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O INGRESSO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR PÚBLICA NO BRASIL – O ENEM E

SISU COMO FERRAMENTAS DE SELEÇÃO

GT 03: Educação, gestão e políticas públicas

Resumo: O presente trabalho situa-se no campo de estudos da educação superior e tem por
finalidade apresentar como se constituiu o sistema de seleção unificado (SiSU) apresentado
como uma nova forma de ingresso ao ensino superior público, bem como a nova proposta de
utilização do exame nacional do ensino médio (ENEM). Trata-se de uma pesquisa qualitativa,
onde a coleta de dados foi realizada a partir do levantamento de fontes documentais (leis,
planos, decretos, etc.) e estudos de cunho bibliográficos. Realizamos a disposição do texto da
seguinte maneira: inicialmente apresentamos uma breve contextualização dos “processos
seletivos” para ingresso à educação superior pública, com vistas a sua apropriação e
localização numa perspectiva histórica mais abrangente; posteriormente, delineamos como se
constituiu a nova forma de ingresso o sistema de seleção unificada (SiSU) e o processo
seletivo novo ENEM. Os processos seletivos passaram ao longo da história da educação
superior pública por modificações até chegarmos ao presente momento, com uma nova
configuração o “novo ENEM e o SiSU”, que é defendido pelo ministério da educação como
uma forma de ingresso às universidades mais democrático, possibilitando maior inclusão
social e mobilidade acadêmica, além de reestruturação curricular do ensino médio. As
universidades puderam aderir ao novo modelo de quatro maneiras: como fase única, com
sistema de seleção unificada, informatizado; como primeira fase; combinado com o vestibular
da instituição; e como fase única para as vagas remanescentes do vestibular. Porém, há muitas
dúvidas e desconfianças, se esse novo modelo realmente romperá com os modelos que já
existiram ao longo do percurso histórico do país. Ainda não está claro que efeito a mudança
para um sistema de seleção unificado terá sobre as questões de ingresso ao ensino superior
público. Mas podemos ponderar que as mudanças ocorridas nos processos seletivos ao longo
da história brasileira não perderam a sua essência.
Palavras-chave: Processos Seletivos. Novo ENEM. SISU.

Introdução

O objetivo do artigo é apresentar como se constituiu o Sistema de Seleção Unificado


(SiSU) apresentado como uma nova forma de ingresso ao Ensino Superior Público, bem como
a utilização do novo Exame Nacional do Ensino Médio. Trata-se de uma pesquisa qualitativa,
onde a coleta de dados foi realizada a partir do levantamento de fontes documentais (leis,
planos, decretos, etc.) e estudos bibliográficos.
Ao abordar os processos seletivos para o ingresso na educação superior, é sempre
relevante apresentar o quadro de expansão pelo qual sempre passou esse nível de ensino,
assim, pressupõe atentar ao espaço considerável ocupado pelo setor privado: segundo dados
do Censo da Educação Superior de 2009 (INEP/MEC), no Brasil perfazendo um total de
2.314 Instituições, 10,6% eram públicas, ao passo que 89,4% eram privadas. Como se pode
notar era substancial a presença do setor privado na educação superior. No que se refere ao
número de ingressos nas Instituições de Ensino Superior, do ano de 2009, concernente com os
dados apresentados pelo MEC/INEP, é possível constatar: que no setor público encontravam-
se 23,4% ingressantes e nas privadas 76,6% ingressantes.
De acordo com Oliveira (et al. 2005, p. 326) “os defensores da privatização justificam
este processo afirmando que o mercado pode desempenhar tais atividades com maior eficácia
[...]”, ressaltando ainda que o “[...] setor público se caracterizava como ineficiente e ineficaz,
ao contrário do setor privado, que é o único a possuir racionalidade e estilo de ação capaz de
levar ao crescimento econômico”.
Esse processo resultou, no campo da educação superior, em profundos processos de
“privatização em nome dos benefícios supostamente advindos do livre mercado”.
(MANCEBO, 2008, p. 57). As orientações do Banco Mundial para o ensino básico e superior
representam bem esse novo momento e refletem a disposição da nova ordem econômica
mundial, assentada no avanço das tecnologias e na globalização. Os autores Libâneo;
Oliveira; Toschi (2006) mostram também como as universidades públicas ficam fragilizadas,
neste modelo social:

O discurso neoliberal de mercado questiona até mesmo a relevância social


delas, ao mesmo tempo que vincula sua autonomia à questão do
autofinanciamento e da privatização, como única forma de sair da crise e
alcançar competitividade, racionalidade, qualidade e eficiência. Restaria às
universidades, como estratégia de sobrevivência, a opção de se atrelarem ao
novo processo produtivo, com o objetivo de gerarem conhecimentos
científico-tecnológicos necessários à competitividade das empresas no
mercado global e formarem indivíduos mais adaptados às condições de vida
profissional presentes neste tempo. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI,
2006, p. 104).

É diante dessa realidade concreta, exposta brevemente, que se apresenta no momento


atual uma nova proposta de ingresso a educação superior pública, entendendo que pesquisar
os processos seletivos e formas de ingresso, é compreender que esses emergem dos conflitos
característicos de cada tempo e estão diretamente relacionados aos contextos sociais,
políticos, econômicos e culturais que marcam cada período histórico da educação superior no
Brasil.
Inicialmente se faz uma breve contextualização dos “processos seletivos” para
ingresso à educação superior pública, com vistas a sua apropriação e localização numa
perspectiva histórica mais abrangente. Posteriormente apresenta-se a nova forma de ingresso
o SiSU e o processo seletivo Novo ENEM.

Caracterização dos processos seletivos para ingresso à educação superior pública

De acordo com Cunha (2000), para ingressar nas escolas superiores, desde 1808, era
necessário que os candidatos se sujeitassem aos exames de estudos preparatórios, porém,
está regra não se direcionava aos alunos do Colégio Pedro II, que, a partir de 1837, passaram
a ter direito ao ingresso a qualquer curso do ensino superior do Império.
Neste momento histórico começam-se pressões e lutas das elites regionais para que
ocorressem facilidades para o ingresso à educação superior, levando, os exames preparatórios
a serem obtidos “perante juntas especiais, no Rio de Janeiro, depois nas capitais das
províncias, o prazo de validade da aprovação passou de instantânea para permanente; os
exames foram parcelados”. (CUNHA, 2000, p. 155).
Na primeira República (1889-1930), segundo Cunha (2000), o federalismo tornou-se o
escape principal do novo regime, as províncias transformaram-se em estados regionais por
constituições, além de ser um momento marcado pela luta de liberais e positivadas pelo
“ensino livre” e dos positivistas contra os privilégios dos diplomas escolares. Nas primeiras
décadas da República, intensificou-se a procura pelo ensino superior, o que gerou uma
facilitação do ingresso. Foram criadas Reformas que reforçavam este direito.
A Reforma Benjamim Constant (Decreto Nº. 981 DE 08.11.1890): na qual ocorreu a
criação do exame de madureza que se realizaria na última série do secundário, dando ao
candidato aprovado a condição de matricular-se em qualquer escola superior do País. Logo
em seguida surge a Reforma Rivadávia Corrêa (DECRETO 8.659 DE 05.04.1911): oficializa-
se a implementação do exame de admissão como forma de seleção para o ingresso à
educação superior, originando-se assim os processos de seleção para ingresso a universidade
“com a criação do “exame de madureza” organizou-se e padronizou-se os currículos de todas
as escolas secundárias, que deveriam seguir o modelo do Colégio Pedro II, alargando e
facilitando o acesso à Educação Superior”. (SOUZA, 2007, p.81)
Posteriormente surgiu a Reforma Carlos Maximiano (DECRETO 11.530 DE
18.03.1915): neste momento os exames de admissão passam a ser chamados de exames
vestibulares e o critério de ingresso exigido é o certificado do ensino secundário.
Sucessivamente apresenta-se a Reforma Rocha Vaz (DECRETO 17782.A DE 13.03.1925):
tinha a finalidade de conter o fluxo de passagem do ensino secundário para o ensino superior,
ao limitar vagas e introduzir o critério classificatório.
Em relação aos exames vestibulares, por meio da Reforma Francisco Campos
(DECRETO 1851 DE 11.04.1931) o Estatuto das Universidades Brasileiras manteve a
admissão inicial nos cursos via aprovação “nos exames vestibulares, que passam a ser
realizados pela natureza dos cursos almejados e fica restrito à algumas disciplinas
consideradas pré-requisitos mais importantes”. (SOUZA, 2007, p. 82).
Em 1942, período do Estado Novo, com a Reforma Gustavo Capanema criaram-se os
exames de licença exames aplicados aos estudantes que concluíssem o curso clássico ou o
curso científico, dando-lhes o direito, se aprovados, de ingressar em qualquer curso de ensino
superior. Esses exames foram extintos mais tarde pelo Decreto nº 9.303 de 27 de maio de
1946, que concedia um certificado de conclusão no final da 4º série do ginásio ou na 3º série
colegial.
A partir de 1945, inicia-se a fase da República Populista, período do qual foi aprovado
em 1946 uma nova Constituição de princípios liberais e democráticos. Neste mesmo ano,
apresenta-se o projeto de lei que se configuraria na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional:

que não alterou a forma de seleção instituída pelo Estatuto das Universidades
Brasileiras de 1931, mas para facilitar o ingresso das camadas médias à
educação superior, instituiu a equivalência entre os diversos ramos dos
cursos de Ensino Médio, possibilitando o ingresso na Educação Superior a
todos os egressos de qualquer curso de Ensino Médio e trazendo tendências
favoráveis ao sistema privado de ensino. (SOUZA, 2007, p. 83).

No período de 1968 a 1971 o governo militar implanta reformas em todos os níveis de


ensino, iniciando pelo ensino superior. Neste momento conforme Souza (2007) com a
finalidade de diminuir conflitos gerados pela luta por aumento de vagas na educação superior
ocorre à promulgação da Lei da Reforma Universitária nº 5.540/68 de 28.11.1968 e a adoção
do vestibular unificado e classificatório.
Nesse momento, no art. 207 da Constituição, fica estabelecido que as universidades
passariam a gozar de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e
patrimonial e obedeceriam ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão.
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394
de 1996) geraram-se profundas mudanças nos processos de seleção das IES brasileiras. A
partir desta Lei o ingresso à educação superior não é mais realizado pela forma exclusiva do
concurso vestibular. Assim, como no período imperial, mais de uma maneira de ingresso
existe para selecionar os candidatos.
A LDB não apresenta em todo o seu texto sequer uma única vez o termo vestibular,
que, no entanto, não foi extinto uma vez que historicamente o número da oferta de vagas é
inferior à demanda e a própria LDB traz como condição para o ingresso na educação superior
a exigência de classificação em processo seletivo. Neste sentido o artigo 44, inciso II
prescreve que os cursos de graduação são “abertos a candidatos que tenham concluído o
ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo”. O artigo 51,
por sua vez, estabelece que

as instituições de ensino superior credenciadas como universidades, ao


deliberar sobre critérios e normas de seleção e admissão de estudantes,
levarão em conta os efeitos desses critérios sobre a orientação do ensino
médio, articulando-se com os órgãos normativos de ensino.

A preocupação com formas alternativas de processos seletivos para o ingresso à


educação superior é anterior à Lei nº 9.394/1996 – LDB. Com autorização especial do MEC,
a Fundação Cesgranrio implantou, em 1992, o Sistema de Avaliação Progressiva para o
Ingresso no Ensino Superior – Sapiens. Esse sistema, que funcionou até 1995, consistia de
duas avaliações anuais ao final de cada semestre letivo. Cada curso aceitava até 30% de seus
ingressantes por esse sistema. A Universidade Federal de Santa Maria, em 1995, também
implantou o seu Programa de Ingresso ao Ensino Superior − Peies, que previa uma prova ao
final de cada série do Ensino Médio. Outras formas de seleção semelhantes foram
introduzidas após a nova LDB, como o Programa de Avaliação Seriada (PAS) 1, da UNB, em
1996.

Em 1998, a Portaria Ministerial nº 438 de 28 de maio instituiu o Exame Nacional do


Ensino Médio – ENEM, que tinha como principal objetivo avaliar o desempenho do aluno ao
término da escolaridade básica, para aferir o desenvolvimento das competências fundamentais
ao exercício pleno da cidadania. A Portaria estabelece outros objetivos:

1
Conhecido como Processo Seletivo Seriado (PSS) ou Processo Seletivo de Avaliação Seriada (PAS), é um
método de seleção que difere do vestibular tradicional principalmente por ser realizado enquanto o estudante está
cursando o ensino médio. Funciona da seguinte maneira: o aluno faz sua inscrição em uma instituição que realiza
a Avaliação Seriada quando ainda estiver no 1º ano do Ensino Médio. Ao final de cada ano (1º, 2º e 3º) ele faz
uma prova e só escolhe a carreira no final do 3º ano. As provas são semelhantes às do vestibular tradicional
(Redação mais teste de múltipla escolha – algumas incluem questões discursivas), com uma diferença básica de
conteúdo: ela exige o que foi aprendido naquele ano e não nos três. Apenas em algumas instituições o conteúdo é
cumulativo (ao final do 2º ano, conteúdos de 1º e 2º anos, e ao final do 3º o conteúdo dos três anos, como no
vestibular).
I – conferir ao cidadão parâmetro para auto-avaliação, com vistas à
continuidade de sua formação e à sua inserção no mercado de trabalho;
II – criar referência nacional para os egressos de qualquer das modalidades
do ensino médio;
III – fornecer subsídios às diferentes modalidades de acesso à educação
superior;
IV – constituir-se em modalidade de acesso a cursos profissionalizantes pós-
médio.

O Novo ENEM e o SiSU

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado pela Portaria Ministerial nº
438 de 28 de 1998, instituído de início com a finalidade de avaliar, anualmente, o
desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica e, com isso, auxiliar na elaboração de
políticas educacionais, podendo ser utilizado também como ingresso no ensino superior de
forma isolada ou concomitante com outro processo seletivo. A partir de 2005, no governo
Lula, o ENEM passou a ser utilizado como forma de ingresso no Programa Universidade Para
Todos (PROUNI), conforme o disposto no art. 3º da lei nº 11.096.
A partir de 2009, o governo do então presidente Luis Inácio Lula da Silva, reformulou
a proposta da prova anunciando o Novo ENEM como o novo processo seletivo das
universidades públicas do Brasil. Junto com que essa medida, surge o Sistema de Seleção
Unificada (SiSU) que é o sistema informatizado utilizado para selecionar os candidatos.
O MEC apresentou a Proposta à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior (ANDIFES) com as seguintes justificativas:

Parte-se aqui, portanto, do reconhecimento da necessidade, importância e


legitimidade do vestibular. O que se quer discutir são os potenciais ganhos
de um processo unificado de seleção, e a possibilidade concreta de que essa
nova prova única acene para a reestruturação de currículos no ensino médio.
Ainda que o vestibular tradicional cumpra satisfatoriamente o papel de
selecionar os melhores candidatos para cada um dos cursos, dentre os
inscritos, ele traz implícitos inconvenientes. Um deles é a descentralização
dos processos seletivos, que, por um lado, limita o pleito e favorece
candidatos com maior poder aquisitivo, capazes de diversificar suas opções
na disputa por uma das vagas oferecidas. Por outro lado, restringe a
capacidade de recrutamento pelas IFES, desfavorecendo aquelas localizadas
em centros menores.

Afirmando ainda que a,

A alternativa à descentralização dos processos seria, então, a unificação da


seleção às vagas das IFES por meio de uma única prova. A racionalização da
disputa por essas vagas, de forma a democratizar a participação nos
processos de seleção para vagas em diferentes regiões do país, é uma
responsabilidade social tanto do Ministério da Educação quanto das
instituições de ensino superior, em especial as IFES. Da mesma forma, a
influência dos vestibulares tradicionais nos conteúdos ministrados no ensino
médio também deve ser objeto de reflexão.

A proposta constou também no “Termo de Referência. Novo Enem e Sistema de


Seleção Unificada” (MEC, 08/04/2009), que explicita detalhadamente as possibilidades de
desenvolvimento do formato de ingresso:

Em relação ao Sistema de Seleção Unificada, o documento informa que a


seleção dos candidatos para o ano de 2010 se realizaria com base nas notas
obtidas pelos estudantes na edição do Novo Enem de 2009. Igualmente,
assinala que as instituições interessadas em efetuar a adesão ao SiSU
assinariam digitalmente um termo de participação e informariam ao sistema
os cursos, habilitações e turnos de cada campus ou unidade educacional,
confirmando o número de vagas em oferta, podendo, ainda nessa etapa,
indicar pesos diferentes para cada uma das cinco provas (Linguagem,
Matemática, Ciências da Natureza, Ciências da Sociedade e Redação), a
serem ponderados para cada curso. O documento trata, também, sobre
eventual adoção de política afirmativa. (CONRADO; LUZ; SILVA, 2011,
p.122).

Diante das propostas, a Portaria Normativa nº 2, de Janeiro de 2010, institui e


regulamenta o Sistema de Seleção Unificada:

Art. 1º Fica instituído o Sistema de Seleção Unificada - SiSU, sistema


informatizado gerenciado pelo Ministério da Educação - MEC, por meio do
qual são selecionados candidatos a vagas em cursos de graduação
disponibilizadas pelas instituições públicas de educação superior
participantes. § 1º A seleção dos candidatos às vagas disponibilizadas por
meio do SiSU será efetuada com base nos resultados obtidos pelos
estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, a partir da edição
referente ao ano de 2009.

A proposta tem como principais objetivos democratizar as oportunidades de acesso às


vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a
reestruturação dos currículos das universidades públicas federais. As universidades puderam
aderir ao novo modelo de quatro maneiras: como fase única, com sistema de seleção
unificada, informatizado; como primeira fase; combinado com o vestibular da instituição; e
como fase única para as vagas remanescentes do vestibular.
Conforme Da Silva Sá:

Haddad disse o que segue: "...O vestibular é fortemente conteudista, mas na


maneira de perguntar distorce a realidade do ensino médio. Nós queremos
ter um exame nacional que dê conta do conteúdo, mas de forma inteligente,
que julgue a capacidade analítica dos estudantes e promova uma mudança na
atuação em sala de aula do professor". (2009, não paginado)
A nova prova do Enem proposta pelo MEC seria composta por quatro testes um de
cada área do conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias (1), ciências humanas e
suas tecnologias (2), ciências da natureza e suas tecnologias (3) e matemática e suas
tecnologias (4). Cada teste teria 50 questões, num total de 200, que seriam divididas em dois
dias de provas.
Umas das defesas do MEC é que essa modificação tornaria o ingresso às universidades
mais democrático, possibilitando maior inclusão social e mobilidade acadêmica, além de
reestruturação curricular do ensino médio, e

para conseguir a adesão dos administradores das IFES a tal processo seletivo
externo, o ministro Fernando Haddad prometeu repassar recursos para as
mesmas, a fim de ressarci-las da perda de recursos que arrecadam com a
realização desses concursos, que por conta da falta de verbas, acabou
virando uma fonte de renda (não carimbada) das referidas instituições.
(SIQUEIRA, 2009, não paginado)

Verifica-se essa informação em uma das atas de reunião da Andifes:

há proposta de um acréscimo escalonado para as Ifes em função do grau de


adesão ao novo Enem: 100% para as que tiverem o Enem como forma única
de ingresso; 75% para aquelas que destinarem 20% das vagas; 50% para
aquelas que tiverem percentual superior a 10 e inferior a 50% do número de
vagas, 50% para aquelas que utilizarem o Enem como forma parcial de
seleção e 25% para todos, independentemente do Enem. (REUNIÃO...,
2009, p. 2)

Conforme o G1 (site de informações jornalísticas),

Segundo Haddad, o MEC terá que dobrar esse volume de recursos para
atender à futura demanda provocada pela possível substituição do atual
modelo de vestibular por uma avaliação nacional nos moldes do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem). [...] “Eu vou anunciar aqui que vamos
ampliar o programa de assistência estudantil, sobretudo com foco nas
instituições que aderirem [à nova proposta de avaliação]. (RIBEIRO, 2009,
não paginado)

Diante dessa informação, constata-se que ocorre uma contrapartida financeira, embora
não esteja explícita nas legislações e portarias, para as universidades que aderiram à seleção
unificada proposta pelo Governo.
Podemos ressaltar conclusivamente que de acordo com a intenção do MEC o SiSU foi
criado com a finalidade de possibilitar

a concorrência das vagas em qualquer IES que tenha aderido ao Sistema de


Seleção Unificado, evitando o que acontecia no vestibular tradicional, onde
era preciso que o estudante se submetesse a um processo de seleção diferente
para cada universidade onde quisesse pleitear uma vaga, se locomovesse
para todas as cidades onde pretendesse prestar o vestibular e pagasse uma
taxa de inscrição para cada processo de seleção que fosse participar. Com
esse novo formato, o SiSU traria, segundo o discurso oficial, como possíveis
benefícios, a reestruturação curricular do ensino médio, a democratização do
acesso às universidades públicas e a mobilidade acadêmica. (CONRADO,
2010, p. 24)

Considerações finais

Um número cada vez mais crescente de pessoas deseja cursar o ensino superior
público, gerando a necessidade de ampliar e diversificar as possibilidades de ingresso a
conhecimentos e a informações considerados de alto nível. Porém, a discussão sobre
processos seletivos democratizantes é sempre polêmica, já que nesse debate se configuram
concepções discrepantes sobre direito à educação, à igualdade de oportunidades, a função
social da universidade, os exames meritocráticos de seleção, o privilégio, o elitismo, a
seletividades social e recentemente se discute a questão da inclusão social.
Os processos seletivos foram se modificando ao longo da história educacional
brasileira, até chegarmos ao presente momento, com uma nova configuração o “Novo Enem e
o SiSU”, que aparece como um processo democratizante, segundo a defesa do Ministério da
Educação. Porém, há muitas dúvidas e desconfianças, se esse novo modelo realmente romperá
com os modelos que já existiram ao longo do percurso histórico do país.
De acordo com o professor Roberto Leher:

Este é um sistema que beneficia o mercado privado de educação: os


estudantes que não lograram serem classificados nas públicas não terão outra
alternativa que a de buscar uma instituição privada. E o MEC, reconhecendo
a dita eficiência privada no fornecimento da mercadoria educação,
prontamente se disponibiliza a repassar recursos públicos para incentivar as
privadas a atender ao crescimento da demanda. (LEHER, 2009, não
paginado).

Ainda não está claro que efeito a mudança que um sistema de seleção unificado terá
sobre as questões de ingresso ao ensino superior público. Dessa forma, recomenda-se que as
análises que se procedam sobre os processos seletivos levem em consideração que a referida
temática, apesar da centralidade que possui no âmbito do ingresso à educação superior
pública, representa um dos elementos do processo. Em outras palavras, precisa-se levar em
conta os diversos aspectos que condicionam a realidade concreta. Assim, apresentá-los
significa dar a conhecer uma parte de um todo abrangente e complexo, exigindo-se um exame
mais minucioso de certas particularidades, o que pode ser alcançado pela produção de novas
pesquisas.

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