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* Agradecimentas an Procurador da Repoblica Tiago Misael de Jesus Martin, mestrandio emCiéncias juridicas na Universidade Federal da Paraiba, pelo apoio: preciosa. SVEN PETERKE Professor de Direito Internecional Poblico no Centro de Géncias juridicas da Universidede Federal da Paraiba 4. Introdugao Mais uma ver a Brasil discula sobre o crime de terrorisma & 4 necessidade da sue tipificacao. Desta vez, porém,-n debate nao foi estimulade por acontecimentos violentas, que ocorteram nas ruas brasileiras e abalaram o pilblico geral mas pelo praprio legistador M2 ha algum tempo cirtulam no Congresso Nacional varios projetos de leis que tratam desse centrovertida assunto!, No entanto, foi nameadamente o PLS n, 499/2013 que causou as polémicas mais racentes, sobretuce par propor a adagao de uma lel antitereorista que define varios crimes terroristas, destacanda- 34, assim, de propostas mals madestas que so praviam laves modificagias no Cédige Penal brasileire® A seguit, apes breve aplesentacae de séu cantetda central, a refenda PLS ‘sera analisada. a luz das obrigagaes ecorrentes do diita internacional publico e do direite 1 Por exempla, PL 467420122 PLS nm 362/2011, EPS n, 26/211 comparado, ao mesmo tempo lsvande em considetaggo conhecimentas criminolégicas sobre © fendmena, Ressalva-se que a analise feita nao pretande ser complata au exaustiva; pelo contrario, trata-se de comentirins pontuas, cuja principal fungdo consiste em oferecer reflexes critkas sabre tema complexe @ suscetivel de instrumentalizapaa para fins paliticas Ninguém duvide da obrigagia dos Estados em tomar as medidas necessarias para proteger seus cidadaos contra esse antiga flagelo da humanidade. que renasceu nas bltimas décadas em dimensoes. cada vez mais assustadoras. Todavia. 4 pergunta que se coloca & até que. panto essas medidas requerem reformas mais prefundas da Direito Penal? Nao faltam experiéncias com legisiagao-antiterrorista nc direite comparada ©, infelamente, sua analise recomenta a adacao de uma postuta reservada, ao inves de cair em entusiasmo: prematuro. Ha.exemplas demais para a apheagao abusiva, éxcessiva ou, simplesmente, inadequada dessas leis Antiterraristas ~quefrequentemente carecem de um foco sufcientemente precisa e padem se tornar ferramentas de dec:saes arbitraras, com graves implicaghes para os direitos humans” Até quando respeitam as regras 7 Para alguns exemplns ilustrativas WHITAKER, 2009, FOOT, 7005, 55. da joge do Estado Democratic de Gireito, tais leis tendem a produzir efeitos colaterais significativos que frustram as boas intengdes a legislader. Portanto, & preciso levara serio os potenciais defeitas & pevigas de uma lei antiterrorista. em discuss3o na Congresso Nacional pata prevenir danos futures, Torou-se costume aportar para o fain de que tai els, por estipularem competéncias jurisdicionais especiais e penas recrudescidas, normalmente intsaduzem idpias bastante autoritarias ao modelo liberal do Direito Penalt No entanto, talver saja ainda mais importante frisar que elas podem gerar processes discursives © psicossociais estigmatizantes, gue podem radicalizar conflitos, grapos e problemas socials ata entao sob razoavel conteole do Estado Dai ser imperativa a andlise objetive e rigamsa de todas as letras da lei propesta, reconhecendo, todavia, que as contribuigdes do Direito Penal ao combate aa terrorismo sao relativamente modestas ~ ressalva que vale ainda mais no que se refere ap Direito Penal material. Quem mata por motives ideolagicos, usa bombas ou sequestra pessoas para chamaratencao para determinads causa politica, jamais ficara impune, pois sempre infringe tipos penais que garantem sua condenacao, Partanta, as pergumtas-chave sia se essa punigao prevista pela legislacdo vigente @ adequadae até que ponto ha lacunas juridicas em relacao a certas atividades terraristas que justifcam 5 defitos propostos no projeto de lei em questaa ALBRECHT, 2010, 9 385-350. 2. Breve apresentacao do PLS n, 499/2013 0 PLS em tela, assinado a época pelo Senador Romero juca (PMDS} © pelo Deputado federal Candida Vaccarezza (PT), em nome da Comissaa Mista destinada a comsolidar a legislagio federal e a reguiamentar dispositive da Constituijda Feceral, apresenta-se sem divida muito ambicioso. Conforme @seu art. 12, ele precura nada menos do que defnir “crimes de terrorisma, estabelecenda 2 competéncia da justia Federal para o seu processamento, além de dar eutras orowid@ncias No que.se refere 4s “outras providéncias", estipula, par exemplo, que os delites “so inahangavets ® insuécetivels de graca, anistia ou indulta” fart. 10), em confarmagao ap. art. 5%, inciso XLml, da Constituicgo federal de 198a', carta esta conhecida por seu repidio expll terrorism’. Seis so 03 crimes que o PLS n.499/2013 pronée © primeim deles se encontra tipificade logs em seu art 2% sob a rubrica “terrerismo”, € prevé pena de 15 a 30 anos de reclusao para “provocar ou infundir terrar ou panico generalizado mediante ofensa ow tentativa de ofensa a vide, & integridade fisica ou a saiide ou 2 privacdo da liberdade de Pessoa". No mats, estipula reciisao de 2 30 5 Art. 58, inciso xLa, CF - A tei considetard crimes itahangavels & insuscetivels de graca ou anistia a pratica da tortura, bréfico Bcita de entorpecentes 2 dogas:afins, o tenprsmo & os defnides coma crimes hediondos por eles rcpondenda wmandantes, os executores & 05 que, padento evita~ los, se cenitirem art ae, vin CE anos; 5€ 0 ato terrorists resultar em morte’, 2 seis causas de aumento de pena come, por exemple, 0 emprega de explosiva ou foao, em mea de. transporte. coletive ou contra pessozs internacionalmentz _protegidas* Enfim, prevé consequéncias especiais se o ato for perpetrada par funciongrio publico, namgadaments a pends de cargo, fungae ‘ou emptege piblice 2 2 intendi¢io para seu avercicio pelo dobeo da pena aplicada”, Crime comelate ao co art. 2° 8 o “terrorisma contra coisa’, previsto no art 4¢ do PLS As elementares do tipo so semelfiantas (*piavocar au infundir terror ou panico generalizada’), exceta pela ressalve de que a ag30 ocore “mediante dano a bem qu servign essenciaf S40 conskierades como ‘servigo essencial” harragem, central eltrica, aeroporto, parto, modoviaria. estacan de metré, meio de transporte coletive. pante, hospital, casa de sade, instituigdes de ensine ‘ou estadio espartiva, entre outros". A pene preveta é de cito 2 20 anos de reclusdo, com possibilidade de aumento pata algumas hipdteses definidas pelo ert. 29, § 20" © art. 32, intitulado “financiamenta de terrarisma” criminatiza a aqao de “|olfereces, abter, guardar, manter em depésit, investir ou contribuir de qualquer modo para a obtengae de ativo, bem ow recurso financeio com a finalidade de financiar, custear ow promover 7 APL 2 § ©, PLS S90, B Ar 252 PLS a99/7013 OAT 28,838 PLS soo. W Art, 42-6 3 PLS n 699/2011. Tart 42 8 7 AS a 499/200 comespande ap Ar 20:5 3 Seu§ pratica de terrorismo”. Para subsungaodo.ato 2 narma & desnecessaria a efetiva execugaa da conduta terrorista. & pena é igual aquela Brevista no art. 2& reclusao, de 2 30 anos. O tipo mais brevemente descrita 6 aquele do art.59, que consiste em meras tres palavras: “Incitar o terronsmo”, punido com tris a orto anoz de reclusSo. Em sequéncia, 0 art G2 eshipula a mesma pana para o agente que der *abriga ou guarida a pessoa de quem se saiba tenha praticado ou esteja por praticar crime de terrorism”. Por fim, a derradeiro tipo penal 6 a “associagao em grugo terrorista’, descrita coma aguele integrada por “ts ou mais pessoas.como fim de oraticar terrorismo’, com pena de cinco a 15 anos de reclusda™ ‘Os sete artigos sestantes tatam do érrependimento que extingue @ punibilidade, da protege lezal pare o repetitus". da cumprimento da cena”. bem como da competéncia da Justiga Federal para processar e julgar tais crimes", alm de outros detalhes. Ente esses disnositivas derradairas, destaca- searevogerdado art 20dalein.7.170/1983-"Lei da Sequeanga Nacional, que hodiernamente criminaliza o cometimento de “ates de terrorising, por inconfarmismo politico ou para obtengao de fundos destinados @ manutencaa de arganaagoes politicas clandestinas au subversives’, nrevenda uma pena de trésa dex anos 12 Art 79, PLS 0 DOI Te Art 88, PLS 499/201 14 Art 99, PLS in. SO9/2013 TS Art 109, PLS n So/2018. 16 Art. 12, PLS 1 a9 /703

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