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Evidências observacionais para os átomos

Observational evidence for atoms


Edwin R. Jones Jr. and Richard L. Childers
The Physics Teacher, vol. 22(6), 354-360, sept 1984
(Tradução: Prof. Gildo Junqueira, IFSP, antigo CEFET-SP)

O conceito de átomo é fundamental para a visão moderna da Física e da Química. Mas isto
nem sempre foi assim. Somente no século 20 é que ele se tornou universalmente aceito. O
tamanho de átomos individuais é tão pequeno que somos incapazes de vê-los diretamente e,
portanto, achamos difícil compreendê-los. Assim não é incomum encontrarmos estudantes que
aceitam os átomos como os objetos dos quais seus professores falam, mas que raramente
conseguem citar alguma evidência experimental para a existência dos átomos. Por estas razões,
dirigimos nossa atenção ao desenvolvimento do conceito de atomicidade e às muitas
observações que podem ser usadas para estabelecer a validade do conceito de átomo.
O conceito da natureza atômica da matéria era conhecido dos filósofos gregos centenas de
anos antes de Cristo(1). Uma teoria atômica da matéria foi primeiramente proposta pelo filósofo
Leucipo (nascido em cerca de 500 a.C.) e seu aluno Demócrito (460? a 370? a.C.) desenvolveu
posteriormente a idéia. Eles acreditavam que toda matéria era constituída de minúsculas
partículas tão pequenas que elas não poderiam ser divididas. Estas derradeiras partículas foram
chamadas átomos, da palavra grega atomos, que significa indivisível. Foi proposto que a
diferença nas propriedades das substâncias era devida às diferenças na natureza dos átomos
daquelas substâncias. Em complemento à ideia de indivisibilidade, esta primeira teoria atômica
tinha diversas outras suposições. Estas eram: que os átomos eram permanentes; os átomos
existiam num espaço por outro lado oco, chamado de vazio ou de vácuo; os átomos diferiam
principalmente em forma e tamanho; e que os movimentos dos átomos eram consistente com as
(as ainda desconhecidas) leis da natureza.
As idéias de Demócrito eram intuitivas. Elas foram desafiadas por outras idéias que eram
igualmente intuitivas. Como as teorias daquele tempo não eram baseadas em experimentos
quantitativos ou em lógica matemática, a escolha entre elas se tornava uma escolha pessoal. A
teoria atômica de Demócrito não foi amplamente aceita pelos filósofos de sua época e, mais
importante, foi rejeitada pelos filósofos dominantes da geração seguinte. Aristóteles (384-322
a.C.) argumentou de maneira convincente que a matéria era continua e, portanto, infinitamente
divisível. Então, não havia a necessidade de átomos. Esta rejeição por Aristóteles condenou o
conceito atômico até o século 17 quando as idéias de Galileo e Newton minaram a autoridade
de Aristóteles e o atomismo foi reavivado.

Edwin R. Jones Jr. (bacharel pela Clemson University e mestre e


doutor pela University of Wisconsin) ensina no Honors College /
University of South Carolina. Publicou um texto em nível médio em
eletrônica e escreveu para o The Physics Teacher. Seus interesses de
pesquisa incluem as propriedades magnéticas dos sólidos e a
percepção de profundidade. Ele tem patentes no campo de imagem de
televisão em três dimensões.
Richard L. Childers (bacharel pela Presbyterian College e mestre e
doutor pela University of Tennessee) tem um longo interesse em
ensino e em história da Física. Ele é atualmente pesquisador em
Física de partículas com o detector ARGUS na Deutsches-Elektron
Synchrotron Laboratory em Hamburgo, R.F. da Alemanha.
(Ambos autores: Department of Physics and Astronomy, University of
South Carolina, Columbia, South Carolina 29208)

1
Fig. 2. Pirita (FeS2) ocorre em três formas características ou
hábitos. Elas são cúbica, octaédrica e piritaedral
Fig. 1. Um cristal de quartzo esfumaçado (Cortesia: (dodecaédrica pentagonal). (Cortesia: L.L. Smith Geology
L.L. Smith Geology Museum of the McKissick Museum of the McKissick Museum, University of South
Museum, University of South Carolina). Carolina).

Evidência vinda dos cristais


Uma das propriedades mais marcantes dos
cristais é sua forma geométrica. Muitos minerais
são normalmente encontrados possuindo uma
forma geométrica regular que consiste de faces
planas e lisas que se intersectam em ângulos bem
definidos. A forma hexagonal do quartzo, Fig. 1, é
uma das suas características distintivas e é
conhecida há séculos. Outros cristais ocorrem com
outras estruturas. Mas cada uma tem sua própria
forma particular. Uns poucos exemplos são
mostrados na Fig. 2.
A lisura das faces dos cristais e a regularidade
das suas formas intrigaram Roberto Hooke quando
ele examinou pequenos cristais com seu
microscópio. Ele presumiu que a regularidade dos
cristais era uma manifestação da regularidade do
arranjo de minúsculas partículas que compunham
o cristal. Em sua Micrographia de 1665 ele
escreveu: “Não existe nenhuma figura
regular....que eu não possa – com a composição de
bolas ou glóbulos, e um ou outros dois corpos –
imitar, mesmo que chacoalhado-os todos.” Ele Fig. 3. Desenhos de cristais feitos por Robert Hooke.
(Cortesia: Thomas Cooper Library, University of South
ilustrou sua afirmação com diversos desenhos que Carolina).
são reproduzidos na Fig. 3.
A capacidade de alguns cristais de clivar, isto é, Após experimentos similares com outros
de se dividir ao longo de planos bem definidos cristais, Haüy propôs que clivagens sucessivas
deixando superfícies lisas, levou o mineralogista dos pedaços cada vez menores levariam no final
francês Rene Just Haüy a um novo nível de a uma redução do cristal na menor unidade
entendimento da estrutura cristalina. Em 1781, possível que ele chamou de molécula integrante.
enquanto examinava alguns cristais, ele derrubou Então todo o cristal poderia ser formado pelo
um agrupado de calcita que se quebrou. Haüy empilhamento lado a lado destas moléculas
notou que o cristal quebrado tinha uma fratura integrantes. Atualmente a molécula integrante de
simples ao longo de uma borda. Quando ele tentou Haüy é conhecida como célula unitária do cristal.
quebrá-lo em outras direções ele teve sucesso em Haüy mostrou que seu modelo de moléculas
extrair pedaços romboedrais. Ele posteriormente integrantes também poderia ser usado para
clivou cristais de calcita de outras formas iniciais, explicar as outras faces naturais que os cristais
sempre achando que eles também podiam ser possuem, mas que não eram planos de clivagem.
quebrados para revelar a forma romboédrica. Estas faces ocorrem quando as camadas do cristal
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são sucessivamente menores e se afastam das
bordas de uma maneira regular como nos degraus
de um grande edifício. Esta ideia explica de
maneira acurada os ângulos entre os planos de
superfície que são característicos de cada cristal.
Então os cristalográficos ficaram convencidos
durante o século 18 que a forma dos cristais era
um resultado direto de serem construídos de
blocos constituintes invisíveis de um modo regular
muito parecido com o de uma parede de tijolos(2).
A forma e as propriedades dos cristais estavam
intimamente conectadas com a forma e a natureza
destes blocos constituintes fundamentais.

Evidência Química
Ao mesmo tempo em que os cristalográficos
estavam descobrindo as ideias de Haüy, a Química Fig. 4. Uma lista dos 63 elementos conhecidos por Faraday
como aparece em seu Course of Six Lectures on the Non-
também estava começando a adquirir uma nova Metallic Elements que foi publicado em 1853. Os
forma. Por volta de 1800, a lei das proporções elementos não-metálicos foram marcados com uma cruz.
definidas tinha sido demonstrada pelo químico
francês Joseph Louis Proust, embora não fosse de massa ou o tamanho de um átomo sozinho.
jeito nenhum universalmente aceita. De acordo Logo após a publicação da teoria de Dalton,
com esta regra, as proporções (em peso) dos Joseph Louis Gay-Lussac descobriu uma regra
elementos em um composto químico são empírica governando o comportamento dos
constantes. Qualquer composto em particular gases. Ele redescobriu o fato, primeiro observado
sempre contém os mesmos elementos e eles estão por Cavendish, que os gases oxigênio e
sempre presentes nas mesmas proporções de peso. hidrogênio combinavam-se em proporções de
Assim, a água é sempre encontrada composta de volume de 2 para 1 para formar água. Ele
hidrogênio e oxigênio. Se a água é decomposta, o também mostrou que outros gases reagiam em
peso do oxigênio liberado é sempre 8 vezes maior volumes cujas razões eram números inteiros
que aquele do hidrogênio. Da mesma maneira, pequenos. A regra é conhecida como a lei dos
quando oxigênio e hidrogênio se combinam para volumes e ela diz que os gases se unem em
formar água sempre o fazem na proporção de 8 proporções de volume definidas e simples.
para 1 em termos de peso. A teoria de Dalton, a lei de proporções definidas
O químico inglês John Dalton desenvolveu uma e a lei dos volumes apareceram combinadas na
teoria atômica quantitativa de Química em cerca mente do conde italiano Amadeo Avogadro que
de 1803. Suas idéias foram publicadas no seu propôs uma explicação simples para a existência
texto A New System of Chemical Philosophy. Em delas. Ele sugeriu que a razão para estas
seu tratado ele usou a teoria atômica, examinando observações estava no fato de que volumes iguais
suas aplicações e conseqüências. Além das ideias de gases (na mesma temperatura e pressão)
similares à da teoria atômica grega, os principais contêm iguais números de moléculas. Ele não
postulados da teoria de Dalton eram que as tinha jeito de saber quantas moléculas havia em
reações químicas somente separavam ou juntavam um dado volume de gás, mas ele sabia que o
átomos e que quando os átomos se combinavam, o número deveria ser grande.
composto sempre continha o mesmo número Avogadro também fez uma diferenciação clara
definido de átomos. entre moléculas e átomos. A molécula era uma
Dalton e outros aplicaram estas ideias para combinação de átomos. Avogadro aplicou sua
compreender os problemas das combinações hipótese aos experimentos registrados da sua
químicas. Tabelas de pesos atômicos foram época nos quais gases de oxigênio e de
compiladas para comparar o peso químico hidrogênio eram combinados para produzir água.
equivalente de um elemento em relação ao do Ele concluiu que uma molécula de água era
hidrogênio. Ainda não era possível saber ou a formada por metade de uma molécula de

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oxigênio e duas metades da molécula de
hidrogênio.
A hipótese de Avogadro foi ignorada pelos seus
contemporâneos. Tivesse sido ela aceita, os
químicos teriam sido poupados de meio século de
confusão. Contudo, deveríamos relembrar que na
época de Avogadro havia poucos fatos que
poderiam ser usados para dar suporte à hipótese e
mesmo estes “fatos” não o fariam sem
controvérsia.
Fig. 5. Tabela periódica de Mendeleev dos elementos como
ele os organizou em 1869.
A lei de Faraday da eletrólise
No começo dos anos 1800 foi descoberto que para determinar ou o número de Avogadro NA ou
compostos químicos poderiam ser separados em a carga elementar e se o outro é conhecido.
seus componentes constituintes pela passagem de Faraday reconheceu a importância. Contudo, ele
uma corrente elétrica através deles, processo não era capaz de medir ou NA ou e de maneira
chamado de eletrólise. Faraday descobriu que na independente.
eletrólise a quantidade de substância decomposta é
proporcional à intensidade da corrente elétrica e
do tempo decorrido. Conseqüentemente, a massa
do material liberado em um eletrodo é
proporcional à carga elétrica que passa através do
sistema.
Faraday também descobriu que a massa do
material depositado era proporcional ao peso
químico equivalente * . Para muitos elementos estes
equivalentes eram vistos como sendo o mesmo
dos pesos atômicos de Dalton. Esta correlação foi
explicada ao se assumir uma atomicidade da carga
elétrica. Imaginava-se que cada íon (a partícula
coletada pela eletrólise) carregava uma unidade de Fig. 6. Desenhos obtidos por Perrin traçando os segmentos
carga elétrica. A quantidade total de carga que ligam as posições consecutivas do mesmo grânulo em
necessária para depositar um peso equivalente de intervalos de 30 segundos.
um grama, um mol, de algum material foi
cuidadosamente medida. Esta quantidade de carga Avogadro revisitado
é conhecida como faraday e seu valor atualmente Lá pela metade do século 19, a Química estava
aceito é 96.485 coulombs. em um estado de confusão. Aplicações
De acordo com a hipótese de Avogadro, um peso independentes das leis de proporções definidas e
molecular de um grama, ou mol, de uma da lei dos volumes sem o uso da hipótese de
substância conteria um número definido NA de Avogadro conduziram a diferentes interpretações
moléculas. Então o faraday deveria ser o produto das reações e a tabelas diferentes de pesos
do número NA com a unidade elementar de carga atômicos. Os 63 elementos que eram conhecidos
elétrica e. Isto é, na época são dados na Fig. 4, na qual eles são
listados como foram dados por Faraday em 1853.
F = NA x e (1) A fim de resolver um pouco a confusão, um
Como F é conhecido com grande precisão, a Eq. congresso químico internacional foi convocado
(1) torna-se importante porque ela pode ser usada em Karlsruhe, Alemanha, em 1860. Em
discussões com membros do congresso, Stanislao
*
O peso químico equivalente era o peso atômico dividido Cannizzaro recomendou a aceitação da hipótese
pela valência. No tempo de Faraday, valência significava a de Avogadro. Entre os participantes do congresso
habilidade de combinação de um elemento. Por exemplo, que foram influenciados por Cannizzaro estavam
um átomo de sódio combinaria com um átomo de cloro mas
um átomo de cobre combinaria com dois átomos de cloro. o químico alemão Lothar Meyer e o químico
Dizia-se que o sódio tinha uma valência de um e o cobre russo Dimitri Mendeleev. Mais tarde, Meyer e
uma valência de dois.
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Mendeleev produziram de maneira independente de volume diminuía como previsto para a altura.
tabelas periódicas dos elementos. A versão de Perrin então usou suas medidas para determinar o
Mendeleev foi publicada primeiro (1869) e a de valor do número de Avogadro. Seu resultado
Meyer veio logo em seguida. A Figura 5 mostra a inicial foi um pouco maior que o valor NA = 6,02
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listagem periódica dos elementos de Mendeleev x 10 moléculas/mol que usamos atualmente.
como ela apareceu na tradução alemã de seu O experimento de Perrin foi tomado como a
trabalho. Os dois homens organizaram os prova segura e certa de que o movimento
elementos em ordem crescente de pesos atômicos browniano era devido ao movimento das
e os dois notaram a ocorrência periódica de moléculas. Este experimento estabeleceu
elementos com propriedades físicas e químicas firmemente a realidade das moléculas. Ao
similares. Embora a tabela dos elementos não mesmo tempo, Perrin determinou o número de
fosse perfeita, foi de maneira geral aceita. Sua Avogadro diretamente e pela lei de Faraday
importância em organizar e sistematizar a determinou a intensidade da carga elétrica
Química foi reconhecida e ela rapidamente se fundamental.
tornou uma das ferramentas fundamentais da
Química. O tamanho dos átomos
Contudo, o número de Avogadro ainda não tinha Podemos estimar o tamanho aproximado dos
sido medido. Na verdade, a teoria de Avogadro átomos usando o que acabamos de aprender.
não era universalmente aceita por químicos Estamos agora em condições de determinar o
importantes. O famoso químico-físico Wilhelm número de átomos que ocupam um dado volume.
Ostwald recusou inclusive admitir a existência de Dai é somente um pequeno passo para determinar
átomos até que Jean Perrin mediu NA em uma o volume ocupado por um átomo e então seu
série de experimentos, publicados em 1908, que tamanho.
conclusivamente demonstraram a realidade dos Como exemplo, vamos usar o caso do cobre e
átomos(3). determinar o número de átomos em um cubo de
Os experimentos de Perrin envolviam medidas um centímetro de lado. Medidas químicas e
quantitativas do movimento browniano, o físicas estabelecem que o cobre tem um peso
movimento irregular e contínuo de partículas atômico de 63,6 g/mole e a densidade de 8,96
minúsculas suspensas em um líquido. A causa do g/cm3. A massa do cobre é determinado como
movimento browniano, postulou Perrin, é a
agitação molecular. As moléculas estão em massa = densidade x volume
movimento incessante e colidem umas com as g
outras. Para um grande objeto, o efeito líquido das massa = 8,96 3
x 1 cm 3 = 8,96 g (2)
cm
colisões devido às moléculas ao redor é zero
porque todas as forças são contrabalançadas. Mas O número de mols presente é igual à massa
quando o tamanho do objeto é suficientemente dividida pelo peso atômico:
pequeno, a força instantânea não é zero. Então massa
uma partícula minúscula suspensa em um fluído número de mols = (3)
peso atômico
se move loucamente de maneira aleatória. A
Figura 6 mostra um desenho similar àquele feito Então, multiplicando o número de mols pelo
por Perrin. Os segmentos de reta ligam as número de Avogadro obtemos o número de
posições consecutivas da mesma partícula em átomos.
intervalos de 30 segundos.
Além disso, as partículas suspensas se distribuem número de átomos = número de mols x N A (4)
da mesma maneira que as partículas de um gás.
massa
Isto é, a densidade de partículas diminui com a número de átomos = x NA
altura do mesmo jeito que a densidade de um gás peso atômico
diminui com a altura. Perrin preparou uma (8,96 g ) x (6,02 x10 23 átomos / mol )
suspensão de minúsculas partículas de gamboge, número de átomos =
63,6 g / mol
um pigmento amarelo usado para cores de água.
Ele então contou o número de partículas em número de átomos = 8,48 x 10 22 átomos
diferentes alturas na solução. Destas medidas ele
mostrou que o número de partículas por unidade

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maneira simplificada, o microscópio iônico
consiste de uma ponta de agulha extremamente
fina elevada a um alto potencial elétrico sobre um
plano em uma câmara evacuada(4). A Figura 7
ilustra a configuração do microscópio iônico.
Dentro da câmara evacuada há uma pequena
quantidade de gás hélio. Por causa da
configuração ponta para plano, o campo elétrico
torna-se mais forte perto da ponta. Os átomos de
hélio tornam-se polarizados pelo campo e são
atraídos em direção à ponta da agulha
positivamente carregada. Quando eles chegam
muito perto da ponta, o campo elétrico fica muito
forte e as chances de polarização aumentam. A
partir do momento em que um átomo de hélio é
ionizado, ele é acelerado no sentido contrário ao
da ponta pelo campo elétrico. Seu movimento é
ao longo da direção do campo, isto é, ao longo
Fig. 7. Visão esquemática de um microscópio iônico de
campo. Linhas tracejadas mostram a forma do campo das linhas de campo. Desta maneira, íons
elétrico. produzidos em um único ponto na ponta serão
acelerados para um ponto único no plano.
Este número grande é o número de átomos em Se o plano é revestido com uma tela
um cubo de cobre com lados de 1 cm. Para fluorescente, brilhos de luz serão vistos quando
encontrar o volume ocupado por um átomo os íons impingirem a tela. Se a taxa de ionização
dividimos o volume total (1 cm3) pelo número de é grande o suficiente, um padrão constante será
átomos, que fornece o volume médio por átomo observado. Uma fotografia do tipo de padrão
de 1,18 x 10-29 m3. Se, para simplificar, produzido é mostrado na Fig. 8. Se o raio da
associamos a cada átomo um volume cúbico ponta é suficientemente pequeno é possível
pequeno daquele tamanho, então a aresta do cubo obter-se uma imagem da ponta na qual as áreas
teria um comprimento igual à raiz cúbica do brilhantes do padrão correspondem a átomos
volume, ou seja, um comprimento de 2,3 x 10-10 individuais na superfície da ponta. Aqueles
m. Sem fazer hipóteses sobre a forma de átomos átomos que ficam nos desníveis em degrau dos
ou como eles estão arranjados, podemos concluir planos atômicos contribuem com um grande
que a dimensão linear de um átomo é desta ordem campo local e então são vistos como áreas
de grandeza. brilhantes na tela. Os átomos localizados na parte
de cima de um plano atômico agora regular são
O microscópio iônico de campo vistos de maneira brilhante também. Então o
Os átomos são extremamente pequenos. Uma microscópio iônico pode revelar diretamente a
estimativa razoável para diâmetros atômicos, ordem atômica na ponta metálica.
como foi visto, é de cerca de 2 x 10-10 m. Seu Um modelo da ponta construído com bolas é
tamanho minúsculo é milhares de vezes menor mostrado na Fig. 9. Se o modelo é pintado tal que
que o comprimento de onda da luz visível e as bolas nas margens possam ser facilmente
explica o fato que não podemos ver átomos com vistas, ele aparece como na Fig. 10. A
nossos olhos nus. Mesmo o uso de um semelhança entre o modelo de bolas e a foto do
microscópio ótico não ajuda, já que os microscópio é marcante. A diferença bastante
comprimentos de onda da luz são muito maiores irrelevante é que a ponta real da Fig. 8 tem um
que o tamanho dos objetos que queremos ver. raio de 250 x 10-10 m enquanto o modelo, por
Para sermos capazes de observar as formas dos razões econômicas, foi feito para corresponder a
objetos menores que os comprimentos ópticos, um raio de 150 x 10-10 m somente.
devemos usar técnicas e instrumentos Como o microscópio iônico fornece informação
extraordinários. Um dos mais interessantes destes detalhada na escala dos tamanhos atômicos, ele
instrumentos é o microscópio iônico de campo foi usado para examinar amostras em forma de
desenvolvido por Erwin W. Muller em 1951. De agulha em busca de defeitos na regularidade

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Fig. 8. Micrografia iônica de campo de uma ponta de Fig. 10. Um modelo de bolas de uma ponta de tungstênio
tungstênio com um raio de 25 nm. (Cortesia: Erwin Muller). de 15 nm de raio com os átomos proeminentes destacados.
Estes são os átomos nas imagens do microscópio iônico de
campo. A semelhança entre o modelo e a micrografia da
Fig. 8 é aparente. (Cortesia: Erwin Muller).

Resumindo, o conceito atômico evoluiu de uma


ideia puramente filosófica para uma baseada
firmemente em uma fundação experimental
estabelecida por uma série de observações e
experimentos interpretados cuidadosamente.
Cada avanço foi feito sobre conceitos
anteriormente desenvolvidos mesmo que a
evolução real das ideias não tenha sido uma
progressão simplesmente linear. Os experimentos
e observações apresentadas aqui não são as
únicas que poderiam ser usadas para ilustrar esta
evolução das ideias. Contudo, elas servem como
um guia razoável para as ideias principais no
desenvolvimento dos conceitos atômicos.
Fig. 9. Um modelo de bolas de uma ponta de tungstênio
para um microscópio iônico de campo. O modelo
corresponde a uma ponta de raio de 15 nm. (Cortesia: Erwin
Muller). Referências
1. D.H. D. Roller, “Greek Atomic Theory”, Am. J.
cristalina. O microscópio iônico também foi usado Phys. 49, 206 (1981).
para estudar a absorção e a corrosão devidas aos 2. C.J. Schneer, “The Renaissance Background to
gases contaminantes introduzidos na câmara Crystallography”, Am. Scientist, 71, 254 (1983).
evacuada. Apesar das suas óbvias virtudes, 3. M.J. Nye, Molecular Reality: A Perspective on the
contudo, este microscópio é de utilidade restrita já Scientific Work of Jean Perrin (American Elsevier,
que as pontas de amostra são limitadas somente New York, 1972).
àqueles metais que podem resistir aos altos 4. E.W. Müller e T.T. Tsong, Field Íon Microscopy,
Principles and Applications (American Elsevier,
campos elétricos sem serem despedaçados.
New York, 1969).
Contudo, é o único jeito prático de mostrar o
arranjo atômico de um sólido diretamente.
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Leituras adicionais 3. V.V. Raman, “Jean Perrin: Advocate for the
Atoms”, Phys. Teach. 8, 380 (1970).
1. E.W. Muller, “Field Ion Microscopy”, Phys. Teach.
4. R.E. Schofield, “Atomism from Newton to
4, 53 (1966).
Dalton”, Am. J. Phys. 49, 211 (1981).
2. E.C. Patterson, John Dalton and the Atomic Theory
(Double-day and Co., Garden City, NY, 1970).
.

Fig. 5. Tabela periódica de Mendeleev dos elementos como ele os organizou em 1869.

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