos chamar


curvas de I às variedades Q § I com dimensão ".
III.4.2 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva. Dado B − Q , o
espaço vectorial tangente XB ÐQ Ñ tem dimensão ", pelo que possui dois, e só
dois, vectores de norma ", um simétrico do outro; escolhamos um deles e
notêmo-lo t>B (lembrar que escolher um daqueles dois vectores de norma "
equivale a escolher uma orientação de XB ÐQ Ñ, aquela para a qual ele
constitui uma base directa — dizemos que aquele vector é a tangente unitária
positiva, relativamente à orientação em questão). Uma vez que uma aplicação
bilinear fica determinada se conhecermos as imagens dos pares constituídos
por elementos duma base, vemos que a segunda forma fundamental
2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ fica conhecida se conhecermos o vector

5t B œ 2B Ð>tB ß t>B Ñ − XB ÐQ Ѽ .

Dizemos que 5t B é o vector curvatura da curva Q no ponto B (repare-se que


ele não depende da escolha que fizemos do vector de norma " de XB ÐQ Ñ).
III.4.3 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, suavemente orien-
tada. Tem então lugar um campo vectorial suave t> œ Ð>tB ÑB−Q , que a cada
B − Q associa a tangente unitária positiva, isto é, o único vector de XB ÐQ Ñ,
que tem norma " e constitui uma base directa daquele espaço. Para cada
B − Q , o vector curvatura 5t B é então dado por

5t B œ H>tB Ð>tB Ñ.

Dem: O facto de ter lugar um campo vectorial suave t>, definido no


enunciado, é uma consequência de III.2.11. Reparemos agora que, uma vez
que, para cada B − Q , Ø>tB ß t>B Ù œ ", obtemos, por derivação de ambos os
membros em B e na direcção de t>B ,
#ØH>tB Ð>tB Ñß t>B Ù œ ØH>tB Ð>tB Ñß t>B Ù  Ø>tB ß H>tB Ð>tB ÑÙ œ !,

donde ØH>tB Ð>tB Ñß t>B Ù œ !, portanto H>tB Ð>tB Ñ − XB ÐQ Ѽ . Deduzimos agora que
tem lugar uma aplicação suave de Q no espaço total X ÐQ Ñ do fibrado
vectorial tangente, que a B associa ÐBß t>B Ñ. Derivando em B na direcção de t>B ,
228 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

obtemos
Ð>tB ß H>tB Ð>tB ÑÑ − XÐBß>tB Ñ ÐX ÐQ ÑÑ,

o que, pela caracterização da segunda forma fundamental dada em III.3.19 c),


implica que H>tB Ð>tB Ñ œ 2B Ð>tB ß t>B Ñ œ 5t B . …

Repare-se que esta fórmula para o cálculo do vector de curvatura


pressupõe que a variedade Q , de dimensão ", esteja suavemente
orientada pelo que ela apenas parece poder ser aplicada às curvas
orientáveis. A fórmula pode no entanto ser sempre aplicada pelas razões
seguintes:
a) Pode-se provar, embora a demonstração não seja elementar, que toda a
variedade de dimensão " é orientável;
b) Mesmo desconhecendo o resultado referido, toda a variedade é local-
mente orientável, no sentido que cada ponto B pertence a um aberto que é
orientável (basta considerar um aberto onde a restrição do fibrado
tangente seja trivial) e, no caso duma curva, é evidente que o vector de
curvatura em B coincide com o vector de curvatura daquele aberto no
mesmo ponto.
Existe um método alternativo de determinação do vector curvatura que,
apesar de ter um aspecto mais complexo que o do que decorre da propo-
sição precedente conduz frequentemente na prática a cálculos mais
simples.

III.4.4 Sejam I um espaço euclidianoß Q § I uma variedade de dimensão " e


\ œ Ð\B ÑB−Q uma secção suave de X ÐQ Ñ tal que, para cada B − Q ,
\B Á !. Notando 1B¼ a projecção ortogonal de I sobre o complementar
ortogonal de XB ÐQ Ñ, tem-se então
"
5t B œ 1¼ ÐH\B Ð\B ÑÑ.74
m\B m# B

Dem: Tal como atrás, podemos considerar uma aplicação suave de Q para o
espaço total do fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ, que a cada B associa
ÐBß \B Ñ pelo que, por derivação, vemos que Ð\B ß H\B Ð\B ÑÑ −
XÐBß\B Ñ ÐX ÐQ Ñ. Tendo em conta III.3.22, concluímos que

2B Ð\B ß \B Ñ œ 1B¼ ÐH\B Ð\B ÑÑ,


bastando agora reparar que se pode escolher para tangente unitária positiva

74É claro que um caso particular deste resultado é aquele em que se toma para \B um
vector tangente unitário, caso em que caímos na situação estudada em III.4.3, com o
bónus de não termos que calcular a projecção ortogonal. A razão por que pode ser útil
este resultado está em que é frequentemente possível obter secções não unitárias de
X ÐQ Ñ com expressões mais simples que as correspondentes secções unitárias, que se
obtêm daquelas dividindo pelas respectivas normas.
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 229

t>B œ \B Îm\B m, pelo que


"
5t B œ 2B Ð>tB ß t>B Ñ œ 2B Ð\B ß \B Ñ. …
m\B m#

III.4.5 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma variedade de dimensão ".


É então suave a aplicação 5t , de Q em I , que a cada B − Q associa o vector
curvatura 5t B .
Dem: Seja B! − Q arbitrário. Seja Y um aberto de Q , com B! − Y , tal que
X ÐQ ÑÎY seja um fibrado vectorial trivial, em particular orientável.
Escolhendo uma das orientações suaves de X ÐQ ÑÎY , sabemos que tem lugar
uma aplicação suave de Y em I , que a cada B associa o vector t>B − XB ÐQ Ñ,
que tem norma " e constitui uma base directa deste espaço. O facto de, para
cada B − Y , se ter 5t B œ H>tB Ð>tB Ñ implica agora que a restrição da aplicação 5t
a Y é suave (se quisermos ser mais precisos, começamos por considerar um
prolongamento suave da aplicação Ð>tB ÑB−Y a um aberto de I ) pelo que o
facto de a noção de aplicação suave ser local implica que 5t é uma aplicação
suave. …

Tanto a definição, em conjunto com as observações que a precederam,


como o resultado anterior, mostram que o vector curvatura está intima-
mente relacionado com o modo como a curva curva, isto é com o modo
como varia o respectivo espaço vectorial tangente. Somos por isso
levados a pensar que as únicas curvas com vector curvatura identicamente
nulo são aquelas que estão contidas numa recta afim. Vamos ver que é
isso que acontece com as curvas conexas, para o que começamos por
estabelecer um lema, que teremos ocasião de utilizar pelo menos duas
vezes.

III.4.6 (Lema) Sejam K e I espaços vectoriais de dimensão finita, J! § I um


subespaço vectorial, Q § K uma variedade e 0 À Q Ä I uma aplicação
suave. Tem-se então:
a) Se 0 ÐQ Ñ está contido nalgum subespaço afim de I , com subespaço
vectorial associado J! , então, para cada B − Q , H0B ÐXB ÐQ ÑÑ § J! .
b) Reciprocamente, se a variedade Q é conexa e se, para cada B − Q ,
H0B ÐXB ÐQ ÑÑ § J! , então 0 ÐQ Ñ está contido nalgum subespaço afim de I ,
com subespaço vectorial associado J! .
Dem: Se J é um subespaço afim, de subespaço vectorial associado J! , tal
que 0 ÐQ Ñ § J , tem-se, tendo em conta III.3.17,
H0B ÐXB ÐQ ÑÑ § X0 ÐBÑ ÐJ Ñ œ J! ,

para cada B − Q . Suponhamos, reciprocamente, que Q é uma variedade


conexa, tal que, para cada B − Q , H0B ÐXB ÐQ ÑÑ § J! . Seja 1! À I Ä J! a
projecção ortogonal, relativamente a um certo produto interno de I .
230 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Podemos então considerar a aplicação suave 1À Q Ä I , definida por


1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  1! Ð0 ÐBÑÑ. Para cada B − Q , tem-se H1B œ !, visto que, para
cada ? − XB ÐQ Ñ, vem H0B Ð?Ñ − J! , donde
H1B Ð?Ñ œ H0B Ð?Ñ  1! ÐH0B Ð?ÑÑ œ !.
Concluímos assim que 1 é uma aplicação de valor constante C! , o que mostra
que, para cada B − Q ,
0 ÐBÑ œ C!  1! Ð0 ÐBÑÑ − C!  J! ,
e portanto 0 ÐQ Ñ está contido no subespaço afim C!  J! , de subespaço vec-
torial associado J! . …

Nas aplicações do lema anterior é frequente a situação particular em que


K œ I e 0 À Q Ä I é a inclusão. Nesse caso as propriedades que se
relacionam são o facto de Q estar contido num subespaço afim de
subespaço vectorial associado J! e o facto de se ter XB ÐQ Ñ § J! , para
cada B − Q .

III.4.7 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva e notemos, para cada


B − Q , 5t B o vector de curvatura de Q em B. Tem-se então:
a) Se Q está contido numa recta afim (subespaço afim de I de dimensão "),
então, para cada B − Q , 5t B œ !.
b) Reciprocamente, se a curva Q é conexa e se, para cada B − Q , 5t B œ !,
então Q está contido numa recta afim.
Dem: Suponhamos que J é um subespaço afim de dimensão " de I , de
subespaço vectorial associado J! , tal que Q § J . Tem-se então, para cada
B − Q , XB ÐQ Ñ § J! , donde XB ÐQ Ñ œ J! , pelo que X ÐQ Ñ é um fibrado
vectorial constante. Concluímos daqui que, para cada B − Q , 2B œ !, em
particular, 5t B œ 2B Ð>tB ß t>B Ñ œ !. Suponhamos, reciprocamente, que Q é uma
curva conexa, tal que, para cada B − Q , 5t B œ !. Tem-se assim
2B Ð>tB ß t>B Ñ œ ! pelo que, uma vez que t>B é uma base de XB ÐQ Ñ, 2B œ !. Mais
uma vez por III.3.12, podemos concluir que X ÐQ Ñ é um fibrado vectorial
constante, cuja fibra vai ser um espaço vectorial J! de dimensão ", e o
resultado precedente vai-nos garantir então que Q está contido nalgum
subespaço afim de subespaço vectorial associado J! . …
III.4.8 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva e notemos, para cada
B − Q , 5t B o vector curvatura de Q . Chama-se curvatura de Q no ponto B à
norma

5B œ m5t B m
do vector curvatura. Se a curvatura de Q num ponto B é não nula, chama-se
plano osculador de Q no ponto B ao subespaço vectorial de I gerado pelos
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 231

vectores t>B e 5t B (estes vectores são linearmente independentes, por serem


ortogonais e não nulos), subespaço que não depende, evidentemente, da
escolha do vector tangente unitário t>B . Ainda neste caso, define-se a normal
principal da curva Q no ponto B como sendo o vector de norma "

5t B 5t B
8tB œ œ .
m5t B m 5B

É claro que t>B ß 8tB é então uma base ortonormada do plano osculador.
III.4.9 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, com curvatura não
nula em cada B − Q , e notemos, para cada B − Q , JB o plano osculador a
Q no ponto B. Tem-se então:
a) É suave a aplicação 8t, de Q em I , que a cada B − Q associa a normal
principal 8tB ;
b) A família J œ ÐJB ÑB−Q é um fibrado vectorial, a que daremos o nome de
fibrado vectorial osculador de Q .
Dem: Uma vez que sabemos que é suave a aplicação que a cada B associa o
vector curvatura 5t B , a suavidade da aplicação 8t é uma consequência imediata
do facto de se ter 8tB œ 5t B Îm5t B m. Dado B! − Q arbitrário, podemos escolher
um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que X ÐQ ÑÎY seja um fibrado vectorial
trivial, em particular orientável. Sabemos que tem então lugar uma aplicação
suave de Y em I , que a cada B − Y associa o vector unitário t>B de XB ÐQ Ñ,
que constitui um base directa deste espaço, bastando agora reparar que as
aplicações que a cada B − Y associam t>B e 5t B , respectivamente, vão
constituir um campo de referenciais para J ÎY . …
III.4.10 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, com curvatura não
nula em cada ponto, e sejam J œ ÐJB ÑB−Q o respectivo fibrado osculador e,
s B À XB ÐQ Ñ ‚ JB Ä JB¼ , a segunda forma fundamental de
para cada B − Q , 2
J no ponto B. Dados B − Q e uma orientação de XB ÐQ Ñ, define-se o vector
torção de Q no ponto B (relativamente à orientação escolhida), como sendo
o vector
s B Ð>tB ß 8tB Ñ,
t7 B œ 2

onde t>B é a tangente unitária positiva e 8tB a normal principal. É claro que, se
trocarmos a orientação escolhida em XB ÐQ Ñ, o vector torção correspondente
vem multiplicado por ".75

75Em rigor, para definirmos o vector torção num ponto B! de Q não é necessário exigir
que a curvatura seja não nula em todos os pontos, bastando que ela seja não nula em B! .
Com efeito, deduz-se então, por continuidade, que ela é ainda não nula em todos os
pontos dum certo aberto Y de Q , contendo B! , e pode-se substituir nas considerações
precedentes a curva Q pela curva Y .
232 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.4.11 Nas condições anteriores, o vector torção t7 B pertence a JB¼ , sendo


portanto ortogonal a t>B e a 8tB . A
7B œ mt7 B m
dá-se o nome de torção da curva \ no ponto B (esta já não depende da
orientação que se escolheu para XB ÐQ Ñ). No caso em que a torção de Q no
ponto B não é nula, define-se a binormal principal de Q no ponto B,
relativamente à orientação escolhida em XB ÐQ Ñ, como sendo o vector

t, B œ t7 B œ t7 B
mt7 B m 7B
(mais uma vez, este vector vem multiplicado por ", se trocarmos a
orientação escolhida de XB ÐQ Ñ). Repare-se que, nas condições anteriores,
t>B ß 8tB ß t, B é um sistema ortonormado de vectores de I .

Tal como acontecia com o vector curvatura, o vector torção vai


determinar completamente a segunda forma fundamental 2 s do fibrado
osculador. No entanto esse facto é agora menos evidente, na medida em
que, embora t>B seja uma base de XB ÐQ Ñ, 8tB não é uma base do plano
osculador JB . Para determinar a segunda forma fundamental teríamos a
priori de conhecer também o valor 2 s B Ð>tB ß t>B Ñ. O resultado que se segue
mostra que esse valor é sempre nulo, o que justifica a nossa afirmação
inicial. Demonstramos ao mesmo tempo uma fórmula alternativa para a
torção, no mesmo espírito que o da fórmula para a curvatura apresentada
em III.4.3.

III.4.12 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva com curvatura não


nula em cada ponto e notemos 2 s a segunda forma fundamental do fibrado
osculador J œ ÐJB ÑB−Q . Seja B! − Q , escolhamos uma orientação de
XB! ÐQ Ñ e consideremos os correspondentes tangente unitária positiva t>B! e
vector torção t7 B! . Tem-se então

2s B! Ð>tB! ß t>B! Ñ œ !,
t7 B! œ 2 s B! Ð>tB! ß 8tB! Ñ œ 5B!t>B!  H8tB! Ð>tB! Ñ.

Dem: Eventualmente substituindo Q por um aberto Y § Q , com B! − Y ,


tal que X ÐQ ÑÎY seja trivial, podemos já supor que X ÐQ Ñ é trivial, em
particular orientável, escolher uma orientação suave de X ÐQ Ñ que em B!
tome o valor dado e considerar as correspondentes tangentes unitárias
positivas t>B .
Derivando ambos os membros da identidade Ø8tB ß 8tB Ù œ " no ponto B e na
direcção de t>B , obtemos
#ØH8tB Ð>tB Ñß 8tB Ù œ ØH8tB Ð>tB Ñß 8tB Ù  Ø8tB ß H8tB Ð>tB ÑÙ œ !,
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 233

portanto
ØH8tB Ð>tB Ñß 8tB Ù œ !.

Do mesmo modo, derivando ambos os membros da identidade Ø8tB ß t>B Ù œ !


no ponto B e na direcção de t>B e tendo em conta que

H>tB Ð>tB Ñ œ 5t B œ 5B 8tB ,


obtemos
ØH8tB Ð>tB Ñß t>B Ù  Ø8tB ß 5B 8tB Ù œ !,
portanto
ØH8tB Ð>tB Ñß t>B Ù œ 5B .

Uma vez que, para cada B − Q , t>B − JB , portanto ÐBß t>B Ñ − J , obtemos, por
derivação em B na direcção de t>B ,

Ð>tB ß 5t B Ñ œ Ð>tB ß H>tB Ð>tB ÑÑ − XÐBß>tB Ñ ÐJ Ñ,

pelo que, tendo em conta III.3.22, e o facto de se ter 5t B − JB , concluímos


s B Ð>tB ß t>B Ñ œ !. Analogamente, uma vez que, para cada B − Q , 8tB − JB ,
que 2
portanto ÐBß 8tB Ñ − J , obtemos, por derivação em B na direcção de t>B ,
Ð>tB ß H8tB Ð>tB ÑÑ − XÐBß8tB Ñ ÐJ Ñ.

Mais uma vez pelo mesmo resultado, concluímos que t7 B œ 2 s B Ð>tB ß 8tB Ñ é a
projecção ortogonal de H8tB Ð>tB Ñ sobre JB¼ , pelo que, uma vez que t>B ß 8tB é
uma base ortonormada de JB ,
t7 B œ H8tB Ð>tB Ñ  ØH8tB Ð>tB Ñß t>B Ù>tB  ØH8tB Ð>tB Ñß 8tB Ù8tB œ
œ H8tB Ð>tB Ñ  5Bt>B . …

Tal como acontecia com o vector curvatura, o vector torção pode


frequentemente ser determinado com cálculos menos pesados, a partir do
resultado que apresentamos a seguir:

III.4.13 Sejam I um espaço euclidiano, Q § I uma curva com curvatura não


nula em cada ponto e ] œ Ð]B ÑB−Q uma secção suave do fibrado osculador
ÐJB ÑB−Q tal que, para cada B − Q , ]B Â XB ÐQ Ñ. Seja B! − Q , escolhamos
uma orientação de XB! ÐQ Ñ e consideremos os correspondentes tangente

unitária positiva t>B! , normal principal 8tB! e vector torção t7 B! . Notando 1 B! a
projecção ortogonal de I sobre o complementar ortogonal do plano oscu-
lador JB! , tem-se então
234 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

"
t7 B! œ s¼ ÐH]B! Ð>tB! ÑÑ.
1
Ø]B! ß 8tB! Ù B!

Dem: Podemos considerar uma aplicação suave de Q para o espaço total J


do fibrado osculador, que a B associa ÐBß ]B Ñ pelo que, por derivação em B!
na direcção de t>B! , concluímos que Ð>tB! ß H]B! Ð>tB! ÑÑ − XÐB! ß]B! Ñ ÐJ Ñ. Tendo em
conta III.3.22, tem-se, para a segunda forma fundamental 2 s do fibrado
osculador,
s B! Ð>tB! ß ]B! Ñ œ 1
2 s¼ t
B! ÐH]B! Ð>B! ÑÑ.

Reparemos agora que, uma vez que ]B! − JB! e t>B! e 8tB! constituem uma
base ortonormada deste espaço, tem-se
]B! œ Ø]B! ß t>B! Ù t>B!  Ø]B! ß 8tB! Ù 8tB!

pelo que, tendo em conta III.4.12,


s B! Ð>tB! ß ]B! Ñ œ Ø]B! ß t>B! Ù 2
2 s B! Ð>tB! ß t>B! Ñ  Ø]B! ß 8tB! Ù 2
s B! Ð>tB! ß 8tB! Ñ œ Ø]B! ß 8tB! Ù t7 B!

o que implica o resultado. …

Como complemento do resultado precedente, mostramos em seguida


como na prática se pode determinar uma secção Ð]B ÑB−Q do fibrado oscu-
lador, nas condições da hipótese.

III.4.14 Sejam I um espaço euclidianoß Q § I uma variedade de dimensão " e


\ œ Ð\B ÑB−Q uma secção suave de X ÐQ Ñ tal que, para cada B − Q ,
\B Á !. Sendo, para cada B − Q , ]B œ H\B Ð\B Ñ, tem-se que Q tem
curvatura não nula em B se, e só se, ]B Â XB ÐQ Ñ e, nesse caso, ]B pertence
ao plano osculador JB .
Dem: Lembrando que
"
5t B œ 1¼ ÐH\B Ð\B ÑÑ,
m\B m# B

vemos que 5t B œ ! se, e só se, H\B Ð\B Ñ − XB ÐQ Ñ. Podemos também


escrever
H\B Ð\B Ñ œ 1B ÐH\B Ð\B ÑÑ  1B¼ ÐH\B Ð\B ÑÑ œ
œ 1B ÐH\B Ð\B ÑÑ  m\B m# 5t B ,

com 1B ÐH\B Ð\B ÑÑ − XB ÐQ Ñ § JB e m\B m# 5t B − JB , o que mostra que


H\B Ð\B Ñ − JB . …

Do mesmo modo que vimos atrás que a não nulidade do vector curvatura
estava ligada ao facto de uma curva não ser rectilínea, vamos agora ver
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 235

que a nulidade do vector torção em todos os pontos corresponde ao facto


de uma curva ser plana.

III.4.15 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva com curvatura não


nula em cada ponto. Tem-se então:
a) Se Q está contido num plano afim de I (isto é, num subespaço afim de
dimensão # de I ) então, para cada B − Q , t7 B œ !.
b) Se a curva Q é conexa e se, para cada B − Q , t7 B œ !, então Q está
contido num plano afim de I .
Dem: Fixemos uma orientação em cada XB ÐQ Ñ. Seja K um subespaço afim
de dimensão # de I , com subespaço vectorial associado K! , tal que Q § K .
Para cada B − Q , tem-se então XB ÐQ Ñ § K! , em particular t>B − K! .
Raciocinando em abertos onde o fibrado vectorial tangente seja trivial, em
particular orientável, e escolhendo as tangentes unitárias t>B associadas a uma
das orientações suaves, concluímos que 5t B œ H>tB Ð>tB Ñ − K! . Resulta daqui
que, para cada B − Q , o plano osculador JB , sendo gerado por t>B e 5t B , vai
estar contido em K! , e ser portanto igual a K! . Conclui-se então que o
fibrado osculador J œ ÐJB ÑB−Q é constante, o que implica que, para cada
B − Q , a sua segunda forma fundamental 2 s B é nula, em particular
t7 B œ 2s B Ð>tB ß 8tB Ñ œ !.
Suponhamos, reciprocamente, que a curva Q é conexa e que, para cada
B − Q , t7 B œ !, portanto que, sendo 2 s B À XB ÐQ Ñ ‚ JB Ä JB¼ a segunda
forma fundamental do fibrado osculador, tem-se 2 s B Ð>tB ß 8tB Ñ œ !. Pelo
resultado precedente, tem-se também 2 s B Ð>tB ß t>B Ñ œ ! pelo que, uma vez que
t>B ß 8tB é uma base de JB e t>B é uma base de XB ÐQ Ñ, 2 s B œ !. Podemos agora
aplicar III.3.12 para garantir que o fibrado osculador J œ ÐJB ÑB−Q é um
fibrado vectorial constante, de fibra K! , subespaço vectorial de dimensão #
de I . Em particular tem-se, para cada B − Q , t>B − K! , donde XB ÐQ Ñ § K!
o que, tendo em conta III.4.6, implica que Q está contido nalgum subespaço
afim, de subespaço vectorial associado K! . …
III.4.16 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I uma curva.
Vamos chamar parametrização de Q a um difeomorfismo 0 À N Ä Q , em
que N é um intervalo de ‘ (que vai ser automaticamente uma variedade de
dimensão ", e portanto não se reduz a um único elemento).
Note-se que nem todas as curvas admitem uma parametrização; por exemplo
uma circunferência não admite, como se reconhece se repararmos que não
existe nenhuma variedade sem bordo, de dimensão ", compacta e não vazia
em ‘ (num elemento de módulo máximo de uma tal variedade o cone
tangente não seria ‘). No entanto, tendo em conta a definição de variedade,
constatamos imediatamente que, se Q é uma curva e B! − Q , existe um
aberto Y de Q (que é, em particular, uma curva), com B! − Y , e que admite
uma parametrização, cujo domínio pode ser tomado da forma Ó&ß &Ò ou
Ò!ß &Ò, conforme B! esteja em `! ÐQ Ñ ou em `" ÐQ Ñ.
236 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.4.17 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I uma curva,


admitindo uma parametrização 0 À N Ä Q . Tem então lugar uma aplicação
suave 0 w À N Ä I , que a cada > − N associa o vector 0 w Ð>Ñ œ H0> Ð"Ñ, e fica
definida uma orientação suave de Q , a que daremos o nome de orientação
associada à parametrização, definida pela condição de, para cada > − N , o
vector 0 w Ð>Ñ ser uma base directa de X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ.
Dem: O facto de 0 ser um difeomorfismo de N sobre Q implica que, para
cada > − N , H0> é um isomorfismo de X> ÐN Ñ œ ‘ sobre X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ, pelo que
0 w Ð>Ñ œ H0> Ð"Ñ é uma base de X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ e fica bem definida uma orientação
deste espaço vectorial, pela condição de esta base ser directa. Considerando
um prolongamento de 0 a um aberto de ‘, contendo N , constatamos que é
suave a aplicação de N em I , que a > associa 0 w Ð>Ñ, pelo que, por composição
com o difeomorfismo 0 " , obtemos uma aplicação suave de Q em I , que a
B associa 0 w Ð0 " ÐBÑÑ, a qual vai constituir um campo de referenciais directo
de X ÐQ Ñ. Ficou assim provada a suavidade da orientação de Q . …
III.4.18 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, N § ‘ um intervalo
com mais que um elemento e 0 À N Ä I uma aplicação suave tal que, para
um certo >! − N , 0 w Ð>! Ñ Á !. Tem-se então que a aplicação linear
H0>! À ‘ Ä I é injectiva, por aplicar " em 0 w Ð>! Ñ, e, tendo em conta uma das
consequências do teorema da imersão (cf. II.6.25), podemos concluir a
existência de um aberto N w de N , com >! − N w , aberto esse que se pode já
supor ser um intervalo, tal que a restrição de 0 a N w seja um difeomorfismo
de N w sobre 0 ÐN w Ñ. Conclui-se então que 0 ÐN w Ñ é uma curva, admitindo a
restrição de 0 como parametrização.
III.4.19 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, admitindo uma
parametrização 0 À N Ä Q , e consideremos sobre Q a orientação associada.
Tem-se então que, para cada > − N , a tangente unitária positiva em X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ
é dada por
w
t>0 Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ
m0 w Ð>Ñm
"
e o vector curvatura em 0 Ð>Ñ é igual ao produto de m0 w Ð>Ñm # pela projecção

ortogonal de 0 ww Ð>Ñ sobre o complementar ortogonal de X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ, sendo


portanto dado por
"
5t 0 Ð>Ñ œ Ð0 ww Ð>Ñ  Ø0 ww Ð>Ñß t>0 Ð>Ñ Ù>t0 Ð>Ñ Ñ œ
m0 w Ð>Ñm#
"
œ Ðm0 w Ð>Ñm# 0 ww Ð>Ñ  Ø0 ww Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÙ0 w Ð>ÑÑ.
m0 Ð>Ñm%
w

Dem: É claro que 0 w Ð>ÑÎm0 w Ð>Ñm é um vector de norma " de X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ,


constituindo uma base directa deste espaço, pelo que ele é precisamente a
tangente unitária positiva em 0 Ð>Ñ. Uma vez que, para cada > − N ,
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 237

0 w Ð>Ñ − X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ, portanto Ð0 Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ pertence ao espaço total X ÐQ Ñ do


fibrado tangente, obtemos, por derivação, que
Ð0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>ÑÑ − XÐ0 Ð>Ñß0 w Ð>ÑÑ ÐX ÐQ ÑÑ,

pelo que, tendo em conta III.3.22, 20 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ vai ser a projecção
ortogonal de 0 ww Ð>Ñ sobre X0 Ð>Ñ ÐQ Ѽ . O resultado é agora uma consequência
de se ter 0 w Ð>Ñ œ m0 w Ð>Ñm>t0 Ð>Ñ , portanto

20 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ œ m0 w Ð>Ñm# 20 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß t>0 Ð>Ñ Ñ œ m0 w Ð>Ñm# 5t0 Ð>Ñ ,

e de t>0 Ð>Ñ œ 0 w Ð>ÑÎm0 w Ð>Ñm ser uma base ortonormada de X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ. …


III.4.20 (Corolário) Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, admi-
tindo uma parametrização 0 À N Ä Q . Tem-se então:
a) Q tem curvatura nula no ponto 0 Ð>Ñ se, e só se, os vectores 0 w Ð>Ñ e 0 ww Ð>Ñ
são linearmente dependentes.
b) Se a curvatura de Q em 0 Ð>Ñ é não nula, então o plano osculador nesse
ponto é o gerado por 0 w Ð>Ñ e 0 ww Ð>Ñ.
Dem: A curvatura é nula se, e só se, a projecção ortogonal de 0 ww Ð>Ñ sobre
X0 Ð>Ñ ÐQ Ѽ é nula, ou seja, se, e só se, 0 ww Ð>Ñ − X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ. Supondo que a
curvatura em 0 Ð>Ñ é não nula, concluímos do resultado precedente que tanto
t>0 Ð>Ñ como 5t 0 Ð>Ñ pertencem ao plano gerado por 0 w Ð>Ñ e 0 ww Ð>Ñ, pelo que o
plano osculador, gerado por aqueles dois vectores, vai estar contido no plano
gerado por 0 w Ð>Ñ e 0 ww Ð>Ñ, e portanto ser igual a este último. …
III.4.21 (Corolário) Sejam I um espaço euclidiano, Q § I uma curva e
B! − Q tal que 5t B! Á !. Existe então um aberto Y de Q , com B! − Y , tal
que, para cada B − Y Ï ÖB! ×,

ØB  B! ß 5t B! Ù  !

(a curva curva na direcção do vector curvatura, na vizinhança de B! ).


Dem: Se necessário substituindo Q por um aberto de Q , contendo B! , o que
não altera evidentemente o vector curvatura em B! , podemos já supor que a
curva admite uma parametrização 0 À N Ä Q (cf. III.4.16). Seja >! − N o
definido pela condição 0 Ð>! Ñ œ B! . Seja :À N Ä ‘ a aplicação suave
definida por

:Ð>Ñ œ Ø0 Ð>Ñ  B! ß 5t B! Ù.

Tem-se :Ð>! Ñ œ ! e :w Ð>Ñ œ Ø0 w Ð>Ñß 5t B! Ù, e portanto, em particular, :w Ð>! Ñ œ


Ø0 w Ð>! Ñß 5t B! Ù œ !, visto que 0 w Ð>! Ñ − XB! ÐQ Ñ e 5t B! é ortogonal a este
subespaço vectorial. Continuando a derivar, temos :ww Ð>Ñ œ Ø0 ww Ð>Ñß 5t B! Ù, em
particular, :ww Ð>! Ñ œ Ø0 ww Ð>! Ñß 5t B! Ù. Mas, tendo em conta III.4.19, tem-se
238 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

0 ww Ð>! Ñ œ m0 w Ð>! Ñm# 5t B!  Ø0 ww Ð>! Ñß t>0 Ð>! Ñ Ù>t0 Ð>! Ñ ,

donde, tendo mais uma vez em conta o facto de t>0 Ð>! Ñ ser ortogonal a 5t B! ,

:ww Ð>! Ñ œ m0 w Ð>! Ñm# Ø5t B! ß 5t B! Ù  !,

o que mostra que : tem um mínimo relativo estrito em >! . Por outras
palavras, existe um aberto N w de N , com >! − N w , tal que, para cada
> − N w Ï Ö>! ×, :Ð>Ñ  !, e basta agora tomar para Y o aberto 0 ÐN w Ñ de Q . …
III.4.22 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, com curvatura não
nula em cada ponto, admitindo uma parametrização 0 À N Ä Q , e conside-
s a segunda
remos sobre Q a orientação associada. Tem-se então, notando 2
forma fundamental do fibrado osculador J œ ÐJB ÑB−Q ,
s 0 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>ÑÑ œ m0 w Ð>Ñm$ 50 Ð>Ñ t7 0 Ð>Ñ .
2

Deduzimos daqui que o vector torção t7 0 Ð>Ñ em 0 Ð>Ñ é igual ao produto de


"
50 Ð>Ñ m0 w Ð>Ñm$

pela projecção ortogonal de 0 www Ð>Ñ sobre o complementar ortogonal do plano


osculador J0 Ð>Ñ , sendo assim dado por
"
t7 0 Ð>Ñ œ Ð0 www Ð>Ñ  Ø0 www Ð>Ñß t>0 Ð>Ñ Ù>t0 Ð>Ñ  Ø0 www Ð>Ñß 8t0 Ð>Ñ Ù8t0 Ð>Ñ Ñ.
50 Ð>Ñ m0 w Ð>Ñm$

Dem: Tendo em conta III.4.19, tem-se 0 w Ð>Ñ œ m0 w Ð>Ñm>t0 Ð>Ñ e

0 ww Ð>Ñ œ m0 w Ð>Ñm# 5t 0 Ð>Ñ  Ø0 ww Ð>Ñß t>0 Ð>Ñ Ù>t0 Ð>Ñ ,

pelo que, uma vez que 5t 0 Ð>Ñ œ 50 Ð>Ñ 8t0 Ð>Ñ e que, por III.4.10 e III.4.12,
s 0 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß t>0 Ð>Ñ Ñ œ !,
2
s 0 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß 8t0 Ð>Ñ Ñ œ t7 0 Ð>Ñ ,
2

obtemos
s 0 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>ÑÑ œ m0 w Ð>Ñm 2
2 s 0 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß 0 ww Ð>ÑÑ œ
œ m0 w Ð>Ñm$ 2 s 0 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß 5t 0 Ð>Ñ Ñ œ m0 w Ð>Ñm$ 50 Ð>Ñ t7 0 Ð>Ñ ,

o que estabelece a primeira relação do enunciado. Atendendo agora a que,


para cada > − N , 0 ww Ð>Ñ − J0 Ð>Ñ , e portanto Ð0 Ð>Ñß 0 ww Ð>ÑÑ − J , obtemos, por
derivação, Ð0 w Ð>Ñß 0 www Ð>ÑÑ − XÐ0 Ð>Ñß0 ww Ð>ÑÑ ÐJ Ñ, donde, atendendo a III.3.22,
s 0 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>ÑÑ é a projecção ortogonal de 0 www Ð>Ñ sobre o complementar
2
ortogonal da J0 Ð>Ñ , o que prova a segunda afirmação do enunciado. A última
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 239

conclusão é agora uma consequência de t>0 Ð>Ñ ß 8t0 Ð>Ñ ser uma base ortonormada
de J0 Ð>Ñ . …
III.4.23 (Corolário) Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, com
curvatura não nula em cada ponto, admitindo uma parametrização
0 À N Ä Q , e consideremos sobre Q a orientação associada. Tem-se então:
a) Q tem torção nula no ponto 0 Ð>Ñ se, e só se, os vectores
0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>Ñß 0 www Ð>Ñ são linearmente dependentes.
b) Se a torção em 0 Ð>Ñ for não nula, então o subespaço vectorial de dimensão
$ de I , gerado pelos vectores t>0 Ð>Ñ ß 5t 0 Ð>Ñ ß t7 0 Ð>Ñ ,76 é também gerado pelos
vectores 0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>Ñß 0 www Ð>Ñ.
Dem: A torção é nula se, e só se, a projecção ortogonal de 0 www Ð>Ñ sobre J0¼Ð>Ñ
é nula, isto é, se, e só se, 0 www Ð>Ñ − J0 Ð>Ñ . No caso em que a torção é não nula,
já sabemos que t>0 Ð>Ñ e 5t 0 Ð>Ñ pertencem ao subespaço vectorial gerado por
0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>Ñ, e portanto também ao gerado por 0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>Ñß 0 www Ð>Ñ e o
resultado precedente mostra-nos que t7 0 Ð>Ñ pertence a este mesmo subespaço
vectorial. …

A curvatura e a torção de uma curva em cada um dos seus pontos é


sempre, por definição, um número real maior ou igual a !. Vamos agora
referir dois contextos em que faz sentido falar de grandezas, iguais em
valor absoluto à curvatura e à torção, respectivamente, mas que podem ser
também negativas. Essas grandezas, que se definem de maneira trivial a
partir das outras já estudadas, têm um papel importante nalgumas situa-
ções, como, por exemplo, no estudo das hipersuperfícies que faremos na
próxima secção.

III.4.24 (A curvatura sinalizada) Sejam I um espaço euclidiano e Q § I


uma curva e seja B − Q , com o correspondente vector curvatura 5t B .
Suponhamos que se fixou, de alguma maneira, um vector de norma ", 8tB ,
tal que 5t B − ‘8tB (dizemos então que 8tB é a normal positiva de Q no
ponto B). Define-se então a curvatura sinalizada de Q no ponto B
(relativamente à escolha da normal positiva) como sendo o número real 5B ,
definido pela igualdade

5t B œ 5B 8tB ,
ou, o que é equivalente,

5B œ Ø5t B ß 8tB Ù.


É claro que se tem

76Trata-se de uma espécie de espaço osculador de ordem superior.


240 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

5B œ m5t B m œ l5B l.
Como exemplos de escolha da normal positiva, que é usual fazer-se, temos:
a) A curvatura de Q no ponto B é não nula e toma-se para normal positiva a
normal principal 8tB , de Q em B. Nesse caso a curvatura sinalizada é
simplesmente a curvatura, sendo portanto estritamente positiva.
b) I é um espaço vectorial orientado de dimensão # e a variedade Q está
orientada. Nesse caso é usual tomar para normal positiva em B o único vector
8tB − I , que tem norma ", é ortogonal a t>B e faz com que t>B ß 8tB seja uma
base directa de I (reparar que o subespaço vectorial ortogonal a XB ÐQ Ñ tem
dimensão "). Neste caso a curvatura sinalizada será positiva quando Q
curvar no sentido directo e será negativa quando Q curvar no sentido
retrógrado.
III.4.25 (A torção sinalizada) Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma
curva orientada, com curvatura diferente de ! em cada ponto. Seja t7 B o
vector torção num certo ponto B − Q , e suponhamos que se fixou, de
alguma maneira, um vector t, B de norma ", tal que t7 B − ‘t, B (dizemos
então que t, B é a binormal positiva de Q no ponto B). Define-se então a
torção sinalizada de Q no ponto B (relativamente à escolha da binormal
positiva) como sendo o número real 7B definido por

t7 B œ 7B t, B ,
ou, o que é equivalente, por

7B œ Øt7 B ß t, B Ù.
É claro que se tem
7B œ mt7 B m œ l7B l.
Como exemplos de escolha da binormal positiva, que é costume fazer-se,
temos os seguintes:
a) A torção de Q no ponto B é não nula e toma-se para binormal positiva a
binormal principal. Nesse caso a torção sinalizada é simplesmente a torção, e
portanto é estritamente positiva.
b) I é um espaço vectorial orientado de dimensão $. Nesse caso é usual
tomar para binormal positiva no ponto B o único vector t, B − I , que tem
norma ", é ortogonal a t>B e a 8tB e faz com que t>B ß 8tB ß t, B seja uma base
directa.
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 241

§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten.

III.5.1 Seja I um espaço euclidiano de dimensão 8   ". Chamam-se hiper-


superfícies de I às variedades Q § I de dimensão 8  ". Se Q § I é
uma hipersuperfície, para cada B − Q , XB ÐQ Ѽ é um espaço vectorial de
dimensão " pelo que existem neste espaço dois, e só dois, vectores de norma
", vectores a que se dá o nome de normais unitárias a Q em B.
III.5.2 Sejam I um espaço euclidiano, Q § I uma hipersuperfície, B − Q e 8tB
uma das normais unitárias a Q no ponto B. A projecção ortogonal
1B À I Ä XB ÐQ Ñ está então definida por
1B ÐAÑ œ A  ØAß 8tB Ù8tB .

Dem: Basta atender a que a projecção ortogonal de A sobre XB ÐQ Ñ é igual à


diferença entre A e a projecção ortogonal de A sobre XB ÐQ Ѽ . …
III.5.3 Sejam I um espaço euclidiano, Q § I uma hipersuperfície, B − Q e 8tB
uma das normais unitárias no ponto B. Notando 1C À I Ä XC ÐQ Ñ as
projecções ortogonais, sabemos que, para cada ? − XB ÐQ Ñ, H1B Ð?ÑÀ I Ä I
é uma aplicação linear autoadjunta, que aplica XB ÐQ Ñ em XB ÐQ Ѽ e
XB ÐQ Ѽ em XB ÐQ Ñ; em particular, tem-se H1B Ð?ÑÐ8tB Ñ − XB ÐQ Ñ. Podemos
assim considerar uma aplicação linear
-B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ,
definida por
-B Ð?Ñ œ H1B Ð?ÑÐ8tB Ñ,
aplicação a que daremos o nome de aplicação linear de Weingarten da
hipersuperfície Q no ponto B, associada à escolha da normal unitária 8tB . É
claro que, se alterarmos a escolha da normal unitária, a aplicação linear de
Weingarten correspondente vem multiplicada por ".

Tal como acontecia com a curvatura e a torção, no caso das curvas, a não
nulidade da aplicação linear de Weingarten vai estar ligada ao facto de a
hipersuperfície não estar contida num hiperplano.

III.5.4 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8   " e Q § I uma hiper-


superfície. Tem-se então:
a) Se a variedade Q está contida nalgum hiperplano afim de I (isto é,
nalgum subespaço afim de dimensão 8  "), a aplicação linear de
Weingarten -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ é nula, para cada B − Q .
242 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

b) Se a variedade Q é conexa e se, para cada B − Q , a aplicação linear de


Weingarten -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ é nula, então Q está contido nalgum
hiperplano afim de I .
Dem: Suponhamos que J é um hiperplano afim de I , com subespaço
vectorial associado J! , tal que Q § J . Para cada B − Q , tem-se então
XB ÐQ Ñ § J! pelo que, uma vez que temos espaços vectoriais com a mesma
dimensão, XB ÐQ Ñ œ J! . Resulta daqui que a aplicação que a B − Q associa
a projecção ortogonal 1B , de I sobre XB ÐQ Ñ, é constante e portanto, para
cada B − Q e ? − XB ÐQ Ñ,
-B Ð?Ñ œ H1B Ð?ÑÐ8tB Ñ œ !,
ou seja, -B œ !. Suponhamos, reciprocamente, que a variedade Q é conexa e
que -B œ !, para cada B − Q . O facto de 8tB ser uma base de XB ÐQ Ѽ impli-
ca que, para cada B − Q e ? − XB ÐQ Ñ, a restrição de H1B Ð?ÑÀ I Ä I a
XB ÐQ Ѽ é nula pelo que, tendo em conta III.3.10, a sua restrição a XB ÐQ Ñ,
sendo adjunta daquela, é também nula; concluímos daqui que, para cada
B − Q e ? − XB ÐQ Ñ, H1B Ð?Ñ œ !. O facto de Q ser uma variedade conexa
implica agora que a aplicação que a B associa 1B é constante, ou seja, que
existe um hiperplano J! de I tal que, para cada B − Q , XB ÐQ Ñ œ J! . O
lema III.4.6 garante-nos, finalmente que a variedade Q está contida nalgum
subespaço afim J , de subespaço vectorial J! . …

Examinamos em seguida um resultado que relaciona a aplicação linear de


Weingarten com a segunda forma fundamental 2 do fibrado vectorial
s do fibrado vectorial normal.
tangente e a segunda forma fundamental 2

III.5.5 Sejam I um espaço euclidiano, Q § I uma hipersuperfície, B − Q ,


2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ a segunda forma fundamental de Q no
ponto B e 2B¼ À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ѽ Ä XB ÐQ Ñ a segunda forma fundamental do
fibrado vectorial normal X ÐQ Ѽ nesse ponto. Se 8tB é uma das normais
unitárias em B e se -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ é a correspondente aplicação linear
de Weingarten, tem-se então que
Ø- Ð?Ñß @Ù œ Ø8t ß 2 Ð?ß @ÑÙ, 2 Ð?ß @Ñ œ Ø- Ð?Ñß @ÙÄ
B B B B B 8 , B

em particular, a aplicação linear -B é autoadjunta, e


-B Ð?Ñ œ 2B¼ Ð?ß 8tB Ñ.

Dem: Uma vez que a aplicação linear H1B Ð?ÑÀ I Ä I é autoadjunta, para
cada ? − XB ÐQ Ñ, podemos escrever
Ø-B Ð?Ñß @Ù œ ØH1B Ð?ÑÐ8tB Ñß @Ù œ
œ Ø8tB ß H1B Ð?ÑÐ@ÑÙ œ Ø8tB ß 2B Ð?ß @ÑÙ,
2B Ð?ß @Ñ œ Ø2B Ð?ß @Ñß Ä
8 B ÙÄ
8 B œ Ø-B Ð?Ñß @ÙÄ8 B,
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 243

e o facto de -B ser autoadjunta resulta agora de que, como se viu em III.3.23,


2B é uma aplicação bilinear simétrica. Quanto à segunda fórmula, sendo 1B¼ a
projecção ortogonal de I sobre XB ÐQ Ѽ , tem-se 1B¼ œ M.  1B , pelo que
-B Ð?Ñ œ H1B Ð?ÑÐ8tB Ñ œ H1B¼ Ð?ÑÐ8tB Ñ œ 2B¼ Ð?ß 8tB Ñ. …

III.5.6 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma hipersuperfície, tal que


exista uma secção suave 8t œ Ð8tB ÑB−Q de X ÐQ Ѽ , com m8tB m œ ", para cada
B − Q ,77 e consideremos as correspondentes aplicações lineares de
Weingarten -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ. Tem-se então
-B Ð?Ñ œ H8tB Ð?Ñ.

Dem: Uma vez que 1B ÐAÑ œ A  ØAß 8tB Ù8tB , obtemos


H1B Ð?ÑÐAÑ œ ØAß H8tB Ð?ÑÙ8tB  ØAß 8tB ÙH8tB Ð?Ñ,
donde, em particular,
-B Ð?Ñ œ H1B Ð?ÑÐ8tB Ñ œ Ø8tB ß H8tB Ð?ÑÙ8tB  Ø8tB ß 8tB ÙH8tB Ð?Ñ.
Mas, de se ter, para cada B, Ø8tB ß 8tB Ù œ ", obtemos #ØH8tB Ð?Ñß 8tB Ù œ 0, por
derivação, pelo que a fórmula anterior dá-nos
-B Ð?Ñ œ H8tB Ð?Ñ. …

Analogamente aos métodos descritos em III.4.4, para a determinação do


vector curvatura de uma curva, e em III.4.13, para a determinação do
respectivo vector torção, apresentamos em seguida um método alternativo
de determinação da aplicação linear de Weingarten e da segunda forma
fundamental, que conduz frequentemente a cálculos menos morosos.

III.5.7 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma hipersuperfície e


suponhamos que Ð^B ÑB−Q é uma secção suave de X ÐQ Ѽ tal que ^B Á !,
para cada B − Q . Escolhamos, para cada B − Q , 8tB œ ^B Îm^B m como nor-
mal unitária e seja -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ a correspondente aplicação linear
de Weingarten. Notando 1B a projecção ortogonal de I sobre XB ÐQ Ñ, tem-se
então
"
-B Ð?Ñ œ  1B ÐH^B Ð?ÑÑ.
m^B m
Além disso, a segunda forma fundamental 2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ
está definida por

77Tendo em conta III.2.11 e III.2.14, a existência de uma tal secção suave 8


t é equivalente
ao facto de a variedade Q ser orientável. É claro que toda a variedade é localmente
orientável, pelo que esta caracterização pode ser sempre utilizada localmente.
244 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

"
2B Ð?ß @Ñ œ  ØH^B Ð?Ñß @Ù^B .
m^B m#

Dem: Podemos considerar a aplicação suave de Q no espaço total X ÐQ Ѽ ,


que a B associa ÐBß ^B Ñ, e derivando-a em B na direcção de ?, concluímos
que Ð?ß H^B Ð?ÑÑ − XÐBß^B Ñ ÐX ÐQ Ѽ Ñ. Tendo em conta III.3.22, vemos que,
para a segunda forma fundamental 2B¼ do fibrado vectorial normal, tem-se
2B¼ Ð?ß ^B Ñ œ 1B ÐH^B Ð?ÑÑ
pelo que, para obtermos a fórmula para a aplicação linear de Weingarten,
basta repararmos que, por III.5.5,
"
-B Ð?Ñ œ 2B¼ Ð?ß 8tB Ñ œ  2 ¼ Ð?ß ^B Ñ.
m^B m B
Quanto à segunda forma fundamental, o facto de se ter 2B Ð?ß @Ñ − XB ÐQ Ѽ e
de 8tB ser uma base ortonormada deste espaço vectorial, permite-nos
escrever,
^B
2B Ð?ß @Ñ œ Ø2B Ð?ß @Ñß 8tB Ù8tB œ Ø-B Ð?Ñß @Ù œ
m^B m
"
œ Ø1B ÐH^B Ð?ÑÑß @Ù^B ,
m^B m#
e a fórmula do enunciado resulta de se ter
ØH^B Ð?Ñß @Ù  Ø1B ÐH^B Ð?ÑÑß @Ù œ ØH^B Ð?Ñ  1B ÐH^B Ð?ÑÑß @Ù œ !,
por ser H^B Ð?Ñ  1B ÐH^B Ð?ÑÑ − XB ÐQ Ѽ e @ − XB ÐQ Ñ. …

No caso em que o espaço ambiente I tem dimensão #, as hipersuperfícies


de I são simplesmente as curvas. O resultado seguinte mostra-nos o que
vai ser, neste caso particular, a aplicação linear de Weingarten.

III.5.8 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão # e Q § I uma curva, que é


portanto uma hipersuperfície de I . Seja B − Q , escolhamos uma das
normais unitárias 8tB , e seja -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ a correspondente
aplicação linear de Weingarten. Sejam 5t B o vector curvatura e 5B a
curvatura sinalizada, definida por 5t B œ 5B 8tB . Tem-se então, para cada
? − XB ÐQ Ñ,
-B Ð?Ñ œ 5B ?.

Dem: Sendo t>B um dos vectores unitários de XB ÐQ Ñ, que é portanto uma


base ortonormada deste espaço, podemos escrever
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 245

-B Ð>tB Ñ œ Ø-B Ð>tB Ñß t>B Ù>tB œ Ø8tB ß 2B Ð>tB ß t>B ÑÙ>tB œ Ø8tB ß 5t B Ù>tB œ
œ Ø8tB ß 5B 8tB Ù>tB œ 5B Ø8tB ß 8tB Ù>tB œ 5Bt>B ,

de onde deduzimos que, para cada ? − XB ÐQ Ñ, tem-se ? œ +>tB , e portanto


-B Ð?Ñ œ +-B Ð>tB Ñ œ +5Bt>B œ 5B ?. …

III.5.9 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8   " e Q § I uma


hipersuperfície. Sejam B − Q e 8tB uma das normais unitárias a Q no ponto
B. Para cada vector ? − XB ÐQ Ñ, com m?m œ ", define-se o vector curvatura
normal de Q , no ponto B e na direcção de ?, como sendo o vector
2B Ð?ß ?Ñ − XB ÐQ Ѽ ,
onde 2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ é a segunda forma fundamental de
X ÐQ Ñ no ponto B. Uma vez que 2B Ð?ß ?Ñ − XB ÐQ Ѽ œ ‘8tB , podemos
considerar a componente do vector 2B Ð?ß ?Ñ em 8tB , que é igual a
Ø8tB ß 2B Ð?ß ?ÑÙ,
e dizemos que este número real é a curvatura normal sinalizada de Q , no
ponto B e na direcção de ?, relativamente à escolha da normal unitária
positiva 8tB . É claro que, se trocássemos a escolha da normal unitária positiva
8tB , a curvatura normal sinalizada viria multiplicada por ". Repare-se que,
tendo em conta III.5.5, a curvatura normal sinalizada de Q no ponto B, na
direcção de ?, é também dada por
Ø-B Ð?Ñß ?Ù,
onde -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ é a aplicação linear de Weingarten.
III.5.10 É claro que, no caso particular em que o espaço euclidiano ambiente I
tem dimensão #, vão existir dois, e só dois vectores de norma " em XB ÐQ Ñ e
o vector curvatura normal na direcção de qualquer desses vectores é
precisamente o vector curvatura da curva Q nesse ponto. Do mesmo modo,
feita a escolha de uma normal unitária 8tB , a curvatura normal sinalizada
correspondente vai ser a curvatura sinalizada de Q , definida na secção
anterior.
III.5.11 (Interpretação geométrica das curvaturas normais) Sejam I um
espaço euclidiano de dimensão 8   # e Q § I uma hipersuperfície, que
vamos supor sem bordo. Sejam B! − Q e 8tB! uma das normais unitárias a
Q no ponto B! . Seja ainda ? − XB! ÐQ Ñ, com m?m œ ".
Consideremos o subespaço vectorial T! , de dimensão #, de I , gerado por
8tB! e ?, que é portanto um plano vectorial contendo o espaço vectorial
normal XB! ÐQ Ѽ , e seja T œ B!  T! o correspondente plano afim, passando
por B! , que é uma variedade sem bordo, de dimensão #, tendo em cada ponto
espaço vectorial tangente igual a T! .
246 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Consideremos a intersecção Q w œ Q  T da hipersuperfície Q com o plano


afim T . Tem-se então que Q w é uma variedade de dimensão " no ponto B! e
com XB! ÐQ w Ñ œ XB! ÐQ Ñ  T! e o vector curvatura normal, 2B! Ð?ß ?Ñ, de Q
em B! na direcção de ? é o vector curvatura de Q w em B! Þ78 Do mesmo
modo, podemos escolher 8tB! como normal unitária positiva de Q w em B! e
então a curvatura normal sinalizada de Q em B! na direcção de ? vai ser a
curvatura sinalizada de Q w em B! , relativamente a esta escolha.
Dem: Seja 1!¼ a projecção ortogonal de I sobre T!¼ e seja :À Q Ä T!¼ a
aplicação suave definida por :ÐBÑ œ 1!¼ ÐB  B! Ñ. Para cada @ − T!¼ , tem-se,
em particular, @ ortogonal a 8tB! , e portanto @ − XB! ÐQ Ñ, e vem então
H:B! Ð@Ñ œ 1!¼ Ð@Ñ œ @. Concluímos assim que H:B! À XB! ÐQ Ñ Ä T!¼ é uma
aplicação linear sobrejectiva pelo que, uma vez que Q w é o conjunto dos
B − Q tais que B  B! − T! , isto é, tais que :ÐBÑ œ !, deduzimos de II.4.32
que Q w é uma variedade de dimensão Ð8  "Ñ  Ð8  #Ñ œ " no ponto B! e
que XB! ÐQ w Ñ é o conjunto @ − XB! ÐQ Ñ tais que 1!¼ Ð@Ñ œ !, isto é, tais que
@ − T! .79 Em particular, ? − XB! ÐQ w Ñ, e portanto ? é um dos dois vectores
tangentes unitários de Q w em B! .
Notemos 2B! a segunda forma fundamental de Q em B! e 2Bw ! a de Q w nesse
ponto (ou, mais precisamente, a de um aberto conveniente de Q w , contendo
B! , que seja uma curva). Uma vez que o espaço total X ÐT Ñ está contido em
T ‚ T! , concluímos que
XÐB! ß?Ñ ÐX ÐT ÑÑ § XÐB! ß?Ñ ÐT ‚ T! Ñ œ T! ‚ T! ,

pelo que o facto de se ter


Ð?ß 2Bw ! Ð?ß ?ÑÑ − XÐB! ß?Ñ ÐX ÐQ w ÑÑ § XÐB! ß?Ñ ÐX ÐT ÑÑ

implica que 2Bw ! Ð?ß ?Ñ − T! . Uma vez que 2Bw ! Ð?ß ?Ñ é ortogonal a XB! ÐQ w Ñ,
em particular ortogonal a ?, concluímos que 2Bw ! Ð?ß ?Ñ − ‘8tB , por outras
palavras, 2Bw ! Ð?ß ?Ñ − XB! ÐQ Ѽ . Por outro lado o facto de se ter Q w § Q
implica que X ÐQ w Ñ § X ÐQ Ñ, pelo que se tem também Ð?ß 2Bw ! Ð?ß ?ÑÑ −
XÐB! ß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ e portanto a caracterização da segunda forma fundamental de
Q dada na alínea c) de III.3.19 garante que se tem 2B! Ð?ß ?Ñ œ 2Bw ! Ð?ß ?Ñ. …

Uma questão que se põe naturalmente é a de estudar o modo como as


curvaturas normais sinalizadas no ponto B! variam em função do vector
unitário ? em XB ÐQ Ñ. É isso que fazemos em seguida, começando por

78Em rigor estamos a fazer um pequeno abuso de linguagem: Apenos definimos vector
curvatura de uma curva e apenas podemos garantir que Q w é uma variedade de dimensão
" em B! , e portanto também num certo aberto Q s w de Q w , contendo B! . É ao vector
w
curvatura da curva Qs em B! que nos estamos a referir.
79Esta conclusão também podia ter sido obtida a partir do teorema de transversalidade
II.4.38.
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 247

relembrar a noção de valor próprio de uma aplicação linear e algumas das


suas propriedades elementares.

III.5.12 Lembremos que, se J é um espaço vectorial e se -À J Ä J é uma


aplicação linear, diz-se que um escalar + é um valor próprio de - se existe
B − J Ï Ö!× tal que -ÐBÑ œ +B; o conjunto dos vectores B − J , que
verificam a igualdade anterior, é então um subespaço vectorial de J , cujos
elementos se chamam vectores próprios de -, relativamente ao valor próprio
+ .80
III.5.13 Sejam J um espaço euclidiano de dimensão 8   " e -À J Ä J uma
aplicação linear autoadjunta. Seja S § J a hipersuperfície esférica de centro
! e raio ",
W œ ÖB − J ± mBm œ "×,
e seja :À W Ä ‘ a aplicação suave definida por
:Ð?Ñ œ Ø-Ð?Ñß ?Ù.
Tem-se então que um vector ? − W é um vector próprio de - se, e só se,
H:? À X? ÐWÑ Ä ‘ é a aplicação linear nula e, nesse caso, o valor próprio
correspondente é :Ð?Ñ. Em particular, - admite pelo menos um valor próprio
+ − ‘, a saber o valor máximo (ou mínimo) da aplicação : sobre o conjunto
compacto W .
Dem: Como já vimos, W é uma variedade sem bordo, admitindo, em cada
? − W , o espaço vectorial tangente X? ÐWÑ constituído pelos vectores A − J
tais que Ø?ß AÙ œ !. Dados ? − W e A − X? ÐWÑ, tem-se
H:? ÐAÑ œ Ø-ÐAÑß ?Ù  Ø-Ð?Ñß AÙ œ #Ø-Ð?Ñß AÙ.
Concluímos daqui que H:? œ ! se, e só se, Ø-Ð?Ñß AÙ œ !, para cada A tal
que Ø?ß AÙ œ !, isto é, se, e só se, -Ð?Ñ é ortogonal ao complementar
ortogonal do subespaço vectorial gerado por ?, condição que é equivalente à
de se ter -Ð?Ñ − ‘?, isto é, à de ? ser um vector próprio de - . Sendo então +
o valor próprio correspondente, tem-se -Ð?Ñ œ +?, donde
:Ð?Ñ œ Ø+?ß ?Ù œ +Ø?ß ?Ù œ +,
o que conclui a demonstração da primeira afirmação do enunciado. Para ter-
minar basta agora reparar que, uma vez que W é compacta e não vazia, vai
existir ? − W onde : tome o valor máximo (respectivamente mínimo) e que,
para esse ?, tem-se então H:? œ !. …
III.5.14 (Corolário) Sejam J um espaço euclidiano de dimensão 8 e -À J Ä J
uma aplicação linear autoadjunta. Existe então uma base ortonormada

80Repare-se que ! é um vector próprio mas que, por definição, cada valor próprio admite
um vector próprio não nulo.
248 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

A" ß á ß A8 de J formada por vectores próprios de -, tendo-se portanto


-ÐA4 Ñ œ +4 A4 , com +4 − ‘.
Dem: A demonstração faz-se por indução na dimensão 8 de J . Se 8 œ !, o
resultado é trivial, bastando tomar para base a família vazia de vectores.
Supondo que o resultado é válido quando J tem dimensão 8, vejamos o que
sucede no caso em que J tem dimensão 8  ". Pelo resultado precedente, J
admite um vector próprio A8" Á !, com valor próprio +8" , podendo já
supor-se que mA8" m œ ", se necessário substituindo A8" por
A8" ÎmA8" m. Seja J s o subespaço vectorial de J , com dimensão 8,
complementar ortogonal do subespaço vectorial ‘A8" , gerado por A8" .
Para cada B − J s , tem-se
Ø-ÐBÑß A8" Ù œ ØBß -ÐA8" ÑÙ œ +8" ØBß A8" Ù œ !,

o que mostra que -ÐBÑ − J s . A restrição de - a J


s é então uma aplicação
linear autoadjunta de Js em J s pelo que, pela hipótese de indução, podemos
considerar uma base ortonormada A" ß á ß A8 de J s , com -ÐA4 Ñ œ +4 A4 ,
sendo trivial que A" ß á ß A8" é uma base ortonormada de J , constituída por
vectores próprios de -. …
III.5.15 Nas condições do corolário anterior, é fácil constatar que B − J verifica
uma igualdade -ÐBÑ œ +B se, e só se, B é combinação linear de alguns dos
vectores A4 , com os correspondentes +4 todos iguais a +. Em particular, os
únicos valores próprios de - são os números reais +" ß á ß +8 .

Estamos agora em condições de aplicar as observações precedentes ao


estudo das curvaturas normais de uma hipersuperfície.

III.5.16 Sejam I um espaço euclidiano, Q § I uma hipersuperfície, B − Q ,


8tB uma das normais unitárias a Q no ponto B e -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ a
correspondente aplicação linear de Weingarten, que sabemos ser autoadjunta.
Chamam-se curvaturas principais de Q no ponto B (associadas à escolha da
normal unitária 8tB ) aos valores próprios de -B ; aos vectores próprios corres-
pondentes, que tenham norma ", daremos o nome de vectores tangentes prin-
cipais, chamando-se direcções principais às respectivas direcções ou, o que é
equivalente, às rectas vectoriais geradas por aqueles vectores.
Se trocarmos a escolha da normal unitária 8tB , sabemos que a correspondente
aplicação linear de Weingarten vem multiplicada por ", de onde se deduz
trivialmente que as curvaturas principais vêm também multiplicadas por " e
que os vectores tangentes principais e as direcções principais não são altera-
das.
Se nos lembrarmos que a curvatura normal sinalizada de Q no ponto B, na
direcção do vector ? − XB ÐQ Ñ, com m?m œ ", é dada por Ø-B Ð?Ñß ?Ù,
concluímos, do que se viu em III.5.13, que, se a curvatura normal sinalizada
na direcção de ? for máxima ou mínima (relativamente aos diferentes
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 249

vectores de norma " de XB ÐQ Ñ), então ? é um vector tangente principal e


que, em geral, se ? é um vector tangente principal, a curvatura principal
correspondente é igual à curvatura normal sinalizada na direcção de ?.
III.5.17 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8  ", Q § I uma
hipersuperfície, B − Q e 8tB uma das normais unitárias a Q no ponto B.
Tendo em conta o que vimos em III.5.14, o espaço vectorial tangente XB ÐQ Ñ
admite uma base ortonormada A" ß á ß A8 , constituída por vectores tangentes
principais, com as correspondentes curvaturas principais 5" ß á ß 58 iguais às
curvaturas normais sinalizadas nas respectivas direcções.
Tendo em conta o que se disse em III.5.15, 5" ß á ß 58 são as únicas
curvaturas principais de Q no ponto B e, além disso, no caso em que aqueles
8 números reais são todos distintos (isto é quando Q admite em B 8
curvaturas principais distintas), os únicos vectores tangentes principais vão
ser os B4 e os B4 , havendo, em consequência, 8, e só 8, direcções
principais, as quais vão ser ortogonais duas a duas.
Dá-se o nome de pontos umbílicos de Q aos pontos B − Q que não
admitem mais do que uma curvatura principal ou, o que é equivalente,
àqueles onde todas as direcções são principais.
III.5.18 É claro que, no caso em que o espaço euclidiano ambiente I tem
dimensão #, a hipersuperfície Q § I vai ser uma curva e vai ter em cada
ponto B uma única curvatura principal, igual à curvatura sinalizada 5B , a
direcção principal correspondente sendo o próprio XB ÐQ Ñ (cf. III.5.8).
III.5.19 No caso em que o espaço euclidiano ambiente I tem dimensão $, uma
hipersuperfície Q § I é uma variedade de dimensão #, sendo portanto
aquilo a que se chama usualmente uma superfície. Neste caso, e dentro do
espírito do que dissemos em III.5.17, dado B − Q e escolhida uma normal
unitária 8tB , duas situações são possíveis:
a) B é um ponto umbílico de Q e portanto todas as direcções são principais e
com uma mesma curvatura principal, que vai ser portanto a curvatura normal
sinalizada associada a qualquer vector tangente unitário ? − XB ÐQ Ñ.
b) Q admite em B duas curvaturas principais distintas 5"  5# ; essas
curvaturas principais são então as curvaturas normais sinalizadas mínima e
máxima (é costume referi-las simplesmente como a curvatura mínima e a
curvatura máxima) e cada uma delas possui uma única direcção principal, ou
seja, dois, e só dois, vectores tangentes principais, um simétrico do outro.
Estas duas direcções são ortogonais entre si e todas as curvaturas normais
sinalizadas correspondentes a vectores tangente unitários ? com direcção
distinta destas vão estar estritamente entre 5" e 5# (se ela fosse igual a uma
destas duas, então teríamos também um vector tangente principal). É claro
que, se trocássemos a escolha da normal unitária 8tB , a nova curvatura máxi-
ma ia ser simétrica da antiga curvatura mínima e a nova curvatura mínima ia
ser simétrica da antiga curvatura máxima.
No caso de termos um ponto umbílico, também podemos falar de curvatura
máxima e curvatura mínima, considerando que ambas coincidem com a
250 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

curvatura normal sinalizada constante.


É costume definir na teoria da superfícies duas grandezas associadas às
curvaturas principais: A primeira, a curvatura média é simplesmente a média
5" 5#
# entre a curvatura mínima e a curvatura máxima; a segunda a que se
costuma dar o nome de curvatura de Gauss é o produto 5" 5# das curvaturas
mínima e máxima. Esta última vai ter, apesar da aparente artificialidade da
sua definição, e como veremos nas próximas secções, um interesse
geométrico muito especial. Repare-se, desde já, que quando trocamos a
escolha da normal unitária 8tB , a curvatura média vem multiplicada por "
mas a curvatura de Gauss não é alterada.

Vamos terminar esta secção com o estudo da noção de ponto focal que,
como veremos, está intimamente ligada, no caso das hipersuperfícies, às
curvaturas principais.

III.5.20 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8 e Q § I uma variedade


de dimensão 7. Podemos então considerar o fibrado vectorial normal
X ÐQ Ѽ , que é um fibrado vectorial de dimensão 8  7, pelo que o seu
espaço total,
X ÐQ Ѽ œ ÖÐBß AÑ − I ‚ I ± B − Q , A − XB ÐQ Ѽ ×,
é uma variedade de dimensão 7  Ð8  7Ñ œ 8 (cf. III.1.27). Consideremos
a aplicação suave :À X ÐQ Ѽ Ä I definida por :ÐBß AÑ œ B  A, para a
qual se tem evidentemente
H:ÐBßAÑ Ð?ß DÑ œ ?  D ,

para cada Ð?ß DÑ − XÐBßAÑ ÐX ÐQ Ѽ Ñ.


No caso em que A œ !, tem-se, por III.3.20,
XÐBß!Ñ ÐX ÐQ Ѽ Ñ œ XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ѽ ,

pelo que o facto de ter lugar a soma directa I œ XB ÐQ Ñ Š XB ÐQ Ѽ implica


que a aplicação linear H:ÐBß!Ñ À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ѽ Ä I , que está definida
por Ð?ß DÑ È ?  D , vai ser um isomorfismo.
Vamos dizer que um vector A − XB ÐQ Ѽ é uma normal focalizante de Q no
ponto B se a aplicação linear
H:ÐBßAÑ À XÐBßAÑ ÐX ÐQ Ѽ Ñ Ä I

não for um isomorfismo e diremos então que B  A é um ponto focal de Q


no ponto B. O que dissemos atrás mostra-nos portanto que ! nunca é uma
normal focalizante.
III.5.21 (Nota) No caso em que a variedade Q não tem bordo, sabemos que a
variedade X ÐQ Ѽ também não tem bordo pelo que, tendo em conta o
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 251

teorema da função inversa, dizer que A − XB ÐQ Ѽ é uma normal focalizante


em B equivale a dizer que não existe uma vizinhança aberta de ÐBß AÑ em
X ÐQ Ѽ onde a restrição de : seja um difeomorfismo sobre um aberto de I .
Intuitivamente, podemos pensar nos pontos focais de Q em B como sendo
aqueles em que existe a possibilidade de se concentrarem as normais em
pontos próximos de B.81
III.5.22 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8  ", Q § I uma
hipersuperfície, B − Q e 8tB uma das normais unitárias a Q no ponto B.
Tem-se então que as normais focalizantes de Q no ponto B são os vectores
da forma +" 8tB , com o número real + igual a uma das curvaturas principais
não nulas de Q em B. Em particular, não pode haver mais que 8 normais
focalizantes de Q em B.
Dem: Seja A − XB ÐQ Ѽ , portanto A œ ,8tB , para um certo , − ‘. Dizer que
A é uma normal focalizante em B é dizer que a aplicação linear
H:ÐBßAÑ À XÐBßAÑ ÐX ÐQ Ѽ Ñ Ä I , definida por Ð?ß DÑ È ?  D , não é um iso-
morfismo pelo que, uma vez que se trata de uma aplicação linear entre dois
espaços vectoriais com a mesma dimensão 8  ", isso é ainda equivalente a
dizer que existe um elemento não nulo Ð?ß DÑ − XÐBßAÑ ÐX ÐQ Ѽ Ñ tal que
?  D œ !. Dito de outro modo, dizer que A é uma normal focalizante
equivale a dizer que existe ? − XB ÐQ Ñ, não nulo, tal que Ð?ß ?Ñ esteja em
XÐBßAÑ ÐX ÐQ Ѽ Ñ. Mas, se ? − XB ÐQ Ñ, vem também ? − XB ÐQ Ñ œ
¼
XB ÐQ Ѽ pelo que, tendo em conta a caracterização da segunda forma
fundamental apresentada na alínea c) de III.3.19, concluímos que o facto de
Ð?ß ?Ñ estar em XÐBßAÑ ÐX ÐQ Ѽ Ñ é equivalente ao facto de se ter
? œ 2B¼ Ð?ß AÑ, onde 2B¼ é a segunda forma fundamental do fibrado
vectorial X ÐQ Ѽ . Tendo em conta a caracterizção de -B em III.5.5, vemos
que dizer que A œ ,8tB é uma normal focalizante em B é equivalente a dizer
que existe ? Á ! em XB ÐQ Ñ tal que se tenha
? œ ,2B¼ Ð?ß 8tB Ñ œ , -B Ð?Ñ,
"
o que exprime precisamente o facto de se ter , Á ! e de , ser um valor
próprio da aplicação linear de Weingarten -B . …
III.5.23 Vejamos o que se passa no caso particular em que I tem dimensão # e
em que Q § I é uma curva, portanto também uma hipersuperfície. Sejam
B − Q , 8tB uma normal unitária a Q no ponto B, 5t B o vector curvatura e
5B a curvatura sinalizada, definida por 5t B œ 5B 8tB . Tem-se então que a
existência de um ponto focal de Q em B é equivalente à condição de se ter
5t B Á ! e, nesse caso, esse ponto focal é único, sendo igual a

81Se imaginarmos que em cada ponto B de \ existem lançadores de alfinetes apontando


em todas as direcções ortogonais a XB Ð\Ñ, podemos dizer que os pontos focais são
aqueles em que não é muito cómodo ficarmos colocados.
252 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

" 5t B
B 8tB œ B  # .
5B 5B

A este ponto focal costuma-se dar o nome de centro de curvatura de Q no


ponto B e à sua distância a B, igual a "Î5B , dá-se o nome de raio de
curvatura de Q em B.
III.5.24 (Exemplo) Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8   # e seja
W< § I a hipersuperfície esférica de centro ! e raio <  !,
W< œ ÖB − I ± ØBß BÙ œ <# ×,
conjunto que, como sabemos, é uma variedade sem bordo de dimensão
8  ", tendo em cada ponto B o espaço vectorial tangente XB ÐW< Ñ constituído
pelos vectores ? − I tais que Ø?ß BÙ œ !. Para cada B − W< , escolhamos
8tB œ B< como normal unitária positiva. Tendo em conta III.5.6, vemos que a
aplicação linear de Weingarten -B À XB ÐW< Ñ Ä XB ÐW< Ñ está definida por
?
-B Ð?Ñ œ H8tB Ð?Ñ œ  .
<
Esta igualdade mostra-nos que cada ponto B − W< é um ponto umbílico,
tendo "Î< como única curvatura principal. A segunda forma fundamental
2B À XB ÐW< Ñ ‚ XB ÐW< Ñ Ä XB ÐW< Ѽ pode ser determinada agora por aplicação
de III.5.5:
"
2B Ð?ß AÑ œ Ø2B Ð?ß AÑß 8tB Ù8tB œ Ø-B ÐAÑß ?Ù8tB œ  ØAß ?ÙB.
<#

§6. Tensor de curvatura.

III.6.1 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um


fibrado vectorial, com IB § I . Para cada B − E, notemos 1B À I Ä IB a
projecção ortogonal e 2B À XB ÐEÑ ‚ IB Ä IB¼ segunda forma fundamental de
I em B. Para cada B existe então uma aplicação trilinear
VB À XB ÐEÑ ‚ XB ÐEÑ ‚ IB Ä IB ,
a que daremos o nome de tensor de curvatura de I no ponto B, definida por
VB Ð?ß @ß AÑ œ H1B Ð@ÑÐ2B Ð?ß AÑÑ  H 1B Ð?ÑÐ2B Ð@ß AÑÑ.
No caso em que Š œ ‚, esta aplicação é mesmo linear complexa na terceira
variável.
Dem: Sabemos que a aplicação linear H1B Ð@ÑÀ I Ä I aplica IB¼ em IB , de
onde se deduz que H1B Ð@ÑÐ2B Ð?ß AÑÑ pertence a IB . Por simetria dos papéis
§6. Tensor de curvatura 253

de ? e @, vemos também que H1B Ð?ÑÐ2B Ð@ß AÑÑ − IB , o que mostra que
VB Ð?ß @ß AÑ − IB . É evidente que VB , como aplicação
XB ÐEÑ ‚ XB ÐEÑ ‚ IB Ä IB ,
é uma aplicação trilinear. …
III.6.2 Nas condições anteriores, o tensor de curvatura de I no ponto B é
antissimétrico nas duas primeiras variáveis, isto é, verifica a igualdade
VB Ð?ß @ß AÑ œ VB Ð@ß ?ß AÑ.
Em particular, tomando ? œ @,
VB Ð?ß ?ß AÑ œ !.
e portanto, no caso em que XB ÐEÑ tem dimensão ", o tensor de curvatura VB
é identicamente nulo.
Dem: A antissimetria de VB nas duas primeiras variáveis é uma
consequência imediata da definição, sendo também trivial que essa
antissimetria implica a fórmula VB Ð?ß ?ß AÑ œ !. Por fim, supondo que
XB ÐEÑ tem dimensão ", podemos considerar uma base ?! de XB ÐEÑ e então,
dados ?ß @ − XB ÐEÑ e A − IB , tem-se ? œ +?! e @ œ ,?! , portanto
VB Ð?ß @ß AÑ œ +,VB Ð?! ß ?! ß AÑ œ !. …

Para cada B − E, ?ß @ − XB ÐEÑ e A − IB , VB Ð?ß @ß AÑ é um elemento de


IB , que fica portanto determinado se conhecermos os produtos internos
ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ, para todo o D − IB . O resultado que apresentamos em
seguida estabelece uma fórmula importante para este produto interno.

III.6.3 (Fórmula de Gauss) Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermi-


tiano e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I , e notemos 2B as
segundas formas fundamentais e VB os tensores de curvatura. Dados B − E,
?ß @ − XB ÐEÑ e Aß D − IB , tem-se então
ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ œ Ø2B Ð?ß AÑß 2B Ð@ß DÑÙ  Ø2BÐ@ß AÑß 2BÐ?ß DÑÙ .

Dem: O facto de H1B Ð@ÑÀ I Ä I ser uma aplicação linear autoadjunta per-
mite-nos escrever
ØH1B Ð@ÑÐ2B Ð?ß AÑÑß DÙ œ Ø2B Ð?ß AÑß H 1BÐ@ÑÐDÑÙ œ
œ Ø2B Ð?ß AÑß 2B Ð@ß DÑÙ

e portanto também, por simetria dos papéis de ? e @,


ØH1B Ð?ÑÐ2B Ð@ß AÑÑß DÙ œ Ø2B Ð@ß AÑß 2B Ð?ß DÑÙ.
O resultado é assim uma consequência da definição do tensor de curvatura,
se subtrairmos as igualdades precedentes membro a membro. …
254 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.6.4 (Corolário) Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e


I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I . Seja I w § I um
subespaço vectorial contendo todas as fibras IB . Tem-se então que o tensor
de curvatura VB é o mesmo quer ser considere I ou I w como espaço
ambiente das fibras.
Dem: Para verificar que VB Ð?ß @ß AÑ é o mesmo nas duas situações, basta
verificar que isso acontece ao respectivo produto interno por um elemento
D − IB arbitrário e isso é uma consequência da fórmula de Gauss, tendo em
conta III.3.21. …
III.6.5 (Corolário) Nas condições precedentes, tem-se, no caso em que Š œ ‘,
ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ œ ØVB Ð?ß @ß DÑß AÙ,
em particular, tomando A œ D ,
ØVB Ð?ß @ß AÑß AÙ œ !.
Em consequência, no caso em que a fibra IB tem dimensão ", o tensor de
curvatura VB é identicamente nulo.
Dem: A primeira afirmação é uma consequência trivial da fórmula para
ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ obtida no resultado precedente e a segunda afirmação é
claramente uma consequência da primeira. Por fim, e tal como na
demonstração de III.6.2, no caso em que IB tem dimensão " podemos
considerar uma base A! de IB e, dados Aß D − IB , tem-se A œ +A! e
D œ ,A! , pelo que
ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ œ +,ØVB Ð?ß @ß A! Ñß A! Ù œ !
e o facto de D ser um vector arbitrário da fibra IB implica que
VB Ð?ß @ß AÑ œ !. …

Repare-se que, no caso em que Š œ ‚, a conclusão do corolário


precedente seria
ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ œ ØVB Ð?ß @ß DÑß AÙ
pelo que, fazendo A œ D , apenas concluiríamos que ØVB Ð?ß @ß AÑß AÙ é
imaginário puro.

III.6.6 Se o fibrado vectorial I œ ÐIB ÑB−E é constante, isto é, se todas as fibras


IB são iguais a um mesmo subespaço vectorial J de I , então o tensor de
curvatura VB é identicamente nulo.
Dem: Basta atender a que a aplicação que a B associa a projecção ortogonal
1B é constante, pelo que tem derivada nula. …
III.6.7 Seja I um espaço euclidiano de dimensão 8   # e consideremos a hiper-
superfície esférica de centro ! e raio <  !,
§6. Tensor de curvatura 255

W< œ ÖB − I ± ØBß BÙ œ <# ×.


Vimos no exemplo III.5.24 que a segunda forma fundamental
2B À XB ÐW< Ñ ‚ XB ÐW< Ñ Ä XB ÐW< Ѽ
está definida por
"
2B Ð?ß AÑ œ  ØAß ?ÙB,
<#
pelo que, aplicando a fórmula de Gauss, obtemos, para o tensor de curvatura
VB À XB ÐW< Ñ ‚ XB ÐW< Ñ ‚ XB ÐW< Ñ Ä XB ÐW< Ñ,

ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ œ Ø2B Ð?ß AÑß 2B Ð@ß DÑÙ  Ø2BÐ@ß AÑß 2BÐ?ß DÑÙ œ
"
œ # ÐØAß ?ÙØDß @Ù  ØAß @ÙØDß ?ÙÑ œ
<
œ   # ÐØAß ?Ù@  ØAß @Ù?Ñ ß D ¡,
"
<
o que, tendo em conta o facto de o primeiro factor deste último produto
interno estar em XB ÐW< Ñ, implica que
"
VB Ð?ß @ß AÑ œ ÐØAß ?Ù@  ØAß @Ù?Ñ.
<#
Constatamos, em particular, que, no caso em que 8   $, VB não é nulo, mais
precisamente, para cada A Á ! em XB ÐW< Ñ, existem ?ß @ tais que
VB Ð?ß @ß AÑ Á !, por exemplo ? œ A e @ não nulo e ortogonal a ? (o espaço
vectorial tangente tem dimensão 8  "   #).
III.6.8 Sejam E § K, E s§K s e 0À Es Ä E uma aplicação suave. Sejam I um
espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com
IB § I , e notemos V e V s os tensores de curvatura de I e do fibrado
vectorial imagem recíproca 0 ‡ I , respectivamente. Tem-se então, para cada
C−E s, ?ß @ − XC ÐEÑ
s e A − Ð0 ‡ IÑC œ I0 ÐCÑ ,

s C Ð?ß @ß AÑ œ V0 ÐCÑ ÐH0C Ð?Ñß H0C Ð@Ñß AÑ.


V

Dem: Trata-se de uma consequência imediata da definição, desde que se


utilize o teorema de derivação da função composta e a fórmula para a
s de0 ‡ I , obtida em III.3.13.
segunda forma fundamental 2 …

Lembremos que a derivada covariante de secções dum fibrado vectorial,


definida em III.3.1, vai jogar o mesmo papel que a derivada usual, no
quadro das funções com valores num espaço vectorial, isto é, das secções
dum fibrado vectorial constante. O resultado que se segue mostra que a
curvatura aparece como um factor correctivo para que o análogo da
256 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

fórmula apresentada em III.3.26 seja válido no quadro da derivação


covariante. Vamos utilizar as notações introduzidas em III.3.6.

III.6.9 Sejam Q § K uma variedade82, I um espaço euclidiano ou hermitiano e


I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, e seja, para cada B − Q ,
VB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ ‚ IB Ä IB
o respectivo tensor de curvatura. Se [ é uma secção de I e se \ e ] são
dois campos vectoriais sobre Q , notemos VÐ\ß ] ß [ Ñ a secção de I , que a
cada B − Q associa VB Ð\B ß ]B ß [B Ñ. Dados os campos vectoriais suaves \
e ] sobre Q e a secção suave [ de I , tem-se então
fÒ\ß] Ó [ œ f\ f] [  f] f\ [  VÐ\ß ] ß [ Ñ.

Dem: Seja [s um prolongamento suave de [ a um aberto de K contendo


Q . Uma vez que se tem
s B Ð]B ÑÑ,
Ðf] [ ÑB œ f[B Ð]B Ñ œ 1B ÐH[B Ð]B ÑÑ œ 1B ÐH[
obtemos, pela regra de Leibnitz,
HÐf] [ ÑB Ð\B Ñ œ H1B Ð\B ÑÐH[B Ð]B ÑÑ 
 1B ÐH# [s B Ð\B ß ]B ÑÑ  1B ÐH[
s B ÐH]B Ð\B ÑÑÑ

donde
Ðf\ f] [ ÑB œ 1B ÐHÐf] [ ÑB Ð\B ÑÑ œ
œ 1B ÐH1B Ð\B ÑÐH[B Ð]B ÑÑÑ 
œ  1B ÐH# [s B Ð\B ß ]B ÑÑ  1B ÐH[
s B ÐH]B Ð\B ÑÑÑ.

Do mesmo modo,
Ðf] f\ [ ÑB œ 1B ÐH1B Ð]B ÑÐH[B Ð\B ÑÑÑ 
œ  1B ÐH# [s B Ð]B ß \B ÑÑ  1B ÐH[
s B ÐH\B Ð]B ÑÑÑ.

s B e uma vez que


Tendo em conta a simetria da aplicação bilinear H# [
ÐfÒ\ß] Ó [ ÑB œ 1B ÐH[B ÐH]B Ð\B Ñ  H\B Ð]B ÑÑÑ œ
s B ÐH]B Ð\B ÑÑÑ  1B ÐH[
œ 1B ÐH[ s B ÐH\B Ð]B ÑÑÑ,

obtemos, a partir das três igualdades anteriores,


ÐfÒ\ß] Ó [ ÑB œ Ðf\ f] [ ÑB  Ðf] f\ [ ÑB 
œ  1B ÐH1B Ð]B ÑÐH[B Ð\B ÑÑÑ  1B ÐH1B Ð\B ÑÐH[B Ð]B ÑÑÑ.

82A razão por que exigimos aqui que a base seja uma variedade está em que só nesse
quadro definimos o parêntesis de Lie de dois campos vectoriais suaves.
§6. Tensor de curvatura 257

Tendo em conta a definição do tensor de curvatura, vemos que, para demons-


trar o nosso resultado, será suficiente verificarmos que se tem
1B ÐH1B Ð]B ÑÐH[B Ð\B ÑÑÑ œ H1B Ð]B ÑÐ2B Ð\B ß [B ÑÑ,
1B ÐH1B Ð\B ÑÐH[B Ð]B ÑÑÑ œ H1B Ð\B ÑÐ2B Ð]B ß [B ÑÑ,
bastando demonstrar a primeira fórmula, visto que a segunda se obtém a
partir desta por troca dos papéis dos campos vectoriais \ e ] . Ora, tendo em
conta a caracterização da derivada covariante dada em III.3.14, tem-se
H[B Ð\B Ñ œ f[B Ð\B Ñ  2B Ð\B ß [B Ñ,
com f[B Ð\B Ñ − IB e 2B Ð\B ß [B Ñ − IB¼ , pelo que, uma vez que H1B Ð]B Ñ
aplica IB em IB¼ e IB¼ em IB , sai
H1B Ð]B ÑÐH[B Ð\B ÑÑ œ H1B Ð]B ÑÐf[B Ð\B ÑÑ 
œ  H1B Ð]B ÑÐ2B Ð\B ß [B ÑÑ,
com H1B Ð]B ÑÐf[B Ð\B ÑÑ − IB¼ e H1B Ð]B ÑÐ2B Ð\B ß [B ÑÑ − IB , o que
implica que a segunda parcela do segundo membro é a projecção ortogonal
sobre IB do primeiro membro da igualdade. …

Sabemos que, numa variedade conexa, as funções que têm derivada nula
em todos os pontos são exactamente as funções constantes. Em geral,
quando a variedade domínio pode não ser conexa, as suas componentes
conexas são abertas, logo variedades pelo que as funções que têm
derivada nula são aquelas que são constantes sobre cada componente
conexa, ou, o que é equivalente, as que são localmente constantes. Se em
vez de funções tivermos secções dum fibrado vectorial, com as fibras
contidas num espaço euclidiano, não haverá muitas esperanças de ter
secções interessantes que sejam constantes, ou localmente constantes,
uma vez que as fibras variam de ponto para ponto. É natural tentar
portanto apresentar uma noção de secção que seja, tanto quanto possível,
localmente constante. São essas as secções paralelas que definimos em
seguida.

III.6.10 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E


um fibrado vectorial, com IB § I . Diz-se que uma secção suave
[ œ Ð[B ÑB−E de I é paralela se, quaisquer que sejam B − E e ? − XB ÐEÑ,
tem-se f[B Ð?Ñ œ !. É claro que as secções localmente constantes, por
exemplo a secção identicamente nula, são paralelas, por terem derivada
identicamente nula e, em consequência, também derivada covariante
identicamente nula.
III.6.11 (Exemplo) Consideremos em ‘# o produto interno usual e seja W § ‘#
a circunferência de centro 0 e raio ",
W œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B#  C # œ "×.
258 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Podemos então considerar uma secção suave [ do fibrado vectorial tangente


X ÐWÑ œ ÐXÐBßCÑ ÐWÑÑÐBßCÑ−W , definida por
[ÐBßCÑ œ ÐCß BÑ.

Não se trata, evidentemente, de uma secção constante, mas é, no entanto,


uma secção paralela. Com efeito, uma vez que [ÐBßCÑ gera o espaço vectorial
tangente XÐBßCÑ ÐWÑ, tudo o que temos que verificar é que se tem
f[ÐBßCÑ Ð[ÐBßCÑ Ñ œ ! e isso é uma consequência de se ter, para a derivada
usual, H[ÐBßCÑ Ð[ÐBßCÑ Ñ œ ÐBß CÑ, que é ortogonal ao espaço vectorial tan-
gente.

Poderíamos ser levados a pensar, por analogia com o que se passa com as
secções de derivada nula dos fibrados vectoriais constantes, que, fixado A
numa certa fibra IB dum fibrado vectorial I , existisse sempre uma
secção paralela de I que, no ponto B, tomasse o valor A, e que, no caso
em que a base Q fosse uma variedade conexa, tal secção seria única. A
afirmação de unicidade é verdadeira, embora só possa ser estabelecida
depois de se estudarem as equações diferenciais ordinárias sobre as
variedades. Já quanto à existência, e salvo certos casos particulares que
estudaremos mais tarde, ela não pode ser garantida. O tensor de curvatura
é como vamos ver, uma obstrução à existência de secções paralelas.

III.6.12 Sejam Q § K uma variedade, I um espaço euclidiano ou hermitiano e


I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com IB § I . Sejam B! − Q e A − IB! ,
tais que exista uma secção paralela [ œ Ð[B ÑB−Q de I , com [B! œ A.
Tem-se então que VB! Ð?ß @ß AÑ œ !, quaisquer que sejam ?ß @ − XB! ÐQ Ñ.83
Dem: Aplicando III.1.20 ao fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ, podemos con-
siderar secções suaves \ e ] de X ÐQ Ñ, tais que \B! œ ? e ]B! œ @. O facto
de [ ser uma secção paralela implica que se tem f\ f] [ œ !,
f] f\ [ œ ! e fÒ\ß] Ó [ œ !, pelo que a fórmula estabelecida em III.6.9
implica que VÐ\ß ] ß [ Ñ œ !, em particular, tomando o valor em B! ,
VB! Ð?ß @ß AÑ œ !. …

No caso em que o fibrado vectorial com que trabalhamos é o fibrado


tangente a uma variedade, o tensor de curvatura verifica ainda as
seguintes identidades.

III.6.13 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma variedade. Tem-se então


que o tensor de curvatura VB do fibrado tangente X ÐQ Ñ (dizemos também
que VB é o tensor de curvatura de Q ) verifica

83Não espanta portanto que os exemplos que já obtivémos de secções paralelas, as


secções constentes de um fibrado vectorial constante e uma secção do fibrado tangente
duma circunferência, tenham aparecido em situações em que o tensor de curvatura é nulo.
§6. Tensor de curvatura 259

ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ œ ØVB ÐAß Dß ?Ñß @Ù,


quaisquer que sejam ?ß @ß Aß D − XB ÐQ Ñ, assim como a identidade de Jacobi
VB Ð?ß @ß AÑ  VB Ð@ß Aß ?Ñ  VB ÐAß ?ß @Ñ œ !,
quaisquer que sejam ?ß @ß A − XB ÐQ Ñ.
Dem: A primeira identidade é uma consequência imediata da fórmula de
Gauss para ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ (cf. III.6.3), se tivermos em conta a simetria da
segunda forma fundamental 2B . A mesma fórmula permite-nos escrever,
quaisquer que sejam os vectores ?ß @ß Aß D − XB ÐQ Ñ,
ØVB Ð?ß @ß AÑ  VB Ð@ß Aß ?Ñ  VB ÐAß ?ß @Ñß D Ù œ
œ Ø2B Ð?ß AÑß 2B Ð@ß DÑÙ  Ø2B Ð@ß AÑß 2BÐ?ß DÑÙ  Ø2BÐ@ß ?Ñß 2 BÐAß DÑÙ 
 Ø2B ÐAß ?Ñß 2B Ð@ß DÑÙ  Ø2B ÐAß @Ñß 2BÐ?ß DÑÙ  Ø2B Ð?ß @Ñß 2B ÐAß DÑÙ œ !,
onde tivemos mais uma vez em conta a simetria da aplicação bilinear 2B . A
arbitrariedade de D − XB ÐQ Ñ implica então a segunda identidade do enun-
ciado. …

No caso em que Q é uma curva, cada espaço vectorial tangente XB ÐQ Ñ


tem dimensão " pelo que, como vimos atrás, o tensor de curvatura VB do
fibrado tangente é identicamente nulo. O resultado que apresentamos em
seguida, e que é de importância central na teoria das superfícies, mostra
que, quando Q é uma superfície num espaço euclidiano de dimensão $, o
conhecimento do tensor de curvatura é equivalente ao conhecimento da
curvatura de Gauss, definida em III.5.19.

III.6.14 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8 e Q § I uma variedade


de dimensão 8  ". Seja B − Q , para o qual se escolheu uma das normais
unitárias Ä
8 B e a correspondente aplicação linear de Weingarten -B À XB ÐQ Ñ
Ä XB ÐQ Ñ. Tem-se então, para ?ß @ß A − XB ÐQ Ñ,
VB Ð?ß @ß AÑ œ ØAß -B Ð?ÑÙ-B Ð@Ñ  ØAß -B Ð@ÑÙ-B Ð?Ñ.
No caso em que 8 œ $, sendo 5B a curvatura de Gauss de Q em B,
VB Ð?ß @ß AÑ œ 5B ÐØAß ?Ù@  ØAß @Ù?Ñ,
em particular, a curvatura de Gauss 5B é igual a ØVB Ð?ß @ß ?Ñß @Ù, qualquer
que seja a base ortonormada ?ß @ de XB ÐQ Ñ.
Dem: Qualquer quer seja D − XB ÐQ Ñ, podemos escrever, tendo em conta
III.6.3 e III.5.5,
ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ œ Ø2B Ð?ß AÑß 2BÐ@ß DÑÙ  Ø2BÐ@ß AÑß 2 BÐ?ß DÑÙ œ
œ Ø-B Ð?Ñß AÙØ-B Ð@Ñß DÙ  Ø-B Ð@Ñß AÙØ-BÐ?Ñß DÙ œ
œ ØØ-B Ð?Ñß AÙ-B Ð@Ñ  Ø-B Ð@Ñß AÙ-B Ð?Ñ ß DÙ,
260 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

donde, tendo em conta a arbitrariedade de D − XB ÐQ Ñ,


VB Ð?ß @ß AÑ œ ØAß -B Ð?ÑÙ-B Ð@Ñ  ØAß -B Ð@ÑÙ-B Ð?Ñ
(cf. I.2.9).
Suponhamos agora que 8 œ $ e consideremos uma base ortonormada A" ß A#
de XB ÐQ Ñ, constituída por vectores tangentes principais, tendo-se portanto
-B ÐA" Ñ œ 5" A" e -B ÐA# Ñ œ 5# A# , onde 5" e 5# são as curvaturas principais
correspondentes. A curvatura de Gauss é assim definida por 5B œ 5" 5# .
Tem-se então
VB ÐA" ß A# ß AÑ œ ØAß -B ÐA" ÑÙ-B ÐA# Ñ  ØAß -BÐA#ÑÙ-BÐA"Ñ œ
œ 5" 5# ÐØAß A" ÙA#  ØAß A# ÙA" Ñ,

que não é mais do que a fórmula a demonstrar no caso particular em que


? œ A" e @ œ A# . Sendo agora ?ß @ arbitrários, vem
? œ +" A "  + # A # , @ œ , " A "  , # A # ,

portanto, lembrando as propriedades do tensor de curvatura em III.6.2,


VB Ð?ß @ß AÑ œ +" ," VB ÐA" ß A" ß AÑ  +" ,# VB ÐA" ß A# ß AÑ 
œ  +# ," VB ÐA# ß A" ß AÑ  +# ,# VB ÐA# ß A# ß AÑ œ
œ Ð+" ,#  +# ," ÑVB ÐA" ß A# ß AÑ œ
œ 5B Ð+" ,#  +# ," ÑÐØAß A" ÙA#  ØAß A# ÙA" Ñ.

Por outro lado, tem-se


ØAß ?Ù@  ØAß @Ù? œ +" ," ØAß A" ÙA"  +" ,# ØAß A"ÙA# 
œ  +# ," ØAß A# ÙA"  +# ,# ØAß A# ÙA# 
œ  ," +" ØAß A" ÙA"  ," +# ØAß A" ÙA# 
œ  ,# +" ØAß A# ÙA"  ,# +# ØAß A# ÙA# œ
œ Ð+" ,#  +# ," ÑÐØAß A" ÙA#  ØAß A# ÙA" Ñ,

o que, comparado com a conclusão anterior, dá


VB Ð?ß @ß AÑ œ 5B ÐØAß ?Ù@  ØAß @Ù?Ñ.
Em particular, se ?ß @ é uma base ortonormada de XB ÐQ Ñ, vemos que se tem
VB Ð?ß @ß ?Ñ œ 5B @, e portanto ØVB Ð?ß @ß ?Ñß @Ù œ 5B Þ …
§7. Invariância por isometria. Teorema Egrégio 261

§7. Invariância por isometria. Teorema Egrégio.

Quando temos duas variedades Q § I e Q s §I s , e um difeomorfismo


s
0 À Q Ä Q , pode-se, em geral, definir de modo natural uma correspon-
dência biunívoca associada entre estruturas geométricas dum certo tipo
sobre Q e estruturas geométricas do mesmo tipo sobre Q s . Entre as
estruturas geométricas mais simples a que se podem aplicar estas
observações estão os campos vectoriais. Antes de definirmos o método de
associar a um campo vectorial sobre Q um campo vectorial sobre Q s,
começamos por tratar uma situação mais geral em que não precisamos de
nos colocar no quadro dos difeomorfismos.

III.7.1 Sejam Q § I , Q s §I s duas variedades e 0 À Q Ä Q s uma aplicação


suave. Dados os campos vectoriais \ œ Ð\B ÑB−Q , sobre Q , e
\s œ Ð\s C Ñ s , sobre Qs , diz-se que \ e \
s são 0 -relacionados se se tem,
C−Q
s
para cada B − Q , \ 0 ÐBÑ œ H0B Ð\B Ñ.
III.7.2 (Functorialidade) Sejam Q § I , Q s §I s e Q˜ § I˜ três variedades e
0À Q Ä Q s Ä Q˜ duas aplicações suaves. Sejam \ œ Ð\B ÑB−Q ,
s e 1À Q
\s œ Ð\ s C Ñ s e \˜ œ Ð\˜ D ÑD−Q˜ campos vectoriais tais que \ e \ s sejam
C−Q
0 -relacionados e \ s e \˜ sejam 1-relacionados. Tem-se então que \ e \˜ são
Ð1 ‰ 0 Ñ-relacionados. Além disso, \ e \ são M.Q -relacionados.
Dem: Trata-se de uma consequência imediata de HÐM.Q ÑB ser a identidade
de XB ÐQ Ñ e de se ter HÐ1 ‰ 0 ÑB œ H10 ÐBÑ ‰ H0B . …

III.7.3 Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades e 0 À Q Ä Q s um difeo-


morfismo. Se \ œ Ð\B ÑB−Q é um campo vectorial sobre Q , existe um, e um
só, campo vectorial \s œ Ð\ s C Ñ s sobre Q s , tal que \ e \
s sejam 0 -rela-
C−Q
cionados, tendo-se então que \ s e \ são 0 -relacionados. Além disso, se \
"

fosse suave, o mesmo ia acontecer a \s.


Dem: A unicidade de \ s resulta de que, a existir um campo vectorial nessas
condições, não poderia deixar de se ter
sC œ \
\ s 0 Ð0 " ÐCÑÑ œ H00 " ÐCÑ Ð\0 " ÐCÑ Ñ,

para cada C − Q s . Quanto à existência, podemos definir, para cada C − Q s,


\s C − XC ÐQ
s Ñ pela igualdade acima, tendo-se então que \s œ Ð\ s C Ñ s é um
C−Q
s
campo vectorial sobre Q e a igualdade
s 0 ÐBÑ œ H0B Ð\B Ñ,
\
262 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

obtida por substituição naquela de C por 0 ÐBÑ, mostra que \ e \ s são


0 -relacionados. Supondo que \ é suave, podemos considerar um aberto Y
s , prolongando 0 ; tem-se
de I , contendo Q , e uma aplicação suave 0 À Y Ä I
s
então que H0 À Y Ä PÐIà IÑ é uma aplicação suave, pelo que a identidade
s C œ H0 0 " ÐCÑ Ð\0 " ÐCÑ Ñ
\

e a suavidade de 0 " mostram-nos que o campo vectorial \ s sobre Qs é


também suave. Para terminar, podemos considerar o campo vectorial ] sobre
Q tal que \s e ] sejam 0 " -relacionados, tendo-se então que \ e ] são
campos vectoriais M.Q -relacionados sobre Q , o que implica que se tem
\ œ ]. …
III.7.4 Nas condições precedentes diz-se que \ s é o campo vectorial sobre Q s
que corresponde ao campo vectorial \ sobre Q por meio do difeomorfismo
0À Q Ä Q s (ou que \s é obtido a partir de \ por transporte por meio de 0 ).

III.7.5 Sejam Q § I e Q s §I
s duas variedades e 0 À Q Ä Q s uma aplicação
suave. Sejam \ e ] dois campos vectoriais suaves sobre Q e \ se] s dois
campos vectoriais suaves sobre Q s tais que \ e \
s sejam 0 -relacionados e
que ] e ] s sejam 0 -relacionados. Tem-se então que os parêntesis de Lie
s ]
Ò\ß ] Ó e Ò\ß s Ó são também 0 -relacionados.
Dem: Sejam Y um aberto de I , com Q § Y , e 0 À Y Ä I um prolonga-
mento suave de 0 . Para cada B − Q , tem-se
s 0 ÐBÑ œ H0B Ð]B Ñ œ H0 B Ð]B Ñ,
]

pelo que, derivando ambos os membros no ponto B, na direcção de


\B − XB ÐQ Ñ, obtemos
s 0 ÐBÑ ÐH0B Ð\B ÑÑ œ H# 0 B Ð\B ß ]B Ñ  H0 B ÐH]B Ð\B ÑÑ,
H]

ou seja,
s 0 ÐBÑ Ð\
H] s 0 ÐBÑ Ñ œ H# 0 B Ð\B ß ]B Ñ  H0 B ÐH]B Ð\B ÑÑ.

Trocando os papéis de \ e ] , tem-se também


s 0 ÐBÑ Ð]
H\ s 0 ÐBÑ Ñ œ H# 0 B Ð]B ß \B Ñ  H0 B ÐH\B Ð]B ÑÑ,

pelo que, subtraindo membro a membro as duas igualdades anteriores e tendo


em conta a simetria de H# 0 B , obtemos
s ]
Ò\ß s Ó0 ÐBÑ œ H]
s 0 ÐBÑ Ð\
s 0 ÐBÑ Ñ  H\
s 0 ÐBÑ Ð]
s 0 ÐBÑ Ñ œ
œ H0 B ÐH]B Ð\B Ñ  H\B Ð]B ÑÑ œ
œ H0B ÐÒ\ß ] ÓB Ñ. …
§7. Invariância por isometria. Teorema Egrégio 263

III.7.6 (Corolário) Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades e 0 À Q Ä Q s um


difeomorfismo. Dados os campos vectoriais suaves \ e ] , sobre Q , com os
correspondentes campos vectoriais \s e ]
s , sobre Qs , tem-se que o campo
s
vectorial sobre Q correspondente ao campo vectorial Ò\ß ] Ó, sobre Q , é
s ]
Ò\ß s Ó.

O corolário precedente pode ser enunciado sugestivamente, dizendo que o


parêntesis de Lie de campos vectoriais é uma operação invariante por
difeomorfismo. Repare-se que o parêntesis de Lie Ò\ß ] Ó é definido por
H] Ð\Ñ  H\Ð] Ñ, mas estas parcelas não podem ser olhadas como inva-
riantes por difeomorfismo, na medida em que os seus valores em cada
ponto nem sequer são vectores tangentes.
Vamos ter ocasião de verificar agora que certas construções geométricas
que já conhecemos no quadro das variedades contidas num espaço eucli-
diano, não sendo invariantes por difeomorfismos arbitrários, são-no por
certos difeomorfismos particulares, as isometrias.

III.7.7 Sejam I e Is espaços euclidianos, Q § I e Q s §I s duas variedades e


s
0 À Q Ä Q um difeomorfismo. Diz-se que 0 é uma isometria, ou um
difeomorfismo isométrico se, para cada B − Q , o isomorfismo
s Ñ é um isomorfismo ortogonal, isto é, verifica
H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ
ØH0B Ð?Ñß H0B Ð@ÑÙ œ Ø?ß @Ù,
quaisquer que sejam ?ß @ − XB ÐQ Ñ.

Intuitivamente, as isometrias podem ser olhadas como transformações que


não comportam deformações intrínsecas, transformações que podem
curvar a variedade dentro dos espaços ambientes, mas não esticam nem
comprimem. Esta imagem intuitiva fica mais clara se considerarmos o
conceito de comprimento de um caminho !À Ò+ß ,Ó Ä Q , que é, por
definição,

compÐ!Ñ œ ( m!w Ð>Ñm .>.


,

Pode verificar-se que o difeomorfismo 0 À Q Ä Qs é uma isometria se, e


só se, para cada caminho !À Ò+ß ,Ó Ä Q , se tem, para o correspondente
caminho 0 ‰ !À Ò+ß ,Ó Ä Qs,

compÐ0 ‰ !Ñ œ compÐ!Ñ
(a condição necessária é imediata e a condição suficiente não é difícil, no
caso das variedades sem bordo, se tivermos em conta I.2.30 e o facto de a
derivada do integral indefinido ser a função integranda; o caso geral pode
obter-se a partir daquele por um argumento de passagem ao limite no
bordo).
264 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.7.8 (Versão do teorema fundamental da geometria de Riemann) Sejam I


eI s espaços euclidianos, Q § I e Q s §I s duas variedades e 0 À Q Ä Q s
um difeomorfismo isométrico. Sejam \ e ] campos vectoriais suaves sobre
Q e\ s e]s os campos vectoriais correspondentes sobre Q s . Tem-se então
s
que o campo vectorial sobre Q correspondente ao campo vectorial derivada
s .84
covariante f\ ] , sobre Q , é o campo vectorial f\s ]
Dem: Consideremos outro campo vectorial suave arbitrário ^ sobre Q , e
s o campo vectorial correspondente sobre Q
seja ^ s . Para cada B − Q , de H0B
ser uma isometria linear deduzimos que
s 0 ÐBÑ ß ]
Ø\ s 0 ÐBÑ Ù œ ØH0B Ð\B Ñß H0B Ð]B ÑÙ œ Ø\B ß ]B Ù,

pelo que, derivando ambos os membros em B, na direcção de ^B , obtemos,


s 0 ÐBÑ ,
tendo em conta a alínea c) de III.3.4 e o facto de se ter H0B Ð^B Ñ œ ^

Øf\s 0 ÐBÑ Ð^
s 0 ÐBÑ Ñß ]
s 0 ÐBÑ Ù  Ø\
s 0 ÐBÑ ß f]
s 0 ÐBÑ Ð^
s 0 ÐBÑ ÑÙ œ
œ Øf\B Ð^B Ñß ]B Ù  Ø\B ß f]B Ð^B ÑÙ.
Tendo em conta III.3.24, podemos escrever
f]B Ð^B Ñ œ f^B Ð]B Ñ  Ò] ß ^ÓB
e, do mesmo modo,
s 0 ÐBÑ Ð^
f] s 0 ÐBÑ Ñ œ f^
s 0 ÐBÑ Ð]
s 0 ÐBÑ Ñ  Ò]
s ß ^Ó
s 0 ÐBÑ

pelo que, substituindo estas duas igualdades na igualdade precedente e tendo


em conta que, por III.7.6, Ò] s ß ^Ó
s 0 ÐBÑ œ H0B ÐÒ] ß ^ÓB Ñ, donde também
s s s
Ø\ 0 ÐBÑ ß Ò] ß ^Ó0 ÐBÑ Ù œ Ø\B ß Ò] ß ^ÓB Ù, obtemos

Øf\s 0 ÐBÑ Ð^
s 0 ÐBÑ Ñß ]
s 0 ÐBÑ Ù  Ø\
s 0 ÐBÑ ß f^
s 0 ÐBÑ Ð]
s 0 ÐBÑ ÑÙ œ
œ Øf\B Ð^B Ñß ]B Ù  Ø\B ß f^B Ð]B ÑÙ.
Por permutação circular dos papéis de \ , ] e ^ , obtemos sucessivamente
Øf]s 0 ÐBÑ Ð\
s 0 ÐBÑ Ñß ^
s 0 ÐBÑ Ù  Ø]
s 0 ÐBÑ ß f\
s 0 ÐBÑ Ð^
s 0 ÐBÑ ÑÙ œ
œ Øf]B Ð\B Ñß ^B Ù  Ø]B ß f\B Ð^B ÑÙ,

Øf^s 0 ÐBÑ Ð]
s 0 ÐBÑ Ñß \
s 0 ÐBÑ Ù  Ø^
s 0 ÐBÑ ß f]
s 0 ÐBÑ Ð\
s 0 ÐBÑ ÑÙ œ
œ Øf^B Ð]B Ñß \B Ù  Ø^B ß f]B Ð\B ÑÙ.
Multipliquemos ambos os membros da antepenúltima desigualdade por " e

84Repare-se que este resultado não é a priori evidente, visto que a derivada covariante é
definida através da derivada usual e das projecções ortogonais do espaço ambiente sobre
os espaços tangentes, noções relativamente às quais não faz sentido falar de invariância
por difeomorfismo ou por isometria.
§7. Invariância por isometria. Teorema Egrégio 265

somemos membro a membro a igualdade assim obtida com cada uma das
duas últimas igualdades. Obtemos então
s 0 ÐBÑ Ð\
#Øf] s 0 ÐBÑ Ñß ^
s 0 ÐBÑ Ù œ #Øf]B Ð\B Ñß ^B Ù.

Tendo em conta, mais uma vez, o facto de H0B ser uma isometria linear, a
igualdade anterior implica que
s 0 ÐBÑ Ð\
Øf] s 0 ÐBÑ Ñß ^
s 0 ÐBÑ Ù œ ØH0B Ðf]B Ð\B ÑÑß ^
s 0 ÐBÑ Ù.

Ora, dado A s Ñ arbitrário, vem A


s − X0 ÐBÑ ÐQ s œ H0B ÐAÑ, para um certo
A − XB ÐQ Ñ e podemos considerar um campo vectorial ^ sobre Q , com
^B œ A, vindo portanto também, para o correspondente campo vectorial ^ s
s, ^
sobre Q s 0 ÐBÑ œ A
s . Concluímos assim que, para A
s − X0 ÐBÑ
s
ÐQ Ñ arbitrário,
s 0 ÐBÑ Ð\
Øf] s 0 ÐBÑ Ñß AÙ s,
s œ ØH0B Ðf]B Ð\B ÑÑß AÙ

o que implica finalmente que


s 0 ÐBÑ Ð\
f] s 0 ÐBÑ Ñ œ H0B Ðf]B Ð\B ÑÑ. …

A invariância por isometria da derivação covariante de campos vectoriais


vai arrastar a invariância por isometria do tensor de curvatura duma varie-
dade.

III.7.9 Sejam Q § I e Q s §I
s duas variedades e 0 À Q Ä Q
s um difeomor-
fismo isométrico. Sejam
VB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ
e
s 0 ÐBÑ À X0 ÐBÑ ÐQ
V s Ñ ‚ X0 ÐBÑ ÐQ
s Ñ ‚ X0 ÐBÑ ÐQ
s Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ

s , no ponto 0 ÐBÑ. Tem-se


os tensores de curvatura de Q , no ponto B, e de Q
então, quaisquer que sejam ?ß @ß A − XB ÐQ Ñ,
s 0 ÐBÑ ÐH0B Ð?Ñß H0B Ð@Ñß H0B ÐAÑÑ.
H0B ÐVB Ð?ß @ß AÑÑ œ V

Dem: Consideremos campos vectoriais suaves \ß ] ß ^ , sobre Q , tais que


\B œ ?, ]B œ @ e ^B œ A, tendo-se então que os correspondentes campos
s ]
vectoriais \ß sß^ s , sobre Q s , vão verificar as igualdades \s 0 ÐBÑ œ H0B Ð?Ñ,
s s
] 0 ÐBÑ œ H0B Ð@Ñ e ^ 0 ÐBÑ œ H0B ÐAÑ. Tendo em conta o resultado precedente,
sabemos que ao campo vectorial f] ^ , sobre Q , corresponde o campo
s , sobre Q
vectorial f]s ^ s , e portanto que ao campo vectorial f\ f] ^ , sobre
Q , corresponde o campo vectorial f\s f]s ^ s , sobre Q
s . Do mesmo modo, aos
266 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

campos vectoriais f] f\ ^ e fÒ\ß] Ó ^ , sobre Q , correspondem os campos


s ef ss ^
vectoriais f]s f\s ^ s s
Ò\ß] Ó , sobre Q , neste último caso tendo em conta o
facto de o campo vectorial Ò\ßs ]s Ó, sobre Q
s , ser o correspondente ao campo
vectorial Ò\ß ] Ó, sobre Q . Podemos agora utilizar a fórmula obtida em
III.6.9 para escrever
H0B ÐVB Ð?ß @ß AÑÑ œ
œ H0B ÐÐf\ f] ^ÑB Ñ  H0B ÐÐf] f\ ^ÑB Ñ  H0B ÐÐfÒ\ß] Ó ^ÑB Ñ œ
œ Ðf s fs ^Ñ s 0 ÐBÑ  Ðfs f s ^Ñ
s 0 ÐBÑ  Ðf s s ^Ñ
s 0 ÐBÑ œ
\ ] ] \ Ò\ß] Ó
s 0 ÐBÑ ÐH0B Ð?Ñß H0B Ð@Ñß H0B ÐAÑÑ.
œV …

III.7.10 (Teorema Egrégio de Gauss) Sejam I e I s espaços euclidianos de


s s
dimensão $, Q § I e Q § I duas variedades de dimensão # e 0 À Q Ä Q s
um difeomorfismo isométrico. Para cada B − Q , tem-se então que a
curvatura de Gauss de Q no ponto B é igual à curvatura de Gauss de Q s no
ponto 0 ÐBÑ.
Dem: A demonstração é muito simples, se usarmos a caracterização da
curvatura de Gauss apresentada em III.6.14: Escolhendo uma base
ortonormada ?ß @ de XB ÐQ Ñ, deduzimos de H0B ser uma isometria linear que
s Ñ pelo que, notando 5B
H0B Ð?Ñß H0B Ð@Ñ é uma base ortonormada de X0 ÐBÑ ÐQ
s
e 5 0 ÐBÑ as curvaturas de Gauss,
s s 0 ÐBÑ ÐH0B Ð?Ñß H0B Ð@Ñß H0B Ð?ÑÑß H0B Ð@ÑÙ œ
5 0 ÐBÑ œ ØV
œ ØH0B ÐVB Ð?ß @ß ?ÑÑß H0B Ð@ÑÙ œ ØVB Ð?ß @ß ?Ñß @Ù œ 5B . …

O próprio Gauss deu ao resultado precedente o nome de Teorema


Egrégio, adjectivo que significa o mesmo que notável. A razão disso está
em que a curvatura de Gauss foi definida como o produto das duas
curvaturas principais e estas não são de modo nenhum invariantes por
isometria. Aliás pode-se ver que as próprias direcções principais não são
em geral invariantes por isometria. Note-se também que a noção de
curvatura duma curva também não é invariante por isometria; por
exemplo, é imediato constatar-se que a aplicação de Ó!ß #1Ò em ‘# , que a >
associa ÐcosÐ>Ñß sinÐ>ÑÑ é uma isometria de Ó!ß #1Ò sobre a circunferência W
com o ponto Ð"ß !Ñ retirado e que, enquanto o intervalo Ó!ß #1Ò tem
curvatura nula em todos os pontos, W vai ter curvatura igual a " em cada
ponto. Note-se também que a demonstração que apresentámos para o
teorema de Gauss não tem nada a ver com a apresentada por aquele
matemático, visto que utiliza o tensor de curvatura que só apareceu mais
tarde com Riemann.
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 267

§8. Morfismos entre fibrados vectoriais.

III.8.1 Sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita e E § K um


conjunto arbitrário. Sejam I e I w espaços vectoriais, reais ou complexos, de
dimensão finita e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de
base E, com IB § I e IBw § I w . Vamos chamar morfismo linear de I para
I w a uma família Ð-B ÑB−E de aplicações lineares -B À IB Ä IBw e dizer que um
morfismo linear
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w

é suave se existir uma aplicação suave - œ Ð-B ÑB−E À E Ä PÐIà I w Ñ tal que,
para cada B − E, a aplicação linear -B À IB Ä IBw seja uma restrição de
-B À I Ä I w (também se diz então que - é um prolongamento suave de -).
III.8.2 Sejam K e Kw espaços vectoriais de dimensão finita, Q § K e Q w § Kw
duas variedades e 0 À Q Ä Q w uma aplicação suave. Tem então lugar um
morfismo linear suave H0 œ ÐH0B ÑB−Q do fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ
para o fibrado vectorial imagem recíproca 0 ‡ X ÐQ w Ñ.
Dem: Repare-se que a razão por que se considera o fibrado vectorial imagem
recíproca 0 ‡ X ÐQ w Ñ é o facto de cada H0B ser uma aplicação linear de XB ÐQ Ñ
para X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ. Tendo em conta II.3.10, podemos considerar um aberto Y de
K, com Q § Y , e uma aplicação suave 0 À Y Ä K w , prolongando 0 , e
obtemos então um prolongamento suave de H0 , associando, a cada B − Q , a
aplicação linear H0 B À K Ä K w . …

Repare-se na razão por que não se definiu mais simplesmente morfismo


linear suave como um morfismo linear para o qual seja suave a aplicação
B È -B : O que se passa é que, para cada B − E, -B pertence a um espaço
vectorial PB ÐIB à IBw Ñ que, em geral, depende de B, e não se dispõe de um
espaço vectorial do qual todos os PB ÐIB à IBw Ñ sejam subespaços vecto-
riais. Os resultados que se seguem mostram como se comporta a suavi-
dade, relativamente a certas operações naturais.

III.8.3 Nas condições anteriores, tem lugar um morfismo linear suave M.I œ
ÐM.IB ÑB−E e, dado um terceiro fibrado vectorial I ww œ ÐIBww ÑB−E , com
IBww § I ww e morfismos lineares
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w , . œ Ð.B ÑB−E À I w Ä I ww ,
tem lugar um morfismo linear composto
. ‰ - œ Ð.B ‰ -B ÑB−E À I Ä I ww ,
268 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

o qual é suave se - e . o forem.


Dem: A primeira afirmação resulta de que M.I admite um prolongamento
suave associando a cada B − E a aplicação linear M.I À I Ä I . A segunda
resulta de que, dados prolongamentos suaves de - e de ., constituídos por
aplicações lineares -B À I Ä I w e .B À I w Ä I ww , então a família das aplica-
ções lineares .B ‰ -B À I Ä I ww constitui um prolongamento suave do
morfismo linear . ‰ -. …
III.8.4 (Corolário) Sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita e
E § K um conjunto arbitrário. Sejam I e I w espaços vectoriais, reais ou
complexos, de dimensão finita e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados
vectoriais de base E, com IB § I e IBw § I w . Seja - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w
um morfismo linear. Tem-se então:
a) Se I s § I é um subespaço vectorial contendo todos os IB , então o
morfismo linear - é suave quando se considera I como espaço ambiente das
fibras se, e só se, o é quando se considera Is como tal.
w
s
b) Se I § I é um subespaço vectorial contendo todos os IBw , então o
w

morfismo linear - é suave quando se considera I w como espaço ambiente das


fibras se, e só se, o é quando se considera Is w como tal.
Dem: Uma vez que - pode ser trivialmente olhado como o composto de -
com M.I , para provarmos a) basta mostrarmos que M.I À I Ä I é um
morfismo linear suave, tanto quanto se considera I no domínio e I s na
s
chegada como ambientes como quando se considera I no domínio e I na
chegada como espaços ambientes; ora, no segundo caso, isso acontece por
podermos considerar, para cada B − E, a inclusão +À I s Ä I como prolonga-
mento de M.IB e, no primeiro caso, isso acontece por podermos considerar,
para cada B − E, a projecção ortogonal 1À I Ä I s , associada a um produto
interno que se fixe em I , como prolongamento de M.IB . A prova de b) é
análoga, a partir do facto de M.I w À I w Ä I w ser suave quando no domínio se
considera como espaço ambiente um dos espaços I w e I s w e na chegada o
outro. …
III.8.5 Sejam K e K s espaços vectoriais reais de dimensão finita, E § K e
Es§K s subconjuntos e 0 À E s Ä E uma aplicação suave. Sejam I e I w
espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão finita e I œ ÐIB ÑB−E e
I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E, com IB § I e IBw § I w .
Se - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w é um morfismo linear suave, então tem lugar um
morfismo linear suave imagem recíproca
0 ‡ - œ Ð-0 ÐCÑ ÑC−Es À 0 ‡ I Ä 0 ‡ I w .

Um caso particular importante é aquele em que Es § E § K e em que


s Ä E é a inclusão: Dizemos então que a imagem recíproca 0 ‡ - é a
0À E
s e notamo-la também - s .
restrição de - a E ÎE
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 269

Dem: Dado um prolongamento suave de -, constituído pelas aplicações


lineares -B À I Ä I w , obtemos um prolongamento suave de 0 ‡ -, associando
a cada C − E s, a aplicação linear -0 ÐCÑ À I Ä I w . …
III.8.6 Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de
base E, com IB § I e IBw § I w . Tem-se então:
a) Tem lugar um morfismo linear suave !À I Ä I w que associa a cada B − E
a aplicação linear !À IB Ä IBw .
b) Se -ß .À I Ä I w são dois morfismos lineares suaves, então
-  . œ Ð-B  .B ÑB−E À I Ä I w
é também um morfismo linear suave.
c) Se -À I Ä I w é um morfismo linear suave e 0 À E Ä Š é uma aplicação
suave, então
0 - œ Ð0 ÐBÑ-B ÑB−E À I Ä I w
é também um morfismo linear suave.
d) Se -À I Ä I w é um morfismo linear suave e [ œ Ð[B ÑB−E é uma secção
suave de I , então
-Ð[ Ñ œ Ð-Ð[B ÑÑB−E
é uma secção suave de I w .
Dem: Para provar a) basta tomar um prolongamento suave identicamente
nulo. Para provar b) e c) basta partir de prolongamentos suaves - e . de - e
de . e reparar que -  . e 0 - vão ter prolongamentos suaves associando, a
cada B − E, -B  .B e 0 ÐBÑ-B , respectivamente. Para provar d) basta reparar
que, se - é um prolongamento suave de -, tem-se ainda -B Ð[B Ñ œ -B Ð[B Ñ,
e portanto B È -B Ð[B Ñ é uma aplicação suave E Ä I w . …

Repare-se que, na definição de morfismo linear suave, exigiu-se a


existência de prolongamentos suaves mas que estes não serão em geral
únicos. Por vezes, como na demonstração que faremos adiante que a no-
ção de morfismo suave é local, é cómodo poder dispor de um prolonga-
mento suave canónico, como o que construímos a seguir, a partir de um
produto interno fixado no espaço ambiente das fibras.

III.8.7 Sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita e E § K um


conjunto arbitrário. Sejam I e I w espaços vectoriais, reais ou complexos, de
dimensão finita, o primeiro dos quais munido de produto interno,
I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E, com
IB § I e IBw § I w e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear. Notemos,
para cada B − E, -B¼ œ -B ‰ 1B À I Ä IBw , onde 1B é a projecção ortogonal
de I sobre IB , que é um prolongamento da aplicação linear -B . Tem-se
então que o morfismo linear - é suave se, e só se -¼ œ Ð-B¼ ÑB−E é uma
270 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

aplicação suave E Ä PÐIà I w Ñ (dizemos então que -¼ é o prolongamento


suave de - associado ao produto interno de I ).
Dem: Se -¼ œ Ð-B¼ ÑB−E é uma aplicação suave E Ä PÐIà I w Ñ, ela é, em
particular, um prolongamento suave de - pelo que - é um morfismo linear
suave. Suponhamos, reciprocamente, que - é um morfismo linear suave e
consideremos uma aplicação suave - œ Ð-B ÑB−E À E Ä PÐIà I w Ñ tal que,
para cada B − E, a aplicação linear -B À IB Ä IBw seja uma restrição de
-B À I Ä I w . Tem-se então também -B¼ œ -B ‰ 1B pelo que, uma vez que, por
I ser fibrado vectorial, é suave a aplicação E Ä PÐIà IÑ, B È 1B , concluí-
mos a suavidade da aplicação B È -B¼ . …
III.8.8 (A suavidade de morfismos é uma questão local) Sejam I œ ÐIB ÑB−E
e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E, com IB § I e IBw § I w
e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear. Se ÐE4 Ñ4−N é uma família de
abertos de E, de união E, tal que cada restrição -ÎE4 À I ÎE4 Ä I w ÎE4 seja
suave (ou, o que é equivalente, se, para cada B! − E, existe um aberto Z de
E, com B! − Z , tal que -ÎZ seja suave), então - é um morfismo linear suave.
Dem: Podemos fixar um produto interno em I e considerar os correspon-
dentes prolongamentos -B¼ œ -B ‰ 1B À I Ä IBw dos IB . Tem-se então que a
aplicação E Ä PÐIà I w Ñ, B È -B¼ , é suave, uma vez que tem restrições
suaves a cada E4 (cf. II.2.11). …
III.8.9 Uma outra questão que se revela não ser tão evidente como poderia pare-
cer mas que tem uma resposta positiva com a ajuda dos prolongamentos
associados a um produto interno é a seguinte:
Sejam E § Kß I e I w espaços vectoriais complexos de dimensão finita,
I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E, com
IB § I e IBw § I w e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear. É claro que
também podemos olhar para I e I w como fibrados vectoriais reais, isto é,
quando olhamos para I e I w como espaços vectoriais reais e - continua a ser
um morfismo linear no quadro real. É também evidente que, se - for um
morfismo linear suave no quadro complexo, então é também um morfismo
linear suave no quadro real mas a recíproca já seria menos evidente, visto
que, apesar de os -B À IB Ä IBw serem, por hipótese, aplicações lineares
complexas, nada nos garantia que os prolongamentos -B não fossem apenas
aplicações lineares reais. No entanto, a recíproca é efectivamente também
válida, uma vez que, apesar de um prolongamento arbitrário poder não ser
linear complexo, o prolongamento -B¼ associado a um produto interno
complexo que se considere em I já é uma aplicação linear complexa, por
isso acontecer à projecção ortogonal 1B .
III.8.10 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E,
com IB § I e IBw § I w e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear.
Podemos então considerar uma aplicação associada entre os espaços totais
-˜À I Ä I w , -˜ÐBß AÑ œ ÐBß -B ÐAÑÑ,
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 271

e o morfismo linear - é suave se, e só se, -˜ é uma aplicação suave.


Dem: Se - é um morfismo linear suave, podemos considerar uma aplicação
suave - œ Ð-B ÑB−E de E em PÐIà I w Ñ tal que cada -B seja uma restrição de
-B e então o facto de se ter -˜ÐBß AÑ œ ÐBß -B ÐAÑÑ implica que -˜ é uma
aplicação suave. Suponhamos, reciprocamente, que -̃À I Ä I w é uma aplica-
ção suave. Fixemos um produto interno em I . O facto de I ser um fibrado
vectorial garante a suavidade da aplicação E Ä PÐIà IÑ, que a B associa a
projecção ortogonal 1B de I sobre IB , pelo que ficamos com uma aplicação
suave E ‚ I Ä I , ÐBß AÑ È ÐBß 1B ÐAÑÑ e portanto, por composição, com
uma aplicação suave
E ‚ I Ä I w , ÐBß AÑ È ÐBß -B Ð1B ÐAÑÑ œ ÐBß -B¼ ÐAÑÑ,
onde -B¼ é o prolongamento de -B associado ao produto interno de I . Em
particular, vemos que, para cada A − I , é suave a aplicação E Ä I w , B È
-B¼ ÐAÑ o que, tendo em conta II.2.12, implica que é suave a aplicação
E Ä PÐIà I w Ñ, B È -B¼ , e portanto que - é um morfismo linear suave. …
III.8.11 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E,
com IB § I e IBw § I w e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear.
Suponhamos que I é um fibrado vectorial trivial, com um campo de
referenciais [" ß á ß [8 . Tem-se então que o morfismo linear - é suave se, e
só se, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, -Ð[4 Ñ œ Ð-B Ð[4 B ÑÑB−E é uma secção suave de
Iw.
Dem: Uma vez que cada [4 é uma secção suave de I , já sabemos que, se -
é um morfismo linear suave, então cada -Ð[4 Ñ é uma secção suave de I w .
Suponhamos, reciprocamente, que cada -Ð[4 Ñ é uma secção suave de I w .
Notando ainda I o espaço total de ÐIB ÑB−E , podemos considerar o fibrado
vectorial trivial de base I , que a cada ÐBß AÑ − I associa a fibra IB , o qual
vai admitir o campo de referenciais Ð[" B ÑÐBßAÑ−I ß á ß Ð[8 B ÑÐBßAÑ−I e a
secção suave Ð^ÐBßAÑ ÑÐBßAÑ−I definida por ^ÐBßAÑ œ A. Aplicando III.1.13,
concluímos a existência de aplicações suaves 0" ß á ß 08 À I Ä Š definidas
por
A œ 0" ÐBß AÑ[" B  â  08 ÐBß AÑ[8 B
e vemos agora que, para cada ÐBß AÑ − I ,
-˜ÐBß AÑ œ ÐBß -B ÐAÑÑ œ
œ ˆB ß 0" ÐBß AÑ-B Ð[" B Ñ  â  08 ÐBß AÑ-B Ð[8 B щ,

o que mostra que -̃À I Ä I w é uma aplicação suave, e portanto, pelo resul-
tado precedente, - é um morfismo linear suave. …
III.8.12 (Corolário) Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados
vectoriais de base E, com IB § I e IBw § I w e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um
morfismo linear suave tal que, para cada B − E, -B À IB Ä IBw seja um
272 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

isomorfismo. Tem-se então que -" œ Ð-B" ÑB−E À I w Ä I é também um


morfismo linear suave (dizemos então que - é um isomorfismo linear suave).
Dem: Seja B! − E arbitrário. Seja Y um aberto de E, com B! − Y , tal que
I ÎY admita um campo de referenciais [" ß á ß [8 . Tem-se então que
-ÎY Ð[" Ñß á ß -ÎY Ð[8 Ñ são secções suaves de I w ÎY e portanto, uma vez que
cada -B é um isomorfismo, constituem um campo de referenciais deste
fibrado vectorial. Uma vez que as imagens dos -ÎY Ð[4 Ñ pelo morfismo
linear -"
ÎY são as secções suaves [4 , podemos aplicar o resultado precedente
para garantir que -"
ÎY À I ÎY Ä I ÎY é um morfismo linear suave. Tendo em
w

conta o facto de a suavidade ser uma questão local, deduzimos finalmente


que -" é um morfismo linear suave. …
III.8.13 (A imagem e o kernel de um morfismo linear) Sejam I œ ÐIB ÑB−E e
I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E, com IB § I e IBw § I w e
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear suave. Tem-se então:
a) Se, para cada B − E, -B À IB Ä IBw é uma aplicação linear injectiva, então
Ð-B ÐIB ÑÑB−E é um fibrado vectorial.
b) Se, para cada B − E, -B À IB Ä IBw é uma aplicação linear sobrejectiva,
então, sendo IBww œ kerÐ-B Ñ œ Ö? − IB ± -B Ð?Ñ œ !×, ÐIBww ÑB−E é um fibrado
vectorial.
Dem: a) Dado B! − E, podemos considerar um aberto Y de E, com B! − Y ,
e um campo de referenciais Ð[" B ÑB−Y ß á ß Ð[8 B ÑB−Y de I ÎY e então a
família Ð-B ÐIB ÑÑB−Y admite o campo de referenciais Ð-B Ð[" B ÑÑB−Y ß á ß
Ð-B Ð[8 B ÑÑB−Y .
b) Seja B! − E arbitrário. Seja @" ß á ß @7 uma base de IBw ! e, escolhamos
vectores ?" ß á ß ?7 de IB! tais que -B! Ð?4 Ñ œ @4 . Os vectores ?" ß á ß ?7 são
linearmente independentes, sem o que @" ß á ß @8 eram linearmente dependen-
tes, e portanto podemos prolongá-los numa base ?" ß á ß ?7 ß ?7" ß á ß ?8 de
IB! . Tendo em conta III.1.20, podemos considerar, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8,
uma secção suave [4 œ Ð[4 B ÑB−E de I tal que [4 B! œ ?4 . Tendo em conta
III.1.14, podemos considerar um aberto Y w de E, com B! − Y w tal que, para
cada B − Y w , IB! tenha dimensão 8 e IBw ! tenha dimensão 7 e portanto IBww
tenha dimensão 8  7. Uma vez que os Ð-B Ð[4 B ÑÑB−E também são secções
suaves de I w , podemos aplicar a alínea a) de III.1.16 para garantir a
existência de um aberto Y de E, com B! − Y § Y w , tal que, para cada
B − Y , -B Ð[" B Ñß á ß -B Ð[7 B Ñ sejam linearmente independentes, e portanto
uma base de IBw , e [" B ß á ß [8 B sejam linearmente independentes, e
portanto uma base de IB . Tendo em conta III.1.13, podemos considerar
aplicações suaves 03ß4 À Y Ä Š, onde " Ÿ 3 Ÿ 7 e 7  4 Ÿ 8, definidas pela
condição de se ter

-B Ð[4 B Ñ œ " 03ß4 ÐBÑ -B Ð[3 B Ñ.


7

3œ"
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 273

Para cada 7  4 Ÿ 8, consideremos a secção suave Ð^4 B ÑB−Y de I ÎY


definida por

^4 B œ [4 B  " 03ß4 ÐBÑ [3 B


7

3œ"

e reparemos que -B Ð^4 B Ñ œ -B Ð[4 B Ñ  ! 03ß4 ÐBÑ -B Ð[3 B Ñ œ !, pelo que


7

3œ"
estas secções suaves são mesmo secções de ÐIBww ÑB−Y . Além disso, para cada
B − Y , os ^4 B , com 7  4 Ÿ 8, são linearmente independentes, e portanto
uma base de IBww , visto que, se fosse ! +4 ^4 B œ !, vinha
8

4œ7"

" +4 [4 B  " Ð " +4 03ß4 ÐBÑÑ [3 B œ !


8 7 8

4œ7" 3œ" 4œ7"

e portanto, pela independência linear de [" B ß á ß [8 B , tinha-se, em particu-


lar, +4 œ !, para cada 7  4 Ÿ 8. Concluímos assim que Ð^4 B ÑB−Y
constituem um campo de referenciais de ÐIBww ÑB−Y , o que mostra que ÐIBww ÑB−E
é efectivamente um fibrado vectorial. …

O resultado seguinte mostra como se comportam as orientações de dois


fibrados vectoriais na presença de um isomorfismo linear suave entre eles.

III.8.14 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E,
com IB § I e IBw § I w e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um isomorfismo linear
suave.
a) Seja ! œ Ð!B ÑB−E uma orientação suave de I e seja, para cada B − E, !wB
a orientação de IBw para a qual o isomorfismo -B À IB Ä IBw conserva as
orientações (a orientação transportada). Tem-se então que a orientação
!w œ Ð!wB ÑB−E de I w é também suave.
b) Sejam ! œ Ð!B ÑB−E e Ð!wB ÑB−E duas orientações suaves, de I œ ÐIB ÑB−E
e I w œ ÐIBw ÑB−E respectivamente. Para cada B! − E tal que -B! À IB! Ä IBw !
conserve (respectivamente inverta) as orientações, existe uma aberto Y de E,
com B! − Y tal que, para cada B − Y , -B À IB Ä IBw conserva (respectiva-
mente inverte) as orientações.
c) No caso em que E é conexo, dadas orientações suaves ! œ Ð!B ÑB−E e
Ð!wB ÑB−E de I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E respectivamente, ou -B conserva
as orientações para todo o B ou -B inverte as orientações para todo o B
(diz-se então que - conserva as orientações e que - inverte as orientações,
respectivamente).
Dem: a) Dado B! − E, podemos considerar um aberto Y de E, com B! − Y
e um campo de referenciais [" ß á ß [8 de I ÎY tal que para cada B − Y a
base [" B ß á ß [8 B de IB seja directa ou para cada B − Y esta base seja
274 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

retrógrada. Uma vez que -ÎY À I ÎY Ä I w ÎY é ainda um isomorfismo suave,


segue-se que -ÎY Ð[" Ñß á ß -ÎY Ð[8 Ñ vai ser um campo de referenciais de
I w ÎY o qual, por construção da orientação !w , vai dar uma base directa em
cada ponto de Y ou uma base retrógrada em cada ponto de Y , o que mostra
que a orientação !w é suave.
b) Pelo que vimos em a), podemos considerar um orientação suave " de I w
definida pela condição de - conservar as orientações, de ! para " . Tendo em
conta III.2.6, dado B! − E, podemos considerar um aberto Y de E, com
B! − Y , tal que !ÎY œ "ÎY ou !ÎY œ "ÎY e assim, relativamente às orien-
tações !B e !wB , ou -B conserva as orientações para cada B − Y ou -B inverte
as orientações para cada B − Y .
c) O que vimos em b) mostra que E é a união disjunta de dois abertos, a
saber o conjunto dos pontos B tais que -B conserva as orientações e o
conjunto daqueles tais que -B inverte as orientações, pelo que um destes
abertos tem que ser vazio e o outro igual a E. …
III.8.15 Um caso particular, em que se aplicam as observações anteriores, é
aquele em que temos duas variedades Q § I e Q s §I s e um difeomorfismo
s
0 À Q Ä Q . Tem-se então um isomorfismo linear suave

H0 œ ÐH0B ÑB−Q À X ÐQ Ñ Ä 0 ‡ X ÐQ

e, dadas orientações em Q e Q s , diz-se que 0 conserva (respectivamente,


inverte) as orientações em B se isso acontecer com aquele isomorfismo linear
suave e que 0 conserva (respectivamente, inverte) as orientações se 0
conservar (respectivamente inverter) as orientações em todos os pontos.
Repare-se que, neste caso, temos também um isomorfismo linear suave
s Ñ,
Ð0 " ч H0 œ ÐH00 " ÐCÑ ÑC−Qs À Ð0 " ч X ÐQ Ñ Ä X ÐQ

que não é mais do que o isomorfismo linear inverso de


s Ñ Ä Ð0 " ч X ÐQ Ñ.
H0 " œ ÐH0C" ÑC−Qs À X ÐQ

Do mesmo modo que a derivada covariante de uma secção, na direcção de


um vector tangente à base, nos apareceu como uma modificação da
derivação usual, que nos permite obter um vector da fibra, também para
os morfismos lineares suaves é possível definir uma noção de derivada
covariante, na direcção de um vector tangente à base, que vai ser uma
aplicação linear entre as fibras.

III.8.16 Sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita, E § K um


conjunto arbitrário, I e I w espaços vectoriais, reais ou complexos, de
dimensão finita, munidos de produto interno e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E
dois fibrados vectoriais de base E, com IB § I e IBw § I w , e consideremos
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 275

as respectivas segundas formas fundamentais 2B À XB ÐEÑ ‚ IB Ä IB¼ e


2Bw À XB ÐEÑ ‚ IBw Ä IBw ¼ . Se - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w é um morfismo linear
suave, tem lugar, para cada B − E, uma aplicação linear
f-B À XB ÐEÑ Ä PÐIB à IBw Ñ
(a derivada covariante de - em B) definida pela condição de se ter, qualquer
que seja a aplicação suave - œ Ð-B ÑB−E À E Ä PÐIà I w Ñ com cada -B res-
trição de - B ,
f-B Ð?ÑÐAÑ œ H-B Ð?ÑÐAÑ  -B Ð2B Ð?ß AÑÑ  2Bw Ð?ß -BÐAÑÑ œ
œ 1Bw ÐH-B Ð?ÑÐAÑ  -B Ð2B Ð?ß AÑÑÑ,
onde 1Bw é a projecção ortogonal de I w sobre IBw . Tem-se além disso, para a
correspondente aplicação suave -̃À I Ä I w entre os espaços totais, definida
por -˜ÐBß AÑ œ ÐBß -B ÐAÑÑ,
H-˜ÐBßAÑ Ð?ß 2B Ð?ß AÑÑ œ Ð?ß f-B Ð?ÑÐAÑ  2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑÑ.

Dem: Sendo - œ Ð-B ÑB−E À E Ä PÐIà I w Ñ um prolongamento suave do mor-


fismo linear -, ficamos evidentemente com uma aplicação linear f-B de
XB ÐEÑ para PÐIB à I w Ñ, definida por
f-B Ð?ÑÐAÑ œ H-B Ð?ÑÐAÑ  -B Ð2B Ð?ß AÑÑ  2Bw Ð?ß -BÐAÑÑ
pelo que, para concluirmos que temos uma aplicação linear bem definida
f-B À XB ÐEÑ Ä PÐIB à IBw Ñ, tudo o que temos que mostrar é que a expressão
do segundo membro desta igualdade pertence a IBw e não depende da escolha
do prolongamento suave - de -. Ora, uma vez que, para a correspondente
aplicação suave -̃À I Ä I w , se tem
-˜ÐBß AÑ œ ÐBß -B ÐAÑÑ œ ÐBß -B ÐAÑÑ,
obtemos, por derivação em ÐBß AÑ na direcção de Ð?ß 2B Ð?ß AÑÑ − XÐBßAÑ ÐIÑ e
tendo em conta III.3.19,
Ð?ß H-B Ð?ÑÐAÑ  -B Ð2B Ð?ß AÑÑÑ œ H-˜ÐBßAÑ Ð?ß 2B Ð?ß AÑÑ − XÐBß-BÐAÑÑ ÐI w Ñ,

donde, por um lado, mais uma vez pelo mesmo resultado,


H-B Ð?ÑÐAÑ  -B Ð2B Ð?ß AÑÑ  2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑ − IBw

e, por outro lado, o valor H-B Ð?ÑÐAÑ  -B Ð2B Ð?ß AÑÑ não depende do
prolongamento suave considerado. Por fim, o facto de se ter também
f-B Ð?ÑÐAÑ œ 1Bw ÐH-B Ð?ÑÐAÑ  -B Ð2B Ð?ß AÑÑÑ
resulta de se ter
276 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

H-B Ð?ÑÐAÑ  -B Ð2B Ð?ß AÑÑ œ f-B Ð?ÑÐAÑ  2Bw Ð?ß -BÐAÑÑ,

com f-B Ð?ÑÐAÑ − IBw e 2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑ − IBw ¼ . …


III.8.17 (Nota) Repare-se que a igualdade
H-˜ÐBßAÑ Ð?ß 2B Ð?ß AÑÑ œ Ð?ß f-B Ð?ÑÐAÑ  2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑÑ

estabelecida no resultado precedente, para além de ter servido para mostrar


que a definição da derivada covariante de um morfismo linear não dependia
do prolongamento considerado e conduzia a uma aplicação linear com
valores na fibra, permite também mostrar que a derivada covariante de um
morfismo linear suave não se altera quando substituímos os espaços
ambientes das fibras, do fibrado vectorial domínio ou do de chegada, por
subespaços vectoriais que ainda contenham as fibras. Com efeito, já
referimos em III.3.21 que as segundas formas fundamentais dos fibrados
vectoriais não se alteram por esse facto e na fórmula em questão não há mais
nada que faça intervir os espaços ambientes.
Pelo contrário, a derivada covariante de um morfismo linear suave (tal como
já acontecia aliás com a derivada covariante de uma secção) depende, em
geral do fibrado vectorial de chegada, no sentido que o seu valor será em
geral alterado se substituirmos este por outro fibrado vectorial cujas fibras
ainda contenham as imagens das aplicações lineares.
III.8.18 Se K é um espaço vectorial real de dimensão finita, E § K e I e I w são
espaços vectoriais reais ou complexos, então, considerando os fibrados
vectoriais constantes IE e IEw , um morfismo linear suave - œ Ð-B ÑB−E À
IE Ä IEw é o mesmo que uma aplicação suave E Ä PÐIà I w Ñ e, para um tal
morfismo linear suave, a derivada covariante f-B não depende dos produtos
internos que se considerem em I e I w e é dada por
f-B Ð?ÑÐAÑ œ H-B Ð?ÑÐAÑ
(basta, com efeito, reparar que - é trivialmente o prolongamento suave de si
mesmo e que, nesta situação, ambas as segundas formas fundamentais são
nulas).
Em particular, no caso em que -À I Ä I w é uma aplicação linear, a derivada
covariante do morfismo linear constante -E À IE Ä IEw , que a cada B − E
associa sempre -, é identicamente nula.
III.8.19 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E,
com IB § I e IBw § I w , em que I e I w estão munidos de produtos internos.
Diz-se que um morfismo linear suave - œ Ð-B ÑB−E é paralelo se se tem
f-B Ð?Ñ œ !, quaisquer que sejam B − E e ? − XB ÐEÑ.85

85Tal como acontecia com as secções paralelas, podemos olhar intuitivamente para os
morfismos lineares paralelos como sendo aqueles que são “tão localmente constantes
quanto possível”.
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 277

Tendo em conta a segunda caracterização da derivada covariante de um


morfismo linear em III.8.16, dizer que o morfismo linear suave - é paralelo
equivale a dizer que, para cada B − E, ? − XB ÐEÑ e A − IB ,
H-˜ÐBßAÑ Ð?ß 2B Ð?ß AÑÑ œ Ð?ß 2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑÑ.

III.8.20 Como primeiro exemplo de morfismo linear paralelo temos, de acordo


com o que dissémos atrás, o dos morfismos lineares constantes entre fibrados
vectoriais constantes. Como segundo exemplo, igualmente consequência
trivial da definição, temos o seguinte:
Seja I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial com IB § I , em que I está munido
de um produto interno. Tem-se então que o morfismo linear identidade
M.I À I Ä I é paralelo.
Dem: Basta aplicar a definição tomando a aplicação com valor constante M.I
como prolongamento suave de M.I . …
III.8.21 Mais geralmente, sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita,
E § K um conjunto arbitrário, I espaço vectorial, real ou complexo, de
dimensão finita, munido de produto interno e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E
dois fibrados vectoriais, com IB § IBw § I . Notando 1Bw a projecção
ortogonal de I w sobre IBw , sendo 2B e 2Bw as segundas formas fundamentais
de I e I w , respectivamente, e notando, para cada B − E, +B À IB Ä IBw a
inclusão, tem-se que +À I Ä I w é um morfismo linear suave, cuja derivada
covariante está definida por
f+B Ð?ÑÐAÑ œ 2B Ð?ß AÑ  2Bw Ð?ß AÑ œ 1Bw Ð2B Ð?ß AÑÑ.
s B À XB ÐEÑ ‚ IB Ä IBw definida por
À aplicação bilinear 2
s B Ð?ß AÑ œ f+B Ð?ÑÐAÑ œ 2B Ð?ß AÑ  2Bw Ð?ß AÑ œ 1Bw Ð2BÐ?ß AÑÑ
2
dá-se também o nome de segunda forma fundamental de I relativamente a
I w . Em particular, no caso em que I w é o fibrado vectorial constante IE ,
tem-se simplesmente 2 s B Ð?ß AÑ œ f+B Ð?ÑÐAÑ œ 2B Ð?ß AÑ.
Dem: Trata-se de uma consequência directa da definição, se reparamos que,
para cada B − E, M.I À I Ä I é um prolongamento de +B . …

A derivada covariante de um morfismo linear suave depende, em geral,


dos produtos internos que se consideram nos espaços ambientes das
fibras, através das segundas formas fundamentais dos fibrados vectoriais.
Há, no entanto, analogamente ao que foi referido em III.3.15 para a
derivada covariante de secções, uma situação em que a derivada
covariante não depende dos produtos internos considerados.

III.8.22 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E,
com IB § I e IBw § I w . Sejam - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear
278 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

suave e B! − E tal que -B! œ !. Então a derivada covariante


f-B! À XB! ÐEÑ Ä PÐIB! à IBw ! Ñ não depende dos produtos internos que se
considerem em I e I w , nem se altera se substituirmos I w por outro fibrado
vectorial cujas fibras ainda contenham os -B ÐIB Ñ. Mais precisamente, tem
lugar a seguinte caracterização alternativa, que não faz intervir os produtos
internos nem o fibrado vectorial de chegada: Sendo - œ Ð-B ÑB−E uma
aplicação suave de E em PÐIà I w Ñ com cada -B restrição de -B e sendo
? − XB! ÐEÑ, A − IB! e D − I tal que Ð?ß DÑ − XÐB! ßAÑ ÐIÑ, vem

f-B! Ð?ÑÐAÑ œ H-B! Ð?ÑÐAÑ  -B! ÐDÑ.

Dem: Tendo em conta III.8.16, se fixamos produtos internos em I e I w e


considerarmos as correspondentes segundas formas fundamentais, tem-se
f-B! Ð?ÑÐAÑ œ H-B! Ð?ÑÐAÑ  -B! Ð2B! Ð?ß AÑÑ  2Bw ! Ð?ß -B! ÐAÑÑ œ
œ H-B! Ð?ÑÐAÑ  -B! Ð2B! Ð?ß AÑÑ,

pelo que, para justificarmos a fórmula do enunciado, que implica a


independência dos produtos internos em I e I w , basta mostrarmos que,
sendo Ð?ß DÑ − XÐB! ßAÑ ÐIÑ arbitrário, tem-se -B! ÐDÑ œ -B! Ð2B! Ð?ß AÑÑ. Ora,
isso é uma consequência de III.3.19, uma vez que D e 2B! Ð?ß AÑ pertencem a
um mesmo subespaço afim de subespaço vectorial associado IB! , donde
D  2B! Ð?ß AÑ − IB! e
-B! ÐDÑ  -B! Ð2B! Ð?ß AÑÑ œ -B! ÐD  2B! Ð?ß AÑÑ œ !. …

Apesar de a definição III.8.16 poder parecer algo artificial, ela tem o


mérito de permitir a validade das propriedades do tipo “regra de Leibnitz”
em III.8.23 e III.8.25, para além da das propriedades análogas às das deri-
vadas covariantes de secções, que enunciamos depois.

III.8.23 (Regra de Leibnitz) Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados
vectoriais de base E, com IB § I e IBw § I w , onde I e I w estão munidos de
produto interno. Sejam - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear suave e
[ œ Ð[B ÑB−E uma secção suave de I . Tem-se então, para a secção suave
-Ð[ Ñ œ Ð-B Ð[B ÑÑB−E de I w ,
f-Ð[ ÑB Ð?Ñ œ f-B Ð?ÑÐ[B Ñ  -B Ðf[B Ð?ÑÑ.

Dem: Seja - œ Ð-B ÑB−E uma aplicação suave de E em PÐIà I w Ñ tal que cada
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 279

-B seja uma restrição de -B . Vem então, tendo em conta III.3.14,


f-Ð[ ÑB Ð?Ñ œ H-Ð[ ÑB Ð?Ñ  2Bw Ð?ß -B Ð[B ÑÑ œ
œ H-Ð[ ÑB Ð?Ñ  2Bw Ð?ß -B Ð[B ÑÑ œ
œ H-B Ð?ÑÐ[B Ñ  -B ÐH[B Ð?ÑÑ  2Bw Ð?ß -B Ð[B ÑÑ œ
œ H-B Ð?ÑÐ[B Ñ  -B Ðf[B Ð?Ñ  2B Ð?ß [B ÑÑ  2Bw Ð?ß -B Ð[B ÑÑ œ
œ f-B Ð?ÑÐ[B Ñ  -B Ðf[B Ð?ÑÑ. …

III.8.24 (Corolário) Nas condições anteriores, um morfismo linear suave


- œ Ð-B ÑB−E é paralelo se, e só se, qualquer que seja a secção suave
[ œ Ð[B ÑB−E de I , B! − E e ? − XB! ÐEÑ, tem-se f-Ð[ ÑB! Ð?Ñ œ
-B! Ðf[B! Ð?ÑÑ.
Dem: A condição necessária é uma consequência imediata da fórmula de
Leibnitz precedente, tal como o é a condição suficiente, se nos lembrarmos
de que, dado A − IB! , existe sempre uma secção suave [ œ Ð[B ÑB−E de I
tal que [B! œ A (cf. III.1.20). …
III.8.25 (Regra de Leibnitz) Sejam I œ ÐIB ÑB−E , I w œ ÐIBw ÑB−E e
I ww œ ÐIBww ÑB−E três fibrados vectoriais de base E, com IB § I , IBw § I w e
IBww § I ww , onde I , I w e I ww estão munidos de produto interno. Se
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w e . œ Ð.B ÑB−E À I w Ä I ww são morfismos lineares
suaves, então
fÐ. ‰ -ÑB Ð?Ñ œ f.B Ð?Ñ ‰ -B  .B ‰ Ðf-B Ð?ÑÑ,
por outras palavras,
fÐ. ‰ -ÑB Ð?ÑÐAÑ œ f.B Ð?ÑÐ-B ÐAÑÑ  .B Ðf-B Ð?ÑÐAÑÑ.

Dem: Sejam - œ Ð-B ÑB−E e . œ Ð.B ÑB−E duas aplicações suaves de E em


PÐIà I w Ñ e PÐI w à I ww Ñ, respectivamente, tais que cada -B seja uma restrição
de -B e cada .B seja uma restrição de .B . Temos então uma aplicação suave
Ð.B ‰ -B ÑB−E de E para PÐIà I ww Ñ, com cada .B ‰ -B restrição de .B ‰ -B ,
pelo que
fÐ. ‰ -ÑB Ð?ÑÐAÑ œ HÐ. ‰ -ÑB Ð?ÑÐAÑ  .B Ð-B Ð2B Ð?ß AÑÑÑ  2Bww Ð?ß .B Ð-B ÐAÑÑÑ œ
œ H.B Ð?ÑÐ-B ÐAÑÑ  .B ÐH-B Ð?ÑÐAÑÑ  .B Ð2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑÑ 
œ  .B Ð2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑÑ  .B Ð-B Ð2B Ð?ß AÑÑÑ  2Bww Ð?ß .B Ð-B ÐAÑÑÑ œ
œ f.B Ð?ÑÐ-B ÐAÑÑ  .B ÐH-B Ð?ÑÐAÑ  2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑ  -B Ð2BÐ?ß AÑÑÑ œ
œ f.B Ð?ÑÐ-B ÐAÑÑ  .B Ðf-B Ð?ÑÐAÑÑ. …

III.8.26 (Corolário) Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vecto-
riais de base E, com IB § I e IBw § I w , onde I e I w estão munidos de
produto interno. Se - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w é um isomorfismo linear suave,
tem-se, para o isomorfismo linear suave inverso -" œ Ð-B" ÑB−E À I w Ä I ,
f(-" )B Ð?Ñ œ -B" ‰ Ðf-B Ð?ÑÑ ‰ -B" ,
280 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

por outras palavras,


fÐ-" ÑB Ð?ÑÐAw Ñ œ -B" Ðf-B Ð?ÑÐ-B" ÐAw ÑÑÑ.

Dem: Uma vez que -" ‰ - œ M.I À I Ä I , que sabemos ser um morfismo
linear paralelo, podemos escrever
! œ fÐ-" ‰ -ÑB Ð?Ñ œ ÐfÐ-" ÑB Ð?ÑÑ ‰ -B  -B" ‰ Ðf-B Ð?ÑÑ,
donde ÐfÐ-" ÑB Ð?ÑÑ ‰ -B œ -B" ‰ Ðf-B Ð?ÑÑ, e portanto
fÐ-" ÑB Ð?Ñ œ -B" ‰ Ðf-B Ð?ÑÑ ‰ -B" . …

III.8.27 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de base E,
com IB § I e IBw § I w , onde I e I w estão munidos de produto interno.
Tem-se então:
a) Se - œ Ð-B ÑB−E e . œ Ð.B ÑB−E são morfismos lineares suaves I Ä I w e
- − Š, então
fÐ-  .ÑB Ð?Ñ œ f-B Ð?Ñ  f.B Ð?Ñ,
f(c-)B Ð?Ñ œ -f-B Ð?Ñ.

b) (Regra de Leibnitz) Se - œ Ð-B ÑB−E é um morfismo linear suave


I Ä I w e 0 À E Ä Š é uma aplicação suave, então
fÐ0 -ÑB Ð?Ñ œ H0B Ð?Ñ -B  0 ÐBÑ f-B Ð?Ñ.

Dem: Trata-se de consequências directas da definição, se nos lembramos


que, se - e . são prolongamentos suaves de - e ., então -  ., - - e 0 - são
prolongamentos suaves de -  ., - - e 0 -, respectivamente. Por exemplo,
quanto a b), vem
fÐ0 -ÑB Ð?ÑÐAÑ œ HÐ0 -ÑB Ð?ÑÐAÑ  0 ÐBÑ-ÐBÑÐ2B Ð?ß AÑÑ  2Bw Ð?ß 0 ÐBÑ-BÐAÑÑ œ
œ H0B Ð?Ñ-B ÐAÑ  0 ÐBÑH-B Ð?ÑÐAÑ 
œ  0 ÐBÑ-ÐBÑÐ2B Ð?ß AÑÑ  0 ÐBÑ2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑ œ
œ H0B Ð?Ñ-B ÐAÑ  0 ÐBÑf-B Ð?ÑÐAÑ. …

III.8.28 Sejam K e K s espaços vectoriais reais de dimensão finita, E § K e


s s
E § K subconjuntos e 0 À E s Ä E uma aplicação suave. Sejam I e I w
espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão finita, munidos de
produto interno, e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais de
base E, com IB § I e IBw § I w . Se - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w é um morfismo
s e @ − XC ÐEÑ
linear suave, tem-se, para cada C − E s ,

fÐ0 ‡ -ÑC Ð@Ñ œ f-0 ÐCÑ ÐH0C Ð@ÑÑ.

Dem: Sendo - œ Ð-B ÑB−E uma aplicação suave de E em PÐIà I w Ñ tal que
cada -B seja uma restrição de -B , ficamos com uma aplicação suave
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 281

Es Ä PÐIà I w Ñ que a C associa -0 ÐCÑ , que prolonga -0 ÐCÑ œ Ð0 ‡ -ÑC pelo que,
lembrando III.3.13 e o teorema de derivação da aplicação composta,
fÐ0 ‡ -ÑC Ð@ÑÐAÑ œ H-0 ÐCÑ ÐH0C Ð@ÑÑÐAÑ  -0 ÐCÑ Ð20 ÐCÑ ÐH0C Ð@Ñß AÑÑ 
œ  20w ÐCÑ ÐH0C Ð@Ñß -0 ÐCÑ ÐAÑÑ œ
œ f-0 ÐCÑ ÐH0C Ð@ÑÑ. …

III.8.29 Sejam K e Kw espaços euclidianos, Q § K e Q w § Kw duas variedades


e 0 À Q Ä Q w uma aplicação suave. Podemos então considerar o morfismo
linear suave H0 À X ÐQ Ñ Ä 0 ‡ X ÐQ w Ñ, a partir do qual obtemos, para cada
B − Q , uma aplicação linear
fH0B À XB ÐQ Ñ Ä PÐXB ÐQ Ñà X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ.

A esta aplicação linear associamos uma aplicação bilinear


"Ð0 ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ,

a que damos o nome de Hessiana de 0 em B, definida por


"Ð0 ÑB Ð?ß @Ñ œ fH0B Ð?ÑÐ@Ñ.
Dizemos que 0 À Q Ä Q w é uma aplicação paralela (ou afim) se, para cada
B − Q , " Ð0 ÑB œ !, isto é, se H0 À X ÐQ Ñ Ä 0 ‡ X ÐQ w Ñ é um morfismo linear
paralelo.
III.8.30 (Casos particulares) a) No caso em que Q é um aberto de K e
Q w œ Kw (ou, mais geralmente, Q w é um aberto de Kw ), X ÐQ Ñ e 0 ‡ X ÐQ w Ñ
são os fibrados vectoriais constantes KQ e KQw
, respectivamente. Tem-se
assim
"Ð0 ÑB Ð?ß @Ñ œ HÐH0 ÑB Ð?ÑÐ@Ñ œ H # 0B Ð?ß @Ñ
(a Hessiana coincide com a derivada de segunda ordem), em particular a
Hessiana não depende dos produtos internos que se consideram em K e Kw
(cf. III.8.18).
b) No caso em que Q § Q w § K e em que consideramos a inclusão
+À Q Ä Q w , tem-se que H+À X ÐQ Ñ Ä X ÐQ w ÑÎQ é o morfismo linear
inclusão pelo que, como já referimos,
" Ð+ÑB Ð?ß @Ñ œ fH+B Ð?ÑÐ@Ñ œ 2B Ð?ß @Ñ  2Bw Ð?ß @Ñ œ 1Bw Ð2BÐ?ß @ÑÑ ,
onde 2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ e 2Bw À XB ÐQ w Ñ ‚ XB ÐQ w Ñ Ä XB ÐQ w Ѽ
são as segundas formas fundamentais de Q e Q w e 1w é a projecção
ortogonal de I w sobre XB ÐQ w Ñ. A " Ð+ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ w Ñ
também se dá o nome de segunda forma fundamental de Q relativamente a
Q w (no caso em que Q w œ K , " Ð+ÑB œ 2B ).
282 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.8.31 Sejam K e Kw espaços euclidianos, Q § K e Q w § Kw duas variedades


e 0 À Q Ä Q w uma aplicação suave. Sejam Y um aberto de K contendo Q e
0 À Y Ä K w uma aplicação suave prolongando 0 . Notando 10w ÐBÑ a projecção
ortogonal de Kw sobre X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ e 2B e 20w ÐBÑ as segundas formas fundamen-
tais de Q e de Q w , nos pontos B e 0 ÐBÑ, tem-se então, quaisquer que sejam
?ß @ − XB ÐQ Ñ,
" Ð0 ÑB Ð?ß @Ñ œ H# 0 B Ð?ß @Ñ  H0 B Ð2B Ð?ß @ÑÑ  20w ÐBÑÐH0BÐ?Ñß H0BÐ@ÑÑ œ
œ 10w ÐBÑ ÐH# 0 B Ð?ß @Ñ  H0 B Ð2B Ð?ß @ÑÑÑ.

Em particular, a aplicação bilinear


"Ð0 ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ

é simétrica.
Dem: Uma vez que, para cada B − Q , H0 B À K Ä K w é um prolongamento
de H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ, as duas caracterizações de " Ð0 ÑB Ð?ß @Ñ redu-
zem-se às caracterizações da derivada covariante na definição III.8.16, desde
que recordemos a fórmula para a segunda forma fundamental da imagem
recíproca 0 ‡ X ÐQ w Ñ a partir da de X ÐQ w Ñ referida em III.3.13. A simetria da
derivada de segunda ordem H# 0 B À K ‚ K Ä K w e a da segunda forma funda-
mental de uma variedade implicam agora que "Ð0 ÑB é efectivamente uma
aplicação bilinear simétrica. …
III.8.32 (Segunda versão do teorema fundamental da geometria de
Riemann) Sejam K e Kw espaços euclidianos, Q § K e Q w § K w duas
variedades e 0 À Q Ä Q w uma aplicação suave tal que, para cada B − Q ,
H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ seja uma aplicação linear ortogonal (diz-se então
que 0 é uma imersão riemaniana). Para cada B − Q , a aplicação bilinear
"Ð0 ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ

toma então valores em H0B ÐXB ÐQ ÑѼ .


Em particular, no caso em que cada H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ é um iso-
morfismo ortogonal, 0 é uma aplicação paralela.86
Dem: Sejam B! − Q e ?ß @ß A − XB! ÐQ Ñ arbitrários e consideremos secções
suaves \ œ Ð\B ÑB−Q e ] œ Ð]B ÑB−Q de X ÐQ Ñ tais que \B! œ ? e ]B! œ @
(cf. III.1.20). Tem-se então, para cada B − Q ,
ØH0B Ð\B Ñß H0B Ð]B ÑÙ œ Ø\B ß ]B Ù.
Derivando ambos os membros desta igualdade em B! na direcção de A,
obtemos, tendo em conta a alínea c) de III.3.4 e III.8.23,

86Repare-seque, tendo em conta III.8.24, a versão deste teorema em III.7.8 poderia ser
deduzida como corolário da versão agora apresentada, a qual tem uma demonstração com
o mesmo espírito mas um pouco mais simples que a daquela.
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 283

ØfH0B! ÐAÑÐ?Ñ  H0B! Ðf\B! ÐAÑÑß H0B! Ð@ÑÙ 


 ØH0B! Ð?Ñß fH0B! ÐAÑÐ@Ñ  H0B! Ðf]B! ÐAÑÑÙ œ
œ Øf\B! ÐAÑß @Ù  Ø?ß f]B! ÐAÑÙ

donde, lembrando a definição da Hessiana e tendo em conta, mais uma vez, o


facto de H0B! ser uma aplicação linear ortogonal,
Ø" Ð0 ÑB! ÐAß ?Ñß H0B! Ð@ÑÙ  ØH0B! Ð?Ñß "Ð0 ÑB! ÐAß @ÑÙ œ !.

Por permutação circular dos vectores ?ß @ß A, podemos também escrever


Ø" Ð0 ÑB! Ð?ß @Ñß H0B! ÐAÑÙ  ØH0B! Ð@Ñß "Ð0 ÑB! Ð?ß AÑÙ œ !,
Ø" Ð0 ÑB! Ð@ß AÑß H0B! Ð?ÑÙ  ØH0B! ÐAÑß "Ð0 ÑB! Ð@ß ?ÑÙ œ ! ,

pelo que, somando membro a membro estas três igualdades, depois de multi-
plicar ambos os membros da primeira por " obtemos, tendo em conta a
simetria da Hessiana,
# Ø" Ð0 ÑB! Ð?ß @Ñß H0B! ÐAÑÙ œ !.

Tendo em conta a arbitrariedade de A − XB! ÐQ Ñ, esta igualdade implica que


"Ð0 ÑB! Ð?ß @Ñ é ortogonal a H0B! ÐXB! ÐQ ÑÑ. No caso em que cada H0B é
mesmo um isomorfismo ortogonal de XB! ÐQ Ñ sobre X0 ÐB! Ñ ÐQ w Ñ a conclusão
anterior diz-nos que "Ð0 ÑB! Ð?ß @Ñ é ortogonal a X0 ÐB! Ñ ÐQ w Ñ, ou seja,
" Ð0 ÑB! Ð?ß @Ñ œ !, o que mostra que " Ð0 ÑB! œ ! e portanto 0 é uma aplicação
paralela. …

Vamos agora examinar rapidamente o modo como muito do que atrás foi
dito sobre morfismos lineares pode ser adaptado de modo a abarcar uma
situação ligeiramente diferente, a dos morfismos bilineares, definidos num
produto de dois fibrados vectoriais e com valores num terceiro fibrado
vectorial. Digamos, desde já, que tudo o que vamos referir sobre morfis-
mos bilineares pode ser estendido, sem dificuldades matemáticas acresci-
das, à noção mais geral de morfismo :-linear, definido num produto de :
fibrados vectoriais, onde :   ", o caso dos morfismos lineares passando
então a constituir o caso particular em que : œ ". A razão por que nos
limitamos ao caso : œ # é a de procurarmos trabalhar com notações
menos pesadas e, por isso, mais claras mas o leitor não terá dificuldade
em fazer as adatações necessárias se quiser obter enunciados válidos para
qualquer :.

III.8.33 Sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita e E § K um


conjunto arbitrário. Sejam I , I w e I ww espaços vectoriais, reais ou
complexos, de dimensão finita e I œ ÐIB ÑB−E , I w œ ÐIBw ÑB−E e
I ww œ ÐIBww ÑB−E três fibrados vectoriais de base E, com IB § I , IBw § I w e
IBww § I ww . Vamos chamar morfismo bilinear de I ‚ I w para I ww a uma
família Ð.B ÑB−E de aplicações bilineares .B À IB ‚ IBw Ä IBww e dizer que um
284 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

morfismo bilinear
. œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww
é suave se existir uma aplicação suave . œ Ð.B ÑB−E À E Ä PÐIß I w à I w Ñ tal
que, para cada B − E, a aplicação bilinear .B À IB ‚ IBw Ä IBww seja uma
restrição da aplicação bilinear .B À I ‚ I w Ä I ww (também se diz então que .
é um prolongamento suave de .).
III.8.34 Seja . œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww um morfismo bilinear. Tem-se então:
a) Se J œ ÐJB ÑB−E e J w œ ÐJBw ÑB−E são outros fibrados vectoriais e
- œ Ð-B ÑB−E À J Ä I e -w œ Ð-Bw ÑB−E À J w Ä I w são morfismos lineares,
então tem lugar um morfismo bilinear
. ‰ Ð- ‚ -w Ñ œ Ð.B ‰ Ð-B ‚ -Bw ÑÑB−E À J ‚ J w Ä I ww ,
o qual é suave se ., - e -w o forem.
b) Se J ww œ ÐJBww ÑB−E é outro fibrado vectorial e -ww œ Ð-Bww ÑB−E À I ww Ä J ww é
um morfismo linear, então tem lugar um morfismo bilinear
-ww ‰ . œ Ð-Bww ‰ .B ÑB−E À I ‚ I w Ä J ww ,
o qual é suave se . e -ww o forem.
Dem: A demonstração tem o mesmo espírito que a de III.8.3. Por exemplo,
no que diz respeito a a), no caso em que ., - e -w são suaves, podemos
w w
considerar aplicações suaves . œ Ð.B ÑB−E , - œ Ð-B ÑB−E e - œ Ð-B ÑB−E de
E para PÐIß I w à I ww Ñ, PÐJ à IÑ e PÐJ w à I w Ñ, respectivamente, cujos valores
são prolongamentos dos .B , -B e -Bw e então, utilizando a regra de Leibnitz,
na versão referida em I.7.8 relativamente à aplicação trilinear
PÐIß I w à I ww Ñ ‚ PÐJ à IÑ ‚ PÐJ w à I w Ñ Ä PÐJ ß J w à I ww Ñ,
Ð. ß - ß - w Ñ È . ‰ Ð - ‚ - w Ñ ,
w
obtemos uma aplicação suave E Ä PÐJ ß J w à I ww Ñ, B È .B ‰ Ð-B ‚ -B Ñ, com
w
cada .B ‰ Ð-B ‚ -B Ñ prolongando .B ‰ Ð-B ‚ -Bw Ñ. …
III.8.35 Tal como em III.8.4, podemos utilizar o resultado precedente para con-
cluir que a suavidade ou não de um morfismo bilinear não se altera se
substituirmos um, ou mais dos espaços ambientes das fibras por um subes-
paço vectorial que ainda contenha estas.
III.8.36 Sejam K e K s espaços vectoriais reais de dimensão finita, E § K e
s s s Ä E uma aplicação suave. Sejam I œ ÐIB ÑB−E ,
E § K subconjuntos e 0 À E
I œ ÐIB ÑB−E e I œ ÐIBww ÑB−E três fibrados vectoriais de base E, com
w w ww

IB § I , IBw § I w e IBww § I ww . Se . œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww é um


morfismo bilinear suave, então tem lugar um morfismo bilinear suave
imagem recíproca
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 285

0 ‡ . œ Ð.0 ÐCÑ ÑC−Es À 0 ‡ I ‚ 0 ‡ I w Ä 0 ‡ I ww .

Como anteriormente, um caso particular importante é aquele em que


Es § E § K e em que 0 À E s Ä E é a inclusão: Dizemos então que a imagem
s e notamo-la também . s .
recíproca 0 . é a restrição de . a E

ÎE
Dem: A demonstração é inteiramente análoga à de III.8.5. …
III.8.37 Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E , I w œ ÐIBw ÑB−E e I ww œ ÐIBww ÑB−E três
fibrados vectoriais de base E, com IB § I , IBw § I w e IBww § I ww . Tem-se
então:
a) Tem lugar um morfismo bilinear suave !À I ‚ I w Ä I ww que associa a
cada B − E a aplicação bilinear !À IB ‚ IBw Ä IBww .
b) Se -ß .À I ‚ I w Ä I ww são dois morfismos bilineares suaves, então
-  . œ Ð-B  .B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww
é também um morfismo bilinear suave.
c) Se .À I ‚ I w Ä I ww é um morfismo bilinear suave e 0 À E Ä Š é uma
aplicação suave, então
0 . œ Ð0 ÐBÑ.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww
é também um morfismo bilinear suave.
d) Se .À I ‚ I w Ä I ww é um morfismo bilinear suave e [ œ Ð[B ÑB−E e
[ w œ Ð[Bw ÑB−E são secções suaves de I e I w , então
.Ð[ ß [ w Ñ œ Ð.Ð[B ß [Bw ÑÑB−E
é uma secção suave de I ww .
Dem: A demonstração é inteiramente análoga à de III.8.6. …
III.8.38 Tal como em III.8.7, dados os fibrados vectoriais I œ ÐIB ÑB−E ,
I w œ ÐIBw ÑB−E e I ww œ ÐIBww ÑB−E , com IB § I , IBw § I w e IBww § I ww , e o
morfismo bilinear . œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww , então, supondo fixados pro-
dutos internos em I e I w , o morfismo bilinear é suave se, e só se, for suave a
aplicação
. ¼ œ Ð. ¼ w ww
B ÑB−E À E Ä PÐIß I à I Ñ

definida por .¼B œ .B ‰ Ð1B ‚ 1B Ñ, onde 1B e 1B são as projecções ortogonais


w w

sobre IB e IB , respectivamente.
w

III.8.39 Tal como em III.8.8, o resultado precedente pode ser utilizado para
mostrar que a suavidade de morfismos bilineares é uma questão local: Para
mostrar que um morfismo bilinear entre fibrados vectoriais de base E é
suave, basta provar a existência de uma família de abertos E4 de E, com
união E, tal que a restrição do morfismo bilinear a cada E4 seja suave (ou,
equivalentemente, que, para cada B! − E, exista um aberto Z de E, com
286 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

B! − Z , tal que a restrição a Z seja suave). Do mesmo modo ele justifica,


como no caso dos morfismos lineares, que um morfismo bilinear complexo é
suave se, e só se, o for no sentido real.

Até agora, apesar de já termos usado várias vezes a notação I ‚ I w , ela


tinha um sentido puramente formal e não pressupunha a noção de produto
de fibrados vectoriais. Essa noção vai-nos agora ser cómoda pelo que a
examinamos rapidamente.

III.8.40 Sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita, E § K, I e I w


espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão finita e I œ ÐIB ÑB−E e
I w œ ÐIBw ÑB−E fibrados vectoriais, com IB § I e IBw § I w . Tem-se então:
a) A família I ‚ I w œ ÐIB ‚ IBw ÑB−E é também um fibrado vectorial (o
fibrado vectorial produto).
b) No caso em que I e I w estão munidos de produto interno e em que
consideramos sobre I ‚ I w o correspondente produto interno (cf. I.3.1), a
projecção ortogonal de I ‚ I w sobre IB ‚ IBw é 1B ‚ 1Bw , onde 1B e 1Bw são
as projecções ortogonais sobre IB e IBw respectivamente, e a segunda forma
fundamental de I ‚ I w em B é a aplicação bilinear
XB ÐEÑ ‚ ÐIB ‚ IBw Ñ Ä ÐIB ‚ IBw Ѽ , Ð?ß ÐAß Aw ÑÑ È Ð2B Ð?ß AÑß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑ,

onde 2B e 2Bw são as segundas formas fundamentais de I e I w respectiva-


mente.
c) Se B − E e ÐAß Aw Ñ − IB ‚ IBw , o espaço vectorial tangente ao espaço total
ÐI ‚ I w ѵ em ÐBß ÐAß Aw ÑÑ é87
XÐBßÐAßAw ÑÑ ÐÐI ‚ I w ѵ Ñ œ
œ ÖÐ?ß ÐDß D w ÑÑ − K ‚ ÐI ‚ I w Ñ ± Ð?ß DÑ − XÐBßAÑÐIÑ • Ð?ß D w Ñ − XÐBßAw ÑÐI w Ñ×.

Dem: a) Dado B! − E, podemos considerar dois abertos Y e Y w de E,


contendo B! tais que I ÎY e I w ÎY w sejam fibrados vectoriais triviais, com
campos de referenciais [" ß á ß [7 e ["w ß á ß [8w respectivamente, e então,
considerando o aberto Y ww œ Y  Y w de E, que ainda contém B! , obtemos um
campo de referenciais para I ‚ I w ÎY ww associando a cada B − Y ww a base

Ð[" B ß !Ñß á ß Ð[7 B ß !Ñß Ð!ß ["w B Ñß á ß Ð!ß [8w B Ñ

de IB ‚ IBw .
b) Para mostrarmos que a projecção ortogonal de I ‚ I w sobre IB ‚ IBw é
1B ‚ 1Bw começamos por reparar que, se A − IB¼ e Aw − IBw ¼ , então vem

87Como já referimos, quando não há risco de confusão usamos frequentemente a notação


I , em vez de I˜ , para designar o espaço total de um fibrado vectorial I . Convirá, no
entanto, não usar essa simplificação quando se examina o produto de fibrados vectoriais,
uma vez que o espaço total do produto não é o produto dos espaços totais.
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 287

trivialmente ÐAß Aw Ñ − ÐIB ‚ IBw Ѽ e notamos então que, para cada ÐAß Aw Ñ
em I ‚ I w , vem
¼
ÐAß Aw Ñ œ Ð1B ÐAÑß 1Bw ÐAw ÑÑ  Ð1B¼ ÐAÑß 1Bw ÐAw ÑÑ,

com Ð1B ÐAÑß 1Bw ÐAw ÑÑ − IB ‚ IBw e Ð1B¼ ÐAÑß 1Bw ¼ ÐAw ÑÑ − ÐIB ‚ IBw Ѽ . A
fórmula para a segunda forma fundamental de I ‚ I w resulta agora por
derivação, a partir da caracterização em III.3.11.
c) Basta repararmos que, dado ? − XB ÐEÑ, o conjunto dos ÐDß D w Ñ − I ‚ I w
tais que Ð?ß ÐDß D w ÑÑ − XÐBßÐAßAw ÑÑ ÐÐI ‚ I w ѵ Ñ e o conjunto daqueles tais que
Ð?ß DÑ − XÐBßAÑ ÐIÑ e Ð?ß D w Ñ − XÐBßAw Ñ ÐI w Ñ são dois subespaços afins com o
mesmo subespaço vectorial IB ‚ IBw associado e com o elemento comum
Ð2B Ð?ß AÑß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑ. …

Vai-nos também ser útil dispor de uma extensão de II.2.12, em que o


espaço de aplicações lineares é substituído por um espaço de aplicações
bilineares. É o resultado que examinamos a seguir e que, como os que
temos vindo a estudar, pode ser facilmente adaptado para o caso geral dos
espaços de aplicações multilineares.

III.8.41 Sejam I , I w , I ww e K espaços vectoriais de dimensão finita, E § K um


conjunto e 0 À E Ä PÐIß I w à I ww Ñ uma aplicação. Tem-se então que 0 é de
classe G 5 se, e só se, quaisquer que sejam A − I e Aw − I w , é de classe G 5 a
aplicação 0ÐAßAw Ñ À E Ä I ww definida por 0ÐAßAw Ñ ÐBÑ œ 0 ÐBÑÐAß Aw Ñ, tendo-se
então, no caso em que 5   ",
H0ÐAßAw Ñ B Ð?Ñ œ H0B Ð?ÑÐAß Aw Ñ,

quaisquer que sejam B − E e ? − XB ÐEÑ.


Mais precisamente, se A" ß á ß A7 é uma base de I e Aw" ß á ß Aw8 é uma base
de I w , para concluir que 0 é de classe G 5 basta sabermos que, quaisquer que
sejam 3 e 4, a aplicação 0ÐA3 ßAw4 Ñ À E Ä I ww é de classe G 5 .
Dem: Para mostrar que, se 0 é de classe G 5 então cada 0ÐAßAw Ñ é de classe G 5 ,
e com a derivada caracterizada pela fórmula acima, basta repararmos que tem
lugar uma aplicação linear PÐIß I w à I ww Ñ Ä I ww , . È .ÐAß Aw Ñ. Suponha-
mos, reciprocamente, que são dadas bases de I e de I w tais que cada
0ÐA3 ßAw4 Ñ À E Ä I ww seja de classe G 5 . Para cada 3, podemos aplicar II.2.12 para
concluir que é de classe G 5 a aplicação 0ÐA3 Ñ À E Ä PÐI w à I ww Ñ, que a cada
B − E associa a aplicação linear I w Ä I ww , Aw È 0 ÐBÑÐA3 ß Aw Ñ e, mais uma
vez pelo mesmo resultado, resulta daqui que é de classe G 5 a aplicação
s0 À E Ä PÐIà PÐI w à I ww ÑÑ, que a cada B associa a aplicação linear

A È ÖAw È 0 ÐBÑÐAß Aw Ñ×.

Reparando enfim que 0 não é mais do que a composta de s0 com o


288 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

isomorfismo E"" À PÐIà PÐI à I ÑÑ Ä PÐIß I à I Ñ referido em I.1.6,


w ww w ww

concluímos que 0 é de classe G .


5
…
III.8.42 Sejam E § K, I œ ÐIB ÑB−E , I w œ ÐIBw ÑB−E e I ww œ ÐIBww ÑB−E três
fibrados vectoriais de base E, com IB § I , IBw § I w e IBww § I ww e
. œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww um morfismo bilinear. Podemos então
considerar uma aplicação associada entre os espaços totais
ww
.˜À ÐI ‚ I w ѵ Ä I˜ , .˜ÐBß ÐAß Aw ÑÑ œ ÐBß .B ÐAß Aw ÑÑ,
e o morfismo bilinear . é suave se, e só se, .˜ é uma aplicação suave.
Dem: Supondo que o morfismo bilinear é suave, podemos considerar uma
aplicação suave . œ Ð.B ÑB−E de E em PÐIß I w à I ww Ñ tal que cada .B seja
uma restrição de .B e então o facto de se ter .˜ÐBß ÐAß Aw ÑÑ œ ÐBß .B ÐAß Aw ÑÑ
implica que .̃ é uma aplicação suave. Suponhamos, reciprocamente, que
ww
.̃À ÐI ‚ I w ѵ Ä I˜ é uma aplicação suave. Fixemos produtos internos em
I e em I w . O facto de I e I w serem fibrados vectoriais garante a suavidade
das aplicações E Ä PÐIà IÑ e E Ä PÐI w à I w Ñ, que a B associam as
projecções ortogonais 1B e 1Bw pelo que ficamos com uma aplicação suave
E ‚ ÐI ‚ I w Ñ Ä ÐI ‚ I w ѵ , ÐBß ÐAß Aw ÑÑ È ÐBß Ð1B ÐAÑß 1Bw ÐAw ÑÑÑ,

e portanto, por composição, com uma aplicação suave


E ‚ ÐI ‚ I w Ñ Ä I ww , ÐBß ÐAß Aw ÑÑ È ÐBß .B Ð1B ÐAÑß 1Bw ÐAw ÑÑÑ œ ÐBß .¼ w
B ÐAß A ÑÑ ,

onde .¼B é o prolongamento de .B associado aos produtos internos de I e de


I w . Em particular, vemos que, para cada A − I e Aw − I w , é suave a
aplicação E Ä I ww , B È .¼B ÐAß A Ñ o que, tendo em conta o resultado
w

precedente, implica que é suave a aplicação E Ä PÐIß I w à I ww Ñ, B È .¼


B, e
portanto que . é um morfismo bilinear suave. …
III.8.43 Sejam I œ ÐIB ÑB−E , I w œ ÐIBw ÑB−E e I ww œ ÐIBww ÑB−E três fibrados
vectoriais de base E, com IB § I , IBw § I w e IBww § I ww e
. œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww um morfismo bilinear. Suponhamos que I e I w
são fibrados vectoriais triviais, com campos de referenciais [" ß á ß [7 e
["w ß á ß [8w respectivamente. Tem-se então que o morfismo bilinear . é
suave se, e só se, para cada 4ß 5 , .Ð[4 ß [5w Ñ œ Ð.B Ð[4 B ß [5w B ÑB−E é uma
secção suave de I ww .
Dem: A condição necessária é já conhecida, uma vez que os [4 e os [5w são
secções suaves. Suponhamos, reciprocamente, que cada .Ð[4 ß [5w Ñ é uma
secção suave de I ww . Podemos considerar o fibrado vectorial trivial de base
ÐI ‚ I w ѵ , que a cada ÐBß ÐAß Aw ÑÑ − ÐI ‚ I w ѵ associa a fibra IB ‚ IBw , o
qual vai admitir o campo de referenciais constituído pelas 7  8 secções que
em cada ÐBß ÐAß Aw ÑÑ − ÐI ‚ I w ѵ tomam os valores
Ð["B ß !Ñß á ß Ð[7B ß !Ñß Ð!ß ["w B Ñß á ß Ð!ß [8w B Ñ,
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 289

assim como a secção suave que em cada ÐBß ÐAß Aw ÑÑ − ÐI ‚ I w ѵ toma o


valor ÐAß Aw Ñ. Aplicando III.1.13, concluímos a existência de aplicações
suaves 0" ß á ß 07 ß 1" ß á ß 18 À ÐI ‚ I w ѵ Ä Š definidas por
ÐAß Aw Ñ œ 0" ÐBß ÐAß Aw ÑÑÐ[" B ß !Ñ  â  07 ÐBß ÐAß Aw ÑÑÐ[7 Bß !Ñ 
 1" ÐBß ÐAß Aw ÑÑÐ!ß ["w B Ñ  â  18 ÐBß ÐAß Aw ÑÑÐ!ß [8w BÑ,

para as quais se tem assim


A œ 0" ÐBß ÐAß Aw ÑÑ[" B  â  07 ÐBß ÐAß Aw ÑÑ[7 B ,
Aw œ 1" ÐBß ÐAß Aw ÑÑ["w B  â  18 ÐBß ÐAß Aw ÑÑ[8w B ,

e vemos agora que, para cada ÐBß ÐAß Aw ÑÑ − ÐI ‚ I w ѵ ,


.˜ÐBß ÐAß Aw ÑÑ œ ÐBß .B ÐAß Aw ÑÑ œ
œ ˆB ß " 04 ÐBß ÐAß Aw ÑÑ 15 ÐBß ÐAß Aw ÑÑ .B Ð[4 B ß [5w B щ,
4ß5

ww
o que mostra que .À ˜ ÐI ‚ I w ѵ Ä I˜ é uma aplicação suave, e portanto,
pelo resultado precedente, . é um morfismo bilinear suave. …
III.8.44 Como exemplos importantes de morfismos bilineares suaves entre
fibrados vectoriais temos:
a) Sejam K e I espaços vectoriais reais, o segundo dos quais munido de
produto interno, Q § K uma variedade e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado
vectorial, com IB § I . Sendo, para cada B − Q , 2B À XB ÐQ Ñ ‚ IB Ä IB¼ a
segunda forma fundamental,
2 œ Ð2B ÑB−Q À X ÐQ Ñ ‚ I Ä I ¼
é um morfismo bilinear suave.
b) Sejam K e Kw espaços euclidianos, Q § K e Q w § Kw duas variedades e
0 À Q Ä Q w uma aplicação suave. Sendo, para cada B − Q , " Ð0 ÑB À
XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ a Hessiana,
" Ð0 Ñ œ Ð" Ð0 ÑB ÑB−Q À X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ Ä 0 ‡ X ÐQ w Ñ
é um morfismo bilinear suave.
Dem: a) Uma vez que tem lugar uma aplicação suave Q Ä PÐIà IÑ, que a
cada B associa a projecção ortogonal 1B de I sobre IB , podemos considerar
um aberto Y de K contendo Q e uma aplicação suave 1 sÀ Y Ä PÐIà IÑ tal
que 1sB œ 1B , para cada B − Q . Tendo em conta III.8.41, obtemos então uma
aplicação suave de Q para PÐKß Ià IÑ que a cada B associa a aplicação
bilinear Ð?ß AÑ È H1 sB Ð?ÑÐAÑ, aplicação bilinear essa que é um prolonga-
mento de 2B .
b) Sejam Y um aberto de K contendo Q e 0 À Y Ä K w uma aplicação suave
prolongando 0 . Tendo em conta a conclusão de a), podemos considerar uma
aplicação suave 2 œ Ð2B ÑB−Q de Q em PÐKß Kà KÑ tal que cada segunda
290 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

forma fundamental 2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ seja uma restrição de


2B . Lembrando a fórmula para a Hessiana em III.8.31,
" Ð0 ÑB Ð?ß @Ñ œ 10w ÐBÑ ÐH# 0 B Ð?ß @Ñ  H0 B Ð2B Ð?ß @ÑÑÑ,

obtemos uma aplicação suave de Q em PÐKß Kà K w Ñ que a cada B − Q


associa a aplicação bilinear
Ð?ß @Ñ È 10w ÐBÑ ÐH# 0 B Ð?ß @Ñ  H0 B Ð2 B Ð?ß @ÑÑÑ,

que prolonga "Ð0 ÑB . …


III.8.45 Sejam K um espaço vectorial real de dimensão finita, E § K um
conjunto arbitrário, I , I w e I ww espaços vectoriais, reais ou complexos, de
dimensão finita, munidos de produto interno e I œ ÐIB ÑB−E , I w œ ÐIBw ÑB−E
e I ww œ ÐIBww ÑB−E três fibrados vectoriais de base E, com IB § I , IBw § I w e
IBww § I ww , e consideremos as respectivas segundas formas fundamentais
2B À XB ÐEÑ ‚ IB Ä IB¼ , 2Bw À XB ÐEÑ ‚ IBw Ä IBw ¼ e 2Bww À XB ÐEÑ ‚ IBww Ä IBww ¼ .
Se . œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww é um morfismo bilinear suave, tem lugar,
para cada B − E, uma aplicação linear
f.B À XB ÐEÑ Ä PÐIB ,IBw à IBww Ñ
(a derivada covariante de .) definida pela condição de se ter, qualquer que
seja a aplicação suave . œ Ð.B ÑB−E À E Ä PÐIß I w à I ww Ñ com cada .B res-
trição de . B ,
f.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ œ
œ H.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  .B Ð2B Ð?ß AÑß Aw Ñ  .B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑ  2Bww Ð?ß .BÐAß Aw ÑÑ œ
œ 1Bww ˆH.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  .B Ð2B Ð?ß AÑß Aw Ñ  .B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw Ñщ,

onde 1Bww é a projecção ortogonal de I ww sobre IBww . Tem-se além disso, para a
ww
correspondente aplicação suave .À ˜ ÐI ‚ I w ѵ Ä I˜ entre os espaços totais,
definida por .˜ÐBß ÐAß A ÑÑ œ ÐBß .B ÐAß A ÑÑ,
w w

H.˜ÐBßÐAßAw ÑÑ Ð?ß Ð2B Ð?ß AÑß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑÑ œ


œ Ð?ß f.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  2Bww Ð?ß .B ÐAß Aw ÑÑÑ.

Dem: Sendo . œ Ð.B ÑB−E À E Ä PÐIß I w à I ww Ñ um prolongamento suave do


morfismo bilinear ., ficamos evidentemente com uma aplicação linear f.B
de XB ÐEÑ para PÐIB ß IBw à I ww Ñ, definida por
f.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ œ
œ H.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  .B Ð2B Ð?ß AÑß Aw Ñ  .B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑ  2Bww Ð?ß .BÐAß Aw ÑÑ
pelo que, para concluirmos que temos uma aplicação linear bem definida
f.B À XB ÐEÑ Ä PÐIB ß IBw à IBww Ñ, tudo o que temos que mostrar é que a
expressão do segundo membro desta igualdade pertence a IBww e não depende
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 291

da escolha do prolongamento suave . de .. Ora, uma vez que, para a


ww
˜ ÐI ‚ I w ѵ Ä I˜ , se tem
correspondente aplicação suave .À
.˜ÐBß ÐAß Aw ÑÑ œ ÐBß .B ÐAß Aw ÑÑ œ ÐBß .B ÐAß Aw ÑÑ,

obtemos, por derivação no ponto ÐBß ÐAß Aw ÑÑ na direcção do vector tangente


Ð?ß Ð2B Ð?ß AÑß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑÑ − XÐBßÐAßAw ÑÑ ÐI ‚ I w Ñ e tendo em conta III.3.19,
Ð?ß H.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  .B Ð2B Ð?ß AÑß Aw Ñ  .B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑÑ œ
œ H.˜ÐBßÐAßAw ÑÑ Ð?ß Ð2B Ð?ß AÑß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑÑ − XÐBß.B ÐAßAw ÑÑ ÐI ww Ñ,

donde, por um lado, mais uma vez pelo mesmo resultado,


H.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  .B Ð2B Ð?ß AÑß Aw Ñ  .B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑ  2Bww Ð?ß .BÐAß AwÑÑ − IBww
e, por outro lado, o valor
H.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  .B Ð2B Ð?ß AÑß Aw Ñ  .B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑ
não depende do prolongamento suave considerado. Por fim, o facto de se ter
também
f.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ œ 1Bww ˆH.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  .B Ð2B Ð?ß AÑß Aw Ñ  .BÐAß 2Bw Ð?ß Aw Ñщ

resulta de se ter
H.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  .B Ð2B Ð?ß AÑß Aw Ñ  .B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑ œ
œ f.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  2Bww Ð?ß .B ÐAß Aw ÑÑ,

com f.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ − IBww e 2Bww Ð?ß .B ÐAß Aw ÑÑ − IBww ¼ . …


III.8.46 (Nota) Como no caso dos morfismos lineares, a igualdade
H.˜ÐBßÐAßAw ÑÑ Ð?ß Ð2B Ð?ß AÑß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑÑ œ
œ Ð?ß f.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ  2Bww Ð?ß .B ÐAß Aw ÑÑÑ,

estabelecida no resultado precedente, para além de ter servido para mostrar


que a definição da derivada covariante de um morfismo bilinear não depende
do prolongamento considerado e conduz a uma aplicação bilinear com
valores na fibra, permite também mostrar que a derivada covariante de um
morfismo bilinear suave não se altera quando substituímos os espaços
ambientes das fibras, dos fibrados vectoriais domínio ou do de chegada, por
subespaços vectoriais que ainda contenham as fibras.
III.8.47 Também como no caso dos morfismos lineares, se K é um espaço
vectorial real de dimensão finita, E § K e I , I w e I ww são espaços vectoriais
reais ou complexos, então, considerando os fibrados vectoriais constantes
IE , IEw e IEww , um morfismo bilinear suave . œ Ð.B ÑB−E À IE ‚ IEw Ä IEww é
o mesmo que uma aplicação suave E Ä PÐIß I w à I ww Ñ e, para um tal
morfismo bilinear suave, a derivada covariante f.B não depende dos
292 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

produtos internos que se considerem em I , I w e I ww e é dada por


f.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ œ H.B Ð?ÑÐAß Aw Ñ.
Em particular, se .À I ‚ I w Ä I ww é uma aplicação bilinear, o morfismo
bilinear constante .E À IE ‚ IEw Ä IEww é um morfismo bilinear suave com
derivada covariante nula em cada ponto.
III.8.48 Em geral, se . œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww é um morfismo bilinear suave,
com os espaços ambientes das fibras munidos de produto interno, diz-se que
. é um morfismo bilinear paralelo se se tem f.B Ð?Ñ œ !, quaisquer que
sejam B − E e ? − XB ÐEÑ. Tal como no caso dos morfismos lineares, esta
condição é equivalente à de se ter
H.˜ÐBßÐAßAw ÑÑ Ð?ß Ð2B Ð?ß AÑß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑÑ œ Ð?ß 2Bww Ð?ß .BÐAß Aw ÑÑÑ,

quaisquer que sejam B − E, ? − XB ÐEÑ, A − IB e Aw − IBw .


III.8.49 (Regra de Leibnitz) Seja . œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww um morfismo
bilinear suave, com os espaços ambientes das fibras munidos de produto
interno, e sejam [ œ Ð[B ÑB−E e [ w œ Ð[Bw ÑB−E secções suaves de I e I w ,
respectivamente. Tem-se então, para a secção suave .Ð[ ß [ w Ñ de I ww ,
f.Ð[ ß [ w ÑB Ð?Ñ œ f.B Ð?ÑÐ[B ß [Bw Ñ  .B Ðf[B Ð?Ñß [Bw Ñ  .B Ð[B ß f[Bw Ð?ÑÑ.

Dem: Seja . œ Ð.B ÑB−E uma aplicação suave de E em PÐIß I w à I ww Ñ tal que
cada .B seja uma restrição de .B . Vem então
f.Ð[ ß [ w ÑB Ð?Ñ œ H.Ð[ ß [ w ÑB Ð?Ñ  2Bww Ð?ß .B Ð[B ß [Bw ÑÑ œ
œ H.B Ð?ÑÐ[B ß [Bw Ñ  .B ÐH[B Ð?Ñß [Bw Ñ 
œ  .B Ð[B ß H[Bw Ð?ÑÑ  2Bww Ð?ß .B Ð[B ß [Bw ÑÑ œ
œ H.B Ð?ÑÐ[B ß [Bw Ñ  .B Ðf[B Ð?Ñß [Bw Ñ 
œ  .B Ð2B Ð?ß [B Ñß [Bw Ñ  .B Ð[B ß f[Bw Ð?ÑÑ 
œ  .B Ð[B ß 2Bw Ð?ß [Bw ÑÑ  2Bww Ð?ß .B Ð[B ß [Bw ÑÑ œ
œ f.B Ð?ÑÐ[B ß [Bw Ñ  .B Ðf[B Ð?Ñß [Bw Ñ  .B Ð[B ß f[Bw Ð?ÑÑ.

…
III.8.50 (Corolário) Nas condições anteriores, um morfismo bilinear suave
. œ Ð.B ÑB−E é paralelo se, e só se, quaisquer que sejam as secções suaves
[ œ Ð[B ÑB−E de I e [ w œ Ð[Bw ÑB−E de I w , B! − E e ? − XB! ÐEÑ, tem-se
f.Ð[ ß [ w ÑB! Ð?Ñ œ .B! Ðf[B! Ð?Ñß [Bw ! Ñ  .B! Ð[B! ß f[Bw ! Ð?ÑÑ.

Dem: A condição necessária é uma consequência imediata da fórmula de


Leibnitz precedente, tal como o é a condição suficiente, se nos lembrarmos
de que, dados A − IB! e Aw − IBw ! , existem sempre secções suaves
[ œ Ð[B ÑB−E de I e [ w œ Ð[Bw ÑB−E de I w tais que [B! œ A e [Bw ! œ Aw
(cf. III.1.20). …
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 293

III.8.51 (Corolário) Sejam K é um espaço vectorial real de dimensão finita,


E § K, I um espaço vectorial, real ou complexo, munido de produto
interno, e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I . Sendo, para cada
B − E, .B À IB ‚ IB Ä Š a aplicação bilinear real restrição do produto
interno de I , tem-se então que . œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I Ä ŠE é um morfismo
bilinear suave paralelo.
Dem: Apesar de podemos apresentar uma demonstração directa, a partir da
definição, podemos, depois de reparar que a suavidade de . resulta de
podemos considerar um prolongamento constante, igual ao produto interno
de I , aplicar o resultado precedente, lembrando a regra de Leibnitz na alínea
c) de III.3.4. …
III.8.52 Seja . œ Ð.B ÑB−E À I ‚ I w Ä I ww um morfismo bilinear suave, onde os
espaços ambientes das fibras estão munidos de produto interno. Tem-se
então:
a) Se J œ ÐJB ÑB−E e J w œ ÐJBw ÑB−E são outros fibrados vectoriais, com os
espaços ambientes das fibras munidos de produto interno, e
- œ Ð-B ÑB−E À J Ä I e -w œ Ð-Bw ÑB−E À J w Ä I w são morfismos lineares
suaves, então, para o correspondente morfismo bilinear suave
. ‰ Ð- ‚ -w Ñ œ Ð.B ‰ Ð-B ‚ -Bw ÑÑB−E À J ‚ J w Ä I ww ,
tem-se
fÐ. ‰ Ð- ‚ -w ÑÑB Ð?Ñ œ f.B Ð?Ñ ‰ Ð-B ‚ -Bw Ñ 
 .B ‰ Ðf-B Ð?Ñ ‚ -Bw Ñ  .B ‰ Ð-B ‚ f-Bw Ð?ÑÑ,

por outras palavras,


fÐ. ‰ Ð- ‚ -w ÑÑB Ð?ÑÐAß Aw Ñ œ f.B Ð?ÑÐ-B ÐAÑß -Bw ÐAw ÑÑ 
 .B Ðf-B Ð?ÑÐAÑß -Bw ÐAw ÑÑ  .B Ð-B ÐAÑß f-Bw Ð?ÑÐAw ÑÑÞ

b) Se J ww œ ÐJBww ÑB−E é outro fibrado vectorial e -ww œ Ð-Bww ÑB−E À I ww Ä J ww é


um morfismo linear suave, então, para o correspondente morfismo bilinear
suave
-ww ‰ . œ Ð-Bww ‰ .B ÑB−E À I ‚ I w Ä J ww ,
tem-se
fÐ-ww ‰ .ÑB Ð?Ñ œ f-Bww Ð?Ñ ‰ .B  -Bww ‰ Ðf.B Ð?ÑÑ,
por outras palavras
fÐ-ww ‰ .ÑB Ð?ÑÐAß Aw Ñ œ f-Bww Ð?ÑÐ.B ÐAß Aw ÑÑ  -Bww Ðf.B Ð?ÑÐAß Aw ÑÑ.

s Bw e 2
sB , 2
Dem: Notemos 2B , 2Bw , 2Bww , 2 s wwB as segundas formas fundamentais dos
fibrados vectoriais I , I w , I ww , J , J w e J ww , respectivamente. Usando as
notações de III.8.34, podemos escrever, quanto a a),
294 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

fÐ. ‰ Ð- ‚ -w ÑÑB Ð?ÑÐAß Aw Ñ œ


œ HÐ. ‰ Ð- ‚ -w ÑÑB Ð?ÑÐAß Aw Ñ  .B Ð-B Ð2 s B Ð?ß AÑÑß -w BÐAw ÑÑ 
w
s B Ð?ß Aw ÑÑÑ  2Bww Ð?ß -B Ð-B ÐAÑß -Bw ÐAw ÑÑÑ œ
 .B Ð-B ÐAÑß -w B Ð2
œ H.B Ð?ÑÐ-B ÐAÑß -Bw ÐAw ÑÑ  .B ÐH-B Ð?ÑÐAÑß -Bw ÐAw ÑÑ 
s B Ð?ß AÑÑß -w BÐAw ÑÑ 
 .B Ð-B ÐAÑß H-w B Ð?ÑÐAw ÑÑ  .B Ð-B Ð2
 .B Ð-B ÐAÑß -w B Ð2s wB Ð?ß Aw ÑÑÑ  2Bww Ð?ß .B Ð-B ÐAÑß -Bw ÐAw ÑÑÑ œ
œ f.B Ð?ÑÐ-B ÐAÑß -Bw ÐAw ÑÑ  .B Ð2B Ð?ß -B ÐAÑÑß -Bw ÐAwBÑÑ 
 .B Ð-B ÐAB Ñß 2Bw Ð?ß -Bw ÐAwB ÑÑÑ  .B ÐH-B Ð?ÑÐAÑß -Bw ÐAw ÑÑ 
 .B Ð-B ÐAÑß H-w B Ð?ÑÐAw ÑÑ  .B Ð-B Ð2 s B Ð?ß AÑÑß -Bw ÐAw ÑÑ 
s wB Ð?ß Aw ÑÑÑ œ
 .B Ð-B ÐAÑß -w B Ð2
œ f.B Ð?ÑÐ-B ÐAÑß -Bw ÐAw ÑÑ  .B Ðf-B Ð?ÑÐAÑß Aw Ñ  .B ÐAß f-Bw Ð?ÑÐAw ÑÑ

e, quanto a b),
fÐ-ww ‰ .ÑB Ð?ÑÐAß Aw Ñ œ
œ HÐ-ww ‰ .ÑB Ð?ÑÐAß Aw Ñ  -ww B Ð.B Ð2B Ð?ß AÑß Aw ÑÑ 
s Bww Ð?ß -Bww Ð.B ÐAß Aw ÑÑÑ œ
 -ww B Ð.B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑÑ  2
œ H-ww B Ð?ÑÐ.B ÐAß Aw ÑÑ  -ww B ÐH.B Ð?ÑÐAß Aw ÑÑ 
 -ww B Ð.B Ð2B Ð?ß AÑß Aw ÑÑ  -ww B Ð.B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑÑ 
2s wwB Ð?ß -Bww Ð.B ÐAß Aw ÑÑÑ œ
œ f-Bww Ð?ÑÐ.B ÐAß Aw ÑÑ  -ww B Ð2Bww Ð?ß .B ÐAß Aw ÑÑÑ 
 -ww B ÐH.B Ð?ÑÐAß Aw ÑÑ  -ww B Ð.B Ð2B Ð?ß AÑß Aw ÑÑ 
 -ww B Ð.B ÐAß 2Bw Ð?ß Aw ÑÑÑ œ
œ f-Bww Ð?ÑÐ.B ÐAß Aw ÑÑ  -Bww Ðf.B Ð?ÑÐAß Aw ÑÑ. …

III.8.53 Sejam I œ ÐIB ÑB−E , I w œ ÐIBw ÑB−E e I ww œ ÐIBww ÑB−E fibrados vectoriais
de base E, com IB § I , IBw § I w e IBww § I ww , onde I , I w e I ww estão
munidos de produto interno. Tem-se então:
a) Se - œ Ð-B ÑB−E e . œ Ð.B ÑB−E são morfismos bilineares suaves
I ‚ I w Ä I ww e - − Š, então
fÐ-  .ÑB Ð?Ñ œ f-B Ð?Ñ  f.B Ð?Ñ,
f(c.)B Ð?Ñ œ -f.B Ð?Ñ.

b) (Regra de Leibnitz) Se . œ Ð.B ÑB−E é um morfismo linear suave


I ‚ I w Ä I ww e 0 À E Ä Š é uma aplicação suave, então
fÐ0 .ÑB Ð?Ñ œ H0B Ð?Ñ .B  0 ÐBÑ f.B Ð?Ñ.

Dem: Tal como no caso dos morfismos lineares, trata-se de consequências


directas da definição. …
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 295

III.8.54 Sejam K e K s espaços vectoriais reais de dimensão finita, E § K e


s s
E § K subconjuntos e 0 À Es Ä E uma aplicação suave. Sejam I , I w e I ww
espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão finita, munidos de
produto interno, e I œ ÐIB ÑB−E , I w œ ÐIBw ÑB−E e I ww œ ÐIBww ÑB−E fibrados
vectoriais de base E, com IB § I , IBw § I w e IBww § I ww . Se . œ Ð.B ÑB−E À
I Ä I w é um morfismo bilinear suave, tem-se, para cada C − E s e
s ,
@ − XC ÐEÑ
fÐ0 ‡ .ÑC Ð@Ñ œ f.0 ÐCÑ ÐH0C Ð@ÑÑ.

Dem: Tal como no caso dos morfismos lineares, trata-se de uma


consequência simples da definição, tendo em conta o teorema de derivação
da função composta. …

§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas

III.9.1 Sejam K e I espaços vectoriais reais de dimensão finita, E § K um


conjunto e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I . Chama-se
estrutura quase complexa de I a um morfismo linear N œ ÐNB ÑB−E À I Ä I
tal que cada NB À IB Ä IB seja uma estrutura complexa do espaço vectorial
real IB (cf. I.1.13).
Nas condições anteriores, se E s§K s é outro conjunto e 0 À E s Ä E é uma
aplicação suave, tem lugar uma estrutura quase complexa 0 N œ ÐN0 ÐCÑ ÑC−Es

do fibrado vectorial imagem recíproca 0 ‡ I , que é a que se considera implici-


tamente, na ausência de informação em contrário. Como habitualmente, um
caso particular importante é aquele em que E s § E e 0 é a inclusão, caso em
que ficamos com uma estrutura quase complexa NÎEs de I ÎEs .

III.9.2 Como exemplo trivial de estrutura quase complexa de um fibrado


vectorial temos aquele em que E § K, I é um espaço vectorial complexo e
I œ ÐIB ÑB−E é um fibrado vectorial complexo (ou seja, um fibrado vectorial
real com cada IB subespaço vectorial complexo de I — cf. III.1.24); sendo,
para cada B − E, NB À IB Ä IB a restrição da estrutura complexa de I , fica-
mos com uma estrutura quase complexa N œ ÐNB ÑB−E de I que é a que se
considera, salvo indicação em contrário, nesta situação. Observe-se que esta
estrutura quase complexa é trivialmente suave (isto é, é um morfismo linear
suave).
III.9.3 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais reais,
munidos de estruturas quase complexas N œ ÐNB ÑB−E e N w œ ÐNBw ÑB−E ,
respectivamente. Dizemos que um morfismo linear - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w é
um morfismo linear complexo se, para cada B − E, a aplicação linear real
-B À IB Ä IBw é mesmo uma aplicação linear complexa, ou seja, verifica a
296 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

condição NBw ‰ -B œ -B ‰ NB .
Por exemplo, no caso em que E § K, I e I w são espaços vectoriais
complexos e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E são fibrados vectoriais comple-
xos, com IB § I e IBw § I w , sobre os quais se consideram as estruturas
quase complexas induzidas pelas estruturas de I e I w , os morfismos lineares
complexos - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w são exactamente os morfismos lineares, no
sentido dos fibrados vectoriais complexos.

O que temos estado a examinar leva-nos a olhar intuitivamente para os


fibrados vectoriais reais munidos de estruturas complexas como sendo
algo que joga um papel semelhante aos fibrados vectoriais complexos. Os
resultados simples que enunciamos a seguir apontam no mesmo sentido.

III.9.4 Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E , com IB § I , um fibrado vectorial real de


dimensão 8 œ #:, munido de uma estrutura quase complexa suave
N œ ÐNB ÑB−E . Chamamos campo de referenciais complexo de I a um
sistema de : secções suaves [" ß á ß [: de I tal que, para cada B − E,
[" B ß á ß [: B seja uma base de IB , enquanto espaço vectorial complexo, ou,
o que é o mesmo, tal que as secções suaves [" ß N Ð[" Ñß á ß [: ß N Ð[: Ñ
constituam um campo de referenciais de I . Quando existe um tal campo de
referenciais complexo, dizemos que I é um fibrado vectorial ‚-trivial (é
claro que I é então, em particular, um fibrado vectorial trivial, no sentido
real).
Por exemplo, no caso em que E § K, I é um espaço vectorial complexo e
I œ ÐIB ÑB−E é um fibrado vectorial complexo, com IB § I , sobre o qual se
considera a estrutura quase complexa induzida pela estrutura de I , um
campo de referenciais complexo não é mais do que um campo de referenciais
no sentido dos fibrados vectoriais complexos.
III.9.5 Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E , com IB § I , um fibrado vectorial real de
dimensão 8 œ #:, munido de uma estrutura quase complexa suave
N œ ÐNB ÑB−E . Para cada B! − E, existe então um aberto Y de E, com
B! − Y , tal que I ÎY seja um fibrado vectorial ‚-trivial.
Dem: Seja A" ß á ß A: uma base de IB! , enquanto espaço vectorial complexo
definido por NB! . Sejam [" ß á ß [: secções suaves de I tais que [4 B! œ A4
(cf. III.1.20). podemos então considerar as secções suaves [" ß N Ð[" Ñß ß á ß
[: ß N Ð[: Ñ de I que em B! tomam os valores linearmente independentes
A" ß NB! ÐA" Ñß á ß A: ß NB! ÐA: Ñ pelo que, uma vez que o conjunto H#: ÐIÑ dos
sistemas de #: vectores linearmente independentes de I é aberto em I : ,
concluímos a existência de um aberto Y de E, com B! − Y , tal que, para
cada B − Y , [" B ß NB Ð[" B Ñß á ß [: B ß NB Ð[: B Ñ seja linearmente independen-
te, e portanto uma base de IB , o que implica que [" ÎY ß á ß [: ÎY é um
campo de referenciais complexo de I . …
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 297

III.9.6 Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais


reais, munidos de estruturas quase complexas suaves N œ ÐNB ÑB−E e
N w œ ÐNBw ÑB−E , respectivamente e seja - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo
linear complexo. Se [" ß á ß [: é um campo de referenciais complexo de I ,
tem-se que - é um morfismo linear suave se, e só se, cada secção -Ð[4 Ñ de
I w é suave.
Dem: A condição suficiente resulta de aplicar III.8.11 ao campo de referen-
ciais [" ß N Ð[" Ñß á ß [: ß N Ð[: Ñ de I porque cada -ÐN Ð[4 ÑÑ œ N w Ð-Ð[4ÑÑ
é também uma secção suave de I w . A condição necessária é uma
consequência do facto de um morfismo linear suave aplicar secções suaves
em secções suaves. …

Quando o espaço ambiente dum fibrado vectorial, munido duma estrutura


quase complexa, é um espaço euclidiano, podemos considerar a derivada
covariante da estrutura quase complexa, enquanto morfismo linear. O
resultado seguinte estabelece propriedades simples desta derivada cova-
riante.

III.9.7 Sejam K e I espaços vectoriais reais de dimensão finita, o segundo dos


quais munido de produto interno, E § K um conjunto e I œ ÐIB ÑB−E um
fibrado vectorial, com IB § I , munido de uma estrutura quase complexa
suave N œ ÐNB ÑB−E . Para cada B − E e ? − XB ÐEÑ, a derivada covariante
fNB Ð?ÑÀ IB Ä IB é então antilinear, isto é, verifica
fNB Ð?ÑÐNB ÐAÑÑ œ NB ÐfNB Ð?ÑÐAÑÑ.
Além disso, se a estrutura quase complexa é compatível com o produto
interno, isto é, se cada NB À IB Ä IB é um isomorfismo ortogonal, então, para
cada B − E, e ? − XB ÐEÑ, a derivada covariante fNB Ð?ÑÀ IB Ä IB é antiau-
toadjunta, isto é, verifica
ØfNB Ð?ÑÐAÑß Aw Ù œ ØAß fNB Ð?ÑÐAw ÑÙ.

Dem: Uma vez que, para cada B − E, tem-se NB ‰ NB œ M.IB , obtemos, por
derivação covariante de ambos os membros da identidade N ‰ N œ M.I ,
utilizando III.8.25 e III.8.20,
ÐfNB Ð?ÑÑ ‰ NB  NB ‰ ÐfNB Ð?ÑÑ œ !
e, aplicando ambos os membros em A, obtemos a primeira fórmula. Supo-
nhamos agora que a estrutura quase complexa é compatível com o produto
interno e sejam B! − E, ? − XB! ÐEÑ e Aß Aw − IB! . Consideremos secções
suaves [ e [ w de I tais que [B! œ A e [Bw ! œ Aw . Uma vez que, para cada
B − E, tem-se
Ø[B ß [Bw Ù œ ØNB Ð[B Ñß NB Ð[Bw ÑÙ,
obtemos, derivando ambos os membros em B! na direcção de ? e tendo em
298 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

conta III.3.4 e III.8.23,


Øf[B! Ð?Ñß Aw Ù  ØAß f[Bw ! Ð?ÑÙ œ ØfN Ð[ ÑB! Ð?Ñß NB! ÐAw ÑÙ  ØNB! ÐAÑß fN Ð[ w ÑB! Ð?ÑÙ œ
œ ØfNB! Ð?ÑÐAÑß NB! ÐAw ÑÙ  ØNB! Ðf[B! Ð?ÑÑß NB! ÐAw ÑÙ 
œ  ØNB! ÐAÑß fNB! Ð?ÑÐAw ÑÙ  ØNB! ÐAÑß NB! Ðf[Bw ! Ð?ÑÑÙ œ
œ ØfNB! Ð?ÑÐAÑß NB! ÐAw ÑÙ  Øf[B! Ð?Ñß Aw Ù 
œ  ØNB! ÐAÑß fNB! Ð?ÑÐAw ÑÙ  ØAß f[Bw ! Ð?ÑÙ,
donde, tendo em conta o resultado precedente,
! œ ØfNB! Ð?ÑÐAÑß NB! ÐAw ÑÙ  ØNB! ÐAÑß fNB! Ð?ÑÐAw ÑÙ œ
œ ØNB! ÐfNB! Ð?ÑÐAÑÑß Aw Ù  ØNB! ÐAÑß fNB! Ð?ÑÐAw ÑÙ œ
œ ØfNB! Ð?ÑÐNB! ÐAÑÑß Aw Ù  ØNB! ÐAÑß fNB! Ð?ÑÐAw ÑÙ,

pelo que, subsituindo A por NB! ÐAÑ na igualdade anterior, obtemos final-
mente
! œ ØfNB! Ð?ÑÐAÑß Aw Ù  ØAß fNB! Ð?ÑÐAw ÑÙ. …

III.9.8 (A dimensão real #) Nas condições anteriores, se a estrutura quase


complexa é compatível com o produto interno e se cada IB tem dimensão
real #, então o morfismo linear N œ ÐNB ÑB−E À I Ä I é paralelo, isto é,
tem-se fNB Ð?Ñ œ !, para cada B − E e ? − XB ÐEÑ.
Dem: Começamos por reparar que, dado A − IB , o resultado precedente
permite escrever
ØfNB Ð?ÑÐAÑß AÙ œ ØAß fNB Ð?ÑÐAÑÙ œ ØfNB Ð?ÑÐAÑß AÙ,
donde ØfNB Ð?ÑÐAÑß AÙ œ !, e
ØfNB Ð?ÑÐAÑß NB ÐAÑÙ œ ØAß fNB Ð?ÑÐNB ÐAÑÑÙ œ ØfNBÐ?ÑÐNBÐAÑÑß AÙ œ
œ ØNB ÐfNB Ð?ÑÐAÑÑß AÙ œ ØfNB Ð?ÑÐAÑß NBÐAÑÙ,
donde ØfNB Ð?ÑÐAÑß NB ÐAÑÙ œ !. Se A œ !, tem-se, é claro, fNB Ð?ÑÐAÑ œ !
e, se A Á !, Aß NB ÐAÑ é um sistema ortogonal de vectores não nulos de IB
(cf. I.2.8) pelo que as duas igualdade anteriores mostram que fNB Ð?ÑÐAÑ é
um vector de IB ortgonal a dois vectores de uma base de IB , portanto
ortogonal a IB , o que implica que fNB Ð?ÑÐAÑ œ !. …

O resultado precedente era intuitivamente previsível, dada a ideia que os


morfismos lineares paralelos são aqueles que são “moralmente” constan-
tes, uma vez que, como se viu em I.4.24, para cada B − E existem duas, e
só duas estruturas complexas compatíveis de IB , uma associada a cada
uma das orientações. O resultado seguinte mostra a relação entre a
suavidade da estrutura quase complexa e a da orientação que a determina.

III.9.9 Sejam E § K, I um espaço euclidiano e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado


vectorial de dimensão #, munido de uma orientação ! œ Ð!B ÑB−E , e seja,
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 299

para cada B − E, NB À IB Ä IB a única estrutura complexa compatível com o


produto interno cuja orientação associada seja !B (cf. I.4.24). Tem-se então
que a estrutura quase complexa N œ ÐNB ÑB−E de I é suave se, e só se, a
orientação ! é suave.
Dem: Comecemos por supor que a estrutura quase complexa é suave. Para
cada B! − E podemos considerar um aberto Y de E, com B! − Y tal que
exista uma secção suave [ œ Ð[B ÑB−Y de I ÎY que nunca se anule (a
primeira secção de um campo de referenciais). Tem-se então que NÎY Ð[ Ñ œ
ÐNB Ð[B ÑÑB−Y é outra secção suave de I ÎY com a propriedade de, para cada
B − Y , [B ß NB Ð[B Ñ ser uma base directa de IB , o que mostra que a
orientação ! œ Ð!B ÑB−E é suave. Suponhamos, reciprocamente, que esta
orientação é suave. Seja B! − E arbitrário. Seja Y um aberto de E, com
B! − Y , tal que I ÎY admita um campo de referenciais ortonormado [" ß [# .
Tendo em conta III.2.5, podemos já supor, se necessário substituindo Y por
um aberto mais pequeno e substituindo eventualmente [# por [# , que,
para cada B − Y , a base ortonormada [" B ß [# B de IB é directa. Tendo em
conta a caracterização de NB em I.4.24, tem-se então NB Ð[" B Ñ œ [# B , e
portanto também NB Ð[# B Ñ œ [" B , pelo que, por III.8.11, NÎY œ ÐNB ÑB−Y é
um morfismo linear suave. O facto de a suavidade de um morfismo linear ser
uma questão local implica finalmente que N œ ÐNB ÑB−E À I Ä I é um
morfismo linear suave. …
III.9.10 Sejam K um espaço vectorial real e Q § K uma variedade sem bordo.
Chama-se estrutura quase complexa de Q a uma estrutura quase complexa
N œ ÐNB ÑB−Q do fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ. A uma variedade sem
bordo munida de uma estrutura quase complexa também se dá o nome de
variedade quase complexa.
III.9.11 Nas condições anteriores, se Y é um aberto de Q , vem
X ÐY Ñ œ X ÐQ ÑÎY , pelo que a variedade Y fica com uma estrutura quase
complexa induzida que é a que se considera implicitamente.
III.9.12 Sejam Q § K e Q w § Kw duas variedades sem bordo munidas de
estruturas quase complexas N e N w . Diz-se que uma aplicação 0 À Q Ä Q w é
holomorfa se 0 é suave e, para cada B − Q , H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ é
uma linear complexa, isto é, H0 À X ÐQ Ñ Ä 0 ‡ X ÐQ w Ñ é um morfismo linear
complexo.
São naturalmente válidas as propriedades functoriais naturais: Se Q está
munida de uma estrutura quase complexa, então M.Q À Q Ä Q é holomorfa;
Se Q , Q w e Q ww estão munidas de estruturas quase complexas e 0 À Q Ä Q w
e 1À Q w Ä Q ww são holomorfas, então 1 ‰ 0 À Q Ä Q ww é holomorfa.
Diz-se que 0 À Q Ä Q w é um difeomorfismo holomorfo se 0 é um
difeomorfismo e uma aplicação holomorfa; é então imediato que o
difeomorfismo inverso 0 " À Q w Ä Q é também uma aplicação holomorfa.
300 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.9.13 Quando I e I w são espaços vectoriais complexos e Y § I e Y w § I w


são abertos, tem-se que X ÐY Ñ œ IY e X ÐY w Ñ œ IYw w estão munidos natural-
mente das estruturas quase complexas constantes e uma aplicação 0 À Y Ä Y w
é holomorfa (respectivamente é um difeomorfismo holomorfo), no sentido
precedente, se, e só se, ela é holomorfa (respectivamente é um difeomorfismo
holomorfo), no sentido referido em I.6.19 (respectivamente em I.8.4).
III.9.14 Seja Q § K uma variedade sem bordo munida de uma estrutura quase
complexa N œ ÐNB ÑB−Q . Dado B! − Q , dizemos que Q é uma variedade
holomorfa em B! se existir uma carta local holomorfa de Q em B! , isto é,
um difeomorfismo holomorfo :À Y Ä Z , com Y aberto de Q contendo B! e
Z aberto num espaço vectorial complexo J de dimensão finita. No caso em
que J tem dimensão complexa 8 também se diz que Q tem dimensão
complexa 8 em B! (o facto de este número estar bem definido resulta de que
a dimensão de Q em B! , enquanto variedade real, é então igual a #8).
Dizemos que Q é uma variedade holomorfa se é uma variedade holomorfa
em cada B! − Q .
III.9.15 Seja Q § K uma variedade sem bordo munida de uma estrutura quase
complexa N œ ÐNB ÑB−Q . Se Q é uma variedade holomorfa, então a estrutura
quase complexa N é suave.
Dem: Seja B! − Q arbitrário. Sejam Y um aberto de Q , com B! − Y , Z um
aberto de um espaço vectorial complexo J de dimensão finita e :À Y Ä Z
um difeomorfismo holomorfo. Notando N w À J Ä J a estrutura complexa de
J , tem-se assim, para cada B − Y , H:B ‰ NB œ N w ‰ H:B , donde
NB œ ÐH:B Ñ" ‰ N w ‰ H:B œ HÐ:" Ñ:ÐBÑ ‰ N w ‰ H:B .

Podemos assim concluir que o morfismo linear NÎY À X ÐQ ÑÎY Ä X ÐQ ÑÎY é


suave, por ser o composto dos morfismos lineares suaves
H:À X ÐQ ÑÎY œ X ÐY Ñ Ä JZ NZw À JZ Ä JZ :‡ H:" À JZ Ä X ÐY Ñ œ X ÐQ ÑÎY .

Tendo em conta o facto de a suavidade de um morfismo linear ser uma


questão local, deduzimos finalmente que N À X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ é um morfismo
linear suave. …
III.9.16 Um exemplo trivial de variedade holomorfa é um aberto Y de um
espaço vectorial complexo J (a identidade de Y constitui uma carta
holomorfa); a sua dimensão complexa é então a dimensão de J enquanto
espaço vectorial complexo.

Antes de examinarmos um exemplo menos trivial de variedade holomor-


fa, examinemos a definição e uma caracterização explícita das projecções
estereográficas das esferas sobre os seus espaços tangentes.
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 301

III.9.17 (As projecções esterográficas) Seja I um espaço euclidiano orientado


de dimensão 8   " e seja W § I a hipersuperfície esférica
W œ ÖB − I ± mBm œ "×.
Para cada B! − W , tem lugar um difeomorfismo 0 À XB! ÐWÑ Ä W Ï ÖB! ×,
com 0 Ð!Ñ œ B! , definido do seguinte modo: Para cada A − XB! ÐWÑ, 0 ÐAÑ é o
único elemento de W Ï ÖB! × na recta afim que contém A e B! , isto é,
#
0 ÐAÑ œ B!  ÐA  B! Ñ.
"  mAm#
O difeomorfismo inverso 0 " À W Ï ÖB! × Ä XB! ÐWÑ está definido por
"
0 " ÐBÑ œ B!  ÐB  B! Ñ
"  ØBß B! Ù
(diz-se que 0 " é a projecção estereográfica a partir de B! ).

Figura 8
Dem: Seja A − XB! ÐWÑ, portanto ØAß B! Ù œ !. Tem-se A Á B! e os
elementos da recta afim que contém A e B! são os da forma
B!  >ÐA  B! Ñ, com > − ‘ pelo que, para mostrar que esta recta afim tem
um único elemento em W Ï ÖB! ×, basta mostrar a existência de um único
> Á 0 tal que B!  >ÐA  B! Ñ − W , ou seja, tal que
ØB!  >ÐA  B! Ñß B!  >ÐA  B! ÑÙ œ ".
Esta condição é equivalente a
"  #>ØB! ß A  B! Ù  ># ØA  B! ß A  B! Ù œ ",
ou seja, a #>  Ð"  mAm# Ñ># œ !, o que mostra que temos realmente uma
#
única solução não nula, nomeadamente > œ "mAm # . Ficou assim provado que

a aplicação 0 está bem definida e é dada pela fórmula no enunciado, em


particular é uma aplicação suave. Para verificarmos que 0 é uma bijecção de
XB! ÐWÑ sobre W Ï ÖB! ×, basta mostrarmos que, para cada B − W Ï ÖB! ×,
existe um único elemento da recta afim que contém B! e B pertencente a
302 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

XB! ÐWÑ, ou seja, que existe um único > − ‘ tal que


ØB!  >ÐB  B! Ñß B! Ù œ !,
condição que é equivalente a "  >ÐØBß B! Ù  "Ñ œ !. Uma vez que, pela
desigualdade de Schwarz (cf. I.2.2), tem-se ØBß B! Ù  ", a equação anterior
"
admite efectivamente uma única solução, a saber > œ "ØBßB !Ù
, pelo que ficou
provado que 0 é realmente uma bijecção, assim como a fórmula para 0 " no
enunciado, que implica, em particular, que 0 é mesmo um difeomorfismo.
III.9.18 (A esfera de Riemann) Seja I um espaço euclidiano orientado de
dimensão $ e seja W § I a hipersuperfície esférica
W œ ÖB − I ± mBm œ "×,
sobre a qual consideramos a orientação canónica, definida em III.2.16. Seja,
para cada B − W , NB À XB ÐWÑ Ä XB ÐWÑ a única estrutura complexa do espaço
vectorial XB ÐWÑ, de dimensão #, compatível com o produto interno induzido
pelo de I e cuja orientação associada seja a referida (cf. I.4.24). Tem-se
então que W , com a estrutura quase complexa ÐNB ÑB−W , é uma variedade
holomorfa, a que damos o nome de esfera de Riemann.
Mais precisamente, para cada B! − W , o inverso 0 À XB! ÐWÑ Ä W Ï ÖB! × da
projecção estereográfica é um difeomorfismo holomorfo.
Dem: Basta mostrar que o difeomorfismo 0 À XB! ÐWÑ Ä W Ï Ö!× é holomorfo,
isto é, que, para cada A! − XB! ÐWÑ, H0A! À XB! ÐWÑ Ä X0 ÐA! Ñ ÐWÑ é uma
aplicação linear complexa, relativamente às estruturas complexas NB! do
domínio e N0 ÐA! Ñ do espaço de chegada. Por derivação, vemos que, para cada
? − XB! ÐWÑ,
%ØA! ß ?Ù #
H0A! Ð?Ñ œ ÐA!  B! Ñ  ?.
Ð"  mA! m# Ñ# "  mA! m#
Uma vez que ØA! ß B! Ù œ Ø?ß B! Ù œ !, resulta daqui que,
"'ØA! ß ?Ù# "'ØA! ß ?Ù
ØH0A! Ð?Ñß H0A! Ð?ÑÙ œ Ð"  mA! m# Ñ  ØA! ß ?Ù 
Ð"  mA! m# Ñ% Ð"  mA! m# Ñ$
%
œ  Ø?ß ?Ù œ
Ð"  mA! m# Ñ#
%
œ Ø?ß ?Ù,
Ð"  mA! m# Ñ#

o que mostra que H0A! À XB! ÐWÑ Ä X0 ÐA! Ñ ÐWÑ é uma aplicação linear con-
#
forme, com coeficiente de conformalidade "mA !m
# . Tendo em conta I.4.25,

para verificar que cada isomorfismo H0A! À XB! ÐWÑ Ä X0 ÐA! Ñ ÐWÑ é uma
aplicação linear complexa, basta verificar que ele conserva as orientações,
por outras palavras, basta verificar que o morfismo linear suave H0 , do
fibrado vectorial constante de base XB! ÐWÑ e fibra XB! ÐWÑ para o fibrado
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 303

vectorial 0 ‡ X ÐWÑ conserva as orientações. Tendo em conta III.8.14, e uma


vez que a base XB! ÐWÑ é conexa, basta verificarmos que o isomorfismo
H0! À XB! ÐWÑ Ä XB! ÐWÑ conserva as orientações. Ora isso é uma
consequência de se ter H0! Ð?Ñ œ #?. …
III.9.19 Sejam Q § K e Q w § Kw duas variedades sem bordo, munidas de
estruturas quase complexas ÐNB ÑB−Q e ÐNCw ÑC−Q w . Pode-se então considerar
sobre a variedade sem bordo Q ‚ Q w § K ‚ K w uma estrutura quase com-
plexa produto, ÐNÐBßCÑ
ww
ÑÐBßCÑ−Q ‚Q w , definida por NÐBßCÑ
ww
œ NB ‚ NCw (por outras
palavras, a estrutura de espaço vectorial complexo de XÐBßCÑ ÐQ ‚ Q w Ñ não é
mais do que o produto das estruturas de espaço vectorial complexo de
XB ÐQ Ñ e XC ÐQ w Ñ). Além disso se a variedade Q é holomorfa em B! e a
variedade Q w é holomorfa em C! , então a variedade Q ‚ Q w é holomorfa
em ÐB! ß C! Ñ.
Dem: Suponhamos que Q e Q w são variedades holomorfas em B! e C!
respectivamente. Podemos então considerar abertos Y e Y w de Q e Q w , com
B! − Y e C! − Y w , abertos Z e Z w de espaços vectorial complexos J e J w de
dimensão finita e difeomorfismos holomorfos :À Y Ä Z e <À Y w Ä Z w e
então o dfeomorfismo : ‚ <À Y ‚ Y w Ä Z ‚ Z w é um difeomorfismo holo-
morfo, uma vez que HÐ: ‚ <ÑÐBßCÑ œ H:B ‚ H<C é uma aplicação linear
complexa, enquanto produto cartesiano de aplicações lineares complexas.
Concluímos assim que a variedade Q ‚ Q w é holomorfa em ÐB! ß C! Ñ. …

A definição e resultado anteriores podem ser estendidos naturalmente,


com adaptações evidentes, que apenas tornam mais pesada a notação, ao
caso do produto de um número finito de variedades quase complexas.
Vamos agora examinar alguns resultados que permitem com frequência
reconhecer que certas variedades munidas de estruturas quase complexas
são variedades holomorfas.

III.9.20 (Lema) Sejam J um espaço vectorial complexo e Q § J uma varie-


dade sem bordo tal que, para cada B − Q , XB ÐQ Ñ seja um subespaço
vectorial complexo de J e seja, para cada B − Q , NB À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ a
estrutura complexa restrição da de J . Tem-se então que Q é uma variedade
holomorfa.
Dem: Fixemos em J um produto interno complexo. Seja B! − Q arbitrário.
Uma vez que XB! ÐQ Ñ é um subespaço vectorial complexo de J , podemos
considerar a projecção ortogonal 1À J Ä XB! ÐQ Ñ, que vai ser uma aplicação
linear complexa, em particular uma aplicação suave. A restrição
1ÎQ À Q Ä XB! ÐQ Ñ é também uma aplicação suave, entre variedades sem
bordo, cuja derivada em B! e a restrição de 1 a XB! ÐQ Ñ, portanto a identidade
de XB! ÐQ Ñ, que é um isomorfismo, pelo que, pelo teorema da função inversa,
vai existir um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que a restrição de 1 a Y é um
difeomorfismo de Y sobre um aberto Z de XB! ÐQ Ñ. Para cada B − Y , o
304 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

isomorfismo HÐ1ÎE ÑB À XB ÐQ Ñ Ä XB! ÐQ Ñ, sendo a restrição da aplicação


linear complexa 1 ao subespaço vectorial complexo XB ÐQ Ñ de J , vai ser um
isomorfismo complexo e portanto 1ÎY À Y Ä Z é um difeomorfismo holo-
morfo. …
III.9.21 Em geral, se Q § K é uma variedade quase complexa, dizemos que
uma variedade sem bordo Q w § Q é uma subvariedade quase complexa se,
para cada B − Q w , XB ÐQ w Ñ é um subespaço vectorial complexo de XB ÐQ Ñ.
Considera-se então em Q w , salvo aviso em contrário, a estrutura quase
complexa induzida, definida pela família dos NBw À XB ÐQ w Ñ Ä XB ÐQ w Ñ restri-
ções das estruturas complexas NB À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ.
III.9.22 Sejam Q § K uma variedade quase complexa e Q w § Q uma subva-
riedade quase complexa. Seja B! − Q w tal que Q seja uma variedade
holomorfa em B! . Tem-se então que Q w é também uma variedade holomorfa
em B! .
Dem: Sejam Y um aberto de Q , com B! − Y , Z um aberto de um espaço
vectorial complexo J e :À Y Ä Z um difeomorfismo holomorfo. Podemos
então considerar o aberto Y w œ Y  Q w de Q w , que contém B! , e o difeomor-
fismo :ÎY w À Y w Ä :ÐY w Ñ § J . Para cada B − Y w ,
X:ÐBÑ Ð:ÐY w ÑÑ œ H:B ÐXB ÐY w ÑÑ œ H:B ÐXB ÐQ w ÑÑ

é um subespaço vectorial complexo de J pelo que o lema anterior garante


que :ÐY w Ñ é uma variedade holomorfa. Podemos assim considerar um aberto
Z w de :ÐY w Ñ, com :ÐB! Ñ − Z w , um aberto [ w de um espaço vectorial
complexo J s e um difeomorfismo holomorfo <À Z w Ä [ w . Tem-se então que
w
s œ :" ÐZ w Ñ é um aberto de Y w , e portanto de Q w , contendo B! , e < ‰ : s w
Y ÎY
é um difeomorfismo holomorfo de Y w sobre [ w , portanto uma carta holo-
morfa local de Q w em B! . …
III.9.23 (Teorema da imersão holomorfa) Sejam Q w § Kw e Q § K duas
variedades quase complexas e 0 À Q w Ä Q uma aplicação holomorfa.
a) Seja B! − Q w tal que H0B! À XB! ÐQ w Ñ Ä X0 ÐB! Ñ ÐQ Ñ seja injectiva e que Q
seja variedade holomorfa em 0 ÐB! Ñ. Tem-se então que Q w é uma variedade
holomorfa em B! .
b) Suponhamos que, para cada B − Q w , H0B À XB ÐQ w Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ Ñ é
injectiva (0 é uma imersão holomorfa). Se Q ww é uma variedade quase
complexa e 1À Q ww Ä Q w é uma aplicação contínua tal que 0 ‰ 1À Q ww Ä Q
seja holomorfa, então 1 é holomorfa.
Dem: a) Tendo em conta II.4.23, podemos considerar um aberto Y w de Q w ,
com B! − Y w , tal que 0ÎY w seja um difeomorfismo de Y w sobre um
subconjunto E § Q , o qual vai ser, em particular, uma variedade sem bordo.
Para cada B − Y w ,
X0 ÐBÑ ÐEÑ œ H0B ÐXB ÐY w ÑÑ œ H0B ÐXB ÐQ w ÑÑ
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 305

é um subespaço vectorial complexo de X0 ÐBÑ ÐQ Ñ. Pelo resultado precedente,


E é uma variedade holomorfa em 0 ÐB! Ñ pelo que podemos considerar um
aberto Y de E, com 0 ÐB! Ñ − Y , um aberto Z de um espaço vectorial
complexo J e um difeomorfismo holomorfo :À Y Ä Z . Tem-se então que
s w œ 0 " ÐY Ñ é um aberto de Y w , e portanto de Q w , contendo B! , e : ‰ 0 s w é
Y ÎY
um difeomorfismo holomorfo de Y s w sobre Z , portanto uma carta holomorfa
local de Q em B! .
w

b) Tendo em conta II.4.25, já sabemos que 1 é uma aplicação suave pelo que
tudo o que temos que verificar é que, para cada D − Q ww , H1D é uma
aplicação linear complexa. Ora, tendo em conta o facto de H01ÐDÑ e
HÐ0 ‰ 1ÑD serem aplicações lineares complexas, podemos escrever, para cada
? − XD ÐQ ww Ñ,
w
H01ÐDÑ ÐN1ÐDÑ ÐH1D Ð?ÑÑÑ œ N0 Ð1ÐDÑÑ ÐH01ÐDÑ ÐH1D Ð?ÑÑÑ œ N0 Ð1ÐDÑÑ ÐHÐ0 ‰ 1ÑD Ð?ÑÑ œ
œ HÐ0 ‰ 1ÑD ÐNDww Ð?ÑÑ œ H01ÐDÑ ÐH1D ÐNDww Ð?ÑÑÑ,

de onde deduzimos, por H01ÐDÑ ser injectiva, que N1ÐDÑ


w
ÐH1D Ð?ÑÑ œ
H1D ÐND Ð?ÑÑ.
ww
…
III.9.24 (Lema) Sejam J um espaço vectorial complexo, Y § J um aberto,
Q w § K uma variedade quase-complexa e 0 À Y Ä Q w uma aplicação
holomorfa. Seja B! − Y tal que H0B! À J Ä X0 ÐB! Ñ ÐQ w Ñ seja uma aplicação
linear sobrejectiva. Tem-se então:
a) A variedade Q w é holomorfa em 0 ÐB! Ñ.
b) Existe um aberto Z w de Q w , com 0 ÐB! Ñ − Z w , e uma aplicação holomorfa
1À Z w Ä Y , tal que 1Ð0 ÐB! ÑÑ œ B! e, para cada C − Z w , 0 Ð1ÐCÑÑ œ C (uma
secção holomorfa de 0 ).
Dem: Seja J ww § J , J ww œ kerÐH0B! Ñ, que é um subespaço vectorial
complexo de J e escolhamos um subespaço vectorial complexo J w § J tal
que tenha lugar a soma directa J œ J ww Š J w , por exemplo J w œ J ww ¼ , para
um produto interno complexo que se considere em J . Tem-se assim que a
restrição de H0B! a J w é injectiva, e portanto, pela igualdade da dimensão dos
espaços envolvidos, é um isomorfismo de J w sobre X0 ÐB! Ñ ÐQ w Ñ. Seja
s0 À ÐY  B! Ñ  J w Ä Q w

a aplicação suave definida por s0 ÐBÑ œ 0 ÐB  B! Ñ, para a qual a derivada


H0s ! À J w Ä X0 ÐB Ñ ÐQ w Ñ está definida por H0
s ! Ð?Ñ œ H0B! Ð?Ñ, sendo portanto
!

um isomorfismo. Pelo teorema da função inversa, podemos considerar um


aberto Z de J w , com ! − Z § ÐY  B! Ñ  J w , tal que s0 ÎZ seja um
difeomorfismo de Z sobre um aberto Z w de Q w , contendo 0 ÐB! Ñ œ s0 Ð!Ñ.
s B œ H0BB! w À J w Ä Xs ÐQ w Ñ é uma
Uma vez que, para cada B − Z , H0 ÎJ 0 ÐBÑ
aplicação linear complexa, vemos que s0 ÎZ é mesmo um difeomorfismo
holomorfo, o que mostra que Q w é realmente uma variedade holomorfa em
306 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

0 ÐB! Ñ. Por fim, para justificar b), basta considerar a aplicação 1À Z w Ä Y


definida por 1ÐCÑ œ Ð0s ÎZ Ñ" ÐCÑ  B! . …
III.9.25 (A submersão holomorfa) Sejam Q e Q w variedades quase-complexas
e 0 À Q Ä Q w uma aplicação holomorfa. Tem-se então:
a) Seja B! − Q tal que H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä X0 ÐB! Ñ ÐQ w Ñ seja uma aplicação
linear sobrejectiva e que Q seja uma variedade holomorfa em B! . Então a
variedade Q w é holomorfa em 0 ÐB! Ñ e existe um aberto Z w de Q w , com
0 ÐB! Ñ − Z w , e uma aplicação holomorfa 1À Z w Ä Q , tal que 1Ð0 ÐB! ÑÑ œ B!
e, para cada C − Z w , 0 Ð1ÐCÑÑ œ C (uma secção holomorfa de 0 ).
b) Suponhamos que 0 é sobrejectiva e que, para cada B − Q , a aplicação
linear H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ é sobrejectiva (0 é uma submersão holo-
morfa sobrejectiva). Se Q ww é uma variedade quase-complexa e 2À Q w Ä Q ww
é uma aplicação tal que 2 ‰ 0 À Q Ä Q ww seja holomorfa, então 2 é holo-
morfa.
Dem: a) Sejam J um espaço vectorial complexo, Y § J um aberto, [ um
aberto de E, com B! − [ , e :À Y Ä [ um difeomorfismo holomorfo.
Sendo D! œ :" ÐB! Ñ, podemos então considerar a aplicação holomorfa
0 ‰ :À Y Ä Q w , para a qual
HÐ0 ‰ :ÑB! œ H0B! ‰ H:D! À J Ä X0 ÐB! Ñ ÐQ w Ñ

é uma aplicação linear sobrejectiva pelo que, aplicando o lema anterior,


concluímos que Q w é uma variedade holomorfa em 0 ‰ :ÐD! Ñ œ 0 ÐB! Ñ e que
existe um aberto Z w de Q w , contendo 0 ÐB! Ñ uma aplicação holomorfa
2À Z w Ä [ tal que 2Ð0 ÐB! ÑÑ œ D! e 0 ‰ : ‰ 2ÐCÑ œ C , para cada C − Z w .
Para terminar a justificação de a), basta agora tomar para 1À Z w Ä Y a
aplicação holomorfa definida por 1 œ : ‰ 2 .
b) Tendo em conta II.4.31, já sabemos que 2À Q w Ä Q ww é uma aplicação
suave; o que está aqui em causa é o facto de 2 ser holomorfa, ou seja, de,
para cada C − Q w , H2C À XC ÐQ w Ñ Ä X2ÐCÑ ÐQ ww Ñ ser uma aplicação linear
complexa. Ora, dado @ − XC ÐQ w Ñ, podemos escolher B − Q tal que
0 ÐBÑ œ C e ? − XB ÐQ Ñ tal que H0B Ð?Ñ œ @ e então, tendo em conta o facto
de 0 e 2 ‰ 0 serem holomorfas, obtemos
H2C ÐNC Ð@ÑÑ œ H20 ÐBÑ ÐN0 ÐBÑ ÐH0B Ð?ÑÑÑ œ H20 ÐBÑ ÐH0B ÐNB Ð?ÑÑÑ œ
œ HÐ2 ‰ 0 ÑB ÐNB Ð?ÑÑ œ N2Ð0 ÐBÑÑ ÐHÐ2 ‰ 0 ÑB Ð?ÑÑ œ
œ N2ÐCÑ ÐH2C ÐH0B Ð?ÑÑÑ œ N2ÐCÑ ÐH2C Ð@ ÑÑ. …

Vamos agora utilizar o resultado precedente para obter mais um exemplo


importante, e não trivial, de variedade holomorfa.

III.9.26 (A variedade de Grassmann complexa) Seja I um espaço hermitiano


de dimensão 8 e seja KÐIÑ § P++ ÐIà IÑ a variedade de Grassmann, cujos
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 307

elementos são as projecções ortogonais sobre subespaços vectoriais


complexos de I (cf. II.5.13). Lembremos que, como se viu, se J § I é um
subespaço vectorial de dimensão 5 , KÐIÑ é uma variedade sem bordo em 1J
com dimensão #5Ð8  5Ñ e com espaço tangente
X1J ÐKÐIÑÑ œ Ö! − P++ ÐIà IÑ ± ! ‰ 1J  1J ‰ ! œ !×
œ Ö! − P++ ÐIà IÑ ± !ÐJ Ñ § J ¼ • !ÐJ ¼ Ñ § J ×,

que também pode ser caracterizado, em termos de matrizes relativas à


decomposição em soma directa ortogonal I œ J Š J ¼ , como o conjunto
dos ! cuja matriz é do tipo

”! ! •
! !‡#ß"
,
#ß"

com !#ß" − PÐJ à J ¼ Ñ arbitrária. Tem-se então:


a) Tem lugar uma estrutura quase complexa ÐN- Ñ-−KÐIÑ de KÐIÑ, onde, para
cada - œ 1J − KÐIÑ, a aplicação linear N- À X- ÐKÐIÑÑ Ä X- ÐKÐIÑÑ está
definida por
N- Ð!Ñ œ 3Ð#-  M.I Ñ ‰ !,
por outras palavras, quando ! tem a matriz referida acima, relativa à soma
directa ortogonal I œ J Š J ¼ , a matriz de N- Ð!Ñ é

” 3! • œ”
! •
! 3!‡#ß" ! Ð3!#ß" ч
.
#ß" ! 3! #ß"

Além disso KÐIÑ, com esta estrutura quase complexa, é mesmo uma
variedade holomorfa.
b) Consideremos o aberto KPÐIÑ do espaço vectorial complexo PÐIà IÑ
cujos elementos são os isomorfismos 0À I Ä I (cf. II.5.2). Fixado - œ
1J − KÐIÑ, tem lugar uma submersão holomorfa GJ À KPÐIÑ Ä KÐIÑ que
a cada isomorfismo 0 associa a projecção ortogonal 10ÐJ Ñ de I sobre 0ÐJ Ñ.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
1) Fixemos um subespaço vectorial J e reparemos que - œ 1J e #-  M.I
vão ter, relativamente à soma directa ortogonal I œ J Š J ¼ , respectiva-
mente matrizes

” ! !• ” ! M.J ¼ •
M.J ! M.J !
, ,

pelo que, para cada ! − X1J ÐKÐIÑÑ com matriz

”! ! •
! !‡#ß"
,
#ß"

N1J Ð!Ñ œ 3Ð#-  M.I Ñ ‰ ! vai ter matriz


308 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

” 3! ! • ” 3!#ß" ! •
! 3!‡#ß" ! Ð3!#ß" ч
œ ,
#ß"

em particular vai pertencer a X1J ÐKÐIÑÑ. Ficou assim bem definida uma
aplicação linear N- À X- ÐKÐIÑÑ Ä X- ÐKÐIÑÑ e a sua caracterização matricial
mostra que se tem N- ÐN- Ð!ÑÑ œ !, isto é, que N- é uma estrutura complexa
do espaço vectorial X- ÐKÐIÑÑ. Consideremos então a estrutura quase com-
plexa ÐN- Ñ-−KÐIÑ da variedade de Grassmann KÐIÑ.
2) Provemos agora que cada aplicação GJ À KPÐIÑ Ä KÐIÑ é suave. Para
isso, tendo em conta III.1.18, basta-nos mostrar que tem lugar um fibrado
vectorial de base KPÐIÑ, que a cada 0 − KPÐIÑ associa o subespaço
vectorial 0ÐJ Ñ § I . Ora, isso é uma consequência de que temos mesmo um
fibrado vectorial trivial, uma vez que, sendo A" ß á ß A5 uma base de J ,
obtemos um campo de referenciais associando a cada 0 − KPÐIÑ a base
0ÐA" Ñß á ß 0ÐA5 Ñ de 0ÐJ Ñ.
3) Tem-se GJ ÐM.I Ñ œ 1J . Apesar de não termos nenhuma fórmula explícita
para a aplicação GJ , vamos ver que podemos apresentar uma caracterização
matricial da derivada HÐGJ ÑM.I À PÐIà IÑ Ä X1J ÐKÐIÑÑ relativamente à
soma directa ortogonal I œ J Š J ¼ , nomeadamente que, se " − PÐIà IÑ
tem matriz

”" "#ß# •
""ß" ""ß#
,
#ß"

então HÐGJ ÑM.I Ð" Ñ − X1J ÐKÐIÑÑ tem matriz

”" ! •

! "#ß"
.
#ß"

Para isso, começamos por lembrar que a caracterização matricial de


X1J ÐKÐIÑÑ nos garante que a matriz de HÐGJ ÑM.I Ð" Ñ tem que ser do tipo

”# ! •

! ##ß"
,
#ß"

pelo que ficamos reduzidos a mostrar que se tem ##ß" œ "#ß" , isto é, que, para
cada A − J , tem-se HÐGJ ÑM.I Ð" ÑÐAÑ œ 1J ¼ Ð" ÐAÑÑ. Ora, sendo A − J ,
tem-se, para cada 0 − KPÐIÑß 0ÐAÑ − 0ÐJ Ñ, portanto GJ Ð0ÑÐ0ÐAÑÑ œ 0ÐAÑ
pelo que, por derivação de ambos os membros como funções de 0 em M.I na
direcção de " , obtemos
HÐGJ ÑM.I Ð" ÑÐM.I ÐAÑÑ  GJ ÐM.I ÑÐ" ÐAÑÑ œ " ÐAÑ,

ou seja
HÐGJ ÑM.I Ð" ÑÐAÑ œ " ÐAÑ  1J Ð" ÐAÑÑ œ 1J ¼ Ð" ÐAÑÑ,

como queríamos.
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 309

4) A caracterização matricial de HÐGJ ÑM.I À PÐIà IÑ Ä X1J ÐKÐIÑÑ obtida


em 3) mostra que esta aplicação linear é sobrejectiva e, tendo em conta a
caracterização matricial da estrutura complexa N1J , que ela é também uma
aplicação linear complexa. Para provarmos que GJ À KPÐIÑ Ä KÐIÑ é uma
submersão holomorfa resta-nos ver que, para cada 0 − KPÐIÑ,
HÐGJ Ñ0 À PÐIà IÑ Ä X10ÐJ Ñ ÐKÐIÑÑ é também uma aplicação linear complexa
sobrejectiva. Para isso reparamos que, considerando 0 − KPÐIÑ fixado,
podemos escrever, para cada ( − KPÐIÑ,
GJ Ð( ‰ 0Ñ œ 1(Ð0ÐJ ÑÑ œ G0ÐJ Ñ Ð(Ñ

pelo que, por derivação para ( œ M.I , obtemos


HÐGJ Ñ0 Ð" ‰ 0Ñ œ HÐG0ÐJ Ñ ÑM.I Ð" Ñ,

igualdade que também pode ser escrita na forma


HÐGJ Ñ0 Ð# Ñ œ HÐG0ÐJ Ñ ÑM.I Ð# ‰ 0" Ñ.

Concluímos assim que HÐGJ Ñ0 À PÐIà IÑ Ä X10ÐJ Ñ ÐKÐIÑÑ é uma aplicação


linear complexa sobrejectiva, por ser a composta da aplicação linear
complexa sobrejectiva HÐG0ÐJ Ñ ÑM.I À PÐIà IÑ Ä X10ÐJ Ñ ÐKÐIÑÑ com o
isomorfismo complexo PÐ0" à M.I ÑÀ PÐIà IÑ Ä PÐIà IÑ.
5) Uma vez provado que GJ À KPÐIÑ Ä KÐIÑ é uma submersão holomorfa,
podemos aplicar III.9.25 para garantir que KÐIÑ é uma variedade holomorfa
em 1J œ GJ ÐM.I Ñ. …

O facto de KÐIÑ ser uma parte do espaço vectorial complexo PÐIà IÑ


poderia levar-nos a pensar que se tratasse de uma subvariedade quase
complexa de PÐIà IÑ. Que isso não acontece, salvo em situações limites
triviais onde a dimensão de KÐIÑ é !, torna-se claro se repararmos que os
espaços tangentes a KÐIÑ têm que estar contidos no subespaço vectorial
real P++ ÐIà IÑ de PÐIà IÑ, o qual não contém subespaços vectoriais
complexos de PÐIà IÑ diferentes de Ö!×, uma vez que, se
! − P++ ÐIà IÑ, tem-se 3! − P++ ÐIà IÑ e a única aplicação linear
simultaneamente autoadjunta e antiautoadjunta é a aplicação !.
Repare-se que, apesar de a estrutura quase complexa de KÐIÑ poder
parecer algo artificial, ela é a que permite que as aplicações naturais GJ
fiquem holomorfas. O resultado que enunciamos a seguir mostra que é
também holomorfa outra aplicação natural envolvendo as variedades de
Grassmann.

III.9.27 Sejam I e I s espaços hermitianos e 0À I Ä I s uma aplicação linear


injectiva, não necessariamente unitária. É então holomorfa a aplicação suave
0‡ À KÐIÑ Ä KÐIÑ s , definida por 0‡ Ð1J Ñ œ 10ÐJ Ñ .88

88cf. III.1.21.
310 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Dem: Tudo o que temos que verificar é que, para cada 1J − KÐIÑ, a deri-
vada
s
HÐ0‡ Ñ1J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä X10ÐJ Ñ ÐKÐIÑÑ

é uma aplicação linear complexa. Ora, tendo em conta III.1.23 e a carac-


terização matricial dos espaços tangentes às variedades de Grassmann em
II.5.13, vemos que aquela aplicação linear associa a cada ! − X1J ÐKÐIÑÑ
com matriz

”! ! •
! !‡#ß"
#ß"

s
relativa à soma directa ortogonal I œ J Š J ¼ o elemento de X10ÐJ Ñ ÐKÐIÑÑ
com matriz

” •
! Ð10ÐJ Ѽ ‰ 0 ‰ !#ß" ‰ Ð0ÎJ Ñ" ч
10ÐJ Ѽ ‰ 0 ‰ !#ß" ‰ Ð0ÎJ Ñ" !

s œ 0ÐJ Ñ Š 0ÐJ Ѽ pelo que, para concluir


relativa à soma directa ortogonal I
o resultado, basta lembrar a caracterização matricial da estrutura complexa
em III.9.26. …

Vamos agora associar a cada estrutura quase complexa suave sobre uma
variedade Q e a cada B − Q uma aplicação bilinear, que apesar de ter
uma definição que parece algo artificial, vai ter propriedades de
invariância importantes. Trata-se de um fenómeno semelhante com o que
já encontrámos com o tensor de curvatura de uma variedade e a sua
invariância por isometria.

III.9.28 Seja Q § K uma variedade sem bordo, munida de uma estrutura quase
complexa suave ÐNB ÑB−Q . Fixado um produto interno auxiliar em K , tem
lugar, para cada B − Q , uma aplicação bilinear real
RB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ,
a que se dá o nome de tensor de Nijenhuis ou tensor de torção da estrutura
quase complexa em B,89 definida por
RB Ð?ß @Ñ œ fNB Ð?ÑÐNB Ð@ÑÑ  fNB Ð@ÑÐNB Ð?ÑÑ  fNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñ  fNBÐNBÐ@ÑÑÐ?Ñ

(as derivadas covariantes são as do morfismo linear N œ ÐNB ÑB−Q À


X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ, relativamente ao produto interno considerado em K ). Esta
aplicação bilinear é antissimétrica e antilinear em cada variável, isto é,
verifica as igualdades

89Veremos adiante que esta aplicação não depende do produto interno considerado em K.
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 311

RB Ð@ß ?Ñ œ RB Ð?ß @Ñ,


RB ÐNB Ð?Ñß @Ñ œ NB ÐRB Ð?ß @ÑÑ,xxxxRB Ð?ß NBÐ@ÑÑ œ NBÐRBÐ?ß @ÑÑ .

Dem: O facto de termos uma aplicação bilinear antissimétrica é uma conse-


quência imediata da definição. Podemos agora escrever, tendo em conta
III.9.7,
RB ÐNB Ð?Ñß @Ñ œ fNB ÐNB Ð?ÑÑÐNB Ð@ÑÑ  fNB Ð@ÑÐ?Ñ 
œ  fNB Ð?ÑÐ@Ñ  fNB ÐNB Ð@ÑÑÐNB Ð?ÑÑ œ
œ NB ÐfNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@ÑÑ  NB ÐfNB Ð@ÑÐNB Ð?ÑÑÑ 
œ  NB ÐfNB Ð?ÑÐNB Ð@ÑÑÑ  NB ÐfNB ÐNB Ð@ÑÑÐ?ÑÑ œ
œ NB ÐRB Ð?ß @ÑÑ,
o que mostra que RB é antilinear na primeira variável. A antilinearidade na
segunda variável é análoga ou, alternativamente, resulta da antilinearidade na
primeira, tendo em conta o facto de RB ser antissimétrica. …
III.9.29 Nas condições anteriores, se a variedade Q tem dimensão real #, o
tensor de torção RB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ é sempre !.
Dem: Trata-se de uma consequência simples de RB ser antissimétrica e anti-
linear em cada variável: Começamos por notar que, para cada ? − XB ÐQ Ñ, a
igualdade RB Ð?ß ?Ñ œ RB Ð?ß ?Ñ implica que RB Ð?ß ?Ñ œ !; tomamos então
? Á ! em XB ÐQ Ñ e reparamos que ? é uma base complexa de XB ÐQ Ñ, e
portanto ?ß NB Ð?Ñ é uma base real deste espaço e então as igualdades
RB Ð?ß ?Ñ œ !, RB Ð?ß NB Ð?ÑÑ œ NB ÐRB Ð?ß ?ÑÑ œ !
RB ÐNB Ð?Ñß NB Ð?ÑÑ œ !, RB ÐNB Ð?Ñß ?Ñ œ NBÐRBÐ?ß ?ÑÑ œ !

implicam que RB ÐAß Aw Ñ œ ! quaisquer que seja Aß Aw (começar por mostrar


que RB Ð?ß Aw Ñ œ ! œ RB ÐNB Ð?Ñß Aw Ñ, para cada Aw ). …
III.9.30 Seja Q § K uma variedade sem bordo, munida de uma estrutura quase
complexa suave ÐNB ÑB−Q e seja N œ ÐN B ÑB−Q uma aplicação suave de Q em
PÐKà KÑ com cada NB restrição de N B . Tem-se então
RB Ð?ß @Ñ œ HN B Ð?ÑÐNB Ð@ÑÑ  HN B Ð@ÑÐNB Ð?ÑÑ  HN BÐNBÐ?ÑÑÐ@Ñ  HN BÐN BÐ@ÑÑÐ?Ñ

fórmula que mostra, em particular, que o tensor de torção RB não depende do


produto interno auxiliar que se considera em K , e pode assim ser definido
sem referência explícita a este.
Dem: Consideremos o produto interno auxiliar em K , utilizado para a
definição de RB . Tendo em conta a definição da derivada covariante de um
morfismo linear em III.8.16, podemos escrever
312 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

fNB Ð?ÑÐNB Ð@ÑÑ œ HN B Ð?ÑÐNB Ð@ÑÑ  N BÐ2BÐ?ß NBÐ@ÑÑÑ  2BÐ?ß N BÐN BÐ@ÑÑÑ
fNB Ð@ÑÐNB Ð?ÑÑ œ HN B Ð@ÑÐNB Ð?ÑÑ  N BÐ2BÐ@ß NBÐ?ÑÑÑ  2 BÐ@ß N BÐN BÐ?ÑÑÑ
fNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñ œ HN B ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñ  N B Ð2B ÐNB Ð?Ñß @ÑÑ  2BÐNBÐ?Ñß N BÐ@ÑÑ
fNB ÐNB Ð@ÑÑÐ?Ñ œ HN B ÐNB Ð@ÑÑÐ?Ñ  N BÐ2BÐNBÐ@Ñß ?ÑÑ  2BÐN BÐ@Ñß N BÐ?ÑÑ

pelo que, tendo em conta o facto de 2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ ser


uma aplicação bilinear simétrica, vemos que RB Ð?ß @Ñ, igual à soma dos
primeiros membros destas quatro igualdades, é também dado pela fórmula no
enunciado. …
III.9.31 Seja Q § K e Q w § Kw variedades sem bordo, munidas de estruturas
quase complexas suaves ÐNB ÑB−Q e ÐNCw ÑC−Q w e seja 0 À Q Ä Q w uma apli-
cação holomorfa. Considerando os correspondentes tensores de torção
RB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ, RCw À XC ÐQ w Ñ ‚ XC ÐQ w Ñ Ä XC ÐQ w Ñ,

tem-se, para cada B − Q e ?ß @ − XB ÐQ Ñ,


H0B ÐRB Ð?ß @ÑÑ œ R0w ÐBÑ ÐH0B Ð?Ñß H0B Ð@ÑÑ.

Dem: Por derivação covariante das identidades H0B ‰ NB œ N0w ÐBÑ ‰ H0B ,
obtemos, tendo em conta III.8.25 e III.8.28,
ÐfH0B Ð?ÑÑ ‰ NB  H0B ‰ ÐfNB Ð?ÑÑ œ
œ ÐfN0w ÐBÑ ÐH0B Ð?ÑÑÑ ‰ H0B  N0w ÐBÑ ‰ ÐfH0B Ð?ÑÑ,

portanto, aplicando ambos os membros a @ − XB ÐQ Ñ,


" Ð0 ÑB Ð?ß NB Ð@ÑÑ  H0B ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑ œ
œ fN0w ÐBÑ ÐH0B Ð?ÑÑÐH0B Ð@ÑÑ  N0w ÐBÑ Ð"Ð0 ÑB Ð?ß @ÑÑ.

Lembrando o facto de a Hessiana "Ð0 ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ ser


uma aplicação bilinear simétrica, podemos agora escrever
R w 0 ÐBÑ ÐH0B Ð?Ñß H0B Ð@ÑÑ œ fN0w ÐBÑ ÐH0B Ð?ÑÑÐN0w ÐBÑ ÐH0B Ð@ÑÑÑ 
œ  fN0w ÐBÑ ÐH0B Ð@ÑÑÐN0w ÐBÑ ÐH0B Ð?ÑÑÑ  fN0w ÐBÑ ÐN0w ÐBÑ ÐH0B Ð?ÑÑÑÐH0BÐ@ÑÑ 
œ  fN0w ÐBÑ ÐN0w ÐBÑ ÐH0B Ð@ÑÑÑÐH0B Ð?ÑÑ œ
œ fN0w ÐBÑ ÐH0B Ð?ÑÑÐH0B ÐNB Ð@ÑÑÑ 
œ  fN0w ÐBÑ ÐH0B Ð@ÑÑÐH0B ÐNB Ð?ÑÑÑ  fN0w ÐBÑ ÐH0B ÐNB Ð?ÑÑÑÐH0BÐ@ÑÑ 
œ  fN0w ÐBÑ ÐH0B ÐNB Ð@ÑÑÑÐH0B Ð?ÑÑ œ
œ " Ð0 ÑB Ð?ß @ÑÑ  H0B ÐfNB Ð?ÑÐNB Ð@ÑÑÑ  N0w ÐBÑ Ð"Ð0 ÑBÐ?ß NBÐ@ÑÑÑ 
œ  " Ð0 ÑB Ð@ß ?Ñ  H0B ÐfNB Ð@ÑÐNB Ð?ÑÑÑ  N0w ÐBÑ Ð"Ð0 ÑBÐ@ß NBÐ?ÑÑÑ 
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 313

œ  " Ð0 ÑB ÐNB Ð?Ñß NB Ð@ÑÑ  H0B ÐfNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@ÑÑ  N0w ÐBÑÐ"Ð0 ÑBÐNBÐ?Ñß @ÑÑ 
œ  " Ð0 ÑB ÐNB Ð@Ñß NB Ð?ÑÑ  H0B ÐfNB ÐNB Ð@ÑÑÐ?ÑÑ  N0w ÐBÑÐ"Ð0 ÑBÐNBÐ@Ñß ?ÑÑ œ
œ H0B ÐfNB Ð?ÑÐNB Ð@ÑÑÑ  H0B ÐfNB Ð@ÑÐNB Ð?ÑÑÑ  H0B ÐfNBÐNBÐ?ÑÑÐ@ÑÑ 
œ  H0B ÐfNB ÐNB Ð@ÑÑÐ?ÑÑ œ H0B ÐRB Ð?ß @ÑÑ. …

III.9.32 (Corolário) Seja Q § K uma variedade sem bordo, munida de uma


estrutura quase complexa suave N œ ÐNB ÑB−Q , e consideremos o correspon-
dente tensor de torção RB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ. Seja Q w § Q uma
subvariedade quase complexa (cf. III.9.21), sobre a qual consideramos a
estrutura quase complexa induzida. Para cada B − Q w , o tensor de torção
RBw À XB ÐQ w Ñ ‚ XB ÐQ w Ñ Ä XB ÐQ w Ñ é então uma restrição de RB .
Dem: Basta aplicar III.9.31 à inclusão +À Q w Ä Q , que é uma aplicação
holomorfa, com derivada em cada ponto B − Q w igual à inclusão
XB ÐQ w Ñ Ä XB ÐQ Ñ. …
III.9.33 (Corolário) Seja Q § K uma variedade sem bordo, munida de uma
estrutura quase complexa ÐNB ÑB−Q . Se Q é uma variedade holomorfa, então
o tensor de torção RB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ é !.
Dem: Começamos por reparar que, se J é um espaço vectorial complexo e
se Z § J é um aberto, sobre o qual consideramos a estrutura quase
complexa constante, então, para cada C − Z , o tensor de torção
RCw À J ‚ J Ä J é !, como resulta imediatamente do facto de a derivada
covariante de um morfismo linear constante ser nula. Dados B! − Q e
?ß @ − XB! ÐQ Ñ, podemos agora considerar um aberto Y de Q , com B! − Y e
um difeomorfismo holomorfo :À Y Ä Z , com Z aberto de um espaço
vectorial complexo J , podendo então escrever-se
H:B! ÐRB! Ð?ß @ÑÑ œ R:w ÐB! Ñ ÐH:B! Ð?Ñß H:B! Ð@ÑÑ œ !,

donde, uma vez que H:B! é um isomorfismo, RB! Ð?ß @Ñ œ !. …


III.9.34 (Nota) Pode provar-se que, reciprocamente, toda a variedade sem bordo
Q munida de uma estrutura quase complexa suave cujo tensor de torção
R œ ÐRB ÑB−Q é identicamente nulo é uma variedade holomorfa (teorema de
Newlander-Nirenberg). Trata-se, no entanto de um resultado cuja demonstra-
ção é longa e envolvolve técnicas que saem do âmbito do nosso curso (cf.
[20]). Mesmo o caso particular em que a dimensão real de Q é #, caso em
que o teorema afirma que, qualquer que seja a estrutura quase complexa
suave, a variedade Q é holomorfa (cf. III.9.29), tem uma demonstração que
não estamos em condições de apresentar aqui.
III.9.35 Seja K um espaço euclidiano e seja Q § K uma variedade sem bordo,
munida de uma estrutura quase complexa suave N œ ÐNB ÑB−Q . Dizemos que
N é compatível com o produto interno de K se, para cada B − Q , a estrutura
complexa NB do espaço vectorial tangente XB ÐQ Ñ é compatível com o
produto interno induzido neste espaço pelo de K. Dizemos que Q é uma
314 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

variedade de Kähler se a sua estrutura quase complexa é compatível e


paralela, isto é, para cada B − Q e ? − XB ÐQ Ñ, fNB Ð?Ñ œ !.
III.9.36 (Notas) a) Se Q § K é uma variedade de Kähler, então, lembrando a
caracterização do tensor de torção RB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ em
III.9.28, tem-se RB œ !, para cada B, e portanto, se admitirmos o teorema de
Newlander-Nirenberg citado atrás, Q é automaticamente uma variedade
holomorfa.
b) Se Q § K é uma variedade de dimensão real #, munida de uma estrutura
quase complexa suave compatível, então o que vimos em III.9.8 mostra que
Q é uma variedade de Kähler.
Em particular, a esfera de Riemann, definida em III.9.18, é uma variedade de
Kähler. Repare-se que, nesse caso, foi provado, sem recurso ao teorema de
Newlander-Nirenberg, que a esfera de Riemann é uma variedade holomorfa.

Além do exemplo da esfera de Riemann, que acabamos de referir e do


exemplo trivial dos abertos dos espaços vectoriais complexos, com a
estrutura quase complexa constante, veremos adiante, no exercício III.85,
que a variedade de Grassmann complexa, referida em III.9.26, é também
uma variedade de Kähler.

III.9.37 Sejam K e Kw espaços euclidianos e Q § K e Q w § Kw duas variedades


de Kähler. Se 0 À Q Ä Q w é uma aplicação holomorfa, então a Hessiana
"Ð0 ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ é uma aplicação bilinear complexa.
Dem: Por derivação covariante das identidades H0B ‰ NB œ N0w ÐBÑ ‰ H0B ,
obtemos, tendo em conta III.8.25 e III.8.28,
ÐfH0B Ð?ÑÑ ‰ NB  H0B ‰ ÐfNB Ð?ÑÑ œ
œ ÐfN0w ÐBÑ ÐH0B Ð?ÑÑÑ ‰ H0B  N0w ÐBÑ ‰ ÐfH0B Ð?ÑÑ,

ou seja, tendo em conta o paralelismo das estruturas quase complexas,


ÐfH0B Ð?ÑÑ ‰ NB œ N0w ÐBÑ ‰ ÐfH0B Ð?ÑÑ.

Aplicando ambos os membros a @ − XB ÐQ Ñ, obtemos


" Ð0 ÑB Ð?ß NB Ð@ÑÑ œ N0w ÐBÑ Ð" Ð0 ÑB Ð?ß @ÑÑ,

o que mostra que a Hessiana é linear complexa na segunda variável. Uma vez
que a Hessiana é uma aplicação bilinear simétrica, podemos agora escrever
" Ð0 ÑB ÐNB Ð?Ñß @Ñ œ " Ð0 ÑB Ð@ß NB Ð?ÑÑ œ N0w ÐBÑ Ð"Ð0 ÑB Ð@ß ?ÑÑ œ N0w ÐBÑÐ"Ð0 ÑBÐ?ß @ÑÑ,

pelo que a Hessiana é também linear complexa na primeira variável. …

Vamos agora verificar que, no quadro das estruturas quase complexas


suaves compatíveis com um produto interno no espaço ambiente, a
condição de se ter RB œ ! pode ser expressa em termos da derivada
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 315

covariante da estrutura quase complexa de uma forma mais simples que


aquela que envolve a definição do tensor de torção.

III.9.38 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade munida de uma


estrutura quase complexa suave compatível N œ ÐNB ÑB−Q . Podemos assim
considerar, para cada B − Q , uma aplicação bilinear real
XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ, Ð?ß @Ñ È fNB Ð?ÑÐ@Ñ

e então:
a) Esta aplicação é sempre antilinear na segunda variável, isto é,
fNB Ð?ÑÐNB Ð@ÑÑ œ NB ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑ.

b) Tem-se RB œ ! se, e só se, esta aplicação é linear complexa na primeira


variável, isto é,
fNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñ œ NB ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑ.

Dem: A conclusão de a) é simples e foi já estabelecida, num quadro mais


geral, em III.9.7. Supondo que a aplicação bilinear referida é linear complexa
na primeira variável, obtemos
fNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñ œ NB ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑ œ fNB Ð?ÑÐNBÐ@ÑÑ
e, do mesmo modo, fNB ÐNB Ð@ÑÑÐ?Ñ œ fNB Ð@ÑÐNB Ð?ÑÑ pelo que a definição
do tensor de torção RB em III.9.28 implica que este é !. Resta-nos portanto
admitir que RB œ ! e provar que a aplicação bilinear referida no enunciado é
linear complexa na primeira variável. Sejam ?ß @ß A − XB ÐQ Ñ arbitrários.
Tendo em conta o facto de a derivada covariante de N em B, na direcção de
qualquer vector de XB ÐQ Ñ, ser antiautoadjunta e antilinear (cf. III.9.7) e o
facto de NB ser compatível com o, produto interno, podemos escrever
! œ ØRB Ð?ß @Ñß AÙ œ
œ ØfNB Ð?ÑÐNB Ð@ÑÑß AÙ  ØfNB Ð@ÑÐNB Ð?ÑÑß AÙ 
œ  ØfNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñß AÙ  ØfNB ÐNB Ð@ÑÑÐ?Ñß AÙ œ
œ ØNB ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑß AÙ  ØNB Ð?Ñß fNB Ð@ÑÐAÑÙ 
œ  ØfNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñß AÙ  Ø?ß fNB ÐNB Ð@ÑÑÐAÑÙ œ
œ ØNB ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑß AÙ  Ø?ß NB ÐfNB Ð@ÑÐAÑÑÙ 
œ  ØfNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñß AÙ  Ø?ß fNB ÐNB Ð@ÑÑÐAÑÙ.
Consideremos a igualdade
! œ ØNB ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑß AÙ  Ø?ß NB ÐfNB Ð@ÑÐAÑÑÙ 
 ØfNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñß AÙ  Ø?ß fNB ÐNB Ð@ÑÑÐAÑÙ

que acabámos de obter, assim como as duas que se podem obter dela por
permutação circular dos vectores ?ß @ß A:
316 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

! œ ØNB ÐfNB Ð@ÑÐAÑÑß ?Ù  Ø@ß NB ÐfNB ÐAÑÐ?ÑÑÙ 


 ØfNB ÐNB Ð@ÑÑÐAÑß ?Ù  Ø@ß fNB ÐNB ÐAÑÑÐ?ÑÙ,

! œ ØNB ÐfNB ÐAÑÐ?ÑÑß @Ù  ØAß NB ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑÙ 


 ØfNB ÐNB ÐAÑÑÐ?Ñß @Ù  ØAß fNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@ÑÙ,
e somemos membro a membro as três igualdades, depois de multiplicar
ambos os membros da segunda por ". Obtemos então
! œ #ØNB ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑß AÙ  #ØfNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñß AÙ,
portanto, tendo em conta a arbitrariedade de A − XB ÐQ Ñ, concluímos que
NB ÐfNB Ð?ÑÐ@ÑÑ œ ØfNB ÐNB Ð?ÑÑÐ@Ñ,
como queríamos. …

EXERCÍCIOS

Ex III.1 a) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita. Mostrar que o


subconjunto P384 ÐIà J Ñ de PÐIà J Ñ, formado pelas aplicações lineares
injectivas, é aberto em PÐIà J Ñ. Sugestão: Fixando uma base de I , consi-
derar o correspondente isomorfismo de PÐIà J Ñ sobre J 7 e aplicar então
III.1.16.
b) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita. Mostrar que o subcon-
junto P=9, ÐIà J Ñ de PÐIà J Ñ, constituído pelas aplicações lineares sobrejec-
tivas, é aberto em PÐIà J Ñ. Sugestão: Munir I e J de produtos internos e
utilizar a alínea b) do exercício I.1.
Ex III.2 Para cada 8   !, notemos W 8 § ‘8" a hipersuperfície esférica de
centro ! e raio ",
W 8 œ ÖB − ‘8" ± mBm œ "×,
e relembremos que W 8 é uma variedade sem bordo, de dimensão 8, e que,
para cada B − W 8 , o espaço vectorial tangente XB ÐW 8 Ñ é o conjunto dos
vectores ? − ‘8" tais que ØBß ?Ù œ !. Mostrar que o fibrado vectorial tan-
gente X ÐW 8 Ñ é trivial nos casos em que 8 œ !, 8 œ ", 8 œ $ e 8 œ (.
Nota: O primeiro caso é trivial, o segundo é simples, o terceiro exige um
pouco de trabalho e o quarto é mais complicado. Apresentamos no fim dos
exercícios deste capítulo uma solução dos casos não triviais. Pode-se
demonstrar, mas isso é muito complicado, que aqueles valores de 8 são os
únicos para os quais X ÐW 8 Ñ é trivial. No caso em que 8 é par pode-se mesmo
mostrar que qualquer secção suave de X ÐW 8 Ñ anula-se em pelo menos um
ponto.
Exercícios 317

Ex III.3 Seja G § ‘$ a porção de superfície cilíndrica


G œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B#  C # œ ", D − Ò!ß "Ó×.
Mostrar que G é uma variedade de dimensão # e que o fibrado vectorial
tangente X ÐGÑ é trivial.
Ex III.4 Seja I um espaço euclidiano ou hermitiano e consideremos a corres-
pondente variedade de Grassmann KÐIÑ, cujos elementos são as projecções
ortogonais sobre subespaços vectoriais de I , assim como os correspondentes
subconjuntos K5 ÐIÑ, cujos elementos são as projecções ortogonais sobre
subespaços vectoriais de dimensão 5 .
Utilizar o fibrado vectorial tautológico de base KÐIÑ (cf. a demonstração de
III.1.21) para obter uma nova justificação para o facto de cada K5 ÐIÑ ser um
subconjunto aberto de KÐIÑ.
Ex III.5 Seja I um espaço euclidiano ou hermitiano e sejam H7 ÐIÑ o aberto de
I 7 constituído pelos sistemas linearmente independentes e Z7 ÐIÑ §
H7 ÐIÑ o subconjunto constituído pelos sistemas ortonormados (a variedade
de Stiefel, referida no exercício II.34).
a) Mostrar que, para a aplicação suave
:À H7 ÐIÑ Ä Z7 ÐIÑ,
:ÐB" ß á ß B7 Ñ œ Ð1" ÐB" Ñß 1# ÐB" ß B# Ñß á ß 17 ÐB" ß á ß B7ÑÑ

(cf. III.1.17), tem-se :ÐB" ß á ß B7 Ñ œ ÐB" ß á ß B7 Ñ, para ÐB" ß á ß B7 Ñ −


Z7 ÐIÑ. Deduzir que :ÐH7 ÐIÑÑ œ Z7 ÐIÑ e : ‰ : œ :.
b) Mostrar que tem lugar uma aplicação suave LÀ Ò!ß "Ó ‚ H7 ÐIÑ Ä H7 ÐIÑ
definida por
LÐ>ß ÐB" ß á ß B7 ÑÑ œ Ð"  >ÑÐB" ß á ß B7 Ñ  > :ÐB" ß á ß B7Ñ,
para a qual se tem
LÐ!ß ÐB" ß á ß B7 ÑÑ œ ÐB" ß á ß B7 Ñ,
LÐ"ß ÐB" ß á ß B7 ÑÑ œ :ÐB" ß á ß B7 Ñ

(costuma-se dizer que L é uma homotopia suave entre a aplicação identidade


de H7 ÐIÑ e a aplicação :). Sugestão: Fixado ÐB" ß á ß B7 Ñ − H7 ÐIÑ
considerar, para cada ! Ÿ 5 Ÿ 7 o subespaço vectorial J5 de I gerado por
B" ß á ß B5 e reparar que, nas notações de III.1.16 e III.1.17, se pode escrever
Ð"  >ÑB5  >15 ÐB" ß á ß B5 Ñ œ
œ ˆÐ"  >Ñ  ‰05 ÐB " ß á ß B5 Ñ  Ð"  >ÑÐB5  05 ÐB" ß á ß B5 ÑÑ,
>
m05 ÐB" ß á ß B5 Ñm

onde B5  05 ÐB" ß á ß B5 Ñ − J5" e 05 ÐB" ß á ß B5 Ñ Â J5" , concluindo daqui


que Ð"  >ÑB5  >15 ÐB" ß á ß B5 Ñ Â J5" .
318 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Ex III.6 Seja I um espaço vectorial real de dimensão 8   ", sobre o qual


fixamos um produto interno e uma das suas orientações. Lembrar que, como
se viu no exercício I.18, a variedade de Stiefel Z8 ÐIÑ tem duas componentes
conexas Z8 ÐIÑ e Z8 ÐIÑ, a saber, os conjuntos abertos em Z8 ÐIÑ
constituídos respectivamente pelas bases ortonormadas directas e pelas bases
ortonormadas retrógradas.
a) Verificar que o conjunto H8 ÐIÑ das bases de I é união de dois subcon-
juntos abertos H8 ÐIÑ e H 8
ÐIÑ, constituídos respectivamentes pelas bases
directas e pelas bases retrógradas. Concluir que qualquer subconjunto conexo
de H8 ÐIÑ tem que estar contido num destes dois abertos.
b) Mostrar que H8 ÐIÑ e H 8
ÐIÑ são conexos e não vazios, e portanto são as
componentes conexas de H8 ÐIÑ. Sugestão: Nas notações do exercício
anterior, mostrar que, se ÐB" ß á ß B8 Ñ − H8 ÐIÑ então existe um conexo de
H8 ÐIÑ que contém ÐB" ß á ß B8 Ñ e :ÐB" ß á ß B8 Ñ, o conjunto dos
LÐ>ß ÐB" ß á ß B8 ÑÑ com > − Ò!ß "Ó.
c) Concluir de b) que o grupo de Lie KPÐIÑ tem duas componentes conexas
KP ÐIÑ e KP ÐIÑ, constituídas respectivamente pelos isomorfismos que
conservam as orientações e por aqueles que invertem as orientações.
Ex III.7 Seja I um espaço vectorial complexo de dimensão 8. Proceder de modo
análogo ao que se fez no exercício precedente, mas utilizando agora o
exercício I.17, para concluir que o conjunto H8 ÐIÑ das bases de I é conexo
e que o grupo de Lie KPÐIÑ é conexo.
Ex III.8 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8 e " Ÿ 5 Ÿ 8 e conside-
remos o correspondente aberto H5 ÐIÑ de I 5 , constituído pelos sistemas
linearmente independentes ÐB" ß á ß B5 Ñ. Seja
` § H5 ÐIÑ ‚ I § I 5 ‚ I
o conjunto dos ÐÐB" ß á ß B5 Ñß BÑ tais que B pertence ao subespaço vectorial
gerado por B" ß á ß B5 .
a) Mostrar que ` é uma variedade sem bordo, com dimensão Ð8  "Ñ5 .
Sugestão: ` é o espaço total de um fibrado vectorial.
b) Mostrar que têm lugar aplicações suaves 04 À ` Ä ‘, onde " Ÿ 4 Ÿ 5 ,
definidas pela condição de se ter, para cada ÐÐB" ß á ß B5 Ñß BÑ − `,

B œ " 04 ÐÐB" ß á ß B5 Ñß BÑ B4 .
5

4œ"

Sugestão: Aplicar III.1.13 a um fibrado vectorial trivial conveniente, com


base `.
Ex III.9 Sejam I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8 munido
de produto interno e ! Ÿ 5 Ÿ 8 e consideremos a variedade de Grassmann
K5 ÐIÑ das projecções ortogonais sobre subespaços vectoriais de dimensão 5
(cf. II.5.13) e o aberto H5 ÐIÑ de I 5 cujos elementos são os sistemas
Exercícios 319

linearmente independentes ÐB" ß á ß B5 Ñ.


a) Mostrar que tem lugar uma aplicação suave GÀ H5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ, que a
cada ÐB" ß á ß B5 Ñ associa a projecção ortogonal 1J , onde J é o subespaço
vectorial gerado por por B" ß á ß B5 e que esta aplicação é sobrejectiva
(comparar com o exercício II.62). Sugestão: Utilizar a alínea b) de III.1.18,
reparando que tem lugar um fibrado vectorial trivial de base H5 ÐIÑ cuja fibra
em ÐB" ß á ß B5 Ñ é o subespaço vectorial gerado por estes vectores.
b) Verificar que a aplicação suave sobrejectiva GÀ H5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ é homo-
génea e concluir, por aplicação do corolário do teorema de Sard em II.7.21,
que esta aplicação é uma submersão. Sugestão: Cada isomorfismo, não
necessariamente ortogonal, 0À I Ä I determina um difeomorfismo natural
H5 ÐIÑ Ä H5 ÐIÑ e um difeomorfismo natural 0‡ À K5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ, que a
cada 1J associa 10ÐJ Ñ (cf. III.1.21).
Ex III.10 Sejam I um espaço euclidiano ou hermitiano de dimensão 8,
! Ÿ 5 Ÿ 8 e K5 ÐIÑ § P++ ÐIà IÑ a variedade de Grassmann cujos elemen-
tos são as projecções ortogonais 1J , com J § I subespaço vectorial de
dimensão 5 (cf. II.5.13). Seja KPÐIÑ o aberto de PÐIà IÑ constituído pelos
isomorfismos 0À I Ä I .
a) Se J! § I é um subespaço vectorial de dimensão 5 , mostrar que tem
lugar uma aplicação suave sobrejectiva GJ! À KPÐIÑ Ä K5 ÐIÑ definida por
GJ! Ð0Ñ œ 10ÐJ! Ñ . Sugestão: Utilizar a alínea b) de III.1.18, reparando que tem
lugar um fibrado vectorial trivial de base KPÐIÑ cuja fibra em 0 é 0ÐJ! Ñ.
b) Mostrar que a aplicação suave sobrejectiva GJ! À KPÐIÑ Ä K5 ÐIÑ é uma
submersão. Sugestão: Utilizar o corolário do teorema de Sard em II.7.21,
depois de verificar que GJ! é uma aplicação suave homogénea. Para isso,
considerar, para cada ( − KPÐIÑ o difeomorfismo KPÐIÑ Ä KPÐIÑ,
0 È ( ‰ 0 e o difeomorfismo natural (‡ À K5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ (cf. III.1.21).
c) Mostrar que é suave a aplicação GÀ KPÐIÑ ‚ K5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ definida
por GÐ0ß 1J Ñ œ 10ÐJ Ñ . Sugestão: Fixado J! , estudar a composta de G com a
submersão sobrejectiva
M.KPÐIÑ ‚ GJ! À KPÐIÑ ‚ KPÐIÑ Ä K5 ÐIÑ. 90

Ex III.11 Sejam Q § K e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § I .


Suponhamos que existe um intervalo Ò+ß ,Ó § ‘, uma aplicação suave
0 À Ò+ß ,Ó Ä Q e um campo de referenciais [" ß á ß [8 do fibrado vectorial
imagem recíproca 0 ‡ I , tais que 0 Ð+Ñ œ 0 Ð,Ñ e que as bases [" + ß á ß [8 + e
[" , ß á ß [8 , de I0 Ð+Ñ œ I0 Ð,Ñ tenham orientações opostas. Mostrar que I é
um fibrado vectorial não orientável.
Ex III.12 A banda de Mobius
¨ é uma superfície em ‘$ que se pode construir
colando as arestas opostas de uma tira de papel depois de ter dado uma
rotação de ")!° a uma delas. Mostrar intuitivamente, utilizando o exercício

90Para uma justificação alternativa ver o exercício III.58 adiante.


320 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

III.11, que a banda de Möbius é uma superfície não orientável. Redemonstrar


intuitivamente o mesmo resultado utilizando também a propriedade III.2.15.

Figura 9

Ex III.13 Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades difeomorfas. Mostrar que, se


Q é orientável então Q s é também orientável. Sugestão: Dada uma orien-
tação suave de Q e sendo 0 À Q Ä Q s um difeomorfismo, definir em cada
s sÑ
X0 ÐBÑ ÐQ Ñ a orientação para a qual o isomorfismo H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ
conserva as orientações.
Ex III.14 Sejam I e J espaços vectoriais, reais ou complexos, com dimensões
7 e 8 respectivamente e seja ! Ÿ 5 Ÿ minÖ7ß 8×. Notemos PÐ5Ñ ÐIà J Ñ o
subconjunto de PÐIà J Ñ constituído pelas aplicações lineares -À I Ä J tais
que -ÐIÑ tenha dimensão 5 .
a) (Lema de Álgebra Linear) Mostrar que, dados -ß # − PÐIà J Ñ, uma
condição necessária e suficiente para que existam aplicações lineares
! − PÐIà IÑ e " − PÐJ à J Ñ tais que " ‰ -  - ‰ ! œ # é que se tenha
# ÐkerÐ-ÑÑ § -ÐIÑ. Sugestão: Escolher uma base B" ß á ß B75 de kerÐ-Ñ e
prolongá-la numa base de I por junção de vectores B75" ß á ß B7 ; reparar
que -ÐB75" Ñß á ß -ÐB7 Ñ são vectores linearmente independentes de J , aos
quais se pode juntar 8  5 vectores de modo a obter uma base de J ;
Começar por definir ! de modo que, para cada 4 Ÿ 7  5 , os !ÐB4 Ñ
verifiquem a condição -Ð!ÐB4 ÑÑ œ # ÐB4 Ñ e que os restantes !ÐB4 Ñ sejam !;
definir, por fim, " de modo que, para cada 4   7  5  ", se tenha
" Ð-ÐB4 ÑÑ œ # ÐB4 Ñ.
b) Mostrar que existe um fibrado vectorial de dimensão 5 de base PÐ5Ñ ÐIà J Ñ
cuja fibra em cada - − PÐ5Ñ ÐIà J Ñ é o subespaço vectorial -ÐIÑ de J .
Sugestão: Dado -! − PÐ5Ñ ÐIà J Ñ, escolher B" ß á ß B5 − I cujas imagens por
-! constituam uma base de -! ÐIÑ e reparar que, para cada - num certo
aberto de PÐ5Ñ ÐIà J Ñ, contendo -! , -ÐB" Ñß á ß -ÐB5 Ñ é uma base de -ÐIÑ.
c) Dado -! − PÐ5Ñ ÐIà J Ñ, mostrar que, para cada # − X-! ÐPÐ5Ñ ÐIà J ÑÑ,
tem-se # ÐkerÐ-! ÑÑ § -! ÐIÑ. Sugestão: Se A − kerÐ-! Ñ, considerar a secção
suave Ð-ÐAÑÑ-−PÐ5Ñ ÐIàJ Ñ do fibrado vectorial referido em b), que se anula em
-! , e ter em conta III.3.15.
d) Mostrar que PÐ5Ñ ÐIà J Ñ é uma variedade sem bordo e que, para cada
-! − PÐ5Ñ ÐIà J Ñ, o espaço vectorial tangente X-! ÐPÐ5Ñ ÐIà J ÑÑ é o conjunto
dos # − PÐIà J Ñ tais que # ÐkerÐ-! ÑÑ § -! ÐIÑ. Deduzir que a dimensão de
Exercícios 321

PÐ5Ñ ÐIà J Ñ é igual a


78  Ð7  5ÑÐ8  5Ñ œ 5Ð7  8  5Ñ.

Sugestão: Reparar que tem lugar uma aplicação suave


FÀ KPÐJ Ñ ‚ KPÐIÑ Ä PÐ5Ñ ÐIà J Ñ, FÐ(ß 0Ñ œ ( ‰ -! ‰ 0,

e utilizar a conclusão da alínea a) para mostrar que a imagem de


HFÐM.J ßM.I Ñ À PÐJ à J Ñ ‚ PÐIà IÑ Ä PÐIà J Ñ contém o candidato a espaço
vectorial tangente, aplicando em seguida o segundo teorema da submersão.
Ex III.15 Considerar o fibrado vectorial de Möbius I , definido em III.2.13.
Mostrar que, para cada ÐBß CÑ − W , a projecção ortogonal 1ÐBßCÑ , de ‘# sobre
IÐBßCÑ , está definida por
"
1ÐBßCÑ Ð?ß @Ñ œ Ð?  ?B  @Cß ?C  @  @BÑ
#
e verificar que, a partir desta fórmula, se pode obter uma demonstração inde-
pendente de que I é efectivamente um fibrado vectorial.
Ex III.16 Sejam I um espaço euclidiano, Y § I um aberto e 0 À Y Ä ‘ uma
aplicação suave. Para cada B − Y , define-se o gradiente de 0 no ponto B
como sendo o elemento gradÐ0 ÑB − I cuja imagem pelo isomorfismo
)À I Ä PÐIà ‘Ñ é H0B . Por outras palavras, gradÐ0 ÑB é o elemento de I
definido pela condição de se ter
ØgradÐ0 ÑB ß AÙ œ H0B ÐAÑ,
para cada A − I .
a) Mostrar que a aplicação gradÐ0 ÑÀ Y Ä I é suave.
b) No caso em que I œ ‘8 , com o produto interno usual, mostrar que
`0 `0
gradÐ0 ÑB œ Ð ÐBÑß á ß ÐBÑÑ.
`B" `B8
c) Sendo 0 À I Ä ‘ a aplicação suave definida por 0 ÐBÑ œ mBm# , mostrar que
se tem gradÐ0 ÑB œ #B.
Ex III.17 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8, Y § I um aberto e
0 À Y Ä ‘ uma aplicação suave tal que, para cada B − Y tal que 0 ÐBÑ œ !,
se tenha H0B Á !. Sendo então
Q œ ÖB − Y ± 0 ÐBÑ œ !×,
mostrar que a variedade sem bordo, de dimensão 8  ", Q é orientável.
Sugestão: Munir I de um produto interno e mostrar que gradÐ0 Ñ constitui
um campo de referenciais para o fibrado vectorial normal X ÐQ Ѽ .
322 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Ex III.18 Mais geralmente do que no exercício III.16, sejam I um espaço


euclidiano, Q § I uma variedade e 0 À Q Ä ‘ uma aplicação suave. Para
cada B − Q , define-se o gradiente de 0 no ponto B, gradÐ0 ÑB − XB ÐQ Ñ,
como sendo o elemento de XB ÐQ Ñ cuja imagem pelo isomorfismo
)À XB ÐQ Ñ Ä PÐXB ÐQ Ñà ‘Ñ é a aplicação linear H0B À XB ÐQ Ñ Ä ‘. Por outras
palavras, gradÐ0 ÑB é o elemento de XB ÐQ Ñ definido pela condição de se ter
ØgradÐ0 ÑB ß AÙ œ H0B ÐAÑ,
para cada A − XB ÐQ Ñ.
a) Nas condições anteriores, sejam Y um aberto de I , com Q § Y , e
0 À Y Ä I uma aplicação suave prolongando 0 . Mostrar que, para cada
B − Q , o vector gradÐ0 ÑB − XB ÐQ Ñ é a projecção ortogonal sobre XB ÐQ Ñ do
vector gradÐ0 ÑB − I .
b) Deduzir de a) que, se 0 À Q Ä ‘ é suave, então gradÐ0 ÑÀ Q Ä I é suave.
Ex III.19 Sejam I um espaço euclidiano e J § I um subespaço afim, com
subespaço vectorial associado J! . Mostrar que o único elemento de J que
pertence a J!¼ é um elemento de J com norma estritamente menor que a de
todos os outros elementos de J .
Ex III.20 Sejam Q § K, Q s §K s e 0À Q
s Ä Q uma aplicação suave. Sejam I
um espaço vectorial de dimensão finita e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial,
com IB § I , e consideremos o fibrado vectorial imagem recíproca 0 ‡ I .
Dados C! − Q s , @ − XC! ÐQs Ñ e A − Ð0 ‡ IÑC! œ I0 ÐC! Ñ , mostrar que, para cada
D − I, tem-se
Ð@ß DÑ − XÐC! ßAÑ Ð0 ‡ IÑ Í ÐH0C! Ð@Ñß DÑ − XÐ0 ÐC! ÑßAÑ ÐIÑ.

Sugestão: Dois subespaços afins, com o mesmo subespaço vectorial asso-


ciado, que tenham um elemento comum, têm que coincidir.
Ex III.21 Utilizar a conclusão do exercício III.15 para obter uma fórmula para a
segunda forma fundamental do fibrado de Möbius.
Ex III.22 Seja I um espaço euclidiano ou hermitiano de dimensão 8 e seja
SÐIÑ o correspondente grupo ortogonal que, como já provámos, é uma
variedade compacta e sem bordo com dimensão 8Ð8"Ñ # , no caso real, e
dimensão 8# , no caso complexo. Lembremos ainda que, como se viu, para
cada 0 − SÐIÑ, X0 ÐSÐIÑÑ é o conjunto dos ! − PÐIà IÑ tais que !‡ ‰ 0 œ
0 ‡ ‰ ! .
a) Mostrar que, considerando em PÐIà IÑ o produto interno de Hilbert-Sch-
midt, no caso real, e o produto interno real associado a este, no caso
complexo, a projecção ortogonal 10 À PÐIà IÑ Ä X0 ÐSÐIÑÑ está definida por
"
10 Ð" Ñ œ Ð"  0 ‰ " ‡ ‰ 0 Ñ .
#
Sugestão: Utilizar o exercício I.10 para começar por examinar o que se passa
Exercícios 323

no caso particular em que 0 œ M.I . Reparar então que tem lugar um isomor-
fismo ortogonal P0 À PÐIà IÑ Ä PÐIà IÑ, definido por P0 Ð(Ñ œ 0 ‰ (.
b) Mostrar que a segunda forma fundamental de SÐIÑ está definida por
"
20 Ð - ß . Ñ œ  Ð - ‰ . ‡ ‰ 0  0 ‰ . ‡ ‰ - Ñ
#
e que esta fórmula pode também ser escrita
"
20 Ð - ß . Ñ œ  0 ‰ Ð - ‡ ‰ .  . ‡ ‰ - Ñ .
#

Ex III.23 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8 e Q § I uma variedade


de dimensão menor ou igual a 7 em cada ponto. Se 8   #7  ", mostrar
que existe um vector ? − I tal que, para cada B − Q , ? Â XB ÐQ Ñ.
Sugestão: Considerar o espaço total X ÐQ Ñ do fibrado vectorial tangente de
Q e aplicar o teorema de Sard a uma certa aplicação X ÐQ Ñ Ä I .
Ex III.24 (Aproximação de funções contínuas por funções suaves) Sejam I se
I espaços vectoriais de dimensão finita, o segundo dos quais munido de um
s§E
produto interno, F s§I s conjuntos, com F s fechado em Es, Q § I uma
s
variedade sem bordo e 0 À E Ä Q uma aplicação contínua tal que
s Ä Q seja suave.91 Mostrar que, para cada aplicação contínua
0ÎFs À F
$À Es Ä Ó!ß _Ò, existe uma aplicação suave 1À Es Ä Q tal que 1 s œ 0 s e
ÎF ÎF
que, para cada B − Es, m1ÐBÑ  0 ÐBÑm  $ ÐBÑ (comparar com II.3.15).
Sugestão: Começar por considerar uma vizinhança tubular Y de Q , com a
correspondente retracção suave 3À Y Ä Q (cf. III.3.30). Tendo em conta
II.3.15, considerar uma aplicação suave 2À Es Ä I tal que 2 s œ 0 s e que,
ÎF ÎF
para cada B − E s, m2ÐBÑ  0 ÐBÑm  minÖ $ÐBÑ ß .Ð0 ÐBÑß I Ï Y Ñ× e tomar
#
1ÐBÑ œ 3Ð2ÐBÑÑ, lembrando que 3ÐCÑ é o ponto de Q à distância mínima de
C.
Ex III.25 Sejam E um subconjunto de um espaço vectorial K de dimensão finita,
I um espaço vectorial de dimensão finita e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado
vectorial, com IB § I . Mostrar que existe um aberto Y de K , com E § Y ,
e um fibrado vectorial J œ ÐJB ÑB−Y , com JB § I , tal que I œ J ÎE , isto é,
que JB œ IB , para cada B − E. Sugestão: Considerar a variedade de
Grassmann KÐIÑ (cf. II.5.13) e aplicar o corolário III.3.31 à aplicação suave
de E para KÐIÑ, que a cada B associa a projecção ortogonal de I sobre IB .
Ex III.26 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, admitindo uma
parametrização 0 À N Ä Q , e consideremos a orientação de Q associada.
Notemos, para cada > − N , t>0 Ð>Ñ a tangente unitária positiva, 5t 0 Ð>Ñ o vector
curvatura e @> œ m0 w Ð>Ñm a velocidade escalar. Mostrar que se tem então

91reparar s œ g.
que esta condição é trivial no caso em que F
324 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

0 ww Ð>Ñ œ @>w t>0 Ð>Ñ  @># 5t 0 Ð>Ñ

(Interpretação cinemática: Olhando para 0 como um movimento, o vector


aceleração 0 ww Ð>Ñ tem componente tangencial com norma @>w , derivada da
velocidade escalar, e componente normal com norma igual a @># 50 Ð>Ñ , onde
50 Ð>Ñ é a curvatura.
Ex III.27 Dados +  ! e , Á !, seja 0 À ‘ Ä ‘$ a aplicação suave definida por
0 Ð>Ñ œ Ð+ cosÐ>Ñß + sinÐ>Ñß ,>Ñ.

Figura 10
Mostrar que 0 é um difeomorfismo de ‘ sobre a hélice Q œ 0 Ð‘Ñ e, consi-
derando sobre a curva Q a orientação associada à parametrização 0 , deter-
minar, para cada > − ‘, a curvatura e a torção de Q no ponto 0 Ð>Ñ.
Ex III.28 Consideremos em ‘# o produto interno usual e seja Q § ‘# a elipse
de semi-eixos + e , , com +   , .
B C
Q œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± Ð Ñ#  Ð Ñ# œ "×.
+ ,
Mostrar que a curvatura de Q no ponto ÐBß CÑ é dada por
+% , %
5ÐBßCÑ œ
Ð+% C #  , % B# Ñ$Î#
e deduzir que esta curvatura é máxima nos pontos Ð+ß !Ñ e Ð+ß !Ñ, com o
valor +Î, # , e é mínima nos pontos Ð!ß ,Ñ e Ð!ß ,Ñ, com o valor ,Î+# .
Ex III.29 Seja N § ‘ um intervalo com mais que um ponto e seja 0 À N Ä ‘
uma aplicação suave. Seja Q œ ÖÐ>ß 0 Ð>ÑÑ×>−N o gráfico de 0 . Mostrar que
Q é uma variedade de dimensão " e que o vector curvatura de Q no ponto
Ð>ß 0 Ð>ÑÑ é dado por
Exercícios 325

5t Ð>ß0 Ð>ÑÑ œ Š ‹.
0 ww Ð>Ñ0 w Ð>Ñ 0 ww Ð>Ñ
ß
Ð"  0 Ð>Ñ Ñ Ð"  0 w Ð>Ñ# Ñ#
w # #

Deduzir daqui que a curvatura em Ð>ß 0 Ð>ÑÑ é nula se, e só se, 0 ww Ð>Ñ œ ! (caso
em que pode haver um ponto de inflexão do gráfico) e que o sinal de 0 ww Ð>Ñ
determina se o vector curvatura em Ð>ß 0 Ð>ÑÑ aponta para cima ou para baixo
(o sentido da concavidade).
Ex III.30 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva orientada com
curvatura e torção não nulas em todos os pontos. Generalizando o processo
que conduziu à definição dos vectores curvatura e torção, definir um vector
“torção de segunda ordem” (ou, melhor talvez, “curvatura de terceira
ordem”) em cada ponto e, nos pontos em que este é não nulo, uma “trinormal
principal”. No mesmo espírito que em III.4.7 e III.4.15, verificar que a curva
está contida num subespaço afim de dimensão $ se, e só se, a curvatura de
terceira ordem for nula. Obter neste quadro o resultado correspondente a
III.4.12. No mesmo espírito que em III.4.19 e III.4.22, mostrar que, se
0 À N Ä Q é uma parametrização de Q , induzindo a orientação dada, então a
curvatura de terceira ordem é igual ao produto de
"
70 Ð>Ñ 50 Ð>Ñ m0 w Ð>Ñm%

pela projecção ortogonal de 0 Ð%Ñ Ð>Ñ œ 0 wwww Ð>Ñ sobre o complementar


ortogonal do subespaço vectorial gerado por t>0 Ð>Ñ ß 8t0 Ð>Ñ ß t,0 Ð>Ñ .
Ex III.31 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão # e Q § I uma curva e
seja 8t œ Ð8tB ÑB−Q uma secção suave de X ÐQ Ѽ , com m8tB m œ ", para
cada B − Q . Escolhendo, para cada B, 8tB como normal unitária positiva e
sendo 5B a correspondente curvatura sinalizada, mostrar que se tem então
H8tB Ð>tB Ñ œ 5B t>B .

Sugestão: 1B ÐAÑ œ A  ØAß 8tB Ù8tB .


Ex III.32 Seja I um espaço euclidiano de dimensão $ e seja Q § I uma curva
suavemente orientada com curvatura diferente de ! em todos os pontos.
Sejam J œ ÐJB ÑB−Q o fibrado osculador e t,  œ Ð,tB ÑB−Q uma secção suave
de J ¼ , tal que m,t B m œ ", para cada B − Q . Considere-se, para cada
B − Q , t, B como binormal positiva e seja 7B a correspondente torção
sinalizada. Mostrar que se tem então

H,t B Ð>tB Ñ œ 7B 8tB .

Sugestão: Análoga à do exercício anterior.


Nota: Costuma-se dizer que as fórmulas
326 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

H>tB Ð>tB Ñ œ 5B 8tB


H8tB Ð>tB Ñ œ 5B t>B  7B t, B
H,t B Ð>tB Ñ œ 7B 8tB

são as fórmulas de Frenet-Serret da variedade Q (repare-se que a segunda


fórmula resulta de III.4.12 e da definição de 7B e a primeira fórmula resulta
da definição de 5B e 8tB ).
Ex III.33 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva. Diz-se que uma
parametrização 0 À N Ä Q é uma parametrização por comprimento de arco
se se tem m0 w Ð=Ñm œ ", para cada = − N . Repare-se que, dados +ß , − N , o
comprimento de 0 desde + até , é, por definição, igual a

( m0 Ð>Ñm .>.
,
w
+

Dizer que temos uma parametrização por comprimento de arco é assim


equivalente a dizer que, para cada = − N , o comprimento de 0 de + até = é
igual a =  +.
a) Mostrar que, se 0 À N Ä Q é uma parametrização arbitrária, então existe
um intervalo s N § ‘ e um difeomorfismo estritamente crescente :À s
N Ä N,
tal que 0 ‰ :À sN Ä Q seja uma parametrização por comprimento de arco.
Sugestão: Fixando + − N , mostrar que tem lugar um difeomorfismo estrita-
mente crescente < , de N sobre um intervalo s
N , definido por

<Ð>Ñ œ ( m0 w Ð=Ñm .=,


>

e tomar para : o inverso de <.


b) Se 0 À N Ä Q é uma parametrização por comprimento de arco e se se
considera em Q a orientação associada, mostrar que se tem
t>0 Ð=Ñ œ 0 w Ð=Ñ,
5t 0 Ð=Ñ œ 0 ww Ð=Ñ.

Ex III.34 Seja I um espaço euclidiano e notemos, para cada <  !, W< § I a


hipersuperfície esférica de centro ! e raio <,
W< œ ÖB − I ± mBm œ <×.
Seja Q § I uma curva conexa.
a) Mostrar que Q está contido nalgum W< se, e só se, para cada B − Q , B é
ortogonal a XB ÐQ Ñ.
b) Suponhamos que Q está contido em W< , e notemos, para cada B − Q , 5t B
o vector curvatura de Q no ponto B. Mostrar que se tem ØBß 5t B Ù œ ".
c) Suponhamos que a curva Q está suavemente orientada e que está contida
Exercícios 327

em W< e seja, para cada B − Q , t7 B o vector torção de Q no ponto B. Mostrar


que a curvatura 5B œ m5t B m é constante se, e só se, para cada B − Q , t7 B é
tangente a W< no ponto B.
Ex III.35 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva plana (isto é, que
esteja contida num certo plano afim T de I , com plano vectorial associado
T! ), que seja conexa e cuja curvatura 5B tenha um valor constante 5 Á !. O
objectivo deste exercício é demonstrar que Q tem que estar contida numa
certa circunferência de T .
a) Sendo, para cada B − Q , 8tB a normal principal de Q no ponto B, mostrar
que 8tB − T! .
b) Mostrar que a aplicação suave :À Q Ä T , definida por
"
:ÐBÑ œ B  8tB ,
5
tem derivada identicamente nula e toma portanto um valor constante B! .
c) Deduzir que Q está contido numa circunferência do plano T e dizer qual
o centro e qual o raio.
Ex III.36 Consideremos em ‘$ o produto interno usual, sejam +ß ,ß -  ! e seja
Q § ‘$ o elipsóide
B C D
Q œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± Ð Ñ#  Ð Ñ#  Ð Ñ# œ "×.
+ , -
Escolher uma das normais unitárias a Q no ponto Ð+ß !ß !Ñ e, relativamente a
esse ponto e a essa escolha, determinar os correspondentes aplicação linear
de Weingarten, curvaturas principais e pontos focais.

Figura 11

Ex III.37 Mesma questão que no exercício anterior, mas relativamente à super-


fície
328 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Q œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± D œ BC×
e a cada um dos pontos Ð"ß "ß "Ñ e Ð"ß !ß !Ñ.
Ex III.38 Mesma questão que nos dois exercícios anteriores, mas relativamente à
superfície cilíndrica
Q œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B#  C # œ "×
e a um ponto arbitrário desta superfície.
Ex III.39 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8   $, Q § I uma
hipersuperfície sem bordo, B − Q e 8tB uma das normais unitárias de Q no
ponto B. Seja ? − XB ÐQ Ñ, com m?m œ ". Seja 8 sB − I , tal que 8 s B  XB Ð Q Ñ ,
m8 sB m œ " e Ø8 sB ß ?Ù œ !. Notemos T! o plano vectorial gerado por ? e 8 sB e
seja T œ B  T! o correspondente plano afim passando por B.
a) Mostrar que Q s œ Q  T é, no ponto B, uma variedade de dimensão " e
índice ! e notar Q s w um aberto de Q s , contendo B, tal que Q s w seja uma curva
sem bordo.
b) Seja 2 s w Ñ ‚ XB ÐQ
s B À XB ÐQ s w Ñ Ä XB ÐQs w Ѽ a segunda forma fundamental de
Q s w no ponto B e seja 5t B o respectivo vector curvatura. Mostrar que
5t B − ‘8 sB e notar s 5 B a correspondente curvatura sinalizada, definida por
t
5B œ 5B8s sB .
c) Seja 2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ a segunda forma fundamental de
Q no ponto B. Mostrar que, para o vector ? − XB ÐQ Ñ que se está a
considerar, tem-se
s B Ð?ß ?Ñß 8tB Ù8tB œ s
2B Ð?ß ?Ñ œ Ø2 sB ß 8tB Ù8tB .
5 B Ø8

Sugestão: Mostrar que Ð?ß 2s B Ð?ß ?ÑÑ − XÐBß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ.


d) Mostrar que a curvatura sinalizada s 5 B é igual ao quociente da curvatura
normal de Q na direcção de ? pelo cosseno do ângulo entre os vectores 8 sB e
8tB (teorema de Meusnier).
Ex III.40 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão $ e Q § I uma
superfície. Sejam B − Q e 8tB uma das normais unitárias de Q em B.
Considerar uma base ortonormada ?ß @ de XB ÐQ Ñ, formada por vectores tan-
gentes principais, com as correspondentes curvaturas principais 5" e 5# . Seja
A − XB ÐQ Ñ com mAm œ " e seja ! − Ò!ß #1Ò o definido pela condição de se
ter
A œ cosÐ!Ñ?  sinÐ!Ñ@
(! é o ângulo orientado de ? para A, quando se considera o ângulo de ? para
@ como positivo). Mostrar que a curvatura normal sinalizada de Q na direc-
ção de A é igual a
Exercícios 329

5" cos# Ð!Ñ  5# sin# Ð!Ñ


(teorema de Euler).
Ex III.41 Sejam I um espaço euclidiano de dimensão $ e Q § I uma
superfície. Sejam B − Q e 8tB uma das normais unitárias de Q em B e
notemos -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ a respectiva aplicação linear de Weingarten.
Mostrar que a curvatura de Gauss e a curvatura média de Q no ponto B são
respectivamente iguais ao determinante de -B e a metade do traço de -B . Em
consequência, para determinar estas curvaturas, não é necessário determinar
as direcções principais.
Ex III.42 Seja Q § ‘$ o conjunto
Q œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B sinÐDÑ œ C cosÐDÑ×
(um helicoide).
a) Mostrar que Q é uma superfície e que, para cada ÐBß Cß DÑ − Q , os
vectores
\ÐBßCßDÑ œ ÐcosÐDÑß sinÐDÑß !Ñ
]ÐBßCßDÑ œ ÐCß Bß "Ñ

constituem uma base de XÐBßCßDÑ ÐQ Ñ.

Figura 12
b) Determinar a matriz da aplicação linear de Weingarten de Q na base atrás
considerada e deduzir daí que a curvatura média de Q é igual a ! em todos
os pontos (Q é uma superfície mínima).
Ex III.43 Sejam Y § ‘: um aberto conexo, I um espaço vectorial real de
dimensão finita e 0 À Y Ä I uma aplicação suave tal que, para cada
330 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

ÐB" ß á ß B: Ñ − Y , sejam independentes as derivadas parciais


`0 `0
ÐB" ß á ß B: Ñß âß ÐB" ß á ß B: Ñ.
`B" `B:

Mostrar que 0 ÐY Ñ está contido num subespaço afim de dimensão : de I se,


e só se, para cada ÐB" ß á ß B: Ñ − Y e cada par 3ß 4, a derivada de segunda
#
ordem `B`" `B
0
4
ÐB" ß á ß B: Ñ é uma combinação linear das derivadas de primeira
`0 `0
ordem `B "
ÐB" ß á ß B: Ñß âß `B :
ÐB" ß á ß B: Ñ. Sugestão: Considerar um fibrado
vectorial de base Y cujas fibras são os subespaços gerados pelas derivadas de
primeira ordem e utilizar III.3.22, depois de munir I de um produto interno,
para mostrar que a condição de a derivada de segunda ordem ser combinação
linear das de primeira implica que a segunda forma fundamental deste
fibrado é identicamente nula. Lembrar ainda a conclusão do lema III.4.6.
Ex III.44 Seja I um espaço euclidiano e consideremos sobre PÐIà IÑ o produto
interno de Hilbert-Schmidt. Utilizando as fórmulas obtidas no exercício
III.22, determinar o tensor de curvatura do grupo ortogonal SÐIÑ.
Ex III.45 Seja I um espaço euclidiano ou hermitiano e seja KÐIÑ § PÐIà IÑ o
conjunto das aplicações lineares que são projecções ortogonais sobre
subespaços vectoriais de I . Determinar a segunda forma fundamental e o
tensor de curvatura do fibrado vectorial tautológico, de base KÐIÑ, definido
na demonstração de III.1.21.
Ex III.46 (A variedade de Grassmann) Seja I um espaço vectorial, real ou
complexo de dimensão 8, munido de produto interno e consideremos a
variedade de Grassmann KÐIÑ § P++ ÐIà IÑ cujos elementos são as
projecções ortogonais sobre subespaços vectoriais de I (cf. II.5.13).
Consideremos em P++ ÐIà IÑ o produto interno parte real do de
Hilbert-Schmidt.
a) Mostrar que, se - œ 1J − KÐIÑ, então, considerando as matrizes associa-
das à decomposição em soma directa ortogonal I œ J Š J ¼ , a projecção
ortogonal de P++ ÐIà IÑ sobre o subespaço vectorial tangente X- ÐKÐIÑÑ está
definida por

”! !#ß# •
È”
! •
!"" !"ß# ! !"ß#
.
#ß" !#ß"

Sugestão: Lembrar a caracterização matricial de X- ÐKÐIÑÑ no resultado


referido, assim como a caracterização matricial do produto interno de
Hilbert-Schmidt de PÐIà IÑ associada a uma decomposição em soma directa
ortogonal (cf. I.3.10).
b) Utilizar a conclusão de a) para obter a seguinte caracterização não matri-
cial da projecção ortogonal 1- À P++ ÐIà IÑ Ä X- ÐKÐIÑÑ:
1- Ð" Ñ œ - ‰ "  " ‰ -  #- ‰ " ‰ -.
Exercícios 331

c) Deduzir de b) as seguintes fórmulas alternativas para a segunda forma


fundamental 2- À X- ÐKÐIÑÑ ‚ X- ÐKÐIÑÑ Ä X- ÐKÐIÑѼ da variedade KÐIÑ,
2- Ð ! ß " Ñ œ ! ‰ "  " ‰ !  # ! ‰ " ‰ -  # - ‰ " ‰ !
2- Ð!ß " Ñ œ ÐM.  #-Ñ ‰ Ð! ‰ "  " ‰ !Ñ
2- Ð!ß " Ñ œ Ð! ‰ "  " ‰ !Ñ ‰ ÐM.  #-Ñ
assim como a caracterização matricial desta segunda forma fundamental:
Se ! e " têm matrizes ”
! • ” "#ß" ! •
! !"ß# ! ""ß#
e então a matriz de
!#ß"
2- Ð ! ß " Ñ é

” !#ß" ‰ ""ß#  "#ß" ‰ !"ß# •


""ß# ‰ !#ß"  !"ß# ‰ "#ß" !
.
!

d) Obter uma fórmula para o tensor de curvatura


V- À X- ÐKÐIÑÑ ‚ X- ÐKÐIÑÑ ‚ X- ÐKÐIÑÑ Ä X- ÐKÐIÑÑ.

Sugestão: Notar que a condição ! ‰ -  - ‰ ! œ ! para que um certo


! − P++ ÐIà IÑ pertença a X- ÐKÐIÑÑ é equivalente a qualquer das duas
condições ! ‰ - œ ÐM.  -Ñ ‰ ! e - ‰ ! œ ! ‰ ÐM.  -Ñ.
Ex III.47 Seja I um espaço euclidiano de dimensão par 8 œ #:, consideremos
no espaço vectorial P++ ÐIà IÑ, das aplicações lineares antiautoadjuntas, o
produto interno de Hilbert-Schmidt e seja Y ÐIÑ § P++ ÐIà IÑ a variedade
das estruturas complexas compatíveis de I (cf. II.5.11).
a) Lembrar que, como se viu no resultado referido, XN ÐY ÐIÑÑ é o conjunto
dos ! − P++ ÐIà IÑ que verificam ! ‰ N œ N ‰ ! e mostrar que a projec-
ção ortogonal 1N À P++ ÐIà IÑ Ä XN ÐY ÐIÑÑ está definida por
!N ‰!‰N
1N Ð!Ñ œ .
#
Sugestão: Mostrar que, se !ß " − P++ ÐIà IÑ verificam ! ‰ N œ N ‰ ! e
" ‰ N œ N ‰ " , então Ø!ß " Ù œ !.
b) Deduzir de a) fórmulas para a segunda forma fundamental e para o tensor
de curvatura
2N À XN ÐY ÐIÑÑ ‚ XN ÐY ÐIÑÑ Ä XN ÐY ÐIÑѼ
VN À XN ÐY ÐIÑÑ ‚ XN ÐY ÐIÑÑ ‚ XN ÐY ÐIÑÑ Ä XN ÐY ÐIÑÑ.

Ex III.48 Seja Q § ‘$ a superfície cilíndrica considerada no exercício III.38,


Q œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B#  C # œ "×.
Determinar o tensor de curvatura de Q em cada um dos seus pontos. Será
que o resultado a que chegou era previsível, tendo em conta as conclusões do
citado exercício?
332 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Ex III.49 Sejam Q § K uma variedade conexa, I um espaço euclidiano e


I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § I .
a) Mostrar que, se \ œ Ð\B ÑB−Q é uma secção suave paralela de I , então é
constante a aplicação de Q em ‘, que a B associa m\B m.
b) Mostrar que, no caso em que cada IB tem dimensão ", se \ œ Ð\B ÑB−Q é
uma secção suave de I , com m\B m constante, então \ é uma secção
paralela. Sugestão: Mostrar que f\B Ð?Ñ é ortogonal a \B .
Ex III.50 A experiência diz-nos que se pode enrolar uma parte aberta de um
plano sobre uma parte aberta de uma superfície cónica, sem introduzir
deformações, pelo que, de acordo com o teorema egrégio de Gauss, esta
última, tal como o plano, deve ter curvatura de Gauss nula em todos os
pontos. Considerar, para fixar ideias, a superfície cónica em ‘$ , com o
produto interno canónico, de vértice em Ð!ß !ß !Ñ e tendo como directriz a
circunferência de equações B#  C # œ "$ e D œ " (mais precisamente, e para
termos uma variedade, retiramos o vértice).
a) Determinar uma equação que defina a superfície cónica.
b) Calcular, para cada ÐBß Cß DÑ na superfície cónica, as direcções principais,
as curvaturas principais e a curvatura de Gauss.
c) Arranjar uma expressão analítica para uma isometria de um aberto de ‘#
sobre um aberto da superfície cónica.
Ex III.51 Recortar um círculo sobre uma folha de papel colocando-o sobre uma
superfície cilíndrica de revolução. Fixar o centro do círculo à superfície e
fazer o círculo rodar, de modo a mantê-lo sempre em contacto total com a
superfície. De que modo esta experiência poderá contribuir para nos conven-
cer de que a derivada de uma isometria não tem que aplicar as direcções
principais sobre as direcções principais?
Ex III.52 Sejam K um espaço vectorial de dimensão finita, E § K um conjunto,
I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial,
com IB § I . Seja, para cada B − E, IBw § IB um subespaço vectorial e
sB À IB Ä IBw a projecção ortogonal.
1
a) Mostrar que, se 1B À I Ä IB e 1Bw À I Ä IBw são as projecções ortogonais,
então 1Bw œ 1 sB œ 1Bw ÎIB . Sugestão: Um dos processos é lembrar
s B ‰ 1B e 1
que a projecção ortogonal é a aplicação linear adjunta da inclusão.
b) Deduzir de a) que I w œ ÐIBw ÑB−E é também um fibrado vectorial se, e só
se, 1 sB ÑB−E À I Ä I é um morfismo linear suave. Mostrar que, quando
s œ Ð1
isso acontecer, a segunda forma fundamental 2 s B À XB ÐEÑ ‚ IBw Ä IB de I w
relativamente a I (cf. III.8.21) está definida por
s B Ð?ß AÑ œ f1
2 sB Ð?ÑÐAÑ.
c) Mostrar que, sendo IBww o complementar ortogonal de IBw em IB ,
I ww œ ÐIBww ÑB−E é um fibrado vectorial se, e só se I w œ ÐIBw ÑB−E é um fibrado
vectorial.
Exercícios 333

Ex III.53 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais, com
IB § I e IBw § I w , onde I e I w estão munidos de produto interno e
notemos 1B e 1Bw as projecções ortogonais de I sobre IB e de I w sobre IBw ,
respectivamente. Seja - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear suave e
consideremos o prolongamento -¼ œ Ð-B¼ ÑB−E À E Ä PÐIà I w Ñ correspon-
dente, com -B¼ œ -B ‰ 1B . Mostrar que, para cada B − E e ? − XB ÐEÑ, a
derivada covariante f-B Ð?ÑÀ IB Ä IBw está definida por
f-B Ð?ÑÐAÑ œ HÐ-¼ ÑB Ð?ÑÐAÑ  2Bw Ð?ß -B ÐAÑÑ œ 1Bw ÐHÐ-¼ ÑBÐ?ÑÐAÑÑ.
Deduzir que, para cada B − E, ? − XB ÐEÑ, A − IB e Aw − IBw , tem-se
Øf-B Ð?ÑÐAÑß Aw Ù œ ØHÐ-¼ ÑB Ð?ÑÐAÑß Aw Ù.

Ex III.54 (O morfismo linear adjunto) Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E


dois fibrados vectoriais, com IB § I e IBw § I w , onde I e I w estão munidos
de produto interno, e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear.
a) Mostrar que, se -B¼ œ -B ‰ 1B À I Ä I w é o prolongamento de -B
associado ao produto interno de I , então o prolongamento
Ð-B‡ Ѽ œ -B‡ ‰ 1Bw À I Ä I da aplicação linear adjunta -B‡ À IBw Ä IB é igual a
Ð-B¼ ч . Sugestão: Reparar que -B¼ , como aplicação I Ä I w , é a composta
+Bw ‰ -B ‰ 1B , onde +Bw À IBw Ä I w é a inclusão e 1B À I Ä IB é a projecção
ortogonal, e lembrar que a adjunta de uma inclusão é a correspondente
projecção ortogonal.
b) Deduzir de a) e da última igualdade no exercício precedente que, se
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear suave, então o morfismo linear
-‡ œ Ð-B‡ ÑB−E À I w Ä I é também suave e que a sua derivada covariante está
definida por
fÐ-‡ ÑB Ð?Ñ œ Ðf-B Ð?Ñч .

Ex III.55 Sejam E § K e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados


vectoriais, com IB § IBw § I , onde I está munido de produto interno.
Diz-se que I é um subfibrado vectorial paralelo de I w se, sendo
+B À IB Ä IBw as aplicações lineares inclusão, + œ Ð+B ÑB−E À I Ä I w é um
morfismo linear paralelo.
a) Mostrar que I é um subfibrado vectorial paralelo se, e só se, notando 1 sB a
projecção ortogonal de IBw sobre IB , 1 s œ Ð1 sB ÑB−E À I w Ä I é um morfismo
linear paralelo. Sugestão: Lembrar que 1 sB À IBw Ä IB é a aplicação linear
adjunta de +B À IB Ä IB . w

b) Mostrar que I é um subfibrado vectorial paralelo se, e só se, para cada


B − E, a segunda forma fundamental 2B À XB ÐEÑ ‚ IB Ä IB¼ é uma restrição
da segunda forma fundamental 2Bw À XB ÐEÑ ‚ IBw Ä IBw ¼ , ou, o que é equiva-
lente, se, e só se, para cada B − E, a segunda forma fundamental I relativa-
s B À XB ÐEÑ ‚ IB Ä IBw , é nula .
mente a I w , 2
c) Mostrar que I é um subfibrado vectorial paralelo se, e só se, para cada
334 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

B − E, ? − XB ÐEÑ e A − IB , 2B Ð?ß AÑ − IBw ¼ .


d) Suponhamos que [" œ Ð[" B ÑB−E ß á ß [: œ Ð[: B ÑB−E são secções
suaves paralelas de I w tais que, para cada B − E, [" B ß á ß [: B seja uma
base de IB . Mostrar que I œ ÐIB ÑB−E é então um subfibrado vectorial para-
lelo de I w œ ÐIBw ÑB−E . Sugestão: Reparar que os [4 também são secções
suaves paralelas de I e deduzir que, para cada B − E e ? − XB ÐEÑ, tem-se
f+B Ð?ÑÐ[4 B Ñ œ !.
Ex III.56 Sejam K um espaço euclidiano e Q § Q w § K duas variedades.
Diz-se que Q é uma subvariedade totalmente geodésica de Q w se a inclusão
+À Q Ä Q w é uma aplicação paralela (cf. III.8.29).
a) Verificar que Q é uma subvariedade totalmente geodésica de Q w se, e só
se, X ÐQ Ñ é um subfibrado vectorial paralelo de X ÐQ w ÑÎQ .
b) Verificar que Q é uma subvariedade totalmente geodésica de Q w se, e só
se, a segunda forma fundamental 2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ é uma
restrição da segunda forma fundamental 2B À XB ÐQ w Ñ ‚ XB ÐQ w Ñ Ä XB ÐQ w Ѽ ,
para cada B − Q .
c) Verificar que Q é uma subvariedade totalmente geodésica de Q w se, e só
se, para cada B − Y e ?ß @ − XB ÐQ Ñ, 2B Ð?ß @Ñ − XB ÐQ w Ѽ .
Ex III.57 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais, com
IB § I e IBw § I w , e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear suave.
Mostrar que são equivalentes as três propriedades seguintes:
1) Para cada B! − E existe um aberto Y de E, com B! − Y , tal que, para
cada B − Y , a dimensão de -B ÐIB Ñ coincide com a de -B! ÐIB! Ñ (a
característica de -B é localmente constante).
2) Ð-B ÐIB ÑÑB−E é um fibrado vectorial.
3) Sendo IBww œ kerÐ-B Ñ § IB , ÐIBww ÑB−E é um fibrado vectorial.
Sugestão: Na implicação 1) Ê 2) utilizar campos de referenciais locais. Ter
em conta III.8.13.
Ex III.58 (Justificação alternativa da alínea c) do exercício III.10) Sejam I
um espaço euclidiano ou hermitiano de dimensão 8, ! Ÿ 5 Ÿ 8 e
K5 ÐIÑ § P++ ÐIà IÑ a variedade de Grassmann cujos elementos são as
projecções ortogonais 1J , com J § I subespaço vectorial de dimensão 5
(cf. II.5.13). Seja KPÐIÑ o aberto de PÐIà IÑ constituído pelos isomorfis-
mos 0À I Ä I .
a) Reparar que tem lugar um morfismo linear suave do fibrado vectorial
constante de base KPÐIÑ ‚ K5 ÐIÑ e fibra I para ele mesmo, que a cada
Ð0ß 1J Ñ associa a aplicação linear 0À I Ä I e que tem lugar um fibrado
vectorial de base KPÐIÑ ‚ K5 ÐIÑ cuja fibra em Ð0ß 1J Ñ é o subespaço
vectorial J de I .
b) Utilizar III.8.13 para deduzir que tem lugar um fibrado vectorial de base
KPÐIÑ ‚ K5 ÐIÑ cuja fibra em Ð0ß 1J Ñ é 0ÐJ Ñ e utilizar esta conclusão para
obter uma nova justificação do facto de ser suave a aplicação
KPÐIÑ ‚ K5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ definida por Ð0ß 1J Ñ È 10ÐJ Ñ .
Exercícios 335

Ex III.59 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais, com
IB § I e IBw § I w , e - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w um morfismo linear. Mostrar
que - é suave se, e só se, qualquer que seja a secção suave [ œ Ð[B ÑB−E de
I , a secção -Ð[ Ñ œ Ð-B Ð[B ÑÑB−E de I w é também suave. Sugestão: Uma
das implicações é já conhecida; para a outra lembrar que a suavidade de um
morfismo linear é uma questão local e reparar que, dado B! − E, se pode
considerar uma base A" ß á ß A8 de XB! ÐEÑ e que então têm lugar secções
suaves Ð1B ÐA4 ÑÑB−E de I que, restringidas convenientemente, vão dar um
campo de referenciais da restrição de I tendo então em conta III.8.11.
Enunciar e demonstrar uma condição análoga para a suavidade de um morfis-
mo bilinear.
Ex III.60 (Morfismos lineares como secções) Sejam I œ ÐIB ÑB−E e
I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais, com IB § I e IBw § I w , onde I e
I w estão munidos de produto interno e notemos 1B e 1Bw as projecções
ortogonais de I sobre IB e de I w sobre IBw , respectivamente.
a) Mostrar que, para cada B − E, tem lugar um isomorfismo de PÐIB à IBw Ñ
sobre um subespaço vectorial P¼ ÐIB à IBw Ñ de PÐIà I w Ñ, que a cada - associa
o seu prolongamento -¼ œ - ‰ 1B associado ao produto interno de I .
b) Verificar que P¼ ÐIB à IBw Ñ é o conjunto dos - − PÐIà I w Ñ tais que
-ÐIÑ § IBw e -ÎIB¼ œ !, isto é, em termos de matrizes de aplicações lineares
relativas às decomposições em soma directa ortogonal I œ IB Š IB¼ e
I w œ IBw Š IBw ¼ , o conjunto daqueles cuja matriz é do tipo

” ! !•
-"ß" !
,

e que o isomorfismo referido em a) está definido, em termos matriciais, por

-"ß" È ”
!•
-"ß" !
.
!

c) Utilizar a caracterização matricial do produto interno de Hilbert-Schmidt


em PÐIà I w Ñ referida em I.3.10 para mostrar que o isomorfismo referido em
a) é um isomorfismo ortogonal e para mostrar que a projecção ortogonal 1 sB
de PÐIà I w Ñ sobre P¼ ÐIB à IBw Ñ está definida por
sB Ð-Ñ œ 1Bw ‰ - ‰ 1B ,
1
ou seja, em termos matriciais, por

”- -#ß# •
È ” "ß"
!•
-"ß" -"ß# - !
.
#ß" !

d) Mostrar que a família P¼ ÐIà I w Ñ œ ÐP¼ ÐIB à IBw ÑÑB−E de subespaços


vectoriais de PÐIà I w Ñ é um fibrado vectorial e determinar a respectiva
segunda forma fundamental
336 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

s B À XB ÐEÑ ‚ P¼ ÐIB à IBw Ñ Ä P¼ ÐIB à IBw Ѽ .


2

e) Verificar que um morfismo linear - œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w é suave se, e só


se, Ð-B¼ ÑB−E é uma secção suave do fibrado vectorial P¼ ÐIà I w Ñ e que, nesse
caso, para cada B − E e ? − XB ÐEÑ, o elemento de P¼ ÐIB à IBw Ñ associado a
f-B Ð?Ñ − PÐIB à IBw Ñ coincide com a derivada covariante da secção Ð-B¼ ÑB−E
no ponto B na direcção de ?.
Ex III.61 (Paralelismo do traço) Sejam I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial,
com IB § I , onde I está munido de produto interno, e
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä I um morfismo linear suave. Seja :À E Ä Š a aplicação
definida por :ÐBÑ œ TrÐ-B Ñ.
a) Reparando que, para cada B − E, a matriz do prolongamento -B¼ À I Ä I
de -B , associado ao produto interno, relativamente à decomposição em soma
directa ortogonal I œ IB Š IB¼ é

” ! !•
-B !
,

mostrar que se tem TrÐ-B Ñ œ TrÐ-B¼ Ñ.


b) Deduzir de a) que :À E Ä Š é suave e que, para cada B − E e ? − XB ÐEÑ,
H:B Ð?Ñ œ TrÐHÐ-¼ ÑB Ð?ÑÑ.

c) Mostrar que a matriz da aplicação linear HÐ-¼ ÑB Ð?ÑÀ I Ä I relativa-


mente à decomposição atrás referida é da forma

” ! ! •
f-B Ð?Ñ !"ß#
,
#ß"

para aplicações lineares convenientes !"ß# À IB¼ Ä IB e !#ß" À IB Ä IB¼ , e


deduzir que se tem também
H:B Ð?Ñ œ TrÐf-B Ð?ÑÑ.

Sugestão: Para cada A − I , derivar ambos os membros da identidade


1B Ð-B¼ ÐAÑÑ œ -B¼ ÐAÑ e atender à caracterização de f-B Ð?ÑÐAÑ no exercício
III.53.
Ex III.62 Sejam I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E dois fibrados vectoriais, com
IB § I e IBw § I w , onde I e I w estão munidos de produto interno, e
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w e . œ Ð.B ÑB−E À I Ä I w dois morfismos lineares
suaves. Sendo <À E Ä Š a aplicação definida por <ÐBÑ œ Ø-B ß .B Ù (produto
interno de Hilbert-Schmidt), mostrar que < é suave e que
H<B Ð?Ñ œ Øf-B Ð?Ñß .B Ù  Ø-B ß f.B Ð?ÑÙ.

Sugestão: Reparar que se tem Ø-B ß .B Ù œ Ø-B¼ ß .¼


B Ù, pela caracterização
Exercícios 337

matricial do produto interno de Hilbert-Schmidt, e utilizar uma propriedade


análoga à da alínea c) do exercício precedente.
Ex III.63 Sejam E § K, I e I w espaços vectoriais de dimensão finita munidos
de produto interno e I œ ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E fibrados vectoriais, com
IB § I e IBw § I w , e consideremos o correspondente fibrado vectorial
produto I ‚ I w œ ÐIB ‚ IBw ÑB−E . Mostrar que têm lugar morfismos lineares
suaves paralelos
1" œ Ð1" B ÑB−E À I ‚ I w Ä I , 1# œ Ð1# B ÑB−E À I ‚ I w Ä I w ,
onde 1" B À IB ‚ IBw Ä IB e 1# B À IB ‚ IBw Ä IBw são as projecções
canónicas.
Ex III.64 (Paralelismo e curvatura) Sejam Q § K uma variedade, I e I w
espaços vectoriais de dimensão finita munidos de produto interno e
I œ ÐIB ÑB−Q e I w œ ÐIBw ÑB−Q fibrados vectoriais, com IB § I e IBw § I w .
Seja - œ Ð-B ÑB−Q À I Ä I w um morfismo linear suave paralelo. Sendo VB e
VBw os tensores de curvatura de I e I w , respectivamente, mostrar que se tem
VBw Ð?ß @ß -B ÐAÑÑ œ -B ÐVB Ð?ß @ß AÑÑ,

quaisquer que sejam ?ß @ − XB ÐQ Ñ e A − IB . Sugestão: Utilizar a caracteri-


zação do tensor de curvatura em III.6.9 (por esse motivo é que pedimos que a
base fosse uma variedade).
Mostrar analogamente que, para um morfismo bilinear suave paralelo
.À I ‚ I w Ä I ww , tem-se
VBww Ð?ß @ß .B ÐAß Aw ÑÑ œ .B ÐVB Ð?ß @ß AÑß Aw Ñ  .B ÐAß VBw Ð?ß @ß Aw ÑÑ.

Ex III.65 (Paralelismo das operações de espaço vectorial) Sejam E § K, I


um espaços vectorial de dimensão finita, real ou complexo, munido de
produto interno e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I .
a) Mostrar que tem lugar um morfismo linear suave paralelo
 œ ÐB ÑB−E À I ‚ I Ä I ,
onde, B À IB ‚ IB Ä IB é a operação de soma.
b) Mostrar que tem lugar um morfismo bilinear suave paralelo
. œ Ð.B ÑB−E À ŠE ‚ I Ä I ,
onde .B À Š ‚ IB Ä IB é a multiplicação pelos escalares.
Ex III.66 Lembrar que, como se viu em III.5.24, se I é um espaço euclidiano, a
segunda forma fundamental da hipersuperície esférica de centro ! e raio <,
W< œ ÖB − I ± mBm œ <× é a aplicação 2B À XB ÐW< Ñ ‚ XB ÐW< Ñ Ä XB ÐW< Ѽ defi-
nida por
338 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

"
2B Ð@ß AÑ œ  Ø@ß AÙ B.
<#
Mostrar que W< tem segunda forma fundamental paralela, isto é, que o mor-
fismo bilinear suave Ð2B ÑB−W< À X ÐW< Ñ ‚ X ÐW< Ñ Ä X ¼ ÐW< Ñ é paralelo.
Ex III.67 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E
um fibrado vectorial com IB § I . Sejam )À I Ä PÐIà ŠÑ e, para cada
B − E, )B À IB Ä PÐIB à ŠÑ os isomorfismos associados aos produtos
internos (cf. I.2.9). Sejam [ œ Ð[B ÑB−E uma secção de I e
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä ŠE o morfismo linear definido por -B œ )B Ð[B Ñ.
Mostrar que a secção [ é suave se, e só se, o morfismo linear - é suave e
que, quando isso acontecer, tem-se f-B Ð?Ñ œ )B Ðf[B Ð?ÑÑ. Sugestão:
Mostrar que o prolongamento de -B œ )B Ð[B Ñ associado ao produto interno,
-B¼ À I Ä Š, não é mais do que )Ð[B Ñ e atender à conclusão do exercício
III.53.
Ex III.68 Sejam E § K, I e I w espaços euclidianos ou hermitianos e I œ
ÐIB ÑB−E e I w œ ÐIBw ÑB−E fibrados vectoriais, com IB § I e IBw § I w . Seja
-À I ‚ I Ä I w um morfismo bilinear suave simétrico (respectivamente,
antissimétrico), isto é, tal que cada -B À IB ‚ IB Ä IBw seja uma aplicação
bilinear simétrica (respectivamente antissimétrica). Mostrar que, para cada
B − E e ? − XB ÐEÑ, f-B Ð?ÑÀ IB ‚ IB Ä IBw é uma aplicação bilinear simé-
trica (respectivamente antissimétrica). Sugestão: Reparar que os prolonga-
mentos -B¼ À I ‚ I Ä I w associados ao produto interno de I são ainda
aplicações bilineares simétricas (respectivamente antissimétricas) e utilizá-los
para calcular a derivada covariante.
Ex III.69 Sejam K um espaço euclidiano, Q § K uma variedade e 0 À Q Ä ‘
uma aplicação suave com gradiente gradÐ0 Ñ œ ÐgradÐ0 ÑB ÑB−Q , que sabemos
ser uma secção suave de X ÐQ Ñ (cf. o exercício III.18). Mostrar que a
Hessiana " Ð0 ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä ‘ é dada por
"Ð0 ÑB Ð?ß @Ñ œ Øf gradÐ0 ÑB Ð?Ñß @Ù œ ØH gradÐ0 ÑBÐ?Ñß @Ù.

Sugestão: Lembrar que, nas notações do exercício precedente, tem-se


H0B œ )B ÐgradÐ0 ÑB Ñ.
Ex III.70 Sejam K, Kw e Kww espaços euclidianos, Q § K , Q w § Kw e Q ww § Kww
variedades e 0 À Q Ä Q w e 1À Q w Ä Q ww duas aplicações suaves. Mostrar
que a Hessiana da aplicação composta 1 ‰ 0 À Q Ä Q ww é caracterizada por
" Ð1 ‰ 0 ÑB Ð?ß @Ñ œ " Ð1Ñ0 ÐBÑ ÐH0B Ð?Ñß H0B Ð@ÑÑ  H10 ÐBÑÐ"Ð0 ÑBÐ?ß @ÑÑ .

Deduzir, em particular, que, se 0 e 1 são aplicações paralelas, também 1 ‰ 0 é


uma aplicação paralela.
Ex III.71 Sejam K um espaço euclidiano, Q § K uma variedade sem bordo e
0 À Q Ä ‘ uma aplicação suave. Seja B! − Q tal que H0B! œ ! e que a
Exercícios 339

Hessiana " Ð0 ÑB! À XB! ÐQ Ñ ‚ XB! ÐQ Ñ Ä ‘ seja uma aplicação bilinear


definida positiva (cf. o exercício I.37). Mostrar que 0 tem em B! um mínimo
local estrito. Sugestão: Considerar um aberto Z de um espaço vectorial de
dimensão finita, com ! − Z , e um difeomorfismo : de Z sobre um aberto Y
de Q , com :Ð!Ñ œ B! , e aplicar o exercício I.38 à composta 0 ‰ :À Z Ä ‘,
tendo em conta o exercício precedente.
Ex III.72 (A derivada exterior de uma forma diferencial de grau ") Sejam K
um espaço vectorial de dimensão finita, que munimos dum produto interno
auxiliar, Q § K uma variedade, J um espaço vectorial de dimensão finita e
= œ Ð=B ÑB−Q À X ÐQ Ñ Ä JQ um morfismo linear suave (uma forma dife-
rencial de grau " com valores em J ).
a) Mostrar que, para cada B − Q , tem lugar uma aplicação bilinear antissi-
métrica . =B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä J (a derivada exterior de = no ponto B)
definida por
. =B Ð?ß @Ñ œ f=B Ð?ÑÐ@Ñ  f=B Ð@ÑÐ?Ñ.
Mostrar ainda que, se = œ Ð=B ÑB−Q é uma aplicação suave de Q em
PÐKà J Ñ, com cada =B restrição de =B , então tem-se também
. =B Ð?ß @Ñ œ H=B Ð?ÑÐ@Ñ  H=B Ð@ÑÐ?Ñ,
o que mostra, em particular, que a derivada exterior não depende do produto
interno auxiliar que se considerou em K .
b) Mostrar que . = œ Ð. =B ÑB−Q À X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ Ä JQ é um morfismo bili-
near suave.
c) Mostrar que, se 0 À Q Ä J é uma aplicação suave, então tem lugar uma
forma diferencial de grau ", .0 À X ÐQ Ñ Ä JQ , definida por .0B œ H0B , e
que se tem então ..0 œ !.
Ex III.73 (A derivada exterior de uma forma diferencial de grau #)92 Sejam
K um espaço vectorial de dimensão finita, que munimos dum produto interno
auxiliar, Q § K uma variedade, J um espaço vectorial de dimensão finita e
= œ Ð=B ÑB−Q À X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ Ä JQ um morfismo bilinear suave antissi-
métrico, isto é, verificando =B Ð@ß ?Ñ œ =B Ð?ß @Ñ (uma forma diferencial de
grau #, com valores em J ).
a) Mostrar que, para cada B − Q , tem lugar uma aplicação trilinear
. =B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä J
(a derivada exterior de = no ponto B) definida por

92Este exercício pode ser generalizado para formas diferenciais de grau : (o exercício
precedente correspondendo então ao caso : œ ") mas preferimos não apresentar essa
generalização para evitar expressões mais pesadas e a necessidade de examinar alguns
instrumentos algébricos que não nos interessam de momento.
340 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

. =B Ð?ß @ß AÑ œ f=B Ð?ÑÐ@ß AÑ  f=B Ð@ÑÐ?ß AÑ  f=B ÐAÑÐ?ß @Ñ,


e que esta aplicação bilinear é antissimétrica (isto é, antissimétrica em cada
par de variáveis). Sugestão: Lembrar a conclusão do exercício III.68.
b) Mostrar que, sendo E# ÐKà J Ñ o espaço vectorial das aplicações bilineares
antissimétricas K ‚ K Ä J , existe uma aplicação suave = œ Ð=B ÑB−Q de Q
em E# ÐKà J Ñ tal que cada =B seja uma restrição de =B (pensar no prolonga-
mento de =B associado a um produto interno de K) e que, qualquer que seja a
aplicação suave = nessas condições, tem-se também
. =B Ð?ß @ß AÑ œ H=B Ð?ÑÐ@ß AÑ  H =B Ð@ÑÐ?ß AÑ  H =BÐAÑÐ?ß @Ñ,
o que mostra, em particular, que a derivada exterior não depende do produto
interno auxiliar que se considerou em K .
c) Mostrar que . = œ Ð. =B ÑB−Q À X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ Ä JQ é um mor-
fismo trilinear suave.
d) Mostrar que, se = œ Ð=B ÑB−Q À X ÐQ Ñ Ä JQ é uma forma diferencial de
grau ", com valores em J , então a forma diferencial de grau #, com valores
em J , . =À X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ Ä JQ referida no exercício precedente, verifica
.. = œ !. Sugestão: Partir de uma aplicação suave = œ Ð=B ÑB−Q de Q em
PÐKà J Ñ e prolongá-la a um aberto de K contido em Q , como caminho para
obter um prolongamento para .=.
Ex III.74 (Derivada de Lie de um morfismo linear) Sejam K um espaço vecto-
rial de dimensão finita, que munimos dum produto interno auxiliar, Q § K
uma variedade, \ œ Ð\B ÑB−Q um campo vectorial suave e - œ Ð-B ÑB−Q À
X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ um morfismo linear suave. Para cada B − Q define-se
então uma aplicação linear _\ Ð-ÑB À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ, a derivada de Lie de
- associada ao campo vectorial \ , por
_\ Ð-ÑB Ð?Ñ œ f-B Ð\B ÑÐ?Ñ  -B Ðf\B Ð?ÑÑ  f\B Ð-B Ð?ÑÑ.

Mostrar que, se - œ Ð-B ÑB−Q é uma aplicação suave de Q em PÐKà KÑ tal


que cada -B é uma restrição de -B , então
_\ Ð-ÑB Ð?Ñ œ H-B Ð\B ÑÐ?Ñ  -B ÐH\B Ð?ÑÑ  H\B Ð-B Ð?ÑÑ
e deduzir daqui que a derivada de Lie de - não depende do produto interno
auxiliar considerado em K e que _\ Ð-Ñ œ Ð_\ Ð-ÑB ÑB−Q À X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ é
também um morfismo linear suave.
Ex III.75 (Derivada de Lie de um morfismo bilinear)93 Sejam K um espaço
vectorial de dimensão finita, que munimos dum produto interno auxiliar,

93Este exercício e o precedente, são mais exemplos do que uma teoria geral da derivada
de Lie. Pode-se definir, mais geralmente, a derivada de Lie de um morfismo multilinear
suave cujo domínio é um produto de factores X ÐQ Ñ e o espaço de chegada é X ÐQ Ñ ou
um fibrado vectorial constante JQ .
Exercícios 341

Q § K uma variedade, \ œ Ð\B ÑB−Q um campo vectorial suave, J um


espaço vectorial de dimensão finita e . œ Ð.B ÑB−Q À X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ Ä JQ
um morfismo bilinear suave. Para cada B − Q define-se então uma aplicação
linear _\ Ð.ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä J , a derivada de Lie de . associada ao
campo vectorial \ , por
_\ Ð.ÑB Ð?ß @Ñ œ f.B Ð\B ÑÐ?ß @Ñ  .B Ðf\B Ð?Ñß @Ñ  .BÐ?ß f\BÐ@ÑÑ.
Mostrar que, se . œ Ð.B ÑB−Q é uma aplicação suave de Q em PÐKß Kà J Ñ
tal que cada .B é uma restrição de .B , então
_\ Ð.ÑB Ð?ß @Ñ œ H.B Ð\B ÑÐ?ß @Ñ  .B ÐH\B Ð?Ñß @Ñ  .BÐ?ß H\BÐ@ÑÑ
e deduzir daqui que a derivada de Lie de . não depende do produto interno
auxiliar tomado em K e que _\ Ð.Ñ œ Ð_\ Ð.ÑB ÑB−Q À X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ Ä JQ
é também um morfismo linear suave.
Ex III.76 Seja I um espaço euclidiano ou hermitiano e consideremos em
PÐIà IÑ o produto interno real, parte real do de Hilbert-Schmidt. Sendo
KÐIÑ a variedade de Grassmann cujos elementos são as projecções ortogo-
nais sobre subespaços vectoriais de I e SÐIÑ o grupo ortogonal, lembrar
que, como se viu no exercício II.40, tem lugar um difeomorfismo
s# ÐIÑ § SÐIÑ
:À KÐIÑ Ä e
definido por :Ð-Ñ œ #-  M. . Mostrar que :À KÐIÑ Ä SÐIÑ é uma aplica-
ção paralela. Sugestão: Lembrar as caracterizações das segundas formas
fundamentais de KÐIÑ e de SÐIÑ nos exercícios III.22 e III.46.
Ex III.77 Sejam K e Kw espaços euclidianos, Q § K e Q w § Kw duas
variedades sem bordo e 0 À Q Ä Q w uma aplicação suave. Diz-se que 0 é
uma submersão riemaniana se H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ é uma aplicação
linear coortogonal, qualquer que seja B − Q (cf. o exercício I.9), isto é
H0B ‰ ÐH0B ч œ M.X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ ,

qualquer que seja B − Q . Em particular, cada H0B À XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ é


sobrejectiva, pelo que 0 é uma submersão.
Seja 0 À Q Ä Q w uma submersão riemaniana. Para cada C − Q w , notamos
QC § Q , QC œ ÖB − Q ± 0 ÐBÑ œ C× a fibra correspondente a C e lembra-
mos que, pelo teorema de construção de variedades como imagens
recíprocas, QC é uma variedade sem bordo com espaços tangentes
XB ÐQC Ñ œ kerÐH0B Ñ (aos vectores de XB ÐQ Ñ em kerÐH0B Ñ também se
costuma dar o nome de vectores tangentes verticais).
a) Aos vectores de XB ÐQ Ñ em kerÐH0B Ѽ também se costuma dar o nome de
vectores tangentes horizontais. Lembrar que, pelo exercício I.1, estes
vectores são os que estão na imagem de ÐH0B ч À X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ Ä XB ÐQ Ñ e que,
pelo exercício I.9, a restrição de H0B é um isomorfismo ortogonal de
342 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

kerÐH0B Ѽ sobre X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ.


b) Mostrar que se tem, para cada B − Q e ? − XB ÐQ Ñ,
ÐfH0B Ð?ÑÑ ‰ ÐH0B ч  H0B ‰ ÐfH0B Ð?Ñч œ !
e deduzir que, sendo ? − XB ÐQ Ñ e @w ß Aw − X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ, a Hessiana " Ð0 ÑB
verifica
Ø" Ð0 ÑB Ð?ß ÐH0B ч Ð@w ÑÑß Aw Ù  Ø" Ð0 ÑB Ð?ß ÐH0BчÐAw ÑÑß @ wÙ œ ! .

Sugestão: Considerar a derivada covariante de ambos os membros da identi-


dade H0 ‰ ÐH0 ч œ M.0 ‡ X ÐQ w Ñ .
c) Mostrar que, se ?ß @ − XB ÐQ Ñ são horizontais, então " Ð0 ÑB Ð?ß @Ñ œ !.
Sugestão: Pôr ? œ ÐH0B ч Ð?w Ñ e @ œ ÐH0B ч Ð@w Ñ. Substituir ? por
ÐH0B ч Ð?w Ñ na última igualdade em b) e utilizar o “truque” já encontrado de
juntar a igualdade obtida com as outras duas que se obtêm por permutação
circular das variáveis ?w ß @w ß Aw , somando então as três igualdades depois de
multiplicar a última por ".
d) Seja 2s B À XB ÐQ0 ÐBÑ Ñ ‚ XB ÐQ0 ÐBÑ Ñ Ä XB ÐQ Ñ a segunda forma fundamental
da fibra Q0 ÐBÑ , que contém B, relativamente a Q (cf. III.8.21). Mostrar que,
se ?ß @ − XB ÐQ Ñ são verticais (isto é, ?ß @ − XB ÐQ0 ÐBÑ Ñ), então
s B Ð?ß @ÑÑ.
"Ð0 ÑB Ð?ß @Ñ œ H0B Ð2

Sugestão: Aplicar a fórmula para a Hessiana da aplicação composta, exami-


nada no exercício III.70, à composta de 0 com a inclusão +À Q0 ÐBÑ Ä Q , que
é uma aplicação constante (reparar que nesta alínea não se utiliza o facto de a
submersão ser riemaniana).
Ex III.78 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma hipersuperfície
relativamente à qual se fixou uma secção suave Ð8tB ÑB−Q de X ÐQ Ѽ com
m8tB m œ ", para cada B, e sejam -B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ as correspondentes
aplicações lineares de Weingarten. Seja W œ ÖB − K ± mBm œ "× e conside-
remos a aplicação de Gauss <À Q Ä W definida por <ÐBÑ œ 8tB e conside-
remos a respectiva Hessiana
" Ð<ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X<ÐBÑ ÐWÑ.

Lembrar que, como se viu em III.5.6, tem-se -B Ð@Ñ œ H<B Ð@Ñ, para cada
@ − XB ÐQ Ñ.
a) Mostrar que X<ÐBÑ ÐWÑ œ XB ÐQ Ñ, que - œ Ð-B ÑB−Q À X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ é um
morfismo linear suave e que, quaisquer que sejam ?ß @ − XB ÐQ Ñ,
f-B Ð?ÑÐ@Ñ œ " Ð<ÑB Ð?ß @Ñ.

Sugestão: Considerar um aberto Y de K , contendo Q , e um prolongamento


suave <À Y Ä K de <. Exprimir a primeiro membro através da fórmula em
III.8.16 que faz intervir a projecção ortogonal sobre XB ÐQ Ñ e o segundo
Exercícios 343

membro através da fórmula em III.8.31 que faz intervir a projecção ortogonal


sobre X<ÐBÑ ÐWÑ.
b) Concluir de a) a identidade de Codazzi f-B Ð?ÑÐ@Ñ œ f-B Ð@ÑÐ?Ñ.
Ex III.79 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade e notemos 1B
a projecção ortogonal de K sobre XB ÐQ Ñ e 2B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ѽ
a segunda forma fundamental. Sejam I um espaço euclidiano ou hermitiano
e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial e notemos 1 sB a projecção ortogonal de
I sobre IB e 2 s B À XB ÐQ Ñ ‚ IB Ä IB¼ a segunda forma fundamental.
Consideremos em PÐIà IÑ o produto interno real, parte real do de
Hilbert-Schmidt e consideremos a variedade de Grassmann KÐIÑ §
P++ ÐIà IÑ cujos elementos são as projecções ortogonais sobre subespaços
vectoriais de I (cf. II.5.13). Seja :À Q Ä KÐIÑ a aplicação de Gauss,
definida por :ÐBÑ œ 1 sB e consideremos a respectiva Hessiana
" Ð:ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X:ÐBÑ ÐKÐIÑÑ § P++ ÐIà IÑ.

Lembrar que, por definição da segunda forma fundamental, tem-se, para cada
@ − XB ÐQ Ñ e A − IB ,
s B Ð@ß AÑ œ H:B Ð@ÑÐAÑ.
2

a) (Ruh e Vilms) Mostrar que, quaisquer que sejam ?ß @ − XB ÐQ Ñ e A − IB ,


s B Ð?ÑÐ@ß AÑ œ " Ð:ÑB Ð?ß @ÑÐAÑ,
f2

onde, no primeiro membro, se considera 2 s como morfismo bilinear suave


¼
X ÐQ Ñ ‚ I Ä I . Sugestão: Considerar um aberto Y de K , contendo Q , e
um prolongamento suave :À Y Ä P++ ÐIà IÑ de :. Exprimir a primeiro
membro através da fórmula em III.8.45 que faz intervir a projecção ortogonal
sobre IB¼ e o segundo membro através da fórmula em III.8.31 que faz
intervir a projecção ortogonal de P++ ÐIà IÑ sobre X:ÐBÑ ÐKÐIÑÑ, utilizando a
caracterização desta última no exercício III.46.
b) Deduzir que, no caso particular em que I œ K e I œ X ÐQ Ñ, é simétrica
a aplicação trilinear XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ definida por
s B Ð?ÑÐ@ß AÑ œ " Ð:ÑB Ð?ß @ÑÐAÑ.
Ð?ß @ß AÑ È f2

Sugestão: O segundo membro da igualdade é simétrico em ? e @ e o


primeiro é simétrico em @ e A, tendo em conta o exercício III.68.
Ex III.80 a) Sejam Q § K, Q w § K w e Q ww § K ww variedades sem bordo,
munidas de estruturas quase complexas, e 0 À Q ‚ Q w Ä Q ww uma aplicação
suave e separavelmente holomorfa (no sentido que, para cada B − Q , é
holomorfa a aplicação Q w Ä Q ww , C È 0 ÐBß CÑ, e, para cada C − Q w , é
holomorfa a aplicação Q Ä Q ww , B È 0 ÐBß CÑ. Mostrar que, quando se
considera em Q ‚ Q w a estrutura quase complexa produto (cf. III.9.19), 0 é
uma aplicação holomorfa.
344 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

b) Aplicar a conclusão anterior para mostrar que, se I é um espaço


hermitiano, é holomorfa a aplicação suave GÀ KPÐIÑ ‚ K5 ÐIÑ Ä K5 ÐIÑ
definida por GÐ0ß 1J Ñ œ 10ÐJ Ñ (cf. a alínea c) do exercício III.10 ou o
exercício III.58).
Ex III.81 Sejam Q § K e Q w § K w variedades sem bordo munidas de estruturas
quase complexas e consideremos em Q ‚ Q w a estrutura quase complexa
produto. Verificar que são válidas as propriedades usualmente associadas a
uma estrutura produto, nomeadamente:
a) As projecções canónicas Q ‚ Q w Ä Q e Q ‚ Q w Ä Q w são aplicações
holomorfas;
b) Se Q ww § Kww é outra variedade sem bordo, munida de uma estrutura quase
complexa, e se, 0 À Q ww Ä Q e 1À Q ww Ä Q w são aplicações holomorfas,
então é também holomorfa a aplicação 2À Q ww Ä Q ‚ Q w definida por
2ÐDÑ œ Ð0 ÐDÑß 1ÐDÑÑ.
Ex III.82 Seja Q § K uma variedade sem bordo, munida de uma estrutura
quase complexa N œ ÐNB ÑB−Q . Mostrar que N œ ÐNB ÑB−Q é outra
estrutura quase complexa de Q e que, se Q , com a primeira estrutura, é uma
variedade holomorfa, então Q , com a segunda estrutura, é também uma
variedade holomorfa.
Ex III.83 Na parte 3) da demonstração de III.9.26 foi referido que não se dispu-
nha de uma fórmula explícita para a aplicação GJ À KPÐIÑ Ä KÐIÑ, que a
cada isomorfismo 0À I Ä I associa a projecção ortogonal sobre o subespaço
vectorial 0ÐJ Ñ. Mostrar que, utilizando o exercício II.37, é possível obter
uma tal fórmula explícita. Sugestão: Reparar que 0ÐJ Ñ coincide com a
imagem do elemento 0 ‰ 1J ‰ 0" − Kw ÐIÑ.
Ex III.84 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo,
munida de uma estrutura quase complexa suave ÐNB ÑB−Q . Verificar que o
tensor de torção RB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ admite a seguinte caracte-
rização, que também não faz intervir o produto interno de K : Dados B! − Q
e ?ß @ − XB! ÐQ Ñ, tem-se, quaisquer que sejam os campos vectoriais suaves \
e ] sobre Q , com \B! œ ? e ]B! œ @,
RB! Ð?ß @Ñ œ Ò\ß ] ÓB!  NB! ÐÒ\ß N Ð] ÑÓB! Ñ  NB! ÐÒN Ð\Ñß ] ÓB! Ñ  ÒN Ð\Ñß N Ð] ÑÓ B! .

Ex III.85 (A variedade de Grassmann como variedade de Kähler) Seja I um


espaço hermitiano de dimensão 8 e consideremos a variedade de Grassmann
KÐIÑ § P++ ÐIà IÑ, cujos elementos são as projecções ortogonais sobre
subespaços vectoriais complexos de I , com a estrutura complexa ÐN- Ñ-−KÐIÑ
definida por N- Ð!Ñ œ 3Ð#-  M.I Ñ ‰ ! (cf. III.9.26). Consideremos no
espaço ambiente P++ ÐIà IÑ o produto interno parte real do de
Hilbert-Schmidt. Mostrar que a estrutura quase complexa é compatível com o
produto interno de P++ ÐIà IÑ e que KÐIÑ é mesmo uma variedade de
Kähler. Sugestão: Utilizar a primeira caracterização da derivada covariante
Exercícios 345

de um morfismo linear na definição III.8.16, para calcular fN- Ð!ÑÐ" Ñ, e,


para simplificar o resultado, ter em conta as caracterizações matriciais de N- ,
em III.9.26, e da segunda forma fundamental da variedade de Grassmann, no
exercício III.46.
Ex III.86 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo,
munida de uma estrutura quase complexa suave N œ ÐNB ÑB−Q , compatível
com o produto interno.
a) Mostrar que tem lugar uma forma diferencial = œ Ð=B ÑB−Q , de grau #,
onde =B À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä ‘ está definida por
=B Ð?ß @Ñ œ ØNB Ð?Ñß @Ù
(cf. o exercício III.73). Diz-se que = œ Ð=B ÑB−Q é a forma de Kähler de Q ,
associada ao produto interno de K e à estrutura quase complexa compatível.
b) Verificar que se tem
f=B Ð?ÑÐ@ß AÑ œ ØfNB Ð?ÑÐ@Ñß AÙ
e deduzir que a derivada exterior .= está definida por
. =B Ð?ß @ß AÑ œ ØfNB Ð?ÑÐ@Ñß AÙ  ØfNB Ð@ÑÐ?Ñß AÙ  ØfNBÐAÑÐ?Ñß @Ù .

c) Diz-se que a variedade quase complexa Q § K, compatível com o


produto interno de K, é uma variedade simpléctica se se tem . =B œ !, para
cada B − Q . Reparar que se Q é variedade de Kähler, então Q é
simpléctica e tem tensor de torção RB œ !, para cada B − Q e mostrar que,
reciprocamente, se Q é uma variedade simpléctica com RB œ !, para cada B,
então Q é uma variedade de Kähler (em particular, se Q é holomorfa e
simpléctica, então Q é variedade de Kähler).
Sugestão: Ter em conta a caracterização de .=B na alínea b), assim como as
alíneas a) e b) de III.9.38 para subtrair a expressões iguais aos reais nulos
. =B Ð?ß @ß AÑ e . =B Ð?ß NB Ð@Ñß NB ÐAÑÑ.
Ex III.87 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo,
munida de uma estrutura quase complexa compatível N œ ÐNB ÑB−Q . Seja
Q w § Q uma subvariedade quase complexa (cf. III.9.21).
a) Reparar que, tendo em conta III.9.32, se a variedade Q tem tensor de
torção identicamente nulo, o mesmo acontece à variedade Q w . Mostrar, tendo
em conta a caracterização da derivada exterior na alínea b) de III.9.38 que, se
a variedade Q é simpléctica, o mesmo acontece à variedade Q w .
b) Deduzir de a), tendo em conta o exercício precedente, que, se a variedade
Q é de Kähler, o mesmo acontece à variedade Q w .
Ex III.88 Nas condições do exercício III.85, mostrar que a forma de Kähler da
variedade de Grassmann complexa KÐIÑ § P++ ÐIà IÑ, Ð=- Ñ-−KÐIÑ está
definida por
=- Ð!ß " Ñ œ Ø3Ð#-  M.I Ñ ‰ !ß " Ù‘ .
346 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Deduzir daqui, utilizando a caracterização da derivada exterior na alínea b)


do exercício III.73, que se tem . =- œ !, obtendo assim uma nova prova do
facto de KÐIÑ ser uma variedade de Kähler. Sugestão: Utilizar a caracte-
rização matricial de X- ÐKÐIÑÑ para mostrar que, se !ß " ß # − X- ÐKÐIÑÑ,
então Ø! ‰ " ,# Ù‚ œ !.
Ex III.89 (lemas de Álgebra Linear) a) Seja I um espaço vectorial de dimen-
são 8 sobre o corpo Š, igual a ‘ ou ‚, e seja FÀ PÐIà ŠÑ Ä Š uma
aplicação linear. Mostrar que existe um, e um só, vector A − I tal que, para
cada - − PÐIà ŠÑ, FÐ-Ñ œ -ÐAÑ. Sugestão: Reparar que o espaço vectorial
“bidual” PÐPÐIà ŠÑà ŠÑ tem também dimensão 8 e verificar que é injectiva a
aplicação linear I Ä PÐPÐIà ŠÑà ŠÑ, que a cada A associa a aplicação
linear - È -ÐAÑ.
b) Nesta alínea e nas seguintes I vai ser um espaço vectorial real de dimen-
são 8 e lembramos que P‘ ÐIà ‚Ñ é então um espaço vectorial complexo, que
tem também dimensão 8 (uma vez que a sua dimensão real é #8). Para cada
- − P‘ ÐIà ‚Ñ, vamos notar - − P‘ ÐIà ‚Ñ a aplicação linear conjugada,
definida por -ÐAÑ œ -ÐAÑ e reparamos que é antilinear a aplicação
P‘ ÐIà ‚Ñ Ä P‘ ÐIà ‚Ñ, - È -. Para cada subespaço vectorial complexo
X § P‘ ÐIà ‚Ñ, notamos X § P‘ ÐIà ‚Ñ o subespaço vectorial complexo
constituído pelos -, com - − X .
Se FÀ P‘ ÐIà ‚Ñ Ä ‚ é uma aplicação linear complexa tal que, para cada
- − P‘ ÐIà ‚Ñ, FÐ-Ñ œ FÐ-Ñ, mostrar que existe um, e um só, A − I tal
que, para cada - − P‘ ÐIà ‚Ñ, FÐ-Ñ œ -ÐAÑ. Sugestão: Aplicar a conclusão
de a) à restrição de F a P‘ ÐIà ‘Ñ, que toma valores em ‘, e reparar que cada
- − P‘ ÐIà ‚Ñ se pode escrever na forma -"  3-# , com -" ß -# − P‘ ÐIà ‘Ñ.
c) Suponhamos que 8 œ #: e que N é uma estrutura complexa do espaço
vectorial real I . Sendo
PN  ÐIà ‚Ñ œ Ö- − P‘ ÐIà ‚Ñ ± a -ÐN ÐAÑÑ œ 3-ÐAÑ×,
A
PN  ÐIà ‚Ñ œ Ö- − P‘ ÐIà ‚Ñ ± a -ÐN ÐAÑÑ œ 3-ÐAÑ×
A

(os espaços das aplicações lineares complexas e das antilineares, respectiva-


mente), mostrar que se trata de subespaços vectoriais complexos de dimensão
:, que PN  ÐIà ‚Ñ œ PN  ÐIà ‚Ñ e que tem lugar a soma directa
P‘ ÐIà ‚Ñ œ PN  ÐIà ‚Ñ Š PN  ÐIà ‚Ñ,
as projecções correspondentes associando a cada - − P‘ ÐIà ‚Ñ os elementos
- − PN  ÐIà ‚Ñ e - − PN  ÐIà ‚Ñ definidos por
-ÐAÑ  3-ÐN ÐAÑÑ -ÐAÑ  3-ÐN ÐAÑÑ
- ÐAÑ œ , - ÐAÑ œ .
# #
d) Seja, reciprocamente, X § P‘ ÐIà ‚Ñ um subespaço vectorial complexo tal
que tenha lugar a soma directa P‘ ÐIà ‚Ñ œ X Š X . Mostrar que existe uma, e
Exercícios 347

uma só, estrutura complexa N de I tal que X œ PN  ÐIà ‚Ñ (e portanto tam-


bém X œ PN  ÐIà ‚Ñ). Mais precisamente, mostrar que, para cada A − I ,
N ÐAÑ é o único vector de I tal que, para cada - − P‘ ÐIà ‚Ñ,
-ÐN ÐAÑÑ œ 3Ð- ÐAÑ  - ÐAÑÑ,

onde - − X , - − X e - œ -  - . Sugestão: A existência e unicidade de


N ÐAÑ é uma consequência do que se viu em b), desde que se repare que, para
cada - − P‘ ÐIà ‚Ñ, tem-se - œ - e - œ - .
Reparar que as conclusões de c) e d) estabelecem uma correspondência biu-
nívoca entre estruturas complexas do espaço vectorial real I e subespaços
vectoriais complexos X § P‘ ÐIà ‚Ñ tais que P‘ ÐIà ‚Ñ œ X Š X .
e) Suponhamos que o espaço vectorial real I , de dimensão 8, está munido de
um produto interno e consideremos em P‘ ÐIà ‚Ñ o produto interno com-
plexo cuja parte real é o de Hilbert-Schmidt, isto é, o definido por

Ø-ß .Ù œ " -ÐA4 Ñ .ÐA4 Ñ,


8

4œ"

onde A" ß á ß A8 é uma base ortonormada arbitrária de I (cf. I.3.5).


Mostrar que, se N é uma estrutura complexa de I , a aplicação linear adjunta
N ‡ é também uma estrutura complexa e os subespaços vectoriais PN ‡  ÐIà ‚Ñ
e PN  ÐIà ‚Ñ de P‘ ÐIà ‚Ñ são mutuamente ortogonais, portanto cada um é o
complementar ortogonal do outro. Sugestão: Lembrar as fórmulas na alínea
c) de I.3.5.
f) Nas condições de e), mostrar que, se N é uma estrutura complexa de I ,
então N  N ‡ À I Ä I é um isomorfismo e a projecção ortogonal :ÐN Ñ de
P‘ ÐIà ‚Ñ sobre PN  ÐIà ‚Ñ está definida por
:ÐN ÑÐ-Ñ œ - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N  3 - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" .

Sugestão: Para a primeira afirmação, reparar que, se N ÐBÑ œ N ‡ ÐBÑ, então


ØBß BÙ œ ØN ÐN ÐBÑÑß BÙ œ ØN ÐBÑß N ÐBÑÙ;
Para a segunda, reparar que cada - − P‘ ÐIà ‚Ñ se pode escrever na forma
-w  -ww , com
-w œ - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N  3 - ‰ ÐN  N ‡ Ñ"
-ww œ - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N ‡  3 - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ,
tendo-se -w − PN  ÐIà ‚Ñ e -ww − PN ‡  ÐIà ‚Ñ.
g) Nas condições de e), mostrar que uma estrutura complexa N de I é
compatível com o produto interno se, e só se, os subespaços vectoriais
PN  ÐIà ‚Ñ e PN  ÐIà ‚Ñ de P‘ ÐIà ‚Ñ são mutuamente ortogonais (ou seja,
cada um é o complementar ortogonal do outro). Sugestão: Lembrar que N é
compatível com o produto interno se, e só se, N ‡ œ N (cf. I.2.31).
348 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

Ex III.90 (A variedade das estruturas complexas como variedade holomorfa)


Seja I um espaço vectorial real de dimensão 8 œ #: e consideremos o
conjunto Y w ÐIÑ § PÐIà IÑ das estruturas complexas N À I Ä I , que
sabemos ser uma variedade sem bordo com dimensão #:# e com cada espaço
vectorial tangente XN ÐY w ÐIÑÑ § PÐIà IÑ constituído pelas aplicações linea-
res ! − PÐIà IÑ tais que ! ‰ N œ N ‰ ! (cf. II.5.10).
a) Mostrar que, para cada N − Y w ÐIÑ, tem lugar uma estrutura complexa ]N
do espaço vectorial tangente XN ÐY w ÐIÑÑ definida por
]N Ð!Ñ œ N ‰ !,
pelo que a variedade Y w ÐIÑ fica assim munida de uma estrutura quase
complexa Ð]N ÑN −Y w ÐIÑ .
b) Fixemos um produto interno em I e consideremos o correspondente
produto interno complexo em P‘ ÐIà ‚Ñ (cf. a alínea e) do exercício III.89).
Seja : a aplicação suave de Y w ÐIÑ para a variedade de Grassmann
KÐP‘ ÐIà ‚ÑÑ que a cada N associa a projecção ortogonal de P‘ ÐIà ‚Ñ sobre
PN  ÐIà ‚Ñ, definida, como se viu na alínea f) do referido exercício, por
:ÐN ÑÐ-Ñ œ - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N  3 - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" .
Para cada ! − XN ÐY w ÐIÑÑ, obter as seguintes três caracterizações equivalen-
tes da derivada H:N Ð!Ñ − X:ÐN Ñ ÐKÐP‘ ÐIà ‚ÑÑÑ:
H:N Ð!ÑÐ-Ñ œ - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ Ð!  !‡ Ñ ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N 
œ  - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ !  3 - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ Ð!  !‡ Ñ ‰ ÐN  N ‡ Ñ"
H:N Ð!ÑÐ-Ñ œ - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ ! ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N ‡ 
œ  - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ !‡ ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N 
œ  3 - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ ! ‰ ÐN  N ‡ Ñ" 
œ  3 - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ !‡ ‰ ÐN  N ‡ Ñ"
H:N Ð!ÑÐ-Ñ œ Ð- ‰ N ‡  3 -Ñ ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ ! ‰ ÐN  N ‡ Ñ" 
œ  Ð- ‰ N  3 -Ñ ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ !‡ ‰ ÐN  N ‡ Ñ"
Sugestão: Reparar que ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N  ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N ‡ œ M.I . Reparar
também que se tem N ‰ ÐN  N ‡ Ñ œ ÐN  N ‡ Ñ ‰ N ‡ e N ‡ ‰ ÐN  N ‡ Ñ œ
ÐN  N ‡ Ñ ‰ N , assim como as igualdades que se obtêm destas compondo à
esquerda e à direita com ÐN  N ‡ Ñ" .
c) Utilizar a primeira caracterização da derivada na alínea precedente para
mostrar que a aplicação suave :À Y w ÐIÑ Ä KÐP‘ ÐIà ‚ÑÑ é uma imersão.
Sugestão: Supondo H:N Ð!Ñ œ !, reparar que, para cada - − PÐIà ‘Ñ,
! œ - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ Ð!  !‡ Ñ ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N  - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ !
! œ - ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ Ð!  !‡ Ñ ‰ ÐN  N ‡ Ñ"

e deduzir que
Exercícios 349

! œ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ Ð!  !‡ Ñ ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ N  ÐN  N ‡ Ñ" ‰ !


! œ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ Ð!  !‡ Ñ ‰ ÐN  N ‡ Ñ"
e portanto ! œ !.
d) Notar que, quando - − PN  ÐIà ‚Ñ, a terceira fórmula para H:N Ð!ÑÐ-Ñ na
alínea b) reduz-se a
H:N Ð!ÑÐ-Ñ œ (- ‰ N ‡  3 -Ñ ‰ ÐN  N ‡ Ñ" ‰ ! ‰ ÐN  N ‡ Ñ"
e deduzir daqui que, quando se considera na variedade de Grassmann
complexa a sua estrutura quase complexa referida em III.9.26 a imersão
:À Y w ÐIÑ Ä KÐP‘ ÐIà ‚ÑÑ é uma aplicação holomorfa. Sugestão: Lembrar a
caracterização matricial da estrutura quase complexa.
e) Deduzir da alínea precedente que Y w ÐIÑ é mesmo uma variedade holo-
morfa.
Ex III.91 (A variedade das estruturas complexas compatíveis) Seja I um
espaço vectorial real de dimensão 8 œ #: , munido de produto interno e
consideremos o conjunto Y ÐIÑ § PÐIà IÑ das estruturas complexas
compatíveis N À I Ä I , que sabemos ser uma variedade sem bordo com
dimensão :#  : e com cada espaço vectorial tangente XN ÐY ÐIÑÑ §
PÐIà IÑ constituído pelas aplicações lineares ! − PÐIà IÑ tais que !‡ œ
! e ! ‰ N œ N ‰ ! (cf. II.5.11).
a) Mostrar que Y ÐIÑ é uma subvariedade quase complexa de Y w ÐIÑ, e
portanto também uma variedade holomorfa, e que a sua estrutura quase
complexa é compatível com o produto interno de Hilbert-Schmidt de
PÐIà IÑ.
b) Mostrar que a forma de Kähler Ð=N ÑN −Y ÐIÑ está definida por
=N Ð!ß " Ñ œ ØN ‰ !ß " Ù,
deduzir daqui, utilizando a caracterização da derivada exterior na alínea b) do
exercício III.73, que se tem . =- œ ! e concluir que Y ÐIÑ é uma variedade
de Kähler. Sugestão: Reparar que, se !ß " ß # − XN ÐY ÐIÑÑ, então
Ø! ‰ " ß # Ù œ ! por ! ‰ " ser linear complexa e # ser antilinear, relativamente
a N.
Ex III.92 (A estrutura quase complexa associada do fibrado vectorial tan-
gente) Sejam I um espaço vectorial real de dimensão finita e Q § I uma
variedade sem bordo, munida de uma estrutura quase-complexa suave
N œ ÐNB ÑB−Q . Mostrar que se pode então definir, sobre o espaço total X ÐQ Ñ,
uma estrutura quase-complexa associada N˜ œ ÐN˜ ÐBß?Ñ ÑÐBß?Ñ−X ÐQ Ñ (cf. [28]) do
seguinte modo:
Qualquer que seja a aplicação suave N œ ÐN B ÑB−Q , Q Ä PÐIà IÑ tal que
cada NB À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ seja uma restrição de N B À I Ä I , tem-se, para
cada ÐBß ?Ñ − X ÐQ Ñ e Ð@ß DÑ − XÐBß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ,
350 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

N˜ ÐBß?Ñ Ð@ß DÑ œ ˆNB Ð@Ñß N B ÐDÑ  HN B Ð?ÑÐ@щ.

Sugestão: Para verificar que Ñ ÐBß?Ñ aplica XÐBß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ em XÐBß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ e


não depende do prolongamento N escolhido, considerar uma aplicação suave
:À X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ, definida por
:ÐBß @Ñ œ ÐBß NB Ð@ÑÑ œ ÐBß N B Ð@ÑÑ,
e derivá-la em ÐBß @Ñ na direcção de Ð?ß DÑ, utilizando duas vezes a proprie-
dade de simetria na alínea a) de III.3.23.
Ex III.93 Sejam I um espaço vectorial complexo, com estrutura complexa
N À I Ä I , e Y § I um aberto, sobre o qual se considera a estrutura
quase-complexa constante N . Mostrar que a estrutura quase-complexa asso-
ciada sobre X ÐY Ñ œ Y ‚ I é a estrutura quase-complexa constante N ‚ N .
Ex III.94 Seja Q § I uma variedade sem bordo, munida de uma estrutura
quase complexa suave ÐNB ÑB−Q , e consideremos no espaço total do fibrado
tangente X ÐQ Ñ a estrutura quase complexa associada. Seja Q w § Q uma
subvariedade quase complexa, sobre a qual se considera, naturalmente, a
estrutura quase complexa induzida. Mostrar que X ÐQ w Ñ é uma subvariedade
quase complexa de X ÐQ Ñ e que a estrutura quase complexa induzida em
X ÐQ w Ñ é a estrutura associada à estrutura quase complexa de Q w .
Ex III.95 Sejam Q § I e Q w § I w duas variedades sem bordo, munidas de
estruturas quase complexas suaves ÐNB ÑB−Q e ÐNCw ÑC−Q w e consideremos nos
espaços totais dos fibrados vectoriais tangentes X ÐQ Ñ e X ÐQ w Ñ as estruturas
quase complexas associadas. Mostrar que, se 0 À Q Ä Q w é uma aplicação
holomorfa, então a aplicação suave associada
X Ð0 ÑÀ X ÐQ Ñ Ä X ÐQ w Ñ, X Ð0 ÑÐBß ?Ñ œ Ð0 ÐBÑß H0BÐ?ÑÑ

é também holomorfa.
Sugestão: Considerar um prolongamento 0 de 0 a um aberto de I contendo
w w
Q e aplicações suaves N œ ÐN B ÑB−Q , de Q em PÐIà IÑ e N œ ÐN C ÑC−Q w ,
w
de Q w em PÐI w à I w Ñ, com N B prolongando NB e N C prolongando NCw . Para
provar a igualdade
w
HX Ð0 ÑÐBß?Ñ ÐN˜ ÐBß?Ñ Ð@ß DÑÑ œ N˜ Ð0 ÐBÑßH0BÐ?ÑÑ ÐHX Ð0 ÑÐBß?Ñ Ð@ß DÑÑ,

para ÐBß ?Ñ − X ÐQ Ñ e Ð@ß DÑ − XÐBß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ, lembrar que se tem também


Ð?ß DÑ − XÐBß@Ñ ÐX ÐQ ÑÑ e derivar em ÐBß @Ñ na direcção de Ð?ß DÑ ambos os
membros da identidade
w
N 0 ÐBÑ ÐH0 B Ð@ÑÑ œ N0w ÐBÑ ÐH0B Ð@ÑÑ œ H0B ÐNB Ð@ÑÑ œ H0 BÐN BÐ@ÑÑ.
Exercícios 351

Ex III.96 Seja Q § I uma variedade sem bordo, munida de uma estrutura


quase complexa suave ÐNB ÑB−Q , e consideremos no espaço total do fibrado
tangente X ÐQ Ñ a estrutura quase complexa associada. Mostrar que, se Q é
uma variedade holomorfa, então X ÐQ Ñ é também uma variedade holomorfa.
Ex III.97 Seja Q § I uma variedade sem bordo, munida de uma estrutura
quase complexa suave ÐNB ÑB−Q , e consideremos no espaço total do fibrado
tangente X ÐQ Ñ a estrutura quase complexa associada ÐN˜ ÐBß?Ñ ÑÐBß?Ñ−X ÐQ Ñ .
Consideremos tensor de torção RB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ (cf. III.9.28)
e a aplicação suave
:À X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ, :ÐBß ?Ñ œ ÐBß NB Ð?ÑÑ.

a) Mostrar que se tem, para cada ÐBß ?Ñ − X ÐQ Ñ e Ð@ß DÑ − XÐBß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ,

N˜ :ÐBß?Ñ ÐH:ÐBß?Ñ Ð@ß DÑÑ  H:ÐBß?Ñ ÐN˜ ÐBß?Ñ Ð@ß DÑÑ œ Ð!ß RBÐ?ß @ÑÑ.

Sugestão: Considerar uma aplicação suave N œ ÐN B ÑB−Q de Q em PÐIà IÑ


com N B prolongamento de NB , lembrar a caracterização do tensor de torção
em III.9.30 e considerar a fórmula que se obtém derivando ambos os mem-
bros da identidade NB ÐNB Ð@ÑÑ œ @ (ÐBß @Ñ − X ÐQ Ñ) na direcção de Ð?ß DÑ.
b) Deduzir que a aplicação : é holomorfa se, e só se, RB œ !, para cada
B − Q.
Ex III.98 Seja Q § I uma variedade sem bordo, munida de uma estrutura
quase complexa suave ÐNB ÑB−Q , e consideremos no espaço total do fibrado
tangente X ÐQ Ñ a estrutura quase complexa associada. Mostrar que:
a) A aplicação 1À X ÐQ Ñ Ä Q , definida por 1ÐBß @Ñ œ B, é uma aplicação
holomorfa.
b) Para cada B − Q , ÖB× ‚ XB ÐQ Ñ é uma subvariedade quase complexa de
X ÐQ Ñ e tem lugar um difeomorfismo holomorfo XB ÐQ Ñ Ä ÖB× ‚ XB ÐQ Ñ,
@ È ÐBß @Ñ, onde no domínio se considera a estrutura quase complexa cons-
tante NB e no espaço de chegada a estrutura quase complexa induzida pela de
X ÐQ Ñ.
Ex III.99 Seja Q § I uma variedade sem bordo, munida da uma estrutura
quase-complexa suave ÐNB ÑB−Q Þ Diz-se que um campo vectorial suave
\ œ Ð\B ÑB−Q é um campo vectorial holomorfo se for holomorfa a aplicação
suave Q Ä X ÐQ Ñ, B È ÐBß \B Ñ, quando se considera em X ÐQ Ñ a estrutura
quase-complexa associada ÐN˜ ÐBß?Ñ ÑÐBß?Ñ−X ÐQ Ñ . Mostrar que:
a) Se N œ ÐN B ÑB−Q é uma aplicação suave de Q em PÐIà IÑ com N B
prolongando NB , então o campo vectorial suave \ œ Ð\B ÑB−Q é holomorfo
se, e só se, para cada B − Q e ? − XB ÐQ Ñ,
H\B ÐNB Ð?ÑÑ œ N B ÐH\B Ð?ÑÑ  HN B Ð\B ÑÐ?Ñ
por outras palavras, se, e só se, a derivada de Lie _\ ÐN ÑÀ X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ é
identicamente nula (cf. o exercício III.74).
352 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano

b) Mostrar que, no caso em que I é um espaço vectorial complexo e Q § I


é uma subvariedade quase complexa, sobre a qual se considera, naturalmente,
a estrutura quase complexa induzida, então um campo vectorial suave
\ œ Ð\B ÑB−Q é holomorfo se, e só se, for uma aplicação holomorfa de Q
para I .
c) Mostrar que, se \ œ Ð\B ÑB−Q e ] œ Ð]B ÑB−Q são campos vectoriais
holomorfos e + − ‘, então \  ] œ Ð\B  ]B ÑB−Q e +\ œ Ð+\B ÑB−Q são
também campos vectoriais holomorfos.
d) No caso em que Q , com a sua estrutura quase complexa, é mesmo uma
variedade holomorfa, mostrar que, se \ œ Ð\B ÑB−Q é um campo vectorial
holomorfo, então N Ð\Ñ œ ÐNB Ð\B ÑÑB−Q é também um campo vectorial holo-
morfo.
e) No caso em que I está munido de um produto interno para o qual Q é
uma variedade de Kähler, mostrar que o campo vectorial suave
\ œ Ð\B ÑB−Q é holomorfo se, e só se, para cada B − Q e ? − XB ÐQ Ñ,
f\B ÐNB Ð?ÑÑ œ NB Ðf\B Ð?ÑÑ.

Ex III.100 Seja Q § I uma variedade sem bordo, munida da uma estrutura


quase-complexa suave ÐNB ÑB−Q Þ Mostrar que, se \ œ Ð\B ÑB−Q e
] œ Ð]B ÑB−Q são campos vectoriais holomorfos, então o parêntesis de Lie
Ò\ß ] Ó (cf. III.3.24) é também um campo vectorial holomorfo.
Sugestão: Considerar um aberto Y de I , contendo Q , aplicações suaves \
e ] de Y em I , prolongando \ e ] , respectivamente, e uma aplicação
suave N œ ÐN B ÑB−Y de Y em PÐIà IÑ tal que, para cada B − Q , N B seja um
prolongamento de NB . Derivar ambos os membros da identidade
H]B ÐNB Ð?ÑÑ œ N B ÐH]B Ð?ÑÑ  HN B Ð]B ÑÐ?Ñ
como funções de ÐBß ?Ñ − X ÐQ Ñ na direcção de Ð\B ß H\B Ð?ÑÑ −
XÐBß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ (reparar que Ð?ß H\B Ð?ÑÑ − XÐBß\B Ñ ÐX ÐQ ÑÑ).
Solução do exercício III.2 — No caso 8 œ ", podemos considerar o campo de
referenciais ortonormado constituído pela secção \ definida por
\ÐBß CÑ œ ÐCß BÑ.
No caso 8 œ $, podemos considerar o campo de referenciais ortonormado
\ß ] ß ^, definido por
\ÐBßCßDßAÑ œ ÐCß Bß Aß DÑ
]ÐBßCßDßAÑ œ ÐDß Aß Bß CÑ
^ÐBßCßDßAÑ œ ÐAß Dß Cß BÑ.

No caso 8 œ (, podemos considerar o campo de referenciais ortonormado


\" ß \# ß á ß \( , definido por
Exercícios 353

\" ÐB" ß B# ß B$ ß B% ß B& ß B' ß B( ß B) Ñ œ ÐB# ß B" ß B& ß B' ß B$ ß B% ß B) ß B(Ñ
\# ÐB" ß B# ß B$ ß B% ß B& ß B' ß B( ß B) Ñ œ ÐB$ ß B& ß B" ß B) ß B# ß B(ß B'ß B%Ñ
\$ ÐB" ß B# ß B$ ß B% ß B& ß B' ß B( ß B) Ñ œ ÐB% ß B' ß B) ß B" ß B( ß B# ß B& ß B$ Ñ
\% ÐB" ß B# ß B$ ß B% ß B& ß B' ß B( ß B) Ñ œ ÐB& ß B$ ß B# ß B( ß B" ß B) ß B% ß B'Ñ
\& ÐB" ß B# ß B$ ß B% ß B& ß B' ß B( ß B) Ñ œ ÐB' ß B% ß B( ß B# ß B) ß B" ß B$ ß B& Ñ
\' ÐB" ß B# ß B$ ß B% ß B& ß B' ß B( ß B) Ñ œ ÐB( ß B) ß B' ß B& ß B% ß B$ ß B"ß B#Ñ
\( ÐB" ß B# ß B$ ß B% ß B& ß B' ß B( ß B) Ñ œ ÐB) ß B( ß B% ß B$ ß B' ß B& ß B# ß B" Ñ.
Estas soluções, embora possam ser encontradas experimentalmente, têm a
sua origem na existência de estruturas algébricas excepcionais em ‘#
(álgebra dos complexos), ‘% (álgebra dos quaterniões) e ‘) (álgebra não
associativa dos números de Cayley).
CAPÍTULO IV
Equações Diferenciais Ordinárias
em Variedades

§1. Solução geral e fluxo de um campo vectorial.

IV.1.1 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I um subconjunto


e \À E Ä I uma aplicação. Dado um intervalo N de ‘, diz-se que uma
aplicação 0 À N Ä E é uma curva integral de \ se, para cada > − N , 0 é
diferenciável em > e 0 w Ð>Ñ œ \ Ð0 Ð>ÑÑ œ \0 Ð>Ñ . Para cada > − N , diz-se então
que Ð>ß 0 Ð>ÑÑ é uma condição inicial da curva integral. É cómodo, pelo menos
de momento, não exigir que o intervalo N seja aberto. No caso em que N não
tem mais do que um ponto, a derivada 0 w Ð>Ñ não está definida, mas
consideramos, por convenção, que toda a aplicação de N em E é uma curva
integral.
IV.1.2 (Notas) a) Nos casos interessantes, a aplicação \ será um campo
vectorial, isto é, ter-se-á \B − XB ÐEÑ, para cada B − E, mas não ganhamos
nada de momento em fazer essa hipótese suplementar. Repare-se, no entanto,
que, se N é um intervalo aberto e se 0 À N Ä E é uma curva integral de classe
G " , então, para cada > − N , \0 Ð>Ñ œ 0 w Ð>Ñ œ H0> Ð"Ñ e \0 Ð>Ñ œ H0> Ð"Ñ
estão em >0 Ð>Ñ ÐEÑ, em particular também em X0 Ð>Ñ ÐEÑ, o que explica a razão
da nossa primeira afirmação.
b) Tal como referimos em I.5.15, no caso em que o intervalo N não é aberto,
embora tenha interior não vazio, a diferenciabilidade de 0 numa extremidade
- de N não entra formalmente na teoria que resumimos no capítulo 1
(relativamente aos restantes pontos de N já não há problema porque podemos
sempre pensar na restrição de 0 ao interior de N ). A diferenciabilidade de 0
numa extremidade - é definida então a partir da existência do limite lateral
0 Ð>Ñ  0 Ð-Ñ
lim ,
>Ä- >-
limite que se nota ainda 0 Ð-Ñ. A fim de aplicarmos comodamente as proprie-
w

dades que estudámos, é cómodo reparar que, se 0 À N Ä I é diferenciável em


todos os pontos, então podemos prolongar 0 a um intervalo aberto contendo
N , de modo a obter ainda uma aplicação diferenciável em todos os pontos,
aplicação que é mesmo de classe G " no caso em que a aplicação 0 w À N Ä I é
contínua. Esse prolongamento pode ser obtido trivialmente do seguinte
modo:
b1) No caso em que N é do tipo Ò+ß ,Ò, obtemos um prolongamento ao
356 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

intervalo Ó_ß ,Ò, aplicando cada >  + em Ð>  +Ñ0 w Ð+Ñ,


b2) No caso em que N é do tipo Ó+ß ,Ó, obtemos um prolongamento ao
intervalo Ó+ß _Ò, aplicando cada >  , em Ð>  ,Ñ0 w Ð,Ñ;
b3) No caso em que N é do tipo Ò+ß ,Ó, obtemos um prolongamento a ‘,
aplicando cada >  + em Ð>  +Ñ0 w Ð+Ñ e >  , em Ð>  ,Ñ0 w Ð,Ñ.

À curva integral 0 À N Ä E também se costuma dar o nome de solução da


equação diferencial definida por \ , equação diferencial que é indepen-
dente do tempo, por oposição às equações diferenciais do tipo 0 w Ð>Ñ œ
s 0 Ð>ÑÑ, onde \
\Ð>ß s é uma aplicação definida numa parte de ‘ ‚ I . Estas
últimas equações serão estudadas mais adiante. Intuitivamente, é frequen-
te olhar para a variável > como sendo uma variável temporal e para a
aplicação 0 como descrevendo um movimento; por exemplo é comum
referirmo-nos a 0 Ð>Ñ como o valor de 0 “no instante” >.

IV.1.3 (Lema) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um


subconjunto e \À E Ä J uma aplicação de classe G " . Para cada D − E, exis-
tem então <ß V  ! tais que, quaisquer que sejam Bß C − E, com mB  Dm Ÿ <
e mC  Dm Ÿ <, se tenha m\ÐCÑ  \ÐBÑm Ÿ VmC  Bm (o que se pode
traduzir pela afirmação que \ é localmente lipschitziana).
Dem: Tendo em conta a definição de aplicação de classe G " , podemos já
supor que E é um conjunto aberto e, nesse caso, a afirmação do enunciado
resulta da fórmula da média (cf. I.5.18), tendo em conta o facto de a aplica-
ção H0 À E Ä PÐIà J Ñ, sendo contínua, ser localmente limitada. …
IV.1.4 (Lema de Gronwall) Sejam +  , dois números reais e 0 À Ò+ß ,Ó Ä ‘
uma aplicação contínua tal que, para um certo par de constantes 5ß <   !, se
tenha, para todo o > − Ò+ß ,Ó,

0 Ð>Ñ Ÿ 5  <( 0 Ð=Ñ .=.


>

Tem-se então, para cada > − Ò+ß ,Ó,


0 Ð>Ñ Ÿ 5 /<Ð>+Ñ .

Dem: Seja 1À Ò+ß ,Ó Ä ‘ a aplicação de classe G " definida por

1Ð>Ñ œ 5  <( 0 Ð=Ñ .=,


>

e reparemos que 1w Ð>Ñ œ <0 Ð>Ñ assim como, por hipótese, 0 Ð>Ñ Ÿ 1Ð>Ñ. Seja
2À Ò+ß ,Ó Ä ‘ a aplicação de classe G " definida por
2Ð>Ñ œ 1Ð>Ñ /<Ð>+Ñ .
Vem 2Ð+Ñ œ 5 e
§1. Solução geral e fluxo de um campo vectorial 357

2w Ð>Ñ œ 1w Ð>Ñ /<Ð>+Ñ  < 1Ð>Ñ /<Ð>+Ñ œ /<Ð>+Ñ Ð< 0 Ð>Ñ  < 1Ð>ÑÑ Ÿ !,
pelo que 2Ð>Ñ Ÿ 2Ð+Ñ œ 5 e portanto
0 Ð>Ñ Ÿ 1Ð>Ñ œ 2Ð>Ñ /<Ð>+Ñ Ÿ 5 /<Ð>+Ñ . …

IV.1.5 (Lema de unicidade) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita,


E § I e \À E Ä I uma aplicação de classe G " . Sejam 0 ß 1À Ò!ß "Ó Ä E
duas curvas integrais de \ , com a mesma condição inicial Ð!ß BÑ. Tem-se
então 0 œ 1.
Dem: Seja X o conjunto dos > − Ò!ß "Ó tais que 0 e 1 coincidem no intervalo
Ò!ß >Ó. X é não vazio por conter ! e podemos portanto considerar o supremo +
de X . A continuidade de 0 e 1 implica então que se tem ainda 0 Ð+Ñ œ 1Ð+Ñ,
de onde se deduz imediatamente que + − X . O resultado ficará demonstrado
se virmos que + œ ". Suponhamos, por absurdo, que se tinha +  ". Seja
s œ 0 Ð+Ñ œ 1Ð+Ñ. Sejam <ß V  ! tais que, para Cß D − F< ÐBÑ
B s  E, se tenha
m\ÐCÑ  \ÐDÑm Ÿ VmC  Dm. A continuidade de 0 e 1 implica a existência
de , , com +  ,  ", tal que, para cada > − Ò+ß ,Ó, m0 Ð>Ñ  Bm s < e
m1Ð>Ñ  Bms  <. Reparando que as igualdades 0 w Ð>Ñ œ \0 Ð>Ñ e 1w Ð>Ñ œ \1Ð>Ñ
implicam a continuidade de 0 w e de 1w , podemos escrever, para cada
> − Ò+ß ,Ó,

m0 Ð>Ñ  1Ð>Ñm œ ¼( 0 w Ð=Ñ  1w Ð=Ñ .=¼ œ


>

œ ¼( \0 Ð=Ñ  \1Ð=Ñ .=¼ Ÿ


>

Ÿ ( m\0 Ð=Ñ  \1Ð=Ñ m .= Ÿ


>

Ÿ V ( m0 Ð=Ñ  1Ð=Ñm .=,


>

donde, pelo lema de Gronwall, com 5 œ !, m0 Ð>Ñ  1Ð>Ñm œ !, ou seja,


0 Ð>Ñ œ 1Ð>Ñ, para cada > − Ò+ß ,Ó. Concluímos daqui que , − X , o que é uma
contradição por + ser o supremo de X . …
IV.1.6 (Unicidade) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I e
\À E Ä I uma aplicação de classe G " . Sejam 0 À N Ä E e 1À N s Ä E duas
curvas integrais de \ com uma mesma condição inicial Ð+ß BÑ. Tem-se então
0 Ð>Ñ œ 1Ð>Ñ, para cada > − N  Ns.
Dem: Seja > − N  s N arbitrário. Para cada = − Ò!ß "Ó, tem-se ainda
s
Ð"  =Ñ+  => − N  N

pelo que podemos definir aplicações s0 ß s1À Ò!ß "Ó Ä E, por


358 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

s0 Ð=Ñ œ 0 ÐÐ"  =Ñ+  =>)ß


s1Ð=Ñ œ 1ÐÐ"  =Ñ+  =>Ñ,

as quais verificam s0 Ð!Ñ œ 0 Ð+Ñ œ B œ 1Ð+Ñ œ s1Ð!Ñ e, para cada =,


s0 w Ð=Ñ œ Ð>  +Ñ0 w ÐÐ"  =Ñ+  =>Ñ œ Ð>  +Ñ\s ,
0 Ð=Ñ
s1w Ð=Ñ œ Ð>  +Ñ1w ÐÐ"  =Ñ+  =>Ñ œ Ð>  +Ñ\s1Ð=Ñ ,

pelo que s0 e s1 são duas curvas integrais da aplicação de classe G "


s E Ä I definida por \
\À s C œ Ð>  +Ñ\C , com a mesma condição inicial
Ð!ß BÑ. Pelo lema anterior, podemos concluir que s0 œ s1, em particular

0 Ð>Ñ œ s0 Ð"Ñ œ s1Ð"Ñ œ 1Ð>Ñ. …

IV.1.7 (Existência de curva integral máxima) Sejam I um espaço vectorial de


dimensão finita, E § I e \À E Ä I uma aplicação de classe G " . Para cada
+ − ‘ e B − E, existe então uma, e uma só, curva integral 0 À N Ä E de \ ,
com a condição inicial Ð+ß BÑ, tal que qualquer outra curva integral de \ com
a mesma condição inicial seja uma restrição de 0 . Diz-se então que
0 À N Ä E é a curva integral máxima de \ para a condição inicial Ð+ß BÑ.
Dem: A unicidade é clara. Para provarmos a existência, consideremos a
família de todas as curvas integrais 03 À N3 Ä E de \ com a condição inicial
Ð+ß BÑ, família que é não vazia por conter pelo menos a aplicação de domínio
Ö+×, que toma em + o valor B. Seja N a união de todos os N3 , que é um
intervalo contendo + (é conexo…). Seja 0 À N Ä E a aplicação definida pela
condição de se ter 0 Ð>Ñ œ 03 Ð>Ñ, para cada 3 tal que > − N3 , aplicação que está
bem definida, tendo em conta o resultado anterior. Por construção, toda a
curva integral de \ com a condição inicial Ð+ß BÑ é uma restrição de 0 , pelo
que tudo o que resta verificar é que 0 é efectivamente uma curva integral.
Essa verificação resume-se a uma discussão, talvez um pouco longa, mas de
qualquer modo trivial, que, para poupar espaço, deixamos para o leitor (os
pontos essenciais são o facto de a diferenciabilidade ser uma noção local e o
facto de a existência de derivada num ponto interior ao domínio ser equiva-
lente à existência e igualdade das duas derivadas laterais). …

Repare-se que a existência a que se refere o resultado anterior é uma


existência um pouco fraca, na medida em que nada garante que a curva
integral máxima não se limite a ter o domínio trivial Ö+×. Normalmente
costuma-se dar o nome de teorema de existência de solução ao resultado
que garante que o domínio da solução máxima é uma vizinhança de +,
mas esse resultado só será válido com hipóteses suplementares, que
estudaremos adiante.
§1. Solução geral e fluxo de um campo vectorial 359

IV.1.8 Nas condições anteriores, notaremos, em geral, para cada > − ‘ e B − E,


0>ßB À N>ßB Ä E

a curva integral máxima de \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Notaremos H o


subconjunto de ‘ ‚ ‘ ‚ E, formado pelos Ð=ß >ß BÑ tais que = − N>ßB e
=À H Ä E a aplicação definida por
=Ð=ß >ß BÑ œ 0>ßB Ð=Ñ,

aplicação a que daremos o nome de solução geral94 de \ , uma vez que ela
contém informação sobre todas as curvas integrais de \ .

Usando a linguagem corrente, =Ð=ß >ß BÑ vai ser o local onde estaremos no
instante =, se no instante > estivermos em B. Um dos objectivos
fundamentais deste capítulo é o de estabelecer algumas propriedades
básicas de =; veremos, por exemplo, que = é uma aplicação de classe G "
e que, no caso em que a aplicação \ À E Ä I é de classe G 5 , com 5   ",
o mesmo vai acontecer á aplicação =.

IV.1.9 Sejam E § I e \À E Ä I uma aplicação de classe G " . Sejam + − ‘,


B − E e 0+ßB À N+ßB Ä E a curva integral máxima de \ , com a condição inicial
Ð+ß BÑ. Para cada > − N+ßB , tem-se então que 0+ßB À N+ßB Ä E é também a curva
integral máxima de \ , para a condição inicial Ð>ß 0+ßB Ð>ÑÑ. Por outras
palavras, sendo =À H Ä E a solução geral de \ , para cada Ð>ß +ß BÑ − H e
= − ‘, tem-se Ð=ß +ß BÑ − H se, e só se, Ð=ß >ß =Ð>ß +ß BÑÑ − H e, nesse caso,
=Ð=ß +ß BÑ œ =Ð=ß >ß =Ð>ß +ß BÑÑ.

Dem: Uma vez que 0+ßB À N+ßB Ä E é uma curva integral admitindo a
condição inicial Ð>ß 0+ßB Ð>ÑÑ, concluímos que, sendo 0 À N Ä E a curva
integral máxima com esta última condição inicial, tem-se N+ßB § N e 0+ßB é
uma restrição de 0 . Em particular, vem 0 Ð+Ñ œ 0+ßB Ð+Ñ œ B, pelo que 0
admite a condição inicial Ð+ß BÑ, o que implica que N § N+ßB , donde
N œ N+ßB . …
IV.1.10 (Invariância por translação) Sejam E § I e \À E Ä I uma
aplicação de classe G " . Para cada +ß > − ‘ e B − E, tem-se então
N+>ßB œ +  N>ßB e, para cada ? − N+>ßB , 0+>ßB Ð?Ñ œ 0>ßB Ð?  +Ñ. Por outras
palavras, fazendo ? œ +  =, podemos dizer que Ð+  =ß +  >ß BÑ − H se, e
só se, Ð=ß >ß BÑ − H e que, nesse caso,
=Ð+  =ß +  >ß BÑ œ =Ð=ß >ß BÑ.

94Se quiséssemos ser mais precisos, diríamos que = é a solução geral do problema de
valores iniciais para a equação diferencial definida por \ , mas trata-se manifestamente de
uma frase demasiado longa.
360 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

Dem: Seja 0 À +  N>ßB Ä E a aplicação definida por 0 Ð?Ñ œ 0>ßB Ð?  +Ñ.


Tem-se então 0 Ð+  >Ñ œ 0>ßB Ð>Ñ œ B e
0 w Ð?Ñ œ 0>ßB
w
Ð?  +Ñ œ \Ð0>ßB Ð?  +ÑÑ œ \Ð0 Ð?ÑÑ,

o que mostra que 0 é uma curva integral de \ com a condição inicial


Ð+  >ß BÑ. Resulta daqui que +  N>ßB § N+>ßB e que, se ? − +  N>ßB ,
0+>ßB Ð?Ñ œ 0>ßB Ð?  +Ñ. Aplicando a conclusão a que se acaba de chegar,
com + no lugar de + e +  > no lugar de >, vemos agora que
+  N+>ßB § N>ßB , donde N+>ßB § +  N>ßB . Concluímos portanto que
N+>ßB œ +  N>ßB . …
IV.1.11 (Corolário) Nas condições anteriores, para cada > − ‘ e B − E, tem-se
N>ßB œ >  N!ßB e, para cada ? − N>ßB , 0>ßB Ð?Ñ œ 0!ßB Ð?  >Ñ. Por outras pala-
vras, Ð=ß >ß BÑ − H se, e só se, Ð=  >ß !ß BÑ − H e, nesse caso,
=Ð=ß >ß BÑ œ =Ð=  >ß !ß BÑ.

Os dois resultados anteriores são característicos das equações diferenciais


independentes do tempo, ao contrário dos que os precederam, que podem
ser generalizados às equações diferenciais dependentes do tempo. Eles
permitem-nos concluir que a solução geral duma equação diferencial
independente do tempo pode ser resumida numa função com menos uma
variável, o fluxo, que definimos em seguida.

IV.1.12 Sejam E § I e \À E Ä I uma aplicação de classe G " , e seja


=À H Ä E a respectiva solução geral. Sejam H s a parte de ‘ ‚ E constituída
pelos pares Ð=ß BÑ tais que Ð=ß !ß BÑ − H, e = s
sÀ H Ä E a aplicação definida por
sÐ=ß BÑ œ =Ð=ß !ß BÑ. Diremos então que =
= s Ä E é o fluxo de \ (em
sÀ H
inglês, flow e, em francês, coulée).

§2. Continuidade da solução geral.

IV.2.1 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, o segundo dos quais


será olhado como um espaço de parâmetros. Seja E uma parte de J ‚ I e
seja \ À E Ä I uma aplicação de classe G " . Para cada valor C − J do parâ-
metro, podemos considerar o subconjunto EÐCÑ , eventualmente vazio, de I ,
constituído pelos pontos B tais que ÐCß BÑ − E, e a aplicação de classe G "
\ÐCÑ À EÐCÑ Ä I , definida por \ÐCÑ ÐBÑ œ \ÐCÑ B œ \ ÐCß BÑ. Sendo, para cada
C − J , =ÐCÑ À HÐCÑ Ä EÐCÑ a solução geral de \ÐCÑ , podemos notar
H § J ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I o conjunto dos ÐCß =ß >ß BÑ tais que Ð=ß >ß BÑ − HÐCÑ , e
=À H Ä I a aplicação definida por
§2. Continuidade da solução geral 361

=ÐCß =ß >ß BÑ œ =ÐCÑ Ð=ß >ß BÑ.

Diz-se então que =À H Ä I é a solução geral paramétrica de \ . Analoga-


mente se define o fluxo paramétrico = sÀ Hs Ä I de \ , onde H s§J ‚‘‚I
é o conjunto dos ÐCß >ß BÑ tais que ÐCß >ß !ß BÑ − H e =
sÐCß >ß BÑ œ =ÐCß >ß !ß BÑ.

Usando mais uma vez uma linguagem corrente, =ÐCß =ß >ß BÑ vai ser o local
onde estaremos no instante =, se fixarmos o valor C do parâmetro e se
estivermos em B no instante >.

IV.2.2 Repare-se que existe uma maneira trivial de aplicar ao caso não para-
métrico os resultados sobre soluções gerais, que vamos demonstrar no caso
paramétrico. Com efeito, se E § I e se \À E Ä I é uma aplicação de
classe G " , com a respectiva solução geral =À H Ä E, podemos tomar
qualquer espaço vectorial J de dimensão finita (por exemplo J œ Ö!×…) e
considerá-lo artificialmente como espaço de parâmetros, definindo a aplica-
s J ‚ E Ä I , \ÐCß
ção de classe G " , \À s BÑ œ \ÐBÑ. Nota-se então que a res-
pectiva solução geral paramétrica =s está trivialmente definida em J ‚ H por
sÐCß =ß >ß BÑ œ =Ð=ß >ß BÑ. Observação análoga se pode evidentemente fazer
=
sobre a aplicação ao caso não paramétrico de resultados sobre os fluxos para-
métricos.
IV.2.3 (Lema) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I e
\À E Ä J uma aplicação de classe G " . Para cada parte compacta O § E,
existem então <ß V  ! tais que, para D − O e Bß C − E, com mB  Dm Ÿ < e
mC  Dm Ÿ <, se tenha m\ÐCÑ  \ÐBÑm Ÿ VmC  Bm.95
Dem: Suponhamos que este resultado era falso. Podíamos então escolher
sucessões de números reais estritamente positivos <8 e V8 , com <8 Ä ! e
V8 Ä _ (por exemplo <8 œ 8" e V8 œ 8…) e escolher então, para cada 8,
elementos D8 − O e B8 ß C8 − E, com mB8  D8 m Ÿ <8 , mC8  D8 m Ÿ <8 e
m\ÐC8 Ñ  \ÐB8 Ñm  V8 mC8  B8 m.
Pela compacidade de O , podemos supor, eventualmente tomando subsuces-
sões, que existe D − O tal que D8 Ä D . Sejam <ß V  ! tais que, quaisquer
que sejam Bß C − F< ÐDÑ  E, se tenha m\ÐCÑ  \ÐBÑm Ÿ VmC  Bm (cf.
IV.1.3). Fixemos 8! tal que, para cada 8   8! , mD8  Dm  <Î#, <8  <Î# e
V8  V . Para cada 8   8! , tem-se então que B8 e C8 estão em F< ÐDÑ  E,
portanto
m\ÐC8 Ñ  \ÐB8 Ñm Ÿ VmC8  B8 m Ÿ V8 mC8  B8 m,
o que é absurdo. …

95Este lema não é mais do que uma versão uniforme de IV.1.3.


362 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

IV.2.4 (Lema) Sejam E § J ‚ I e \À E Ä I uma aplicação de classe G " .


Sejam C − J e 0 À Ò!ß "Ó Ä I uma curva integral de \ÐCÑ À EÐCÑ Ä I , com a
condição inicial Ð!ß !Ñ. Para cada $  !, existe então &  ! tal que, para cada
C˜ − J , com mC˜  Cm Ÿ &, e cada curva integral 1À Ò!ß "Ó Ä I de \ÐCÑ ˜ , com a
condição inicial Ð!ß !Ñ, se tenha m1Ð"Ñ  0 Ð"Ñm Ÿ $ .
Dem: ÖC× ‚ 0 ÐÒ!ß "ÓÑ é uma parte compacta de E, pelo que o lema anterior
permite-nos fixar <ß V  0 tais que, para cada > − Ò!ß "Ó e ÐC w ß Bw Ñ e ÐC ww ß Bww Ñ
em E, verificando as condições
mÐC w ß Bw Ñ  ÐCß 0 Ð>Ñm Ÿ <,
mÐC ww ß Bww Ñ  ÐCß 0 Ð>Ñm Ÿ <,

se tenha
m\ÐÐC w ß Bw ÑÑ  \ÐÐC ww ß Bww ÑÑm Ÿ VmÐC w ß Bw Ñ  ÐC ww ß Bww Ñm
(tomamos, para fixar ideias, a norma do máximo em J ‚ I ). Seja dado
$  !. Fixemos $ w  !, com $ w  minÐ$ ß <Ñ. Seja & œ $ w /V . Seja C˜ − J tal
que mC˜  Cm Ÿ & e que exista uma curva integral 1À Ò!ß "Ó Ä I de \ÐCÑ ˜ , com
a condição inicial Ð!ß !Ñ.
Seja X o conjunto dos > − Ò!ß "Ó tais que, para cada = − Ò!ß >Ó, se tenha
m1Ð=Ñ  0 Ð=Ñm Ÿ $ w . Tem-se ! − X , pelo que podemos considerar o supremo
+ de X , e a continuidade de 0 e de 1 implica que se tem ainda
m1Ð+Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ $ w  $ , pelo que tudo o que temos que provar é que + œ ".
Suponhamos que se tinha +  " e tentemos chegar a uma contradição.
O facto de se ter m1Ð+Ñ  0 Ð+Ñm  < implica, pela continuidade de 0 e de 1,
que existe , − Ò!ß "Ó, com +  ,  ", tal que, para cada = − Ò+ß ,Ó,
m1Ð=Ñ  0 Ð=Ñm  <, esta desigualdade sendo também trivialmente verificada
para = − Ò!ß +Ó. Para cada = − Ò!ß ,Ó, temos agora, uma vez que
mC˜  Cm Ÿ & Ÿ $ w  <,
˜ 1Ð=ÑÑ  ÐCß 0 Ð=ÑÑm,
˜ 1Ð=ÑÑ  \ÐCß 0 Ð=ÑÑm Ÿ VmÐCß
m\ÐCß
donde

m1Ð=Ñ  0 Ð=Ñm œ ¼( \ÐCß


˜ 1Ð?ÑÑ  \ÐCß 0 Ð?ÑÑ .?¼ Ÿ
=

Ÿ V ( mÐCß
=
˜ 1Ð?ÑÑ  ÐCß 0 Ð?ÑÑm .?,
!

portanto

˜ 1Ð=ÑÑ  ÐCß 0 Ð=ÑÑm Ÿ &  V ( mÐCß


=
mÐCß ˜ 1Ð?ÑÑ  ÐCß 0 Ð?ÑÑm .?,
!

o que, pelo lema de Gronwall, implica que


˜ 1Ð=ÑÑ  ÐCß 0 Ð=ÑÑm Ÿ & / V= Ÿ $ w ,
m1Ð=Ñ  0 Ð=Ñm Ÿ mÐCß
§2. Continuidade da solução geral 363

ou seja, , − X . Chegámos portanto a uma contradição, por + ser o supremo


de X . …
IV.2.5 (Continuidade da solução geral) Sejam I e J espaços vectoriais de
dimensão finita, E § J ‚ I e \À E Ä I uma aplicação de classe G " . Seja
=À H Ä I a solução geral paramétrica de \ , onde H § J ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I .
Tem-se então que = é uma aplicação contínua.
Dem: Para cada ÐCß BÑ − E e > − ‘, seja 0Cß>ßB À NCß>ßB Ä I a curva integral
máxima de \ÐCÑ À EÐCÑ Ä I , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Se ÐCß =ß >ß BÑ − H,
vem ÐCß BÑ − E e = − NCß>ßB e podemos considerar uma aplicação
s0 Cß=ß>ßB À Ò!ß "Ó Ä I , definida por

s0 Cß=ß>ßB Ð?Ñ œ 0Cß>ßB ÐÐ"  ?Ñ>  ?=Ñ  B.

Vem s0 Cß=ß>ßB Ð!Ñ œ ! e

s0 wCß=ß>ßB Ð?Ñ œ Ð=  >Ñ0Cß>ßB


w
ÐÐ"  ?Ñ>  ?=Ñ œ
œ Ð=  >Ñ\ÐCß 0Cß>ßB ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ÑÑ œ
œ Ð=  >Ñ\ÐCß B  s0 Cß=ß>ßB Ð?ÑÑ.

Consideremos um novo espaço de parâmetros, J ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I , e sejam


s § ÐJ ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ IÑ ‚ I ,
E
s œ ÖÐÐCß =ß >ß BÑß DÑ ± ÐCß B  DÑ − E×,
E
s E
e \À s Ä I a aplicação de classe G " definida por

s
\ÐÐCß =ß >ß BÑß DÑ œ Ð=  >Ñ\ÐCß B  DÑ.
w
Tem-se s0 Cß=ß>ßB Ð?Ñ œ \ÐÐCßs =ß >ß BÑß s0 Cß=ß>ßB Ð?ÑÑ, pelo que temos uma curva
integral s0 Cß=ß>ßB À Ò!ß "Ó Ä I de \ s , com a condição inicial Ð!ß !Ñ. Podemos
passar agora à prova da continuidade de =. Sejam ÐCß =ß >ß BÑ − H e $  !.
Aplicando o lema anterior, com J ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I como espaço de
parâmetros, vemos que existe &  ! tal que, para cada elemento
˜ =ß
ÐCß ˜ BÑ
˜ >ß ˜ − H, com mÐCß ˜ =ß ˜ BÑ
˜ >ß ˜  ÐCß =ß >ß BÑm Ÿ &, se tenha

s Cß=ß>ßB s $
m0 ˜ ˜ ˜ ˜ Ð"Ñ  0 Cß=ß>ßB Ð"Ñm Ÿ ,
#
de onde podemos deduzir, supondo já que & foi escolhido de modo a ser
&  $ Î#,
˜ =ß
m=ÐCß ˜ BÑ
˜ >ß ˜  =ÐCß =ß >ß BÑm œ m0Cß>ßB ˜  0Cß=ß>Ð=Ñm œ
˜ ˜ ˜ Ð=Ñ
s s
˜ ˜ ˜ ˜ Ð"Ñ  0 Cß=ß>ßB Ð"Ñ  B˜  Bm Ÿ
œ m0 Cß=ß>ßB
364 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

$
lala Ÿ  & Ÿ $,
#
o que demonstra a continuidade. …

§3. Propriedades da solução geral quando o domínio é aberto.

IV.3.1 Recordemos que, se I é um espaço vectorial de dimensão finita, sobre o


qual consideramos qualquer das suas normas, então I é completo, e
portanto, para cada intervalo fechado e limitado M œ Ò+ß ,Ó de ‘, o espaço
vectorial de dimensão infinita GÐMß IÑ, cujos elementos são as aplicações
contínuas 0 À M Ä I , é um espaço de Banach, com a norma m0 m œ max
>−M
m0 Ð>Ñm.
IV.3.2 (Lema) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, o segundo
dos quais será olhado como espaço de parâmetros. Sejam J! § J uma parte
arbitrária, E um conjunto aberto em J! ‚ I e \À E Ä I uma aplicação de
classe G " . Seja O § E um conjunto compacto não vazio. Existe então um
número real -  !, tal que, qualquer que seja ÐCß BÑ − J! ‚ I , com
.ÐÐCß BÑß OÑ Ÿ - , se tenha ÐCß BÑ − E e exista uma curva integral
0 À Ò!ß -Ó Ä I de \ÐCÑ À EÐCÑ Ä I , com a condição inicial Ð!ß BÑ.
Dem: Pelo lema IV.2.3, podemos fixar <ß V  ! tais que, sempre que
ÐC! ß B! Ñ − O , e ÐCß BÑß ÐCß ˜ − E verificam mÐCß BÑ  ÐC! ß B! Ñm Ÿ < e
˜ BÑ
mÐCß ˜  ÐC! ß B! Ñm Ÿ <, se tenha
˜ BÑ
˜ BÑm
m\ÐCß BÑ  \ÐCß ˜ Ÿ VmÐCß BÑ  ÐCß ˜ ,
˜ BÑm
onde, para fixar ideias, se considera em J ‚ I a norma do máximo.
Fixemos R  R! œ max m\ÐCß BÑm. A continuidade uniforme (no sentido
ÐCßBÑ−O
forte) de \ no conjunto compacto O permite-nos deduzir que, se necessário
tomando para < um valor mais pequeno, tem-se, para cada ÐC! ß B! Ñ − O e
ÐCß BÑ − E, com mÐCß BÑ  ÐC! ß B! Ñm Ÿ <, m\ÐCß BÑ  \ÐC! ß B! Ñm Ÿ R  R! ,
donde m\ÐCß BÑm Ÿ R . Vamos supor também que < foi escolhido suficien-
temente pequeno de forma a ser menor do que o mínimo sobre o compacto O
da distância ao fechado ÐJ! ‚ IÑ Ï E de J! ‚ I (condição ignorada se
E œ J! ‚ I ). Assim, se ÐC! ß B! Ñ − O e se ÐCß BÑ − J! ‚ I verifica
mÐCß BÑ  ÐC! ß B! Ñm Ÿ <, tem-se ÐCß BÑ − E.
Fixemos -  ! tal que -R  <Î#, -V  " e - Ÿ <Î#, e verifiquemos que um
tal - está nas condições do enunciado. Suponhamos que ÐCß BÑ − J! ‚ I
verifica .ÐÐCß BÑß OÑ Ÿ - . Existe então ÐC! ß B! Ñ − O , com
mÐCß BÑ  ÐC! ß B! Ñm œ .ÐÐCß BÑß OÑ Ÿ - ,
em particular mÐCß BÑ  ÐC! ß B! Ñm Ÿ <, donde ÐCß BÑ − E. Notemos U a bola
§3. Propriedades da solução geral quando o domínio é aberto 365

fechada do espaço de Banach GÐÒ!ß -Óß IÑ, com centro na aplicação de valor
constante B e raio <Î#. Se 0 − U , tem-se, para cada = − Ò!ß -Ó,
mÐCß 0 Ð=ÑÑ  ÐC! ß B! Ñm Ÿ mÐCß 0 Ð=ÑÑ  ÐC! ß BÑm  mÐC! ß BÑ  ÐC!ß B!Ñm Ÿ
< <
Ÿ  œ <,
# #
pelo que ÐCß 0 Ð=ÑÑ − E e m\ÐCß 0 Ð=ÑÑm Ÿ R , o que nos permite definir uma
aplicação contínua X 0 À Ò!ß -Ó Ä I , por

X 0 Ð>Ñ œ B  ( \ÐCß 0 Ð=ÑÑ .=,


>

para a qual se tem

mX 0 Ð>Ñ  Bm Ÿ ( m\ÐCß 0 Ð=ÑÑm .= Ÿ R > Ÿ


>
<
,
! #
o que mostra que X 0 − U . Se 0 − U e 1 − U , tem-se, para cada = − Ò!ß -Ó,
m\ÐCß 0 Ð=ÑÑ  \ÐCß 1Ð=ÑÑm Ÿ VmÐCß 0 Ð=ÑÑ  ÐCß 1Ð=ÑÑm œ Vm0 Ð=Ñ  1Ð=Ñm,

donde

mX 0 Ð>Ñ  X 1Ð>Ñm œ ¼( \ÐCß 0 Ð=ÑÑ  \ÐCß 1Ð=ÑÑ .=¼ Ÿ


>

Ÿ V ( m0 Ð=Ñ  1Ð=Ñm .= Ÿ
>

!
Ÿ V - m0  1m,
o que implica que mX 0  X 1m Ÿ V - m0  1m. O facto de U ser não vazio e,
sendo fechado em GÐÒ!ß -Óß IÑ, ser um espaço métrico completo implica,
pelo teorema do ponto fixo para aplicações contractantes, a existência de
0 − U tal que X 0 œ 0 , isto é, a existência de uma aplicação contínua
0 À Ò!ß -Ó Ä I tal que, para cada > − Ò!ß -Ó,

0 Ð>Ñ œ B  ( \ÐCß 0 Ð=ÑÑ .=,


>

o que implica que 0 Ð!Ñ œ B e 0 w Ð>Ñ œ \ÐCß 0 Ð>ÑÑ. Concluímos portanto que
0 é uma curva integral de \ÐCÑ , com a condição inicial Ð!ß BÑ. …
IV.3.3 (Lema) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, J! § J , E
um conjunto aberto em J! ‚ I e \À E Ä I uma aplicação de classe G " .
Seja C − J! tal que exista uma curva integral 0 À Ò!ß "Ó Ä I de
\ÐCÑ À EÐCÑ Ä I , com a condição inicial Ð!ß !Ñ. Existe então <  ! tal que,
qualquer que seja C˜ − J! , com mC˜  Cm Ÿ <, existe uma curva integral
1À Ò!ß "Ó Ä I de \ÐCÑ ˜ Ä I , com a condição inicial Ð!ß !Ñ.
˜ À EÐCÑ
Dem: Seja =À H Ä I a solução geral paramétrica de \ . Uma vez que
366 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

ÖC× ‚ 0 ÐÒ!ß "ÓÑ é uma parte compacta de E, podemos, pelo lema anterior,
fixar -  ! tal que, para cada ÐCß ˜ − J! ‚ I , verificando a condição
˜ BÑ
˜ ÖC× ‚ 0 ÐÒ!ß "ÓÑÑ Ÿ - , se tenha ÐCß
˜ BÑß
.ÐÐCß ˜ − E e exista uma curva
˜ BÑ
integral 2À Ò!ß -Ó Ä I de \ÐCÑ ˜ , com a condição inicial Ð!ß BÑ
˜ , por outras
palavras, ÐCß ˜ − H. Por IV.2.5, sabemos que = é uma aplicação
˜ -ß !ß BÑ
contínua, pelo que = vai ser uniformemente contínua (no sentido forte) no
conjunto compacto ÖC× ‚ Ò!ß "Ó ‚ Ö!× ‚ Ö!× § H. Isto implica que podemos
fixar <, com !  < Ÿ - , tal que, para cada ÐCß
˜ =ß !ß !Ñ − H, com = − Ò!ß "Ó e
mC˜  Cm Ÿ <, se tenha
˜ =ß !ß !Ñ  =ÐCß =ß !ß !Ñm Ÿ - ,
˜ =ß !ß !Ñ  0 Ð=Ñm œ m=ÐCß
m=ÐCß
donde também (consideramos em J ‚ I a norma do máximo),
˜ =ß !ß !ÑÑ  ÐCß 0 Ð=ÑÑm Ÿ - ,
˜ =ÐCß
mÐCß
portanto, pelo que vimos atrás,
˜ =ÐCß
ÐCß ˜ =ß !ß !ÑÑ − E,
˜ =ß !ß !ÑÑ − H,
˜ -ß !ß =ÐCß
ÐCß

este último facto implicando sucessivamente, por IV.1.11 e IV.1.9,


˜ =ß !ß !ÑÑ − H,
˜ -  =ß =ß =ÐCß
ÐCß
˜ -  =ß !ß !Ñ − H.
ÐCß
Seja portanto C˜ − J! tal que mC˜  Cm Ÿ <. Tem-se então
˜ !Ñ  ÐCß 0 Ð!Ñm Ÿ < Ÿ - ,
mÐCß
donde ÐCߘ !Ñ − E, pelo que podemos considerar a curva integral máxima
1À N Ä I de \ÐCÑ ˜ , com a condição inicial Ð!ß !Ñ, e tudo o que temos que
provar é que " − N . Suponhamos, por absurdo, que isso não acontecia. Seja
, − Ò!ß "Ó o supremo de N . Seja = − N tal que =   maxÐ!ß ,  #- Ñ. Então
= − Ò!ß "Ó e ÐCß
˜ =ß !ß !Ñ − H, pelo que, como vimos atrás, ÐCߘ -  =ß !ß !Ñ − H,
ou seja, -  = − N , o que é absurdo, por se ter -  =  , . …
IV.3.4 (Teorema Fundamental) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão
finita, o segundo dos quais funcionará como espaço de parâmetros. Sejam
J! § J uma parte arbitrária, E um conjunto aberto em J! ‚ I e \À E Ä I
uma aplicação de classe G " . Sendo =À H Ä I a solução geral paramétrica de
\ , tem-se então que H é aberto em J! ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I .
Dem: (Comparar com a demonstração de IV.2.5) Seja ÐCß =ß >ß BÑ em H.
Tem-se então ÐCß BÑ − E e podemos considerar a curva integral máxima
0Cß>ßB À NCß>ßB Ä I de \ÐCÑ , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Podemos então
considerar a aplicação s0 Cß=ß>ßB À Ò!ß "Ó Ä I , definida por
s0 Cß=ß>ßB Ð?Ñ œ 0Cß>ßB ÐÐ"  ?Ñ>  ?=Ñ  B,
§3. Propriedades da solução geral quando o domínio é aberto 367

a qual verifica s0 Cß=ß>ßB Ð!Ñ œ ! e

s0 wCß=ß>ßB Ð?Ñ œ Ð=  >Ñ0Cß>ßB


w
ÐÐ"  ?Ñ>  ?=Ñ œ
œ Ð=  >Ñ\ÐCß 0Cß>ßB ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ÑÑ œ
œ Ð=  >Ñ\ÐCß B  s0 Cß=ß>ßB Ð?ÑÑ,

o que mostra que s0 Cß=ß>ßB é uma curva integral, com condição inicial Ð!ß !Ñ e
s E
com parâmetro ÐCß =ß >ß BÑ, da aplicação de classe G " \À s Ä I , definida por

s ˜ =ß
\ÐÐCß ˜ BÑß
˜ >ß ˜ DÑ ˜
˜ œ Ð=˜  >Ñ\ÐCß ˜ ,
˜ B˜  DÑ
no conjunto
s œ ÖÐÐCß
E ˜ =ß ˜ BÑß
˜ >ß ˜ DÑ
˜ ± ÐCß ˜ − E×,
˜ B˜  DÑ
que é aberto em ÐJ! ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ IÑ ‚ I . Podemos portanto aplicar o lema
anterior para garantir a existência de uma vizinhança Z de ÐCß =ß >ß BÑ em
J! ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I tal que, para cada ÐCß ˜ =ß ˜ BÑ
˜ >ß ˜ − Z , exista uma curva integral
1À Ò!ß "Ó Ä I de \ s , com o parâmetro ÐCß ˜ =ß ˜ BÑ
˜ >ß ˜ e a condição inicial Ð!ß !Ñ.
Vamos ver que se tem então ÐCß ˜ =ß ˜ BÑ
˜ >ß ˜ − H, o que terminará a demonstração.
O facto de se ter ÐÐCß ˜ =ß ˜ BÑß
˜ >ß ˜ !Ñ − E s implica que ÐCß ˜ − E, pelo que a
˜ BÑ
asserção anterior é trivial no caso em que =˜ œ >˜. Suponhamos portanto que
=˜ Á >˜. Podemos então notar N o intervalo Ò>ß ˜ =Ó
˜ , se >˜  =˜, e o intervalo Ò=ß ˜,
˜ >Ó
se =˜  >˜, e definir uma aplicação 2À N Ä I , por
@  >˜
2Ð@Ñ œ B˜  1Ð Ñ.
=˜  >˜
˜ œ B˜ e
Vem 2Ð>Ñ
" w @  >˜ @  >˜
2w Ð@Ñ œ 1Ð ˜ B˜  1Ð
Ñ œ \ÐCß ˜ 2Ð@ÑÑ,
ÑÑ œ \ÐCß
=˜  >˜ =˜  >˜ =˜  >˜
˜ BÑ
pelo que 2 é uma curva integral de \(C̃) , com a condição inicial Ð>ß ˜ , o que
mostra que ÐCß
˜ =ß ˜ ˜ − H, como queríamos.
˜ >ß BÑ …

A demonstração anterior, como aliás já acontecera com a da continuidade


da solução geral (cf. IV.2.5), mostra uma das aplicações dos resultados
paramétricos: Além do interesse que apresentam em si mesmos, eles
servem para apoiar as demonstrações mesmo nos casos não paramétricos.
Assim, se tentássemos demonstrar as versões não paramétricas de IV.2.5 e
de IV.3.2, pelo caminho que seguimos, teríamos necessidade das versões
paramétricas dos lemas que antecederam aqueles resultados. É claro que,
de acordo com o que se disse em IV.2.2, as versões não paramétricas
destes resultados, que nos abstemos mesmo de enunciar, são conse-
quências triviais das respectivas versões paramétricas, que estudámos.
368 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

IV.3.5 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I um


aberto e \À E Ä I uma aplicação de classe G " . Se 0 À N Ä E é a curva
integral máxima de \ , com uma condição inicial Ð>ß BÑ, então N é um inter-
valo aberto.
Dem: Pela versão não paramétrica do resultado anterior, a solução geral
=À H Ä E de \ está definida num aberto H de ‘ ‚ ‘ ‚ I , bastando agora
notar que o intervalo N é o conjunto dos = − ‘ tais que Ð=ß >ß BÑ − H. …
IV.3.6 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I um
aberto e \À E Ä I uma aplicação de classe G " . Sejam > − ‘, B − E e
0 À Ó+ß ,Ò Ä E a curva integral máxima de \ com a condição inicial Ð>ß BÑ.
Tem-se então:
a) Se + é finito, então, para cada compacto O § E, existe -  ! tal que, para
cada +  =  +  - , tem-se 0 Ð=Ñ Â O ;
b) Se , é finito, então, para cada compacto O § E, existe -  ! tal que, para
cada ,  -  =  , , tem-se 0 Ð=Ñ Â O .
Dem: Suponhamos que O § E é um compacto, que podemos já supor não
vazio. Tem-se então que Ö!× ‚ Ö!× ‚ O é um compacto contido no domínio
H da solução geral =À H Ä E de \ , domínio esse que sabemos ser aberto em
‘ ‚ ‘ ‚ I , pelo que podemos fixar -  !, que seja menor que o mínimo
sobre o compacto Ö!× ‚ Ö!× ‚ O da distância ao fechado Б ‚ ‘ ‚ IÑ Ï H.
Para cada = − Ó+ß ,Ò tal que 0 Ð=Ñ − O , tem-se portanto que Ð-ß !ß 0 Ð=ÑÑ e
Ð-ß !ß 0 Ð=ÑÑ estão em H, donde, pela invariância por translação,
Ð-  =ß =ß 0 Ð=ÑÑ e Ð-  =ß =ß 0 Ð=ÑÑ estão em H, o que, por IV.1.9, implica
que -  = e  -  = estão em Ó+ß ,Ò (reparar que 0 Ð=Ñ œ =Ð=ß >ß BÑ), em
particular =  -  , e =  -  +. As alíneas a) e b) do enunciado deduzem-se
agora do que acabamos de dizer, por passagem ao contra-recíproco. …

O resultado anterior pode ser interpretado, de modo intuitivo, dizendo que


toda a solução, que não seja eterna, foge dos compactos que estão
contidos no domínio do campo vectorial. Para quem conheça a noção de
compactificado de Alexandrov de um espaço topológico localmente
compacto e separado, as conclusões de a) e b) podem ser expressas em
termos de convergência de 0 Ð>Ñ para o ponto do infinito de E.

§4. Equações diferenciais dependentes do tempo.

IV.4.1 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E uma parte de ‘ ‚ I


e \À E Ä I uma aplicação. Se N § ‘ é um intervalo, diz-se que uma apli-
cação 0 À N Ä I é uma solução da equação diferencial (dependente do
tempo) definida por \ , se, para cada > − N , Ð>ß 0 Ð>ÑÑ − E e 0 w Ð>Ñ œ
\Ð>ß 0 Ð>ÑÑ (como no primeiro parágrafo, consideramos, por convenção, esta
§4. Equações diferenciais dependentes do tempo 369

última condição verificada no caso trivial em que o intervalo N não tem mais
que um ponto). Para cada > − N , diz-se ainda que Ð>ß 0 Ð>ÑÑ é uma condição
inicial da solução.
IV.4.2 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § ‘ ‚ I e
\À E Ä I uma aplicação de classe G " . Para cada Ð>ß BÑ − E, existe então
uma, e uma só, solução 0 À N Ä I da equação diferencial definida por \ ,
com a condição inicial Ð>ß BÑ, com a propriedade de qualquer outra solução,
com a mesma condição inicial, ser uma restrição dela. Além disso, sendo
s E Ä ‘ ‚ I a aplicação de classe G " definida por

s BÑ œ Ð"ß \Ð=ß BÑÑ,
\Ð=ß

a curva integral máxima de \ s , com a condição inicial Ð>ß Ð>ß BÑÑ, está definida
em N por = È Ð=ß 0 Ð=ÑÑ.
Dem: Seja s0 À N Ä E § ‘ ‚ I a curva integral máxima de \ s , com a
condição inicial Ð>ß Ð>ß BÑÑ e sejam 0" À N Ä ‘ e 0 À N Ä I as duas compo-
nentes de s0 . De se ter s0 Ð>Ñ œ Ð>ß BÑ, concluímos que 0" Ð>Ñ œ > e 0 Ð>Ñ œ B.
Uma vez que 0"w Ð=Ñ œ ", sai 0" Ð=Ñ œ =, para cada =, pelo que podemos agora
concluir que
0 w Ð=Ñ œ \Ð0" Ð=Ñß 0 Ð=ÑÑ œ \Ð=ß 0 Ð=ÑÑ,
o que mostra que 0 À N Ä I é uma solução da equação diferencial definida
por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Por outro lado, sendo 1À N w Ä I outra
solução desta equação diferencial, com a mesma condição inicial, podemos
considerar a aplicação s1À N w Ä E, definida por s1Ð=Ñ œ Ð=ß 1Ð=ÑÑ, que verifica
s1Ð>Ñ œ Ð>ß BÑ e
s1w Ð=Ñ œ Ð"ß 1w Ð=ÑÑ œ Ð"ß \Ð=ß 1Ð=ÑÑÑ œ \Ð1Ð=ÑÑ
ss ,

pelo que s1 é uma restrição de s0 , e portanto 1 é uma restrição de 0 . …


IV.4.3 Nas condições anteriores, dizemos que 0 À N Ä I é a solução máxima da
equação diferencial definida por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Como no
caso das equações diferenciais independentes do tempo, notando, para cada
Ð>ß BÑ − E, 0>ßB À N>ßB Ä I a solução máxima da equação diferencial definida
por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ, podemos considerar o conjunto
H § ‘ ‚ ‘ ‚ I , formado pelos Ð=ß >ß BÑ tais que = − N>ßB , e a aplicação
=À H Ä I , definida por =Ð=ß >ß BÑ œ 0>ßB Ð=Ñ, e dizemos que =À H Ä I é a
solução geral da equação diferencial dependente do tempo definida por \ .
IV.4.4 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E uma parte de ‘ ‚ I
e \À E Ä I uma aplicação de classe G " , e seja =À H Ä I a solução geral da
equação diferencial dependente do tempo definida por \ . Seja
s E Ä ‘ ‚ I a aplicação de classe G " associada, definida por

s
\Ð=ß BÑ œ Ð"ß \Ð=ß BÑÑ, e seja = s Ä ‘ ‚ I a solução geral respectiva.
sÀ H
Tem-se então que H é o conjunto dos Ð=ß >ß BÑ em ‘ ‚ ‘ ‚ I tais que
370 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

s e, para cada Ð=ß >ß BÑ − H, tem-se


Ð=ß >ß Ð>ß BÑÑ − H
=
sÐ=ß >ß Ð>ß BÑÑ œ Ð=ß =Ð=ß >ß BÑÑ.
Dem: Trata-se simplesmente de uma reformulação da conclusão de IV.4.2. …
IV.4.5 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E uma
parte de ‘ ‚ I e \À E Ä I uma aplicação de classe G " , e seja =À H Ä I a
solução geral da equação diferencial dependente do tempo definida por \ .
Dados Ð=ß >ß BÑ − H e ? − ‘, tem-se que Ð?ß >ß BÑ − H se, e só se,
Ð?ß =ß =Ð=ß >ß BÑÑ − H e, nesse caso, vem
=Ð?ß >ß BÑ œ =Ð?ß =ß =Ð=ß >ß BÑÑ.

Dem: É uma consequência do resultado anterior e de IV.1.9. …

Repare-se que, ao contrário do que acontecia com as equações


diferenciais independentes do tempo, deixa de ser interessante, para as
equações diferenciais dependentes do tempo, a consideração do fluxo.
Com efeito, neste caso, o conhecimento da solução máxima com a
condição inicial Ð!ß BÑ já não é suficiente para determinar a solução
máxima com a condição inicial Ð>ß BÑ.

IV.4.6 Tal como no caso das equações diferenciais independentes do tempo,


podemos também estudar o comportamento das equações diferenciais
dependentes do tempo e de parâmetros. Assim, dados os espaços vectoriais
de dimensão finita I e J , o segundo dos quais funcionando como espaço de
parâmetros, o subconjunto E de J ‚ ‘ ‚ I e a aplicação de classe G "
\À E Ä I , podemos, para cada C − J , considerar o subconjunto EÐCÑ de
‘ ‚ I , formado pelos Ð>ß BÑ tais que ÐCß >ß BÑ − E, e a aplicação de classe G "
\ÐCÑ À EÐCÑ Ä I , definida por \ÐCÑ Ð>ß BÑ œ \ÐCß >ß BÑ, e a solução máxima da
equação diferencial dependente do tempo definida por \ÐCÑ , com uma certa
condição inicial, é também chamada solução máxima da equação diferencial,
paramétrica e dependente do tempo, definida por \ , com o parâmetro C e a
condição inicial considerada. Como antes, sendo, para cada ÐCß >ß BÑ − E,
0Cß>ßB À NCß>ßB Ä I a solução máxima referente ao parâmetro C e à condição
inicial Ð>ß BÑ, podemos considerar o subconjunto H de J ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I
formado pelos ÐCß =ß >ß BÑ tais que = − NCß>ßB , e a aplicação =À H Ä I ,
definida por =ÐCß =ß >ß BÑ œ 0Cß>ßB Ð=Ñ, dizendo-se então que =À H Ä I é a
solução geral paramétrica da equação diferencial definida por \ .
É claro que, tal como em IV.4.4, sendo \À s E Ä ‘ ‚ I a aplicação de classe
G " s
associada, definida por \ÐCß =ß DÑ œ Ð"ß \ÐCß =ß DÑÑ, e, sendo
=
sÀ Hs Ä ‘ ‚ I a solução geral da equação diferencial paramétrica,
independente do tempo, definida por \ s , H vai ser o conjunto dos elementos
ÐCß =ß >ß BÑ em J ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I tais que ÐCß =ß >ß Ð>ß BÑÑ − H s e, para cada
§4. Equações diferenciais dependentes do tempo 371

ÐCß =ß >ß BÑ − H, vai-se ter


=
sÐCß =ß >ß Ð>ß BÑÑ œ Ð=ß =ÐCß =ß >ß BÑÑ.

IV.4.7 (Corolário) Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, J! § J


uma parte arbitrátria, E § J! ‚ ‘ ‚ I e \À E Ä I uma aplicação de classe
G " . Seja =À H Ä I a solução geral paramétrica da equação diferencial
dependente do tempo definida por \ , onde H § J! ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I . Tem-se
então:
a) =À H Ä I é uma aplicação contínua;
b) No caso em que E é aberto em J! ‚ ‘ ‚ I , H é aberto em
J! ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I .
É claro que, pelo processo trivial habitual (cf. IV.2.2), deduz-se da conclusão
precedente uma correspondente versão não paramétrica.
Dem: Trata-se de uma consequência trivial de IV.2.5 e IV.3.3. …

Nas aplicações haverá por vezes necessidade da seguinte versão


ligeiramente refinada da conclusão b) do resultado anterior:

IV.4.8 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, J! uma parte de J , M


um intervalo de ‘, E um conjunto aberto em J! ‚ M ‚ I e \À E Ä I uma
aplicação de classe G " . Sendo =À H Ä I a solução geral paramétrica da
equação diferencial dependente do tempo definida por \ , tem-se então que H
é aberto em J! ‚ M ‚ M ‚ I .
Dem: Seja E s um aberto de J ‚ ‘ ‚ I tal que E œ E s  ÐJ! ‚ M ‚ IÑ. Se
s
necessário substituindo E pela sua intersecção com um aberto de
J ‚ ‘ ‚ I , contendo E, que seja domínio de um prolongamento de classe
G " de \ , pode-se já supor a existência de uma aplicação de classe G "
s E
\À s Ä I , prolongando \ . Seja então = s Ä I a solução geral da
sÀ H
equação diferencial paramétrica dependente do tempo definida por \ s , que
sabemos estar definida num aberto H s de J ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I . É imediato
reconhecer-se que
s  ÐJ! ‚ M ‚ M ‚ IÑ,
HœH
donde o resultado. …

§5. Equações diferenciais lineares.

IV.5.1 Nesta secção vamos notar I e K dois espaços vectoriais de dimensão


finita e 1À K ‚ I Ä I uma aplicação bilinear. Notaremos frequentemente
D † B o elemento 1ÐDß BÑ. Consideraremos ainda em I e K duas normas e
notaremos 5 um real positivo tal que m1ÐDß BÑm Ÿ 5mDmmBm (toda a aplicação
372 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

bilinear é contínua). Como exemplos frequentes desta situação, temos:


a) K œ PÐIà IÑ, com a norma associada à norma de I , e a aplicação 1 está
definida por 1Ð0ß BÑ œ 0ÐBÑ; neste caso podemos tomar 5 œ ".
b) K œ ‘ e a aplicação 1À ‘ ‚ I Ä I é a multiplicação pelos escalares;
ainda neste caso, podemos tomar 5 œ ".
IV.5.2 Sejam M § ‘ um intervalo e # À M Ä I e >À M Ä K duas aplicações
contínuas. Podemos então considerar uma aplicação \À M ‚ I Ä I , definida
por
\Ð>ß BÑ œ >Ð>Ñ † B  # Ð>Ñ,
e tentar estudar a equação diferencial dependente do tempo definida por \
(que é o que se costuma chamar de equação diferencial linear). Note-se, no
entanto, que não podemos garantir de momento, nem a unicidade, nem a
existência de soluções não triviais, visto que a aplicação \ não tem de ser de
classe G " (sê-lo-ia se tivéssemos exigido que > e # fossem de classe G " , mas
teremos necessidade do caso em que estas aplicações são apenas contínuas).
Fazendo um estudo directo, podemos, não só garantir a unicidade das solu-
ções, como que elas existem e estão definidas no próprio intervalo M , qual-
quer que seja a condição inicial.
IV.5.3 Sejam M § ‘ um intervalo e # À M Ä I e >À M Ä K duas aplicações
contínuas. Para cada Ð>ß BÑ − M ‚ I , existe então uma, e uma só, aplicação
0 À M Ä I tal que 0 Ð>Ñ œ B e que, no caso em que M tenha mais que um
elemento,
0 w Ð=Ñ œ >Ð=Ñ † 0 Ð=Ñ  # Ð=Ñ,
para cada = − M .
Dem: É fácil de ver que nos bastará provar que, para cada intervalo fechado
e limitado O , com > − O § M , existe uma, e uma só, aplicação 0O À O Ä I ,
tal que 0O Ð>Ñ œ B e que, no caso em que O tenha mais que um ponto,
0Ow Ð=Ñ œ >Ð=Ñ † 0O Ð=Ñ  # Ð=Ñ.
De facto, se isso estiver provado, a unicidade provará que duas aplicações
deste tipo, definidas nos intervalos O e O w , coincidem em O  O w , o que nos
permite definir uma aplicação 0 À M Ä I , que prolongue todos os 0O , e a
prova de que esta aplicação é efectivamente uma solução da equação
diferencial linear (trivialmente única) é então uma discussão do tipo da
necessária para a demonstração de IV.1.7. Fixemos portanto um intervalo
fechado e limitado O , com > − O § M , podendo já supor-se que O œ Ò+ß ,Ó,
com +  , . A existência e unicidade de uma aplicação 0 À O Ä I , verifi-
cando 0 Ð>Ñ œ B e, para cada = − O , 0 w Ð=Ñ œ >Ð=Ñ † 0 Ð=Ñ  #Ð=Ñ, é equiva-
lente à existência e unicidade de uma aplicação contínua 0 À O Ä I , verifi-
cando, para cada = − O ,
§5. Equações diferenciais lineares 373

0 Ð=Ñ œ B  ( >Ð?Ñ † 0 Ð?Ñ  # Ð?Ñ .?.


=

>

Consideremos o espaço de Banach GÐOß IÑ, cujos elementos são as


aplicações contínuas 0 À O Ä I (cf. IV.3.1). Seja X a aplicação de GÐOß IÑ
em GÐOß IÑ, definida por

X 0 Ð=Ñ œ B  ( >Ð?Ñ † 0 Ð?Ñ .?.


=
(1)
>

Sendo V o máximo de m>Ð=Ñm, para = − O , provemos, por indução em :,


que, dados 0 ß 1 − GÐOß IÑ, se tem, para cada :   ! e = − O ,
5 : V : l=  >l:
(2) mX : 0 Ð=Ñ  X : 1Ð=Ñm Ÿ m0  1m
:x
(onde X ! é a aplicação identidade). Com efeito, (2) é trivial para : œ ! e,
supondo-o verificado para um certo :   !, vem

mX :" 0 Ð=Ñ  X :" 1Ð=Ñm œ ¼( >Ð?Ñ † ÐX : 0 Ð?Ñ  X : 1Ð?ÑÑ .?¼ Ÿ


=

>

Ÿ ¸( 5VmX : 0 Ð?Ñ  X : 1Ð?Ñm .?¸ Ÿ


=

>

Ÿ ¸( m0  1m .?¸ œ
>
5 :" V :" l?  >l:
= :x

m0  1m¸( l?  >l: .?¸ œ


=
5 :" V :"
œ
:x >
:" :"
5 V l=  >l:"
œ m0  1m ,
:x :"
o que mostra que (2) é verificado com :  " no lugar de :. Deduzimos agora
de (2) que
Ð5VÐ,  +ÑÑ:
mX : 0  X : 1m Ÿ m0  1m,
:x
:
pelo que, se fixarmos :  ! tal que Ð5VÐ,+ÑÑ
:x  " (lembrar que o termo geral
de uma série exponencial converge para !), o teorema do ponto fixo para
aplicações contractantes garante a existência de um, e um só, 0 − GÐOß IÑ
tal que X : 0 œ 0 . Vem então
X : X 0 œ X :" 0 œ X X : 0 œ X 0 ,
donde, pela parte de unicidade da afirmação anterior, X 0 œ 0 . Por outro
lado, se 1 é um elemento de GÐOß IÑ verificando X 1 œ 1, sai,
imediatamente, por indução em :, que X : 1 œ 1, donde 0 œ 1. Provou-se
374 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

portanto a existência e unicidade de 0 − GÐOß IÑ, verificando X 0 œ 0 , ou


seja, verificando (1), e a demonstração está terminada. …
IV.5.4 (Lema de continuidade) Sejam J um espaço vectorial de dimensão
finita, que funcionará como espaço de parâmetros, e J! § J . Sejam
# À J! ‚ Ò!ß "Ó Ä I , >À J! ‚ Ò!ß "Ó Ä K
duas aplicações contínuas. Para cada C − J! , seja 0ÐCÑ À Ò!ß "Ó Ä I a única
aplicação que verifica 0ÐCÑ Ð!Ñ œ ! e, para cada = − Ò!ß "Ó,
w
0ÐCÑ Ð=Ñ œ >ÐCß =Ñ † 0ÐCÑ Ð=Ñ  # ÐCß =Ñ.

Tem então lugar uma aplicação contínua 1À J! Ä I , definida por


1ÐCÑ œ 0ÐCÑ Ð"Ñ.
Dem: Sejam C − J e $  !. Sejam V o máximo de m>ÐCß >Ñm e V w o máximo
de m0ÐCÑ
w
Ð>Ñm, para > − Ò!ß "Ó. Seja $ w  ! tal que $ w Ÿ " e
$
$w Ÿ /5ÐV"Ñ .
"  5V w
Pela continuidade uniforme, no sentido forte, de # e de > no conjunto
compacto ÖC× ‚ Ò!ß "Ó, podemos fixar &  ! tal que, para cada > − Ò!ß "Ó e
cada C˜ − J! , com mC˜  Cm Ÿ &, se tenha
˜ >Ñ  # ÐCß >Ñm Ÿ $ w ,
m# ÐCß
˜ >Ñ  >ÐCß >Ñm Ÿ $ w ,
m>ÐCß
em particular, m>ÐCß
˜ >Ñm Ÿ V  ".
Suponhamos que C˜ − J! verifica mC˜  Cm Ÿ &. Tem-se então
m0ÐCÑ
˜ Ð>Ñ  0ÐCÑ Ð>Ñm œ

œ ¼( # ÐCß ˜ Ð=Ñ  >ÐCß =Ñ † 0 ÐCÑ Ð=Ñ .=¼ Ÿ


>
˜ =Ñ  # ÐCß =Ñ  >ÐCß
˜ =Ñ † 0ÐCÑ
!

Ÿ ( m# ÐCß
˜ =Ñ  # ÐCß =Ñm .=  ( m>ÐCß
> >
˜ =Ñ † Ð0ÐCÑ
˜ Ð=Ñ  0ÐCÑ Ð=ÑÑm .= 
! !

blablablablablablablablablabl  ( mÐ>ÐCß
>
˜ =Ñ  >ÐCß =ÑÑ † 0ÐCÑ Ð=Ñm .= Ÿ
!

Ÿ $ Ð"  5V Ñ  5ÐV  "Ñ( m0ÐCÑ


>
w w
˜ Ð=Ñ  0ÐCÑ Ð=Ñm .=,
!

de onde deduzimos, pelo lema de Gronwall,


w w 5ÐV"Ñ
˜  1ÐCÑm œ m0ÐCÑ
m1ÐCÑ ˜ Ð"Ñ  0ÐCÑ Ð!Ñm Ÿ $ Ð"  5V Ñ / Ÿ $,

o que demonstra a continuidade de 1 no ponto C . …


§5. Equações diferenciais lineares 375

IV.5.5 (Continuidade da solução geral das equações diferenciais lineares)


Sejam J um espaço vectorial de dimensão finita, que olharemos como
espaço de parâmetros, e J! § J . Sejam M § ‘ um intervalo e
# À J! ‚ M Ä I e >À J! ‚ M Ä K duas aplicações contínuas. Para cada
ÐCß >ß BÑ − J! ‚ M ‚ I , seja 0Cß>ßB À M Ä I a única aplicação tal que
0Cß>ßB Ð>Ñ œ B e, para cada = − M ,
w
0Cß>ßB Ð=Ñ œ # ÐCß =Ñ  >ÐCß =Ñ † 0Cß>ßB Ð=Ñ.

Seja =À J! ‚ M ‚ M ‚ I Ä I a solução geral da equação diferencial linear


paramétrica, definida por
=ÐCß =ß >ß BÑ œ 0Cß>ßB Ð=Ñ.

Tem-se então que = é uma aplicação contínua.


Dem: Para cada ÐCß =ß >ß BÑ − J! ‚ M ‚ M ‚ I , seja s0 Cß=ß>ßB À Ò!ß "Ó Ä I a apli-
cação definida por
s0 Cß=ß>ßB Ð?Ñ œ 0Cß>ßB ÐÐ"  ?Ñ>  ?=Ñ  B.

Vem s0 Cß=ß>ßB Ð!Ñ œ !, s0 Cß=ß>ßB Ð"Ñ œ =ÐCß =ß >ß BÑ  B e

s0 wCß=ß>ßB Ð?Ñ œ Ð=  >Ñ0Cß>ßB


w
ÐÐ"  ?Ñ>  ?=Ñ œ
œ Ð=  >Ñ# ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=Ñ 
œ  Ð=  >Ñ>ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=Ñ † ÐB  s0 Cß=ß>ßB Ð?ÑÑ,

pelo que, se tomarmos J! ‚ M ‚ M ‚ I como novo espaço de parâmetros, e


definirmos aplicações contínuas
# ÐJ! ‚ M ‚ M ‚ IÑ ‚ Ò!ß "Ó Ä I ,

sÀ ÐJ! ‚ M ‚ M ‚ IÑ ‚ Ò!ß "Ó Ä K ,
>

por
#
sÐÐCß =ß >ß BÑß ?Ñ œ Ð=  >Ñ#ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=Ñ 
œ  Ð=  >Ñ>ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=Ñ † B,
s
>ÐÐCß =ß >ß BÑß ?Ñ œ Ð=  >Ñ>ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=Ñ,
a igualdade anterior pode ser escrita
s0 wCß=ß>ßB Ð?Ñ œ s sÐÐCß =ß >ß BÑß ?Ñ † s
# ÐÐCß =ß >ß BÑß ?Ñ  > 0 Cß=ß>ßBÐ?Ñ,

e o lema anterior permite-nos concluir a continuidade da aplicação de


J! ‚ M ‚ M ‚ I em I , que a ÐCß =ß >ß BÑ associa =ÐCß =ß >ß BÑ  B, donde se
deduz a continuidade da aplicação =. …
376 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

§6. Diferenciabilidade da solução geral.

IV.6.1 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, o segundo dos quais


olhamos como espaço de parâmetros. Sejam E § J ‚ ‘ ‚ I e \ À E Ä I
uma aplicação de classe G : , onde :   ". Tem-se então que a solução geral
=À H Ä I, da equação diferencial paramétrica, dependente do tempo, defini-
da por \ , é uma aplicação de classe G : .
Dem: A demonstração deste resultado é algo longa, ocupando a totalidade
deste parágrafo, pelo que, para uma melhor sistematização, vamos dividi-la
em várias alíneas.
a) Comecemos por notar que nos bastará provar o resultado no caso
particular em que E é um aberto de J ‚ ‘ ‚ I . Com efeito, no caso geral,
podemos considerar um aberto E s de J ‚ ‘ ‚ I , com E § E s, e um prolon-
: s s s
gamento de classe G , \ À E Ä I , de \ , e, sendo então = sÀ H Ä I a solução
geral da equação diferencial paramétrica definida por \ s , é imediato constatar
que H § H s e que = é uma restrição de = s. Vamos portanto supor que E é
aberto em J ‚ ‘ ‚ I .
b) Vamos fazer a demonstração por indução em : (= é de classe G _ se for
de classe G : , para cada : finito). Para isso, procedemos do seguinte modo:
Demonstramos que o resultado é válido para um certo :   ", supondo que
ele é válido para :  ", no caso em que :  ", e sem nenhuma hipótese, no
caso em que : œ ".
c) Lembremos que, por IV.4.7, H é aberto em J ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I . Seja Y œ
ÖC − J ± ÐCß "ß !ß !Ñ − H×, que é portanto um aberto de J , e seja 2À Y Ä I a
aplicação contínua definida por 2ÐCÑ œ =ÐCß "ß !ß !Ñ. Vamos, nas próximas
seis alíneas, e isso será a parte essencial da demonstração, mostrar que 2 é
uma aplicação de classe G : .
d) Mais geralmente, consideremos a aplicação contínua 1À Y ‚ Ò!ß "Ó Ä I ,
definida por 1ÐCß >Ñ œ =ÐCß >ß !ß !Ñ, e reparemos que, se :  ", a hipótese de
indução implica que 1 é de classe G :" . Notemos também que
2ÐCÑ œ 1ÐCß "Ñ e que 1ÐCß !Ñ œ !.
e) Consideremos as aplicações contínuas
# À Y ‚ Ò!ß "Ó Ä PÐJ à IÑ,
>À Y ‚ Ò!ß "Ó Ä PÐIà IÑ,
definidas por
# ÐCß >Ñ œ H" \ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑ,
(1)
>ÐCß >Ñ œ H$ \ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑ

(derivadas parciais de \ relativamente à primeira e à terceira variáveis), e


reparemos que, no caso em que :  ", # e > são aplicações de classe G :" .
§6. Diferenciabilidade da solução geral 377

f) Considerando a aplicação bilinear


1À PÐIà IÑ ‚ PÐJ à IÑ Ä PÐJ à IÑ,
definida por 1Ð" ß !Ñ œ " ‰ !, as aplicações # e > vão definir uma equação
diferencial linear paramétrica, pelo que, por IV.5.5, podemos considerar uma
aplicação contínua 0À Y ‚ Ò!ß "Ó Ä PÐJ à IÑ, definida por
0ÐCß !Ñ œ !,
(2) `0
ÐCß >Ñ œ # ÐCß >Ñ  >ÐCß >Ñ † 0ÐCß >Ñ.
`>
Além disso, no caso em que :  ", podemos considerar a aplicação de classe
s À Y ‚ Ò!ß "Ó ‚ PÐJ à IÑ Ä PÐJ à IÑ,
G :" , \
s ÐCß >ß (Ñ œ # ÐCß >Ñ  >ÐCß >Ñ ‰ (,
\

e resulta da hipótese de indução que a solução geral = s Ä PÐJ à IÑ, da


sÀ H
s
equação diferencial paramétrica definida por \ , é de classe G :" , pelo que,
uma vez que 0ÐCß >Ñ œ = sÐCß >ß !ß !Ñ, concluímos que 0 é mesmo uma
aplicação de classe G :" .
g) O nosso próximo objectivo é mostrar que, para cada C − Y , 2 é
diferenciável em C e com H2C œ 0ÐCß "Ñ; se o fizermos, ficará provado que
H2À Y Ä PÐJ à IÑ é uma aplicação contínua e que, no caso em que :  ",
H2 é uma aplicação de classe G :" , pelo que, em qualquer dos casos, 2 será
uma aplicação de classe G : , e estará atingido o objectivo apontado em c).
h) Fixemos C − Y . Seja $  ! arbitrário.
Seja O o conjunto dos ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑ, com > − Ò!ß "Ó, que é um compacto
contido em E, e consideremos
V œ max mH\ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑm,
>−Ò!ß"Ó
(3)
V w œ max m0ÐCß >Ñm.
>−Ò!ß"Ó

$
Fixemos $ w  0 tal que $ w Ÿ " e $ w Ÿ "V w /
ÐV"Ñ
.
Pela continuidade uniforme, no sentido forte, de H\ no compacto O ,
podemos fixar <  ! tal que, sempre que ÐCß ˜ >ß DÑ − E, com > − Ò!ß "Ó e
˜ >ß DÑ  ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑm Ÿ <, se tenha
mÐCß
(4) ˜ >ß DÑ  H\ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑm Ÿ $ w
mH\ ÐCß
e vamos já supor que escolhemos < menor que o mínimo estritamente
positivo das distâncias dos pontos do compacto O ao fechado
ÐJ ‚ ‘ ‚ IÑ Ï E (ignoramos esta condição no caso em que
E œ J ‚ ‘ ‚ I ), de modo que, se ÐCß ˜ >ß DÑ − J ‚ ‘ ‚ I , com > − Ò!ß "Ó,
verifica mÐCß
˜ >ß DÑ  ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑm Ÿ <, então tem-se automaticamente
˜ >ß DÑ − E.
ÐCß
Do mesmo modo, pela continuidade uniforme, no sentido forte, de 1 sobre o
378 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

compacto ÖC× ‚ Ò!ß "Ó, podemos fixar <w  !, já com <w  <, de modo que, se
C˜ − J e mC˜  Cm Ÿ <w , então C˜ − Y e, para cada > − Ò!ß "Ó,
˜ >Ñ  1ÐCß >Ñm  <.
m1ÐCß
i) Suponhamos que A − J verifica mAm Ÿ <w . Seja )ÐAÑ À Ò!ß "Ó Ä I a aplica-
ção definida por
(5) )ÐAÑ Ð>Ñ œ 1ÐC  Aß >Ñ  1ÐCß >Ñ  0ÐCß >ÑÐAÑ

e reparemos que se tem )ÐAÑ Ð!Ñ œ ! e


w
)ÐAÑ Ð>Ñ œ \ ÐC  Aß >ß 1ÐC  Aß >ÑÑ  \ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑ 
œ  # ÐCß >ÑÐAÑ  >ÐCß >ÑÐ0ÐCß >ÑÐAÑÑ œ
(6)
œ \ ÐC  Aß >ß 1ÐC  Aß >ÑÑ  \ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑ 
œ  H" \ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑÐAÑ  H$ \ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑÐ0ÐCß >ÑÐAÑÑ.

Considerando C e > fixados, e aplicando a fórmula da média em I.5.20 à


aplicação de classe G " de F< ÐCÑ ‚ F< Ð1ÐCß >ÑÑ em I , que a ÐCß
˜ DÑ associa
\ÐC̃ß >ß DÑ, sai, tendo em conta (4),
m\ ÐC  Aß >ß 1ÐC  Aß >ÑÑ  \ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑ  H" \ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑÐAÑ 
Ÿ  H$ \ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑÐ1ÐC  Aß >Ñ  1ÐCß >ÑÑm Ÿ
Ÿ $ w mÐAß 1ÐC  Aß >Ñ  1ÐCß >ÑÑm Ÿ
(7)
Ÿ $ w ÐmAm  m1ÐC  Aß >Ñ  1ÐCß >ÑmÑ Ÿ
Ÿ $ w ÐmAm  m)ÐAÑ Ð>Ñm  m0ÐCß >ÑÐAÑmÑ Ÿ
Ÿ $ w Ðm)ÐAÑ Ð>Ñm  Ð"  V w ÑmAmÑ.

Vem também
mH$ \ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑÐ1ÐC  Aß >Ñ  1ÐCß >ÑÑ 
Ÿ  H$ \ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑÐ0ÐCß >ÑÐAÑm Ÿ
(8)
Ÿ mH$ \ ÐCß >ß 1ÐCß >ÑÑmm1ÐC  Aß >Ñ  1ÐCß >Ñ  0ÐCß >ÑÐAÑm Ÿ
Ÿ Vm)A Ð>Ñm,

pelo que, combinando (6), (7) e (8), obtém-se


w
(9) m)ÐAÑ Ð>Ñm Ÿ $ w Ð"  V w ÑmAm  ÐV  "Ñm)ÐAÑ Ð>Ñm,

donde

m)ÐAÑ Ð>Ñm œ ¼( )ÐAÑ Ð=Ñ .=¼ Ÿ


>
w
!
(10)
Ÿ $ w Ð"  V w ÑmAm  ÐV  "Ñ( m)ÐAÑ Ð>Ñm .=,
>

o que, pelo lema de Gronwall, implica que


(11) m)ÐAÑ Ð>Ñm Ÿ $ w Ð"  V w ÑmAm /ÐV"Ñ> Ÿ $ mAm,
§6. Diferenciabilidade da solução geral 379

em particular, m)A Ð"Ñm Ÿ $ mAm, o que, tendo em conta (5), mostra que 2 é
diferenciável em C e com derivada 0ÐCß "Ñ. Tal como observámos em g),
atingimos assim o objectivo apontado na alínea c).
j) Vamos demonstrar, por fim, que =À H Ä I é uma aplicação de classe G : .
Consideramos, para isso, uma nova equação diferencial, tendo como espaço
de parâmetros J ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ I . Seja assim
s § ÐJ ‚ ‘ ‚ ‘ ‚ IÑ ‚ ‘ ‚ I
E
o aberto
s œ ÖÐÐCß =ß >ß BÑß ?ß DÑ ± ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=ß D  BÑ − E×,
E
s Ä I a aplicação de classe G : definida por
sÀ E
e seja \
s ÐÐCß =ß >ß BÑß ?ß DÑ œ Ð=  >Ñ\ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=ß D  BÑ.
\

Se ÐCß =ß >ß BÑ − H, podemos definir uma aplicação s0 Cß=ß>ßB À Ò!ß "Ó Ä I ,


s0 Cß=ß>ßB Ð?Ñ œ =ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=ß >ß BÑ  B,

e temos então s0 Cß=ß>ßB Ð!Ñ œ ! e

s0 wCß=ß>ßB Ð?Ñ œ Ð=  >Ñ\ ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=ß =ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=ß >ß BÑÑ œ
œ Ð=  >Ñ\ ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=ß s0 Cß=ß>ßB Ð?Ñ  BÑ œ
s ÐÐCß =ß >ß BÑß ?ß s0 Cß=ß>ßB Ð?ÑÑ.
œ\

Resulta daqui, aplicando a conclusão enunciada em c) à equação diferencial


paramétrica dependente do tempo definida por \ s , que tem lugar uma
aplicação de classe G : de H em I , que a cada ÐCß =ß >ß BÑ associa
s0 Cß=ß>ßB Ð"Ñ œ =ÐCß =ß >ß BÑ  B, de onde se deduz finalmente que =À H Ä I é
uma aplicação de classe G : . …

É claro que, pelos processos usuais, deduzimos trivialmente do resultado


anterior as correspondentes versões para equações diferenciais sem
parâmetros e/ou independentes do tempo.

§7. Equações diferenciais em variedades.

IV.7.1 (Lema) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma


variedade sem bordo, N § ‘ um intervalo, E um aberto de N ‚ Q e
\À E Ä I uma aplicação de classe G " , tal que, para cada Ð>ß BÑ − E,
\Ð>ßBÑ − XB ÐQ Ñ. Para cada Ð>ß BÑ − E existe então um intervalo N w , aberto em
380 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

N e com > − N w , e uma solução 0 À N w Ä Q da equação diferencial


dependente do tempo definida por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ.
Dem: Sejam Z s aberto em ‘7 , com ! − Z s , Z aberto em Q , com B − Z , e
s
:À Z Ä Z um difeomorfismo com :Ð!Ñ œ B. Seja E s o aberto de N ‚ Z
s,
formado pelos Ð=ß CÑ tais que Ð=ß :ÐCÑÑ − E, e seja \ s
s À E Ä ‘ a aplicação
7

de classe G " definida por


s Ð=ßCÑ œ HÐ:" Ñ:ÐCÑ Ð\Ð=ß:ÐCÑÑ Ñ
\

(o facto de \ s estar bem definido é uma consequência da hipótese sobre \


feita no enunciado e o facto de \ s ser de classe G " deduz-se facilmente, se
considerarmos um prolongamento de classe G " de :" , definido num aberto
de I ). É claro que E s é também aberto em N ‚ ‘7 e contém Ð>ß !Ñ, pelo que
a versão de IV.4.8 sem parâmetros garante que a solução máxima s0 À N w Ä Z s
da equação diferencial dependente do tempo definida por \ s , com a condição
inicial Ð>ß !Ñ, está definida num intervalo N w aberto em N e contendo >. Sendo
então 0 À N w Ä Q a aplicação definida por 0 Ð=Ñ œ :Ð0 s Ð=ÑÑ, vem 0 Ð>Ñ œ
:Ð!Ñ œ B e
s w Ð=ÑÑ œ H:s Ð\
0 w Ð=Ñ œ H:s0 Ð=Ñ Ð0 s s Ñœ
0 Ð=Ñ Ð=ß0 Ð=ÑÑ
œ H:s0 Ð=Ñ ÐHÐ:" Ñ:Ð0s Ð=ÑÑ Ð\Ð=ß:Ð0s Ð=ÑÑÑ ÑÑ œ \Ð=ß0 Ð=ÑÑ ,

e a demonstração está terminada. …


IV.7.2 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma variedade
sem bordo, N § ‘ um intervalo, E um aberto de N ‚ Q e \À E Ä I uma
aplicação de classe G " , tal que \Ð>ßBÑ − XB ÐQ Ñ, para cada Ð>ß BÑ − E. Tem-se
então:
a) Existe um aberto E s de N ‚ I , com E § E s e E fechado em E s e um pro-
" s s
longamento de classe G \À E Ä I de \ .
b) Quaisquer que sejam E s e \ s nas condições de a), dados Ð>ß BÑ − E e a
solução máxima 0 À N w Ä I da equação diferencial dependente do tempo
definida por \ s , com a condição inicial Ð>ß BÑ, tem-se Ð=ß 0 Ð=ÑÑ − E, para
cada = − N w , e portanto 0 é também a solução máxima da equação diferencial
dependente do tempo definida por \ , com aquela condição inicial.
Dem: Uma vez que N ‚ Q é uma variedade, possivelmente com bordo,
podemos aplicar II.6.22 para garantir a existência de um aberto de ‘ ‚ I ,
contendo E, onde E seja fechado, deduzindo-se então, tendo em conta a
propriedade II.3.12, a existência de um prolongamento de classe G " de \ a
esse aberto. Para verificarmos a), basta agora tomarmos para E s a intersecção
s
desse aberto com N ‚ I , e para \ a restrição desse prolongamento.
Passemos agora à demonstração de b), para o que consideramos o conjunto
N ww dos = − N w , tais que Ð=ß 0 Ð=ÑÑ − E. Tem-se > − N ww , e a continuidade de 0
e o facto de E ser fechado em E s garantem que N ww é fechado em N w . O que
§7. Equações diferenciais em variedades 381

queremos provar é que N ww œ N w e, tendo em conta o facto de N w ser conexo,


bastar-nos-á provar que N ww é aberto em N w . Seja portanto = − N ww . Tem-se
Ð=ß 0 Ð=ÑÑ − E, pelo que concluímos, de IV.7.1, a existência de um intervalo
s
N aberto em N , com = − s N , e de uma solução s0 À sN Ä Q da equação
diferencial definida por \ , com a condição inicial Ð=ß 0 Ð=ÑÑ. Em particular s0
é também uma solução da equação diferencial definida por \ s , com aquela
condição inicial, pelo que, por IV.4.5, s0 é uma restrição de 0 . Deduzimos
daqui que, para cada ? − s N , vem Ð?ß 0 Ð?ÑÑ œ Ð?ß s0 Ð?ÑÑ − E, portanto
s
? − N , o que mostra que N § N ww . Provámos portanto que N ww é aberto em N
ww

pelo que ele é também aberto em N w . …


IV.7.3 (Resultado Fundamental) Sejam I um espaço vectorial de dimensão
finita, Q § I uma variedade sem bordo, N § ‘ um intervalo, E um aberto
de N ‚ Q e \À E Ä I uma aplicação de classe G " , tal que \Ð>ßBÑ − XB ÐQ Ñ,
para cada Ð>ß BÑ − E. Sendo =À H Ä Q a solução geral da equação
diferencial dependente do tempo definida por \ , tem-se então que H é aberto
em N ‚ N ‚ Q .
Dem: Pela parte a) do resultado anterior, podemos considerar um aberto E s
s s
de N ‚ I , com E § E e E fechado em E, e um prolongamento de classe G "
de \ , \À s Ä I . Sendo então =
s E s Ä I a solução geral da equação
sÀ H
s , sabemos, pela versão sem parâmetros de IV.4.8,
diferencial definida por \
que H s é aberto em N ‚ N ‚ I , e resulta da parte b) da propriedade anterior
que H é o conjunto dos Ð=ß >ß BÑ − N ‚ N ‚ Q , tais que Ð=ß >ß BÑ − H s e
Ð>ß BÑ − E, o que implica que H é aberto em N ‚ N ‚ Q . …

Como já dissemos anteriormente, todos os resultados, demonstrados para


equações diferenciais dependentes do tempo, aplicam-se trivialmente
também às equações diferenciais independentes do tempo, bastando notar
que uma equação diferencial independente do tempo, definida no conjunto
Q , é a mesma coisa que a equação diferencial dependente do tempo,
definida em ‘ ‚ Q e constante em relação à primeira variável. Assim,
por exemplo, o resultado anterior permite-nos afirmar que, se Q § I é
uma variedade sem bordo e se \À Q Ä I é uma aplicação de classe G " ,
tal que \B − XB ÐQ Ñ, para cada B − Q (um campo vectorial de classe G "
sobre Q ), então o domínio H, da solução geral da equação diferencial
definida por \ , é um conjunto aberto em ‘ ‚ ‘ ‚ Q .

IV.7.4 (Corolário) Sejam Q § I uma variedade sem bordo, N § ‘ um


intervalo, E um aberto de N ‚ Q e \À E Ä I uma aplicação de classe G " ,
tal que \Ð>ßBÑ − XB ÐQ Ñ, para cada Ð>ß BÑ − E. Se 0 À N w Ä Q é a solução
máxima da equação diferencial definida por \ , com uma certa condição
inicial Ð>ß BÑ − E, então o intervalo N w é aberto em N .
Dem: É uma consequência do resultado anterior, visto que, sendo H o
382 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

domínio da solução geral, N w vai ser o conjunto dos = − N tais que


Ð=ß >ß BÑ − H. …
IV.7.5 (Corolário) Sejam Q § I uma variedade sem bordo e \À Q Ä I um
campo vectorial de classe G " , isto é, uma aplicação de classe G " tal que
\B − XB ÐQ Ñ, para cada B − Q . Sejam > − ‘ e B − Q e 0 À Ó+ß ,Ò Ä Q a
curva integral máxima de \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Tem-se então:
a) Se + é finito, então, para cada compacto O § Q , existe -  ! tal que,
para cada +  =  +  - , tem-se 0 Ð=Ñ Â O ;
b) Se , é finito, então, para cada compacto O § Q , existe -  ! tal que,
para cada ,  -  =  , , tem-se 0 Ð=Ñ Â O .
Dem: Trata-se de uma generalização de IV.3.6, cuja demonstração se decalca
pela daquele resultado, bastando substituir ‘ ‚ ‘ ‚ I por ‘ ‚ ‘ ‚ Q . …
IV.7.6 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma variedade
sem bordo e \À Q Ä I um campo vectorial de classe G " . Diz-se que \ é
completo se, para cada Ð>ß BÑ − ‘ ‚ Q , o domínio da curva integral máxima
de \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ, é ‘ (ou seja, se o domínio da solução
geral da equação diferencial definida por \ é ‘ ‚ ‘ ‚ Q ).
IV.7.7 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma variedade
sem bordo e \À Q Ä I um campo vectorial de classe G " de suporte
compacto, isto é, tal que exista um conjunto compacto O § Q , tal que
\B œ !, para cada B  O . Tem-se então que \ é completo. Em particular,
no caso em que a variedade sem bordo Q é compacta, todo o campo
vectorial de classe G " é completo.
Dem: Suponhamos que 0 À N Ä Q é a curva integral máxima de \ com a
condição inicial Ð>ß BÑ e que se tinha N Á ‘. Concluíamos então, de IV.7.5, a
existência de = − N tal que 0 Ð=Ñ Â O . Por IV.1.9, 0 era também a curva
integral máxima com a condição inicial Ð=ß 0 Ð=ÑÑ, o que é absurdo, visto que
o facto de se ter \0 Ð=Ñ œ ! implica trivialmente que esta última é a aplicação
de valor constante 0 Ð=Ñ, definida em ‘. …

O resultado fundamental, IV.7.3, admite também uma versão com


parâmetros, que passamos a enunciar.

IV.7.8 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, o segundo dos quais


será olhado como espaço de parâmetros. Sejam J! § J um conjunto
arbitrário, Q § I uma variedade sem bordo, N § ‘ um intervalo, E um
conjunto aberto em J! ‚ N ‚ Q e \À E Ä I uma aplicação de classe G "
tal que \ÐCß >ß BÑ − XB ÐQ Ñ, para cada ÐCß >ß BÑ − E. Sendo então =À H Ä Q
a solução geral da equação diferencial paramétrica, dependente do tempo,
definida por \ , tem-se que H é aberto em J! ‚ N ‚ N ‚ Q .
Dem: Seja Z um aberto de I , com Q § Z , tal que Q seja fechado em Z .
Consideremos um aberto E s de J ‚ ‘ ‚ I , tal que E œ ÐJ! ‚ N ‚ Q Ñ  E s;
s
se necessário substituindo E pela sua intersecção com um aberto conveniente
§7. Equações diferenciais em variedades 383

contendo E, podemos já supor que existe um prolongamento de classe G " de


\ , \À s E s Ä I . Sejam então E˜ œ ÐJ! ‚ N ‚ Z Ñ  E s e \À ˜ E˜ Ä I a
s ˜
aplicação de classe G , restrição de \ . É claro que E vai ser aberto em
"

J! ‚ N ‚ Z , e portanto em J! ‚ N ‚ I , e tem-se E œ ÐJ! ‚ N ‚ Q Ñ  E˜,


pelo que, por J! ‚ N ‚ Q ser fechado em J! ‚ N ‚ Z , E vai ser fechado
em Ẽ.
Para cada C − J! , vem que o subconjunto EÐCÑ de N ‚ Q , formado pelos
Ð>ß BÑ tais que ÐCß >ß BÑ − E, é um aberto de N ‚ Q , e tem lugar a aplicação
de classe G " , \ÐCÑ À EÐCÑ Ä I , definida por \ÐCÑ Ð>ß BÑ œ \ÐCß >ß BÑ, a qual
verifica \ÐCÑ Ð>ß BÑ − XB ÐQ Ñ, para cada Ð>ß BÑ − EÐCÑ . Além disso, para cada
C − J! , o conjunto E˜ÐCÑ , dos Ð>ß BÑ tais que ÐCß >ß BÑ − E˜, é um aberto de
N ‚ I , no qual EÐCÑ é fechado, e a aplicação \˜ ÐCÑ À E˜ÐCÑ Ä I , definida por
\˜ ÐCÑ Ð>ß BÑ œ \ÐCß
˜ >ß BÑ, é um prolongamento de classe G " de \ÐCÑ . Podemos
agora aplicar IV.7.2, para concluir que, sendo =˜À H˜ Ä I a solução geral da
equação diferencial paramétrica definida por \˜ , H vai ser o conjunto dos
ÐCß =ß >ß BÑ em J! ‚ N ‚ N ‚ Q tais que ÐCß =ß >ß BÑ − H˜ e ÐCß >ß BÑ − E . Uma
vez que, por IV.4.8, H˜ é aberto em J ‚ N ‚ N ‚ I , segue-se que H é aberto
em J ‚ N ‚ N ‚ Q . …

§8. Equações diferenciais totais. Teorema de Frobenius.

IV.8.1 Sejam K e I espaços vectoriais de dimensão finita, E uma parte de


K ‚ I e \ À E Ä PÐKà IÑ uma aplicação. Dado um aberto N § K , diz-se
que uma aplicação 0 À N Ä I é uma solução da equação diferencial total
definida por \ se, para cada = − N , Ð=ß 0 Ð=ÑÑ − E e H0 Ð=Ñ œ \ Ð=ß 0 Ð=ÑÑ.
Para cada > − N , diz-se então que a solução admite a condição inicial
Ð>ß 0 Ð>ÑÑ.

As equações diferenciais totais vão ser o análogo das equações dife-


renciais ordinárias, com a variável temporal > − ‘ substituída por uma
variável temporal multidimensional > − K (usaremos as mesmas letras
que no caso em que a variável temporal é real, com o fim de sublinhar o
paralelismo, mesmo que isso choque com a convenção usual de utilizar
letras como > e = somente como variáveis reais, mas empregaremos
normalmente os caracteres gordos para sublinhar a diferença). A exi-
gência de o domínio N da solução ser um aberto de K , destina-se a
garantir que a derivada H0 Ð=Ñ está bem definida como aplicação linear de
domínio K.
Repare-se que, no caso em que K œ ‘8 , as equações diferenciais totais
vão ser um tipo particular de equações com derivadas parciais, visto que a
condição H0 Ð=Ñ œ \Ð=ß 0 Ð=ÑÑ vai ser equivalente a 8 equações do tipo
384 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

`0
Ð=Ñ œ \3 Ð=ß 0 Ð=ÑÑ.
`=3
Do mesmo modo que, no caso das equações diferenciais ordinárias,
apenas nos interessávamos pelas soluções definidas em intervalos, no caso
das equações diferenciais totais vão ser especialmente importantes as
soluções definidas em abertos que são estrelados relativamente ao instante
inicial. Relembremos que um subconjunto N de um espaço vectorial K ,
diz-se estrelado relativamente ao elemento > − N se, para cada = − N , o
segmento de extremidades > e =, conjunto dos Ð"  ?Ñ>  ?=, com
? − Ò!ß "Ó, está contido em N .

IV.8.2 (Unicidade) Sejam K e I espaços vectoriais de dimensão finita,


E § K ‚ I e \À E Ä PÐKà IÑ uma aplicação de classe G " . Sejam
Ð>ß BÑ − E, N e N˜ abertos de K e 0 À N Ä I e 0˜ À N˜ Ä I duas soluções da
equação diferencial total definida por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ.
Tem-se então que 0 e 0˜ coincidem em qualquer conjunto W § N  N˜ , que
seja estrelado relativamente a >.
Dem: Seja = − W . Sejam :,:˜À Ò!ß "Ó Ä I as aplicações definidas por
:Ð?Ñ œ 0 ÐÐ"  ?Ñ>  ?=Ñ,
:˜Ð?Ñ œ 0˜ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=Ñ.
Vem :Ð!Ñ œ 0 Ð>Ñ œ B e
:w Ð?Ñ œ H0Ð"?Ñ>?= Ð=  >Ñ œ
œ \ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 0 ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ÑÑÐ=  >Ñ,

pelo que, sendo Ẽ § Ò!ß "Ó ‚ I o conjunto constituído pelos Ð?ß DÑ tais que
˜ E˜ Ä I a aplicação de classe G " definida por
ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß D Ñ − E e \À
˜ DÑ œ \ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß D ÑÐ=  >Ñ,
\Ð?ß
vemos que : é uma solução da equação diferencial ordinária, dependente do
tempo, definida por \˜ , com a condição inicial Ð!ß BÑ. Do mesmo modo, :˜ é
uma solução da mesma equação diferencial, com a mesma condição inicial,
pelo que concluímos que : œ :˜, em particular,
0 Ð=Ñ œ :Ð"Ñ œ :̃Ð"Ñ œ 0˜ Ð=Ñ. …

O resultado que se segue vai dar, nos casos mais gerais que se encontram
na prática, condições necessárias para a existência de soluções com condi-
ções iniciais arbitrárias.

IV.8.3 Sejam K e I espaços vectoriais de dimensão finita, Q § I uma


variedade sem bordo, E um aberto em K ‚ Q , e \À E Ä PÐKà IÑ uma
§8. Equações diferenciais totais. Teorema de Frobenius 385

aplicação de classe G " tal que, para um certo Ð>ß BÑ − E, exista uma solução
0 À N Ä Q da equação diferencial total definida por \ , com a condição
inicial Ð>ß BÑ. Tem-se então:
a) A aplicação linear \Ð>ß BÑ − PÐKà IÑ aplica K em XB ÐQ Ñ;
b) A aplicação bilinear K ‚ K Ä I , definida por
˜,
˜ È H\Ð>ßBÑ ÐAß \Ð>ßBÑ ÐAÑÑÐAÑ
ÐAß AÑ

é simétrica.
Dem: Uma vez que N é um aberto de K e que a aplicação 0 À N Ä Q § I
verifica 0 Ð>Ñ œ B e H0 Ð=Ñ œ \Ð=ß 0 Ð=ÑÑ, o facto de \ ser uma aplicação de
classe G " permite-nos concluir sucessivamente que 0 é contínua (por ser
diferenciável em todos os pontos), que 0 é de classe G " (por H0 ser
contínua) e que 0 é de classe G # (por H0 ser de classe G " ). Deduzimos
agora, em primeiro lugar, que \Ð>ß BÑ œ H0 Ð>Ñ é uma aplicação linear de K
em XB ÐQ Ñ. Em segundo lugar, obtemos, para cada = − N e cada Aß Ã − K,
H0= ÐAј œ \Ð=ß 0 Ð=ÑÑÐAј , donde
H# 0= ÐAß ÃÑ œ H\Ð=ß0 Ð=ÑÑ ÐAß H0= ÐAÑÑÐAÑ ˜ œ
˜,
œ H\Ð=ß0 Ð=ÑÑ ÐAß \Ð=ß0 Ð=ÑÑ ÐAÑÑÐAÑ

em particular
H# 0> ÐAß AÑ ˜,
˜ œ H\Ð>ßBÑ ÐAß \Ð>ßBÑ ÐAÑÑÐAÑ

pelo que o facto de H# 0> À K ‚ K Ä I ser uma aplicação bilinear simétrica,


implica a condição b) do enunciado. …

Repare-se que, no caso em que Q œ I , isto é, em que o domínio E de \


é aberto em K ‚ I , a condição a) do resultado anterior encontra-se
automaticamente verificada. O equivalente a essa condição já aparecia no
caso das equações diferenciais ordinárias, quando queríamos garantir que
as soluções máximas, com condições iniciais arbitrárias, estavam defini-
dos em conjuntos abertos de ‘ (cf. corolário IV.7.4). A condição b) é que
constitui novidade em relação ao que acontecia no caso das equações
diferenciais ordinárias. O facto de uma equação diferencial ordinária
poder ser olhada como uma equação diferencial total, tendo em conta o
isomorfismo canónico PБà IÑ Ä I , leva-nos a concluir que, no caso das
equações diferenciais ordinárias, isto é, naquele em que se tem K œ ‘, a
condição b) deve ser automaticamente verificada. Isso é explicado pelo
lema seguinte:

IV.8.4 (Lema de Álgebra Linear) Se K e I são espaços vectoriais sobre o


mesmo corpo, o primeiro dos quais de dimensão ", toda a aplicação bilinear
1À K ‚ K Ä I é simétrica.
Dem: Seja A uma base de K . Dados ?ß @ − K , vem ? œ +A e @ œ ,A, com +
386 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

e , escalares, donde
1Ð?ß @Ñ œ +, 1ÐAß AÑ œ 1Ð@ß ?Ñ. …

O teorema de Frobenius, que demonstramos a seguir, mostra que as


condições necessárias, referidas no resultado anterior, quando verificadas
em todos os pontos do domínio, são também suficientes para garantir a
existência de soluções com condições iniciais arbitrárias.

IV.8.5 (Teorema de Frobenius) Sejam K e I espaços vectoriais de dimensão


finita, Q § I uma variedade sem bordo, E um aberto em K ‚ Q e
\À E Ä PÐKà IÑ uma aplicação de classe G " tal que, para cada Ð>ß BÑ − E,
se verifiquem as duas condições seguintes:
a) A aplicação linear \ Ð>ß BÑ − PÐKà IÑ aplica K em XB ÐQ Ñ;
b) É simétrica a aplicação bilinear K ‚ K Ä I , definida por
˜.
˜ È H\Ð>ßBÑ ÐAß \Ð>ßBÑ ÐAÑÑÐAÑ
ÐAß AÑ

Tem-se então que, para cada Ð>ß BÑ − E, existe um aberto N de K , com


> − N , e uma solução 0 À N Ä Q da equação diferencial total definida por
\, com a condição inicial Ð>ß BÑ.
Mais precisamente, sendo E s o aberto de K ‚ Ò!ß "Ó ‚ Q , constituído pelos
Ð=ß ?ß DÑ tais que ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß DÑ − E, e sendo \ s Ä I a aplicação de
sÀ E
classe G definida por
"

s Ð=ß ?ß DÑ œ \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß DÑÐ=  >Ñ,


\
então, olhando para K como espaço de parâmetros, e considerando a solução
geral = s Ä Q da equação diferencial paramétrica dependente do tempo
sÀ H
definida por \ s , o conjunto N , dos = − K tais que Ð=ß "ß !ß BÑ − H s, é um
aberto de K, estrelado relativamente a >, e a aplicação 0 À N Ä Q , definida
por 0 Ð=Ñ œ =
sÐ=ß "ß !ß BÑ, é uma solução da equação diferencial total definida
por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ, que é máxima, no sentido que qualquer
outra solução, definida num aberto estrelado relativamente a >, com a mesma
condição inicial, é uma restrição dela.
Dem: Tendo em conta IV.7.8 e IV.6.1, sabemos que H s é aberto em
K ‚ Ò!ß "Ó ‚ Ò!ß "Ó ‚ Q e que = s
sÀ H Ä Q é uma aplicação de classe G " . O
conjunto N dos = − K tais que Ð=ß "ß !ß BÑ − H s é portanto um aberto de K , e
a aplicação 0 À N Ä Q , definida por 0 Ð=Ñ œ = sÐ=ß "ß !ß BÑ, é de classe G " .
Além disso, o facto de se ter \s Ð>ß ?ß BÑ œ ! implica que a aplicação de Ò!ß "Ó
em Q , de valor constante B, é uma solução da equação diferencial
paramétrica, com o parâmetro > e a condição inicial Ð!ß BÑ, o que nos permite
concluir que > − N e que 0 Ð>Ñ œ B.
Suponhamos agora que = − N e que @ − Ò!ß "Ó. Seja :À Ò!ß "Ó Ä Q a
aplicação definida por :Ð?Ñ œ = sÐ=ß ?@ß !ß BÑ. Vem :Ð!Ñ œ B e
§8. Equações diferenciais totais. Teorema de Frobenius 387

:w Ð?Ñ œ @\s Ð=ß ?@ß :Ð?ÑÑ œ @\ÐÐ"  ?@Ñ>  ?@=ß :Ð?ÑÑÐ=  >Ñ œ
œ \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?ÐÐ"  @Ñ>  @=Ñß :Ð?ÑÑÐÐ"  @Ñ>  @ =  >Ñ œ
œ\ s ÐÐ"  @Ñ>  @=ß ?ß :Ð?ÑÑ,

pelo que : é uma solução da equação diferencial paramétrica definida por \ s,


com o parâmetro Ð"  @Ñ>  @= e a condição inicial Ð!ß BÑ, por outras
palavras, Ð"  @Ñ>  @= − N e portanto N é estrelado relativamente a >.
A demonstração do resultado de unicidade, IV.8.2, mostra-nos que qualquer
solução da equação diferencial total definida por \ , que esteja definida num
aberto estrelado relativamente a > e tenha a condição inicial Ð>ß BÑ, é uma
restrição da nossa aplicação 0 À N Ä Q . Tudo o que falta demonstrar é que 0
é efectivamente uma solução da equação diferencial total definida por \ , isto
é, que se tem H0 Ð=Ñ œ \ Ð=ß 0 Ð=ÑÑ, e é isso que vamos fazer em seguida.96
Seja 1À N ‚ Ò!ß "Ó Ä Q a aplicação de classe G " definida por
sÐ=ß ?ß !ß BÑ.
1Ð=ß ?Ñ œ =
Vem 1Ð=ß !Ñ œ B e
`1 s Ð=ß ?ß =
Ð=ß ?Ñ œ \ sÐ=ß ?ß !ß BÑÑ œ
(1) `?
œ \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐ=  >Ñ,
pelo que podemos escrever

1Ð=ß ?Ñ œ 1Ð=ß !Ñ  (
?
`1
Ð=ß @Ñ .@ œ
! `@
œB(
?
\ ÐÐ"  @Ñ>  @=ß 1Ð=ß @ÑÑÐ=  >Ñ .@.
!

Utilizando agora o teorema de derivação do integral paramétrico, começando


eventualmente por ter em conta o facto de toda a aplicação de classe G " em
N ‚ Ò!ß "Ó admitir um prolongamento de classe G " a N ‚ ‘ (N ‚ Ò!ß "Ó é
fechado em N ‚ ‘), obtemos

H" 1Ð=ß?Ñ ÐAÑ œ (


?
H\ÐÐ"@Ñ>@=ß1Ð=ß@ÑÑ Ð@Aß H" 1Ð=ß@Ñ ÐAÑÑÐ=  >Ñ 
!
 \ ÐÐ"  @Ñ>  @=ß 1Ð=ß @ÑÑÐAÑ .@,

pelo que H" 1Ð=ß!Ñ ÐAÑ œ ! e, derivando o integral indefinido,

96A demonstração que vamos apresentar é devida a J. Dieudonné, [7].


388 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

`
ÐH 1 ÐAÑÑ œ H\ÐÐ"?Ñ>?=ß1Ð=ß?ÑÑ Ð?Aß H" 1Ð=ß?Ñ ÐAÑÑÐ=  >Ñ 
(2) `? " Ð=ß?Ñ
 \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐAÑ.97
Consideremos, por outro lado, >, B, = e A estando fixados, a aplicação
2À Ò!ß "Ó Ä I, definida por
2Ð?Ñ œ ?\ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐAÑ.
Vem 2Ð!Ñ œ ! e, uma vez que ? È 1Ð=ß ?Ñ é solução da equação diferencial
s,
paramétrica definida por \
s Ð=ß ?ß 1Ð=ß ?ÑÑÑÐAÑ 
2w Ð?Ñ œ ?H\ÐÐ"?Ñ>?=ß1Ð=ß?ÑÑ Ð=  >ß \
 \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐAÑ,
s e a hipótese b) do enunciado,
donde, tendo em conta a definição de \
2w Ð?Ñ œ ?H\ÐÐ"?Ñ>?=ß1Ð=ß?ÑÑ Ð=  >ß \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐ=  >ÑÑÐAÑ 
œ  \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐAÑ œ
œ ?H\ÐÐ"?Ñ>?=ß1Ð=ß?ÑÑ ÐAß \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐAÑÑÐ=  >Ñ 
(3)
œ  \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐAÑ œ
œ H\ÐÐ"?Ñ>?=ß1Ð=ß?ÑÑ Ð?Aß 2Ð?ÑÑÐ=  >Ñ 
œ  \ ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐAÑ.
A ideia será agora mostrar que as condições (2) e (3) podem ser interpretadas
como afirmando que as aplicações de Ò!ß "Ó em I , que a ? associam
H" 1Ð=ß?Ñ ÐAÑ e 2Ð?Ñ, respectivamente, são soluções de uma mesma equação
diferencial ordinária linear, com coeficientes contínuos; se o virmos, o facto
de ambas aquelas soluções terem a condição inicial Ð!ß !Ñ implica que elas
são iguais, em particular
H0= ÐAÑ œ H" 1Ð=ß"Ñ ÐAÑ œ 2Ð"Ñ œ \Ð=ß 0 Ð=ÑÑÐAÑ,

o que mostrará que 0 é uma solução da equação diferencial total, e a


demonstração estará terminada.
A fim de interpretarmos convenientemente as condições (2) e (3),
comecemos, por uma razão técnica, por considerar um prolongamento de
classe G " , \˜ , de \ , a um aberto E˜ de K ‚ I , contendo E. Consideremos
então a aplicação contínua #À Ò!ß "Ó Ä I , definida por
#Ð?Ñ œ H" \˜ ÐÐ"?Ñ>?=ß1Ð=ß?ÑÑ Ð?AÑÐ=  >Ñ  \ÐÐ"  ?Ñ>  ?=ß 1Ð=ß ?ÑÑÐAÑ,

onde H" \˜ é a primeira derivada parcial de \˜ , e a aplicação contínua

97Reparar que, se tivéssemos suposto ^ de classe G # , 1 vinha também de classe G # , pelo


que (2) podia ser deduzido directamente a partir de (1), por derivação de ambos os
membros, tendo em conta a permutabilidade da ordem de derivação. É para podemos
apanhar o caso G " que tivémos que fazer esta volta um pouco mais longa.
§8. Equações diferenciais totais. Teorema de Frobenius 389

>À Ò!ß "Ó Ä PÐIà IÑ, definida por


>Ð?ÑÐDÑ œ H# \˜ ÐÐ"?Ñ>?=ß1Ð=ß?ÑÑ ÐDÑÐ=  >Ñ,

onde H# \˜ é a segunda derivada parcial de \˜ (trata-se da composição de


uma aplicação contínua de Ò!ß "Ó em PÐIà PÐKà IÑÑ com a aplicação linear
de PÐIà PÐKà IÑÑ em PÐIà IÑ, que a 0 − PÐIà PÐKà IÑÑ associa a
aplicação linear de I em I , definida por D È 0ÐDÑÐ=  >Ñ). Com estas
definições, as condições (2) e (3) podem escrever-se respectivamente
`
ÐH" 1Ð=ß?Ñ ÐAÑÑ œ # Ð?Ñ  >Ð?ÑÐH" 1Ð=ß?Ñ ÐAÑÑ,
`?
2w Ð?Ñ œ # Ð?Ñ  >Ð?ÑÐ2Ð?ÑÑ,
pelo que temos realmente duas soluções duma mesma equação diferencial
linear. …

À hipótese b), no enunciado do teorema de Frobenius, é usual dar o nome


de condição de integrabilidade da equação diferencial total definida por
\.

IV.8.6 Por analogia com o que se passava no caso das equações diferenciais
ordinárias, dizemos que a aplicação 0 À N Ä Q , definida no enunciado do
teorema de Frobenius, é a solução máxima da equação diferencial total
definida por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ. É, no entanto, importante ter
bem presente que a maximalidade se refere apenas às soluções definidas em
abertos estrelados relativamente a >.

É agora natural interrogarmo-nos sobre o que poderemos afirmar acerca


do modo como as soluções máximas dependem das condições iniciais. A
resposta vai ser a que se espera, e com justificação trivial, podendo, sem
aumento de trabalho, examinar-se mesmo o que se passa no caso em que a
equação diferencial total depende de um parâmetro.

IV.8.7 Sejam J , K e I espaços vectoriais de dimensão finita, o primeiro dos


quais será olhado como espaço de parâmetros e o segundo como domínio da
variável temporal. Sejam J! § J um conjunto arbitrário, Q § I uma
variedade sem bordo, E um aberto de J! ‚ K ‚ Q e \À E Ä PÐKà IÑ uma
aplicação de classe G " tal que, para cada ÐCß >ß BÑ − E, se verifiquem as
propriedades seguintes:
a) A aplicação linear \ÐCß >ß BÑ − PÐKà IÑ aplica K em XB ÐQ Ñ;
b) É simétrica a aplicação bilinear de K ‚ K em I , definida por
˜.
˜ È H\ÐCß>ßBÑ Ð!ß Aß \ÐCß>ßBÑ ÐAÑÑÐAÑ
ÐAß AÑ

Para cada ÐCß >ß BÑ − E, seja 0Cß>ßB À NCß>ßB Ä Q a solução máxima da equação
390 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

diferencial total definida pela aplicação \ÐCÑ À EÐCÑ Ä PÐKà IÑ (notação com
o significado habitual), com a condição inicial Ð>ß BÑ. Consideremos ainda
H § J! ‚ K ‚ K ‚ Q , o conjunto dos ÐCß =ß >ß BÑ tais que ÐCß >ß BÑ − E e
= − NCß>ßB , e =À H Ä Q , a solução geral paramétrica, definida por
=ÐCß =ß >ß BÑ œ 0Cß>ßB Ð=Ñ.

Tem-se então:
1) H é aberto em J! ‚ K ‚ K ‚ Q e =À H Ä Q é uma aplicação de classe
G ";
2) No caso em que a aplicação \À E Ä PÐKà IÑ é mesmo de classe G : ,
onde :   ", a aplicação =À H Ä Q é também de classe G : .
Dem: Consideremos J ‚ K ‚ K como novo espaço de parâmetros, seja E so
aberto em ÐJ! ‚ K ‚ KÑ ‚ Ò!ß "Ó ‚ Q , constituído pelos ÐÐCß =ß >Ñß ?ß BÑ tais
s E
que ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=ß BÑ − E, e seja \À s Ä I a aplicação de classe G "
definida por
s
\ÐÐCß =ß >Ñß ?ß BÑ œ \ÐCß Ð"  ?Ñ>  ?=ß BÑÐ=  >Ñ,
a qual é mesmo de classe G : , no caso em que isso acontece a \ . Sendo
= s Ä Q a solução geral da equação diferencial paramétrica, dependente
sÀ H
do tempo, definida por \ s , os resultados que conhecemos sobre equações
diferenciais ordinárias garantem que H s é aberto em

ÐJ! ‚ K ‚ KÑ ‚ Ò!ß "Ó ‚ Ò!ß "Ó ‚ Q ,


que =
s é de classe G " , e que =
s é mesmo de classe G : , no caso em que isso
acontece a \ . Do teorema de Frobenius podemos concluir que H vai ser o
s
conjunto dos ÐCß =ß >ß BÑ − J! ‚ K ‚ K ‚ Q tais que ÐÐCß =ß >Ñß "ß !ß BÑ − H
e que se vai ter
sÐÐCß =ß >Ñß "ß !ß BÑ,
=ÐCß =ß >ß BÑ œ =
de onde se deduzem imediatamente as conclusões 1) e 2) do enunciado. …

Como primeiro exemplo de aplicação do teorema de Frobenius, vamos ver


o que se pode dizer sobre a existência de solução para as equações
diferenciais holomorfas. Lembremos que, como dissemos em I.5.2, se I e
J são espaços vectoriais complexos de dimensão finita e se Y § I é um
aberto, diz-se que uma aplicação 0 À Y Ä J é ‚-diferenciável em B − Y
se 0 é diferenciável em B, no sentido das estruturas reais de I e J , e a
aplicação linear H0B À I Ä J é uma aplicação linear complexa. Tal como
dissemos em I.5.15, no caso em que I œ ‚, o facto de 0 ser ‚-diferen-
ciável em + − Y é equivalente à exitência do limite
0 ÐDÑ  0 Ð+Ñ
lim ,
DÄ+ D+
que se nota 0 w Ð+Ñ, tendo-se então
§8. Equações diferenciais totais. Teorema de Frobenius 391

0 w Ð+Ñ œ H0+ Ð"Ñß


H0+ Ð=Ñ œ =0 w Ð+Ñ.
Lembremos ainda que as aplicações holomorfas são as aplicações suaves
que são ‚-diferenciáveis em todos os pontos.

IV.8.8 Sejam I um espaço vectorial complexo de dimensão finita, E § ‚ ‚ I


um aberto e \À E Ä I uma aplicação holomorfa. Dado ÐD! ß AÑ − E, existe
então um aberto Y de ‚, com D! − Y , e uma aplicação holomorfa
0 À Y Ä I , verificando a condição inicial 0 ÐD! Ñ œ A e a equação diferencial
(dita equação diferencial holomorfa) 0 w ÐDÑ œ \ÐDß 0 ÐDÑÑ, para cada D − Y .
Além disso, duas soluções com aquela condição inicial coincidem em
qualquer subconjunto da intersecção dos seus domínios, que seja estrelado
relativamente a D .
Dem: Seja \Às E Ä P‚ Ђà IÑ a aplicação holomorfa, composta de \ com o
isomorfismo canónico I Ä P‚ Ђà IÑ. Uma vez que a aplicação bilinear
‚ ‚ ‚ Ä I, definida por
s ÐDßAÑ Ð?ß \
Ð?ß @Ñ È H\ s ÐDßAÑ Ð?ÑÑÐ@Ñ,

é mesmo uma aplicação bilinear complexa, podemos concluir, pelo lema


IV.8.4, que ela é uma aplicação bilinear simétrica. O teorema de Frobenius
garante a existência de um aberto Y de ‚, com D! − Y , e de uma aplicação
s 0 ÐDÑÑ, condição esta que mostra
0 À Y Ä I , com 0 ÐD! Ñ œ A e H0D œ \ÐDß
que 0 é holomorfa, e com 0 ÐDÑ œ \ÐDß 0 ÐDÑÑ. A afirmação de unicidade do
w

enunciado é uma consequência trivial do resultado de unicidade para as


equações diferenciais totais (IV.8.2). …

Lembremos que, se Q § I é uma variedade, e se \ ,] À Q Ä I são dois


campos vectoriais suaves (portanto \B ß ]B − XB ÐQ Ñ, para cada B − Q ),
define-se o seu parêntesis de Lie, que é um campo vectorial
Ò\ß ] ÓÀ Q Ä I definido por
Ò\ß ] ÓB œ H]B Ð\B Ñ  H\B Ð]B Ñ.
Costuma-se dizer que os campos vectoriais \ e ] comutam se se tem
Ò\ß ] ÓB œ !, para cada B − Q . Vamos agora ver, como aplicação do
teorema de Frobenius, que o facto de dois campos vectoriais comutarem é
equivalente a uma comutatividade local dos respectivos fluxos.

IV.8.9 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma variedade


sem bordo e \ß ] À Q Ä I dois campos vectoriais suaves. Sejam =À H Ä Q
e # À > Ä Q os fluxos de \ e ] , respectivamente, que sabemos serem
aplicações suaves, definidas em abertos de ‘ ‚ Q , contendo Ö!× ‚ Q .
Tem-se então:
a) Para cada B − Q , existe <  ! tal que estão bem definidas em Ó<ß <Ò# as
392 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

aplicações que a Ð=ß >Ñ associam respectivamente =Ð=ß # Ð>ß BÑÑ e # Ð>ß =Ð=ß BÑÑ;
b) Se B − Q e <  ! são tais que, quaisquer que sejam =ß > em Ó<ß <Ò,
=Ð=ß # Ð>ß BÑÑ œ # Ð>ß =Ð=ß BÑÑ, então Ò\ß ] ÓB œ !;
c) Se, para cada B − Q , Ò\ß ] ÓB œ !, então, para cada B − Q , existe <  !
tal que, sempre que =ß > − Ó<ß <Ò,
=Ð=ß # Ð>ß BÑÑ œ # Ð>ß =Ð=ß BÑÑ.98

Dem: Uma vez que H é aberto em ‘ ‚ Q e contém Ð!ß BÑ, concluímos que,
para cada = − ‘ suficientemente próximo de ! e cada B˜ − Q suficientemente
próximo de B, Ð=ß BÑ ˜ − H. Uma vez que > é um aberto de ‘ ‚ Q , contendo
Ð!ß BÑ, e que # é uma aplicação contínua, concluímos que, para cada > − ‘,
suficientemente próximo de !, tem-se Ð>ß BÑ − > e # Ð>ß BÑ é suficientemente
próximo de #Ð!ß BÑ œ B, donde, somando as duas conclusões, sempre que = e
> estão suficientemente próximos de !, =Ð=ß # Ð>ß BÑÑ está bem definido. Do
mesmo modo se vê que, se = e > estão suficientemente próximos de !, então
# Ð>ß =Ð=ß BÑÑ está bem definido. A propriedade a) fica assim estabelecida.
Mostremos agora que, dados B − Q e <  !, o facto de se ter, para cada
=ß > − Ó<ß <Ò,
(1) =Ð=ß # Ð>ß BÑÑ œ # Ð>ß =Ð=ß BÑÑ,
é equivalente à existência de uma aplicação suave :À Ó<ß <Ò# Ä Q ,
verificando as condições :Ð!ß !Ñ œ B e
`:
Ð=ß >Ñ œ \Ð:Ð=ß >ÑÑ,
(2) `=
`:
Ð=ß >Ñ œ ] Ð:Ð=ß >ÑÑ.
`>
Supondo, em primeiro lugar, a igualdade (1) verificada, podemos definir a
aplicação :, pondo
=Ð=ß # Ð>ß BÑÑ œ :Ð=ß >Ñ œ # Ð>ß =Ð=ß BÑÑ,

e então resulta, da primeira igualdade, ``=: Ð=ß >Ñ œ \Ð:Ð=ß >ÑÑ e, da segunda
igualdade, ``>: Ð=ß >Ñ œ ] Ð:Ð=ß >ÑÑ, tendo-se, evidentemente, :Ð!ß !Ñ œ B.
Suponhamos, reciprocamente, a existência de uma aplicação suave, :,
verificando :Ð!ß !Ñ œ B e as condições (2). Concluímos então, fazendo > œ !
na primeira igualdade de (2), que a aplicação = È :Ð=ß !Ñ é uma curva inte-
gral de \ , com a condição inicial Ð!ß BÑ, pelo que :Ð=ß !Ñ œ =Ð=ß BÑ, e
deduzimos então, da segunda igualdade de (2), que, para cada =, a aplicação
> È :Ð=ß >Ñ, é uma curva integral de ] com a condição inicial Ð!ß =Ð=ß BÑÑ,
donde :Ð=ß >Ñ œ # Ð>ß =Ð=ß BÑÑ; de modo simétrico :Ð=ß >Ñ œ =Ð=ß #Ð>ß BÑÑ, o
que implica, em particular, a igualdade (1).

98A conclusão de c) pode ser melhorada. Ver a propósito o exercício IV.37, no fim do
capítulo.
§8. Equações diferenciais totais. Teorema de Frobenius 393

Reparemos agora que as igualdades (2) são equivalentes à igualdade


s :Ð=ß >ÑÑ,
H:Ð=ß>Ñ œ \Ð

onde \À s Q Ä PБ# à IÑ é a aplicação suave definida por \ s B Ð/" Ñ œ \ÐBÑ e


s
\ B Ð/# Ñ œ ] ÐBÑ (lembrar que PБ à IÑ é isomorfo a I ‚ I , pelo
#

isomorfismo que aplica 0 em Ð0Ð/" Ñß 0Ð/# ÑÑ). Esta igualdade exprime o facto
de : ser uma solução da equação diferencial total (independente do tempo)
definida por \ s . O facto de \ e ] serem campos vectoriais, implica que cada
\s B aplica ‘# em XB ÐQ Ñ. Tendo em conta o teorema de Frobenius, a
existência de uma aplicação suave :, verificando :Ð!ß !Ñ œ B e as condições
(2), ficará assegurada desde que, para cada B − Q , seja simétrica a aplicação
bilinear ‘# ‚ ‘# Ä I , que a ÐAß AÑ ˜ associa H\ s B Ð\
s B ÐAÑÑÐAј , condição
que é equivalente à de exigir que as imagens de Ð/" ß /# Ñ e Ð/# ß /" Ñ coincidem;
uma vez que estas imagens são respectivamente H]B Ð\B Ñ e H\B Ð]B Ñ, a
condição equivale ainda à afirmação que Ò\ß ] ÓB œ H]B Ð\B Ñ  H\B Ð]B Ñ é
nulo. Do mesmo modo, a existência de uma aplicação suave, :, verificando
:Ð!ß !Ñ œ B e as condições (2) vai implicar, por IV.8.3, a simetria da
aplicação bilinear ÐAß AÑ ˜ È H\ s B Ð\
s B ÐAÑÑÐAÑ
˜ , o que, como vimos atrás,
implica que Ò\ß ] ÓB œ !. …

§9. Versão geométrica local do teorema de Frobenius.

Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I uma variedade


e suponhamos que I œ ÐIB ÑB−Q é um fibrado vectorial, com
IB § XB ÐQ Ñ (um subfibrado do fibrado tangente). Uma questão que se
põe naturalmente é a de saber se existirão variedades Q w § Q tais que,
para cada B − Q w , XB ÐQ w Ñ seja precisamente IB (diz-se então que Q w é
uma variedade integral de I ). Mais precisamente, vamos ver quando é
que, para cada B! − Q , existe uma variedade integral Q w , com B! − Q w .
O próximo resultado dá-nos uma condição necessária para que isso acon-
teça, e veremos em seguida, utilizando o teorema de Frobenius, que, no
caso em que a variedade Q não tem bordo, essa condição necessária é
também suficiente.

IV.9.1 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I e


I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § XB ÐQ Ñ. Chama-se variedade
integral de I a uma variedade Q w § Q tal que XB ÐQ w Ñ œ IB , para cada
B − Q w . Mais geralmente, chamaremos variedade semi-integral de I a uma
variedade Q w § Q tal que XB ÐQ w Ñ § IB , para cada B − Q w .
IV.9.2 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, munido de um produto
interno, e Q § I . Seja I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com
394 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

IB § XB ÐQ Ñ, e notemos 2B À XB ÐQ Ñ ‚ IB Ä I a segunda forma


fundamental de I . Seja B! − Q tal que exista uma variedade integral Q w de
I , com B! − Q w . Tem-se então 2B! ÐAß AÑ ˜ AÑ, quaisquer que sejam
˜ œ 2B! ÐAß
A,A˜ − IB! .
Dem: Sendo 1B À I Ä IB as projecções ortogonais, vem 2B! Ð?ß AÑ œ
H1B! Ð?ÑÐAÑ, pelo que, sendo Q w uma variedade integral de I , com
B! − Q w , concluímos imediatamente que a segunda forma fundamental de
Q w no ponto B! é a restrição de 2B! . O resultado é agora uma consequência
da simetria da segunda forma fundamental de uma variedade (cf. III.3.23). …
IV.9.3 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, que suporemos munido
de um produto interno, Q § I uma variedade e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado
vectorial, com IB § XB ÐQ Ñ. Dizemos que I verifica a condição de integra-
bilidade em B! se a segunda forma fundamental 2B! À XB! ÐQ Ñ ‚ IB! Ä I
verifica 2B! ÐAß AÑ ˜ AÑ, quaisquer que sejam A e A˜ em IB! , e que
˜ œ 2B! ÐAß
verifica a condição de integrabilidade se isso acontecer em cada B − Q .
IV.9.4 (Caso em que a condição de integrabilidade é trivial) Sejam I um
espaço vectorial de dimensão finita, que suporemos munido de um produto
interno, Q § I uma variedade e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com
IB § XB ÐQ Ñ, para cada B. Se IB! tem dimensão ", então que I verifica a
condição de integrabilidade em B! .
Dem: Sendo D uma base do espaço vectorial IB! de dimensão ", tem-se,
quaisquer que sejam Aß A˜ − IB! , A œ +D e A˜ œ ,D , donde
˜ AÑ .
˜ œ 2B! Ð+Dß ,DÑ œ +,2B! ÐDß DÑ œ 2B! Ð,Dß +DÑ œ 2B! ÐAß
2B! ÐAß AÑ …

IV.9.5 (A condição de integrabilidade é local) Sejam I um espaço vectorial de


dimensão finita, munido de um produto interno, Q § I uma variedade e
I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § XB ÐQ Ñ. Tem-se então:
a) Se I œ ÐIB ÑB−Q verifica a condição de integrabilidade em B! e se
Q w § Q é uma variedade tal que B! − Q w e, para cada B − Q w ,
IB § XB ÐQ w Ñ, então I ÎQ w verifica a condição de integrabilidade em B! .
b) Seja Y um de aberto de Q tal que I ÎY œ ÐIB ÑB−Y verifique a condição
de integrabilidade em B! − Y . Então I œ ÐIB ÑB−Q verifica a condição de
integrabilidade em B! .
Dem: A alínea a) resulta de que a segunda forma fundamental
2Bw ! À XB! ÐQ w Ñ ‚ IB! Ä I é trivialmente uma restrição da segunda forma
fundamental 2B! À XB! ÐQ Ñ ‚ IB! Ä I . A alínea b) resulta de que as segundas
formas fundamentais 2B! ß 2Bw ! À XB! ÐQ Ñ ‚ IB! Ä I , de I e de I ÎY
respectivamente, coincidem. …
IV.9.6 Sejam Q § I uma variedade, com I munido de produto interno, e
I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § XB ÐQ Ñ. Tem-se então que I
verifica a condição de integrabilidade em B! − Q se, e só se, quaisquer que
sejam as secções suaves \ e ] de I , o campo vectorial parêntesis de Lie
§9. Versão geométrica local do teorema de Frobenius 395

Ò\ß ] Ó verifica Ò\ß ] ÓB! − IB! . De facto, para garantir a condição de integra-
bilidade em B! − Q , basta mostrar que, sempre que Aß A˜ − IB! , existem
secções suaves \ e ] de I , com \B! œ A, ]B! œ A˜ e Ò\ß ] ÓB! − IB! . Em
particular, a condição de integrabilidade, não depende do produto interno de
I e podemos passar a referi-la sem supor fixado um produto interno em I .
Dem: Para cada B − Q , seja 1B À I Ä IB a projecção ortogonal. Sejam \ e
] duas secções suaves de I , que são, em particular, dois campos vectoriais
sobre Q . Tem-se, para cada B − Q , ]B œ 1B Ð]B Ñ, pelo que
H]B Ð\B Ñ œ H1B Ð\B ÑÐ]B Ñ  1B ÐH]B Ð\B ÑÑ œ
œ 2B Ð\B ß ]B Ñ  1B ÐH]B Ð\B ÑÑ.

Analogamente, H\B Ð]B Ñ œ 2B Ð]B ß \B Ñ  1B ÐH\B Ð]B ÑÑ, pelo que, subtrain-
do membro a membro as duas igualdades anteriores, e atendendo a que
Ò\ß ] ÓB œ H]B Ð\B Ñ  H\B Ð]B Ñ, ficamos com
(1) Ò\ß ] ÓB œ 2B Ð\B ß ]B Ñ  2B Ð]B ß \B Ñ  1B ÐÒ\ß ] ÓBÑ.
Se I verifica a condição de integrabilidade em B! , a igualdade (1) mostra
que Ò\ß ] ÓB! œ 1B! ÐÒ\ß ] ÓB! Ñ, pelo que Ò\ß ] ÓB! − IB! . Suponhamos que,
sempre Aß A˜ − IB! , existem secções suaves \ß ] de I , com \B! œ A,
]B! œ A˜ e Ò\ß ] ÓB! − IB! . Tem-se assim 1B! ÐÒ\ß ] ÓB! Ñ œ Ò\ß ] ÓB! pelo que
deduzimos de (1) que
˜ AÑ œ 2B! Ð\B! ß ]B! Ñ  2B! Ð]B! ß \B! Ñ œ !,
˜  2B! ÐAß
2B! ÐAß AÑ

o que mostra que I verifica a condição de integrabilidade em B! . Reparamos


por fim que, a hipótese que acabamos de fazer é necessariamente verificada
quando, quaisquer que sejam as secções suaves \ e ] de I , Ò\ß ] ÓB! − IB! ,
visto que, dados A e A˜ em IB! , existem sempre secções suaves \ e ] de I ,
tais que \B! œ A e ]B! œ A˜, por exemplo as definidas por \B œ 1B ÐAÑ e
]B œ 1B ÐAј. …
IV.9.7 (Corolário: Invariância por difeomorfismo) Sejam I e Is espaços
s s
vectoriais de dimensão finita, Q § I e Q § I duas variedades e
0À Q Ä Q s um difeomorfismo. Seja I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial,
s,
com IB § XB ÐQ Ñ e seja, para cada C − Q
s C œ H00 " ÐCÑ ÐI0 " ÐCÑ Ñ § XC ÐQ
I s Ñ.

Tem-se então que I s œ ÐI s C Ñ s é um fibrado vectorial (o transportado do


C−Q
primeiro por meio de 0 ) e I é o fibrado vectorial transportado de I s por meio
de 0 " . Além disso, I s œ ÐIs C Ñ s verifica a condição de integrabilidade em
C−Q
C! se, e só se, isso acontecer a I œ ÐIB ÑB−Q em 0 " ÐC! Ñ.
Dem: Dado C! − Q s , podemos considerar B! œ 0 " ÐC! Ñ − Q , um aberto Y
de Q , contendo B! , e um campo de referenciais [" ß á ß [8 de I ÎY . Sendo
s œ 0 ÐY Ñ, que é um aberto de Q
Y s , contendo C! , tem lugar o campo de
396 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

referenciais [ s "ß á ß [s 8 de I
s s definido por [ s 4 œ H00 " ÐCÑ Ð[4 " Ñ, o
ÎY C 0 ÐCÑ
que mostra que I s é efectivamente um fibrado vectorial. Para cada B − Q ,
tem-se Is 0 ÐBÑ œ H0B ÐIB Ñ e portanto H0 " ÐI s 0 ÐBÑ Ñ œ IB , o que mostra que
0 ÐBÑ
I é o fibrado vectorial transportado de I s por meio de 0 " . Suponhamos que
s s
I œ ÐI C ÑC−Qs verifica a condição de integrabilidade em C! − Q s . Sejam
\ œ Ð\B ÑB−Q e ] œ Ð]B ÑB−Q campos vectoriais suaves em Q tais que,
para cada B − Q , \B − IB e ]B − IB . Consideremos os correspondentes
campos vectoriais suaves \ se]s sobre Qs , definidos por
s C œ H00 " ÐCÑ Ð\0 " ÐCÑ Ñ, ]
\ s C œ H00 " ÐCÑ Ð]0 " ÐCÑ Ñ

s 0 ÐBÑ œ H0B Ð\B Ñ e ]


(cf. III.7.3), ou seja \ s 0 ÐBÑ œ H0B Ð\B Ñ, e lembremos que
se tem então
s ]
Ò\ß s Ó0 ÐBÑ œ H0B ÐÒ\ß ] ÓB Ñ

(cf. III.7.5). Tem-se assim, por I s verificar a condição de integrabilidade em


s
C! , H00 " ÐC! Ñ ÐÒ\ß ] Ó0 " ÐC! Ñ Ñ − I C! e portanto Ò\ß ] Ó0 " ÐC! Ñ − I0 " ÐC! Ñ , pelo
que I verifica a condição de integrabilidade em 0 " ÐC! Ñ. A recíproca resulta
de aplicar o que acabamos de deduzir ao difeomorfismo 0 " À Q s Ä Q. …
IV.9.8 (Lema topológico) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e
G § I um subconjunto conexo finito ou numerável. Tem-se então que
G œ g ou G tem um único elemento.
Dem: Suponhamos G Á g. Considerando um isomorfismo 0À I Ä ‘8 , que é
uma aplicação contínua, vem que 0ÐGÑ é um subconjunto conexo finito ou
numerável não vazio de ‘8 e portanto, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, sendo
14 À ‘8 Ä ‘ a projecção canónica, 14 Ð0ÐGÑÑ é um subconjunto conexo finito
ou numerável não vazio de ‘. uma vez que os conexos de ‘ são os
intervalos, concluímos que cada 14 Ð0ÐGÑÑ é um conjunto unitário e daqui
resulta que 0ÐGÑ, e portanto G , é um conjunto unitário. …
IV.9.9 (Versão geométrica local do teorema de Frobenius) Sejam I um espa-
ço vectorial de dimensão finita, Q § I uma variedade sem bordo, e
I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condi-
ção de integrabilidade. Fixemos um produto interno em I .
Para cada B! − Q , existe então um aberto Z de Q , com B! − Z , uma bola
aberta de centro !, Y , de IB! , uma bola aberta de centro !, [ , de um
complementar algébrico I w de IB! em XB! ÐQ Ñ, e um difeomorfismo
:À Y ‚ [ Ä Z , de modo que:
a) :Ð!ß !Ñ œ B! ;
b) Z é a união disjunta dos conjuntos Z- œ :ÐY ‚ Ö-×Ñ, com - − [ , cada
um dos quais é uma variedade integral de I , conexa e sem bordo. Em
particular Z! é uma variedade integral conexa e sem bordo, contendo B! .
c) Qualquer que seja a variedade conexa Q˜ § I˜ e a aplicação de classe G "
§9. Versão geométrica local do teorema de Frobenius 397

0 À Q˜ Ä Z tal que, para cada D − Q˜ , H0D ÐXD ÐQ˜ ÑÑ § I0 ÐDÑ , existe - − [


tal que 0 ÐQ˜ Ñ § Z- . Em particular, qualquer variedade semi-integral de I ,
que seja conexa e contida em Z , está contida num dos Z- .
d) Se G § Q é um subconjunto conexo contido numa união finita ou
numerável de conjuntos Z- , então G está contido num dos Z- .
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
1) Notemos 1B À I Ä IB as projecções ortogonais. Seja 0À Q Ä PÐIà IÑ a
aplicação suave definida por
0B œ M.I  ÐM.I  1B! Ñ ‰ 1B .

Tem-se 0B! œ M.I pelo que, uma vez que o conjunto dos isomorfismos é
aberto em PÐIà IÑ, vai existir um aberto Z w de Q , que supomos já ser
conexo, com B! − Z w , tal que, para cada B − Z w , 0B seja um isomorfismo de
I sobre I .
Uma vez que a restrição de 0B a IB vai coincidir trivialmente com a restrição
de 1B! a IB , concluímos, em particular, que, para cada B − Z w , a restrição de
1B! a IB é um isomorfismo de IB sobre IB! (reparar que se trata de espaços
vectoriais com a mesma dimensão por Z w ser conexo).
2) Seja agora \À Z w Ä PÐIB! à IÑ a aplicação suave definida pela condição
de \B À IB! Ä I ser a restrição a IB! do isomorfismo 0B" À I Ä I . Por
outras palavras, \B vai ser o isomorfismo de IB! sobre IB , inverso da
restrição de 1B! a IB . Vamos verificar que \ verifica as hipóteses do
teorema de Frobenius (cf. IV.8.5), onde o “espaço vectorial temporal” é IB!
e a equação é “independente do tempo”.
Subdem: Em primeiro lugar, para cada B − Z w , \B aplica IB! em
IB § XB ÐQ Ñ. Dados B − Z w e Aß A˜ − IB! , consideremos a identidade
A œ 0C Ð\C ÐAÑÑ, válida para cada C − Z w , e derivemo-la em B na direcção de
um vector ? − XB ÐQ Ñ. Obtemos então
! œ H0B Ð?ÑÐ\B ÐAÑÑ  0B ÐH\B Ð?ÑÐAÑÑ œ
œ ÐM.I  1B! ÑÐH1B Ð?ÑÐ\B ÐAÑÑ  0B ÐH\B Ð?ÑÐAÑÑ œ
œ ÐM.I  1B! ÑÐ2B Ð?ß \B ÐAÑÑÑ  0B ÐH\B Ð?ÑÐAÑÑ,

donde, tomando, em particular, ? œ \B ÐAÑ


˜ , e tendo em conta o facto de 0B
ser um isomorfismo,
˜
H\B Ð\B ÐAÑÑÐAÑ œ 0B" ÐÐM.I  1B! ÑÐ2B Ð\B ÐAÑß
˜ \B ÐAÑÑÑÑ,
pelo que a comutatividade do primeiro membro em A e A˜ é uma con-
sequência de I verificar a condição de integrabilidade.
3) O teorema de Frobenius (cf. IV.8.5) garante a existência, para cada
B − Z w , de um aberto YBw de IB! , com ! − YBw , e de uma aplicação suave
0B À YBw Ä Z w § Q tal que 0B Ð!Ñ œ B e que, para cada C − YBw , H0C œ \0 ÐCÑ .
De facto não tiramos directamente partido disso porque vamos necessitar do
resultado que nos clarifica o modo como YBw e 0B varia com a condição inicial
B, nomeadamente da versão de IV.8.7 sem parâmetros.
398 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

4) Fixemos um complementar algébrico I w de IB! em XB! ÐQ Ñ, por exemplo


o complementar ortogonal para o produto interno induzido pelo que conside-
ramos em I . Existe então um aberto [ ww de I w , com ! − [ ww , e uma
aplicação suave 1À [ ww Ä Q , com 1Ð!Ñ œ B! e H1! Ð@Ñ œ @, para cada
@ − Iw.
Subdem: Consideremos um aberto G de um espaço vectorial J de dimensão
finita, com ! − G , um aberto Z s de Q , com B! − Z s , e um difeomorfismo
s
<À G Ä Z , verificando <Ð!Ñ œ B! . Basta então tomar para 1 a restrição a
[ ww œ I w  H<! ÐGÑ de < ‰ ÐH<! Ñ" .
5) Aplicando IV.8.7, sem parâmetros, podemos considerar uma bola aberta
de centro !, Y w , de IB! , uma bola aberta de centro !, [ w , de I w , com
[ w § [ ww , e uma aplicação suave :À Y w ‚ [ w Ä Z w § Q , tal que
:Ð!ß -Ñ œ 1Ð-Ñ e H" :ÐCß-Ñ œ \:ÐCß-Ñ

(nas notações desse resultado, tomamos :ÐCß -Ñ œ =ÐCß !ß 1Ð-ÑÑ). Em


particular :Ð!ß !Ñ œ B! , H" :ÐCß-Ñ œ \:ÐCß-Ñ é um isomorfismo de IB! sobre
I:ÐCß-Ñ e H" :Ð!ß!Ñ é um isomorfismo de IB! sobre IB! .
6) Derivando a identidade :Ð!ß -Ñ œ 1Ð-Ñ, vemos que
H# :Ð!ß!Ñ Ð@Ñ œ H1! Ð@Ñ œ @,

pelo que H# :Ð!ß!Ñ é o isomorfismo identidade de I w sobre I w o que, somado


com o facto de H" :Ð!ß!Ñ ser um isomorfismo de IB! sobre IB! , implica que
H:Ð!ß!Ñ é um isomorfismo de IB! ‚ I w sobre XB! ÐQ Ñ œ IB! Š I w .
7) Aplicando o teorema da função inversa, podemos considerar uma bola
aberta de centro !, Y , de IB! , com Y § Y w , e uma bola aberta de centro !,
[ , de I w , com [ § [ w , de modo que a restrição :, de : a Y ‚ [ , seja um
difeomorfismo deste aberto sobre um aberto Z de Q o qual vai
evidentemente verificar B! − Z § Z w .
8) É claro que Z é a união disjunta dos conjuntos Z- œ :ÐY ‚ Ö-×Ñ, os
quais, sendo difeomorfos a Y , vão ser variedades, conexas e sem bordo.
Além disso, o facto de H" :ÐCß-Ñ ser um isomorfismo de IB! sobre I:ÐCß-Ñ
implica que X:ÐCß-Ñ ÐZ- Ñ œ I:ÐCß-Ñ , o que mostra que Z- é uma variedade
integral de I .
9) Seja agora Q˜ § I˜ uma variedade conexa e 0 À Q˜ Ä Z uma aplicação de
classe G " tal que, para cada D − Q˜ , H0D ÐXD ÐQ˜ ÑÑ § I0 ÐDÑ . O facto de, para
cada ÐCß -Ñ − Y ‚ [ , H:ÐCß-Ñ ser um isomorfismo de IB! ‚ I w sobre
X:ÐCß-Ñ ÐQ Ñ, que aplica IB! ‚ Ö!× sobre I:ÐCß-Ñ implica que, para cada
B − Z , HÐ:" ÑB é um isomorfismo de XB ÐQ Ñ sobre IB! ‚ I w que aplica IB
sobre IB! ‚ Ö!×. Segue-se daqui que, para cada D − Q˜ ,
HÐ:" ‰ 0 ÑD œ HÐ:" Ñ0 ÐDÑ ‰ H0D À XD ÐQ˜ Ñ Ä IB! ‚ I w

tem imagem contida em IB! ‚ Ö!× e portanto a derivada da composta de


§9. Versão geométrica local do teorema de Frobenius 399

:" ‰ 0 com a segunda projecção 1# À Y ‚ [ Ä [ é identicamente nula.


Esta última composta é assim uma aplicação constante, por Q˜ ser uma
variedade conexa, pelo que existe - − [ tal que :" ‰ 0 aplica Q˜ em
Y ‚ Ö-×, ou seja, 0 ÐQ˜ Ñ § Z- .
10) O facto de qualquer variedade semi-integral de I , que seja conexa e
contida em Z , estar contida num dos Z- resulta de aplicar o que concluímos
em 9) à inclusão dessa variedade em Q .
11) Suponhamos que G é um subconjunto conexo de Q , contido numa união
finita ou numerável de conjuntos Z- . Tem-se então que 1# Ð:" ÐGÑÑ é um
subconjunto conexo finito ou numerável de [ § I e portanto, pelo lema
topológico precedente, 1# Ð:" ÐGÑÑ é vazio ou constituído por um único
elemento, o que implica que G está contido num dos Z- . …

No sentido de nos podermos referir mais simplesmente às conclusões mais


importantes do resultado precedente, apresentamos a seguinte definição:

IV.9.10 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma


variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com
IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integrabilidade. Vamos dizer que
um aberto não vazio Z de Q é fatiável se, sendo ÖZ- ×-−[ o conjunto das
variedades integrais sem bordo conexas maximais de I ÎZ (as fatias de Z , em
inglês “slices”), verificam-se as seguintes condições:
a) As variedades Z- são disjuntas duas a duas e com união Z ;
b) Quaisquer que sejam a variedade conexa Q˜ e a aplicação de classe G "
0 À Q˜ Ä Z tal que, para cada D − Q˜ , H0D ÐXD ÐQ˜ ÑÑ § I0 ÐDÑ , existe - − [
tal que 0 ÐQ˜ Ñ § Z- . Em particular, qualquer variedade semi-integral de I ,
que seja conexa e contida em Z , está contida num dos Z- .
c) Qualquer subconjunto conexo G de Z que esteja contido numa união
finita ou numerável de conjuntos Z- , está contido num dos Z- .
IV.9.11 (Versão geométrica local simplificada do teorema de Frobenius)
Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma variedade
sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com IB § XB ÐQ Ñ,
verificando a condição de integrabilidade.
Para cada B! − Q , existe então um aberto conexo fatiável Z , com B! − Z .
Dem: Temos uma consequência imediata das conclusões de IV.9.9. …

EXERCÍCIOS

Ex IV.1 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, E § I um subcon-


junto e \ À E Ä I uma aplicação de classe G " . Seja = s Ä E o fluxo de \ .
sÀ H
Mostrar que:
400 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

s e se = − ‘, então Ð=ß =
a) Se Ð>ß BÑ − H s se, e só se, Ð=  >ß BÑ − H
sÐ>ß BÑÑ − H s
e, nesse caso,
=
sÐ=ß =
sÐ>ß BÑÑ œ =
sÐ=  >ß BÑ.

b) Se B − E, então Ð!ß BÑ − Hse= sÐ!ß BÑ œ B.


s
c) Se Ð>ß BÑ − H, então Ð>ß =
sÐ>ß BÑÑ − Hse= sÐ>ß BÑÑ œ B.
sÐ>ß =
Ex IV.2 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e A − I fixado. Sejam
\ ß ] À I Ä I as aplicações suaves definidas por \ ÐBÑ œ A e ] ÐBÑ œ B.
Determinar a solução geral e o fluxo de cada um dos campos vectoriais
\ e].
Ex IV.3 Sejam E § I e \ À E Ä I uma aplicação de classe G " . Diz-se que
B − E é um ponto singular de \ se se tem \B œ !. Mostrar que, se
0 À N Ä E é uma curva integral não constante de \ , então, para cada > − N ,
0 Ð>Ñ não é singular.
Ex IV.4 Sejam E § I e \ À E Ä I uma aplicação de classe G " . Seja 0 À N Ä E
a curva integral máxima de \ para uma certa condição inicial Ð+ß BÑ. Mostrar
que, se a aplicação 0 não é injectiva, então N œ ‘ e a aplicação 0 é periódica
(ou constante).
Ex IV.5 Seja I um espaço vectorial de dimensão finita, munido de um produto
interno, e seja \ À I Ä I a aplicação definida por \B œ ØBß BÙB. Para cada
A − I, determinar a curva integral máxima de \ , com a condição inicial
Ð!ß AÑ, reparando que, em geral, o seu domínio não é ‘. Sugestão: No caso
em que A Á !, procurar uma curva integral da forma 0 Ð>Ñ œ :Ð>ÑA.
Ex IV.6 Sejam E § I e \À E Ä I uma aplicação de classe G " e seja
=À H Ä E a respectiva solução geral. Sejam Es § E e \À s Ä I a restrição
s E
de \ . Mostrar que a solução geral = s s s
sÀ H Ä E, de \ , é uma restrição de =, e
s.
caracterizar os elementos de H
Ex IV.7 Enunciar as versões não paramétricas dos resultados IV.2.5 e IV.3.4 e
demonstrá-las a partir das respectivas versões paramétricas. Nota: Este exer-
cício é trivial (cf. IV.2.2) e o seu único objectivo é fazer sentir essa triviali-
dade.
Ex IV.8 Sejam Y § I um aberto e \À Y Ä I uma aplicação de classe G " . Para
cada B − Y , seja 0B À Ó+B ß ,B Ò Ä Y a curva integral máxima de \ , com a
condição inicial Ð!ß BÑ, onde as extremidades podem ser finitas ou infinitas.
Mostrar que as aplicações de Y em ‘ œ ‘  Ö_ß _×, que a cada B − Y
associam +B e ,B , são respectivamente semi-contínua superiormente e
semi-contínua inferiormente (isto é, são contínuas, quando se considera na
recta acabada a topologia superior e a topologia inferior, respectivamente).
Ex IV.9 Mostrar que os lemas IV.3.2 e IV.3.3 são consequências simples do
resultado fundamental IV.3.4.
Exercícios 401

Ex IV.10 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e \À I Ä I uma


aplicação de classe G " . Sejam > − ‘ e B − I , e seja 0 À Ó+ß ,Ò Ä I a curva
integral máxima de \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Mostrar que:
a) Se + é finito, então lim m0 Ð=Ñm œ _;
=Ä+
b) Se , é finito, então lim m0 Ð=Ñm œ _.
=Ä,
Sugestão: IV.3.6.
Ex IV.11 Seja I um espaço vectorial de dimensão finita, Y § I um aberto limi-
tado e \À Y Ä I uma aplicação de classe G " . Seja 0 À Ó+ß ,Ò Ä Y a curva
integral máxima de \ , para uma certa condição inicial Ð>ß BÑ. Mostrar que:
a) Se + é finito, então lim .Ð0 Ð=Ñß I Ï Y Ñ œ !;
=Ä+
b) Se , é finito, então lim .Ð0 Ð=Ñß I Ï Y Ñ œ !.
=Ä,
Sugestão: IV.3.6.
Ex IV.12 Seja N § ‘ um intervalo aberto, de extremidades finitas ou infinitas, e
seja \À N Ä Ó!ß _Ò uma aplicação suave. Dados + − ‘ e , − N , seja
0À s
N Ä N a curva integral máxima de \ , com a condição inicial Ð+ß ,Ñ.
Mostrar que 0 é um difeomorfismo estritamente crescente de s N sobre N .
Mostrar ainda que o difeomorfismo 0 " À N Ä sN é a curva integral máxima
do campo vectorial \À s s s
N Ä Ó!ß _Ò, definido por \Ð=Ñ œ \Ð0"Ð=ÑÑ , com a
condição inicial Ð,ß +Ñ.
Ex IV.13 Mostrar que, para todo o número real +, cujo módulo seja suficiente-
mente pequeno, existe uma aplicação 0 À Ò"!!!ß "!!!Ó Ä ‘, verificando a
equação diferencial
0 Ð>Ñ
0 w Ð>Ñ œ ,
"  + > 0 Ð>Ñ&
com a condição inicial 0 Ð1Ñ œ 1.
Ex IV.14 Sejam E § ‘ ‚ I e \À E Ä I uma aplicação de classe G : , com
:   ". Sejam Ð>ß BÑ − E e 0 À N Ä I a solução máxima da equação diferen-
cial definida por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Mostrar que 0 é uma
aplicação de classe G :" .
Ex IV.15 Enunciar a versão de IV.6.1 para as equações diferenciais sem
parâmetros e independentes do tempo, e reparar que esta versão é uma
consequência trivial daquele resultado geral.
Ex IV.16 Sejam Y § I um aberto e \À Y Ä I uma aplicação de classe G : ,
onde :   ". Seja = s Ä Y o fluxo de \ . Para cada > − ‘, seja Y> o
sÀ H
s.
conjunto dos B − Y tais que Ð>ß BÑ − H
a) Mostrar que cada Y> é um aberto de I , contido em Y (eventualmente
vazio);
402 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

b) Mostrar que, para cada >, existe um G : -difeomorfismo :> À Y> Ä Y> ,
definido por :> ÐBÑ œ =
sÐ>ß BÑ, difeomorfismo cujo inverso é :> .
Ex IV.17 Seja I um espaço vectorial de dimensão finita, munido de um produto
interno.
a) Mostrar que, dados <  !, B! − I e Bß C − F< ÐB! Ñ (bola aberta de centro
B! e raio <), existe um difeomorfismo 0 À I Ä I , tal que 0 ÐBÑ œ C e que,
para cada D  F< ÐB! Ñ, 0 ÐDÑ œ D .
Sugestão: Considerar um difeomorfismo do tipo referido no exercício ante-
rior.
b) Sejam Y um aberto conexo de I e Bß C − Y . Mostrar que existe um
compacto O § Y e um difeomorfismo 0 À Y Ä Y , tal que 0 ÐBÑ œ C e que,
para cada D  O , 0 ÐDÑ œ D .
c) Sejam J um espaço vectorial de dimensão finita e Q § J uma variedade
conexa sem bordo. Mostrar que, dados Bß C − Q , existe um compacto
O § Q e um difeomorfismo 0 À Q Ä Q tal que 0 ÐBÑ œ C e que, para cada
D  O , 0 ÐDÑ œ D . Sugestão: Utilizar a conclusão de b).
Ex IV.18 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Y § I um aberto.
Sejam +  , , finitos ou infinitos, e 0 À Ó+ß ,Ò Ä Y uma aplicação suave,
injectiva, com 0 w Ð>Ñ Á ! para cada >, e tal que, para cada compacto O § Y ,
existam +  +w  , w  , tais que 0 Ð>Ñ Â O , sempre que >  +w ou >  , w (isto
é, 0 Ð>Ñ convirja para o ponto do infinito de Y , quando > converge para qual-
quer das extremidades do domínio). Mostrar que existe então uma aplicação
suave \À Y Ä I , tal que 0 seja uma curva integral máxima de \ , para uma
certa condição inicial. Sugestão: Mostrar que 0 ÐÓ+ß ,ÒÑ é fechado em Y e que
0 é um difeomorfismo de Ó+ß ,Ò sobre 0 ÐÓ+ß ,ÒÑ.
Ex IV.19 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Y § I um aberto e
\À Y Ä I uma aplicação de classe G " (ou G # , se quisermos simplificar).
Seja = s Ä Y o fluxo de \ , que está definido num aberto H
sÀ H s de ‘ ‚ I .
Mostrar que, para cada A − I , a derivada parcial H# =sÐ>ßBÑ ÐAÑ verifica a
seguinte equação diferencial linear (chamada equação às variações), com a
condição inicial H# =
sÐ!ßBÑ ÐAÑ œ A:
`
H# = sÐ>ßBÑ ÐAÑÑ.
sÐ>ßBÑ ÐAÑ œ H\=sÐ>ßBÑ ÐH# =
`>

Ex IV.20 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e E § I um subcon-


junto. Chama-se grupo a um parâmetro de difeomorfismos de E a uma
aplicação suave :À ‘ ‚ E Ä E, verificando as condições :Ð!ß BÑ œ B e
:Ð=  >ß BÑ œ :Ð=ß :Ð>ß BÑÑ.
a) Mostrar que, se :À ‘ ‚ E Ä E é um grupo a um parâmetro de difeomor-
fismos de E, então, para cada > − ‘, tem lugar um difeomorfismo
:> À E Ä E, definido por :> ÐBÑ œ :Ð>ß BÑ. Mostrar que a aplicação, que a >
associa o difeomorfismo :> , é um morfismo do grupo aditivo ‘ no grupo dos
difeomorfismos de E.
Exercícios 403

b) Mostrar que, se Q § I é uma variedade sem bordo e se \À Q Ä I é um


campo vectorial suave, de suporte compacto, então o fluxo =
sÀ ‘ ‚ Q Ä Q
de \ , é um grupo a um parâmetro de difeomorfismos.
c) Mostrar que, se E § I , e se :À ‘ ‚ E Ä E é um grupo a um parâmetro
de difeomorfismos de E, então tem lugar uma aplicação suave \À E Ä I ,
definida por \B œ ``>: Ð!ß BÑ, que é um campo vectorial (no sentido que se
tem \B − XB ÐEÑ, para cada B − E), e que o fluxo de \ é então a aplicação
:.
d) Deduzir que, em particular, no caso em que Q é uma variedade compacta
e sem bordo, fica estabelecida uma correspondência biunívoca entre o con-
junto dos grupos a um parâmetro de difeomorfismos de Q e o conjunto dos
campos vectoriais suaves sobre Q .
Ex IV.21 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma varie-
dade sem bordo, \À Q Ä I um campo vectorial suave, :À Q Ä Ó!ß _Ò
uma aplicação suave e \À s Q Ä I o campo vectorial suave, definido por
\s B œ :ÐBÑ\B . Sejam > − ‘, B − Q e 0 À N Ä Q e s0 À N s Ä Q as curvas
integrais máximas de \ e de \ s , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Mostrar que
existe então um difeomorfismo estritamente crescente !À s N Ä N , tal que
!Ð>Ñ œ > e que s0 Ð=Ñ œ 0 Ð!Ð=ÑÑ, para cada = − N s (por outras palavras, as
curvas integrais de \ e de \ s são as mesmas, a menos de reparametrização).
Sugestão: Utilizando o exercício IV.12, considerar os difeomorfismos cres-
centes !À s N" Ä N e ! sÀ N" Ä sN , curvas integrais máximas de : ‰ 0 e de
: s
s ‰ 0 , onde :sÐCÑ œ "Î:ÐCÑ, com a condição inicial Ð>ß >Ñ; deduzir que 0 ‰ !
é uma restrição de s0 e que s0 ‰ ! s é uma restrição de 0 ; Sendo
Nw œ ! s" ÐN
s " Ñ § N" § N , mostrar que o difeomorfismo ! ‰ ! sÎN w de N w sobre
N , aplica > em > e tem derivada igual a ".
Ex IV.22 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma
variedade compacta sem bordo, N § ‘ um intervalo e \À N ‚ Q Ä I uma
aplicação de classe G " tal que, para cada Ð>ß BÑ − N ‚ Q , \Ð>ß BÑ − XB ÐQ Ñ.
Mostrar que, para cada > − N e B − Q , a solução máxima da equação dife-
rencial definida por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ, está definida em N .
Sugestão: Utilizar o método de IV.4.2 para reduzir o problema ao de uma
equação diferencial independente do tempo, à qual se aplicará IV.7.5. Para
fazer isso convirá que o intervalo N seja aberto; caso isso não aconteça,
começar por considerar um intervalo aberto s N ¨ N , tal que N seja fechado
em sN , e tomar em seguida um prolongamento de classe G " de \ a s N ‚ Q.
Ex IV.23 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma
variedade sem bordo, não obrigatoriamente compacta, N § ‘ um intervalo e
\À N ‚ Q Ä I uma aplicação de classe G " tal que \Ð>ß BÑ − XB ÐQ Ñ, para
cada Ð>ß BÑ − N ‚ Q . Sejam > − N , B − Q e 0 À M Ä Q a solução máxima
da equação diferencial definida por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ. Que
404 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

conclusão do tipo da de IV.7.5 se poderá tirar neste caso? Sugestão: A


mesma que para o exercício anterior.
Ex IV.24 Seja I um espaço vectorial de dimensão finita.
a) Mostrar que, para cada - − PÐIà IÑ, existe uma, e uma só, aplicação
suave :- À ‘ Ä PÐIà IÑ, verificando as condições :- Ð!Ñ œ M.I e, para cada
> − ‘, :-w Ð>Ñ œ - ‰ :- Ð>Ñ.
b) Mostrar que tem lugar uma aplicação suave
expÀ PÐIà IÑ Ä PÐIà IÑ,
definida por expÐ-Ñ œ :- Ð"Ñ e que se tem, para cada - − PÐIà IÑ e > − ‘,
:- Ð>Ñ œ expÐ>-Ñ, em particular, expÐ!Ñ œ M.I . (Nota: A expÐ-Ñ dá-se o
nome de exponencial do endomorfismo -).
c) Mostrar que, se - ‰ . œ . ‰ -, então expÐ-Ñ ‰ . œ . ‰ expÐ-Ñ, e portanto
também expÐ-Ñ ‰ expÐ.Ñ œ expÐ.Ñ ‰ expÐ-Ñ. Sugestão: Mostrar que se tem
:- Ð>Ñ ‰ . œ . ‰ :- Ð>Ñ, por ambos os membros verificarem uma mesma equa-
ção diferencial com a mesma condição inicial.
d) Mostrar que, se - ‰ . œ . ‰ -, então
expÐ-  .Ñ œ expÐ-Ñ ‰ expÐ.Ñ,
deduzindo, em particular, que expÐ-Ñ é um isomorfismo, tendo expÐ-Ñ
como isomorfismo inverso. Sugestão: Tal como anteriormente, verificar que
:-. Ð>Ñ œ :- Ð>Ñ ‰ :. Ð>Ñ.
e) Seja K um subgrupo do grupo KPÐIÑ œ P3=9 ÐIà IÑ, que seja uma
variedade fechada em KPÐIÑ. Mostrar que, se - − XM. ÐKÑ, então
expÐ-Ñ − K . Sugestão: Tal como no exercício II.33, verificar que K não tem
bordo. Provar então que, para cada > − ‘, :- Ð>Ñ − K, utilizando a versão de
IV.7.2 para equações diferenciais independentes do tempo.
f) Supondo conhecida a teoria das séries num espaço vectorial normado,
mostrar que se tem

expÐ-Ñ œ M.I  "


_
-8
.
8œ"
8x

Sugestão: Mostrar que se tem, mais geralmente,

:- Ð>Ñ œ M.I  "


_
>8 -8
.
8œ"
8x

Ex IV.25 (Equações diferenciais holomorfas) Sejam I e J espaços vectoriais


complexos de dimensão finita, N § ‘ um intervalo, Y um aberto de
J ‚ N ‚ I e \À Y Ä I uma aplicação suave tal que, para cada > − N , seja
holomorfa a aplicação \Ð>Ñ À YÐ>Ñ Ä I , definida por \Ð>Ñ ÐCß BÑ œ \ÐCß >ß BÑ,
no aberto YÐ>Ñ de J ‚ I , formado pelos pontos ÐCß BÑ tais que ÐCß >ß BÑ − Y .
Seja =À H Ä I a solução geral da equação diferencial paramétrica,
Exercícios 405

dependente do tempo, definida por \ , que sabemos ser uma aplicação suave,
definida num aberto H de J ‚ N ‚ N ‚ I . Mostrar que, para cada =ß > − ‘,
sendo HÐ=ß>Ñ o conjunto aberto de J ‚ I , formado pelos ÐCß BÑ tais que
ÐCß =ß >ß BÑ − H, é holomorfa a aplicação =Ð=ß>Ñ À HÐ=ß>Ñ Ä I , definida por
=Ð=ß>Ñ ÐCß BÑ œ =ÐCß =ß >ß BÑ. Sugestão: Sendo N w o intervalo de extremidades =
e >, verificar que a aplicação de N w em PÐJ ‚ Ià IÑ, que a ? associa
H=Ð?ß>Ñ ÐCß BÑ, é solução de uma certa equação diferencial linear.
Ex IV.26 (O fluxo e a derivada de Lie) Sejam Q § I uma variedade sem
bordo e \ œ Ð\B ÑB−Q um campo vectorial suave.
a) Sendo = s Ä Q o fluxo de \ , mostrar que, para cada = − ‘, o conjunto
sÀ H
Y= , dos B − Q tais que Ð=ß BÑ − H s, é um aberto de Q e tem lugar um
difeomorfismo := À Y= Ä Y= , definido por := ÐBÑ œ = sÐ=ß BÑ, difeomorfismo
cujo inverso é := .
Nota: Trata-se essencialmente duma repetição do que se fez no exercício
IV.16.
b) Seja - œ Ð-B ÑB−Q À X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ um morfismo linear suave tal que a
derivada de Lie _\ Ð-Ñ seja ! (cf. o exercício III.74). Mostrar que, para cada
= − ‘, o difeomorfismo := À Y= Ä Y= verifica a condição
HÐ:= ÑB Ð-B Ð?ÑÑ œ -:= ÐBÑ ÐHÐ:= ÑB Ð?ÑÑ,

para cada B − Y= e ? − XB ÐQ Ñ.
`
Sugestão: Lembrar que = sÐ!ß BÑ œ B e que `= =
sÐ=ß BÑ œ \=sÐ=ßBÑ . A condição
pretendida pode ser escrita na forma
H=
sÐ=ßBÑ Ð!ß -B Ð?ÑÑ œ -=sÐ=ßBÑ ÐH=
sÐ=ßBÑ Ð!ß ?ÑÑÞ

Fixados B − Q e ? − XB ÐQ Ñ, notar !Ð=Ñ − X=sÐ=ßBÑ ÐQ Ñ e " Ð=Ñ − X=sÐ=ßBÑ ÐQ Ñ


o primeiro e o segundo membros da igualdade precedente e verificar que se
tem !Ð!Ñ œ " Ð!Ñ œ -B Ð?Ñ assim como
!w Ð=Ñ œ H\=sÐ=ßBÑ Ð!Ð=ÑÑ, " w Ð=Ñ œ H\=sÐ=ßBÑ Ð" Ð=ÑÑ,

no segundo caso utilizando a hipótese _\ Ð-Ñ œ !. Eventualmente poderá ser


mais claro interpretar as igualdades anteriores para identificar duas curvas
integrais, com uma mesma condição inicial, do campo vectorial sobre a
variedade X ÐQ Ñ, que a ÐCß @Ñ associa Ð\C ß H\C Ð@ÑÑ.
c) Seja . œ Ð.B ÑB−Q À X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ Ä JQ um morfismo bilinear suave,
onde J é um espaço vectorial de dimensão finita, tal que a derivada de Lie
_\ Ð.Ñ seja ! (cf. o exercício III.75). Mostrar que, para cada = − ‘, o difeo-
morfismo := À Y= Ä Y= verifica a condição
.:= ÐBÑ ÐHÐ:= ÑB Ð?Ñß HÐ:= ÑB Ð@ÑÑ œ .B Ð?ß @Ñ,

para cada B − Y= e ?ß @ − XB ÐQ Ñ.
Sugestão: A igualdade anterior pode ser escrita na forma
406 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

.=sÐ=ßBÑ ÐH= sÐ=ßBÑ Ð!ß @ÑÑ œ .B Ð?ß @Ñ.


sÐ=ßBÑ Ð!ß ?Ñß H=

Fixados B − Q e ?ß @ − XB ÐQ Ñ, notar !Ð=Ñ − J o primeiro membro da


igualdade precedente e verificar que se tem !Ð!Ñ œ .B Ð?ß @Ñ e !w Ð=Ñ œ !.99
d) Seja ] œ Ð]B ÑB−Q outro campo vectorial suave, tal que o parêntesis de
Lie Ò\ß ] Ó seja !. Mostrar que, para cada = − ‘, o difeomorfismo
:= À Y= Ä Y= verifica, para cada B − Y= , a condição
HÐ:= ÑB Ð]B Ñ œ ]:= ÐBÑ ,

por outras palavras, que as restrições de ] a Y= e a Y= são := -relacionadas


(cf. III.7.1).
Sugestão: A igualdade anterior pode ser escrita na forma
sÐ=ßBÑ Ð!ß ]B Ñ œ ]=sÐ=ßBÑ .
H=

Fixado B − Q , notar !Ð=Ñ − X=sÐ=ßBÑ ÐQ Ñ e " Ð=Ñ − X=sÐ=ßBÑ ÐQ Ñ o primeiro e o


segundo membros da igualdade precedente, como na alínea b), verificar que
se tem !Ð!Ñ œ " Ð!Ñ œ ]B assim como
!w Ð=Ñ œ H\=sÐ=ßBÑ Ð!Ð=ÑÑ, " w Ð=Ñ œ H\=sÐ=ßBÑ Ð" Ð=ÑÑ,

no segundo caso utilizando a hipótese Ò\ß ] Ó œ !.


Nota: O paralelismo desta alínea com as anteriores, assim como o que se
passa adiante no exercício IV.28, é uma das razões pela qual ao parêntesis de
Lie Ò\ß ] Ó de dois campos vectoriais também se dá o nome de derivada de
Lie de ] na direcção de \ , escrevendo-se também Ò\ß ] Ó œ _\ Ð] Ñ.
Ex IV.27 (Generalização da versão independente do tempo e não paramé-
trica do exercício IV.25) Sejam I um espaço vectorial real de dimensão
finita, Q § I uma variedade sem bordo, munida de uma estrutura quase
complexa suave ÐNB ÑB−Q , e \ œ Ð\B ÑB−Q um campo vectorial holomorfo
(cf. o exercício III.99). Mostrar que, para cada = − ‘, o difeomorfismo
:= À Y= Ä Y= entre os abertos Y= e Y= de Q , referido na alínea a) do
exercício IV.26, é um difeomorfismo holomorfo. Nota: O objectivo deste
exercício é apenas enunciar o resultado, na medida em que não temos mais
do que um caso particular da alínea b) do exercício IV.26.
Ex IV.28 (Recíproco do exercício IV.26) Sejam Q § I uma variedade sem
bordo e \ œ Ð\B ÑB−Q um campo vectorial suave, com fluxo = s Ä Q.
sÀ H
Seja, para cada = − ‘, Y= o aberto de Q constituído pelos B tais que
s e := À Y= Ä Y= o difeomorfismo definido por := ÐBÑ œ =
Ð=ß BÑ − H sÐ=ß BÑ.
a) Sejam - œ Ð-B ÑB−Q À X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ um morfismo linear suave, B − Q
e &  ! tais que, para cada = − ‘ com l=l  &, se tenha B − Y= e

99Nesta alínea não intervêm equações diferenciais, mas enunciamo-la para sublinhar o
paralelismo com as alíneas b) e d).
Exercícios 407

HÐ:= ÑB Ð-B Ð?ÑÑ œ -:= ÐBÑ ÐHÐ:= ÑB Ð?ÑÑ,

para cada ? − XB ÐQ Ñ. Mostrar que _\ Ð-ÑB œ !.


Sugestão: Escrever a igualdade anterior na forma
H=
sÐ=ßBÑ Ð!ß -B Ð?ÑÑ œ -=sÐ=ßBÑ ÐH=
sÐ=ßBÑ Ð!ß ?ÑÑ

e derivar ambos os membros desta igualdade como funções de = para = œ !.


b) Sejam . œ Ð.B ÑB−Q À X ÐQ Ñ ‚ X ÐQ Ñ Ä JQ um morfismo bilinear suave,
onde J é um espaço vectorial de dimensão finita, B − Q e &  ! tais que,
para cada = − ‘ com l=l  &, se tenha B − Y= e
.:= ÐBÑ ÐHÐ:= ÑB Ð?Ñß HÐ:= ÑB Ð@ÑÑ œ .B Ð?ß @Ñ,

quaisquer que sejam ?ß @ − XB ÐQ Ñ. Mostrar que _\ Ð.ÑB œ !.


Sugestão: Análoga à anterior.
c) Sejam ] œ Ð]B ÑB−Q outro campo vectorial, B − Q e &  ! tais que, para
cada = − ‘ com l=l  &, se tenha B − Y= e
HÐ:= ÑB Ð]B Ñ œ ]:= ÐBÑ .

Mostrar que Ò\ß ] ÓB œ !.


Sugestão: Análoga à anterior.
Ex IV.29 Sejam Y um aberto de ‘78 , identificado a ‘7 ‚ ‘8 , e consideremos
7 ‚ 8 funções de classe G " , 13! À Y Ä ‘, onde " Ÿ 3 Ÿ 8 e " Ÿ ! Ÿ 7.
Dizer quais as condições que devem verificar as derivadas parciais
`13!
Ð=" ß á ß =7 ß C" ß á ß C8 Ñ
`="
`13!
Ð=" ß á ß =7 ß C" ß á ß C8 Ñ,
`C4

de modo a ser possível garantir a existência, para cada condição inicial


Ð>" ß á ß >7 ß B" ß á ß B8 Ñ − Y , de um aberto Z de ‘7 , com Ð>" ß á ß >7 Ñ − Z , e
de funções de classe G " , 0 3 À Z Ä ‘, onde " Ÿ 3 Ÿ 8, verificando as
condições iniciais 0 3 Ð>" ß á ß >7 Ñ œ B3 e as equações diferenciais totais
`0 3
Ð=" ß á ß =7 Ñ œ 1!3 Ð=" ß á ß =7 ß 0 " Ð=" ß á ß =7 Ñß á ß 0 8Ð=" ß á ß =7ÑÑ.
`=!
Nota: Classicamente, era neste quadro que se enunciava o teorema de Frobe-
nius.
Ex IV.30 Enunciar a forma simplificada do teorema de Frobenius, para equações
diferenciais totais independentes do tempo, isto é, para equações do tipo
H0> œ ^Ð0 Ð>ÑÑ, notando que esse enunciado é uma consequência trivial da
versão geral conhecida.
408 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

Ex IV.31 Sejam K e I espaços vectoriais de dimensão finita, Y um aberto de K


e \À Y Ä PÐKà IÑ uma aplicação de classe G " . Dizer qual a condição que
se deve impôr a \ , para assegurar a existência, para cada > − Y e B − I , de
um aberto Z de K, com > − Z § Y , e de uma aplicação 0 À Z Ä I ,
verificando 0 Ð>Ñ œ B e, para cada = − Z , H0= œ \Ð=Ñ (uma primitiva de
\).
Verificar como se pode enunciar, no caso em que K œ ‘7 e I œ ‘, um
resultado equivalente a este, em que a aplicação \ é substituída por 7
aplicações de classe G " de Y em ‘, que se pede virem a ser, localmente, as
derivadas parciais de uma certa aplicação 0 .
Ex IV.32 Sejam K e I espaços vectoriais de dimensão finita, Q § I uma
variedade compacta e sem bordo e \À Q Ä PÐKà IÑ uma aplicação de
classe G " tal que, para cada B − Q , ^B aplique K em XB ÐQ Ñ e seja
simétrica a aplicação bilinear de K ‚ K em I , que a ÐAß AÑ ˜ associa
H\B Ð\B ÐAÑÑÐAÑ ˜ . Mostrar que, para cada > − K e B − Q , a solução máxima
da equação diferencial total definida por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ,
está definida em K .
Ex IV.33 Sejam K e I espaços vectoriais de dimensão finita, Q § I uma
variedade compacta e sem bordo, N § K um aberto estrelado relativamente a
um certo > − N , e \À N ‚ Q Ä PÐKà IÑ uma aplicação de classe G " tal
que, para cada Ð=ß BÑ − N ‚ Q , ^Ð=ßBÑ aplique K em XB ÐQ Ñ e seja simétrica
a aplicação bilinear K ‚ K Ä I ,
˜.
˜ È H^Ð=ßBÑ ÐAß ^Ð=ßBÑ ÐAÑÑÐAÑ
ÐAß AÑ

Mostrar que, para cada B − Q , a solução máxima da equação diferencial


total definida por \ , com a condição inicial Ð>ß BÑ, está definida em N .
Sugestão: Utilizar o teorema de Frobenius e o exercício IV.22.
Ex IV.34 Sejam K e I espaços vectoriais de dimensão finita, Q § I uma
variedade sem bordo, e \À Q Ä PÐKà IÑ uma aplicação de classe G " tal
que, para cada B − Q , ^B aplique K em XB ÐQ Ñ e seja simétrica a aplicação
bilinear K ‚ K Ä I , definida por ÐAß AÑ ˜ È H\B Ð\B ÐAÑÑÐAј . Mostrar
que, para cada > − K, e cada compacto O § Q , existe um aberto N de K ,
estrelado relativamente a >, tal que, para cada B − O , existe uma solução
0 À N Ä Q da equação diferencial definida por \ , com a condição inicial
Ð>ß BÑ. Sugestão: Utilizar a versão de IV.8.7 sem parâmetros.
Ex IV.35 (Teorema de Frobenius para equações lineares) Sejam K, L e I
espaços vectoriais de dimensão finita, 1À L ‚ I Ä I uma aplicação
bilinear, N § K um aberto estrelado relativamente a um certo > − N e
>À N Ä PÐKà LÑ e # À N Ä PÐKà IÑ duas aplicações de classe G " tais que,
para cada Ð=ß BÑ − N ‚ I , seja simétrica a aplicação bilinear K ‚ K Ä I ,
definida por
˜ È 1ÐH>= ÐAÑÐAÑß
ÐAß AÑ ˜ BÑ  H#= ÐAÑÐAÑ ˜ 1Ð>=ÐAÑß BÑ  #=ÐAÑÑ.
˜  1Ð>= ÐAÑß
Exercícios 409

Mostrar que, para cada B − I existe uma, e uma só, aplicação de classe G "
0 À N Ä I tal que 0 Ð>Ñ œ B e que, para cada = − N e A − K ,
H0= ÐAÑ œ 1Ð>= ÐAÑß 0 Ð=ÑÑ  #= ÐAÑ
(a esta última igualdade pode-se dar o nome de equação diferencial total
linear). Sugestão: Aplicar o teorema de Frobenius IV.8.5, tendo em conta a
caracterização explícita que se dá aí do domínio da solução máxima.
Ex IV.36 Sejam Q § I uma variedade sem bordo, \À Q Ä I um campo vec-
torial suave e = s Ä Q o respectivo fluxo. Sejam, para cada = − ‘, Y= o
sÀ H
aberto de Q constituído pelos B − Q tais que Ð=ß BÑ − Hs e := À Y= Ä Y= o
difeomorfismo definido por := ÐBÑ œ =s Ð=ß BÑ , cujo inverso é := (cf. o
exercício IV.26).
a) Mostrar que, se ] À Q Ä I é um campo vectorial suave, então, para cada
B − Q,
H:= Ð:= ÐBÑÑÐ]:= ÐBÑ Ñ  ]B
Ò\ß ] ÓB œ lim ,
=Ä! =
o que apresenta o parêntesis de Lie Ò\ß ] ÓB como uma espécie de derivada
do campo vectorial ] (por este motivo, a Ò\ß ] ÓB também se costuma dar o
nome de derivada de Lie do campo vectorial ] na direcção de \ ).
Reencontrar a partir daqui a conclusão da alínea c) do exercício IV.28.
Sugestão: Uma vez que \ e ] admitem prolongamentos suaves a um aberto
de I contendo Q , pode-se já supor que Q é um aberto de I . A existência e
o valor do limite considerado são equivalentes a afirmar que se tem
1w Ð!Ñ œ Ò\ß ] ÓB , onde
sÐ=ß=sÐ=ßBÑÑ Ð!ß ]=sÐ=ßBÑ Ñ.
1Ð=Ñ œ H:= Ð:= ÐBÑÑÐ]:= ÐBÑ Ñ œ H=

Calcular a derivada 1w Ð!Ñ por derivação do último membro da fórmula ante-


rior, lembrando que H# = sÐ!ßBÑ é uma aplicação bilinear simétrica e reparando
que, B estando fixado, tem-se
sÐ!ßBw Ñ Ð"ß \B Ñ œ \Bw  \B .
H=

b) Sob as hipóteses da alínea a), mostrar que se tem, mais geralmente, para
s,
cada > − ‘ tal que Ð>ß BÑ − H
H:=> Ð:=> ÐBÑÑÐ]:=> ÐBÑ Ñ  H:> Ð:> ÐBÑÑÐ]:> ÐBÑ Ñ
lim œ
=Ä! =
œ H:> Ð:> ÐBÑÑÐÒ\ß ] Ó:> ÐBÑ Ñ.

Reencontrar a partir daqui a conclusão da alínea d) do exercício IV.26.


Sugestão: Aplicar a alínea anterior, com :> ÐBÑ no lugar de B e atender a
igualdades do tipo :=> œ := ‰ :> (válida num vizinhança aberta de B),
aplicando em seguida a ambos os membros a aplicação linear H:> Ð:> ÐBÑÑ.
410 Cap. IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades

Para a última afirmação, verificar que a aplicação 1 na sugestão de a) tem


derivada identicamente nula.
Ex IV.37 Demonstrar a seguinte versão mais forte da conclusão c) de IV.8.9:
Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma variedade sem
bordo, e \ß ] À Q Ä I dois campos vectoriais suaves, tais que Ò\ß ] ÓB œ !,
para cada B − Q . Sejam = sÄQ es
sÀ H s Ä Q os fluxos de \ e ] , res-
#À >
pectivamente. Sejam B − Q e =ß > − ‘, tais que, para cada @ no intervalo
fechado de extremidades ! e >, = # Ð@ß BÑÑ esteja definido. Mostrar que se
sÐ=ß s
tem então = sÐ=ß s
# Ð>ß BÑÑ œ s sÐ=ß BÑÑ, em particular que este segundo
# Ð>ß =
membro está bem definido. Sugestão: Utilizar a alínea b) do exercício IV.36
para verificar que a aplicação 0 Ð@Ñ œ = sÐ=ß s# Ð@ß BÑÑ é uma curva integral de ]
com a condição inicial 0 Ð!Ñ œ = s Ð=ß BÑ .
Ex IV.38 Seja Q § I uma variedade sem bordo, com dimensão 7. Dada uma
parametrização :À Z Ä Y de Q , isto é, um difeomorfismo, com Z aberto
num espaço vectorial J de dimensão 7 e Y aberto de Q , e fixada uma base
A" ß á ß A7 de J , podem-se considerar então os campos vectoriais
[" ß á ß [7 À Y Ä I , definidos pela condição de cada campo vectorial de
valor constante A3 sobre Z ser :-relacionado com [3 (cf. III.7.3). Diz-se
então que os [3 são os campos vectoriais sobre Y , associados à parame-
trização : e à base escolhida em J (no caso em que J œ ‘7 e a base é a
`
canónica, é frequente utilizar a notação `B 3
para o campo vectorial [3 ).
a) Nas condições anteriores, mostrar que se tem Ò[3 ß [4 Ó œ !, quaisquer que
sejam 3 e 4, e que, para cada B − Y , os vectores [" ÐBÑß á ß [7 ÐBÑ
constituem uma base de XB ÐQ Ñ.
b) Sejam ^" ß á ß ^7 À Q Ä I 7 campos vectoriais suaves, tais que,
quaisquer que sejam 3 e 4, Ò^3 ß ^4 Ó œ !. Seja B − Q tal que os vectores
^3 ÐBÑ − XB ÐQ Ñ constituam uma base de XB ÐQ Ñ. Dado um espaço vectorial
J , de dimensão 7, com uma base fixada A" ß á ß A7 , mostrar que existe um
aberto Z de J , com ! − Z , um aberto Y de Q , com B − Y , e um difeo-
morfismo :À Z Ä Y , tal que :Ð!Ñ œ B e que as restrições dos ^3 a Y sejam
os campos vectoriais associados à parametrizção : e à base fixada em J .
Ex IV.39 Verificar que a condição de integrabilidade da versão geométrica do
teorema de Frobenius (cf. IV.9.3) encontra-se automaticamente verificada,
no caso em que o fibrado vectorial I tem dimensão ".
Ex IV.40 (Generalização das alínea b) do exercício IV.38) Sejam Q § I uma
variedade sem bordo, com dimensão 7, 5 Ÿ 7 e ^" ß á ß ^5 À Q Ä I 5
campos vectoriais suaves, tais que, quaisquer que sejam 3 e 4, Ò^3 ß ^4 Ó œ !.
Seja B! − Q , tal que os vectores ^3 ÐB! Ñ − XB! ÐQ Ñ sejam linearmente
independentes. Mostrar que existe um aberto Z de ‘7 , com ! − Z , um
aberto Y de \ , com B! − Y , e uma parametrização :À Z Ä Y , com
:Ð!Ñ œ B! , de modo que as restrições dos ^3 a Y sejam os primeiros 5
`
campos vectoriais `B 3
associados à parametrização :. Sugestão: Notar K um
Exercícios 411

complementar algébrico em XB! ÐQ Ñ do subespaço vectorial gerado pelos


^3 ÐB! Ñ, com " Ÿ 3 Ÿ 5 . Por um processo semelhante ao utilizado na parte 4)
da demonstração de IV.9.9, mostrar que se pode considerar um aberto [ w de
‘75 , com ! − [ w , e uma aplicação suave 1À [ w Ä Q , tal que 1Ð!Ñ œ B! e
que H1! seja um isomorfismo de ‘75 sobre K. Utilizar IV.8.7 para garantir
a existência de um aberto [ de ‘5 , com ! − [ , de um aberto [ s w de ‘75 ,
com ! − [ s w § [ w , e de uma aplicação suave :À [ ‚ [ s w Ä Q tal que,
w
para cada 2 − [ s , a aplicação C È :ÐCß DÑ tome o valor 1ÐDÑ para C œ ! e,
para cada 3 Ÿ 5 , tenha derivada na direcção de /3 igual a ^3 Ð:ÐCß DÑÑ.
Mostrar, em seguida, que a derivada de : em Ð!ß !Ñ é um isomorfismo.
CAPÍTULO V
Aplicações Geométricas
das Equações Diferenciais

§1. Transporte paralelo.

Definimos na secção III.6 as secções paralelas de um fibrado vectorial,


com as fibras contidas num espaço euclidiano ou hermitiano, como sendo
aquelas cuja derivada covariante é identicamente nula e dissemos que
essas secções podiam ser olhadas intuitivamente como jogando o msmo
papel que as secções localmente constantes dos fibrados vectoriais
constantes. Ficou então em aberto a questão de sabermos em que condi-
ções é que, dado um vector numa das fibras, podemos garantir a
existência de uma secção paralela tomando esse valor na fibra em questão.
O resultado que segue vai responder a essa questão para os fibrados
vectoriais cuja base é um intervalo de ‘.

V.1.1 Sejam N § ‘ um intervalo, I um espaço euclidiano ou hermitiano e


I œ ÐI> Ñ>−N um fibrado vectorial, com I> § I . Dados + − N e A − I+ ,
existe então uma, e uma só, secção paralela [ œ Ð[> Ñ>−N de I , tal que
[+ œ A .
Dem: Podemos evidentemente afastar já o caso trivial em que N œ Ö+×.
Dizer que uma secção suave [ œ Ð[> Ñ>−N de I é paralela é dizer que, para
cada > − N , f[> œ ! ou ainda, uma vez que X> ÐN Ñ œ ‘, que
! œ f[> Ð"Ñ œ H[> Ð"Ñ  2> Ð"ß [> Ñ œ H[> Ð"Ñ  H 1> Ð"ÑÐ[> Ñ,
onde 1> À I Ä I> é a projecção ortogonal e 2> é a segunda forma funda-
mental. Por outras palavras, considerando a derivada 1w œ Ð1>w Ñ>−N , que é uma
aplicação suave de N em PÐIà IÑ, a secção suave [ de I é paralela se, e só
se, considerada como aplicação suave de N em I , verifica a equação diferen-
cial linear [>w œ 1>w Ð[> Ñ. O teorema de existência e unicidade de solução
para equações diferenciais lineares (IV.5.3) garante a existência e unicidade
de uma aplicação suave [ de N em I , verificando [>w œ 1>w Ð[> Ñ e a
condição inicial [+ œ A. Ficou portanto já provada a afirmação de
unicidade no enunciado e tudo o que temos que ver é que a aplicação [ é
uma secção de I , isto é, que verifica [> − I> , para cada > − N .
Consideremos para isso a aplicação suave ^ œ Ð^> Ñ>−N de N em I , definida
por ^> œ [>  1> Ð[> Ñ. Trata-se de uma secção suave do fibrado vectorial
I ¼ œ ÐI>¼ Ñ>−N , visto que ^> é a projecção ortogonal de [> sobre I>¼ .
414 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

Tem-se
^>w œ [>w  1>w Ð[> Ñ  1> Ð[>w Ñ œ 1> Ð[>w Ñ − I>
pelo que, uma vez que f^> Ð"Ñ é a projecção ortogonal de ^>w sobre a fibra
I>¼ , concluímos que f^> Ð"Ñ œ ! e portanto que ^ é uma secção paralela do
fibrado vectorial I ¼ . Uma vez que ^+ œ A  1+ ÐAÑ œ !, a parte de unici-
dade já demonstrada implica que a secção ^ é identicamente nula, portanto,
para cada > − N , [> œ 1> Ð[> Ñ − I> . …

O resultado precedente, sobre fibrados vectoriais cuja base é um intervalo


de ‘ não é válido para fibrados vectoriais arbitrários, como reconhecemos
imediatamente se nos lembrarmos do que vimos em III.6.12 (é claro que,
para fibrados cuja base é um intervalo de ‘, o tensor de curvatura é iden-
ticamente nulo, o que tinha aliás já sido visto em III.6.2). Vamos agora
verificar que, quando a base é uma variedade conexa, pode-se aproveitar o
resultado anterior para a conclusão de unicidade.

V.1.2 Sejam Q § K uma variedade conexa, I um espaço euclidiano ou hermi-


tiano e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § I . Sejam [ e ^ duas
secções paralelas de I , tais que, para um certo B! − Q , [B! œ ^B! . Tem-se
então [ œ ^ .
Dem: Seja B − Q arbitrário. Tendo em conta II.6.23, podemos considerar
uma aplicação suave 0 À Ò!ß "Ó Ä Q , tal que 0 Ð!Ñ œ B! e 0 Ð"Ñ œ B. Conside-
rando então o fibrado vectorial 0 ‡ I œ ÐI0 Ð>Ñ Ñ>−Ò!ß"Ó , cuja base é o intervalo
Ò!ß "Ó de ‘, deduzimos imediatamente de III.3.5 que 0 ‡ [ e 0 ‡ ^ são duas
secções paralelas de 0 ‡ I , que verificam
Ð0 ‡ [ Ñ! œ [B! œ ^B! œ Ð0 ‡ ^Ñ! ,

o que, pelo resultado precedente, implica que 0 ‡ [ œ 0 ‡ ^ , em particular,


[B œ Ð0 ‡ [ Ñ" œ Ð0 ‡ ^Ñ" œ ^B .
Concluímos assim, tendo em conta a arbitrariedade de B, que [ œ ^ . …
V.1.3 Sejam N § ‘ um intervalo, I um espaço euclidiano ou hermitiano e
I œ ÐI> Ñ>−N um fibrado vectorial, com I> § I . Dados + e , em N tem então
lugar um isomorfismo ortogonal 0,ß+ À I+ Ä I, , definido por 0,ß+ ÐAÑ œ [, ,
onde [ œ Ð[> Ñ>−N é a única secção paralela de I , que verifica [+ œ A.
Dizemos então que 0,ß+ ÐAÑ é o vector de I, obtido por transporte paralelo a
partir do vector A − I+ . Tem-se que 0+ß+ À I+ Ä I+ é a aplicação identidade
e, dados +ß ,ß - − N , 0-ß, ‰ 0,ß+ œ 0-ß+ ; em particular 0+ß, é o isomorfismo
inverso de 0,ß+ .
Dem: O facto de a aplicação 0,ß+ ser linear é uma consequência de que, tendo
em conta a alínea a) de III.3.4, a soma de secções paralelas é uma secção
paralela e o produto de uma constante por uma secção paralela é uma secção
§1. Transporte paralelo 415

paralela. Tendo em conta a alínea c) de III.3.4, dados Aß A s − I+ e as


correspondentes secções paralelas [ e [ s de I , que verificam [+ œ A e
[s+ œ A s > Ù,
s, tem-se que a aplicação suave de N em ‘, que a > associa Ø[> ß [
tem derivada identicamente nula e é portanto constante; em particular
Ø0,ß+ ÐAÑß 0,ß+ ÐAÑÙ s , Ù œ Ø[+ ß [
s œ Ø[, ß [ s + Ù œ ØAß AÙ
s,
o que mostra que a aplicação linear 0,ß+ é ortogonal. O facto de 0+ß+ ser a
identidade de I+ é imediato, assim como o é o de se ter 0-ß, ‰ 0,ß+ œ 0-ß+ e
deduzimos daqui que 0+ß, ‰ 0,ß+ é a identidade de I+ e que 0,ß+ ‰ 0+ß, é a
identidade de I, , o que mostra que a aplicação linear 0,ß+ é um isomorfismo,
tendo 0+ß, como isomorfismo inverso. …
V.1.4 (Corolário) Sejam N § ‘ um intervalo e I œ ÐI> Ñ>−N um fibrado
vectorial, com I> § I . Tem-se então que I é um fibrado vectorial trivial.
Dem: Fixemos um produto interno no espaço ambiente I das fibras de I .
Fixemos + − N e uma base A" ß á ß A8 de I+ . Sejam [" ß á ß [8 as secções
paralelas de I , que verificam [4 + œ A4 . Para cada > − N , tem-se
[4 > œ 0>ß+ ÐA4 Ñ, pelo que [" > ß á ß [8 > é uma base de I> , o que mostra que
[" ß á ß [8 é um campo de referenciais de I . …

No caso em que a base do fibrado vectorial não é um intervalo de ‘,


deixamos de ter transportes paralelos entre as diferentes fibras e a única
coisa que conseguimos obter é uma noção de transporte paralelo ao longo
de um caminho.

V.1.5 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um


fibrado vectorial, com IB § I . Sejam B! ß B − E tais que existam +  , em
‘ e uma aplicação suave 0 À Ò+ß ,Ó Ä E, com 0 Ð+Ñ œ B! e 0 Ð,Ñ œ B (um
caminho de B! para B). Tem então lugar um isomorfismo ortogonal
0À IB! Ä IB , chamado transporte paralelo ao longo do caminho 0 , que é,
por definição, o isomorfismo de transporte paralelo 0,ß+ do fibrado vectorial
0 ‡ I , de base Ò+ß ,Ó (reparar que as fibras deste fibrado vectorial em + e , são
respectivamente IB! e IB ).

Em geral, nas condições anteriores, o isomorfismo 0À IB! Ä IB depende


do caminho 0 de B! para B e não apenas dos pontos B! e B. Há no entanto
um caso em que podemos garantir a independência do caminho:

V.1.6 Sejam E § K, I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um


fibrado vectorial, com IB § I . Sejam B! − E e A − IB! , tais que exista uma
secção paralela [ de I , com [B! œ A. Dado B − E tal que exista uma
aplicação suave 0 À Ò+ß ,Ó Ä E com 0 Ð+Ñ œ B! e 0 Ð,Ñ œ B, o vector de IB
obtido a partir de A − IB! por transporte paralelo ao longo de 0 é igual a
416 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

[B , não dependendo portanto do caminho 0 .


Dem: Basta atender a que, por III.3.5, 0 ‡ [ é uma secção paralela de 0 ‡ I . …

§2. Consequências da nulidade do tensor de curvatura.

Viu-se em III.6.12 que a não nulidade do tensor de curvatura é uma


obstrução à existência de secções paralelas de um fibrado vectorial com
valores prefixados arbitrários numa das fibras. É claro que, uma vez que,
se Y é um aberto da base Q de I , para cada B − Y o tensor de curvatura
da restrição I ÎY no ponto B coincide trivialmente com o de I , vemos que
a não nulidade do tensor de curvatura é também uma obstrução à exis-
tência de secções paralelas locais. Vamos demonstrar que, no caso em que
a base Q é uma variedade sem bordo, a não nulidade referida é a única
obstrução à existência de secções paralelas locais, começando por tratar
um caso particular em que podemos garantir mesmo a existência de
secções paralelas globais.

V.2.1 (Lema) Sejam Y § K um aberto estrelado relativamente ao ponto


B! − Y , I um espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−Y um fibrado
vectorial, com IB § I , tal que, para cada B − Y , o tensor de curvatura
VB À K ‚ K ‚ IB Ä IB seja identicamente nulo. Para cada A − IB! , existe
então uma secção paralela [ de I , tal que [B! œ A.
Dem: Consideremos o subconjunto I de Y ‚ I , formado pelos pares ÐBß DÑ,
com B − Y e D − IB , conjunto que, por III.1.27, sabemos ser uma variedade
sem bordo. Seja \À I Ä PÐKà K ‚ IÑ a aplicação suave definida por
\ÐBßDÑ Ð?Ñ œ Ð?ß 2B Ð?ß DÑÑ œ Ð?ß H 1B Ð?ÑÐDÑÑ.

Vamos olhar para \ como definindo uma equação diferencial total, em que
K é o espaço da variável temporal e I é a variedade. Trata-se portanto de
uma equação diferencial total independente do tempo. Tendo em conta a
propriedade da segunda forma fundamental enunciada na alínea c) de
III.3.19, sabemos que, para cada ÐBß DÑ − I e cada ? − K , tem-se
\ÐBßDÑ Ð?Ñ − XÐBßDÑ ÐIÑ, o que mostra que a condição a) do teorema de Frobe-
nius em IV.8.5 está verificada. Quanto à condição b) desse teorema, vemos
que
H\ÐBßDÑ Ð\ÐBßDÑ Ð@ÑÑÐ?Ñ œ Ð!ß H# 1B Ð@ß ?ÑÐDÑ  H 1B Ð?ÑÐ2BÐ@ß DÑÑÑ,

e a simetria desta expressão, em ? e @, vai resultar do anulamento de VB ,


tendo em conta a definição deste tensor em III.6.1, e do facto de H# 1B ser
uma aplicação bilinear simétrica. O teorema de Frobenius garante-nos então
a existência de um aberto Z de K , estrelado relativamente a B! , e de uma
aplicação 0 À Z Ä I , tal que 0 ÐB! Ñ œ ÐB! ß AÑ e que, para cada B − Z ,
§2. Consequências da nulidade do tensor de curvatura 417

H0B œ \0 ÐBÑ . Resulta então de IV.8.7, ou, directamente, por indução a partir
da equação diferencial total, que 0 é uma aplicação suave. Consideremos
agora as aplicações suaves 1À Z Ä K e [ À Z Ä I , definidas por
0 ÐBÑ œ Ð1ÐBÑß [ ÐBÑÑ. Tem-se 1ÐB! Ñ œ B! e H1B Ð?Ñ œ ?, portanto, por Z
ser conexo, 1ÐBÑ œ B, para cada B − Z , o que implica, em particular, que
Z § Y e que [ é uma secção de I ÎZ . Vemos agora que [B! œ A e que
H[B Ð?Ñ œ 2B Ð?ß AÑ, o que, tendo em conta a caracterização da derivada
covariante em III.3.14, mostra que [ é uma secção paralela de I ÎZ .100 Para
terminar a demonstração basta mostrar que se pode tomar Z œ Y . Repare-
mos que o teorema de Frobenius diz-nos que se pode tomar para Z o
conjunto dos B − K tais que exista uma aplicação :À Ò!ß "Ó Ä I com :Ð!Ñ œ
ÐB! ß AÑ e :w Ð=Ñ œ \:Ð=Ñ ÐB  B! Ñ. Seja então B − Y arbitrário. Sendo
!À Ò!ß "Ó Ä Y a aplicação suave definida por !Ð=Ñ œ Ð"  =ÑB!  =B, con-
cluímos a partir de V.1.1 a existência de uma secção suave [ s de !‡ I , que
s ! œ A. De
seja paralela e verifique [

! œ f[ s w=  H1!Ð=Ñ Ð!w Ð=ÑÑÐ[


s = Ð"Ñ œ [ s = Ñ,

concluímos que
s w= œ H1!Ð=Ñ ÐB  B! ÑÐ[
[ s =Ñ

pelo que, sendo :À Ò!ß "Ó Ä I a aplicação suave definida por :Ð=Ñ œ
s = Ñ, sai :Ð!Ñ œ ÐB! ß AÑ e
Ð!Ð=Ñß [
s = ÑÑ œ \:Ð=Ñ ÐB  B! Ñ,
:w Ð=Ñ œ ÐB  B! ß H1!Ð=Ñ ÐB  B! ÑÐ[

o que mostra que B − Z . …


V.2.2 Sejam Q § K uma variedade sem bordo, I um espaço euclidiano ou
hermitiano e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § I , tal que, para
cada B − Q , o tensor de curvatura
VB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ ‚ IB Ä IB
seja identicamente nulo. Para cada B! − Q e A − IB! , existe então um
aberto Z de Q , com B! − Z , e uma secção suave paralela [ œ Ð[B ÑB−Z de
I ÎZ , tal que [B! œ A.
Dem: Sejam J um espaço vectorial de dimensão finita, Y um aberto de J ,
com ! − Y , Z um aberto de Q , com B! − Z e :À Y Ä Z um difeomorfismo
com :Ð!Ñ œ B! . Se necessário subsituindo Y e Z por abertos mais pequenos
e : pela sua restrição, podemos já supor que Y é uma bola aberta de centro
!, portanto estrelado relativamente a !. Tendo em conta III.6.8, o fibrado vec-
torial imagem recíproca :‡ I tem em cada ponto tensor de curvatura identi-

100Se apenas pretendêssemos a existência de uma secção paralela local, o que seria
suficiente para o resultado a seguir, a demonstração poderia terminar aqui.
418 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

camente nulo pelo que podemos aplicar o lema anterior para garantir a
existência de uma secção paralela [ s de :‡ I , verificando [
s ! œ A. Tendo
em conta III.3.5, vemos agora que a secção [ de I ÎZ , imagem recíproca de
[s por :" À Z Ä Y , é paralela e toma em B! o valor A. …

Repare-se que a nulidade da curvatura não permite em geral garantir a


existência de uma secção global paralela, com valor prefixado numa fibra.
Um contra-exemplo natural é o do fibrado vectorial de Mobius,
¨ estudado
em III.2.13. Uma vez que se trata de um fibrado vectorial de dimensão ",
o seu tensor de curvatura em cada ponto é identicamente nulo. Dado um
vector não nulo numa das fibras, não pode haver nenhuma secção global
paralela, tomando nessa fibra o valor dado visto que uma tal secção seria
não nula em cada ponto (cf. o exercício III.49) e portanto constituiria um
campo de referenciais, o que contraria o facto de este fibrado vectorial ser
não orientável, e portanto não trivial. Estudaremos nos exercícios, no fim
do capítulo, alguns casos, mais gerais do que a situação do lema V.2.1, em
que conseguimos garantir a existência global de uma secção paralela, com
um valor prefixado numa fibra.
Um segundo resultado, dentro do mesmo espírito que o resultado
precedente, tem a ver com a conclusão que podemos tirar da nulidade do
tensor de curvatura do fibrado tangente a uma variedade. Comecemos por
notar que, se I é um espaço euclidiano e se Q § I é uma variedade tal
que exista um aberto Y dum espaço euclidiano K e um difeomorfismo
isométrico :À Y Ä Q , então, para cada B − Q , o tensor de curvatura
VB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ de Q é identicamente nulo.
Esta conclusão é, com efeito, uma consequência da fórmula de invariância
do tensor de curvatura, estabelecida em III.7.9, se repararmos que X ÐY Ñ é
um fibrado vectorial constante e tem portanto tensor de curvatura
identicamente nulo. O teorema de Riemann, que demonstramos em
seguida, diz-nos que, reciprocamente, uma variedade sem bordo com
tensor de curvatura nulo em cada ponto é localmente isométrica a um
aberto dum espaço euclidiano (a circunferência é um contra-exemplo
simples que mostra que a palavra “localmente” é essencial na frase
anterior).

V.2.3 (Teorema de Riemann) Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma


variedade sem bordo tal que, para cada B − Q , o tensor de curvatura
VB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ seja identicamente nulo. Para
cada B! − Q , onde Q tenha dimensão 8, existe então um aberto Y de Q ,
com B! − Y , um aberto Z de ‘8 , com ! − Z , e um difeomorfismo
isométrico 0 À Z Ä Y , tal que 0 Ð!Ñ œ B! .
Dem: Fixemos uma base ortonormada A" ß á ß A8 de XB! ÐQ Ñ. Tendo em
conta a propriedade precedente, podemos considerar um aberto Ỹ de Q ,
com B! − Y˜ , tal que, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, exista uma secção paralela [4 de
X ÐQ ÑÎY˜ , com [4 B! œ A4 (em princípio teríamos um aberto Y˜ 4 para cada 4,
mas podemos tomar para Y˜ a intersecção dos Y˜ 4 ). Se necessário substituindo
§2. Consequências da nulidade do tensor de curvatura 419

Y˜ por um aberto mais pequeno, podemos já supor que Y˜ é conexo e que a


dimensão de Q em cada ponto de Y˜ é 8. Tendo em conta a alínea c) de
III.3.4, vemos que, quaisquer que sejam " Ÿ 3ß 4 Ÿ 8, a aplicação de Y˜ em
‘, que a B associa Ø[3 B ß [4 B Ù tem derivada identicamente nula, sendo
portanto constante, o que mostra que, para cada B − Y˜ , [" B ß á ß [8 B é um
sistema ortonormado, logo uma base ortonormada de XB ÐQ Ñ.
Seja \ œ Ð\B ÑB−Y˜ a aplicação suave de Y˜ em PБ8 à KÑ definida por
\B Ð/4 Ñ œ [4 B . Uma vez que \B aplica os elementos da base canónica de ‘8
nos elementos de uma base ortonormada de XB ÐQ Ñ, concluímos que \B é
um isomorfismo ortogonal de ‘8 sobre XB ÐQ Ñ. Para podermos aplicar o
teorema de Frobenius (cf. IV.8.5), temos que ver que, para cada B − Y˜ , é
simétrica a aplicação bilinear de ‘8 ‚ ‘8 em K , definida por
˜ È H\B Ð\B ÐAÑÑÐAÑ
ÐAß AÑ ˜
(reparar que temos uma equação diferencial total independente do tempo).
Para isso, e uma vez que duas aplicações lineares, que coincidam nos
elementos de uma base, coincidem, basta-nos verificar que
˜ œ H\B Ð\B ÐAÑÑÐ/
H\B Ð\B Ð/3 ÑÑÐAÑ ˜ 3 Ñ,

ou ainda, que
H\B Ð\B Ð/3 ÑÑÐ/4 Ñ œ H\B Ð\B Ð/4 ÑÑÐ/3 Ñ,

condição que é equivalente a H[4 B Ð[3 B Ñ œ H[3 B Ð[4 B Ñ. O facto de esta


condição ser verificada é agora uma consequência de que, tendo em conta
III.3.24 e o paralelismo das secções [4 , podemos escrever
H[4 B Ð[3 B Ñ  H[3 B Ð[4 B Ñ œ Ò[3 ß [4 ÓB œ
œ f[4 B Ð[3 B Ñ  f[3 B Ð[4 B Ñ œ !

Aplicando o teorema de Frobenius, concluímos agora a existência de um


aberto Z˜ de ‘8 , com ! − Z˜ , e de uma aplicação suave 0˜ À Z˜ Ä Y˜ , tal que
0˜ Ð!Ñ œ B! e que, para cada C − Z˜ , H0˜ C œ \0˜ ÐCÑ , em particular, cada H0˜ C é
um isomorfismo ortogonal de ‘8 sobre X0˜ ÐCÑ ÐQ Ñ. Podemos agora aplicar o
teorema da função inversa para garantir a existência de um aberto Z de ‘8 ,
com ! − Z § Z˜ , tal que a restrição 0 de 0˜ a Z seja um difeomorfismo de Z
sobre um aberto Y de Q , difeomorfismo esse que, pelo que acabámos de
ver, vai ser uma isometria. …

§3. Geodésicas e aplicação exponencial.

V.3.1 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade. Sejam N § ‘


um intervalo não trivial (isto é, com mais que um elemento) e 0 À N Ä Q
420 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

uma aplicação suave, que pode ser olhada como descrevendo um movimento
na variedade Q . Para cada > − N podemos então considerar o vector
velocidade de 0 no instante101 >,
0 w Ð>Ñ œ H0> Ð"Ñ − X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ,

pelo que ficamos com uma secção suave 0 w œ Ð0 w Ð>ÑÑ>−N do fibrado vectorial
0 ‡ X ÐQ Ñ, de base N . Para cada > − N , define-se a aceleração intrínseca de 0
no instante > como sendo o vector
$0 w
Ð Ñ> œ f0>w Ð"Ñ − X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ.102
$>
Tendo em conta as caracterizações conhecidas da derivada covariante, pode-
mos assim escrever
$0 w
(A) Ð Ñ> œ 10 Ð>Ñ Ð0 ww Ð>ÑÑ,
$>

$0 w s > Ð"ß 0 w Ð>ÑÑ,


(B) Ð Ñ> œ 0 ww Ð>Ñ  2
$>
s > é a segunda
onde 10 Ð>Ñ é a projecção ortogonal de K sobre X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ e 2
forma fundamental do fibrado vectorial imagem recíproca 0 ‡ X ÐQ Ñ. Por
outro lado, tendo em conta III.3.13, vem
s > Ð?ß AÑ œ 20 Ð>Ñ ÐH0> Ð?Ñß AÑ,
2

onde 20 Ð>Ñ é a segunda forma fundamental de X ÐQ Ñ, o que nos permite obter


uma terceira caracterização da aceleração intrínseca:
$0 w
(C) Ð Ñ> œ 0 ww Ð>Ñ  20 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ.
$>
Uma quarta caracterização da aceleração intrínseca envolve a Hessiana
" Ð0 Ñ> À ‘N ‚ ‘N Ä 0 ‡ X ÐQ Ñ
(cf. III.8.29). Se repararmos que a aplicação N Ä ‘ de valor constante " é
uma secção paralela de ‘N , concluímos que
$0 w
(D) Ð Ñ> œ fH0> Ð"ÑÐ"Ñ œ " Ð0 Ñ> Ð"ß "Ñ.
$>

101O termo instante é aplicado para apoiar a interpretação cinemática do que estamos a
discutir.
102A aceleração usual é o vector 0 ww Ð>Ñ − I , que, em geral, não pertence a X
0 Ð>Ñ ÐQ Ñ, pelo
que não apresenta grande interesse do ponto de vista da geometria de Q .
§3. Geodésicas e aplicação exponencial 421

V.3.2 Sejam K um espaço euclidiano, Q § K uma variedade, N § ‘ um


intervalo não trivial e 0 À N Ä Q uma aplicação suave. Diz-se que 0 é uma
geodésica se é paralela a secção 0 w de 0 ‡ X ÐQ Ñ (o campo de velocidades).
Uma vez que f0>w é uma aplicação linear de ‘ em X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ, ela vai-se anular
se, e só se, tomar o valor ! quando aplicada a " − ‘, por outras palavras, 0 é
uma geodésica se, e só se, a aceleração intrínseca é identicamente nula.103
Tendo em conta o que se disse atrás, vemos que o facto de 0 ser uma
geodésica é equivalente a qualquer das duas condições seguintes:
a) 0 ww Ð>Ñ é ortogonal a X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ, para cada > − N ;
b) 0 ww Ð>Ñ œ 20 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ, para cada > − N .
c) 0 é uma aplicação paralela.
V.3.3 No caso em que o fibrado vectorial X ÐQ Ñ é constante (é o que acontece,
por exemplo, se a variedade Q é um aberto do espaço vectorial ambiente K ),
para cada aplicação suave 0 À N Ä Q o fibrado vectorial 0 ‡ X ÐQ Ñ é também
um fibrado vectorial constante, pelo que a derivada covariante de secções de
0 ‡ X ÐQ Ñ coincide com a derivada usual, o que implica, em particular, que a
aceleração intrínseca coincide com com a aceleração usual, 0 ww Ð>Ñ. As geodé-
sicas 0 À N Ä Q são assim as aplicações suaves que verificam 0 ww Ð>Ñ œ !,
para cada >, ou seja, 0 w Ð>Ñ œ A − K , isto é, as aplicações da forma
0 Ð>Ñ œ B  >A.
Dito de outro modo, as geodésicas são, neste caso, os segmentos de recta
contidos em Q , descritos com velocidade uniforme.
V.3.4 Sejam K um espaço euclidiano, Q § K uma variedade, N § ‘ um
intervalo não trivial e 0 À N Ä Q uma aplicação suave. Diz-se que 0 é uma
aplicação uniforme (ou que 0 descreve um movimento uniforme) se for
constante a aplicação de N em ‘, que a > associa a velocidade escalar, isto é,
a norma m0 w Ð>Ñm do vector velocidade. Nessas condições:
a) Se 0 é uma geodésica então 0 é uniforme;
b) Se 0 é uniforme e a variedade Q tem dimensão ", então 0 é uma geodé-
sica.
Dem: Seja :À N Ä ‘ a aplicação suave definida por
:Ð>Ñ œ m0 w Ð>Ñm# œ Ø0 w Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÙ.
Supondo que 0 é uma geodésica, obtemos, tendo em conta a alínea c) de
III.3.4,
$0 w $0 w
:w Ð>Ñ œ ØÐ Ñ> ß 0 w Ð>ÑÙ  Ø0 w Ð>Ñß Ð Ñ> Ù œ !,
$> $>

103Dentro do espírito das observações feitas imediatamente antes de III.6.10, as


geodésicas podem ser olhadas intuitivamente como os movimentos em que o vector
velocidade é tão constante quanto possível.
422 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

o que mostra que : é uma aplicação constante, ou seja, 0 é uma aplicação


uniforme. Suponhamos, reciprocamente, que Q é uma variedade de
dimensão " e que 0 é uma aplicação uniforme. Se o valor constante de
m0 w Ð>Ñm é !, tem-se 0 w Ð>Ñ œ !, para cada >, pelo que 0 é trivialmente uma
geodésica. Se este valor constante for distinto de !, tem-se que, para cada
> − N , 0 w Ð>Ñ é um vector não nulo de X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ, e portanto uma base deste
espaço e obtemos, como anteriormente,
$0 w
! œ :w Ð>Ñ œ #ØÐ Ñ> ß 0 w Ð>ÑÙ,
$>
w
pelo que Ð $$0> Ñ> é um vector de X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ ortogonal à base 0 w Ð>Ñ deste espaço,
o que implica que aquele vector é ! e 0 é uma geodésica. …
V.3.5 (Exemplo) Sejam I um espaço euclidiano e W § I a hipersuperfície
esférica de centro ! e raio ",
W œ ÖB − I ± mBm œ "×,
que sabemos ser uma variedade sem bordo, com dimensão inferior em uma
unidade à de I . Suponhamos que B − W e que A − XB ÐWÑ verifica mAm œ ".
Uma vez que se tem ØAß BÙ œ !, podemos considerar uma aplicação suave
0 À ‘ Ä W , definida por
0 Ð>Ñ œ cosÐ>ÑB  sinÐ>ÑA.
Derivando duas vezes, obtemos
0 w Ð>Ñ œ sinÐ>ÑB  cosÐ>ÑA,
0 ww Ð>Ñ œ cosÐ>ÑB  sinÐ>ÑA œ 0 Ð>Ñ,

o que mostra que 0 ww Ð>Ñ é ortogonal a X0 Ð>Ñ ÐWÑ. Podemos concluir assim que a
aplicação 0 é uma geodésica da variedade W . Repare-se que esta geodésica
verifica as condições 0 Ð!Ñ œ B e 0 w Ð!Ñ œ A. No caso particular em que I
tem dimensão $, e portanto W é a superfície esférica usual, é fácil constatar
que a geodésica 0 precorre um círculo máximo de W (a intersecção de W com
um plano passando pelo centro).
V.3.6 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo.
Vimos em III.1.27 que o espaço total do fibrado vectorial tangente
X ÐQ Ñ § Q ‚ K é também uma variedade sem bordo e, tendo em conta a
alínea c) de III.3.19, vai ter lugar um campo vectorial \ sobre esta
variedade, definido por
\ÐBßAÑ œ ÐAß 2B ÐAß AÑÑ,

campo vectorial que é suave, tendo em conta a fórmula


§3. Geodésicas e aplicação exponencial 423

2B ÐAß AÑ œ H1B ÐAÑÐAÑ.


Vamos dizer que \ é o campo vectorial geodésico sobre X ÐQ Ñ.
V.3.7 Nas condições anteriores, se N § ‘ é um intervalo não trivial e se
0 À N Ä Q é uma aplicação suave, então podemos considerar uma aplicação
suave s0 À N Ä X ÐQ Ñ (o levantamento canónico de 0 ), definida por
s0 Ð>Ñ œ Ð0 Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ,

e 0 vai ser uma geodésica se, e só se, s0 for uma curva integral do campo
vectorial geodésico. Além disso, toda a curva integral do campo vectorial
geodésico, definida num intervalo não trivial, vai ser o levantamento
canónico de uma geodésica de Q .
Dem: Sendo 0 À N Ä Q uma aplicação suave, sabemos que, para cada > − N ,
0 w Ð>Ñ œ H0> Ð"Ñ − X0 Ð>Ñ ÐQ Ñ, pelo que
s0 Ð>Ñ œ Ð0 Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ − X ÐQ Ñ,

o que mostra que s0 é uma aplicação suave de N em X ÐQ Ñ. Uma vez que


s0 w Ð>Ñ œ Ð0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>ÑÑ e que

\s0 Ð>Ñ œ Ð0 w Ð>Ñß 20 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑÑ,


w
constatamos que a igualdade s0 Ð>Ñ œ \s0 Ð>Ñ é equivalente à igualdade
0 ww Ð>Ñ œ 20 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ ou seja, tendo em conta o que dissemos em V.3.2,
ao facto de 0 ser uma geodésica. Resta-nos reparar que, se N é um intervalo
não trivial e se s0 À N Ä X ÐQ Ñ é uma curva integral de \ , podemos
considerar as aplicações suaves 0 À N Ä Q e 1À N Ä K , definidas por
s0 Ð>Ñ œ Ð0 Ð>Ñß 1Ð>ÑÑ, e o facto de se ter
w
Ð0 w Ð>Ñß 1w Ð>ÑÑ œ s0 Ð>Ñ œ \s0 Ð>Ñ œ Ð1Ð>Ñß 20 Ð>ÑÐ1Ð>Ñß 1Ð>ÑÑÑ

implica em particular que 1Ð>Ñ œ 0 w Ð>Ñ, portanto que s0 é o levantamento


canónico de 0 . …
V.3.8 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo.
Dados + − ‘, B − Q e A − XB ÐQ Ñ, vai existir um intervalo aberto N , com
+ − N , e uma geodésica 0 À N Ä Q , verificando as condições iniciais
0 Ð+Ñ œ B e 0 w Ð+Ñ œ A, e que é máxima, no sentido que qualquer outra
geodésica, verificando aquelas condições iniciais, é uma restrição dela. Esta
geodésica está definida pela condição de o seu levantamento canónico
s0 À N Ä X ÐQ Ñ ser a curva integral máxima do campo vectorial geodésico \ ,
sobre X ÐQ Ñ, com a condição inicial s0 Ð+Ñ œ ÐBß AÑ.
Dem: Trata-se de uma consequência imediata do resultado precedente, tendo
424 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

em conta o facto de o domínio de uma curva integral máxima ser um


conjunto aberto. …
V.3.9 (Corolário) Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem
bordo. Para cada + − ‘, B − Q e A − XB ÐQ Ñ, seja 0+ßBßA À N+ßBßA Ä Q a
geodésica máxima de Q com as condições iniciais 0+ßBßA Ð+Ñ œ B e
w
0+ßBßA Ð+Ñ œ A. Sejam H § ‘ ‚ ‘ ‚ X ÐQ Ñ o conjunto dos Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ tais
que = − N+ßBßA e =À H Ä Q a aplicação definida por
=Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ œ 0+ßBßA Ð=Ñ

(a solução geral geodésica). Então que H é aberto em ‘ ‚ ‘ ‚ X ÐQ Ñ e = é


uma aplicação suave.
Dem: Trata-se de uma consequência imediata dos resultados correspondentes
sobre a solução geral de equações diferenciais em variedades (cf. IV.6.1 e
IV.7.3). …

Tal como em IV.1.12, e uma vez que a equação diferencial sobre X ÐQ Ñ


que define as geodésicas é uma equação diferencial independente do
tempo, podemos resumir a informação dada pela solução geral geodésica
numa aplicação com menos uma variável, a saber a aplicação suave
= s Ä Q , definida por
sÀ H
=
sÐ=ß ÐBß AÑÑ œ =Ð=ß !ß ÐBß AÑÑ.

onde H s é o aberto de ‘ ‚ X ÐQ Ñ constituído pelos Ð=ß ÐBß AÑÑ tais que


Ð=ß !ß ÐBß AÑÑ − H (a =
s costuma-se dar o nome de fluxo geodésico). De
facto, e como vamos ver adiante, podemos neste caso resumir mais e
concentrar toda a informação sobre a solução geral geodésica numa
aplicação com ainda menos uma variável, a aplicação exponencial, que
estará definida num aberto de X ÐQ Ñ.

V.3.10 Sejam K um espaço euclidiano, Q § K uma variedade, N § ‘ um


intervalo não trivial e 0 À N Ä Q uma geodésica. Sejam N˜ um intervalo não
trivial e :À N˜ Ä N uma aplicação suave. Tem-se então:
a) Se : é afim, isto é, se existem +,, − ‘ tais que :Ð=Ñ œ +=  , , então
0 ‰ :À N˜ Ä Q é uma geodésica;
b) Se 0 não é constante e se 0 ‰ :À N˜ Ä Q é também uma geodésica, então
: é uma aplicação afim.
Dem: Notando 0̃ œ 0 ‰ :, tem-se
w
0˜ Ð=Ñ œ :w Ð=Ñ0 w Ð:Ð=ÑÑ,
ww
0˜ Ð=Ñ œ :ww Ð=Ñ0 w Ð:Ð=ÑÑ  :w Ð=Ñ# 0 ww Ð:Ð=ÑÑ.
O facto de 0 ser uma geodésica implica que 0 ww Ð:Ð=ÑÑ é ortogonal a
X0 Ð:Ð=ÑÑ ÐQ Ñ œ X0˜ Ð=Ñ ÐQ Ñ. Concluímos daqui que, se : é afim, vem
ww
:ww Ð=Ñ œ !, o que implica que 0˜ Ð=Ñ é também ortogonal a X0˜ Ð=Ñ ÐQ Ñ e
§3. Geodésicas e aplicação exponencial 425

portanto 0˜ é também uma geodésica. Reciprocamente, se 0˜ é uma geodésica


ww
e se a geodésica 0 não é constante, o facto de 0 ww Ð:Ð=ÑÑ e 0˜ Ð=Ñ serem
ortogonais a X0˜ Ð=Ñ ÐQ Ñ vai implicar que :ww Ð=Ñ0 w Ð:Ð=ÑÑ é ortogonal a
X0˜ Ð=Ñ ÐQ Ñ e portanto, uma vez que este vector pertence a X0˜ Ð=Ñ ÐQ Ñ,
:ww Ð=Ñ0 w Ð:Ð=ÑÑ œ !; uma vez que se tem 0 w Ð:Ð=ÑÑ Á ! (sem o que, tendo em
conta V.3.4, era 0 w Ð>Ñ œ 0, para todo o >, e portanto 0 era constante)
concluímos que :ww Ð=Ñ œ 0, de onde se deduz imediatamente que : é uma
aplicação afim. …
V.3.11 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo, e
notemos =À H Ä Q a respectiva solução geral geodésica. Tem-se então:
a) Se ÐBß AÑ − X ÐQ Ñ e + − ‘, então Ð+ß +ß ÐBß AÑÑ − H e
=Ð+ß +ß ÐBß AÑÑ œ B.

b) Se B − Q e +ß = − ‘, então Ð=ß +ß ÐBß !ÑÑ − H e


=Ð=ß +ß ÐBß !ÑÑ œ B.

c) Sejam ÐBß AÑ − X ÐQ Ñ e +ß = − ‘. Tem-se então que Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ − H se,


e só se, Ð"ß !ß ÐBß Ð=  +ÑAÑÑ − H e, nesse caso,
=Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ œ =Ð"ß !ß ÐBß Ð=  +ÑAÑÑ.

Dem: A conclusão de a) resulta imediatamente da definição e a de b) do


facto trivial que a aplicação 0 de valor constante B é uma geodésica
verificando 0 Ð+Ñ œ B e 0 w Ð+Ñ œ !. Passemos portanto à demonstração de c).
Suponhamos que Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ − H e notemos 0 À N Ä Q a geodésica
máxima com as condições iniciais 0 Ð+Ñ œ B e 0 w Ð+Ñ œ A. Tem-se assim
+ß = − N , pelo que podemos considerar a aplicação afim :À Ò!ß "Ó Ä N ,
definida por :Ð>Ñ œ +  >Ð=  +Ñ. Tendo em conta o resultado precedente,
0˜ œ 0 ‰ :À Ò!ß "Ó Ä Q é também uma geodésica, que verifica as condições
w
0˜ Ð!Ñ œ 0 Ð+Ñ œ B e 0˜ Ð!Ñ œ Ð=  +ÑA, o que nos permite concluir que
Ð"ß !ß ÐBß Ð=  +ÑAÑÑ − H e que
=Ð"ß !ß ÐBß Ð=  +ÑAÑÑ œ 0˜ Ð"Ñ œ 0 Ð=Ñ œ =Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ.
Suponhamos, reciprocamente, que Ð"ß !ß ÐBß Ð=  +ÑAÑÑ − H. Temos que
provar que Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ − H, para o que se pode já supor que = Á +. Ora,
sendo 0 À Ò!ß "Ó Ä Q a geodésica que verifica 0 Ð!Ñ œ B e 0 w Ð!Ñ œ Ð=  +ÑA,
podemos notar N o intervalo de extremidades + e = e considerar a aplicação
suave 0̃ À N Ä Q , definida por
>+
0˜ Ð>Ñ œ 0 Ð Ñ,
=+
aplicação que, tendo em conta o resultado precedente, é uma geodésica e
426 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

w
verifica 0˜ Ð+Ñ œ 0 Ð!Ñ œ B e 0˜ Ð+Ñ œ =+"
0 w Ð!Ñ œ A, pelo que podemos
concluir que Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ − H, o que termina a demonstração. …
V.3.12 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo e
notemos =À H Ä Q a respectiva solução geral geodésica. Tem então lugar
um subconjunto aberto W de X ÐQ Ñ, constituído pelos ÐBß AÑ tais que
Ð"ß !ß ÐBß AÑÑ − H e uma aplicação suave expÀ W Ä Q , definida por
expÐBß AÑ œ =Ð"ß !ß ÐBß AÑÑ,
a que se dá o nome de aplicação exponencial da variedade Q .
Em consequência, para cada B − Q , tem lugar um aberto WB de XB ÐQ Ñ,
constituído pelos A tais que ÐBß AÑ − W, e uma aplicação suave
expB À WB Ä Q , definida por expB ÐAÑ œ expÐBß AÑ, a que se dá o nome de
aplicação exponencial da variedade Q no ponto B.
V.3.13 (Reformulação de V.3.11) Nas condições anteriores, tem-se:
a) Para cada B − Q , ÐBß !Ñ − W e expÐBß !Ñ œ B;
b) Se ÐBß AÑ − X ÐQ Ñ e se +ß = − ‘, tem-se Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ − H se, e só se,
ÐBß Ð=  +ÑAÑ − W e, nesse caso,
=Ð=ß +ß ÐBß AÑÑ œ expÐBß Ð=  +ÑAÑ.

V.3.14 (Exemplos) 1) Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade


sem bordo, tal que X ÐQ Ñ seja um fibrado vectorial constante (é o que
acontece, por exemplo, no caso em que Q é um aberto de K). Vimos em
V.3.3 que as geodésicas 0 À N Ä Q são as aplicações que se podem escrever
na forma 0 Ð=Ñ œ B  =A. Reparando que, no caso em que ! − N , uma tal
geodésica verifica as condições 0 Ð!Ñ œ B e 0 w Ð!Ñ œ A, concluímos que a
aplicação exponencial de Q , expÀ W Ä Q está definida por
expÐBß AÑ œ B  A,
o seu domínio W sendo o conjunto dos pares ÐBß AÑ − X ÐQ Ñ tais que
B  =A − Q , para cada = − Ò!ß "Ó.
2) Sejam I um espaço euclidiano de dimensão 8   # e W § I a hipersu-
perfície esférica de centro ! e raio ",
W œ ÖB − W ± mBm œ "×.
Vimos em V.3.5 que, se B − W e A − XB ÐWÑ verifica mAm œ ", então a
aplicação 0 À ‘ Ä W definida por 0 Ð>Ñ œ cosÐ>Ñ B  sinÐ>Ñ A é uma geodésica
com 0 Ð!Ñ œ B e 0 w Ð!Ñ œ A. Concluímos daqui que, se A − XB Ð\Ñ é não
nulo, podemos considerar a geodésica 0 À ‘ Ä W definida por
A
0 Ð>Ñ œ cosÐ>Ñ B  sinÐ>Ñ ,
mAm
A
para a qual se tem 0 Ð!Ñ œ B e 0 w Ð!Ñ œ mAm , e portanto também, por composi-
§3. Geodésicas e aplicação exponencial 427

ção com uma aplicação afim, a geodésica 1 definida por


A
1Ð>Ñ œ cosÐ>mAmÑ B  sinÐ>mAmÑ ,
mAm
para a qual se tem 1Ð!Ñ œ B e 1w Ð!Ñ œ A. Concluímos daqui que a aplicação
exponencial de W está definida na totalidade de X ÐWÑ pela fórmula
se A œ !
expÐBß AÑ œ 
B
sinÐmAmÑ .
cosÐmAmÑ B  mAm A se A Á !

V.3.15 Nas condições de V.3.12, para cada B − Q , a derivada


HexpÐBß!Ñ À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ œ XÐBß!Ñ ÐX ÐQ ÑÑ Ä XB ÐQ Ñ

está definida por


HexpÐBß!Ñ Ð?ß @Ñ œ ?  @.

Em consequência, a derivada HÐexpB Ñ! À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ está definida por


HÐexpB Ñ! Ð@Ñ œ @.
Dem: Uma vez que, para cada B − Q , expÐBß !Ñ œ B, obtemos, por deriva-
ção, para cada ? − XB ÐQ Ñ,
HexpÐBß!Ñ Ð?ß !Ñ œ ?.

Lembremos agora que, para cada ÐBß @Ñ − W, tem lugar a geodésica


0 À Ò!ß "Ó Ä Q , definida por
0 Ð=Ñ œ =Ð=ß !ß ÐBß @ÑÑ œ expÐBß =@Ñ,
geodésica que verifica 0 Ð!Ñ œ B e 0 w Ð!Ñ œ @. Obtemos então, por derivação
de ambos os membros da identidade 0 Ð=Ñ œ expÐBß =@Ñ para = œ !,
@ œ 0 w Ð!Ñ œ HexpÐBß!Ñ Ð!ß @Ñ.

Deduzimos agora, finalmente, que


HexpÐBß!Ñ Ð?ß @Ñ œ HexpÐBß!Ñ Ð?ß !Ñ  HexpÐBß!Ñ Ð!ß @Ñ œ ?  @. …

V.3.16 (Corolário) Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade


sem bordo. Para cada B − Q , existe então um aberto Y de XB ÐQ Ñ, com
! − Y , e um aberto Z de Q , com B − Z , tais que a restrição de expB seja um
difeomorfismo de Y sobre Z .
Dem: Trata-se de uma consequência do teorema da função inversa, visto que
a aplicação expB À WB Ä Q , que aplica ! em B, vai ter, no ponto !, derivada
HÐexpB Ñ! À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ igual à aplicação identidade, em particular um
isomorfismo. …
428 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

V.3.17 (Nota) Estudámos aqui as geodésicas como caminhos de aceleração


intrínseca identicamente nula, na óptica de ilustrar uma utilização geométrica
importante das equações diferenciais. As geodésicas aparecem também em
relação com o estudo dos caminhos de comprimento mínimo unindo dois
pontos, mas esse é um aspecto que, a ser estudado completamente, nos
levaria demasiado longe. O leitor mais interessado poderá encontrar esse
estudo em livros mais avançados sobre a Geometria Riemaniana (ver também
os exercícios V.25 e V.26, no fim do capítulo). De uma maneira rápida,
referimos que:
a) Se 0 À Ò+ß ,Ó Ä Q é uma geodésica, então, embora 0 possa não ser um
caminho de comprimento mínimo entre 0 Ð+Ñ e 0 Ð,Ñ, pode-se mostrar a
existência de &  ! tal que, qualquer que seja Ò-ß .Ó § Ò+ß ,Ó, com .  - Ÿ &,
a restrição de 0 a Ò-ß .Ó é um caminho de comprimento mínimo entre 0 Ð-Ñ e
0 Ð.Ñ;
b) Se 0 À Ò+ß ,Ó Ä Q é um caminho de comprimento mínimo entre 0 Ð+Ñ e
0 Ð,Ñ, 0 pode não ser uma geodésica, mas é-o se for uniforme e, em qualquer
caso é uma reparametrização de uma geodésica 1À Ò-ß .Ó Ä Q (composição
de 1 com uma aplicação suave :À Ò+ß ,Ó Ä Ò-ß .Ó, com :Ð+Ñ œ - e :Ð,Ñ œ . ).

EXERCÍCIOS

Ex V.1 Seja W § ‘$ a superfície esférica de centro ! e raio ",


W œ ÖÐBß Cß DÑ ± B#  C #  D # œ "×,
que sabemos ser uma variedade sem bordo com dimensão # e consideremos o
respectivo fibrado vectorial tangente X ÐWÑ. Sejam 0 À Ò!ß 1Ó Ä W e
1À Ò!Þ1Ó Ä W as aplicações suaves definidas por
0 Ð>Ñ œ ÐsinÐ>Ñß !ß cosÐ>ÑÑ,
1Ð>Ñ œ Ð!ß sinÐ>Ñß cosÐ>ÑÑ,
aplicações que verificam 0 Ð!Ñ œ 1Ð!Ñ œ Ð!ß !ß "Ñ e 0 Ð1Ñ œ 1Ð1Ñ œ Ð!ß !ß "Ñ
(são dois caminhos do polo Norte para o polo Sul). Sendo A œ Ð!ß "ß !Ñ −
XÐ!ß!ß"Ñ ÐWÑ e considerando em ‘$ o produto interno usual, mostrar que os
vectores de XÐ!ß!ß"Ñ ÐWÑ obtidos por transporte paralelo de A ao longo dos
caminhos 0 e 1 são respectivamente Ð!ß "ß !Ñ e Ð!ß "ß !Ñ, o que dá um
exemplo em que estes vectores dependem do caminho utilizado para o
transporte paralelo. Sugestão: Em vez de tentar resolver formalmente as
equações diferenciais que definem as secções paralelas de 0 ‡ X ÐWÑ e de
1‡ X ÐWÑ, intuir geometricamente quais vão ser essas secções e mostrar em
seguida que elas vão ser efectivamente paralelas, utilizando a caracterização
das derivadas covariantes como projecção ortogonal das derivadas usuais.
Exercícios 429

Ex V.2 Considerar a superfície cilíndrica G § ‘$ ,


G œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B#  C # œ "×.
Considerando em ‘$ o produto interno usual, mostrar que, se ÐBß Cß DÑ − G e
se Ð?ß @ß AÑ − XÐBßCßDÑ ÐGÑ, então existe uma secção paralela de X ÐGÑ, que em
ÐBß Cß DÑ toma o valor Ð?ß @ß AÑ.
Ex V.3 Sejam N § ‘ um intervalo com mais que um elemento, I e J espaços
euclidianos ou hermitianos, I œ ÐI> Ñ>−N e J œ ÐJ> Ñ>−N fibrados vectoriais e
- œ Ð-> Ñ>−N À I Ä J um morfismo linear suave paralelo.
a) Sejam [ œ Ð[> Ñ>−N uma secção suave paralela de I e +ß , − N . Mostrar
que [+ − kerÐ-+ Ñ se, e só se, [, − kerÐ-, Ñ. Sugestão: Reparar que
-Ð[ Ñ œ Ð-> Ð[> ÑÑ>−N é uma secção paralela de J .
b) Sejam + − N e A" ß á ß A8 uma base de I+ tal que A" ß á ß A: seja uma
base de kerÐ-+ Ñ e sejam [" ß á ß [8 secções suaves paralelas de I tais que
[4 + œ A4 (cf. V.1.1). Mostrar que, para cada > − N , [" > ß á ß [8 > é uma
base de I> , com [" > ß á ß [: > base de kerÐ-> Ñ, e -> Ð[:" > Ñß á ß -> Ð[8 > Ñ
base de -> ÐI> Ñ. Concluir que kerÐ-Ñ œ ÐkerÐ-> ÑÑ>−N e -ÐIÑ œ Ð-> ÐI> ÑÑ>−N
são subfibrados vectoriais paralelos de I e J , respectivamente. Sugestão:
Lembrar V.1.3 e a alínea d) do exercício III.55.
Ex V.4 Sejam, mais geralmente, Q § K uma variedade, I e J espaços
euclidianos ou hermitianos, I œ ÐIB ÑB−Q e J œ ÐJB ÑB−Q fibrados
vectoriais e - œ Ð-B ÑB−Q À I Ä J um morfismo linear suave paralelo.
a) Mostrar que kerÐ-Ñ œ ÐkerÐ-B ÑÑB−Q e -ÐIÑ œ Ð-B ÐIB ÑÑB−Q são subfibra-
dos vectoriais de I e J , respectivamente.
Sugestão: Tendo em conta o exercício III.57, basta mostrar que, para cada
B! − Q , existe um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que, para cada B − Y , a
dimensão de -B ÐIB Ñ coincida com a de -B! ÐIB! Ñ. Mostrar que isso acontece
sempre que Y é conexo, considerando, para cada B − Y , uma aplicação
suave 0 À Ò!ß "Ó Ä Y com 0 Ð!Ñ œ B! e 0 Ð"Ñ œ B e aplicando o exercício
anterior às imagens recíprocas por meio de 0 .
b) Mostrar que kerÐ-Ñ œ ÐkerÐ-B ÑÑB−Q e -ÐIÑ œ Ð-B ÐIB ÑÑB−Q são mesmo
subfibrados vectoriais paralelos de I e J , respectivamente.
Sugestão: Para mostrar que é nula a derivada covariante da inclusão em B!
na direcção de qualquer vector ? − XB! ÐQ Ñ, basta ver que isso acontece para
cada ? − tB! ÐQ Ñ. Para isso, reparar que se pode sempre considerar uma
aplicação suave 0 À Ò!ß &Ò Ä Q com 0 Ð!Ñ œ B! e 0 w ÐB! Ñ œ ? e aplicar o
exercício anterior às imagens recíprocas por meio de 0 .
Ex V.5 Sejam Q § K uma variedade, I um espaço euclidiano ou hermitiano e
I œ ÐIB ÑB−Q e I w œ ÐIBw ÑB−Q dois fibrados vectoriais, com IB § IBw § I .
Seja, para cada B − Q , IBww o complementar ortogonal de IB em IBw . Mostrar
que, se I é um subfibrado vectorial paralelo de I w , então I ww é também um
subfibrado vectorial paralelo de I w . Sugestão: Lembrar que, como se viu no
430 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

exercício III.55, notando 1sB a projecção ortogonal de IBw sobre IB ,


1
s œ Ð1sB ÑB−E À I Ä I é um morfismo linear paralelo.
w

Ex V.6 Dado o espaço vectorial I de dimensão finita, diz-se que um conjunto


E § I é suavemente contráctil no ponto B! − E se for possível escolher,
para cada B − E, uma aplicação suave 0B À Ò!ß "Ó Ä E, verificando
0B Ð!Ñ œ B! e 0B Ð"Ñ œ B (um caminho de B! para B), de modo que essa
escolha seja uma função suave de B, no sentido que seja suave a aplicação
LÀ Ò!ß "Ó ‚ E Ä E, definida por LÐ>ß BÑ œ 0B Ð>Ñ.
a) Mostrar que, se E § I é estrelado relativamente a B! − E, então E é
suavemente contráctil em B! .
b) Mostrar que, se E § I é suavemente contráctil em B! − E e se Es§I sé
s s
tal que exista um difeomorfismo :À E Ä E, então E é suavemente contráctil
no ponto 0 ÐB! Ñ.
c) Deduzir que, se E § I é uma variedade, então, para cada B! − E, existe
um sistema fundamental de vizinhanças abertas de B! em E, que são suave-
mente contrácteis em B! .
Ex V.7 Seja E § K um conjunto suavemente contráctil no ponto B! − E. Mos-
trar que, se I œ ÐIB ÑB−E é um fibrado vectorial, com IB § I , então I é um
fibrado vectorial trivial. Sugestão: Fixar um produto interno em I e
escolher, para cada B − E, uma aplicação suave 0B À Ò!ß "Ó Ä E, com
0B Ð!Ñ œ B! e 0B Ð"Ñ œ B, de modo que venha suave a aplicação
LÀ Ò!ß "Ó ‚ E Ä E, definida por LÐ>ß BÑ œ 0B Ð>Ñ. Dado A − IB! , utilizar os
resultados sobre equações diferenciais paramétricas para mostrar que tem
lugar uma secção suave [ œ Ð[B ÑB−E de I , definida pela condição de
[B − IB ser o vector obtido a partir de A por transporte paralelo ao longo
do caminho 0B . Mostrar que, se A" ß á ß A8 é uma base de IB! , então as cor-
respondentes secções [" ß á ß [8 de I constituem um campo de
referenciais.
Ex V.8 Sejam N § ‘ um intervalo com mais que um elemento, I um espaço
euclidiano ou hermitiano e I œ ÐI> Ñ>−N um fibrado vectorial, com I> § I .
Para cada secção suave [ œ Ð[> Ñ>−N de I , notemos $$[> a secção suave de
I , que a cada > − N associa a derivada covariante f[> Ð"Ñ (notação
alternativa: f" [ ). Mostrar que, se ^ œ Ð^> Ñ>−N é uma secção suave de I ,
então, para cada + − N e A − I+ , existe uma, e uma só, secção suave [ de
I , tal que [+ œ A e que $$[> œ ^ (uma primitiva covariante de ^ ).
Sugestão: Reparar que este resultado é uma generalização de V.1.1 e verifi-
car que a respectiva demonstração se adapta trivialmente a este caso.
Ex V.9 (O grupóide fundamental suave duma variedade) Seja Q § K uma
variedade sem bordo. Dados Bß C − Q , notemos GÐBß CÑ o conjunto das
aplicações suaves 0 À ‘ Ä Q tais que exista &  ! com 0 Ð>Ñ œ B, para cada
Exercícios 431

> Ÿ &, e 0 Ð>Ñ œ C , para cada >   "  &.104 Dados 0 ß 1 − GÐBß CÑ, vamos
dizer que 0 e 1 são equivalentes, e escrever 0 µ 1, se existir uma aplicação
suave LÀ Ò!ß "Ó ‚ ‘ Ä Q tal que LÐ!ß >Ñ œ 0 Ð>Ñ, LÐ"ß >Ñ œ 1Ð>Ñ e exista
&  ! com LÐ=ß >Ñ œ B, sempre que > Ÿ &, e LÐ=ß >Ñ œ C , sempre que
>   "  &.105
a) Mostrar que, se 0 ß 1 − GÐBß CÑ são equivalentes, então existe uma aplica-
ção suave LÀ ‘ ‚ ‘ Ä \ e &  ! tais que:
1) LÐ=ß >Ñ œ 0 Ð>Ñ, sempre que = Ÿ &;
2) LÐ=ß >Ñ œ 1Ð>Ñ, sempre que =   "  &;
3) LÐ=ß >Ñ œ B, sempre que > Ÿ &;
4) LÐ=ß >Ñ œ C , sempre que >   "  &.
Sugestão: Mostrar que o teorema da partição da unidade garante a existência
de uma aplicação suave !À ‘ Ä Ò!ß "Ó, tal que !Ð=Ñ œ !, sempre que = Ÿ "$ , e
que !Ð=Ñ œ ", sempre que =   #$ .
b) Mostrar que a relação µ em GÐBß CÑ é uma relação de equivalência.
Sugestão: Rever o que se fez na demonstração de II.6.23.
Notaremos VÐBß CÑ o conjunto das classes de equivalência de elementos de
GÐBß CÑ, para a relação µ , e Ò0 Ó a classe de equivalência do elemento
0 − GÐBß CÑ.
c) Mostrar que a variedade Q é conexa se, e só se, quaisquer que sejam
Bß C − Q , VÐBß CÑ (ou GÐBß CÑ) é não vazio. Sugestão: Ter em conta II.6.23.
d) Dados Bß Cß D − Q , mostrar que se pode definir uma aplicação de
GÐBß CÑ ‚ GÐCß DÑ em GÐBß DÑ, que a cada par Ð0 ß 1Ñ associa a aplicação
0 ‡ 1À ‘ Ä Q , definida por

0 ‡ 1Ð>Ñ œ 
"
0 Ð#>Ñ se > Ÿ #
" .
1Ð#>  "Ñ se >  #

Mostrar que esta aplicação passa ao quociente, isto é, que fica bem definida
uma aplicação de VÐBß CÑ ‚ VÐCß DÑ em VÐBß DÑ, que a cada par ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ
associa Ò0 Ó ‡ Ò1Ó œ Ò0 ‡ 1Ó.
e) (Existência de elementos neutros) Para cada B − Q , notemos B s a
aplicação de ‘ em Q , com valor constante B, que é evidentemente um
elemento de GÐBß BÑ, assim como a respectiva classe de equivalência em
VÐBß BÑ. Mostrar que, se 0 − GÐBß CÑ, então B
s ‡ 0 e 0 ‡ sC são equivalentes a
0 , por outras palavras,

104Os elementos de GÐBß CÑ podem ser olhados como definindo movimentos ou viagens
de B para C. Poderia parecer mais natural considerar como elementos de GÐBß CÑ as
aplicações suaves de Ò!ß "Ó em \ , que aplicam ! em B e " em C , mas isso levantaria
dificuldades técnicas quando tentássemos combinar movimentos de B para C com
movimentos de C para D .
105Reparar que dar a aplicação L equivale a dar, para cada = − Ò!ß "Ó, um elemento
0= − GÐBß CÑ; as duas primeiras condições dizem que 0! œ 0 e 0" œ 1, e a última que se
pode escolher um mesmo & para todos os 0= .
432 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

s ‡ Ò0 Ó œ Ò0 Ó,
B
Ò0 Ó ‡ sC œ Ò0 Ó.
s Ò!ß "Ó ‚ ‘ Ä Q definidas por
Sugestão: Considerar as aplicações Lß LÀ

LÐ=ß >Ñ œ œ
=
B se > Ÿ #
ß
0 Ð #>=
#= Ñ se >  =
#


#> #=
0 Ð #= Ñ se > Ÿ
s >Ñ œ
LÐ=ß #
ß
#=
C se >  #

fórmulas que podem ser sugeridas pela figura 13.

Figura 13
f) (Associatividade) Sendo 0 − GÐBß CÑ, 1 − GÐCß DÑ e 2 − GÐDß AÑ, mostrar
que Ð0 ‡ 1Ñ ‡ 2 e 0 ‡ Ð1 ‡ 2Ñ são equivalentes em GÐBß AÑ, isto é,
ÐÒ0 Ó ‡ Ò1ÓÑ ‡ Ò2Ó œ Ò0 Ó ‡ ÐÒ1Ó ‡ Ò2ÓÑ
(como é habitual, pode-se notar simplesmente Ò0 Ó ‡ Ò1Ó ‡ Ò2Ó este elemento).

Figura 14
Sugestão: Considerar (cf. a figura 14) a aplicação LÀ Ò!ß "Ó ‚ ‘ Ä Q
definida por
Exercícios 433

Ú
Ý 0 Ð #=
%>
Ñ se > Ÿ #=
LÐ=ß >Ñ œ Û 1Ð%>  #  =Ñ
%

Ý %>$=
se #=  > $=
ß
Ü 2Ð "= Ñ
% %
se >   $=
%

g) Para cada 0 − GÐBß CÑ, mostrar que tem lugar um elemento 0˜ − GÐCß BÑ
definido por 0˜ Ð>Ñ œ 0 Ð"  >Ñ. Mostrar que 0 ‡ 0˜ é um elemento de GÐBß BÑ
equivalente a Bs e que 0˜ ‡ 0 é um elemento de GÐCß CÑ equivalente a sC , por
outras palavras, que se tem
Ò0 Ó ‡ Ò0˜ Ó œ B
s,
˜
Ò0 Ó ‡ Ò0 Ó œ sC .

Por razões óbvias, é costume notar Ò0 Ó" o elemento Ò0˜ Ó.


Sugestão: Uma vez que se tem evidentemente 0˜˜ œ 0 , basta mostrar a
primeira afirmação. Escolher &  ! tal que 0 Ð>Ñ œ B, para cada > Ÿ &, e
0 Ð>Ñ œ C , para cada >   "  &. Utilizar um argumento de partição da unidade
para provar a existência de uma aplicação suave " À ‘ Ä Ó_ß "Ó verificando
as condições seguintes:

Figura 15
1) Se > Ÿ "# & , então " Ð>Ñ œ #> e, se > Ÿ "# , então " Ð>Ñ   #>;
2) Se >   "# & , então " Ð>Ñ œ #  #> e, se >   "# , então " Ð>Ñ   #  #>.
(Subsugestão: Começar por construir a aplicação "  " ). Reparar que a
aplicação que a > associa 0 Ð" Ð>ÑÑ não é mais do que a aplicação 0 ‡ 0˜ e
considerar a aplicação suave LÀ Ò!ß "Ó ‚ ‘ Ä \ definida por LÐ=ß >Ñ œ
0 Ð=" Ð>ÑÑ.
h) À família dos conjuntos VÐBß CÑ, com Bß C − \ , juntamente com a família
de aplicações VÐBß CÑ ‚ VÐCß DÑ Ä VÐBß DÑ, dá-se o nome de grupóide
fundamental (suave)106 da variedade sem bordo Q . Mostrar que, para cada

106Quando Q é simplesmente um espaço topológico, define-se o grupóide fundamental


de Q por um processo analogo ao precedente mas utilizando aplicações contínuas de
Ò!ß "Ó em Q em vez de aplicações suaves de ‘ em Q , verificando as condições atrás
descritas (não há neste caso necessidade de arredondar os cantos). Pode-se provar que,
434 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

B − Q , VÐBß BÑ é um grupo (o grupo fundamental de Q no ponto B) e que,


no caso em que a variedade sem bordo Q é conexa, quaisquer que sejam
Bß C − Q , os grupos fundamentais VÐBß BÑ e VÐCß CÑ são isomorfos (embora,
em geral, dos vários isomorfismos entre eles, não exista uma escolha
natural). Sugestão: Depois de feitas as alíneas anteriores, a resolução desta é
puramente algébrica.
Ex V.10 Diz-se que uma variedade sem bordo Q é simplesmente conexa se,
quaisquer que sejam Bß C − Q , o conjunto VÐBß CÑ é constituído por um
único elemento. Mostrar que toda a variedade simplesmente conexa é conexa
e que, para mostrar que uma variedade conexa Q é simplesmente conexa,
basta mostrar a existência de Bß C − Q tais que VÐBß CÑ seja constituído por
um único elemento.107
Ex V.11 a) Seja I um espaço euclidiano de dimensão 8   #. Mostrar que
I Ï Ö!× é conexo e deduzir que
W œ ÖB − I ± mBm œ "×

é também conexo. Sugestão: Sendo B Á ! em I , reparar que I Ï Ö!× é a


união dos conjuntos I Ï ‘ B e I Ï ‘ B, estrelados relativamente a B e a
B, respectivamente, e com intersecção não vazia. Considerar a aplicação de
B
I Ï Ö!× sobre W , que a B associa mBm .
b) Supondo agora que 8   $, mostrar que W é simplesmente conexa.
Sugestão: Uma vez que W é uma variedade sem bordo com dimensão
8  "   #, utilizar o teorema de Sard para mostrar que uma aplicação suave
:À ‘ Ä W nunca é sobrejectiva e reparar que, para cada B − W , a projecção
estereográfica define um difeomorfismo de W Ï ÖB× sobre o espaço vectorial
J œ БBѼ (cf. III.9.17).
Ex V.12 Mostrar que, se a variedade sem bordo Q é estrelada relativamente ao
elemento B! − Q , então Q é simplesmente conexa. Sugestão: Uma vez que
Q é conexa, basta mostrar que VÐB! ß B! Ñ é constituído por um único
elemento.
Ex V.13 Sejam Q § K uma variedade sem bordo e Bß C − Q . Seja 0 À ‘ Ä Q
uma aplicação suave pertencente a GÐBß CÑ e seja :À ‘ Ä ‘ uma aplicação
suave tal que :Ð>Ñ Ÿ !, para cada > Ÿ !, e :Ð>Ñ   ", para cada >   ".
Mostrar que a aplicação 1 œ 0 ‰ :À ‘ Ä Q também pertence a GÐBß CÑ e
define o mesmo elemento de VÐBß CÑ que 0 . Sugestão: Considerar a

quando Q é uma variedade sem bordo, as duas definições conduzem a grupóides


isomorfos, o isomorfismo associando à classe de equivalência de uma aplicação suave de
‘ em Q a classe de equivalência da sua restrição a Ò!ß "Ó.
107Mais uma vez, e de acordo como o que dissémos na nota anterior, esta definição é
equivalente à que se pode apresentar no quadro dos espaços topológicos gerais, utilizando
a definição correspondente de grupóide fundamental.
Exercícios 435

aplicação suave LÀ Ò!ß "Ó ‚ ‘ Ä Q definida por


LÐ=ß >Ñ œ 0 ÐÐ"  =Ñ>  =:Ð>ÑÑ.

Ex V.14 Seja Q § K uma variedade sem bordo suavemente contrátil no ponto


B! − Q (cf. o exercício V.6). Mostrar que Q é simplesmente conexa.
Sugestão: Basta provar que qualquer elemento 0 − GÐB! ß B! Ñ é equivalente
à aplicação constante Bs! . Sendo LÀ Ò!ß "Ó ‚ Q Ä Q nas condições da
definição apresentada no exercício V.6, considerar a aplicação suave
s Ò!ß "Ó ‚ ‘ Ä Q definida por

s >Ñ œ LÐ=ß 0 Ð>ÑÑ,
LÐ=ß
que quase resolve o nosso problema (resolveria se L tivesse a propriedade
suplementar LÐ=ß B! Ñ œ B! , para cada =, propriedade que não estamos a
supor). Utilizar o teorema da partição da unidade para considerar uma
aplicação suave !À ‘ Ä Ò!ß "Ó, verificando !Ð>Ñ œ !, para > Ÿ "$ , e !Ð>Ñ œ ",
para >   #$ , considerar as aplicações suaves " ß # À ‘ Ä Ò!ß "Ó ‚ Ò!ß "Ó definidas
por

" Ð>Ñ œ 
"
Ð!ß !Ð#>ÑÑ se > Ÿ #
" ß
Ð!Ð#>  "Ñß "Ñ se >  #

# Ð>Ñ œ 
"
Ð!Ð#>Ñß !Ñ se > Ÿ #
" ß
Ð"ß !Ð#>  "ÑÑ se >  #

e utilizá-las para definir uma aplicação suave L̃À Ò!ß "Ó ‚ ‘ Ä Q ,


˜ >Ñ œ LÐÐ"
LÐ=ß s  =Ñ" Ð>Ñ  =# Ð>ÑÑ.

Verificar que a aplicação L̃ implica que, sendo 1À ‘ Ä Q , a aplicação


definida por 1Ð=Ñ œ LÐ!Ð=Ñß B! Ñ, tem-se Ò1Ó ‡ Ò0 Ó œ B
s! ‡ Ò1Ó (cf. o exercício
anterior), e deduzir daí que Ò0 Ó œ B
s! .
Ex V.15 Sejam Q § K uma variedade sem bordo, I um espaço euclidiano e
I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § I . Dados Bß C − Q e
0 − GÐBß CÑ, notemos 00 À IB Ä IC o isomorfismo ortogonal de transporte
paralelo ao longo de 0 (cf. V.1.5).
a) Mostrar que, se 0 − GÐBß CÑ e 1 − GÐCß DÑ, tem-se
00 ‡1 œ 01 ‰ 00 À IB Ä ID .

b) Mostrar que, sendo B s − GÐBß BÑ a aplicação de valor constante B, o


isomorfismo 0Bs À IB Ä IB é a identidade e que, dado 0 − GÐBß CÑ e notando
0˜ o elemento oposto de GÐCß BÑ, definido na alínea g) do exercício V.9, o
isomorfismo 00˜ À IC Ä IB é o inverso do isomorfismo 00 À IB Ä IC .
c) Mostrar que, se 0 e 1 são elementos equivalentes de GÐBß CÑ e se
436 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

considerarmos orientações sobre IB e IC , então os isomorfismos 00 e 01 , de


IB sobre IC , conservam ambos ou invertem ambos as orientações e deduzir
daqui que, se a variedade sem bordo Q é simplesmente conexa, então todo o
fibrado vectorial de base Q é orientável. Sugestão: Para a primeira afirma-
ção, considerar uma aplicação suave LÀ ‘ ‚ ‘ Ä Q nas condições da
alínea a) do exercício V.9 e utilizar o resultado sobre a suavidade da solução
geral de uma equação diferencial paramétrica para deduzir que, sendo, para
cada = − ‘, 0= Ð>Ñ œ LÐ=ß >Ñ, é suave a aplicação que a = associa o
isomorfismo 00= . Para a segunda afirmação, atender à conclusão de a), ao
facto de todo o fibrado vectorial ser localmente orientável e ao facto de, num
fibrado vectorial suavemente orientado, os isomorfismos 0+ß, À I0 Ð+Ñ Ä I0 Ð,Ñ ,
de transporte paralelo, conservarem trivialmente as orientações.
d) Suponhamos que, para cada B − Q , o tensor de curvatura
VB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ ‚ IB Ä IB
é identicamente nulo. Mostrar que, se 0 e 1 são elementos equivalentes de
GÐBß CÑ, então os isomorfismos 00 e 01 , de IB sobre IC , coincidem.
Sugestão: Considerar uma aplicação suave LÀ ‘ ‚ ‘ Ä Q nas condições
da alínea a) do exercício V.9. Ter em conta o lema V.2.1, para garantir a
existência, para cada A − IB , de uma secção paralela [ do fibrado vectorial
L ‡ I , de base ‘ ‚ ‘, com [Ð!ß!Ñ œ A e verificar que 00 ÐAÑ e 01 ÐAÑ são
ambos iguais a [Ð"ß"Ñ .
Ex V.16 Sejam Q § K uma variedade sem bordo, simplesmente conexa, I um
espaço euclidiano e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial, com IB § I , tal
que o tensor de curvatura VB À XB Ð\Ñ ‚ XB Ð\Ñ ‚ IB Ä IB seja
identicamente nulo, para cada B − Q . Para cada par ÐBß CÑ de elementos de
Q , seja 0CßB À IB Ä IC o isomorfismo ortogonal 00 , onde 0 é um elemento
arbitrário de GÐBß CÑ (cf. a alínea c) do exercício precedente).
a) Dados Bß Cß D − Q , verificar que 0DßC ‰ 0CßB œ 0DßB À IB Ä ID .
b) Dados B! − Q e A − IB! , mostrar que tem lugar uma secção suave para-
lela [ œ Ð[B ÑB−Q de I , definida por [B œ 0BßB! ÐAÑ.
Sugestão: Verificar que [ coincide localmente com secções suaves parale-
las cuja existência é garantida por V.2.2.
c) Concluir, em particular, que I é um fibrado vectorial trivial.
Ex V.17 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo.
Sejam B − Q , A − XB ÐQ Ñ, > − ‘ e 0 À Ó+ß ,Ò Ä Q a geodésica máxima para
as condições iniciais 0 Ð>Ñ œ B e 0 w Ð>Ñ œ A. Mostrar que:
a) Se + é finito, então, para cada compacto O § Q , existe -  ! tal que,
para cada +  =  +  - , tem-se 0 Ð=Ñ Â O ;
b) Se , é finito, então, para cada compacto O § Q , existe -  ! tal que,
para cada ,  -  =  , , tem-se 0 Ð=Ñ Â O .
Deduzir que, se a variedade sem bordo Q é compacta, então, para cada
B − Q , A − XB ÐQ Ñ e > − ‘, existe uma geodésica 0 À ‘ Ä \ (definida na
Exercícios 437

totalidade de ‘), tal que 0 Ð>Ñ œ B e 0 w Ð>Ñ œ A (a variedade é geodesicamente


completa).
Sugestão: Trata-se de uma conclusão do tipo da apontada em IV.7.5. No
entanto, para poder aplicar esse resultado, tem que associar ao compacto
O § Q um subconjunto compacto conveniente de X ÐQ Ñ, e, para isso, será
útil ter em conta V.3.4 e a alínea a) de III.3.19.
Ex V.18 Sejam K e K s espaços euclidianos, Q § K e Q s §K s variedades e
s
:À Q Ä Q um difeomorfismo isométrico ou, mais geralmente, uma
aplicação suave paralela (cf. III.8.32). Mostrar que, se 0 À N Ä Q é uma
s é também uma geodésica.
geodésica, então : ‰ 0 À N Ä Q
Sugestão: Lembrar o exercício III.70.
Ex V.19 (Propriedade recíproca) Sejam K e K s espaços euclidianos e Q § K e
Q s
s § K duas variedades, a primeira das quais supomos, para simplificar, que
não tem bordo. Seja :À Q Ä Q s uma aplicação suave tal que, qualquer que
seja o intervalo aberto N § ‘ e a geodésica 0 À N Ä Q , a composta
: ‰ 0À N Ä Q s também seja uma geodésica. Mostrar que : é uma aplicação
paralela.
Sugestão: Uma vez que " Ð:ÑB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X:ÐBÑ ÐQ s Ñ é bilinear
simétrica, basta verificar que, para cada ? − XB ÐQ Ñ, " Ð0 ÑB Ð?ß ?Ñ œ !. Para
isso utilizar o exercício III.70, considerando uma geodésica 0 À Ó&ß &Ò Ä Q
com 0 Ð!Ñ œ B e 0 w Ð!Ñ œ ?.
Ex V.20 (O espelho de uma simetria) Sejam K um espaço euclidiano e Q § K
uma variedade sem bordo. Seja :À Q Ä Q uma simetria, isto é, um difeo-
morfismo isométrico tal que : ‰ : œ M.Q . Seja Q w § Q o espelho da
simetria, isto é, o conjunto
Q w œ ÖB − Q ± :ÐBÑ œ B×.
Sejam B! − Q w e J § XB! ÐQ Ñ o subespaço vectorial
J œ Ö? − XB! ÐQ Ñ ± H:B! Ð?Ñ œ ?×.

a) Mostrar que, se N § ‘ é um intervalo aberto, + − N e 0 À N Ä Q é uma


geodésica com 0 Ð+Ñ œ B! e 0 w Ð+Ñ − J , então 0 ÐN Ñ § Q w . Concluir que,
sendo expB! À WB! Ä Q a aplicação exponencial de Q em B! (cf. V.3.12), em
que WB! é um aberto de XB! ÐQ Ñ, tem-se expB! ÐWB!  J Ñ § Q w .
Sugestão: : ‰ 0 é outra geodésica de Q com o mesmo valor e a mesma
derivada no ponto +.
b) Mostrar que se tem XB! ÐQ w Ñ § J a aplicar o segundo teorema da
submersão (cf. II.4.39) à restrição de expB! ao aberto WB!  J de J para
concluir que Q w é uma variedade em B! e com
XB! ÐQ w Ñ œ Ö? − XB! ÐQ Ñ ± H:B! Ð?Ñ œ ?×.

c) Mostrar que Q w é uma subvariedade totalmente geodésica de Q .


438 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

Sugestão: :À Q Ä Q sendo totalmente geodésica, H:À X ÐQ Ñ Ä :‡ X ÐQ Ñ


é um morfismo linear paralelo, pelo que H:ÎQ w À X ÐQ ÑÎQ w Ä X ÐQ ÑÎQ w é
paralelo e basta então reparar que X ÐQ w Ñ é o kernel de H:ÎQ w  M. .
Ex V.21 Utilizar o exercício precedente para mostrar que:
a) Sejam I um espaço euclidiano, W œ ÖB − I ± mBm œ "× e J um
subespaço vectorial de I . O subconjunto W w œ W  J é então uma subvarie-
dade totalmente geodésica de W . Sugestão: Considerar a restrição a W da
simetria linear relativamente a J .
b) Sejam I um espaço euclidiano (respectivamente hermitiano) e conside-
remos em PÐIà IÑ o produto interno de Hilbert-Schmidt (respectivamente a
parte real deste). Sendo SÐIÑ § PÐIà IÑ o grupo ortogonal, conjunto dos
0 − PÐIà IÑ tais que 0‡ ‰ 0 œ M. , e e s# ÐIÑ § SÐIÑ o conjunto dos
s# ÐIÑ é
0 − SÐIÑ tais que 0 ‰ 0 œ M. (cf. o exercício II.40). Mostrar que e
uma subvariedade totalmente geodésica de SÐIÑ. Sugestão: Reparar que
es# ÐIÑ é o conjunto dos 0 − SÐIÑ tais que 0‡ œ 0.
Ex V.22 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo.
Mostrar que, se B − Q e expB À WB Ä Q é a aplicação exponencial de Q no
ponto B, então WB é uma parte de XB ÐQ Ñ estrelada relativamente a !.
Ex V.23 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo e
notemos expÀ W Ä Q a respectiva aplicação exponencial, onde, como sabe-
mos, W é um aberto de X ÐQ Ñ contendo Q ‚ Ö!×. Seja expÀ W Ä Q ‚ Q a
aplicação suave definida por
expÐBß AÑ œ ÐBß expÐBß AÑÑ.

a) Mostrar que, para cada B! − Q , existe &  ! tal que o aberto


ÖÐBß AÑ − X ÐQ Ñ ± mB  B! m  &, mAm  &×
de X ÐQ Ñ esteja contido em W e que a restrição de exp a este aberto seja um
difeomorfismo sobre um aberto de Q ‚ Q , contendo ÐB! ß B! Ñ. Concluir que,
para cada B − Q tal que mB  B! m  &, a bola aberta de centro ! e raio & de
XB ÐQ Ñ está contida em WB e a restrição de expB a essa bola aberta é um
difeomorfismo sobre um aberto de Q .
b) Utilizar o exercício II.24 para concluir, mais geralmente, que, para cada
compacto O § Q , existe &  ! tal que o aberto
ÖÐBß AÑ − X ÐQ Ñ ± .ÐBß OÑ  &, mAm  &×
de X ÐQ Ñ esteja contido em W e que a restrição de exp a este aberto seja um
difeomorfismo sobre um aberto de Q ‚ Q . Concluir que, para cada B − Q
tal que .ÐBß OÑ  &, a bola aberta de centro ! e raio & de XB ÐQ Ñ está contida
em WB e a restrição de expB a essa bola aberta é um difeomorfismo sobre um
aberto de Q .
Exercícios 439

Ex V.24 Seja I um espaço euclidiano (respectivamente hermitiano) e consi-


dere-se em PÐIà IÑ o produto interno de Hilbert-Schmidt (respectivamente,
a parte real deste). Seja SÐIÑ § P3=9 ÐIà IÑ o conjunto dos isomorfismos
ortogonais, que sabemos ser uma variedade compacta sem bordo e com
X0 ÐSÐIÑÑ constituído pelos . − PÐIà IÑ tais que .‡ ‰ 0 œ 0‡ ‰ . (cf.
II.5.7).
a) Mostrar que a aplicação exponencial expM. , de SÐIÑ no elemento M.I ,
está definida na totalidade de XM. ÐSÐIÑÑ por
expM. Ð.Ñ œ expÐ.Ñ,
onde expÐ.Ñ nota a exponencial do endomorfismo . (cf. o exercício IV.24).
Sugestão: Utilizar a alínea e) do exercício referido e o exercício III.22 para
mostrar que a aplicação que a > associa expÐ>.Ñ toma valores em SÐIÑ e é
uma geodésica de SÐIÑ, que em ! toma o valor M.I e tem derivada ..
b) Utilizar o exercício V.18 para mostrar, mais geralmente, que, para cada
0 − SÐIÑ e . − X0 ÐSÐIÑÑ,
exp0 Ð.Ñ œ 0 ‰ expÐ0" ‰ .Ñ.

Nota: Se em vez de SÐIÑ considerássemos a variedade KPÐIÑ, constituída


por todos os isomorfismos de I sobre I , a respectiva aplicação exponencial
tinha um aspecto totalmente distinto (cf. o exemplo 1 em V.3.14).
Ex V.25 (O lema de Gauss) Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma
variedade sem bordo, com dimensão 8   ". Sejam B − Q e <  !, tais que a
bola aberta F< de XB ÐQ Ñ, com centro ! e raio <, esteja contida no domínio da
aplicação exponencial expB e que a restrição de expB a F< seja um difeomor-
fismo de F< sobre um aberto F s < de Q (cf. V.3.16). Seja W § XB ÐQ Ñ a
hipersuperfície esférica de centro ! e raio " e notemos
:À Ó<ß <Ò ‚ W Ä \
a aplicação suave definida por
:Ð>ß AÑ œ expB Ð>AÑ.

a) Mostrar que, para cada Ð>ß AÑ − Ó<ß <Ò ‚ W ,


`: `:
Ø Ð>ß AÑß Ð>ß AÑÙ œ ".
`> `>
Sugestão: Ter em conta V.3.4.
b) Mostrar que, para cada Ð>ß AÑ − Ó<ß <Ò ‚ W e ? − XA ÐWÑ,
`:
ØH# :Ð>ßAÑ Ð?Ñß Ð>ß AÑÙ œ !,
`>
onde H# : nota a derivada parcial de : relativamente à segunda variável.
Sugestão: Verificar que o primeiro membro da igualdade é nulo para > œ !,
440 Cap. V. Aplicações Geométricas das Equações Diferenciais

pelo que basta ver que é nula a sua derivada, como função de >. Essa
derivada é soma de duas parcelas, uma das quais é nula, por > È :Ð>ß AÑ ser
uma geodésica e para ver que a outra é nula basta derivar, como função de A,
ambos os membros da igualdade obtida em a).
Nota: Notando, para cada !  +  <, W+ a hipersuperfície esférica de
s+ § Q , W
XB ÐQ Ñ, com centro ! e raio +, e W s + œ expB ÐW+ Ñ, que é portanto
uma variedade compacta, sem bordo, de dimensão 8  ", a conclusão de b)
garante que a geodésica, que a > associa :Ð>ß AÑ, é ortogonal às variedades
s +.
W
Ex V.26 Coloquemo-nos nas hipóteses e com as notações utilizadas no exercício
precedente. Para cada aplicação suave 0 À Ò!ß " Ó Ä Q , consideremos o seu
comprimento compÐ0 Ñ, definido por

compÐ0 Ñ œ (
"
m0 w Ð>Ñm .>.
!

a) Sejam !  +  ,  <. Mostrar que, para cada A − W , a aplicação


0 À Ò+ß ,Ó Ä Q , definida por 0 Ð>Ñ œ :Ð>ß AÑ œ expB Ð>AÑ, é uma geodésica
com 0 Ð+Ñ − W s + , 0 Ð,Ñ − W
s , e compÐ0 Ñ œ ,  + e que, se 1À Ò!ß "Ó Ä Q é
uma aplicação suave, verificando 1Ð!Ñ − W s + e 1Ð" Ñ − W s , , então
compÐ1Ñ   ,  +, tendo-se compÐ1Ñ œ ,  + se, e só se, existir A − W e uma
aplicação suave 3À Ò!ß " Ó Ä Ò+ß ,Ó, crescente (no sentido lato) e verificando
3Ð!Ñ œ + e 3Ð" Ñ œ , , tais que 1Ð>Ñ œ :Ð3Ð>Ñß AÑ œ expB Ð3Ð>ÑAÑ.
Sugestão: Considerando o máximo !w dos > tais que 1Ð>Ñ − W s + e o mínimo " w
s , , mostrar que se pode já supor que a imagem
dos > − Ò! ß " Ó tais que 1Ð>Ñ − W
w

s
de 1 está contida em F < Ï ÖB×. Escrever então
1Ð>Ñ œ :Ð3Ð>Ñß [ Ð>ÑÑ,
com 3À Ò!ß " Ó Ä Ó!ß <Ò e [ À Ò!ß " Ó Ä W aplicações suaves e, utilizando o
exercício precedente (lema de Gauss), mostrar que [ w Ð>Ñ œ ! e 3w Ð>Ñ   !.
b) Seja !  ,  <. Mostrar que, para cada A − W , a aplicação 0 À Ò!ß ,Ó Ä Q ,
definida por 0 Ð>Ñ œ :Ð>ß AÑ œ expB Ð>AÑ, é uma geodésica verificando
0 Ð!Ñ œ B, 0 Ð,Ñ − W s , e compÐ0 Ñ œ , e que, se 1À Ò!ß " Ó Ä Q é uma
aplicação suave, com 1Ð!Ñ œ B e 1Ð" Ñ − W s , , então compÐ1Ñ   , , tendo-se
compÐ1Ñ œ , se, e só se, existe A − W e uma aplicação suave
3À Ò!ß " Ó Ä Ò!ß ,Ó, crescente (no sentido lato) e verificando 3Ð!Ñ œ !,
3 Ð" Ñ œ , e
1Ð>Ñ œ :Ð3Ð>Ñß AÑ œ expB Ð3Ð>ÑAÑ.

Sugestão: Considerar o máximo !w dos > − Ò!ß " Ó tais que 1Ð>Ñ œ B e aplicar
a conclusão da alínea precedente à restrição de 1 a cada intervalo Ò>ß " Ó, com
!w  >  " , passando ao limite para > Ä !w .
Exercícios 441

c) Mostrar que, se 1À Ò!ß " Ó Ä Q é uma aplicação suave tal que 1Ð!Ñ œ B e
s < , então compÐ1Ñ   <.
1Ð" Ñ Â F
Ex V.27 Sejam K um espaço euclidiano e Q § K uma variedade sem bordo, e
seja 1À Ò!ß " Ó Ä Q uma geodésica. Mostrar que existe então &  ! tal que,
qualquer que seja Ò# ß $ Ó § Ò!ß " Ó, com $  # Ÿ &, o comprimento da restrição
de 1 a Ò# ß $ Ó é menor ou igual ao de qualquer outra aplicação suave
2À Ò-ß .Ó Ä Q , verificando 2Ð-Ñ œ 1Ð# Ñ e 2Ð.Ñ œ 1Ð$ Ñ (a restrição de 1 a
Ò# ß $ Ó é uma geodésica minimizante). Sugestão: Aplicar o exercício prece-
dente e a alínea b) do exercício V.23.
CAPÍTULO VI
Estruturas Diferenciáveis
e Variedades Abstractas

§1. Estruturas diferenciáveis e aplicações suaves.

As variedades, que estudámos até agora, são subconjuntos de espaços


vectoriais ambientes de dimensão finita que são localmente difeomorfos a
abertos de outros espaços vectoriais de dimensão finita (ou, mais
geralmente, a abertos de sectores destes últimos). O espaço vectorial
ambiente é utilizado para permitir dizer o que são as aplicações suaves e,
em particular, os difeomorfismos, e às variedades neste quadro pode-se
dar o nome de variedades concretas. O nosso objectivo neste capítulo é a
apresentação dos fundamentos da teoria das variedades abstractas, que
vão ser, mais uma vez, conjuntos localmente difeomorfos a abertos de
espaços vectoriais de dimensão finita (ou de sectores destes) mas que não
são, em geral, subconjuntos de espaços vectoriais de dimensão finita. Há,
no entanto, a dificuldade de, sem a presença de uma estrutura suplementar
conveniente, não fazer sentido falar de difeomorfismos locais no âmbito
de conjuntos arbitrários. É por isso que somos conduzidos a começar por
definir uma noção de estrutura diferenciável sobre um conjunto, na pre-
sença da qual fará sentido falar de aplicações suaves e, em particular, de
difeomorfismos.

VI.1.1 Seja E um conjunto. Vamos chamar carta de E a toda a bijecção


:À E Ä F , em que F é uma parte arbitrária de um espaço vectorial I de
dimensão finita108. No caso em que E é um espaço topológico, dizemos que
uma tal carta é compatível com a topologia de E, ou que é uma carta do
espaço topológico E, se :À E Ä F for um homeomorfismo.
VI.1.2 É claro que, se E é um conjunto e :À E Ä F § I é uma carta de E,
existe uma única topologia em E com a qual a carta é compatível (a carta
define a topologia).
VI.1.3 Sejam E um conjunto e :À E Ä F e <À E Ä G duas cartas de E, onde
F § I e G § J . Diz-se que as cartas : e < são compatíveis se a bijecção

108Se quisermos ser mais precisos, a carta não é simplesmente a bijecção :, mas sim o
par formado por esta e pelo espaço vectorial I que se considera como ambiente de F (um
mesmo conjunto F pode estar contido num espaço vectorial I e nalgum dos seus
subespaços vectoriais).
444 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

< ‰ :" À F Ä G , entre subconjuntos de espaços vectoriais de dimensão


finita, for um difeomorfismo. Fica assim definida uma relação de
equivalência na classe das cartas do conjunto E.
Dem: O facto de se ter : µ : resulta de que : ‰ :" œ M.F que é um
difeomorfismo. Supondo que : µ <, < ‰ :" À F Ä G é um difeomorfismo
cujo inverso é : ‰ <" À G Ä F , o que mostra que < µ :. Dada uma terceira
carta 3À E Ä H § L , se : µ < e < µ 3, então < ‰ :" À F Ä G e
3 ‰ <" À G Ä H são difeomorfismos, o que implica que
3 ‰ :" œ Ð3 ‰ <" Ñ ‰ Ð< ‰ :" ÑÀ F Ä H
é um difeomorfismo, e portanto : µ 3. …
VI.1.4 Sejam E um conjunto e :À E Ä F § I e <À E Ä G § J duas cartas
compatíveis de E. Uma topologia de E é então compatível com a carta : se,
e só se, for compatível com a carta < (as cartas : e < definem a mesma
topologia em E).
Dem: Basta atender a que se pode escrever < œ Ð< ‰ :" Ñ ‰ :, onde
< ‰ :" À F Ä G é um difeomorfismo, em particular um homeomorfismo. …
VI.1.5 (Nota) Sejam :À E Ä F § I e <À E Ä G § J duas cartas do conjunto
E e seja I w § I um subespaço vectorial tal que se tenha ainda F § I w . Tal
como observámos na nota de pé de página 108, a carta :, quando se
considera I como espaço ambiente de F , deve ser considerada formalmente
diferente da carta :, quando se considera I w como espaço ambiente de F . No
entanto, se recordarmos o que se disse nas alíneas a) e b) da nota II.2.17,
sobre a independência da noção de aplicação de classe G 5 relativamente aos
espaços ambientes que se consideram no domínio e no espaço de chegada,
constatamos imediatamente que a carta < é compatível com a carta :, com I
como espaço ambiente de F , se, e só se, for compatível com :, com I w como
espaço ambiente de F .
VI.1.6 Chama-se estrutura diferenciável de um conjunto, ou de um espaço
topológico, E a uma classe de equivalência de cartas do conjunto, ou do
espaço topológico, E, para a relação de compatibilidade atrás referida.
É claro que, tendo em conta VI.1.2 e VI.1.4, dada uma estrutura diferenciável
de um conjunto E, existe uma única topologia de E tal que ela seja uma
estrutura diferenciável do espaço topológico (a estrutura diferenciável
determina a topologia). Dizemos que esta topologia é a topologia associada
à estrutura diferenciável.109
VI.1.7 Em geral, dada uma estrutura diferenciável do conjunto E, chamamos
cartas da estrutura diferenciável às cartas da classe de equivalência em
questão. Repare-se que, tendo em conta o que dissémos na nota VI.1.5, se
:À E Ä F § I é uma carta de E e se I w § I é um subespaço vectorial tal

109Falarde estrutura diferenciável sobre um conjunto ou sobre um espaço topológico é


assim meramente uma questão de comodidade.
§1. Estruturas diferenciáveis e aplicações suaves 445

que F § I w , então : é uma carta da estrutura diferenciável, quando se


considera I como ambiente de F se, e só se, : é uma carta da estrutura
diferenciável, quando se considera I w como ambiente de F .

Note-se que a definição de estrutura diferenciável que estamos a apresen-


tar não é a mais usual. O que se faz com mais frequência é definir estru-
tura diferenciável sobre um espaço topológico E a partir de um atlas, isto
é, de um conjunto de cartas locais, homeomorfismos de subconjuntos
abertos de E sobre subconjuntos de espaços vectoriais de dimensão finita
(que por vezes se pede que sejam abertos), cartas locais essas que devem
ser compatíveis entre si, num sentido conveniente, e cujos domínio devem
ter união E.
Para explicar a razão da opção que estamos a tomar, podemos referir que,
como se verificará adiante, o que vamos fazer até ao fim desta secção é
referir uma série de resultados mais ou menos óbvios e com justificações
igualmente óbvias, que serão necessários para podermos utilizar o concei-
to; pelo contrário, se tivéssemos seguido a via mais usual teríamos igual-
mente de referir resultados do mesmo tipo, mas com demonstrações técni-
camente mais artificiosas e desagradáveis de explicitar.
É claro que, quando se procura uma simplificação, raramente se foge de
pagar um preço: Para estabelecermos um resultado importante em muitas
aplicações, que garante, em particular, a possibilidade de caracterizar
estruturas diferenciáveis a partir de cartas locais, vamos necessitar de pro-
var um resultado não trivial, que consiste essencialmente no teorema do
mergulho de Whitney, o que será feito mais adiante na secção 3 (cf. a nota
VI.3.16).

VI.1.8 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e E § I um


subconjunto arbitrário, sobre o qual consideramos a topologia induzida.
Tem-se então que a aplicação M.E À E Ä E § I é uma carta de E que define
assim uma estrutura diferenciável de E. É esta a estrutura diferenciável que
consideramos implicitamente num subconjunto E de um espaço vectorial de
dimensão finita (podemos chamar-lhe a estrutura diferenciável canónica de
E).
VI.1.9 (O exemplo das variedades de Grassmann abstractas) Relembremos
que, se I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8, notamos
†ÐIÑ o conjunto dos subespaços vectoriais de I e, para cada ! Ÿ 5 Ÿ 8,
†5 ÐIÑ o subconjunto daqueles cuja dimensão é 5 (cf. II.5.12). Pode-se então
definir uma estrutura diferenciável canónica em †ÐIÑ (e, em particular, uma
topologia canónica neste conjunto) pela condição de, para cada produto
interno que se considere em I , a bijecção : de †ÐIÑ sobre o subconjunto
KÐIÑ § PÐIà IÑ, cujos elementos são as projecções ortogonais, que a cada
J − †ÐIÑ associa a projecção ortogonal 1J , ser uma carta da estrutura
diferenciável.
A topologia de †ÐIÑ é então um compacta e separada e, para cada
! Ÿ 5 Ÿ 8, o subconjunto †5 ÐIÑ é aberto e fechado em †ÐIÑ.
446 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Dem: É claro que, fixado um produto interno em I , ficamos com uma carta
:À †ÐIÑ Ä KÐIÑ que define uma estrutura diferenciável em †ÐIÑ. O que
temos que verificar é que esta não depende do produto interno que se
considera em I . Para isso, consideramos um segundo produto interno, para o
qual notamos 1 sJ as projecções ortogonais, KÐIÑs § PÐIà IÑ o conjunto
destas últimas e : s
sÀ †ÐIÑ Ä KÐIÑ a carta que a J associa 1 sJ e ficamos
reduzidos a mostrar que as duas cartas : / : s são compatíveis, isto é, que a
bijecção : s
s ‰ :" À KÐIÑ Ä KÐIÑ , que a 1J associa 1
sJ , é um difeomorfismo
e isso já foi verificado em III.1.22. As propriedades relativas à topologia
associada de †ÐIÑ resultam de :À †ÐIÑ Ä KÐIÑ ser um homeomorfismo
que aplica †5 ÐIÑ sobre K5 ÐIÑ, uma vez que, como foi provado em II.5.13,
KÐIÑ § PÐIà IÑ é compacto, e evidentemente separado, e os seus
subconjuntos K5 ÐIÑ são simultaneamente abertos e fechados em KÐIÑ. …
VI.1.10 Sejam E um espaço topológico e E s § E um subconjunto, sobre o qual
se considera, naturalmente, a topologia induzida. Tem-se então:
a) Se :À E Ä F § I é uma carta de E, então a restrição
s Ä :ÐEÑ
:ÎEs À E s §I

é uma carta de E s (damos-lhe o nome de restrição a E


s da carta local :).
b) Se :À E Ä F § I e <À E Ä G § J são cartas compatíveis de E, então
as cartas :ÎEs e <ÎEs de E s são também compatíveis.
Dem: A alínea a) é trivial. A alínea b) resulta de que a bijecção
s Ä <ÐEÑ
<ÎEs ‰ Ð:ÎEs Ñ" À :ÐEÑ s é um difeomorfismo, por ser a restrição do
difeomorfismo < ‰ : À F Ä G .
"
…
VI.1.11 Sejam E um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável,
eE s § E. Chama-se então estrutura diferenciável induzida em E s à estrutura
diferenciável definida pela carta :ÎEs de Es, em que : é uma carta arbitrária
que defina a estrutura diferenciável de E.
Salvo aviso em contrário, num subconjunto de um espaço topológico em que
se está a considerar uma estrutura diferenciável, será sempre a estrutura
diferenciável induzida aquela que se considera implicitamente.
VI.1.12 As três propriedades seguintes são de demonstração trivial mas são
necessárias para que as convenções referidas em, VI.1.8 e VI.1.11 não con-
duzam a complicações:
a) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e E s § E § I . Tem-se
s
então que a estrutura diferenciável canónica de E, enquanto subconjunto de
I , coincide com a estrutura diferenciável induzida em E s pela estrutura
diferenciável canónica de E, enquanto subconjunto de I .
b) Seja E um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável.
Tem-se então que a estrutura diferenciável induzida em E, enquanto subcon-
§1. Estruturas diferenciáveis e aplicações suaves 447

junto de E é a estrutura diferenciável de partida110.


c) Sejam E um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável, e
subconjuntos Eww § Ew § E. Tem-se então que a estrutura diferenciável de
Eww induzida pela estrutura diferenciável de E coincide com a estrutura
diferenciável induzida em Eww pela estrutura diferenciável de Ew induzida pela
de E.
VI.1.13 (O exemplo das variedades de Grassmann abstractas) Seja I um
espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8, e consideremos a
variedade de Grassmann †ÐIÑ, cujos elementos são os subespaços vectoriais
de I , com a sua estrutura diferenciável canónica (cf. VI.1.9). Seja I w § I
um subespaço vectorial e consideremos a respectiva variedade de Grassmann
†ÐI w Ñ, que é evidentemente um subconjunto de †ÐIÑ. Tem-se então que
†ÐI w Ñ é fechado em †ÐIÑ e a estrutura diferenciável induzida em †ÐI w Ñ é a
estrutura diferenciável canónica.
Dem: Fixemos um produto interno em I e consideremos em I w o produto
interno induzido. Ficamos então com os correspondentes conjuntos de
projecções ortogonais KÐIÑ § PÐIà IÑ e KÐI w Ñ § PÐI w à I w Ñ e com as
cartas :À †ÐIÑ Ä KÐIÑ e <À †ÐI w Ñ Ä KÐI w Ñ, definindo as estruturas dife-
renciáveis canónicas, definidas por :ÐJ Ñ œ 1J e <ÐJ Ñ œ 1Jw , onde notamos
1J a projecção ortogonal de I sobre J e 1Jw a projecção ortogonal de I w
sobre J . A estrutura diferenciável induzida em †ÐI w Ñ vai estar assim
definida pela carta restrição :ΆÐI w Ñ À †ÐI w Ñ Ä :ІÐI w ÑÑ pelo que, para pro-
varmos que ela coincide com a estrutura diferenciável canónica, tudo o que
temos que verificar é que as cartas :ΆÐI w Ñ e < são compatíveis, ou seja, que
a bijecção
:ΆÐI w Ñ ‰ <" À KÐI w Ñ Ä :ІÐI w ÑÑ

é um difeomorfismo. Ora, uma vez que esta bijecção associa a cada


projecção ortogonal 1Jw , de I w sobre J , a projecção ortogonal 1J , de I
sobre J , o facto de termos um difeomorfismo resulta de aplicar III.1.21 à
aplicação linear inclusão I w Ä I . Por fim, o facto de †ÐI w Ñ ser fechado em
†ÐIÑ resulta de que, com a topologia induzida pela do espaço topológico
separado †(E), é um espaço topológico compacto. …
VI.1.14 Sejam E e E s espaços topológicos, cada um dos quais munido de uma
estrutura diferenciável. Diz-se que uma aplicação 0 À E Ä E s é de classe G :
se existir uma carta :À E Ä F § I da estrutura diferenciável de E e uma
carta : sÄF
sÀ E s§I s tais que
s da estrutura diferenciável de E
s,
s ‰ 0 ‰ :" À F Ä F
:
seja G : , enquanto aplicação entre subconjuntos de espaços vectoriais de

110O autor sente-se um pouco envergonhado ao enunciar uma propriedade tão trivial mas
pensa, apesar de tudo, que isso possa ter algum interesse formativo.
448 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

dimensão finita. Chamamos suaves às aplicações de classe G _ .


Quando 0 À E Ä E s é G : , 0 é também contínua e, quaisquer que sejam as
cartas <À E Ä G § J da estrutura diferenciável de E e < sÄG
sÀ E s §J s da
s
estrutura diferenciável de E, a aplicação
s,
s ‰ 0 ‰ <" À G Ä G
<
é ainda G : .
Dem: O facto de 0 ser contínua resulta de que podemos escrever
s" ‰ Ð:
0 œ: s ‰ 0 ‰ :" Ñ ‰ :,

onde : e :s" são homeomorfismos e : s ‰ 0 ‰ :" é contínua por ser uma


aplicação G entre subconjuntos de I e I
: s . O facto de, para cartas arbitrárias
<À E Ä G § J e < sÄG
sÀ E s §J s ‰ 0 ‰ <" À G Ä G
s, < s ser ainda G : vem de
que podemos escrever
s ‰ 0 ‰ <" œ Ð<
< s‰:
s" Ñ ‰ Ð:
s ‰ 0 ‰ :" Ñ ‰ Ð: ‰ <" Ñ,

onde : s‰:
s é G: e <
s ‰ 0 ‰ :" À F Ä F s" À F s e : ‰ <" À G Ä F são
sÄG
difeomorfismos.
s é uma aplicação constante, 0 é trivialmente
VI.1.15 Por exemplo, se 0 À E Ä E
suave.
VI.1.16 a) Sejam E é um espaço topológico, munido de uma estrutura diferen-
ciável, e Es § E um subconjunto, sobre o qual se considera a estrutura
diferenciável induzida. A inclusão +À Es Ä E é então uma aplicação suave.
Em particular, a aplicação identidade M.E À E Ä E é uma aplicação suave.
b) Sejam E, E s e E˜ espaços topológicos, munidos de estruturas
s e 1À E
diferenciáveis, e 0 À E Ä E s Ä E˜ duas aplicações de classe G : . Então
que a aplicação composta 1 ‰ 0 À E Ä E˜ é também de classe G : .
Dem: Para a alínea a) basta escolher uma carta :À E Ä F § I da estrutura
diferenciável de E e utilizar esta carta para o espaço de chegada e a carta
s Ä :ÐEÑ
:ÎEs À E s § I para o domínio, notando que

s ÄF
: ‰ M.E ‰ Ð:ÎEs Ñ" À :ÐEÑ

é a inclusão, e portanto suave. Para demonstrar b), consideramos cartas arbi-


trárias :À E Ä F § I , : sÄF
sÀ E s§I s e :˜À E˜ Ä F˜ § I˜ e reparamos que se
tem
s" Ñ ‰ Ð:
:˜ ‰ Ð1 ‰ 0 Ñ ‰ :" œ Ð:˜ ‰ 1 ‰ : s ‰ 0 ‰ :" Ñ,

com :s ‰ 0 ‰ :" À F Ä F s e :˜ ‰ 1 ‰ : s Ä F˜ de classe G : , o que implica


s" À F
˜
que :˜ ‰ Ð1 ‰ 0 Ñ ‰ : À F Ä F é de classe G : .
"
…
§1. Estruturas diferenciáveis e aplicações suaves 449

VI.1.17 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I e F § J


dois subconjuntos e 0 À E Ä F uma aplicação. Tem-se então que a aplicação
0 é G : , enquanto aplicação entre subconjuntos de espaços vectoriais de
dimensão finita, se, e só se, 0 é G : , relativamente às estruturas diferenciáveis
de E e de F , enquanto subconjuntos de I e de J , respectivamente.
Dem: Basta utilizarmos a definição, com as cartas M.E À E Ä E § I e
M.F À F Ä F § J . …
VI.1.18 Sejam E e E s espaços topológicos, munidos de estruturas diferenciáveis,
w
eE s §E s um subconjunto, sobre o qual se considera a estrutura diferenciável
induzida. Se 0 À E Ä E sw é uma aplicação, então 0 é de classe G : enquanto
aplicação E Ä E sw se, e só se, o for enquanto aplicação E Ä E s.
Dem: Para uma das implicações, basta atender a que 0 À E Ä E s é a composta
w w
de 0 À E Ä E s com a inclusão +À E s ÄE s. Suponhamos, reciprocamente, que
0À E Ä E s é G : . Podemos considerar uma carta :À E Ä F § I da estrutura
diferenciável de E e uma carta : sÀ EsÄF s§I s da estrutura diferenciável de
s
E e então : "
s ‰ 0 ‰ : ÀF Ä F s é de classe G : . Então a restrição
w w
: s Ä:
s sw À E sÐEsѧF s§I s é uma carta de E sw e :
s sw ‰ 0 ‰ :" À F Ä : sw Ñ
sÐE
ÎE ÎE
coincide com : s , sendo assim também G : , o que mostra
s ‰ 0 ‰ :" À F Ä F
w
s éG .
que 0 À E Ä E :
…
VI.1.19 Sejam E e E s espaços topológicos, munidos de estruturas diferenciáveis,
e Ew § E um subconjunto, sobre o qual se considera a estrutura diferenciável
induzida. Se 0 À E Ä E s é uma aplicação de classe G : , então a restrição
0ÎEw À Ew Ä Es é também de classe G : .
Dem: Basta atender a que a restrição não é mais do que a composta de
0À E Ä E s com a inclusão +À Ew Ä E. …
VI.1.20 (O exemplo das variedades de Grassmann abstractas) Sejam I e I s
espaços vectoriais, reais ou complexos, de dimensão finita e 0À I Ä I s uma
aplicação linear injectiva. Considerando então as correspondentes variedades
de Grassmann †ÐIÑ e †ÐIÑ s , com as estruturas diferenciáveis canónicas, tem
lugar uma aplicação suave 0‡ À †ÐIÑ Ä †ÐIÑ s definida por 0‡ ÐJ Ñ œ 0ÐJ Ñ.
Dem: Fixemos produtos internos em I e em I s e consideremos os
s
correspondentes conjuntos KÐIÑ e KÐIÑ, cujos elementos são as projecções
ortogonais, e as cartas :À †ÐIÑ Ä KÐIÑ e : sÀ †ÐIÑs Ä KÐIÑ s , que associam
a cada subespaço vectorial a correspondente projecção ortogonal, que
definem as estruturas diferenciáveis canónicas. Para mostrar que a aplicação
0‡ é suave basta assim mostrar que a composta : s ‰ 0‡ ‰ :" À KÐIÑ Ä KÐIÑ s
é suave e, uma vez que esta composta associa a cada projecção ortogonal 1J
a projecção ortogonal 10ÐJ Ñ , essa suavidade está garantida por III.1.21. …
VI.1.21 (Variedades de Grassmann abstractas e fibrados vectoriais) Sejam
I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão finita, K um espaço
450 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

vectorial real de dimensão finita, E § K um conjunto e ÐIB ÑB−E uma família


de subespaços vectoriais de I . Tem-se então que esta família é um fibrado
vectorial se, e só se, for suave a aplicação de E para †ÐIÑ que a cada B
associa IB .
Dem: Fixemos um produto interno em I e consideremos o correspondente
conjunto KÐIÑ das projecções ortogonais sobre subespaços vectoriais de I e
a carta :À †ÐIÑ Ä KÐIÑ, que define a estrutura diferenciável da variedade
de Grassmann, a qual associa a cada J a projecção ortogonal 1J . A aplica-
ção de E para †ÐIÑ que a B associa IB é assim suave se, e só se, for sua a
sua composta com :, isto é a aplicação de E em KÐIÑ que a cada B associa a
projecção ortogonal 1B de I sobre IB e sabemos que isso é equivalente ao
facto de a família ser um fibrado vectorial (cf. a alínea b) de III.1.18). …
VI.1.22 (A suavidade é uma noção local) Sejam E e E s espaços topológicos,
munidos de estruturas diferenciáveis, e Ð[4 Ñ4−N uma família de abertos de E
tal que E œ - [4 . Seja 0 À E Ä Es uma aplicação tal que, para cada 4 − N , a
4−N
restrição 0Î[4 À [4 Ä Es seja G : . Tem-se então que 0 À E Ä E s é G :.
Dem: Sejam :À E Ä F § I e <À E sÄF s§I s cartas locais das estruturas
diferenciáveis de E e de E s, respectivamente. Tem-se então que, para cada 4,
:Î[4 À [4 Ä :Ð[4 Ñ § F § I é uma carta da estrutura diferenciável
induzida em [4 , com :Ð[4 Ñ aberto em F . Vemos então que a aplicação
< ‰ 0 ‰ :" À F Ä F s tem restrição a cada um dos abertos :Ð[4 Ñ de F , cuja
união é F , igual a < ‰ 0 ‰ Ð:Î[4 Ñ" À :Ð[4 Ñ Ä F s , que é G : , o que implica
que < ‰ 0 ‰ :" À F Ä F s é G : , e portanto que 0 À E Ä E s é G :. …
VI.1.23 Sejam E e E s espaços topológicos, munidos de estruturas diferenciáveis.
Diz-se que uma aplicação bijectiva 0 À E Ä E s é um difeomorfismo se as
aplicações 0 À E Ä Es e 0 " À E
s Ä E são ambas suaves. É claro que 0 é então
também um homeomorfismo (toda a aplicação suave é contínua).
VI.1.24 Os difeomorfismos entre conjuntos munidos de estruturas diferenciáveis
gozam trivialmente das seguintes propriedades:
a) Se E é um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável,
então M.E À E Ä E é um difeomorfismo.
b) Se E e E s são espaços topológicos, munidos de estruturas diferenciáveis, e
se 0 À E Ä Es é um difeomorfismo, então 0 " À E
s Ä E é um difeomorfismo.
c) Se E, E s e E˜ são espaços topológicos, munidos de estruturas diferenciá-
veis, e se 0 À E Ä Es e 1À Es Ä E˜ são difeomorfismos, então 1 ‰ 0 À E Ä E˜ é
um difeomorfismo.
d) Se E e E s são espaços topológicos, munidos de estruturas diferenciáveis, e
se 0 À E Ä E s é um difeomorfismo, então, para cada subconjunto Ew § E, a
bijecção 0ÎEw À Ew Ä 0 ÐEw Ñ é também um difeomorfismo.
§1. Estruturas diferenciáveis e aplicações suaves 451

O resultado que enunciamos em seguida identifica, a posteriori, as cartas


duma estrutura diferenciável com os difeomorfismos desta para
subconjuntos de espaços vectoriais de dimensão finita, com a estrutura
diferenciável canónica.

VI.1.25 Seja E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável. Sejam I


um espaço vectorial de dimensão finita, F § I um subconjunto e :À E Ä F
uma aplicação bijectiva. Tem-se então que : é uma carta de estrutura
diferenciável de E se, e só se, : é um difeomorfismo, quando se considera
em F a estrutura diferenciável que lhe vem de ser uma parte de I .
Dem: Vamos começar por supor que :À E Ä F § I é uma carta da
estrutura diferenciável de E. Considerando a carta da estrutura diferenciável
de F , M.F À F Ä F § I , vemos que M.F ‰ : ‰ :" À F Ä F é a aplicação
identidade, em particular suave, o que mostra que :À E Ä F é uma aplicação
suave, e, do mesmo modo, : ‰ :" ‰ M.F À F Ä F é a identidade, em
particular suave, o que mostra que :" À F Ä E é também uma aplicação
suave. Ficou assim provado que :À E Ä F é um difeomorfismo.
Suponhamos agora, reciprocamente, que :À E Ä F é um difeomorfismo.
Consideremos uma carta <À E Ä G § J da estrutura diferenciável de E. O
facto de :À E Ä F ser suave implica que M.F ‰ : ‰ <" À G Ä F é uma
aplicação suave e o facto de :" À F Ä E ser suave implica que
< ‰ :" ‰ M.F À F Ä G é suave. Concluímos assim que a bijecção
< ‰ :" À F Ä G , cujo inverso é : ‰ <" , é um difeomorfismo, o que implica
que as cartas : e < são compatíveis, e portanto que : também é uma carta da
estrutura diferenciável de E. …
VI.1.26 (Transporte duma estrutura diferenciável) Sejam E e E s conjuntos
(respectivamente, espaços topológicos), o primeiro dos quais munido de uma
estrutura diferenciável, e 0 À E Ä E s uma bijecção (respectivamente um
homeomorfismo). Existe então sobre E s uma, e uma só, estrutura diferen-
ciável, relativamente à qual 0 fica a ser um difeomorfismo (dizemos então
que esta estrutura diferenciável de E s é a obtida a partir da de E por
transporte por meio de 0 ). Para cada carta :À E Ä F § I da estrutura
s Ä F § I vai ser uma carta da
diferenciável de E, a bijecção : ‰ 0 " À E
s.
estrutura diferenciável de E
Dem: Escolhamos uma carta :À E Ä F § I da estrutura diferenciável de E
e consideremos o homeomorfismo : ‰ 0 " À E s Ä F § I . Dada uma estru-
s s
tura diferenciável de E tal que 0 À E Ä E seja um difeomorfismo, podemos
aplicar duas vezes VI.1.25 para deduzir : ‰ 0 " À E s Ä F § I é um
difeomorfismo, e portanto uma carta da estrutura diferenciável de E s. Ficou
s
assim provada a unicidade da estrutura diferenciável de E nas condições
pedidas e, quanto à existência, consideramos em E s a estrutura diferenciável
" s
definida pela carta : ‰ 0 À E Ä F § I e reparamos que, para esta estrutura
diferenciável, 0 À E Ä E s fica um difeomorfismo, uma vez que se pode
452 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

escrever 0 œ Ð: ‰ 0 " Ñ" ‰ : onde, mais uma vez por VI.1.25, :À E Ä F e


s são difeomorfismos.
Ð: ‰ 0 " Ñ" À F Ä E …
VI.1.27 (Corolário) Seja E um conjunto, sobre o qual consideramos duas
estruturas diferenciáveis. Tem-se então que estas estruturas diferenciáveis
coincidem se, e só se, a bijecção M.E À E Ä E for um difeomorfismo, quando
no domínio se considera a primeira estrutura diferenciável e no espaço de
chegada se considera a segunda estrutura diferenciável.
Dem: A condição necessária resulta da alínea a) de VI.1.24 e a condição
suficiente é uma consequência de pelo resultado precedente, não existir mais
que uma estrutura diferenciável em E para a qual a bijecção M.E À E Ä E
fique um difeomorfismo, com essa estrutura no espaço de chegada e a
primeira estrutura no espaço de partida. …
VI.1.28 Seja E um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável.
Tem-se então:
a) Se J" ß á ß J8 são espaços vectoriais de dimensão finita e se, para cada
" Ÿ 4 Ÿ 8, 04 À E Ä J4 é uma aplicação G : , então é também G : a aplicação
0 À E Ä J" ‚ â ‚ J8 , definida por
0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß á ß 08 ÐBÑÑ
(a aplicação com as componentes 04 ÑÞ
b) Se J é um espaço vectorial de dimensão finita e se 0 ß 1À E Ä J são duas
aplicações G : , então a aplicação 0  1À E Ä J é também G : .
c) Sejam J ß Kß L espaços vectoriais de dimensão finita e 1À J ‚ K Ä L
uma aplicação bilinear. Se 0 À E Ä J e 1À E Ä K são aplicações G : , então é
também G : a aplicação 0 † 1À E Ä L , definida por
0 † 1ÐBÑ œ 1Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ.111

Dem: Comecemos por provar a). Podemos considerar uma carta


:À E Ä F § I da estrutura diferenciável de E e as cartas M.J4 À J4 Ä J4 das
estruturas diferenciáveis dos J4 e concluímos que são suaves as aplicações
04 ‰ :" À F Ä J4 e portanto, pelo resultado já conhecido no quadro dos
subconjuntos de espaços vectoriais de dimensão finita,
0 ‰ :" À F Ä J" ‚ â ‚ J8
é também suave, o que mostra que 0 À E Ä J" ‚ â ‚ J8 é suave. As alíneas
b) e c) são agora consequências de a) e do facto de a composta de aplicações
suaves ser suave, visto que 0  1 é a composta de À J ‚ J Ä J com a

111Dentro do espírito do que foi dito em I.5.13, este facto pode ser enunciado intuitiva-
mente dizendo que o produto de aplicações G : é G : . É claro que um caso particular
importante é aquele em que temos, como aplicação bilinear, a multiplicação dos
escalares, ‘ ‚ J Ä J ou ‚ ‚ J Ä J , caso em que a expressão “produto de aplicações
G : ” se aplica num sentido mais estrito.
§1. Estruturas diferenciáveis e aplicações suaves 453

aplicação com componentes 0 e 1 e 0 † 1 é a composta de 1À J ‚ K Ä L


com a aplicação com componentes 0 e 1. …

A alínea a) do resultado precedente pode ser generalizada ao caso em que


as funções 04 tomam valores em em conjuntos E4 munidos de estruturas
diferenciáveis, desde que se explicite qual a estrutura diferenciável que se
considera no produto cartesiano E" ‚ â ‚ E8 .

VI.1.29 Sejam E" ß á ß E8 conjuntos munidos de estruturas diferenciáveis.


Existe então sobre o produto cartesiano E" ‚ â ‚ E8 uma, e uma só,
estrutura diferenciável (a estrutura diferenciável produto, que é a que se
considera implicatamente) com a seguinte propriedade: Quaisquer que sejam
o conjunto E, munido de uma estrutura diferenciável, e as aplicações
04 À E Ä E4 (" Ÿ 4 Ÿ 8), a aplicação
0 À E Ä E" ‚ â ‚ E8 , 0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß á ß 08ÐBÑÑ,

é de classe G : se, e só se, cada aplicação 04 À E Ä E4 é de classe G : .


Para esta estrutura diferenciável, cuja topologia associada é a topologia
produto das topologias associadas dos E4 , as projecções canónicas
14 À E" ‚ â ‚ E8 Ä E4

são aplicações suaves.


Mais precisamente, se, para cada 4, :4 À E4 Ä F4 § I4 é uma carta da
estrutura diferenciável de E4 , então
:" ‚ â ‚ :8 À E" ‚ â ‚ E8 Ä F" ‚ â ‚ F8 § I" ‚ â ‚ I8
é uma carta da estrutura diferenciável de E" ‚ â ‚ E8 .
Dem: Comecemos por reparar que, se considerarmos uma estrutura diferen-
ciável em E" ‚ â ‚ E8 verificando a condição do enunciado, então as
projecções canónicas 14 À E" ‚ â ‚ E8 Ä E4 ficam suaves, uma vez que a
aplicação cujas componentes são os 14 não é mais do que a aplicação
identidade de E" ‚ â ‚ E8 , portanto uma aplicação suave. A unicidade de
uma estrutura diferenciável em E" ‚ â ‚ E8 verificando a condição do
enunciado é agora uma consequência de VI.1.27, uma vez que, a haver duas
estruturas diferenciáveis nessas condições a aplicação identidade de
E" ‚ â ‚ E8 ia ser uma aplicação suave de cada uma delas para a outra,
por isso acontecer às suas componentes, que são as projecções canónicas.
Vamos agora provar a existência de uma estrutura diferenciável em
E" ‚ â ‚ E8 verificando a condição do enunciado. Escolhamos, para cada
" Ÿ 4 Ÿ 8, uma carta :4 À E4 Ä F4 § I4 da estrutura diferenciável de E4 e
consideremos uma estrutura diferenciável em E" ‚ â ‚ E8 definida pela
carta
454 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

:" ‚ â ‚ :8 À E" ‚ â ‚ E8 Ä F" ‚ â ‚ F8 § I" ‚ â ‚ I8


de E" ‚ â ‚ E8 . Uma vez que esta carta é um homeomorfismo, quando se
considera em E" ‚ â ‚ E8 a topologia produto, vemos que a topologia
associada a esta estrutura diferenciável é a topologia produto. Consideremos
agora um conjunto E, munido de uma estrutura diferenciável definida por
uma carta :À E Ä F § I , e 8 aplicações 04 À E Ä E4 , assim como a
correspondente aplicação 0 À E Ä E" ‚ â ‚ E 8 definida por
0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß á ß 08 ÐBÑÑ. Tem-se então que a aplicação
Ð:" ‚ â ‚ :8 Ñ ‰ 0 ‰ :" À F Ä F" ‚ â ‚ F8
está definida por
Ð:" ‚ â ‚ :8 Ñ ‰ 0 ‰ :" ÐCÑ œ Ð:" ‰ 0" ‰ :" ÐCÑß á ß :8 ‰ 08 ‰ :" ÐCÑÑ,
pelo que 0 é de classe G : , se, e só se, Ð:" ‚ â ‚ :8 Ñ ‰ 0 ‰ :" é G : , se e
só se, cada :4 ‰ 04 ‰ :" À F Ä F4 é G : , se, e só se, cada 04 À E Ä E4 é G : ,
como pretendíamos. …
VI.1.30 Como é habitual, é importante assegurarmo-nos que a convenção de
considerar implicitamente a estrutura diferenciável produto num produto
cartesiano de conjuntos munidos de estruturas diferenciáveis não conduz a
ambiguidades em situações em que outras convenções já referidas também se
apliquem. É para isso que enunciamos os dois resultados seguintes:
a) Sejam, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, I4 um espaço vectorial de dimensão finita e
E4 § I4 , subre o qual se considera a estrutura diferenciável canónica.
Tem-se então que a estrutura diferenciável canónica de E" ‚ â ‚ E8 ,
enquanto parte do espaço vectorial de dimensão finita I" ‚ â ‚ I8 ,
coincide com a estrutura diferenciável produto das estruturas diferenciáveis
dos E4 .
b) Sejam, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, E4 um conjunto munido de uma estrutura
diferenciável, e Es4 § E4 , sobre o qual se considera a estrutura diferenciável
induzida. Tem-se então que em E s" ‚ â ‚ E s8 coincidem a estrutura
diferenciável produto das estruturas diferenciáveis dos E s4 e a estrutura
diferenciável induzida pela estrutura diferenciável produto de E" ‚ â ‚ E8 .
Dem: Para a alínea a) basta atender a que cada M.E4 À E4 Ä E4 § I4 é uma
carta local da estrutura diferenciável canónica de E4 e portanto
M.E" ‚â‚E8 Ew À E" ‚ â ‚ E8 Ä E" ‚ â ‚ E8 § I" ‚ â ‚ I8 ,

que não é mais do que M.E" ‚ â ‚ M.E8 , é simultaneamente uma carta local
de ambas as estruturas diferenciáveis de E" ‚ â ‚ E8 . Quanto à alínea b),
s" ‚ â ‚ E
basta verificarmos que a estrutura diferenciável induzida em E s8
pela estrutura diferenciável produto de E" ‚ â ‚ E8 verifica a condição
que define a estrutura produto de Es" ‚ â ‚ E s8 e isso é uma consequência
§1. Estruturas diferenciáveis e aplicações suaves 455

da mesma condição para a definição da estrutura produto de E" ‚ â ‚ E8 e


da propriedade referida em VI.1.18. …
VI.1.31 Sejam, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, E4 , e Es4 conjuntos, munidos de estruturas
s4 uma aplicação G : . É então G : a aplicação
diferenciáveis, e 04 À E4 Ä E
s" ‚ â ‚ E
0" ‚ â ‚ 08 À E " ‚ â ‚ E 8 Ä E s8 .

Em consequência, se os 04 fossem difeomorfismos, o mesmo ia acontecer a


0" ‚ â ‚ 08 .
Dem: A segunda afirmação é uma consequência trivial da primeira e, para
esta, basta atender a que, sendo 14 À E" ‚ â ‚ E8 Ä E4 as projecções
canónicas, as componentes da aplicação
s" ‚ â ‚ E
0" ‚ â ‚ 08 À E " ‚ â ‚ E 8 Ä E s8

s4 .
são as aplicações de classe G : 04 ‰ 14 À E" ‚ â ‚ E8 Ä E …
VI.1.32 (Prolongamento de funções suaves) Sejam E um espaço topológico,
munido de uma estrutura diferenciável, Ew § E um subconjunto, K um
espaço vectorial de dimensão finita e 0 À Ew Ä K uma aplicação de classe G : .
Existe então um aberto Y de E, com Ew § Y e uma aplicação de classe G :
0 À Y Ä K cuja restrição a Ew seja 0 .
Dem: Seja :À E Ä F § J uma carta da estrutura diferenciável de E.
Aplicando II.3.10 à aplicação G : 0 ‰ Ð:" ÑÎ:ÐEw Ñ À :ÐEw Ñ Ä K , podemos
considerar um aberto Z de J , contendo :ÐEw Ñ, e um prolongamento G :
1À Z Ä K de 0 ‰ Ð:" ÑÎ:ÐEw Ñ . Tem-se então que Z  F é um aberto de F
contendo :ÐEw Ñ, pelo que Y œ :" ÐZ  FÑ é um aberto de E contendo Ew , e
podemos então considerar o prolongamento G : 0 À Y Ä K de 0 definido por
0 ÐBÑ œ 1Ð:ÐBÑÑ. …
VI.1.33 (Teorema da partição da unidade) Sejam E um espaço topológico,
munido de uma estrutura diferenciável, e ÐE4 Ñ4−N uma família de abertos de
E de união E. Existe então uma família localmente finita de funções suaves

de E4 , fechada em E, e que, para cada B − E, ! 14 ÐBÑ œ "Þ


14 À E Ä Ò!ß "Ó, onde 4 − N , tal que cada 14 é nula fora de uma certa parte G4

4−N
Como na secção II.3, dizemos que a família das aplicações 14 é uma partição
da unidade de E subordinada à cobertura aberta de E constituída pelos
conjuntos E4 .
Dem: O resultado deduz-se trivialmente da versão demonstrada em II.3.11,
através da consideração de uma carta :À E Ä F § J da estrutura diferenciá-
vel de E. …
VI.1.34 (Prolongamento global de funções suaves) Sejam E um espaço
topológico, munido de uma estrutura diferenciável, Ew § E um subconjunto
fechado, K um espaço vectorial de dimensão finita e 0 À Ew Ä K uma
456 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

aplicação de classe G : . Existe então uma aplicação de classe G : 0 À E Ä K


cuja restrição a Ew seja 0 .
Dem: O resultado deduz-se trivialmente da versão demonstrada em II.3.12,
através da consideração de uma carta :À E Ä F § J da estrutura diferenciá-
vel de E. …

O resultado que estabelecemos em seguida é uma consequência da exis-


tência de partições da unidade, que teremos ocasião de utilizar.

VI.1.35 (Aplicações suaves próprias) Seja E um espaço topológico localmente


compacto, munido de uma estrutura diferenciável. Existe então uma função
suave )À E Ä Ò!ß _Ò com a propriedade de, para cada <   !, existir um
compacto O § E tal que, para cada B − E Ï O , )ÐBÑ  < (no caso em que
Q é compacto, este resultado é trivial, visto que se pode tomar O œ Q . No
caso geral, ele exprime que )À Q Ä Ò!ß _Ò é uma aplicação própria, ou
que ) converge para _ no “ponto do infinito” de Q ).
Dem: Uma vez que E, sendo homeomorfo a um subconjunto de um espaço
vectorial de dimensão finita, é separado e de base contável, podemos aplicar

ÐO8 Ñ8 " tal que O8 § intÐO8" Ñ e que E œ - O8 . Pelo teorema da partição


o lema II.7.9, para garantir a existência de uma sucessão de compactos de E,

8 "
da unidade, relativo à cobertura aberta de E constituída pelos abertos
intÐO8 Ñ, podemos agora considerar uma família localmente finita de funções

e que, para cada B − E, ! 18 ÐBÑ œ ". Uma vez que a família das funções
suaves 18 À E Ä Ò!ß "Ó, onde 8   ", tal que 18 ÐBÑ œ !, para cada B  intÐO8 Ñ,

8 "
818 À E Ä Ò!ß _Ò é trivialmente também localmente finita, pode-se definir
uma função suave )À E Ä Ò!ß _Ò por

)ÐBÑ œ " 818 ÐBÑ


_

8œ"

(cada ponto de E pertence a um aberto de E onde a soma anterior coincide


com uma soma finita de funções suaves). Vemos agora que, para cada <   !,
podemos considerar 5 −  tal que 5   < e o compacto O5 , tendo-se então,
para cada B − E Ï O5 e " Ÿ 4 Ÿ 5 , 14 ÐBÑ œ !, donde

)ÐBÑ œ " 818 ÐBÑ   " Ð5  "Ñ18 ÐBÑ œ Ð5  "Ñ" 18ÐBÑ œ 5  "  < ,
_ _ _

8œ5" 8œ5" 8œ"

o que termina a demonstração. …


§2. Variedades abstractas 457

§2. Variedades abstractas.

VI.2.1 Sejam E e E s espaços topológicos, munidos de estruturas diferenciáveis,


B ! − E e C! − E s. Diz-se que o par ÐEß B! Ñ é localmente difeomorfo ao par
s
ÐEß C! Ñ, ou que E, no ponto B! , é localmente difeomorfo a Es, no ponto C! , se
existir um aberto Y de E, com B! − Y , um aberto Y s de Es, com C! − Ys, e
um difeomorfismo :À Y Ä Y s tal que :ÐB! Ñ œ C! . Diz-se então também que
: é um difeomorfismo local de ÐEß B! Ñ sobre ÐEßs C! Ñ (comparar com II.4.2).

VI.2.2 Repetindo os argumentos utilizados em II.4.3, no quadro dos subconjun-


tos de espaços vectoriais de dimensão finita, verifica-se que a relação “local-
mente difeomorfo” é uma relação de equivalência na classe dos pares
formados por um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável,
e por um dos seus pontos.
VI.2.3 Seja E um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável, e
seja :À E Ä F § I uma carta da estrutura diferenciável. Para cada B − E, o
par ÐEß BÑ fica então localmente difeomorfo a ÐFß :ÐBÑÑ, a aplicação : sendo
um difeomorfismo local entre estes pares (é mesmo um difeomorfismo
global).
VI.2.4 Sejam Q um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável,
e B! − Q . Tal como no caso dos subconjuntos de espaços vectoriais de
dimensão finita, dizemos que o par ÐQ ß B! Ñ é uma variedade de dimensão 8
e índice :, ou que Q é, no ponto B! , uma variedade de dimensão 8 e índice
:, se Q , no ponto B! , é localmente difeomorfo a um sector de índice : de um
espaço vectorial de dimensão 8, no ponto !.
Tal como no caso particular referido, é imediato constatar que, quando
ÐQ ß B! Ñ é uma variedade de dimensão 8 e índice : , Q , no ponto B! , é
mesmo localmente difeomorfo a ‘8: œ ‘8: ‚ Ò!ß _Ò: , no ponto ! (cf. a
alínea b) de II.6.12).
VI.2.5 Sejam Q um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável,

então aQ ß B! b é uma variedade de dimensão 8 e índice : se, e só se,


e B! − Q . Se :À Q Ä F § I é uma carta da estrutura diferenciável de Q ,

ÐFß :ÐB! ÑÑ for uma variedade de dimensão 8 e índice :. Em particular, a


dimensão e o índice de Q no ponto B! são números bem definidos e a
dimensão é menor ou igual que a dimensão do espaço vectorial I (as
dimensões de Q nos diferentes pontos constituem sempre um conjunto
limitado).
Dem: Basta atender a VI.2.3, ao facto de a relação “…localmente difeomorfo
a…” ser uma relação de equivalência e ao facto de a dimensão e o índice
458 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

serem números bem definidos no quadro das variedades que são subcon-
juntos de espaços vectoriais de dimensão finita. …
VI.2.6 Sejam Q um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável,
B! − Q e E § Q uma vizinhança de B! . Tem-se então que ÐQ ß B! Ñ e
ÐEß B! Ñ são localmente difeomorfos (a identidade de intÐEÑ é um difeomor-
fismo local), em particular ÐQ ß B! Ñ é uma variedade de dimensão 8 e índice
: se, e só se, isso acontecer a ÐEß B! Ñ.
VI.2.7 Seja Q um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável.
Diz-se que Q é uma variedade (ou uma variedade abstracta112) se, para
cada B − Q , o par ÐQ ß BÑ é uma variedade de dimensão 8 e índice : (a
dimensão e o índice podendo variar de ponto para ponto).
No caso em que a dimensão 8 é a mesma em todos os pontos, diz-se que Q é
uma variedade de dimensão 8 e no caso em que o índice é ! em todos os
pontos, diz-se que Q é uma variedade sem bordo.
VI.2.8 Seja Q um espaço topológico discreto. Tem-se então que Q admite uma
estrutura diferenciável se, e só se, Q é finito ou numerável e, nesse caso,
uma tal estrutura é única e torna Q uma variedade de dimensão !.
Dem: Suponhamos que Q admite uma estrutura diferenciável, definida por
uma carta :À Q Ä F § I. Uma vez que : é um homeomorfismo, segue-se
que F tem a topologia discreta, sendo assim uma variedade de dimensão !,
em particular um conjunto finito ou numerável (cf, a alínea c) de II.7.8).
Concluímos assim que Q é também finito ou numerável e uma variedade de
dimensão !. Para provar a unicidade supomos que Q tem outra estrutura
diferenciável, definida por uma carta <À Q Ä G § J . Como antes, G tem a
topologia discreta e daqui resulta que a bijecção < ‰ :" À F Ä G , cujo
inverso é : ‰ <" À G Ä F é um difeomorfismo, uma vez que ela e a sua
inversa são aplicações suaves, por terem restrições constantes, e portanto
suaves, a cada um dos subconjuntos unitários dos seus domínios que
constituem uma cobertura aberta destes. As duas cartas : e < são assim
compatíveis, o que mostra que as duas estruturas diferenciáveis coincidem.
Resta-nos provar a existência de uma tal estrutura diferenciável para
qualquer espaço topológico discreto finito ou numerável Q . Para isso,
consideramos um subconjunto discreto F § ‘ com o mesmo número de
elementos que Q , por exemplo o conjunto , se F é infinito, ou o conjunto
dos números naturais entre " e 8, se Q tem 8 elementos e consideramos uma
bijecção :À Q Ä F , a qual vai ser um homeomorfismo, uma vez que toda a
aplicação cujo domínio tem a topologia discreta é contínua. A estrutura
diferenciável de Q definida pela carta : é então compatível com a topologia
discreta. …

112A designação variedade abstracta aparece por oposição às variedades concretas, que
são aquelas que se estudam no quadro dos subconjuntos de espaços vectoriais de dimen-
são finita. Note-se que uma variedade concreta vai ser, em particular, uma variedade
abstracta.
§2. Variedades abstractas 459

VI.2.9 (O exemplo das variedades de Grassmann abstractas) Seja I um


espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8 e consideremos a
correspondente variedade de Grassmann †ÐIÑ, cujos elementos são os
subespaços vectoriais de I , com a estrutura diferenciável canónica. Tem-se
então que †ÐIÑ é uma variedade sem bordo cuja dimensão em cada J ,
subespaço de dimensão 5 , é 5Ð8  5Ñ, se Š œ ‘, e #5Ð8  5Ñ, se Š œ ‚.
Dem: Fixemos um produto interno e consideremos o correspondente
conjunto KÐIÑ § PÐIà IÑ cujos elementos são as projecções ortogonais
sobre subespaços vectoriais de I e a carta :À †ÐIÑ Ä KÐIÑ, que define a
estrutura diferenciável de †ÐIÑ, que está definida por :ÐJ Ñ œ 1J . O facto
de †ÐIÑ ser em cada J uma variedade de índice ! e com a dimensão
indicada no enunciado resulta de isso acontecer a KÐIÑ em 1J , tendo em
conta II.5.13. …

Alguns dos resultados que enunciamos em seguida são generalizações


triviais de resultados análogos já conhecidos para as variedades contidas
num espaço vectorial ambiente e podem ser deduzidos trivialmente destes
últimos, por consideração de cartas que definam as estruturas diferenciá-
veis em questão (cf. VI.2.3). Quando isso acontecer, limitamos as suas
demonstrações a uma referência ao resultado já conhecido que lhes cor-
responde.

VI.2.10 (Algumas propriedades topológicas das variedades) Seja Q uma


variedade abstracta. Tem-se então:
a) Q é um espaço topológico localmente compacto.
b) Q é um espaço topológico localmente conexo113. Em particular as
componentes conexas de Q são conjuntos abertos em Q , e portanto também
variedades, com a mesma dimensão e índice que Q em cada ponto.
c) O conjunto das componentes conexas de Q é finito ou numerável.
Dem: Ver II.6.21 e II.7.8. …
VI.2.11 Sejam Q e Q s espaços topológicos, munidos de estruturas diferenciá-
veis tais que Q seja uma variedade com dimensão 8 e índice : num ponto
B! − Q e Q s seja uma variedade com dimensão 8 s e índice s: num ponto
C! − Q s . Tem-se então que Q ‚ Q s é, no ponto ÐB! ß C! Ñ, uma variedade com
dimensão 8  8 s e índice :  s:.
Mais geralmente, seja, para cada " Ÿ 4 Ÿ R , Q4 um conjunto, munido de
uma estrutura diferenciável e que seja uma variedade com dimensão 84 e
índice :4 num certo B4 ! − Q4 . Tem-se então que Q" ‚ â ‚ QR é, no ponto
ÐB" ! ß á ß BR ! Ñ uma variedade com dimensão 8"  â  8R e índice
:"  â  : R Þ
Dem: Ver II.6.14 e II.6.15Þ …

113Aliás, mesmo localmente conexo por arcos.


460 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

VI.2.12 Sejam Q um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável,


e B! − Q tal que ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade com dimensão 8 e índice :.
Tem-se então:
a) Existe um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que, para cada B − Y , o par
ÐQ ß BÑ seja uma variedade com dimensão 8 e índice menor ou igual a :.
b) Qualquer que seja a vizinhança Z de B! em Q , e qualquer que seja 4 tal
que ! Ÿ 4 Ÿ :, existe um ponto B − Z tal que ÐQ ß BÑ seja uma variedade de
dimensão 8 e índice 4.
Em particular, se Q é uma variedade conexa, então Q tem a mesma
dimensão em todos os pontos.
Dem: Ver II.6.17. …
VI.2.13 Seja Q um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável, e
notemos, para cada inteiro :   !, `: ÐQ Ñ o conjunto dos pontos B − Q tais
que ÐQ ß BÑ seja uma variedade com índice :. Tem-se então que, para cada
B − `: ÐQ Ñ, onde Q tenha dimensão 8, Ð`: ÐQ Ñß BÑ é uma variedade com
dimensão 8  : e índice !. Em particular, se Q é uma variedade, cada
`: ÐQ Ñ é uma variedade sem bordo.
Dem: Ver II.6.20. …

Recordemos que as imersões e as submersões foram definidas como


aplicações suaves entre subconjuntos de espaços vectoriais de dimensão
finita cujas derivadas são, respectivamente, injectivas e sobrejectivas. No
quadro dos espaços topológicos munidos de estruturas diferenciáveis e,
em particular, no das variedades abstractas, não definimos ainda o que se
entende por espaço vectorial tangente nem, portanto, o que se entende por
derivada de uma aplicação. Para evitarmos ter que o fazer agora, vamos
definir as imersões e as submersões, no quadro dos espaços topológicos
munidos de estruturas diferenciáveis, a partir do que elas significam no
contexto já estudado.

VI.2.14 Sejam E e E s dois espaços topológicos munidos de estruturas diferen-


ciáveis e 0 À E Ä Es uma aplicação suave. Vamos dizer que 0 é uma imersão
no ponto B! − E se existirem cartas :À E Ä F § I e : sÄF
sÀ E s§I s das
estruturas diferenciáveis tais que a aplicação suave :
s ‰ 0 ‰ :" À F Ä Fs seja
uma imersão no ponto :ÐB! Ñ. Quando isso acontecer, tem-se, mais
geralmente, quaisquer que sejam as cartas <À E Ä G § J e < sÀ E sÄG s §J s
s s
das estruturas diferenciáveis, a aplicação < ‰ 0 ‰ < À G Ä G é ainda uma
"

imersão no ponto <ÐB! Ñ.


Dem: Tem-se
s ‰ 0 ‰ <" œ Ð<
< s‰:
s" Ñ ‰ Ð:
s ‰ 0 ‰ :" Ñ ‰ Ð: ‰ <" Ñ,
s‰:
onde < s" À F s e : ‰ <" À G Ä F são difeomorfismos, pelo que
sÄG
§2. Variedades abstractas 461

s ‰ 0 ‰ <" Ñ<ÐB Ñ œ
HÐ< !

œ HÐ<s‰: s" Ñ:sÐ0 ÐB! ÑÑ ‰ HÐ:


s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐB! Ñ ‰ HÐ: ‰ <" Ñ<ÐB! Ñ ,

com
s‰:
HÐ< s" Ñ:sÐ0 ÐB! ÑÑ À X:sÐ0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ
s Ä Xs s
<Ð0 ÐB! ÑÑ ÐGÑ
HÐ: ‰ <" Ñ<ÐB! Ñ À X<ÐB! Ñ ÐGÑ Ä X:ÐB! Ñ ÐFÑ

isomorfismos e
s
s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐB! Ñ À X:ÐB! Ñ ÐFÑ Ä X:sÐ0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ
HÐ:

injectiva, o que implica que


s ‰ 0 ‰ <" Ñ<ÐB Ñ À X<ÐB Ñ ÐGÑ Ä X s
HÐ< s
! ! <Ð0 ÐB! ÑÑ ÐGÑ

é também injectiva. …
VI.2.15 Sejam E e E s dois espaços topológicos munidos de estruturas diferen-
s uma aplicação suave. Dizemos que 0 é uma imersão se,
ciáveis e 0 À E Ä E
para cada B − E, 0 é uma imersão no ponto B.
VI.2.16 Sejam E e E s dois espaços topológicos munidos de estruturas diferen-
ciáveis e 0 À E Ä Es uma aplicação suave. Vamos dizer que 0 é uma
submersão no ponto B! − E se existirem cartas :À E Ä F § I e
: sÄF
sÀ E s§I s das estruturas diferenciáveis tais que a aplicação suave
s ‰ 0 ‰ :" À F Ä F
: s seja uma submersão no ponto :ÐB! Ñ. Quando isso
acontecer, tem-se, mais geralmente, quaisquer que sejam as cartas
<À E Ä G § J e < sÄG
sÀ E s §Js das estruturas diferenciáveis, que
s s
< ‰ 0 ‰ < À G Ä G é ainda uma submersão no ponto <ÐB! Ñ.
"

Dem: Tem-se
s ‰ 0 ‰ <" œ Ð<
< s‰:
s" Ñ ‰ Ð:
s ‰ 0 ‰ :" Ñ ‰ Ð: ‰ <" Ñ,
s‰:
onde < s" À F s e : ‰ <" À G Ä F são difeomorfismos, pelo que
sÄG
s ‰ 0 ‰ <" Ñ<ÐB Ñ œ
HÐ< !

œ HÐ<s‰: s" Ñ:sÐ0 ÐB! ÑÑ ‰ HÐ:


s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐB! Ñ ‰ HÐ: ‰ <" Ñ<ÐB! Ñ ,

com
s‰:
HÐ< s" Ñ:sÐ0 ÐB! ÑÑ À X:sÐ0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ
s Ä Xs s
<Ð0 ÐB! ÑÑ ÐGÑ
HÐ: ‰ <" Ñ<ÐB! Ñ À X<ÐB! Ñ ÐGÑ Ä X:ÐB! Ñ ÐFÑ

isomorfismos e
462 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

s
s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐB! Ñ À X:ÐB! Ñ ÐFÑ Ä X:sÐ0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ
HÐ:

sobrejectiva, o que implica que


s ‰ 0 ‰ <" Ñ<ÐB Ñ À X<ÐB Ñ ÐGÑ Ä X s
HÐ< s
! ! <Ð0 ÐB! ÑÑ ÐGÑ

é também sobrejectiva. …
VI.2.17 Sejam E e E s dois espaços topológicos munidos de estruturas
s uma aplicação suave. Dizemos que 0 é uma
diferenciáveis e 0 À E Ä E
submersão se, para cada B − E, 0 é uma submersão no ponto B.
VI.2.18 No caso em que E e E s são subconjuntos de espaços vectoriais I e I
s , de
dimensões finitas, com as estruturas diferenciáveis canónicas, uma aplicação
suave 0 À E Ä E s é uma imersão (respectivamente submersão) num ponto
B! − E, no sentido das definições precedentes se, e só se, H0B! À XB! ÐEÑ Ä
s é uma aplicação linear injectiva (respectivamente sobrejectiva),
X0 ÐB! Ñ ÐEÑ
isto é, se, e só se, 0 é uma imersão (respectivamente submersão) em B! , no
sentido já conhecido anteriormente.
Dem: Basta considerar as cartas M.E e M.Es das estruturas diferenciáveis de E
eE s, respectivamente. …

O facto de termos caracterizações alternativas das imersões e das


submersões entre espaços topológicos munidos de estruturas
diferenciáveis em termos de “existem cartas tais que…” e de “quaisquer
que sejam as cartas …” faz com que frequentemente resultados
conhecidos no quadro dos subconjuntos de espaços vectoriais de
dimensão finita se estendam trivialmente ao quadro dos espaços
topológicos munidos de estruturas diferenciáveis. Apresentamos em
seguida algumas dessas generalizações triviais, cujas justificações
limitamos à referência ao resultado conhecido do qual elas resultam,
embora, noutros casos, tomemos a liberdade de utilizar generalizações
desse tipo, sem mesmo as enunciarmos.

VI.2.19 Sejam E um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável e


Ew § E um subconjunto. Tem-se então que a inclusão +À Ew Ä E é uma
imersão. Além disso, se Ew é uma vizinhança de B em E, aquela inclusão é
também uma submersão em B.
Dem: Basta atender a que o resultado é válido no caso em que E é uma parte
de um espaço vectorial de dimensão finita, uma vez que então a derivada da
inclusão em cada ponto é a inclusão entre os espaços tangentes, portanto uma
aplicação linear injectiva, sendo mesmo um isomorfismo (a identidade) no
caso em que Ew é vizinhança de B. …
VI.2.20 Sejam E e E s dois espaços topológicos munidos de estruturas diferen-
s um difeomorfismo. Tem-se então que 0 é simultanea-
ciáveis e 0 À E Ä E
§2. Variedades abstractas 463

mente imersão e submersão.


Dem: Trata-se de uma consequência de acontecer o mesmo no caso em que
EeE s são partes de espaços vectoriais de dimensão finita, caso em que temos
uma consequência de a derivada de um difeomorfismo em cada ponto ser um
isomorfismo entre os espaços tangentes. …
VI.2.21 Sejam E, E s e E˜ espaços topológicos munidos de estruturas diferenciá-
s Ä E˜ duas aplicações suaves. Tem-se então:
s e 1À E
veis e 0 À E Ä E
a) Se 0 e 1 são imersões (respectivamente, submersões) em B! e 0 ÐB! Ñ,
respectivamente então 1 ‰ 0 À E Ä E˜ é uma imersão (respectivamente, sub-
mersão) em B! .
b) Se 1 ‰ 0 À E Ä E˜ é uma imersão (respectivamente, submersão) em B! ,
então 0 é uma imersão em B! (respectivamente, 1 é uma submersão em
0 ÐB! Ñ).
Dem: Como anteriormente, basta demonstrar o resultado no caso em que E,
Es e E˜ são subconjuntos de espaços vectoriais de dimensões finitas, caso em
que temos uma consequência do teorema de derivação da função composta,
tendo em conta o facto de a composta . ‰ - de duas aplicações injectivas
(respectivamente, sobrejectivas) ser injectiva (respectivamente, sobrejectiva),
assim como o facto de sempre que uma composta . ‰ - é injectiva
(respectivamente, sobrejectiva) - é também injectiva (respectivamente, . é
também sobrejectiva). …
VI.2.22 Sejam Q e Q s dois espaços topológicos munidos de estruturas
diferenciáveis e 0 À Q Ä Q s uma aplicação. Seja B! − Q tal que Q , no
ponto B! , e Q s , no ponto 0 ÐB! Ñ, sejam variedades com dimensões 7 e 8,
respectivamente.
a) Se 0 é uma imersão (respectivamente uma submersão) no ponto B! , então
7 Ÿ 8 (respectivamente 7   8Ñ.
b) Se 0 é uma imersão (respectivamente uma submersão) no ponto B! e se
7 œ 8, então 0 é também uma submersão (respectivamente uma imersão) no
ponto B! .
c) Se 0 é uma submersão em B! e Q tem índice ! em B! , então Q s também
tem índice ! em 0 ÐB! Ñ.
Dem: Basta mostrarmos que acontece o mesmo no caso em que Q e Q s são
partes de espaços vectoriais de dimensão finita. Nesse caso, temos uma
aplicação linear injectiva (respectivamente sobrejectiva) H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä
s Ñ, com XB! ÐQ Ñ com dimensão 7 e X0 ÐB! Ñ ÐQ
X0 ÐB! Ñ ÐQ s Ñ com dimensão 8,
pelo que 7 Ÿ 8 (respectivamente 7   8) e, se 7 œ 8, aquela aplicação
linear também é sobrejectiva (respectivamente injectiva). No caso em que 0 é
submersão em B! e Q tem índice ! em B! , tem-se que H0B! aplica
tB! ÐQ Ñ œ XB! ÐQ Ñ, por um lado em t0 ÐB! Ñ ÐQ s Ñ e, por outro lado, em
s s s
X0 ÐB! Ñ ÐQ Ñ, pelo que t0 ÐB! Ñ ÐQ Ñ œ X0 ÐB! Ñ ÐQ Ñ, o que implica que Qs também
tem índice ! em 0 ÐB! Ñ. …
464 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

VI.2.23 Sejam Q e Q s dois espaços topológicos munidos de estruturas


diferenciáveis e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave. Seja B! − Q tal que Q ,
s
no ponto B! , e Q , no ponto 0 ÐB! Ñ, sejam variedades de índice ! e que 0 seja
simultaneamente imersão e submersão no ponto B! . Existe então um aberto
Y de Q , com B! − Y , tal que 0ÎY seja um difeomorfismo de Y sobre 0 ÐY Ñ,
com 0 ÐY Ñ aberto em Q s , em particular 0 é então simultaneamente imersão e
submersão em cada ponto B − Y .
Dem: Ver o teorema da função inversa em II.4.16. …
VI.2.24 Sejam Q e Q s dois espaços topológicos munidos de estruturas diferen-
ciáveis e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave. Seja B! − Q tal que Q seja uma
variedade de dimensão 8 e índice : no ponto B! e que 0 seja uma imersão no
ponto B! . Existe então um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que 0ÎY seja um
difeomorfismo de Y sobre 0 ÐY Ñ, em particular 0 é então uma imersão em
cada ponto B − Y .
Dem: Ver II.6.25. …
VI.2.25 Sejam Q uma variedade abstracta, eventualmente com bordo, Q s um
espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável, e 0 À Q Ä Q s
uma imersão. Sejam Q˜ um espaço topológico, munido de uma estrutura
diferenciável, e 1À Q˜ Ä Q uma aplicação contínua tal que 0 ‰ 1À Q˜ Ä Qs
seja de classe G : . Tem-se então que 1À Q˜ Ä Q é de classe G : .
Dem: Ver II.6.26. …
VI.2.26 (Corolário) Sejam Q uma variedade abstracta, eventualmente com
bordo, Q s um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável, e
0À Q Ä Q s uma imersão tal que 0 seja um homeomorfismo de Q sobre
0 ÐQ Ñ. Tem-se então que 0 é um difeomorfismo de Q sobre 0 ÐQ Ñ, em
particular 0 ÐQ Ñ é também uma variedade abstracta.
Dem: Basta aplicar o resultado precedente a 0 " À 0 ÐQ Ñ Ä Q , que é, por
hipótese, contínua. …
VI.2.27 Sejam Q e Q s dois espaços topológicos munidos de estruturas diferen-
ciáveis e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave. Sejam B! − Q e C! − Q s tais que
ÐQ ß B! Ñ e ÐQs ß C! Ñ sejam variedades de índice ! e que 0 seja uma submersão
em B! , com 0 ÐB! Ñ œ C! . Tem-se então:
a) Existe um aberto Y de Q , com B! − Y tal que, para cada B − Y , 0 é
ainda uma submersão em B.
b) A aplicação 0 é aberta no ponto B! (cf. II.4.29).
c) Existe um aberto Y s de Qs , com C! − Y
s , e uma aplicação suave 1À Y
s ÄQ
tal que 1ÐC! Ñ œ B! e 0 ‰ 1 œ M.Ys (uma secção local suave de 0 )
Dem: Ver II.4.22 e II.4.28. …
VI.2.28 Sejam Q e Q s variedades abstractas sem bordo e 0 À Q Ä Q
s uma
submersão. Tem-se então que 0 é uma aplicação aberta.
Dem: Ver II.4.30. …
§2. Variedades abstractas 465

VI.2.29 Sejam Q e Q s variedades abstractas sem bordo e 0 À Q Ä Q s uma


˜
submersão sobrejectiva. Sejam Q um espaço topológico, munido de uma
s Ä Q˜ uma aplicação tal que 2 ‰ 0 À Q Ä Q˜
estrutura diferenciável, e 2À Q
s Ä Q˜ é de classe G : .
seja de classe G . Tem-se então que 2À Q
:

Dem: Ver II.4.31. …


VI.2.30 Sejam Q e Q s dois espaços topológicos munidos de estruturas diferen-
ciáveis e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave. Sejam B! − Q e C! − Q s tais que
s
ÐQ ß B! Ñ e ÐQ ß C! Ñ sejam variedades de índice !, com dimensões 7 e 8,
respectivamente, e que 0 seja uma submersão em B! , com 0 ÐB! Ñ œ C! . Seja
C! − Qsw § Q s com ÐQ s w ß C! Ñ variedade de dimensão 8w e índice :. Tem-se
então que Q w œ ÖB − Q ± 0 ÐBÑ − Q s w × é, no ponto B! , uma variedade de
dimensão 7  8  8w e índice :.
Dem: Ver II.6.29. …

Por definição, se Q é uma variedade abstracta, podemos considerar uma


carta :À Q Ä F § I da estrutura diferenciável de Q , que é assim um
difeomorfismo entre Q e uma variedade concreta F , contida no espaço
vectorial I de dimensão finita. Uma carta é, de certo modo, tanto mais
“simples” quanto mais pequena for a dimensão do espaço vectorial I e é
por vezes importante termos a certeza de que existe uma carta de Q cujo
contradomínio está contido num espaço vectorial de dimensão suficiente-
mente pequena (essa dimensão não pode ser decerto inferior à dimensão
máxima de Q nos diferentes pontos). O resultado VI.2.32, que provare-
mos adiante, vai nesse sentido e é essencialmente a versão que se encontra
em [10] do teorema do mergulho de Whitney. Ele vai ser, em particular,
utilizado na resolução do problema da colagem de variedades que será
abordado na próxima secção. Para abordar esse resultado, necessitamos de
um lema de carácter técnico.

VI.2.31 (Lema) Sejam I um espaço euclidiano e F" Ð!Ñ a respectiva bola aberta
de centro ! e raio ". Existe então um difeomorfismo GÀ I Ä F" Ð!Ñ, definido
por GÐBÑ œ È"mBmB
# , cujo difeomorfismo inverso G
"
À F" Ð!Ñ Ä I está defi-
È"mCm# .
C
nido por G" ÐCÑ œ
Dem: É imediato que as expressões para G e G" no enunciado definem
aplicações suaves I Ä I e F" Ð!Ñ Ä I , respectivamente, e que se tem
mBm# mCm#
mGÐBÑm# œ  " , m G "
ÐCÑm #
œ ,
"  mBm# "  mCm#
em particular G toma valores em F" Ð!Ñ. Verifica-se agora facilmente que
G" ÐGÐBÑÑ œ B, para cada B − I , e que GÐG" ÐCÑÑ œ C , para cada
C − F" Ð!Ñß pelo que as aplicações G e G" são inversas uma da outra. …
466 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

VI.2.32 (Whitney) Seja Q uma variedade abstracta com dimensão menor ou


igual a 7 em cada um dos seus pontos. Existe então uma carta
:À Q Ä Q s § I , da estrutura diferenciável de Q , com I espaço vectorial
de dimensão #7  " e Q s fechado em I .114
Dem: (cf. [10]) Vamos dividir a demonstração em várias partes:
a) Sejam K um espaço vectorial de dimensão finita e <À Q Ä Q w § K uma
carta da estrutura diferenciável de Q . Em particular, Q w é uma variedade
concreta com dimensão menor ou igual a 7 em cada um dos seus pontos. É
com esta variedade Q w que vamos trabalhar nas próximas alíneas e só no fim
da demonstração voltaremos à variedade Q .
b) Vamos mostrar a existência de um espaço vectorial I , de dimensão
#7  ", e de uma imersão injectiva 1À Q w Ä I .
Subdem: Seja 8 a dimensão de K. Se 8 œ #7  ", este facto é trivial,
bastando tomar I œ K e, para 1, a inclusão. Este facto é também trivial no
caso em que 8  #7  ", visto que se pode então tomar I œ K ‚ ‘#7"8
e, para 1, a aplicação definida por 1ÐBÑ œ ÐBß !Ñ. Vamos portanto supor que
8  #7  ".
Uma vez que a inclusão Q w Ä K é uma imersão injectiva, podemos consi-
derar o mínimo 8w! Ÿ 8 de todos os inteiros 8w   #7  ", para os quais
existe uma imersão injectiva de Q w para um espaço vectorial de dimensão 8w ,
e o que queremos provar nesta alínea é que se tem 8w! œ #7  ". Vamos
provar isso por absurdo, supondo, para isso, que se tinha 8w!  #7  ".
Seja I um espaço vectorial de dimensão 8w! e 1À Q w Ä I uma imersão
injectiva.
Consideremos o espaço total X ÐQ w Ñ § K ‚ K do fibrado vectorial tangente
a Q w , que sabemos ser uma variedade com dimensão menor ou igual a #7
em cada ponto (cf. III.1.27), e a variedade Q w ‚ Q w ‚ ‘ § K ‚ K ‚ ‘, que
tem dimensão menor ou igual a #7  " em cada ponto. Consideremos as
aplicações suaves
s1À X ÐQ w Ñ Ä I , s1ÐBß ?Ñ œ H1B Ð?Ñ
w w
˜ Q ‚ Q ‚ ‘ Ä I , 1ÐBß
1À ˜ Cß >Ñ œ >Ð1ÐCÑ  1ÐBÑÑ.
Tendo em conta o corolário do teorema de Sard II.7.17, os conjuntos
s1ÐX ÐQ w ÑÑ e 1ÐQ
˜ w ‚ Q w ‚ ‘Ñ são magros em I pelo que é também magro
em I o conjunto s1ÐX ÐQ w ÑÑ  1ÐQ
˜ w ‚ Q w ‚ ‘Ñ. Em particular, pelo teorema
de Baire, esta união tem interior vazio, o que nos garante a existência de
A − I Ï Ö!× que não lhe pertence. Podemos então considerar o subespaço
vectorial ‘A, de dimensão ", gerado por A e o respectivo complementar
ortogonal J œ БAѼ (relativamente a um produto interno que fixaremos em
I).

114Como é referido em [10], Whitney demonstrou que se pode obter a mesma conclusão
com a dimensão #7  " substituída por #7, mas essa demonstração utiliza técnicas
bastante mais elaboradas.
§2. Variedades abstractas 467

O subespaço vectorial J § I tem dimensão 8w!  " e vamos verificar que,


sendo 1J a projecção ortogonal de I sobre J , a aplicação suave
2 œ 1J ‰ 1À Q w Ä J é uma imersão injectiva, o que será o absurdo
procurado, visto que se tem #7  " Ÿ 8w!  "  8w! .
Se 2 não fosse injectiva, existiriam B Á C em Q w tais que 2ÐBÑ œ 2ÐCÑ, isto
é, tais que 1J Ð1ÐCÑ  1ÐBÑÑ œ !, ou seja, 1ÐCÑ  1ÐBÑ − J ¼ œ ‘A, isto é,
para algum > − ‘, 1ÐCÑ  1ÐBÑ œ >A; tendo em conta a injectividade de 1,
vinha > Á !, pelo que a igualdade anterior podia ser escrita na forma
˜ Cß "> Ñ, o que era absurdo, tendo em conta o facto de A não pertencer
A œ 1ÐBß
à imagem de 1̃.
Do mesmo modo, se 2 não fosse uma imersão, existiria B − Q w e
? − XB ÐQ w Ñ, ? Á !, tais que ! œ H2B Ð?Ñ œ 1J ÐH1B Ð?ÑÑ, ou seja,
H1B Ð?Ñ − J ¼ œ ‘A, isto é, para algum > − ‘, H1B Ð?Ñ œ >A; tendo em
conta o facto de 1 ser uma imersão vinha > Á !, pelo que a igualdade anterior
podia ser escrita na forma A œ s1ÐBß "> ?Ñ, o que era absurdo, tendo em conta o
facto de A não pertencer à imagem de s1.
Terminámos assim a prova da conclusão desta alínea.
c) Se a variedade Q fosse compacta, o mesmo acontecia a Q w e portanto a
imersão injectiva 1 era um homeomorfismo de Q w sobre Q s œ 1ÐQ w Ñ § I ,
que seria compacto, em particular, fechado, e II.6.27 garantia então que 1 era
um difeomorfismo de Q w sobre Q s . Então : œ 1 ‰ <À Q Ä Q s § I era a
carta procurada.
O que fazemos nas proximas alíneas é substituir este raciocínio trivial por
uma justificação que não necessita da compacidade da variedade Q .
d) De acordo com o que provámos em b), existe um espaço vectorial I de
dimensão #7  " e uma imersão injectiva 1À Q w Ä I . Tendo em conta o
lema VI.2.31, vemos que, se necessário substituindo 1 pela sua composta
como o difeomorfismo GÀ I Ä F" Ð!Ñ, pode-se já supor que se tem
m1ÐBÑm  ", para cada B − Q w Þ
e) Tendo em conta VI.1.35, seja )À Q w Ä Ò!ß _Ò uma aplicação suave tal
que, para cada <   !, exista um compacto O § Q w tal que, para cada
B − Q w Ï O , venha )ÐBÑ  <.
f) Como anteriormente, consideramos as variedades X ÐQ w Ñ § K ‚ K e
Q w ‚ Q w ‚ ‘ § K ‚ K ‚ ‘ e as aplicações suaves
s1À X ÐQ w Ñ Ä I ‚ ‘, s1ÐBß ?Ñ œ ÐH1B Ð?Ñß H )B Ð?ÑÑ
˜ Q w ‚ Q w ‚ ‘ Ä I ‚ ‘, 1ÐBß
1À ˜ Cß >Ñ œ >Ð1ÐCÑ  1ÐBÑß )ÐCÑ  )ÐBÑÑ.
Vamos verificar a existência de A Á ! em I tal que ÐAß "Ñ não pertença à
imagem de nenhuma destas duas aplicações.
Subdem: Uma vez que I ‚ ‘ tem dimensão #7  #, mais uma vez o coro-
lário do teorema de Sard, garante que os conjuntos s1ÐX ÐQ w ÑÑ e
˜ w ‚ Q w ‚ ‘Ñ são magros I ‚ ‘ e portanto o mesmo acontece a
1ÐQ
˜ w ‚ Q w ‚ ‘Ñ. Em particular esta união tem interior vazio e
s1ÐX ÐQ w ÑÑ  1ÐQ
portanto, considerando o aberto não vazio de I ‚ ‘, constituído pelos
468 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

ÐAw ß +Ñ tais que Aw Á ! e + Á !, vai existir um elemento ÐAw ß +Ñ desse aberto


não pertencente àquela união e a invariância por homotetia das imagens de s1
w
e de 1̃ garante então que Ð A+ ß "Ñ também não pertence àquela união.
g) Seja 0 À Q w Ä I a aplicação suave definida por 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ  )ÐBÑA.
Vamos verificar nas próximas três alíneas que Q s œ 0 ÐQ w Ñ é fechado em I
e que a aplicação 0 é um difeomorfismo de Q sobre Q
w s.
h) Comecemos por verificar que a aplicação 0 À Q w Ä I é ainda uma imer-
são injectiva.
Subdem: Supondo que 0 não era injectiva, existiam B Á C em Q w tais que
0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ, isto é, tais que 1ÐBÑ  )ÐBÑA œ 1ÐCÑ  )ÐCÑA, ou seja, tais que
1ÐCÑ  1ÐBÑ œ Ð)ÐCÑ  )ÐBÑÑA, tendo-se )ÐCÑ  )ÐBÑ Á !, por 1 ser injec-
tiva, e então
" "
ÐAß "Ñ œ ˜ Cß
Ð1ÐCÑ  1ÐBÑß )ÐCÑ  )ÐBÑÑ œ 1ÐBß Ñ,
)ÐCÑ  )ÐBÑ )ÐCÑ  )ÐBÑ
o que era absurdo, tendo em conta a hipótese de ÐAß "Ñ não pertencer à
imagem de 1̃. Supondo agora que 0 não era uma imersão, existia B − Q w e
? Á ! em XB ÐQ w Ñ tais que H0B Ð?Ñ œ !, isto é, H1B Ð?Ñ  H)B Ð?ÑA œ !,
tendo-se H)B Ð?Ñ Á !, por 1 ser uma imersão, e então
? ? ?
ÐAß "Ñ œ ÐH1B Ð Ñß H)B Ð ÑÑ œ s1ÐBß Ñ,
H)B Ð?Ñ H)B Ð?Ñ H)B Ð?Ñ
o que, mais uma vez, era absurdo, tendo em conta a hipótese de ÐAß "Ñ não
pertencer à imagem de s1.
i) Vamos agora verificar que o conjunto Q s œ 0 ÐQ w Ñ é fechado em I e que
s
a bijecção 0 À Q Ä Q é um homeomorfismo.
w

Subdem: Uma vez que a bijecção 0 À Q w Ä Q s é contínua, basta provar que,


para cada subconjunto fechado E de Q w , 0 ÐEÑ é fechado em I .
Seja então C − I aderente a 0 ÐEÑ e consideremos uma sucessão de
elementos B4 − E, tal que 0 ÐB4 Ñ Ä C . Reparemos que, para cada B − Q w ,
)ÐBÑmAm œ m1ÐBÑ  0 ÐBÑm Ÿ m1ÐBÑm  m0 ÐBÑm Ÿ "  m0 ÐBÑm,
donde
"  m0 ÐBÑm
)ÐBÑ Ÿ .
mAm
"mCm
Escolhendo então <  mAm , vai existir 4! tal que, para cada 4   4! ,

"  m0 ÐB4 Ñm
)ÐB4 Ñ Ÿ <
mAm
pelo que as hipóteses feitas em e) sobre a aplicação ) garantem a existência
de um compacto O § Q w tal que, para cada 4   4! , B4 − O . Tem-se então
que E  O é fechado em O , e portanto compacto, pelo que 0 ÐE  OÑ é
§2. Variedades abstractas 469

compacto em I , e portanto fechado e o facto de se ter, para cada 4   4! ,


0 ÐB4 Ñ − 0 ÐE  OÑ implica que o seu limite C pertence também a 0 ÐE  OÑ,
e, em particular a 0 ÐEÑ. Fica assim provado que 0 ÐEÑ é realmente fechado
em I .
j) Tendo em conta II.6.27, o facto de a imersão injectiva 0 À Q w Ä I ser um
homeomorfismo sobre Q s œ 0 ÐQ w Ñ implica que 0 À Q w Ä Q s § I é mesmo
um difeomorfismo.
k) A aplicação : œ 0 ‰ <À Q Ä Q s § I é um difeomorfismo, e portanto
uma carta da estrutura diferenciável de Q , nas condições do enunciado. …

§3. A colagem de variedades: O teorema de Whitney.

Suponhamos que E é um espaço topológico, munido de uma estrutura


diferenciável, e que ÐE4 Ñ4−N é uma família de abertos de E, com união E.
Cada um dos E4 tem, como sabemos, uma estrutura diferenciável indu-
zida e gostaríamos de poder pensar na estrutura diferenciável de E como
sendo obtida por colagem das estruturas diferenciáveis dos diferentes E4 .
O problema que vamos examinar nesta secção é o de verificar em que
condições é que, partindo de um espaço topológico E, união de subcon-
juntos abertos E4 sobre os quais são dadas estruturas diferenciáveis, pode-
mos determinar uma estrutura diferenciável em E que seja uma colagem
das estruturas diferenciáveis dadas. Os dois primeiros resultados, ambos
de natureza elementar, estabelecem, por um lado, uma condição neces-
sária para a existência de colagens, por outro a impossibilidade de existir
mais que uma colagem. O resto da secção tem como objectivo mostrar
que, sob hipóteses restrictivas convenientes, as colagens existem efectiva-
mente, o que é um resultado muito menos elementar, que corresponde
essencialmente àquilo a que se dá usualmente o nome de “teorema do
mergulho de Whitney”. É esse resultado que vai permitir fazer a ponte
entre a definição mais usual das variedades abstractas, através de atlas
formados por cartas locais, e a via que seguimos utilizando cartas globais.

VI.3.1 Sejam E um espaço topológico e ÐE4 Ñ4−N uma família de subconjuntos


abertos de E, com união E, cada um dos quais munido de uma estrutura
diferenciável. Vamos dizer que uma estrutura diferenciável de E é uma
colagem das estruturas diferenciáveis dos E4 se a estrutura diferenciável de
cada E4 for a estrutura diferenciável induzida pela de E.
VI.3.2 Sejam E um espaço topológico e ÐE4 Ñ4−N uma família de abertos de E,
com união E, cada um dos quais munido de uma estrutura diferenciável.
Uma condição necessária para a existência em E de uma estrutura
diferenciável colagem das estruturas diferenciáveis dos E4 é a seguinte
condição de compatibilidade: Quaisquer que sejam os índices 4ß 5 − N , as
470 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

estruturas diferenciáveis induzidas em E4  E5 pelas de E4 e de E5


coincidem.
Dem: Suponhamos que havia uma tal estrutura diferenciável colagem em E e
sejam 4ß 5 − N . As estruturas diferenciáveis de E4  E5 induzidas pelas de
E4 e de E5 coincidem, por coincidirem ambas com a estrutura diferenciável
induzida pela de E. …
VI.3.3 Dados um espaço topológico E e uma família ÐE4 Ñ4−N de abertos de E
com união E, cada um dos quais munido de uma estrutura diferenciável,
vamos dizer que estas estruturas diferenciáveis são mutuamente compatíveis
se, quaisquer que sejam os índices 4ß 5 − N , as estruturas diferenciáveis
induzidas em E4  E5 pelas de E4 e de E5 coincidem.
VI.3.4 Sejam E um espaço topológico e ÐE4 Ñ4−N uma família de abertos de E,
com união E, cada um dos quais munido de uma estrutura diferenciável. Não
existe então sobre E mais do que uma estrutura diferenciável colagem das
dos E4 .
Dem: Suponhamos que temos duas estruturas diferenciáveis sobre E
colagens das dos E4 e notemos Ew e Eww o espaço topológico E com cada uma
destas estruturas diferenciáveis. A identidade M.E À Ew Ä Eww tem então
restrição suave a cada um dos abertos E4 de Ew , cuja união é E, por a
estrutura diferenciável em E4 induzida pela de Ew coincidir com a induzida
pela de Eww . Tendo em conta VI.1.22, concluímos que M.E À Ew Ä Eww é suave
e, por simetria dos papéis de Ew e Eww , M.E À Eww Ä Ew é também suave. Tendo
em conta VI.1.27, concluímos agora que Ew œ Eww . …

Vamos agora passar a examinar o problema da existência de colagens,


começando por verificar que ao nível da topologias, temos um resultado
simples de existência e unicidade de colagens, que é utilizado com
frequência para construir topologias sobre um conjunto, sobre o qual se
pretende posteriormente construir uma estrutura diferenciável por
colagem.

VI.3.5 (A colagem de topologias) Sejam E um conjunto e ÐE4 Ñ4−N uma família


de subconjuntos de E, com união E, cada um dos quais munidos de uma
topologia. Vamos dizer que estas topologias são mutuamente compatíveis se,
quaisquer que sejam os índices 4ß 5 − N , E4  E5 é aberto em E4 e em E5 e
as topologias induzidas em E4  E5 pelas de E4 e de E5 coincidem. Quando
isso acontecer, existe uma, e uma só, topologia em E que induza em cada E4
a topologia dada e tal que cada E4 seja aberto em E, topologia a que damos o
nome de colagem das topologias dos E4 .
Dem: Comecemos por provar a unicidade que, analogamente ao que sucedia
em VI.3.4, vai ser uma consequência de a continuidade ser uma noção local.
Suponhamos então que existiam duas topologias sobre E nas condições do
enunciado e notemos Ew e Eww o conjunto E com cada uma dessas topologias.
§3. A colagem de variedades: O teorema de Whitney 471

A aplicação M.E À Ew Ä Eww ia então ser contínua, visto que isso acontecia à
sua restrição a cada um dos abertos E4 , de união E, por em E4 as topologias
induzidas por Ew e Eww coincidirem. Pela mesma razão M.E À Eww Ä Ew era
também contínua, o que prova que Ew œ Eww .
Seja agora h a classe dos subconjuntos Y § E tais que, para cada 4, Y  E4

identidades Ð+ Y5 Ñ  E4 œ + ÐY5  E4 Ñ e Ð- Y5 Ñ  E4 œ - ÐY5  E4 Ñ,


seja aberto na topologia dada em E4 . É evidente que g − h e E − h e a=

5 5 5 5
válidas para toda a família não vazia de subconjuntos de E, implicam que
toda a intersecção finita de conjuntos pertencentes a h pertence a h e que
toda a união de conjuntos pertencentes a h pertence a h . Provámos assim a
existência de uma topologia sobre E cujos abertos são os conjuntos perten-
centes a h e vamos verificar que esta topologia verifica as condições do
enunciado. Em primeiro lugar, o facto de cada E3 ser aberto em E resulta da
hipótese de, para cada 4, E3  E4 ser aberto para a topologia dada em E4 .
Resta-nos provar que a topologia induzida em cada E4 pela topologia que
definimos em E é a topologia dada originalmente. Ora, se Z é aberto em E4
para a topologia induzida, vai existir um aberto Y de E tal que Z œ Y  E4
e então, por definição dos abertos de E, Z é aberto em E4 para a topologia
original. Reciprocamente, se Z é aberto em E4 para a topologia original,
então, para cada índice 3, Z  E3 œ Z  E3  E4 é aberto em E3  E4 para a
topologia induzida pela de E4 , que coincide com a induzida pela de E3 , pelo
que, por E3  E4 ser aberto em E3 , Z  E3 é aberto em E3 , o que, pela
definição da topologia de E, implica que Z é aberto em E, e portanto
também aberto em E4 para a topologia induzida. …
VI.3.6 É claro que, se E é um espaço topológico e ÐE4 Ñ4−N uma família de
abertos de E, com união E, sobre os quais consideramos as topologias
induzidas, então estas topologias são mutuamente compatíveis e a topologia
dada em E é a colagem das topologias dos E4 .

O resultado seguinte aponta duas condições necessárias triviais para a


existência de colagens de estruturas diferenciáveis, que verificamos em
seguida, com dois exemplos, não serem redundantes.

VI.3.7 Sejam E um espaço topológico e ÐE4 Ñ4−N uma família de abertos de E,


com união E, cada um dos quais munido de uma estrutura diferenciável.
Uma condição necessária para a existência de uma estrutura diferenciável em
E colagem das dos E4 é que E seja separado (isto é, de Hausdorff) e de base
contável (cf. II.3.7).
Dem: Basta atender a que a topologia associada a qualquer estrutura
diferenciável é sempre de Hausdorff e com base contável, por isso acontecer
à topologia de qualquer subconjunto de um espaço vectorial de dimensão
finita (cf. II.3.7). …
472 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

VI.3.8 (Exemplos) a) Seja E um espaço topológico discreto não contável e


consideremos a família dos abertos ÖB× de E com um único elemento.
Consideremos sobre cada um desses conjuntos unitários a sua única estrutura
diferenciável (uma estrutura de variedade abstracta de dimensão !). Estas
estruturas diferenciáveis são trivialmente mutuamente compatíveis e, no
entanto E não tem base contável de abertos, e portanto não admite nenhuma
estrutura diferenciável.
b) Consideremos um conjunto ‘w œ ‘  Ö!w ×, cujos elementos são os
números reais e mais um, que estamos a notar !w .115 Consideremos em ‘ a
sua topologia e estrutura diferenciável canónicas e em Y œ ‘w Ï Ö!× a
topologia e a estrutura diferenciável definidas pela carta :À Y Ä ‘, com
:Ð!w Ñ œ ! e :ÐBÑ œ B, para B − Y Ï Ö!w × (trata-se assim de duas variedades
abstractas de dimensão "). Reparando que a restrição de : a
Y  ‘ œ ‘ Ï Ö!× é a identidade, em particular aplica Y  ‘ no aberto
‘ Ï Ö!× de ‘, vemos que Y  ‘ é aberto em Y e em ‘, para as topologias
consideradas, e que as topologias e as estruturas diferenciáveis induzidas em
Y  ‘ pelas de Y e de ‘ coincidem. Podemos assim considerar em ‘w a
topologia colagem das topologias de Y e de ‘ e as estruturas diferenciáveis
dos abertos Y e ‘ são mutuamente compatíveis. No entanto, a topologia em
‘w não é separada, como se constata, por exemplo, se repararmos que a
sucessão B8 œ 8" converge simultaneamente para ! e para !w (neste último
caso porque :ÐB8 Ñ œ B8 converge para ! œ :Ð!w Ñ).

O nosso próximo passo vai ser a prova da existência de colagens finitas,


para o que necessitaremos de uma versão do teorema da partição da
unidade, com utilidade provisória, a qual será precedida de um lema de
natureza topológica.

VI.3.9 (Lema topológico) Seja E um espaço topológico localmente compacto,


separado e de base contável e sejam E" ß á ß E: abertos de E com união E.
Existem então abertos Y" ß á ß Y: de E, ainda com união E, tais que, para
cada " Ÿ ! Ÿ :, a aderência adÐY! Ñ de Y! esteja contida em E! .116
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
a) Para cada B − E, escolhamos " Ÿ !ÐBÑ Ÿ : tal que B − E!ÐBÑ e uma
vizinhança compacta GB de B, contida em E!ÐBÑ .
b) Tendo em conta o lema II.7.9, podemos considerar uma família de

115Intuitivamente, !w vai ser olhado como uma espécie de gémeo de !.


116Este lema pode ser generalizado, sem aumentar significativamente a complexidade da
demonstração, ao caso em que, em vez de uma família finita de abertos E! de E,
partimos de uma família arbitrária de abertos de E, com união E, obtendo-se então uma
correspondente família de abertos Y! de E, com o mesmo conjunto de índices, e que vai
ser, além disso, localmente finita. Uma vez que não iremos utilizar essa versão mais geral,
preferimos estabelecer a versão finita, que nos dispensa de explicitar o conceito de
família localmente finita de subconjuntos.
§3. A colagem de variedades: O teorema de Whitney 473

compactos de E, ÐO8 Ñ8 " , com união E e tal que, para cada 8,


O8 § intÐO8" Ñ. Ponhamos O! œ O" œ g.
c) Para cada 8   ", seja P8 œ O8 Ï intÐO8" Ñ e [8 œ intÐO8" Ñ Ï O8# e
reparemos que P8 é um compacto de E e [8 é um aberto de E, com
P8 § [8 , e que a união dos P8 é igual a E, uma vez que, para cada B − E,
tem-se B − P8 desde que 8 seja o menor dos índices tais que B − O8 .
d) Para cada 8   ", o compacto P8 está contido na união dos abertos
intÐGB Ñ, com B − E, pelo que podemos considerar uma parte finita M8 de E
tal que
P8 § . intÐGB Ñ.
B−M8

e) Para cada " Ÿ ! Ÿ : notemos Y! o aberto de E, união dos abertos


intÐGB Ñ  [8 com 8   ", B − M8 e !ÐBÑ œ !.
f) Vamos verificar que a união dos Y! é igual a E. Ora, para cada C − \ ,
podemos escolher 8 tal que C − P8 e então existe B − M8 tal que C − intÐGB Ñ
donde também C − intÐGB Ñ  [8 , e portanto C − Y! , com ! œ !ÐBÑ.
g) Resta-nos mostrar que se tem adÐY! Ñ § E! . Seja então C − E aderente a
Y! . Escolhamos 8! tal que C − O8! . O conjunto O8! " é uma vizinhança de
C com O8! "  [8 œ g, para cada 8   8!  $. Qualquer que seja a
vizinhança Z de C, Z  O8! " é também uma vizinhança de C , pelo que
Z  O8! "  Y! Á g o que implica que Z  O8! " , e portanto também Z ,
tem intersecção não vazia com a união dos abertos intÐGB Ñ  [8 , com
8 Ÿ 8!  #, B − M8 e !ÐBÑ œ !, uma união portanto finita. Fica assim
provado que C é aderente à união finita destes abertos intÐGB Ñ  [8 , e
portanto também aderente à correspondente união finita dos GB , que é
compacta, e portanto fechada em E. Podemos assim concluir que C pertence
a essa união finita de conjuntos GB , que estão contidos em E!ÐBÑ œ E! , pelo
que C − E! , como queríamos. …
VI.3.10 (Lema) Sejam E um espaço topológico separado e localmente compacto
e E" ß á ß E: abertos de E, de união E, munidos de estruturas diferenciáveis
mutuamente compatíveis. Existem então aplicações 0" ß á ß 0: À E Ä Ò!ß "Ó,
verificando as seguintes condições:
1) Para cada !ß " − Ö"ß á ß :×, 0! ÎE" À E" Ä Ò!ß "Ó é suave.117
2) Para cada " Ÿ ! Ÿ :, existe um subconjunto G! de E! , fechado em E, tal
que 0! ÐBÑ œ !, para cada B − E Ï G! .
3) Para cada B − E, 0" ÐBÑ  â  0: ÐBÑ   ".
Dem: Reparemos que E é um espaço topológico de base contável, por isso
acontecer a cada um dos E! , uma vez que, escolhendo uma base contável de
abertos para cada E! a união finita dessas bases é uma base contável de
abertos para E.

117Esta condição exprime que, “moralmente” as aplicações 0! À E Ä Ò!ß "Ó são suaves, já
que essa suavidade não faz sentido por E não ter ainda uma estrutura diferenciável.
474 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Podemos agora aplicar duas vezes o lema topológico precedente para


considerar, primeiro, abertos Y" ß á ß Y: de E, com união E, tais que
adÐY! Ñ § E! e, depois, abertos Z" ß á ß Z: de E, com união E, tais que
adÐZ! Ñ § Y! . Ponhamos G! œ adÐY! Ñ, para cada " Ÿ ! Ÿ :.
Para cada " Ÿ ! Ÿ :, podemos aplicar o teorema da partição da unidade em
VI.1.33 à cobertura aberta de E! constituída pelos conjuntos Y! e
E! Ï adÐZ! Ñ para concluir a existência de uma aplicação suave
0˜ ! À E! Ä Ò!ß "Ó tal que 0˜ ! ÐBÑ œ ", para cada B − adÐZ! Ñ e 0˜ ! ÐBÑ œ !, para
cada B Â Y! (tomar para 0˜ ! a função correspondente ao aberto Y! e ignorar
a função correspondente ao aberto E! Ï adÐZ! Ñ).
Para cada " Ÿ ! Ÿ : , podemos considerar o prolongamento 0! À E Ä Ò!ß "Ó
de 0̃ ! definido por

0! ÐBÑ œ œ
0˜ ! ÐBÑ, se B − E!
!, se B Â E!

e reparamos que se tem mesmo 0! ÐBÑ œ ! para cada B − E Ï G! . Qualquer


que seja " Ÿ " Ÿ :, tem-se que 0! ÎE" À E" Ä Ò!ß "Ó é suave, uma vez que tem
restrições suaves aos abertos E"  E! e E" Ï G! de união E" , a segunda por
ser identicamente nula e a primeira por a estrutura diferenciável de E"  E!
induzida pela de E" coincidir com a induzida pela de E! . Por fim, para cada
B − \,
0" ÐBÑ  â  0: ÐBÑ   ",

uma vez que existe ! tal que B − Z! e então 0! ÐBÑ œ ". …


VI.3.11 (Colagem finita de estruturas diferenciáveis) Sejam E um espaço
topológico separado e localmente compacto e E" ß á ß E: abertos de E, de
união E, munidos de estruturas diferenciáveis mutuamente compatíveis.
Existe então sobre E uma única estrutura diferenciável colagem das dos E4 .
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
a) A unicidade de uma estrutura diferenciável colagem é já conhecida (cf.
VI.3.4).
b) Seja, para cada " Ÿ ! Ÿ :, :! À E! Ä F! § I! uma carta da estrutura
diferenciável de E! . Consideremos aplicações 0" ß á ß 0: À E Ä Ò!ß "Ó
verificando as condições 1), 2) e 3) do lema precedente. Para cada
" Ÿ ! Ÿ :, seja <! À E Ä I! a aplicação definida por

<! ÐBÑ œ œ
0! ÐBÑ:! ÐBÑ, se B − E!
!, se B Â E!

e reparemos que se tem mesmo <! ÐBÑ œ !, para cada B − E Ï G! , uma vez
que, se fosse também B − E! , tinha-se 0! ÐBÑ œ !. Além disso, para cada
" Ÿ " Ÿ :, a restrição <! ÎE" À E" Ä I! é suave, por ter restrições suaves aos
abertos E"  E! e E" Ï G! , de união E" a segunda por ser identicamente
§3. A colagem de variedades: O teorema de Whitney 475

nula e a primeira por 0! e :! terem restrições suaves a E"  E! (para a


suavidade da restrição de :! lembrar que a estrutura diferenciável induzida
em E"  E! pela de E" coincide com a induzida pela de E! ).
c) Consideremos a aplicação :À E Ä I" ‚ â ‚ I: ‚ ‘: definida por
:ÐBÑ œ Ð<" ÐBÑß á ß <: ÐBÑß 0" ÐBÑß á ß 0: ÐBÑÑ,

que tem restrição suave a cada conjunto E" . Vamos verificar que a aplicação
: é injectiva. Sejam, com efeito, Bß C − E tais que :ÐBÑ œ :ÐCÑ. O facto de
se ter 0" ÐBÑ  â  0: ÐBÑ   " implica a existência de " Ÿ ! Ÿ : tal que
0! ÐBÑ œ 0! ÐCÑ Á !, em particular tem-se então Bß C − G! § E! , e portanto
<! ÐBÑ <! ÐCÑ
:! ÐBÑ œ œ œ :! ÐCÑ,
0! ÐBÑ 0! ÐCÑ
o que implica, por :! À E! Ä F! ser bijectiva, que B œ C .
d) Sendo G œ :ÐEÑ, :À E Ä G § I" ‚ â ‚ I: ‚ ‘: é uma bijecção
contínua, por ter restrição suave, em particular contínua, a cada um dos
abertos E" de E, cuja união é E.
e) Reparemos agora que, para cada ÐC" ß á ß C: ß =" ß á ß =: Ñ − G , tem-se, para
cada " Ÿ " Ÿ :, =" − Ò!ß "Ó e ="  â  =:   ", pelo que existe " Ÿ " Ÿ :
tal que ="  !. O conjunto G é assim união de subconjuntos abertos
Z" ß á ß Z: , onde
Z" œ ÖÐC" ß á ß C: ß =" ß á ß =: Ñ − G ± ="  !}

e, para cada ÐC" ß á ß C: ß =" ß á ß =: Ñ œ :ÐBÑ − Z" , tem-se 0" ÐBÑ œ ="  !,
portanto B − E" e C" œ <" ÐBÑ œ 0" ÐBÑ:" ÐBÑ œ =" :" ÐBÑ, o que implica que
C"
=" œ :" ÐBÑ − F" e que

C"
:" ÐC" ß á ß C: ß =" ß á ß =: Ñ œ B œ :"" Ð Ñ.
="

f) O que vimos em e) mostra, em particular, que a bijecção contínua


:À E Ä G § I" ‚ â ‚ I: ‚ ‘: é mesmo um homeomorfismo, uma vez
que :" À G Ä E é contínua, por ter restrição contínua a cada um dos abertos
Z" ß á ß Z: de G , com união G .
De facto, o que vimos em e) mostra mesmo que, para cada " Ÿ " Ÿ :, a
restrição de :" ao aberto Z" de G toma valores em E" e é uma aplicação
suave de Z" em E" .
g) Consideremos em E a estrutura diferenciável definida pela carta
:À E Ä G § I" ‚ â ‚ I: ‚ ‘: e verifiquemos que esta estrutura
diferenciável é a colagem pretendida. temos assim que mostrar que a
estrutura diferenciável induzida em cada E! pela estrutura diferenciável de E
é a estrutura diferenciável de partida, para o que basta mostrar que cada
:ÎE! À E! Ä :ÐE! Ñ § G é um difeomorfismo, quando se considera em E! a
estrutura diferenciável de partida. Já vimos em c) que :ÎE! À E! Ä G é
476 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

suave. Por outro lado :ÐE! Ñ é a união dos subconjuntos :ÐE! Ñ  Z" ,
" Ÿ " Ÿ :, que são abertos em :ÐE! Ñ, e a restrição de Ð:ÎE! Ñ" a
:ÐE! Ñ  Z" é uma aplicação suave :ÐE! Ñ  Z" Ä E! uma vez que, como
vimos em f), ela toma valores em E" e é suave como aplicação
:ÐE! Ñ  Z" Ä E" e, por hipótese, as estruturas diferenciáveis induzidas em
E!  E" pelas de E! e E" coincidem. Concluímos agora que
Ð:ÎE! Ñ" À :ÐE! Ñ Ä E! é também suave, e portanto :ÎE! À E! Ä :ÐE! Ñ é
efectivamente um difeomorfismo. …

O nosso próximo passo é estabelecer existência de colagens para famílias


numeráveis de abertos disjuntos dois a dois, munidos de estruturas
diferenciáveis. O método para provar essa existência baseia-se no teorema
de Whitney VI.2.32, provado na secção precedente, e para o podermos
fazer vamos ter que fazer hipóteses um pouco mais fortes que as do
resultado precedente, mais precisamente, vamos supor que os abertos são
mesmo variedades abstractas e com dimensões globalmente limitadas.

VI.3.12 (Colagem disjunta de variedades) Sejam Q um espaço topológico e


ÐQ8 Ñ8 " uma família numerável de abertos de Q , disjuntos dois a dois e
com união Q , cada um dos quais munido de uma estrutura diferenciável.
Suponhamos que existe 7   ! tal que cada Q8 seja uma variedade abstracta
com dimensão menor ou igual a 7 em todos os pontos. Existe então sobre Q
uma única estrutura diferenciável colagem das estruturas dos Q8 e Q , com
esta estrutura, fica a ser uma variedade abstracta com dimensão menor ou
igual a 7 em cada ponto.
Dem: A unicidade de uma tal estrutura diferenciável colagem já foi estabe-
lecida em VI.3.4 e, a existir uma tal colagem, para cada B! − Q vai existir 8
tal que B! − Q8 e então o facto de Q8 ser aberto em Q implica que ÐQ ß B! Ñ
e ÐQ8 ß B! Ñ são localmente difeomorfos, e portanto que Q é no ponto B! uma
variedade com dimensão igual à dimensão de Q8 nesse ponto, em particular
menor ou igual a 7.
Tendo em conta VI.2.32, podemos considerar, para cada 8   ", um espaço
vectorial I8 de dimensão #7  " e uma carta :8 À Q8 Ä E8 § I8 da
estrutura diferenciável de Q8 . Escolhendo, para cada 8, um isomorfismo
I8 Ä ‘#7" e substituindo :8 pela composta de :8 com este isomorfismo,
podemos já supor que se tem mesmo I8 œ ‘#7" . Para além disso,
considerando em ‘#7" o produto interno canónico e compondo, se
necessário, :8 com um difomeofismo G nas condições do lema VI.2.31,
pode-se já supor que E8 œ :8 ÐQ8 Ñ está contido na bola F" Ð!Ñ, de centro ! e
raio ", de ‘#7" .
Notemos /" o primeiro vector da base canónica de ‘#7" e reparemos que as
bolas abertas F" Ð#8/" Ñ de ‘#7" , com centro #8/" e raio 1, são trivialmente
disjuntas duas a duas. Podemos então considerar difeomorfismos
§3. A colagem de variedades: O teorema de Whitney 477

: s8 œ #8/"  E8 § F" Ð#8/" Ñ,


s 8 À Q8 Ä E s8 ÐBÑ œ #8/"  :8 ÐBÑ,
:

sœ- E
que são portanto também cartas das estruturas diferenciáveis dos Q8 , e
definir uma bijecção :À Q Ä E s8 § ‘#7" pela condição de ter
8 "
restrição :8 a cada Q8 . Esta bijecção é um homeomorfismo por ter restrição
contínua a cada um dos abertos Q8 cuja união é Q e por a sua inversa ter
restrição contínua a cada um dos abertos Es8 œ :ÐQ8 Ñ œ Es  F" Ð#8/" Ñ cuja
união é E s. Consideremos, enfim, a estrutura diferenciável de Q definida
pela carta :. A estrutura diferenciável induzida em cada Q8 admite
:ÎQ8 œ : s8 como carta, sendo assim a estrutura diferenciável dada em Q8 .
Esta estrutura diferenciável de Q é assim a colagem procurada. …

Vamos passar agora ao resultado geral sobre a existência de colagens de


estruturas de variedade abstracta. A demonstração que utilizamos,
baseia-se numa ideia de Spanier e utiliza o seguinte lema topológico,
também útil noutras situações.

VI.3.13 (Greub, Halperin e Vanstone, [9]) Seja Q um espaço topológico


localmente compacto, separado e de base contável. Para cada base de abertos
h de Q , notemos h0 a base de abertos de Q , que contém h , formada por
todas as uniões de famílias finitas de conjuntos pertencentes a h , e h= a base
de abertos de Q , que contém h , formada por todas as uniões de famílias
numeráveis de conjuntos pertencentes a h , disjuntos dois a dois. Seja h uma
base arbitrária de abertos de Q . Tem-se então que ÐÐh0 Ñ= Ñ0 é o conjunto de
todos os abertos de Q .
Dem: Basta mostrarmos que Q − ÐÐh0 Ñ= Ñ0 , visto que então, dado um aberto
arbitrário Y de Q , Y é ainda um espaço topológico localmente compacto,
separado e de base contável, que admite uma base de abertos h w , constituída
pelos conjuntos pertencentes a h que estão contidos em Y , tendo-se trivial-
mente ÐÐh0w Ñ= Ñ0 § ÐÐh0 Ñ= Ñ0 .
Tendo em conta II.7.9, podemos considerar uma sucessão ÐO8 Ñ8 " de
compactos de Q , com união Q , verificando a condição O8 § intÐO8" Ñ,
para cada 8ß e ponhamos, por comodidade, O" œ O! œ g, o que é compa-
tível com a condição referida.
Para cada 8   ", consideremos um aberto Y8 − h0 , verificando
O8 Ï intÐO8" Ñ § Y8 § intÐO8" Ñ Ï O8# .
Para provarmos a existência de Y8 − h0 nessas condições, atendemos a que
O8 Ï intÐO8" Ñ é um compacto contido no aberto intÐO8" Ñ Ï O8# , esco-
lhemos, para cada B nesse compacto, um aberto ZB − h tal que B − ZB §
intÐO8" Ñ Ï O8# e tomamos para Y8 uma união finita de tais abertos ZB ,
que ainda contenha o compacto.
Reparemos que a união dos abertos Y8 é Q , visto que, para cada B − Q ,
478 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

podemos considerar o menor dos naturais 8 tais que B − O8 , tendo-se então


B Â O8" , portanto B − O8 Ï intÐO8" Ñ § Y8 .
Reparemos agora que, se 8   7  $, tem-se Y8  Y7 œ g, visto que se tem
Y8  O8# œ g e Y7 § O7" § O8# . Podemos assim considerar abertos
E" , E# e E$ , pertencentes a Ðh0 Ñ= , definidos por

E" œ . Y$8# œ Y"  Y%  Y(  â

E# œ . Y$8" œ Y#  Y&  Y)  â
8 "

E$ œ . Y$8# œ Y$  Y'  Y*  â,
8 "

8 "

e tem-se Q œ E"  E#  E$ , o que mostra que Q − ÐÐh0 Ñ= Ñ0 . …


VI.3.14 (Teorema de Whitney sobre a existência de colagens de variedades)
Sejam Q um espaço topológico separado e de base contável, e ÐQ4 Ñ4−N uma
família de abertos de Q de união Q , cada um dos quais munido de uma
estrutura diferenciável. Suponhamos que:
1) As estruturas diferenciáveis dos Q4 são mutuamente compatíveis.
2) Para um certo 7   !, cada Q4 é uma variedade abstracta com dimensão
menor ou igual a 7 em cada ponto.
Existe então sobre Q uma, e uma só, estrutura diferenciável colagem das dos
Q4 e, com esta estrutura, Q é uma variedade abstracta com dimensão menor
ou igual a 7 em cada ponto.
Dem: Vamos dividir a demonstração, que se baseia no lema anterior, em
várias alíneas:
a) A unicidade de uma tal estrutura diferenciável colagem já foi estabelecida
em VI.3.4 e, a existir uma tal colagem, para cada B! − Q vai existir 4 tal que
B! − Q4 e então o facto de Q4 ser aberto em Q implica que ÐQ ß B! Ñ e
ÐQ4 ß B! Ñ são localmente difeomorfos, e portanto que Q é no ponto B! uma
variedade com dimensão igual à dimensão de Q4 nesse ponto, em particular
menor ou igual a 7.
b) Reparemos que a topologia de Q , além de separada e de base contável, é
também localmente compacta, uma vez que, se B! − Q4 , qualquer sistema
fundamental de vizinhanças de B! em Q4 é também sistema fundamental de
vizinhanças de B! em Q , por Q4 ser aberto em Q .
c) Se Y é um aberto de Q , Y vai ser a união dos abertos Y  Q4 de Y ,
sobre cada um dos quais podemos considerar a estrutura diferenciável
induzida pela de Q4 , relativamente à qual Y  Q4 , sendo aberto em Q4 , é
uma variedade com dimensão menor ou igual a 7 em cada ponto. Vamos
dizer que Y é um bom aberto se existir em Y uma estrutura diferenciável
colagem das estruturas dos Y  Q4 , caso em que Y fica a ser uma variedade
com dimensão menor ou igual a 7 em cada ponto.
O resultado ficará provado se verificarmos que Q é um bom aberto e é isso
§3. A colagem de variedades: O teorema de Whitney 479

que faremos nas alíneas seguintes.


d) Se Y é aberto num dos Q3 , então Y é um bom aberto de Q .
Subdem: A estrutura diferenciável de Y induzida pela de Q3 é uma colagem
das estruturas diferenciáveis dos Y  Q4 , induzidas pelas dos Q4 , visto que
a estrutura diferenciável de Y  Q4 induzida pela de Q4 coincide com a
induzida pela de Q3 , uma vez que ambas coincidem com a induzida pela
estrutura diferenciável de Q3  Q4 , que é a induzida tanto pela de Q3 como
pela de Q4 .
e) Se Y" ß á ß Y: são bons abertos de Q , Y œ Y"  â  Y: é também um
bom aberto.
Subdem: Comecemos por reparar que as estruturas diferenciáveis dos Y! ,
" Ÿ ! Ÿ :, são mutuamente compatíveis. Uma vez que Y!  Y" é a união
dos abertos Y!  Y"  Q4 , 4 − N , o resultado sobre a unicidade das colagens
VI.3.4 reduz essa verificação à verificação de que, para cada 4, as estruturas
diferenciáveis induzidas em Y!  Y"  Q4 pelas de Y! e Y" coincidem e
isso é consequência de ambas coincidirem com a estrutura diferenciável aí
induzida pela de Q4 (a estrutura diferenciável induzida em Y!  Q4 pela de
Y! é, por definição a induzida aí pela de Q4 , e analogamente com " no lugar
de !).
Uma vez que os Y! são variedades, em particular localmente compactos,
podemos aplicar VI.3.11 para garantir a existência sobre Y de uma estrutura
diferenciável colagem das dos Y! .
Vamos agora verificar que esta estrutura diferenciável de Y permite deduzir
que Y é efectivamente um bom aberto, ou seja, vamos verificar que, para
cada 4, a estrutura diferenciável induzida em Y  Q4 pela de Y coincide com
a induzida pela de Q4 . Ora, isso é uma consequência do resultado sobre a
unicidade das colagens VI.3.4, visto que Y  Q4 é a união dos abertos
Y!  Q4 , " Ÿ ! Ÿ :, e as estruturas diferenciáveis induzidas em Y!  Q4
pelas de Y e de Q4 coincidem, por a primeira ser a induzida pela de Y! .

a dois, então Y œ - Y8 é também um bom aberto.


f) Se ÐY8 Ñ8 " é uma família numerável de bons abertos de Q disjuntos dois

8 "
Subdem: Uma vez que os Y8 são variedades com dimensão menor ou igual a
7 em cada ponto, podemos aplicar VI.3.12 para concluir a existência em Y
de uma estrutura diferenciável colagem das dos Y8 . Vamos agora verificar
que esta estrutura diferenciável permite deduzir que Y é efectivamente um
bom aberto, ou seja, vamos verificar que, para cada 8, a estrutura diferenciá-
vel induzida em Y  Q4 pela de Y coincide com a induzida pela de Q4 Þ Ora,
isso é uma consequência do resultado sobre a unicidade das colagens VI.3.4,
visto que Y  Q4 é a união dos abertos Y8  Q4 , 8   ", e as estruturas
diferenciáveis induzidas em Y8  Q4 pelas de Y e de Q4 coincidem, por a
primeira ser a induzida pela de Y8 .
g) Vamos agora aplicar o lema VI.3.13 para terminar a demonstração.
Começamos por notar que a classe h dos abertos de Q que estão contidos
nalgum dos Q3 é uma base de abertos que, pelo que vimos em d), é formada
480 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

por bons abertos de Q . Tendo em conta o que vimos em e) e f), deduzimos


sucessivamente que as bases de abertos h0 , Ðh0 Ñ= e ÐÐh0 Ñ= Ñ0 são também
constutuidas por bons abertos de Q . O lema referido diz-nos que esta última
base é constituida por todos os abertos de Q pelo que, em particular, Q é
um bom aberto de Q , o que termina a demonstração. …
VI.3.15 (Nota) Repare-se que, no resultado precedente, a hipótese de a topologia
de Q ser de base contável é automaticamente verificada no caso em que o
conjunto dos índices 4 é finito ou numerável. Com efeito, se, para cada 4, h4
é uma base contável de abertos de Q4 , constata-se facilmente que a união dos
h4 é uma base contável de abertos de Q . Já a hipótese de esta topologia ser
separada é essencial, como se viu na alínea b) de VI.3.8.
VI.3.16 (Nota) Tal como já referimos, o resultado precedente permite fazer a
ponte entre a definição de variedade abstracta que temos vindo a desenvolver
e aquela que é apresentada mais usualmente. Para simplificar limitamos as
nossas observações ao caso em que se pretendem definir apenas as
variedades abstractas sem bordo e com a mesma dimensão 8 em todos os
pontos (caso esse que é aliás o único que é examinado em muitos livros de
texto)
Quando Q é um espaço topológico, parte-se usualmente do conceito de
carta local de Q , dando esse nome a um homeomorfismo :À Y Ä E, onde
Y é um aberto de Q e E um aberto ‘8 118. Duas cartas locais :À Y Ä E e
<À Z Ä F dizem-se compatíveis se o homeomorfismo (<ÎY Z Ñ ‰ Ð:ÎY Z Ñ" ,
entre os abertos :ÐY  Z Ñ e <ÐY  Z Ñ de ‘8 , é um difeomorfismo. Um
atlas de Q é então um conjunto T de cartas locais :4 À Y4 Ä E4 § ‘8 ,
compatíveis duas a duas e tais que a união dos Y4 seja Q .
Se o espaço topológico Q é separado e de base contável um tal atlas T
determina uma estrutura de variedade abstracta de dimensão 8 (no sentido
que temos estado a utilizar) do seguinte modo: Para cada 4, consideramos a
estrutura de variedade abstracta de dimensão 8 em Y4 que é definida pela
carta global :4 ; verifica-se imediatamente que a condição de compatibilidade
entre as cartas locais :4 e :5 significa exactamente que as correspondentes
estruturas de variedade abstracta em Y4 e Y5 induzem a mesma estrutura em
Y4  Y5 ; a estrutura de variedade abstracta determinada em Q é então a
colagem das estruturas dos Y4 , estrutura essa cuja existência é garantida pelo
resultado precedente.
Há ainda que ter em conta a possibilidade de uma mesma estrutura de
variedade abstracta de dimensão 8 poder ser definida por dois atlas distintos
T e U . Constata-se facilmente que isso acontece se, e só se, cada carta local
do atlas T é compatível com cada carta local do atlas U (ou, o que é o
mesmo, se, e só se, a união dos dois atlas é ainda um atlas).
A definição usual de variedade abstracta de dimensão 8 sobre o espaço

118Se se pretendesse estudar, mais geralmente, as variedades abstractas com bordo,


permitir-se-ia que E fosse um aberto de um sector de ‘8 .
§3. A colagem de variedades: O teorema de Whitney 481

topológico Q , separado e de base contável, corresponde à fixação de uma


classe de equivalência de atlas de Q para a relação de equivalência entre
atlas que corresponde a exigir que cada carta local do primeiro seja compa-
tível com cada carta local do segundo. Tem-se, é claro, que mostrar que a
relação referida entre atlas é de equivalência (apesar de a relação de
compatibilidade entre cartas locais não o ser!), o que é uma demonstração
trabalhosa, principalmente pelo peso das notações envolvidas.
Uma vez que é claro que, para cada variedade abstracta Q de dimensão 8,
no sentido que temos estado a usar, podemos sempre considerar uma família
de difeomorfismos :4 À Y4 Ä E4 , com Y4 aberto em Q e E4 aberto em ‘8 ,
cujos domínios tenham união Q e que esta família de difeomorfismos vai
constituir um atlas do espaço topológico Q cuja estrutura de variedade
associada é a de partida, constatamos que a via que seguimos e a via mais
usual conduzem a conceitos equivalentes de variedade abstracta de dimensão
8.

§4. Variedades quociente.

VI.4.1 Sejam Q uma variedade abstracta sem bordo, Q s um conjunto e


0À Q Ä Q s uma aplicação sobrejectiva. Chama-se estrutura de variedade
s a qualquer estrutura diferenciável sobre Q
quociente sobre Q s , relativamente
s s
à qual Q seja uma variedade sem bordo e 0 À Q Ä Q seja uma submersão
(cf. VI.2.17).

A propriedade fundamental das estruturas de variedade quociente é a


referida em VI.2.29: Se E é um espaço topológico, munido de uma estru-
s Ä E é suave se, e só se, a com-
tura diferenciável, uma aplicação 1À Q
posta 1 ‰ 0 À Q Ä E é suave. Essa propriedade permite, em particular,
mostrar que não pode existir mais que uma estrutura de variedade quo-
ciente em Q s:

VI.4.2 Sejam Q uma variedade abstracta sem bordo, Q s um conjunto e


s
0 À Q Ä Q uma aplicação sobrejectiva. Não pode então existir sobre Q s
mais que uma estrutura de variedade quociente. Além disso, relativamente à
topologia associada de Q s , a aplicação 0 fica contínua e aberta.
Dem: A haver duas estruturas nessas condições, concluíamos que a aplicação
s ÄQ
M.Qs À Q s ia ser suave de cada uma das estruturas para a outra, o que
implicava que as duas estruturas diferenciáveis coincidiam. A continuidade
de 0 é uma consequência da sua suavidade e o facto de 0 ser uma aplicação
aberta resulta de VI.2.28. …
482 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Vamos agora estabelecer um condição necessária e suficiente para a


existência de estrutura de variedade quociente. Começamos com a prova
de que a condição é necessária, prova essa será precedida de um lema
envolvendo variedades concretas, ao qual a condição necessária se reduz
pelos métodos habituais de invariância por difeomorfismo.

VI.4.3 (Lema) Sejam Q § I e Q s §I


s duas variedades sem bordo e
s
0 À Q Ä Q uma submersão. Sendo
G œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ Q ± 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ×,
tem-se então:
a) G é uma subvariedade sem bordo fechada em Q ‚ Q .
b) A restrição da primeira projecção 1" À Q ‚ Q Ä Q a G é uma submer-
são de G para Q .
c) Sendo ÐBß CÑ − G tal que as dimensões de Q em B, de Q em C e de Q s
em 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ sejam respectivamente 7, 8 e 5 , a dimensão de G em ÐBß CÑ
é785 e
XÐBßCÑ ÐGÑ œ ÖÐ?ß @Ñ − XB ÐQ Ñ ‚ XC ÐQ Ñ ± H0B Ð?Ñ œ H0BÐ@Ñ×.

s ‚Q
Dem: Seja ? § Q s o conjunto diagonal,
s ‚Q
? œ ÖÐDß DÑ×D−Qs œ ÖÐDß D w Ñ − Q s ± D œ D w ×.

A caracterização ? œ ÖÐDß D w Ñ − Qs ‚Q s ± D  D w œ !× mostra que ? é


fechado em Q s e, considerando o difeomorfismo 1À Q s Ä ?, definido por
1ÐDÑ œ ÐDß DÑ, cujo inverso é a restrição da primeira projecção
Qs ‚Q s ÄQ s , vemos que ? é uma variedade sem bordo, tendo, em cada
ponto ÐDß DÑ, a mesma dimensão que a variedade Q s em D . Além disso, o
facto de se ter H1D ÐAÑ œ ÐAß AÑ implica que XÐDßDÑ Ð?Ñ § XD ÐQ s Ñ ‚ XD ÐQ
sÑ é
o conjunto dos ÐAß AÑ, com A − XD ÐQs Ñ. Por outro lado, a aplicação suave
s ‚Q
2À Q ‚ Q Ä Q s , 2ÐBß CÑ œ Ð0 ÐBÑß 0 ÐCÑÑ,

tem a derivada
s Ñ ‚ X0 ÐCÑ ÐQ
H2ÐBßCÑ À XB ÐQ Ñ ‚ XC ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ sÑ

definida por H2ÐBßCÑ Ð?ß @Ñ œ ÐH0B Ð?Ñß H0B Ð@ÑÑ, sendo portanto, uma aplica-
ção linear sobrejectiva. Podemos assim concluir que G œ 2" Ð?Ñ é fechado
em Q ‚ Q e, tendo em conta II.4.32, que G é uma variedade sem bordo,
com dimensão 7  8  Ð#5  5Ñ œ 7  8  5 em cada ponto ÐBß CÑ tal que
7, 8 e 5 sejam as dimensões de Q em B, de Q em C e de Q s em
0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ, respectivamente. O mesmo resultado garante também que, para
cada ÐBß CÑ − G , XÐBßCÑ ÐGÑ é o conjunto dos Ð?ß @Ñ − XB ÐQ Ñ ‚ XC ÐQ Ñ tais
que H2B Ð?ß @Ñ − XÐ0 ÐBÑß0 ÐCÑÑ Ð?Ñ, isto é, tais que H0B Ð?Ñ œ H0C Ð@Ñ.
§4. Variedades quociente 483

Sejam agora ÐBß CÑ − G e ? − XB ÐQ Ñ. Tem-se H0B Ð?Ñ − X0 ÐBÑ ÐQ sÑ œ


s s
X0 ÐCÑ ÐQ Ñ pelo que o facto de a aplicação linear H0C À XC ÐQ Ñ Ä X0 ÐCÑ ÐQ Ñ ser
sobrejectiva implica a existência de @ − XC ÐQ Ñ tal que H0B Ð?Ñ œ H0C Ð@Ñ,
portanto, pelo que vimos atrás, tal que Ð?ß @Ñ − XÐBßCÑ ÐGÑ; o facto de a
derivada da primeira projecção 1" À Q ‚ Q Ä Q em ÐBß CÑ, na direcção de
Ð?ß @Ñ, ser igual a ? implica assim que a derivada da restrição a G dessa
projecção no ponto ÐBß CÑ é sobrejectiva. …
VI.4.4 Sejam Q uma variedade abstracta sem bordo, Q s um conjunto e
0À Q Ä Q s uma aplicação sobrejectiva e suponhamos que existe em Q
s uma
estrutura de variedade quociente. Sendo
G œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ Q ± 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ×,
tem-se então:
a) G é fechado em Q ‚ Q e, com a estrutura diferenciável induzida pela de
Q ‚ Q , é uma variedade sem bordo.
b) A restrição da primeira projecção 1" À Q ‚ Q Ä Q a G é uma submer-
são de G para Q .
c) Sendo ÐBß CÑ − G tal que as dimensões de Q em B, de Q em C e de Q s
em 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ sejam respectivamente 7, 8 e 5 , a dimensão de G em ÐBß CÑ
é 7  8  5.
Dem: Consideremos cartas :À Q Ä Q w § I e <À Q s ÄQ sw § I
s das duas
w
s
variedades abstractas. Tem-se então que Q e Q são variedades concretas
w

sem bordo e a aplicação < ‰ 0 ‰ :" À Q w Ä Q s w é uma submersão, à qual


podemos aplicar o lema precedente. Deduzimos, em primeiro lugar, que
G w œ ÖÐDß AÑ − Q w ‚ Q w ± < ‰ 0 ‰ :" ÐDÑ œ < ‰ 0 ‰ :" ÐAÑ× œ
œ ÖÐDß AÑ − Q w ‚ Q w ± 0 ‰ :" ÐDÑ œ 0 ‰ :" ÐAÑ× œ
œ ÖÐDß AÑ − Q w ‚ Q w ± Ð:" ÐDÑß :" ÐAÑÑ − G×
é uma subvariedade de Q w ‚ Q w e portanto, considerando o difeomorfismo
: ‚ :À Q ‚ Q Ä Q w ‚ Q w , G œ Ð: ‚ :Ñ" ÐG w Ñ é uma variedade sem
bordo. Seguidamente, notando 1"w À Q w ‚ Q w Ä Q w a primeira projecção,
cuja restrição a G w sabemos ser uma submersão de G w para Q w , vemos que,
para cada ÐBß CÑ − G , tem-se
1" ÐBß CÑ œ B œ :" Ð:ÐBÑÑ œ :" Ð1"w ÐÐ: ‚ :ÑÐBß CÑÑÑ,
o que mostra que 1"ÎG À G Ä Q é a composta do difeomorfismo
: ‚ :À G Ä G w com a submersão 1"ÎG w w
wÀ G Ä Q
w
com o difeomorfismo
: À Q Ä Q , sendo assim uma submersão. Seja enfim ÐBß CÑ − G tal que
" w

as dimensões de Q em B, de Q em C e de Q s em 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ sejam


respectivamente 7, 8 e 5 . Considerando o correspondente ponto ÐBw ß C w Ñ œ
Ð: ‚ :ÑÐBß CÑ œ Ð:ÐBÑß :ÐCÑÑ − G w , o facto de Q w ter dimensões 7 e 8 em
484 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Bw œ :ÐBÑ e em C w œ :ÐCÑ e de Q s w ter dimensão 5 em <Ð0 ÐBÑÑ œ


< ‰ 0 ‰ :" ÐBw Ñ implica que a dimensão de G w em ÐBw ß C w Ñ é 7  8  5 , e
portanto, considerando o difeomorfismo G w Ä G , restrição de (: ‚ :)" ,
esta é também a dimensão de G em ÐBß CÑ. …

Vamos ver adiante que as condições a) e b) atrás descritas são também


suficientes para garantir a existência de uma estrutura de variedade
quociente. A respectiva demonstração é bastante menos elementar que a
anterior e é cómodo começar por estabelecer o seguinte lema:

VI.4.5 (Lema) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Y § I um


s um conjunto e 0 À Y Ä Q
aberto, com ! − Y , Q s uma aplicação tal que

G œ ÖÐBß CÑ − Y ‚ Y ± 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ×


seja uma variedade sem bordo. Existe então um aberto Y! de I , com
! − Y! § Y , e um subespaço vectorial K § I tais que:
a) Para cada B − Y! , existe um, e um só, C − Y!  K tal que 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ.
b) A aplicação 3À Y! Ä Y!  K , definida pela condição de se ter 0 ÐBÑ œ
0 Ð3ÐBÑÑ, é uma submersão sobrejectiva.
Dem: Para uma melhor sistematização, vamos dividir a demonstração em
várias alíneas:
1) Seja J § I o subespaço vectorial
J œ ÖA − I ± Ð!ß AÑ − XÐ!ß!Ñ ÐGÑ×

e fixemos um subespaço vectorial K § I tal que I œ J Š K . Vamos


mostrar que se tem então
I ‚ I œ XÐ!ß!Ñ ÐGÑ Š ÐÖ!× ‚ KÑ.

Subdem: Começamos por reparar que o facto de, para cada B − Y , se ter
ÐBß BÑ − G implica, por derivação, que, para cada ? − I , se tem
Ð?ß ?Ñ − XÐ!ß!Ñ ÐGÑ. Para cada Ð?ß @Ñ − I ‚ I , podemos escrever @  ? œ
A  Aw , com A − J e Aw − K e então
Ð?ß @Ñ œ Ð?ß ?Ñ  Ð!ß AÑ  Ð!ß Aw Ñ,
com Ð?ß ?Ñ  Ð!ß AÑ − XÐ!ß!Ñ ÐGÑ e Ð!ß Aw Ñ − Ö!× ‚ K . Uma vez que, pela
definição de J e por se ter J  K œ Ö!×, XÐ!ß!Ñ ÐGÑ e Ö!× ‚ K têm, evidente-
mente, intersecção ÖÐ!ß !Ñ×, concluímos que tem lugar a soma directa
pretendida.
2) Seja 1À G ‚ K Ä I ‚ I a aplicação suave definida por
1ÐÐBß CÑß DÑ œ ÐBß C  DÑ,
que verifica 1ÐÐ!ß !Ñß !Ñ œ Ð!ß !Ñ. Vamos verificar a existência de um aberto
Y w de I , com ! − Y w § Y , de um aberto Z de K , com ! − Z , e de um
§4. Variedades quociente 485

aberto [ de I ‚ I tais que a restrição de 1 seja um difeomorfismo do


aberto E œ ÐG  ÐY w ‚ Y w ÑÑ ‚ Z de G ‚ K sobre [ .
Subdem: A aplicação linear
H1ÐÐ!ß!Ñß!Ñ À XÐ!ß!Ñ ÐGÑ ‚ K Ä I ‚ I

está definida por ÐÐ?ß @Ñß AÑ È Ð?ß @Ñ  Ð!ß AÑ, sendo portanto um isomor-
fismo, tendo em conta a soma directa referida em 1). Basta então aplicar o
teorema da função inversa concluir a asserção.
3) Consideremos um aberto Z˜ de I , tal que Z œ Z˜  K e notemos [†ß! o
aberto de I , contendo !, constituído pelos B tais que ÐBß !Ñ − [ . Seja
Y ww œ Y w  [†ß!  Z˜ ,

que é portanto um aberto de I com ! − Y ww § Y . Vamos mostrar que, para


cada B − Y ww , existe um, e um só, C − Y ww  K , tal que 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ, esse C
sendo nomeadamente igual à segunda componente de Ð1ÎE Ñ" ÐBß !Ñ −
G ‚ K.
Subdem: O facto de se ter ÐBß !Ñ − [ implica a existência de
˜ CÑ − G  ÐY w ‚ Y w Ñ e de D − Z tais que
ÐBß
˜ C  DÑ,
˜ CÑß DÑ œ ÐBß
ÐBß !Ñ œ 1ÐÐBß
portanto B œ B˜ e C œ D . Em particular, ÐBß CÑ − G , isto é, 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ, e o
facto de se ter ÐCß !Ñ œ 1ÐÐCß CÑß CÑ, com ÐCß CÑ − G  ÐY w ‚ Y w Ñ e C − Z ,
implica que ÐCß !Ñ − [ , donde
C − Y w  [†ß!  Z˜  K œ Y ww  K .

Quanto à unicidade, dado C˜ − Y ww  K tal que 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ ˜ , temos que


mostrar que se tem C˜ œ C . Ora, isso resulta de que ÐBß CÑ
˜ − G  ÐY w ‚ Y w Ñ,
C˜ − Z e
˜ CÑ
ÐBß !Ñ œ 1ÐÐBß CÑß ˜ ,
donde, pela injectividade da restrição de 1, ÐÐBß ˜ CÑß DÑ œ ÐÐBß CÑß
˜ Cј , em
particular C̃ œ C .
4) Seja 3À Y ww Ä Y ww  K a aplicação definida pela condição de 3ÐBÑ ser o
único elemento de Y ww  K que verifica 0 ÐBÑ œ 0 Ð3ÐBÑÑ. O modo de
determinar um tal elemento, indicado em 3), mostra que 3ÐBÑ é a segunda
componente do vector 1" ÎE ÐBß !Ñ − G ‚ K , o que implica que
3À Y ww Ä Y ww  K é uma aplicação suave.
5) O modo como a aplicação 3 está definida implica trivialmente que, para
cada B − Y ww  K , 3ÐBÑ œ B. Daqui se deduz, por derivação, que, para cada
? − K, H3! Ð?Ñ œ ?, em particular a aplicação linear H3! À I Ä K é sobre-
jectiva.
6) Pelo teorema da submersão, II.4.22, existe um aberto Y www de I , com
! − Y www § Y ww tal que, para cada B − Y www , H3B À I Ä K seja uma aplicação
486 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

linear sobrejectiva. Seja, enfim, Y! œ ÖB − Y www ± 3ÐBÑ − Y www ×, que é


portanto um aberto de I tal que ! − Y! § Y www . O facto de se ter 3ÐBÑ œ B,
para cada B − Y ww  K, implica que 3 aplica Y! sobre Y!  K e a restrição de
3 a Y! vai ser portanto uma submersão sobrejectiva. …
VI.4.6 (Existência de estrutura de variedade quociente) Sejam Q uma varie-
dade abstracta sem bordo, Q s um conjunto e 0 À Q Ä Q s uma aplicação
sobrejectiva. Sendo
G œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ Q ± 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ×,
suponhamos que:
a) G é fechado em Q ‚ Q e, com a estrutura diferenciável induzida pela de
Q ‚ Q , é uma variedade sem bordo.
b) A restrição da primeira projecção, 1" À Q ‚ Q Ä Q , a G é uma submer-
são de G para Q .
Existe então em Q s uma, e uma só, estrutura de variedade quociente.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias alíneas:
1) Existe uma topologia em Q s , cujos abertos são os conjuntos Y
s §Q s tais
s Ñ é aberto em Q .
que 0 " ÐY
Subdem: Para isso basta mostrar que a classe dos subconjuntos de Q s
naquelas condições verifica os axiomas dos abertos de um espaço topológico

0 Ð Y 4 Ñ œ -0 ÐY
" - s
e isso é uma consequência das igualdades 0 " ÐgÑ œ g, 0 " ÐQ sÑ œ Q,
" s 4 Ñ e 0 ÐY
" s Zs Ñ œ 0 ÐY
" s Ñ  0 ÐZ
" s Ñ.
2) Consideremos em Q s a topologia referida em 1). A aplicação 0 À Q Ä Q s
fica contínua e aberta.
Subdem: A continuidade de 0 é uma consequência imediata da caracteri-
zação da continuidade a partir das imagens recíprocas dos conjuntos abertos,
mas já o facto de 0 ser uma aplicação aberta não é tão evidente. O que temos
que mostrar é que, se Y é um aberto de Q , então 0 ÐY Ñ é um aberto de Q s,
ou seja, por definição, que 0 " Ð0 ÐY ÑÑ é um aberto de Q . Ora, isso resulta de
que a restrição de 1" À Q ‚ Q Ä Q a G é uma submersão, em particular
uma aplicação aberta (cf. VI.2.28) e de que se tem
0 " Ð0 ÐY ÑÑ œ ÖB − Q ± b 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ× œ
C−Y
œ ÖB − Q ± b ÐBß CÑ − G× œ 1" ÐÐQ ‚ Y Ñ  GÑ,
C−Y

com ÐQ ‚ Y Ñ  G aberto em G .
3) A topologia que estamos a considerar em Q s é separada e de base
contável.
Subdem: Sejam D Á D w em Q s . Vem D œ 0 ÐBÑ e D w œ 0 ÐCÑ, com ÐBß CÑ Â G
e o facto de G ser fechado em Q ‚ Q implica então que existem abertos Y
e Y w de Q , com B − Y , C − Y w e ÐY ‚ Y w Ñ  G œ g e então os abertos
s , contendo D e D w , respectivamente, são disjuntos, visto
0 ÐY Ñ e 0 ÐY w Ñ de Q
que, se 0 ÐBÑ
˜ œ 0 ÐCј , com B˜ − Y e C˜ − Y w , vinha ÐBß ˜ − ÐY ‚ Y w Ñ  G .
˜ CÑ
§4. Variedades quociente 487

Ficou assim provado que Q s é um espaço topológico separado. Para verificar


s
que Q é de base contável basta reparar que, se h é uma base de abertos de
Q , finita ou numerável, a classe h s dos conjuntos 0 ÐY Ñ, com Y − h , é uma
base de abertos finita ou numerável de Q s , visto que, se Y
s é um aberto de Q s
e D œ 0 ÐBÑ − Y s , podemos considerar Y − h , com B − Y § 0 " ÐY s Ñ e então
D − 0 ÐY Ñ § Y s.
4) Para cada B! − Q , existe um aberto Y de Q , com B! − Y , e uma
estrutura de variedade sem bordo sobre 0 ÐY Ñ, com a topologia induzida pela
de Qs , tal que 0ÎY À Y Ä 0 ÐY Ñ seja uma submersão.
Subdem: Comecemos por considerar um aberto Y w de Q , com B! − Y w , um
aberto Z w de ‘8 , com ! − Z w e um difeomorfismo :À Z w Ä Y w , com
:Ð!Ñ œ B! . Considerando então a aplicação 0 ‰ :À Z w Ä Q s , vemos que,
sendo
G w œ ÖÐDß D w Ñ − Z w ‚ Z w ± 0 ‰ :ÐDÑ œ 0 ‰ :ÐD w Ñ×,
tem-se G w œ Ð: ‚ :Ñ" ÐG  ÐY w ‚ Y w ÑÑ. pelo que o facto de : ‚ : ser um
difeomorfismo de Z w ‚ Z w sobre Y w ‚ Y w implica que G w é uma variedade
sem bordo. Podemos agora aplicar o lema precedente para garantir a
existência de um aberto Z de ‘8 , com ! − Z § Z w , de um subespaço vecto-
rial de dimensão finita K § ‘8 e de uma submersão sobrejectiva
3À Z Ä Z  K tal que, para cada D − Z , 3ÐDÑ é o único elemento de Z  K ,
para o qual se tem 0 ‰ :ÐDÑ œ 0 ‰ :Ð3ÐDÑÑ, em particular 3ÐDÑ œ D , para
cada D − Z  K . Consideremos agora o aberto Y œ :ÐZ Ñ de Q , com
B! − Y . Vai ter lugar uma aplicação contínua <À Z  K Ä 0 ÐY Ñ, definida
por <ÐDÑ œ 0 Ð:ÐDÑÑ, a qual vai ser bijectiva, visto que a injectividade é uma
consequência da condição de unicidade na definição de 3ÐDÑ e a sobrejectivi-
dade resulta da igualdade
0 ‰ :ÐDÑ œ 0 ‰ :Ð3ÐDÑÑ œ <Ð3ÐDÑÑ,
para cada D − Z . Esta mesma igualdade vai implicar que a aplicação < é
aberta, e portanto um homeomorfismo, visto que, para cada aberto [ de
Z  K, <Ð[ Ñ œ 0 Ð:Ð3" Ð[ ÑÑÑ, onde 3" Ð[ Ñ é aberto em Z , e portanto
em Y . Podemos agora definir uma estrutura diferenciável em 0 ÐY Ñ, com a
topologia induzida pela de Qs , pela condição de o homeomorfismo < ser um
difeomorfismo (cf. VI.1.26), sendo trivial que 0 ÐY Ñ, com esta estrutura
diferenciável, é uma variedade sem bordo, com dimensão igual à de K . O
facto de se ter, como vimos atrás 0ÎY ‰ :ÎZ œ < ‰ 3À Z Ä 0 ÐY Ñ, onde < ‰ 3
é uma submersão, por ser o composto de um difeomorfismo com uma sub-
mersão, garante-nos, tendo em conta a alínea b) de VI.2.21 e a igualdade
:ÐZ Ñ œ Y , que 0ÎY À Y Ä 0 ÐY Ñ é uma submersão.
5) O que vimos em 4) mostra-nos que, para cada B − Q , existe um aberto YB
de Q , com B − YB , e uma estrutura de variedade sem bordo sobre o aberto
0 ÐYB Ñ de Q s , com a topologia induzida pela de Q s , tal que a restrição
488 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

0ÎYB À YB Ä 0 ÐYB Ñ seja uma submersão. O facto de a aplicação 0 À Q Ä Q s


s
ser sobrejectiva implica que a família dos abertos 0 ÐYB Ñ de Q , com B − Q ,
tem união Q s . Vamos verificar que as estruturas diferenciáveis nos 0 ÐYB Ñ são
mutuamente compatíveis, isto é, que, dados Bß C − Q , as estruturas dife-
renciáveis nos abertos 0 ÐYB Ñ e 0 ÐYC Ñ induzem a mesma estrutura
diferenciável em 0 ÐYB Ñ  0 ÐYC Ñ.
Subdem: Tendo em conta o resultado de unicidade de colagens em VI.3.4,
bastará provar que, para cada D − 0 ÐYB Ñ  0 ÐYC Ñ, existe um aberto [ de Q s,
com D − [ § 0 ÐYB Ñ  0 ÐYC Ñ, tal que as estruturas diferenciáveis induzidas
em [ pelas de 0 ÐYB Ñ e de 0 ÐYC Ñ coincidam.
Seja D œ 0 ÐBw Ñ œ 0 ÐC w Ñ, com Bw − YB e C w − YC . Tem-se assim ÐBw ß C w Ñ − G
pelo que o facto de a restrição da primeira projecção ser uma submersão
G Ä Q implica, tendo em conta VI.2.27, a existência de um aberto Y w de
Q , com Bw − Y w , e de uma aplicação suave 5 À Y w Ä Q tal que 5 ÐBw Ñ œ C w e
que, para cada Bww − Y w , ÐBww ß 5 ÐBww ÑÑ − G , isto é, 0 ÐBww Ñ œ 0 Ð5ÐBww ÑÑ. Por
continuidade, vemos que, se necessário reduzindo o aberto Y w , pode já
supor-se que Y w § YB e 5 ÐY w Ñ § YC . Sendo [ w œ 0 ÐY w Ñ, [ w é um aberto de
Qs , contendo D œ 0 ÐBw Ñ e contido em 0 ÐYB Ñ  0 ÐYC Ñ. Uma vez que
0ÎY w À Y w Ä [ w é uma submersão sobrejectiva, quando se considera em [ w a
estrutura de variedade sem bordo induzida pela de 0 ÐYB Ñ e que a composta
da inclusão [ w Ä 0 ÐYC Ñ com 0ÎY w é uma aplicação suave Y w Ä 0 ÐYC Ñ, por
estar definida por Bww È 0 ÐBww Ñ œ 0 Ð5 ÐBww ÑÑ, concluímos de VI.2.29 que
aquela inclusão é suave, e portanto que M.[ w À [ w Ä [ w é suave, quando se
considera no domínio a estrutura diferenciável induzida pela de 0 ÐYB Ñ e no
espaço de chegada a induzida pela de 0 ÐYC Ñ. Por simetria dos papéis de B e
C , existe também um aberto [ ww de Q s , com D − [ ww § 0 ÐYB Ñ  0 ÐYC Ñ, tal
que M.[ w À [ Ä [ seja suave, quando se considera no domínio a estrutura
w w

diferenciável induzida pela de 0 ÐYC Ñ e no espaço de chegada a induzida pela


de 0 ÐYB Ñ e então [ œ [ w  [ ww é um aberto de Q s , com D − [ §
0 ÐYB Ñ  0 ÐYC Ñ, tal que em [ coincidem as estruturas diferenciáveis induzi-
das pela de 0 ÐYB Ñ e pela de 0 ÐYC Ñ, por M.[ À [ Ä [ ser suave de cada uma
destas para a outra.
6) Repare-se que, sendo 7 um majorante da dimensão de Q nos diferentes
pontos (cf. VI.2.3), o facto de os 0ÎYB À YB Ä 0 ÐYB Ñ serem submersões
implica que a dimensão de 0 ÐYB Ñ nos diferentes pontos é menor ou igual a
7. Tendo em conta o teorema de existência de colagens VI.3.14, concluímos
a existência de uma estrutura diferenciável no espaço topológico Q s que
induz em cada 0 ÐYB Ñ a estrutura de variedade sem bordo que aí colocámos e
Qs fica então a ser uma variedade sem bordo. A aplicação 0 À Q Ä Q s fica
suave, por isso acontecer à sua restrição a cada um dos abertos YB , de união
Q , e o facto de a restrição de 0 a cada YB ser uma submersão implica
trivialmente que 0 À Q Ä Q s é uma submersão.
§4. Variedades quociente 489

7) O facto de a estrutura de variedade sem bordo de Qs considerada ser a


s
única para a qual 0 À Q Ä Q é uma submersão resulta de VI.4.2. …
VI.4.7 (Corolário) Nas condições anteriores, se a variedade Q tem dimensão 7
em B e a variedade G § Q ‚ Q tem dimensão 5 em ÐBß BÑ, então a varie-
dade Qs tem dimensão #7  5 em 0 ÐBÑ.
Dem: Trata-se de uma consequência da caracterização da dimensão de G em
VI.4.4. …

§5. Subvariedades imersas e teorema de Frobenius global.

VI.5.1 Seja Q uma variedade abstracta. Vamos chamar subvariedade imersa de


Q a um par formado por um subconjunto E § Q e por uma estrutura
diferenciável sobre E (a topologia e a estrutura diferenciável de E não são
obrigatoriamente as induzidas pelas de Q ) de modo que se verifiquem as
seguintes condições:
a) E, com a estrutura diferenciável dada, é uma variedade. Usaremos habi-
tualmente a notação ÐEÑ para nos referirmos a esta variedade e à sua topo-
logia, de modo a continuar a aplicar a convenção de, ao escrevermos sim-
plesmente E, estar subentendido que a estrutura diferenciável considerada é a
induzida.
b) A inclusão +À ÐEÑ Ä Q é uma imersão.
Diremos que a subvariedade imersa é normal se se verifica, além disso:
c) Para cada B! − E, existe um aberto Y de E (topologia induzida), com
B! − Y , onde a dimensão de ÐEÑ é constante.119
VI.5.2 Se Q é uma variedade abstracta, continuaremos a chamar subvariedades
de Q aos subconjuntos E de Q que, com estrutura diferenciável induzida,
são ainda subvariedades. Estes conjuntos, com a estrutura diferenciável
induzida, são casos particulares de subvariedades imersas normais.
Dem: Uma vez que as condições a) e b) são trivialmente verificadas só temos
que notar que a condição c) resulta da constância local da dimensão de uma
variedade. …
VI.5.3 Se ÐEÑ é uma subvariedade imersa normal de Q e se E (com a topologia
induzida pela de Q ) é conexo, então E tem a mesma dimensão em todos os
pontos.
Dem: O facto de a subvariedade ser normal implica que, para cada 8 o
conjunto dos pontos B − E onde a dimensão de ÐEÑ é 8 é aberto em E (para

119Esta condição não é normalmente explicitada uma vez que a maioria dos autores
apenas considera variedades com a mesma dimensão em todos os pontos, caso em que a
condição se verifica trivialmente. No quadro geral em que nos colocamos, ela parece ser
verificada na maioria dos casos interessantes e será utilizada adiante.
490 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

a topologia induzida) pelo que não pode haver mais que um destes conjuntos
que seja não vazio. …

O resultado seguinte, que será aplicado com frequência, permite garantir a


suavidade de certas aplicações que tomam valores numa subvariedade
imersa.

VI.5.4 Sejam Q uma variedade abstracta e ÐEÑ uma subvariedade imersa. Sejam
Es um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, e 1À Es Ä Q uma
aplicação de classe G tal que 1ÐEÑ
: s § E e que 1À E s Ä ÐEÑ seja contínua.
s Ä ÐEÑ é de classe G : .
Tem-se então que 1À E
Dem: Basta aplicar VI.2.25 à imersão inclusão +À ÐEÑ Ä Q . …
VI.5.5 Sejam Q uma variedade abstracta e ÐEÑ uma subvariedade imersa.
Tem-se então que a topologia associada de ÐEÑ é mais fina120 que a
topologia induzida pela de Q , sendo igual a esta se, e só se, a estrutura
diferenciável de ÐEÑ for a induzida pela de Q (ou seja, se, e só se, ÐEÑ œ E).
Dem: Uma vez que M.E À ÐEÑ Ä E é uma aplicação suave, em particular
contínua, podemos concluir que a topologia de ÐEÑ é mais fina que a de E. É
também evidente que, se ÐEÑ œ E, então a topologia de ÐEÑ é a induzida
pela de Q . Reciprocamente, se a topologia de ÐEÑ é a induzida pela de Q ,
segue-se que a imersão M.E À ÐEÑ Ä Q é uma homeomorfismo de ÐEÑ sobre
E e portanto, tendo em conta VI.2.26, é um difeomorfismo de ÐEÑ sobre E, o
que implica que ÐEÑ œ E. …
VI.5.6 (Corolário) Sejam Q uma variedade abstracta e ÐEÑ uma subvariedade
imersa compacta. Tem-se então ÐEÑ œ E, ou seja, ÐEÑ é mesmo uma subva-
riedade.
Dem: Basta atender a que a bijecção M.E À ÐEÑ Ä E é contínua, com ÐEÑ
compacto e E separado, pelo que é um homeomorfismo, o que quer dizer que
as topologias de ÐEÑ e de E coincidem. …
VI.5.7 (Corolário) Sejam Q uma variedade abstracta e ÐEÑ uma subvariedade
imersa sem bordo, tendo em cada ponto a mesma dimensão que a de Q
(uma subvariedade imersa sem bordo de dimensão máxima). Tem-se então
ÐEÑ œ E, ou seja, ÐEÑ é mesmo uma subvariedade, e E é aberto em Q .
Dem: A igualdade das dimensões implica que a imersão +À ÐEÑ Ä Q é
também uma submersão e, tendo em conta a alínea c) de VI.2.22, a sua
imagem está contida na variedade sem bordo `! ÐQ Ñ. Tendo em conta
VI.2.28, +À E Ä `! ÐQ Ñ é uma aplicação aberta, em particular E é aberto em
`! ÐQ Ñ, e portanto também em Q , e M.E À ÐEÑ Ä E é uma bijecção contínua

120Recordemosque uma topologia num conjunto E se diz mais fina que outra topologia
sobre o mesmo conjunto se M.E À E Ä E for contínua da primeira topologia para a
segunda.
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 491

e aberta, portanto um homeomorfismo, o que implica que ÐEÑ e E têm a


mesma topolgia. …

Com um espírito semelhante ao de VI.5.5, mas não implicando nem sendo


implicado pela respectiva conclusão, temos o resultado seguinte, que vai,
mais uma vez, no sentido que a topologia determina univocamente a
estrutura de subvariedade imersa. O exemplo que apresentaremos adiante
na alínea e) de VI.5.13 mostra que um mesmo subconjunto pode ter mais
que uma estrutura de subvariedade imersa, desde que as respectivas
topologias sejam distintas.

VI.5.8 Sejam Q uma variedade abstracta e E § Q um subconjunto sobre o qual


estão definidas duas estruturas ÐEÑw e ÐEÑww de subvariedade imersa de Q . Se
as topologias de ÐEÑw e ÐEÑww forem iguais então ÐEÑw œ ÐEÑww .
Dem: Aplicando VI.5.4 à aplicação suave inclusão +À ÐEÑw Ä Q , que é, por
hipótese, contínua de ÐEÑw para ÐEÑww , concluímos que M.E À ÐEÑw Ä ÐEÑww é
suave. Pela mesma razão, M.E À ÐEÑww Ä ÐEÑw é também suave, o que implica
que ÐEÑw œ ÐEÑww . …
VI.5.9 Sejam Q uma variedade abstracta e ÐEÑ uma subvariedade imersa de Q .
a) Se ÐFÑ é uma subvariedade imersa de ÐEÑ, então ÐFÑ é uma subvariedade
imersa de Q .
b) Se ÐFÑ é uma subvariedade imersa de Q , com F § E, e a inclusão
+À ÐFÑ Ä ÐEÑ contínua, então ÐFÑ é uma subvariedade imersa de ÐEÑ.
Dem: a) Por definição, as inclusões +Q ßE À ÐEÑ Ä Q e +EßF À ÐFÑ Ä ÐEÑ são
imersões e daqui decorre, tendo em conta VI.2.21, que a inclusão
+Q ßF œ +Q ßE ‰ +EßF À ÐFÑ Ä Q

é uma imersão, e portanto que ÐFÑ é uma subvariedade imersa de Q .


b) Uma vez que a inclusão +Q ßF À ÐFÑ Ä Q é suave e contínua de ÐFÑ para
ÐEÑ, resulta de VI.5.4 que +EßF À ÐFÑ Ä ÐEÑ é suave. Tendo em conta, mais
uma vez, VI.2.21, podemos concluir que +EßF À ÐFÑ Ä ÐEÑ é uma imersão, e
portanto que ÐFÑ é uma subvariedade imersa de ÐEÑ. …

Ao contrário do que porventura apeteceria dizer, não podemos garantir


que, se ÐEÑ é uma subvariedade imersa normal de Q e ÐFÑ é uma
subvariedade imersa normal de ÐEÑ, ÐFÑ tenha que ser uma subvariedade
imersa normal de Q . Ver um contra-exemplo adiante na alínea e) de
VI.5.13.

VI.5.10 Sejam Q uma variedade abstracta e ÐEÑ uma subvariedade imersa de


Q . Para cada B! − E existe então um aberto [ de ÐEÑ, com B! − [ , tal
que em [ coincidam as estruturas diferenciáveis induzidas pela de Q e pela
de ÐEÑ, em particular [ é uma subvariedade de Q .
492 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Dem: Trata-se de uma consequência de utilizar VI.2.24 com a aplicação


suave inclusão +À ÐEÑ Ä Q , que tem derivada injectiva em todos os pontos,
visto que este resultado implica a existência de um tal [ tal que a identidade
M.[ seja um difeomorfismo de [ , com a estrutura induzida pela de ÐEÑ,
sobre [ , com a estrutura induzida pela de Q . …
VI.5.11 (Método de construção) Sejam Q e F duas variedades abstractas e
0 À F Ä Q uma imersão injectiva. Seja E œ 0 ÐFÑ e notemos ÐEÑ este
conjunto com a estrutura diferenciável para a qual 0 é um difeomorfismo.
Tem-se então que ÐEÑ é uma subvariedade imersa de Q .121
Dem: O facto de ÐEÑ ser uma variedade resulta de ser difeomorfo à varie-
dade F . O facto de a inclusão +À ÐEÑ Ä Q ser uma imersão resulta de ser a
composta do difeomorfismo 0 " À ÐEÑ Ä F com a imersão 0 À F Ä Q . …
VI.5.12 Qualquer subvariedade imersa ÐEÑ duma variedade abstracta Q pode
ser construída pelo método anterior, podendo mesmo exigir-se que a
variedade F seja concreta.
Dem: Basta considerar uma carta :À ÐEÑ Ä F § I da estrutura diferenciá-
vel de ÐEÑ, para a qual F vai ser automaticamente uma variedade, e tomar
0 œ :" . …
VI.5.13 (Exemplos e contraexemplos nas subvariedades imersas)
a) O subconjunto  § ‘, dos números racionais, não é uma subvariedade,
como se constata se repararmos, por exemplo, que ele não é localmente
compacto para a topologia induzida. Podemos considerar em  a sua
estrutura única de variedade de dimensão !, cuja topologia associada é a
discreta (é um conjunto contável). Notando ÐÑ esta variedade, é imediato
que se trata de uma subvariedade imersa normal de ‘.
b) Seja F § ‘ a variedade sem bordo Ó_ß "Ò  Ö!×  Ó"ß _Ò, que tem
dimensão ! em ! e dimensão " nos restantes pontos. Seja 0 À F Ä ‘ a
aplicação definida por
Ú >  ", se > − Ó_ß "Ò
0 Ð>Ñ œ Û !,
Ü >  ",
se > œ ! ,
se > − Ó"ß _Ò

que é suave por ter restrições suaves a cada um dos três abertos Ó#ß "Ò,
Ö!× e Ó"ß #Ò de F e que é uma imersão por essas restrições serem imersões.

Figura 16
Tem-se ‘ œ 0 ÐFÑ, que é, trivialmente, uma subvariedade sem bordo, conexa

121Na linguagem de Warner [26], podemos dizer que ÐEÑ é a subvariedade imersa asso-
ciada ao par ÐFß 0 Ñ.
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 493

de dimensão " de ‘. No entanto, notando Ð‘Ñ este mesmo conjunto mas com
a estrutura diferenciável para a qual 0 À F Ä Ð‘Ñ é um difeomorfismo, Ð‘Ñ é
uma subvariedade imersa, sem bordo, distinta de ‘. De facto a topologia de
Ð‘Ñ não é conexa, por ‘ ser a união disjunta dos abertos de Ð‘Ñ Ó_ß !Ò, Ö!×
e Ó!ß _Ò.
Note-se que a subvariedade imersa Ð‘Ñ não é normal, uma vez que ela tem
dimensão ! em ! e dimensão " em todos os outros pontos.
c) Este exemplo é uma pequena variante do exemplo em b). Seja F § ‘ a
variedade com bordo de dimensão ", Ó_ß !Ó  Ó"ß _Ò. Seja 0 À F Ä ‘ a
aplicação definida por

0 Ð>Ñ œ œ
>, se > − Ó_ß !Ó
,
>  ", se > − Ó"ß _Ò

que é suave por ter restrições suaves a cada um dos dois abertos Ó_ß !Ó e
Ó"ß _Ò de F e que é uma imersão por essas restrições serem imersões.

Figura 17
Tem-se ‘ œ 0 ÐFÑ, que é, trivialmente, uma subvariedade sem bordo, conexa
de dimensão " de ‘. No entanto, notando Ð‘Ñ este mesmo conjunto mas com
a estrutura diferenciável para a qual 0 À F Ä Ð‘Ñ é um difeomorfismo, Ð‘Ñ é
uma subvariedade imersa normal, com bordo, de dimensão ", distinta de ‘.
De facto a topologia de Ð‘Ñ não é conexa, por ‘ ser a união disjunta dos
abertos de Ð‘Ñ Ó_ß !Ó e Ó!ß _Ò.
d) Sejam 0 ß 1À Ò!ß #1Ó Ä ‘# as aplicações suaves definidas por
0 Ð>Ñ œ ÐsinÐ>Ñß sinÐ#>ÑÑ, 1Ð>Ñ œ ÐsinÐ>Ñß sinÐ#>ÑÑ,

as quais constituem imersões, uma vez que as derivadas


0 w Ð>Ñ œ ÐcosÐ>Ñß # cosÐ#>ÑÑ, 1w Ð>Ñ œ ÐcosÐ>Ñß # cosÐ#>ÑÑ,

são diferentes de Ð!ß !Ñ em todos os pontos (lembrar que se tem cosÐ#>Ñ œ


#cos# Ð>Ñ  ", pelo que cosÐ#>Ñ œ " sempre que cosÐ>Ñ œ !).
Lembrando a fórmula sinÐ#>Ñ œ #sinÐ>ÑcosÐ>Ñ, que implica que
sin# Ð#>Ñ œ %sin# Ð>ÑÐ"  sin# Ð>ÑÑ,
vemos que 0 ÐÒ!ß #1ÓÑ e 1ÐÒ!ß #1ÓÑ estão ambos contidos no conjunto
E œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± C # œ %B# Ð"  B# Ñ×.
Suponhamos, reciprocamente, que ÐBß CÑ − E. Tem que ser "  B#   ! (isso
é automático se B œ !) pelo que existe > − Ò!ß #1Ó tal que sinÐ>Ñ œ B e
concluímos então que C# œ %sin# Ð>ÑÐ"  sin# Ð>ÑÑ œ sin# Ð#>Ñ pelo que, substi-
tuindo se necessário > por 1  >, se > Ÿ 1, e > por $1  >, se >   1, podemos
494 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

conseguir que se tenha também C œ sinÐ#>Ñ ou, alternativamente, que se


tenha também C œ sinÐ#>Ñ. Verificámos assim que se tem mesmo
E œ 0 ÐÒ!ß #1ÓÑ œ 1ÐÒ!ß #1ÓÑ,
em particular E é um subconjunto compacto e conexo de ‘# (o “oito” da fi-
gura 18).

Figura 18
Reparando que
0 Ð!Ñ œ 0 Ð1Ñ œ 0 Ð#1Ñ œ Ð!ß !Ñ, 1Ð!Ñ œ 1Ð1Ñ œ 1Ð#1Ñ œ Ð!ß !Ñ

e fazendo uma discussão simples, envolvendo os sinais das segundas compo-


nentes de 0 e 1 e os sinais e sentidos de variação das suas primeiras
componentes em cada um dos intervalos Ó!ß 1# Ò, Ó 1# ß 1Ò, Ó1ß $#1 Ò e Ó $#1 ß #1Ò,
constatamos facilmente que as restrições de 0 e 1 são duas aplicações
bijectivas de Ó!ß #1Ò sobre E (sugeridas nas figuras 19 e 20, respectivamente).

Figura 19 Figura 20
Estas bijecções são imersões injectivas pelo que definem em E duas
estruturas de subvariedade imersa normal, conexa, de dimensão " e sem
bordo, que notaremos ÐEÑw e ÐEÑww , respectivamente.
Sendo :À Ó!ß #1Ò Ä Ó!ß #1Ò a aplicação definida por
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 495

Ú 1  >, se !  >  1
:Ð>Ñ œ Û 1,
Ü $ 1  >,
se > œ 1 ,
se 1  >  #1

verificamos facilmente que, para cada > − Ó!ß #1Ò, 1Ð>Ñ œ 0 Ð:Ð>ÑÑ, por outras
palavras,
: œ Ð0ÎÓ!ß#1Ò Ñ" ‰ 1ÎÓ!ß#1Ò À Ó!ß #1Ò Ä Ó!ß #1Ò.

O facto de : não ser contínua em 1 implica que as topologias de ÐEÑw e de


ÐEÑww são distintas, e portanto as respectivas estruturas diferenciáveis também
são distintas.
Observemos enfim que E não é uma subvariedade de ‘# . De facto, a
caracterização E œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± C # œ %B# Ð"  B# Ñ× implica facilmente,
por II.4.32, que o conjunto conexo E é uma variedade sem bordo de
dimensão " em todos os pontos distintos de Ð!ß !Ñ, mas o facto de se ter
Ð"ß #Ñ œ 0 w Ð1Ñ − XÐ!ß!Ñ ÐEÑ, Ð"ß #Ñ œ 1w Ð1Ñ − XÐ!ß!Ñ ÐEÑ

implica que XÐ!ß!Ñ ÐEÑ œ ‘# , e portanto que E não pode ser uma variedade
em Ð!ß !Ñ.
e) Retomemos o exemplo em d) da subvariedade imersa normal de dimensão
" e sem bordo, ÐEÑw , de ‘# . Seja F § E o subconjunto
1 $1 1 $1
F œ 1ÐÓ ß ÒÑ œ 0 ÐÓ!ß Ò  Ö1×  Ó ß #1ÒÑ
# # # #
sobre o qual consideramos duas estruturas diferenciáveis ÐFÑw e ÐFÑww ,
induzidas pelas de ÐEÑw e ÐEÑww , respectivamente, ou seja, definidas pela con-
dição de as restrições de 0 e de 1, respectivamente, serem difeomorfismos.

Figura 21
ÐFÑww é uma subvariedade imersa conexa sem bordo normal e com dimensão
" de ‘# , mas não é uma subvariedade imersa de ÐEÑw . De facto, a inclusão
496 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

+EßF À ÐFÑww Ä ÐEÑw não é suave, visto que, composta com os difeomorfismos
1 $1
1ÎÓ 1# ß $#1 Ò À Ó ß Ò Ä ÐFÑww Ð0ÎÓ!ß#1Ò Ñ" À ÐEÑw Ä Ó!ß #1Ò
# #
é a restrição da aplicação :, considerada em c), ao interalo Ó 1# ß $#1 Ò, a qual não
é contínua em 1.
Pelo contrário ÐFÑw é mesmo uma subvariedade sem bordo de ÐEÑw , em
particular uma subvariedade imersa normal de ÐEÑw , a qual não é conexa e
tem dimensão ! em Ð!ß !Ñ œ 0 Ð1Ñ e dimensão " nos restantes pontos
(situação semelhante à do exemplo b)). Observe-se que, no entanto, ÐFÑw é
uma subvariedade imersa de ‘# , mas não uma subvariedade imersa normal
de ‘# .

O exemplo d) em VI.5.13 mostra-nos que sobre um mesmo subconjunto E


de uma variedade abstracta Q pode existir mais que uma estrutura de
subvariedade imersa normal e sem bordo; esse conjunto não era, no entan-
to, uma subvariedade. O exemplo b) em VI.5.13 mostra-nos uma situação
em que, sobre uma subvariedade E de Q , existe uma estrutura distinta de
subvariedade imersa sem bordo, a qual, no entanto, não era normal. O
exemplo c) em VI.5.13 mostra-nos o mesmo fenómeno para uma
subvariedade imersa normal, mas que agora tem bordo. O resultado que
apresentamos a seguir mostra-nos que este fenómeno só é possível para
uma subvariedade imersa não normal ou com bordo.

VI.5.14 (Warner [26]) Sejam Q uma variedade abstracta e E § Q uma


subvariedade. Se ÐEÑ é uma subvariedade imersa normal e sem bordo de Q
sobre o conjunto E, então ÐEÑ œ E.
Dem: 1) Vamos começar por demonstrar o resultado no caso particular em
que I é um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I é um variedade
concreta.
Consideremos um espaço vectorial J de dimensão finita, um subconjunto
F § J e um difeomorfismo 0 À F Ä ÐEÑ (o inverso duma carta da variedade
abstracta ÐEÑ). Em particular F , tal como ÐEÑ é uma variedade sem bordoÞ
Tendo em conta VI.1.26, o nosso caso particular ficará demonstrado se
verificarmos que a bijecção 0 À F Ä E também é um difeomorfismo.
De facto 0 À F Ä Q é uma imersão, sendo a composta do difeomorfismo
0 À F Ä ÐEÑ com a imersão inclusão +À ÐEÑ Ä Q , e portanto, por E § Q ser
uma subvariedade, podemos mesmo garantir que 0 À F Ä E é uma imersão,
em particular suave.
Para provar que 0 À F Ä E é um difeomorfismo basta assim mostrar que,
para cada B! − F , existe um aberto Y de F , com B! − Y tal que 0ÎY seja um
difeomorfismo de Y sobre 0 ÐY Ñ, com 0 ÐY Ñ aberto em E, visto que então
0 " À E Ä F é também suave, por ter restrições suaves a uma família de
abertos de E de união E (os diferentes 0 ÐY Ñ).
Seja B! − F arbitrário. Podemos escolher um aberto Z w de E, com
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 497

0 ÐB! Ñ − Z w , tal que E tenha a mesma dimensão 8 em todos os pontos de Z w e


o facto de ÐEÑ ser uma variedade imersa normal permite-nos escolher outro
aberto Z ww de E, com 0 ÐB! Ñ − Z ww , tal que ÐEÑ tenha a mesma dimensão 7
em todos os pontos de Z ww . Tem-se então que Z www œ Z w  Z ww é um aberto de
E, com 0 ÐB! Ñ − Z www tal que em todos os pontos de Z www E tem a mesma
dimensão 8 e ÐEÑ tem a mesma dimensão 7 e portanto, por 0 À F Ä E ser
suave, em particular contínua, Y www œ 0 " ÐZ www Ñ é um aberto de F , com
B! − Y www . O facto de 0 À F Ä ÐEÑ ser um difeomorfismo implica também que
F tem a mesma dimensão 7 em todos os pontos de Y www .
O facto de 0 À F Ä E ser uma imersão, e portanto H0B! À XB! ÐFÑ Ä X0 ÐB! Ñ ÐEÑ
ser uma aplicação linear injectiva, onde XB! ÐFÑ e X0 ÐB! Ñ ÐEÑ têm dimensões 7
e 8, respectivamente, implica que 7 Ÿ 8. Por outro lado, considerando o
aberto não vazio `! ÐZ www Ñ de Z www , e portanto de E,122 podemos aplicar o
teorema de Sard (II.7.14) à restrição de 0 ao aberto 0 " Ð`! ÐZ www ÑÑ de F ,
contido em Y www , para garantir a existência de B" − Y www tal que a aplicação
linear H0B" À XB" ÐFÑ Ä X0 ÐB" Ñ ÐEÑ seja sobrejectiva, o que implica que
7   8, e portanto 7 œ 8.
Podemos agora garantir que a aplicação linear injectiva H0B! À XB! ÐFÑ Ä
X0 ÐB! Ñ ÐEÑ é mesmo um isomorfismo, e portanto, pela alínea c) de VI.2.22 a
variedade E tem índice ! no ponto 0 ÐB! Ñ. Podemos agora aplicar o teorema
da função inversa II.4.16 para garantir a existência de um aberto Y de F ,
com B! − Y tal que a restrição de 0 seja um difeomorfismo de Y sobre
0 ÐY Ñ, com 0 ÐY Ñ aberto em E, que é o que nos faltava provar para concluir o
caso particular que estamos a examinar.
2) Resta-nos mostrar o resultado no caso geral em que Q é uma variedade
abstracta, que se vai reduzir facilmente ao caso particular já estudado. Sejam,
com efeito, K um espaço vectorial de dimensão finita e :À Q Ä Q w § I
uma carta de Q , que é portanto um difeomorfismo de Q sobre a variedade
concreta Q w . Tem-se então que Ew œ :ÐEÑ é uma subvariedade de Q w e
:ÎE À E Ä Ew § I é uma carta de E e podemos considerar a estrutura ÐEw Ñ
de variedade abstracta sem bordo em Ew para a qual :ÎE À ÐEÑ Ä ÐEw Ñ é um
difeomorfismo, estrutura essa para a qual a inclusão ÐEw Ñ Ä Q w vai ser uma
imersão, por ser a composta do difeomorfismo Ð:ÎE Ñ" À ÐEw Ñ Ä ÐEÑ com a
imersão inclusão ÐEÑ Ä Q e com o difeomorfismo :À Q Ä Q w . ÐEw Ñ é
assim uma subvariedade imersa sem bordo de Q w , a qual é normal, uma vez
que, se Y é um aberto de E onde a dimensão de ÐEÑ é constanteß :ÐY Ñ é um
aberto de Ew onde a dimensão de ÐEw Ñ é constante. Pelo caso particular já
estudado, tem-se assim ÐEw Ñ œ Ew e daqui concluímos que ÐEÑ œ E, tendo
em conta VI.1.26. …

Vamos definir em seguida a noção de espaço vectorial tangente a uma


subvariedade imersa e, mais geralmente, a uma aplicação de classe G : ,

122Exigimos que ÐEÑ fosse sem bordo, mas não que E fosse sem bordo.
498 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

:   ", num ponto do seu domínio. Uma vez que ainda não examinámos o
conceito de espaço vectorial tangente a um conjunto munido de uma
estrutura diferenciável, limitamo-nos a estudar o caso em que o espaço de
chegada é uma parte de um espaço vectorial de dimensão finita.

VI.5.15 Sejam Q § I um subconjunto de um espaço vectorial de dimensão


finita, E um conjunto munido de uma estrutura diferenciável e 0 À E Ä Q
uma aplicação de classe G : , :   ". Sejam :À E Ä F § J e <À E Ä G § K
cartas da estrutura diferenciável de E. Para cada B − E,
HÐ0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ À X:ÐBÑ ÐFÑ Ä X0 ÐBÑ ÐQ Ñ,
HÐ0 ‰ <" Ñ<ÐBÑ À X<ÐBÑ ÐGÑ Ä X0 ÐBÑ ÐQ Ñ,

têm então a mesma imagem em X0 ÐBÑ ÐQ Ñ.


Dem: Basta atender a que se tem 0 ‰ <" œ Ð0 ‰ :" Ñ ‰ Ð: ‰ <" Ñ, onde
: ‰ <" À G Ä F é um difeomorfismo, pelo que
HÐ0 ‰ <" Ñ<ÐBÑ œ HÐ0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ HÐ: ‰ <" Ñ<ÐBÑ ,

onde HÐ: ‰ <" Ñ<ÐBÑ À X<ÐBÑ ÐGÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ é um isomorfismo. …


VI.5.16 Sejam Q § I , E um conjunto munido de uma estrutura diferenciável e
0 À E Ä Q uma aplicação G : , :   ". Para cada B − E, define-se o espaço
vectorial tangente a 0 em B como sendo a imagem XB Ð0 Ñ da aplicação linear
HÐ0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ À X:ÐBÑ ÐFÑ Ä X0 ÐBÑ ÐQ Ñ,

onde :À E Ä F § J é uma carta da estrutura diferenciável.


VI.5.17 Tem-se 0 À E Ä Q submersão em B, se, e só se, XB Ð0 Ñ œ X0 ÐBÑ ÐQ Ñ.
Dem: Por definição, 0 é submersão em B se, e só se, é sobrejectiva
HÐ0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ À X:ÐBÑ ÐFÑ Ä X0 ÐBÑ ÐQ Ñ. …

VI.5.18 Se E é uma variedade de dimensão 8 no ponto B e 0 À E Ä Q é uma


imersão, então o espaço vectorial tangente XB Ð0 Ñ tem dimensão 8.
Dem: Como HÐ0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ À X:ÐBÑ ÐFÑ Ä X0 ÐBÑ ÐQ Ñ é injectiva, a sua
imagem, XB Ð0 Ñ, tem a dimensão de X:ÐBÑ ÐFÑ, igual à de E em B. …
VI.5.19 Se Q § I e E § J e se 0 À E Ä Q é uma aplicação G : , :   ", tem-se
simplesmente XB Ð0 Ñ œ H0B ÐXB ÐEÑÑ (considerar a carta M.E ). Em particular,
no caso em que E § Q e +À E Ä Q é a inclusão, tem-se XB Ð+Ñ œ XB ÐEÑ.
VI.5.20 Sejam Q § I , E e Es conjuntos munidos de estruturas diferenciáveis e
s s Ä Q e cada B − E vem
!À E Ä E suave. Para cada aplicação G : , 0 À E
XB Ð0 ‰ !Ñ § X!ÐBÑ Ð0 Ñ,
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 499

vindo mesmo XB Ð0 ‰ !Ñ œ X1ÐBÑ Ð0 Ñ se ! é submersão no ponto B.


Dem: Basta reparar que, sendo :À E Ä F § J e : sÄF
sÀ E s§J s cartas das
s
estruturas diferenciáveis de E e E, tem-se
HÐ0 ‰ ! ‰ :" Ñ:ÐBÑ œ HÐ0 ‰ <" Ñ<Ð!ÐBÑÑ ‰ HÐ< ‰ ! ‰ :" Ñ:ÐBÑ ,

o que implica que a imagem de HÐ0 ‰ ! ‰ :" Ñ:ÐBÑ está contida na imagem
de HÐ0 ‰ <" Ñ<Ð!ÐBÑÑ , sendo mesmo igual a esta última se a aplicação linear
HÐ< ‰ ! ‰ :" Ñ:ÐBÑ é sobrejectiva, isto é, se ! é submersão no ponto B. …

VI.5.21 Em particular, se Q § I , E s é um conjunto com uma estrutura diferen-


s s
ciável, E § E e 0 À E Ä Q é uma aplicação G : , vem XB Ð0ÎE Ñ § XB Ð0 Ñ e
s.
XB Ð0ÎE Ñ œ XB Ð0 Ñ no caso em que E é uma vizinhança de B em E
VI.5.22 Sejam Q § I e Q s §I s e "À Q Ä Q s G : . Se E tem uma estrutura
diferenciável e 0 À E Ä Q é uma aplicação G : , então, para cada B − E,
XB Ð" ‰ 0 Ñ œ H"0 ÐBÑ ÐXB Ð0 ÑÑ.

Dem: Sendo :À E Ä F § J uma carta da estrutura diferenciável de E,


tem-se HÐ" ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ œ H"0 ÐBÑ ‰ HÐ0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ , pelo que a imagem
s Ñ de HÐ" ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ é igual à imagem por H"0 ÐBÑ da imagem
em X0 ÐBÑ ÐQ
em XB ÐQ Ñ de HÐ0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ . …

VI.5.23 Em particular, no caso em que Q § Q s §I s , vemos que, se E é um


conjunto munido de uma estrutura diferenciável e 0 À E Ä Q é uma aplica-
ção G : , então, para cada B − E, o espaço vectorial tangente XB Ð0 Ñ é o
mesmo quer se considere Q ou Q s como espaço de chegada.

As considerações anteriores vão ser especialmente importantes no caso


em que a aplicação suave é a inclusão de uma subvariedade imersa.

VI.5.24 Sejam Q § I uma variedade concreta e ÐEÑ uma subvariedade imersa


(cf. VI.5.1). Para cada B − E, define-se então o espaço vectorial tangente
XB ÐÐEÑÑ § XB ÐQ Ñ, à subvariedade imersa no ponto B, como sendo o espaço
vectorial tangente à inclusão +À ÐEÑ Ä Q no ponto B.
É claro que, como referimos em VI.5.19, quando E é mesmo uma subva-
riedade de Q , o espaço tangente XB ÐÐEÑÑ, de E como subvariedade imersa,
coincide com o espaço tangente XB ÐEÑ, de E como parte de I .
VI.5.25 (Functorialidade) Sejam Q § I e Q s §I s variedades, 0 À Q Ä Q s
uma aplicação G " e ÐEÑ uma subvariedade imersa de Q .
a) Se 1À Q Ä Q s é uma aplicação G " tal que 0ÎE œ 1ÎE , então, para cada
B − E e ? − XB ÐÐEÑÑ, H0B Ð?Ñ œ H1B Ð?Ñ.
s é subvariedade imersa de Q
b) Se ÐEÑ s com 0 ÐEÑ § E s e 0ÎE À ÐEÑ Ä ÐEÑ
s
500 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

s .
G " , vem, para cada B − E e ? − XB ÐÐEÑÑ, H0B Ð?Ñ − X0 ÐBÑ ÐÐEÑÑ
Dem: Seja :À ÐEÑ Ä F § J uma carta de ÐEÑ. Tem-se ? œ H::"ÐBÑ Ð?w Ñ,
com ?w − X:ÐBÑ ÐFÑ e, nas hipóteses de a), como 0 ‰ :" œ 1 ‰ :" ,

H0B Ð?Ñ œ HÐ0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ Ð?w Ñ œ HÐ1 ‰ :" Ñ:ÐBÑ Ð?w Ñ œ H1B Ð?Ñ.

s ÄF
Nas hipóteses de b), sendo <À ÐEÑ s§J s uma carta de ÐEÑs , a aplicação
s é a composta das aplicações G "
de classe G " 0 ‰ :" À F Ä Q
s,
< ‰ 0ÎE ‰ :" À F Ä F sÄQ
<" À F s,

donde
H0B Ð?Ñ œ HÐ0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ Ð?w Ñ œ H<<"Ð0 ÐBÑÑ ÐHÐ< ‰ 0ÎE ‰ :" Ñ:ÐBÑ Ð?w Ñ

s .
pertence à imagem de H<<"Ð0 ÐBÑÑ , igual a X0 ÐBÑ ÐÐEÑÑ …

VI.5.26 Sejam Q § I uma variedade concreta e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado


vectorial, com IB § XB ÐQ Ñ. Generalizando a definição em IV.9.1,
chamamos subvariedade imersa integral (respectivamente, semi-integral) de
I a uma subvariedade imersa ÐEÑ de Q tal que, para cada B − E,
XB ÐÐEÑÑ œ IB (respectivamente, XB ÐÐEÑÑ § IB ).
Se ÐEÑ é uma subvariedade imersa integral de I œ ÐIB ÑB−Q , então ÐEÑ é
uma subvariedade imersa normal de Q .
Dem: Dado B! − E, seja Y um aberto de Q , com B! − Y , tal que todos os
IB , com B − Y , tenham a mesma dimensão 8 e então E  Y é um aberto de
E, com B! − Y tal que, para cada B − E  Y , ÐEÑ tem dimensão 8 em B. …
VI.5.27 (Lema) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma
variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com
IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integrabilidade. Seja Z § Q um
aberto fatiável, com as correspondentes fatias Z- , - − [ (cf. IV.9.10) e seja
ÐEÑ uma subvariedade imersa integral sem bordo de I . Tem-se então:
a) Z  E está contido numa união finita ou numerável de fatias Z- .
b) Se F é um conexo de Q contido em Z  E, então existe um aberto G de
ÐEÑ, contendo F e contido numa das fatias Z- , tal que G também é aberto em
Z- e ÐGÑ œ G (isto é coincidem em G as estruturas diferenciáveis induzidas
pelas de ÐEÑ e de Q ).
Dem: (Warner) a) O conjunto Z  E é aberto em E, e portanto em ÐEÑ, e
portanto, com a estrutura diferenciável induzida pela de ÐEÑ é ainda uma
subvariedade imersa integral ÐZ  EÑ. Lembrando VI.2.10, as componentes
conexas E4 , 4 − N , de ÐZ  EÑ são abertos de ÐZ  EÑ, e portanto de ÐEÑ,
em número finito ou numerável e podemos notar ÐE4 Ñ estas componentes
conexas com a estrutura diferenciável induzida pela de ÐEÑ, os ÐE4 Ñ sendo
então ainda subvariedades imersas integrais, agora conexas. Pela alínea b) de
IV.9.10, aplicada à inclusão de ÐE4 Ñ em Z , cada E4 está contido numa das
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 501

fatias Z- . Concluímos então que Z  E está contido na união finita ou


numerável das fatias Z- correspondentes a cada um dos E4 .
b) Seja F um conexo de Q contido em Z  E. Seja G o aberto de ÐEÑ união
das componentes conexas E4 que intersectam F , conjunto que está contido
em Z  E e é conexo em Q , por ser a união do conexo F com conexos E4
de ÐEÑ, e portanto de Q , que intersectam F . Tendo em conta a conclusão de
a), G está contido numa união finita ou numerável de fatias Z- e portanto,
pela alínea c) de IV.9.10 o conjunto G está contido numa das fatias Z- .
A inclusão +À ÐGÑ Ä Z- é uma imersão entre variedades sem bordo com a
mesma dimensão em cada B − G (igual à dimensão de IB ), pelo que, pela
alínea b) de VI.2.22, ela é também submersão nesses pontos. Aplicando o
teorema da função inversa (cf. VI.2.23), para cada B − G existe um aberto
YB de ÐGÑ tal que 3.YB À ÐYB Ñ Ä YB seja um difeomorfismo com YB aberto
em Z- e daqui concluímos que G œ  YB é aberto em Z- e que
3.G À ÐGÑ Ä G é um difeomorfismo (a inversa é suave por ter restrição suave
a cada um dos abertos YB de G ), portanto que ÐGÑ œ G . …
VI.5.28 (Propriedade especial das subvariedades imersas sem bordo
integrais) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma
variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com
IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integrabilidade. Sejam ÐEÑ uma
subvariedade imersa integral sem bordo de I , Q s uma variedade123 e
s
0 À Q Ä Q uma aplicação de classe G , :   ", tal que 0 ÐQ
: s Ñ § E. Tem-se
s : 124
então que 0 À Q Ä ÐEÑ também é de classe G .
Dem: Seja D! − Q s arbitrário. Sendo B! œ 0 ÐD! Ñ − Q , consideremos um
aberto fatiável Z de Q , com B! − Z , com as correspondentes fatias Z- ,
- − [ (cf. IV.9.10). Seja Y s a componente conexa do aberto 0 " ÐZ Ñ de Q s
s
que contém D! Þ Uma vez que Q , sendo uma variedade, é localmente conexo,
s é um aberto conexo de Q
Y s com D! − Ys e 0 ÐY s Ñ § Z . Tem-se então que
0 ÐYs Ñ é um subconjunto conexo de Q contido em Z  E e podemos, pela
alínea b) do lema precedente, considerar um subconjunto aberto G de ÐEÑ
contendo 0 ÐY s Ñ, contido numa das fatias Z- , com G também aberto em Z- e
ÐGÑ œ G . O facto de 0 À Ys Ä G ser G : garante agora que 0 À Y s Ä ÐGÑ é G : ,
s
e portanto 0 À Y Ä ÐEÑ é G . O facto de termos uma noção local garante
:

finalmente que 0 À Q s Ä ÐEÑ é de classe G : . …

O resultado anterior não é válido para um conjunto Qs com estrutura dife-


renciável arbitrária, senão poderíamos aplicá-lo à inclusão de E em Q
para garantir que 3.E À E Ä ÐEÑ era suave, e portanto vinha ÐEÑ œ E e E
era uma subvariedade. Na alínea e) de VI.5.13 vimos um exemplo que

123Ou, mais geralmente, um conjunto com uma estrutura diferenciável com topologia
associada localmente conexa.
124Comparar com VI.5.4. A novidade é que não precisámos de exigir a continuidade de 0
de Qs para ÐEÑÞ
502 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

mostra que o resultado não é válido para qualquer subvariedade imersa


normal sem bordo ÐEÑ de Q . O exemplo na alínea c) de VI.5.13 mostra
também que é essencial no resultado anterior, como no lema que o
precedeu, a hipótese de ÐEÑ não ter bordo (considerar como fibrado
vectorial o contante de fibra ‘).

VI.5.29 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma


variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com
IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integrabilidade. Sejam ÐEÑw e ÐFÑww
duas subvariedades imersas integrais sem bordo de I . Tem-se então que
E  F é aberto em ÐEÑw e em ÐFÑww e ÐE  FÑw œ ÐE  FÑww (isto é, as
estruturas diferenciáveis induzidas em E  F pelas de ÐEÑw e ÐFÑww coinci-
dem).
Dem: Seja B − E  F arbitrário. Seja Z um aberto fatiável com B − Z .
Tendo em conta o lema VI.5.27 (relativamente ao conexo ÖB× contido em
Z  E), podemos considerar um aberto EB de ÐEÑw , com B − EB , contido na
fatia Z! de Z , que contém B, e também aberto em Z! e com ÐEB Ñw œ EB . Do
mesmo modo, podemos considerar um aberto FB de ÐFÑww , com B − FB ,
contido em Z! e também aberto em Z! e com ÐFB Ñww œ FB . Tem-se então que
B − GB œ EB  FB , com GB aberto em Z! , contido simultaneamente em E e
em F . Tem-se então que GB é aberto em EB œ ÐEB Ñw e em FB œ ÐFB Ñww , pelo
que GB é simultaneamente aberto em ÐEÑw e em ÐFÑww . Além disso, tem-se
ÐGB Ñw œ ÐGB Ñww , isto é, coincidem em GB as estruturas diferenciáveis
induzidas pelas de ÐEÑw e ÐFÑww , uma vez que ambas vão coincidir com a
induzida por Q (por ser ÐEB Ñw œ EB e ÐFB Ñww œ FB ).
Deduzimos agora que E  F , que é a união dos GB , com B − E  F , é
simultaneamente aberto em ÐEÑw e em ÐFÑww . Além disso, M.EF é uma
aplicação suave de ÐE  FÑw para ÐE  FÑww , por ter restrição suave a cada
um dos abertos GB de ÐE  FÑw , cuja união é E  F , e, pela mesma razão,
M.EF é uma aplicação suave de ÐE  FÑww para ÐE  FÑw , o que nos permite
concluir que ÐE  FÑw œ ÐE  FÑww . …
VI.5.30 (A topologia fina de Q ) Sejam I um espaço vectorial de dimensão
finita, Q § I uma variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado
vectorial com IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integrabilidade.
A variedade Q é a união de todas as subvariedades imersas integrais sem
bordo de I e existe sobre Q uma, e uma só, topologia (à qual daremos o
nome de topologia fina de Q associada ao fibrado vectorial I ) tal que,
qualquer que seja a subvariedade imersa integral sem bordo ÐEÑ de I , E seja
aberto para essa topologia e a topologia de ÐEÑ seja a induzida por ela.
Dem: O facto de cada B! − Q pertencer a pelo menos uma subvariedade
imersa integral sem bordo de I é uma consequência da versão geométrica
local do teorema de Frobenius IV.9.11, que nos garante que B! pertence
mesmo a uma subvariedade integral sem bordo de I (uma fatia dum aberto
fatiável que contenha B! ÑÞ Pelo resultado precedente, se ÐEÑw e ÐFÑww são duas
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 503

subvariedades imersas integrais sem bordo de I , E  F é aberto em ÐEÑw e


em ÐFÑww e as topologias induzidas em E  F pelas de ÐEÑw e ÐFÑww
coincidem, uma vez que as estruturas diferenciáveis induzidas também
coincidem. A existência e unicidade de uma topologia em Q nas condições
do enunciado é então uma consequência do resultado sobre colagem de
topologias VI.3.5. …

Pelo contrário, e salvo casos particulares triviais, não existe em Q ,


munido da topologia fina, uma estrutura diferenciável que induza em cada
subvariedade imersa integral sem bordo ÐEÑ a respectiva estrutura
diferenciável. A razão porque não podemos aplicar o teorema de
existência de colagens VI.3.14 está em que a topologia fina não vai ser em
geral de base contável (cf. o exercício VI.18 no fim do capítulo). Vere-
mos, no entanto, adiante que o que não podemos fazer com ÐQ Ñ podemos
fazer com as suas componentes conexas.

VI.5.31 (Propriedades da topologia fina) Sejam I um espaço vectorial de


dimensão finita, Q § I uma variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um
fibrado vectorial com IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integra-
bilidade. Notemos ÐQ Ñ o conjunto Q com a topologia fina. Tem-se então:
a) A topologia fina é mais fina que a topologia de Q , isto é M.Q À ÐQ Ñ Ä Q
é contínua.
b) A topologia de ÐQ Ñ é separada, localmente compacta e localmente cone-
xa, em particular as componentes conexas Q4 de ÐQ Ñ são abertas em ÐQ Ñ.
c) Cada componente conexa ÐQ4 Ñ de ÐQ Ñ é um espaço topológico de base
contável. Dizemos que os ÐQ4 Ñ são as folhas de ÐQ Ñ (ou de I ).
Dem: O facto de M.Q À ÐQ Ñ Ä Q ser contínua vem de que isso acontece à
sua restrição a uma classe de abertos de ÐQ Ñ de união Q , nomeadamente a
constituída pelas subvariedades imersas integrais sem bordo ÐEÑ de I . Uma
vez que Q é separado, podemos deduzir que ÐQ Ñ é também separado (todas
as vizinhanças de um ponto relativas a Q são também vizinhanças desse
ponto relativas a ÐQ Ñ). O facto de a topologia de ÐQ Ñ ser localmente
compacta e localmente conexa vem de que, para cada B! − Q , podemos
considerar uma subvariedade imersa integral sem bordo ÐEÑ de I com
B! − E e então ÐEÑ é uma variedade, e portanto localmente compacta e
localmente conexa, e um sistema fundamentalde vizinhanças de B! em ÐEÑ é
também sistema fundamental de vizinhanças de B! em ÐQ Ñ, por ÐEÑ ser um
subespaço topológico aberto de ÐQ Ñ. O facto de as componentes conexas Q4
de ÐQ Ñ serem conjuntos abertos de ÐQ Ñ é uma propriedade geral dos
espaços topológicos localmente conexos.
Resta-nos mostrar que, para cada componente conexa Q4 de ÐQ Ñ, ÐQ4 Ñ tem
base contável.
Consideremos uma família ÐZ8 Ñ8− de abertos fatiáveis de Q (cf. IV.9.10 e
IV.9.11) com união Q ; para isso basta partir de uma base contável de
abertos para Q e escolher, para cada aberto da base que esteja contido
504 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

nalgum aberto fatiável, um dos abertos fatiáveis que o contém. Sejam Z8ß-8 ,
-8 − [8 , as fatias do aberto Z8 . Chamemos fatias escolhidas, aos conjuntos
Z8ß-8 , com 8 −  e -8 − [8 que, por serem subvariedades integrais sem
bordo, são abertos de ÐQ Ñ, com ÐZ8ß-8 Ñ œ Z8ß-8 . Tendo em conta a alínea a)
do lema VI.5.27, dado 7 − , cada Z7ß-7 intersecta, para cada 8, apenas um
número contável de fatias Z8ß-8 e portanto cada Z7ß-7 intersecta apenas um
número contável de fatias escolhidas. Seja B! − Q4 um ponto fixado.
Construamos recursivamente, para cada : − ß um conjunto contável h: de
fatias escolhidas, do seguinte modo: h" é o conjunto das fatias escolhidas que
contêm B! (para cada 7, no máximo um dos Z7ß-7 ). h:" é o conjunto das
fatias escolhidas que intersectam pelo menos uma das fatias escolhidas em
h: , conjunto que contém evidentemente h: . Uma vez que qualquer conexo
de ÐQ Ñ que intersecte a sua componente conexa Q4 está contido em Q4
verificamos por indução que todas as fatias escolhidas pertencentes a h:
estão contidas em Q4 . Seja h o conjunto contável união de todos os h: . Seja
Y a união de todas as fatias em h , que é assim um aberto de ÐQ Ñ contendo
B! e contido em Q4 , portanto também um aberto de ÐQ4 Ñ. Para C − Q4 que
não pertença a Y , podemos considerar uma fatia escolhida Z8ß-8 que
contenha C , e portanto, como anteriormente, é um aberto de ÐQ Ñ contido em
Q4 , e portanto um aberto de ÐQ4 Ñ; além disso Z8ß-8 não pode intersectar
nenhuma das fatias em h (senão pertenceria a h ) pelo que Z8ß-8 não
intersecta Y , o que prova que Y é também fechado em ÐQ4 Ñ. Uma vez que
ÐQ4 Ñ é conexo, concluímos que Y œ Q4 . Concluímos finalmente que ÐQ4 Ñ é
uma união contável dos abertos Z7ß-7 em h , os quais, por serem variedades,
têm base contável de abertos, pelo que ÐQ4 Ñ tem base contável de abertos
(escolhendo uma base contável para cada Z7ß-7 , a união dessas bases é uma
base contável para ÐQ4 Ñ). …
VI.5.32 (A estrutura de variedade das folhas) Sejam I um espaço vectorial de
dimensão finita, Q § I uma variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um
fibrado vectorial com IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integra-
bilidade. Notemos ÐQ Ñ o conjunto Q com a topologia fina e sejam ÐQ4 Ñ,
com as topologias induzidas, as correspondentes folhas. Tem-se então:
a) Cada ÐQ4 Ñ admite uma única estrutura de subvariedade imersa sem bordo
de Q (a estrutura canónica de variedade das folhas).
b) Cada ÐQ4 Ñ é uma subvariedade imersa integral conexa de I .
c) Qualquer que seja a subvariedade imersa integral sem bordo ÐEÑ de I ,
com E § Q4 , E é aberto em ÐQ4 Ñ e a estrutura diferenciável de ÐEÑ é a
induzida pela de ÐQ4 Ñ.
Dem: Consideremos a classe das subvariedades imersas integrais sem bordo
ÐEÑ de I , assim como a subclasse constituída pelas que verificam E § Q4 , e
lembremos que, tendo em conta VI.5.30, para cada uma daquelas a topologia
de ÐEÑ é a induzida pela de ÐQ Ñ e E é aberto em ÐQ Ñ, e portanto, para cada
uma das da subclasse, ÐEÑ tem a topologia induzida pela de ÐQ4 Ñ e é aberto
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 505

em ÐQ4 Ñ. O mesmo resultado garante cada cada B! − Q4 pertence a alguma


subvariedade imersa integral sem bordo ÐEÑ de I , podendo já supor-se que
ÐEÑ é conexa, substituindo-a eventualmente pela respectiva componente
conexa que contém B! , o que implica, por Q4 ser uma componente conexa de
ÐQ Ñ, que E § Q4 . As subvariedades ÐEÑ da subclasse têm dimensão em
cada B igual à de IB , em particular menor ou igual à de I , e são mutuamente
compatíveis, por VI.5.29, pelo que o facto de ÐQ4 Ñ ser separado e ter base
contável permite-nos, por VI.3.14, considerar em ÐQ4 Ñ uma estrutura de
variedade que induz em cada um dos abertos ÐEÑ da subclasse a sua estrutura
de variedade. Cada ÐQ4 Ñ é então uma subvariedade imersa integral sem
bordo de I , por isso acontecer a cada uma das suas subvariedades abertas
ÐEÑ. A propriedade expressa em c) é automática, por construção, e quanto à
unicidade em a) ela é uma consequência do resultado geral em VI.5.8. …
VI.5.33 (Variedades semi-integrais conexas) Sejam I um espaço vectorial de
dimensão finita, Q § I uma variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um
fibrado vectorial com IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integra-
bilidade, e sejam ÐQ4 Ñ, onde 4 − N , as folhas de I . Tem-se então:
a) Quaisquer que sejam a variedade abstracta conexa Q s e a aplicação de
classe G : , :   ", 0 À Qs Ä Q tal que, para cada D − Q s , XD Ð0 Ñ § I0 ÐDÑ (cf.
VI.5.16), existe 4 − N tal que 0 ÐQs Ñ § Q4 e 0 À Qs Ä ÐQ4 Ñ é de classe G : .
b) Em particular, se ÐEÑ é uma subvariedade imersa semi-integral conexa de
I (cf. VI.5.26), existe 4 − N tal que E § Q4 e então ÐEÑ é uma
subvariedade imersa de ÐQ4 Ñ.
Dem: Comecemos por provar a) no caso particular em que a variedade Q s é
uma subvariedade de um espaço vectorial de dimensão finita, caso em que a
condição XD Ð0 Ñ § I0 ÐDÑ se reduz a H0D ÐXD ÐQs ÑÑ § I0 ÐDÑ .
Seja D! − Q s arbitrário. Sejam Z um aberto fatiável de Q (cf. IV.9.10), com
0 ÐD! Ñ − Z , e seja Ys a componente conexa do aberto 0 " ÐZ Ñ de Q s que
contém D! , que é assim um aberto conexo de Q s com D! − Y s e 0 ÐY
sÑ § Z .
Tendo em conta a definição em IV.9.10, existe uma fatia Z- de Z tal que
s Ñ § Z- . Uma vez que Z- é uma subvariedade integral sem bordo,
0 ÐY
sabemos que Z- é aberto em ÐQ Ñ e que, como espaço topológico, ÐZ- Ñ œ Z- .
Resulta daqui que 0ÎYs À Y s Ä ÐQ Ñ é contínua. Tendo em conta o facto de a
continuidade ser local deduzimos que 0 À Q s Ä ÐQ Ñ também é contínua e
s
portanto 0 ÐQ Ñ é conexo em ÐQ Ñ, tendo assim que estar contido numa das
suas componentes conexas Q4 . Uma vez que ÐQ4 Ñ é uma subvariedade
imersa integral sem bordo de I , resulta de VI.5.28 que 0 À Q s Ä ÐQ4 Ñ é
também de classe G : .
A prova de a) no caso geral reduz-se facilmente ao caso particular que
acabámos de examinar: Consideramos uma carta :À Q s Ä F § J da
s
estrutura diferenciável de Q , reparamos que F é uma variedade conexa e
consideramos a aplicação de classe G : 0 ‰ :" À F Ä Q que verifica, para
506 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

cada C − F ,
XC Ð0 ‰ :" Ñ œ X:" ÐCÑ Ð0 Ñ § I0 Ð:" ÐCÑÑ

pelo que deduzimos a existência de 4 tal que 0 ‰ :" ÐFÑ § Q4 , portanto


s Ñ § Q4 , e que 0 ‰ :" À F Ä ÐQ4 Ñ é de classe G : , portanto
0 ÐQ
s Ä ÐQ4 Ñ
0 œ Ð0 ‰ :" Ñ ‰ :À Q

é de classe G : .
A conclusão de b) é claramente um caso particular da de a), se tivermos em
conta VI.5.9. …
VI.5.34 (Functorialidade) Sejam I e I s espaços vectoriais de dimensão finita,
s s
Q § I e Q § I variedades sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q e I s œ ÐIsCÑ s
C−Q
fibrados vectoriais com IB § XB ÐQ Ñ e I s C § XC ÐQ
s Ñ, verificando a condição
de integrabilidade, e sejam ÐQ4 Ñ, onde 4 − N , e ÐQ s 5 Ñ, onde 5 − O , as folhas
de I e de I s . Seja 0 À Q Ä Q s uma aplicação de classe G : , :   ", tal que,
para cada B − Q , H0B ÐIB Ñ § I s 0 ÐBÑ . Tem-se então:
s
a) A aplicação 0 À ÐQ Ñ Ä ÐQ Ñ é contínua.
b) Para cada 4 − N , existe 5 − O tal que 0 ÐQ4 Ñ § Q s 5 e então
0ÎQ4 À ÐQ4 Ñ Ä ÐQ s 5 Ñ é uma aplicação de classe G : .
Dem: Dado 4 − N , tem-se, para cada B − Q4 , considerando a inclusão
+4 À ÐQ4 Ñ Ä Q ,
s 0 ÐBÑ
XB Ð0ÎQ4 Ñ œ XB Ð0 ‰ +4 Ñ œ H0B ÐXB Ð+4 ÑÑ œ H0B ÐIB Ñ § I

pelo que, pela alínea a) do resultado precedente, existe 5 − O tal que


0 ÐQ4 Ñ § Qs 5 e então 0ÎQ4 À ÐQ4 Ñ Ä ÐQs 5 Ñ é de classe G : . Em particular
cada 0ÎQ4 À ÐQ4 Ñ Ä ÐQs Ñ é contínua, pelo que, uma vez que os ÐQ4 Ñ são
abertos de ÐQ Ñ com união Q , 0 À ÐQ Ñ Ä ÐQ s Ñ é contínua. …
VI.5.35 (As folhas duma subvariedade) Sejam I um espaço vectorial de
dimensão finita, Q § I uma variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um
fibrado vectorial com IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integra-
bilidade. Seja Q w § Q uma subvariedade sem bordo tal que, para cada
B − Q w , IB § XB ÐQ w Ñ. Tem-se então:
a) O fibrado vectorial I ÎQ w œ ÐIB ÑB−Q w também verifica a condição de
integrabilidade.
b) Sendo ÐQ Ñ e ÐQ w Ñ os conjuntos Q e Q w , com as topologias finas, tem-se
que Q w é aberto em ÐQ Ñ e a topologia de ÐQ w Ñ é a induzida pela de ÐQ Ñ.
c) Para cada folha ÐQ4w Ñ de ÐQ w Ñ, existe uma folha ÐQ5 Ñ de ÐQ Ñ tal que
Q4w § Q5 e então Q4w é aberto em ÐQ5 Ñ e a estrutura diferenciável de ÐQ4w Ñ é
a induzida pela de ÐQ5 Ñ.
Dem: O facto de o fibrado vectorial I ÎQ w œ ÐIB ÑB−Q w também verificar a
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 507

condição de integrabilidade (cf. IV.9.3) resulta imediatamente de que,


quando fixamos um produto interno em I , a segunda forma fundamental de
I ÎQ w é a restrição da segunda forma fundamental de I . Sendo ÐQ4w Ñ uma
folha de ÐQ w Ñ, com a respectiva subestrutura de subvariedade imersa de Q w ,
e portanto de Q , ÐQ4w Ñ é uma subvariedade imersa integral sem bordo de
I ÎQ w , e portanto de I , e portanto, pela alínea b) de VI.5.33, existe uma folha
ÐQ5 Ñ de ÐQ Ñ tal que Q4w § Q5 , resultando então da alínea c) de VI.5.32 que
Q4w é aberto em ÐQ5 Ñ e a estrutura diferenciável de ÐQ4w Ñ é a induzida pela de
ÐQ5 Ñ. Uma vez que ÐQ5 Ñ é aberto em ÐQ Ñ, concluímos assim que cada Q4w é
aberto em ÐQ Ñ, e portanto também em Q w , com a topologia induzida pela de
ÐQ Ñ. Resulta daqui que Q w , igual à união dos ÐQ4w Ñ é aberto em ÐQ Ñ e o
facto de a topologia induzida em cada Q4w pela topologia de Q w induzida pela
de ÐQ Ñ coincidir com a induzida pela de ÐQ5 Ñ, sendo assim igual à de ÐQ4w Ñ,
implica que essa topologia induzida em Q w é precisamente a de ÐQ w Ñ. …

Antes de exibir a caracterização das folhas associadas a alguns exemplos


concretos de fibrados vectoriais, verificando a condição de integrabili-
dade, recordamos um lema de Topologia Geral, que permite nalguns casos
identificar facilmente as componentes conexas de um espaço topológico, e
que já terá sido porventura utilizado na resolução de alguns exercícios em
capítulos anteriores (cf., por exemplo, as alíneas e) e f) do exercício I.18 e
a alínea c) do exercício III.6).

VI.5.36 (Lema topológico) Seja \ um espaço topológico.


a) Se E § \ é um subconjunto conexo não vazio, simultaneamente aberto e
fechado em \ , então E é uma das componentes conexas de \ .
b) Em particular, se Ð\4 Ñ4−N é uma família de abertos conexos não vazios
disjuntos dois a dois e com união \ , as componentes conexas de \ são
precisamente os conjuntos \4 .
Dem: a) Lembremos que as compoentes conexas de \ são as classes de
equivalência para a relação B µ C se, e só se existe um conexo G de \ que
contém B e C . É evidente que, se Bß C − E, tem-se B µ C . Resta-nos mostrar
que, se B − E, C − \ e B µ C , então C − E. Ora, existe então um conexo G
de \ contendo B e C e vemos que G  E é simultaneamente aberto e fechado
em G e contém B, pelo que G  E œ G , em particular C − E.
b) Nas condições de b), cada \4 é também fechado, por o seu complementar
ser a união dos restantes \5 , pelo que o que vimos em a) implica que cada
\4 é uma componente conexa. Não podem existir componentes conexas
além dos \4 , uma vez que a união destes já é \ . …
VI.5.37 (Exemplos atípicos) a) Seja Q § I uma variedade sem bordo e
notemos, para cada B − Q , IB œ Ö!× § XB ÐQ Ñ. Então I œ ÐIB ÑB−Q é
trivialmente um fibrado vectorial verificando a condição de integrabilidade.
Qualquer subconjunto unitário ÖB× de Q é então uma subvariedade integral
508 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

sem bordo de I e portanto, para a topologia fina de ÐQ Ñ, estes conjuntos


unitários vão ser abertos, o que implica que a topologia de ÐQ Ñ é a topologia
discreta. As folhas, que são as componentes conexas de ÐQ Ñ, são assim os
conjuntos unitários.
b) Seja Q § I uma variedade sem bordo e notemos, para cada B − Q ,
IB œ XB ÐQ Ñ. Então I œ ÐIB ÑB−Q é trivialmente um fibrado vectorial
verificando a condição de integrabilidade. A própria variedade Q é uma
variedade integral de I pelo que, por definição da topologia fina de ÐQ Ñ,
esta induz em Q a topologia original, ou seja ÐQ Ñ œ Q . As folhas são
assim, neste caso, as componentes conexas de Q , e são abertos de Q , com a
topologia induzida pela de Q , e as respectivas estruturas de variedade são as
induzidas pela de Q .
c) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma variedade
sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com IB § XB ÐQ Ñ,
verificando a condição de integrabilidade. Seja Z um aberto fatiável de Q ,
com as correspondentes fatias Z- , - − [ (cf. IV.9.10). Considerando então
Z como variedade, com o correspondente fibrado vectorial I ÎZ , as folhas de
ÐZ Ñ, com a topologia fina, são precisamente as fatias Z- , com as topologias e
estruturas de variedade induzidas pela de Q (em particular, o que não é
típico, são mesmo subvariedades integrais).
Dem: Por definição, as fatias Z- são subvariedades integrais conexas sem
bordo e a topologia fina ÐZ Ñ, de Z é tal que cada Z- é aberto em ÐZ Ñ e induz
em cada Z- a topologia induzida pela de Q . O facto de os Z- serem as
componentes conexas de Z é assim consequência do lema topológico
precedente. …
VI.5.38 (Exemplos mais típicos — folhas sobre o toro)
a) Nestes exemplos vamos considerar sobre o espaço vectorial complexo ‚ o
seu produto interno complexo usual, definido por ØDß AÙ‚ œ D ‚ A, assim
como o produto interno real associado ØDß AÙ‘ œ dÐD ‚ AÑ, que não é mais
do que o produto interno canónico de ‘# (se D œ +  ,3 e A œ -  .3,
tem-se D ‚ A œ Ð+-  ,.Ñ  Ð+.  ,-Ñ3). Lembrando que o produto
interno complexo e o produto interno real associado têm a mesma norma
associada, notamos
W œ ÖD − ‚ ± mDm œ "×,
que sabemos ser uma variedade compacta, sem bordo, de dimensão ", tendo
como espaço vectorial tangente XD ÐWÑ o conjunto dos ? − ‚ tais que
Ø?ß DÙ‘ œ !. Uma vez que Ø3Dß DÙ‘ œ dÐ3mDm# Ñ œ !, constatamos que, para
cada D − W , XD ÐWÑ admite 3D como base ortonormada.
b) A variedade com que vamos trabalhar vai ser a variedade compacta sem
bordo com dimensão #,
Q œW ‚W §‚‚‚
a que se costuma dar o nome de toro.
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 509

Embora esta variedade esteja contida em ‚ ‚ ‚ œ ‘% , ela é difeomorfa a


uma subvariedade bem conhecida de ‘$ , que se obtém rodando em torno do
eixo das cotas uma circunferência do plano de abcissa igual a !, de centro em
Ð"ß !Ñ e raio "# . Esse difeomorfismo, que será explicado com mais detalhe no
exercício VI.21, no fim do capítulo, associa a cada par ÐDß AÑ − W ‚ W um
ponto de ‘$ em que A identifica o ponto da circunferência que roda e D a
rotação que esta sofreu. Este difeomorfismo não é necessário para o estudo
que será feito em seguida e servirá apenas para podermos desenhar figuras
que apoiem a nossa intuição.

Figura 22
c) Para cada ÐDß AÑ − Q , tem-se XÐDßAÑ ÐQ Ñ œ XD ÐWÑ ‚ XA ÐWÑ. Fixemos um
número real +  ! e notemos, para cada ÐDß AÑ − W ,
[ÐDßAÑ œ Ð3Dß +3AÑ − XÐDßAÑ ÐQ Ñ,

que é um vector não nulo, e portanto gera um subespaço vectorial de dimen-


são " IÐDßAÑ § XÐDßAÑ ÐQ Ñ.125 Tem-se então que I œ ÐIÐDßAÑ ÑÐDßAÑ−W é um
fibrado vectorial trivial de dimensão ", que verifica automaticamente a
condição de integrabilidade (cf. IV.9.4). O nosso objectivo é determinar as
folhas de I . Verificaremos em particular, que vamos obter exemplos
essencialmente distintos, conforme o número real fixado + seja racional ou
irracional.
d) Para cada ÐD! ß A! Ñ − Q , seja 0ÐD! ßA! Ñ À ‘ Ä Q a aplicação suave definida
por
0ÐD! ßA! Ñ Ð>Ñ œ ÐD! /#13> ß A! /#13+> Ñ,

para a qual se tem 0ÐD! ßA! Ñ Ð!Ñ œ ÐD! ß A! Ñ e

0ÐDw ! ßA! Ñ Ð>Ñ œ Ð#13D! /#13> ß #13+A! /#13+> Ñ œ #1[0ÐD!ßA!Ñ Ð>Ñ − I0ÐD!ßA!Ñ Ð>Ñ .

125Supomos +  ! apenas para fixar ideias. Os casos + œ ! e +  ! admitem um


tratamento análogo.
510 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Em particular, vemos que 0ÐD! ßA! Ñ À ‘ Ä Q é uma imersão e, notando QÐD! ßA! Ñ
a folha que contém ÐD! ß A! Ñ, resulta de VI.5.33 que 0ÐD! ßA! Ñ Ð‘Ñ § QÐD! ßA! Ñ e
que 0ÐD! ßA! Ñ À ‘ Ä (QÐD! ßA! Ñ Ñ ainda é suave, e portanto uma imersão. Uma vez
que ‘ e (QÐD! ßA! Ñ Ñ são variedades sem bordo com dimensão ", segue-se que a
imersão 0ÐD! ßA! Ñ À ‘ Ä (QÐD! ßA! Ñ Ñ é também uma submersão, e portanto uma
aplicação aberta. Em particular, 0ÐD! ßA! Ñ Ð‘Ñ é aberto e conexo em (QÐD! ßA! Ñ Ñ, e
portanto também em ÐQ Ñ.
e) Reparemos agora que, dados ÐD! ß A! Ñ e ÐD" ß A" Ñ em Q e >ß = − ‘, tem-se
0ÐD! ßA! Ñ Ð>Ñ œ 0ÐD" ßA" Ñ Ð=Ñ Í ÐD! /#13> ß A! /#13+> Ñ œ ÐD" /#13= ß A" /#13+= Ñ Í
Í ÐD" ß A" Ñ œ ÐD! /#13Ð>=Ñ ß A! /#13+Ð>=Ñ Ñ Í
Í ÐD" ß A" Ñ œ 0ÐD! ßA! Ñ Ð>  =Ñ.

f) O que vimos em e) implica que, se 0ÐD! ßA! Ñ Ð‘Ñ  0ÐD" ßA" Ñ Ð‘Ñ Á g, então
0ÐD! ßA! Ñ Ð‘Ñ œ 0ÐD" ßA" Ñ Ð‘Ñ e daqui deduzimos que 0ÐD! ßA! Ñ Ð‘Ñ, que já sabíamos
ser aberto em ÐQ Ñ, é também fechado em ÐQ Ñ, por o seu complementar ser
união de conjuntos do mesmo tipo. Tendo em conta o lema topológico
VI.5.36, vemos que 0ÐD! ßA! Ñ Ð‘Ñ é uma das componentes conexas de ÐQ Ñ, ou
seja, 0ÐD! ßA! Ñ Ð‘Ñ coincide com a folha QÐD! ßA! Ñ .
g) Tem-se
0ÐD! ßA! Ñ Ð>Ñ œ ÐD! ß A! Ñ Í ÐD! /#13> ß A! /#13+> Ñ œ ÐD! ß A! Ñ Í
Í /#13> œ /#13+> œ " Í
Í > − ™ • +> − ™

e portanto, pelo que vimos em e),


0ÐD! ßA! Ñ Ð>Ñ œ 0ÐD! ßA! Ñ Ð=Ñ Í >  = − ™ • +Ð>  =Ñ − ™.

h) Vamos agora verificar o que sucede no caso em que + é racional, caso em


que podemos escrever + œ 7 8 , com 7 e 8 números naturais primos entre si.
7
A condição >  = − ™ • 8 Ð>  =Ñ − ™ é então equivalente a >  = − 8™, pelo
que
0ÐD! ßA! Ñ Ð>Ñ œ 0ÐD! ßA! Ñ Ð=Ñ Í >  = − 8™

de onde deduzimos que QÐD! ßA! Ñ œ 0ÐD! ßA! Ñ Ð‘Ñ œ 0ÐD! ßA! Ñ ÐÒ!ß 8ÓÑ e a restrição
de 0ÐD! ßA! Ñ é uma bijecção de Ò!ß 8Ò sobre a folha QÐD! ßA! Ñ . Em particular
ÐQÐD! ßA! Ñ Ñ é compacto, o que, tendo em conta VI.5.6, implica que
ÐQÐD! ßA! Ñ Ñ œ QÐD! ßA! Ñ e que QÐD! ßA! Ñ é mesmo uma subvariedade. De facto
(ver o exercício VI.22 no fim do capítulo), verifica-se facilmente que QÐD! ßA! Ñ
é uma variedade difeomorfa à circunferência W .
Nas figuras 23, 24 e 25 estão ilustrados os casos + œ "", + œ "" # e+ œ $ .
""
§5. Subvariedades imersas e torema de Frobenius global 511

Figura 23 Figura 24

Figura 25
i) Verifiquemos, enfim, o que sucede no caso em que + é irracional. Como
referimos em g), tem-se 0ÐD! ßA! Ñ Ð>Ñ œ 0ÐD! ßA! Ñ Ð=Ñ se, e só se >  = − ™ •
+Ð>  =Ñ − ™, condição que só é possível quando = œ >. Podemos assim
concluir que 0ÐD! ßA! Ñ À ‘ Ä ÐQÐD! ßA! Ñ Ñ é bijectiva e portanto, uma vez que se
trata de uma submersão entre variedades sem bordo, é um difeomorfismo (a
suavidade da inversa resulta de VI.2.29).

Figura 26 Figura 27
Ilustramos, na figura 26, parte duma das folhas, no caso em que + œ #1, e,
nas figuras 27 e 28, partes sucessivamente maiores da mesma folha; em cada
caso omitimos, para uma maior clareza, a imagem do próprio toro.
512 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Figura 28
Pode mostrar-se que, como as figuras sugerem, as folhas QÐD! ßA! Ñ , no caso em
que + é irracional, são densas em Q (apesar de, como sempre acontece, elas
serem fechadas em ÐQ Ñ). Ver, nesse sentido, o exercício VI.23 no fim do
capítulo. Em particular, as folhas QÐD! ßA! Ñ , no caso em que + é irracional, não
são subvariedades de Q , são apenas subvariedades imersas (lembrar II.6.22
e VI.5.14).

§6. Espaço vectorial tangente.

Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, e B − E.


Pretendemos definir uma noção de espaço vectorial tangente a E no ponto
B, que generalize a noção conhecida de espaço vectorial tangente a um
subconjunto de um espaço vectorial de dimensão finita num dos seus
pontos. Há mais que um processo de atingir esse objectivo e diferentes
autores apresentam diferentes definições, conforme os seus gostos ou as
aplicações que têm em vista. As diferentes noções “legítimas” de espaço
vectorial tangente são naturalmente “equivalentes” e, mais do que tomar
partido por uma das definições possíveis, o que vamos fazer é explicar o
que é uma “noção legítima” de espaço vectorial tangente e verificar que,
em cada situação, existem sempre definições legítimas para esta noção;
deixamos assim ao utilizador a capacidade para, em cada caso particular,
utilizar a noção de espaço vectorial tangente que lhe pareça mais cómoda.

VI.6.1 Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, e B − E.


Se X é um espaço vectorial de dimensão finita, vamos chamar apresentação
de X como espaço vectorial tangente a E no ponto B a um par Ð:ß -Ñ, em
que :À E Ä F § I é uma carta da estrutura diferenciável e
-À X Ä X:ÐBÑ ÐFÑ é um isomorfismo.
§6. Espaço vectorial tangente 513

Dadas duas apresentações de X como espaço vectorial tangente a E no ponto


B, Ð:ß -Ñ e Ð<ß .Ñ, onde :À E Ä F § I e <À E Ä G § J , vamos dizer que
elas são equivalentes, e escrever Ð:ß -Ñ µ Ð<ß .Ñ, se, considerando o difeo-
morfismo < ‰ :" À F Ä G , o isomorfismo
HÐ< ‰ :" Ñ:ÐBÑ À X:ÐBÑ ÐFÑ Ä X<ÐBÑ ÐGÑ

verificar a propriedade HÐ< ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ - œ ..


Esta propriedade costuma ser sugerida graficamente pelo diagrama
M.X
X qqqqqqqqqp X
-Æ- .Æ.
X:ÐBÑ ÐFÑ qqqqqqqqqp
"
X<ÐBÑ ÐGÑ
HÐ<‰: Ñ:ÐBÑ

(costuma-se dizer que este é um diagrama comutativo, uma vez que as duas
aplicações compostas sugeridas por ele são iguais).
VI.6.2 Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, e B − E.
Tem-se então:
a) Existe sempre um espaço vectorial X , de dimensão finita, admitindo uma
apresentação como espaço vectorial tangente a E no ponto B.
b) Se X é um espaço vectorial de dimensão finita nas condições de a), então
a relação µ , na classe das apresentações de X como espaço vectorial
tangente a E no ponto B, é uma relação de equivalência.
c) Se Ð:ß -Ñ é uma apresentação de X como espaço vectorial tangente a E no
ponto B, onde :À E Ä F § I é uma carta de E e -À X Ä X:ÐBÑ ÐFÑ é um
isomorfismo, então, qualquer que seja a carta <À E Ä G § J de E, existe
um, e um só, isomorfismo .À X Ä X<ÐBÑ ÐGÑ tal que Ð:ß -Ñ µ Ð<ß .Ñ.
Dem: A alínea a) resulta de que, se considerarmos uma carta :À E Ä F § I
da estrutura diferenciável de E, então o espaço vectorial de dimensão finita
X œ X:ÐBÑ ÐFÑ admite uma apresentação como espaço vectorial tangente a E
no ponto B, nomeadamente o par Ð:ß M.X Ñ. A alínea c) é uma consequência
trivial da definição. Resta-nos então verificar que a relação µ é de
equivalência. A reflexividade resulta trivialmente da definição. Suponhamos
que se tem Ð:ß -Ñ µ Ð<ß .Ñ e Ð<ß .Ñ µ Ð3ß / Ñ, onde :À E Ä F § I ,
<À E Ä G § J , 3À E Ä H § K , -À X Ä X:ÐBÑ ÐFÑ, .À X Ä X<ÐBÑ ÐGÑ e
/À X Ä X3ÐBÑ ÐHÑ. Podemos então escrever

HÐ3 ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ - œ HÐ3 ‰ <" ‰ < ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ - œ


œ HÐ3 ‰ <" Ñ<ÐBÑ ‰ HÐ< ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ - œ
œ HÐ3 ‰ <" Ñ<ÐBÑ ‰ . œ / ,

o que mostra que Ð:ß -Ñ µ Ð3ß / Ñ. Por fim, a simetria, embora pudesse ter
uma demonstração directa simples, pode ser deduzida do que já foi provado:
Se Ð:ß -Ñ µ Ð<ß .Ñ, sabemos que existe -w tal que Ð<ß .Ñ µ Ð:ß -w Ñ e então,
514 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

pela transitividade, Ð:ß -Ñ µ Ð:ß -w Ñ, donde, pela reflexividade e pela parte


de unicidade de c), - œ -w , isto é, Ð<ß .Ñ µ Ð:ß -Ñ. …
VI.6.3 Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, e B − E.
Se X é um espaço vectorial de dimensão finita admitindo uma apresentação
como espaço vectorial tangente a E no ponto B, chamaremos estrutura de
espaço vectorial tangente a E no ponto B sobre X a uma classe de
equivalência de apresentações de X como espaço vectorial tangente, para a
relação de equivalência µ definida anteriormente.
Usaremos com frequência a notação XB ÐEÑ para designar um espaço
vectorial de dimensão finita, munido de uma estrutura de espaço vectorial
tangente a E no ponto B, e dizemos então que XB ÐEÑ é um espaço vectorial
tangente a E no ponto B.126
VI.6.4 Repare-se que o resultado precedente garante-nos que, para cada conjunto
E, munido de uma estrutura diferenciável, e para cada ponto B − E, pode
sempre considerar-se pelo menos um espaço vectorial tangente XB ÐEÑ. Em
geral haverá muitas escolhas possíveis para um tal espaço vectorial
tangente127, e não haverá nenhuma razão para preferir uma às outras. O que
por vezes será cómodo, como veremos, é condicionar certas escolhas de
espaço vectorial tangente a outras escolhas feitas anteriormente no mesmo
contexto.
VI.6.5 Um caso particular em que há uma escolha de espaço vectorial tangente
que apresenta claramente vantagens é aquele em que temos um espaço
vectorial de dimensão finita I e um subconjunto arbitrário E § I , sobre o
qual se considera a estrutura diferenciável canónica. Nesse caso, e como era
de esperar, consideraremos como espaço vectorial tangente a E num ponto B
o próprio espaço vectorial tangente XB ÐEÑ, no sentido já conhecido, estando
implícito que a estrutura de espaço vectorial tangente de XB ÐEÑ é a
determinada pela apresentação ÐM.E ß M.XB ÐEÑ Ñ, correspondente à carta
M.E À E Ä E § I e ao isomorfismo M.XB ÐEÑ À XB ÐEÑ Ä XB ÐEÑ. Esta escolha é
a que estará implícita, salvo aviso em contrário, sempre que escrevermos
XB ÐEÑ quando E é um subconjunto de um espaço vectorial de dimensão
finita.
VI.6.6 Sejam E e Es conjuntos, munidos de estruturas diferenciáveis, 0 À E Ä E s
s espaços vectoriais tangentes
uma aplicação suave, B − E e XB ÐEÑ e X0 ÐBÑ ÐEÑ
a E em B e a E s em 0 ÐBÑ. Podemos então considerar apresentações Ð:ß -Ñ,
definindo a estrutura de espaço vectorial tangente de XB ÐEÑ, e Ð: s Ñ,
sß -
s
definindo a estrutura de espaço vectorial tangente de X0 ÐBÑ ÐEÑ, onde

126Sublinhamos, mais uma vez, que tanto a designação “espaço vectorial tangente a E em
B” como a notação XB ÐEÑ referem-se não só ao espaço vectorial em questão mas também
à estrutura de espaço vectorial tangente que se está a considerar.
127Verificaremos em breve que duas escolhas de espaço vectorial tangente a E em B são
sempre isomorfas.
§6. Espaço vectorial tangente 515

:À E Ä F § I e : sÀ EsÄF s§I s , e, dadas apresentações nestas condições,


existe uma, e uma só, aplicação linear
s
H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ

tal que
s ‰ H0B œ HÐ:
- s ,
s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ -À XB ÐEÑ Ä X:sÐ0 ÐBÑÑ ÐFÑ

igualdade que também costuma ser expressa graficamente pela afirmação de


que deve ser comutativo o diagrama
H0B
XB ÐEÑ qqqqqqqp X0 ÐBÑ ÐEÑs
-Æ- sÆ-
- s
X:ÐBÑ ÐFÑ qqqqqqqp s .
X:sÐ0 ÐBÑÑ ÐFÑ
HÐ: "
s‰0 ‰: Ñ:ÐBÑ

Para além disso a aplicação linear H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ s não depende da
escolha das apresentações Ð:ß -Ñ e Ð: sß -Ñ nas condições acima.128
s
Dem: Em primeiro lugar, a definição de aplicação suave garante a existência
de cartas :À E Ä F § I , de E, e : sÄF
sÀ E s§I s , de Es, tais que
s ‰ 0 ‰ :" seja suave e sabemos então que existem isomorfismos
:
-À XB ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ e - s Ä X:sÐ0 ÐBÑÑ ÐFÑ
sÀ X0 ÐBÑ ÐEÑ s tais que as apresentações
Ð: ß - Ñ e Ð : s
sß -Ñ definam as estruturas de espaço vectorial tangente de XB ÐEÑ e
de X0 ÐBÑ ÐEÑ s . A existência e unicidade de uma aplicação linear
H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑs , verificando a igualdade

s ‰ H0B œ HÐ:
- s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ -
s ser um isomorfismo, esta última é
vem de que, tendo em conta o facto de -
trivialmente equivalente a
"
s
H0B œ - s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ -.
‰ HÐ:

Tudo o que temos agora que mostrar é que, dadas outras apresentações
sß .
Ð< ß . Ñ e Ð < sÑ que também definam as estruturas de espaço vectorial
tangente de XB ÐEÑ e de X0 ÐBÑ ÐEÑs , com as cartas <À E Ä G § J e
sÀ E
< sÄG s §J s , tem-se também

. s ‰ 0 ‰ <" Ñ:sÐBÑ ‰ ..
s ‰ H0B œ HÐ<

Ora, podemos escrever

128Se isso não acontecesse, não faria muito sentido utilizar a notação H0B .
516 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

. s‰:
s ‰ H0B œ HÐ< s ‰ H0B œ
s" Ñ:sÐ0 ÐBÑÑ ‰ -
s‰:
œ HÐ< "
s Ñ:sÐ0 ÐBÑÑ ‰ HÐ: s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ - œ

s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ HÐ: ‰ <" Ñ<ÐBÑ ‰ . œ


????? œ HÐ<
s ‰ 0 ‰ <" Ñ<ÐBÑ ‰ .,
œ HÐ<

como queríamos. Note-se que a dedução anterior pode ser seguida no dia-
grama
M. H0B M.
XB ÐEÑ qqqp XB ÐEÑ qqqp s
X0 ÐBÑ ÐEÑ qqqp s
X0 ÐBÑ ÐEÑ
.Æ. -Æ- s Æ -s
- .
s Æ .s
X<ÐBÑ ÐGÑ qqqp X:ÐBÑ ÐFÑ qqqp s
X:sÐ0 ÐBÑÑ ÐFÑ qqqp s .
X<s Ð0 ÐBÑÑ ÐGÑ
"
HÐ:‰< Ñ<ÐBÑ HÐ: "
s‰0 ‰: Ñ:ÐBÑ s ‰:
"
HÐ< s Ñ:sÐ0 ÐBÑÑ

…
VI.6.7 Nas condições anteriores, a aplicação linear H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ s
toma o nome de derivada da aplicação suave 0 no ponto B (relativamente à
s ). Por exemplo, se
escolha dos espaços vectoriais tangentes XB ÐEÑ e X0 ÐBÑ ÐEÑ
0À E Ä E s é uma aplicação constante, é trivial que H0B œ !.

A definição anterior poderia a priori levar a confusão no caso em que E e


Es fossem subconjuntos de espaços vectoriais de dimensão finita I e I s,
com as correspondentes estruturas diferenciáveis, visto que, para uma
aplicação suave 0 À E Ä E s, a derivada H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ
s poderia
ser tomada em duas acepções diferentes, a derivada no sentido definido no
capítulo II e a derivada no sentido da definição anterior (a mesma questão
ao nível dos espaços vectoriais tangentes já foi examinada atrás). De
facto, não há lugar para confusão, tendo em conta o resultado seguinte:

VI.6.8 Sejam E § I e E s§I s dois subconjuntos, nos quais se consideram as


estruturas diferenciáveis canónicas, e sejam 0 À E Ä E s uma aplicação suave e
B − E. Considerando então como espaços vectoriais tangentes XB ÐEÑ e
s os usuais (lembrar o que se disse em VI.6.5), a aplicação linear
X0 ÐBÑ ÐEÑ
s , no sentido já conhecido anteriormente,
derivada H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ
coincide com a aplicação linear derivada, no sentido que estamos a definir.
Dem: Basta atender a que, considerando as cartas M.E À E Ä E § I e
M.Es À EsÄE s§I s , de E e E s, respectivamente, assim como as correspon-
dentes apresentações ÐM.E ß M.XB ÐEÑ Ñ e ÐM.Es ß M.X0 ÐBÑ ÐEÑ
s Ñ, que definem as estru-

turas de espaço vectorial tangente de XB ÐEÑ e de X0 ÐBÑ ÐEÑ s , tem-se

s ‰ H0B œ H0B ‰ M.XB ÐEÑ .


M.X0 ÐBÑ ÐEÑ …
§6. Espaço vectorial tangente 517

VI.6.9 Sejam E, E s e E˜ conjuntos, munidos de estruturas diferenciáveis, e


s
0 À E Ä E e 1À Es Ä E˜ duas aplicações suaves. Seja B − E e escolhamos
˜ . Tem-se então,
s e X1Ð0 ÐBÑÑ ÐEÑ
espaços vectoriais tangentes XB ÐEÑ, X0 ÐBÑ ÐEÑ
para as correspondentes aplicações lineares derivadas,
˜.
HÐ1 ‰ 0 ÑB œ H10 ÐBÑ ‰ H0B À XB ÐEÑ Ä X1Ð0 ÐBÑÑ ÐEÑ

Dem: Consideremos as apresentações Ð:ß -Ñ, Ð: sÑ e Ð:˜ß -˜Ñ, definindo as


sß -
estruturas de espaço vectorial tangente de XB ÐEÑ, de X0 ÐBÑ ÐEÑ s e de
˜
X1Ð0 ÐBÑÑ ÐEÑ, onde :À E Ä F § I , : s s s ˜
sÀ E Ä F § I e :˜À E Ä F˜ § I˜ .
Podemos então escrever
H0B H10 ÐBÑ
XB ÐEÑ qqqqqp X0 ÐBÑ ÐEÑs qqqqqp X1Ð0 ÐBÑÑ ÐEÑ ˜
-Æ- s
-Æ- s -˜ Æ -˜
X:ÐBÑ ÐFÑ qqqqqp s
X:sÐ0 ÐBÑ ÐFÑ qqqqqp X:̃Ð1Ð0 ÐBÑÑÑ ÐFј
s‰0 ‰:" Ñ:ÐBÑ
HÐ: s" Ñ:sÐ0 ÐBÑÑ
HÐ:˜‰1‰:

-˜ ‰ ÐH10 ÐBÑ ‰ H0B Ñ œ HÐ:˜ ‰ 1 ‰ : s ‰ H0B œ


s" Ñ:sÐ0 ÐBÑÑ ‰ -
s" Ñ:sÐ0 ÐBÑÑ ‰ HÐ:
œ HÐ:˜ ‰ 1 ‰ : s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ - œ
œ HÐ:˜ ‰ Ð1 ‰ 0 Ñ ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ -,

o que implica que se tem realmente H10 ÐBÑ ‰ H0B œ HÐ1 ‰ 0 ÑB . …


VI.6.10 Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, e B − E e
consideremos um espaço vectorial tangente XB ÐEÑ a E no ponto B.
Considerando então a aplicação suave M.E À E Ä E, tem-se
HÐM.E ÑB œ M.XB ÐEÑ .

Dem: Basta atender a que, se Ð:ß -Ñ define a estrutura de espaço vectorial


tangente de XB ÐEÑ, onde :À E Ä F § I , tem-se
- ‰ M.XB ÐEÑ œ M.X:ÐBÑ ÐFÑ ‰ - œ HÐ: ‰ M.E ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ -. …

VI.6.11 (Corolário) Sejam E e E s conjuntos, munidos de estruturas diferen-


ciáveis, e 0 À E Ä Es um difeomorfismo. Seja B − E e escolhamos espaços
s . Tem-se então que a aplicação linear
vectoriais tangentes XB ÐEÑ e X0 ÐBÑ ÐEÑ
s
H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ

é um isomorfismo tendo por isomorfismo inverso


s Ä XB ÐEÑ.
HÐ0 " Ñ0 ÐBÑ À X0 ÐBÑ ÐEÑ

Dem: Trata-se de uma consequência dos dois resultados precedentes, visto


518 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

que, por ser


0 " ‰ 0 œ M.E , 0 ‰ 0 " œ M.Es ,

vem
M.XB ÐEÑ œ HÐM.E ÑB œ HÐ0 " Ñ0 ÐBÑ ‰ H0B
"
M.X0 ÐBÑ ÐEÑ
s œ HÐM.E
s Ñ0 ÐBÑ œ H0B ‰ HÐ0 Ñ0 ÐBÑ . …

VI.6.12 (Corolário) Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura dife-


renciável, B − E e XB ÐEÑ e X s B ÐEÑ duas escolhas de espaços vectoriais tan-
gentes a E em B. Existe então um isomorfismo canónico entre aquelas duas
escolhas )À XB ÐEÑ Ä X s B ÐEÑ, nomeadamente a derivada do difeomorfismo
M.E À E Ä E, quando no domínio se considera a primeira escolha de espaço
vectorial tangente e no espaço de chegada a segunda escolha.129
VI.6.13 Sejam E e E s espaços topológicos, munidos de estruturas diferenciáveis,
s
e 0 À E Ä E um difeomorfismo. Seja B − E, escolhamos um espaço vectorial
tangente XB ÐEÑ e sejam X0 ÐBÑ ÐEÑs um espaço vectorial e 0À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑs
um isomorfismo. Existe então sobre X0 ÐBÑ ÐEÑ s uma, e uma só, estrutura de
s
espaço vectorial tangente a E no ponto 0 ÐBÑ, relativamente à qual 0 œ H0B
(comparar com VI.6.11).
Dem: Seja Ð:ß -Ñ definindo a estrutura de espaço vectorial tangente de
XB ÐEÑ, em que :À E Ä F § I é uma carta da estrutura diferenciável de E e
-À XB ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ é um isomorfismo. Tem-se então que : s œ : ‰ 0 " À
Es Ä F § I é um difeomorfismo, e portanto uma carta da estrutura
diferenciável de E s. Podemos também considerar o isomorfismo
- s
s À X0 ÐBÑ ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ definido por - s œ - ‰ 0" e então o par Ð: sÑ vai ser
sß -
s s
uma apresentação de X0 ÐBÑ ÐEÑ como espaço vectorial tangente a E em 0 ÐBÑ,
cuja classe de equivalência vai ser uma estrutura de espaço vectorial tangente
de X0 ÐBÑ ÐEÑs . Vemos agora que, por ser : s ‰ 0 ‰ :" œ M.F , e portanto
HÐ: s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ œ M.X:ÐBÑ ÐFÑ , vem comutativo o diagrama
0
XB ÐEÑ qqqqqqqp s
X0 ÐBÑ ÐEÑ
-Æ- sÆ-
- s ,
X:ÐBÑ ÐFÑ qqqqqqqp s œ X:ÐBÑ ÐFÑ
X:sÐ0 ÐBÑÑ ÐFÑ
"
s‰0 ‰: Ñ:ÐBÑ
HÐ:

o que mostra que 0 œ H0B .


Quanto à unicidade, a existir uma estrutura de espaço vectorial tangente de

129Quando em VI.6.10 se disse que a derivada em B de M.E À E Ä E é a aplicação iden-


tidade de XB ÐEÑ, estava implícito que se considerava o mesmo espaço vectorial tangente
no domínio e no espaço de chegada.
§6. Espaço vectorial tangente 519

s , relativamente à qual 0 œ H0B , sabemos que existe um isomorfismo


X0 ÐBÑ ÐEÑ
-˜À X0 ÐBÑ ÐEÑ
s Ä X:ÐBÑ ÐFÑ tal que a apresentação Ð:ß -˜Ñ defina a estrutura de
s e então tem-se
espaço vectorial tangente de X0 ÐBÑ ÐEÑ

-˜ ‰ 0 œ HÐ:
s ‰ 0 ‰ :" Ñ:ÐBÑ ‰ - œ M.X:ÐBÑ ÐFÑ ‰ - œ -,

donde -˜ œ - ‰ 0" œ -
s. …
VI.6.14 (Corolário) Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferen-
ciável, B − E e XB ÐEÑ uma escolha de um espaço vectorial tangente a E em
B. Sejam Xs B ÐEÑ um espaço vectorial de dimensão finita e )À XB ÐEÑ Ä X
s B ÐEÑ
um isomorfismo. Existe então uma, e uma só, estrutura de espaço vectorial
tangente de Xs B ÐEÑ, tal que ) seja o correspondente isomorfismo canónico.130
Dem: Basta aplicar o resultado anterior ao difeomorfismo M.E À E Ä E. …

Enquanto o corolário VI.6.12 garante que duas escolhas de um espaço


vectorial tangente a E em B são sempre isomorfas, o que acabamos de
enunciar garante que todo o espaço vectorial isomorfo a um espaço
vectorial tangente pode também ser considerado como espaço vectorial
tangente. Estes dois resultados costumam ser lembrados dizendo que os
espaços tangentes estão definidos “a menos de isomorfismo”.

VI.6.15 Sejam E e E s conjuntos, munidos de estruturas diferenciáveis, e


0À E Ä E s uma aplicação suave. Suponhamos que se fizeram duas escolhas
XB ÐEÑ e X s B ÐEÑ de espaços vectoriais tangentes a E em B e duas escolhas
s
X0 ÐBÑ ÐEÑ e X s de espaços vectoriais tangentes a E
s 0 ÐBÑ ÐEÑ s em 0 ÐBÑ. Tem-se
então, notando H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ s e H0 s BÀ X
s B ÐEÑ Ä X s as deri-
s 0 ÐBÑ ÐEÑ
vadas de 0 em B, correspondentes às primeiras e às segundas escolhas, e
)À XB ÐEÑ Ä X s ÄX
s B ÐEÑ e s)À X0 ÐBÑ ÐEÑ s os correspondentes isomorfis-
s 0 ÐBÑ ÐEÑ
mos canónicos,
s) ‰ H0B œ H0
s B ‰ ),

por outras palavras, é comutativo o diagrama


H0B
XB ÐEÑ qqqqp s
X0 ÐBÑ ÐEÑ
)Æ) )w Æ s) .
s B ÐEÑ
X qqqqp X s
s 0 ÐBÑ ÐEÑ
s B
H0

130Enquanto um corolário precedente garante que duas escolhas de um espaço vectorial


tangente a E em B são sempre isomorfas, este garante que todo o espaço vectorial
isomorfo a um espaço vectorial tangente pode também ser considerado como espaço
vectorial tangente.
520 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Dem: Trata-se de uma consequência VI.6.9, visto que se tem


M.Es ‰ 0 œ 0 œ 0 ‰ M.E

e portanto tanto s) ‰ H0B como H0


s B ‰ ) são iguais à derivada de 0 em B,
quando no domínio se considera a escolha XB ÐEÑ e no espaço de chegada a
escolha X s .
s 0 ÐBÑ ÐEÑ …
VI.6.16 Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, B − E e
XB ÐEÑ uma escolha de um espaço vectorial tangente a E em B. Seja E s§E
s
um subconjunto, com B − E, sobre o qual consideramos a estrutura
diferenciável induzida. Podemos então escolher, de maneira única, um
subespaço vectorial XB ÐEÑs § XB ÐEÑ e uma estrutura de espaço vectorial
tangente de XB ÐEÑs , de modo que a derivada em B da inclusão +À E
s Ä E seja
s
a inclusão + À XB ÐEÑ Ä XB ÐEÑ.
w

Mais precisamente, se Ð:ß -Ñ define a estrutura de espaço vectorial tangente


de XB ÐEÑ, onde :À E Ä F § I é uma carta da estrutura diferenciável de E e
-À XB ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ é um isomorfismo, então, notando F s œ :ÐEÑs e
:
sÀ EsÄF s a carta da estrutura diferenciável induzida em E s, obtida por
restrição de :, tem-se
s œ -" ÐX:ÐBÑ ÐFÑÑ
XB ÐEÑ s

e, notando - s Ä X:ÐBÑ ÐFÑ


s À XB ÐEÑ s o isomorfismo restrição de -, o par Ð: sÑ
sß -
s
define a estrutura de espaço vectorial tangente de XB ÐEÑ.
Dem: Comecemos por supor que se escolheu uma apresentação Ð:ß -Ñ,
definindo a estrutura de espaço vectorial tangente de XB ÐEÑ, e que, a partir
daí, se escolheu o subespaço vectorial XB ÐEÑs § XB ÐEÑ e a respectiva estru-
tura de espaço vectorial tangente a Es em B da maneira indicada na segunda
parte do enunciado. Sendo + À XB ÐEÑ
w s Ä XB ÐEÑ a inclusão, o facto de
" s
:‰+‰: s À F Ä F ser a inclusão e de, por conseguinte,
s" Ñ:ÐBÑ À X:ÐBÑ ÐFÑ
HÐ: ‰ + ‰ : s Ä X:ÐBÑ ÐFÑ

ser também a inclusão, implica que vem comutativo o diagrama


+w
s
XB ÐEÑ qqqqqp XB ÐEÑ
sÆ-
- s -Æ-
s
X:ÐBÑ ÐFÑ qqqqqp X:ÐBÑ ÐFÑ,
s" Ñ:ÐBÑ
HÐ:‰+‰:

s Ä XB ÐEÑ. Resta-nos
o que mostra que se tem realmente +w œ H+B À XB ÐEÑ
provar a unicidade. Suponhamos então que existem dois subespaços
s e X
vectoriais XB ÐEÑ s de XB ÐEÑ, munidos de estruturas de espaço
s B ÐEÑ
s s Ä XB ÐEÑ e a
vectorial tangente a E em B, tais que a inclusão +w À XB ÐEÑ
§6. Espaço vectorial tangente 521

inclusão s+w À X s Ä XB ÐEÑ sejam as correspondentes derivadas em B da


s B ÐEÑ
s s ÄX
inclusão +À E Ä E. Sendo então )À XB ÐEÑ s o isomorfismo canónico,
s B ÐEÑ
portanto a derivada em B da identidade de Es, o facto de se ter + œ + ‰ M. s vai
E
w s
implicar, por VI.6.9, que + œ s+ ‰ )À XB ÐEÑ Ä XB ÐEÑ, e portanto que, para
w

cada ? − XB ÐEÑ s ,

? œ +w Ð?Ñ œ s+w Ð)Ð?ÑÑ œ )Ð?Ñ,


s . O facto de ) ser um isomorfismo garante agora que
s B ÐEÑ
em particular ? − X
s œX
XB ÐEÑ s e que ) é a aplicação identidade e a parte de unicidade de
s B ÐEÑ
VI.6.14 garante, por fim, que as duas estruturas de espaço vectorial tangente
s coincidem.
de XB ÐEÑ …
VI.6.17 Sempre que temos um conjunto E, munido de uma estrutura
diferenciável, um ponto B − E, para o qual se escolheu um espaço vectorial
tangente XB ÐEÑ, e um subconjunto E s § E com B − E s, fica subentendido,
s
salvo aviso em contrário, que ao escrevermos XB ÐEÑ nos referimos ao
subespaço vectorial de XB ÐEÑ cuja existência e unicidade se encontram
asseguradas pelo resultado precedente e que a estrutura de espaço vectorial
tangente de XB ÐEÑs é aquela que foi aí referida.
A convenção anterior poderia conduzir a situações conflituosas se não
fossem verdade os três resultados triviais seguintes (comparar com VI.1.12):
a) Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B − E s§E§I e
considere-se o espaço vectorial tangente XB ÐEÑ com o sentido usual. Tem-se
então que o espaço vectorial tangente XB ÐEÑ s , no sentido usual, coincide com
s
o obtido quando se olha para E como subconjunto de E.
b) Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, e B − E e
suponhamos escolhido um espaço vectorial tangente XB ÐEÑ. Tem-se então
que, quando se olha para E como parte de E, o correspondente espaço
vectorial tangente XB ÐEÑ é o mesmo.
c) Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, um ponto
B − E, para o qual se escolheu um espaço vectorial tangente XB ÐEÑ, e E s§E
um subconjunto, com B − E s, e consideremos o correspondente subespaço
s com a correspondente estrutura de espaço vectorial tangente
vectorial XB ÐEÑ
a Es em B. Seja E˜ § E s um subconjunto, com B − E˜. Tem-se então que o
correspondente espaço vectorial tangente XB ÐEÑ ˜ , a E˜ no ponto B, é o mesmo
quer se considere E˜ como parte de E s ou como parte de E.
Dem: Para a alínea a) basta atender a que, dando a XB ÐEÑ s o sentido usual, a
s s
derivada da inclusão E Ä E fica a ser a inclusão XB ÐEÑ Ä XB ÐEÑÞ A alínea
b) é trivial. Para a alínea c) basta repararmos que, se considerarmos XB ÐEÑ ˜ e
a respectiva respectiva estrutura de espaço tangente a E˜ em B a partir de E˜
ser encarado como parte de E s, resulta de VI.6.9, aplicado às inclusões
522 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

E˜ Ä Es e Es Ä E, que a derivada em B da inclusão E˜ Ä E fica a ser a


˜ Ä XB ÐEÑ.
inclusão XB ÐEÑ …
VI.6.18 Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, e B − E,
para o qual se escolheu um espaço vectorial tangente XB ÐEÑ. Seja E s§E
s
uma vizinhança de B em E. Tem-se então XB ÐEÑ œ XB ÐEÑ.
Dem: Seja Ð:ß -Ñ definindo a estrutura de espaço vectorial tangente de
XB ÐEÑ, onde :À E Ä F § I é uma carta da estrutura diferenciável de E e
-À XB ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ é um isomorfismo. Tendo em conta VI.6.16, sabemos
que, notando F s œ :ÐEÑs e : sÄF
sÀ E s a carta da estrutura diferenciável
s
induzida em E, obtida por restrição de :, tem-se
s œ -" ÐX:ÐBÑ ÐFÑÑ
XB ÐEÑ s .

Basta agora repararmos que o facto de E s ser uma vizinhança de B em E


s
implica que F é uma vizinhança de :ÐBÑ em F , o que implica que
X:ÐBÑ ÐFÑ s œ XB ÐEÑ.
s œ X:ÐBÑ ÐFÑ, e portanto que XB ÐEÑ …

VI.6.19 Sejam E e E s conjuntos, munidos de estruturas diferenciáveis, 0 À E Ä E s


s espaços vectoriais tangentes
uma aplicação suave, B − E e XB ÐEÑ e X0 ÐBÑ ÐEÑ
s
a E em B e a E e 0 ÐBÑ. Tem-se então:
a) Se Ew § E é um subconjunto, com B − Ew , então a derivada em B da
restrição 0ÎEw À Ew Ä Es é a restrição a XB ÐEw Ñ § XB ÐEÑ da derivada
s .
H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ
w
b) Se Es §E s é um subconjunto tal que 0 ÐEÑ § E sw , então a aplicação linear
s tem imagem contida em X0 ÐBÑ ÐE
H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ sw Ñ e coincide com a
w
derivada de 0 quando considerada como aplicação suave de E para Es.
s é a composta de
Dem: A alínea a) resulta de que a restrição 0ÎEw À Ew Ä E
0À E Ä Es com a inclusão Ew Ä E. A alínea b) resulta de que a aplicação 0 ,
considerada como aplicação de E para E s, é a composta da aplicação 0 ,
w
s
considerada como aplicação de E para E com a inclusão E sw Ä Es. …
VI.6.20 (Corolário) Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferen-
ciável, e B − E e consideremos duas escolhas de espaço vectorial tangente a
E em B, XB ÐEÑ e X s B ÐEÑ, com o correspondente isomorfismo canónico
s
)À XB ÐEÑ Ä X B ÐEÑ. Seja Ew § E um subconjunto, com B − Ew e
consideremos as correspondentes escolhas dos subespaços vectoriais
s B ÐEw Ñ § X
XB ÐEw Ñ § XB ÐEÑ e X s B ÐEÑ. Tem-se então que X s B ÐEw Ñ œ )ÐXB ÐEw ÑÑ
e o isomorfismo canónico ) À XB ÐE Ñ Ä X
w w s B ÐE Ñ é a restrição de ).
w

Dem: Basta aplicar as duas alíneas do resultado precedente à identidade


M.E À E Ä E, quando se considera a primeira escolha de espaço vectorial
tangente no domínio e a segunda no contradomínio. …
§6. Espaço vectorial tangente 523

VI.6.21 Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, e B − E,


para o qual se escolheu um espaço vectorial tangente XB ÐEÑ. Seja Ð:ß -Ñ
definindo a estrutura de espaço vectorial tangente de XB ÐEÑ, em que
:À E Ä F § I é uma carta da estrutura diferenciável de E e
-À XB ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ é um isomorfismo. Tem-se então
H:B œ -À XB ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ.

Dem: Trata-se de uma consequência imediata da comutatividade do diagra-


ma
-
XB ÐEÑ qqqqp X:ÐBÑ ÐFÑ
-Æ- M. Æ M. ,
X:ÐBÑ ÐFÑ qqqqp X:ÐBÑ ÐFÑ
M.X:ÐBÑ ÐFÑ

em que M.X:ÐBÑ ÐFÑ é a derivada em :ÐBÑ da aplicação suave

M.F ‰ : ‰ :" œ M.F À F Ä F . …

VI.6.22 Sejam E e Ew conjuntos, munidos de estruturas diferenciáveis, e B − E e


C − Ew fixados e suponhamos escolhidos espaços vectoriais tangentes XB ÐEÑ
e XC ÐEw Ñ. Existe então uma, e uma só, estrutura de espaço vectorial tangente
a E ‚ Ew em ÐBß CÑ no espaço vectorial XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ, relativamente à qual
as derivadas das projecções canónicas 1" À E ‚ Ew Ä E e 1# À E ‚ Ew Ä Ew ,
HÐ1" ÑÐBßCÑ À XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XB ÐEÑ
HÐ1# ÑÐBßCÑ À XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XC ÐEw Ñ

sejam as projecções canónicas.


Mais precisamente, se Ð:ß -Ñ define a estrutura de espaço vectorial tangente
de XB ÐEÑ, onde :À E Ä F § I é uma carta de E e -À XB ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ é
um isomorfismo, e se Ð<ß .Ñ define a estrutura de espaço vectorial tangente
de XC ÐEw Ñ, onde <À Ew Ä G § J é uma carta de Ew e .À XC ÐEw Ñ Ä X<ÐCÑ ÐGÑ
é um isomorfismo, então o par Ð: ‚ <ß - ‚ .Ñ define a estrutura de espaço
vectorial tangente que consideramos em XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ.
Dem: Para provar a unicidade, atendemos à afirmação de unicidade em
VI.6.14, reparando que, a haver duas estruturas de espaço vectorial tangente
de XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ, o facto de se ter 1" ‰ M.E‚Ew œ 1" e 1# ‰ M.E‚Ew œ 1#
implicava que o isomorfismo canónico XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ,
da primeira estrutura de espaço vectorial tangente para a segunda, composto
com cada uma das projecções
XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XB ÐEÑ, XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XB ÐEw Ñ,

era igual a essa mesma projecção, e portanto que esse isomorfismo era a
identidade. Consideremos então Ð:ß -Ñ definindo a estrutura de espaço
524 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

vectorial tangente de XB ÐEÑ, onde :À E Ä F § I é uma carta de E e


-À XB ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ é um isomorfismo, e Ð<ß .Ñ definindo a estrutura de
espaço vectorial tangente de XC ÐEw Ñ, onde <À Ew Ä G § J é uma carta de Ew
e .À XC ÐEw Ñ Ä X<ÐCÑ ÐGÑ é um isomorfismo. Podemos então considerar a carta
: ‚ <À E ‚ Ew Ä F ‚ G § I ‚ J da estrutura diferenciável de E ‚ Ew e o
isomorfismo
- ‚ .À XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ ‚ X<ÐCÑ ÐGÑ œ X:‚<ÐBßCÑ ÐF ‚ GÑ

e o par Ð: ‚ <ß - ‚ .Ñ vai definir uma estrutura de espaço vectorial tangente


em XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ, estrutura que, como vamos ver, vai verificar as condi-
ções do enunciado. O facto de a aplicação
: ‰ 1" ‰ Ð: ‚ <Ñ" À F ‚ G Ä F
ser precisamente a primeira projecção implica que a sua derivada no ponto
Ð:ÐBÑß <ÐCÑÑ é a primeira projecção
X:‚<ÐBßCÑ ÐF ‚ GÑ œ X:ÐBÑ ÐFÑ ‚ X<ÐCÑ ÐGÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ,

aplicação linear que composta com


- ‚ .À XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ ‚ X<ÐCÑ ÐGÑ

é igual à composta da primeira projecção XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XB ÐEÑ com o


isomorfismo -À XB ÐEÑ Ä X:ÐBÑ ÐFÑ:
XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ qqqp XB ÐEÑ
-‚.Æ-‚. -Æ- .
X:ÐBÑ ÐFÑ ‚ X<ÐCÑ ÐGÑ qqqp X:ÐBÑ ÐFÑ

Ficou assim provado que a derivada da primeira projecção E ‚ Ew Ä E no


ponto ÐBß CÑ é igual à primeira projecção XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XB ÐEÑ e do
mesmo modo se verifica que a derivada da segunda projecção E ‚ Ew Ä Ew
no ponto ÐBß CÑ é a segunda projecção XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XC ÐEw Ñ, o que
termina a demonstração. …
VI.6.23 Sejam E e Ew conjuntos, munidos de estruturas diferenciáveis, e B − E e
C − Ew , relativamente aos quais se escolheram espaços vectoriais tangentes
XB ÐEÑ e XC ÐEw Ñ, e consideremos a correspondente estrutura de espaço
vectorial tangente em XÐBßCÑ ÐE ‚ Ew Ñ œ XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ, referida no
resultado precedente.
a) Sejam E˜ um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável e D − E˜,
com uma escolha de espaço vectorial tangente XD ÐEÑ ˜ . Sejam 0 À E˜ Ä E e
1À E˜ Ä E aplicações suaves, com 0 ÐDÑ œ B e 1ÐDÑ œ C , e consideremos a
w

correspondente aplicação suave 2À E˜ Ä E ‚ Ew , com componentes 0 e 1.


Tem-se então que a derivada
§6. Espaço vectorial tangente 525

˜ Ä XÐBßCÑ ÐE ‚ Ew Ñ œ XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ


H2D À XD ÐEÑ

está definida por H2D ÐAÑ œ ÐH0D ÐAÑß H1D ÐAÑÑ.


b) Sejam E s eE sw conjuntos, munidos de estruturas diferenciáveis, B s−E s e
w
sC − E s , relativamente aos quais se escolheram espaços vectoriais tangentes
s e XsC ÐE
XBs ÐEÑ sw Ñ e consideremos a correspondente escolha de espaço vectorial
tangente XÐBßCÑ s sw
s s ÐE ‚ E Ñ œ XB
s sw
s ÐEÑ ‚ XsC ÐE Ñ, referida no resultado precedente.
Sejam 0 À E s Ä E e 1À E sw Ä Ew aplicações suaves tais que 0 ÐBÑ s œB e
s œ C . Tem-se então, para a correspondente aplicação suave
0 ÐCÑ
0 ‚ 1À E s‚E s w Ä E ‚ Ew ,

HÐ0 ‚ 1ÑÐBßCÑ
s s œ H0B
s sw w
s ÐEÑ ‚ XsC ÐE Ñ Ä XB ÐEÑ ‚ XC ÐE Ñ.
s ‚ H1sC À XB

Dem: Para a alínea a), atendemos a que, sendo 1" À E ‚ Ew Ä E e


1# À E ‚ Ew Ä Ew as projecções canónicas, tem-se 0 œ 1" ‰ 2 e 1 œ 1# ‰ 2 ,
donde H0D œ HÐ1" ÑÐBßCÑ ‰ H2D e H1D œ HÐ1# ÑÐBßCÑ ‰ H2D e a que HÐ1" ÑÐBßCÑ
e HÐ1# ÑÐBßCÑ são as projecções canónicas XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XB ÐEÑ e
XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XC ÐEw Ñ. A alínea b) vai ser uma consequência da alínea
a), se repararmos que, sendo 1 s‚E
s" À E sw Ä Es e 1 s‚E
s# À E sw Ä Esw as
projecções canónicas, 0 ‚ 1 é a aplicação cujas componentes são 0 ‰ 1 s" e
1‰1 s# . …
VI.6.24 Quando temos dois conjuntos E e Ew , munidos de estruturas diferen-
ciáveis e pontos B − E e C − Ew , relativamente aos quais se fixaram espaços
vectoriais tangentes XB ÐEÑ e XC ÐEw Ñ, fica subentendido, salvo aviso em
contrário, que no conjunto E ‚ Ew , com a estrutura diferenciável produto, se
considera como espaço vectorial tangente XÐBßCÑ ÐE ‚ Ew Ñ o produto
cartesiano XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ, com a estrutura referida em VI.6.22.
Como é usual, para nos assegurarmos que a convenção anterior não conduz a
ambiguidades, necessitamos dos dois factos seguintes:
a) Sejam I e I w espaços vectoriais de dimensão finita e E § I e Ew § I w
dois subconjuntos, sobre os quais se considera a estrutura diferenciável
canónica. Dados B − E e C − Ew com as correspondentes escolhas canónicas
de espaços vectoriais tangentes XB ÐEÑ § I e XC ÐEw Ñ § I w , tem-se então que,
para o subconjunto E ‚ Ew de I ‚ I w , a escolha canónica do espaço
vectorial tangente XÐBßCÑ ÐE ‚ Ew Ñ œ XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ coincide com a escolha
produto referida atrás.
b) Sejam E e Ew conjuntos, munidos de estruturas diferenciáveis, e E s§Ee
w
Es § Ew subconjuntos, sobre os quais se consideram as estruturas diferen-
ciáveis induzidas. Sejam B − E s e C−E sw , relativamente aos quais se esco-
lheram espaços vectoriais tangentes XB ÐEÑ e XC ÐEw Ñ e consideremos a corres-
pondente estrutura de espaço vectorial tangente a E ‚ Ew em ÐBß CÑ de
XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ. Considerando as escolhas induzidas de espaços vectoriais
526 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

tangentes XB ÐEÑs § XB ÐEÑ e XC ÐE sw Ñ § XC ÐEw Ñ, e a correspondente escolha


produto do espaço vectorial tangente XÐBßCÑ ÐE s‚E sw Ñ œ XB ÐEÑ
s ‚ XC ÐE s w Ñ,
tem-se então que esta última coincide com a escolha induzida pela escolha de
XÐBßCÑ ÐE ‚ Ew Ñ considerada.
Dem: Para a alínea a) basta atendermos a que, para a escolha canónica do
espaço vectorial tangente XÐBßCÑ ÐE ‚ Ew Ñ œ XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ, as derivadas
das projecções canónicas E ‚ Ew Ä E e E ‚ Ew Ä Ew são as projecções
canónicas XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XB ÐEÑ e XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ Ä XC ÐEw Ñ. Para a
alínea b) reparamos que, considerando a escolha produto do espaço vectorial
tangente XÐBßCÑ ÐE s‚E sw Ñ œ XB ÐEÑ
s ‚ XC ÐE sw Ñ, a derivada da inclusão
Es‚E sw Ä E ‚ Ew no ponto ÐBß CÑ fica a ser, pela alínea b) de VI.6.23, o
produto cartesiano das inclusões XB ÐEÑ s Ä XB ÐEÑ e XC ÐE sw Ñ Ä XC ÐEw Ñ, isto é,
a inclusão
sw Ñ Ä XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ,
s ‚ XC ÐE
XB ÐEÑ

atendendo-se então à caracterização da escolha induzida de espaço vectorial


tangente, referida em VI.6.16. …
VI.6.25 Sejam E um conjunto, munido de uma estrutura diferenciável, B! − E e
? − XB! ÐEÑ. Tem-se então:
a) Se J é um espaço vectorial de dimensão finita e se 0 ß 1À E Ä J são duas
aplicações suaves, então, para a aplicação suave 0  1À E Ä J , tem-se
HÐ0  1ÑB! Ð?Ñ œ H0B! Ð?Ñ  H1B! Ð?Ñ.

b) Sejam J ß Kß L espaços vectoriais de dimensão finita e 1À J ‚ K Ä L


uma aplicação bilinear. Se 0 À E Ä J e 1À E Ä K são aplicações suaves e
0 † 1À E Ä L é a aplicação suave definida por 0 † 1ÐBÑ œ 1Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ,
então
HÐ0 † 1ÑB! Ð?Ñ œ 1ÐH0B! Ð?Ñß 1ÐB! ÑÑ  1Ð0 ÐB! Ñß H1B! Ð?ÑÑ.

Dem: Trata-se de duas consequências da alínea a) de VI.6.23 e do teorema


da derivação da função composta, se repararmos que 0  1 é a composta da
aplicação suave E Ä J ‚ J , com componentes 0 e 1, com a aplicação
suave  À J ‚ J Ä J e que 0 † 1 é a composta da aplicação suave
E Ä J ‚ K, com componentes 0 e 1, com a aplicação suave
1À J ‚ K Ä L e se nos lembramos que HÐCßDÑ Ð@ß AÑ œ @  A e
H1ÐCßDÑ Ð@ß AÑ œ 1Ð@ß DÑ  1ÐCß AÑ. …

VI.6.26 (Derivada total e derivadas parciais) Sejam E, Ew e E s conjuntos,


s
munidos de estruturas diferenciáveis, e 0 À E ‚ E Ä E uma aplicação suave.
w

Sejam B! − E, C! − Ew e D! − E s, com D! œ 0 ÐB! ß C! Ñ, suponhamos esco-


s e consideremos
lhidos espaços vectoriais tangentes XB! ÐEÑ, XC! ÐEw Ñ e XD! ÐEÑ
§6. Espaço vectorial tangente 527

a correspondente escolha do espaço vectorial tangente


XÐB! ßC! Ñ ÐE ‚ Ew Ñ œ XB! ÐEÑ ‚ XC! ÐEw Ñ.

s e 0B! ߆ À Ew Ä E
Sejam 0†ßC! À E Ä E s as aplicações suaves definidas por

0†ßC! ÐBÑ œ 0 ÐBß C! Ñ, 0B! ߆ ÐCÑ œ 0 ÐB! ß CÑ.

Tem-se então, para cada Ð?ß @Ñ − XB! ÐEÑ ‚ XC! ÐEw Ñ,


H0ÐB! ßC! Ñ Ð?ß @Ñ œ HÐ0†ßC! ÑB! Ð?Ñ  HÐ0B! ߆ ÑC! Ð@Ñ.

Dem: Uma vez que a aplicação 0†ßC! À E Ä E s é a composta de


w s
0 À E ‚ E Ä E com a aplicação E Ä E ‚ E definida por B È ÐBß C! Ñ, esta
w

última tendo a segunda componente constante, e portanto com derivada


identicamente nula, concluímos pelo teorema de derivação da função
composta que se tem
HÐ0†ßC! ÑB! Ð?Ñ œ H0ÐB! ßC! Ñ Ð?ß !Ñ.

Do mesmo modo se vê que


HÐ0B! ߆ ÑC! Ð@Ñ œ H0ÐB! ßC! Ñ Ð!ß @Ñ

pelo que basta agora atendermos à linearidade de H0ÐB! ßC! Ñ e ao facto de se ter
Ð?ß @Ñ œ Ð?ß !Ñ  Ð!ß @Ñ. …

O leitor que teve a paciência de acompanhar o que foi feito até agora
nesta secção poderá porventura perguntar-se se valeu a pena perder tanto
tempo para obter tão poucos resultados palpáveis. Possivelmente essa
pergunta até terá alguma razão de ser e por alguma razão colocámos esta
secção como a última deste livro… Deve, de qualquer modo, dizer-se que
a noção de espaço vectorial tangente a uma variedade está omnipresente
em qualquer texto de Geometria pelo que é importante conhecer o seu
significado, mesmo quando soubermos como a podemos dispensar. Uma
das situações em que a noção de espaço vectorial tangente se torna
interessante é quando é possível exibir um espaço vectorial tangente que
veícule alguma informação geométrica interessante. É o que fazemos em
seguida com o exemplo da variedade de Grassmann abstracta †ÐIÑ dos
subespaços vectoriais dum espaço vectorial I (cf. VI.1.9 e VI.2.9).

VI.6.27 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8, munido


de produto interno e consideremos o conjunto KÐIÑ § PÐIà IÑ das
projecções ortogonais sobre subespaços vectoriais de I . Lembremos que,
como se viu em II.5.13, KÐIÑ é uma variedade sem bordo tendo em cada
-! œ 1J como espaço vectorial tangente o conjunto das aplicações lineares
! − PÐIà IÑ cuja matriz relativa à soma directa ortogonal I œ J Š J ¼ é
do tipo
528 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

”! ! •
! !‡#ß"
.
#ß"

com !#ß" − PÐJ à J ¼ Ñ aplicação linear arbitrária.


Uma consequência imediata desta caracterização é a existência de um iso-
morfismo de X1J ÐKÐIÑÑ sobre PÐJ à J ¼ Ñ que aplica ! em !ÎJ .
Reparemos agora que, se J § I tem dimensão 5 , tem lugar um isomorfismo
;J de J ¼ sobre o espaço vectorial quociente I J , que a cada @ − J associa a
¼

classe de equivalência Ò@ÓJ , como se reconhece se repararmos que temos uma


aplicação linear injectiva entre espaços vectoriais com a mesma dimensão
8  5 .131 Ao isomorfismo ;J À J ¼ Ä I J fica associado um isomorfismo
PÐJ à J ¼ Ñ Ä PÐJ à I
J Ñ , definido por " È ;J ‰ " .
VI.6.28 Nas condições anteriores vamos notar, para cada subespaço vectorial
J § I,
I
3J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä PÐJ à Ñ
J
o isomorfismo obtido por composição dos isomorfismos
I
X1J ÐKÐIÑÑ Ä PÐJ à J ¼ Ñ Ä PÐJ à Ñ
J
atrás referidos, ou seja, o definido por 3J Ð!Ñ œ ;J ‰ !ÎJ , ou, mais precisa-
mente, por
3J Ð!ÑÐ?Ñ œ Ò!Ð?ÑÓJ ,
para cada ? − J .
VI.6.29 (Lema Fundamental) Sejam I e I s espaços vectoriais de dimensão
finita, munidos de produto interno, e 0À I Ä I s uma aplicação linear
injectiva, não necessariamente ortogonal, e consideremos os correspondentes
conjuntos de projecções ortogonais KÐIÑ e KÐIÑ s e a aplicação suave
s ,
0‡ À KÐIÑ Ä KÐIÑ 0‡ Ð1J Ñ œ 0Ð10ÐJ Ñ Ñ

(cf. III.1.21). Para cada 1J − KÐIÑ, a derivada


s
HÐ0‡ Ñ1J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä X10ÐJ Ñ ÐKÐIÑÑ

torna comutativo o diagrama

131Repare-se, a propósito, que o resultado enunciado em III.3.18 não é mais do que a


sobrejectividade desta aplicação linear, uma vez que os subespaços afins de subespaço
vectorial associado J são precisamente os elementos de I
J.
§6. Espaço vectorial tangente 529

HÐ0‡ Ñ1J
X1J ÐKÐIÑÑ qqqqp s
X10ÐJ Ñ ÐKÐIÑÑ
3J Æ Æ 30ÐJ Ñ ,
s
PÐJ à I

I
qqqqp PÐ0ÐJ Ñà 0ÐJ ÑÑ

s
onde, notando Ò0ÓÀ I
J Ä
I
0ÐJ Ñ a aplicação resultante de 0 por passagem ao
s
quociente, 0æ À PÐJ à I I
J Ñ Ä PÐ0ÐJ Ñà 0ÐJ Ñ Ñ é a aplicação linear definida por
0æ Ð" Ñ œ Ò0Ó ‰ " ‰ Ð0ÎJ Ñ .
"

Dem: Trata-se de uma consequência de III.1.23, uma vez que, se


! − X1J ÐKÐIÑÑ, tem-se, para cada ? − J ,
30ÐJ Ñ ÐHÐ0‡ Ñ1J Ð!ÑÑÐ0Ð?ÑÑ œ ÒHÐ0‡ Ñ1J Ð!ÑÐ0Ð?ÑÑÓ0ÐJ Ñ œ
œ Ò10ÐJ Ѽ Ð0Ð!Ð?ÑÑÓ0ÐJ Ñ œ Ò0Ð!Ð?ÑÑÓ0ÐJ Ñ œ
œ Ò0ÓÐÒ!Ð?ÑÓJ Ñ œ Ò0ÓÐ3J Ð!ÑÐ?ÑÑ œ 0æ Ð3J Ð!ÑÑÐ0Ð?ÑÑ. …

VI.6.30 (Corolário) Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão


finita, munido de dois produtos internos e notemos 1J e 1 sJ as projecções
ortogonais de I sobre J relativas ao primeiro e ao segundo produto internos,
KÐIÑ e KÐIÑ s as variedades de Grassmann correspondentes e
I s I
3J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä PÐJ à Ñ, 3J À X1sJ ÐKÐIÑÑ
s Ä PÐJ à Ñ
J J
os isomorfismos referidos em VI.6.28. Tem-se então que a derivada do difeo-
morfismo AÀ KÐIÑ Ä KÐIÑs , que a cada 1J associa 1
sJ (cf. III.1.22) verifica
I
3J ‰ HA1J œ 3J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä PÐJ à
s Ñ.
J

H A1 J
X1J ÐKÐIÑÑ qqqqp s
X1J ÐKÐIÑÑ
3J Æ Æs3J
PÐJ à I
JÑ qqqqp PÐJ à I

M.
Dem: Trata-se do caso particular do resultado precedente em que se toma
para 0 a identidade de I , com o primeiro produto interno no domínio e o
segundo produto interno no espaço de chegada. …
VI.6.31 (O espaço vectorial tangente à variedade de Grassmann abstracta)
Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8 e consi-
deremos na variedade de Grassmann †ÐIÑ dos subespaços vectoriais de I a
sua estrutura diferenciável canónica. Se J − †ÐIÑ, o espaço vectorial
I
XJ ІÐIÑÑ œ PÐJ à Ñ
J
530 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

possui uma estrutura canónica de espaço vectorial tangente a †ÐIÑ em J


definida, para cada produto interno em I , pela apresentação Ð:ß 3J" Ñ, onde,
notando KÐIÑ o conjunto das projecções ortogonais sobre subespaços
vectoriais de I , :À †ÐIÑ Ä KÐIÑ é a carta definida por :ÐJ Ñ œ 1J e
3J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä PÐJ à IJ Ñ é o isomorfismo definido em VI.6.28.
Dem: Tudo o que é preciso mostrar é que, dados dois produtos internos em
I , com os correspondentes cartas :À †ÐIÑ Ä KÐIÑ e : s
sÀ †ÐIÑ Ä KÐIÑ e
I
isomorfismos 3J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä PÐJ à J Ñ e s s Ä PÐJ à I
3J À X1sJ ÐKÐIÑÑ J ,
Ñ
tem-se, para o difeomorfismo : s
s ‰ : À KÐIÑ Ä KÐIÑ,
"

I s
HÐ: 3"
s ‰ :" Ñ1J ‰ 3J" œ s J À PÐJ à Ñ Ä X1sJ ÐKÐIÑÑ .
J
Ora isso é uma consequência imediata do corolário precedente, uma vez que
: s
s ‰ :" À KÐIÑ Ä KÐIÑ é precisamente o difeomorfismo A que aí foi
referido. …
VI.6.32 Sejam I e I s espaços vectoriais de dimensão finita e 0À I Ä Is uma
aplicação linear injectiva e consideremos a correspondente aplicação suave
0‡ À †ÐIÑ Ä †ÐIÑs definida por 0‡ ÐJ Ñ œ 0ÐJ Ñ (cf. VI.1.20). Para cada
J − †ÐIÑ, considerando as estruturas canónicas de espaço vectorial
tangente em XJ ІÐIÑÑ œ PÐJ à I Ñ e em X0ÐJ Ñ Ð†ÐIÑÑ s œ PÐ0ÐJ Ñà Is Ñ,
J 0ÐJ Ñ
tem-se então que a aplicação linear derivada
I Is
HÐ0‡ ÑJ À PÐJ à Ñ Ä PÐ0ÐJ Ñà Ñ
J 0ÐJ Ñ
s
é a aplicação 0æ À PÐJ à I I
J Ñ Ä PÐ0ÐJ Ñà 0ÐJ Ñ Ñ definida por 0æ Ð" Ñ œ
s
Ò0Ó ‰ " ‰ Ð0ÎJ Ñ" , onde Ò0ÓÀ I I
J Ä 0ÐJ Ñ é a aplicação resultante de 0 por
passagem ao quociente.
Dem: Fixemos produtos internos em I e I s e consideremos as corresponden-
tes cartas :À †ÐIÑ Ä KÐIÑ e : s Ä KÐIÑ
sÀ †ÐIÑ s . Por definição, a aplicação
s
linear HÐ0‡ ÑJ À PÐJ à I I
J Ñ Ä PÐ0ÐJ Ñà 0ÐJ Ñ Ñ é aquela que torna comutativo o
diagrama
HÐ0‡ ÑJ s
PÐJ à I
JÑ qqqqqqqp I
PÐ0ÐJ Ñà 0ÐJ ÑÑ
3J" Æ - s
-Æ3 "
0ÐJ Ñ
X1J ÐKÐIÑÑ qqqqqqqp s ÑÑ,
X10ÐJ Ñ ÐKÐI
s ‰ 0‡ ‰ :" Ñ1J
HÐ:

ou, o que é o mesmo, aquela que torna comutativo o diagrama


§6. Espaço vectorial tangente 531

s ‰ 0‡ ‰ :" Ñ1J
HÐ:
X1J ÐKÐIÑÑ qqqqqqp s
X10ÐJ Ñ ÐKÐIÑÑ
3J Æ Æ 30ÐJ Ñ Þ
s
PÐJ à I
JÑ qqqqqqp I
PÐ0ÐJ Ñà 0ÐJ ÑÑ
HÐ0‡ ÑJ
O facto de se ter efectivamente HÐ0‡ ÑJ œ 0æ é agora uma consequência de
VI.6.29, uma vez que a aplicação : s está definida
s ‰ 0‡ ‰ :" À KÐIÑ Ä KÐIÑ
por 1J È 10ÐJ Ñ , sendo assim aquela que notámos 0‡ naquele resultado. …
VI.6.33 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial, real ou complexo, de
dimensão 8 e I w § I um subespaço vectorial e lembremos que, como se viu
em VI.1.13, †ÐI w Ñ § †ÐIÑ e a estrutura diferenciável induzida em †ÐI w Ñ
pela estrutura diferenciável canónica de †ÐIÑ é a sua estrutura diferenciável
canónica. Para cada J − †ÐI w Ñ, considerando as correspondentes estruturas
w
de espaço vectorial tangente de XJ ІÐI w ÑÑ œ PÐJ à IJ Ñ e de XJ ІÐIÑÑ œ
PÐJ à IJ Ñ, tem-se que a primeira coincide com a estrutura de espaço vectorial
tangente que resulta de olhar para †ÐI w Ñ como parte de †ÐIÑ (cf. VI.6.16).
Dem: Tendo em conta a definição da estrutura induzida de espaço vectorial
tangente em VI.6.16, basta mostrarmos que a derivada da inclusão
w
+À †ÐI w Ñ Ä †ÐIÑ no ponto J é a inclusão de PÐJ à IJ Ñ em PÐJ à I J Ñ e isso é
o caso particular do resultado precedente, em que se toma para 0 a inclusão
de I w em I . …
VI.6.34 (Variedades de Grassmann abstractas e fibrados vectoriais) Sejam
I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8, K um espaço
vectorial real de dimensãi finita, E § K e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial
com IB § I . Consideremos a correspondente aplicação suave
FÀ E Ä †ÐIÑ, definida por FÐBÑ œ IB (cf. VI.1.21). Para cada B − E,
considerando a estrutura canónica de espaço vectorial tangente em
XIB ІÐIÑÑ œ PÐIB à IIB Ñ, a derivada
I
HFB À XB ÐEÑ Ä XIB ІÐIÑÑ œ PÐIB à Ñ
IB
admite as duas seguintes caracterizações alternativas:
1) Fixado um produto interno auxiliar em I , com a correspondente segunda
forma fundamental 2B À XB ÐEÑ ‚ IB Ä IB¼ ,
HFB Ð?ÑÐAÑ œ Ò2B Ð?ß AÑÓIB .

2) Se D − I , tem-se HFB Ð?ÑÐAÑ œ ÒDÓIB se, e só se, Ð?ß DÑ é tangente ao


espaço total I em ÐBß AÑ.
Dem: Fixemos um produto interno auxiliar em I e consideremos a corres-
pondente variedade KÐIÑ § PÐIà IÑ e a carta :À †ÐIÑ Ä KÐIÑ, definida
por :ÐJ Ñ œ 1J . Lembremos que, sendo 3J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä PÐJ à I J Ñ o iso-
532 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

morfismo definido em VI.6.28, Ð:ß 3J" Ñ é uma apresentação de PÐJ à I



como espaço vectorial tangente a †ÐIÑ em J . Utilizando naturalmente
M.E À E Ä E como carta do domínio E, podemos assim concluir que
I
HFB œ 3IB ‰ HÐ: ‰ FÑB À XB ÐEÑ Ä PÐIB à Ñ
IB
ou seja, atendendo a que :ÐFÐBÑÑ é a projecção ortogonal 1B de I sobre IB ,
HFB Ð?ÑÐAÑ œ 3IB ÐH1B Ð?ÑÑÐAÑ œ ÒH 1B Ð?ÑÐAÑÓIB œ Ò2BÐ?ß AÑÓIB .

A segunda caracterização é uma consequência da primeira, tendo em conta a


caracterização do espaço tangente ao espaço total I nas alíneas b) e c) de
III.3.19. …

Vamos agora referir uma das concretizações mais utilizadas de espaço


tangente a uma variedade abstracta num dos seus pontos, aquela que
caracteriza os vectores tangentes como operadores diferenciais.

VI.6.35 Seja Q uma variedade abstracta. Vamos notar YQ o espaço vectorial,


em geral de dimensão infinita, das aplicações suaves !À Q Ä ‘ (cf.
VI.1.28), espaço vectorial em que está definida uma multiplicação por
! † " ÐBÑ œ !ÐBÑ" ÐBÑ.132
Dado B! − Q , vamos chamar derivação de Q em B! a uma aplicação linear
AÀ YQ Ä ‘, que verifique a condição
AÐ! † " Ñ œ AÐ!Ñ" ÐB! Ñ  !ÐB! ÑAÐ" Ñ.
Notaremos W/<ÐQ ß B! Ñ o conjunto de todas as derivações AÀ YQ Ä ‘, de
Q em B! , conjunto que é trivialmente um espaço vectorial.

A priori poderia parecer que o espaço vectorial W/<ÐQ ß B! Ñ, tal como


YQ , fosse, em geral, de dimensão infinita. De facto, como veremos nesta
secção, trata-se de um espaço vectorial de dimensão finita, igual à
dimensão de Q em B! . Mais precisamente, escolhido um espaço vectorial
tangente XB! ÐQ Ñ, vamos definir um isomorfismo XB! ÐQ Ñ Ä
W/<ÐQ ß B! Ñ.

VI.6.36 Sejam Q uma variedade, B! − Q e XB! ÐQ Ñ um espaço vectorial


tangente a Q em B! . Para cada ? − XB! ÐQ Ñ, tem então lugar uma derivação
H? À YQ Ä ‘, H? Ð!Ñ œ H!B! Ð?Ñ,

a derivação associada ao vector tangente ?, e ficamos assim com uma apli-


cação linear XB! ÐQ Ñ Ä W/<ÐQ ß B! Ñ, que a ? associa H? .

132Y é assim uma álgebra.


Q
§6. Espaço vectorial tangente 533

Dem: O facto de cada aplicação H? À YQ Ä ‘ ser uma derivação é uma


consequência de VI.6.25 e a linearidade da aplicação ? È H? é trivial. …
VI.6.37 Sejam Q e Q s variedades e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave. Se
B! − Q , tem lugar uma aplicação linear 0 ‡ À YQs Ä YQ , definida por
0 ‡ Ð!Ñ œ ! ‰ 0 , que verifica 0 ‡ Ð! † " Ñ œ 0 ‡ Ð!Ñ † 0 ‡ Ð" Ñ,133 assim como uma
aplicação linear
s ß 0 ÐB! ÑÑ, 0‡ ÐAÑ œ A ‰ 0 ‡ ,
0‡ À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä W/<ÐQ

ou seja, mais explicitamente, 0‡ ÐAÑÐ!Ñ œ AÐ! ‰ 0 Ñ.


Dem: O facto de 0 ‡ À YQs Ä YQ estar bem definida, ser linear e verificar a
condição do enunciado é trivial. O facto de, para cada A − W/<ÐQ ß B! Ñ, ser
A ‰ 0 ‡ − W/<ÐQ s ß 0 ÐB! ÑÑ resulta de que A ‰ 0 ‡ À Y s Ä ‘ é linear e de que
Q

A ‰ 0 ‡ Ð! † " Ñ œ AÐ0 ‡ Ð!Ñ † 0 ‡ Ð" ÑÑ œ


œ A ‰ 0 ‡ Ð!Ñ "0 ÐB! Ñ  !0 ÐB! Ñ A ‰ 0 ‡ Ð" Ñ.

s ß 0 ÐB! ÑÑ é trivial.
A linearidade da aplicação 0‡ À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä W/<ÐQ …
s e Q˜ e as aplicações sua-
VI.6.38 (Functorialidade) Dadas as variedades Q , Q
s s ˜
ves 0 À Q Ä Q e 1À Q Ä Q , tem-se, para cada B! − Q e A − W/<ÐQ ß B! Ñ,
Ð1 ‰ 0 ч ÐAÑ œ 1‡ Ð0‡ ÐAÑÑ − W/<ÐQ˜ ß 1Ð0 ÐB! ÑÑÑ.
Em consequência, e uma vez que, para a aplicação suave M.Q À Q Ä Q , se
tem trivialmente que ÐM.Q ч À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä W/<ÐQ ß B! Ñ é a identidade,
s é um difeomorfismo, então
concluímos que, se 0 À Q Ä Q
s ß 0 ÐB! ÑÑ
0‡ À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä W/<ÐQ
s ß 0 ÐB! ÑÑ Ä W/<ÐQ ß B! Ñ.
é um isomorfismo e Ð0‡ Ñ" œ Ð0 " ч À W/<ÐQ
Dem: Trata-se de uma consequência imediata das definições. …
VI.6.39 Sejam Q e Q s variedades, 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave e B! − Q e
suponhamos escolhidos espaços vectoriais tangentes XB! ÐQ Ñ e X0 ÐB! Ñ ÐQ s Ñ.
Para cada ? − XB! ÐQ Ñ, tem-se então 0‡ ÐH? Ñ œ HH0B! Ð?Ñ , por outras palavras,
é comutativo o diagrama
H0B!
XB! ÐQ Ñ qp sÑ
X0 ÐB! Ñ ÐQ
Æ Æ ,
0‡
W/<ÐQ ß B! Ñ qp s ß 0 ÐB! ÑÑ
W/<ÐQ

em que as flechas verticais são as aplicações lineares referidas em VI.6.36.

133Por outras palavras, 0 ‡ é um morfismo de álgebras.


534 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Dem: Basta atender a que


0‡ ÐH? ÑÐ!Ñ œ H? Ð! ‰ 0 Ñ œ HÐ! ‰ 0 ÑB! Ð?Ñ œ
œ H!0 ÐB! Ñ ÐH0B! Ð?ÑÑ œ HH0B! Ð?Ñ Ð!Ñ. …

VI.6.40 (Corolário) Sejam Q uma variedade e B! − Q e suponhamos que se


fizeram duas escolhas de espaço vectorial tangente em B! , XB! ÐQ Ñ e
s B! ÐQ Ñ, com o correspondente isomorfismo canónico )À XB! ÐQ Ñ Ä
X
s B! ÐQ Ñ. Para cada ? − XB! ÐQ Ñ, tem-se então que as derivações de Q em B!
X
associadas a ? e a )Ð?Ñ coincidem.
Dem: Trata-se do caso particular do resultado anterior em que se toma para 0
a aplicação identidade de Q , com a primeira escolha de espaço vectorial
tangente no domínio e a segunda no espaço de chegada. …
VI.6.41 Sejam Q uma variedade, B! − Q e AÀ YQ Ä ‘ uma derivação de Q
no ponto B! . Se ! − YQ é uma aplicação constante, então AÐ!Ñ œ !.
Dem: Para cada + − ‘, notemos também + a aplicação de Q para ‘ de valor
constante +. O facto de se ter
AÐ"Ñ œ AÐ" † "Ñ œ AÐ"Ñ ‚ "  " ‚ AÐ"Ñ œ #AÐ"Ñ
implica que se tem AÐ"Ñ œ ! e resulta daqui, por linearidade, que se tem
também AÐ+Ñ œ +AÐ"Ñ œ !. …
VI.6.42 (Lema) Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8 e B! − Q § I
tais que ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade de dimensão 7 e índice :. Existem
então aplicações suaves 14 À I Ä ‘, onde " Ÿ 4 Ÿ 8  7, tais que 14 ÎQ œ !
e que, para cada ? − I , seja ? − XB! ÐQ Ñ se, e só se, para cada 4,
H14 B! Ð?Ñ œ !.
Dem: Tendo em conta II.6.33, existe um aberto Ys de I , com B! − Ys , e uma
s Ä‘
aplicação suave s1À Y 87
‚ ‘ tal que s1ÐB! Ñ œ Ð!ß !Ñ, que H1
:
sB! seja
sobrejectiva e que
s ± s1ÐBÑ − Ö!×87 ‚ ‘: ×,
s  Q œ ÖB − Y
Y

resultando então de II.6.31 que, para cada ? − I , tem-se ? − XB! ÐQ Ñ se, e


só se, H1sB! Ð?Ñ − Ö!×87 ‚ ‘: . Sejam s14 À Ys Ä ‘, com " Ÿ 4 Ÿ 8  7, as
8  7 primeiras componentes de s1. Trata-se portanto de aplicações suaves
nulas em Y s  Q e tais que, para cada ? − I , ? − XB! ÐQ Ñ se, e só se, para
cada 4, H1s4 B! Ð?Ñ œ !. Pelo teorema da partição da unidade, aplicado à cober-
tura de I pelos abertos Y s e I Ï ÖB! ×, podemos considerar uma aplicação
suave :À I Ä Ò!ß "Ó, nula fora de uma parte G de Y s , fechada em I , e
tomando o valor " fora de uma parte G w de I Ï ÖB! ×, fechada em I .
Podemos finalmente considerar as aplicações suaves 14 À I Ä ‘, definidas
por
§6. Espaço vectorial tangente 535

14 ÐBÑ œ 
s4 ÐBÑ,
:ÐBÑ1 s
se B − Y
!, s
se B Â Y

s e I Ï G , de união I são suaves, a segunda por


(as restrições aos abertos Y
ser identicamente nula), aplicações que vão ser identicamente nulas em Q , e
o facto de 14 coincidir com s14 no aberto I Ï G w , contendo B! , implica que se
tem, para cada ? − I , H14 B! Ð?Ñ œ ! se, e só se, H1s4 B Ð?Ñ œ !. …
!

VI.6.43 (Lema) Seja 1À ‘8 Ä ‘ uma aplicação suave. Existem então aplicações


`1
suaves 04 À ‘8 Ä ‘, onde " Ÿ 4 Ÿ 8, tais que 04 Ð!Ñ œ `B 4
Ð!Ñ e que, para cada
B œ ÐB" ß á ß B8 Ñ − ‘8 ,

1ÐBÑ œ 1Ð!Ñ  " B4 04 ÐBÑ.


8

4œ"

Dem: Seja, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, 04 À ‘8 Ä ‘ a aplicação definida por

04 ÐBÑ œ (
"
`1
Ð>BÑ .>,
! `B4

aplicação cuja suavidade se encontra garantida pelo teorema de derivação do


`1
integral paramétrico (cf. I.10.4). É evidente que 04 Ð!Ñ œ `B 4
Ð!Ñ e, para cada
B − ‘ , podemos agora escrever, considerando a aplicação suave :À ‘ Ä ‘8
8

definida por :Ð>Ñ œ 1Ð>BÑ,

1ÐBÑ  1Ð!Ñ œ :Ð"Ñ  :Ð!Ñ œ ( :w Ð>Ñ .> œ ( H1>B ÐBÑ .> œ


" "

! !

œ( " B4 Ð>BÑ .> œ " B4 04 ÐBÑ.


" 8 8
`1
…
! 4œ"
`B4 4œ"

VI.6.44 (Lema) Seja Q § ‘8 uma variedade fechada, com ! − Q . Tem-se


então que a aplicação linear de X! ÐQ Ñ para W/<ÐQ ß !Ñ, que a cada ? associa
a derivação H? , é um isomorfismo.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias alíneas:
a) Para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, seja !4 À Q Ä ‘ a aplicação suave definida por
!4 ÐB" ß á ß B8 Ñ œ B4 . Para cada ? œ Ð?" ß á ß ?8 Ñ − X! ÐQ Ñ, tem-se então
?4 œ H!4 Ð?Ñ œ H? Ð!4 Ñ,

o que implica, em particular, que é injectiva a aplicação linear ? È H? .


Resta-nos provar que ela é também sobrejectiva, para o que consideramos
A − W/<ÐQ ß !Ñ arbitrário.
b) Seja, para cada 4, ?4 œ AÐ!4 Ñ − ‘ e consideremos o correspondente
elemento ? œ Ð?" ß á ß ?8 Ñ − ‘8 . O resultado ficará provado se virmos que
536 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

se tem ? − X! ÐQ Ñ e H? œ A.
c) Vamos mostrar nesta alínea que, para cada aplicação suave 1À ‘8 Ä ‘,
tem-se AÐ1ÎQ Ñ œ H1! Ð?Ñ.

Ð!Ñ e que 1ÐBÑ œ 1Ð!Ñ  ! B4 04 ÐBÑ,


Para isso, aplicamos o lema anterior para garantir a existência de aplicações
`1
suaves 04 À ‘8 Ä ‘, tais que 04 Ð!Ñ œ `B
para cada B − ‘ , donde 1ÎQ œ 1Ð!Ñ  ! !4 04 ÎQ . Tendo em conta VI.6.41,
4
8

vemos agora que

AÐ1ÎQ Ñ œ " AÐ!4 Ñ04 Ð!Ñ  !4 Ð!ÑAÐ04 ÎQ Ñ œ " ?4


8 8
`1
Ð!Ñ œ H1! Ð?Ñ,
4œ" 4œ"
`B4

como queríamos.
d) Tendo em conta o lema VI.6.42, podemos considerar aplicações suaves
14 À ‘8 Ä ‘ tais que 14 ÎQ œ ! e que, para cada @ − ‘8 , se tenha @ − X! ÐQ Ñ
se, e só se, para cada 4, H14 ! Ð?Ñ œ !. O que vimos em c) implica então que,
para cada 4,
H14 ! Ð?Ñ œ AÐ1ÎQ Ñ œ AÐ!Ñ œ !,

pelo que se tem realmente ? − X! ÐQ Ñ.


e) Por fim, para cada ! − YQ , o facto de a variedade Q ser fechada em ‘8
implica, por II.3.12, a existência de uma aplicação suave !À ‘8 Ä ‘ prolon-
gando ! e então, mais uma vez pelo que vimos em c),
AÐ!Ñ œ H!! Ð?Ñ œ H!! Ð?Ñ œ H? Ð!Ñ,
o que mostra que A œ H? . …
VI.6.45 (Teorema fundamental) Sejam Q uma variedade abstracta e B! − Q e
suponhamos escolhido um espaço vectorial tangente XB! ÐQ Ñ. Tem-se então
que a aplicação linear de XB! ÐQ Ñ para W/<ÐQ ß B! Ñ, que a ? associa a deriva-
ção associada H? , é um isomorfismo.
Dem: Tendo em conta VI.2.32, podemos considerar um espaço vectorial I
de dimensão 8, uma subvariedade fechada Q s § I e um difeomorfismo
s
0 À Q Ä Q . Por composição com um isomorfismo de I sobre ‘8 e com
uma translação, pode-se já supor que se tem I œ ‘8 e 0 ÐB! Ñ œ !. Podemos
então considerar o diagrama comutativo
H0B!
XB! ÐQ Ñ qp X! ÐQ sÑ
Æ Æ ,
0‡
W/<ÐQ ß B! Ñ qp s ß !Ñ
W/<ÐQ
em que as flechas horizontais são isomorfismos e a flecha vertical direita é
um isomorfismo, pelo lema anterior, de onde se deduz trivialmente que a
flecha vertical esquerda é também um isomorfismo. …
§6. Espaço vectorial tangente 537

VI.6.46 (Corolário) Sejam Q uma variedade abstracta, B! − Q e Q s §Q


s s
outra variedade abstracta tal que B! − Q e que ÐQ ß B! Ñ e ÐQ ß B! Ñ tenham a
mesma dimensão134. Tem-se então:
s Ä Q a inclusão, a correspondente aplicação linear
a) Sendo +À Q
s ß B! Ñ Ä W/<ÐQ ß B! Ñ
+‡ À W/<ÐQ
é um isomorfismo.
b) Se A − WerÐQ ß B! Ñ e se !ß " − YQ são tais que !ÎQs œ "ÎQs , então
AÐ!Ñ œ AÐ" Ñ.
Dem: Tem-se XB! ÐQ s Ñ § XB! ÐQ Ñ donde, uma vez que se trata de espaços
vectoriais com a mesma dimensão, XB! ÐQ s Ñ œ XB! ÐQ Ñ, e portanto a aplica-
ção linear H+B! À XB! ÐQs Ñ Ä XB! ÐQ Ñ é a identidade. Ficamos então com um
diagrama comutativo
M.
XB! ÐQsÑ qp XB! ÐQ Ñ
Æ Æ ,
+‡
W/<ÐQ s ß B! Ñ qp W/<ÐQ ß B! Ñ
em que as flechas verticais são isomorfismos, o que implica que a aplicação
linear +‡ À W/<ÐQs ß B! Ñ Ä W/<ÐQ ß B! Ñ é realmente um isomorfismo. A con-
clusão de b) é uma consequência da de a), visto que, sendo As − W/<ÐQ s ß B! Ñ
s s s
tal que +‡ ÐAÑ œ A, vem AÐ+Ñ œ AÐ!ÎQs Ñ œ AÐ"ÎQs Ñ œ AÐ" Ñ. …

VI.6.47 Nas condições do corolário precedente, notamos, para cada


A − W/<ÐQ ß B! Ñ, AÎQs o elemento de W/<ÐQ s ß B! Ñ tal que +‡ ÐA s Ñ œ A e
ÎQ
dizemos que A s é a restrição da derivação A a Qs.
ÎQ

Vimos em VI.6.45 que, se Q é uma variedade abstracta e B! − Q , tem


lugar um isomorfismo XB! ÐQ Ñ Ä W/<ÐQ ß B! Ñ, ? È H? , e isso mostra,
em particular, que existe uma estrutura de espaço vectorial tangente a Q
em B! , sobre W/<ÐQ ß B! Ñ. O próximo resultado mostra, mais precisa-
mente, como uma tal estrutura pode ser definida e identifica, no quadro
desta escolha de espaço vectorial tangente, o que é a derivada duma apli-
cação suave. Ele permite enquadrar, em particular, na teoria que temos
vindo a desenvolver a opção, seguida por alguns autores, de definir desde
o início o espaço vectorial tangente como sendo W/<ÐQ ß B! Ñ.

VI.6.48 Sejam Q uma variedade abstracta e B! − Q . Tem-se então:


a) Existe em W/<ÐQ ß B! Ñ uma, e uma só, estrutura de espaço vectorial tan-
gente a Q em B! tal que, qualquer que seja a escolha de um espaço vectorial
tangente XB! ÐQ Ñ, o isomorfismo canónico )À XB! ÐQ Ñ Ä W/<ÐQ ß B! Ñ esteja

134Por s pode ser um aberto de Q , contendo B! .


exemplo, Q
538 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

definido por ? È H? .
b) Seja :À Q Ä F § I uma carta da estrutura diferenciável de Q e seja
-À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä X:ÐB! Ñ ÐFÑ o isomorfismo tal que a estrutura de espaço
vectorial tangente de W/<ÐQ ß B! Ñ seja definida pela apresentação Ð:ß -Ñ.
Tem-se então que o isomorfismo -" aplica cada @ − X:ÐB! Ñ ÐFÑ na derivação
A − W/<ÐQ ß B! Ñ definida por
AÐ!Ñ œ HÐ! ‰ :" Ñ:ÐB! Ñ Ð@Ñ.

c) Se Qs é outra variedade abstracta e se 0 À Q Ä Q


s é uma aplicação suave,
então a aplicação linear
s ß 0 ÐB! ÑÑ
H0B! À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä W/<ÐQ
s ß 0 ÐB! ÑÑ referida
coincide com a aplicação linear 0‡ À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä W/<ÐQ
em VI.6.37, estando assim definida por
H0B! ÐAÑÐ!Ñ œ AÐ! ‰ 0 Ñ.

Dem: Fixemos uma escolha de espaço vectorial tangente XB! ÐQ Ñ. O facto de


ter lugar um isomorfismo )À XB! ÐQ Ñ Ä W/<ÐQ ß B! Ñ, ? È H? , implica, por
VI.6.14, a existência de uma, e uma só, estrutura de espaço vectorial tangente
em W/<ÐQ ß B! Ñ tal que ) seja o isomorfismo canónico. Para provar a), tudo o
que falta verificar é que esta estrutura não depende da escolha feita para o
espaço vectorial tangente XB! ÐQ Ñ e isso ficará assegurado se provarmos b),
visto que ficamos então com uma definição alternativa da estrutura de espaço
vectorial tangente, independente da escolha feita. Fixemos então uma carta
:À Q Ä F § I da estrutura diferenciável de Q e sejam -À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä
X:ÐB! Ñ ÐFÑ e .À XB! ÐQ Ñ Ä X:ÐB! Ñ ÐFÑ os isomorfismos tais que as estruturas de
espaço vectorial tangente de W/<ÐQ ß B! Ñ e XB! ÐQ Ñ sejam definidas pelas
apresentações Ð:ß -Ñ e Ð:ß .Ñ, respectivamente. Tendo em conta a definição
do isomorfismo canónico como derivada em B! da aplicação identidade,
vemos que se tem - ‰ ) œ . e portanto, tendo em conta VI.6.21,
-" œ ) ‰ ." œ ) ‰ ÐH:B! Ñ" œ ) ‰ H::"ÐB! Ñ .

Podemos assim escrever, para cada @ − X:ÐB! Ñ ÐFÑ e ! − YQ ,

-" Ð@ÑÐ!Ñ œ )ÐH::"ÐB! Ñ Ð@ÑÑÐ!Ñ œ H!B! ÐH::"ÐB! Ñ Ð@ÑÑ œ HÐ! ‰ :" Ñ:ÐB! ÑÐ@Ñ,

o que prova b). A alínea c) é agora uma consequência imediata de VI.6.15 e


VI.6.39. …
Exercícios 539

EXERCÍCIOS

Ex VI.1 Seja :À ‘ Ä ‘ a aplicação definida por :Ð>Ñ œ >$ . Mostrar que :


constitui uma carta de ‘ e que o atlas de ‘ constituído pela única carta :
define uma estrutura diferenciável em ‘ diferente da sua estrutura dife-
renciável canónica, enquanto espaço vectorial de dimensão finita, embora
com a mesma topologia associada (escusado será sublinhar que não é esta a
estrutura diferenciável que se considera usualmente em ‘). Determinar mais
uma estrutura diferenciável de ‘ distinta das duas consideradas anterior-
mente.
Ex VI.2 (Para quem conheça a noção de espaço afim abstracto) Seja I um
espaço afim, de dimensão 8, com espaço vectorial associado It .
Mostrar que se pode definir uma estrutura diferenciável natural em I ,
relativamente à qual I é uma variedade sem bordo com dimensão 8.
Ex VI.3 (O dual dum fibrado vectorial concreto) Sejam I e K espaços
vectoriais de dimensão finita, Q § K um conjunto e I œ ÐIB ÑB−Q um
fibrado vectorial com IB § I . Para cada B − Q , seja IB‡ œ PÐIB à ‘Ñ o
espaço vectorial dual da fibra IB (reparar que, em geral, os IB‡ não são
subespaços vectoriais dum mesmo espaço vectorial pelo que ÐIB‡ ÑB−Q não é
uma família de subespaços vectoriais, no sentido estudado no capítulo III).
Seja
I ‡ œ ÖÐBß -Ñ ± B − Q • - − IB‡ ×
o “espaço total” da família ÐIB‡ ÑB−Q .
a) Fixemos um produto interno em I e notemos, para cada B − Q , 1B a
projecção ortogonal de I sobre IB . Verificar que, para cada B − Q , tem
lugar um isomorfismo de IB‡ sobre um subespaço vectorial IB‰ § I ‡ œ
PÐIà ‘Ñ definido por - È - ‰ 1B e que, consequentemente, é possível
definir uma bijecção
:À I ‡ Ä I ‰ § Q ‚ I § K ‚ I
:ÐBß -Ñ œ ÐBß - ‰ 1B Ñ,
onde I ‰ é o conjunto dos pares ÐBß .Ñ, com B − Q e . − IB‰ .
b) Fixado um produto interno em I , a bijecção :À I ‡ Ä I ‰ § K ‚ I ,
referida na alínea a), define uma estrutura diferenciável sobre o conjunto I ‡ .
Mostrar que a estrutura diferenciável não depende do produto interno fixado
em I , podendo assim ser definida sem referência explícita a nenhum produto
interno.
c) Verificar que é suave a aplicação de I ‡ para Q , que a ÐBß -Ñ associa B (a
projecção canónica). Verificar que um morfismo linear Ð-B ÑB−Q À I Ä ‘Q é
540 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

suave (cf. III.8.1) se, e só se, é suave a aplicação de Q em I ‡ , que a B


associa ÐBß -B Ñ.
d) Fixemos, de novo, um produto interno em I . Verificar que tem lugar um
difeomorfismo <À I Ä I ‡ , do espaço total de ÐIB ÑB−Q para o espaço total
de ÐIB‡ ÑB−Q , definido por <ÐBß AÑ œ ÐBß -BßA Ñ, onde -BßA À IB Ä ‘ é a
aplicação linear -BßA Ð?Ñ œ Ø?ß AÙ. Sugestão: Para provar a suavidade de
<" , considerar abertos Y de Q tais que ÐIB ÑB−Y admite um campo de
referenciais ortonormado.
e) Deduzir de d) que, se Q é uma variedade de dimensão 7 e índice : no
ponto B! e se IB! é um espaço vectorial de dimensão 8, então I ‡ é, em cada
ÐB! ß -! Ñ uma variedade de dimensão 7  8 e índice :.
Ex VI.4 Sejam Q um espaço topológico, munido de uma estrutura diferenciável,
e ÐY3 Ñ3−M uma família de abertos de Q , com união Q , sobre os quais
consideramos as estruturas diferenciáveis induzidas. Seja ÐQ4 Ñ4−N uma
família de abertos de Q , com união Q , munidos de estruturas diferenciáveis
arbitrárias.
Mostrar que a estrutura diferenciável de Q é uma colagem das dos Q4 se, e
só se, quaisquer que sejam 3 − M e 4 − N , as estruturas diferenciáveis de
Y3  Q4 induzidas pelas de Y3 e de Q4 coincidem.
Ex VI.5 Se I é um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão maior ou
igual a ", ao conjunto ÐIÑ œ †" ÐIÑ das rectas (subespaços vectoriais de
dimensão ") de I dá-se o nome de espaço projectivo associado a I .
No caso particular em que I œ Š8" (‘8" ou ‚8" Ñ o espaço ÐIÑ é
notado também 8 ЊÑ. O objectivo deste exercício é a construção por
colagem de uma estrutura diferenciável de 8 ÐŠÑ e a sua posterior identifi-
cação com uma estrutura já conhecida.
Para cada vector não nulo ÐB" ß B# ß á ß B8" Ñ de Š8" notemos
ÐB" À B# À á À B8" Ñ o subespaço vectorial gerado por aquele vector e
reparemos que se tem ÐB" À B# À á À B8" Ñ œ ÐC" À C# À á À C8" Ñ se, e só se,
existe > − Š Ï Ö!× tal que ÐB" ß B# ß á ß B8" Ñ œ > ÐC" ß C# ß á ß C8" Ñ.
a) Para cada " Ÿ 4 Ÿ 8  ", consideremos o subconjunto h4 de 8 ЊÑ
constituído pelas rectas que se podem escrever na forma ÐB" À B# À á À B8" Ñ
com B4 Á !. Verificar que tem lugar uma bijecção :4 À h4 Ä Š8 definida por
B" B4" B4" B8"
:4 ÐÐB" À B# À á À B8" ÑÑ œ Ð ßáß ß ßáß Ñ,
B4 B4 B4 B4

com inversa definida por


:4" ÐD" ß á ß D8 Ñ œ ÐD" À á À D4" À "À D4 À á À D8 Ñ.

Vamos considerar em cada h4 a estrutura de variedade abstracta sem bordo


(de dimensão 8, no caso real, e #8, no caso complexo) definida pela carta :4 .
b) Verificar que as topologias associadas dos diferentes h4 são mutuamente
compatíveis e considerar em 8 ÐŠÑ a topologia colagem. Verificar que a
Exercícios 541

topologia de 8 ÐŠÑ é separada.


Sugestão: Temos que mostrar que, dadas duas rectas distintas, existem
abertos disjuntos de 8 ÐŠÑ que as contêm. Reparar que isso é trivial no caso
em que ambas pertençam a um mesmo aberto h4 e, quando isso não
acontecer, mostrar que existem 4  5 tais que elas se possam escrever na
forma
Ð+" À á À +4" À "À +4" À á À +5" À !À +5" À á À +8" Ñ
Ð," À á À ,4" À !À ,4" À á À ,5" À "À ,5" À á À ,8" Ñ

e considerar então os abertos disjuntos constituídos respectivamente pelas


rectas da forma
ÐB" À á À B4" À "À B4" À á À B5" À B5 À B5" À á À B8" Ñ,

com lB5 l  ", e por aquelas da forma


ÐB" À á À B4" À B4 À B4" À á À B5" À "À B5" À á À B8" Ñ,

com lB4 l  ".


c) Verificar que as estruturas diferenciáveis consideradas nos diferentes h4
são mutuamente compatíveis e concluir a existência em 8 ÐŠÑ da uma
estrutura de variedade sem bordo colagem das estruturas consideradas nos
h4 . É essa a estrutura de variedade que consideramos daqui em diante.
d) Mostrar que tem lugar uma aplicação suave FÀ Š8" Ï Ö!× Ä 8 ЊÑ
definida por
FÐB" ß á ß B8" Ñ œ ÐB" À á À B8" Ñ
e que esta aplicação é mesmo uma submersão sobrejectiva.
e) Utilizar VI.4.2 e o exercício II.62 para concluir que a estrutura diferenciá-
vel que estamos a considerar em 8 ÐŠÑ coincide com a sua estrutura diferen-
ciável canónica, quando encarada como variedade de Grassmann †" Њ8" Ñ
(cf. VI.1.9).
f) Reobter a conclusão de e) verificando que os h4 são abertos na variedade
de Grassmann †" Њ8" Ñ e que, para as estruturas diferenciáveis induzidas
em h4 pela de †" Њ8" Ñ, os :4 são difeomorfismos.
Sugestão: Lembrar que uma aplicação com valores em †" Њ8" Ñ é suave se,
e só se, uma certa família de subespaços vectoriais de Š8" for um fibrado
vectorial.
Ex VI.6 (O ponto do infinito) Seja I um espaço vectorial real de dimensão 8,
ñ
munido de produto interno, e notemos I œ I  Ö_× a união de I com um
elemento que não lhe pertence, notado _, a que se dá também o nome de
ponto do infinito.
ñ
a) Mostrar que tem lugar uma bijecção <À I Ï Ö!× Ä I definida por
542 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

œ <ÐBÑ œ B # ,
<Ð_Ñ œ !
mBm se B Á _
ñ
e que a bijecção inversa <" À I Ä I Ï Ö!× está definida por <" Ð!Ñ œ _ e
B
<" ÐBÑ œ mBm # , se B Á !.

b) Considerar em I a sua estrutura de variedade sem bordo de dimensão 8,


ñ
enquanto espaço vectorial de dimensão 8, e em I Ï Ö!× a estrutura de
variedade de dimensão 8 definida pela carta <.
ñ
Mostrar que as topologias de I e de I Ï Ö!× são mutuamente compatíveis e,
ñ ñ
considerando em I a topologia obtida por colagem, verificar que I admite
como sistema fundamental de vizinhanças de _ a classe dos complementares
ñ
em I das bolas fechadas de centro ! e raio <  ! de I e como outro sistema
fundamental de vizinhanças de _ a classe dos complementares dos
subconjuntos compactos de I .
ñ
Deduzir, em particular, que a topologia de I não depende do produto interno
de partida135 e é separada.
ñ
c) Mostrar que as estruturas de variedade abstracta de I e de I Ï Ö!× são
ñ
mutuamente compatíveis e concluir que se pode considerar em I a estrutura
de variedade abstracta de dimensão 8 colagem daquelas duas. Diremos que
ñ
I é o compactificado de I e que esta estrutura de variedade abstracta é a
associada ao produto interno considerado.
d) Mostrar que, se J § I é um subespaço vectorial, então a estrutura
ñ
diferenciável de J œ J  Ö_×, associada ao produto interno induzido em
ñ
J , é a induzida pela estrutura diferenciável de I .
e) Consideremos em I ‚ ‘ o produto interno associado, definido por
ØÐBß >Ñß ÐCß =ÑÙ œ ØBß CÙ  >=,
e seja W § I ‚ ‘ a hipersuperfície esférica de centro ! e raio " correspon-
dente:
W œ ÖÐBß >Ñ − I ‚ ‘ ± mBm#  ># œ "×.
ñ
Mostrar que tem lugar um difeomorfismo 1À W Ä I definido por

1ÐBß >Ñ œ œ ">


B
, se ÐBß >Ñ Á Ð!ß "Ñ
_, se ÐBß >Ñ œ Ð!ß "Ñ,

135Pelo contrário, e como veremos no exercício VI.7 adiante, a estrutura diferenciável


ñ
que poremos em I já depende, em geral, do produto interno.
Exercícios 543

ñ
cujo inverso 1" À I Ä W está definido por 1" Ð_Ñ œ Ð!ß "Ñ e
#C "  mCm#
1" ÐCÑ œ Ð ß Ñ
"  mCm# "  mCm#
ñ
(A existência de um tal difeomorfismo costuma ser lembrada dizendo que I
é uma esfera de dimensão 8). Sugestão: Reparar que 1 é a composta da
projecção estereográfica
0 " À W Ï ÖÐ!ß "Ñ× Ä XÐ!ß"Ñ ÐWÑ

(cf. III.9.17) com um isomorfismo natural XÐ!ß"Ñ ÐWÑ Ä I .


ñ ñ ñ ñ ñ
f) Seja <À I Ä I o prolongamento de <À I Ï Ö!× Ä I tal que <Ð!Ñ œ _.
ñ ñ " ñ
Mostrar que < é um difeomorfismo, com < œ <, e que tem lugar um
diagrama comutativo
1 ñ
W qqp I
ñ
Æ Æ<
ñ
W qqp
1 I

onde 1 é o difeomorfismo referido na alínea e) e a flecha da esquerda é o


difeomorfismo definido por ÐBß >Ñ È ÐBß >Ñ.
Ex VI.7 (Dependência do produto interno)
a) Sejam I e Is espaços vectoriais reais de dimensão 8, munidos de produtos
internos, e 0À I Ä Is um isomorfismo. Considerando os correspondentes
ñ ñ
I œ I  Ö_× e I sœI s  Ö_×, com as estruturas de variedade abstracta
associadas aos produtos internos, mostrar que a correspondente bijecção
ñ ñ ñ
0À I Ä Is , que estende 0 e aplica _ em _, é suave se, e só se, o
isomorfismo 0 é conforme (cf. I.2.33). Mostrar ainda que, nesse caso,
ñ ñ ñ
s é mesmo um difeomorfismo. Sugestão: Considerando as
0À I Ä I
ñ ñ
sÀ I
correspondentes cartas <À I Ï Ö!× Ä I e < s Ï Ö!× Ä I
s , verificar que a
composta das aplicações
ñ
<" ñ 0Î ñ s
<
I qqp I Ï Ö!× qqp s Ï Ö!× qqp
I s
I
s definida por 2Ð!Ñ œ ! e, para cada B Á !,
é a aplicação 2À I Ä I
mBm#
2ÐBÑ œ 0ÐBÑ.
m0ÐBÑm#
544 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Reparando que 2 é positivamente "-homogénea, utilizar a conclusão do


exercício I.23 para concluir que, se 2 é suave, então 2 é linear.
b) Deduzir de a) que, se I é um espaço vectorial real de dimensão 8 , munido
ñ
de dois produtos internos, então as estruturas diferenciáveis de I associadas
a estes produtos internos coincidem se, e só se, um dos produtos internos for
múltiplo do outro.
Ex VI.8 (Suavidade do prolongamento das translações) Seja I um espaço
vectorial real de dimensão 8, munido de produto interno, e consideremos em
ñ
I œ I  Ö_× a estrutura associada de variedade abstracta. Para cada
ñ ñ
+ − I , mostrar que é suave a aplicação 7+ À I Ä I definida por
7+ ÐBÑ œ +  B, para cada B − I e 7+ Ð_Ñ œ _ e concluir que esta aplicação
é mesmo um difeomorfismo.
Ex VI.9 Consideremos o caso particular da situação estudada no exercício VI.6
em que I é o espaço vectorial ‚, considerado como espaço vectorial real de
dimensão #, com o produto interno real Ø+ß ,Ù œ dÐ+,Ñ, cuja norma
associada é o valor absoluto usual dos complexos.136
ñ
Mostrar que, considerando em ‚ Ï Ö!× a estrutura de variedade abstracta
ñ ñ
s À ‚ Ï Ö!× Ä ‚ definida por <
induzida pela de ‚, a bijecção < sÐ_Ñ œ ! e
ñ
s ÐDÑ œ " , para cada D Á _, é um difeomorfismo (costuma dizer-se que ‚ é
< D
a esfera de Riemann137).
ñ
Ex VI.10 Verificar que a esfera de Riemann ‚ e o espaço projectivo " Ð‚Ñ (cf. o
exercício VI.5) são difeomorfos.
Ex VI.11 Seja 0 À ‚ Ä ‚ uma aplicação polinomial de grau 8   ",
0 ÐDÑ œ +! D 8  +" D 8"  â  +8" D  +8 ,
ñ ñ ñ
onde +! Á !. Seja 0 À ‚ Ä ‚ o prolongamento da aplicação 0 definido por
ñ
0 Ð_Ñ œ _. Mostrar que este prolongamento é uma aplicação suave.
Ex VI.12 Sendo W § ‘# a circunferência de centro ! e raio ", mostrar que existe
um difeomorfismo 0 À " Ð‘Ñ Ä W tal que, para cada ÐBß CÑ − W , 0 aplica o
subespaço vectorial gerado pelo vector ÐBß CÑ em ÐB#  C # ß #BCÑ − W . Inter-
pretar geometricamente este difeomorfismo.
Ex VI.13 Sejam Q e Q s variedades abstractas sem bordo e 0 À Q Ä Q s uma
s seja a estrutura
aplicação sobrejectiva tal que a estrutura de variedade de Q

136Este produto interno coincide com o produto interno canónico de ‚, quando identifi-
cado a ‘# .
ñ
137Tendoem conta o que vimos na alínea f) do exercício VI.6, ‚ é difeomorfa à esfera de
Riemann referida em III.9.18.
Exercícios 545

quociente definida por 0 .


Verificar que a topologia de Q s é uma topologia final determinada por 0 e
pela topologia de Q , no sentido seguinte (comparar com VI.2.29): Quaisquer
que sejam o espaço topológico ^ e a aplicação 1À Qs Ä ^ , 1 é contínua se, e
só se, 1 ‰ 0 À Q Ä ^ é contínua.
Sugestão: Atender a que 0 é contínua, aberta e sobrejectiva.
s um conjunto e
Ex VI.14 Sejam Q uma variedade abstracta sem bordo, Q
0À Q Ä Qs uma aplicação sobrejectiva e notemos
G œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ Q ± 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ×.

Na condição necessária e suficiente para a existência em Q s de uma estrutura


de variedade quociente, referida em VI.4.4 e VI.4.6, é citada a condição de a
restrição da primeira projecção 1" À Q ‚ Q Ä Q a G ser uma submersão de
G para Q , o que é uma aparente falta de simetria entre a primeira e segunda
variáveis. Mostrar, directamente, que a condição de a restrição da primeira
projecção 1" À Q ‚ Q Ä Q a G ser uma submersão é equivalente à de a
restrição da segunda projecção 1# À Q ‚ Q Ä Q a G ser uma submersão.
Ex VI.15 Seja I um espaço vectorial de dimensão 8   " e notemos
FÀ I Ï Ö!× Ä ÐIÑ a aplicação sobrejectiva que a cada B associa o subespa-
ço vectorial gerado por B. Utilizar o teorema de existência de estrutura de
variedade quociente (cf. VI.4.6) para deduzir directamente a existência de
uma estrutura de variedade sem bordo sobre ÐIÑ, relativamente à qual F
seja uma submersão.
Sugestão: O conjunto
G œ ÖÐBß CÑ − ÐI Ï Ö!×Ñ ‚ ÐI Ï Ö!×Ñ ± FÐBÑ œ FÐCÑ×
é um aberto no espaço total de um certo fibrado vectorial trivial com base
I Ï Ö!×. Ter em conta III.1.27 e utilizar III.3.19 para garantir que G é uma
variedade fechada em ÐI Ï Ö!×Ñ ‚ ÐI Ï Ö!×Ñ e para caracterizar os vectores
tangentes a G .
Ex VI.16 (Generalização do exercício anterior) Sejam I um espaço vectorial
de dimensão 8   ", " Ÿ 7 Ÿ 8, †7 ÐIÑ o conjunto dos subespaços
vectoriais de dimensão 7 de I e H7 ÐIÑ o subconjunto aberto de I 7
constituído pelos sistemas linearmente independentes. Notemos
FÀ H7 ÐIÑ Ä †7 ÐIÑ a aplicação sobrejectiva que associa a cada
ÐB" ß á ß B7 Ñ o subespaço vectorial gerado por aqueles vectores.
a) Utilizar VI.4.6 para deduzir que existe sobre †7 ÐIÑ uma, e uma só,
estrutura de variedade sem bordo, relativamente à qual F seja uma
submersão, e que a dimensão desta variedade é igual a 7Ð8  7Ñ ou
#7Ð8  7Ñ, conforme o corpo dos escalares considerado seja ‘ ou ‚.
Sugestão: Análoga à do exercício anterior.
b) Utilizar o exercício III.9 para mostrar que a estrutura de variedade sem
546 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

bordo referida na alínea a) coincide com a estrutura diferenciável canónica de


†7 ÐIÑ definida em VI.1.9.
Ex VI.17 Lembrar a noção de grupo de Lie, estudada em II.5.3, no quadro das
variedades concretas. Pode-se definir, mais geralmente, um grupo de Lie
como sendo uma variedade abstracta K sem bordo, munida duma estrutura
de grupo, tal que a aplicação .À K ‚ K Ä K , definida por .ÐBß CÑ œ B † C , e
a aplicação invÀ K Ä K , definida por invÐBÑ œ B" , sejam suaves.
a) Tendo em conta o exercício II.33, mostrar que, se K é uma variedade
abstracta, munida de uma estrutura de grupo tal que a aplicação
.À K ‚ K Ä K , definida por .ÐBß CÑ œ B † C , seja suave, então K é um grupo
de Lie e uma variedade sem bordo com a mesma dimensão em todos os
pontos
b) Se K é um grupo de Lie, diz-se que um subgrupo L § K é um subgrupo
de Lie se L , com a estrutura diferenciável induzida, for ainda uma variedade
(é então trivial que L é também um grupo de Lie).
Mostrar que, se L § K é um subgrupo de Lie, então L é fechado em K .
Sugestão: Considerar uma sucessão138 ÐB8 Ñ de elementos de L convergente
para B − K. Sendo Z uma vizinhança compacta de / em L , raciocinar por
continuidade para garantir a existencia de 8! tal que, sempre que 8   8! e
5   8! , B8 † B"
5 − Z e deduzir então, por passagem ao limite, que, para cada
5   8! , B † B"
5 − Z § L.
c) Sejam K um grupo de Lie e L § K um subgrupo de Lie. Lembrar que se
define então o conjunto KÎL como sendo o conjunto quociente de K pela
relação de equivalência µ definida por B µ C Í B" † C − L . Seja
3À K Ä KÎL a aplicação sobrejectiva que associa a cada B − K a classe de
equivalência ÒBÓ − KÎL . Utilizar VI.4.6 para garantir a existência em KÎL
de uma, e uma só, estrutura quociente de variedade e mostrar que, relativa-
mente a esta estrutura, fica bem definida uma aplicação
K ‚ ÐKÎLÑ Ä KÎL , ÐCß ÒBÓÑ È ÒC † BÓ,
e que esta aplicação é suave.
Sugestão: Usando uma carta, reduzir ao caso em que K , é uma parte dum
espaço vectorial de dimensão finita, com a estrutura diferenciável induzida.
d) Nas condições de c), é bem conhecido que, se o subgrupo de Lie L é
normal (isto é, se B † L † B" § L , para cada B − K ), então existe em KÎL
uma estrutura de grupo definida por ÒBÓ † ÒCÓ œ ÒB † CÓ (a única para a qual 3 é
um morfismo de grupos). Mostrar que KÎL , com esta estrutura de grupo, é
também um grupo de Lie.
Ex VI.18 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma
variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com
IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integrabilidade. Mostrar que, se a

138Podem-se utilizar sucessões, uma vez que K é metrizável, por ser homeomorfo a uma
parte dum espaço vectorial de dimensão finita.
Exercícios 547

topologia fina de Q é de base contável, então IB œ XB ÐQ Ñ, para todo o


B − Q . Sugestão: Considerar uma estrutura ÐQ Ñ de variedade abstracta sem
bordo sobre Q , com a topologia fina, colagem de todas as subvariedades
imersas integrais sem bordo de I . Utilizar VI.5.14 para mostrar que se tem
então ÐQ Ñ œ Q .
Ex VI.19 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma
variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com
IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integrabilidade. Notando ÐQ Ñ o
conjunto Q com a topologia fina, verificar que a classe das subvariedades
imersas integrais sem bordo ÐEÑ de I está em correspondência biunívoca
com a classe dos subconjuntos abertos de ÐQ Ñ contidos numa união contável
de folhas ÐQ4 Ñ, essa correspondência associando naturalmente a cada ÐEÑ o
conjunto E.
Ex VI.20 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma
variedade sem bordo, e I œ ÐIB ÑB−Q um fibrado vectorial com
IB § XB ÐQ Ñ, verificando a condição de integrabilidade, e sejam ÐQ4 Ñ, onde
4 − N , as folhas de ÐQ Ñ, com a topologia fina associada a I .
a) Sejam N § ‘ um intervalo, com mais que um elemento, e 0 À N Ä Q uma
aplicação suave tal que, para cada > − N , 0 w Ð>Ñ − I0 Ð>Ñ . Mostrar que existe 4
tal que 0 ÐN Ñ § Q4 e que então 0 À N Ä ÐQ4 Ñ é suave. Sugestão: Lembrar a
alínea a) de VI.5.33.
b) Deduzir que, para cada B! − Q , a folha Q4 , que contém B! , é o conjunto
dos pontos B − Q para os quais existe uma aplicação suave 0 À Ò!ß "Ó Ä Q ,
com 0 Ð!Ñ œ B! , 0 Ð"Ñ œ B e 0 w Ð>Ñ − I0 Ð>Ñ , para cada > − Ò!ß "Ó.
Ex VI.21 (O modelo do toro em ‘$ Ñ Verificar que existe um difeomorfismo do
toro Q œ W ‚ W § ‚ ‚ ‚ sobre um subconjunto de ‘$ , que a cada par
ÐDß AÑ − W ‚ W , com D œ +  ,3 e A œ -  .3, associa

ˆ +Ð"  Ñ ß ,Ð"  Ñ ß ‰,
- - .
# # #
e interpretar geometricamente a imagem deste difeomorfismo.
Ex VI.22 No contexto do exemplo em VI.5.38, verificar que, no caso em que
+œ 7 8 , com 7 e 8 números naturais primos entre si, as folhas QÐD! ßA! Ñ são
difeomorfas à circunferência W § ‚. Sugestão: Relembrando as conclusões
enunciadas na respectiva alínea h), considerar a aplicação que a cada
0ÐD! ßA! Ñ Ð>Ñ associa /#13>Î8 , reparando que 0ÐD! ßA! Ñ À ‘ Ä QÐD! ßA! Ñ e a aplicação
‘ Ä W , > È /#13>Î8 , são submersões sobrejectivas.
Ex VI.23 (Folhas densas no toro)
a) (Subgrupos aditivos de ‘) Consideremos ‘ como grupo, com a operação
 , e seja K § ‘ um subgrupo distinto de Ö!×. Mostrar que, ou existe ,  !
tal que K œ ™, œ Ö:,×:−™ , ou K é denso em ‘. Sugestão: O grupo K tem
elementos em Ó!ß _Ò. Se o ínfimo dos elementos de K em Ó!ß _Ò for !, K
548 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

é denso; se esse ínfimo for ,  !, tem-se , − K e K œ ™, .


b) Seja + um número irracional. Mostrar que o conjunto Ö+:  ;×:ß;−™ é
denso em ‘. Sugestão: Este conjunto é um subgrupo que contém + e ™.
c) Nas notações de VI.5.38, seja +  ! irracional e consideremos a aplicação
suave 0 œ 0Ð"ß"Ñ À ‘ Ä W ‚ W œ Q definida por

0 Ð>Ñ œ Ð/#13> ß /#13+> Ñ.


Verificar que, qualquer que seja ÐDß AÑ − W ‚ W , existem sucessões de
números reais >8 e =8 tais que 0 Ð=8 Ñ Ä Ð"ß AÑ e 0 Ð>8 Ñ Ä ÐDß "Ñ e deduzir que
então 0 Ð>8  =8 Ñ Ä ÐDß AÑ.139 Sugestão: Sendo D œ /#13- e A œ /#13. ,
escolher sucessões de inteiros :8 ß ;8 ß :8w ß ;8w tais que +:8  ;8 Ä . e
" w
+ :8  ;8 Ä - e reparar que
w

0 Ð:8 Ñ œ Ð"ß /#13+:8 Ñ œ Ð"ß /#13Ð+:8 ;8 Ñ Ñ,


" w w w
0 Ð :8w Ñ œ Ð/#13:8 Î+ ß "Ñ œ Ð/#13Ð:8 Î+;8 Ñ ß "Ñ.
+
d) Continuando no contexto de VI.5.38, deduzir de c) que, quando +  ! é
irracional, para cada ÐD! ß A! Ñ − W ‚ W , a folha QÐD! ßA! Ñ é efectivamente
densa em Q œ W ‚ W , e portanto não é uma subvariedade (cf. II.6.22 e
VI.5.14).
Ex VI.24 (Folhas num cilindro) Sejam W § ‘# ,
W œ ÖÐBß CÑ ± B#  C # œ "×
e Q § ‘$ o cilindro,
Q œ ÖÐBß Cß DÑ ± B#  C # œ "× œ W ‚ ‘.
Sejam, para cada ÐBß Cß DÑ − Q , [ÐBßCßDÑ œ ÐCß Bß D # Ñ e IÐBßCßDÑ o subes-
paço vectorial gerado por [ÐBßCßDÑ .
a) Verificar que cada IÐBßCßDÑ é um subespaço vectorial de dimensão " de
XÐBßCßDÑ ÐQ Ñ e que I œ ÐIÐBßCßDÑ ÑÐBßCßDÑ−Q é um fibrado vectorial que verifica a
condição de integrabilidade.
b) Verificar que W ‚ Ö!× é uma subvariedade integral sem bordo de I , com-
pacta e conexa, e concluir que se trata de uma das folhas de I .
c) Para cada + − ‘, seja 0+ À ‘ Ï Ö!× Ä Q Ï ÐW ‚ Ö!×Ñ a aplicação suave
definida por
"
0+ Ð>Ñ œ ÐcosÐ+  >Ñß sinÐ+  >Ñß Ñ.
>

139De facto, é mesmo verdade um resultado mais forte, que não propomos neste exercí-
cio: Se, quando se considera ‘ como espaço vectorial sobre o corpo  do números
racionais, "ß +ß , são linearmente independentes, o conjunto dos elementos da forma
0 Ð8,Ñ, com 8 − , já é denso em W ‚ W .
Exercícios 549

Verificar que 0+ é um difeomorfismo de ‘ Ï Ö!× sobre 0+ Б Ï Ö!×Ñ e que


0+ ÐÓ_ß !ÒÑ e 0+ ÐÓ!ß _ÒÑ são subvariedades integrais sem bordo conexas
de I .

Figura 29
d) Verificar que, dados +ß , − ‘, ou 0+ Б Ï Ö!×Ñ  0, Б Ï Ö!×Ñ œ g, ou
tem-se simultaneamente 0+ ÐÓ_ß !ÒÑ œ 0, ÐÓ_ß !ÒÑ e 0+ ÐÓ!ß _ÒÑ œ
0, ÐÓ!ß _ÒÑ. Concluir que Q é a união disjunta de W ‚ Ö!× com conjuntos
dos tipos 0+ ÐÓ_ß !ÒÑ e 0, ÐÓ!ß _ÒÑ e deduzir que estes conjuntos são as
folhas de I .
e) Reparar que a folha W ‚ Ö!× está contida na aderência de cada uma das
restantes folhas.
Ex VI.25 (Para quem conheça a noção de espaço afim) Seja I um espaço
afim, de dimensão 8, com espaço vectorial associado It e considerar em I a
estrutura natural de variedade sem bordo com dimensão 8 (cf. o exercício
VI.2).
a) Mostrar que, para cada B! − I , existe em It uma estrutura natural de
espaço vectorial tangente a I em B! , o que nos permite escrever
XB! ÐIÑ œ It , e constatar que, se J § I é um subespaço afim, com
subespaço vectorial associado Jt , então, para cada B! − J , XB! ÐJ Ñ œ Jt ,
coincidindo as estruturas de espaço tangente a J em B! que vêm de J , como
parte de I e de J , como espaço afim.
b) Constatar que, se I é um espaço vectorial, então, para cada B! − I ,
coincidem, em XB! ÐIÑ œ I , as estruturas de espaço vectorial tangente que
resultam de I ser espaço vectorial e de I ser espaço afim, com I como
espaço vectorial associado.
c) Mostrar que, se J é outro espaço afim, com espaço vectorial associado Jt ,
e se -À I Ä J é uma aplicação afim, com -tÀ It Ä Jt como aplicação linear
associada, então, para cada B! − I , H-B! œ -t.
550 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Ex VI.26 Sejam E e E s conjuntos, munidos de estruturas diferenciáveis, para os


quais se escolheu, para cada B − E e cada C − E s, espaços vectoriais
s . Se 0 À E Ä E
tangentes XB ÐEÑ e XC ÐEÑ s é uma aplicação suave, verificar que
0 é uma imersão (respectivamente, uma submersão) no ponto B − E se, e só
s é injectiva (respectivamente, é
se, a aplicação linear H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ
sobrejectiva).
Ex VI.27 Sejam Q § I um subconjunto de um espaço vectorial de dimensão
finita, E um conjunto munido de uma estrutura diferenciável e 0 À E Ä Q
uma imersão e consideremos, para cada B − E, o espaço vectorial tangente
XB Ð0 Ñ § X0 ÐBÑ ÐQ Ñ (cf. VI.5.16). Mostrar que existe sobre XB Ð0 Ñ uma única
estrutura de espaço vectorial tangente a E no ponto B tal que
H0B À XB Ð0 Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ Ñ

seja a inclusão e que esta é mesmo a única estrutura de espaço vectorial


tangente sobre algum subespaço vectorial de X0 ÐBÑ ÐQ Ñ para a qual H0B é a
inclusão (comparar com VI.6.16).
Interpretar, à luz do que acaba de ser concluído, a noção de espaço vectorial
tangente a uma subvariedade imersa referida em VI.5.24.
Ex VI.28 Sejam Q uma variedade abstracta, B! − Q e Q s § Q outra variedade
s s
abstracta tal que B! − Q e que ÐQ ß B! Ñ e ÐQ ß B! Ñ tenham a mesma
dimensão. Para cada A − W/<ÐQ ß B! Ñ, verificar que a derivação restrição
AÎQs − W/<ÐQ s ß B! Ñ, definida em VI.6.47, pode ser caracterizada do seguinte
modo: Qualquer que seja ! − YQs , existe ! − YQ e um aberto Y de Q ,
contendo B! , tal que ! e ! tenham a mesma restrição a Y  Q s (podemos
então dizer que ! é um quase-prolongamento de !) e, qualquer que seja !
nessas condições, tem-se AÎQs Ð!Ñ œ AÐ!Ñ. Sugestão: Para garantir a existên-
cia de um quase-prolongamento, utilizar uma carta local e um argumento de
partição da unidade. Para verificar a igualdade, utilizar a restrição AÎY Qs .

Ex VI.29 Sejam Q uma variedade abstracta e B! − Q e consideremos no


espaço vectorial W/<ÐQ ß B! Ñ a sua estrutura de espaço vectorial tangente a
Q em B! (cf. VI.6.48). Se !À Q Ä ‘ é uma aplicação suave, com a
correspondente derivada em B! , H!B! À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä ‘, explicitar o que é
H!B! ÐAÑ, para cada A − W/<ÐQ ß B! Ñ.
Ex VI.30 Sejam Q uma variedade abstracta, Y um aberto de Q , Z um aberto
de ‘8 (ou, mais geralmente, de um sector de ‘8 ) e :À Y Ä Z um difeomor-
fismo. Mostrar que, para cada " Ÿ 3 Ÿ 8 e C − Y , se pode definir uma deri-
`
vação Ð `B 3
ÑC − W/<ÐQ ß CÑ, pondo-se, para cada ! − YQ ,

` `Ð! ‰ :" Ñ
Ð Ñ C Ð !Ñ œ Ð:ÐCÑÑ
`B3 `B3
Exercícios 551

`
(derivada parcial em relação à variável 3) e que os Ð `B 3
ÑC constituem uma
base de W/<ÐQ ß CÑ. Sugestão: Ter em conta a alínea b) de VI.6.48.
Ex VI.31 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, Q § I uma
variedade e \ œ Ð\B ÑB−Q um campo vectorial sobre Q (por outras
palavras, para cada B − Q , \B − XB ÐQ Ñ). Lembrar que, como foi referido
em III.3.25, para cada espaço vectorial J de dimensão finita e cada aplicação
suave 0 À Q Ä J , fica definida uma aplicação H\ 0 À Q Ä J por
ÐH\ 0 ÑB œ H\B Ð0 Ñ œ H0B Ð\B Ñ,

aplicação essa que é suave se o campo vectorial Ð\B ÑB−Q for suave.
a) Mostrar que o campo vectorial Ð\B ÑB−Q é suave se, e só se, para cada
! − YQ (ou seja, para cada aplicação suave !À Q Ä ‘Ñ, H\ ! − YQ .
Sugestão: Fixar uma base A" ß á ß A8 de I e considerar as aplicações
lineares (em particular suaves) 0" ß á ß 08 À I Ä ‘, definidas por

A œ " 04 ÐAÑ A4 ,
8

4œ"

assim como as suas restrições a Q .


b) Em geral, se Q é uma variedade abstracta, chama-se derivação em Q a
toda a aplicação linear AÀ YQ Ä YQ que verifique a condição
AÐ! † " Ñ œ AÐ!Ñ † "  ! † AÐ" Ñ
(comparar com VI.6.35) e nota-se W/<ÐQ Ñ o conjunto de todas as derivações
AÀ YQ Ä YQ , conjunto que é trivialmente um espaço vectorial.140
Verificar que, se Q § I é uma variedade concreta e \ œ Ð\B ÑB−Q é um
campo vectorial suave, então tem lugar uma derivação associada H\ , que a
! − YQ associa H\ ! − YQ , e que a correspondência \ È H\ é uma
bijecção do conjunto dos campos vectoriais suaves sobre W/<ÐQ Ñ (aliás,
mesmo um isomorfismo, para a estrutura natural de espaço vectorial do
conjunto dos campos vectoriais suaves).
Ex VI.32 Consideremos a situação mais geral em que Q é uma variedade
abstracta, para a qual se escolheu, para cada B − Q , um espaço vectorial
tangente XB ÐQ Ñ. Continuaremos a chamar campo vectorial sobre Q a uma
família \ œ Ð\B ÑB−Q , com \B − XB ÐQ Ñ, para cada B − Q e a notar, dados
um tal campo vectorial, um espaço vectorial J de dimensão finita e uma
aplicação suave 0 À Q Ä J , H\ 0 À Q Ä J a aplicação definida por
ÐH\ 0 ÑB œ H\B Ð0 Ñ œ H0B Ð\B Ñ.

140Trata-setambém um módulo sobre o anel YQ , com a multiplicação "A de " − YQ


por A − W/<ÐQ Ñ definida por Ð"AÑÐ!Ñ œ " † AÐ!Ñ. Repare-se que, ao contrário do que
acontecia com W/<ÐQ ß B! Ñ, W/<ÐQ Ñ é, em geral, um espaço vectorial de dimensão
infinita.
552 Cap. VI. Estruturas Diferenciáveis e Variedades Abstractas

Vamos dizer que o campo vectorial é suave se, qualquer que seja ! − YQ ,
tem-se H\ ! − YQ .
a) Verificar que, se o campo vectorial \ œ Ð\B ÑB−Q é suave, então, mais
geralmente, para cada espaço vectorial J de dimensão finita e cada aplicação
suave 0 À Q Ä J , a aplicação H\ 0 À Q Ä J é suave. Sugestão: Fixar uma
base em J e considerar as funções componentes de 0 nessa base.
b) Generalizando o espaço total do fibrado vectorial tangente a uma
variedade concreta, notamos X ÐQ Ñ o conjunto dos pares ÐBß AÑ com B − Q
e A − XB ÐQ Ñ, a que podemos dar ainda o nome de espaço total do fibrado
vectorial tangente a Q .141 . Dada uma carta :À Q Ä F § I da variedade
Q , verificar que tem lugar uma bijecção X Ð:ÑÀ X ÐQ Ñ Ä X ÐFÑ, definida por
X Ð:ÑÐBß AÑ œ Ð:ÐBÑß H:B ÐAÑÑ, e que esta bijecção pode ser utilizada para
munir X ÐQ Ñ de uma estrutura de variedade abstracta, a qual não depende da
carta escolhida.
c) Considerando a estrutura de variedade em X ÐQ Ñ atrás referida, mostrar
que um campo vectorial \ œ Ð\B ÑB−Q é suave se, e só se, for suave a
aplicação de Q para X ÐQ Ñ, B È ÐBß \B Ñ.
d) Se Q s é outra variedade abstracta, para a qual também se escolheu, para
cada C − Q s , um espaço vectorial tangente XC ÐQs Ñ, e se 0 À Q Ä Q
s é uma
aplicação suave, mostrar que tem lugar uma aplicação suave
s Ñ, X Ð0 ÑÐBß AÑ œ Ð0 ÐBÑß H0BÐAÑÑ.
X Ð0 ÑÀ X ÐQ Ñ Ä X ÐQ

e) Enunciar e justificar as propriedades de functorialidade associadas à defi-


nição dada em d) e deduzir, em particular, que, se 0 À Q Ä Q s é um difeo-
morfismo, então X Ð0 ÑÀ X ÐQ Ñ Ä X ÐQ s Ñ é um difeomorfismo.
f) Deduzir, em particular, que, se, para a variedade abstracta Q se
considerarem outras escolhas de espaços vectoriais tangentes X s ÐQ Ñ e se
s
)B À XB ÐQ Ñ Ä X B ÐQ Ñ forem os isomorfismos canónicos, então tem lugar um
difeomorfismo )À X ÐQ Ñ Ä X s ÐQ Ñ, definido por )ÐBß AÑ œ ÐBß )B ÐAÑÑ.
g) Seja \ œ Ð\B ÑB−Q um campo vectorial sobre a variedade abstracta Q e
seja Q w § Q uma subvariedade tal que, para cada B − Q w ,
\B − XB ÐQ w Ñ § XB ÐQ Ñ (é o que acontece, automaticamente, no caso em
que, Q w tem a mesma dimensão que Q , em cada um dos seus pontos, em
particular no caso em que Q w é um aberto de Q ÑÞ Mostrar que tem então
lugar um campo vectorial restrição \ÎQ w œ Ð\B ÑB−Q w , sobre Q w , o qual é
suave se \ o for.

141Apesar de existir uma noção de fibrado vectorial abstracto, que generaliza os fibrados
vectoriais “concretos”, que estudámos no capítulo III, essa noção não será abordada neste
trabalho. A definição que apresentámos deve portanto ser olhada como um todo, inde-
pendentemente do que queira dizer, no quadro abstracto, “fibrado vectorial tangente”.
Índice de Símbolos

PÐIà J Ñ 1
P‚ ÐIà J Ñ, P‘ ÐIà J Ñ 2
PÐI" ß á ß I: à J Ñ 2
P: ÐIà J Ñ 2
E À P : Ð Šà J Ñ Ä J 3
E" À PÐIß I w à J Ñ Ä PÐIà PÐI w à J ÑÑ 3
E4 À PÐI" ß á ß I: à J Ñ Ä PÐI" ß á ß I4 à PÐI4" ß á ß I: à J ÑÑ 3
m0 m 4, 4
mÐB" ß á ß B: Ñm œ max mB4 m 4
"Ÿ4Ÿ:
PÐ-" ß á ß -: à .ÑÀ PÐI" ß á ß I: à J Ñ Ä PÐI"w ß á ß I:w à J w Ñ 5
P: Ð-à .ÑÀ P: ÐIà J Ñ Ä P: ÐI w à J w Ñ 5
I 6
TrÐ-Ñ, detÐ-Ñ 7
Tr‚ Ð-Ñ, det‚ Ð-Ñ, Tr‘ Ð-Ñ, det‘ Ð-Ñ 8
ØBß CÙ 10
ØBß CÙ‚ 11
ØBß CÙ‘ 11
dÐDÑ 11
)À I Ä PÐIà ŠÑ 12
J¼ 13
1J 14
$4ß5 15
-‡ À J Ä I 17
P++ ÐIà IÑ, P++ ÐIà IÑ 18
ØÐB" ß á ß B: Ñß ÐC" ß á ß C: ÑÙ œ ØB" ß C" Ù  â  ØB: ß C: Ù 24
Ø-ß .Ù œ ! Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ
7
24

Ô -"ß" -"ß# â -"ß7 ×


4œ"

Ö -#ß" -#ß# â -#ß7 Ù


Ö Ù 28
Õ -8ß" -8ß# â -8ß7 Ø
ã ã ä ã

H8 ÐIÑ 32, 198


!À H8 ÐIÑ Ä Ö"ß "× 33
I ß I § I Ï Ö!× 34
I ß I § I Ï J 35
!I‚J œ !I ‚ !J 39
H0 ÐB! Ñ œ H0B! À I Ä J 43
0 w Ð>! Ñ 49
554 Índice de Símbolos

H5 0 À Y Ä P5 ÐIà J Ñ 53
0 Ð5Ñ À N Ä J 57
H4 0 Ð+" ß á ß +: Ñ=H4 0Ð+" ßáß+: Ñ − PÐI4 à J Ñ 62
`0
`B4 Ð+" ß á ß +: Ñ − J 62

WT Ð0 Ñ œ ! Ð+4  +4" Ñ0 Ð+4 Ñ


R
72

' , 0 Ð>Ñ .>


4œ"

+ 72
Y ÐIÑ 83
W" § ‚ 83
Z8 ÐIÑ § I 8 83, 83, 183
SÐIÑ, S ÐIÑ œ WSÐIÑ, S ÐIÑ 83, 138, 139
KPÐ8ß ŠÑ 87
tB! ÐEÑ, t
B! ÐEÑ, XB! ÐEÑ 89, 514
H0B! À XB! ÐEÑ Ä J 95
W< ÐB! Ñ 128
KPÐIÑ, KP‘ ÐIÑ, KP‚ ÐIÑ 136
KP ÐIÑ, KP ÐIÑ 137
SÐIà J Ñ, Y ÐIà J Ñ 137
Y ÐIÑ 138
Y w ÐIÑ 139
Y ÐIÑ 140
†5 ÐIÑ, K5 ÐIÑ 141
‘ œ Ò!ß _Ò, ‘8: œ ‘8: ‚ ‘: 147
`: ÐQ Ñ 150, 460
GÐ0 Ñ 171
WPÐ8ß ŠÑ 182
\‡ 182, 183
SÐ8Ñ 182
Y Ð8Ñ 183
I œ ÐIB ÑB−E 193
0 ‡ I œ ÐI0 ÐCÑ ÑC−Es 193
I ÎEs œ ÐIB ÑB−Es 193
0‡ I œ Ð0ÐIB ÑÑB−E 194
0 ‡ [ œ Ð[0 ÐCÑ ÑC−Es 194
[ÎEs 194
0‡ [ œ Ð0Ð[B ÑÑB−E 194
JE œ ÐJ ÑB−E 195
X ÐQ Ñ œ ÐXB ÐQ ÑÑB−Q 195
H7 ÐIÑ, 07 À H7 ÐIÑ Ä I 198
17 À H7 ÐIÑ Ä I 199
1B À I Ä IB , 1B¼ À I Ä IB¼ 199
I ¼ œ ÐIB¼ ÑB−E 201
I˜ œ ÖÐBß AÑ − K ‚ I ± B − E, A − IB × 204
Índice de Símbolos 555

! œ Ð!B ÑB−E 204


0 ‡ ! œ Ð!0 ÐCÑ ÑC−Es 204
!ÎEs 204
f[B! À XB! ÐEÑ Ä IB! 210
f[ Ð\Ñ œ f\ Ð[ Ñ 212
2B! À XB! Ð\Ñ ‚ IB! Ä IB¼! 214
[B! ßA 218
Ò\ß ] Ó 220
H0 Ð\ÑB œ H0B Ð\B Ñ 220
H\ 0 220
\†0 220
k ÐQ Ñ 221
t>B 227
5t B œ 2B Ð>tB ß t>B Ñ − XB ÐQ Ѽ 227
5B œ m5t B m 230
t t
8tB œ m55tB m œ 55BB 230
B

t7 B œ 2 s B Ð>tB ß 8tB Ñ 231


7B œ mt7 B m 232
t, B œ t7 B œ t7 B 232
mt7 B m 7B
8tB 239
5B œ Ø5t B ß 8tB Ù 239
t, B 240
7B œ Øt7 B ß t, B Ù 240
8tB 241
-B À XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ 241
252
compÐ!Ñ œ '+ m!w Ð>Ñm .>
VB À XB ÐEÑ ‚ XB ÐEÑ ‚ IB Ä IB
,
263, 440
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä I s 267
0 - œ Ð-0 ÐCÑ ÑC−Es À 0 I Ä 0 ‡ I w
‡ ‡
268
-ÎEs À I ÎEs Ä I w ÎEs 268
-B¼ œ -B ‰ 1B 270
-˜ÐBß AÑ œ ÐBß -B ÐAÑÑ 270
f-B Ð?ÑÀ IB Ä IBw 275
"Ð0 ÑÀ XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ 281
-B¼ œ -B ‰ Ð1B ‚ 1Bw Ñ 285
I ‚ I w œ ÐIB ‚ IBw ÑB−E 286
f-B Ð?ÑÀ IB ‚ IBw Ä IBww 290
RB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ 310
P384 ÐIà J Ñ 316
P=9, ÐIà J Ñ 316
W 8 œ ÖB − ‘8" ± mBm œ "× 316
H8 ÐIÑ, H 8
ÐIÑ 318
556 Índice de Símbolos

gradÐ0 ÑB 321, 322


. =B Ð?ß @Ñ, . =B Ð?ß @ß AÑ 339
-ÐAÑ œ -ÐAÑ 346
0>ßB À N>ßB Ä E 359
=À H Ä E, =Ð=ß >ß BÑ œ 0>ßB Ð=Ñ 359, 369
=
sÀ H s Ä E, = sÐ=ß BÑ œ =Ð=ß !ß BÑ 360
\ÐCÑ À EÐCÑ Ä I 360, 370
=ÐCÑ À HÐCÑ Ä EÐCÑ 360
=À H Ä I , =ÐCß =ß >ß BÑ œ =ÐCÑ Ð=ß >ß BÑ 361, 370
D † B œ 1ÐDß BÑ 371
=À J! ‚ M ‚ M ‚ I Ä I , =ÐCß =ß >ß BÑ œ 0Cß>ßB Ð=Ñ 375
expÀ PÐIà IÑ Ä PÐIà IÑ 404
0,ß+ À I+ Ä I, 414
w
Ð $$0> Ñ> œ f0>w Ð"Ñ − X0 Ð>Ñ Ð\Ñ 420
0+ßBßA À N+ßBßA Ä Q 424
H § ‘ ‚ ‘ ‚ X ÐQ Ñ, =À H Ä Q 424
s § ‘ ‚ X ÐQ Ñ, =
H sÄQ
sÀ H 424
W § X ÐQ Ñ, expÀ W Ä Q 426
WB § XB ÐQ Ñ, expB À WB Ä Q 426
GÀ I Ä F" Ð!Ñ 465
h= , h0 477
ÐEÑ, onde E § Q 489
XB Ð0 Ñ § X0 ÐBÑ ÐQ Ñ, onde 0 À E Ä Q 498
H0B À XB ÐEÑ Ä X0 ÐBÑ ÐEÑ s 516
s
)À XB ÐEÑ Ä X B ÐEÑ 518
XÐBßCÑ ÐE ‚ Ew Ñ œ XB ÐEÑ ‚ XC ÐEw Ñ 524
3J À X1J ÐKÐIÑÑ Ä PÐJ à I JÑ 528
s
0æ À PÐJ à I I
J Ñ Ä PÐ0ÐJ Ñà 0ÐJ Ñ Ñ 528
XJ ІÐIÑÑ œ PÐJ à I JÑ 529
YQ 532
AÀ YQ Ä ‘ 532
W/<ÐQ ß B! Ñ 532
XB! ÐQ Ñ Ä W/<ÐQ ß B! Ñ, ? È H? 532
0 ‡ À YQs Ä YQ 533
0‡ À W/<ÐQ ß B! Ñ Ä W/<ÐQ s ß 0 ÐB! ÑÑ 533
AÎQs 537
ÐIÑ, 8 БÑ, 8 Ð‚Ñ 540
ÐB" À B# À á À B8" Ñ 540
ñ ñ
I œ I  Ö_× , <À I Ï Ö!× Ä I 541
AÀ YQ Ä YQ 551
W/<ÐQ Ñ 551
Índice de Símbolos 557

X ÐQ Ñ œ ÖÐBß AÑ ± B − Q , A − XB ÐQ Ñ× 552

X Ð0 ÑÀ X ÐQ Ñ Ä X ÐQ 552
s
)À X ÐQ Ñ Ä X ÐQ Ñ 552
\ÎQ w œ Ð\B ÑB−Q w 552
Índice Remissivo

aberto fatiável 399 base directa 33


acção suave 191 base ortogonal 14
acção transitiva 191 base ortonormada 15
aceleração intrínseca 420 base retrógrada 33
álgebra de Lie 221 bijecção de mudança de carta 443
ângulo orientado 329 binormal positiva 240
anticircular (aplicação bilinear) 78 binormal principal 232
aplicação aberta 126 bordo de índice : 150
aplicação aberta num ponto 126 caminho regular 189
aplicação afim 54 campo de referenciais 194
aplicação antilinear 6 campo de referenciais complexo 296
aplicação de classe G 5 52, 92 campo de referenciais directo 205
aplicação bilinear anticircular 78 campo de referenciais holomorfo 203
aplicação bilinear circular 78 campo de referenciais ortonormado 199
aplicação bilinear definida positiva 87 campo de referenciais retrógrado 205
aplicação diferenciável num ponto 42 campo vectorial 212, 355, 551
aplicação ‚-diferenciável num ponto 43 campo vectorial completo 382
aplicação exponencial 426, 426 campo vectorial geodésico 423
aplicação de Gauss 342, 343 campo vectorial holomorfo 351
aplicação holomorfa 60, 299 campo vectorial restrição 552
aplicação linear adjunta 17 campo vectorial suave 552
aplicação linear associada 54 campo vectorial de suporte compacto 382
aplicação linear autoadjunta 18 campo vectorial transportado 262
aplicação linear antiautoadjunta 18 campo de velocidades 421
aplicação linear complexa 2 campos vectoriais que comutam 391
aplicação linear conforme 22 campos vectoriais 0 -relacionados 261
aplicação linear conjugada 346 canto 150
aplicação linear coortogonal 80 cartas compatíveis 443
aplicação linear ortogonal 20 carta compatível com topologia 443
aplicação linear real 2 carta de conjunto 443
aplicação linear simétrica 18 carta de espaço topológico 443
aplicação linear unitária 20 carta de estrutura diferenciável 444
aplicação linear de Weingarten 241 carta local 112
aplicação multilinear 2 carta local holomorfa 300
aplicação paralela 281 centro de curvatura 252
aplicação parcialmente diferenciável 62 circular (aplicação bilinear) 78
aplicação sesquilinear 10 Codazzi (identidade de) 342
aplicação suave 52, 93, 447 codimensão 128
aplicação suave homogénea 175 coeficiente de conformalidade 22
aplicação uniforme 421 coincidir na vizinhança 89
apresentação de espaço tangente 512 colagem de estruturas diferenciáveis 469
Baire (teorema) 165 colagem de topologias 470
banda de Möbius 319 compactificado 541
base 193 5-compacto 165
base contável (espaço topológico) 166 complementar ortogonal 13
base de abertos 166 completo (campo vectorial) 382
base canónica 35 comprimento de caminho 263, 440
560 Índice Remissivo

comutar (campos vectoriais) 391 espaço euclidiano 10


condição de compatibilidade 469, 470 espaço hermitiano 10
condição inicial 355, 369, 383 espaço projectivo 540
condição de integrabilidade 389, 394 espaço total de fibrado vectorial 204
condição de transversalidade espaço total do fibrado tangente 552
130, 132, 159, 161, 163, 181 espaço vectorial conjugado 6
condições iniciais de geodésica 423 espaço vectorial orientado 33
cone, cone simétrico 90 espaço vectorial tangente 89, 514
cone tangente, cone tangente alargado 89 espaço vectorial tangente
conjunto homogéneo 175 a aplicação suave 498
conjunto localmente fechado 93 estrutura complexa 5
conserva as orientações 35, 273, 274 estrutura complexa associada 5
contingente 89 estrutura complexa compatível 11
curva 113, 227 estrutura diferenciável 444
curva integral 355 estrutura diferenciável canónica
curva integral máxima 358 445, 445, 504
curvatura 230 estrutura diferenciável induzida 446
curvatura de Gauss 249 estrutura diferenciável produto 453
curvatura máxima 249 estrutura diferenciável transportada 451
curvatura média 249 estruturas difererenciáveis
curvatura mínima 249 mutuamente compatíveis 470
curvatura normal sinalizada 245 estrutura de espaço tangente 514
curvatura principal 248 estrutura quase complexa 295, 299
curvatura sinalizada 239 estrutura quase complexa associada 349
derivação 532, 551 estrutura quase complexa produto 303
derivação associada 532 estrutura de variedade quociente 481
derivada de aplicação (aplicação linear) Euler (teorema) 329
43, 95, 516 exponencial (aplicação) 426, 426
derivada covariante de secção 210 exponencial de endomorfismo 404
derivada covariante de mosfismo 275, 290 família imagem recíproca 193
derivada exterior 339, 339 família restrição 193
derivada de Lie 340, 340, 406 família localmente finita de aplicações 103
derivada de ordem 5 de aplicação 53 família de subespaços vectoriais 193
derivada parcial 62 fatia 399
desigualdade de Schwarz 10 fibra 193
determinante 7 fibrado vectorial 194
diagrama comutativo 513 fibrado vectorial constante 195
diâmetro duma partição 72 fibrado vectorial holomorfo 203
difeomorfismo 71, 99, 450 fibrado vectorial holomorfo trivial 203
difeomorfismo holomorfo 71, 299 fibrado vectorial de Möbius 207
difeomorfismo isométrico 263 fibrado vectorial orientável 206
difeomorfismo local 111, 457 fibrado vectorial osculador 231
difeomorfo 99, 111 fibrado vectorial produto 286
diferencial de aplicação (aplicação linear) fibrado vectorial tangente 195
43, 95, 516 fibrado vectorial tautológico 201
dimensão de fibrado vectorial 197 fibrado vectorial trivial 194
dimensão de variedade 112, 147, 457, 458 fibrado vectorial ‚-trivial 296
dimensão complexa de variedade 300 fluxo 360
direcção principal 248 fluxo geodésico 424
equação diferencial holomorfa 391 fluxo paramétrico 361
equação diferencial linear 372 folha da topologia fina 503
equação diferencial total 383, 407, 409 forma diferencial 339, 339
equação às variações 402 forma de Kähler 345
esfera de Riemann 302 fórmula de Gauss 253
Índice Remissivo 561

fórmula da média 51, 51, 52 Jacobi (identidade) 221, 259


fórmulas de Frenet-Serret 326 Kähler (forma) 345
fotografia de subvariedade 123, 155 Kähler (variedade) 314
Frenet-Serret (fórmulas) 326 Leibnitz (regra de) 47, 64
Frobenius (teorema) 386, 396, 399 lema de Gauss 439
Gauss (curvatura) 250 lema de Gronwall 356
Gauss (fórmula) 253 levantamento canónico 423
Gauss (lema) 439 Lie (álgebra) 221
Gauss (teorema egrégio) 266 Lie (grupo) 136, 546
geodésica 421 Lie (parêntesis) 220
geodésica minimizante 441 Lie (subgrupo) 546
geodesicamente completa (variedade) 437 localmente compacto 151
gradiente 321, 322 localmente conexo 151
gráfico 100 localmente difeomorfo 111, 457
Gram-Schmidt (método) 198, 199 localmente fechado 93
Grassmann (variedade de) 142, 445 localmente finita (família) 103
Gronwall (lema) 356 localmente lipschitziana 356
grupo linear especial 182 magro 164
grupo fundamental 434 matriz antissimétrica 182
grupo de Lie 136, 546 matriz de aplicações lineares 28
grupo linear geral 136 matriz ortogonal 182
grupo ortogonal 138, 182 matriz simétrica 182
grupo ortogonal especial 139 matriz unitária 183
grupo a um parâmetro 402 método de Gram-Schmidt 198, 199
grupo unitário 138, 183 Meusnier (teorema) 328
grupóide fundamental 433 Möbius (banda) 319
hélice 324 Möbius (fibrado vectorial) 207
helicóide 329 morfismo bilinear imagem recíproca 284
Hessiana 281 morfismo bilinear paralelo 292
Hilbert-Schmidt (produto interno) 25, 81 morfismo bilinear suave 283
hiperplano 35 morfismo linear 267
hiperplano afim 241 morfismo linear complexo 295
hipersuperfície 241 morfismo linear imagem recíproca 268
homogénea (aplicação suave) 175 morfismo linear paralelo 276
homogéneo (conjunto) 175 morfismo linear suave 267
homotopia suave 317 Newlander-Nirenberg 313
identidade de Jacobi 221, 259 Nijenhuis (tensor) 310
imagem directa 194, 194 norma de aplicação linear 4
imagem recíproca 193, 194, 268 norma de aplicação multilinear 4
imersão 119, 461 norma associada 10
imersão holomorfa 304 norma do máximo 4
imersão num ponto 119, 460 normal focalizante 250
imersão riemaniana 282 normal positiva 239
índice de sector 144 normal principal 231
índice de variedade 147, 457 normal unitária 241
integral de aplicação contínua 72 orientação 33
integral indefinido 74 orientação associada a parametrização 236
integral paramétrico 74 orientação associada a soma directa 38
inverte as orientações 35, 273, 274 orientação canónica 35, 37
isometria 263 orientação canónica da esfera 210
isometria linear 20 orientação constante 205
isomorfismo canónico 518 orientação determinada (soma directa) 38
isomorfismo linear suave 272 orientação de família 204
0-invariante (subespaço vectorial) 82 orientação imagem recíproca 204
562 Índice Remissivo

orientação induzida por orientação secção 194


transversa 40 secção holomorfa 306
orientação (mesma ou diferente) 32 secção imagem recíproca 194
orientação negativa 34 secção paralela 257
orientação positiva 34 secção suave 194
orientação produto 39 sector canónico de índice : de ‘8 147
orientação restrição 204 sector de índice : 144
orientação suave 205 segunda forma fundamental 214
orientação transportada 36 segunda forma fundamental relativa
orientação transversa 35 277, 281
orientação transversa semi-espaço aberto 35
associada a sector 145 semi-recta aberta 34
orientação de variedade 206 sentido (mesmo) 34
parametrização 235 separável (espaço topológico) 166
parametrização por comprim. de arco 326 sesquilinear 10
paratingente 89 símbolo de Kronecker 15
parêntesis de Lie 220 simetria 437
partição da unidade 106, 108, 455 simplesmente conexo 434
partição dum intervalo 72 sistema ortogonal 14
partição mais fina 72 sistema ortonormado 15
plano afim 235 solução de equação diferencial 356, 368
plano osculador 230 solução geral 359, 369, 375
ponto crítico 163, 174, 190 solução geral geodésica 424
ponto de estacionaridade 218 solução geral paramétrica 361, 370, 390
ponto focal 250 solução máxima 369, 389
ponto do infinito 541 Stiefel (variedade) 183
ponto de inflexão 325 suave (aplicação) 52, 92, 447
ponto regular 163, 174ß 190 suave (secção) 194
ponto singular 400 suavemente contráctil 430
ponto umbílico 249 subespaço afim 216
primitiva 408 subespaço horizontal 218
primitiva covariante 430 subespaço vectorial associado 216
produto fibrado 181 subespaço vectorial 0-invariante 82
produto interno 10 subfibrado vectorial paralelo 333
produto interno canónico 10 subgrupo de Lie 546
produto interno hermitiano 11 subgrupo normal 546
produto interno de Hilbert-Schmidt 25, 81 submersão 121, 462
produto interno real associado 11 submersão holomorfa 306
projecção estereográfica 301 submersão num ponto 121, 461
projecção ortogonal 14 submersão riemaniana 341
prolongamento local 92 subvariedade 489
quase-prolongamento 550 subvariedade imersa 489
raio de curvatura 252 subvariedade imersa integral 500
recta afim 230 subvariedade imersa normal 489
regra de Leibnitz 47, 64 subvariedade imersa semi-integral 500
0 -relacionados (campos vectoriais) 261 subvariedade integral 393
restrição de carta 446 subvariedade quase complexa 304
restrição de derivação 537 subvariedade semi-integral 393
retracção 225 subvariedade totalmente geodésica 334
retracto por deformação forte 225 superfície 113
Riemann (esfera) 302 superfície mínima 329
Riemann (teorema) 418 suporte compacto (campo vectorial) 382
Sard (teorema) 171 tangente unitária positiva 227
Schwarz (desigualdade) 10 tensor de curvatura 252, 258
Índice Remissivo 563

tensor de Nijenhuis 310 valor crítico 163, 174, 190


tensor de torção 310 valor próprio 247
teorema da aplicação idempotente 133 valor regular 163, 174, 190
teorema de Baire 165 variedade 147, 457, 458
teorema da característica constante 134 variedade abstracta 458
teorema da derivada injectiva 118 variedade concreta 443
teorema da derivada sobrejectiva 119 variedade geodesicamente completa 437
teorema egrégio de Gauss 266 variedade de Grassmann 142, 445
teorema de Euler 329 variedade de Grassmann complexa 306
teorema de Frobenius 386, 396, 399 variedade holomorfa 300
teorema da função inversa 71, 116, 464 variedade integral 393
teorema da imersão 119 variedade semi-integral 393
teorema das funções implícitas 70 variedade de Kähler 314
teorema de Meusnier 328 variedade orientável 206
teorema da partição da unidade variedade quase complexa 299
103, 105, 108, 455 variedade quociente 481
teorema de Riemann 418 variedade sem bordo 112, 458
teorema de Sard 171, 174 variedade sem cantos 150
teorema da submersão 121, 132 variedade simpléctica 345
teorema de Tietze-Urysohn 179 variedade de Stiefel 183
teorema de Whitney 478 variedade topológica 113
ter a mesma orientação 32 vector curvatura 227
ter orientações opostas 32 vector curvatura normal 245
Tietze-Urysohn (teorema) 179 vector negativo 34
topologia associada a estrut. dif. 444 vector positivo 34
topologia definida por carta 443 vector próprio 247
topologia fina 502 vector tangente 89
topologia final 545 vector tangente horizontal 341
topologias mutuamente compatíveis 470 vector tangente principal 248
torção 232 vector tangente vertical 341
torção sinalizada 240 vector torção 231
torção (tensor de) 310 vector unitário positivo 40
toro 508 vector velocidade 420
traço 7 vectores ortogonais 13
transitiva (acção) 191 velocidade (vector) 420
transporte de campo vectorial 262 velocidade escalar 421
transporte de orientação 36 vizinhança tubular 222
transporte paralelo 414, 415 Weingarten (aplicação linear) 241
umbílico 249 Whitney (teorema) 478
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