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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 26

OITAVA CÂMARA CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE LIMINAR Nº


0066360-58.2013.8.19.0000

2ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL

AGRAVANTE: THIAGO NERI DOS SANTOS

AGRAVADO : ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RELATOR: DES. CEZAR AUGUSTO RODRIGUES COSTA

PROCESSO CIVIL. DIREITO ADMINISTRATIVO.


AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDEFERIMENTO DE
ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. PLEITO DE
CONCESSÃO DE LIMINAR PARA MANUTENÇÃO DO
AGRAVANTE EM CONCURSO DE FORMAÇÃO DE
SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO, PARTE INTEGRANTE DE CERTAME
PÚBLICO. REPROVAÇÃO EM EXAME PSICOLÓGICO EM
CONCURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADO DA POLÍCIA
MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. DECISÃO
QUE NÃO SE AFIGURA TERATOLÓGICA OU CONTRÁRIA
À PROVA DOS AUTOS. PREVISÃO DO REFERIDO EXAME
NO EDITAL DO CONCURSO E EM LEI. ADIAMENTOS DE
CONVOCAÇÃO E ALTERAÇÃO DOS TESTES QUE, POR
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO, NÃO SIGNIFICAM
VIOLAÇÃO DAS REGRAS DO EDITAL DESDE QUE
PREVISTAS EM METODOLOGIA ESTIPULADA PELO
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. ALEGAÇÕES DE
ILEGALIDADES, SUBJETIVISMOS E AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO DA COMBATIDA REPROVAÇÃO QUE,
JUNTO À PARECER DE ASSISTENTE TÉCNICO, QUE
ENSEJAM A PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL E DE
DILAÇÃO PROBATÓRIA INCABÍVEL NESTA SEARA
RECURSAL. ENUNCIADO SUMULAR Nº59 DESTE
TRIBUNAL. RECURSO QUE SE CONHECE E SE NEGA
PROVIMENTO. ARTIGO 557 DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL.

AI 066360-58.2013.8.19.0000 1
8º CC - JC

CEZAR AUGUSTO RODRIGUES COSTA:16606 Assinado em 09/12/2013 16:20:50


Local: GAB. DES CEZAR AUGUSTO RODRIGUES COSTA
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1. Irresignação recursal em face de decisão interlocutória


que indeferiu pleito antecipatório de manutenção do
candidato em curso de formação de soldados da Polícia
Militar deste Estado, parte integrante de certame público
após reprovação em exame psicotécnico.
2. Adoção de exame psicotécnico que se revela, na cognição
superficial e limitada própria do presente recurso, cabível
por estar estipulada em edital com fixação de critérios
objetivos de inadmissão dentro da ciência utilizada para a
sua efetuação (Psicologia) e em sede legal, o que se
verifica na presente hipótese, ensejando sua plena
utilização conforme atual jurisprudência deste Tribunal.
3. Adiamentos de convocação para realização do exame,
bem como alterações do próprio teste que, face aos
elementos trazidos nos autos, não configuram violação das
regras editalícias, desde que baseado em metodologia
aprovada pelo Conselho Federal de Psicologia. A questão em
tela, bem como as alegações de ilegalidade e de ausência
de fundamentação do resultado do exame, ensejam a
realização de prova pericial e dilação probatória insuscetível
de ser realizada na presente espécie recursal.
3. Ausência de demonstração, pelo agravante, de
contrariedade da presente decisão aos elementos presentes
aos autos, justificando-se sua manutenção, pela presunção
de legitimidade dos atos administrativos. Inteligência do
enunciado sumular nº 59 deste Tribunal.
4 Recurso o qual se conhece e se nega provimento com base
no artigo 557 do Código de Processo Civil.

DECISÃO MONOCRÁTICA

Cuida-se de agravo de instrumento interposto de forma


tempestiva, o qual, às fls. 02/21, pretende a reforma da decisão
monocrática guerreada (cópia acostado às fls. 05 do presente anexo), que
indeferiu, em ação ordinária com pedidos de anulação do ato administrativo
que determinou a sua reprovação em exame psicológico no concurso público
para Formação de Soldados da Polícia Militar deste Estado

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(CFSD/PMERJ/2010), pleito antecipatório para a manutenção do candidato


em certame de ingresso na Polícia Militar deste Estado (processo nº
0342555-97.2013.8.19.0001).

A referida decisão atacada, após conceder o benefício da


gratuidade de justiça, indeferiu a liminar pretendida, “inexistindo nos autos
qualquer elemento probatório que infirme a juridicidade do ato impugnado”.

O agravante, após atestar a ocorrência de oito adiamentos para a


aplicação do exame psicotécnico e a ilegal alteração dos testes que já
vinham sendo aplicados, gerando um exagerado índice de reprovação, afirma
que o laudo apresentado por ocasião da reprovação do recorrente é dotado
de subjetivismos e conclusões sem fundamentação, utilizando uma
metodologia sem certeza científica e não disponibilizando um efetivo
recurso administrativo (objeto de investigação em andamento pelo
Ministério Público de acordo com o agravante), não podendo sozinho servir
de base para caracterizar uma condição psicológica do candidato contrária
ao exercício da função de Policial Militar. Ademais, após afirmar que resta
manifestamente comprovado o fumus boni iuris, diante da ilegalidade e até
inconstitucionalidade do ato que reprovou o recorrente, o presente recurso
pugna pela integral reforma da sentença, atestando o seguinte: a) em
caráter preliminar, a ausência de fundamentação da decisão vergastada,
ensejando a violação do comando previsto no artigo 93, IX da Constituição
Federal; b) a utilização de critérios subjetivos para a eliminação do
candidato, sem a documentação efetiva do teste realizado, violando assim os
princípios basilares da Administração Pública, conforme precedentes deste
Tribunal datados de 2007 e 2008 (fls.12/16) e histórico de candidatos
reprovados em exame psicológico e aprovados no mesmo exame em certame
posterior; c) a existência de laudo elaborado por profissional habilitado
(acostado no anexo) com conclusões diversas daquelas exaradas pelo exame,
retirando assim sua presunção de legalidade.

É o relatório. Presentes os requisitos intrínsecos e extrínsecos


de admissibilidade recursal, passo a decidir.

Em primeiro lugar, impõe-se reconhecer a adoção do exame


psicológico com etapa de certame público, que se revela cabível desde que
estipulada no presente edital e em lei com fixação de critérios objetivos de
inadmissão dentro da ciência utilizada para a sua efetuação (Psicologia), o
que, nos limites da cognição exercida neste recurso, se verifica na presente

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hipótese, já que, segundo os arts. 11 da Lei Estadual nº 443/81 e 3º, VII, do


Decreto-Lei nº 218, de 1975, a aferição de aptidão psíquica faz parte do
processo de seleção de soldados da Polícia Militar deste Estado,
imprescindível inclusive pelas funções de segurança pública que serão
exercidas pelos aprovados, tornando-se regra especial vigente em relação à
legislação sustentada pelo recorrente. Ademais, o item 11.2.1.1,
expressamente afirma a aplicação de instrumentos psicométricos validados
cientificamente em nível nacional, aprovados pelo Conselho Federal de
Psicologia (Resolução CFP nº 002/2003) e amplamente difundidos”,
demonstrando-se assim, em tese, o manejo de critérios científicos
reconhecidos em âmbito profissional, que não se mostram ignorados face
aos elementos trazidos nos autos. Da mesma forma, não se comprova que os
aludidos adiamentos para a aplicação do exame psicotécnico e a alteração
dos testes que já vinham sendo aplicados violam a referida regra editalícia.

Logo, as alegações de subjetivismos, de adoção de critérios


ilegais no exame, bem como as conclusões trazidas pelo laudo apresentado
pelo recorrente, se ratificado por perícia a ser realizada no processo
originário, pode elidir as conclusões do ato administrativo impugnado,
ensejando assim a efetivação de dilação probatória cognitiva insuscetível de
ser realizada neste recurso. Logo, não há, no presente momento, elementos
probatórios para tanto, o que enseja a aplicação do enunciado sumular n 59
deste Tribunal, ao atestar que “somente se reforma a concessão ou
indeferimento de liminar, se teratológica, contrária à lei ou à evidente prova
dos autos”, conforme atual jurisprudência deste Tribunal, representada
pelos seguintes arestos:

0048655-47.2013.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. JOSE


ROBERTO P COMPASSO - Julgamento: 09/09/2013 - NONA CAMARA CIVEL
- AGRAVO DE INSTRUMENTO. Ação de obrigação de fazer. Concurso
Público. Reprovação em exame psicotécnico. Decisão que indeferiu o pedido
de tutela antecipada para que o candidato realize as demais etapas do
concurso. Manutenção. O exame psicológico consta com etapa importante do
concurso para polícia militar, na medida em que a função a ser exercida exige
do candidato características especiais para trabalhar na segurança pública.
Não se mostra teratológica nem contrária à lei, a decisão que, em cognição
sumária, indefere a antecipação da tutela, quando não há elementos nos autos
suficientes para afastar a legalidade e a presunção de veracidade do ato
administrativo. Recurso a que se nega seguimento.

0054109-08.2013.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. FLAVIA


ROMANO DE REZENDE - Julgamento: 11/10/2013 - OITAVA CAMARA CIVEL
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.
CONCURSO PÚBLICO PARA ADMISSÃO NO CURSO DE FORMAÇÃO DE

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SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR. CANDIDATO ELIMINADO NO EXAME


PSICOLÓGICO. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DA
TUTELA PLEITEADA. INCONFORMISMO. - Previsão de realização de exame
psicológico como etapa do certame, em sintonia com a orientação da Súmula
686 do STF, eis que amparado na legislação estadual e no edital. -
Necessidade de se aferir a aptidão psíquica dos candidatos ao cargo de
soldado da Polícia Militar deste Estado. Presunção da legalidade do ato que
não resta afastada pelos argumentos recursais. - RECURSO A QUE SE NEGA
SEGUIMENTO, POR DECISÃO MONOCRÁTICA, COM FULCRO NO CAPUT
DO ART.557 DO CPC

0048216-36.2013.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. CARLOS


EDUARDO PASSOS - Julgamento: 03/09/2013 - DECIMA OITAVA CAMARA
CIVEL - AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA ANTECIPADA. VERBETE Nº
59 DA SÚMULA DESTE TRIBUNAL. Reforma de decisão agravada somente
em casos de teratologia, ilegalidade ou inobservância da prova dos autos.
Pronunciamento não enquadrado nestas hipóteses. Concurso público para
ingresso na Polícia Militar. Exame psicológico como condição necessária ao
acesso a cargos públicos. Existência de previsão legal (art. 11, da Lei Estadual
n° 443/81). Utilização de critérios objetivos e científicos, definidos no edital.
Observância dos princípios da publicidade e recorribilidade. Ato administrativo
sem indício de ilegalidade. Tese recursal contrária à jurisprudência deste
Tribunal. Recurso a que se nega seguimento.

0035014-89.2013.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. ANDRE


RIBEIRO - Julgamento: 06/08/2013 - VIGESIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL -
AGRAVO INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA EM AGRAVO DE
INSTRUMENTO QUE NEGOU SEGUIMENTO AO RECURSO DO AUTOR.
IRRESIGNAÇÃO DA DEMANDADA. Concurso público. Polícia militar.
Reprovação de candidato no exame psicotécnico. Decisão de 1º Grau que
indeferiu a tutela antecipada. Insta salientar que o exame psicotécnico consta
como etapa do concurso público, porquanto que a função a ser exercida -
policial militar - exige seleção rigorosa a fim de verificar, dentre outros critérios,
a capacidade psicológica do candidato. Ao contrário das alegações do
agravante, o resultado do exame psicotécnico constante nos autos não se
mostra revestido de subjetivismo, vez que fundamentado na aplicação de
testes psicológicos objetivos. Assim, não se verifica, em juízo de cognição
sumária, qualquer irregularidade no ato administrativo, que foi pautado em
critérios previstos no edital, devendo-se ressaltar que o demandante não trouxe
aos autos qualquer recurso administrativo protocolizado, não logrando
demonstrar a recusa da Administração quanto à revisão do teste ou à
realização de novo exame. Precedentes desta Corte. Súmula 59 do TJRJ.
DECISÃO QUE SE MANTÉM. DESPROVIMENTO DO RECURSO.

0037633-89.2013.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES.


BERNARDO MOREIRA GARCEZ NETO - Julgamento: 11/07/2013 - DECIMA
CAMARA CIVEL Concurso público. Polícia Militar. Exigências legal e editalícia
de aprovação em exame psicológico. Lei Estadual 443, artigo 11. Candidato
declarado inapto pela banca. Edital com critérios objetivos, que garantem ao
candidato saber o método, o procedimento e os critérios de avaliação.
Expressa previsão de recurso. Possibilidade de novo exame com a presença
de psicólogo indicado pelo pretendente. Faculdade que não foi exercida pelo
agravante. Ausência dos pressupostos cumulativos do artigo 273 do CPC.
Manifesta improcedência do inconformismo.

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OITAVA CÂMARA CÍVEL

0032278- 98.2013.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. MYRIAM


MEDEIROS - Julgamento: 21/06/2013 - QUARTA CAMARA CIVEL - AGRAVO
DE INSTRUMENTO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONCURSO PÚBLICO DE
ADMISSÃO AO CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADO DA POLÍCIA
MILITAR. REPROVAÇÃO EM EXAME PSICOTÉCNICO. DECISÃO
AGRAVADA QUE INDEFERE A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.
INCONFORMISMO PAUTADO EM OFENSA À ISONOMIA, NA ADOÇÃO DE
CRITÉRIOS SUBJETIVOS DE JULGAMENTO E NA AUSÊNCIA PRÁTICA DE
EFETIVA REVISÃO NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO. PACÍFICA
JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES NO SENTIDO DE SER
POSSÍVEL A EXIGÊNCIA DE TESTE PSICOLÓGICO COMO CONDIÇÃO DE
INGRESSO NO SERVIÇO PÚBLICO, DESDE QUE HAJA PREVISÃO LEGAL
(SÚMULA Nº 686 DO STF) E NO EDITAL, BEM COMO HAJA
CIENTIFICIDADE E OBJETIVIDADE DOS CRITÉRIOS AVALIATÓRIOS; E
POSSIBILIDADE DE REVISÃO DO RESULTADO. REQUISITOS QUE,
CONFORME SE INFERE DO ACERVO DOCUMENTAL, EM COGNIÇÃO
SUMÁRIA, FORAM PREENCHIDOS. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 59 DO
TJRJ. PRECEDENTES. RECURSO QUE SE NEGA SEGUIMENTO, NA
FORMA DO ARTIGO 557, CAPUT, DO CPC.

0063921-45.2011.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. NORMA


SUELY - Julgamento: 23/07/2012 - OITAVA CAMARA CIVEL - AGRAVO DE
INSTRUMENTO.DECISÃO QUE INDEFERIU A ANTECIPAÇÃO DA TUTELA
PARA QUE O AGRAVANTE PARTICIPE DAS DEMAIS ETAPAS DO
CONCURSO PARA SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR.REPROVAÇÃO NO
EXAME PSICOLÓGICO.DECISÃO QUE SOMENTE SE REFORMA SE
TERATOLÓGICA, CONTRÁRIA À LEI OU À EVIDENTE PROVA DOS
AUTOS.SÚMULA 59, DO TJRJ.DESPROVIMENTO DO RECURSO.

Diante do exposto, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO ao


presente recurso com fulcro no artigo 557 do Código de Processo Civil,
com a manutenção integral da decisão recorrida.

Rio de Janeiro, 09 de dezembro de 2013.

Cezar Augusto Rodrigues Costa


Desembargador Relator

AI 066360-58.2013.8.19.0000 6
8º CC - JC

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