Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Armando Machado
UNIVERSIDADE DE LISBOA
Faculdade de Ciências
Departamento de Matemática
2009
ii
Introdução v
Capítulo I. Revisão de Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
§1. Algumas propriedades dos espaços vectoriais de dimensão finita 1
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 9
§3. Os produtos internos de Hilbert-Schmidt 24
§4. Orientação de espaços vectoriais reais 31
§5. Cálculo Diferencial em espaços vectoriais de dimensão finita 42
§6. Aplicações de classe G 5 52
§7. Derivadas parciais 62
§8. Teoremas da função implícita e da função inversa 66
§9. Integral de funções vectoriais de variável real 72
§10. Diferenciabilidade do integral paramétrico 74
Exercícios 77
Capítulo II. Vectores Tangentes e Variedades
§1. Vectores tangentes a um conjunto num ponto 89
§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos 92
§3. Partições da unidade 102
§4. Variedades sem bordo 111
§5. Alguns exemplos importantes de variedade 136
§6. Variedades com bordo 143
§7. Teorema de Sard 163
Exercícios 176
Capítulo III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
§1. Fibrados vectoriais 193
§2. Orientação de fibrados vectoriais reais 204
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 210
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 227
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 241
§6. Tensor de curvatura 252
§7. Invariância por isometria. Teorema Egrégio 261
§8. Morfismos entre fibrados vectoriais 267
§9. Estruturas quase complexas e aplicações holomorfas 295
Exercícios 316
Capítulo IV. Equações Diferenciais Ordinárias em Variedades
§1. Solução geral e fluxo de um campo vectorial 355
§2. Continuidade da solução geral 360
§3. Propriedades da solução geral quando o domínio é aberto 364
§4. Equações diferenciais dependentes do tempo 368
iv Índice
Este texto teve a sua origem num curso de Geometria Diferencial dado pelo
autor aos estudantes do terceiro ano das licenciaturas em Matemática e Ensino
da Matemática da Faculdade de Ciências de Lisboa e desenvolve duas versões
anteriores, a primeira publicada em 1985 na colecção Textos e Notas do CMAF
e a segunda [14] editada conjuntamente em 1991 pela Editora Cosmos e pela
Fundação da Universidade de Lisboa. Em quase todos os pontos o texto vai
bastante mais longe do que tem sido possível estudar no curso e vários capítulos
não foram sequer aflorados neste.
De um modo geral procurou-se realizar um texto ao mesmo tempo intro-
dutório e fundamental que, mantendo-se a um nível tanto quanto possível ele-
mentar, constituísse uma exposição coerente e razoavelmente completa dos
conceitos e técnicas mais frequentemente utilizados no estudo da geometria das
variedades diferenciáveis. O carácter introdutório do texto não nos inibiu de
apresentar demonstrações detalhadas de todos os resultados expostos, mesmo
quando estas são tecnicamente mais sofisticadas. Procurou-se assim garantir que
o conteúdo fosse tão auto-suficiente quanto possível de modo a que o trabalho
pudesse também servir como texto de referência. Essa mesma preocupação
levou-nos a incluir o tratamento de vários pontos que saiem do âmbito de
Geometria Diferencial, entre os quais se incluem revisões de certos pontos de
Álgebra Linear e das noções básicas do Cálculo Diferencial, em ambos os casos
no quadro dos espaços vectoriais de dimensão finita e privilegiando os
enunciados que não dependem da fixação de uma base, e o exame sistemático
dos resultados sobre equações diferenciais ordinárias, que tivémos necessidade
de utilizar, incluindo os resultados globais que envolvem a dependência das
condições iniciais e de eventuais parâmetros. Pressupomos, de qualquer modo,
que o leitor, para além de uma certa destreza matemática, possui conhecimentos
básicos de Cálculo Diferencial e Integral, Álgebra Linear e Topologia Geral.
Ao longo da maior parte do trabalho as variedades são estudadas sob o ponto
de vista concreto, isto é, uma variedade será um subconjunto de um espaço
vectorial ambiente, de dimensão finita, e o espaço vectorial tangente em cada
ponto aparece então como subespaço vectorial desse espaço vectorial ambiente.
Este ponto de vista, seguido também, por exemplo, nos livros de Milnor [19] e
de Guillemin e Pollack [10], permite trabalhar desde o início num quadro
geométrico intuitivo em que se podem estudar rapidamente resultados
interessantes e não triviais. A introdução precoce das variedades abstractas pode
ter, na nossa opinião, um carácter desmotivador, ao atrasar o aparecimento dos
resultados geométricos importantes, por implicar a construção prévia de um
imponente edifício abstracto, constituído na maioria por definições e resultados
triviais, embora essenciais. Se é de aceitação pacífica a importância pedagógica
vi Introdução
passando por esse ponto, para outros como operadores diferenciais, para outros
ainda como classes de equivalência de pares constituídos por uma carta para um
aberto de ‘8 e um vector de ‘8 Þ Cada um desses métodos tem as suas vantagens
e desvantagens, entre estas últimas o facto de aparecerem amiúde isomorfismos
canónicos, nem sempre triviais, onde esperaríamos ter igualdades. À partida, em
vez de tomarmos partido por um desses métodos, preferimos definir quando é
que um espaço vectorial pode ser considerado como espaço tangente, deixando
assim um grau de liberdade ao utilizador que poderá, em cada caso, fazer a
escolha que se revele mais cómoda e, nalgumas situações, subordinar a escolha
de um espaço vectorial tangente a outras feitas anteriormente, de modo a
conseguir que certos isomorfismos sejam efectivamente igualdades. Examina-
mos em seguida, uma das concretizações da noção de espaço vectorial tangente
mais utilizada, aquela para a qual os vectores tangentes são definidos como
operadores diferenciais.
No fim de cada capítulo é apresentada uma lista de exercícios, nalguns casos
destinados a testar a compreensão do texto, noutros apresentando resultados que
complementam os estudados antes.
Na bibliografia, apresentada no fim do volume, encontram-se, além dos
trabalhos citados no texto, outros livros em que o leitor interessado poderá apro-
fundar, ou estudar doutro ponto de vista, os assuntos que foram aqui abordados.
De entre eles recomendamos especialmente os dois volumes do livro de Spivak
[25], o livro de Gray [8], este último com ênfase no estudo, com a ajuda do
computador, das curvas e superfícies em ‘$ e repleto de figuras elucidativas,
assim como os livros de Manfredo do Carmo [4,5].
Gostaríamos de terminar com uma palavra de agradecimento a todos aqueles
que contribuíram para melhorar a versão final do texto. A estudante Élia Ferreira
coligiu pacientemente dezenas de erros de dactilografia que figuravam numa
versão preliminar posta à disposição dos alunos. Os colegas Cecília Ferreira e
Luís Trabucho leram cuidadosamente partes do manuscrito e, para além da loca-
lização de outros erros de dactilografia, contribuíram com as suas observações
para a melhoria de vários pontos da exposição. Apraz-nos também registar o
empenho generoso e competente que este último tem dedicado à edição da
colecção em que este trabalho se insere, contribuíndo assim, de modo decisivo,
para a qualidade desta.
CAPÍTULO I
Revisão de Álgebra Linear e
Cálculo Diferencial
tes +5ß4 estão definidas pela condição de se ter 0ÐB4 Ñ œ ! +5ß4 C5 (ambos os
5ß4
5
2 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
1Trata-se de uma convenção que poderia ser facilmente prevista por quem possua um
razoável treino lógico: I ! é um conjunto com um único elemento ‡ (a única aplicação
cujo domínio é o conjunto vazio) e todas as aplicações de I ! em J são multilineares,
pelo que tudo o que temos que fazer é identificar cada uma dessas aplicações de I ! em J
com a imagem de ‡ por essa aplicação.
§1. Algumas propriedades dos espaços vectoriais… 3
EÀ PЊà J Ñ Ä J ,
definido por EÐ0Ñ œ 0Ð"Ñ; o isomorfismo inverso associa a cada C − J a
aplicação linear de Š em J definida por + È + C . Mais geralmente, para
cada : !, vai ter lugar um isomorfismo
EÀ P: Њà J Ñ Ä J ,
definido por
EÐ0Ñ œ 0Ð"ß á ß "Ñ,
e o isomorfismo inverso E" À J Ä P: Њà J Ñ associa a cada C − J a aplica-
ção multilinear de Š: em J definida por
E" ÐCÑÐ+" ß á ß +: Ñ œ +" â+: C.
definida por E" Ð0Ñ œ s0, aplicação linear essa que se constata imediatamente
ser mesmo um isomorfismo.
Mais geralmente, dados os espaços vectoriais, reais ou complexos,
I" ß á ß I: e J , vai ter lugar, para cada ! Ÿ 4 Ÿ : , um isomorfismo
E4 À PÐI" ß á ß I: à J Ñ Ä PÐI" ß á ß I4 à PÐI4" ß á ß I: à J ÑÑ,
definido por
E4 Ð0ÑÐB" ß á ß B4 ÑÐB4" ß á ß B: Ñ œ 0ÐB" ß á ß B4 ß B4" ß á ß B: ÑÞ
definida por
PÐ-" ß á ß -: à .ÑÐ0Ñ œ . ‰ 0 ‰ Ð-" ‚ â ‚ -: Ñ
ou seja,
PÐ-" ß á ß -: à .ÑÐ0ÑÐB" ß á ß B: Ñ œ .Ð0Ð-" ÐB" Ñß á ß -: ÐB: ÑÑÑ.
No caso particular em que todos os -4 À I4w Ä I4 são iguais a uma certa apli-
cação linear -À I w Ä I , usamos também a notação
§1. Algumas propriedades dos espaços vectoriais… 5
3
detÐ-Ñ œ detÐÐ+3ß4 ÑÑ. Por outras palavras, o traço e o determinante de - são
os da sua matriz numa base arbitrária de I .2
5
,3ß4 e -5ß4 , respectivamente, a última das quais é invertível, em particular tem
determinante não nulo, podemos escrever
5 5ß3
2Repare-se que, se I e J são espaços vectoriais distintos, com a mesma dimensão, não
definimos nem o traço nem o determinante de uma aplicação linear -À I Ä J .
8 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
-ÐB5 Ñ œ ! -4ß5 B4 . Podemos escrever -4ß5 œ +4ß5 3,4ß5 , com +4ß5 ß ,4ß5 − ‘, e
seja G , com elementos -4ß5 , a matriz de - nesta base, portanto a definida por
4
então, considerando a base B" ß á ß B8 ß 3B" ß á ß 3B8 de I , enquanto espaço
vectorial real, podemos escrever, lembrando que -Ð3B5 Ñ œ 3-ÐB5 Ñ,
Ú
Ý -ÐB5 Ñ œ ! +4ß5 B4 ! ,4ß5 3B4
Û
Ý -Ð3B5 Ñ œ ! ,4ß5 B5 ! +4ß5 3B4
4 4
Ü 4 4
Gw œ ”
E •
E F
.
F
\œ”
M8 •
M8 3M8
,
3M8
\œ” 8
M8 •
M 3M8
,
3M8
tem-se
\ ‚ Gw ‚ \ œ # ‚ ”
E 3F •
E 3F !
.
!
que I é sinónimo de I .
c) Quando I e J são espaços vectoriais complexos, chamámos aplicações
antilineares às aplicações lineares reais -À I Ä J que verificam a condição
-Ð-?Ñ œ - -Ð?Ñ, para cada - − ‚ e ? − I . Em consonância com o que se
disse em a), quando I e J são espaços vectoriais reais, vamos considerar
que as aplicações antilineares -À I Ä J são simplesmente as aplicações
lineares.
d) Quando I e J são espaços vectoriais complexos, diremos que uma aplica-
ção 0À I ‚ I Ä J é sesquilinear se ela é linear na primeira variável e
antilinear na segunda. Quando I e J são espaços vectoriais reais,
consideramos que uma aplicação sesquilinear 0À I ‚ I Ä J é precisamente
a mesma coisa que uma aplicação bilinear. É claro que uma aplicação
sesquilinear I ‚ I Ä J é precisamente a mesma coisa que uma aplicação
bilinear I ‚ I Ä J .
I.2.2 Seja I um espaço vectorial sobre Š, onde Š é ‘ ou ‚. Relembremos que
um produto interno sobre I é uma aplicação sesquilinear I ‚ I Ä Š,
notada usualmente ÐBß CÑ È ØBß CÙ, verificando as seguintes condições:
tendo então lugar a desigualdade de Schwarz, que nos afirma que, quaisquer
que sejam Bß C − I ,
lØBß CÙl Ÿ mBmmCm,
com lØBß CÙl œ mBmmCm se, e só se, B e C são linearmente dependentes.
Aos espaços vectoriais de dimensão finita, munidos de um produto interno,
dá-se o nome de espaços euclidianos ou espaços hermitianos, conforme
Š œ ‘ ou Š œ ‚.
I.2.3 O exemplo mais simples de espaço vectorial sobre Š com produto interno é
o espaço cartesiano Š8 , com o produto interno canónico, definido por
ØÐ+" ß á ß +8 Ñß Ð," ß á ß ,8 ÑÙ œ +" ," â +8,8 .
3No caso em que Š œ ‘, esta propriedade diz-nos que a aplicação bilinear é simétrica.
4É claro que a recíproca é também verdadeira. Mais geralmente, a bilinearidade real do
produto interno implica que se tem ØBß CÙ œ !, sempre que B œ ! ou C œ !.
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 11
5Notamos, para cada complexo D , dÐDÑ e eÐDÑ a parte real e o coeficiente da parte
imaginária de D .
12 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
e
Ø?ß N Ð@ÑÙ‚ œ Ø?ß N Ð@ÑÙ‘ Ø?ß N ÐN Ð@ÑÑÙ‘ 3 œ
œ Ø?ß N Ð@ÑÙ‘ Ø?ß @Ù‘ 3 œ 3 Ø?ß @Ù‚ ,
Dem: É imediato que, para cada C − I , tem lugar uma aplicação linear de I
em Š, definida por B È ØBß CÙ, o que mostra que se pode definir uma
aplicação )À I Ä PÐIà ŠÑ pela igualdade do enunciado. É trivial constatar
que a aplicação ) é antilinear, isto é, é uma aplicação linear I Ä PÐIà ŠÑ,
§2. Espaços euclidianos e hermitianos 13
pelo que, uma vez que I e PÐIà ŠÑ têm a mesma dimensão, para vermos
que ela é um isomorfismo basta vermos que o seu núcleo é Ö!×. Ora, se
)ÐCÑ œ !, tem-se, em particular, ! œ )ÐCÑÐCÑ œ ØCß CÙ, donde C œ !.
I.2.10 Seja I é um espaço vectorial de dimensão finita sobre Š, munido de um
produto interno. Diz-se que dois vectores Bß C − I são ortogonais se se tem
ØBß CÙ œ !. Se J § I é um subespaço vectorial, chama-se complementar
ortogonal de J o conjunto J ¼ dos vectores B − I tais que ØBß CÙ œ !, para
todo o C − J .
I.2.11 Seja I um espaço hermitiano, com o produto interno complexo Ø ß Ù‚ e
seja Ø ß Ù‘ o produto interno real associado.
Se Bß C − I são vectores ortogonais, relativamente ao produto interno com-
plexo, então B e C são também ortogonais, relativamente ao produto interno
real, mas a recíproca já não é válida: Por exemplo, se B Á !, tem-se
Ø3Bß BÙ‚ œ 3ØBß BÙ‚ Á ! e Ø3Bß BÙ‘ œ !.
No entanto, no caso em que J § I é um subespaço vectorial complexo, o
complementar ortogonal J ¼ , relativamente a Ø ß Ù‚ , coincide com o comple-
mentar ortogonal relativamente a Ø ß Ù‘ .
Dem: É claro que, se B pertence ao complementar ortogonal de J ,
relativamente a Ø ß Ù‚ , então B também pertence ao complementar ortogonal
de J , relativamente a Ø ß Ù‘ . Suponhamos, reciprocamente, que B pertence ao
complementar ortogonal de J , relativamente a Ø ß Ù‘ . Para cada C − J , vem
também 3C − J , pelo que podemos escrever
dÐØBß CÙ‚ Ñ œ ØBß CÙ‘ œ !,
eÐØBß CÙ‚ Ñ œ dÐ3ØBß CÙ‚ Ñ œ dÐØBß 3CÙ‚ Ñ œ ØBß 3CÙ‘ œ !,
Bœ"
8
ØBß A4 Ù
A4 .
4œ"
ØA4 ß A4 Ù
ØBßA5 Ù
donde +5 œ ØA5 ßA5 Ù .
B œ " ØBß A4 Ù A4 .
8
4œ"
Dem: Vem
ØBß CÙ œ " +4 A4 ß " ,5 A5 ¡ œ " Ø+4 A4 ß ,5 A5 Ù œ
4ß5 4
6Recordemos que o símbolo de Kronecker $4ß5 é, por definição, igual a ", se 4 œ 5 , e igual
a !, se 4 Á 5 .
16 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
1J ÐBÑ œ "
7
ØBß A4 Ù
A4
4œ"
ØA4 ß A4 Ù
4œ"
Dem: Uma vez que C œ ! ØA4 ßA44 Ù A4 pertence evidentemente a J , tudo o que
ØBßA Ù
B Cß A5 ¡ œ ØBß A5 Ù "
7
ØBß A4 Ù
ØA4 ß A5 Ù œ
4œ"
ØA4 ß A4 Ù
ØBß A5 Ù
œ ØBß A5 Ù ØA5 ß A5 Ù œ !
ØA5 ß A5 Ù
e daqui segue-se que, para cada D − J , com D œ !,5 A5 ,
B Cß D ¡ œ " ,5 B Cß A5 ¡ œ !,
7
5œ"
5œ"
donde o resultado.
I.2.28 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8, munido de
produto interno, e -À I Ä I uma aplicação linear com adjunta -‡ À I Ä I .
Tem-se então
TrÐ-‡ Ñ œ TrÐ-Ñ, detÐ-‡ Ñ œ detÐ-Ñ.
para Bß C − I , B œ ! +4 A4 e C œ ! ,5 A5 , portanto
o que não é mais do que a condição a). Supondo que se verifica d), tem-se,
4 5
4 5
o que mostra que - é uma aplicação linear ortogonal. Reparemos agora que,
no caso em que Š œ ‚, a caracterização em c) implica, tendo em conta
I.2.22, que - é ortogonal, relativamente aos produtos internos complexos, se,
e só se, é ortogonal relativamente aos produtos internos reais associados. Por
esse motivo, para demonstrar a equivalência entre a) e b), que nos falta,
podemos examinar apenas o que se passa no caso em que Š œ ‘. Ora, a
condição a) implica evidentemente b) e, supondo que se verifica b), partimos
da identidade
ØB Cß B CÙ œ ØBß BÙ ØBß CÙ ØCß BÙ ØCß CÙ œ
œ ØBß BÙ #ØBß CÙ ØCß CÙ,
que implica que
"
ØBß CÙ œ ÐmB Cm# mBm# mCm# Ñ,
#
para deduzir que
"
Ø-ÐBÑß -ÐCÑÙ œ Ðm-ÐBÑ -ÐCÑm# m-ÐBÑm# m-ÐCÑm# Ñ œ
#
"
œ Ðm-ÐB CÑm# m-ÐBÑm# m-ÐCÑm# Ñ œ
#
22 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
"
????? œ ÐmB Cm# mBm# mCm# Ñ œ ØBß CÙ,
#
o que prova a).
I.2.31 Por exemplo, se I é um espaço euclidiano e N À I Ä I é uma estrutura
complexa, então N é uma estrutura complexa compatível se, e só se, é uma
aplicação linear ortogonal (e portanto uma isometria linear), o que é
equivalente a N ser antiautoadjunta.
Dem: O facto de N ser compatível se, e só se, é uma aplicação linear ortogo-
nal é simplesmente a definição. Por outro lado, a identidade N ‰ N œ M.I
garante que N é um isomorfismo, com N " œ N , e, pelo resultado prece-
dente, N é uma aplicação linear ortogonal se, e só se, N ‡ œ N " , ou seja, se, e
só se, N ‡ œ N .
Vimos em I.1.15 que todo o espaço vectorial real de dimensão par admite
uma estrutura complexa. Como exemplo de aplicação do que estabele-
cemos atrás, vemos agora que, quando o espaço é euclidiano, podemos
afirmar um pouco mais.
coeficiente de conformalidade - !.
Dem: É fácil de ver que, se - œ !, cada uma das condições a) a d) é equiva-
lente a - œ ! (reparar que a) pode-se escrever, de modo equivalente, na
forma ØBß -‡ ‰ -ÐCÑÙ œ ! e implica trivialmente b)). Se - !, as condições
a) a d) são respectivamente equivalentes a
aw ) Ø "- -ÐBÑß "- -ÐCÑÙ œ ØBß CÙ
bw ) m "- -ÐBÑm œ mBm
cw ) ( "- -ч ‰ Ð "- -Ñ œ M.I
dw ) "- -ÐA" Ñß á ß "- -ÐA7 Ñ é um sistema ortonormado de vectores de J ,
a primeira das quais corresponde a afirmar que "- - é uma aplicação linear
ortogonal e cada uma das outras reduz-se à condição correspondente em
I.2.30, para a aplicação linear "- -.
I.2.34 (Notas) a) Uma aplicação linear ortogonal -À I Ä J é precisamente a
mesma coisa que uma aplicação linear conforme com coeficiente de
conformalidade ".
b) No caso em que I e J são espaços vectoriais complexos, a condição c)
mostra que a aplicação linear complexa -À I Ä J é conforme, com
coeficiente de conformalidade - se, e só se, o é quando se olha para I e J
como espaços vectoriais reais, com os produtos internos reais associados.
c) No caso em que I tem dimensão ", a condição d) mostra que toda a
aplicação linear -À I Ä J é conforme.
4œ"
Ø - ‡ ß . ‡ Ù œ Ø - ß .Ù .
Alternativamente, fixadas bases ortonormadas A" ß á ß A7 de I e D" ß á ß D8
5 5
4œ"
Se nos lembrarmos que uma aplicação linear, que se anula nos elementos de
uma certa base, é nula, constatamos facilmente que fica assim definido um
produto interno no espaço vectorial PÐIà J Ñ. Para justificar a primeira
afirmação do enunciado, tudo o que teríamos que ver é que este produto
interno não depende da base ortonormada que fixámos em I . Para
verificarmos isso vamos utilizar um processo que nos permite, ao mesmo
tempo, demonstrar a segunda afirmação do enunciado, assim como a fórmula
que envolve as matrizes de - e . em bases ortonormadas arbitrárias.
Consideremos então uma base ortonormada D" ß á ß D8 de J , assim como o
produto interno em PÐJ à IÑ definido a partir desta base ortonormada. Se
verificarmos que se tem Ø-‡ ß .‡ Ù œ Ø-ß .Ù, a independência da escolha das
bases ortonormadas ficará demonstrada (o primeiro membro da igualdade
não depende da base fixada em I e o segundo não depende da base fixada
em J , pelo que nenhum deles pode depender de nenhuma das escolhas). Ora,
considerando as matrizes de - e . nas duas bases ortonormadas
consideradas, vem
I.3.3 Ao produto interno sobre PÐIà J Ñ que definimos atrás costuma-se dar o
nome de produto interno de Hilbert-Schmidt. Repare-se que a norma de
PÐIà J Ñ associada a este produto interno não é, em geral, a mesma que a
definida em I.1.9, a partir das normas de I e J associadas aos respectivos
produtos internos.
o que demonstra a primeira igualdade. Quanto à segunda, ela vai ser uma
consequência da primeira e da última conclusão de I.3.2, visto que podemos
escrever
Ø. ‰ -ß 0Ù œ ØÐ. ‰ -ч ß 0‡ Ù œ Ø-‡ ‰ .‡ ß 0‡ Ù œ
œ Ø.‡ ß -‡ ‡ ‰ 0‡ Ù œ Ø.‡ ß Ð0 ‰ -‡ ч Ù œ Ø.ß 0 ‰ -‡ ÙÞ
4œ"
Ø. ‰ - ß 0 Ù ‚ œ Ø .ß 0 ‰ - ‡ Ù ‚ .
4œ"
Ø-ß .Ù‚ œ " Ø-ÐA4 Ñß .ÐA4 ÑÙ‚ " Ø-Ð3A4 Ñß .Ð3A4 ÑÙ‚ œ
7 7
4œ" 4œ"
4œ" 4œ"
4œ"
com -3ß4 À I4 Ä J3 definida por -3ß4 œ 13w ‰ -ÎI4 , onde 13w À J Ä J3 são as
projecções associadas à segunda soma directa. A matriz é frequentemente
notada
Ô -"ß" â -"ß7 ×
Ö -#ß" â -#ß7 Ù
-"ß#
Ö Ù
-#ß#
Õ -8ß" â -8ß7 Ø
ã ã ä ã
-8ß#
I.3.7 Nas condições anteriores, dada uma matriz arbitrária de aplicações lineares
-3ß4 À I4 Ä J3 , com " Ÿ 3 Ÿ 8 e " Ÿ 4 Ÿ 7, vai existir uma, e uma só,
igualdade, tem-se, para cada B − I4 , -ÐBÑ œ ! -3ß4 ÐBÑ, com -3ß4 ÐBÑ − J3 ,
"Ÿ3Ÿ8
"Ÿ4Ÿ7
"Ÿ3Ÿ8
para cada 3, pelo que -3ß4 ÐBÑ œ 13w Ð-ÐBÑÑ.
I.3.8 (Functorialidade) Consideremos espaços vectoriais Iß J ß K e subespaços
vectoriais I" ß á ß I7 , de I , J" ß á ß J8 , de J , e K" ß á ß K: , de K , tais que
§3. Os produtos internos de Hilbert-Schmidt 29
Tem-se então:
a) A matriz da aplicação linear M.I À I Ä I é
Ô M.I" ! ×
Ö ! ! Ù
! â
Ö Ù.
M.I# â
Õ ! â M.I8 Ø
ã ã ä ã
!
b) Se -À I Ä J e .À J Ä K têm matrizes
Ô 3"ß" â 3"ß7 ×
Ö 3#ß" â 3#ß7 Ù
3"ß#
Ö Ù,
3#ß#
Õ 3:ß" â 3:ß7 Ø
ã ã ä ã
3:ß#
œ" " 13ww Ð.Ð-4ß5 ÐBÑÑÑ œ " " .3ß4 ‰ -4ß5 ÐBÑ,
"Ÿ4Ÿ8 "Ÿ4Ÿ8
com .3ß4 ‰ -4ß5 ÐBÑ − K3 , para cada 3, donde 33ß5 ÐBÑ œ ! .3ß4 ‰ -4ß5 ÐBÑ.
"Ÿ4Ÿ8
9Reparar na analogia com a matriz identidade e com a fórmula usual para o produto de
matrizes.
30 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
Tem-se então:
a) A aplicação linear -‡ À J Ä I tem matriz
Ô Ð-"ß" Ñ â Ð-8ß" ч ×
‡
Ð-#ß" ч
Ö Ð-"ß# ч â Ð-8ß# ч Ù
Ö Ù,
Ð-#ß# ч
Õ Ð-"ß7 ч ‡Ø
ã ã ä ã
Ð-#ß7 ч â Ð-8ß7 Ñ
tem-se ØCß C w Ù œ ! Ø13w ÐCÑß 13w ÐCÑÙ, uma vez que C œ ! 13w ÐCÑ, C w œ !
o que prova a). Quanto a b), comecemos por notar que, se Cß C w − J , então
"Ÿ3Ÿ8 3 3w
Uma vez que, fixada uma base ortonormada em cada I4 , a união dessas
bases vai ser uma base ortonormada de I , concluímos que
Ø-ß .Ù œ " Ø-ÎI4 ß .ÎI4 Ù œ " " Ø13w ‰ -ÎI4 ß 13w ‰ .ÎI4 Ù œ
"Ÿ3Ÿ8
"Ÿ4Ÿ7
§3. Os produtos internos de Hilbert-Schmidt 31
”- -#ß# •
-"ß" -"ß#
,
#ß"
Eœ”
E#ß# •
E"ß" E"ß#
,
E#ß"
@5 œ " +4ß5 ?4 .
8
4œ"
32 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
Repare-se que, embora tenhamos definido quando é que duas bases têm a
mesma orientação, não dissemos o que se deve entender por orientação de
uma base. É verdade que, no espaço vectorial dos vectores livres da nossa
Geometria euclidiana, estamos habituados a falar de bases directas e de
bases retrógradas, mas essa classificação é algo que ultrapassa a simples
estrutura de espaço vectorial e tem muito a ver com uma escolha arbitrária
de uma base como modelo.
Outra observação é a de que a ideia intuitiva que temos de duas bases
terem ou não a mesma orientação não corresponde directamente à defi-
nição que apresentámos acima11. Intuitivamente, duas bases ?" ß á ß ?8 e
@" ß á ß @8 têm a mesma orientação se pudermos deformar continuamente
a primeira na segunda, isto é, se existir uma aplicação contínua do
intervalo Ò!ß "Ó no conjunto H8 ÐIÑ das bases de I (uma parte do espaço
vectorial I 8 de dimensão 8# ), que em ! tome como valor a primeira base
e em " a segunda. É fácil provar que duas bases que tenham a mesma
orientação, neste sentido intuitivo, têm também a mesma orientação, no
sentido da definição que apresentámos: à deformação da primeira base na
segunda vai corresponder uma deformação da matriz identidade na matriz
de mudança de base, feita ao longo do conjunto das matrizes invertíveis, e
a função determinante, sendo contínua e nunca se anulando ao longo
dessa deformação, vai ter que ter sempre o mesmo sinal. A implicação
recíproca é também verdadeira, mas a respectiva demonstração é menos
elementar e não será aqui abordada (o leitor interessado poderá examinar
o exercício I.18 para o caso particular de duas bases ortonormadas e o
exercício III.6 para o caso geral). No caso particular do espaço vectorial
dos vectores livres do nosso espaço da Geometria euclidiana, esta
implicação recíproca pode ser demonstrada de modo simples se
admitirmos uma propriedade, que já todos “verificámos experi-
mentalmente” e que refere que, se não for possível deformar continua-
mente uma base ?" ß ?# ß ?$ numa base @" ß @# ß @$ , então é possível deformar
continuamente a primeira base na base @" ß @# ß @$ . Em qualquer caso, no
que se vai seguir utilizaremos a definição apresentada atrás e não o
conceito intuitivo de duas bases terem a mesma orientação.
11Uma criança consegue aprender qual é a sua mão direita antes de saber calcular o
determinante de uma matriz.
34 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
12Alguns autores definem orientação de um espaço vectorial como sendo uma classe de
equivalência, para a relação de equivalência definida em I.4.1. O que acabamos de dizer
mostra que, para um espaço vectorial distinto de Ö!×, esta definição é equivalente à que
apresentámos. No entanto, a definição apresentada por esses autores faz com que, ao
contrário do que acontece com a que estamos a utilizar, o espaço vectorial Ö!× tenha
apenas uma orientação, o que é uma flagrante injustiça.
§4. Orientação de espaços vectoriais reais 35
uma das duas semi-rectas abertas, aquela que vai ser constituída pelos vec-
tores positivos para a orientação.
então detÐ0Ñ é o determinante da matriz dos +5ß4 , que não é mais do que a
matriz de mudança da base B" ß á ß B8 para a base 0ÐB" Ñß á ß 0ÐB8 Ñ.
I.4.14 (Corolário) Sejam I um espaço vectorial complexo de dimensão 8 e
0À I Ä I um isomorfismo complexo. Considerando então I como espaço
vectorial real de dimensão #8, tem-se então que 0 conserva as orientações.
Dem: Basta atender a que, por I.1.23, det‘ Ð0Ñ œ ldet‚ Ð0Ñl# , em particular
det‘ Ð0Ñ !.
”! M•
E !
,
13Alguns autores usam uma convenção diferente, considerando como directa a base
B" ß á ß B8 ß 3B" ß á ß 3B8 . A convenção aqui seguida tem a vantagem de funcionar melhor
em relação com a definição em I.4.18.
38 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
forma
”! F•
M !
,
C œ + B " +4 ? 4 ,
8"
4œ"
Ô + !×
Ö +" !Ù
! ! â
Ö Ù
Ö +# !Ù
" ! â
Ö Ù
! " â
Õ +8" "Ø
ã ã ã ä ã
! ! â
Dem: Comecemos por reparar que, se ? − I é não nulo, então o espaço dos
vectores ortogonais a ? tem dimensão ", e portanto possui dois, e só dois,
vectores @ de norma m?m, um simétrico do outro, e que destes há um, e um
só, para o qual a base ?ß @ é directa.
Fixemos então um vector ?! − I com m?! m œ " e seja @! − I o vector para
o qual ?! ß @! é uma base ortonormada directa. Seja N À I Ä I a aplicação
linear definida pela condição de se ter N Ð?! Ñ œ @! e N Ð@! Ñ œ ?! , aplicação
linear que é um isomorfismo ortogonal, por aplicar a base ortonormada ?! ß @!
na base ortonormada @! ß ?! , e que verifica N ‰ N œ M.I , sendo portanto
uma estrutura complexa de I compatível com o produto interno. Se ? − I é
um vector não nulo arbitrário, podemos escrever ? œ +?! ,@! e então
N Ð?Ñ œ +N Ð?! Ñ ,N Ð@! Ñ œ ,?! +@! ,
o que mostra que mN Ð?Ñm œ +# , # œ m?m e que Ø?ß N Ð?ÑÙ œ !, pelo que
?ß N Ð?Ñ é uma base de I , esta base sendo directa uma vez que
detŒ”
+ •
+ ,
œ + # , # !.
,
ciabilidade.
Dem: Atender a que, afastando já o caso trivial em que ? œ !, deduz-se de
0 ÐB! >?Ñ œ 0 ÐB! Ñ 0Ð>?Ñ !ÐB! >?Ñ
que
0 ÐB! >?Ñ 0 ÐB! Ñ !ÐB! >?Ñ
œ 0Ð?Ñ ,
> >
onde
!ÐB! >?Ñ m!ÐB! >?Ñm
m m œ m?m Ä !,
> m>?m
quando > Ä !.
I.5.4 A diferenciabilidade de uma aplicação num ponto é uma noção local. Mais
precisamente, suponhamos que Y § I é um aberto, que 0 À Y Ä J é uma
aplicação, que Z § Y é outro aberto e que B! − Z . Tem-se então que 0 é
diferenciável em B! se, e só se, a restrição 0ÎZ À Z Ä J é diferenciável em B!
e, nesse caso, as aplicações lineares H0 ÐB! Ñ e H0ÎZ ÐB! Ñ coincidem.
I.5.5 Se Y § I é um aberto e se 0 À Y Ä J é uma aplicação constante, então 0 é
diferenciável em todos os pontos B − Y e com H0B œ !.
Se 0À I Ä J é uma aplicação linear, então 0 é diferenciável em todos os
pontos B − I e tem-se H0B œ 0.
I.5.6 Se Y § I é um aberto e B! − Y , então a derivação em B! de aplicações
com valores num espaço vectorial J de dimensão finita é um operador
linear, no sentido que, se 0 À Y Ä J e 1À Y Ä J são diferenciáveis em B! e
se + − ‘, então 0 1À Y Ä J e +0 À Y Ä J são ainda diferenciáveis em B!
e tem-se
HÐ0 1ÑB! œ H0B! H1B! , HÐ+0 ÑB! œ +H0B! .
isto é,
HÐ- ‰ 0 ÑB! Ð?Ñ œ -ÐH0B! Ð?ÑÑ.
§5. Cálculo Diferencial em espaços vectoriais… 45
isto é,
HÐ1 ‰ 0 ÑB! Ð?Ñ œ H10 ÐB! Ñ ÐH0B! Ð?ÑÑ.
facto de ela ser um pouco mais delicada que as dos resultados anteriores
leva-nos a apresentá-la aqui. Para uma melhor sistematização, dividimo-la
em várias alíneas:
a) Tendo em conta a definição, tudo o que temos que mostrar é que,
definindo uma aplicação #À Y Ä K por
1Ð0 ÐBÑÑ œ 1Ð0 ÐB! ÑÑ H10 ÐB! Ñ ÐH0B! ÐB B! ÑÑ #ÐBÑ,
podemos considerar &ww ! tal que, sempre que mC 0 ÐB! Ñm Ÿ &ww , tem-se
C−Z e
$
m" ÐCÑm Ÿ mC 0 ÐB! Ñm.
#ÐQ "Ñ
H2B! Ð?Ñ œ " ÐH0B! Ð?Ñß 1ÐB! ÑÑ " Ð0 ÐB! Ñß H1B! Ð?ÑÑ.
É claro que, em cada caso concreto, a fórmula anterior será apenas um passo
intermédio, muitas vezes não explicitado, e que o símbolo ‚ deverá ser
substituído no fim pelo significado que tem nesse caso.
Para além da multiplicação de números reais (ou complexos) apresentamos
agora exemplos de outras aplicações bilineares relativamente às quais é
comum aplicar a regra de Leibnitz:
a) J é um espaço vectorial sobre Š (igual a ‘ ou ‚) e " À Š ‚ J Ä J é a
multiplicação de um escalar por um vector.
b) J é um espaço vectorial real, munido de um produto interno, e
" À J ‚ J Ä ‘ é o produto interno de vectores.
c) " À ‘$ ‚ ‘$ Ä ‘$ é o produto externo usual de dois vectores de ‘$ .
d) J e K são espaços vectoriais de dimensão finita e " À PÐJ à KÑ ‚ J Ä K é
a aplicação de avaliação, definida por " Ð-ß CÑ œ -ÐCÑ.
e) Sendo `8 o espaço vectorial das matrizes (reais ou complexas) com 8
linhas e 8 colunas, " À `8 ‚ `8 Ä `8 é a multiplicação de matrizes.
Será talvez um exercício útil explicitar, em cada um destes exemplos, qual o
modo como se enuncia a correspondente regra de Leibnitz.
15A fórmula anterior tem por vezes algo de chocante para quem a examina pela primeira
vez: Para se calcular H0B! Ð?ÑÐ@Ñ, calcula-se primeiro 0 ÐBÑÐ@Ñ e depois deriva-se o resul-
tado em B! na direcção de ?. Poderia parecer mais natural considerar que o resultado
deveria ser H0B! Ð@ÑÐ?Ñ mas, se repararmos bem é aquele, e não este, que faz sentido: Se
0 é uma aplicação definida num aberto de I e com valores em PÐJ à KÑ, faz sentido deri-
vá-la num ponto na direcção de um vector de I e o resultado é então um elemento de
PÐJ à KÑ, que aplicado a um vector de J dá um vector de K .
50 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
Dem: Pode-se já supor que + ,, uma vez que o caso + œ , é trivial e que
aquele em que + , se reduz ao primeiro por troca do papel das variáveis.
Fixemos $ ! arbitrário. Consideremos o conjunto G dos > − Ò+ß ,Ó tais que
m0 Ð>Ñ 0 Ð+Ñm Ÿ ÐQ $ ÑÐ> +Ñ.
Trata-se de um subconjunto fechado de Ò+ß ,Ó, que é não vazio, por conter +,
pelo que podemos considerar o máximo - do conjunto G , que verifica
portanto a desigualdade
m0 Ð-Ñ 0 Ð+Ñm Ÿ ÐQ $ ÑÐ- +Ñ.
Se se tivesse - , , então o facto de se ter
0 Ð>Ñ 0 Ð-Ñ
lim m m œ m0 w Ð-Ñm Ÿ Q Q $
>Ä- >-
implicava a possibilidade de escolher >, com - > , tal que
0 Ð>Ñ 0 Ð-Ñ
m m Q $,
>-
de onde deduzíamos que
m0 Ð>Ñ 0 Ð+Ñm Ÿ m0 Ð>Ñ 0 Ð-Ñm m0 Ð-Ñ 0 Ð+Ñm Ÿ
Ÿ ÐQ $ ÑÐ> -Ñ ÐQ $ ÑÐ- +Ñ œ ÐQ $ ÑÐ> +Ñ,
É claro que toda a aplicação linear é uma aplicação afim, tendo ela mesmo
como aplicação linear associada.
I.6.7 Sejam I , J e K espaços vectoriais de dimensão finita, -À I Ä J uma
aplicação afim, de aplicação linear associada -, e Y § I e Z § J dois
conjuntos abertos tais que -ÐY Ñ § Z . Se 0 À Z Ä K é uma aplicação de
classe G 5 , tem-se então que 0 ‰ -ÎY À Y Ä K é também de classe G 5 e
Dem: Repare-se que o caso em que 4 œ ! é trivial e aquele em que 4 œ " não
56 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
Dem: Seja < ! tal que a bola fechada de centro B! e raio < esteja contida
em Y e que, para cada B nessa bola fechada, mHÐH0 ÑB HÐH0 ÑB! m Ÿ $ e
tomemos & œ #< . Seja ? − I tal que m?m Ÿ & e consideremos a aplicação 1Ð?Ñ ,
com valores em J , definida por
1Ð?Ñ ÐCÑ œ 0 ÐB! ? CÑ 0 ÐB! CÑ
assim como, evidentemente, a desigualdade que se obtém desta por troca dos
papéis de ? e @. Uma vez que a soma das quatro primeiras parcelas dentro da
norma no primeiro membro fica invariante por troca dos papéis de ? e @,
concluímos que, sempre que m?m Ÿ & e m@m Ÿ &, tem-se
mH# 0B Ð@ß ?Ñ H# 0B Ð?ß @Ñm Ÿ #$ m?mm@m.
Deduzimos agora que, se ? e @ são vectores não nulos arbitrários de I ,
podemos escrever
m?m &? m@m &@
?œ , @œ ,
& m?m & m@m
&? &@
com m?m e m@m vectores de norma &, pelo que podemos escrever
aplicações bilineares simétricas, o que implica que H5" ÐH# 0 ÑB aplica I 5"
em P#=37 ÐIà J Ñ.
I.6.22 Nas condições anteriores, para cada 5 , tem-se, mais geralmente, que as
derivadas H5 0B À I 5 Ä J são multilineares complexas e a aplicação
H5 0 À Y Ä P5‚ ÐIà J Ñ é holomorfa.
Dem: Demonstramos, por indução em 5 " que cada H5 0 À Y Ä P5‚ ÐIà J Ñ
é holomorfa e cada H5" 0B À I 5" Ä J é multilinear complexa, o caso 5 œ "
sendo o resultado precedente. Supondo o resultado verdadeiro para um certo
5 , podemos utilizá-lo com a aplicação holomorfa H0 À Y Ä P‚ ÐIà J Ñ para
garantir que
H5+1 ÐH0 ÑB À I 5" Ä P‚ ÐIà J Ñ
é multilinear complexa e a igualdade de definição
H5# 0B Ð?" ß á ß ?5# Ñ œ H5" ÐH0 ÑB Ð?" ß á ß ?5" ÑÐ?5# Ñ
para o elemento
H4 0 ÐB" ! ß á ß B: ! ÑÐ"Ñ œ EÐH4 0 ÐB" ! ß á ß B: ! ÑÑ − J
(? na posição 4),
4œ"
4œ"
onde
14 ÐB" ß á ß B: Ñ œ 0 ÐB" ! ß á ß B4" ! ß B4 ß B4" ß á ß B: Ñ
0 ÐB" ! ß á ß B4" ! ß B4 ! ß B4" ß á ß B: Ñ,
forma
H4 0 œ PÐ+4 à M.J Ñ ‰ H0 ,
Dem: Basta atender a que, tendo em conta I.6.14, é equivalente dizer que
`0
H4 0 À Y Ä PБà J Ñ é de classe G 5 e dizer que `B 4
À Y Ä J é de classe G 5 .
4œ"
H2B! Ð?Ñ œ " 0Ð0" ÐB! Ñß á ß 04" ÐB! Ñß H04 B! Ð?Ñß 04" ÐB! Ñß á ß 0: ÐB!ÑÑ
:
4œ"
4œ"
4œ"
5œ"
œ +4ß4 det ‰ F" Ð?" ß á ß ?4" ß ?4 ß ?4" ß á ß ?8 Ñ œ +4ß4
H detM.I Ð!Ñ œ " det ‰ F" Ð?" ß á ß !Ð?4 Ñß á ß ?8 Ñ œ " +4ß4 œ TrÐ!Ñ,
8 8
4œ" 4œ"
como queríamos.
pelo que, dado $ !, vem, sempre que m0 M.I m Ÿ minÐ #$ ß "# Ñ, tendo em
conta a conclusão de a),
m!Ð0Ñm Ÿ m0" mm0 M.I mm0 M.I m Ÿ
$
Ÿ # m0 M.I m œ $ m0 M.I m,
#
como queríamos.
d) Seja agora 0 − P3=9 ÐIà J Ñ arbitrário. Notemos GÀ PÐIà J Ñ Ä PÐIà IÑ e
sÀ PÐIà IÑ Ä PÐJ à IÑ as aplicações lineares definidas por
G
sÐ.Ñ œ . ‰ 0" ,
GÐ-Ñ œ 0" ‰ - , G
a primeira das quais aplica P3=9 ÐIà J Ñ sobre P3=9 ÐIà IÑ e 0 em M.I .
Notando agora F! a aplicação F no caso particular em que I œ J , o facto
de se ter, para cada - − P3=9 ÐIà J Ñ,
-" œ Ð0" ‰ -Ñ" ‰ 0" ,
o que mostra que 2ÐBÑ aplica F V Ð!Ñ em FV Ð!Ñ. O teorema do ponto fixo para
aplicações contractivas implica agora que, para cada B − Y œ F< ÐB! Ñ, existe
um, e um só, C − Z œ FV Ð!Ñ, tal que 2ÐBÑ ÐCÑ œ C , isto é, tal que
0 ÐBß CÑ œ !. Notando C œ 1ÐBÑ, resta-nos ver que a aplicação 1À Y Ä Z é de
classe G 5" . Seja Q mH" 0ÐB! ß!Ñ m. Suponhamos que V w foi escolhido
suficientemente pequeno para que, para cada B − FVw ÐB! Ñ e C − FVw Ð!Ñ, se
tenha mH" 0ÐBßCÑ m Ÿ Q ; pela fórmula da média, deduzimos então que, se
Bß Bw − Y e C − Z , tem-se
(6) m0 ÐBß CÑ 0 ÐBw ß CÑm Ÿ Q mB Bw m.
Usando (4), obtemos agora, para Bß Bw − Y ,
w
m1ÐBÑ 1ÐBw Ñm œ m2 ÐBÑ Ð1ÐBÑÑ 2 ÐB Ñ Ð1ÐBw ÑÑm Ÿ
w w w
Ÿ m2ÐBÑ Ð1ÐBÑÑ 2 ÐB Ñ Ð1ÐBÑÑm m2 ÐB Ñ Ð1ÐBÑÑ 2 ÐB Ñ Ð1ÐBw ÑÑm Ÿ
"
Ÿ m0 ÐBw ß 1ÐBÑÑ 0 ÐBß 1ÐBÑÑm m1ÐBÑ 1ÐBw Ñm Ÿ
#
w " w
Ÿ Q mB B m m1ÐBÑ 1ÐB Ñm,
#
de onde se deduz que "# m1ÐBÑ 1ÐBw Ñm Ÿ Q mB Bw m, ou seja,
(7) m1ÐBÑ 1ÐBw Ñm Ÿ #Q mB Bw m.
Esta última fórmula implica, em particular, a continuidade da aplicação 1.
Vamos agora ver que, para cada B" − Y , 1 é diferenciável em B" , e com
(8) H1B" œ ÐH# 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ Ñ" ‰ H" 0ÐB" ß1ÐB" ÑÑ .
a qual verifica s0 ÐB! ß !Ñ œ ! e H#s0 ÐB! ß!Ñ œ 0 ‰ H# 0ÐB! ßC! Ñ œ M.J . Aplicando o
lema anterior a s0 , concluímos a existência de um aberto Y de I , com
B! − Y , e de um aberto Z s de J , com ! − Z s , com a correspondente aplicação
de classe G 5"
(respectivamente holomorfa) s1À Y Ä Z s e, sendo
s
Z œ C! Z , Y e Z vão verificar as condições do enunciado, com 1À Y Ä Z
definido por 1ÐBÑ œ C! s1ÐBÑ.
§8. Teoremas da função implícita e da função inversa 71
4œ"
+ +
§9. Integral de funções vectoriais de variável real 73
+ + +
+ +
( B .> œ Ð, +ÑB,
,
tem-se
+ + +
+ +
I.9.7 Se 0 ß 1À Ò+ß ,Ó Ä ‘ são aplicações contínuas tais que 0 Ð>Ñ Ÿ 1Ð>Ñ, para cada
>, então
+ +
I.9.8 Sejam 0 À Ò+ß ,Ó Ä J uma aplicação contínua e - − Ò+ß ,Ó. Tem-se então
+ + -
74 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
Em particular, tem-se
(
+
0 Ð>Ñ .> œ !.
+
( 0 Ð>Ñ .> œ (
, +
0 Ð>Ñ .>.
+ ,
Verifica-se então, após uma discussão fácil, que são válidas, quaisquer que
sejam +ß ,ß - − N , as igualdades
( 0 Ð>Ñ .> œ (
, +
0 Ð>Ñ .>,
+ ,
+ + -
+
w
Tem-se então que 0 é diferenciável em todos os pontos e s0 Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ.
I.9.11 (Fórmula de Barrow) Sejam N § ‘ um intervalo aberto, J um espaço
vectorial de dimensão finita, 0 À N Ä J uma aplicação contínua e s0 À N Ä J
w
uma aplicação diferenciável em todos os pontos e com s0 Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ, para
cada > − N . Tem-se então, para cada +ß , − N ,
I.10.2 Mais geralmente, nas condições anteriores, tem lugar, para cada + − N ,
uma aplicação contínua 2À N ‚ E Ä J (misto de integral paramétrico e de
integral indefinido), definida por
+ +
+
Ÿ $ Ð, +ÑmB B! m,
EXERCÍCIOS
- Nw ‰ - ‰ N - Nw ‰ - ‰ N
1" Ð-Ñ œ , 1# Ð - Ñ œ .
# #
N e N˜ em P‚ ÐIà J Ñ
Mostrar ainda que as estruturas complexas induzidas por s
coincidem e as induzidas em P‚ ÐIà J Ñ são simétricas uma da outra.
d) Nas condições de c), e supondo que I e J estão munidos de produtos
internos complexos e que consideramos em P‘ ÐIà J Ñ o produto interno
complexo referido na alínea a) de I.3.5, mostrar que as parcelas directas de
P‘ ÐIà J Ñ referidas em c) são mutuamente ortogonais, em particular cada
uma é o complementar ortogonal da outra e 1" e 1# são as projecções ortogo-
nais sobre cada uma das parcelas.
Ex I.4 Mostrar que, se I é um espaço vectorial complexo, com estrutura
complexa N , munido de um produto interno real Ø ß Ù‘ , não obrigatoriamente
hermitiano, então I admite um produto interno real hermitiano Ø ß Ùw‘ , defi-
nido por
Ø?ß @Ù‘ ØN Ð?Ñß N Ð@ÑÙ‘
Ø?ß @Ùw‘ œ
#
(a divisão por # não é essencial; que interesse poderá ter?).
Ex I.5 Sejam I e J espaços vectoriais complexos, com estruturas complexas N
e N w , respectivamente, e K um espaço vectorial sobre Š (igual a ‘ ou ‚).
Diz-se que uma aplicação bilinear real 0À I ‚ J Ä K é circular (respectiva-
mente anticircular) se se tem 0ÐN Ð?Ñß @Ñ œ 0Ð?ß N w Ð@ÑÑ (respectivamente
0ÐN Ð?Ñß @Ñ œ 0Ð?ß N w Ð@ÑÑ), quaisquer que sejam ? − I e @ − J .
a) Mostrar que 0 é circular (respectivamente anticircular) se, e só se, quais-
quer que sejam ? − I e @ − J , se tem 0ÐN Ð?Ñß N w Ð@ÑÑ œ 0Ð?ß @Ñ (respecti-
vamente 0ÐN Ð?Ñß N w Ð@ÑÑ œ 0Ð?ß @Ñ). Mostrar ainda que os produtos internos
reais hermíticos são anticirculares e que, no caso em que Š œ ‚, as aplica-
ções bilineares complexas são circulares e as aplicações sesquilineares são
anticirculares.
b) Notemos P‘ ÐIß J à KÑ e P‘ ÐIß J à KÑ os subespaços vectoriais (sobre
Š) de P‘ ÐIß J à KÑ constituídos, respectivamente, pelas aplicações bilineares
circulares e pelas anticirculares. Mostrar que tem lugar a soma directa
P‘ ÐIß J à KÑ œ P‘ ÐIß J à KÑ Š P‘ ÐIß J à KÑ
e que as projecções 1" e 1# associadas a esta soma directa estão definidas
respectivamente por
0 0 ‰ ÐN ‚ N w Ñ 0 0 ‰ ÐN ‚ N w Ñ
1" Ð0Ñ œ , 1# Ð 0 Ñ œ .
# #
c) No caso em que Š œ ‚, Mostrar que tem lugar a soma directa de subes-
paços vectoriais complexos
Exercícios 79
17Esta última afirmação resulta também do que já foi feito na alínea b).
Exercícios 81
que pode ser usado para transportar um produto interno no primeiro espaço.
Ex I.13 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensões 7 e 8 sobre Š, munidos
de produto interno, e -ß .À I Ä J duas aplicações lineares. Mostrar que o
produto interno de Hilbert-Schmidt Ø-ß .Ù é dado por Ø-ß .Ù œ TrÐ.‡ ‰ -Ñ.
Ex I.14 (Isomorfismos ortogonais na dimensão 1) Seja I um espaço
euclidiano ou hermitiano de dimensão ". Mostrar que, para cada + − Š, com
l+l œ ", tem lugar um isomorfismo ortogonal 0+ À I Ä I definido por
0+ ÐBÑ œ +B e que todo o isomorfismo ortogonal 0À I Ä I é da forma 0+ ,
para um único + naquelas condições (em particular, no caso em que Š œ ‘,
existem dois, e só dois isomorfismos ortogonais I Ä I , nomeadamente M.I
e M.I , o primeiro conservando e o segundo invertendo as orientações).
Ex I.15 (Isomorfismos ortogonais na dimensão #) Seja I um espaço
euclidiano de dimensão #. Seja N uma das duas estruturas complexas de I
compatíveis com o produto interno (cf. I.4.24). Consideremos, como
auxiliares, em I a estrutura de espaço vectorial complexo de dimensão "
definida por N e o produto interno complexo cujo produto interno real
associado é o dado.
a) Seja 0À I Ä I um isomorfismo ortogonal que conserve (respectivamente
inverta) as orientações. Mostrar que 0 é uma aplicação linear complexa
(respectivamente é antilinear) e lembrar que, no primeiro caso, 0 é também
um isomorfismo ortogonal relativamente ao produto interno complexo
correspondente.
b) Para cada > − ‘, seja 3> À I Ä I o isomorfismo ortogonal, conservando as
orientações, definido por
82 Cap. I. Álgebra Linear e Cálculo Diferencial
dimensão par.
d) Nas condições de c), mostrar que I w œ I Š I! é soma directa ortogonal
de uma família de subespaços vectoriais 0-invariantes J4 com dimensão #
tais que cada 0ÎJ4 conserve as orientações e concluir que I w admite uma
estrutura complexa N , compatível com o produto interno, relativamente à
qual 0ÎI w é ‚-linear (e portanto 0ÎI w − Y ÐI w Ñ). Sugestão: Fixar em cada J4
uma das duas estruturas complexas compatíveis e tomar para N a soma
directa destas estruturas complexas.
e) Utilizar a alínea c) do exercício precedente para concluir que, para cada
0 − WSÐIÑ œ S ÐIÑ, existe uma aplicação contínua (aliás, mesmo suave)
<À ‘ Ä S ÐIÑ tal que <Ð!Ñ œ M.I e <Ð"Ñ œ 0. Concluir daqui que, dados
0ß ( − S ÐIÑ (respectivamente 0ß ( − S ÐIÑ), existe uma aplicação
contínua (aliás, mesmo suave) <À ‘ Ä S ÐIÑ (respectivamente
<À ‘ Ä S ÐIÑ) tal que <Ð!Ñ œ 0 e <Ð"Ñ œ (. Concluir que S ÐIÑ e
S ÐIÑ são conexos por arcos, em particular conexos e que, portanto, salvo
no caso trivial em que I œ Ö!×, S ÐIÑ e S ÐIÑ são as componentes
conexas de I .
f) Fixada uma orientação em I , mostrar que o conjunto Z8 ÐIÑ das bases
ortonormadas de I é a união dos subconjuntos Z8 ÐIÑ e Z8 ÐIÑ, constituí-
dos respectivamente pelas bases ortonormadas directas e pelas bases ortonor-
madas retrógradas, que são abertos em Z8 ÐIÑ e ambos conexos por arcos, em
particular conexos. Deduzir que, salvo no caso trivial em que I œ Ö!×,
Z8 ÐIÑ e Z8 ÐIÑ são as componentes conexas de Z8 ÐIÑ.
Ex I.19 Se I é um espaço vectorial complexo de dimensão 8, que relação
existirá entre a orientação associada de I e a associada ao espaço vectorial
conjugado I ?
Ex I.20 Seja 0À I ‚ I Ä J uma aplicação bilinear. Seja 0 À I Ä J a aplicação
definida por 0 ÐBÑ œ 0ÐBß BÑ. Mostrar que 0 é diferenciável em todos os
pontos e que
H0B ÐAÑ œ 0ÐBß AÑ 0ÐAß BÑ.
1ÐBÑ œ (
"
0 Ð>BÑ .>
!
Sugestão: Fixado 0, atender a que, para cada ( − PÐIà IÑ, se tem detÐ(Ñ œ
detÐ( ‰ 0" ÑdetÐ0Ñ, derivando em seguida ambos os membros desta
identidade como funções de (, no elemento 0.
b) Deduzir a seguinte fórmula para a derivada de segunda ordem de det na
aplicação linear identidade:
H# detM.I Ð!ß " Ñ œ TrÐ" Ñ TrÐ!Ñ TrÐ" ‰ !Ñ.
19Este resultado, juntamente com o precedente, mostra que os conjuntos que podem ser
da forma tB! ÐEÑ são precisamente os cones fechados.
92 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
Ò+ß _Ò œ + Ò!ß _Ò, onde Ò!ß _Ò é um cone fechado em ‘, e o facto de
se ter t+ ÐÒ+ß _ÒÑ œ X+ ÐÒ+ß _ÒÑ œ ‘ resulta de + ser aderente ao interior
Ó+ß _Ò de Ò+ß _Ò. Para as restantes conclusões de a), basta atender a que
Ò+ß ,Ò e Ò+ß ,Ó coincidem com Ò+ß _Ò na vizinhança de +, porque todos têm a
mesma intersecção com o aberto Ó_ß ,Ò de ‘, que contém +. As conclusões
de b) são análogas, a partir do facto de se poder escrever Ó_ß ,Ó œ
, Ó_ß !Ó, onde Ó_ß !Ó é um cone fechado em ‘ e de , ser aderente ao
interior de Ó_ß ,Ó.
II.1.12 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B! − E § I . Tem-se
então
tB! ÐEÑ œ Ö!× Í t
B! ÐEÑ œ Ö!× Í B! é um ponto isolado de E.
0 ÐC8 Ñ Ä 0 ÐB! Ñ, concluímos que H0B! ÐAÑ − t0 ÐB! Ñ ÐFÑ. No caso em que se
tem mesmo A − tB! ÐEÑ, sabemos que se pode tomar atrás para ÐC8 Ñ a
sucessão com todos os termos iguais a B! , pelo que podemos concluir que se
tem mesmo H0B! ÐAÑ − t0 ÐB! Ñ ÐFÑ. Uma vez que o conjunto dos vectores de
XB! ÐEÑ, cuja imagem pela aplicação linear H0B! À XB! ÐEÑ Ä J está no
subespaço vectorial X0 ÐB! Ñ ÐFÑ de J , é um subespaço vectorial de XB! ÐEÑ,
que, pelo que vimos, contém t B! ÐEÑ, podemos agora concluir que ele é
precisamente o subespaço vectorial gerado XB! ÐEÑ, o que mostra que a
aplicação linear H0B! À XB! ÐEÑ Ä J aplica efectivamente XB! ÐEÑ em
X0 ÐB! Ñ ÐFÑ.
o que prova a). Quanto a b), se ? − XB! ÐEÑ œ tB! ÐEÑ, tem-se também
? − XB! ÐEÑ œ tB! ÐEÑ pelo que, aplicando a conclusão de a) a ? e a ?,
concluímos que H0B! Ð?Ñ Ÿ ! e
H0B! Ð?Ñ œ H0B! Ð?Ñ Ÿ !,
23É o que acontece no quadro das variedades sem bordo, estudadas adiante (cf. II.4.10).
§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos 97
XB! ÐEÑ ‚ XB! ÐEÑ em J (ou, melhor ainda, em X0 ÐB! Ñ ÐFÑ). Tudo o que
haveria a fazer seria tomar um prolongamento local de classe G # , 0 À Y Ä J ,
de 0 em B! e definir H# 0B! como a restrição da aplicação bilinear
H# 0 B! À I ‚ I Ä J . Esta definição não é, no entanto, legítima, visto que, em
geral, o resultado depende do prolongamento 0 (ver, por exemplo, o
exercício II.14 no final do capítulo).
HÐ1 ‰ 0 ÑB! ÐAÑ œ HÐ1 ‰ 0 ÑB! ÐAÑ œ H10 ÐB! Ñ ÐH0 B! ÐAÑÑ œ
œ H10 ÐB! Ñ ÐH0B! ÐAÑÑ œ H10 ÐB! Ñ ÐH0B! ÐAÑÑ,
que HÐ0 " Ñ0 ÐB! Ñ ‰ H0B! œ HÐ0 " ‰ 0 ÑB! é a identidade de XB! ÐEÑ e que
H0B! ‰ HÐ0 " Ñ0 ÐB! Ñ œ HÐ0 ‰ 0 " Ñ0 ÐB! Ñ é a identidade de X0 ÐB! Ñ ÐFÑ, o que
mostra que H0B! é um isomorfismo de XB! ÐEÑ sobre X0 ÐB! Ñ ÐFÑ, tendo
HÐ0 " Ñ0 ÐB! Ñ como isomorfismo inverso. Por fim, o facto de H0B! aplicar
tB! ÐEÑ sobre t0 ÐB! Ñ ÐFÑ e t
B! ÐEÑ sobre t0 ÐB! Ñ ÐFÑ vem de que, para cada
A − t0 ÐB! Ñ ÐFÑ (respectivamente A − t0 ÐB! Ñ ÐFÑ), tem-se Aw œ H0B! ÐAÑ, onde
w w
(respectivamente A − t
B! ÐEÑ).
II.2.15 É o resultado anterior que nos permite, em muitos casos, determinar
explicitamente, sem recorrer à definição, os cones tangentes, os cones
tangentes alargados e os espaços vectoriais tangentes. Bastará, para isso,
arranjar um difeomorfismo de classe G " entre o conjunto em questão e um
outro conjunto, relativamente ao qual aqueles conjuntos sejam conhecidos.
A título de exemplo, suponhamos que I e J são espaços vectoriais de
dimensão finita, que E § I e que 0 À E Ä J é uma aplicação de classe G " .
Consideremos o respectivo gráfico, que é o subconjunto F de I ‚ J ,
F œ ÖÐBß CÑ − I ‚ J ± B − E e C œ 0 ÐBÑ×.
Podemos então considerar um difeomorfismo de classe G " 1À E Ä F , defi-
nido por 1ÐBÑ œ ÐBß 0 ÐBÑÑ (reparar que a bijecção inversa de 1 é mesmo de
classe G _ , por estar definida por ÐBß CÑ È B). Concluímos assim que, para
cada B! − E, a aplicação linear
H1B! À XB! ÐEÑ Ä XÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ,
que está definida por A È ÐAß H0B! ÐAÑÑ, é um isomorfismo que aplica
tB! ÐEÑ sobre tÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ e t B! ÐEÑ sobre tÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ (em particular,
XÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ é o gráfico da aplicação linear H0B! ). Vemos portanto que, no
caso em que XB! ÐEÑ, tB! ÐEÑ e t B! ÐEÑ são conhecidos (por exemplo, se E for
um aberto de I ), ficamos a conhecer XÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ, tÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ e
t
ÐB! ß0 ÐB! ÑÑ ÐFÑ.
25O exercício II.8, no fim do capítulo, mostra que nesta e na próxima inclusão a igualdade
dos dois membros pode não ser verificada.
§2. Funções diferenciáveis em conjuntos não abertos 101
aplicação linear, logo de classe G _ e com H14 ÐB" ! ßáßB8 ! Ñ œ 14 , a qual aplica
E" ‚ â ‚ E8 em E4 , concluímos que 14 aplica
XÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ em XB4 ! ÐE4 Ñ,
tÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ em tB4 ! ÐE4 Ñ,
t
ÐB" ! ßáßB8 ! Ñ ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ em tB4 ! ÐE4 Ñ,
4œ"
:Ð>Ñ œ œ
! , se > Ÿ !
.
/"Î> , se > !
:8s Ð>Ñ œ œ
! , se > Ÿ !
" ,
>8 /"Î> , se > !
J , que a cada B − E associa a soma ! 04 ÐBÑ (para cada B esta soma tem
4−N
4−N
apenas um número finito de parcelas não nulas).
Se tivermos uma família localmente finita de aplicações contínuas
04 À E Ä J , a sua soma ! 04 é ainda uma aplicação contínua de E em J .
4−N
Com efeito, para vermos que uma aplicação definida em E é contínua, basta
vermos que, para cada ponto B! − E, existe um aberto Z de E, com B! − Z ,
onde a restrição da aplicação é contínua, e, por definição, podemos escolher
esse aberto de modo que a restrição seja uma soma finita de aplicações
contínuas.
Com a mesma justificação, no caso em que E é uma parte arbitrária dum
espaço vectorial I de dimensão finita e temos uma família localmente finita
de aplicações de classe G 5 , 04 À E Ä J , a sua soma ! 04 é ainda uma aplica-
4−N
ção de classe G 5 de E em J .
II.3.4 (Primeira versão do teorema da partição da unidade) Sejam I um
espaço vectorial de dimensão finita e ÐY4 Ñ4−N uma família de conjuntos
abertos de I e notemos Y a união dos abertos Y4 . Existe então uma família
contável26 de aplicações suaves, 0# À Y Ä Ò!ß "Ó, onde # − >, verificando as
condições seguintes:
a) A família Ð0# Ñ#−> é localmente finita;
b) Para cada # − >, existe um índice 4 e um conjunto compacto G# § Y4 tais
que se tenha 0# ÐBÑ œ !, para cada B − Y Ï G# , por outras palavras, a
aplicação 0# tem suporte compacto contido em Y4 .
c) Para cada B − Y , tem-se ! 0# ÐBÑ œ ".27
# −>
Dem: Fixemos em I um produto interno e consideremos sobre I a norma
26Ao dizermos que a família é contável estamos a significar que o conjunto > dos índices
é finito ou numerável.
27É esta igualdade que está na origem do nome partição da unidade.
104 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
em particular a aplicação s0 8ßC é nula fora do compacto F <8ßC ÐCÑ contido num
dos Y4 .
Vamos agora verificar que a família das restrições das aplicações s0 8ßC a Y é
localmente finita (isto apesar de a família das aplicações s0 8ßC não ter que ser
localmente finita). Consideremos para isso D − Y arbitrário. Existe 8! tal que
D − O8! e então Z8! " é um aberto de Y , contendo D tal que, para cada
8 8! $ e C − M8 (portanto salvo para um número finito de pares Ð8ß CÑ),
s0 8ßC ÐBÑ œ ! para todo o B − Z8! " , visto que, se s0 8ßC ÐBÑ !, tinha-se
§3. Partições da unidade 105
A família contável das aplicações suaves s0 8ßC ÎY À Y Ä Ò!ß "Ò verifica assim as
que, para cada B − Y , tem-se ! s0 8ßC ÐBÑ !, uma vez que, escolhendo o
condições a) e b) do enunciado. Quanto a c), tudo o que podemos dizer é
e, a partir dela, uma família contável de funções suaves 08ßC À Y Ä Ò!ß "Ó,
onde 8 " e C − M8 , definidas por
s0 8ßC ÐBÑ
08ßC ÐBÑ œ ,
s0 ÐBÑ
4−N
Dem: Seja Ð0# Ñ#−> uma família nas condições de II.3.4 e notemos agora G s#
os correspondentes subconjuntos compactos de abertos Y4 fora dos quais os
0# se anulam. Para cada # − >, escolhamos um índice 4Ð# Ñ − N tal que
Gs # § Y4Ð#Ñ . Para cada 4 − N , seja >4 o conjunto dos # − > tais que 4 œ 4Ð# Ñ.
Os conjuntos >4 são evidentemente disjuntos dois a dois e de união > (alguns
deles podem ser vazios). Para cada 4 − N , a família Ð0# Ñ#−>4 é trivialmente
também localmente finita pelo que podemos definir uma aplicação suave
14 À Y Ä Ò!ß "Ó por
4−N
demonstrar a propriedade b) do enunciado. Seja, para cada 4 − N , [4 o
conjunto dos B − Y tais que 14 ÐBÑ ! e notemos G4 a aderência de [4 em
Y ; tudo o que temos que verificar é que se tem G4 § Y4 . Seja portanto
B − G4 arbitrário. Sejam Z uma vizinhança aberta de B em Y e >w § > uma
parte finita, de modo que, para cada # − > Ï >w , a restrição de 0# a Z seja
nula. Seja Z w uma vizinhança arbitrária de B em Y . O facto de B pertencer à
aderência de [4 implica a existência de C − Z Z w [4 ; tem-se então
14 ÐCÑ ! pelo que existe # − >4 tal que 0# ÐCÑ !, o que implica que
C−G s # e # − >w ; isto mostra que B é aderente à união finita dos G
s # , com
# − > >4 , união essa que é fechada, por ser uma união finita de
w
4−N
Existe então uma família Ð14 Ñ4−N , de funções suaves 14 À I Ä Ò!ß "Ó tal que:
a) A famíliaÐ14 Ñ4−N é localmente finita.
b) Para cada 4 − N , existe um subconjunto G4 de Y4 , fechado em I , tal que
14 ÐBÑ œ !, para cada B − I Ï G4 .
c) Para cada B − E, ! 14 ÐBÑ œ " e, para cada B − I , ! 14 ÐBÑ Ÿ ".
4−N 4−N
Dem: Basta aplicar a segunda versão do teorema da partição da unidade à
cobertura aberta de I formada pelos conjuntos abertos Y4 e I Ï E,
ignorando em seguida a função correspondente a este último aberto.
II.3.10 (Prolongamentos globais de aplicações de classe G 5 ) Sejam I e J
espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um conjunto arbitrário e
0 À E Ä J uma aplicação de classe G 5 . Existe então um aberto Y de I , com
E § Y , e um prolongamento de classe G 5 0 À Y Ä J de 0 .
Dem: Para cada B − E, seja 0 ÐBÑ À YB Ä J um prolongamento local de classe
G 5 de 0 no ponto B. Seja Y a união dos abertos YB de I , com B − E, que é
um aberto de I , contendo E. Pela segunda versão do teorema da partição da
unidade, podemos considerar uma família localmente finita de funções
suaves 1ÐBÑ À Y Ä Ò!ß "Ó tal que cada 1ÐBÑ seja nula fora de um certo
B−E
s0 ÐBÑ À Y Ä J , de classe G 5 , definida por
s0 ÐBÑ ÐCÑ œ œ
! , se C Â YB
.
1ÐBÑ ÐCÑ0 ÐBÑ ÐCÑ , se C − YB
B − E, ! 14 ÐBÑ œ "Þ
14 é nula fora de uma certa parte G4 de E4 , fechada em E, e que, para cada
4−N
Como anteriormente, dizemos que a família das aplicações 14 é uma partição
da unidade de E subordinada à cobertura aberta de E constituída pelos
conjuntos E4 .
Dem: Para cada 4 − N , seja Y4 um aberto de I tal que E4 œ E Y4 . Sendo
Y a união dos Y4 , que é um aberto contendo E, podemos, por II.3.7,
considerar uma família localmente finita de funções suaves s14 À Y Ä Ò!ß "Ó tal
s 4 de Y4 , fechada em Y , e que,
!
que cada s14 seja nula fora de uma certa parte G
para cada B − Y , s14 ÐBÑ œ ". Basta-nos agora tomar para 14 À E Ä Ò!ß "Ó as
4−N
s 4 E.
restrições das aplicações s14 e para G4 as intersecções G
II.3.12 Sejam I e J espaços vectoriais de dimensão finita, E § I um
subconjunto, F um conjunto fechado em E e 0 À F Ä J uma aplicação de
classe G 5 . Existe então uma aplicação de classe G 5 , 0 À E Ä J , prolongando
a aplicação 0 .
Dem: Tendo em conta II.3.10, vai existir um aberto Y de I , com F § Y , e
um prolongamento s0 À Y Ä J , de classe G 5 , de 0 . Vem que Y E e E Ï F
são dois abertos em E, de união E, pelo que a versão precedente do teorema
da partição da unidade garante a existência de aplicações suaves
:ß <À E Ä Ò!ß "Ó tais que : se anula fora de uma certa parte G de Y E,
fechada em E, < se anula fora de uma certa parte G w de E Ï F , fechada em
E, e, para cada B − E, :ÐBÑ <ÐBÑ œ ". Em particular, para cada B − F ,
tem-se <ÐBÑ œ !, donde :ÐBÑ œ ". Seja agora 0 À E Ä J a aplicação de
classe G 5 definida por
§3. Partições da unidade 109
0 ÐBÑ œ œ
! , se B Â Y
s ÐBÑ Þ
:ÐBÑ0 , se B − Y
28Repare-se que podemos, em particular, tomar como função $ uma função de valor cons-
tante maior que !, caso em que o resultado garante a existência de uma aproximação
uniforme da aplicação contínua 0 por uma aplicação suave 1.
29No caso em que E é fechado em I , pode-se tomar Y œ I (cf. o exercício II.20, no fim
do capítulo), desde que se afaste o caso trivial em que G œ g (e portanto E œ gÑ.
30Esta demonstração baseia-se na demonstração de um resultado análogo em [16].
110 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
C
1À Y Ä J a aplicação suave definida por
1ÐBÑ œ " :C ÐBÑ 0 ÐCÑ
C−E
C−MB C−MB
Para cada B − F , tem-se 2ÐBÑ œ 0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ e, reparando que, sempre que
:ÐBÑ Á !, tem-se B − Y , e portanto m0 ÐBÑ 0 ÐBÑm $ ÐBÑ, vemos que, para
cada B − E,
m2ÐBÑ 0 ÐBÑm œ m:ÐBÑ0 ÐBÑ <ÐBÑ1ÐBÑ :ÐBÑ0 ÐBÑ <ÐBÑ0 ÐBÑm œ
œ m:ÐBÑÐ0 ÐBÑ 0 ÐBÑÑ <ÐBÑÐ1ÐBÑ 0 ÐBÑÑm Ÿ
Ÿ :ÐBÑm0 ÐBÑ 0 ÐBÑm <ÐBÑm1ÐBÑ 0 ÐBÑm
:ÐBÑ$ ÐBÑ <ÐBÑ$ ÐBÑ œ $ ÐBÑ,
como queríamos.
31Por vezes utiliza-se o termo variedade em vez de variedade sem bordo. A razão por que
utilizamos este último é a de que encontraremos mais adiante uma noção mais geral,
relativamente à qual empregaremos o termo variedade.
§4. Variedades sem bordo 113
Figura 1
Dizemos que o conjunto Q é uma variedade sem bordo se, para cada
B − Q , ÐQ ß BÑ é uma variedade sem bordo (com uma dimensão que pode
eventualmente variar de ponto para ponto32). No caso em que, para cada
B − Q , o par ÐQ ß BÑ é uma variedade sem bordo, com a mesma dimensão 8,
dizemos também que Q é uma variedade sem bordo com dimensão 8.
II.4.7 Intuitivamente, uma variedade sem bordo com dimensão 8 é portanto um
conjunto que, localmente, é parecido com um espaço vectorial de dimensão
8. Uma variedade sem bordo com dimensão " é o que estamos habituados a
chamar de curva e as variedades sem bordo com dimensão # correspondem à
noção usual de superfície.
No nosso caso estamos a atribuir à noção intuitiva de parecido o significado
difeomorfo. Se por parecido entendêssemos homeomorfo, obteríamos uma
noção mais fraca, a de variedade topológica. Por exemplo, pode-se verificar
que a união dos quatro lados dum quadrado é uma variedade topológica sem
bordo, embora não seja uma variedade sem bordo, no sentido que utilizamos
neste curso.
II.4.8 (Exemplos) a) Como primeiro exemplo, trivial, de variedade sem bordo
com dimensão 8, temos o de um aberto Y de um espaço vectorial I de
dimensão 8: Para cada B − Y , ÐY ß BÑ é, com efeito, localmente difeomorfo a
ÐIß BÑ (cf. II.4.4).
b) Um segundo exemplo trivial de variedade é o das variedades de dimensão
!: Se B! − Q § I , o par ÐQ ß B! Ñ é uma variedade sem bordo com dimensão
! se, e só se, B! é um ponto isolado de Q , isto é, se, e só se, o conjunto
unitário ÖB! × é aberto em Q . Para o constatarmos, basta reparar que um
espaço vectorial de dimensão ! é constituído pelo único vector ! e que uma
bijecção entre conjuntos unitários é sempre um difeomorfismo, uma vez que
as aplicações constantes são suaves.
c) Como primeiro exemplo não trivial de variedade sem bordo, podemos
considerar o duma hipersuperfície esférica. Consideremos em ‘8 , com
Dem: O facto de H0B! ser uma aplicação linear injectiva implica que
H0B! ÐJ Ñ é um subespaço vectorial de dimensão 7 de J s pelo que podemos
considerar um subespaço vectorial K de J s , com dimensão 8 7, tal que
tenha lugar a soma directa J s œ H0B! ÐJ Ñ Š K (por exemplo, o ortogonal de
H0B! ÐJ Ñ, relativamente a um produto interno que se considere em sJ ). Seja
1w À Z w ‚ K Ä Js a aplicação suave definida por
1w ÐBß DÑ œ 0 ÐBÑ D .
s está
Tem-se 1w ÐB! ß !Ñ œ 0 ÐB! Ñ e a aplicação linear H1wÐB! ß!Ñ À J ‚ K Ä J
definida por
H1wÐB! ß!Ñ Ð?ß AÑ œ H0B! Ð?Ñ A.
O facto de ter lugar a soma directa atrás referida e de a aplicação linear H0B!
ser injectiva implica trivialmente que a aplicação linear H1wÐB! ß!Ñ é também
injectiva pelo que, uma vez que J ‚ K e J s têm a mesma dimensão 8, esta
última aplicação linear vai ser um isomorfismo. Estamos assim em condições
de aplicar o teorema da função inversa para garantir a existência de um
aberto de J ‚ K , contendo ÐB! ß !Ñ e contido em Z w ‚ K , que podemos já
supor ser da forma Z ‚ [ , com B! − Z aberto de I e ! − [ aberto de K ,
tais que a restrição 1 de 1w a Z ‚ [ seja um difeomorfismo de Z ‚ [ sobre
um aberto Z s de J s , sendo imediato, pela definição de 1w , que se tem
1ÐBß !Ñ œ 0 ÐBÑ.
§4. Variedades sem bordo 119
ÐCw ßDÑÈCw
s ‚ [ qqqqqp
Z s
Z
:Æ Æ<
Y qqqqqp s
Y
0ÎY
II.4.23 Sejam ÐQ ß B! Ñ uma variedade sem bordo, F uma parte arbitrária dum
espaço vectorial I s de dimensão finita e 0 À Q Ä F uma imersão no ponto
B! . Existe então um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que a restrição 0ÎY seja
122 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
difeomorfismo.
0.5
0.5
Figura 2
s Q Ñ œ ÖÐCß DÑ − Z ‚ [ ± D œ !×.
<" ÐY
agora que <w verifica quase a propriedade do enunciado (as plicas são por
causa do quase) e verificar em seguida que com uma restrição conveniente
de <w temos o problema resolvido. Em primeiro lugar, se ÐCß DÑ − Z w ‚ [ w é
tal que D œ !, vem <w ÐCß DÑ œ <w Ð<w " ‰ :ÐCÑÑ œ :ÐCÑ − Y w § Q pelo que
tudo o que seria necessário mostrar era que, se ÐCß DÑ − Z w ‚ [ w é tal que
<w ÐCß DÑ − Q , então D œ !. Isto, infelizmente, pode ser falso, pelo que vamos
tentar reduzir os abertos de modo a deitar fora os pontos pirata (cf. figura 3).
Figura 3
s Ä Q , definida por
considerar a aplicação suave 1À Y
1ÐCÑ œ :Ð<" ÐCÑß !Ñ,
a qual verifica 1ÐC! Ñ œ B! e
0 Ð1ÐCÑÑ œ <Ð<" Ð0 Ð:Ð<" ÐCÑß !ÑÑÑÑ œ <Ð<" ÐCÑÑ œ C .
Para provarmos a última afirmação do enunciado basta vermos que 0 ÐQ Ñ é
uma vizinhança de C! em Q s , visto que, se E for uma vizinhança de B! em
Q , podemos aplicar a referida conclusão à restrição de 0 a E, que ainda
verifica evidentemente a propriedade a) do enunciado. Ora o facto de 0 ÐQ Ñ
33Costuma-se traduzir esta última condição dizendo que 1 é uma secção suave de 0 sobre
s.
o aberto Y
126 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
ÐC w ß DÑ È C w .
ÐCw ßDÑÈCw
s ‚ [ qqqqqp
Z s
Z
: ºl ºl <
l l
Æ Æ
Y qqqqqp s
Y
0ÎY
s ‚ [ , tendo-se, por
Para cada B − Y , vem B œ :ÐC w ß DÑ, com ÐC w ß DÑ − Z
w
s
definição, B − Q se, e só se, 0 ÐBÑ − Q , ou, por outras palavras se, e só se,
w
sw Y
Cw œ <" Ð0 Ð:ÐC w ß DÑÑÑ − <" ÐQ s Ñ.
O facto de < ser um difeomorfismo e de Q sw Y s w,
s ser um aberto de Q
w
s Y
contendo C! , implica que <" ÐQ s Ñ é no ponto ! uma variedade sem
bordo com dimensão 8 . O que vimos atrás mostra-nos que
w
w
s Y
:" ÐQ w Y Ñ œ <" ÐQ sÑ ‚ [,
pelo que :" ÐQ w Y Ñ é no ponto Ð!ß !Ñ uma variedade sem bordo com
dimensão 8w Ð7 8Ñ. O facto de : ser um difeomorfismo implica agora
que Q w Y , e portanto também Q w , é no ponto B! uma variedade sem bordo
com dimensão 8w Ð7 8Ñ œ 7 Ð8 8w Ñ. Provemos por fim a afirmação
relativa aos vectores tangentes. O facto de se ter Q w § Q implica
trivialmente que XB! ÐQ w Ñ § XB! ÐQ Ñ. Dado ? − XB! ÐQ Ñ, o facto de H:Ð!ß!Ñ
ser um isomorfismo de J s ‚ K sobre XB! ÐQ Ñ, que aplica o espaço vectorial
" s w s
XÐ!ß!Ñ Ð< ÐQ Y Ñ ‚ [ Ñ sobre XB! ÐQ w Ñ, implica que se pode escrever
? œ H:Ð!ß!Ñ Ð@ß AÑ, com Ð@ß AÑ − J s ‚ K , e que se tem então ? − XB! ÐQ w Ñ se,
e só se
sw Y
Ð@ß AÑ − XÐ!ß!Ñ Ð<" ÐQ sw Y
s Ñ ‚ [ Ñ œ X! Ð<" ÐQ s ÑÑ ‚ K ,
pelo que o que dissemos atrás mostra que se tem ? − XB! ÐQ w Ñ se, e só se,
s w Ñ.
H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ
128 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
34Os vectores tangentes são portanto, neste caso, aqueles que são perpendiculares ao raio.
§4. Variedades sem bordo 129
portanto uma variedade sem bordo com dimensão !. Nesse caso, a aplicação
suave 0 À Q Ä ‘8 vai ter 8 componentes, que são as aplicações suaves
0" ß á ß 08 À Q Ä ‘ definidas por
0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß á ß 08 ÐBÑÑ,
e o conjunto Q w vai ser o conjunto dos pontos B − Q tais que se tenha
0" ÐBÑ œ ," , 0# ÐBÑ œ ,# ß á ß 08 ÐBÑ œ ,8 , ou seja, vai ser o conjunto das
soluções de um sistema de equações. Concluímos portanto que, se ÐQ ß B! Ñ é
uma variedade sem bordo com dimensão 7, o conjunto das soluções de um
sistema de 8 equações (verificadas pelo elemento B! ) vai ser em B! uma
variedade sem bordo com dimensão 7 8,35 isto se se verificar a hipótese
fundamental de a derivada H0B! ser uma aplicação linear sobrejectiva de
XB! ÐQ Ñ sobre ‘8 .36
Esta hipótese fundamental pode ser enunciada, de modo equivalente, em
termos das derivadas em B! das aplicações componentes 04 À Q Ä ‘,
4 œ "ß á ß 8, com a exigência de que as aplicações lineares
H0" ÐB! Ñß H0# ÐB! Ñß á ß H08 ÐB! ÑÀ XB! ÐQ Ñ Ä ‘
II.4.36 (Lema) Seja ÐQ s ß C! Ñ uma variedade sem bordo com dimensão 8 e seja
w
C! − Qs §Q s tal que ÐQ s w ß C! Ñ seja uma variedade sem bordo com dimensão
8w . Existe então um aberto Y s de Q s , com C! − Y s Ä ‘88w ,
s , e 1À Y
submersão no ponto B! tal que 1ÐC! Ñ œ !, de modo que se tenha
sw Y
Q s œ ÖC − Y
s ± 1ÐCÑ œ !×.
Por outras palavras, toda a subvariedade pode ser definida localmente por um
sistema de equações, verificando a hipótese de independência referida em
II.4.34.
Dem: Este lema vai ser uma consequência do resultado sobre fotografia
duma subvariedade referido em II.4.27. Esse resultado permite-nos
considerar espaços vectoriais J e K , com dimensões 8w e 8 8w , conjuntos
abertos Ys de Q s , com C! − Y
s , Z de J , com ! − Z , e [ de K , com ! − [ ,
e um difeomorfismo <À Z ‚ [ Ä Y s tal que <Ð!ß !Ñ œ C! e que
" s w s Ñ seja o conjunto dos ÐC ß DÑ − Z ‚ [ tais que D œ !. Podemos
w
< ÐQ Y
então considerar a aplicação suave s1À Y s Ä K , composta do difeomorfismo
" s
< À Y Ä Z ‚ [ com a segunda projecção 1# À Z ‚ [ Ä [ § K . Tem-se
s1ÐC! Ñ œ !, a aplicação linear H1 sC! é sobrejectiva, como composta da
aplicação linear sobrejectiva 1# À J ‚ K Ä K com o isomorfismo
s Ñ Ä J ‚ K,
HÐ<" ÑC! À XC! ÐQ
e Qsw Ys vai ser o conjunto dos C − Ys tais que s1ÐCÑ œ !. Por fim, para
88w
substituir K por ‘ , basta tomar para 1 a composta de s1 com um
w
isomorfismo .À K Ä ‘88 .
II.4.37 (Versão mais geral do resultado sobre construção de variedades
como imagens recíprocas) Sejam ÐQ ß B! Ñ e ÐQ s ß C! Ñ variedades sem bordo,
com dimensões 7 e 8, respectivamente e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave
w w
s §Q
tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Seja C! − Q s tal que ÐQs ß C! Ñ seja uma variedade
sem bordo, com dimensão 8w e suponhamos verificada a seguinte condição
de transversalidade:
w
s Ñ œ XC! ÐQ
H0B! ÐXB! ÐQ ÑÑ XC! ÐQ sÑ
s w Ñ œ Ö@ − XC! ÐQ
XC! ÐQ s Ñ ± H1C! Ð@Ñ œ !×.
w
s Ñ.
isto é, tais que se tenha H0B! Ð?Ñ − XC! ÐQ
s ß C! Ñ uma variedade sem bordo, com dimensão 8 e
II.4.38 (Corolário) Sejam ÐQ
Q e Q dois subconjuntos de Q
w s , contendo C! , e tais que ÐQ ß C! Ñ e ÐQ w ß C! Ñ
sejam variedades sem bordo, com dimensões 7 e 7w , respectivamente.
37É claro que esta condição se encontra automaticamente verificada no caso em que a
s Ñ é sobrejectiva, as duas condições sendo equi-
aplicação linear H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä XC! ÐQ
w
s
valentes no caso em que Q é o conjunto unitário ÖC! ×.
132 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
com H0B! ÐH2" C! ÐAÑÑ − XC! ÐEÑ e H2# C! ÐAÑ − K œ XC! ÐEѼ , o que mostra
que H2#C! ÐAÑ é a projecção ortogonal de A sobre K, em particular, se
A − K, A œ H2#C! ÐAÑ.
e) Para cada C − [ , o facto de se ter C œ 0 Ð2" ÐCÑÑ 2# ÐCÑ, com 2" ÐCÑ − Y
e 2# ÐCÑ − Z , implica, pelo que vimos em a), que C − E se, e só se,
2# ÐCÑ œ !. O teorema de construção de variedades como imagens recíprocas
garante agora que [ E, e portanto E, é no ponto C! uma variedade sem
bordo.
s . O facto de se ter
é um subespaço vectorial de dimensão 8w de I
HÐ0 ‰ :" ÑÐCßDÑ Ð@ß AÑ œ @ H2ÐCßDÑ Ð@ß AÑ
que está naquele subespaço, tem que ser da forma @ H2ÐCßDÑ Ð@ß !Ñ, pelo
que, mais uma vez por ter lugar a soma directa referida, tem que ser @ œ !, e
portanto
H2ÐCßDÑ Ð!ß AÑ œ H2ÐCßDÑ Ð@ß !Ñ œ H2ÐCßDÑ Ð!ß !Ñ œ !.
pelo que
0 ÐY Ñ œ 0 ‰ :" ÐZ ‚ [ Ñ œ 0 ‰ :" ÐZ ‚ Ö!×Ñ.
O facto de a restrição de 0 ‰ :" a Z ‚ Ö!×, que está definida por
ÐCß !Ñ È C 2ÐCß !Ñ, ser um difeomorfismo sobre a sua imagem (que é
bijectiva resulta da soma directa referida e, pela mesma razão, a inversa está
definida por Cw È Ð1 sÐC w Ñß !Ñ) implica agora que 0 ÐY Ñ, tal como Z ‚ Ö!×, é
uma variedade sem bordo, com dimensão 8w .
Vamos estudar nesta secção alguns exemplos de variedade sem bordo que
aparecem com frequência nas aplicações. O primeiro exemplo é algo
trivial, na medida em que se está em presença de um aberto de um espaço
vectorial de dimensão finita, e é aqui apresentado apenas como referência.
orientações) e por aqueles que verificam detÐ0Ñ ! (ou seja, que invertem as
orientações). Aqueles subconjuntos são, em particular, variedades sem bordo,
com a mesma dimensão que SÐIÑ, e o primeiro é também um subgrupo e
portanto, trivialmente, um grupo de Lie. Uma vez que cada um dos conjuntos
S ÐIÑ e S ÐIÑ é o complementar do outro, estes conjuntos são também
fechados em SÐIÑ, e portanto compactos.
O grupo S ÐIÑ é também notado WSÐIÑ e conhecido como o grupo
ortogonal especial.39
II.5.9 Seja I um espaço vectorial, real ou complexo, de dimensão 8 ".
Tem-se então que o subconjunto WPÐIÑ de PÐIà IÑ, cujos elementos são as
aplicações lineares 0 com detÐ0Ñ œ ", é uma variedade sem bordo com
dimensão 8# ", no caso real, e dimensão #8# #, no caso complexo.
Tem-se além disso, para o espaço vectorial tangente em M.I − WPÐIÑ,
XM. ÐWPÐIÑÑ œ Ö! − PÐIà IÑ ± TrÐ!Ñ œ !×.
WPÐIÑ é um subgrupo de KPÐIÑ e portanto. também um grupo de Lie.
Dem: O facto de WPÐIÑ ser um subgrupo de KPÐIÑ é uma consequência
das propriedades do determinante em I.1Þ22. Tendo em conta I.7.9,
detÀ PÐIà IÑ Ä Š é uma aplicação suave e a sua derivada em M.I é a
aplicação linear complexa ! È TrÐ!Ñ, a qual é sobrejectiva, uma vez que
cada + − Š é igual a TrÐ 8+ M.I Ñ. O teorema de construção de subvariedades
como imagens recíprocas garante agora que WPÐIÑ é uma variedade em
M.I , com a dimensão e o espaço tangente indicados no enunciado. Para
vermos que WPÐIÑ é ainda uma variedade com a mesma dimensão em cada
0 − WPÐIÑ, basta repararmos que tem lugar um difeomorfismo
P0 À WPÐIÑ Ä WPÐIÑ, definido por P0 Ð(Ñ œ 0 ‰ ( (com P0" como
difeomorfismo inverso), o qual aplica M.I em 0.
”! ! •
! !‡#ß"
,
#ß"
40Por esse motivo, é útil pensar em KÐIÑ como sendo “moralmente” o conjunto dos
subespaços vectoriais de I .
§5. Alguns exemplos importantes de variedade 143
o que mostra que HFM.I À XM.I ÐSÐIÑÑ Ä X-! ÐKÐIÑÑ é uma aplicação linear
sobrejectiva. Ficou assim provado que X-! ÐKÐIÑÑ é o conjunto dos
! − P++ ÐIà IÑ tais que ! ‰ -! -! ‰ ! œ ! e, tendo em conta o segundo
teorema da submersão, que KÐIÑ é uma variedade em -! . Por II.4.28,
podemos garantir que FÐSÐIÑÑ é uma vizinhança de -! em KÐIÑ e portanto,
por FÐSÐIÑÑ estar contido em K5 ÐIÑ, K5 ÐIÑ é também uma vizinhança de
-! em KÐIÑ, o que mostra que cada K5 ÐIÑ é aberto em KÐIÑ. Vemos agora
que, se J w é um subespaço arbitrário de dimensão 5 , então, considerando
bases ortonormadas arbitrárias para J e para J w e prolongando-as em bases
ortonormadas de I , podemos considerar o isomorfismo ortogonal 0 − SÐIÑ
definido pela condição de aplicar a primeira base ortonormada de I na
segunda, isomorfismo esse que vai aplicar J sobre J w ; fica assim provado
que se tem mesmo FÐSÐIÑÑ œ K5 ÐIÑ pelo que, por SÐIÑ ser compacto,
K5 ÐIÑ é também compacto, em particular fechado em KÐIÑ. O facto de
KÐIÑ ser a união finita dos compactos K5 ÐIÑ implica que KÐIÑ é também
uma variedade compacta. Vejamos agora que X-! ÐKÐIÑÑ também admite as
caracterizações alternativas no enunciado. Se ! − PÐIà IÑ verifica
! ‰ -! -! ‰ ! œ ! então, se B − J , tem-se -! ÐBÑ œ B, donde
!ÐBÑ œ !Ð-! ÐBÑÑ -! Ð!ÐBÑÑ œ !ÐBÑ -! Ð!ÐBÑÑ,
portanto -! Ð!ÐBÑÑ œ !, ou seja, !ÐBÑ − J ¼ , e, se B − J ¼ , tem-se -! ÐBÑ œ !,
donde
!ÐBÑ œ !Ð-! ÐBÑÑ -! Ð!ÐBÑÑ œ -! Ð!ÐBÑÑ,
portanto !ÐBÑ − J . Reciprocamente, se !ÐJ Ñ § J ¼ e !ÐJ ¼ Ñ § J , então,
para cada B − J , !Ð-! ÐBÑÑ -! Ð!ÐBÑÑ œ !ÐBÑ ! œ !ÐBÑ e, para cada
B − J ¼ , !Ð-! ÐBÑÑ -! Ð!ÐBÑÑ œ !Ð!Ñ !ÐBÑ œ !ÐBÑ e portanto, uma vez
que I œ J Š J ¼ , !Ð-! ÐBÑÑ -! Ð!ÐBÑÑ œ !ÐBÑ, para todo o B − I . A
caracterização de X-! ÐKÐIÑÑ como o conjunto dos ! − P++ ÐIà IÑ tais que
!ÐJ Ñ § J ¼ e !ÐJ ¼ Ñ § J é trivialmente equivalente à caracterização
matricial referida no enunciado e esta última mostra que X-! ÐKÐIÑÑ é
isomorfo a PÐJ à J ¼ Ñ e tem portanto a dimensão no enunciado.
II.6.1 Dissemos atrás que uma variedade sem bordo, com dimensão 8, pode ser
olhada intuitivamente como um conjunto que é localmente parecido com um
144 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
Figura 4
41O termo aberto não tem aqui um significado topológico. A superfície em questão não é
evidentemente um conjunto aberto no espaço vectorial ambiente.
42Supomos naturalmente que o rato tem uma dentadura de classe G _ .
§6. Variedades com bordo 145
planos).
A# A#
A" A"
Figura 5
43Os autores que dão o nome de variedade ao que nós chamámos de variedade sem bordo
usam o termo variedade com bordo para designar o que aqui estamos a chamar de
variedade.
148 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
garantir que ‘8: œ ‘8: ‚ ‘: é uma variedade, tendo em cada ponto
Ð+" ß á ß +8 Ñ dimensão 8 (igual à soma das dimensões dos factores nos pontos
+4 ) e índice igual à soma dos índices de ‘ nos pontos +4 com 4 Ÿ 8 : com
os índices de ‘ nos pontos +4 com 4 8 :, isto é, igual ao número de
índices 4 8 : tais que +4 œ !.
II.6.17 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e B! − Q § I tais que
ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade com dimensão 8 e índice :. Tem-se então:
a) Existe um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que, para cada B − Y , ÐQ ß BÑ
seja uma variedade com dimensão 8 e índice menor ou igual a :.
b) Qualquer que seja a vizinhança Z de B! em Q e qualquer que seja
! Ÿ 4 Ÿ :, existe B − Z tal que ÐQ ß BÑ seja uma variedade com dimensão 8
e índice 4.
Em particular, se Q é uma variedade conexa, então Q tem a mesma
dimensão em todos os pontos.
Dem: Seja :À Y Ä Y w um difeomorfismo local de ÐQ ß B! Ñ sobre Б8: ß !Ñ. É
então imediato que, para cada B − Y , : é um difeomorfismo local de ÐQ ß BÑ
sobre Б8: ß :ÐBÑÑ, que, pelo resultado anterior, é uma variedade com dimen-
são 8 e índice menor ou igual a :, o que nos permite concluir que ÐQ ß BÑ é
uma variedade com dimensão 8 e índice menor ou igual a :. Para demonstrar
b), e uma vez que, para cada vizinhança Z de B! , intÐZ Ñ é também, no ponto
B! , uma variedade com dimensão 8 e índice :, basta-nos provar que,
qualquer que seja ! Ÿ 4 Ÿ :, existe B − Q tal que ÐQ ß BÑ seja uma
variedade com dimensão 8 e índice 4. Ora, considerando, como acima, um
difeomorfismo local :À Y Ä Y w de ÐQ ß B! Ñ sobre Б8: ß !Ñ, esta conclusão é
uma consequência de que, pelo resultado anterior, vão existir pontos na
vizinhança aberta Y w de ! em ‘8: onde ‘8: é uma variedade com qualquer
índice 4 entre ! e : (tomar as últimas : 4 coordenadas estritamente posi-
tivas e suficientemente pequenas e todas as restantes iguais a !). A última
conclusão do enunciado resulta de que, tendo em conta a), para cada inteiro 8
o conjunto dos pontos de Q onde a dimensão é 8 é aberto em Q pelo que,
uma vez que Q é a união destes abertos que são disjuntos dois a dois, apenas
um deles pode ser não vazio.
II.6.18 Tendo em conta a alínea b) do resultado anterior, vemos que as únicas
variedades em que o índice é o mesmo em todos os pontos são aquelas em
que esse índice é !, isto é, as variedades sem bordo. Costuma-se também dar
o nome de variedades sem cantos àquelas em que o índice em cada ponto é
sempre ! ou ". Nesta ordem de ideias, chamam-se cantos duma variedade os
pontos desta em que o índice é maior ou igual a #.
II.6.19 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita e Q § I um conjunto.
Para cada : !, vamos notar `: ÐQ Ñ o conjunto dos pontos B − Q tais que
ÐQ ß BÑ seja uma variedade com índice : , conjunto a que daremos o nome de
bordo de índice : de Q .
§6. Variedades com bordo 151
Uma vez que, tendo em conta II.6.13 e II.6.3, o segundo membro é também
um subespaço vectorial de dimensão 8 :, concluímos finalmente a igual-
dade de ambos os membros da inclusão anterior.
II.6.21 (Algumas propriedades topológicas das variedades) Sejam I um
espaço vectorial de dimensão finita e Q § I uma variedade. Tem-se então:
a) Q é um espaço topológico localmente compacto, isto é, cada ponto
B − Q admite um sistema fundamental de vizinhanças compactas.
b) Q é um espaço topológico localmente conexo, isto é, cada ponto B − Q
admite um sistema fundamental de vizinhanças conexas.44 Em particular as
componentes conexas de Q são conjuntos abertos em Q , e portanto também
variedades, com a mesma dimensão e índice que Q em cada ponto.
Dem: Se atendermos a que um difeomorfismo é também um homeo-
morfismo, para provar a) e b), basta-nos provar que ! admite em ‘8: um
sistema fundamental de vizinhanças compactas e conexas. Ora, isso acontece
ao sistema fundamental de vizinhanças constituído pelos conjuntos
Ò<ß <Ó8: ‚ Ò!ß <Ó: , com < !.
II.6.22 (As variedades são localmente fechadas) Sejam I um espaço vectorial
de dimensão finita e Q § I uma variedade. Existe então um aberto Y de I ,
com Q § Y , tal que Q seja fechado em Y .
É bem conhecido o resultado de Topologia que nos diz que todo o espaço
topológico conexo, que seja localmente conexo por arcos, isto é, em que
cada ponto admita um sistema fundamental de vizinhanças conexas por
arcos, é também um espaço topológico conexo por arcos. Uma vez que o
raciocínio da demonstração de II.6.21 mostra também que toda a varie-
dade é localmente conexa por arcos, podemos concluir que toda a
variedade conexa é também conexa por arcos. De facto, torna-se muitas
vezes útil dispôr de um resultado mais forte em que se garante que dois
pontos podem ser unidos não só por um arco contínuo, mas também por
um arco suave. A demonstração, que apresentamos em seguida, é um
pouco mais delicada, na medida que temos que ser cuidadosos com o
modo como unimos dois arcos, para evitar o perigo dos cantos, que não
existia ao nível das aplicações contínuas.
2Ð>Ñ œ
"
1Ð#>Ñ , se > Ÿ #
" ;
s1Ð#> "Ñ , se > #
para a qual se tem 1Ð>Ñ œ B! , se > Ÿ "$ , e 1Ð>Ñ œ B, se > #$ , o que mostra
que B µ B! . Ficou portanto provado que Y está contido na classe de
equivalência em questão, o que mostra que esta é aberta.
II.6.24 (Corolário) Sejam Q § I uma variedade conexa, J um espaço
vectorial de dimensão finita e 0 À Q Ä J uma aplicação de classe G " tal que,
para cada B − Q , H0B œ ! − PÐXB ÐQ Ñà J Ñ. Tem-se então que 0 é uma apli-
cação constante.
Dem:45 Dados Bß C − Q , consideremos uma aplicação suave 1À ‘ Ä Q , tal
que 1Ð!Ñ œ B e 1Ð"Ñ œ C . Podemos então considerar a aplicação 2À ‘ Ä J ,
de classe G " , definida por 2Ð>Ñ œ 0 Ð1Ð>ÑÑ, para a qual se tem 2 w Ð>Ñ œ
H01Ð>Ñ Ð1w Ð>ÑÑ œ !, pelo que 2 é constante, em particular
0 ÐBÑ œ 2Ð!Ñ œ 2Ð"Ñ œ 0 ÐCÑ.
45Este enunciado pode ser também demonstrado facilmente sem recorrer ao resultado
precedente, mas parece-nos instrutivo apresentar esta demonstração.
154 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
e reparemos que H0B Ð?Ñ œ #ØB B! ß ?Ù, pelo que a aplicação linear
H0B À I Ä ‘ é sobrejectiva, excepto para B œ B! . Uma vez que I e ‘ são
variedades sem bordo com dimensões 8 e ", respectivamente, e que se tem
F < ÐB! Ñ œ 0 " Б Ñ, onde ‘ œ Ò!ß _Ò é uma variedade com dimensão ",
tendo índice " no ponto ! e índice ! nos restantes pontos, concluímos que
F < ÐB! Ñ é uma variedade, com a possível excepção do ponto B! , tendo
dimensão 8 em todos os pontos, índice ! nos pontos da bola aberta
F< ÐB! Ñ œ ÖB − I ± mB B! m <× e índice " nos pontos da esfera W< ÐB! Ñ œ
ÖB − I ± mB B! m œ <×. O resultado precedente não nos permite tirar direc-
tamente nenhuma conclusão sobre o que se passa no ponto B! − F < ÐB! Ñ, mas
vemos que, de facto, ele não é uma excepção, visto que, sendo um ponto
interior a F < ÐB! Ñ, este conjunto é naquele ponto uma variedade de dimensão
8 e índice ! (aliás, este mesmo raciocínio serviria também para mostrar que
F < ÐB! Ñ é uma variedade de dimensão 8 e índice ! em qualquer ponto da bola
aberta F< ÐB! Ñ).
Em conclusão F < ÐB! Ñ é uma variedade sem cantos com dimensão 8, tendo-se
`! ÐF < ÐB! ÑÑ œ F< ÐB! Ñ e `" ÐF < ÐB! ÑÑ œ W< ÐB! Ñ. É claro que, para cada
B − F < ÐB! Ñ, XB ÐF < ÐB! ÑÑ œ I (sendo um espaço vectorial de dimensão 8 não
pode ser outra coisa…) e, quanto ao cone tangente, tem-se tB ÐF < ÐB! ÑÑ œ I ,
para cada B − F< ÐB! Ñ (pontos onde o índice é !), e, aplicando mais uma vez
o resultado precedente, vemos que, para cada B − W< ÐB! Ñ,
tB ÐF < ÐB! ÑÑ œ Ö? − I ± H0B Ð?Ñ !× œ Ö? − I ± ØB B! ß ?Ù Ÿ !×
(o conjunto dos vectores que fazem um ângulo recto ou obtuso com o raio
B B! ).
II.6.31 Um caso particular de II.6.29, que se encontra frequentemente na prática,
é aquele em que Q s œ ‘8 ‚ ‘: , C! œ Ð!ß !Ñ e Q s w œ Ö!×8 ‚ ‘: , que é, no
ponto Ð!ß !Ñ, uma variedade com dimensão : e índice :. Sendo ÐQ ß B! Ñ uma
variedade sem bordo com dimensão 7 e 0 À Q Ä ‘8 ‚ ‘: uma aplicação
suave, podemos escrever
0 ÐBÑ œ Ð1" ÐBÑß á ß 18 ÐBÑß 2" ÐBÑß á ß 2: ÐBÑÑ
Repare-se que Q w pode ser olhado como o conjunto dos elementos de Q que
verificam um sistema de 8 equações e : inequações e que o número de
equações é igual à codimensão de Q w em B! e o número de inequações é
igual ao respectivo índice.
II.6.32 Vamos olhar de novo, com um pouco mais de atenção, para a situação
que acabamos de descrever.
Suponhamos que temos uma variedade sem bordo Q , com dimensão 7, e
8 : aplicações suaves 1" ß á ß 18 ß 2" ß á ß 2: À Q Ä ‘ e que consideramos o
subconjunto Q w de Q , definido por 8 equações e : inequações,
Q w œ ÖB − Q ± a 13 ÐBÑ œ !, a 24 ÐBÑ !×.
3 4
Por outras palavras, toda a variedade pode ser definida localmente por um
sistema de equações e de inequações, verificando a hipótese de independên-
cia referida em II.6.32.
Dem: Este lema vai ser uma consequência do resultado sobre fotografia de
uma subvariedade referido em II.6.31. Esse resultado permite-nos considerar
espaços vectoriais J e K , com dimensões 8w e 8 8w , um sector E de índice
: de J , conjuntos abertos Ys de Q
s , com C! − Y
s , Z de J , com ! − Z , e [
de K, com ! − [ , e um difeomorfismo <À Z ‚ [ Ä Y s , tal que
<Ð!ß !Ñ œ C! e que
w
s Y
<" ÐQ s Ñ œ ÖÐC w ß DÑ − Z ‚ [ ± C w − E, D œ !×.
w
Considerando um isomorfismo de ‘8 sobre J , que aplique o sector canónico
w w
‘8: sobre E, e um isomorfismo de ‘88 sobre K, vemos que, se necessário
compondo < com a restrição do produto cartesiano destes isomorfismos,
pode-se já supor que J œ ‘8 , E œ ‘8: œ ‘8 : ‚ ‘: e K œ ‘88 . Toma-
w w w w
47É claro que esta condição se encontra automaticamente verificada no caso em que a
s w ß C! Ñ não
s Ñ é sobrejectiva. No caso em que ÐQ
aplicação linear H0B! À XB! ÐQ Ñ Ä XC! ÐQ
tem bordo, reencontramos a condição em II.4.37.
160 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
Sendo então
w w
s Ñ œ ÖB − Q ± 0 ÐBÑ − Q
Q w œ 0 " ÐQ s ×,
" w w
Q w Y œ s0 ÐÖ!×88 ‚ ‘: Ñ œ ÖB − Y ± s0 ÐBÑ − Ö!×88 ‚ ‘: ×.
? − XB! ÐQ Ñ e de @ww − XC! Ð`: ÐQ s w ÑÑ tais que @w œ H0B! Ð?Ñ @ww , tendo-se
então H1C! Ð@ww Ñ œ !, pelo que
s B Ð?Ñ.
A œ H1C! Ð@w Ñ œ H1C! ‰ H0B! Ð?Ñ H1C! Ð@ww Ñ œ H0 !
w
s B Ð?Ñ − Ö!×88 ‚ ‘: ,
H1C! ÐH0B! Ð?ÑÑ œ H0 !
w
s Ñ.
isto é, tais que H0B! Ð?Ñ − tC! ÐQ
II.6.35 (Versão mais geral da construção de variedades como imagens recí-
procas) Sejam ÐQ ß B! Ñ uma variedade de dimensão 7 e índice :, ÐQ s ß C! Ñ
uma variedade sem bordo com dimensão 8 e 0 À Q Ä Q s uma aplicação
w
s s
suave tal que 0 ÐB! Ñ œ C! . Seja C! − Q § Q tal que ÐQs w ß C! Ñ seja uma
variedade com dimensão 8w e índice :w e suponhamos que
s w ÑÑ œ XC! ÐQ
H0B! ÐXB! Ð`: ÐQ ÑÑÑ XC! Ð`:w ÐQ sÑ
e portanto também
XB! Ð`: ÐQ ÑÑ œ tB! ÐQ Ñ ÐtB! ÐQ ÑÑ œ
œ Ö? − I ± H1B! Ð?Ñ œ !×.
48A novidade em relação à versão precedente está em que permitimos que a variedade
ÐQ ß B! Ñ tenha bordo. No entanto, a variedade de chegada ÐQ s ß C! Ñ continua a não ter
bordo. No caso em que a variedade de partida ÐQ ß B! Ñ também não tem bordo,
reencontramos a condição de transversalidade na versão precedente.
162 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
tais que
s B Ð?Ñ.
H0B! Ð?w Ñ @w œ @ H0 !
portanto
s w ‚ ÐÖ!×57 ‚ ‘: ÑÑÑ,
Ð@w ß !Ñ − XÐC! ß!Ñ Ð`::w ÐQ
4−N
- E4 é um conjunto magro.
c) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família finita ou numerável de conjuntos magros, então
4−N
49Em rigor, não deveríamos dar o nome de “teorema de Sard” à versão que estudaremos,
na medida em que se trata de um resultado estabelecido anteriormente por Brown (ver,
por exemplo, [19] para uma discussão mais detalhada desta questão). Preferimos utilizar o
nome “teorema de Sard” por ser essa a designação pela qual é reconhecido pela comu-
nidade matemática actual um resultado deste tipo.
§7. Teorema de Sard 165
dades elementares podiam ter sido dadas no quadro dos espaços topoló-
gicos arbitrários e que só no teorema de Baire vamos utilizar o facto de
estarmos a trabalhar com espaços localmente compactos e separados.50
8 "
vamente compactos O8 , 8 ", de interior não vazio, verificando O8 §
O8" ÐQ Ï G8 Ñ. Para isso, atendemos a que intÐO8" Ñ é um aberto não
vazio, e portanto não contido em G8 , e daqui deduzimos que o aberto
intÐO8" Ñ ÐQ Ï G8 Ñ é não vazio, pelo que nos basta tomar para O8 uma
vizinhança compacta de um dos pontos deste aberto que esteja contida nele.
Vemos agora que
, O8 § O! Ð, Q Ï G8 Ñ œ O! ÐQ Ï . G8 Ñ œ g,
8 " 8 " 8 "
o que é absurdo, uma vez que se trata da intersecção de uma sucessão decres-
cente de compactos não vazios (os O! Ï O8 são abertos do compacto O! ,
com união O! , pelo que teria de haver uma união finita, igual a um dos
O! Ï O8 , que fosse igual a O! , o que implicava que O8 œ g).
50De facto o teorema de Baire também é verificado num enquadramento diferente, muito
importante, por exemplo para as aplicações à Análise Funcional, a saber o dos espaços
métricos completos, mas trata-se de um resultado que não teremos ocasião de aplicar no
nosso estudo.
166 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
51Olhamos para o conjunto vazio como sendo a união da família vazia de subconjuntos.
§7. Teorema de Sard 167
8 "
particular Q é 5-compacto.
Dem: Seja h uma base contável de abertos de Q e notemos ÐY8 Ñ8 " uma
sucessão cujo conjunto de termos seja o dos abertos pertencentes a h cuja
8 "
cada B − Q , vai existir uma vizinhança compacta Z de B e podemos então
escolher Y − h com B − Y § intÐZ Ñ, donde adÐY Ñ § Z , e portanto adÐY Ñ é
compacto. Construamos agora recursivamente uma sucessão estritamente
crescente Ð58 Ñ8 " de números naturais, do seguinte modo: 5" œ "; supondo
construído 58 , e notando O8 o compacto de Q
O8 œ . adÐY3 Ñ,
58
3œ"
O8 § . Y 3 .
58"
3œ"
então , + Ÿ ! Ð,4 +4 Ñ.
4−N
4−N
Dem: Vamos fazer a demonstração por indução no número de índices em N .
No caso em que N œ Ö4× tem um único elemento, o facto de se ter
+ß , − Ò+4 ß ,4 Ó implica que +4 Ÿ + e , Ÿ ,4 , donde , + Ÿ ,4 +4 e temos o
resultado. Suponhamos o resultado válido quando N tem 8 elementos e
vejamos o que sucede quando N tem 8 " elementos. Seja 4! − N tal que
+ − Ò+4! ß ,4! Ó, portanto +4! Ÿ + Ÿ ,4! . Podemos já supor que se tem , ,4! ,
sem o que Ò+ß ,Ó estava contido em Ò+4! ß ,4! Ó e tínhamos uma consequência
4Á4! 4Á4!
, ,4! Ÿ ! ,4 +4 , e portanto
segundo membro é fechado. Pela hipótese de indução, concluímos que
4Á4!
Isto pode ser visto facilmente a partir da Fórmula de Taylor mas, para não
ultrapassarmos a “revisão do Cálculo Diferencial” que apresentámos no iní-
cio, podemos apresentar um argumento directo alternativo, por indução em : ,
para o que convém generalizar o que se pretende provar, permitindo que o
espaço de chegada seja um espaço vectorial normado J , de dimensão finita,
substituindo em (1) o valor absoluto em ‘ pela norma em J e reparando que
a definição de G: Ð0 Ñ se estende trivialmente a este quadro mais geral. No
caso em que : œ ", a fórmula (1) resulta de aplicarmos duas vezes a segunda
versão da fórmula da média, desde que se tome para -" o máximo sobre o
compacto F < ÐBÑ da aplicação contínua que a A associa mHÐH0 ÑA m. Com
efeito, uma primeira aplicação garante que, para cada A no segmento de
extremidades C e D ,
mH0A m œ mH0A H0C m Ÿ -" mA Cm Ÿ -" mD Cm
e uma segunda aplicação garante então que m0 ÐDÑ 0 ÐCÑm Ÿ -" mD Cm# .
170 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
Por fim, supondo o resultado verdadeiro para um certo : ", vemos que,
sendo -:" a constante -: , correspondente à aplicação suave
H0 À Y Ä PБ7 à J Ñ, tem-se, para cada
C − F < ÐBÑ G:" Ð0 Ñ § F < ÐBÑ G: ÐH0 Ñ
com a união estendida aos índices ! para os quais existe C! nas condições
§7. Teorema de Sard 171
#$ Ÿ " #-7 Ð
#< 7" #< #7# -7 <7"
Ñ Ÿ #R 7 -7 Ð Ñ7" œ .
!
R R R
que vai ser assim uma variedade de dimensão 7 ". Para cada
C œ ÐC" ß á ß C4" ß ,4 ß C4" ß á ß C8 Ñ −
− Ó," <ß ," <Ò ‚ â ‚ Ö,4 × ‚ â ‚ Ó,8 <ß ,8 <Ò,
Concluímos assim que o conjunto dos valores críticos desta restrição tem
interior não vazio, e portanto não é magro em ‘4" ‚ Ö,4 × ‚ ‘84 , o que é
um absurdo, tendo em conta a hipótese de indução.
g) Vamos agora verificar que 0 ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑ é magro. Seja
B! − G: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 Ñ arbitrário. Tem-se portanto H: 0B! œ ! e H:" 0B! Á !,
pelo que existem A" ß á ß A:" em ‘7 tais que H:" 0B! ÐA" ß á ß A:" Ñ Á ! e
podemos escolher uma componente 4 tal que H:" 04 B! ÐA" ß á ß A:" Ñ Á !.
Por continuidade, podemos escolher um aberto Z de Y , com B! − Z , tal que,
para cada B − Z , H:" 04 B ÐA" ß á ß A:" Ñ Á !. Tendo em conta o lema
II.7.12, o objectivo desta alínea estará alcançado se mostrarmos que o
conjunto 0 ÐZ ÐG: Ð0 Ñ Ï G:" Ð0 ÑÑÑ é magro. Seja 1À Z Ä ‘ a aplicação
suave definida por
1ÐBÑ œ H: 04 B ÐA# ß á ß A:" Ñ.
Uma vez que a definição de ponto crítico ou de valor crítico apenas faz
intervir a derivada de primeira ordem da função 0 , poderíamos ser
levados a pensar na possibilidade de o teorema de Sard ser verdadeiro
apenas com a exigência de 0 ser de classe G " . Se examinarmos a
demonstração precedente e os lemas nela utilizados, verificamos que
tivemos necessidade de trabalhar com derivadas de ordem superior e, de
facto, um exemplo clássico de Whitney (cf. [27]) mostra que a classe G "
não é em geral suficiente. Com uma demonstração mais cuidadosa,
pode-se verificar que, quando Q e Q s têm dimensões 7 e 8, o teorema é
válido para as aplicações de classe G : , onde o inteiro : depende apenas
de 7 e 8 (cf. [6], problema 2 de XVI.23). Por exemplo, quando 7 Ÿ 8,
pode-se mostrar que a classe G " é suficiente. De facto, examinando as
demonstrações que fizemos, constatamos que é suficiente exigir que a
aplicação 0 À Q Ä Q s seja de classe G 7" , onde 7 é a dimensão de Q ,
mas pode-se mostrar que, em geral, não é necessário exigir tanto.
O teorema de Sard e as definições de ponto crítico, ponto regular, valor
crítico e valor regular foram apresentados apenas no quadro das varieda-
des sem bordo. No entanto, eles são trivialmente generalizáveis à situação
em que a variedade domínio pode ter bordo:
pelo que H0B , sendo a composta de dois isomorfismos com uma aplicação
linear sobrejectiva, é uma aplicação linear sobrejectiva.
EXERCÍCIOS
justificando o resultado.
Ex II.12 Seja I um espaço vectorial de dimensão finita, munido de um produto
interno, e seja W § I a hipersuperfície esférica
W œ ÖB − I ± ØBß BÙ œ "×.
Mostrar que, se B! − W e se ? − XB! ÐWÑ, então ? é prependicular a B! , isto é,
Ø?ß B! Ù œ !. Sugestão: Considerar dois prolongamentos suaves da aplicação
identicamente igual a " sobre W e derivá-los na direcção de ?.
Ex II.13 Mostrar que, se I Á Ö!× é um espaço vectorial de dimensão finita e se
E § I é um subconjunto compacto e não vazio, então existe pelo menos um
ponto B! − E tal que tB! ÐEÑ Á I . Sugestão: Considerar em I um produto
interno e tomar um ponto B! − E de norma máxima.
Ex II.14 Seja E § ‘# , E œ ÖÐBß CÑ ± C œ B# ×, e seja 0 À E Ä ‘ a aplicação
suave definida por 0 ÐBß CÑ œ C . Mostrar que se podem escolher dois
prolongamentos suaves 0 e s0 de 0 a ‘# tais que as derivadas de segunda
ordem
H# 0 Ð!ß!Ñ ß H#s0 Ð!ß!Ñ À ‘# ‚ ‘# Ä ‘
s1ÐBÑ œ œ
:ÐBÑ1ÐBÑ <ÐBÑC! , se B − Y E
,
C! , se B − E Ï Y
onde :ß <À E Ä Ò!ß "Ó são as funções duma partição da unidade associada aos
abertos Y E e E Ï F de E.
4œ"
e que se tem 0 ÎF œ 0 .
Ex II.22 Seja F § ‘$ o conjunto
F œ ÖÐBß Cß DÑ ± B# C # D # œ ", B# #C # œ "×.
Mostrar que F é uma variedade sem bordo com dimensão " em todos os
pontos, com a excepção de Ð"ß !ß !Ñ e Ð"ß !ß !Ñ, e que nestes pontos F não é
uma variedade.
Ex II.23 Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades sem bordo e 0 À Q Ä Q s uma
aplicação suave, injectiva e tal que, para cada B − Q , H0B seja um
s Ñ. Mostrar que então 0 ÐQ Ñ é aberto
isomorfismo de XB ÐQ Ñ sobre X0 ÐBÑ ÐQ
s
em Q e que 0 é um difeomorfismo de Q sobre 0 ÐQ Ñ.
Ex II.24 Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades sem bordo e 0 À Q Ä Q s uma
aplicação suave. Seja O § Q um conjunto compacto tal que a restrição
0ÎO À O Ä Q s seja uma aplicação injectiva e que, para cada B − O , H0B seja
um isomorfismo de XB ÐQ Ñ sobre X0 ÐBÑ ÐQ s Ñ. Mostrar que existe então um
aberto Y de Q , com O § Y , tal que 0ÎY seja um difeomorfismo de Y sobre
Exercícios 181
um aberto Z de Q s .56
Sugestão: Demonstrar e utilizar o seguinte resultado de natureza puramente
topológica: Sejam Q e Q s espaços topológicos, o segundo dos quais de
Hausdorff. Seja 0 À Q Ä Q s uma aplicação contínua em todos os pontos de
um certo conjunto compacto O § Q tal que a restrição 0ÎO seja injectiva e
que, para cada B − O , exista um aberto YB de Q , com B − YB , tal que a
restrição 0ÎYB seja injectiva. Existe então um aberto Y de Q , com O § Y ,
tal que a restrição 0ÎY é injectiva. Para demonstrar este resultado utilizar duas
vezes a propriedade das coberturas abertas dum compacto, demonstrando,
como passo intermédio, que, para cada B! − O , existem abertos ZB! e [B! de
Q , com B! − ZB! e O § [B! , tais que, se B − ZB! , C − [B! e 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ,
então B œ C .
Ex II.25 Seja I um espaço vectorial real, de dimensão 8 ", munido de
produto interno. Lembrar que uma aplicação linear 0À I Ä I se diz
autoadjunta se, quaisquer que sejam Bß C − I , se tem Ø0ÐBÑß CÙ œ ØBß 0ÐCÑÙ.
Mostrar que toda a aplicação linear autoadjunta 0À I Ä I admite um vector
próprio não nulo B! , isto é, um vector para o qual 0ÐB! Ñ œ +B! , para um
certo + − ‘. Sugestão: Lembrar que W œ ÖB − I ± mBm œ "× é uma
variedade sem bordo com dimensão 8 " e que, para cada B! − W , XB! ÐWÑ é
o conjunto dos vectores ? − I tais que ØB! ß ?Ù œ !. Tomar para B! um ponto
onde seja máxima a aplicação suave 0 À W Ä ‘, definida por
0 ÐBÑ œ Ø0ÐBÑß BÙ.
Ex II.26 Sejam B! − Q § I , C! − Q w § I w e D! − Q s §Is tais que ÐQ ß B! Ñ,
s ß D! Ñ sejam variedades sem bordo, com dimensões 7, 7w e 8,
ÐQ w ß C! Ñ e ÐQ
respectivamente. Sejam 0 À Q Ä Q s e 1À Q w Ä Qs duas aplicações suaves,
tais que 0 ÐB! Ñ œ D! œ 1ÐC! Ñ e que seja verificada a seguinte condição de
transversalidade:
s Ñ.
H0B! ÐXB! ÐQ ÑÑ H1C! ÐXC! ÐQ w ÑÑ œ XD! ÐQ
56Reparar que o teorema da função inversa não é mais do que o caso particular deste
resultado, em que o compacto O é um conjunto unitário.
182 Cap. II. Vectores Tangentes e Variedades
4 :
b) Mostrar que, se B − `: ÐQ Ñ, então, para cada ! Ÿ 4 Ÿ :, B é aderente a
`4 ÐQ Ñ.
Ex II.43 Sejam + , dois números reais. Mostrar que o intervalo Ò+ß ,Ó é uma
variedade de dimensão ", com `" ÐÒ+ß ,ÓÑ œ Ö+ß ,×.
Ex II.44 Mostrar que os seguintes conjuntos não são variedades no ponto
Ð!ß !Ñ − ‘# :
a) E œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B !, C !, BC œ !×.
b) F œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B ! ” C !×.
c) G œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B !, ! Ÿ C Ÿ B# ×.
Ex II.45 Considerar a pirâmide quadrangular E de ‘$ , constituída pelos pontos
que se podem escrever na forma Ð>Bß >Cß >Ñ, com B − Ò!ß "Ó, C − Ò!ß "Ó e
> − Ò!ß "Ó. Mostrar que E não é uma variedade no ponto Ð!ß !ß !Ñ.
Sugestão: Mostrar que o cone tangente tÐ!ß!ß!Ñ ÐEÑ não é um sector de ‘$ .
Ex II.46 Considerar o cone E de ‘$ , constituído pelos pontos que se podem
escrever na forma Ð>Bß >Cß >Ñ, com > − Ò!ß "Ó e B# C # Ÿ ". Mostrar que E
não é uma variedade no ponto Ð!ß !ß !Ñ.
Ex II.47 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, B! − Q § I , tal que
ÐQ ß B! Ñ seja uma variedade com dimensão 8 e índice :, e 0 À Q Ä ‘ uma
aplicação suave. Mostrar que os conjuntos
K0 œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ ‘ ± C œ 0 ÐBÑ×,
K0 œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ ‘ ± C 0 ÐBÑ×,
K0 œ ÖÐBß CÑ − Q ‚ ‘ ± C Ÿ 0 ÐBÑ×,
5Á4
existe uma aplicação suave 0 À Y Ä ÓB! 4 &ß B! 4 &Ò tal que, para cada
5Á4
existe uma aplicação suave 0 À Y Ä ÓB! 4 &ß B! 4 &Ò para a qual se verifica
uma das duas condições seguintes:62
1) Se B − Ys , tem-se B − Q se, e só se, B4 0 ÐB" ß á ß B4" ß B4" ß á ß B8 Ñ;
2) Se B − Ys , tem-se B − Q se, e só se, B4 Ÿ 0 ÐB" ß á ß B4" ß B4" ß á ß B8 Ñ.
Sugestão: Aplicar a conclusão de a) à variedade `" ÐQ Ñ, no ponto B! , e ter
em conta a conclusão do exercício II.50.
Ex II.52 Sejam I um espaço vectorial de dimensão finita, + , dois números
reais e 0 À Ò+ß ,Ó Ä I uma aplicação suave, tal que 0 w Ð>Ñ Á !, para cada
> − Ò+ß ,Ó (um caminho regular). Mostrar que, se 0 é injectiva, então 0 é um
difeomorfismo de Ò+ß ,Ó sobre a sua imagem, em particular 0 ÐÒ+ß ,ÓÑ é uma
variedade de dimensão ", com bordo Ö0 Ð+Ñß 0 Ð,Ñ×. Determinar quais o cone
tangente e o espaço vectorial tangente em cada elemento de 0 ÐÒ+ß ,ÓÑ.
Ex II.53 Generalizar o que foi feito no exercício II.26, permitindo que as
variedades ÐQ ß B! Ñ e ÐQ w ß C! Ñ tenham bordo, à custa de reforçar convenien-
temente a condição de transversalidade.
Ex II.54 Sejam I um espaço vectorial de dimensão 8 e Q § I uma variedade
sem cantos, de dimensão igual à do espaço ambiente (portanto `4 ÐQ Ñ œ g,
para cada 4 #). Mostrar que existe um aberto Y de I , com Q § Y , e uma
aplicação suave 0 À Y Ä ‘ tal que, para cada B − `" ÐQ Ñ, H0B À I Ä ‘ seja
uma aplicação linear sobrejectiva e que se tenha
Q œ ÖB − Y ± 0 ÐBÑ !×,
`" ÐQ Ñ œ ÖB − Y ± 0 ÐBÑ œ !×
é um subconjunto magro de Q .
Ex II.59 Sejam Q § I e Q s §I s duas variedades, ambas eventualmente com
bordo e 0 À Q Ä Q s uma aplicação suave. Generalizando as definições em
II.7.1 e II.7.15, chamemos pontos regulares de 0 aos pontos B − Q tais
que, sendo B − `5 ÐQ Ñ, a aplicação linear
Exercícios 191
sÑ
HÐ0Î`5 ÐQ Ñ ÑÀ XB Ð`5 ÐQ ÑÑ Ä X0 ÐBÑ ÐQ
Como caso particular importante, temos mais uma vez aquele em que E s§E
e tomamos para 0 À Es Ä E a inclusão. A secção imagem recíproca 0 [ não ‡
que ÐCß BÑ é não nulo e ortogonal a ÐBß CÑ, concluímos que tem lugar o
campo de referenciais de X ÐWÑ constituído pela secção suave [ , definida
por [ÐBßCÑ œ ÐCß BÑ.
Não se deve pensar que este resultado seja generalizável para qualquer
dimensão. Por exemplo, pode-se provar, embora com instrumentos de que
não dispômos neste curso, que, sendo W w § ‘$ a superfície esférica de centro
Ð!ß !ß !Ñ e raio ",
W w œ ÖÐBß Cß DÑ − ‘$ ± B# C # D # œ "×,
X ÐW w Ñ não é um fibrado vectorial trivial, não existindo sequer uma secção
suave de X ÐW w Ñ que nunca se anule.63
III.1.11 Sejam E s§K s e E § K dois subconjuntos de espaços vectoriais reais de
dimensão finita e 0 À E s Ä E uma aplicação suave. Seja I œ ÐIB ÑB−E uma
família de subespaços vectoriais de I de base E, e consideremos a imagem
recíproca 0 ‡ I . Tem-se então:
a) Se I é um fibrado vectorial trivial, o mesmo acontece a 0 ‡ I ;
b) Se I é um fibrado vectorial, o mesmo acontece a 0 ‡ I .
Dem: Se I é um fibrado vectorial trivial, podemos considerar um campo de
referenciais [" ß á ß [8 de I e então é imediato que se obtém um campo de
referenciais 0 ‡ [" ß á ß 0 ‡ [8 para 0 ‡ I . Suponhamos agora que I é
simplesmente um fibrado vectorial. Dado C − E s arbitrário, vai existir um
aberto Y de E, com 0 ÐCÑ − Y , tal que I ÎY seja um fibrado vectorial trivial.
Pela continuidade de 0 , podemos considerar um aberto Z de E s, com C − Z ,
tal que 0 ÐZ Ñ § Y . Tem-se então que Ð0 IÑÎZ œ Ð0ÎZ Ñ I ÎY é um fibrado
‡ ‡
63Éeste facto que está na origem da impossibilidade, que se pode intuir experimental-
mente, de pentear uma bola cabeluda, sem permitir a formação de remoínhos.
§1. Fibrados vectoriais 197
07 ÐB" ß á ß B7 Ñ œ B7 "
7"
ØB7 ß 04 ÐB" ß á ß B4 ÑÙ
04 ÐB" ß á ß B4 Ñ.
4œ"
Ø04 ÐB" ß á ß B4 Ñß 04 ÐB" ß á ß B4 ÑÙ
Esta fórmula mostra, mais uma vez pela hipótese de indução, que
07 À Hw 7 ÐIÑ Ä I é suave e o facto de se ter ÐB" ß á ß B7 Ñ − H7 ÐIÑ se, e só
se, ÐB" ß á ß B7 Ñ − Hw 7 ÐIÑ e 07 ÐB" ß á ß B7 Ñ Á ! vai implicar que H7 ÐIÑ é
aberto em I 7 . Para cada ÐB" ß á ß B7 Ñ − H7 ÐIÑ, a mesma fórmula mostra
que 07 ÐB" ß á ß B7 Ñ, que, por construção, é ortogonal ao subespaço gerado
por B" ß á ß B7" , e portanto, em particular, ortogonal a cada 04 ÐB" ß á ß B4 Ñ
com 4 7, pertence ao subespaço vectorial gerado por B" ß á ß B7 , o que
implica que 0" ÐB" Ñß 0# ÐB" ß B# Ñß á ß 07 ÐB" ß á ß B7 Ñ é efectivamente uma base
ortogonal desse subespaço.
§1. Fibrados vectoriais 199
64Trata-sede um exercício simples de Álgebra Linear, que pode ser resolvido, por
exemplo, pelo exame das dimensões dos espaços em questão.
§1. Fibrados vectoriais 201
65Reparar que este resultado generaliza a conclusão do exercício II.38 e tem uma
demonstração mais simples que o argumento utilizado para a respectiva resolução.
202 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
66Lembrar que um vector tangente a KÐIÑs em 10ÐJ Ñ fica determinado pela sua restrição a
0ÐJ Ñ (cf. a caracterização matricial em II.5.13).
§1. Fibrados vectoriais 203
4œ"
206 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
ÈØ^B ß ^B Ù
^B ^B
^Bw œ œ
m^B m
é um vector de norma " deste espaço, constituindo uma base directa, ou seja,
^Bw œ [B . Deduzimos assim que a restrição de [ a Y é uma secção suave
de I ÎY , pelo que o facto de a noção de aplicação suave ser local implica que
[ é uma secção suave de I .
III.2.12 (Nota) O resultado precedente é um fenómeno exclusivo dos fibrados
vectoriais de dimensão ". Por exemplo, se W § ‘$ é a superfície esférica,
veremos em III.2.16 que o fibrado vectorial tangente X ÐWÑ é orientável e,
como já referimos, pode-se provar, embora com técnicas que não
examinaremos neste texto, que este fibrado vectorial não é trivial.
¨
III.2.13 (Exemplo: O fibrado vectorial de Mobius) Seja W § ‘# a circunferên-
cia de centro Ð!ß !Ñ e raio ":
W œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B# C # œ "×.
Sabemos que W é uma variedade sem bordo, com dimensão " e podemos
considerar a aplicação suave 0 À ‘ Ä W , definida por
0 Ð>Ñ œ ÐcosÐ>Ñß sinÐ>ÑÑ,
a qual se verifica imediatamente ser uma submersão sobrejectiva. Conside-
remos agora a família I œ ÐIÐBßCÑ ÑÐBßCÑ−W de subespaços vectoriais de ‘# ,
que a cada ÐBß CÑ − W , com ÐBß CÑ œ 0 Ð>Ñ, associa o subespaço vectorial
gerado pelo vector não nulo
> >
ÐcosÐ Ñß sinÐ ÑÑ − ‘#
# #
(cf. a figura 6).
208 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
Figura 6
O facto de IÐBßCÑ estar bem definido vem de que, se =ß > − ‘ verificam
0 Ð=Ñ œ 0 Ð>Ñ, então = > é múltiplo de #1, pelo que #= #> é múltiplo de 1, o
que implica que ÐcosÐ=Î#Ñß sinÐ=Î#ÑÑ e ÐcosÐ>Î#Ñß sinÐ>Î#ÑÑ são iguais ou
simétricos, em qualquer caso geram o mesmo subespaço vectorial de ‘# .
Vamos agora verificar que I é um fibrado vectorial de dimensão " não
orientável, e portanto não trivial.
Para vermos que I é um fibrado vectorial, basta, tendo em conta a carac-
terização destes dada na alínea b) de III.1.18 e a propriedade das submersões
sobrejectivas referida em II.4.31, verificar que 0 ‡ I é um fibrado vectorial.
Ora 0 ‡ I é mesmo um fibrado vectorial trivial, por admitir o campo de
referenciais constituído por uma única secção suave, aquela que a cada >
associa ÐcosÐ>Î#Ñß sinÐ>Î#ÑÑ.
Para vermos que I é não orientável, vamos supor que I admitia uma
orientação suave ! e chegar a um absurdo. Então 0 ‡ ! era uma orientação
suave de 0 ‡ I , pelo que, uma vez que ‘ é conexo, o campo de referenciais de
0 ‡ I , constituído pela secção suave, que a > associa ÐcosÐ>Î#Ñß sinÐ>Î#ÑÑ,
seria directo ou retrógrado. Mas isso é impossível, visto que 0 Ð!Ñ œ 0 Ð#1Ñ e
que os vectores ÐcosÐ>Î#Ñß sinÐ>Î#ÑÑ, para > œ ! e > œ #1, são simétricos,
constituindo assim bases com orientações opostas.
III.2.14 Sejam I e K espaços vectoriais reais de dimensão finita, E § K , e
Is œ ÐIs B ÑB−E e I˜ œ ÐI˜ B ÑB−E dois fibrados vectoriais, com I s B ,I˜ B § I ,
munidos de orientações Ð! sB ÑB−E e Ð!˜B ÑB−E . Suponhamos que, para cada
B − E, I s B I˜ B œ Ö!× e seja, para cada B − E, IB œ I s B Š I˜ B e !B a
orientação de IB associada à soma directa (cf. I.4.18). Tem-se então:
a) I œ ÐIB ÑB−E é também um fibrado vectorial.
b) Se duas das orientações Ð! sB ÑB−E , Ð!˜B ÑB−E e Ð!B ÑB−E forem suaves, a
terceira também é suave.
Dem: Seja B! − E arbitrário. Sejam Z w e Z ww abertos de E, contendo B! , tais
§2. Orientação de fibrados vectoriais reais 209
67Repare-se que não definimos a derivada covariante duma secção senão quando o espaço
vectorial ambiente das fibras está munido de um produto interno. Essa derivada
covariante dependerá, em geral, do produto interno fixado.
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 211
não pertence à fibra XÐ"ß!Ñ ÐWÑ. Uma vez que Ð"ß !Ñ é ortogonal a XÐ"ß!Ñ ÐWÑ,
tem-se, para a derivada covariante, f[Ð"ß!Ñ Ð!ß "Ñ œ Ð!ß !Ñ.
e a fórmula na alínea c) vai ser uma consequência de que, uma vez que, por
definição de projecção ortogonal, H[B! Ð?Ñ f[B! Ð?Ñ é ortogonal a IB! ,
podemos escrever
ØH[B! Ð?Ñ f[B! Ð?Ñß ^B! Ù œ !,
ou seja,
68Também podemos olhar para 0 como uma secção suave do fibrado vectorial constante
ŠE e, desse ponto de vista, a derivada covariante f0B! Ð?Ñ concide com a derivada usual
H0B! Ð?Ñ, pelo que a fórmula anterior pode ser reescrita, com um aspecto mais
homogéneo, fÐ0 [ ÑB! Ð?Ñ œ f0B! Ð?Ñ[B! 0B! f[B! Ð?Ñ.
212 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
e, analogamente,
Ø[B! ß f^B! Ð?ÑÙ œ Ø[B! ß H^B! Ð?ÑÙ.
ou seja, 1B! ÐH1B! Ð?ÑÐAÑÑ œ !, o que mostra que H1B! Ð?ÑÐAÑ pertence a
IB¼! . Do mesmo modo, no caso em que A − IB¼! , tem-se 1B! ÐAÑ œ !, pelo
que a igualdade em questão dá-nos
1B! ÐH1B! Ð?ÑÐAÑÑ œ H1B! Ð?ÑÐAÑ,
definida por
2B! Ð?ß AÑ œ H1B! Ð?ÑÐAÑ.
é IB! ;
c) No caso em que I é um espaço euclidiano ou hermitiano, para cada
B! − E, A! − IB! e ? − XB! ÐEÑ, o valor da segunda forma fundamental
2B! Ð?ß A! Ñ é o único vector de IB¼! tal que
Ð?ß 2B! Ð?ß A! ÑÑ − XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ.
Uma vez que, para cada ÐBß AÑ − I , 1B ÐAÑ œ A, concluímos, por derivação
de ambos os membros desta igualdade no ponto ÐB! ß A! Ñ − I , na direcção de
um vector arbitrário Ð?ß DÑ − XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ,
H1B! Ð?ÑÐA! Ñ 1B! ÐDÑ œ D ,
portanto
D 2B! Ð?ß A! Ñ œ 1B! ÐDÑ − IB! ,
ou seja, D − 2B! Ð?ß A! Ñ IB! . Por outro lado, podemos considerar uma
aplicação suave de E ‚ I em I , que a ÐBß AÑ associa ÐBß 1B ÐAÑÑ pelo que,
derivando esta aplicação em ÐB! ß A! Ñ − I na direcção de um vector
Ð?ß D w Ñ − XB! ÐEÑ ‚ I arbitrário, concluímos que
Ð?ß H1B! Ð?ÑÐA! Ñ 1B! ÐD w ÑÑ − XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ.
Ficou assim provado que, para cada ? − XB! ÐEÑ e A! − IB! , o conjunto dos
D − I tais que Ð?ß DÑ − XÐB! ßA! Ñ ÐIÑ é igual a 2B! Ð?ß A! Ñ IB! , sendo
portanto um subespaço afim de I , cujo subespaço vectorial associado é IB! ,
subespaço afim esse que contém 2B! Ð?ß A! Ñ. Já sabemos que
2B! Ð?ß A! Ñ − IB¼! e o facto de este ser o único elemento do referido espaço
afim que pertence a IB¼! é uma consequência de III.3.18.
III.3.20 (Corolário) Sejam E § K, I um espaço vectorial de dimensão finita e
I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com IB § I , e consideremos o respec-
218 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
Ð?ß H#s0 ! Ð?w ß @w ÑÑ œ ÐH0! Ð?w Ñß H#s0 ! Ð?w ß @w ÑÑ − XÐB! ß@ÑÐX ÐQ ÑÑ.
220 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
Analogamente se tem
72Repare-seque a fórmula com que definimos o parêntesis de Lie Ò\ß ] Ó pode ser obtida
como o caso particular da fórmula precedente, em que se toma para 0 a inclusão de Q
em K.
222 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
s Ÿ mC Bm œ mAm <+ .
mC Bm
O que se passa é que Bs não é só um minimizante para a restrição da função a
s + , é mesmo um minimizante da função em todo o Q , podendo mesmo
G
dizer-se que, se Bw − Q verificasse mC Bw m Ÿ mC Bm
s vinha mC Bw m <+
portanto
mBw +m Ÿ mBw Cm mC Bm mB +m $<+ ,
s Ÿ mC Bm œ mAm <+ ,
mC Bm
que é suave por ter restrições suaves 0Ð+Ñ aos abertos H+ de união H sÞ Além
disso, para cada ÐBß AÑ − Hs, B é o único ponto de Q a distância mínima de
s0 ÐBß AÑ e A œ s0 ÐBß AÑ B, o que mostra que a aplicação s0 é injectiva, e
portanto uma bijecção de H s sobre Ys , sendo mesmo um difeomorfismo de H s
sobre Ys uma vez que a inversa é suave, por ter restrições suaves, iguais a
"
0Ð+Ñ s.
aos abertos Y+ de união Y
3) Vamos provar a existência de uma aplicação suave :À Q Ä Ó!ß "Ò tal que
o aberto H œ ÖÐBß AÑ − X ÐQ Ѽ ± mAm :ÐBÑ× de X ÐQ Ѽ , contendo
Q ‚ Ö!×, esteja contido no aberto H s referido em 2). Será então trivial que se
verificam as condições a) e b) no enunciado.
Subdem: Para cada + − Q seja Z+ œ ÖB − Q ± mB +m <+ ×, que é um
aberto de Q , contendo +. Consideremos uma partição da unidade associada à
cobertura aberta de Q pelos conjuntos Z+ , portanto uma família localmente
cada B − Q , ! :+ ÐBÑ œ " (cf. II.3.11). Vamos ver que a aplicação suave
finita de aplicação suaves :+ À Q Ä Ò!ß "Ó com :+ nula fora de Z+ e, para
+−Q
:À Q Ä ‘ definida por
:ÐBÑ œ " :+ ÐBÑ <+
+−Q
+−Q +−Q
s.
e, tem-se B − Z+" e mAm :ÐBÑ Ÿ <+" , portanto ÐBß AÑ − H+" § H
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 225
Figura 7
Em ambos os casos as vizinhanças estão associadas a uma função
§3. Derivação covariante e segunda forma fundamental 227
5t B œ 2B Ð>tB ß t>B Ñ − XB ÐQ Ѽ .
5t B œ H>tB Ð>tB Ñ.
donde ØH>tB Ð>tB Ñß t>B Ù œ !, portanto H>tB Ð>tB Ñ − XB ÐQ Ѽ . Deduzimos agora que
tem lugar uma aplicação suave de Q no espaço total X ÐQ Ñ do fibrado
vectorial tangente, que a B associa ÐBß t>B Ñ. Derivando em B na direcção de t>B ,
228 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
obtemos
Ð>tB ß H>tB Ð>tB ÑÑ − XÐBß>tB Ñ ÐX ÐQ ÑÑ,
Dem: Tal como atrás, podemos considerar uma aplicação suave de Q para o
espaço total do fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ, que a cada B associa
ÐBß \B Ñ pelo que, por derivação, vemos que Ð\B ß H\B Ð\B ÑÑ −
XÐBß\B Ñ ÐX ÐQ Ñ. Tendo em conta III.3.22, concluímos que
74É claro que um caso particular deste resultado é aquele em que se toma para \B um
vector tangente unitário, caso em que caímos na situação estudada em III.4.3, com o
bónus de não termos que calcular a projecção ortogonal. A razão por que pode ser útil
este resultado está em que é frequentemente possível obter secções não unitárias de
X ÐQ Ñ com expressões mais simples que as correspondentes secções unitárias, que se
obtêm daquelas dividindo pelas respectivas normas.
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 229
5B œ m5t B m
do vector curvatura. Se a curvatura de Q num ponto B é não nula, chama-se
plano osculador de Q no ponto B ao subespaço vectorial de I gerado pelos
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 231
5t B 5t B
8tB œ œ .
m5t B m 5B
É claro que t>B ß 8tB é então uma base ortonormada do plano osculador.
III.4.9 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, com curvatura não
nula em cada B − Q , e notemos, para cada B − Q , JB o plano osculador a
Q no ponto B. Tem-se então:
a) É suave a aplicação 8t, de Q em I , que a cada B − Q associa a normal
principal 8tB ;
b) A família J œ ÐJB ÑB−Q é um fibrado vectorial, a que daremos o nome de
fibrado vectorial osculador de Q .
Dem: Uma vez que sabemos que é suave a aplicação que a cada B associa o
vector curvatura 5t B , a suavidade da aplicação 8t é uma consequência imediata
do facto de se ter 8tB œ 5t B Îm5t B m. Dado B! − Q arbitrário, podemos escolher
um aberto Y de Q , com B! − Y , tal que X ÐQ ÑÎY seja um fibrado vectorial
trivial, em particular orientável. Sabemos que tem então lugar uma aplicação
suave de Y em I , que a cada B − Y associa o vector unitário t>B de XB ÐQ Ñ,
que constitui um base directa deste espaço, bastando agora reparar que as
aplicações que a cada B − Y associam t>B e 5t B , respectivamente, vão
constituir um campo de referenciais para J ÎY .
III.4.10 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, com curvatura não
nula em cada ponto, e sejam J œ ÐJB ÑB−Q o respectivo fibrado osculador e,
s B À XB ÐQ Ñ ‚ JB Ä JB¼ , a segunda forma fundamental de
para cada B − Q , 2
J no ponto B. Dados B − Q e uma orientação de XB ÐQ Ñ, define-se o vector
torção de Q no ponto B (relativamente à orientação escolhida), como sendo
o vector
s B Ð>tB ß 8tB Ñ,
t7 B œ 2
onde t>B é a tangente unitária positiva e 8tB a normal principal. É claro que, se
trocarmos a orientação escolhida em XB ÐQ Ñ, o vector torção correspondente
vem multiplicado por ".75
75Em rigor, para definirmos o vector torção num ponto B! de Q não é necessário exigir
que a curvatura seja não nula em todos os pontos, bastando que ela seja não nula em B! .
Com efeito, deduz-se então, por continuidade, que ela é ainda não nula em todos os
pontos dum certo aberto Y de Q , contendo B! , e pode-se substituir nas considerações
precedentes a curva Q pela curva Y .
232 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
t, B œ t7 B œ t7 B
mt7 B m 7B
(mais uma vez, este vector vem multiplicado por ", se trocarmos a
orientação escolhida de XB ÐQ Ñ). Repare-se que, nas condições anteriores,
t>B ß 8tB ß t, B é um sistema ortonormado de vectores de I .
2s B! Ð>tB! ß t>B! Ñ œ !,
t7 B! œ 2 s B! Ð>tB! ß 8tB! Ñ œ 5B!t>B! H8tB! Ð>tB! Ñ.
portanto
ØH8tB Ð>tB Ñß 8tB Ù œ !.
Uma vez que, para cada B − Q , t>B − JB , portanto ÐBß t>B Ñ − J , obtemos, por
derivação em B na direcção de t>B ,
Mais uma vez pelo mesmo resultado, concluímos que t7 B œ 2 s B Ð>tB ß 8tB Ñ é a
projecção ortogonal de H8tB Ð>tB Ñ sobre JB¼ , pelo que, uma vez que t>B ß 8tB é
uma base ortonormada de JB ,
t7 B œ H8tB Ð>tB Ñ ØH8tB Ð>tB Ñß t>B Ù>tB ØH8tB Ð>tB Ñß 8tB Ù8tB œ
œ H8tB Ð>tB Ñ 5Bt>B .
"
t7 B! œ s¼ ÐH]B! Ð>tB! ÑÑ.
1
Ø]B! ß 8tB! Ù B!
Reparemos agora que, uma vez que ]B! − JB! e t>B! e 8tB! constituem uma
base ortonormada deste espaço, tem-se
]B! œ Ø]B! ß t>B! Ù t>B! Ø]B! ß 8tB! Ù 8tB!
Do mesmo modo que vimos atrás que a não nulidade do vector curvatura
estava ligada ao facto de uma curva não ser rectilínea, vamos agora ver
§4. Aplicação ao estudo elementar das curvas 235
pelo que, tendo em conta III.3.22, 20 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ vai ser a projecção
ortogonal de 0 ww Ð>Ñ sobre X0 Ð>Ñ ÐQ Ѽ . O resultado é agora uma consequência
de se ter 0 w Ð>Ñ œ m0 w Ð>Ñm>t0 Ð>Ñ , portanto
20 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 w Ð>ÑÑ œ m0 w Ð>Ñm# 20 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß t>0 Ð>Ñ Ñ œ m0 w Ð>Ñm# 5t0 Ð>Ñ ,
ØB B! ß 5t B! Ù !
:Ð>Ñ œ Ø0 Ð>Ñ B! ß 5t B! Ù.
donde, tendo mais uma vez em conta o facto de t>0 Ð>! Ñ ser ortogonal a 5t B! ,
o que mostra que : tem um mínimo relativo estrito em >! . Por outras
palavras, existe um aberto N w de N , com >! − N w , tal que, para cada
> − N w Ï Ö>! ×, :Ð>Ñ !, e basta agora tomar para Y o aberto 0 ÐN w Ñ de Q .
III.4.22 Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, com curvatura não
nula em cada ponto, admitindo uma parametrização 0 À N Ä Q , e conside-
s a segunda
remos sobre Q a orientação associada. Tem-se então, notando 2
forma fundamental do fibrado osculador J œ ÐJB ÑB−Q ,
s 0 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>ÑÑ œ m0 w Ð>Ñm$ 50 Ð>Ñ t7 0 Ð>Ñ .
2
pelo que, uma vez que 5t 0 Ð>Ñ œ 50 Ð>Ñ 8t0 Ð>Ñ e que, por III.4.10 e III.4.12,
s 0 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß t>0 Ð>Ñ Ñ œ !,
2
s 0 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß 8t0 Ð>Ñ Ñ œ t7 0 Ð>Ñ ,
2
obtemos
s 0 Ð>Ñ Ð0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>ÑÑ œ m0 w Ð>Ñm 2
2 s 0 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß 0 ww Ð>ÑÑ œ
œ m0 w Ð>Ñm$ 2 s 0 Ð>Ñ Ð>t0 Ð>Ñ ß 5t 0 Ð>Ñ Ñ œ m0 w Ð>Ñm$ 50 Ð>Ñ t7 0 Ð>Ñ ,
conclusão é agora uma consequência de t>0 Ð>Ñ ß 8t0 Ð>Ñ ser uma base ortonormada
de J0 Ð>Ñ .
III.4.23 (Corolário) Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma curva, com
curvatura não nula em cada ponto, admitindo uma parametrização
0 À N Ä Q , e consideremos sobre Q a orientação associada. Tem-se então:
a) Q tem torção nula no ponto 0 Ð>Ñ se, e só se, os vectores
0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>Ñß 0 www Ð>Ñ são linearmente dependentes.
b) Se a torção em 0 Ð>Ñ for não nula, então o subespaço vectorial de dimensão
$ de I , gerado pelos vectores t>0 Ð>Ñ ß 5t 0 Ð>Ñ ß t7 0 Ð>Ñ ,76 é também gerado pelos
vectores 0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>Ñß 0 www Ð>Ñ.
Dem: A torção é nula se, e só se, a projecção ortogonal de 0 www Ð>Ñ sobre J0¼Ð>Ñ
é nula, isto é, se, e só se, 0 www Ð>Ñ − J0 Ð>Ñ . No caso em que a torção é não nula,
já sabemos que t>0 Ð>Ñ e 5t 0 Ð>Ñ pertencem ao subespaço vectorial gerado por
0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>Ñ, e portanto também ao gerado por 0 w Ð>Ñß 0 ww Ð>Ñß 0 www Ð>Ñ e o
resultado precedente mostra-nos que t7 0 Ð>Ñ pertence a este mesmo subespaço
vectorial.
5t B œ 5B 8tB ,
ou, o que é equivalente,
5B œ m5t B m œ l5B l.
Como exemplos de escolha da normal positiva, que é usual fazer-se, temos:
a) A curvatura de Q no ponto B é não nula e toma-se para normal positiva a
normal principal 8tB , de Q em B. Nesse caso a curvatura sinalizada é
simplesmente a curvatura, sendo portanto estritamente positiva.
b) I é um espaço vectorial orientado de dimensão # e a variedade Q está
orientada. Nesse caso é usual tomar para normal positiva em B o único vector
8tB − I , que tem norma ", é ortogonal a t>B e faz com que t>B ß 8tB seja uma
base directa de I (reparar que o subespaço vectorial ortogonal a XB ÐQ Ñ tem
dimensão "). Neste caso a curvatura sinalizada será positiva quando Q
curvar no sentido directo e será negativa quando Q curvar no sentido
retrógrado.
III.4.25 (A torção sinalizada) Sejam I um espaço euclidiano e Q § I uma
curva orientada, com curvatura diferente de ! em cada ponto. Seja t7 B o
vector torção num certo ponto B − Q , e suponhamos que se fixou, de
alguma maneira, um vector t, B de norma ", tal que t7 B − ‘t, B (dizemos
então que t, B é a binormal positiva de Q no ponto B). Define-se então a
torção sinalizada de Q no ponto B (relativamente à escolha da binormal
positiva) como sendo o número real 7B definido por
t7 B œ 7B t, B ,
ou, o que é equivalente, por
7B œ Øt7 B ß t, B Ù.
É claro que se tem
7B œ mt7 B m œ l7B l.
Como exemplos de escolha da binormal positiva, que é costume fazer-se,
temos os seguintes:
a) A torção de Q no ponto B é não nula e toma-se para binormal positiva a
binormal principal. Nesse caso a torção sinalizada é simplesmente a torção, e
portanto é estritamente positiva.
b) I é um espaço vectorial orientado de dimensão $. Nesse caso é usual
tomar para binormal positiva no ponto B o único vector t, B − I , que tem
norma ", é ortogonal a t>B e a 8tB e faz com que t>B ß 8tB ß t, B seja uma base
directa.
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 241
Tal como acontecia com a curvatura e a torção, no caso das curvas, a não
nulidade da aplicação linear de Weingarten vai estar ligada ao facto de a
hipersuperfície não estar contida num hiperplano.
Dem: Uma vez que a aplicação linear H1B Ð?ÑÀ I Ä I é autoadjunta, para
cada ? − XB ÐQ Ñ, podemos escrever
Ø-B Ð?Ñß @Ù œ ØH1B Ð?ÑÐ8tB Ñß @Ù œ
œ Ø8tB ß H1B Ð?ÑÐ@ÑÙ œ Ø8tB ß 2B Ð?ß @ÑÙ,
2B Ð?ß @Ñ œ Ø2B Ð?ß @Ñß Ä
8 B ÙÄ
8 B œ Ø-B Ð?Ñß @ÙÄ8 B,
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 243
"
2B Ð?ß @Ñ œ ØH^B Ð?Ñß @Ù^B .
m^B m#
-B Ð>tB Ñ œ Ø-B Ð>tB Ñß t>B Ù>tB œ Ø8tB ß 2B Ð>tB ß t>B ÑÙ>tB œ Ø8tB ß 5t B Ù>tB œ
œ Ø8tB ß 5B 8tB Ù>tB œ 5B Ø8tB ß 8tB Ù>tB œ 5Bt>B ,
implica que 2Bw ! Ð?ß ?Ñ − T! . Uma vez que 2Bw ! Ð?ß ?Ñ é ortogonal a XB! ÐQ w Ñ,
em particular ortogonal a ?, concluímos que 2Bw ! Ð?ß ?Ñ − ‘8tB , por outras
palavras, 2Bw ! Ð?ß ?Ñ − XB! ÐQ Ѽ . Por outro lado o facto de se ter Q w § Q
implica que X ÐQ w Ñ § X ÐQ Ñ, pelo que se tem também Ð?ß 2Bw ! Ð?ß ?ÑÑ −
XÐB! ß?Ñ ÐX ÐQ ÑÑ e portanto a caracterização da segunda forma fundamental de
Q dada na alínea c) de III.3.19 garante que se tem 2B! Ð?ß ?Ñ œ 2Bw ! Ð?ß ?Ñ.
78Em rigor estamos a fazer um pequeno abuso de linguagem: Apenos definimos vector
curvatura de uma curva e apenas podemos garantir que Q w é uma variedade de dimensão
" em B! , e portanto também num certo aberto Q s w de Q w , contendo B! . É ao vector
w
curvatura da curva Qs em B! que nos estamos a referir.
79Esta conclusão também podia ter sido obtida a partir do teorema de transversalidade
II.4.38.
§5. Hipersuperfícies. Aplicação linear de Weingarten 247
80Repare-se que ! é um vector próprio mas que, por definição, cada valor próprio admite
um vector próprio não nulo.
248 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
Vamos terminar esta secção com o estudo da noção de ponto focal que,
como veremos, está intimamente ligada, no caso das hipersuperfícies, às
curvaturas principais.
" 5t B
B 8tB œ B # .
5B 5B
de ? e @, vemos também que H1B Ð?ÑÐ2B Ð@ß AÑÑ − IB , o que mostra que
VB Ð?ß @ß AÑ − IB . É evidente que VB , como aplicação
XB ÐEÑ ‚ XB ÐEÑ ‚ IB Ä IB ,
é uma aplicação trilinear.
III.6.2 Nas condições anteriores, o tensor de curvatura de I no ponto B é
antissimétrico nas duas primeiras variáveis, isto é, verifica a igualdade
VB Ð?ß @ß AÑ œ VB Ð@ß ?ß AÑ.
Em particular, tomando ? œ @,
VB Ð?ß ?ß AÑ œ !.
e portanto, no caso em que XB ÐEÑ tem dimensão ", o tensor de curvatura VB
é identicamente nulo.
Dem: A antissimetria de VB nas duas primeiras variáveis é uma
consequência imediata da definição, sendo também trivial que essa
antissimetria implica a fórmula VB Ð?ß ?ß AÑ œ !. Por fim, supondo que
XB ÐEÑ tem dimensão ", podemos considerar uma base ?! de XB ÐEÑ e então,
dados ?ß @ − XB ÐEÑ e A − IB , tem-se ? œ +?! e @ œ ,?! , portanto
VB Ð?ß @ß AÑ œ +,VB Ð?! ß ?! ß AÑ œ !.
Dem: O facto de H1B Ð@ÑÀ I Ä I ser uma aplicação linear autoadjunta per-
mite-nos escrever
ØH1B Ð@ÑÐ2B Ð?ß AÑÑß DÙ œ Ø2B Ð?ß AÑß H 1BÐ@ÑÐDÑÙ œ
œ Ø2B Ð?ß AÑß 2B Ð@ß DÑÙ
ØVB Ð?ß @ß AÑß DÙ œ Ø2B Ð?ß AÑß 2B Ð@ß DÑÙ Ø2BÐ@ß AÑß 2BÐ?ß DÑÙ œ
"
œ # ÐØAß ?ÙØDß @Ù ØAß @ÙØDß ?ÙÑ œ
<
œ # ÐØAß ?Ù@ ØAß @Ù?Ñ ß D ¡,
"
<
o que, tendo em conta o facto de o primeiro factor deste último produto
interno estar em XB ÐW< Ñ, implica que
"
VB Ð?ß @ß AÑ œ ÐØAß ?Ù@ ØAß @Ù?Ñ.
<#
Constatamos, em particular, que, no caso em que 8 $, VB não é nulo, mais
precisamente, para cada A Á ! em XB ÐW< Ñ, existem ?ß @ tais que
VB Ð?ß @ß AÑ Á !, por exemplo ? œ A e @ não nulo e ortogonal a ? (o espaço
vectorial tangente tem dimensão 8 " #).
III.6.8 Sejam E § K, E s§K s e 0À Es Ä E uma aplicação suave. Sejam I um
espaço euclidiano ou hermitiano e I œ ÐIB ÑB−E um fibrado vectorial, com
IB § I , e notemos V e V s os tensores de curvatura de I e do fibrado
vectorial imagem recíproca 0 ‡ I , respectivamente. Tem-se então, para cada
C−E s, ?ß @ − XC ÐEÑ
s e A − Ð0 ‡ IÑC œ I0 ÐCÑ ,
donde
Ðf\ f] [ ÑB œ 1B ÐHÐf] [ ÑB Ð\B ÑÑ œ
œ 1B ÐH1B Ð\B ÑÐH[B Ð]B ÑÑÑ
œ 1B ÐH# [s B Ð\B ß ]B ÑÑ 1B ÐH[
s B ÐH]B Ð\B ÑÑÑ.
Do mesmo modo,
Ðf] f\ [ ÑB œ 1B ÐH1B Ð]B ÑÐH[B Ð\B ÑÑÑ
œ 1B ÐH# [s B Ð]B ß \B ÑÑ 1B ÐH[
s B ÐH\B Ð]B ÑÑÑ.
82A razão por que exigimos aqui que a base seja uma variedade está em que só nesse
quadro definimos o parêntesis de Lie de dois campos vectoriais suaves.
§6. Tensor de curvatura 257
Sabemos que, numa variedade conexa, as funções que têm derivada nula
em todos os pontos são exactamente as funções constantes. Em geral,
quando a variedade domínio pode não ser conexa, as suas componentes
conexas são abertas, logo variedades pelo que as funções que têm
derivada nula são aquelas que são constantes sobre cada componente
conexa, ou, o que é equivalente, as que são localmente constantes. Se em
vez de funções tivermos secções dum fibrado vectorial, com as fibras
contidas num espaço euclidiano, não haverá muitas esperanças de ter
secções interessantes que sejam constantes, ou localmente constantes,
uma vez que as fibras variam de ponto para ponto. É natural tentar
portanto apresentar uma noção de secção que seja, tanto quanto possível,
localmente constante. São essas as secções paralelas que definimos em
seguida.
Poderíamos ser levados a pensar, por analogia com o que se passa com as
secções de derivada nula dos fibrados vectoriais constantes, que, fixado A
numa certa fibra IB dum fibrado vectorial I , existisse sempre uma
secção paralela de I que, no ponto B, tomasse o valor A, e que, no caso
em que a base Q fosse uma variedade conexa, tal secção seria única. A
afirmação de unicidade é verdadeira, embora só possa ser estabelecida
depois de se estudarem as equações diferenciais ordinárias sobre as
variedades. Já quanto à existência, e salvo certos casos particulares que
estudaremos mais tarde, ela não pode ser garantida. O tensor de curvatura
é como vamos ver, uma obstrução à existência de secções paralelas.
III.7.5 Sejam Q § I e Q s §I
s duas variedades e 0 À Q Ä Q s uma aplicação
suave. Sejam \ e ] dois campos vectoriais suaves sobre Q e \ se] s dois
campos vectoriais suaves sobre Q s tais que \ e \
s sejam 0 -relacionados e
que ] e ] s sejam 0 -relacionados. Tem-se então que os parêntesis de Lie
s ]
Ò\ß ] Ó e Ò\ß s Ó são também 0 -relacionados.
Dem: Sejam Y um aberto de I , com Q § Y , e 0 À Y Ä I um prolonga-
mento suave de 0 . Para cada B − Q , tem-se
s 0 ÐBÑ œ H0B Ð]B Ñ œ H0 B Ð]B Ñ,
]
ou seja,
s 0 ÐBÑ Ð\
H] s 0 ÐBÑ Ñ œ H# 0 B Ð\B ß ]B Ñ H0 B ÐH]B Ð\B ÑÑ.
compÐ0 ‰ !Ñ œ compÐ!Ñ
(a condição necessária é imediata e a condição suficiente não é difícil, no
caso das variedades sem bordo, se tivermos em conta I.2.30 e o facto de a
derivada do integral indefinido ser a função integranda; o caso geral pode
obter-se a partir daquele por um argumento de passagem ao limite no
bordo).
264 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano
Øf\s 0 ÐBÑ Ð^
s 0 ÐBÑ Ñß ]
s 0 ÐBÑ Ù Ø\
s 0 ÐBÑ ß f]
s 0 ÐBÑ Ð^
s 0 ÐBÑ ÑÙ œ
œ Øf\B Ð^B Ñß ]B Ù Ø\B ß f]B Ð^B ÑÙ.
Tendo em conta III.3.24, podemos escrever
f]B Ð^B Ñ œ f^B Ð]B Ñ Ò] ß ^ÓB
e, do mesmo modo,
s 0 ÐBÑ Ð^
f] s 0 ÐBÑ Ñ œ f^
s 0 ÐBÑ Ð]
s 0 ÐBÑ Ñ Ò]
s ß ^Ó
s 0 ÐBÑ
Øf\s 0 ÐBÑ Ð^
s 0 ÐBÑ Ñß ]
s 0 ÐBÑ Ù Ø\
s 0 ÐBÑ ß f^
s 0 ÐBÑ Ð]
s 0 ÐBÑ ÑÙ œ
œ Øf\B Ð^B Ñß ]B Ù Ø\B ß f^B Ð]B ÑÙ.
Por permutação circular dos papéis de \ , ] e ^ , obtemos sucessivamente
Øf]s 0 ÐBÑ Ð\
s 0 ÐBÑ Ñß ^
s 0 ÐBÑ Ù Ø]
s 0 ÐBÑ ß f\
s 0 ÐBÑ Ð^
s 0 ÐBÑ ÑÙ œ
œ Øf]B Ð\B Ñß ^B Ù Ø]B ß f\B Ð^B ÑÙ,
Øf^s 0 ÐBÑ Ð]
s 0 ÐBÑ Ñß \
s 0 ÐBÑ Ù Ø^
s 0 ÐBÑ ß f]
s 0 ÐBÑ Ð\
s 0 ÐBÑ ÑÙ œ
œ Øf^B Ð]B Ñß \B Ù Ø^B ß f]B Ð\B ÑÙ.
Multipliquemos ambos os membros da antepenúltima desigualdade por " e
84Repare-se que este resultado não é a priori evidente, visto que a derivada covariante é
definida através da derivada usual e das projecções ortogonais do espaço ambiente sobre
os espaços tangentes, noções relativamente às quais não faz sentido falar de invariância
por difeomorfismo ou por isometria.
§7. Invariância por isometria. Teorema Egrégio 265
somemos membro a membro a igualdade assim obtida com cada uma das
duas últimas igualdades. Obtemos então
s 0 ÐBÑ Ð\
#Øf] s 0 ÐBÑ Ñß ^
s 0 ÐBÑ Ù œ #Øf]B Ð\B Ñß ^B Ù.
Tendo em conta, mais uma vez, o facto de H0B ser uma isometria linear, a
igualdade anterior implica que
s 0 ÐBÑ Ð\
Øf] s 0 ÐBÑ Ñß ^
s 0 ÐBÑ Ù œ ØH0B Ðf]B Ð\B ÑÑß ^
s 0 ÐBÑ Ù.
III.7.9 Sejam Q § I e Q s §I
s duas variedades e 0 À Q Ä Q
s um difeomor-
fismo isométrico. Sejam
VB À XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ ‚ XB ÐQ Ñ Ä XB ÐQ Ñ
e
s 0 ÐBÑ À X0 ÐBÑ ÐQ
V s Ñ ‚ X0 ÐBÑ ÐQ
s Ñ ‚ X0 ÐBÑ ÐQ
s Ñ Ä X0 ÐBÑ ÐQ
sÑ
é suave se existir uma aplicação suave - œ Ð-B ÑB−E À E Ä PÐIà I w Ñ tal que,
para cada B − E, a aplicação linear -B À IB Ä IBw seja uma restrição de
-B À I Ä I w (também se diz então que - é um prolongamento suave de -).
III.8.2 Sejam K e Kw espaços vectoriais de dimensão finita, Q § K e Q w § Kw
duas variedades e 0 À Q Ä Q w uma aplicação suave. Tem então lugar um
morfismo linear suave H0 œ ÐH0B ÑB−Q do fibrado vectorial tangente X ÐQ Ñ
para o fibrado vectorial imagem recíproca 0 ‡ X ÐQ w Ñ.
Dem: Repare-se que a razão por que se considera o fibrado vectorial imagem
recíproca 0 ‡ X ÐQ w Ñ é o facto de cada H0B ser uma aplicação linear de XB ÐQ Ñ
para X0 ÐBÑ ÐQ w Ñ. Tendo em conta II.3.10, podemos considerar um aberto Y de
K, com Q § Y , e uma aplicação suave 0 À Y Ä K w , prolongando 0 , e
obtemos então um prolongamento suave de H0 , associando, a cada B − Q , a
aplicação linear H0 B À K Ä K w .
III.8.3 Nas condições anteriores, tem lugar um morfismo linear suave M.I œ
ÐM.IB ÑB−E e, dado um terceiro fibrado vectorial I ww œ ÐIBww ÑB−E , com
IBww § I ww e morfismos lineares
- œ Ð-B ÑB−E À I Ä I w , . œ Ð.B ÑB−E À I w Ä I ww ,
tem lugar um morfismo linear composto
. ‰ - œ Ð.B ‰ -B ÑB−E À I Ä I ww ,
268 Cap. III. Fibrados Vectoriais e o Ambiente Euclidiano