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Insolvência e recuperação
vez que a declaração de insolvência suspende os juros que seriam devidos na situação
de não estar a correr nenhum processo de insolvência, pelo que a insolvência, no
caso da sua empresa, teria também algumas vantagens.
No dia 24 de março de 2017, Bernardete, fiel às suas convicções no sentido de
que quem lhe deve dinheiro, vai ter de lho pagar “a bem ou a mal”, sob pena de ela
própria começar a deixar de ter viabilidade económica para continuar a trabalhar,
dirige então, por intermédio do seu Advogado, uma petição inicial contendo o pedido
de declaração de insolvência da XYZ, Ld.ª, dirigida ao Tribunal Administrativo e
Fiscal de Braga.
Neste seguimento, verifica-se que na petição inicial apresentada por
Bernardete, constam, entre outras, as seguintes referências: identificação dos
administradores do devedor e dos seus cinco maiores credores (entre os quais está
Bernardete); bem como identificação da mulher de Amândio (Carlota), casada com
Amândio em regime de comunhão de adquiridos. Ademais, Bernardete juntou à
petição a certidão permanente referente à XYZ, Ld.ª, tendo-o efetuado em
duplicado. Bernardete juntou também os documentos justificativos do seu crédito e
arrolou duas testemunhas.
No próprio dia da distribuição, o juiz veio proferir despacho de correção de
vícios, designadamente por falta de alguns dos documentos que deveriam ter sido
juntos à petição inicial, convidando Bernardete a corrigir esses vícios no prazo de 5
dias, sob pena de indeferimento liminar da petição. Além disso, o juiz mandou citar
pessoalmente Amândio, como gerente da sociedade comercial XYZ, Ld.ª, que
decidiu deduzir oposição, uma vez que, entretanto, consultou o Advogado avençado
da sua empresa, contrariamente ao que – anteriormente – tinha pensado fazer.
Seguidamente, o juiz marcou a data para a realização de uma audiência de
discussão e julgamento, sendo que Amândio não compareceu.
Após observadas as devidas consequências legais associadas ao facto antes
descrito, o juiz proferiu finalmente sentença de declaração de insolvência, nela
indicando apenas a data e a hora da respetiva prolação; a identificação do devedor
insolvente (ou seja, a sociedade comercial unipessoal por quotas XYZ, Ld.ª) e
fixando a residência a Amândio, administrador desta empresa. Desta sentença
foram notificados Amândio e Bernardete.
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(i) Ação executiva interposta pela ABC, Ld.ª (como fornecedor) contra a
XYZ Ld.ª, após a declaração de insolvência desta última;
(ii) Existência de uma dívida em sede de IRC, ainda não notificada pela AT à
XYZ, Ld.ª, cujo prazo de caducidade do direito à liquidação terminou
cinco dias após ter sido declarada a insolvência desta empresa por parte
do tribunal;
(iii) Contrato de locação, que tem por objeto o arrendamento de um pavilhão
industrial da propriedade da XYZ, Ld.ª à DEF, Ld.ª, celebrado
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Após ter lido e analisado com muita atenção a situação descrita, responda,
de uma forma completa e fundamentada, às seguintes questões:
2. Estará o amigo de Amândio certo quando afirma que Bernardete não tem
legitimidade para pedir a declaração de insolvência da XYZ, Ld.ª?
R: tópicos de resposta
O amigo de Amândio está errado porque Bernardete como credora tem legitimidade ativa
para desencadear o processo de insolvência – art 18 a 20 do CIRE.
Legitimidade ativa para desencadear esta ação:
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R: tópicos de resposta
Amândio encontra-se equivocado. apos a declaração de insolvência, as obrigações do
insolvente continuam a vencer juros- art 48 alíneas b) e f) do CIRE.
ainda os elementos respeitantes ao ativo e ao passivo do devedor que possua – art 25 nº1
do CIRE.
- Qualquer requerente para alem do próprio devedor deverá ainda oferecer com a petição
todos os meios de prova de que disponha, devendo inclusivamente juntar o rol de
testemunhas, que não podem exceder os limites legais – art 25 nº2 do CIRE e 511 do
CPC.
Mas também o dever/ obrigação em muitos casos. O art. 18º n º1 do CIRE dispõe acerca
da obrigatoriedade de apresentação à insolvência por parte do devedor, dentro do prazo
de 30 dias a contar da data do conhecimento da situação de insolvência ou da data em que
deveria conhecê-lo.
Se o devedor é titular de uma empresa, a lei presume inilidivelmente o conhecimento da
situação de insolvência, quando forem decorridos pelo menos 3 meses sobre o
incumprimento generalizado de alguma das obrigações referidas na alínea g) do nº1 do
art. 20º do CIRE.
A violação deste dever de apresentação à insolvência importa algumas consequências:
Presunção de culpa grave no âmbito do incidente de qualificação da insolvência -
art 186ºnº3 alínea a) e nº4 do CIRE;
Eventual preclusão da possibilidade de conceção da exoneração do passivo
restante – art 238º nº1 alínea d) do CIRE;
É ainda relevante para efeitos de responsabilidade penal, designadamente o crime
de insolvência negligente – art 228º nº1 alínea b) do Código Penal;
A doutrina tem ainda entendido que a violação do dever de apresentação à
insolvência é também passível de responsabilidade civil extracontratual perante
os credores, com fundamento na violação do art 483º do CC.
Despacho de citação
Em relação à citação, nos termos do art 29 nº1 do CIRE, esta tem de ser efetuado até ao
terceiro dia útil seguinte à data da distribuição ou, havendo vícios corrigíveis até ao
terceiro dia útil seguinte á data do respetivo suprimento – art 28º do CIRE aplicável ao
art 29 nº1.
Se quem não tivesse comparecido fosse Bernardete, verifica-se que a não comparência do
requerente (neste caso credor) ou do seu mandatário com poderes especiais para transigir
vale como desistência do pedido (art 31º, nº3 do CIRE) devendo o juiz ditar logo para a
ata a sentença homologatória da desistência do pedido.
CIRE). Mas faltam aqui algumas indicações na sentença, conforme as diversas alíneas
do artigo 36, nº1 do CIRE pois aqui só foram observadas as alíneas a), b) e c).
Quanto ás pessoas a notificar seriam as seguintes: o devedor, os administradores do
devedor a quem tenha sido fixada residência, o requerente da declaração de
insolvência, o Ministério Publico, a comissão de Trabalhadores (caso o devedor seja
titular de uma empresa) e os cincos maiores credores conhecidos (artigo 37, nº1, 2 e
3 do CIRE) além disso caso existam créditos do Estado, de institutos públicos sem a
natureza de empresas públicas ou de instituições de segurança social, estes também
serão citados nos termos do artigo 37, nº5 do CIRE.
para o efeito remetida pela secretaria. Segundo o artigo 38, nº2, alínea a) do CIRE na
conservatória do registo civil caso o devedor seja uma pessoa singular; na conservatória
do Registo Comercial quanto aos factos relativos ao devedor insolvente sujeitos a esse
registo, nos termos do artigo 38º, nº2, alínea b) do CIRE.
Além disso, deve a declaração de insolvência ser inscrita no Registo Predial quanto a bens
que integrem a massa insolvente (nº3 do artigo 38 do CIRE).
A secretaria deve ainda registar oficiosamente a declaração de insolvente. E a nomeação
do administrador de insolvência no registo informático de execuções- alínea a); promover
a inclusão dessas informações e do prazo para reclamações de créditos na página
informática do tribunal-alínea b); E ainda comunicar a declaração de insolvência ao banco
de Portugal para efeitos da respetiva inscrição na central de riscos de crédito.
A petição de embargos é autuada por apenso, de imediato e conclusa ao juiz para que este
profira despacho liminar no dia seguinte ao termo do prazo para apresentação dos
embargos – artigo 41, nº1 do CIRE.
Quanto ao recurso da sentença declarativa de insolvência apresenta legitimidade quem
tem legitimidade para deduzir embargos acrescendo a situação prevista no artigo 42, nº2
do CIRE, ou seja, devedor declarado insolvente que não tenha legitimidade para deduzir
embargos.
A interposição de recurso SÓ pode ter como fundamento a alegação de que, perante os
factos apurados não deveria ter sido proferida a sentença (nº1 do artigo 42 do CIRE).
O recurso suspende a liquidação, bem como a partilha do ativo ressalvando-se o previsto
no artigo 158, nº2 do CIRE, que regula a venda imediata dos bens depreciáveis ou
deterioráveis – nº3 do artigo 40 do CIRE, aplicável por força do nº3 do artigo 42 do mesmo
diploma.
entidade, designadamente os titulares do órgão social que para o efeito seja competente -
artigo 6º, nº1, alínea a) do CIRE.
artigos 39º nº1; 232º nº5; 291 do CIRE. Nos restantes casos, por exclusão de partes, é
aplicável o regime do incidente pleno.
Na decisão de abertura do incidente, o juiz fixa o seu carater, muito embora o incidente
pleno possa convolar-se em incidente limitado e vice-versa.
21. Discorra sobre o facto de a insolvência ter sido qualificada como culposa e
sobre a possibilidade de Amândio poder vir a ilidir as presunções em causa.
R: tópicos de resposta
O incidente de qualificação de insolvência destina-se a qualificar a insolvência como
fortuita ou culposa – artigo 185º do CIRE. A lei define apenas a insolvência culposa -
artigo 186 do CIRE. Ora, a insolvência é culposa quando a situação é criada com culpa
grave nos últimos anos anteriores ao inicio do processo de insolvência – artigo 186º nº1
do CIRE.
Por sua vez, o nº2 do artigo 186º do CIRE contem presunções inilidíveis de insolvência
culposa, onde se insere na respetiva, alínea b), a criação ou agravamento artificial de
passivos ou prejuízos.
O incumprimento do dever de elaborar as contas anuais subsume-se às condutas previstas
nas presunções do nº3 do artigo 186º do CRE, que são ilidíveis. Mas concretamente,
estamos a falar da respetiva alínea b).