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What?
Quando ouvi falar do projeto do deputado Carrion de restringir o uso de palavras estrangeiras no Rio
Grande do Sul, até achei bacana, embora inócuo. Sempre achei um saco aquelas pessoas que, na tentativa
furada de conseguir algum tipo de distinção, dizem que precisam de um feedback no lugar de um retorno, ou
que querem printar alguma coisa ao invés de imprimir. Para alguns parece que empregar o vocabulário do
inglês, por exemplo, dá àqueles que o usam a mesma sofisticação de alguém que mora em Nova Iorque tem
(ou não). Daí eu vi que o deputado queria que trocassem mouse por rato e já deixei de simpatizar com a
ideia.
Aliás, a forma como algumas pessoas se expressam mostram muito uma certa "carência" que sentem.
O caso clássico disso é o ambiente de trabalho. Quanto maior o uso de termos técnicos desnecessários,
maior é a necessidade de pedir um esclarecimento. Para se sentirem úteis, importantes, alguns começam a
falar em código para que possam traduzir para os leigos o seu conhecimento.
2. Assinale o item em que todas as palavras são acentuadas pela mesma regra de: código, já e inócuo.
a) óculos, guaraná, Cláudio
b) lâmina, Cuiabá, aquário
c) biólogo, está, necessária
d) comprássemos, chá, língua
e) impaciência, sofá, dúvida
4. Pela Reforma Ortográfica, a palavra ideia, empregada no texto, não possui mais acento por ser uma
paroxítona com ditongo aberto. A que outra palavra se aplica essa regra?
a) doi
b) ceu
c) assembleia
d) heroi
e) girassois
RESPOSTAS:
1. C
2. D
3. B
4. C
5. A
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TEXTO 5:
O velho e o sítio
Encontrar aberta a cancela do sítio me perturba... Penso nos portões dos
condomínios, e por um instante aquela cancela escancarada é mais impenetrável. Sinto
que, ao cruzar a cancela, não estarei entrando em algum lugar, mas saindo de todos os
outros. Dali avisto todo o vale e seus limites, mas ainda assim é como se o vale cercasse o
mundo e eu agora entrasse num lado de fora. Após a besta hesitação, percebo que é esse
mesmo o meu desejo. Piso o chão do sítio e caio fora. Piso o chão do sítio, e para me
garantir decido fechar a cancela atrás de mim. Só que ela está agarrada ao chão,
incrustada e integrada ao barro seco. Quando deixei o sítio pela última vez, há cinco anos,
devo ter largado a cancela aberta e nunca mais ninguém a veio fechar.
(...) o velho sentado no tamborete faz um grande esforço para erguer a cabeça, e é
o tempo que necessitava para reconhecer nosso antigo caseiro. Deixou crescer os cabelos
que, à parte as raízes brancas, parecem ter mergulhado num balde de asfalto. A pele do
seu rosto resultou mais pálida e murcha do que já era, e ele me fita com um ar
interrogativo que não consigo interpretar; talvez se pergunte quem sou eu. Penso em lhe
dar um tapa nas costas e dizer “há quantos anos, meu tio”, mas a intimidade soaria falsa.
Meu pai entraria soltando uma gargalhada na cara do velho, passaria a mão naquele
cabelo gorduroso, talvez chutasse o tamborete e dissesse “levanta daí, sacana!”. Meu pai
tinha talento para gritar com os empregados; xingava, botava na rua, chamava de volta,
despedia de novo, e no seu enterro estavam todos lá. Eu, se disser “há quantos anos, meu
tio”, pode ser que o ofenda, porque é outro idioma.
Sem aviso, o velho dá um pulo de sapo e vai para o centro da cozinha, apontando
para mim. Usa o calção amarrado com barbante abaixo da cintura, e suas pernas
cinzentas ainda são musculosas, as canelas finas; é como se ele fosse de uma raça mista,
que não envelhecesse por igual. Aproxima-se com molejo de jogador, mas com o tórax
cavado e os braços caídos, papeira, a boca de lábios grossos aberta com três dentes, os
olhos azuis já encharcados. E abraça-me, beija-me, recua um passo, fica me olhando
como um cego olha, não nos olhos, mas em torno do meu rosto, como que procurando
minha aura. “Deus lhe abençoe, Deus lhe abençoe”, diz. Depois pergunta “que é de
Osbênio?, Que é de Clair?” e entendo que ele esperava outra pessoa, algum parente,
quem sabe.
Um cacho de bananas verdes no chão da cozinha lembra-me que passei o dia a chá
e bolacha. Na geladeira, que é um móvel atarracado de abrir por cima, encontro um jarro
d’água, uma panela com arroz e uma tigela de goiaba em calda. Instalo-me com a tigela à
mesa, onde antigamente os empregados comiam. O velho adivinha que pretendo passar
uns tempos no sítio, e emociona-se novamente. Cai sentado na cadeira ao lado, e seus
olhos voltam a se encharcar, desta vez com lágrimas azedas. Conta o velho que a mulher
morreu há dois anos, que ele mesmo está muito doente, que os filhos sumiram no mundo.
Tapa uma narina para assuar a outra, e conta que com ele só restaram as crianças. Que
os outros, os de fora, foram chegando e dominando tudo, o celeiro, a casa de caseiro, a
casa dos hóspedes, e contrataram gente estranha, e derrubaram a estrebaria e comeram
os cavalos. E que os outros, os de fora, só estão esperando ele morrer para tomar posse
da casa, por isso que ele dorme ali na despensa, e os netos espalhados na sala e pelos
quartos. Conta que os patrões nunca aparecem, mas, quando aparecerem, vão ter um
bom dum aborrecimento.
(BUARQUE, Chico. Estorvo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p 24-27)
Defenestração
Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma
coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A
Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra. Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita
de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.
– Os hermeneutas estão chegando!
– Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada…
Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus
enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão.
Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria
ter um sentido oculto. (...)
Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
– Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.
Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da
ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca lembrava de procurar no dicionário e imaginava
coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom
lúbrico.
Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:
– Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas… Ah, algumas defenestravam.
Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a
casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais. Ou quem sabe seria uma daquelas
misteriosas palavras que encerravam os documentos formais? “Nestes termos, pede
defenestração…” Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usado uma ou outra vez,
como em:
– Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era
a palavra exata. Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa
mentir. “Defenestração” vem do francês “defenestration”. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém
ou algo pela janela.
Ato de atirar alguém ou algo pela janela! Acabou a minha ignorância, mas não a minha
fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito
forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela
porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?
Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como o rapé. Um vício como o tabagismo
ou as drogas, suprimido a tempo. (...)
Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante
foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes
externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia
humana, nunca totalmente dominada. Na lua-de-mel, numa suíte matrimonial no 17º andar.
– Querida…
– Mmmm?
– Há uma coisa que preciso lhe dizer…
– Fala, amor!
– Sou um defenestrador.
E a noiva, em sua inocência, caminha para a cama:
– Estou pronta para experimentar tudo com você!
Em outra ocasião, uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos,
ele aponta para cima e balbucia:
– Fui defenestrado…
Alguém comenta:
– Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela?
Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e
defenestrar esta crônica. Se ela sair é porque resisti.
4. No trecho Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os
documentos formais, o narrador utiliza misteriosas referindo-se:
a) ao fato de que as palavras sempre podem ser utilizadas de várias maneiras.
b) ao fato de que a linguagem formal (jurídica, no caso) utiliza palavras cujo significado é
desconhecido pela maioria das pessoas.
c) ao fato de que as pessoas em geral não se preocupam em ler os documentos formais.
d) ao fato de haver baixo nível de formação escolar neste país.
e) ao fato de as palavras sempre possuírem significados ocultos.
6. A princípio foi o fascínio da ignorância. Nesta frase, as palavras receberam acento por serem:
a) proparoxítonas.
b) paroxítonas terminadas em o.
c) paroxítonas terminadas em ditongo crescente.
d) proparoxítonas terminadas em ditongo crescente.
e) paroxítonas terminadas em a.
7. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. A palavra destacada é acentuada pelo mesmo
motivo de:
a) nó b) táxi c) até d) dói e) contribuí
8. Assinale o item em que todas as palavras são acentuadas pela mesma regra de: exótico, até e
dicionário.
a) óculos, café, água b) lâmina, ré, aquário c) biólogo, pé, necessária
d) comprássemos, fé, língua e) impaciência, você, dúvida
RESPOSTAS:
1. D
2. E
3. A
4. B
5. A
6. C
7. E
8. A
9. B
10. A
Os três pássaros do rei Herodes
(lenda)
Pela triste estrada de Belém, a Virgem Maria, tendo o Menino Jesus ao colo, fugia do rei
Herodes.
Aflita e triste ia em meio do caminho quando encontrou um pombo, que lhe perguntou:
– Para onde vais, Maria?
– Fugimos da maldade do rei Herodes, – respondeu ela.
Mas como naquele momento se ouvisse o tropel dos soldados que a perseguiam, o pombo
voou assustado.
Continuou Maria a desassossegada viagem e, pouco adiante, encontrou uma codorniz que
lhe fez a mesma pergunta que o pombo e, tal qual este, inteirada do perigo, tratou de fugir.
Finalmente, encontrou-se com uma cotovia, que, assim que soube do perigo que assustava a
Virgem, escondeu-a e ao menino, atrás de cerrado grupo de árvores que ali existia.
Os soldados de Herodes encontraram o pombo e dele souberam o caminho seguido pelos
fugitivos.
Mais para a frente a codorniz não hesitou em seguir o exemplo do pombo.
Ao fim de algum tempo de marcha, surgiram à frente da cotovia.
– Viste passar por aqui uma moça com uma criança no regaço?
– Vi, sim – respondeu o pequenino pássaro – Foram por ali.
E indicou aos soldados um caminho que se via ao longe. E assim afastou da Virgem e de
Jesus os seus malvados perseguidores.
Deus castigou o pombo e a codorniz.
O primeiro, que tinha uma linda voz, passou a emitir, desde então, um eterno queixume.
A segunda passou a voar tão baixo, tão baixo, que se tornou presa fácil de qualquer caçador
inexperiente.
E a cotovia recebeu o prêmio de ser a esplêndida anunciadora do sol a cada dia que
desponta.
2. Com relação à expressão “Pela triste estrada de Belém”, podemos afirmar que:
a) a paisagem era deserta, sem árvores.
b) o autor estava triste quando escreveu o texto.
c) Maria estava angustiada e triste e, com isso, todo o ambiente parecia triste.
d) essa é uma pista que o narrador nos dá de que o desfecho será ruim.
e) o caminho era muito longo e assim deixava a impressão de tristeza.
3. Assinala o único item que NÃO se aplica nem ao pombo nem à codorniz:
a) covardia b) medo c) egoísmo d) coragem e) delação
8. A codorniz “passou a voar tão baixo, tão baixo, que se tornou presa fácil de qualquer caçador
inexperiente.” A expressão grifada dá a ideia de:
a) condição
b) consequência
c) causa
d) tempo
e) finalidade
O autor desse poema, quem o sabe? Foi encontrado em pleno campo de batalha, no bolso de
um soldado americano desconhecido; do rapaz estraçalhado por uma granada, restava apenas
intacta esta folha de papel.
Escuta, Deus:
jamais falei contigo.
Hoje quero saudar-te. Bom dia! Como vais?
Sabes? Disseram-me que tu não existes,
e eu, tolo, acreditei que era verdade.
Nunca havia reparado a tua obra.
Ontem à noite, da trincheira rasgada por granadas,
vi teu céu estrelado
e compreendi então que me enganaram.
Não sei se apertarás a minha mão.
Vou te explicar e hás de compreender.
É engraçado: neste inferno hediondo
achei a luz para enxergar o teu rosto.
Dito isto, já não tenho muita coisa a te contar:
só que... que... tenho muito prazer em conhecer-te.
Faremos um ataque à meia-noite.
Não sinto medo.
Deus, sei que tu velas...
Há! É o clarim! Bom Deus, devo ir embora.
Gostei de ti... vou ter saudade... Quero dizer:
será cruenta a luta, bem o sabes,
e esta noite pode ser que eu vá bater-te à porta!
Muito amigos não fomos, é verdade.
Mas... sim, estou chorando!
Vês, Deus, penso que já não sou tão mau.
Bem, Deus, tenho de ir.
Sorte é coisa bem rara.
Juro, porém: já não receio a morte.
(Rose Marie Muraro e Frei Raimundo Cintra, As mais belas orações de todos os tempos)
5. O pressentimento da morte aparece numa das expressões do soldado. Que expressão mostra
essa possibilidade?
a) “Muito amigos não fomos, é verdade”
b) “...e esta noite pode ser que eu vá bater-te à porta”
c) “Bem, Deus, tenho de ir”
d) “...será cruenta a luta”
6. “Não sinto medo”. Essa frase pode ser resumida em apenas uma palavra:
a) coragem b) otimismo c) ilusão d) temor
8. O encontro com Deus despertou no jovem soldado uma visão de seu mundo interior. Dessa
visão, ele concluiu que:
a) “Sorte é coisa bem rara”
b) “... tenho muito prazer em conhecer-te”
c) “Muito amigos não fomos, é verdade”
d) “... já não sou tão mau”
12. Em qual dos itens abaixo a acentuação gráfica NÃO está devidamente justificada?
a) será: vocábulo oxítono terminado em A
b) porém: vocábulo oxítono terminado em EM
c) há: vocábulo oxítono terminado em A
d) céu: vocábulo com ditongo aberto
13. Assinala a palavra com ditongo aberto que NÃO recebe mais acento:
a) trofeu b) colmeia c) papeis d) ceu
14. Marca a alternativa que preenche as lacunas da frase: Os ______ de ______ exercem as
atividades ______.
a) microempresários, Ijuí, tranquilamente b) micro-empresários, Ijuí, tranquilamente
c) micro-empresários, Ijui, tranqüilamente d) microempresários, Ijuí, tranqüilamente
15. Por serem proparoxítonos, deveriam estar acentuados todos os vocábulos da opção:
a) rubrica, versiculo, hospede b) arcaico, camera, avaro
c) leucocito, alcoolatra, folclorico d) periodo, tematico, erudito
RESPOSTAS:
1. A
2. C
3. B
4. D
5. B
6. A
7. C
8. D
9. C
10. D
11. A
12. C
13. B
14. A
15. C
16. C