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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

NOTAS

A EXPERIÊNCIA DA FORMAÇÃO
DO CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

NOTAS
A EXPERIÊNCIA DA FORMAÇÃO
DO CARÁTER DE CRISTO EM NÓS
Esboço do Planejamento do Curso

Meta
Que você possa expressar completamente a beleza da
pessoa de Jesus através de você. Que Seu caráter humilde e santo
se mostre através da sua vida.
Outros Objetivos
• Que você descubra que a vida cristã é uma parceria com o
Espírito Santo e que para ser transformado em seu caráter
Ele espera a sua resposta.
• Que você comece a ser sensível à voz de Deus
compreendendo quando Ele quer tocar em alguma área
sensível.
• Que você veja a mão do Senhor operando através de
circunstancias, pessoas e pressões e dê a Ele a resposta
esperada.
• Que se possa reconhecer em você os traços de humildade,
quebrantamento e espírito ensinável assim que essas
verdades começarem a ser compreendidas e aplicadas na
sua vida.
Sugestões Bibliográficas
1. O QUEBRANTAMENTO E A LIBERAÇÃO DO ESPÍRITO -
T. S. Watchman Nee
2. VIDA QUE NASCE DA MORTE – T. A. Hegre
3. O HOMEM ESPIRITUAL VOL. I, II E III - T. S. Watchman
Nee
4. VIDA EM PROFUNDIDADE – Paul Billheimer
Recomendações Muito Importantes
Diga ao Senhor em oração que você está aberto
humildemente aos seus tratamentos em sua vida e a partir daí
observe os acontecimentos e circunstâncias agindo de modo a
entrar no padrão de Jesus. Não se desanime se não consegue
responder em tudo. As mãos do Senhor, o oleiro, não desistirão de
você, mesmo que falhe. Volte ao altar da consagração e diga a
Jesus que está disposto a repetir a cartilha até a Sua imagem ser
formada completamente em você. E lembre-se! Esse processo
durará a sua vida inteira.

Avaliação
• Descreva a experiência do cooperar com o Espírito Santo.
• Defina o que é caráter.
• Como o caráter de Cristo é formado em sua vida?
• Como o seu responder pode apressar ou atrasar esse
processo?
• Pessoas duras experimentam situações mais drásticas?
Por que?
• Como o quebrantamento opera em nós? Qual seu
resultado?

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

NOTAS
A EXPERIÊNCIA DA FORMAÇÃO
DO CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O Caráter De Cristo Em Nós É Formado Pela Cruz

O caminho para o caráter de Cristo é o caminho da operação


da cruz em nós. Não há outra maneira das marcas do caráter de
Cristo serem formadas, a não ser pela cruz. E a cruz é o
quebrantamento da vontade e força humana pela ação do
Senhor.Deus prepara circunstâncias e situações que tratam com
nossas vontades para que possamos ser quebrantados. É através
da lei da cruz (Mt. 16:24) que somos formados em nosso caráter.
Esta lei opera em nós, moldando-nos e ensinando-nos a vida
do Espírito. Não há como conter o processo dos tratamentos do
Senhor para formar o caráter cristão. Como é bom vivermos e nos
relacionarmos com pessoas quebrantadas e doces, que foram
tratadas por Deus. A cruz é que opera em nós a beleza do Senhor.
A cruz é o instrumento de Deus para moldar-nos à semelhança de
Cristo. A cruz é que nos capacita para termos o caráter que suporta
o poder de Deus. Antes de Jesus subir, Ele desceu (Ef. 4:8-9). Este
é o princípio de Deus. Antes de conhecermos o poder e a glória
temos que ser tratados pela cruz de Cristo. Quanto mais alto Deus
for nos levar, significa que mais tratamentos precisamos ter em
nosso caráter. Existe um princípio aqui: As pressões e tentações
aumentam à medida que subimos em Deus. Por isto, mais base de
caráter uma pessoa precisa ter na guerra contra o mundo espiritual
e o pecado. Jesus passou tal pressão que suou gotas de sangue
(Heb.12:4). O caráter do obreiro precisa ter sido formado pela cruz.
A maturidade emocional e espiritual vêm pelos tratamentos da cruz
de Cristo. Os homens de Deus precisam ser homens que vencem
os ataques do inimigo em sua mente e emoções, e isto vem pelo
quebrantamento. Não podem ser pessoas frágeis que cedem às
pressões malignas sobre a carne. O alicerce de uma casa é a parte
mais delicada da construção. Da mesma forma, na Igreja, ter líderes
fortes, tratados e preparados é a parte mais delicada e mais
importante da construção. As pressões não vêm somente pelos
ataques do inimigo mas também pelos princípios que envolvem
busca de Deus. As vezes, quanto mais buscamos ao Senhor,
parece que tanto mais os céus se fecham e se tornam de bronze. É
um princípio que precisamos saber: os que buscam ao Senhor, que
muitas vezes oram e jejuam, sentem muita resistência e
aparentemente nada acontece. Ou às vezes as pressões e
problemas aumentam. Este princípio está ligado ao fato de que nos
céus algo está sendo gerado e por isto estamos pagando o
preço.Sempre, antes da visitação de Deus e dos avivamentos, os
homens usados sofrem, choram e gemem, até que a mão do
Senhor seja livre para operar. Portanto, como obreiros de Deus
necessitamos conhecer estes caminhos, e estarmos preparados
para enfrentá-los.

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

Definição De Caráter
NOTAS

O caráter refletirá os traços da natureza pecaminosa (sendo


influenciado pelo mundo), ou os traços da natureza divina (sendo
influenciado pela Palavra de Deus). Caráter é a soma total de todas
as influências positivas ou negativas, aprendidas na vida de uma
pessoa. Se manifestará através dos seus valores, motivações,
atitudes, sentimentos e ações.
Em Hb. 1:3, o escritor afirma que Cristo é o próprio caráter de
Deus. Caráter é como uma marca impressa que distingue a pessoa.
O caráter de Deus que foi impresso em Jesus Cristo precisa ser
impresso na Igreja para que, desta forma, o mundo creia em Deus.
Nossa primeira decisão é crer. Devemos ter uma decisão de seguir
a Jesus tornando-nos seus discípulos e, por fim, sermos feitos
conforme Sua própria imagem (Rom. 8:29 e I Cor. 15:49);
identificados, desta forma como cristãos.
Caráter no grego significa IMAGEM.
Heb. 1:3, Afirma que Cristo é o próprio Caráter de Deus, a própria
estampa da natureza de Deus, aquele em que Deus estampou ou
imprimiu Seu ser.
Caráter é o sinal identificador da natureza de qualquer ser ou
coisa (dicionário de Psicologia- Cabral e Nick). É o conjunto de
aspectos que caracterizam o Ego. O caráter é formado pela
aprendizagem. Todo ser humano a partir do seu nascimento
começa a receber influências do meio ambiente onde se encontra.
Estas influências são assimiladas e com o tempo passam a fazer
parte do caráter. Esse processo de aprendizagem é feito por
identificação, imitação, punição, e recompensa. O propósito é que o
homem se torne à imagem do seu Filho, o Senhor Jesus Cristo,
Deus-homem. Este propósito não mudou. A queda do homem não
mudou este plano e propósito de Deus. Desde Adão, passado por
Jesus e pela Igreja o plano de Deus será sempre o mesmo - Heb.
2:10 " Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem
todas as cousas existem, conduzindo muitos filhos à Glória,
aperfeiçoasse por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles."
Se a igreja deve atingir esta meta, seus líderes devem mostrar o
caminho, devem ir na frente. O caráter e a personalidade do Senhor
Jesus Cristo devem ser desenvolvidos nos líderes da Igreja antes
de ser formado no Seu povo. O caráter de alguém será conhecido
através de três maneiras.

Forma de Pensar

A forma de pensar de uma pessoa é percebida pela maneira


como ela constrói a sua escala de valores. O meu caráter é
determinado em primeiro lugar pelo aspecto moral, ou seja, aquilo
que eu considero correto, errado, permitido, proibido e assim por
diante. Se eu aprovo aquilo que definitivamente é errado então se
pode dizer que o meu caráter é defeituoso, um "Mau Caráter".
Quando nos convertemos a primeira coisa que devemos fazer é
renovar a nossa mente. Renovar nesse caso significa mudar a

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

minha maneira de perceber as coisas e também a minha escala de


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valores. A vontade de Deus é que tenhamos o caráter de Cristo, a
sua mente (I Cor. 2:16).

Estilo de Vida

O estilo de vida de uma pessoa é determinado pelos seus


alvos, hábitos e costumes. Se o meu grande alvo na vida é ganhar
dinheiro, eu devo desenvolver um estilo de vida compatível com
esse alvo. Devo desenvolver os hábitos e costumes coerentes com
o que quero alcançar. Se eu quero ser atleta e não treino há algo
errado. Se eu quero me desenvolver nos estudos mas não me
aplico a ler em casa também há algo errado. O estilo de vida faz
parte do nosso caráter, a prova disso é que normalmente pessoas
de uma mesma profissão apresentam características de caráter
semelhantes. Não é difícil percebermos isso em empresários,
caminhoneiros, programadores, etc.

Conduta

A conduta é o conjunto de comportamentos que aprendemos


e que se firmam dentro de nós. Conduta é tudo aquilo que fazemos,
falamos, sentimos, esperamos e desejamos. A conduta se
manifesta na minha relação com outras pessoas. O meu
comportamento diante de outras pessoas manifesta o meu caráter,
ou seja, a minha forma de pensar e os motivos que vão dentro do
coração.
Estes três elementos compõem o nosso caráter.
Evidentemente eles não podem ser observados separadamente. Em
tudo aquilo que fazemos manifestamos estes três aspectos
simultaneamente.Todos nós ao nos convertermos já possuímos um
caráter formado. Esse caráter foi formado por tudo aquilo que
recebemos de nosso meio ambiente. Muito daquilo que aprendemos
está correto mas existem partes da nossa forma de pensar, do
nosso estilo de vida e da nossa conduta que devem ser
transformados.
Todo o nosso crescimento espiritual é demonstrado pelo nosso
caráter. Se com o passar do tempo acumulamos muito
conhecimento, mas não demonstramos nenhuma mudança no
caráter isso mostra que o conhecimento foi em vão. Deus está
profundamente interessado em nossa conduta. Jesus e os
Apóstolos gastaram muito espaço para tratar de frutos, de
comportamento, de conduta, de coração, como vemos:

Mt. 5:48 – “... portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o


vosso Pai celeste”.
II Cor 13:9 –“... porque nos regozijamos quando nós estamos
fracos, e vós, fortes, e isto é o que pedimos, o vosso
aperfeiçoamento”.
Gl. 4:19 – “Meus filhos, por quem de novo sofro as dores de
parto, até ser Cristo formado em vós”;

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

Ef. 1:4 – “Assim como nos escolheu nEle antes da fundação


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do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele”;
II Tm 3; 17 – “A fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra”.
II Pe. 1; 3 –“ Visto como pelo seu Divino poder nos tem sido
doadas todas as cousas que conduzem à vida e à piedade, pelo
conhecimento completo daquele que nos chamou para sua própria
glória e virtude”.

Em Rom. 8:29 vemos que o propósito eterno de Deus é ter


muitos filhos, mas não apenas isso, estes filhos devem ser
semelhantes a Jesus. Deus quer filhos que manifestem o caráter de
Jesus. Quando o homem caiu o propósito de Deus foi apenas
adiado, não foi mudado. A Igreja do Senhor deve atingir esta meta e
os seus líderes devem mostrar o caminho, devem ir à frente do
rebanho. O caráter de Senhor Jesus deve ser desenvolvido nos
líderes da Igreja antes de ser formado no seu povo.
Não são poucos os escândalos que têm surgido entre líderes
investidos de autoridade que não receberam aprovação no caráter.
Um líder que apresenta deficiências sérias em seu caráter possui
assim, um grande obstáculo para a atuação de Deus em sua vida.
As deficiências de caráter nas vidas dos membros da igreja se
devem, em grande parte, aos próprios líderes. Em certo sentido
igreja é o retrato da sua liderança. Líderes relapsos geram um povo
relapso. Líderes preguiçosos geram um povo igualmente
preguiçoso. Se a liderança é imatura inevitavelmente também o
povo o será. Nunca será demais enfatizarmos o caráter do obreiro,
pois isto determina o sucesso no ministério. Somente um caráter
formado e aprovado pode suportar as pressões da obra e as
dificuldades do ministério.

A Diferença Entre Caráter e Dons

Existe uma distorção que tem assolado a Igreja do Senhor


durante os séculos: a valorização dos dons em detrimento do
caráter. Um dom é uma dádiva de Deus. Deus concede a todos
indistintamente. Os dons podem ser: naturais ou espirituais. Os
dons naturais são aqueles com os quais nascemos como:
inteligência, astúcia, memória, capacidade do tocar, cantar, praticar
determinados esportes, etc. Os dons espirituais nos são concedidos
pelo Espírito Santo como instrumentos na sua obra: I Cor. 12:7-10.
Os dons são muito úteis mas são secundários. Deus coloca em
primeiro lugar a vida e o caráter. Todos podem achar que um
determinado irmão que possui uma grande inteligência e
capacidade extraordinária de memorização deverá se tornar um
grande pregador. Isto é um tremendo equívoco e não passa de
mentalidade mundana. A Igreja de Deus não é edificada com essas
coisas. Se tal irmão ainda não passou pelo processo da Cruz não
será útil para Deus, apesar do seu dom.
Outra pessoa pode ainda pensar que outro irmão, por ter um
dom de cura e discernimento de espíritos, venha a ser uma coluna

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

na casa de Deus. Isto também é um engano. Os dons são úteis mas


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nunca podem ser a base da obra de edificação da Igreja. Este é o
motivo por que existem tantos escândalos: priorizamos mais o dom
que o caráter. Os dons, sejam espirituais ou naturais, devem passar
pela Cruz antes de serem úteis. O ministério é edificado sobre o
caráter e não sobre os dons. Deus não vai enviar ninguém sem
antes tratar com o seu caráter. Os dons atraem os homens mas o
caráter atrai a Deus.
No livro de Êxodo encontramos um exemplo clássico do
equívoco de se priorizar os dons. A palavra do Senhor diz que o
povo de Israel estava sendo escravizado por Faraó. Moisés era o
homem que Deus havia escolhido para levar a cabo o seu propósito.
Moisés havia sido criado no palácio de Faraó e recebeu a melhor
instrução da época, era um homem excepcionalmente talentoso. O
próprio Moisés tinha algum entendimento desse fato e em certo
momento se dispôs ele mesmo a libertar o seu povo da escravidão (
ver Ex. 2:11-15 ). Moisés se achava capaz e perfeitamente
habilitado por que possuía a instrução Egípcia. Deus porém coloca
Moisés de molho por quarenta anos no deserto de Midiã até que o
seu caráter pudesse ser aprovado por Ele. Do ponto de vista natural
Moisés já estava pronto aos quarenta anos quando matou o egípcio,
mas do ponto de vista de Deus precisou de outros quarenta anos
até ao ponto de não mais confiar na sua força ou nos seus talentos.
( Ver Ex. 3:10 ). Quanto mais um homem confiar em si mesmo, nos
seus talentos naturais, menos utilidade terá para Deus.
O critério de Deus sempre é escolher o que se acha frágil, incapaz e
desqualificado. A glória de Deus se torna manifesta quando pessoas
a quem não reputávamos qualquer valor se levanta em poder e
autoridade. Fica patente que Deus é quem faz e não é um simples
uso de talentos especiais.

A Formação Do Caráter

" Porque é Deus quem efetua em vós tanto o querer como o


realizar..." .
Todos nós desejamos ter um caráter aprovado por Deus.
Todos nós queremos agradar a Deus e por isso ficamos apenas
esperando saber as normas para começarmos a praticá-las. A vida
cristã não é um mero cumprimento de normas e preceitos pois não
estamos mais debaixo de domínio da lei. A vida cristã se resume
simplesmente em:" Cristo em vós " ou seja, a vida cristã consiste,
em poucas palavras, na dependência completa do Espírito Santo
que habita em nós. É Ele quem muda o nosso querer e também é
Ele quem nos capacita a fazer a sua vontade. Ele é tudo em todos.
Jesus é a nossa bondade, a nossa mansidão, a nossa justiça, Ele
na verdade é tudo o que necessitamos. Tudo o que precisamos já
está em nós na pessoa do Espírito Santo. Seria muito fácil
começarmos a nos esforçar para cumprir um conjunto de
qualidades, não é essa, porém, a nossa proposta. Desejamos que
os irmãos tenham revelação do pleno suprimento de Deus para
nossas vidas pois na medida em que entendermos isso, as

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

qualidades de caráter naturalmente vão tomando forma. O pleno


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suprimento de Deus para nós é Cristo Jesus que habita em nós.
Seja Ele a nossa vida. Seja Ele tudo em todos.
Não adianta falarmos de caráter e conduta se nós ainda não
nos apropriamos do pleno suprimento de Deus para nós: a
libertação do velho homem, do poder do pecado, a nossa
justificação e regeneração em cristo, a dependência completa do
espírito e o andar no espírito. Precisamos nos apropriar destas
grandes realidades espirituais, mas não apenas isto, precisamos
aprender a perceber a direção de Deus em nosso espírito, fazermos
separação entre ALMA - ESPÍRITO, e conhecermos a prática da
renúncia diária do EU no princípio da Cruz. Todas essas
experiências devem ser compreendidas no espírito.
Quando enfatizamos muito as qualidades recomendáveis, corremos
o risco de estabelecermos um amontoado de regrinhas que não
estão na Bíblia. Tais como: cinco passos para vencer a ira; dez
passos para vencer a lascívia. etc. Essas coisas não funcionam e
nos desviam do centro da vida cristã. CRISTO É A NOSSA VIDA. A
vida do cristão é Cristo. Muitos pensam que podem ser santos se
tão somente conseguirem vencer certos tipos de pecados. Outros
pensam que sendo humildes e gentis são vitoriosos. Ainda alguns
imaginam que orando mais e lendo a Bíblia, tendo cuidado para
jejuar e vigiar então alcançarão um caráter Santo. Outros concebem
a idéia de que somente matando o Ego terão vitória. Todas estas
fórmulas tem a aparência de piedade e sinceridade mas tudo isso é
vão. Não podemos viver a vida cristã usando mil e uma fórmulas
para os mais variados problemas. Na prática não funciona. O que
Deus deseja é que entendamos que Cristo é a nossa vida, o perfeito
suprimento de Deus para todas as nossas necessidades.
Com este entendimento em vista vamos estudar alguns princípios
fundamentais que aumentarão a compreensão de que Cristo é de
fato a nossa vida.

A Formação Do Caráter Através Dos Tratamentos De Deus

É a graça de Deus que me capacita a fazer as coisas certas


diante de Deus(II Pe.1:1-11). A leitura deste texto nos ajuda na
compreensão do processo que Deus usa para desenvolver o caráter
de um cristão. Deus, através de Jesus Cristo, nos provê a Sua
própria natureza. As promessas Divinas nos foram outorgadas ( ver
II Pe.1:4 ), e o poder de Deus é a nossa garantia de que Ele
realizará em nós as mudanças necessárias. ( ver II Pe.1:3 ).
Somente através de uma atitude diligente podemos alcançar o
aperfeiçoamento do nosso caráter, precisamos ter a decisão de
sermos semelhantes a Cristo, termos em nós a natureza Divina
amadurecida ( ver II Pe.1:10 e 11 ).
A vida cristã é um processo. Precisamos vencê-la passo a passo,
cada degrau corresponde a um novo nível alcançado, nova vitória
em determinada área, até alcançarmos o topo da escada. A
responsabilidade de Deus é prover a todo crente a própria natureza
Divina através do arrependimento do pecado e da fé em Jesus

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

Cristo. A responsabilidade do homem é aplicar e cumprir esta


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realidade em sua vida.Deus tem dado por direito aos crente, tudo o
que é necessário para uma vida santa: AUTORIDADE E PODER. O
cristão tem o que precisa para desenvolver um caráter maduro,
seguindo o Senhor Jesus.

Descrevendo O Processo

Todos nascemos em iniqüidades e fomos formados em


pecado. Todos temos por nascimento uma natureza caída, que nos
acompanhará ou não por toda a vida. A natureza caída do homem
não está em harmonia com nenhuma das coisas do Senhor. Deus
colocou diante do cristão a meta da perfeição. Maturidade espiritual
é a meta Bíblica para todos os que estão em Cristo Jesus.
Por vezes a carnalidade do homem não permite que ele
desenvolva seu caráter como as Escrituras ordenam. Esta natureza
humana é tratada definitivamente pelo Poder da Cruz, mas o Ego é
a principal razão pela qual o homem precisa do tratamento de Deus.
Cada cristão precisa do tratamento de Deus para motivá-lo a
prosseguir em direção à perfeição espiritual.

O Propósito Do Tratamento

O cristão necessita do tratamento de Deus em sua vida por


que possui áreas escondidas em sua vida que devem ser reveladas.
Deus deseja revelar estas áreas escondidas de pecados em nós, de
maneira a nos ajudar a crescer. As Escrituras afirmam que é Deus
quem revela tais segredos.
Deus revela os nossos pecados ocultos para que não
sejamos destruídos, nem o nosso ministério. Deus revela estas
áreas escuras, que estão presentes dentro de nós, para que
renunciemos a elas. Para que isto aconteça o cristão precisa da
graça de Deus por que, humanamente, a tendência é cobrir suas
próprias falhas e fraquezas. O homem deseja sempre defender-se e
esconder os motivos do coração.
Deus deu ao cristão o Seu Espírito Santo. É o Espírito quem
revela as necessidades espirituais do homem, sondando o coração
do cristão para revelar os pecados que devem ser abandonados. A
palavra "revelar" significa retirar a tampa, e a palavra "ocultar"
significa esconder, cobrir, cobrir a vista, ou encobrir o assunto. Deus
tenta retirar a cobertura de cima do homem, enquanto que o homem
faz tudo para retê-la.
Há vários homens nas Escrituras que ilustram o fato de
pecados ocultos. O começo de suas vidas contrastou drasticamente
com o fim delas. Começaram bem e acabaram tragicamente.
Os homens podem começar bem mas, se tiverem pecados ocultos
em suas vidas, os quais não confessam, mas os alimentam sem
arrependimento, estarão destruindo suas vidas e ministérios. Em II
Sm. 1:19, Davi lamentando a morte de Saul e Jônatas, chama três

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

vezes:" Como caíram os valentes! ". Nesta lamentação Davi


NOTAS
descreve os "valentes" no inicio da vida ministerial como:
• Formosos ( ver Vs. 19 )
• Poderosos ( ver vs. 19 )
• Amados e queridos ( ver Vs. 23 )
• Mais ligeiros do que as águias ( ver Vs. 23 )
• Mais fortes do que leões ( ver Vs. 23 )

Muitos homens de Deus tem seu bom começo mas em


função do pecado secreto, da falta de operação do Senhor em seu
caráter, acabaram num fim trágico. Veja alguns exemplos:
Saul I Sm. 10 Espírito independente I Sm.31
Salomão II Cr. 1:7-17 Orgulho, cobiça, I Rs.11, valores
errados, auto-confiança.
Sansão Jz. 14:15-15 Luxúria, cedeu às suas Jz.16:20-27
emoções e sentimentos errados.

Todo líder precisa lembrar que o propósito dos tratamentos


de Deus é revelar seu coração para que ele não caia. Alguns
exemplos Bíblicos de homens que começaram bem e terminaram
em tragédias, por não entenderem os propósitos do tratamento de
Deus em suas vidas.

Propósito De Deus No Tratamento

Transformar o Crente à Imagem de Jesus Cristo Este


processo é relatado em II Cor. 3:18. " E todos nós com o rosto
desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor,
somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem,
como pelo Senhor, o Espírito ".
A palavra "transformar'' aqui, no Grego, " metamorphos", significa:
Mudança completa de um formato em outro. É a raiz da palavra
científica usada para descrever o processo de transformação de
uma lagarta em borboleta. Este processo leva tempo e gasta
energia. A lagarta muda de um formato para um outro
completamente diferente.
O cristão também precisa passar por uma metamorfose a cada dia.
O cristão que segue ao Senhor e responde positivamente tem mais
e mais, da sua natureza restaurada e transformada à imagem do
Senhor Jesus.

Limpar toda sujeira

Deus quer nos tornar puros. Ele está constantemente levando


seu povo ao fogo através dos seus tratamentos. Em todo o mundo,
está havendo muita pressão e calor sobre o povo de Deus. Este
calor está ordenado por Deus, para purgar seu povo. A palavra
"purgar" significa refinar, tornar puro, mudar pelo calor.
O povo de Deus, como o metal, é preparado para uso. Toda
a sujeira e sobras extras são trazidas à superfície para serem
lançadas fora. Escória é aquilo que é lançado fora, matéria que

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

dobra, a parte não aproveitável. Deus está nestes dias removendo


NOTAS
todo o excesso e escória dos seus líderes. Ele quer o
desenvolvimento do caráter em todos os seus líderes ( Is 1:22-25,
Ez. 22:18-19, Mt. 3:12, II Tm 2:21 ).

Deus quer limpar as nossas vestes

O pisoeiro era um artesão que limpava todas as fibras de um


pano, para que o material pudesse se tornar um lindo traje.
Freqüentemente, ele estabelecia seu negócio perto de riachos, e
depois de lavá-los várias vezes, os estendia sob pedras achatadas.
Depois ele batia os panos crus com um bastão de pisoeiro. Este
bastão era enorme e tinha dentes de ferro que serviam para extrair
sujeira dos panos. Conforme ele batia nos panos crus, todos os
fragmentos e sujeira subiam a superfície e a água os varria. Por
este processo, o material era limpo. Após a limpeza, o material
estava pronto para o artífice, para transformá-lo em um magnífico
traje. Malaquias 3:1-3 diz que Jesus é como "o fogo do ourives e
como a potassa dos lavandeiros..." e Ele sabe como nos bater sem
machucar. Deus tem um bastão que usa para extrair toda a sujeira
da vida dos cristãos. Deus não usa seu bastão simplesmente para
ostentar o poder, mas usa-o para limpar as vestes dos seus filhos.

Deus quer produzir frutos em nossas vidas

Em João 15 temos a parábola da vinha e dos ramos. O


agricultor que poda a vinha deverá, às vezes, usar a tesoura de
podar. Os galhos mortos devem ser cortados de maneira a não
extrair a seiva necessária dos galhos vivos. Os galhos que não dão
frutos são cortados. Mas as varas que dão frutos, são podadas para
dar mais frutos. Deus irá podar, purgar, refinar e cortar as varas que
dão frutos para produzirem mais frutos. O propósito de Deus é
sempre positivo e redentor. Aqueles que desejarem mais frutos
serão os mais podados.

O propósito do tratamento de Deus é preparar os vasos para


servi-lo

A partir do momento em que o vaso é formado do barro até o


momento em que é retirado do forno, ele e submetido a um
processo definido de formação. A aplicação das mãos do oleiro
sobre o vaso às vezes é dura e firme. A roda do oleiro, o forno, tanto
quanto as mãos do oleiro, são todas partes vitais na preparação do
vaso. O propósito de Deus nessa situação é ter o vaso para sua
honra - Jer. 17:1-10; II Tm 2:19-20.
As Escrituras indicam que Judas, o apóstolo caído, e traidor
de Jesus Cristo, enforcou-se no campo do oleiro ( Mt. 27:1-10 ).
Neste campo foi encontrado um vaso humano, rejeitado, corrompido
e mutilado, vaso para desonra, como tantos outros.
Faltou algo na preparação de Judas como líder. O propósito do
tratamento de Deus, na vida de Judas, tanto quanto na vida de

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

qualquer outro cristão que esteja sendo treinado para liderar, é


NOTAS
expor as falhas do vaso rapidamente, para que Ele possa tratar com
as falhas e curá-las e deste modo usar o vaso para honra. Deus
quer usar os vasos eficazmente para um propósito específico e não
destruí-los.

Deus quer trazer crescimento às nossas vidas

Em Is. 54:2 o profeta proclama: " amplia o espaço de tua


tenda ". Figuradamente isto pode significar que Deus quer ampliar a
capacidade daqueles que estão se preparando para liderar Sua
Casa, a fim de que recebam mais do Senhor. II Samuel 22:37
declara que o Senhor pode alargar os passos dos líderes. Is. 60:5
diz que o coração da pessoa pode ser dilatado a fim de que seu
"depósito espiritual " também aumente. O propósito do tratamento
de Deus é nos alargar de muitas maneiras. Deus deseja expandir o
nosso ministério e a nossa função na casa do Senhor, assim como
o nosso caráter.

Algumas áreas em nossas vidas onde podemos dizer que Deus


quer alargar:

• Nossa Visão - I Cr.4:10


• Nossos Passos - I Sm. 22:37
• Nossos Corações - Is. 60:5
• Nossas Fronteiras - Ex.34:24
• Nossa Força - I Sm. 2:1
• Nossa Habitação - Ez.41:7, Pv.24:3-4, Is. 54:2
• Nosso Ministério - II Co. 6:11 e 13,II Co. 10:15-16

Deus quer através do tratamento em nossas vidas, nos levar a


uma busca intensa da sua pessoa

O Senhor trará as pressões e o calor sobre os líderes em


períodos específicos, para motivá-lo a buscá-lo. A pressão não é
para desviá-los mas, para colocá-los na direção de Deus. Muitas
vezes, os tempos difíceis e as circunstâncias duras são mal
interpretadas pelo líder em preparação. Todos estes tratamentos
são para motivar o homem a se voltar para Deus como a sua única
força. Um líder deve aprender a buscar a Deus em tempos difíceis,
para que aprenda a ajudar outros a fazer o mesmo. Jesus aprendeu
pelo que sofreu. É a experiência que nos capacita a conduzir outros.

Deus quer mais do seu espírito fluindo em nossas vidas

As Escrituras retratam o vinho como indicativo do Espírito de


regozijo (Mt.9:17, At.2:13-16;Ef.5:18). O tempo da colheita era um
tempo de alegria para todo o povo. Após o longo período de espera,
era finalmente hora da colheita. Neste tempo, toda a família se
envolvia na sega.

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

As mulheres e as crianças colocavam nas cabeças as uvas


NOTAS
colhidas.Levavam estas uvas para grandes tonéis de pedras. Onde
pisadores aguardavam descalços as uvas a serem esmagadas. Os
pisadores então iniciavam o processo de andar por cima das uvas
maduras, apertando-as para a extração do suco. Enquanto o
pisador fazia isto ele se segurava na viga de madeira que estava
ligada ao mastro no centro do tonel. A maior parte do seu peso,
descansava nesta viga, de maneira a não pisar com demasiada
força sobre as uvas. Se ele pisasse forte demais sobre as uvas, ele
esmagaria a semente juntamente com a uva. Se isto acontecesse o
vinho se tornaria amargo, prestando somente para dar aos animais.
A aplicação é maravilhosa. Deus é o pisador das uvas que
somos nós. Ele deseja que o vinho do Seu Espírito flua das nossas
vidas e ministério. Ele nos aperta. Este é um processo duro,
doloroso, mas Deus nunca esmagará nossos espíritos ( a semente
da uva ) para não nos tornar amargos. Uma vida amarga não é boa
para ninguém. Deus não deseja líderes amargos. Ele quer que o
vinho novo e fresco do Seu Espírito flua através de nossas vidas.

Através dos tratamentos Deus quer nos dar nova visão

Em II Co. 4:16-18, Paulo enfoca esta realidade. Todas as


pressões, aflições e provas que vem sobre nós agora, são para
operar algo eterno. Não devemos olhar apenas para o presente,
analisando aquele momento. Precisamos encarar o futuro,
pensando no fruto eterno que será em nós, e através de nós, na
vida de outros. Dons são dados, mas o caráter é desenvolvido. O
caráter tem valor eterno, irá conosco para a Eternidade (ver I Co.
13:8 e 13).

Nossa Atitude Diante do Tratamento de Deus

Termos o caráter desenvolvido à semelhança do de Jesus


Cristo é muito mais importante do que as aflições que possamos
viver nesta vida. Suportando estas aflições no presente teremos o
caráter de Jesus Cristo sendo desenvolvido em nós.
Nossas atitudes ou reações diante das circunstâncias que Deus usa
para tratar conosco definem nossa aceitação do tratamento, ou não.
Algumas atitudes que devemos desenvolver quando passamos por
provas:

• Oração - ( ver Tg. 5:13 ).


• Contrição - ( ver I Pe.4:19 )
• Reflexão - ( ver Hb. 12:3 )
• Louvor - ( ver Sl. 74; 21).
• Suportar as Circunstâncias - ( ver Mt. 10:22 e Ico. 10:13)
• Gozo - ( Ver Mt. 5:12 e Rm. 5:3 ).
• Disposição para Mudança - ( ver II Sm. 12:13 ).

Resistir geralmente quer dizer "se segurar ou ser indiferente


durante os tratamentos".Em Jacó vemos uma atitude certa em

148
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

resposta aos tratamentos de Deus. Através das Escrituras Deus se


NOTAS
identifica com três homens. Muitas vezes Deus disse: " Eu sou o
Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó ". Sendo o Deus de Abraão,
nos fala que é um Deus que guarda o concerto. Sendo o Deus de
Isaque fala do Deus dos milagres. Mas, quando a Escritura
proclama que Ele é o Deus de Jacó, fala de Deus como sendo Deus
da mudanças, pois mudou o nome de Jacó, e a sua natureza de
suplantador, para Israel.

Diante do tratamento de Deus podemos ter duas atitudes:


Podemos ter a atitude de Cristo que se humilhou e cedeu e
foi à cruz ou ainda a atitude da serpente. Esta é arrogante e se
defende em tudo e acaba por se rebelar contra Deus. Estas duas
atitudes se contradizem. Alguns líderes aprenderam a responder a
Deus como Cristo outros como uma serpente. E você? Reage aos
tratamentos de Deus como um verme ou como uma serpente?

Nossa Atitude Como Resposta

Devemos aceitar o tratamento de Deus em nossa vida,


crendo que " Todas as coisas cooperam para o nosso bem ",
visando um fiel proveito: O aperfeiçoamento ( maturidade ) do nosso
caráter.
Todos aqueles poderosos homens de Deus iniciaram seus
ministérios com o esplendor do sucesso e terminaram derrotados.
Possuíam qualidades positivas no início de suas vidas e ministérios.
Por exemplo: humildade, sabedoria, fé, conhecimento, unção,
coração pronto para Deus. Apesar de todas as qualidades sólidas e
fortes que porventura possuamos devemos ter sensibilidade e
obediência ao Senhor, inclusive durante os tratamentos em nossas
vidas.

Os tratamentos de Deus

O Deserto e As Circunstâncias

Todos os grandes nomes mencionados na Bíblia, foram de


homens que antes de realizarem qualquer coisa relacionada ao seu
ministério, passaram pelo deserto. Foram colocados à prova, sob
forte pressão, pois o alvo de Deus era formar um " CARÁTER "
solidificado. Muitos foram levados "Literalmente" ao deserto, outros
passaram por provas dificílimas. Alguns fizeram do deserto sua
própria casa, outros não aceitaram esse tratamento. Não há na
Bíblia nenhum homem que teve um Ministério próspero e
reconhecido sem ter passado pelo deserto, e todos que tentaram
assumir posições, sem a devida formação foram lançados por terra.
O alvo de Deus para nossas vidas é que sejamos completamente
aprovados em nossas atitudes, nas motivações do nosso coração,
que sejamos a expressão de Cristo para as pessoas no seu
quebrantamento, amor e brandura. O poder de Deus expressa
sempre Sua Grandeza e Glória, por outro lado o caráter de Cristo

149
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

em nós revela Sua pessoa. Deus não tem como meta apenas
NOTAS
revelar Sua Grandeza, Ele quer revelar-se. Mas como homens
duros, obstinados, arrogantes e cheios de si podem chegar a essa
posição de expressarem Cristo? Através dos tratamentos de Deus.
Dentre estes os mais eficientes são o Deserto e as Circunstâncias.

O Que é o Deserto?

O deserto aponta para uma fase em nossas vidas


determinada por Deus para nos amadurecer e aprofundar no
relacionamento com Ele. É um tempo difícil para a carne e para o
Ego, pois normalmente o deserto vem para golpeá-los.
A Bíblia diz que Deus é Pai, que nos ama e zela de nós com
grande cuidado. Quando estamos no deserto, normalmente nos
entristecemos achando que Deus não nos ama, não nos ouve e que
nos rejeitou. Mas é exatamente o contrário! Nunca gostamos do
deserto porque somos infantis no conhecimento de Deus. Tal como
as crianças, nós gostamos do que é agradável mas detestamos o
que nos causa desprazer. Deus não tem compromisso em nos ser
agradável. Ele tem a decisão de fazer o que é melhor. Muitas vezes
o que fazemos não agrada nossos filhos, mas não nos perturbamos.
Sabemos que o que fazemos é o necessário. É o melhor. É com
essa ótica que Deus nos envia ao deserto.

Deserto é Tempo de Pressão

Só somos totalmente conhecidos quando colocados sob


pressão. E esta pressão vem, primeiro para que se torne conhecido
o que realmente somos. Nós achamos que nos conhecemos bem.
Que engano!
Nesse processo de nos conhecermos, a auto-análise e a
introspecção só atrapalham pois as suas cogitações vem da mente
com conceitos totalmente deturpados. Fora da luz e revelação do
Espírito Santo nenhum conceito sobre nós mesmos é digno de
crédito. A auto-análise gera orgulho ou sentimentos de inferioridade,
é carnal e altamente nociva. O deserto traz essa pressão a fim de
que se manifeste o que somos para as pessoas. Há muitos irmãos
que em condições normais gastam imensa energia da alma para
manterem firmes suas máscaras de espiritualidade, paciência,
brandura, pureza e profundidade no conhecimento de Deus. Estão
todo o tempo se policiando a fim de vender uma imagem que não
corresponde à sua realidade. Entretanto, quando as pressões do
deserto vem, tudo desmorona. O que somos, somos. O que
fingimos ser, cai às vistas de todos. Toda a nossa carnalidade fica
exposta. O deserto nos capacita a suportar pressões. Não é
possível Deus confiar nada a nós antes de passarmos pelo deserto.
Esta fase em nossas vidas visa transformar pessoas fracas e
vacilantes em pessoas fortes e corajosas. Antes de passarmos por
esse tempo, quando as pressões do diabo, do sofrimento e do
conflito vinham, nossa tendência era jogar tudo para cima,
assentarmos sobre uma pedra e chorarmos clamando pela nossa

150
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

mãe. Não éramos confiáveis. O deserto nos torna rijos, destemidos


NOTAS
e calejados para as pressões. De tempos em tempos nossa
capacidade de suportar pressões vai aumentando, ao mesmo tempo
que aumenta a unção, as responsabilidades e o reconhecimento
dos homens.
Sem passarmos pelo deserto tomaríamos para nós toda a
glória que pertence a Deus. Não éramos confiáveis. Quando sob a
menor pressão, tornávamos incrédulos, murmurávamos, e
abandonávamos tudo. Após o deserto as coisas mudam.

Deserto é Lugar de Solidão

Por muitas vezes, quando mais desejei a presença de


amigos, pastores e discípulos não as tive. Estava no deserto. Muitas
vezes desejei a intimidade de grandes homens de Deus, mas em
todas estas ocasiões fui frustrado por Deus. Eu depositava grandes
expectativas na vida de alguns notáveis homens de Deus, mas o
Senhor nunca permitiu que estas expectativas se cumprissem: Deus
queria que dependesse exclusivamente dEle, não do homem.
Temos toda essa tendência, sincera, de buscar a Deus através de
homens e mulheres que já alcançaram grande intimidade com Ele.
Não queremos passar pelo processo do deserto. Desejamos achar
nas pessoas o que Deus quer nos dar de sua própria presença. O
deserto vem para nos decepcionar com toda expectativa e
esperança colocada no homem. Isso não é negativo, é muito bom
para nós. Passamos a ter como única alternativa o Senhor. Chega
um tempo em que já esperamos tanto do homem sem nada receber
que nos desiludimos. Abandonamos aquela idéia infantil do "grande
homem de Deus que virá de não sei de onde, vai impor as mãos
não sei de que jeito eliminando todos os problemas e transformando
a vida num mar de rosas".Na solidão do deserto parece que não há
mais ninguém com quem podemos contar. Todas as pessoas se
tornam distantes, impessoais e parecem não nos compreender. Isso
é obra de Deus. Ele quer se tornar o nosso amigo mais íntimo,
nosso companheiro de todas as horas, o ombro amado onde
choramos as nossas tristezas. Ele se torna no deserto a única
pessoa a quem podemos recorrer. Ao sairmos do deserto perdemos
as amizades naturais, os heróis humanos, os parentes mais
queridos e ganhamos a Deus. Bendita perda; bendito ganho!

O Deserto é Lugar do Esgotamento da Alma

No deserto não tem água, não tem vida, não tem descanso.
Só calor e exaustão. Nossas energias naturais vão se esgotando
pouco a pouco até não haver mais nenhuma força, nenhum ânimo,
nenhum entusiasmo. O tempo do deserto é tempo sem sabor, sem
cor, sem novidade, sem sentimento. Deus retira todos os estímulos
naturais que nos animavam no natural. O alvo de Deus é nos livrar
da dependência da nossa vida natural e nos capacitar a depender
inteiramente do Seu Espírito. Enquanto temos estímulos de todas as
formas, não precisamos depender de Deus. Fazemos tudo no

151
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

entusiasmo da alma. O alvo de Deus com esse tempo é retirar os


NOTAS
estímulos a fim de andarmos nas nossas próprias forças e nos
exaurirmos completamente.
Quantos homens e mulheres de Deus passam por períodos
de estafa. O que caracteriza esse esgotamento é a exaustão de
todas as energias da alma. Às vezes até oramos por tais irmãos
para que Deus os restabeleça. Tal oração é contrária à vontade de
Deus. Aliás, Deus mesmo vai cooperar para que a estafa, o
esgotamento mais completo venha o mais depressa possível. Se
andamos baseados em nossa vida natural, não estamos andando
por fé e nem no Espírito. Chame como quiser mas a Bíblia diz que
isso é andar na carne. Precisamos saber que andar na carne não é
só cometer pecados grosseiros e manifestar aqueles frutos horríveis
mencionados em Gálatas 5. Andar na carne é não depender de
Deus, é depender de sua vida natural, de seu Ego. O deserto pois,
vem para nos acabar. Vem para destruir toda auto-confiança.
Moisés antes do deserto desejava uma revelação e em seu
afã matou com as mãos um egípcio. Parecia que a promessa de
libertação da nação dependia exclusivamente dele. Após os 40 anos
no deserto ele disse ao Senhor: "tu deves estar enganado, nem ao
menos sei falar." Segundo a Bíblia Moisés se tornou o homem mais
manso de toda a terra. Bendito deserto!

No Deserto Deus se Mostra Como Luz.

Podemos experimentar a presença de Deus sobre nós como


deleite e como luz. Como é bom adorarmos o Senhor e sentirmos
Sua maravilhosa presença. Não há na terra nada tão aprazível. Mas
a Bíblia diz que Deus também se manifesta como luz:"Na tua luz
vemos a luz"; "Ele é o sol da justiça " e "Nele estava a vida e a vida
era a luz dos homens".No deserto a poderosa presença de Deus se
manifesta como uma forte e vigorosa luz que penetra nas regiões
mais profundas e interiores de nosso ser. Sob a luz de Deus vamos
conhecendo a Ele na Sua glória, por outro lado nos conhecendo em
nossa miséria também. Que grande contraste há entre o Deus
eterno e o eu finito; entre a Grandeza de Deus e a minha
insignificância;entre o Deus Santo e o eu pecador. No Deserto
conhecemos a face de Deus, ao mesmo tempo que nos
conhecemos. Esse contraste entre a Glória e a miséria é que nos
torna verdadeiramente humildes.Ao sairmos do deserto, saímos
convencidos de que não há em nós mesmos nada útil para Deus,
nada próprio para Deus, nada próprio para o Reino. Sabemos que
somos totalmente desqualificados e vis. Moisés e Paulo eram tão
cultos, tão capazes, tão arrogantes, tão independentes de Deus, tão
seguros de si mesmos, tão inteligentes, tão auto-confiantes... Após
o deserto o primeiro disse: "não sei falar"e o segundo disse:"não
habita em mim bem nenhum; sou o maior pecador". Há muitos
irmãos que afirmam conhecer a Deus, nas suas atitudes depõem o
contrário. Quão incoerente é afirmarmos conhecer a Deus e sermos
ao mesmo tempo orgulhosos, jactanciosos e arrogantes. A
verdadeira maturidade não faz propaganda do seu próprio nome,

152
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

não edifica um monumento a si mesmo e nem se julga competente.


NOTAS
Quanto mais conheço a Deus, mais me conheço.

Nossa Maleabilidade Determina a Duração e a Intensidade do


Deserto.

Deus espera sempre uma atitude responsiva no deserto. Mas


o que é ter uma atitude responsiva? É sermos maleáveis, é não nos
endurecermos ante aquilo que Deus vem golpeando. É tão triste ver
crentes sendo tratados por Deus e que, ao invés de se humilharem
fortalecem as antigas posições. Muitas vezes corremos esse risco
de não sermos sensíveis e não percebermos que aquilo de negativo
que está acontecendo é Deus desejando nos falar e nos mudar.
Sofremos em nossa reputação e nos defendemos, somos criticados
e criticamos; somos agredidos e agredimos. Sofremos prejuízo e
logo inventamos um modo de passar o prejuízo para outro. Quando
injustiçados vamos à desforra. Reivindicamos, exigimos,
desprezamos e usamos da nossa força humana para estabelecer
nossa própria vontade. Não percebemos que ao impormos estamos
fora do padrão do caráter de Cristo e nos endurecemos contra os
tratamentos de Deus, pois justamente aquilo que mais nos
incomodou era a mão de Deus nos tratando. Aquele chefe no
trabalho, aquele líder na Igreja, aquela pessoa que mais nos
incomoda, aquele a quem mais é difícil de se submeter, amar e
aceitar é justamente quem está mais sendo usado por Deus para
nos aperfeiçoar. Ceda! Seja maleável, mude, responda a Deus. A
mão bendita do oleiro se revela muitas vezes justamente na
situação que você mais detesta.
Quanto mais resistirmos em nossa obstinação e dureza mais tempo
passamos no deserto. E quanto mais o tempo passa mais duro vai
se tornando o deserto. Deus nos envia ao deserto para nos levar à
semelhança de Cristo, entretanto algumas pessoas são tão duras,
empedernidas e obstinadas que acabam morrendo no deserto. Vida
cristã é coisa séria. Que seria morrer no deserto? É viver a vida
inteira resistindo a Deus e sendo resistido por Ele. Não se usufrui de
sua graça, de sua bênção, do seu descanso e da sua vida. Nada na
vida dos tais funciona. Tornam-se pessoas amargas, críticas.
Acham tudo muito falho. Estão sempre cheias de auto-piedade, de
cobranças aos pais aos amigos e aos líderes na igreja. O mundo
todo está errado, o mundo todo é alvo de suas fortes críticas. Ao
agirem assim estão aprofundando o sofrimento, tornando as crises
mais agudas e aumentando a fase do deserto. Moisés passou 40
longos anos no deserto para que Deus pudesse usá-lo, para que a
face do Senhor pudesse ser vista por ele. Deus não tem prazer no
deserto. Ele tem prazer em nossa resposta. Há pessoas que falam
do seu deserto como se fosse uma grande vantagem. Quão
ignorantes são! Estão dando testemunho de sua grande dureza.
Não devemos endurecer-nos, pelo contrário devemos amar a
disciplina do Senhor cedendo rapidamente e mudando de coração e
de atitudes. Na escola de Deus não se pode pular de cartilha. Se
somos reprovados, nalgum tempo depois passaremos pelo mesmo

153
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

teste. Isso se repetirá até darmos a Deus a resposta de


NOTAS
quebrantamento e mudança que Ele espera de nós.

As Circunstâncias de Tratamento

Além do deserto, que poderíamos chamar de fases nas quais


passamos uma ou mais vezes, Deus nos cria circunstâncias para
nos aperfeiçoar. Essas circunstâncias certamente virão para tratar-
nos nas áreas onde somos mais difíceis. Por exemplo: se o nosso
coração é extremamente apegado a bens materiais Deus nos dará
prejuízo, frustração após frustração. Se somos daquele tipo tímido
que pouco liga para as coisas de Deus mas que é grandemente
preocupado com a opinião das pessoas a seu respeito e com sua
reputação, este irmão vai sofrer vexame após vexame até sua
reputação ir para o brejo. Se é do tipo que ama os primeiros
lugares, lhe será reservado sempre aquele lugar desprestigiado e
ignorado. Se cobra o amor das pessoas, jamais o receberá. Isso se
perpetuará até ceder a Deus tendo seu coração completamente
nEle, até que se disponha ao invés de cobrar , dar amor, atenção, e
respeito negando-se a si mesmo completamente.

O QUEBRANTAMENTO

Qualquer pessoa que serve a Deus descobrirá, mais cedo ou


mais tarde, que o grande impedimento para a sua obra não são
outras pessoas mas, sim, ela mesma. Descobrirá que sua alma e
seu espírito não estão em harmonia, pois os dois tendem para
direções opostas. Sentirá também, a incapacidade de sua alma
submeter-se ao controle do espírito, tornando-a, assim, incapaz de
obedecer aos mandamentos mais sublimes de Deus. Perceberá
rapidamente que a maior dificuldade acha-se na sua alma, pois esta
o impede de fazer uso do seu espírito.Muitos dos servos de Deus
nem sequer conseguem fazer as obras mais elementares.
Normalmente, devem ser capacitados pelo exercício do seu espírito
a conhecer a Palavra de Deus, a discernir a condição espiritual de
outra pessoa, entregar as mensagens de Deus com unção e
receber as revelações de Deus. Mesmo assim, devido às distrações
da alma parece que seu espírito não funciona apropriadamente. É
basicamente porque a alma nunca foi tratada. Por esta razão, o
reavivamento, o zelo, o muito implorar e o ativismo não passam de
um desperdício de tempo. Conforme veremos, há apenas um só
tratamento que pode capacitar o homem a ser útil diante de Deus: o
quebrantamento.

O Homem Interior e o Homem Exterior

Note como a Bíblia divide o homem em duas partes: "


Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus "
(Rm 7:22). Nosso homem interior deleita-se na lei de Deus. “... que
sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem

154
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

interior" (Ef. 3:16). E Paulo também nos informa: " Mesmo que o
NOTAS
nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem
interior se renova de dia em dia" (2 Co 4:16).
Quando Deus vem habitar em nós mediante o Seu Espírito, a
Sua vida e o Seu poder, entra em nosso espírito, é o que
chamamos de" homem interior. " Fora deste homem interior há a
alma, na qual funciona nossos pensamentos nossas emoções e
nossa vontade. O homem periférico é nosso corpo físico. Assim,
falaremos do homem interior como sendo o espírito, do homem
exterior como sendo a alma, e do homem periférico sendo o corpo,
Nunca devemos nos esquecer de que nosso homem interior é o
espírito humano onde Deus habita, onde Seu Espírito se combina
com nosso espírito. Assim como nós vestimos roupas, assim
também nosso homem interior "veste" um homem exterior: o espírito
"veste" a alma. E, de modo semelhante, o espírito e a alma
"vestem" o corpo. Está bem evidente que o homem geralmente está
mais consciente do homem exterior e do periférico, e dificilmente
reconhece ou entende seu espírito.
Devemos saber que aquele que pode trabalhar para Deus, é
aquele cujo homem interior pode ser liberado. A dificuldade básica
de um servo de Deus acha-se no fracasso do homem interior de
irromper pelo homem exterior. Logo, devemos reconhecer diante de
Deus que a primeira dificuldade que enfrentamos na obra não está
nos outros mas, sim em nós mesmos. Nosso espírito parece estar
embrulhado num invólucro de modo que não pode facilmente
irromper de lá. Se nunca aprendemos como liberar nosso homem
interior por meio de irromper pelo homem exterior, não temos
capacidade de servir. Nada pode obstacular-nos tanto quanto este
homem exterior. Se nossas obras são frutíferas ou não, depende se
nosso homem exterior foi quebrantado pelo Senhor de modo que o
homem interior possa passar e se manifestar. Este é o problema
básico. O Senhor deseja quebrar nosso homem exterior a fim de
que o homem interior possa ter uma via de saída. Quando o homem
interior for liberado, tanto os descrentes quanto os cristãos serão
abençoados.

A Natureza Tem Sua Maneira de Quebrar

O Senhor Jesus conta-nos em João 12:24 "Se o grão de


trigo, caindo na terra, morrer, produz muito fruto." A vida está no
grão de trigo, mas há uma casca, uma casca muito dura, do lado de
fora. Enquanto aquela casca não for rachada e aberta, o trigo não
pode brotar nem crescer. "Se o grão de trigo, caindo na terra, não
morrer..." Que morte é essa? É o arrombar da casca mediante a
cooperação da temperatura e a umidade no solo. Uma vez que a
casca é fendida e aberta, o trigo começa a crescer. Então, a
questão aqui não é se há vida dentro, mas, sim, se a casca externa
foi rachada.
A Escritura continua, dizendo: "Quem ama sua vida (Grego,
alma) perde-a; mas aquele que odeia a sua vida (Grego, alma)
neste mundo, preserva-la-á para a vida eterna" (v.25). O Senhor

155
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

nos mostra aqui que a casca externa é nossa própria vida (a vida da
NOTAS
nossa alma), ao passo que a vida interior é a vida eterna que Ele
nos deu. Para permitir que a vida interior se manifeste, é imperativo
que a vida exterior seja rompida. Se o exterior permanecer intacto, o
interior nunca poderá aparecer.
Dirijamos estas palavras para aquele grupo de pessoas que
possui a vida do Senhor. Pode ser achada duas condições distintas:
uma inclui aqueles em que a vida é confinada, restringida,
aprisionada e incapaz de se manifestar; a outra inclui aqueles em
que o Senhor forjou um caminho, e a vida deles, portanto, é
liberada.
A pergunta, pois, não é como obter a vida, mas, sim, como permitir
que esta vida apareça. Quando dizemos que temos necessidade de
que o Senhor nos quebrante, não é meramente um modo de falar,
nem é apenas uma doutrina. É vital que sejamos quebrantados pelo
Senhor. Não que a vida do Senhor não possa cobrir a terra, mas,
sim, que Sua vida está sendo aprisionada por nós. Não que o
Senhor não possa abençoar a igreja, mas, sim, que a vida do
Senhor está tão confinada dentro de nós que não se manifesta. Se
o homem exterior permanecer intacto, nunca poderemos ser uma
bênção para a Sua igreja, e não podemos esperar que a palavra de
Deus seja abençoada através de nós!

O Vaso de Alabastro Deve Ser Quebrado

A Bíblia conta acerca do Nardo puro. Deus, deliberadamente


usou este termo "puro" na Sua palavra para mostrar que é
verdadeiramente espiritual. Mas se o vaso de alabastro não for
quebrado, o Nardo puro não fluirá. Por estranho que pareça, muitos
ainda estão valorizando demasiadamente o vaso de alabastro,
pensando que seu valor excede o do ungüento. Muitos pensam que
seu homem exterior é mais precioso do que seu homem interior.
Este fica sendo o problema na igreja. Uma pessoa tem em grande
estima sua habilidade, pensando que é bem importante; outra
valoriza suas próprias emoções, e se estima como uma pessoa
muito espiritual; outra têm alta consideração por si mesmas, e
sentem que são melhores que outros, que sua eloqüência
ultrapassa a das demais, que sua rapidez de ação e exatidão de
julgamento são superiores, e assim por diante. Nós, porém, não
somos colecionadores de antiguidades; somos aqueles que
desejamos cheirar somente a fragrância do ungüento. Sem quebrar
o exterior, o interior não surgirá. Deste modo, individualmente não
temos qualquer fluir, como também a igreja não tem um caminho
vivo. Por que, pois, devemos considerar-nos tão preciosos, se
nosso interior retém a fragrância, ao invés de liberá-la?

O Espírito Santo não cessou de operar. Um evento após outro, uma


coisa após outra vem a nós. Cada operação disciplinar tem um só
propósito: quebrar nosso homem exterior a fim de que nosso
homem interior possa se manifestar. Aqui porém, está nossa
dificuldade: ficamos impacientes por causa de ninharias,

156
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

murmuramos diante de perdas de pequena monta. O Senhor está


NOTAS
preparando um modo de usar-nos, mas, mal Sua mão nos tocou,
sentimo-nos infelizes, até ao ponto de contendermos com Deus e de
nos tornarmos negativos em nossas atitudes. Desde que fomos
salvos, fomos tocados várias vezes e de várias maneiras pelo
Senhor, e tudo com o propósito de quebrar nosso homem exterior.
Quer tenhamos consciência disto, quer não, o alvo do Senhor é
quebrar este homem exterior.
Desta maneira, o Tesouro está no vaso de barro, mas se o vaso de
barro não for quebrado, quem poderá ver o Tesouro que está
dentro? Qual é o objetivo final da operação do Senhor em nossas
vidas? É quebrar este vaso de barro, é quebrar nosso vaso de
alabastro, é arrombar nossa casca. O Senhor anseia por achar um
meio de abençoar o mundo através daqueles que pertencem a Ele.
O quebrantamento é o caminho da bênção, o caminho da
fragrância, o caminho da frutificação, mas também é um caminho
salpicado de sangue. Sim, há sangue de muitas feridas. Quando
nos oferecemos ao Senhor para fazer a Sua obra não podemos nos
dar ao luxo da morosidade, de nos pouparmos. Devemos deixar que
o Senhor rache totalmente nosso homem exterior, de modo que Ele
possa achar um caminho para Suas operações.
Cada um de nós deve descobrir para si mesmo qual é a mente do
Senhor para sua vida. É um fato muitíssimo lamentável, que muitos
não sabem qual é a mente ou intenção do Senhor para suas vidas.
Precisam de que Ele abra os seus olhos, para ver que tudo quanto
entra nas suas vidas pode ter significado. Entender o propósito do
Senhor é ver muito claramente que Ele visa um único objetivo: o
quebrantamento do homem exterior.
Muitas pessoas, no entanto, antes mesmo que o Senhor erga
Sua mão, já estão aflitas. Oh! devemos reconhecer que todas as
experiências, problemas e provações que o Senhor nos envia são
para nosso bem supremo. Não podemos esperar que o Senhor nos
dê coisas melhores, pois estas são as melhores. Se alguém se
aproximasse do Senhor, e orasse, dizendo: "Oh Senhor, por favor,
deixa-me escolher o melhor." Creio que Ele lhe diria: "Aquilo que Eu
te dei é o melhor; tuas provações diárias são para teu máximo
proveito." Assim, o motivo por detrás de toda a providência de Deus
é quebrantar nosso homem exterior. Uma vez que isto ocorre e o
espírito pode fluir, então, começamos a exercitá-lo.

O Tempo do Nosso Quebrantamento

O Senhor emprega dois meios diferentes para quebrar nosso


homem exterior: um é paulatino, o outro é repentino. Para alguns, o
Senhor dá um quebrantamento súbito seguido por um paulatino.
Com outros, o Senhor dispõe para que tenham provações diárias
constantes, até que, um dia, leva a efeito um quebrantamento em
grande escala. Se não for o repentino primeiro, e depois o paulatino,
então, é o paulatino seguido pelo repentino. Parece que o Senhor
normalmente trabalha conosco durante vários anos antes de poder
realizar esta obra de quebrantamento.

157
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

A cronologia está na mão dEle. Não podemos encurtar o


NOTAS
tempo, embora certamente o possamos prolongar. Em algumas
vidas, o Senhor pode realizar esta obra depois de uns poucos anos
de trato; noutras, é evidente que depois de dez ou vinte anos a obra
ainda está incompleta. Isto é muito sério! Nada é mais lastimável do
que desperdiçar o tempo de Deus. Quão freqüentemente a igreja é
atrapalhada! Podemos pregar com o uso da nossa mente, podemos
comover os outros com o uso das nossas emoções; mas se não
sabemos usar nosso espírito, o Espírito de Deus não poderá tocar
as pessoas através de nós. A perda será grande, se prolongarmos
desnecessariamente o tempo.
Logo, se nunca antes nos consagramos de modo total e inteligente
ao Senhor, façamo-lo agora, dizendo: "Senhor, para o futuro da
igreja, para o evangelho, para o Teu caminho, e também para minha
própria vida, ofereço-me sem condições, sem reservas, nas Tuas
mãos. Senhor, deleito-me em oferecer-me a Ti e estou disposto a
deixar-Te fazer toda a Tua vontade através de mim."

O Significado da Cruz

Ouvimos falar freqüentemente acerca da cruz. Talvez


estejamos por demais familiarizados com o termo. Mas o que é a
cruz afinal das contas? Quando realmente compreendermos a cruz,
veremos que significa o quebrantamento do homem exterior. A cruz
reduz o homem exterior à morte; racha a casca humana e a abre. A
cruz deve quebrar tudo quanto pertence ao nosso homem exterior:
nossas opiniões, nossos modos, nossa habilidade, nosso amor-
próprio, nosso tudo.
Tão logo que nosso homem exterior é destruído, nosso espírito
pode sair facilmente para fora. Considere certo irmão, como
exemplo. Todos quantos o conhecem reconhecem que tem uma
mente aguçada, uma vontade dinâmica, e profundas emoções. Mas,
ao invés de ficarem impressionadas por estas características
naturais da sua alma, impressionam com a facilidade de tocar em
seu espírito. Sempre que as pessoas estão tendo comunhão com
ele, encontram um espírito, em espírito limpo. Por que? Porque tudo
quanto é da sua alma foi transformado.
Esta transformação do homem exterior é uma questão fundamental.
Devemos deixar o Senhor forjar um caminho em nossas vidas.

Duas Razões para Não Ser Quebrantado

Por que é que, depois de muitos anos de trato, algumas


pessoas permanecem inalteradas? Alguns indivíduos tem uma
vontade forte; alguns tem emoções fortes; e outros tem uma mente
forte. O Senhor pode quebrantá-los e há duas razões principais para
isto acontecer. A primeira é que muitos que vivem nas trevas não
estão vendo a mão de Deus. Enquanto Deus está operando,
enquanto está destruindo, não reconhecem que o tratamento vem
da parte dele. Estão destituídos de luz, e, somente vêem homens
que se opõem a eles. Imaginam que o meio-ambiente é realmente

158
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

difícil, que as circunstâncias são as culpadas.Não entendem que


NOTAS
não é mão humana e nem mão de família nem de irmãos e irmãs na
igreja, mas, sim, a de Deus. Assim, continuam nas trevas e no
desespero, perdendo oportunidades de serem quebrantados pelo
Senhor.
A segunda razão, outro grande impedimento à obra de quebrantar
o homem exterior é o amor-próprio. Devemos pedir que Deus
remova nosso o coração do amor-próprio. A medida em que Ele lida
conosco em resposta à nossa oração, devemos adorar e dizer: "Ó
Senhor, se isto for da Tua mão, que eu o aceite no meu coração."
Lembremo-nos de que a única razão para todo mal entendido, toda
a irritação, todo descontentamento, é que secretamente amamos a
nós mesmos. Assim, planejamos um modo mediante o qual
podemos livrar a nós mesmos. Muitas vezes, os problemas surgem
porque procuramos uma via de escape, uma fuga da operação da
cruz. Não tente escapar da cruz pois assim só adiará o tempo de
Deus na sua vida. Deixe Deus operar até que atinja Seu propósito,
que não é outro senão que Sua vida seja vivida através de ti.

As Feridas Virão Inevitavelmente.

Ninguém é mais belo do que alguém que está quebrantado! A


teimosia e o amor-próprio cedem lugar à beleza na pessoa que foi
quebrantada por Deus. Vemos Jacó no Antigo Testamento, mesmo
no ventre da sua mãe, lutava com seu irmão. Era sutil, enganoso,
traiçoeiro. Por isso, sua vida estava cheia de tristezas e mágoas.
Ainda jovem, fugiu do seu lar. Durante vinte anos foi logrado por
Labão. A esposa do amor de seu coração, Raquel, morreu
prematuramente. O filho do seu amor, José, foi vendido. Anos mais
tarde, Benjamin foi preso no Egito. Deus tratou com ele
sucessivamente, e Jacó encontrou infortúnio após infortúnio.
Finalmente, depois de muitos tratamentos deste tipo, o homem Jacó
foi transformado. Durante seus últimos anos, era bem transparente.
Quão nobre foi sua resposta a Faraó! Quão belo foi seu fim, quando
adorou a Deus, apoiado no seu bordão! Quão claras eram suas
bênçãos pronunciadas sobre seus descendentes! Depois de ler a
última página da sua história, queremos curvar a cabeça e adorar a
Deus. Aqui temos alguém que está amadurecido, que conhece a
Deus. Várias décadas de tratos tiveram como resultado que o
homem exterior de Jacó foi quebrantado. Na sua velhice, o quadro é
belo.
Cada um de nós tem boa parte da mesma natureza de Jacó
em nós. Nossa única esperança é que o Senhor marque um
caminho para fora, quebrando o homem exterior de tal maneira que
o homem interior possa surgir e se visto; isto é precioso, e é o
caminho daqueles que servem ao Senhor. Somente assim podemos
servir; somente assim podemos levar os homens ao Senhor. Tudo o
mais está limitado quanto ao seu valor. Somente a pessoa através
de quem Deus pode aparecer, é útil.
Depois de nosso homem exterior ter sido ferido, tratado, e
levado por várias provas, deixamos o espírito emergir. É triste

159
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

encontrar alguns irmãos e irmãs cujo ser total permanece intacto,


NOTAS
nunca tendo sido tratado e transformado.
Que Deus tenha misericórdia de nós, mostrando-nos claramente
este caminho, e revelando-nos que é o único caminho. Que
ninguém menospreze os tratos do Senhor. Que Ele nos revele
verdadeiramente o que significa o quebrantamento do homem
exterior. Se o homem exterior permanecesse integral, tudo seria
meramente mente, totalmente inútil. Tenhamos esperança de que o
Senhor venha a tratar de nós de modo completo.

Como Nós Somos Antes do Quebrantamento

O quebrantamento da alma é a experiência de todos aqueles


que servem a Deus. Deve acontecer antes que Ele possa nos usar
de modo eficaz. Quando alguém está trabalhando para Deus, duas
possibilidades podem surgir. Primeiramente, é possível que, com o
homem exterior intacto, o espírito da pessoa seja inerte e incapaz
de funcionar. Se for uma pessoa habilidosa, sua mente governa seu
trabalho; se for uma pessoa compassiva, as emoções controlam
suas ações. Tal trabalho pode parecer bem sucedido, mas não pode
trazer as pessoas a Deus. Em segundo lugar, o espírito pode
aparecer revestido dos pensamentos ou das emoções da própria
pessoa. O resultado é misturado e impuro. Tal obra trará os homens
para uma experiência mista e impura. Estas duas condições
enfraquecem nosso serviço a Deus.
Se desejamos trabalhar de modo eficaz devemos reconhecer
que, basicamente, " é o Espírito que vivifica." Mais cedo ou mais
tarde - se não no primeiro dia da nossa salvação, talvez dez anos
mais tarde - devemos reconhecer este fato. Muitos têm de ser
trazidos ao fim da sua sabedoria e ver o vazio da sua labuta antes
de saberem quão inúteis são seus muitos pensamentos, suas
variadas emoções. Não importa quantas pessoas você pode atrair
com seus pensamentos ou emoções, o resultado vem a ser nada.
Finalmente devemos confessar: " É o Espírito que vivifica." Somente
o Espírito faz as pessoas viverem. O homem pode ser trazido para a
vida somente pelo Espírito. Muitas pessoas que servem ao Senhor
chegam a enxergar este fato somente depois de passarem por
muita tristeza e muitos fracassos. Finalmente, a palavra do Senhor
passa a ter significado para elas: aquilo que vivifica é o Espírito.
Quando o espírito é liberado, os pecadores podem nascer de novo e
os santos podem ser estabelecidos. Quando a vida é comunicada
através do canal do espírito, aqueles que a recebem nascem de
novo. Quando a vida é fornecida através do espírito para os crentes,
resulta em serem estabelecidos. Sem o Espírito, não pode haver
novo nascimento, nem estabelecimento.
Uma coisa notável é que Deus não quer fazer distinção entre
o Seu Espírito e o nosso espírito. Há muitos lugares na Bíblia onde
é impossível determinar se a palavra " espírito" indica nosso espírito
humano ou o Espírito de Deus. Os tradutores bíblicos, desde Lutero
até os estudiosos da atualidade que labutaram nas versões, não
conseguiram resolver se a palavra " espírito”, usada em muitos

160
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

lugares no Novo Testamento, se refere ao espírito humano ou ao


NOTAS
Espírito de Deus.
Da Bíblia inteira, Romanos 8 é muito provavelmente o
capítulo em que a palavra " espírito" é empregada mais
freqüentemente. Quem pode discernir quantas vezes a palavra
"espírito" neste capítulo se refere ao espírito humano e quantas
vezes ao Espírito de Deus? Em várias versões existentes, a palavra
" pneuma" (espírito) às vezes é escrita com uma letra maiúscula;
noutras ocasiões, com uma letra minúscula. É simplesmente
impossível distinguir. Quando, na regeneração, recebemos nosso
novo espírito, recebemos o Espírito de Deus, também. No momento
em que nosso espírito humano é ressuscitado do estado da morte,
recebemos o Espírito Santo. Freqüentemente dizemos que o
Espírito Santo habita em nosso espírito, mas achamos difícil
discernir qual é o Espírito Santo e qual é o nosso próprio espírito. O
Espírito Santo e nosso espírito se combinam tanto, que embora
cada um seja individual, não são facilmente distinguidos.
Deste modo, a liberação do espírito, é a liberação do espírito
humano, bem como a do Espírito Santo, que está no espírito do
homem. Visto que o Espírito Santo e o nosso espírito, são unidos
em um só (1 Co 6:17), pode ser distinguidos somente no nome, e
não no fato. E visto que a liberação de um importa na liberação dos
dois, outros podem tocar o Espírito Santo quando tocam o nosso
espírito. Graças a Deus porque à medida em que você deixa as
pessoas entrarem em contato com o seu espírito, deixa-as terem
contato com Deus. O seu espírito trouxe o Espírito Santo aos
homens.
Quando o Espírito Santo está operando, precisa ser
transportado pelo espírito humano. A eletricidade numa lâmpada
elétrica, não viaja como o raio. Deve ser conduzida através de fios
elétricos. Se você quiser usar a eletricidade, precisa de um fio
elétrico para trazê-la até você. De modo semelhante, o Espírito de
Deus faz uso do espírito humano para transmiti-lo, e através dele,
Ele é trazido ao homem.
Toda pessoa que recebeu a graça, tem o Espírito Santo
habitando no seu espírito. Se pode ser usado pelo Senhor, ou não,
depende, não do seu espírito, mas, sim, do seu homem exterior. A
dificuldade de muitas pessoas é que seu homem exterior não foi
quebrantado. Não há evidência daquele caráter marcado pelo
sangue - daquelas chagas ou cicatrizes. Assim, o Espírito de Deus é
aprisionado dentro do espírito do homem e não pode irromper e
sair. Às vezes o nosso homem exterior está ativo, mas o homem
interior permanece inativo. O homem exterior se manifesta,
enquanto que o homem interior fica para trás.

Alguns Problemas Práticos

Vamos passar tudo isto em revista através de alguns


problemas práticos! Tomemos a pregação como um exemplo. Quão
freqüentemente podemos estar pregando com sinceridade - dando
uma mensagem bem preparada e sólida - mas interiormente nos

161
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

sentimos frios como gelo. Ansiamos por animar os outros, mas nós
NOTAS
mesmos não ficamos comovidos. Há falta de harmonia entre o
homem exterior e o interior. O homem exterior está suado com o
calor, mas o homem interior está tremendo de frio. Podemos contar
aos outros quão grande é o amor do Senhor, mas pessoalmente
não somos tocados por ele. Podemos contar aos outros quão
trágico é o sofrimento da cruz, mas, ao voltar para nosso quarto,
podemos rir. O que podemos fazer a respeito disto? Nossa mente
pode labutar, nossas emoções podem ser energizadas, mas o
tempo todo, temos a sensação de que o homem interior está
meramente observando os acontecimentos. O homem exterior e o
interior não estão unidos.
Considere outra situação. O homem interior está sendo
devorado pelo zelo. A pessoa quer gritar, mas nada consegue
expressar. Depois de falar por muito tempo parece que ainda está
andando em círculos. Quanto mais anseia por falar, mas não
consegue achar expressão. Quando se encontra com um pecador,
seu homem interior tem vontade de chorar, mas ele não consegue
derramar uma lágrima. Há um senso de urgência dentro dele, mas
quando sobe ao púlpito e procura gritar, vê-se perdido num labirinto
de palavras. Uma situação desta é muito penosa. A causa radical é
a mesma: a casca externa ainda se apega a ele. O exterior não
obedece aos ditames do interior: chorando por dentro, mas por fora,
sem se comover; sofrendo por dentro, mas por fora, a mente parece
estar em branco. O espírito ainda tem de descobrir um meio de
atravessar a casca.
Deste modo, o quebrantamento do homem exterior é a
primeira lição para toda pessoa que deseja aprender a servir a
Deus. Aquele que é verdadeiramente usado por Deus, é aquele cujo
pensamento e emoção externa, não agem independentemente. Se
não aprendermos esta lição, a nossa eficácia, será grandemente
prejudicada. Que Deus nos traga ao lugar em que o homem exterior
é completamente quebrantado.Quando prevalecer esta condição,
haverá fim desta atividade exterior com a inércia interior; acabará o
chorar interior com a compostura exterior. Seus pensamentos
ajudarão o seu espírito ao invés de atrapalhá-lo.
De modo semelhante, nossas emoções também são uma
casca muito dura. Muitos que desejam estar felizes não podem
expressar felicidade, ou talvez queiram chorar, sem, porém,
consegui-lo. Se o Senhor tiver ferido nosso homem exterior através
da disciplina ou da iluminação do Espírito Santo, poderemos
expressar alegria ou tristeza conforme os ditames do interior.
A liberação do espírito nos possibilita permanecer cada vez
mais em Deus. Tocamos o espírito da revelação divina. Quando
estamos testemunhando ou pregando, transmitimos a palavra de
Deus através do nosso espírito. Além disto, podemos, muito
espontaneamente, entrar em contato com o espírito dos outros,
mediante o nosso espírito. Sempre que alguém fala em nossa
presença, podemos "tirar a medida dele" - avaliar que tipo de
pessoa é, qual atitude está adotando, que tipo de cristão é, e qual é
a sua necessidade. Nosso espírito pode tocar o espírito dele. E o

162
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

que é maravilhoso, é que outros facilmente entram em contato com


NOTAS
o nosso espírito. No caso de alguns, apenas temos um encontro
com seus pensamentos, com suas emoções, ou com sua vontade.
Depois de conversar com eles durante horas a fio, ainda não
encontramos a pessoa real, embora ambos sejamos cristãos. A
casca exterior é grossa demais para outras pessoas tocarem o
homem interior. Com o quebrantamento do homem exterior, o
espírito começa a fluir e sempre está aberto diante de outras
pessoas.

Aventurando-se e Recolhendo-se

Uma vez que o homem exterior tenha sido quebrantado, o


espírito do homem muito naturalmente, permanece na presença de
Deus sem cessar. Dois anos depois de certo irmão ter confiado no
Senhor, leu “ A Prática da Presença de Deus" do Irmão Lawrence.
Depois de lê-lo, sentiu-se aflito com seu fracasso quanto a
permanecer incessantemente na presença de Deus como o Irmão
Lawrence. Fez então, uma aliança com horário marcado para orar
com alguém. Por que? Bem, a Bíblia diz: "Orai sem cessar," eles
mudaram a expressão para " Orai toda hora." Cada vez que ouviam
o relógio bater a hora, oravam. Esforçavam-se ao máximo para
recolher-se em Deus, porque achavam que não podiam manter-se
continuamente na Sua presença. Era como se Ele tivesse ido
embora quietamente enquanto trabalhavam, e, assim precisassem
rapidamente recolher-se em Deus. Ou se projetasse para fora
enquanto estudavam, e agora deviam fazer um rápido retorno para
Deus. De outra forma, achar-se-iam ausentes de Deus durante o dia
inteiro. Oravam freqüentemente, passando dias inteiros orando no
Dia do Senhor e metade do dia aos sábados. Assim continuaram,
durante dois ou três anos. Mesmo assim, o problema ainda
permanecia: recolhendo-se, desfrutavam da presença de Deus, mas
ao saírem para fora, perdiam-na. Naturalmente, este problema não
é só deles; tal é a experiência de muitos cristãos. Indica que
estamos procurando manter a presença de Deus por meio da nossa
memória. O senso da Sua presença flutua de acordo com a nossa
memória. Quando nós nos lembramos, há a consciência da Sua
presença; senão, não há nenhuma. Isto é pura tolice, pois a
presença de Deus está no espírito e não na memória.
Para solucionar este problema, devemos primeiramente
resolver a questão do quebrantamento do homem exterior. Visto
que nem nossa emoção nem nosso pensamento tem a mesma
natureza que Deus, não podem ser juntados com Ele. O Evangelho
segundo João, capítulo 4, mostra-nos a natureza de Deus. Deus é
Espírito. Somente nosso espírito é da mesma natureza de Deus;
logo, pode ser eternamente unido com Ele. Se procurarmos chegar
a obter a presença de Deus por meio de dirigir nosso pensamento,
então, quando não estamos nos concentrando, Sua presença
parece perdida. Além disto, se procurarmos usar nossa emoção, a
mesma coisa acontece, Sua presença parece ter ido embora.Às
vezes estamos felizes, e tomamos este fato por termos a presença

163
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

de Deus. Deste modo, quando a felicidade cessa, a presença foge!


NOTAS
Ou podemos supor que Sua presença está conosco enquanto
lastimamos e choramos. Infelizmente, não podemos derramar
lágrimas durante nossa vida inteira. Logo, nossas lágrimas se
secarão, e depois, a presença de Deus desaparece. Tanto nossos
pensamentos quanto nossas emoções são energias humanas.
Todas as atividades devem chegar ao fim. Se procuramos manter a
presença de Deus com a atividade, então, quando a atividade
cessa, Sua presença termina. A presença de Deus requer uma
natureza igual à dEle. Somente o homem interior é da mesma
natureza de Deus. Através dele, exclusivamente, a presença de
Deus pode ser manifestada. Quando o homem exterior está em
atividades, estas podem perturbar o homem interior, de tocar na
presença de Deus.
Deus nos deu o espírito para nos capacitar a corresponder a
Ele. O homem exterior, no entanto, sempre está correspondendo às
coisas de fora, e daí nos priva da presença de Deus. Não podemos
destruir todas as coisas do lado de fora, mas podemos quebrantar o
homem exterior. Milhões e bilhões de coisas no mundo, estão
totalmente além do nosso controle. Cada vez que alguma coisa
acontece, nosso homem exterior corresponderá; todavia não
conseguimos desfrutar em paz da presença de Deus. Concluímos,
portanto, que experimentar a presença de Deus depende do
quebrantamento do nosso homem exterior. Se, pela misericórdia de
Deus, nosso homem exterior foi quebrantado, podemos ser
caracterizados da seguinte maneira: Ontem, estávamos cheios de
curiosidade, mas hoje é impossível ser curioso. Anteriormente,
nossas emoções podiam facilmente ser despertadas, ou movendo
nosso amor, a mais delicada das emoções, ou provocando nossa
ira, a mais grosseira delas. Mas agora, sejam quantas forem as
coisas que vierem em cima de nós, nosso homem interior fica
imperturbável, a presença de Deus fica imutável, e nossa paz
interior permanece sem a mais leve agitação. Torna-se evidente que
o quebrantamento do homem exterior é a base para desfrutar da
presença de Deus. O Irmão Lawrece estava ocupado em serviços
de cozinha. As pessoas pediam, impacientes, as coisas que
queriam. Embora houvesse o tinido de pratos e utensílios, seu
homem interior não se perturbava. Podia sentir a presença de Deus
na agitação de uma cozinha tanto quanto na oração em momentos
quietos. Por que? Estava impenetrável aos barulhos externos.
Aprendera a comungar no seu espírito e desconsiderar a vida da
sua alma.
Alguns acham que, para ter a presença de Deus, seu
ambiente deve estar livre de perturbações tais como o tinido dos
utensílios. Quanto mais longe estão da humanidade, tanto melhor
poderão sentir a presença de Deus. Que erro! O problema acha-se,
não nos pratos, nem nas outras pessoas, mas, sim, neles mesmos.
Deus não vai livrar-nos dos pratos; livrar-nos-á das nossas
respostas! Não importa quão barulhento fica lá fora, o lado de
dentro não precisa corresponder. Visto que o Senhor quebrantou
nosso homem externo, simplesmente reagimos como se não

164
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

tivéssemos ouvido. Louvado seja Deus, podemos possuir uma


NOTAS
audição muito afinada, mas, devido à obra da graça em nossas
vidas, não estamos influenciados de modo algum pelas coisas que
fazem pressões sobre nosso homem exterior. Podemos ficar diante
de Deus em tais ocasiões tanto quanto, quando estivermos orando
sozinhos.
Uma vez que o homem exterior é quebrantado, a pessoa já
não precisa recolher-se em Deus, pois sempre está na presença
Dele. Não é assim no caso daquele cujo homem exterior ainda está
intacto. Depois de fazer algum dever, precisa voltar, pois supõe que
se movimentou para longe de Deus. Até mesmo ao fazer a obra do
Senhor, escapa dAquele a quem serve. Assim, parece que a melhor
coisa para ele é não fazer movimento algum. Apesar disto, os que
conhecem a Deus não precisam voltar, porque nunca se
ausentaram. Desfrutam da presença de Deus quando consagram
um dia a oração, e desfrutam da mesma presença em grau muito
semelhante quando estão ativamente ocupados nas tarefas da vida
diária. Talvez seja nossa experiência comum que, ao nos
aproximarmos de Deus, sentimos Sua presença; ao passo que, se
estamos ocupados em algum trabalho, sentimos que fizemos uma
longa viagem e que devemos voltar. Qual é a resposta? O
quebrantamento do homem exterior torna desnecessárias tais
voltas. Sentimos a presença de Deus na nossa conversação e
tarefas diárias tanto quanto ajoelhados em oração. Cumprir nossas
tarefas diárias não nos afasta de Deus; logo, não precisamos voltar.

A Divisão Entre o Homem Exterior e o Interior:

Alma e Espírito

Quando o homem exterior é quebrado, as coisas de fora


serão conservadas fora, e o homem interior viverá diante de Deus
continuamente. O problema de muitas pessoas é que seu homem
exterior e seu homem interior estão juntos, de modo que o que
influencia o externo influencia o interno. Através da operação
misericordiosa de Deus, o homem exterior e o homem interior
devem ser separados. Então, aquilo que afeta o homem exterior não
poderá alcançar o interior. Embora o homem exterior esteja
ocupado numa conservação, o homem interior está tendo
comunhão com Deus. O homem exterior talvez ache pesaroso ter
que ouvir o tinido dos pratos; o homem interior, no entanto,
permanece em Deus. A pessoa pode levar a efeito suas atividades,
entrar em contato com o mundo através do homem exterior, mas,
mesmo assim, o homem interior permanece sem ser afetado porque
vive diante de Deus.
Consideremos um ou dois exemplos. Certo irmão está
trabalhando na estrada. Se seu homem exterior e interior já foram
divididos, este último não será perturbado pelas coisas externas.
Pode labutar no seu homem exterior, enquanto, ao mesmo tempo,
está internamente adorando a Deus. Ou considere um pai: seu
homem exterior talvez esteja rindo e brincando com seu filhinho. De

165
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

repente, surge certa necessidade espiritual. Pode imediatamente


NOTAS
enfrentar a situação com seu homem interior, pois nunca esteve
ausente da presença de Deus. Assim, é importante que
reconheçamos que a divisão entre o homem exterior e o homem
interior tem um efeito muito decisivo sobre o trabalho e a vida da
pessoa. Somente assim é que a pessoa pode labutar sem distração.
Podemos descrever os crentes como sendo pessoas "únicas"
ou " duplas." No caso de alguns, seu homem interior e exterior são
um só; com outros, os dois foram separados. Enquanto alguém é
uma pessoa " única," deve conclamar a totalidade do seu ser para
seu trabalho ou para sua oração. Ao trabalhar, deixa Deus para trás.
Ao orar mais tarde, deve separar-se do seu serviço. Porque seu
homem exterior não foi quebrantado, está forçado a aventurar-se e
a recolher-se. A pessoa " dupla," do outro lado, tem a capacidade
de trabalhar com seu homem exterior enquanto seu homem interior
permanece constantemente diante de Deus. Sempre que a
necessidade surge, seu homem interior pode fluir com força e
manifestar-se diante de outras pessoas. Desfruta da presença
ininterrupta de Deus. Perguntemos a nós mesmos: Sou uma pessoa
" única" ou " dupla "? Faz toda a diferença, realmente, se o homem
exterior é dividido do interior.
Se, pela misericórdia de Deus, você experimentou esta
divisão, você sabe que há um homem dentro de você que mantém a
calma. Embora o homem exterior esteja ocupado em coisas
externas, estas não penetrarão no homem interior.
Aqui está o segredo maravilhoso! Conhecer a presença de
Deus é através da divisão destes dois. O Irmão Lawrence parecia
ativamente ocupado com os trabalhos da cozinha, mas dentro dele
havia outro homem que ficava diante de Deus e que desfrutava de
comunhão com Ele, sem perturbação alguma. Semelhante divisão
interior conservará nossas reações livres da contaminação da carne
e do sangue.
Concluindo, lembremo-nos de que a capacidade de usar
nosso espírito depende da obra dupla de Deus: o quebrantamento
do homem exterior e a divisão entre o espírito e a alma, ou seja: a
separação do nosso homem interior do exterior. Somente depois de
Deus ter realizado estes dois processos em nossa vida é que
poderemos exercitar nosso espírito. O homem exterior é
quebrantado mediante a disciplina do Espírito Santo; é dividido do
homem interior pela revelação do Espírito Santo(Hb 4:12).

A Manifestação de Deus e a Restrição de Deus

Houve um tempo em que Deus Se confiou à forma humana


na Pessoa de Jesus de Nazaré. Antes do Verbo Se tornar carne, a
plenitude de Deus não conhecia limite algum. No entanto, uma vez
que a encarnação veio a ser uma realidade, Sua obra e Seu poder
eram limitados a esta carne. Este Homem, Cristo Jesus, restringirá
a Deus ou O manifestará? A Bíblia nos mostra que, longe de limitar
a Deus, Ele manifestou a plenitude de Deus de modo maravilhoso.

166
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

Em nossos dias, Deus Se confia à igreja. Seu poder e Sua


NOTAS
obra estão na igreja. Assim como nos Evangelhos achamos toda a
obra de Deus dada ao Filho, assim hoje Deus confiou à igreja todas
as Suas obras, e não agirá à parte dela. Desde o Dia do Pentecoste
até ao tempo presente, a obra de Deus tem sido levada à efeito
através da igreja. Pense na responsabilidade tremenda da igreja! O
ato de Deus em confiar-Se à igreja é como Seu ato anterior de
confiar-Se a um só Homem, Cristo - sem reservas, sem restrições.
A igreja, porém, pode restringir a obra de Deus ou limitar Sua
manifestação.
Jesus de Nazaré é o próprio Deus. Seu ser inteiro, de dentro
para fora, é revelar a Deus. Suas emoções refletem as emoções de
Deus; Seus pensamentos revelam os pensamentos de Deus.
Enquanto estava nesta terra podia dizer: "Não para fazer a minha
própria vontade; e, sim, a vontade daquele que me enviou..." O
Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir
fazer o Pai... Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o
Pai que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que
anunciar" (João 6:38; 5:19; 12:49). Aqui vemos um Homem em
quem Deus depositou sua confiança.
Ele é o Verbo que Se tornou carne. É Deus que Se tornou
homem. É perfeito. Quando veio o dia em que Deus desejou
Distribuir Sua vida entre os homens, aquele Homem podia declarar:
" Se o grão de trigo, caindo na terra... morrer, produz muito fruto "
(João 12:24). Deste modo, Deus escolheu a igreja para ser Seu
vaso hoje - o vaso daquilo que Ele fala, para a manifestação do Seu
poder e da Sua operação.
O ensino básico dos Evangelhos é a presença de Deus em um
Homem, ao passo que o das Epístolas é a de Deus na igreja.
Quando esta luz raiar sobre nós, ergueremos espontaneamente
nossos olhos ao céu, dizendo: " Ó Deus! Quanto nós Te
impedimos!" Em Cristo, o Deus onipotente ainda era onipotente sem
sofrer qualquer restrição ou estreitamento. O que Deus espera hoje
é que este mesmo poder possa permanecer intacto à medida em
que Ele reside na igreja. Ele deve ficar tão livre para manifestar-Se
na igreja quanto o era em Cristo. Qualquer restrição ou
incapacidade na igreja invariavelmente limitará a Deus. Esta é uma
coisa muito séria; não a mencionamos levianamente. O impecilho
em cada um de nós constitui-se um impecilho para Deus.
Por que a disciplina do Espírito Santo é tão importante?
Porque a divisão entre o espírito e a alma é tão urgente? É porque
Deus precisa ter um caminho através de nós. Que ninguém pense
que estamos interessados apenas na experiência espiritual. Nosso
zelo e dedicação é o caminho de Deus e Sua obra.
Deus está livre para operar através das nossas vidas? A não ser
que sejamos tratados e quebrantados através da disciplina,
restringiremos a Deus. Sem o quebrantamento do homem exterior,
a igreja não pode ser um canal para Deus.

167
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

NOTAS
O Quebrantamento e a Maneira de Deus Operar

Passemos agora a considerar como o quebrantamento do


homem exterior afetará nosso modo de ler a Bíblia, nosso modo de
ser ministros da Sua Palavra, e nossa pregação do evangelho.
Lendo a Bíblia: É sem dúvida que o que somos, determina o
proveito que tiramos da Bíblia. Quão freqüentemente o homem, na
sua soberba, depende da sua mente não-renovada e confusa para
ler a Bíblia. O fruto é nada senão seu próprio pensamento. Não toca
o espírito das Sagradas Escrituras. Se esperamos encontrar o
Senhor na Sua Palavra, nossos pensamentos devem primeiramente
ser quebrantados por Deus. Talvez tenhamos alto conceito da
nossa habilidade, mas para Deus é um grande obstáculo. Nunca
poderá levar-nos ao pensamento de Deus.
Há, pelo menos, duas exigências básicas para ler a Bíblia.
Primeiramente, nosso pensamento deve entrar no pensamento da
Bíblia; e, em segundo lugar, nosso espírito deve entrar no espírito
da Bíblia. Você deve pensar como o escritor, seja Paulo, Pedro ou
João, estava pensando quando escrevia a Palavra de Deus. Seu
pensamento deve começar onde o pensamento dele começa, e
desenvolver como o dele se desenvolve. Você deve ter a
capacidade de raciocinar como ele raciocina e de exortar como ele
exorta. Em outras palavras, seu pensamento deve ser engrenado
com o pensamento dele. Isto permitirá ao Espírito que lhe dê o
significado exato das Escrituras.
Pense numa pessoa que vem à Bíblia com sua mente já fixa.
Lê a Bíblia para obter apoio para suas doutrinas preconcebidas.
Que tragédia! Uma pessoa experiente, depois de escutar alguém
assim falar durante cinco ou dez minutos, pode discernir se quem
fala está usando a Bíblia para suas próprias finalidades, ou se seu
pensamento entrou no pensamento da Bíblia. Há uma diferença de
âmbitos aqui. Uma pessoa pode levantar-se e dar uma mensagem
agradável que parece ser bíblica, mas, na realidade, seu
pensamento é contraditório ao pensamento da Bíblia. Ou podemos
escutar alguém pregar, cujo pensamento expressa o pensamento
da Bíblia e, portanto, é harmonioso e unido com ela. Embora esta
condição deva ser anormal nem todos chegam a ela. Para unir
nosso pensamento com o pensamento da Bíblia, é necessário que
nosso homem exterior seja quebrantado. Não pense que nossa
leitura bíblica é fraca por causa de falta de instrução. O defeito está
muito mais em nós, porque nossos pensamentos não foram
subjugados por Deus. Ser quebrantado desta maneira é o cessar
das nossas próprias atividades e do nosso pensamento subjetivo, e
paulatinamente começar a tocar a mente do Senhor e seguir a
tendência do pensamento da Bíblia. Não é antes de ser
quebrantado o homem exterior que podemos entrar no pensamento
da Palavra de Deus.
Ora, embora isto seja importante, ainda nos falta mencionar o
assunto primário. A Bíblia é mais do que palavras, idéias e
pensamentos. O aspecto mais destacado da Bíblia é que o Espírito
de Deus é liberado através deste Livro. Quando um escritor, seja

168
A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

Pedro, João, Mateus ou Marcos, é inspirado seu espírito é liberado


NOTAS
juntamente com o Espírito Santo. O mundo não pode entender que
há um espírito na Palavra de Deus, e que aquele espírito pode ser
liberado exatamente como é manifestado no ministério profético.
Hoje, se você estiver escutando uma mensagem profética,
reconhecerá que está presente algo misterioso, além das palavras e
dos pensamentos. Você pode sentir isto claramente, e podemos
muito bem chamá-lo o espírito na Palavra de Deus.
Não há somente pensamentos na Bíblia; o próprio espírito se
manifesta através dela. Assim, é somente quando seu espírito pode
sair e tocar o espírito da Bíblia, que você pode entender o que a
Bíblia está dizendo. Ilustrando: pensemos num menino mau que
deliberadamente quebra a janela de um vizinho. O vizinho sai e lhe
faz fortíssimas censuras. Quando a mãe do menino fica sabendo da
travessura, ela também o repreende severamente. Mas, de alguma
maneira, há uma diferença de espírito entre as duas repreensões. A
primeira é mal-humorada, feita com um espírito zangado; a outra
expressa o amor, a esperança, e o treinamento. Este é apenas um
exemplo simples. O Espírito que inspira a composição das
Escrituras é o Espírito eterno, sempre presente na Bíblia. Se nosso
homem exterior foi quebrantado, nosso espírito é liberado e pode
tocar aquele Espírito que inspira as Escrituras. De outra forma, a
Bíblia permanecerá como um livro morto em nossas mãos.
O Ministério da Palavra: Deus deseja que entendamos a Sua
Palavra, pois este é o ponto de partida do serviço espiritual. Está
igualmente solícito para colocar Sua Palavra como mensagem
dinâmica em nosso espírito de modo que possamos usá-la para
ministrar à igreja. Em Atos 6:4 lemos: " E, quanto a nós nos
consagraremos à oração e ao ministério da palavra." Ministério
significa servir as pessoas com a palavra de Deus.
No ministério, qual é a dificuldade que nos leva a deixar de
liberar a palavra dentro de nós? Freqüentemente, alguém pode
sentir-se muito preocupado com uma palavra que, deve comunicar
aos irmãos. Mesmo assim, enquanto se levanta para falar frase
após frase, a preocupação interna permanece tão pesada como
sempre. Mesmo depois de passar uma hora, não há senso de alívio,
e, finalmente, sai carregando o mesmo fardo de uma mensagem
que não foi entregue. Por que? É porque seu homem exterior não
foi quebrantado. Ao invés de serem úteis, as faculdades da alma
tornam-se um obstáculo para o homem interior.
Uma vez, porém, que o homem exterior for quebrantado, a
expressão já não é problema. A pessoa seu pensamento com
palavras apropriadas para expressar seu sentimento no íntimo.
Através da liberação, o fardo interno é aliviado. Esta é a maneira de
ministrar a Palavra de Deus à igreja. Repetimos, então: o homem
exterior é o maior impecilho ao ministério da Palavra de Deus.
Muitos tem a noção errônea de que são as pessoas
habilidosas que melhor podem ser usadas. Como isto é errado! Não
importa quão habilidoso você seja, o exterior nunca poderá
substituir o homem interior. Somente depois de o homem exterior ter
sido quebrantado é que o interior pode achar pensamento adequado

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

e palavras apropriadas. A casca do homem exterior deve ser


NOTAS
esmagada por Deus. Quanto mais é despedaçada, tanto mais a vida
no espírito é liberada. Enquanto esta casca permanecer intacta, a
mensagem que pesa no espírito não pode ser liberada, nem a vida
e o poder de Deus podem fluir de você para a Igreja. É
principalmente através do Ministério da Palavra de Deus que sua
vida e seu poder são fornecidos.Se você não tem seu homem
interior liberado, as pessoas podem ouvir sua voz mas não podem
tocar a vida, seu espírito, você pode ter uma palavra para dar, mas
outras pessoas deixam de recebê-la pois você não tem meios de
expressão.
A dificuldade é que a vida que há dentro, deixa de fluir. Há
uma Palavra de Deus atuante por dentro, mas não pode ser
manifestada por causa do obstáculo do lado de fora. Deus não tem
um livre caminho através de você.
Pregando o Evangelho: Há um conceito geral, falso, de que as
pessoas crêem no evangelho porque, ou foram mentalmente
convictas da exatidão doutrinária, ou emocionalmente comovidas
pelo seu apelo. Na realidade, os que correspondem ao evangelho
por qualquer destas duas razões não permanecem nEle. O intelecto
e a emoção precisam ser alcançados, mas estes sozinhos, são
insuficientes. A mente pode encontrar-se com a mente, e a emoção
pode alcançar a emoção, mas a salvação sonda mais
profundamente. O espírito deve tocar o espírito. Somente quando o
espírito do pregador floresce e brilha é que os pecadores caem e se
rendem a Deus. Este é o espírito apropriado e necessário para a
pregação do evangelho.
Certo mineiro grandemente usado por Deus escreveu um
livro chamado "Seen and Heard" (" Visto e Ouvido"), em que relata
suas experiências ao pregar o evangelho. Fomos profundamente
comovidos ao ler este livro. Embora fosse um irmão simples, sem
alto grau de cultura nem com dons especiais, ofereceu-se
inteiramente ao Senhor e foi poderosamente usado por Ele. Uma
coisa o caracterizava: era um homem quebrantado; seu espírito era
puro. Quando estava numa reunião, ouvindo um pregador, sentiu
uma preocupação tão grande pelas almas que pediu ao pregador
permissão para falar. Subiu ao púlpito, mas não vinham as palavras.
Seu homem interior ardia tanto com uma paixão pelas almas que
suas lágrimas jorravam. Finalmente, conseguiu pronunciar apenas
umas poucas sentenças pouco compreensíveis. Mesmo assim, o
Espírito Santo encheu aquele lugar as pessoas ficaram convictas
dos seus pecados e da sua condição de perdidas. Aqui havia um
jovem que era quebrantado - tinha poucas palavras, mas quando
seu espírito fluía, as pessoas eram poderosamente tocadas. Ao ler
sua autobiografia, reconhecemos que ele era alguém cujo espírito
fluía, as pessoas eram poderosamente tocadas. Ao ler sua
autobiografia, reconhecemos que ele era alguém cujo espírito era
totalmente liberto. Era o instrumento para salvar a muitos durante
sua vida.
Este é o modo certo de pregar o evangelho. Sempre que
você vê alguém que não é salvo, e senti que deve dar-lhe o

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

evangelho, você deve permitir que seu espírito seja liberado. Pregar
NOTAS
o evangelho é puramente uma questão de ter o homem exterior
quebrantado de modo que o homem interior possa fluir e tocar
outros.Quando seu espírito toca o espírito de outra pessoa, o
Espírito de Deus vivifica aquele espírito que está em trevas de modo
que aquela pessoa é maravilhosamente salva.
É por isso que focalizamos tanta atenção em lidar com o
homem exterior. Se nos falta este tratamento, não temos poder para
ganhar almas, embora tenhamos todas as doutrinas de cor. A
salvação vem quando nosso espírito toca o espírito de outra
pessoa. Então, aquela alma não pode deixar de prostrar-se aos pés
de Deus. Ó amados, quando nosso espírito é verdadeiramente
liberado, as almas certamente serão salvas.
Uma vez que as pessoas são salvas, Deus não quer que elas
esperem para lidar com seus pecados, que esperem mais anos para
se consagrarem, e que esperem ainda mais tempo para
responderem à chamada de realmente seguirem ao Senhor. Tão
logo que as pessoas crêem, devem imediatamente voltarem-se dos
seus pecados, consagrarem-se totalmente ao Senhor, e romperem
o poder das coisas deste mundo. Sua história deve ser como
aquelas que são registradas nos Evangelhos e em Atos. Para o
evangelho ter seu efeito mais completo no homem, o Senhor
precisa ter um caminho nas vidas dos mensageiros do evangelho.
Nestes anos temos ficado totalmente convictos de que o
Senhor está trabalhando para a recuperação. O evangelho da graça
e o evangelho do reino devem ser juntados. Nos Evangelhos, os
dois nunca são separados. Somente em anos posteriores é que
parece que aqueles que ouviram o evangelho da graça sabem
pouco ou nada do evangelho do reino. Deste modo, os dois foram
separados. Mas já é tempo para eles serem unidos, de modo que as
pessoas sejam completamente salvas, deixando tudo e se
consagrando totalmente ao Senhor.
Curvemos nossa cabeça diante do Senhor e reconheçamos
que o evangelho deve ser completamente pregado, e seus
mensageiros totalmente tratados. Para o Evangelho entrar nos
homens, devemos permitir que Deus seja manifestado em nós.
Assim como a pregação eficaz do evangelho requer mais poder,
assim também os mensageiros do evangelho devem pagar um
preço mais alto. Devemos colocar tudo sobre o altar. Oremos assim:
"Senhor, coloco meu tudo sobre o altar. Acha um caminho através
de mim a fim de que também a igreja ache um caminho em mim. Eu
não gostaria de ser aquele que bloqueia a Ti e que bloqueia a Sua
igreja.”
O Senhor Jesus nunca restringiu Deus de qualquer maneira.
Durante quase dois mil anos Deus tem trabalhado na igreja, visando
o dia em que a igreja já não O restringirá. Assim como Cristo
manifesta plenamente a Deus, assim também será com a igreja.
Passo a passo, Deus está instruindo Seus filhos e tratando com
eles; uma vez após outra sentimos Sua mão sobre nós. Assim será
até aquele dia em que a igreja fique sendo realmente a plena
manifestação de Deus. Hoje, voltemo-nos para o Senhor e

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A experiência da formação do caráter de Cristo em nós

confessemos."Senhor, estamos envergonhados. Atrasamos a Tua


NOTAS
obra; fomos um impecilho na Tua vida; bloqueamos a propagação
do evangelho; e limitamos o Teu poder." Individualmente em nosso
coração, dediquemo-nos a Ele novamente, dizendo: " Senhor,
ponho meu tudo sobre o altar, a fim de que Tu tenhas um caminho
através de mim.”
Se esperamos que a eficácia do evangelho seja plenamente
recuperada, a consagração deve ser total. Devemos consagrar-nos
a Deus assim como na igreja primitiva. Que Deus tenha uma via de
saída através de nós.

A Meiguice No Quebrantamento

O método de Deus quebrantar nosso homem exterior varia de


acordo com o alvo. Expliquemos o alvo da seguinte maneira: com
alguns, é seu amor-próprio; com outros, é seu orgulho. Há, também,
aqueles cuja auto-confiança e habilidade precisam ser destruídas;
tais pessoas se acharão numa classificação após outra, derrotadas
a cada passo, até que aprendam a dizer: " Não vivemos na
sabedoria da carne, mas, sim, na graça de Deus."E, além disto, há
aqueles que sempre estão borbulhando com idéias e opiniões.
Embora a Bíblia afirma: " Há coisa que seja maravilhosa demais
para o Senhor?" Alguns irmãos sustentam que nada é difícil demais
para eles! Jactam-se de que podem fazer tudo, mas,
estranhamente, fracassam em todos os empreendimentos. As
coisas que pareciam tão fáceis desmontam-se nas suas mãos.
Perplexos, perguntam " Por que?" É esta a maneira que o Espírito
Santo usa para tratar com eles a fim de atingir o alvo necessário.
Tais ilustrações mostram como o alvo do Espírito varia com o
respectivo indivíduo.
Há, também, uma variação no ritmo dos tratamentos pelo
Espírito Santo. Às vezes, os golpes podem suceder-se um após
outro sem folga; ou pode haver períodos de calmaria. Mas Deus
disciplina todos aqueles a quem ama. Desta maneira, os filhos de
Deus têm feridas infligidas pelo Espírito Santo. Embora a aflição
possa variar, as conseqüências são as mesmas: o próprio-eu está
ferido. Assim Deus toca em nosso amor-próprio, nosso orgulho,
nossa habilidade ou nossa subjetividade, seja qual destes se
constitui em Seu alvo exterior.Pretende com cada tiro contra o alvo
enfraquecer-nos ainda mais, até que venha o dia em que somos
esmagados e nos tornamos maleáveis nas Suas mãos. Quer o
tratamento toque nossa afeição, quer nossos pensamentos, o
resultado final é produzir uma vontade quebrantada. Todos nós
somos naturalmente obstinados. Esta vontade teimosa é apoiada
por nossos pensamentos, nosso amor-próprio, nossa afeição, ou
nossa habilidade. Este fato explica as variações nos tratos do
Espírito Santo conosco. Finalmente, é nossa vontade que Deus
quer atingir, pois é ela que representa nosso próprio-eu. Deste
modo, uma característica em comum destaca os que foram
iluminados e disciplinados - tornam-se meigos.

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