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RESUMO
O presente artigo apresenta um estudo sobre a utilização de material asfáltico fresado proveniente da rodovia
BR-163, jazida próxima à cidade de São Gabriel do Oeste no estado de Mato Grosso do Sul, avaliando as suas
características técnicas, com e sem adição de aglomerantes, para aplicação em camadas de base e/ou sub-base de
pavimentos rodoviários. Com base na teoria de experimentos com misturas de Cornell (2002), foram utilizadas
misturas de material asfáltico fresado com solo nas proporções em peso de “25% e 75%”, “50% e 50%” e “75%
e 25%”. Nestas combinações ainda foram adicionados estabilizantes químicos (cimento e cal) às misturas, nas
proporções de 0%, 3% e 6%. Foram realizados ensaios de compactação, de resistência à compressão simples e
de resistência à tração por compressão diametral, com o objetivo de analisar a ação de cada elemento nas
misturas e encontrar resistências e comportamentos mecânicos satisfatórios, visando a aplicação em pavimentos
rodoviários.
ABSTRACT
The study analyzes the utilization of residual asphalt pavement (RAP) removed from the BR-163 highway,
specifically from a soil removal site near the city of São Gabriel do Oeste, state of Mato Grosso do Sul, in order
to evaluate the technical characteristics of its application in construction of subbase and/or base courses for
highway pavements, with and without addition of asphalt binder. Based on Cornell’s theory of experiments with
mixtures (2002), RAP and soil were used to compose mixtures, with the following respective weight
proportions: 25% and 75%, 50% and 50%, 75% and 25%. Still, chemical stabilizers (cement and lime) were
added in the mixtures in proportions of 0%, 3% and 6%. Some assays were performed: compaction tests,
resistance to simple compression and resistance to traction by diametral compression, in order to verify the
effects of each element in the mixtures and find out satisfactory resistances and mechanical behaviors, seeking
an improved application in highway pavement.
1. INTRODUÇÃO
A matriz de transportes brasileira tem a forte predominância do modal rodoviário. No estado
de Mato Grosso do Sul a predominância desse sistema é ainda maior. Trata-se do principal
modal de escoamento de carga e transporte de passageiros utilizado (IPEA, 2016).
A BR-163, para o Mato Grosso do Sul, é o maior corredor de exportação da produção interna
do estado, para atingir os portos dos estados do Paraná e de Santa Catarina (DNIT, 2016).
A estabilização química foi empregada neste trabalho, com a finalidade de obter resistências e
comportamentos mecânicos satisfatórios, a partir de combinações de misturas com três
componentes, em diferentes proporções. As misturas analisadas foram: material asfáltico
fresado com solo, cimento e cal.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.2. Cimento
As principais variáveis que influenciam na resistência e na deformabilidade da mistura,
quanto à adição de cimento são: teor de água, grau de compactação e a porcentagem de
cimento (VITALI, 2008).
A adição de cimento traz muitas vantagens quando aplicada em base de pavimentos, tais
como: aumenta a resistência, diminui as pressões no sub-leito, é pouco deformável quando
submetido a carregamentos e diminui significativamente a perda de resistência na presença de
água. (PITTA, 1984).
2.3. Cal
As principais vantagens de se utilizar a cal hidratada para estabilização de camadas de
rodovias é melhorar permanentemente as características do solo e aumentar a capacidade de
suporte (BAPTISTA, 1976).
A cal diminui a susceptibilidade do solo ante ação da água. Foram constatados ainda menor
sensibilidade a variações na umidade de compactação e aumento considerável a coesão dos
solos com o tempo de cura, resultando ganho na resistência à compressão simples.
(KLINSKY, 2014)
Solos finos, como argilas, reagem melhor à adição da cal hidratada. Já areias, de modo geral,
não reagem com a adição de cal hidratada por não apresentarem argilo minerais em sua
composição. Portanto, misturas com quantidades adequadas de argilas reativas podem ser
estabilizadas com cal. (KLINSKY, 2014).
A estabilização do solo com a cal envolve processos químicos de reações de trocas de cátions
e floculação ou aglomeração. Esses processos ocorrem logo após a cal entrar em contato com
o solo e podem perdurar de minutos a dias. E durante meses ou até anos, ocorrem ainda
reações pozolânicas que provocam aumento significativo da resistência mecânica das misturas
de solo-cal. (LITTE apud BARROS, 1995)
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Foi utilizada análise estatística como ferramenta na metodologia de experimentos com
misturas de CORNELL (2002), com base no delineamento do experimento. Esta técnica de
experimentos com misturas tem caráter empírico por ser experimental e fundamentada na
teoria estatística de misturas. Ao final, foi gerado um delineamento para análise da relação de
dependência e interação de três componentes: mistura material asfáltico fresado com solo,
cimento e cal.
Em seguida, foram separadas e secas duas amostras de aproximadamente 10 kg, para fazer o
peneiramento e a determinação das curvas granulométricas. A média obtida a partir dos dois
ensaios foi a adotada e é apresentada na Tabela 1.
Tabela 1: Média das porcentagens em peso passadas acumuladas de material asfáltico fresado
Peneira Massa passada
Nº. Abertura (mm) acumulada (%)
2 50 100
1.1/2 38 97.39
1 25 89.74
3/4 19 82.14
3/8 9.50 57.92
4 4.8 40.35
10 2 18.76
16 1.2 16.16
30 0.6 11.65
40 0.42 9.6
50 0.3 5.1
100 0.15 3.35
200 0.075 1
Após o peneiramento, o material retido na peneira 3/4 (abertura 19mm), foi removido
adotando a Norma DNIT 142/2010 e novamente feita a a homogeneização do material
asfáltico fresado.
Foram escolhidas para determinação das umidades ótimas (ωo) a serem utilizadas no estudo
as composições apresentadas na Tabela 2.
Segundo a Norma 141 (DNIT, 2010), para ser empregada a estabilização granulométrica e ser
aplicada em base de pavimentos rodoviários, deve-se enquadrar a mistura em uma das faixas
preestabelecidas. A Figura 1 compara a granulometria das três misturas de fresado com solo
(Tabela 3), ressaltando as faixas do DNIT em ordem decrescente que melhor enquadram as
granulometrias. Logo a faixa "C", como é a que melhor enquadra as granulometrias, está
sobre as demais.
Figura 1: Granulometria das três misturas entre Fresado e Solo, comparadas com faixas do
DNIT
3.5. Cal
De acordo com a pureza dos hidróxidos de cálcio, há três variedades de cal hidratada: cal
hidratada cálcica (CH-I), cal hidratada magnesiana (CH-II) e cal hidratada dolomítica (CH-
III) (SOUZA, 2014). Devido a quantidade (Tabela 7) de anidrido carbônico presente, óxidos
de cálcio e magnésio não hidratados e óxidos totais na base de não voláteis, esta é classificada
como uma cal dolomítica.
Foi utilizada a cal hidratada Itaú CH-III, produzida pela empresa Votorantim Cimentos, para a
moldagem dos corpos de prova.
3.6. Água
A água destilada foi empregada para a moldagem dos corpos de prova, adotando metodologia
descrita na NBR 7182 (ABNT, 1986). Posteriormente, na fase de cura, foi utilizada água
comum para molhar os corpos de prova por processo de regagem.
4. ESPAÇO AMOSTRAL
4.1. Combinações
O cálculo das combinações dos elementos mistura (material fresado com solo), cimento e cal
foi elaborado com base na teoria de experimentos com misturas de Cornell, (2002). A soma
de todos os elementos para cada amostra foi estipulada em 3000g. Foram utilizadas três
combinações de mistura entre material asfáltico fresado e solo, com proporções
respectivamente em “25% e 75%”, “50% e 50%” e “75% e 25%”. Para cimento e cal,
respeitam ordens de 0%, 3% ou 6% (retirada da massa da mistura de solo com material
fresado). Na Tabela 6 estão descritas as quantidades de materiais a serem combinados. Na
Tabela 7, estão descritas as combinações geradas por estes.
4.3. Total
Para cada uma das 27 combinações de dosagens (descritos na Tabela 5), foram moldados 8
corpos de prova.
5. MÉTODO EXPERIMENTAL
Os corpos de prova foram moldados na energia de compactação intermediária, adotada da
norma NBR 7182 (ABNT, 1986), nas dimensões do cilindro pequeno (Proctor) em três
camadas de vinte e um golpes cada, com uso do soquete grande.
Após moldados cada corpo de prova era envolto com papel filme (PVC) a fim de manter a
umidade e então armazenado em local seco e protegido do sol. Para minimizar a perda de
umidade dos corpos de prova, eram molhadas por processo de regagem a cada 48 horas.
5.1. Delineamento
Usando a teoria de experimentos com misturas Cornell, (2002), que, com base nas restrições
dos componentes adotados (mistura entre material fresado com solo entre 88 e 100%, cimento
entre 0 e 6%, cal entre 0 e 6%), é definida a região experimental objeto de estudo. Após
coletados os dados, efetua-se o ajuste polinomial (em nosso caso, cúbico completo). Trata-se
de um artifício estatístico para visualizar efeitos isolados de variação dos componentes da
mistura. Neste ainda são geradas superfícies de resposta - curvas de nível que avaliam efeitos
de interação dos componentes.
6. ANÁLISE DE RESULTADOS
A porcentagem ideal de cimento a ser usada, pode ser obtida de forma experimental de acordo
com a NBR 12253. O teor mínimo de cimento sugerido pela norma é de 5% em massa, porém
ainda permite-se utilizar até 3,5%, em massa, para solos do tipo A1-a, A1-b ou A-2-4,
contanto que seja atingida a resistência de 2,1 MPa, no ensaio de resistência à compressão
simples.
Já para resistências à tração por compressão diametral, valores entre 0,6 e 2,0 MPa são usuais,
dependendo do teor de cimento e tipo de solo (CERATTI apud BERNUCCI, 2001).
Neste trabalho, foram então adotados valores de 2,1 MPa para resistência à compressão
simples e 0,6 MPa para resistência à tração por compressão diametral, como valores de
referência para análises. As superfícies de contorno à serem comparadas neste trabalho,
apresentam-se sempre na mesma escala, para melhor visualização dos parâmetros à serem
analisados.
Para este trabalho, embora os dados de resistência tenham sido obtidos tanto em laboratório
quanto por meio de estimativas utilizando técnicas de modelagem, será apresentada de forma
sucinta os resultados das deformações na compressão simples e diametral.
Tanto a ação do cimento quanto a ação da cal diminuem as deformações em ambos os ensaios
feitos (RCS e RTCD). A cal manifesta menos esse comportamento, principalmente nos
primeiros 7 dias, porém ainda é considerável a partir dos 28 dias.
Conforme a Tabela 21, várias misturas mostraram resistências satisfatórias, adotadas da NBR
12253 (ABNT, 1992) e Ceratti (1991).