A criação da peça partiu de um trabalho de iniciação científica em que analisei duas
peças do compositor Edino Krieger para piano solo – Epigramas e 3 Miniaturas. A ideia era compor a peça utilizando elementos que estivessem presentes nas peças sem tentar replicar a linguagem de Edino, mas sim ressaltando os rastros musicais da análise no meu imaginário quanto compositor. Para compor a peça, algumas técnicas de composição algorítmica também foram empregadas, utilizando o software open source Open Music. Com base em alguns motivos de Epigramas e de 3 Miniaturas e nos padrões melódico-harmônicos utilizados em 3 Miniaturas pelo compositor, construí um patch para gerar material a ser trabalhado em papel. A rítmica dos motivos e os padrões melódico-harmônicos de Edino foram tratados como genótipos (as listas de árvores rítmicas e de midicent) pelo algoritmo e que se manifestam no fenótipo (a partitura), seguindo a ideia de algoritmos genéticos de Husband et. al. (2007, p. 4). A partir de então os genótipos seriam variados por uma série de mutações (inversão das listas e adição de elementos) e gerariam a cada ciclo um novo material em partitura. Esse material poderia ser escolhido por mim ou descartado. Quando escolhido, usei o material gerado pelo computador livremente, modificando as estruturas rítmicas e harmônicas quando necessário. De tal modo, usei a repetição de notas e a eletrônica para reforçar a ideia de “rastros” sonoros, com sintetizadores aditivos antecipando ou expandindo a harmonia criada pelo piano, linhas de delay com tempo variável (a variação do tempo da linha de delay pode estar associada a um algoritmo estocástico de controle, que cria uma granulação), frequency shifter e gravação e modificação do som do piano, armazenado em um buffer. A organização formal da peça não seguiu nenhuma forma tradicional. Me apropriei levemente da ideia de Gramáticas Musicais Generativas de Philippe Manoury de modo que eu encadeasse a inclusão do material rítmico na memória do algoritmo do Open Music. Apesar disso, a forma da música não obedeceu à inclusão dos elementos no algoritmo, estando dividida afinal em duas seções. A primeira seção, de caráter mais intenso e dinâmica mais forte (com extensivo uso dos sintetizadores e certa saturação da eletrônica), é a maior seção mas acaba por desembocar na segunda e última seção, de caráter tranquilo, sereno e lírico – onde tentei, por meio do frequency shifter e de uma linha de delay, mimetizar o timbre do gamelão javanês.