Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
econômicas e outras relações podem, todas, ocupar um único 3 - Nota da Tradutora (NT):
em blocos nodais interligados ponto, elas devem necessaria- “Nexo” no sentido de elo,
de uso da terra de alta densida- mente se arranjar em uma rede liame, relação, vínculo
de. O principal, mas não o úni- ou em um mosaico espacial-
co mecanismo que impulsiona mente extenso organizado em
essa tendência fundamental, torno de seu centro comum de
nós argumentamos, é o surgi- gravidade e caracterizado por
mento de divisões orgânicas intrincados padrões internos de
do trabalho nas quais a vida so- diferenciação geográfica. Cha-
cial e econômica (isto é, a pro- mamos qualquer sistema deste
dução de bens e serviços, mas tipo de nexo [nexus]3 da terra
também as atividades culturais, urbana (ver Scott, 1980).
religiosas e governamentais) é Esses processos urbanos
organizada e reorganizada em trans-históricos e transgeográfi-
redes de unidades de atividades cos assumem atributos concre-
humanas especializadas, mas tos específicos que refletem as
complementares. Esta forma de condições sociais, econômicas
organização significa, por sua e políticas mais amplas – e em
vez, que a proximidade geográ- constante mudança – nas quais
fica mútua ou a aglomeração a urbanização está sempre inse-
destas unidades é crucial, pois, rida. Podemos identificar cinco
de outro modo, os custos de variáveis básicas ou forças que
tempo e distância da interação moldam as principais variações
dificultariam sua eficácia ope- do nexo da terra urbana em di-
racional. Em nosso artigo ante- ferentes momentos e lugares.
rior, discutimos extensivamen- Estas podem ser enumeradas
te que todas as cidades ao longo como (a) o nível geral e o modo
da história se baseiam nesse de desenvolvimento econômi-
processo fundamental de aglo- co, (b) as regras de alocação
meração. Os custos relativos à de recursos que prevalecem,
distância foram, sem dúvida, (c) as formas de estratificação
muito maiores em períodos social, (d) as normas e tradi-
mais antigos da história, mas ções culturais e (e) as relações
como revela a abundante litera- de autoridade política e poder.
tura sobre a dinâmica da aglo- Nós não temos espaço aqui
meração, a proximidade através para elaborar nem mesmo uma
da co-localização ainda hoje é descrição esquemática da di-
imperativa para certos tipos de versidade empírica que essas
atividades (Cooke e Morgan, (e outras) variáveis contextuais
1998; Fujita e Thisse, 2002; são capazes de gerar, mas elas
Krugman, 1991; Scott, 2012; levam a uma grande quantidade
Storper, 2013). Uma outra con- de variações detalhada no nexo
sideração importante deve ago- da terra urbana de uma instân-
ra ser feita em relação ao fato cia para outra. Por exemplo, a
de que, uma vez que as ativida- Roma imperial, Xi'an na China,
des especializadas interdepen- a antiga Babilônia, Timbuktu no
Revista do Programa de Pós-Graduação
dentes que constituem a divi- Império do Mali, Tenochtitlan em Geografia e do Departamento de
são do trabalho (e a habitação em Aztla'n no século XV (atual Geografia da UFES
Outubro-Dezembro, 2018
residencial a ele associada) não México), Manchester na era in-
33
ISSN 2175-3709
dustrial na Grã-Bretanha e Los como um ponto de captação da-
Angeles, Cidade do México e queles que usam seus serviços,
Revista do Programa de Pós-Graduação Hong Kong no século 21, são mas não é provável que seus ar-
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES todas bem diferentes uma das ranjos administrativos internos
Outubro-Dezembro, 2018 outras em um nível de análise, sejam muito relevantes para
ISSN 2175-3709
mesmo que todas compartilhem a compreensão da cidade. Da
um conjunto comum de forças mesma forma, a taxa de juros,
genéticas fundamentais. Em as ideologias do imperialismo
vista do papel desempenhado ou o preço do açúcar não são
por essas diferentes variáveis e, intrinsecamente urbanos; ou
apesar de nossas generalizações melhor, pode-se dizer que eles
teóricas em relação ao nexo da têm alguma significância para
terra urbana, discordamos de o urbano apenas na medida em
Dick e Rimmer (1998) que afir- que podem desempenhar algum
mam que as cidades em várias papel na dinâmica do nexo da
partes distantes do mundo es- terra urbana. Uma ilustração
tão agora convergindo para um adicional dessas observações
modelo padrão. Pelo mesmo é fornecida pelo fenômeno da
motivo, também rejeitamos as pobreza, que tem dimensões
reivindicações de Roy (2015) urbanas importantes, mas tam-
quando descreve o nosso artigo bém tem muitas outras mani-
anterior como uma tentativa de festações substanciais e rela-
construir uma história universal cionais que não são geradas
cujo objetivo é obliterar "dife- pelo urbano. Para mostrar isso
renças históricas". de outra forma, as medidas de
Nossa análise não só nos for- desigualdade ou pobreza nas
nece as ferramentas para distin- cidades não são equivalentes à
guir entre o geral e o particular afirmação de que a desigualda-
naquilo que tem como resulta- de ou a pobreza são basicamen-
do o urbano, mas também para te geradas pelas cidades (Samp-
separar o que é distintivamente son, 2012). Especialmente em
e inerentemente urbano do res- economias capitalistas ou de
to da realidade social. Em parti- mercado, a pobreza não é fun-
cular, devemos distinguir entre damentalmente causada por
os fenômenos que ocorrem nas processos urbanos, mas pelas
cidades, mas não são gerados forças complexas que moldam
pelo processo de urbanização, a distribuição de renda em uma
e fenômenos que são legitima- economia marcada pela pro-
mente elementos das cidades, priedade privada, por mercados
no sentido em que eles desem- competitivos e pelo trabalho
penham um papel ativo na de- assalariado. Do mesmo modo,
finição da forma e da lógica embora pesquisadores usem
do urbano. Assim, um hospital frequentemente entidades ur-
localizado em uma área urba- banas como unidades de obser-
na geralmente desempenhará vação em vários tipos de exer-
um papel importante como ele- cícios estatísticos (assim como
mento do nexo da terra urbana, usamos condados, estados ou
tanto como um tipo específico países para o mesmo propósito),
de provedor de serviços quanto não significa que esses exercí-
34
Michael Storper Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Allen J Scott Páginas 30 à 62
Michael Storper Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Allen J Scott Páginas 30 à 62
da cidade como por outras ci- todos os lugares e em lugar ne- 4 - O mesmo pode ser dito
dades e regiões em locais mais nhum”. A fortiori, estamos em para o termo “determinismo”
distantes. Mesmo nos tempos oposição aos teóricos do urba- que Mould (2015) invoca
antigos, o comércio de longa no que afirmam que a ideia da em suas críticas ao nosso
distância era característico de cidade é puramente ideológica. artigo anterior. Qualquer
determinista que tenha
muitas cidades, como exempli- Este é também um momento
respeito próprio provavelmente
ficado de forma mais dramática apropriado para aludir a algu- insistirá, no mínimo, que
pelo caso da Roma clássica. No mas das críticas que foram fei- uma abordagem determinista
século 21, as cidades interagem tas à nossa análise anterior de envolve a supressão da
umas com as outras em um sis- que ela seria pautada em “eco- liberdade de escolha por
tema globalmente integrado de nomicismos” (Mold, 2015; Roy, causalidades puramente
comércio e de troca de informa- 2015). Dado o papel primordial materiais ou estruturais-
ções, expresso em um mosaico que atribuímos às forças eco- funcionais. Mould não
global emergente de cidades e nômicas na gênese do nexo da desenvolve nenhum raciocínio
cidades-regiões. terra urbana, essa linha de críti- ou evidência de como ou por
À luz dessas observações, ca é totalmente previsível, mas que nossa teoria do nexo da
terra urbana se relaciona com
podemos agora afirmar que a essencialmente desinformada.
alguma concepção deste tipo.
cidade representa uma escala Nós, certamente, sugerimos que
muito específica de interação as origens do nexo da terra urba-
econômica e social gerada pe- na residem nas tensões econô-
los processos de aglomeração e micas engendradas pela divisão
focada no imperativo de proxi- do trabalho e pela aglomeração
midade e quase sempre dotada (e oferecemos justificativas for-
de arranjos de governança que tes para esta posição), mas nos-
tentam lidar com os efeitos pro- sa reivindicação está, na ver-
blemáticos de densidade e de dade, muito longe de qualquer
proximidade. Ao mesmo tem- argumento que vai no sentido de
po, a cidade está sempre inse- que as cidades são exclusivamente
rida em uma economia espacial ou monocasualmente estruturadas
distante que a sustenta sem que por variáveis econômicas. Na
sua integridade como fenômeno verdade, sugerimos explicita-
social característico seja com- mente que diversas outras for-
prometida (Fujita et al., 1999). ças sociais, culturais e políticas
Por conseguinte, como argu- também atuam na formação do
mentaremos mais detalhada- nexo da terra urbana. Assim,
mente mais adiante, não se pode nossa resposta à acusação de
simplesmente eliminá-la por sermos economicistas é dupla.
decreto em uma espécie de um Primeiro, convidamos nossos
plasma global universalizante críticos a identificar exatamente
como proclamam os teóricos da o que significa “economicismo”
“urbanização planetária” (por (um termo que é quase sempre
exemplo, Angelo e Wachsmuth, utilizado de forma vaga4). Nos-
2015; Brenner e Schmid, 2015). sa sugestão é que o uso do termo
O nosso argumento, portanto, seja reservado para quando situ-
vai fortemente contra as princi- ações não econômicas sejam er-
pais teses de teóricos da urbani- roneamente proclamadas como
Revista do Programa de Pós-Graduação
zação planetária ou aqueles que, tal (por exemplo, afirmações de em Geografia e do Departamento de
como Amin e Thrift (2002), que o nível de desenvolvimento Geografia da UFES
Outubro-Dezembro, 2018
afirmam que “a cidade está em econômico determina a forma
37
ISSN 2175-3709
de sociabilidade nos bairros ur- Urbanismo pós-colonial:
banos ou que a cidade não passa cosmopolita, mas provin-
Revista do Programa de Pós-Graduação de um fenômeno econômico).
em Geografia e do Departamento de cial
Geografia da UFES Em segundo lugar, desafiamos
Outubro-Dezembro, 2018 as tentativas de nossos críticos Muitas das pesquisas pós-
ISSN 2175-3709
de caracterizar nosso trabalho -coloniais contemporâneas se
como economicista pedindo a originaram em estudos cultu-
eles que ultrapassem as alega- rais e históricos que funcio-
ções puramente gestuais e de- naram como uma crítica aos
monstrem detalhadamente, de numerosos pontos cegos nas
forma crítica, como as nossas tradições da análise teórica do
formulações sobre as origens Norte. Acima de tudo, o pen-
analítica das cidades podem samento pós-colonial, como
realmente estar erradas e como representado, por exemplo, por
elas podem ser corrigidas. De Said (1978) e Spivak (2008),
fato, uma leitura aprofundada de demonstra como diversos lega-
nosso texto deveria deixar bem dos intelectuais do colonialis-
claro que a nossa teoria do nexo mo (análises tendenciosamente
da terra urbana permanece aber- etnocêntricas e preconceitos
ta a uma enorme diversidade em particular) entram incons-
de elaborações e hibridizações cientemente em escritos acadê-
não econômicas e, certamente, micos sobre o Sul Global. Os
a inúmeras relações reflexivas estudiosos pós-coloniais (como
complexas entre a economia e Comaroff e Comaroff (2012))
as dimensões sociais, políticas e também tentaram, corretamen-
culturais da vida urbana. Além te, demonstrar que as reivindi-
disso, embora este ponto certa- cações de universalidade que
mente não precise ser explici- foram muitas vezes apropria-
tado, o nexo da terra urbana é, das pela teoria euro-americana
obviamente, uma chave funda- são, às vezes, demonstravel-
mental para entender a cidade mente falsas. Essas mesmas
como uma matriz locacional linhas de pensamento e de crí-
de formas construídas e de ati- tica recentemente se tornaram
vos simbólicos associados que, fortemente influentes nos estu-
de acordo com Walker (2016), dos urbanos. Robinson (2006,
estão ausentes de nossa própria 2011) e Roy (2009, 2011), en-
análise. tre muitos outros (por exemplo,
Esta breve exposição de nos- Edensor e Jayne, 2012; Myers,
sas visões teóricas serve como 2014, Ong e Roy, 2011; Patel,
um ponto de referência a partir 2014, Sheppard et al., 2013),
do qual revisaremos e faremos a têm sido especialmente ferozes
crítica de uma série de teorias de a este respeito e têm sido espe-
urbanização que estão na moda cialmente francos ao condenar
atualmente e que pensamos a aplicação das teorias urbanas
que propõem relatos seriamen- construídas na Europa e Améri-
te questionáveis aos desafios ca do Norte para as cidades do
científicos e políticos colocados Sul Global.
hoje pelas cidades. Estes e outros analistas têm
procurado corrigir o que vêem
38
Michael Storper Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Allen J Scott Páginas 30 à 62
Michael Storper Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Allen J Scott Páginas 30 à 62
como desequilíbrio e repre- tantes apelos pela mundificação 5 - Nota da Tradutora (NT):
sentações errôneas nas teorias da análise urbana de um lado Os autores se referem ao termo
urbanas do Norte por meio de e, por outro, a afirmação igual- worlding, conceito trabalhado
duas estratégias que se sobre- mente constante de um binário no livro “Worlding Cities:
põem. Uma estratégia é pedir Norte/Sul e mesmo em alguns Asian Experiments and the art
of being global” das autoras,
por formas mais cosmopolitas casos, como veremos, uma ten-
Ananya Roy e Aihwa Ong,
de teoria urbana (o que Ong e dência maciça em favor de uma ambas professoras da UC
Roy (2011) se referem como “provincianização” [‘provin- Berkeley à época da publicação
“mundificação”5) que levem cialization’] da teoria urbana do livro no qual tratam da
a sério as experiências das ci- (Ren e Luger, 2015). crescente importância que
dades do Sul Global. E outra Os estudiosos pós-coloniais as cidades asiáticas passam
estratégia é insistir no núcleo estão especialmente insatisfei- a ter no mundo global
irredutível da idiossincrasia tos – nem sempre incorreta- contemporâneo. O conceito
que marca cada cidade e se mente, mas, com frequência, de Worlding foi cunhado pela
concentrar no jogo resultan- sem as nuances apropriadas teórica indiana Gayatri Spivak.
te da “diferença” empírica e – com o que eles alegam ser Para Spivak, worlding refere-
se a uma prática discursiva
da “complexidade”. Um outro os preconceitos modernistas e
dos países colonizadores de
ponto de partida importante desenvolvimentistas pervasi- descrever e representar o
para os estudiosos urbanos pós- vos da teoria urbana elaborados outro (o colonizado, o nativo)
-coloniais reside na noção de no Norte Global. Um dos casos para produzir uma ideia
"cidade comum" desenvolvida mais funestos desse tipo de par- de inferioridade. Em Roy e
por Amin e Graham (1997), cialidade, na visão desses co- Ong, contudo, worlding é
segundo a qual as cidades são mentaristas, é representado pela “empregado para identificar
igualmente únicas e exclusivas Escola de Sociologia Urbana da os projetos e práticas que
e que nenhuma pode ser reivin- Universidade de Chicago. Um fundamentam uma visão de
dicada como um arquétipo pri- ponto particularmente polêmi- mundo em formação”. Para as
vilegiado ou exemplar em rela- co é a noção da Escola de Chi- autoras, o sentido em que usam
o termo e as práticas a eles
ção às outras. Robinson (2006), cago de um continuum folk-ur-
associadas “não se encaixam
em particular, tem simpatia por bano6 separando, de um lado, (...) em lados opostos de
essa noção ao afirmar a posição as formações sociais primitivas divisões de classe, políticas ou
equivalente de todos os centros e não-urbanas e, de outro lado, culturais”. Elas adotam “uma
urbanos através da divisão Nor- as formações sociais avança- formulação não ideológica de
te-Sul, assim como proclama das e urbanizadas, bem como worlding” que, no sentido em
que qualquer problemática sig- a prolongação desta noção no que empregam, está ligado
nificativa do urbano deve estar trabalho de Wirth (1938). Os “à idéia de emergência, de
atentamente focada no caráter teóricos urbanos pós-coloniais que as situações globais
essencial das cidades como criticam o modernismo desen- estão sempre em formação”,
lugares de diferença. Em uma volvimentista como um discur- propondo formas mais
cosmopolitas da teoria urbana
veia mais radical, Roy (2009: so que remete as cidades (e as
820) tem advogado que muito sociedades) do Sul Global ao Continua...
da teoria urbana existente deve status de subdesenvolvimento
ser varrida para longe com a e atraso, uma perspectiva que é
injunção categórica de que “o manifesta, de acordo com Roy
centro de elaboração da teoria (2011: 224) em “narrativas apo-
deve mudar para o Sul Global”. calípticas e distópicas da fave-
No entanto, como observa Peck la”. Ela mesma vê a pobreza, a
Revista do Programa de Pós-Graduação
(2015), há uma tensão aparen- informalidade, a marginaliza- em Geografia e do Departamento de
temente não resolvida nos estu- ção e as favelas extensas das ci- Geografia da UFES
Outubro-Dezembro, 2018
dos pós-coloniais entre os cons- dades do sul como um modo de
39
ISSN 2175-3709
urbanização (Roy, 2005, ênfase órico baseado em evidências
no original). É difícil determi- limitadas derivadas de cidades
Revista do Programa de Pós-Graduação nar exatamente o que essa frase do norte, que é inadequado ou
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES significa, mas presumivelmente irrelevante no que diz respeito
Outubro-Dezembro, 2018 funciona como um gesto desti- às cidades do sul. Onde a teoria
ISSN 2175-3709
nado a eliminar as implicações urbana pós-colonial erra, argu-
supostamente pejorativas das mentamos, é em suas próprias
teorias do Norte. O moder- formas peculiares de excesso
nismo-desenvolvimentismo é crítico e seu compromisso geral
ainda criticado por estudiosos com o que chamamos de “novo
pós-coloniais porque promove particularismo” (Scott e Stor-
um conceito teleológico das ci- per, 2015). No que se segue,
dades do Sul Global, no qual o abordamos o que consideramos
crescimento e a transformação ser as três grandes falhas da teo-
estão sujeitos a estágios evo- ria urbana pós-colonial, ou seja,
lutivos envolvendo mudanças suas queixas exageradas quanto
daquilo que é menos moderno ao viés epistemológico euro-a-
para o que é mais moderno e mericano sobre a análise urbana
desenvolvido. Mais especifica- contemporânea, sua crítica al-
mente, o que é questionado aqui tamente seletiva do modernis-
é que não é razoável esperar um mo-desenvolvimentismo e seu
movimento linear de arranjos forte compromisso metodológi-
menos formais para mais for- co com o comparativismo teo-
mais em relação à construção ricamente não estruturado. No-
de assentamentos e de direitos te-se que todos esses temas são
de propriedade nas cidades do essencialmente ramificações de
Sul Global (Roy, 2005). uma única meta-reclamação, a
de um conjunto de incomensu-
rabilidades: no ponto de vista,
A crítica dos estudos urbanos no desenvolvimento e na repre-
pós-coloniais sentatividade.
Obviamente, as cidades do Eurocentrismo e a provin-
Sul Global foram gravemen- cianização do conhecimento.
te negligenciadas nos esforços Para começar, então, os estu-
anteriores de pesquisa7; obvia- dos urbanos pós-coloniais são
mente devemos ter o cuidado amplamente motivados pela
de prestar atenção às especifici- afirmação de que a teoria pro-
dades dessas cidades; e, obvia- duzida no Norte Global é ines-
que não se resumem às visões
clássicas do Norte sobre o Sul. mente, precisamos reconhecer capavelmente incapaz de expli-
6 - NT: Teoria desenvolvida por que a teoria urbana deve agora car situações empíricas no Sul
Robert Redfield, antropólogo norte- buscar em todo o mundo por Global (ver Peck (2015) para
americano, a partir de pesquisas suas fontes de dados e evidên- uma caracterização análoga da
realizadas por ele no México. cias, enquanto se mantém aber- teoria pós-colonial). Roy (2009)
7 - E agora que as oportunidades ta a novas ideias conceituais ge- acrescenta a alegação ainda
de pesquisa nas cidades do Sul radas a partir das experiências mais dura de que a teoria urbana
Global estão se expandindo euro-americana “mantém vivas
das cidades do Sul Global. É
rapidamente no Norte e no Sul, essa as tendências neo-orientalistas
negligência relativa por parte de
igualmente óbvio que devemos
ter cuidado com os perigos do que interpretam as cidades do
estudiosos urbanos provavelmente
eurocentrismo, o excesso te- Terceiro Mundo como o cora-
desaparecerá rapidamente.
40
Michael Storper Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Allen J Scott Páginas 30 à 62
Michael Storper Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Allen J Scott Páginas 30 à 62
Agradecimentos
Nós dedicamos este artigo ao nosso saudoso amigo e colega
Edward Soja, sabendo que ele não teria conseguido resistir em ex-
pressar perspectivas alternativas em quase tudo o que dissemos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Acuto M (2011) Putting ANTs into the millefeuille. City 15:
552–562.
Allen RC (2009) The British Industrial Revolution in Historical
Perspective. Cambridge: Cambridge University Press.
Amin A and Graham S (1997) The ordinary city. Transactions
of the Institute of British Geographers 22: 411–429.
Amin A and Thrift N (2002) Cities: Reimagining the Urban.
Cambridge: Polity.
Anderson JE and van Wincoop E (2004) Trade costs. Journal of
Economic Literature 42: 691–751.
Angelo H and Wachsmuth D (2015) Urbanizing urban political
economy: A critique of methodological cityism. International
Journal of Urban and Regional Research 39: 16–27.
Aston T and Philpin CHE (1987) The Brenner Debate: Agrarian
Class Structure and Economic Development in Pre-Industrial
Europe. Cambridge: Cambridge University Press.
Aw T (2013) Five Star Billionaire. New York: Random House.
Bender T (2010) Postscript: Reassembling the city: Networks
and urban imaginaries. In: Faráas I and Bender T (eds) Urban
Assemblages: How Actor-Network Theory Changes Urban
Theory. London: Routledge, pp. 303–323.
Boo K (2012) Behind the Beautiful Forevers: Life, Death and
Hope in a Mumbai Undercity. New York: Random House.
Brenner N and Schmid C (2014) The urban age in question.
International Journal of Urban and Regional Research 38: 731–
755.
Brenner N and Schmid C (2015) Towards a new epistemology
of the urban. City 19: 151–182.
Brenner N, Madden DJ and Wachsmuth D (2011) Assemblage
urbanism and the challenges of critical urban theory. City 15: 225–
240.
Bunnell T and Maringanti A (2010) Practising urban and
regional research beyond metrocentricity. International Journal of
Urban and Regional Research 34: 415–420.
Caldeira T (2000) City of Walls: Crime, Segregation and
Citizenship in Sao Paulo. Berkeley and Los Angeles: University
of California Press.
Callon M (1984) Some elements of a sociology of translation: Revista do Programa de Pós-Graduação
Domestication of the scallops and the fishermen of St Brieuc Bay. em Geografia e do Departamento de
Sociological Review Special Supplement S1: 196–233. Geografia da UFES
Outubro-Dezembro, 2018
Cheshire P and Hay D (1989) Urban Problems in Western
57
ISSN 2175-3709
Europe: An Economic Analysis. London: Hyman.
Chetty R, Hendren N, Kline P, et al. (2014) Where is the land
Revista do Programa de Pós-Graduação
em Geografia e do Departamento de of opportunity? The geography of intergenerational mobility in the
Geografia da UFES United States. Quarterly Journal of Economics 129: 1553–1623.
Outubro-Dezembro, 2018
ISSN 2175-3709 Chibber V (2013) Postcolonial Theory and the Spectre of
Capitalism. London: Verso.
Cole T (2014) Every Day is for the Thief. New York: Random
House.
Comaroff J and Comaroff JL (2012) Theory from the South:
How Euro-America is Evolving toward Africa. Boulder, CO:
Paradigm.
Cooke P and Morgan K (1998) The Associational Economy:
Firms, Regions, and Innovation. Oxford: Oxford University Press.
de Boek F and Plissart M-F (2004) Kinshasa: Tales of the
Invisible City. Antwerp: Ludion.
DeLanda M (2002) Intensive Science and Virtual Philosophy.
London: Continuum.
Deleuze G and Guattari F (1972) Capitalisme et Schizophrénie.
Paris: Editions de Minuit.
Dick HW and Rimmer PJ (1998) Beyond the Third World city:
The new urban geography of South-East Asia. Urban Studies 35:
2303–2321.
Dovey K (2012) Informal urbanism and complex adaptive
assemblage. International Development Planning Review 34:
349–367.
Duranton G and Puga D (2004) Micro foundations of urban
agglomeration economies. In: Henderson JV and Thisse JF (eds)
Handbook of Regional and Urban Economics, Vol. 4. Amsterdam:
Elsevier, pp. 2065–2118.
Duranton G and Storper M (2008) Rising trade costs?
Agglomeration and trade with endogenous transaction costs.
Canadian Journal of Economics 41: 292–319.
Edensor T and Jayne M (2012) Introduction: Urban theory
beyond the West. In: Edensor T and Jayne M (eds) Urban Theory
Beyond the West: A World of Cities. London: Routledge, pp. 1–27.
Farías I (2010) Introduction: Decentering the object of urban
studies. In: Farías I and Bender T (eds) Urban Assemblages:
How Actor-Network Theory Changes Urban Theory. London:
Routledge, pp. 1–24.
Farías I (2011) The politics of urban assemblages. City 15:
365–374.
Fujita M and Thisse J-F (2002) Economics of Agglomeration:
Cities, Industrial Location, and Regional Growth. Cambridge:
Cambridge University Press.
Fujita M, Krugman P and Venables AJ (1999) The Spatial
Economy: Cities, Regions and International Trade. Cambridge,
MA: MIT Press.
Geertz C (1973) Interpretation of Cultures. New York: Basic
Books.
58
Michael Storper Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Allen J Scott Páginas 30 à 62
Michael Storper Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Allen J Scott Páginas 30 à 62
238.
Roy A (2015) Who’s afraid of postcolonial theory? International
Journal of Urban and Regional Research. Epub ahead of print.
DOI: 10.1111/1468-2427.12274.
Said EW (1978) Orientalism. New York: Pantheon.
Sampson RJ (2012) Great American City: Chicago and the
Enduring Neighborhood Effect. Chicago, IL: University of
Chicago Press.
Sayer A (2004) Foreword: Why critical realism? In: Fleetwood
S and Ackroyd S (eds) Critical Realist applications in Organisation
and Management Studies. London: Routledge, pp. 6–20.
Scott AJ (1980) The Urban Land Nexus and the State. London:
Pion.
Scott AJ (2012) A World in Emergence: Cities and Regions in
the 21st Century. Cheltenham: Edward Elgar.
Scott AJ and Storper M (2015) The nature of cities: The scope
and limits of urban theory. International Journal of Urban Theory
39: 1–15.
Sheppard E (2014) Globalizing capitalism and southern
urbanization. In: Parnell S and Oldfield S (eds) The Routledge
Handbook on Cities of the Global South. London: Routledge, pp.
143–154.
Sheppard E, Leitner H and Maringanti A (2013) Provincializing
global urbanism: A manifesto. Urban Geography 34: 893–900.
Simone A (2011) The surfacing of modern life. City 15: 355–
364.
Simone A (2014) Jakarta, Drawing the City Near. Minneapolis,
MN: University of Minnesota Press.
Smith RG (2013) The ordinary city trap. Environment and
Planning A 45: 2290–2304.
Soja E and Scott AJ (1986) Los Angeles: Capital of the late
twentieth century. Environment and Planning D: Society and
Space 4: 249–254.
Spivak GC (2008) Can the subaltern speak? In: Nelson C and
Grossberg L (eds) Marxism and the Interpretation of Culture.
Basingstoke: Macmillan, pp. 271–313.
Standing G (2011) The Precariat: The New Dangerous Class.
London: Bloomsbury.
Storper M (2013) Keys to the City: How Economics, Institutions
Social Interaction and Politics Shape Developnent. Princeton, NJ:
Princeton University Press.
Taylor PJ (2013) Extraordinary Cities: Millennia of Moral
Syndromes World-Systems and City/ State Relations. Cheltenham:
Elgar.
Tonkiss F (2011) Template urbanism: Four points about
assemblage. City 15: 584–588.
Revista do Programa de Pós-Graduação
Walker R (2015) Building a better theory of the urban: A em Geografia e do Departamento de
response to ‘Towards a New Epistemology of the Urban?’ City 19: Geografia da UFES
Outubro-Dezembro, 2018
183–191.
61
ISSN 2175-3709
Walker R (2016) Why cities? A response. International Journal
of Urban and Regional Research (forthcoming).
Revista do Programa de Pós-Graduação Wilson WJ (1987) The Truly Disadvantaged: The Inner City,
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES the Underclass, and Public Policy. Chicago, IL: University of
Outubro-Dezembro, 2018 Chicago Press.
ISSN 2175-3709
Wirth L (1938) Urbanism as a way of life. American Journal of
Sociology 44: 1–24.
62
Michael Storper Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Allen J Scott Páginas 30 à 62