Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Converted by convertEPub
W. E. B. DU BOIS
O cometa
tradução
ANDRÉ CAPILÉ
Seguido de
SAIDIYA HARTMAN
O fim da supremacia
branca
tradução
CECÍLIA FLORESTA
Sumário
Capa
Folha de rosto
Sumário
O cometa
O fim da supremacia branca
Sobre os autores
Notas
Créditos
O cometa
ELE FICOU POR UM na escadaria do banco,
INSTANTE
Querida filha:
Fui dar um passeio no Mercedes novo do Fred. Não
devo voltar antes do jantar. Convidei Fred.
J. B. H.
supremacia
branca
ELE OBSERVA O TURBILHÃO que se move com
HUMANO
✷
Falei muito e acabei me afastando demais dele, tenso e
ansioso numa manhã que chegava ao fim, observando o
mundo da esquina da Wall Street com a Broadway, a
apenas algumas quadras de um dos primeiros mercados
de escravizados de Nova Amsterdã; desviei do drama em
particular que vai se desenrolar no decorrer do dia,
quando o desastre cria uma abertura ou nivelamento que
poderia deixá-lo respirar em sua própria pele e libertar-se
da prisão do nada e da condenação da negritude.5 Pouco
antes do meio-dia, a destruição do mundo lhe concederá
a chance de ser um humano como outros homens. O
brilho estranho e a música em tom menor produzidos
pelo colapso da ordem, pela catástrofe, vão oferecer a
promessa da vida negra incontestável.
“O cometa…”
Todo mundo comentava. Até o presidente, ao
entrar, sorriu condescendente para ele e perguntou:
“Então, Jim, você está com medo?”.
“Não”, disse lacônico o mensageiro.
“Achei que já tivéssemos viajado na cauda do
cometa uma vez”, interrompeu afável o jovem
escriturário.
“Ah, era o Halley”, disse o presidente, “este cometa
é novo, bem desconhecido, dizem — maravilhoso,
maravilhoso! Eu o vi na noite passada. Ah, a
propósito, Jim”, ele disse, voltando-se de novo para o
mensageiro, “quero que você desça até as câmaras
subterrâneas hoje.”
O mensageiro seguiu o presidente em silêncio.
Claro que queriam que ele descesse até o
subterrâneo. Era perigoso demais para homens mais
valiosos.
Ela não era uma mera mulher. (…) Ela era a mulher
primal; mãe poderosa de todos os homens do porvir e
a Noiva da Vida. Ela olhou para o homem ao seu lado
e esqueceu tudo o mais, exceto sua masculinidade,
sua forte e vigorosa masculinidade — seu pesar e
sacrifício. Ela o viu glorificado.
***** Trecho da canção “Never Too Much” (1981), de Luther Vandross, que
compõe a trilha sonora de Queen & Slim. (N. T.)
nasceu em Massachusetts, Estados Unidos,
W. E. B. DU BOIS
1. Frantz Fanon, Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu, 2020. The
Wretched of the Earth, 1963; reimpressão: Nova York: Grove Press, 2005.
2. Referência à exposição 3 & 4 Will. IV. c.73, de Cameron Rowland, Institute
of Contemporary Arts (ICA), Londres, 2020.
3. Frantz Fanon, Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu, 2020, p.
154.
4. O diabo, a carne e o mundo (1959). Direção: Ranald MacDougall. Roteiro:
M. P. Shiel, Ferdinand Reyher, Ranald MacDougall. Música: Miklós Rósza.
Intérpretes: Harry Belafonte, Inger Stevens, Mel Ferrer.
5. Khalil Muhammed, The Condemnation of Blackness: Race, crime, and the
making of modern urban America. Massachusetts: Harvard University Press,
2010.
6. Hortense Spillers, “Changing the Letter: The Yokes, The Jokes of Discourse,
or Mrs. Stowe, Mr. Reed”. In: Black, White, and in Color. Chicago: University
of Chicago Press, 2003.
7. Sylvia Wynter, “Beyond the Categories of the Master Conception: The
Counter-doctrine of the Jamesian Poesis”. In: Paget Henry, Paul Buhle (Orgs.)
C.L.R. James’s Caribbean. Durham: Duke Press, 1992.
8. Ida B. Wells, A Red Record: Tabulated Statistics and Alleged Causes of
Lynching in the United States (1895).
9. James Feigenbaum, Christopher Muller, Elizabeth Wrigley-Field, “Regional
and Racial Inequality in Infectious Disease Mortality in U.S. Cities, 1900-
1948”. In: Democracy 56 (2019), pp. 1371-88.
10. Katherine McKittrick, “Mathematics Black Life”. In: The Black Scholar v.
44, n. 2, 2014.
11. W. E. B. Du Bois, “My Evolving Program for Negro Freedom” (1944), pp.
41-57.
12. Jared Sexton, “Afro-Pessimism: The Unclear Word”. In: Rhizomes, n. 29 ,
2016. Darieck Scott, Extravagant Abjection. Manhattan: NYU Press, 2010.
Calvin Warren, Ontological Terror. Durham: Duke University Press, 2018.
13. W. E. B. Du Bois, “Sobre o falecimento do primogênito”. In: As almas do
povo negro. São Paulo: Veneta, 2021.
14. Aimé Césaire, Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta. 2020.
Achille Mbembe, Crítica da razão negra. São Paulo: N-1 Edições, 2018. Frank
B. Wilderson III, Red, White & Black. Durham: Duke Press, 2010.
15. Axelle Karera, “Blackness and the Pitfalls of Anthropocene Ethics”. In:
Critical Philosophy of Race v. 7, n. 1, 2019, pp. 32-56. Zakiyyah Iman
Jackson, Becoming Human. Nova York: Fordham University Press, 2020.
Sobre antinegritude e um mundo pós-humano.
16. Alexander Weheliye, Habeas Viscus. Durham: Duke Press, 2016.
17. Frantz Fanon, Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu, 2020. (N.
E.)
18. O diabo, a carne e o mundo. Op. cit.
19. Frantz Fanon, The Wretched of the Earth, 1963; reimpressão: Nova York:
Grove Press, 2005. (N. E.)
20. Axelle Karera, “Blackness and the Pitfalls of Anthropocene Ethics”. In:
Critical Philosophy of Race v. 7, n. 1, 2019. Jared Sexton, “Affirmation in the
Dark: Racial Slavery and Philosophical Pessimism”. In: The Comparatist, n.
43, out. 2019.
Bois, W. E. B. Du
O cometa ; O fim da supremacia branca [livro eletrônico]
/ W. E. B. Du Bois, Saidiya Hartman ; tradução André
Capilé, Cecília Floresta. -- São Paulo : Fósforo, 2021.
; ePub
21-59764 CDD-813.0876
Índice para catálogo sistemático:
1. Ficção científica : Literatura norte-americana
813.0876
2. Ficção : Literatura norte-americana 813
Editora Fósforo
contato@fosforoeditora.com.br / www.fosforoeditora.com.br