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REVISAÇO: DPE-MA

1 SOCIOLOGIA DO DIREITO

I - SOCIOLOGIA DA ADMINISTRAÇÃO JUDICIÁRIA: Visa reduzir os obstáculos


causados, em grande parte, pelo número exorbitante de processos e por outros
obstáculos externos a seara processual, tal como dificuldade do acesso à justiça. Para
Boaventura de Sousa Santos, o aumento do número de processos e as consequências
que produziu nos tribunais propiciou o interesse da sociologia pelo estudo da
administração da justiça. Assim, a sociologia da administração judiciária visa estudar as
relações entre o Poder Judiciário e a sociedade e se desenvolve da necessidade de
pacificação do conflito existente entre a procura e a oferta da justiça.
Na Sociologia da Administração Judiciária, busca-se o estudo da influência da
sociedade nas decisões do Poder Judiciário, o qual utiliza suas decisões para
transformação social. São apresentados muitos obstáculos para o acesso da sociedade à
justiça, visa-se aqui apresentar os mais importantes. Conforme Ricardo Maurício, o
primeiro obstáculo que podemos destacar é o ideológico, pois há uma barreira muito
grande a ser enfrentada em relação a realidade social e o judiciário. Um segundo
obstáculo pode ser chamado de pedagógico, que é a tendência do ensino jurídico do
positivismo, o qual afasta o diálogo da ciência jurídica com outras formas do saber.
Acrescente-se a isso a figura do juiz como mero intérprete da lei. Hoje há uma postura
mais atuante do juiz (ativismo judicial), embora existam muitas críticas a esse
posicionamento. Por fim, um último obstáculo, é o problema gerencial no Brasil, que é
um país de dimensões continentais, que exige uma estrutura muito maior do que a
estrutura material e funcional que o judiciário dispõe. Há um déficit de estrutura e um
déficit de magistrados e servidores dentro da estrutura do poder judiciário.
Com a finalidade de reduzir esses obstáculos, existe a Administração Judiciária,
que é a ciência que apresenta ao Poder Judiciário ferramentas como método de controle
e planejamento, gestão de pessoas e de conhecimento e valorização dos recursos
humanos. Vale destacar que a Emenda Constitucional nº 45 elevou ao patamar
constitucional o tema da Administração Judiciária, dispondo no art. 103-B que cabe ao
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o controle da atuação administrativa e financeira do
Poder Judiciário.
O objeto da sociologia da administração judiciária abrange, além da atividade
administrativa do Poder Judiciário, o acesso à justiça, a administração da justiça e os
conflitos sociais e mecanismos de resolução.

II - Aspectos gerenciais da atividade judiciária (administração e economia):


Sugerem ao juiz uma verdadeira postura de administrador dos processos e da rotina
forense, utilizando-se das técnicas de gestão. A finalidade é de realização dos ideais
democráticos e de eficiente prestação jurisdicional.
GESTÃO: Tem por objetivo o crescimento por meio do esforço humano
organizado. A gestão de pessoas consiste em um esforço organizado de pessoas que
visam o mesmo fim. Possui 04 (quatro) elementos de destaque: planejamento,
organização, direção e controle.

III - RELAÇÕES SOCIAIS E RELAÇÕES JURÍDICAS. CONFLITOS SOCIAIS E MECANISMOS


DE RESOLUÇÃO. SISTEMAS NÃO- JUDICIAIS DE COMPOSIÇÃO DE LITÍGIOS: Toda sociedade
possui conflitos, pois a sociedade é o lugar das interações e nem todos pensam iguais
(SPAGNOL, 2012, p. 40). Entende-se por “conflito” a falta de entendimento entre duas
ou mais partes, um enfrentamento. Em Sociologia significa competição consciente entre
indivíduos ou grupos. Esse conflito poderá assumir várias formas. Um conflito geralmente
reflete uma ordem político-social e gera demandas normativas (SPAGNOL, 2012, p. 42-
3). Os costumes, as normas religiosas e outras formas normativas colaboram na
acomodação de conflitos, mas também é necessário o diálogo.
Neste ponto o caminho da mediação se afigura mais adequado aos novos tempos.
Mediar é também um processo de educação com vistas à paz social (SPAGNOL, 2012, p.
40). Mediação é um processo que busca tentar entender os dois lados de uma mesma
história, e conciliar os pontos de vistas sem sacrificar completamente a ideia de um ou
do outro. O Direito busca prevenir e/ou compor conflitos. A prevenção propicia o
disciplinamento social evitando- se assim possíveis conflitos de interesses. Já a
composição/acomodação promove a discussão dos interesses antagônicos (SPAGNOL,
2012, p. 44). Tipos de composição de conflitos: negociação, mediação, arbitramento,
composição.
Ainda sobre as relações jurídicas, é preciso estabelecer algumas diferenciações
quanto as situações jurídicas, vejamos:
– DEVER JURÍDICO: É o comando imposto pelo direito objetivo, através do qual o
sujeito deve observar determinada conduta, sob pena de sanção, trata-se de gênero do
qual obrigação é espécie.
– OBRIGAÇÃO: É um termo restrito, aplicável à relação credor-devedor, seu
objeto é a prestação, que via de regra é aplicável aos contratos.
- ONUS: É a exigência que o sujeito pratique determinada conduta sob pena de
não alcançar um benefício, ou eventualmente suportar uma desvantagem. O ônus não é
uma penitência, como muitos imaginam. Por exemplo, o ônus da prova ou o ônus de
registrar a escritura de um imóvel, são formalidades presentes em determinadas
circunstâncias jurídicas.
- SUJEIÇÃO: O estado de sujeição se opõe a um direito potestativo (aquele que
não admite contestações), que pode ser exercido sem a concordância, ou mesmo contra
a vontade da outra parte.

IV – CONTROLE SOCIAL: É o conjunto de coercitividade que o estado exerce sobre


todos nós. A sociedade vivencia constantemente o choque de interesses sobre o que
deve ser considerado certo ou errado. As ações são norteadas em valores tais como:
trabalho, honra, dignidade, educação, etc. Valores que foram internalizados no processo
de socialização. (SPAGNOL, 2012, p. 32) Spagnol observa que Durkheim ressaltou a tese
de Aristóteles, segundo a qual só nos tornamos humanos porque fomos socializados em
uma determinada cultura. Somos seres sociáveis. Por isso que o direito é residual. Ele
atua onde a moralidade falhou. Ser sociável é ser capaz de aprender hábitos e costumes
próprios de uma sociedade através do processo de socialização. (SPAGNOL, 2012, p. 32).
O direito exerce a função de controle social formal.

V - DIREITO, COMUNICAÇÃO SOCIAL E OPINIÃO PÚBLICA: A opinião do público


permeada anteriormente por muitas ideias previamente estabelecidas (SPAGNOL, 2012,
p. 40), influenciadas principalmente pelas notícias divulgadas pela mídia, que exerce
papel importante na construção de ideias, orientando opiniões a serviço de
determinados grupos. O efeito de tais concepções poderá ser visto em novas leis, novos
comportamentos sociais. A opinião pública influencia na normatização do que se julga
ser o certo (SPAGNOL, 2012, p. 40-1). E dependendo da força como ela é construída, ela
pode trazer serias consequências para uma sociedade.
As perguntas referentes ao conhecimento da população sobre as normas jurídicas
em vigor ou a respeito da opinião das pessoas sobre o funcionamento do sistema jurídico
e conteúdo do direito se encontram na base de uma corrente empírica da sociologia
jurídica, que estuda o “Conhecimento e Opinião sobre o Direito”. Esses estudos são
denominados, desde o final dos anos 60, de pesquisas KOL (Knowledge and Opinion
About Law).
TEMAS DAS PESQUISAS KOL: a) Postura da opinião pública diante de
determinadas leis e do direito em geral; b) Opinião sobre os operadores do direito e o
funcionamento do sistema judiciário; c) O conhecimento da legislação e das sanções.

2 PSICOLOGIA JUDICIÁRIA

I - PSICOLOGIA E COMUNICAÇÃO: RELACIONAMENTO INTERPESSOAL,


RELACIONAMENTO DO DEFENSOR PÚBLICO COM A SOCIEDADE E A MÍDIA: O sistema de
comunicação possui três elementos básicos, que são: emissor, canal e receptor.
Conforme Merísio, “o emissor liga-se ao receptor pelo canal de comunicação e pelo
mecanismo de feedback que utiliza o mesmo ou outro canal e que sinaliza o
estabelecimento da comunicação” (2012, p. 156). Qualquer alteração nesse mecanismo
gera uma falha de comunicação. A observância das falhas de linguagem é importante
para sua superação, pois apenas assim o servidor público estará consciente dos efeitos
da comunicação no ambiente de trabalho. Vale ressaltar que existem dois tipos de
comunicação que podem ser utilizadas, que são a comunicação processual e a
extraprocessual.

COMUNICAÇÃO PROCESSUAL É a comunicação dentro do processo.

COMUNICAÇÃO EXTRAPROCESSUAL É a comunicação fora do processo. Casos


em que o Judiciário, Promotor de Justiça
e/ou Defensor Público irão se comunicar,
por exemplo, com a mídia e a sociedade.

Comunicação não se resume com o ato de falar, abrange também o ouvir. O


modelo de escuta exige atenção tanto aquilo que está sendo dito, quanto aquilo que não
se encontra em palavras, como gestos, velocidade e altura da voz etc. Além disso, a boa
comunicação exige ordenação dos pensamentos antes da fala. Mérisio (2012, p. 159)
propõe a lógica como superação dos vícios de comunicação.
A Defensoria Pública do Ceará1 atenta ao tema da comunicação entre Mídia e
Sistema de Justiça têm realizado esforços para que essa aproximação ocorra da melhor
forma possível. Como destacou a Defensora pública geral do Estado do Ceará, Mariana
Lobo: “Estamos acompanhando o contexto nacional e observando como essa relação
entre mídia e o sistema de justiça tem se colocado na sociedade. É um tema de extrema
relevância debatermos aqui dentro da Defensoria Pública porque é importante
conhecermos o papel que cada instituição desempenha e como elas devem se comportar
diante do cenário político e social do país”. Assim, essa relação se mostra importante para

1
BRASIL. Defensoria Pública realiza palestra sobre “Mídia e Justiça”. Acesso em:
http://www.defensoria.ce.def.br/noticia/defensoria-publica-recebe-palestra-sobre-midia-e-justica/
que a sociedade, com foco nos possíveis assistidos da Defensoria Pública, saibam a
atuação desempenhada pela Defensoria e possam, dessa forma, buscar o acesso à justiça.
Sobre o tema Grazielle Albuquerque, jornalista e doutoranda em Ciência Política
pela Unicamp, destaca a conquista de espaços que instituições públicas, como o
Ministério Público e a Defensoria Pública, assumiram durante o processo de
redemocratização. Além disso, acrescenta a importância da vocação no desempenho da
função ao fazer referência a PEC 372, em suas palavras: “Cada instituição tem que saber
qual é a sua vocação, sem dúvida nenhuma a vocação da magistratura é diferente da
vocação do Ministério Público e da Defensoria, não pode confundir os papéis. Seja qual
for a sua vocação, quando você se distancia dela há um preço a ser pago. Eu falo da
questão da PEC porque eu acho um exemplo muito contundente, e ainda próximo, do
que é o fato de uma instituição que poderia ter perdido poder e uma parte das suas
atribuições funcionais por ter parcialmente se deslocado da sociedade. A campanha da
PEC reflete isso porque foi preciso correr atrás do apoio popular. Nesse sentido, uma
vantagem foi a capilaridade do MP, que está espalhado por todo país, com promotores
nas comarcas mais distante do país. Isso fez diferença. Por isso, essa noção de base social
não pode se perder”.
A apresentação e contato da Defensoria Pública com a mídia significa a
possibilidade de ampliação do acesso à justiça e aproximação com a sociedade.
Por meio dessa aproximação é importante que a sociedade conheça a atuação da
Defensoria Pública e a mídia, nesse quesito, representa um importante instrumento no
acesso a essa informação.
Nesse sentido, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul3 promoveu o 1º
Treinamento de Mídia da Defensoria. Chamado “Media Training”, que significa
treinamento de mídia, é uma expressão em inglês usada para designar um programa de

2
PEC 37, foi um projeto legislativo brasileiro que pretendia emendar a Constituição brasileira para incluir
a apuração de investigações criminais como atividade privativa da polícia judiciária. Foi proposta pelo
deputado Lourival Mendes, então do PTdoB do Maranhão.
3
BRASIL. “Media Training”: defensores públicos recebem treinamento para atender imprensa.
Disponível em: http://www.defensoria.ms.gov.br/imprensa/noticias/641-media-training-defensores-
publicos-recebem-treinamento-para-atender-imprensa
capacitação em comunicação para profissionais que atuam como porta-vozes. A
subdefensora pública-geral de Mato Grosso do Sul, Júlia Fumiko Hayashi Gonda,
enfatizou que “a Defensoria Pública, por atuar em diversas áreas do direito tanto na cível
quanto na criminal, é destaque em reportagens regionais e nacionais. E, por isso, realizou
pela primeira vez um curso com o objetivo de esclarecer técnicas entrevista e de
relacionamento com a imprensa”.
No tocante a Defensoria Pública do Maranhão4, em março de 2017, no curso de
formação para novos Defensores houve forte ênfase no relacionamento entre Defensoria
Pública e Mídia, o que se torna evidente inclusive com a cobrança dessa temática na
prova de ingresso da carreira. No curso, Socorro Boaes destacou que: “Com base em
alguns dados sobre a nossa atuação e o alcance da mídia no país e no mundo, o que se
pretendeu foi sensibilizar os defensores recém-nomeados para um olhar diferenciado em
relação a essa temática, de forma a contribuir com o atual processo de consolidação da
imagem da Defensoria”.
A consolidação da imagem da Defensoria significa o conhecimento pela sociedade
das atribuições cabíveis a Defensoria, pois grande parte da população a que a Defensoria
se destina nem ao menos possui conhecimento de sua existência, assim, a comunicação
entre a Defensoria e a Mídia auxilia no contato com a sociedade.

II - PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA COM REFLEXOS NO DIREITO: ASSÉDIO


MORAL E ASSÉDIO SEXUAL:

Assédio Moral: O Direito brasileiro adotou a expressão assédio moral. Todavia,


existem diversas nomenclaturas, tais como mobbing (Itália, Alemanha e Países
escandinavos), bullying (Inglaterra e Estados Unidos) e acoso psicológico (Espanha).
Ressalta Merísio (2012, p. 162-163) que o conceito não é insignificante nesse caso, tendo
em vista que dele se extraem diferentes consequências. Assédio moral, na qualidade de
mobbing, não é apenas a violação da intimidade dos trabalhadores, mas possui também

4
BRASIL. MA: Defensoria inicia curso de formação para novos defensores. Disponível em:
https://www.anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=32509
a finalidade de destruição da vítima, afastando-a do mercado de trabalho. Segundo
Mérisio, o mobbing remete, em sua origem, a prática do instinto animal de marcar
território. É o isolamento progressivo de uma espécie mais forte em detrimento de outra.

O mobbing, portanto, pretende a aniquilação da vítima, a qual é negada a sua


própria existência enquanto pessoa. Por sua vez, o assédio moral envolve a violação
sistemática e regular, que se perdura no tempo (2012, p. 163).

O dano moral decorrente do assédio moral possui duas esferas principais: 1°


OBJETIVA: As ofensas e humilhações podem atingir a imagem da pessoa, ou seja, a
reputação; 2 ° SUBJETIVA: Conceito pessoal que a pessoa tem de si mesma. Podem ser
sujeitos ativos do assédio moral tanto os superiores quanto os colegas de trabalho, sendo
que as vítimas, normalmente, são pessoas sozinhas. Inclusive até o chefe pode ser vítima
em casos que os funcionários fazem um complô contra ele.

O terror psicológico ainda pode se apresentar na qualidade de mobbing


estratégico ou bossing, o qual ocorre quando o empregador, visando a redução do
quadro de pessoal aterroriza o funcionário de forma a levar o empregado a se demitir. As
consequências do assédio moral são catastróficas, podendo gerar sérios distúrbios a
vítima, tais como quadro de ansiedade, estresse, obsessões e fobias, tal como síndrome
do pânico.

Assédio sexual: Embora possua pontos em comum com o assédio moral, com ele
não se confunde. O assédio sexual frustrado pode gerar assédio moral, além disso pode
ocorrer cumulação de assédio moral e assédio sexual sobre uma mesma vítima e na
mesma relação de emprego. O assédio sexual encontra previsão no artigo 216-A, do
Código Penal: Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico
ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.

3 FILOSOFIA DO DIREITO
I - O CONCEITO DE JUSTIÇA. SENTIDO LATO DE JUSTIÇA, COMO VALOR UNIVERSAL.
SENTIDO ESTRITO DE JUSTIÇA, COMO VALOR JURÍDICO-POLÍTICO. DIVERGÊNCIAS SOBRE O
CONTEÚDO DO CONCEITO: a justiça em sentido lato é compreendida como o conjunto
das virtudes sociais que fundamentam a base da relação entre os sujeitos, sendo uma
condição necessária para a manutenção da vida em sociedade. A palavra-chave aqui é
alteridade, ou seja, justiça enquanto relação com o outro. Esse é o sentido universal de
justiça. Já o conceito de justiça em sentido estrito se baseia na ideia de dar a outrem o
que lhe é devido, numa condição de igualdade marcada por uma condição de
simplicidade e proporcionalidade. É uma relação aqui que apresenta três características:
a) dar a outrem (pluralidade e alteridade) b) o que lhe é devido c) segundo uma igualdade
(que é uma qualidade). Esse é o sentido jurídico-político de justiça.

II - O CONCEITO DE DIREITO. EQUIDADE. DIREITO E MORAL: Para Kelsen, o Direito


tem a característica de poder ser moral (Direito Justo) e de poder não ser moral (Direito
Injusto). Certamente, prefere-se o direito moral ao imoral, mas não é isso que irá retirar
a validade de um determinado sistema jurídico. Um direito pode ser justo ou injusto, mas
nem por isso deixará de ser válido. O Direito não precisa respeitar um mínimo moral para
ser definido e aceito como tal, pois a natureza do Direito não requer nada além do valor
jurídico. Em qualquer caso, o Direito é coercitivo, característica ausente na moral. Assim,
a ordem jurídica é válida ainda que contrarie preceitos morais. Validade e justiça são
valores diversos de uma norma jurídica. Uma norma pode ser válida e justa, válida e
injusta, inválida e justa, e inválida e injusta (BITTAR, p. 343). Acrescente-se a isso o fato
de que a discussão sobre justiça não tem espaço na Teoria Pura do Direito.

III - O MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO PELA LÓGICA DO RAZOÁVEL: Método criado


por Recaséns Siches, que faz uma crítica ao método lógico-dedutivo do positivismo
jurídico, propondo a lógica do razoável, a qual exige um maior esforço do interprete para
analisar determinada regra, indo além do que está escrito. Trabalha com valores, por isso
que é axiológica. Assim, o dilema era encontrar um método para interpretação do direito
vigente que estivesse efetivamente ligado ao sentido de justiça.
Na “lógica do razoável” o ponto de partida é o horizonte humano, um
horizonte de valores em que as soluções devem ser justas. O julgador para aplicar ou não
a norma jurídica deve antecipar mentalmente os efeitos da aplicação possível para
corrigir equívocos e alcançar maiores graus de justiça (TOMASZEWISKY, 1998, p. 130).
Assim, se utilizada à lógica do razoável o acontecimento deve ser contextualizado. Pode-
se fazer relação entre a Lógica do Razoável com a Régua de Lesbos e com o utilitarismo:

 Relação com a Régua de Lesbos, de Aristóteles: A virtude é o meio termo


entre o excesso e a falta. No exemplo acima, a reclusão seria excessiva e
não fazer nada seria injustiça.
 Pensar nas consequências que adviriam do ato de prender o homem, se
positivas ou negativas. Herança do utilitarismo.

A função do juiz, não obstante estar limitada ao direito formalmente válido deve
transcender essa esfera para que seja criativo e alimente-se de um complexo de
valorações para o caso concreto alcançar a solução mais justa possível (TOMASZEWISKY,
1998, p. 130). O juiz tem que ser criativo na interpretação e tomar como ponto de partida
o ser humano. Nosso direito abre caminho para isso quando fala da função social, do bem
comum, da dignidade da pessoa humana.

Além de operar com os princípios da justiça, liberdade, segurança, deve, ainda,


usar a sensatez, sopesar interesses, usar a prudência etc. para a lógica do razoável, o
essencial não está no texto da lei, mas no juízo de valor que se faz em torno de
determinada norma (TOMASZEWISKY, 1998, p. 127-8).

Na “lógica do razoável” o processo de produção do direito não termina com a


promulgação da Lei, mas no momento de sua individualização que é a fase concreta, a
fase mais importante e que está nas mãos do intérprete (TOMASZEWISKY, 1998, p. 133).

Essa lógica, que decorre da realidade do mundo dos valores, está presente no
procedimento analógico e foi apontado por nosso legislador de maneira implícita quando
no art. 5º do LINDB observa que “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que
ela se dirige e às exigências do bem comum”. Neste caso há o reconhecimento da Lógica
do Razoável como critério para aplicação da norma.

A equidade também é uma autorização para que o juiz aprecie segundo a lógica
do razoável, estabelecendo a norma individual para o caso concreto (GONÇALVES Jr;
MACIEL, 2012, p. 300-2).

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