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Estou em meus últimos momentos, sentado em meio ao meu sangue, minha urina e até

mesmo minha merda e da minha barriga um belo corte horizontal, limpo derrama o
conteúdo dos meus intestinos. -Que desgraça! Estou completamente fudido!Tento rir mas a
dor se espalha pelo meu corpo ao ponto de sentir lágrimas caírem, sinto o sangue sair
abundantemente do meu corpo, o frio e a dor extrema, que aos poucos começa a diminuir.
Com o que resta de forças alcanço o maço amassado de cigarros e o isqueiro, meus
últimos companheiros, meu corpo parece pesar uma tonelada, quanto tento erguer o
abraço, acabei por colocá-lo sobre o corte horizontal no meu abdômen, e sinto aquela dor
aguda e profunda varrer todo meu sistema nervoso, o cheiro de merda misturada ao
sangue invade minhas narinas, os espasmos do vômito iminente me jogam para frente me
fazendo sentir ainda mais dor ao comprimir o corte, após angustiantes segundos de dor
extrema consigo me conter, o cigarro em minha mão está todo amassado e molhado em
meus fluidos. -Porra! Sussurro, afinal mal consigo respirar.Com muito esforço peguei outro
cigarro e levei aos meus lábios e sinto o gosto daquela merda de marca paraguaia, tão
familiar que quase me faz chorar, consigo levar o isqueiro ao cigarro sem não antes acertar
o corte mais uma vez e ver o que deve ser meu intestino delgado sair para fora, o cigarro
aceso me faz sufocar quase imediatamente, começo a tossir, mas o fluxo de sangue saindo
pela minha boca aumenta e o molha o filtro daquela merda paraguaia, as poucas tragadas
que pude dar antes disso ainda estão presas em meus pulmões ou o que restou deles,
libero aquela deliciosa fumaça do meu corpo destruído e espero ansioso pela minha morte.

Em frente aos meus olhos minha história fodida se desenrola, desde os meus primeiros dias
conscientes da minha existência insignificante, não consigo deixar de rir por tamanha ironia
que é tudo isso. Aos 12 eu me apaixonei pela linda Fernanda, a garota mais linda da turma,
de alguma forma namoramos por 4 meses, mas ela era uma grandíssima filha da puta,
irritante para um caralho e quando vi esse lado dela, só pude odiar aquela garota. Aos 15
Marta, a menina calada da turma se aproximou de mim, conversávamos sobre tudo de
música aos filmes e isso nos aproximou aos poucos e no fim daquele anos estávamos
namorando, mas Marta era cheia de traumas, manias e fobias e nunca passamos dos
beijinhos e por mais 7 meses fiquei ao seu lado, mesmo explodindo devido a maldita
puberdade, Marta se matou 2 meses depois que terminamos, ou eu terminei sei lá. Aos 17
foram as vadias Carla, Marina e Flávia que surgiram, estava no colegial e apesar da
aparência mediana eu sempre tive uma boa lábia, mas essas queria apenas sexo, não que
isso seja o problema e no ano seguinte as três engravidaram, mas digamos que seus pais
resolveram esses assuntos. Aos 22 encontrei ela aquela que me arrebatou por quase 5
anos, Juliana seus belos cabelos ruivos me enfeitiçaram, seu rostinho encantador me fez
delirar e seu corpo escultural me levava a loucura, e nesta loucura me casei com ela,
éramos recém saídos da universidade, eu um mísero advogado e ela uma física, todos
diziam que nós não combinamos, mas eu dizia: fodam-se eles! E ela sorria, me mostrando
aqueles imenso sorriso que me envolvia por completo, mas tudo não foi sempre às mil
maravilhas, brigamos por coisas idiotas, por problemas triviais e quando minha filhinha
nasceu brigamos sobre como criar aquela mocinha, porém em uma dessas brigas Juliana
pegou nossa filha e partiu para casa de sua mãe e no meio do trajeto ela bate de frente com
um caminhão e nesta noite perdi tudo. Aos 32 devastado e jogado na sarjeta, não
conseguia mais fazer nada pois sempre pensava nas duas pessoas que perdi, na minha
enorme culpa e na dor que sentia, nas vezes que passei a corda pelo meu pescoço e
subitamente lembrei da Marta e acabava por voltar atrás. Minhas lágrimas agora não param
de sair, faz tempo que levei essas memórias para o fundo do meu ser e as tranquei com
tudo que pude para poder viver por elas e pagar pelos meus pecados. -Merda! Merda! E vai
ser assim que vou morrer, como uma porra de um cachorro.

O frio penetrante da morte invade meus ossos, sinto como se estacas de gelo fossem
enfiadas em minha pele lentamente. Merda! O que eles me deram, eu já devia ter morrido.
Sussurro entre um espasmo, que ejeta sangue pela minha boca, e outro, a poça do meus
fluidos ao meu redor, que agora tem uma coloração marrom e extremamente fétida, está
muito viscosa meu sangue já deve ter coagulado, mas ainda estou vivo e perdi quase todo
sangue. Minha mente está uma bagunça, nem sei mais onde estou. será um galpão? Um
armazém abandonado? Um porão? Só quero morrer logo. Começo a alucinar vejo aquelas
mulheres da minha vida em minha frente, elas seguram minha filhinha levando de um lado
ao outro e Juliana se aproxima para me mostrar nossa menina, mas um lenço cobre seu
rosto e quanto levando apenas vejo um rosto que foi dilacerado e arrastado sobre o asfalto
quente, sinto aquela ânsia de vômito de imediato e o desespero ao ver minha filha, uma
grande bola de pus amarelado e fétido sob pela minha garganta e os espasmo atiram-na
longe. A bola se mexe como se tivesse vida própria e após alguns instantes vejo o rostinho
de minha filha surgir em meio aquela podridão. Começo a gritar de puro desespero.

Um som distante, me trás para realidade novamente, escuto alguém assobiar o que a
princípio parece apenas um som aleatório, mas aos poucos aquela melodia começa a se
formar em minha mente nebulosa, fico incrédulo ao ouvir aquilo, meu captores estão
cantando ​For a Few Dollars More? ​Começo a gritar pedindo para que me matem logo e ao
falar isso começo a ouvir vozes ecoando em todas as direções seguindo o ritmo da música.
Meu Deus estou alucinando? ME MATEM SEUS DESGRAÇADOS! E ao falar isso outra
música começa e dessa vez é ​The Ecstasy of Gold​, PAREM COM ISSO SEUS FILHOS DA
PUTA! Grito com o que me resta de forças, em minha frente surge Juliana cantando a
música com nossa filha agarrando a mão dela, MEU DEUS! PAAAAAREM COM ISSO! o
desespero toma conta da minha mente e começo a gritar sem parar quando mais uma
música começa a tocar, mas a exaustão me atira no abismo negro da inconsciência e só
consigo ver de relance um homem vestindo de preto vindo em minha direção com uma
menininha segurando sua mão esquerda e uma mulher segurando sua mão direita e em fim
apago.

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