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Rastros, para piano solo e Live Electronics

Lucas Quinamo

A criação da peça partiu de um trabalho de iniciação científica em que analisei duas


peças do compositor Edino Krieger para piano solo – Epigramas e 3 Miniaturas. A ideia era
compor a peça utilizando elementos que estivessem presentes nas peças sem tentar replicar a
linguagem de Edino, mas sim ressaltando os rastros musicais da análise no meu imaginário
quanto compositor.
Para compor a peça, algumas técnicas de composição algorítmica também foram
empregadas, utilizando o software open source Open Music. Com base em alguns motivos de
Epigramas e de 3 Miniaturas e nos padrões melódico-harmônicos utilizados em 3 Miniaturas
pelo compositor, construí um patch para gerar material a ser trabalhado em papel.
A rítmica dos motivos e os padrões melódico-harmônicos de Edino foram tratados
como genótipos (as listas de árvores rítmicas e de midicent) pelo algoritmo e que se
manifestam no fenótipo (a partitura), seguindo a ideia de algoritmos genéticos de Husband et.
al. (2007, p. 4). A partir de então os genótipos seriam variados por uma série de mutações
(inversão das listas e adição de elementos) e gerariam a cada ciclo um novo material em
partitura. Esse material poderia ser escolhido por mim ou descartado. Quando escolhido, usei
o material gerado pelo computador livremente, modificando as estruturas rítmicas e
harmônicas quando necessário.
De tal modo, usei a repetição de notas e a eletrônica para reforçar a ideia de “rastros”
sonoros, com sintetizadores aditivos antecipando ou expandindo a harmonia criada pelo
piano, linhas de delay com tempo variável (a variação do tempo da linha de delay pode estar
associada a um algoritmo estocástico de controle, que cria uma granulação), frequency shifter
e gravação e modificação do som do piano, armazenado em um buffer.
A organização formal da peça não seguiu nenhuma forma tradicional. Me apropriei
levemente da ideia de Gramáticas Musicais Generativas de Philippe Manoury de modo que eu
encadeasse a inclusão do material rítmico na memória do algoritmo do Open Music.
Apesar disso, a forma da música não obedeceu à inclusão dos elementos no algoritmo,
estando dividida afinal em duas seções. A primeira seção, de caráter mais intenso e dinâmica
mais forte (com extensivo uso dos sintetizadores e certa saturação da eletrônica), é a maior
seção mas acaba por desembocar na segunda e última seção, de caráter tranquilo, sereno e
lírico – onde tentei, por meio do frequency shifter e de uma linha de delay, mimetizar o timbre
do gamelão javanês.

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