Você está na página 1de 14

História da Análise do Comportamento Aplicada

(trecho de artigo homônimo escrito por: Pedro Sampaio e Junio Rezende)

Dentro da Análise do Comportamento, a chamada Análise Aplicada do


Comportamento é aquela responsável por utilizar os conhecimentos analítico-
comportamentais para compreender, prever e, principalmente, agir sobre
comportamentos fora do contexto experimental. Assim, como grande parte
dos conceitos e princípios aceitos pela comunidade analítico-comportamental
provém de pesquisas experimentais, há um constante esforço para aplicar
conhecimentos obtidos em laboratório para questões de relevância social.
Como coloca Carvalho-Neto:

Como uma ciência baconiana, não contemplativa, a Análise do


Comportamento tem compromissos de melhoria da vida humana e
o seu braço aplicado pode funcionar como um eficiente aferidor das
conseqüências práticas prometidas. Além disso, a produção de
tecnologia também tem caráter epistemológico, pois, em tese, uma
teoria que fosse capaz de descrever o funcionamento de um evento
com mais acuidade e qualidade teria melhores condições de
produzir alterações mais precisas sobre esses mesmos eventos
(Carvalho-Neto, 2002, p.5)

De certa forma, a Análise Aplicada do Comportamento é tão antiga


quanto a Análise do Comportamento. Desde suas primeiras publicações
Skinner utilizou resultados obtidos em laboratório para a compreensão de
comportamentos fora dele e resolução de problemas de relevância social,
além de encorajar estes empreendimentos e fornecer orientações gerais de
como poderiam ser feitos. Morris e col. (2005) apontam que desde antes da
publicação de seu primeiro livro, The Behavior of Organism (1938), Skinner já
começava a delinear os princípios norteadores de sua ciência, que também
seriam os princípios norteadores da Análise Aplicada do Comportamento. Por
exemplo, em On the Inheritance of Maze Behavior (Skinner, 1930) Skinner
critica a relação que era estabelecida entre a genética dos ratos e seus
comportamentos, não apenas esboçando alguns princípios epistemológicos e
metodológicos que norteariam sua ciência, como fazendo uma pesquisa
“aplicada” para a época, dada as implicações culturais deste debate, entre
elas a eugenia. Skinner também apontou falhas metodológicas e conclusões
precipitadas em estudos sobre clarividência e telepatia (Skinner, 1937) e, em
1936, dois anos após começar a trabalhar em seu O Comportamento Verbal
(1957), publica um estudo sobre “fala latente” que foi adotado e adaptado
para a clínica psicológica e utilizado como técnica projetiva, uma versão
auditiva do Rorschach, mas que foi eventualmente abandonada (Morris e
col., 2005)

Contribuições mais explícitas de Skinner para o que veio a ser


chamado Análise Aplicada do Comportamento vieram mais tarde. Em seu
romance, Walden Two (Skinner, 1948), é descrita uma comunidade utópica
que aplica princípios de uma então emergente ciência do comportamento
para o planejamento e tomada de decisões políticas, econômicas,
educacionais e cotidianas. É Skinner claramente fazendo uma aplicação
fictícia dos princípios analítico-comportamentais para o aprimoramento da
condição humana. Não é em vão que este livro serviu de inspiração para uma
comunidade real que procura aplicar os princípios analítico-comportamentais
para sua própria manutenção, a comunidade conhecida como Los Horcones,
no México.

Após escrever Walden Two – mas antes de publicá-lo -, Skinner


escreve um artigo intitulado Experimental Psychology (Skinner, 1947) onde
critica a psicologia aplicada por não ser experimental (predição sem controle).
Segundo Morris e col.:

In Skinner's view, applied psychology should be experimental


psychology, a psychology that enhances our understanding of
behavior through discoveries and demonstrations of how it is
controlled and how it can be controlled in everyday life. In this, he
was proposing that applied psychology be behavioral, analytic, and
technological- the three dimensions needed for it to become a
science. (Morris e col., 2005, p.110)

Na década de 1950 e 1960 Skinner esteve envolvido com diversas


pesquisas e artigos que poderiam ser considerados “aplicados”, de modo que
em 1959 já acumulava mais de 30 publicações nas quais estendeu ou aplicou
sua ciência (Morris e col., 2005, p.117). Dois destes trabalhos merecem
destaque: a colaboração com Lindsley em estudos sobre pacientes
psiquiátricos (Lindsley & Skinner, 1954), onde “even though the project's
intent was to extend Skinner's science, it was viewed as an advance in the
inevitable progress from basic to applied research” (Morris e col., 2005,
p.117); e o grande volume de publicações a respeito da educação, como The
Science of Learning and the Art of Teaching (Skinner, 1954) e The
Technology of Teaching (Skinner, 1968), onde claramente procura aplicar ou
descrever como sua ciência poderia ser aplicada para aprimorar diversos
aspectos da educação.
Além de Skinner, outros analistas do comportamento estavam, na
mesma época, produzindo pesquisas que poderiam ser consideradas
aplicadas. Além dos já mencionados trabalhos de Lindsley, Bijou realizou
trabalhos em que explicitamente procurava estender pesquisas de laboratório
para questões de relevância social. Por exemplo, em 1958 publicou um artigo
em que relata como condicionou o comportamento de crianças em esquemas
de reforçamento de intervalo fixo e depois realizou um processo de extinção
destes comportamentos, concluído que, embora as crianças apresentem uma
variabilidade comportamental maior do que o observado em animais não-
humanos durante o período de extinção, o princípio básico que controla o
comportamento das crianças é o mesmo (Bijou, 1958). Pouco depois,
demonstrou que esquemas de reforçamento têm grande eficácia na
modelagem de comportamentos de crianças com desenvolvimento atípico,
concluindo que
Salient features of the behavior of developmentally retarded
children as a function of simple and multiple schedules of
reinforcement are illustrated. Effects of schedules are similar to
those found with infrahuman Ss as well as with nonretarded
children (Orlando & Bijou, 1960, p.378)

Outro notável trabalho foi o de Ferster, que realizou diversos trabalhos


com crianças autistas, dentre eles um onde utiliza um sistema de reforço por
sinal [token reinforcement system] para estabelecer repertórios operantes
que eram incompatíveis com excessos comportamentais (DeMeyer & Ferster,
1962). Alguns outros trabalhos podem também ser mencionados, como o de
Staats sobre o estabelecimento da leitura e sua manutenção através da
sinalização de reforço [token reinforcement](Staats, Staats, Schultz & Wolf,
1962) e toda sua proposta de extensão dos princípios comportamentais para
resolução de problemas de aprendizagem (Staats, 1965); o trabalho de
Goldiamond (1962) sobre disfemia; Sidman sobre a afasia (Laties, 1987);
dentre outros.
Embora houvesse analistas do comportamento estendendo
conhecimentos obtidos em laboratório com animais não-humanos para seres
humanos e questões de relevância social, estes analistas do comportamento
tinham dificuldade em publicar suas pesquisas. Analistas do comportamento
de modo geral (ou seja, não apenas aqueles que procuravam realizar
pesquisas aplicadas) já haviam passado por algo parecido. Até 1958,
analistas do comportamento careciam de um espaço para publicar os
resultados de suas pesquisas experimentais, já que os periódicos de então
tendiam a ser pouco receptivos com publicações analítico-comportamentais
(Laties, 1987). Neste contexto foi fundado a SEAB (Society for the
Experimental Analysis of Behavior), em 1957, que criou então o primeiro
periódico de análise do comportamento, o JEAB (Journal of the Experimental
Analysis of Behavior), em 1958.
Algo similar aconteceu uma década depois entre analistas do
comportamento que realizavam pesquisas aplicadas. Afinal , o JEAB visava
publicar relatos de pesquisas experimentais e pouquíssimos artigos
referentes à pesquisa aplicada eram aprovados para publicação. Isso leva
Sidman a sugerir para Ferster, em 1959, uma seção do JEAB destinada às
pesquisas aplicadas – o que não aconteceu (Laties, 1987). Ao que tudo
indica, o primeiro movimento efetivo em direção à criação de um periódico
destinado a pesquisas aplicadas em análise do comportamento partiu de
Skinner, em uma reunião da diretoria do SEAB em 1967:

A discussion of the need for a journal with high scientific standards


for publication of applications to behavior modification was initiated
by B. F. Skinner. After discussion of the advantages of the Society's
sponsoring such a publication and of using the established
publication mechanism of the Journal of the Experimental Analysis
of Behavior (Laties, 1987, p.505)

Azrin, ex-editor do JEAB, ficou encarregado de pesquisar a viabilidade


deste novo periódico e concluiu que havia de fato uma demanda para tal e
que muitos trabalhos poderiam ser publicados logo em sua primeira edição.
Havia a esperança de que esse novo periódico não apenas fornecesse
espaço para pesquisas aplicadas de analistas do comportamento, como
também que conseguisse alcançar um público maior que o JEAB, o que
acabou se confirmando (Laties, 1987). Assim, em 1968, o SEAB (o mesmo
responsável pelo JEAB), lançava um novo periódico, o JABA (Journal of
Applied Behavior Analysis), destinado à publicação de pesquisas analítico-
comportamentais aplicadas.

É a partir do JABA que a Análise Aplicada do Comportamento tem um


início formal, como um empreendimento científico que visa aplicar
conhecimentos obtidos em laboratório para questões de importância social
(Baer, Wolf & Risley, 1968). E é logo na primeira edição do JABA que são
formalizados critérios para que algo possa ser considerado Análise Aplicada
do Comportamento.

Em trabalho publicado no final da década de 1960 no ato de


inauguração do JABA, e revisado cerca de 20 anos depois, Baer, Wolf e
Risley (1968; 1987) propõem um grupo de critérios que caracterizariam o
presente e norteariam o futuro da Análise Aplicada do Comportamento. Tal
grupo de critérios - ou "dimensões" - abarcaria o campo da ACA desde suas
facetas teórico-metodológicas até seu papel como agência de controle e
agente de transformação social. Foram propostas sete dimensões: aplicada,
comportamental, analítica, tecnológica, conceitual, efetiva e generalizável. A
figura x.y apresenta as sete dimensões e alguns descritores.

APLICADA COMPORTAMENTAL

comportamentos de pragmatismo;

GENERALIZÁVEL
ANALÍTICA
Extensão a outros Análise
demonstração de
comportamentos e Comportamental relações de controle
contextos; Aplicada

EFETIVA
CONCEITUAL
modificação do
comportamento; fundamentação
TECNOLÓGICA

descrição
pormenorizada das
intervenções;

Figura x.y: As sete dimensões da análise aplicada do comportamento, com descritores.


A fim de tratar as dimensões propostas por Baer et al. sob um prisma
científico mais amplo, cada dimensão será, quando cabível, relacionada aos
critérios de validade científica, validade interna, validade externa e validade
social. As dimensões serão sumarizadas a seguir.

Dimensão aplicada

De acordo com Baer, Wolf e Risley (1968), uma análise do


comportamento é aplicada na medida em que se dedica a um problema de
interesse social, ao invés de um problema de interesse teórico. Uma análise
aplicada do comportamento é definida como tal se houver "interesse social
no problema sob estudo" (Baer et al.,1968). A validade social pressuposta na
dimensão aplicada - logo, na em toda análise aplicada - é, portanto, evidente.
Em relação à definição do comportamento de interesse para o pesquisador,
colocam os autores:
o pesquisador não-aplicado pode estudar o comportamento de
comer, por exemplo, porque este se relaciona diretamente com o
metabolismo e há hipóteses sobre a interação entre o
comportamento e o metabolismo. [...] Por outro lado, o pesquisador
aplicado tenderá a estudar o comer porque há crianças que comem
muito pouco e adultos que comem demais e ele estudará o comer
exatamente desses indivíduos ao invés do comer de outros mais
convenientes (p.92).

Ao revisar os critérios, em 1987, os autores refinaram a dimensão


aplicada operacionalizando comportamentalmente o que seria o "interesse
social" que compõe uma análise aplicada. Um "problema social" é um
comportamento que resulta em medidas, tomadas pelo sujeito ou cliente, na
direção contrária, suficientes para dar origem a uma solução. Um problema
social é todo comportamento de mostrar ou explicar um problema. É,
portanto, comportamento verbal sob controle de estimulação aversiva e cujo
ouvinte é o analista. Segundo essa proposta de Baer et al. (1987), tanto um
cliente da clínica psicológica quanto um grupo de funcionários estatais em
greve podem ser abordados enquanto problemas sociais cujas respectivas
intervenções por parte do analista do comportamento podem ser tomadas
como exemplos de análise aplicada do comportamento.
Dimensão comportamental

Uma análise aplicada do comportamento deve ser coerente com o


arcabouço teórico construído a partir da análise experimental do
comportamento. É nesse sentido que se faz necessário adotar a dimensão
comportamental como constituinte da ACA. Isso significa que a aplicação
deve ser conduzida em termos comportamentais: qual é o comportamento
(ou comportamentos) de interesse? Quem o exibe? Como medi-lo ou
registrá-lo? Quais classes de respostas o constituem? Quais antecedentes e
consequentes o controlam? Essa dimensão, bem como a seguinte,
demonstram a atenção da análise aplicada à sua necessária validade
científica.

Dimensão analítica

Esta dimensão pode ser considerada a mais desafiadora para a


prática da análise do comportamento aplicada. Na proposta de Baer et al.
(1968, 1987), ser analítica implica que a prática seja capaz de atestar o
controle exercido pelas variáveis manipuladas pelo analista. Não bastaria ao
analista modificar o comportamento de interesse: para uma análise aplicada,
ele precisa demonstrar controle sobre o comportamento de forma objetiva e
inequívoca. Nesses termos, fica claro a afinidade da dimensão analítica com
o critério de validade científica, de modo geral, e de validade interna,
especificamente.
A dimensão analítica impõe um grande desafio pois, diferente do que
ocorre na análise experimental do comportamento, na análise aplicada o
ambiente é mais complexo e instável, de forma que o comportamento sob
estudo geralmente está sob controle de uma série de variáveis sob as quais o
analista não tem a possibilidade de exercer controle. Tal impossibilidade
pode ser fruto de fatores como a complexidade do contexto no qual o cliente
está inserido, o que torna impossível conhecer por completo o ambiente,
incluindo os demais sujeitos e seus comportamentos; inacessibilidade à
história comportamental - ponto importante uma vez que, diferente do que
ocorre no laboratório, a análise aplicada não lidará com sujeitos ingênuos;
implicações éticas, pois métodos comuns no laboratório animal, como
manipular operações estabelecedoras, poderiam levar a práticas
culturalmente inaceitáveis; a transferência de controle que ocorre quando um
novo comportamento é condicionado pelo analista e passa a ser
consequenciado naturalmente pelo ambiente do cliente; entre outros fatores
possíveis.
A dimensão analítica não garante apenas rigor científico mas acarreta
em reconhecimento e maior adesão por parte da clientela, bem como uma
consequente difusão da análise do comportamento. Dada sua importância,
formas possíveis de demonstrar controle são buscadas. Entre as mais
comuns estão a técnica de reversão e a técnica de linha de base múltipla. Na
técnica de reversão
um comportamento é medido e a medida é examinada ao longo do
tempo até que sua estabilidade esteja clara. Em seguida, a variável
experimental é aplicada. O comportamento continua a ser medido
para observar se a variável produzirá uma mudança no
comportamento. Se produzir, a variável experimental é
descontinuada ou alterada para observar se a mudança
comportamental surgida depende dela. Se sim, a mudança
comportamental deverá ser perdida ou diminuída (por isso o termo
"reversão"). A variável experimental é, então, aplicada novamente
para observar se a mudança comportamental pode ser recuperada.
Se puder, ela continua a ser buscada, já que trata-se de pesquisa
aplicada e a mudança comportamental inicialmente idealizada é
importante (Baer et al., 1968, p.94).

A técnica de linha de base múltipla, por sua vez, prevê que mais de
um comportamento seja observado ao longo do tempo para que sejam
estabelecidas diferentes linhas de base. Em seguida, uma variável
experimental é aplicada sobre apenas um dos comportamentos e os
resultados são observados, esperando-se que modificações nesse
comportamento se tornem evidentes. Uma segunda variável experimental é,
então, aplicada de forma a obter alterações no comportamento referente à
segunda linha de base. As aplicações se sucedem, sobre um comportamento
por vez, e os efeitos são observados. O controle exercido pelo analista estará
tanto mais claro quanto mais dependente das variáveis aplicadas por ele
forem as modificações observadas nos comportamentos sob estudo. Uma
importante vantagem dessa técnica sobre a técnica de reversão é dispensar
a necessidade de retroceder o comportamento ao seu estado pré-
intervenção. Por outro lado, para que seja possível utilizar a técnica de linha
de base múltipla é necessário que o trabalho se dê sobre mais de um
comportamento de interesse, algo que agrega complexidade à tarefa.
Na revisão de 1987, Baer et al. incluíram a necessidade de a análise
aplicada lidar com o controle de estímulos de segunda e de terceira ordens
(ver Sidman, 1994). Dessa forma, a dimensão analítica tornaria necessários
delineamentos que levassem em conta não apenas o efeito da inserção de
uma determinada variável independente, mas a ponderação desse efeito em
contextos distintos. Como explicam os autores:
A análise contextualista mais simples seria: o comportamento B é
controlado pela variável V no contexto 1 de forma diferente da que
é controlado no contexto 2. Para observar isso com segurança,
precisamos de controle experimental sobre ao menos dois níveis
da variável V, digamos, V1 e V2; e precisamos de controle
experimental sobre ao menos dois contextos de interesse,
digamos, Contexto X e Contexto Y. Dado isso, precisamos ver
como o Comportamento B se relaciona com V1 e V2 no Contexto X
e precisamos observar se esse controle é confiável. Então,
precisamos ver como o Comportamento B se relaciona com V1 e
V2 no Contexto Y e se esse controle é confiável. Finalmente,
precisamos observar ambas as relações (como B se relaciona com
V1 e V2 no Contexto X e como B se relaciona com V1 e V2 no
Contexto Y) mais e mais vezes, de modo que observemos se a
diferença que os Contextos X e Y faz na forma como V1 e V2
controlam B é uma diferença confiável (Baer et al., 1987, p.318-9).

Dimensão conceitual

A dimensão conceitual consiste na fundamentação de toda análise


aplicada em princípios do sistema conceitual da Análise do Comportamento.
Aqui se torna evidente, novamente, a preocupação com a validade interna.
Segundo os autores, "isso pode ter como efeito transformar um conjunto de
tecnologias em um disciplina, em lugar de transformá-lo em um punhado de
truques" (Baer et al., 1968, p.96). Referir-se ao aparato tecnológico que
emerge da análise aplicada por meio do sistema conceitual analítico-
comportamental tem como efeito criar coesão, de modo que as práticas
sejam facilmente relacionadas entre si e identificadas como um campo
unificado - uma "disciplina". Tal atitude contribui com o crescimento do campo
da análise aplicada, na medida em que torna o conhecimento produzido mais
prontamente operacionalizável, mais fácil de ser ensinado e aprendido. E
contribui, também, para a difusão da análise do comportamento ao criar uma
marca mais facilmente identificável pelo público.
No trabalho de 1987, Baer et al. chamam a atenção para a
interdependência entre a dimensão conceitual e a dimensão analítica,
apontando que uma maior atenção à dimensão conceitual pode facilitar a
tarefa analítica, enriquecendo a avaliação da extensão do controle exercido
sobre o comportamento. Segundo os autores, "nós, às vezes, modificamos o
comportamento sem ao menos uma demonstração convincente de como o
fizemos e, assim, ficamos sem saber se nossos métodos fazem sentido
sistemático e conceitual porque não sabemos com clareza quais foram os
métodos responsáveis" (p.318).

Dimensão tecnológica

A dimensão tecnológica pressupõe que "as técnicas componentes de


uma determinada aplicação comportamental sejam completamente
identificadas e descritas" (Baer et al., 1968, p.95). A importância desta
dimensão reside na possibilidade de replicação, por uma grande audiência,
de procedimentos bem sucedidos. Além disso, uma tecnologia
comportamental de boa qualidade informará a respeito de procedimentos
alternativos para variações possíveis nas contingências sob análise. Assim, a
dimensão tecnológica aparelha o analista para seu trabalho de forma muito
mais específica do que aquela proporcionada apenas por uma aproximação
teoricamente informada de um dado problema social. Nesse sentido, o
problema da violência escolar pode ser abordado não apenas em termos -
abstratos - de operações estabelecedoras, reforço social, reforçamento
diferencial de comportamentos alternativos, entre outros, mas em termos de
consequências específicas a serem apresentadas contingentes a respostas
específicas, por atores específicos (professores, gestores escolares, pais,
demais alunos) e em contextos específicos. A descrição tecnologicamente
valiosa tomaria o cuidado de apresentar o mais amplamente possível as
consequências a serem utilizadas, bem como as classes de respostas e os
contextos que serão possivelmente encontrados na situação de análise
aplicada ao problema social em pauta.
A dimensão tecnológica promove elementos de validade tanto interna
quanto externa. De validade interna na medida em que se preocupa em
descrever detalhadamente as variáveis em jogo na aplicação e seus efeitos
possíveis em diferentes contextos. E traz elementos de validade externa ao
se dedicar a proporcionar a generalização como resultado das intervenções.

Dimensão de efetividade

A efetividade, segundo Baer et al. (1968), está diretamente ligada à


dimensão aplicada. Uma análise aplicada é considerada efetiva apenas se
alcançar resultados de valor prático. Uma análise aplicada não será
considerada efetiva a menos que satisfaça necessidades apontadas como tal
pela clientela - em outras palavras, que resolva "problemas sociais".
A dimensão de efetividade pode ser também compreendida sob o
conceito de validade social (Wolf, 1978). No cerne desse conceito está a
noção de que apenas o cliente pode determinar com propriedade qual é o
problema a ser resolvido. Tal consideração levanta uma importante
discussão, a ser apresentada adiante (p.xx [no texto do André]), sobre o
caráter subjetivo da validade social, algo em cuja determinação o analista
aplicado tem pouca ou nenhuma participação. Mais do que isso, cabe ao
analista, como parte de seu trabalho, investigar, inquirindo o cliente
diretamente acerca de seus valores, sendo apenas assim possível determinar
quais deverão ser os objetivos da intervenção e atender, de fato, aos anseios
da população atendida (Finney, 1991; Baer et al., 1987; Dittrich, 2004).

Dimensão de generalidade

O investimento da análise comportamental aplicada na validade


externa fica evidente quando Baer et al. (1968, 1987) propõem a dimensão
de generalidade. Segundo Pierce & Cheney (2004), "validade externa se
refere à extensão em que os achados do laboratório se generalizam para
diferentes períodos, espaços, variáveis dependentes e manipulações
experimentais similares" (p.44). Para a análise aplicada, especificamente,
generalidade implica em que a modificação no comportamento seja
preservada no futuro, em contextos diferentes e que a inserção da variável
independente altere outros comportamentos além daquele diretamente
modificado pela intervenção.

Referências Bibliográficas:

Baer, D. M., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1968). Some Current Dimensions of
Applied Behavior Analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 1(1), 91-7.

Baer, D. M., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1968). Some current dimensions of
applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 1, 91-97.
Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1310980/

Baer, D. M., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1987). Some still-current dimensions
of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 20(4), 313-
27.

Bijou, Sidney W. OPERANT EXTINCTION AFTER FIXED-INTERVAL


SCHEDULES WITH YOUNG CHILDREN Journal of the Experimental
Analysis of Behavior. 1958 January; 1(1): 25–29. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1403884/

Carvalho-Neto, Marcus Bentes. Análise do comportamento: behaviorismo


radical, análise experimental do comportamento e análise aplicada do
comportamento. Interação em Psicologia, 2002, 6(1), p. 13-18 Disponível em:
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/viewArticle/3188

DeMeyer, M. K., & Ferster, C. B. (1962). Teaching new social behavior to


schizophrenic children. Journal of the American Academy of Child Psychiatry,
1, 443-461.

Dittrich, A., & Abib, J. A. D. (2004). O sistema ético skinneriano e


conseqüências para a prática dos analistas do comportamento. Psicologia:
Reflexão e Crítica, 17(3), 427-433. doi:10.1590/S0102-79722004000300014

Finney, J. W. (1991). On Further Development of the Concept of Social


Validity. Journal of Applied Behavior Analysis, 24(2), 245-9.

Goldiamond, I. (1962). The maintenance of ongoing fluent verbal behavior


and stuttering. Journal of Mathetics, 1(2), 57-95.

Laties, V. G. (1987). Society for the Experimental Analysis of Behavior: The


first thirty years (1957-1987). Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 48, 495-512. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1338788/

Lindsley, 0. R., & Skinner, B. E (1954). A method for the experimental


analysis of the behavior of psychotic patients [Abstract]. American
Psychologist, 9, 419-420.

Morris, Edward K. & Smith, Nathaniel G. B. F. Skinner's Contributions to


Applied Behavior Analysis. The Behavior Analyst 2005, 28, 99-131 No. 2
(Fall) Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2755377/

Orlando, R., & Bijou, S. W. (1960). Single and multiple schedules of


reinforcement in developmentally retarded children. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 3, 339-348. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1404028/

Pierce, W. D., & Cheney, C. D. (2004). Behavior Analysis and Learning.


Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, Inc.

Sidman, M. (1994). Equivalence relations and behavior: A research story.


Boston, MA: Authors Coopera- tive, Inc., Publishers.

Skinner, B. F (1937). Is sense necessary? [Review of the book New Frontiers


of the Mind]. Saturday Review of Literature, 16, 5-6.

Skinner, B. F (1947b). Experimental psychology. In W. Dennis (Ed.), Current


trends in psychology (pp. 16-49). Pittsburgh, PA: University of Pittsburgh
Press. Disponível em: http://psycnet.apa.org/psycinfo/1948-00003-001

Skinner, B. F (1954b). The science of learning and the art of teaching.


Harvard Educational Review, 24, 86-97.
Skinner, B. F (1968c). The technology of teaching. New York: Appleton-
Century-Crofts.

Skinner, B. F. (1930). On the inheritance of maze behavior. Journal of


General Psychology, 4, 342-346.

Skinner, B.F. (1948) Walden Two. Hackett Publishing Company, Inc. 2005.
Disponível em:
http://books.google.com.br/books?id=KEiYzfCVzv4C&printsec=frontcover&dq
=walden+two&hl=pt-
BR&ei=eBKuTpfJC8KgtgeJnbToDg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum
=1&ved=0CC4Q6AEwAA#v=onepage&q&f=false

Skinner, B.F. (1957) O comportamento verbal. São Paulo: Cultrix. 1978

Skinner, B.F. The behavior of organisms: na experimental analysis. Oxford,


England: Appleton-Century. (1938). Disponível em:
http://psycnet.apa.org/psycinfo/1939-00056-000
Staats, A. W. (1965). A case in and a strategy for the extension of learning
principles to problems of human behavior. In L. Krasner & L. P. Ullmann
(Eds.), Research in behavior modification (pp. 27-55). New York: Holt,
Rinehart & Winston.

Staats, A. W., Staats, C. K., Schultz, R. E., & Wolf, M. (1962). The
conditioning of textual responses using "extrinsic" reinforcers. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 5, 33-40. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1404175/

Wolf, M. M. (1978). Social Validity: the case for subjective measurement or


how applied behavior analysis is finding its heart. Journal of Applied Behavior
Analysis, 11(2), 203-14.

Você também pode gostar