Ao analisar o filme, conseguimos perceber um forte embate ético
que fomentou em nós uma forte reflexão a respeito de quem
estavas sendo sujeito ético no filme? Os médicos que pregavam o eletrochoque e a lobotomia ou a Doutora Nise da Silveira que promovia a terapia humanizada, através de um tratamento pela alma do “louco”. O século XX foi fortemente marcado por um modelo hospitalocêntrico, onde os indivíduos que fossem considerados loucos deveriam ser exilados e supostamente tratados. Qualquer um que parecesse demonstrar características ou comportamento que divergissem com o padrão da época, logo era tachado de maluco e enviado para um hospital psiquiátrico – os hospícios. A sociedade agia de maneira repressora para com manifestações discordantes com a razão e o pensamento lógico. Como forma de tratamento, utilizava-se algumas técnicas comuns no mundo inteiro, disseminadas pela falsa fama de acarretarem bons resultados como mudanças na maneira de agir dos pacientes. Dentre as práticas, estavam a lobotomia, o eletrochoque e o choque insulínico. Desta maneira, os internados eram tratados feito animais, peças a serem concertadas sem um pingo de toque de humanidade. E foi nesse contexto histórico que a dra. Nise da Silveira viveu. Nise não concordava com os tipos de tratamento utilizados, discordando plenamente em fazer parte daquela loucura. Logo, decidiu ir pouco a pouco implantando um olhar diferente para os “loucos”. Ela estabeleceu que começaria a trata-los de maneira mais humanizada, com afeto, carinho e principalmente liberdade para que pudessem se expressar. Ouvindo-lhes com atenção e sem marcas de julgamentos. Trouxe, então, um contato com a própria alma dos pacientes, levando-lhes para submergir em um mundo inconsciente de desejos, sonhos e pensamentos por meio da arte. Nise percebeu que um símbolo muito realizado pelos pacientes através da pintura era a mandala, uma forma circular de harmonia perfeita. Isso mostrava que os pacientes eram tão capazes de viverem como qualquer outro. A doutora Nise da Silveira trouxe vida para os internados do Engenho de dentro. Agindo como um sujeito ético, tendo em vista que ela refletiu sobre a moral dos médicos da época, seus costumes de tratamento e pensamento, e decidiu conscientemente por outras vias. Ela procedeu de maneira consciente de si e dos outros – visando o melhor bem-estar aos pacientes -, dotada de vontade, sem estar coagida por outras forças e livre de paixões. Em contrapartida, os doutores da época eram os antiéticos, uma vez que atuavam de maneira desumana, sem reflexão daqueles procedimentos, em busca de manter o que a sociedade vinha estipulando com o jeito certo de tratar. Entretanto, quem era considerada antiética era a dra. Nise, para eles ela estava errada em se comportar daquela maneira.