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Ética cristã
Quando o paciente continua sendo medicado, mas com restrição aos usos de
tratamentos que provoquem dor, e recebendo cuidados farmacológicos mínimos que
ao menos alivie seu sofrimento, reconhecendo que a doença tem seu curso natural e
que o prolongamento artificial da vida biológica não é benéfica para o paciente, então
diz-se que neste caso ocorre a ortotanásia (“morte correta”), e não eutanásia.
como crime já que tal prática é “induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe
auxílio para que o faça”.
Hank Hanegraaf diz que “Embora a eutanásia passiva seja moralmente admissível,
pois permite que o processo de morte siga seu curso natural, a eutanásia ativa é
moralmente proibida, porque envolve, de forma direta, o ato de tirar a vida
humana” (7).
Alan Pallister, num discurso que representa opinião cristã majoritária, entende
que“praticar eutanásia é usurpar o lugar do Deus soberano. Este dá o espírito que
torna o homem uma alma vivente (Gn 2.7) e, quando Deus estende, o espírito volta
para ele (Ec 12.7)”. [8]
O problema do sofrimento
Quase sempre o argumento a que recorrem os defensores da eutanásia, é o
argumento emocional: por que não antecipar a morte de uma pessoa cuja doença é
incurável e que já está em estágio terminal, livrando-a assim de ficar dias ou até
meses sofrendo com a doença sobre uma cama?
Embora não devamos buscar a dor, nem desejar o sofrimento, fato é que, como diz
Pallister, “faz parte dos propósitos de Deus permitir que a maioria de seus filhos
atravessem períodos de grande sofrimento – os quais contribuem para seu
amadurecimento e santificação (Rm 5.3-5; 2Co 4.16,17; Tg 1.2-4)” [9]. Como dizia o
crítico literário C.S. Lewis, “Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa
consciência, mas grita em nossas dores; é seu megafone para despertar um
mundo surdo” [10].
O apóstolo Paulo, aquele que trazia as marcas do sofrimento por amor de Cristo em
seu corpo (Gl 6.17; 2Co 11.23-38), inspirado pelo Espírito Santo nos exorta que a
nossa “leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui
excelente” (2Co 4.17). Davi com muita confiança assim salmodia ao seu Pastor:
“Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque
tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl 23.4). Em horas de
grande aflição, precisamos nos unir aos coraítas e assim cantar com fé: “Deus é o
nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1).
A Bíblia ensina a consolar-nos uns aos outros (1Ts 4.18), chorar com os que
choram (Rm 12.15), socorrer os que sofrem (1Tm 5.10,16; Mt 25.34-36), orar
pelos doentes (Tg 5.14,15) e medicá-los quando preciso (1Tm 5.23). Mas a Bíblia
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Nas palavras do filósofo cristão William Lane Craig, “muito do sofrimento desde mundo
pode parecer totalmente sem sentido em relação ao objetivo de produzir a felicidade
humana, mas não pode ser sem sentido em relação a trazer um conhecimento mais
profundo de Deus” (11). Antes do sofrimento intenso que amargou, e mesmo quando
sua mulher lhe sugeriu amaldiçoar a Deus e morrer, Jó só conhecia a Deus de ouvir
falar; depois do sofrimento, quando Deus se revelara a ele pessoalmente em meio ao
redemoinho (Jó 38.1), Jó então pode dizer: “agora meus olhos te veem…” (Jó 42.5).
Creio que mesmo sofrendo dores terríveis, precisamos confiar em Deus, como uma
mulher grávida confia que dará a luz ao filho querido, ainda que em meio a terríveis
dores de parto.