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Universidade Federal da Bahia

BIOA66 – Bioética
Docente: Lilia Maria Azevedo Moreira
Discente: Mellamy Santos

RESENHA CRÌTICA

O documentário “Criaturas que Nasciam em Segredo” nos expõe às


vidas de cinco pessoas pequenas, isto é, que possuem nanismo - embora
sejam conhecidas como anãs, por conta do histórico de ridicularização
associado a esse termo, em muitos contextos, utiliza-se, em substituição,
“pessoas com nanismo” ou “pessoas pequenas”.
A partir dos relatos dessas cinco pessoas, foi possível abordar
importantes elementos de suas vidas, como infância, vida profissional, família,
sexualidade, todos trazendo a discriminação e o preconceito que cerca essas
pessoas. Em apenas trinta minutos, o documentário conseguiu explicitar
problemáticas cruciais na vida de pessoas pequenas, referentes ao tratamento
depreciativo que recebem da sociedade.
Pessoas com nanismo são vistas como crianças, recebem apelidos
maldosos e estão suscetíveis à violência (é relatada uma situação de
apedrejamento). São obrigadas a cumprir o papel de alívio cômico para as
pessoas de altura mediana; como bufões, na história antiga, e como
personagens caricatos em filmes de comédia e programas de humor, na
contemporaneidade.
A construção e veiculação de uma imagem negativa e estereotipada das
pessoas pequenas restringem-nas a posições de subalternidade na sociedade,
dificultando a conquista de um emprego e/ou a ascensão social. Além disso,
essa percepção limitante dessas pessoas ocasiona a falta de empatia e
indiferença para com elas, naturalizando a violência que sofrem e provocando
sua desumanização e, consequentemente, sua marginalização.
Pelo relato de uma das mulheres com nanismo que diz que evitava se
aproximar de outras pessoas pequenas e que não se imaginava se
relacionando com outra pessoa assim, percebe-se que essa construção pode
ser internalizada por essas pessoas, ocasionando a replicação dessa
percepção negativa, na qual pessoas pequenas repudiam pessoas pequenas.
A exotificação é um fenômeno bastante recorrente na vida das pessoas
pequenas; ora elas provocam estranhamento por ser quem são, ora elas
despertam fascínio pela mesma razão. Pessoas pequenas são vistas como um
espetáculo, sendo tratadas como peças que podem ser exploradas
economicamente ou sexualmente.
Seus corpos atiçam a curiosidade, sendo alvos de fetiche, mas também
são demonizados, sendo associados ao pecado e à sexualidade anormal e
grotesca. Em consequência disso, podem ser impedidas de adquirir
conhecimentos acerca do seu próprio corpo e de ter agência sobre ele,
impossibilitando a plena e saudável vivência afetivo-sexual.
Por conta disso, é reconfortante ser exposta ao casal de pessoas
pequenas que engravidou e ao depoimento da mulher sobre sua vontade de
gritar que estava grávida – algo que poderia ser lido como um grito de
libertação. Um grito de libertação contra as baixas expectativas, a descrença, a
desmotivação, a subestimação, a pressuposição de incapacidade, o local de
falta de agência em que foram colocadas.
Ainda que vida das pessoas pequenas, infelizmente, esteja marcada
irrevogavelmente pelo estigma e pela exclusão, ao longo do documentário,
somos apresentados não somente à privação de acesso a direitos básicos e à
sua integração social precária as quais estão submetidas, mas também às
suas potencialidades, seus desejos, suas conquistas, constituindo um retrato
honesto de suas vidas, explicitando tanto as dificuldades quanto as
possibilidades.

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