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PROC. Nº TST-RR-307.946/96.

A C Ó R D Ã O
(5ª TURMA)
GMSCS/FLA/dsl

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE -
ELETRICISTA. A Lei 7.369/85 é
lacônica, apenas tendo estabelecido o
adicional de 30% para o empregado que
exerça atividade em setor de energia
elétrica, tendo deixado a cargo do
decreto regulamentar a explicitação da
matéria. O artigo segundo do Decreto
93.412/86 dispõe: "exclusivamente
suscetível de gerar direito a
percepção da remuneração adicional de
que trata o artigo primeiro da Lei
7.369/85, o exercicío das atividades
constantes do quadro anexo, desde que
o empregado, independentemente do
cargo, categoria ou ramo da empresa."
Nos mencionados dispositivos legais,
inexiste distinção entre
eletricitários que trabalhem em
sistema elétrico de potência e os que
cuidam de instalação de consumo.
Ademais, do CAPUT do art. 2º do
Decreto 93.412/86, supratranscrito,
constata-se que também as empresas
consumidoras de energia podem ser
enquadradas no gênero das que
desenvolvem as atividades em condições
de perigo. (RR-0284719/96, 3ª
TURMA/TST.)

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Recurso de Revista nº TST-RR–307.946/96.0, em que é Recorrente ABEL
ANTÔNIO ROMÃO e Recorrida MANNESMANN S/A.
O v. acórdão regional de fls. 209/211 negou
provimento ao recurso do Reclamante, asseverando que não se enquadrava
na categoria dos eletricitários, portanto, sem possibilidade de fazer
jus ao adicional de periculosidade previsto na Lei 7.369/85, com a
devida regulamentação do Decreto-Lei 93.412/86. Suscita, conforme a
decisão, que o Recorrente não pertence a empresa geradora de
eletricidade, concluindo que ele pertence à categoria dos
eletricistas.
Irresignado, recorre de Revista o Reclamante, às
fls. 213/218, com fulcro no permissivo consolidado. Transcreve
jurisprudência para confronto e indica contrariada a jurisprudência do
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egrégio Regional, que aborda favoravelmente o caso em tela,


vislumbrando o direito ao percebimento do adicional de periculosidade.
Revista admitida à fl. 234.
Contra-razões às fls. 237/242.
Tendo em vista a Resolução Administrativa nº 322/96,
deixo de remeter os autos à douta Procuradoria-Geral do Trabalho.
É o relatório.

V O T O

Preenchidos os pressupostos legais: tempestividade e


representação em consonância com a lei.

1. CONHECIMENTO

1.1. PERCEPÇÃO DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE


O egrégio TRT não deu provimento ao recurso do
Reclamante, vislumbrando que ele não faz jus ao adicional de
periculosidade, por se tratar de funcionário de empresa de consumo não
abrangida pela Lei 7.369/85.
Sustenta, em síntese, o Recorrente que, pelo fato de
não pertencer a empresa cuja função diz respeito à distribuição de
energia, merece perceber o devido adicional, e não somente aqueles que
pertençam a esta categoria. Assevera que os demais Tribunais do País
têm adotado jurisprudência no sentido de beneficiar o empregado que
lida com energia elétrica, quando sua vida seja exposta a risco.
Aos autos foram colacionadas fartas jurisprudências
que tratam da mesma matéria em discussão, possuindo o caráter
específico exigido por esta Corte, ensejando, assim, divergência em
relação ao acórdão hostilizado. Nesse sentido temos a decisão do
egrégio 9º TRT colacionada aos autos pela parte Recorrente, in verbis:

"ADICIONAL DE PERICULOSIDADE- SETOR DE ENERGIA


ELÉTRICA- A melhor exegese que se pode oferecer à expressão 'setor de
energia elétrica' utilizada pela Lei 7369/85 é que diz respeito às atividades de
energia elétrica desenvolvidas por qualquer empresa do ramo e não que
constitui direito apenas dos empregados de empresas de energia elétrica. Setor
é empregado no sentido de órgão, seção, parte da empresa e não no sentido de
ramo de atividade empresarial, logo o adicional de periculosidade pode ser
pleiteado por qualquer empregado que labore diretamente com energia
elétrica.'(TRT 9ª R -RO 4905/88-AC.2ªT. 0296/90-Rel. Juiz Ernesto Trevisan-
D.J.Pr 17.01.90)." (fls. 215/216) (sic)
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Portanto, os arestos trazidos a cotejo servem ao fim


colimado, gerando divergência jurisprudencial. Os pressupostos
intrínsecos restam atendidos.

CONHEÇO do recurso por divergência jurisprudencial.

2. MÉRITO

2.1. PERCEPÇÃO DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE


Conforme a análise dos autos, tratando-se do direito
ao percebimento do adicional, entendo que a parte ora Recorrente deve
fazer jus ao percebimento do aludido adicional, haja vista que a Lei
7.369/85, complementada pelo Decreto-Lei nº93.412/86, não obsta, nem é
taxativa quanto à definição de quais trabalhadores devem fazer jus ao
adicional de periculosidade.
Os referidos dispositivos não fazem qualquer alusão
quanto à diferença entre eletricitários que laborem em sistema
elétrico de potência e os que participam da manutenção de instalação
de consumo. Não há que se falar em exclusão do empregado pelo fato de
ele ser funcionário de empresa consumidora de energia.
Cabe, assim, analisar a potencialidade do risco de
vida quanto àqueles que lidem com o manuseio de energia elétrica, não
importando se sua função está relacionada com a distribuição de
energia, ou apenas em relação à manutenção da instalação de consumo.
A lei, ao conceder este direito ao tralhador, visou
a assegurar-lhe compensação pelo esforço despendido, com risco de
vida, no manuseio de energia elétrica. Nada mais justo de que seja
assegurado a esse tipo de trabalhador o direito ao adicional de
periculosidade.
Dessa forma, ante todo o exposto e com base na Lei
7.369/85, complementada pelo Decreto 93.412/85, DOU PROVIMENTO à
Revista para assegurar ao Reclamante o direito ao percebimento do
adicional de periculosidade.

ISTO POSTO:

A C O R D A M os Ministros da Quinta Turma do


Tribunal Superior do Trabalho, à unanimidade, conhecer do recurso por
divergência jurisprudencial e, no mérito, dar-lhe provimento para
assegurar ao Reclamante o direito ao adicional de periculosidade.
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Brasília, 07 de abril de 1999.


RIDER DE BRITO
(Presidente)

CANDEIA DE SOUZA
(Ministro Suplente Relator)

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