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O.

Fadigas Torres - Engenharia Econômica Capítulo 2- 1

Capitulo 2 - Depreciação e Impostos.

2.1 - Depreciação.

Os elementos que constituem o ativo fixo da empresa - equipamentos, edifícios,


instalações, etc. - sofrem uma perda de valor com o uso ou com o passar do tempo. Esta
perda de valor, não recuperada pelos serviços de manutenção, se denomina depreciação
real.
A depreciação real pode ser causada por:
• desgaste.
• obsoletismo.
• inadequação (obsoletismo do produto).
• acidentes.
Ë difícil determinar o valor da depreciação real ao longo do tempo; apenas nos
casos em que ha um mercado de equipamentos usados, como o de automóveis, por
exemplo, é possível ter uma idéia da variação do valor no tempo.

2.2 - Custo de uso de um bem de capital.

O emprego de um bem de capital durante um certo período de tempo acarreta dois


custos
1. ) - depreciação.
2. ) - juro do capital empatado.
Seja Vt o valor de um bem de capital no instante t . Temos:
depreciação no período T : Vt-1 - Vt
juros do capital empatado: jVt-1
O custo de uso do bem neste período será:
Ct = ( Vt-1 - Vt ) + jVt-1 = Vt-1 (1+j) - Vt
Supondo este bem adquirido no instante 0 e usado durante n períodos, teríamos
um custo total do uso do bem, referido ao instante n:
n
CTn = ∑[(Vt −1 (1 + j ) −Vt ](1 + j ) n −t
t =1
Desenvolvendo:
CTn = V0 (1 + j ) n − V1 (1 + j ) n −1 + V1 (1 + j ) n −1 −...−Vn −1 (1 + j ) + Vn −1 (1 + j ) − Vn

CT = V (1 + j ) − V
n 0
n
n

ou, trazendo para o instante zero:


Vn
CT0 = V0 −
(1 + j ) n
o que mostra que o custo total independe da seqüência das depreciações, dependendo
apenas do valor inicial e do valor final e da taxa de juros.
Calculando o custo anual equivalente, temos:
j (1 + j ) n j
CAE = V0 − Vn
(1 + j ) − 1
n
(1 + j ) n − 1
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j (1 + j ) n
CAE = (V0 − Vn ) + jV n
(1 + j ) n − 1
ou seja, o custo anual equivalente compõe-se de duas parcelas: a primeira corresponde à
prestação necessária para amortizar a parcela ( V0 - Vn ) que se depreciará nos n
períodos de uso e a segunda são os juros da parcela Vn que se mantém inalterada durante
toda a vida do bem..

2.3 - Modelos de depreciação contábil.

Não confundir a depreciação real com a depreciação contábil, que consiste em


lançamentos contábeis, feitos em cada período, de forma a distribuir a perda de valor do
ativo durante a sua vida útil
Supondo um grau constante de utilização, a depreciação contábil é função apenas
do tempo.

2.3.1 - Depreciação Linear

A depreciação linear supõe que o valor do equipamento cai linearmente com o


tempo de uso, isto é, a depreciação é constante em cada período.
Chamando V0 o valor de aquisição do equipamento, Vn o valor após n períodos
de uso (vida útil), a depreciação por período será:
depr = (V0 - Vn ) / n
O valor contábil do equipamento após t períodos será:
Vt = V0 - depr x t
Exemplo:
Um equipamento custa $20.000 e deve ser depreciado em 5 anos, quando deverá
ter o valor residual $2.000. Construir a tabela de depreciação linear e valor contábil.

dpr = (20000-2000) / 5 = 3600

Instante Depreciação Valor


Contábil
0 20.000
1 3.600 16.400
2 3.600 12.800
3 3.600 9.200
4 3.600 5.600
5 3.600 2.000

2.3.2 - Depreciação exponencial. Depreciação mista.

Neste modelo a depreciação em cada período é uma fração constante d do valor


V t do equipamento no inicio do período.
depr t = dVt-1
Vt = Vt-1 – depr t = (1-d)Vt-1
Vt = V0 (1-d) t
Este modelo ainda não é aceito no Brasil para fins fiscais, mas é a base do
imposto de renda norte-americano, onde é conhecido como DB (declining balance).
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Dados V0 , Vt ≠ 0 e t é possível calcular a taxa d. Entretanto, se Vt = 0 isto


não é possível, justamente no caso, muito freqüente, de valor residual nulo.
Em geral,, os países que aceitam a depreciação exponencial para fins fiscais fixam
o prazo e a taxa, mas utilizam um sistema misto, em que se passa para a depreciação
linear, no restante da vida útil, quando a depreciação linear, no tempo restante, for maior
que a exponencial, o que permite chegar ao valor residual nulo.
Exemplo:
Um equipamento custa $20.000 e deve ser depreciado em 5 anos, sem valor
residual. Construir a tabela de depreciação exponencial à taxa de 40%, com mudança
para depreciação linear quando esta for maior.

T Depreciação Valor Contábil Depreciação Tempo Depreciação Valor Contábil


Exponencial Exponencial Linear restante Mista Misto
0 20.000 5 20.000
1 8.000 12.000 4.000 4 8.000 12.000
2 4.800 7.200 3.000 3 4.800 7.200
3 2.880 4.320 2.400 2 2.880 4.320
4 **1.728 2.592 **2.160 1 2.160 2.160
5 1.037 1.555 2.160 0 2.160 0
Soma 18.445 20.000

A mudança de exponencial para linear foi feita no período 4.

2.4 - Influência dos impostos.

Podemos classificar os impostos em três grupos:


1. ) - impostos que não dependem da produção, como, por exemplo,
o imposto predial.
2. ) - impostos que dependem diretamente da produção, como o IPI,
o ICM.
3. ) - imposto de renda.
Para considerar a influência dos dois primeiros grupos, basta subtrair, a cada
instante, no diagrama de fluxo de caixa do projeto, os valores correspondentes aos
impostos, como custos que são. O imposto de renda, porem, exige um tratamento
especial.

2.5 - Imposto de renda.

A legislação e a jurisprudência sofrem constantes alterações, mas vamos


apresentar aqui apenas os elementos essenciais, que pouco mudam, para mostrar como
levar em consideração o imposto de renda na análise econômica de projetos.
O imposto de renda é baseado no lucro tributável do exercício, LT , definido por
LT = Receitas - Despesas - Deduções
Entre as deduções permitidas está a depreciação do ativo imobilizado.
A compra de um equipamento, que vai durar alguns anos, se fosse deduzida como
uma despesa do exercício, introduziria uma distorção no balanço da empresa, e, no
montante de imposto a pagar. Daí a exigência fiscal de que ela seja considerada um
investimento, que será depreciado ao longo da sua vida útil (depreciação contábil).
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A empresa tem interesse em deduzir o máximo no menor tempo possível, mas o


Fisco estabelece prazos mínimos para a depreciação ( vida útil legal ) e não aceita
métodos de depreciação que levem a deduções maiores que a obtida pela depreciação
linear.
Alguns exemplos de vida útil legal admitidos no Brasil:
Computadores (Hard e Software) 5 anos
Edifícios e construções 25 anos
Maquinas em geral 10 anos
Moveis e utensílios 10 anos
Veículos em geral 5 anos
Os terrenos não são depreciáveis.
Para equipamentos utilizados intensivamente, admite-se uma depreciação
acelerada, multiplicando a taxa anual (inverso da vida útil ) por 1,5 para funcionamento
em 2 turnos de 8 horas e por 2,0 para funcionamento em 3 turnos.
A depreciação acelerada também é usada ocasionalmente, e por prazo
determinado, para incentivar a compra de novos equipamentos.
Quando a firma vende um ativo imobilizado, o valor da venda é considerado uma
receita, e o valor contábil uma despesa.
Para efeito da análise econômica de projetos vamos supor, em nosso modelo que
o imposto de renda é pago no fim do exercício. Na realidade, atualmente ele é pago
mensalmente, por estimativa, acertando-se o montante exato no final do exercício.

2.5.1 - Taxa marginal.

A taxa a ser usada em nossos cálculos é a taxa marginal ρ , definida com a taxa
que se pagará por uma unidade adicional de lucro tributário.
Isto porque é costume do Fisco estabelecer taxas progressivas, dependendo da
faixa de lucros. Se o valor adicional da depreciação do nosso projeto não mudar a faixa, a
taxa marginal é a mesma da faixa correspondente. Porem, se houver mudança de faixa,
temos de calcular a taxa marginal proporcionalmente.

2.6 - Fluxo de caixa depois do imposto de renda.

O fluxo de caixa depois do I.R., FCd é simplesmente o fluxo de caixa antes, FCa
menos o imposto de renda IR .
Sejam R a receita, D a despesa, I o investimento do nosso projeto, Dep a
dedução por depreciação, ρ a taxa marginal do IR , IR o imposto de renda a ser pago
devido ao projeto e LT o lucro tributável. Temos
FCa = R - D - I
FCd = FCa - IR
IR = ρLT = ρ( R - D - Dep )
FCd = R - D - I - ρ( R - D - Dep ) = (1-ρ)( R - D ) -I +ρDep
Exemplo - Uma empresa está estudando a aquisição de um equipamento que
custa 100 mil reais. A receita esperada é 55 mil reais e o custo operacional 10 mil reais,
por ano, durante toda a vida útil que é estimada em 8 anos, quando se calcula o
equipamento poderá ser vendido por 40 mil reais. A vida útil legal é 10 anos. O
equipamento será usado em 3 turnos de trabalho. Montar o diagrama de fluxo de caixa
após o I.R., sabendo-se que a taxa marginal de I.R é ρ = 30%.
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Usando a depreciação acelerada, temos a taxa de depreciação d = 1/10 *2 =0,20.


A tabela 2.1 mostra os cálculos.

Instante Investi- Receita Depre- Lucro Imposto Fluxo de


mento Líquida ciação Tributável de Renda Caixa pós IR
0 -100.000 -100.000
1 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
2 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
3 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
4 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
5 45.000 20.000 25.000 7.500 37.500
6 45.000 45.000 13.500 31.500
7 45.000 45.000 13.500 31.500
8 85.000 85.000 25.500 59.500
Tabela 2.1

2.7 - Exercícios

2.7.1 - Uma empresa está considerando duas alternativas de equipamento para


fabricar determinada peça. A previsão de vendas é de 10.000 peças por ano, ao preço
unitário de $2,00 .
O equipamento A custa $4.500 e tem uma vida esperada de 10 anos, quando
pode ser vendida por $500 . Seu custo de produção é $0,12 por peça.
A maquina B custa $8.000 , tem uma vida esperada de 15 anos, sem valor
residual. Seu custo de produção é $0,10 por peça.
O material empregado custa $0,50 por peça.
Se a taxa de imposto de renda é 35% para qualquer valor do lucro, e a vida útil
legal de ambas as maquinas é 10 anos, construir o fluxo de caixa pós I.R. para cada uma
das duas maquinas, usando depreciação linear.
2.7.2 –Resolver o exercício 2.7.1, usando depreciação exponencial (taxa 0,20)
com mudança para linear.

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