Você está na página 1de 53

Obras Públicas de Edificação

e de Saneamento

Módulo 1
Planejamento

Aula 1
Planejamento e Recursos
Orçamentários
© Copyright 2017, Tribunal de Contas de União
<www.tcu.gov.br>

Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, semalteração do conteúdo, desde que citada
a fonte e sem fins comerciais.

RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO


Tribunal de Contas da União
Secretaria Geral da Presidência
Instituto Serzedello Corrêa
Diretoria de Educação Corporativa de Controle
Serviço de Educação Corporativa de Controle - Seducont

CONTEUDISTA
Bruno Martinello Lima
Gustavo Ferreira Olkowski
Marcelo Almeida de Carvalho
Rafael Carneiro Di Bello
Victor Hugo Moreira Ribeiro
Rommel Dias Marques Ribas Brandao

REVISORES TÉCNICOS
Jose Ulisses Rodrigues Vasconcelos
Eduardo Nery Machado Filho

TRATAMENTO PEDAGÓGICO
Flávio Sposto Pompêo

PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO


Vanessa Vieira

Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em agosto de 2017.

As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e podem não

expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União.


Módulo 1 - Planejamento 3

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Aula 1 – Planejamento e Recursos Orçamentários

Como se inicia o planejamento para a execução de uma obra


pública?
Quais são os meios de se obterem recursos federais para essa
finalidade?
O que é o programa de necessidades?
Qual a importância dos estudos de viabilidade da
construção?

Nesta aula começaremos o curso sobre Planejamento, Contratação e Fiscalização de Obras


Públicas de Edificações e de Saneamento.

Todo o material foi desenvolvido por servidores do Tribunal de Contas da União (TCU) com
o objetivo de capacitar servidores e gestores da Administração Pública de municípios com até
50 mil habitantes, que trabalham diretamente com a missão de construir obras públicas para
benefício da população.

Na elaboração do material, buscou-se utilizar uma linguagem de entendimento comum,


para ampliar o acesso a esse conhecimento. Além disso, todo o conteúdo foi pensado para a
construção de obras de pequeno e médio portes, que são as mais comuns no dia-a-dia desses
municípios.

Isso não impede que servidores públicos de outros entes da Federação ou ainda de mu-
nicípios de maior população, que lidem com grandes obras, possam realizar o curso e utilizar
este material. Nesse caso, no entanto, os alunos devem ficar atentos, pois obras maiores e mais
complexas podem necessitar de estudos e projetos mais rigorosos e detalhados.

Neste módulo básico composto por quatro aulas, faremos uma abordagem geral por
todas as principais etapas relacionadas à execução de uma obra pública: desde a assinatura de
um convênio, passando pela fase de estudos preliminares, projetos e licitação.

Ao final do curso, espera-se que o participante seja capaz de aplicar os principais conceitos
sobre o tema estudado, em conformidade com a legislação federal e com as principais decisões
do TCU, estando apto a utilizar adequadamente recursos do Orçamento Geral da União na me-
lhoria da infraestrutura dos municípios.

Tribunal de Contas da União


4
Tribunal de Contas da União

Ao final de cada aula, será apresentado um pequeno dicionário (chamado de glossário)


com a definição do que significam os principais termos técnicos tratados na ocasião. Assim, to-
das as palavras destacadas na cor azul no texto estão descritas nesse glossário.

Nesta primeira aula, iniciaremos nosso estudo com os principais meios para transferência
de recursos federais para os municípios. Além disso, começaremos a etapa de planejamento das
obras, com as fases de: programa de necessidade e estudos de viabilidade técnica, econômica e
ambiental.

Para facilitar o estudo, esta aula está organizada da seguinte forma:

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento...................................................................... 1

Módulo 1 - Planejamento..................................................................................................................... 3

Aula 1 – Planejamento e Recursos Orçamentários ............................................................. 3

1.Introdução aos instrumentos de repasses de recursos federais ........................... 7

1.1. Aspectos gerais sobre os termos de compromisso e os repasses fundo a


fundo......................................................................................................................................................... 8

1.2. Aspectos gerais sobres os instrumentos de transferências voluntárias.9

1.3 Fases do convênio e do contrato de repasse............................................................ 11

1.3.1 Cadastramento e Proposição (proposta)......................................................... 11

1.3.2 Celebração e Formalização..................................................................................... 13

1.3.3 Execução............................................................................................................................. 14

1.3.4 Prestação de Contas..................................................................................................... 18

1.4 Legislação sobre o tema...................................................................................................... 18

1.5 Principais falhas...................................................................................................................... 19

2. Programa de Necessidades.......................................................................................................... 21

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


5

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


2.1 Definição....................................................................................................................................... 21

2.2 Elementos Mínimos................................................................................................................. 23

2.3 Possibilidade de Construção em Etapas ou Módulos.......................................... 25

3. Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA)......................... 27

3.1 Objetivos do EVTEA................................................................................................................. 27

3.2 Conteúdo de um EVTEA......................................................................................................... 28

3.3 Escolha do terreno e análises de legalidade........................................................ 28

3.4 Levantamentos de informações para caracterizar o local........................... 30

3.4.1 Levantamento topográfico e cadastral.......................................................... 30

3.4.2 Levantamento Geológico-Geotécnico................................................................ 31

3.4.3 Levantamento climatológico e hidrológico.................................................. 33

3.4.4 Levantamentos ambientais....................................................................................... 34

3.5 Análise da Viabilidade Técnica........................................................................................ 34

3.5.1 Análises de alternativas de engenharia......................................................... 34

3.5.2 Análise da viabilidade econômica........................................................................ 37

3.6 Produtos esperados do EVTEA......................................................................................... 39

3.7 Contratação do EVTEA......................................................................................................... 40

Síntese......................................................................................................................................................... 41

Bibliografia.............................................................................................................................................. 42

Glossário.................................................................................................................................................... 44

Anexo - Decisões importante do TCU sobre instrumentos de repasses de recursos


federais....................................................................................................................................................... 51

Tribunal de Contas da União


6
Tribunal de Contas da União

Ao final da aula, espera-se que o participante seja capaz de, no exercício de suas responsa-
bilidades como gestor de obras públicas municipais de edificações e saneamento:

1. diferenciar os principais tipos de instrumentos de repasse de recursos federais;

2. preencher os requisitos mínimos dos planos de trabalho, para possibilitar a celebração


de convênios e contratos de repasse com o Governo Federal;

3. elaborar as etapas iniciais de planejamento de obras, desde a definição das necessidades


até os estudos que identificarão alternativas e selecionarão a mais viável alternativa de
concepção;

4. definir os principais pontos dos estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental,


que servirão para subsidiar as etapas de anteprojeto e projeto básico.

Pronto para começar? Então, vamos!

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


7

1.Introdução aos instrumentos de repasses de recursos federais


Tribunal de Contas da União

Iniciaremos nosso curso falando sobre convênios e contratos de repasse. Esses instrumen-
tos são muito importantes, pois podem ser a solução para os municípios que não possuem
recursos financeiros suficientes para construir as obras de que necessitam. Vamos entender, ini-
cialmente, o seu funcionamento.

O Estado brasileiro é formado pelos seguintes entes da Federação: União, estados,


Distrito Federal e municípios. Cada uma dessas unidades é autônoma, possuindo poderes de
auto-organização, autogoverno, autoadministração e autolegislação.

Apesar disso, o Brasil concentra a maior parte da arrecadação de tributos (impostos, taxas
e outros) na União, de forma a ser necessário repassar verbas aos estados e municípios para a
realização de suas políticas públicas.

O repasse de recursos federais da União para os municípios pode ser feito de duas formas:
transferências obrigatórias ou voluntárias.

As transferências obrigatórias são aquelas realizadas por determinação da Constituição


e das leis, a exemplo das destinadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), do Fundo de Participação
dos Municípios (FPM) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entre elas os termos
de compromisso e os repasses fundo a fundo.

Já as transferências voluntárias são aquelas realizadas principalmente por meio de con-


vênios, de contratos de repasse, tendo por objetivo um interesse público comum (a construção
de uma obra ou a elaboração de um projeto, por exemplo).

O alvo desse nosso estudo inicial serão as transferências voluntárias.

Considerando que as receitas geradas pelos impostos arrecadados nos próprios municípios
muitas vezes não são suficientes para execução de seus projetos, as transferências de verbas
federais podem ser a solução para a falta de recursos financeiros.

Nesse sentido, os gestores municipais devem buscar conhecer e se enquadrar nas exigên-
cias feitas pela legislação, uma vez que a iniciativa para recebimento desses recursos deve ser do
próprio município.

Os convênios e contratos de repasse podem ser uma das soluções para a falta de
recursos financeiros nos municípios, pois possibilitam o recebimento de verbas
da União.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


8

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Nesse curso, serão abordados alguns aspectos sobre a formalização desses contratos, a
sua prestação de contas, as principais falhas que ocorrem e ainda as decisões do TCU sobre os
principais instrumentos de transferência voluntária de recursos federais para municípios.

1.1. Aspectos gerais sobre os termos de compromisso e os repasses


fundo a fundo

Termo de compromisso

As transferências da União para os estados, o Distrito Federal e os municípios, para execu-


ção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), são do tipo obrigatórias, regidas pela pró-
pria lei de criação do PAC: Lei 11.578/2007. Essas ações são discriminadas pelo Poder Executivo,
de acordo com o interesse da União.

O instrumento pelo qual é firmado esse ajuste para transferência de recursos é o Termo de
Compromisso. De acordo com o art. 3º da citada lei, os estados e municípios a serem beneficiá-
rios deverão comprovar os seguintes requisitos, que devem constar desse termo de compromisso:

I. identificação do objeto a ser executado;

II. metas a serem atingidas;

III. etapas ou fases de execução;

IV. plano de aplicação dos recursos financeiros;

V. cronograma de desembolso;

VI. previsão de início e fim da execução do objeto, bem como da conclusão das etapas ou
fases programadas; e

VII. comprovação de que os recursos próprios para complementar a execução do objeto


estão devidamente assegurados, salvo se o custo total do empreendimento recair sobre
a entidade ou órgão descentralizador, quando a ação compreender obra ou serviço de
engenharia.

Observa-se, então, que, enquanto as transferências realizadas por convênios são do tipo
voluntárias, aquelas firmadas por termos de compromisso do PAC são do tipo obrigatórias, con-
dicionadas apenas à aprovação prévia do termo por parte da União.

Tribunal de Contas da União


9
Tribunal de Contas da União

Além disso, em convênios, as ações são definidas pelo próprio ente estadual ou municipal
em seu plano de trabalho, enquanto que, nos termos de compromisso, a União é quem define
as ações que deverão ser executadas pelos entes, por meio do Comitê Gestor do Programa de
Aceleração do Crescimento - CGPAC.

Fundo a Fundo

O Governo Federal, por meio do Fundo Nacional de Saúde (FNS), transfere anualmente
a estados, municípios e Distrito Federal, recursos da ordem de 30 bilhões de reais para custear
ações e serviços de saúde. A forma ou modalidade pela qual se dá essa transferência é denomi-
nada “repasse fundo a fundo”, na qual os recursos do Fundo Nacional de Saúde são alocados, de
forma regular e automática, para os fundos de saúde estaduais, municipais e do Distrito Federal.

Para isto, é obedecida a programação financeira do Tesouro Nacional, independentemente


de convênio ou instrumento congênere e segundo critérios, valores e parâmetros de cobertura
assistencial, de acordo com o estabelecido nas Leis Orgânicas da Saúde (Lei n. 8.080/1990 e Lei
n. 8.142/1990), e nas exigências contidas no Decreto 1.232/1994.

Embora possam se caracterizar como transferências obrigatórias, por força legal, os repas-
ses fundo a fundo são provenientes do orçamento da União, razão pela qual não se constituem
como receitas próprias dos Estados, ou seja, constituem recursos federais e, dessa forma, estão
sujeitos à fiscalização por parte do Tribunal de Contas da União.

Os termos de compromisso e os repasses fundo a fundo possuem procedimentos próprios,


que não serão explorados neste curso. Estudaremos com mais profundidade os convênios e con-
tratos de repasse, que são os instrumentos mais comuns para execução de obras em estados e
municípios.

1.2. Aspectos gerais sobres os instrumentos de transferências voluntárias

Antes de começarmos a falar sobre esses instrumentos de transferência de recursos, é


necessário conhecer os seguintes conceitos relacionados a eles, que serão mencionados durante
toda a aula:

Convênio: é o acordo que regula a transferência de recursos de um órgão público federal


para um órgão público estadual ou municipal, com o objetivo de atender a um interesse
público em comum.

Proponente: é o órgão público estadual ou municipal que propõe a realização de um


convênio com um órgão federal.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


10

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Concedente: é o órgão público federal que concede os recursos financeiros para os esta-
dos ou municípios, mediante um convênio.

Convenente: é o órgão público estadual ou municipal que recebe os recursos federais


para a execução do projeto previsto no convênio.

EXEMPLO

Em um convênio assinado entre o Ministério das Cidades e a Prefeitura Municipal de Goiânia/GO, para o repasse de
recurso para o município, o Ministério é o Concedente e a Prefeitura é o Proponente e o Convenente.

Veja que a Prefeitura exerce a função de Proponente quando está propondo o convênio,
na fase de negociação. Após assinado o contrato, a Prefeitura passa então a ser denominada
de Convenente. A mudança de nomenclatura se refere somente ao momento da negociação.

Contrato de Repasse: similar ao convênio, é o instrumento de transferência de recursos


financeiros de um órgão público federal para um órgão público estadual ou municipal com
a diferença de que há a participação de uma instituição financeira pública federal.

Mandatária: é a instituição financeira federal responsável pela transferência dos recursos


financeiros.

EXEMPLO
Suponhamos agora um contrato de repasse assinado entre o Ministério das Cidades, com o intermédio da Caixa
Econômica Federal, e a Prefeitura Municipal de Goiânia/GO. Nesse caso, o Ministério será Contratante, a Caixa a
Mandatária e a Prefeitura o Contratado.

Objeto: é o produto previsto no convênio ou no contrato de repasse (seria a construção


de um posto de saúde ou elaboração de um projeto para construção de uma escola, por
exemplo).

Plano de trabalho: é o documento que servirá de base para a assinatura do convênio/


contrato de repasse. Deverá ser elaborado pelo município e apresentado ao órgão federal.

Contrapartida: é a verba disponibilizada pelo convenente que, somada aos recursos fe-
derais, comporá o valor total do acordo para a execução completa do objeto. Em um
convênio de R$ 1,0 milhão, por exemplo, no qual o governo Federal repasse ao município
R$ 900 mil, a contrapartida será de R$ 100 mil. O valor percentual da contrapartida não
é fixo, varia em função do órgão federal e do programa de governo, sendo, usualmente,
entre 5% a 15% do total do convênio.

Tribunal de Contas da União


11
Tribunal de Contas da União

Siconv: é o sistema de gestão de convênios e contratos de repasse, que funciona no Portal


dos Convênios do Governo Federal (www.convenios.gov.br).

1.3 Fases do convênio e do contrato de repasse

Os convênios e contratos de repasse podem ser divididos nas seguintes fases:

• Cadastramento e Proposição;

• Celebração e Formalização;

• Execução; e

• Prestação de Contas.

Para realizar um convênio ou contrato de repasse, todos os procedimentos


referentes à seleção, formalização, execução, acompanhamento e prestação de
contas devem ser registrados no Siconv (www.convenios.gov.br).

1.3.1 Cadastramento e Proposição (proposta)

Inicialmente, os órgãos que desejam celebrar convênios ou contratos de repasse com a


União precisam se cadastrar previamente no Siconv, o qual deve ser feito pela internet.

Após a realização do cadastro e previamente à proposição do convênio, o município deve


identificar as necessidades existentes em sua comunidade, com a elaboração de um programa
de necessidades. Mais à frente nesta aula, veremos como elaborar esse programa. Com ele serão
definidas as carências e as prioridades.

O segundo passo é identificar os programas de governo disponibilizados pelos órgãos da


administração federal

Para ter maiores informações sobre todos os programas, de todos os órgãos federais que
disponibilizam recursos para convênios e contratos de repasse, os municípios podem consultar o
Portal de Convênios (www.convenios.gov.br), bem como os endereços na internet dos diversos
ministérios, onde são estabelecidas as regras, critérios, objetos e demais requisitos para obtenção
dos recursos.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


12

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Para saber mais...
ÂÂ Para obter mais informações, você pode consultar, por exemplo, os seguintes endereços na internet:
»» FNDE: http://www.fnde.gov.br/
»» Ministério da Saúde: http://portalsaude.saude.gov.br/
»» Ministério das Cidades: http://www.cidades.gov.br/index.php

O município ou o estado deverá formalizar diretamente no Portal de Convênios. A propos-


ta de trabalho, que deve conter, entre outros elementos, a descrição do objeto, estimativa dos
recursos financeiros necessários e a previsão do prazo de execução.

Há também chamamentos públicos, os quais contém regras específicas para seleção de


propostas nas áreas definidas pelo Governo Federal.

Nesses chamamentos, geralmente é definido um prazo para apresentação das propostas,


sendo mais uma razão para que o ente municipal mantenha atualizada sua lista de obras priori-
tárias e seus respectivos planos de trabalho.

Caso a proposta seja aceita pelo Concedente, o Proponente deverá apresentar em seguida
o Plano de Trabalho, que deve ser bem elaborado e detalhado, pois irá orientar toda a execu-
ção do contrato.

O plano de trabalho deverá conter no mínimo1:

a. as razões que justifiquem a sua celebração;

b. a descrição completa do objeto a ser executado;

c. a descrição das metas a serem atingidas;

d. a definição das etapas ou fases de execução do objeto;

e. compatibilidade de custos com o objeto a ser executado;

f. o cronograma de execução do objeto e o cronograma de desembolsos; e

g. o plano de aplicação dos recursos a serem desembolsados pelo concedente e da


contrapartida financeira do proponente, se for o caso.

Para saber mais...


ÂÂ Na biblioteca do curso está disponível um modelo de plano de trabalho.

Tribunal de Contas da União


13

1.3.2 Celebração e Formalização


Tribunal de Contas da União

A formalização dos convênios e dos contratos de repasse tem início com o cadastramento
e credenciamento do órgão municipal ou estadual no Sistema de Gestão de Convênio (Siconv),
via internet.

Os órgãos também precisam cumprir os requisitos e exigências estabelecidos no art. 22 da


Portaria Interministerial 424/2016, dos quais, entre outros, destacamos:

• respeitar os limites da dívida consolidada e mobiliária, das operações de crédito, da


inscrição em restos a pagar e da despesa total com pessoal, conforme previsto na Lei
Complementar 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal);

• não estar em dívida com os órgãos da administração pública federal;

• cumprir as aplicações mínimas de recursos nas áreas de educação e saúde, em


atendimento aos artigos 198 e 212 da Constituição Federal;

• comprovar possuir os direitos de propriedade do imóvel, nos casos em que o convênio


seja para realização de obras ou benfeitorias no local; e

• realizar previsão, no orçamento do município ou do estado, da contrapartida a ser


aplicada no convênio.

Além disso, registramos que o valor mínimo para a celebração de convênios é de R$


100.000,00 para a execução de serviços diversos e, no caso de execução de obras e serviços de
engenharia, de R$ 250.000,001. Isso significa que não poderão ser assinados convênios para
realizar objetos com valores menores que esses.

Após a aprovação do plano de trabalho pelo órgão concedente/contratante, e cumpridos


todos esses requisitos descritos no art. 22 da Portaria Interministerial 424/2016, o convênio ou
contrato de repasse será formalizado. Tem-se aí a assinatura do contrato.

No caso de obra, uma atenção especial deve ser dada ao projeto. Como regra, o projeto
básico deverá ser apresentado antes da assinatura do instrumento de repasse. Por outro
lado, é permitido que o órgão concedente o exija somente depois dessa assinatura, mas sempre
antes da liberação da primeira parcela dos recursos2. Em função disso, o gestor deve ficar sempre
atento às exigências de cada órgão concedente.

1 - Art. 3 da Portaria Interministerial 424/2016.


2 - Art. 21 da Portaria Interministerial 424/2016.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


14

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


De qualquer modo, o projeto básico deverá ser apresentado pelo município ou pelo estado
no prazo fixado no convênio.

É importante saber que esse projeto deve conter todos os elementos necessários e sufi-
cientes para caracterizar a obra, bem como demonstrar sua viabilidade, conveniência e custo. Na
próxima aula estudaremos mais sobre o que é o projeto básico.

Uma das principais causas para a não aprovação das propostas de trabalho em convê-
nios e contratos de repasse é a falta de detalhamento do plano de trabalho, especialmente em
virtude de projeto básico deficiente, razão pela qual deve ser dada a devida importância a esse
documento.

As principais decisões do TCU sobre esse tema3 indicam que o projeto básico deve ser
aprovado pelo órgão competente do Governo Federal antes da licitação da obra. Só há uma
exceção para essa regra: caso o município queira aproveitar uma licitação já realizada. Nesse
caso, deve-se garantir que o projeto básico utilizado na licitação atenda as exigências da Lei
8.666/1993 e da Lei de Diretrizes Orçamentárias federal.

A vigência do contrato de convênio/repasse é iniciada após sua assinatura e publicação


no Diário Oficial da União. Caso não haja a publicação, o convênio perde a validade e torna-se
nulo. Lembrando que o convenente ou contratado deve dar ciência da celebração do convênio
ou do contrato de repasse ao conselho local ou instância de controle social da área vinculada à
transferência, enquanto que o concedente deve informar à Assembléia Legislativa ou à Câmara
Legislativa ou à Câmara Municipal do convenente, conforme o caso4.

1.3.3 Execução

A execução é a fase de realização da obra ou do serviço previsto no convênio/contra-


to de repasse. O andamento dessa fase deve coincidir com o cronograma aprovado no Plano
de Trabalho, sendo proibida a realização de despesas antes do início e após o término de sua
vigência.

Vejamos as principais etapas da execução.

Pagamentos/
Liberação dos Execução do
Fiscalização e
recursos objeto
Acompanhamento

3 - Acórdão 2.099/2011-TCU-Plenário.
4 - Art. 22 da Portaria Interministerial 424/2016

Tribunal de Contas da União


15
Tribunal de Contas da União

Liberação dos recursos

A liberação dos ocorrerá da seguinte maneira:

I. liberação da 1a parcela ou parcela única condicionada a:

a. envio pela mandatária e homologação pelo concedente da Síntese do Projeto Aprovado


(SPA), quando se tratar de obras e serviços de engenharia;

b. conclusão da análise e aceite do processo licitatório pelo concedente ou mandatária;

II. liberação das demais parcelas, quando da conclusão de no mínimo 70% das parcelas
liberadas anteriormente.

Obs: com exceção dos casos em que a parcela é única, o valor da primeira parcela não
poderá ser superior à 20% do valor total do instrumento..

As verbas federais recebidas por meio de convênios ou contratos de repasse, bem como a
contrapartida do município, devem ser movimentadas apenas em conta específica, aberta exclu-
sivamente com esse fim. Essa conta nunca será a do tesouro da União ou do Município, uma vez
que os recursos não devem se confundir5.

O valor total liberado deve ser aplicado6:

• em caderneta de poupança de instituição financeira pública federal, se a previsão de


seu uso for igual ou superior a um mês; e

• em fundo de aplicação financeira de curto prazo, ou em título da dívida pública, quando


sua utilização estiver prevista para prazos menores.

Os rendimentos das aplicações financeiras não podem ser considerados como contraparti-
da do município e devem ser aplicados obrigatoriamente no objeto do convênio ou do contrato
de repasse ou devolvidos ao Governo Federal na prestação de contas final7.

Execução do objeto (construção da obra)

A execução do objeto deve ser realizada de acordo com as cláusulas do convênio/contrato


de repasse. Além disso, as verbas não podem ser utilizadas em outro objeto que não aquele pre-
visto no plano de trabalho. É proibida a substituição de um objeto por outro8.

5 - Art. 41 da Portaria Interministerial 424/16.


6 - Art. 41 da Portaria Interministerial 424/2016
7 - Art. 41 da Portaria Interministerial 424/2016
8 - Art. 36 da Portaria Interministerial 424/2016

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


16

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


É possível, no entanto, fazer uma readequação das metas do plano de trabalho, desde que
seja previamente aprovada pelo órgão concedente/contratante.

No entanto, vale registrar que é vedada a repactuação de metas e etapas quando se tratar
do Regime Simplificado9.

Qualquer alteração realizada sem prévia autorização e sem termo aditivo ao convênio pode
ser considerada como desvio de finalidade e levar à rescisão do convênio e inscrição do conve-
nente em inadimplência.

Caso o gestor municipal se depare com alguma impossibilidade de realizar o plano de


trabalho após liberação dos recursos, deve entrar em contato imediatamente com o órgão con-
cedente, a fim de renegociar os termos do convênio/contrato de repasse.

Ainda que haja uma situação emergencial no município ou se perceba que o objeto não
é mais prioritário, é vedada a utilização dos recursos em despesas não previstas no plano de
trabalho. Esse fato é considerado uma irregularidade grave pelo TCU e pode levar a instauração
de Tomada de Contas Especial (TCE), para apuração de eventuais danos e ressarcimento aos
cofres públicos10. Nesses casos, os gestores públicos serão notificados para reembolsarem esses
valores.

Na fase de execução do convênio, são realizadas: a) a licitação da obra e a contratação


da empresa executora; b) os pagamentos, de acordo com o andamento da obra; e c) o efetivo
cumprimento do objeto e das metas previstas.

As licitações e contratações de empresas devem seguir o rito comum das demais compras
e obras da administração pública. O aprofundamento desse conteúdo será feito ao longo
do presente curso, especialmente na Aula 5.

Pagamentos

Para garantir a correta aplicação dos recursos recebidos pelo município na execução da
obra ou do projeto, é fundamental que os débitos da conta específica do convênio sejam acom-
panhados de cada documento comprovante da despesa (empenhos, medições, notas fiscais,
faturas e recibos), que devem ser emitidos em nome do convenente e conter expressamente o
número do convênio a que se refere11.

9 - art. 65 da Portaria Interministerial 424/16


10 - Exemplos de acórdãos do TCU sobre o tema: 2.189/2012-2ªCâmara,11.472/2011 2ªCâmara, 10.551/2011-2ªCâmara,
437/2012-1ªCâmara, 6.835/2011-1ªCâmara.
11 - Art. 52 da Portaria Interministerial 424/2016

Tribunal de Contas da União


17
Tribunal de Contas da União

Isso significa que cada pagamento só poderá ser realizado diretamente à empresa contra-
tada, após a inclusão de todos os documentos necessários no Siconv, os quais devem comprovar
a efetiva execução das metas, etapas ou fases do plano de trabalho.

Esses cuidados devem ser tomados para assegurar a correspondência entre os recursos
aplicados e o objeto, havendo um nexo de causalidade entre o pagamento e o serviço. Em
outras palavras, o objetivo é garantir que os valores sejam corretamente utilizados na obra.

Além disso, como regra, os pagamentos devem ser realizados por meio de crédito em
conta bancária das empresas contratadas para execução do objeto12.

Assim, considera-se irregularidade a realização de saques para pagamentos em espécie.


De igual modo, a emissão de cheque para pagar as despesas incorridas é vedada pelo Decreto
6.170/200713.

Em julho de 2012, foi criada a ordem bancária de transferências voluntárias (OBTV). A


partir de então, o pagamento ao fornecedor passou a ser realizado por meio de ordem bancária
gerada no próprio Siconv, a qual é enviada para o Sistema Integrado de Administração Financeira
(Siafi) e, então, é creditada na conta corrente da empresa contratada, evitando o problema dos
pagamentos em espécie.

Fiscalização e acompanhamento

O órgão convenente, na qualidade de contratante da obra/serviço, é responsável por fis-


calizar e garantir a regular execução do objeto pactuado. Além disso, pode ser responsabilizado
pelos danos causados a terceiros na execução do convênio/contrato de repasse.

Sem prejuízo da fiscalização acima, o órgão concedente também deve realizar o acompa-
nhamento e comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos; da compatibilidade
da execução do objeto com o Plano de Trabalho; e da regularidade das informações registradas
no Siconv.

No caso de contratos de repasse, a instituição financeira mandatária também deverá acom-


panhar e fiscalizar os procedimentos relativos à aplicação dos recursos federais, previamente à
liberação das parcelas14.

Ao verificar quaisquer irregularidades na execução do convênio/contrato de repasse, o


concedente suspenderá a liberação dos recursos e fixará prazo ao convenente para sanear as
falhas ou esclarecer os fatos.

12 - Art. 52 da Portaria Interministerial 424/16


13 - Art. 10 do Decreto 6.175/2007 e art. 52 da Portaria Interministerial 424/16
14 - Art. 52 da Portaria Interministerial 424/16

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


18

1.3.4 Prestação de Contas

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


A prestação de contas nada mais é do que a comprovação, por meio de documentos e
informações, do cumprimento fiel e regular da execução do objeto.

O órgão que recebe recursos por meio de convênio/contrato de repasse está obrigado a
apresentar a prestação de contas nos prazos previstos. Os prazos para a apresentação das pres-
tações de contas parciais e final são estabelecidos no próprio termo do convênio/contrato de
repasse. Geralmente, o prazo para prestação de contas final é de 60 dias após o fim da vigência
do convênio/contrato de repasse ou da conclusão do objeto.

A omissão no dever de prestar contas é considerada irregularidade grave e dá ensejo à


instauração de Tomada de Contas Especial (TCE).

Importante notar que é competência do prefeito sucessor (nos convênios firmados com
municípios) prestar contas dos recursos provenientes de convênios/contratos de repasse firmados
por seus antecessores e, somente na impossibilidade de fazê-lo, deve apresentar justificativas
que demonstrem seu impedimento e as medidas adotadas para resguardar o erário.

Caso sobre saldo financeiro na conta do convênio ao final da obra, ele deve ser devolvido
ao órgão concedente, com reajuste monetário, no prazo estabelecido para a apresentação da
prestação de contas.

A análise da prestação de contas deve ser realizada pelo concedente no prazo de 1 ano.
Havendo aprovação, será dada declaração expressa de que os recursos foram regularmente apli-
cados. Não sendo aprovada, serão adotadas as devidas providências para a regularização das
pendências. Na hipótese de permanecer qualquer pendência, a autoridade competente registrará
o fato no Siconv e adotará as medidas cabíveis para instauração da Tomada de Contas Especial.

Nessa situação, se o município for inscrito como inadimplente (ou seja, não tenha cumpri-
do adequadamente a prestação de contas), não poderá receber novas transferências de recursos
por meio de convênios/contratos de repasse até que regularize suas contas.

1.4 Legislação sobre o tema

Apresentaremos aqui as principais normas aplicáveis aos instrumentos de repasse de re-


cursos. Caso necessite, o gestor poderá consultar essa legislação para solucionar dúvidas que
apareçam no processo de planejamento e de execução de uma obra pública. Toda essa legislação
será disponibilizada na biblioteca do curso.

Até 30/5/2008, a Instrução Normativa STN 1/1997 era o principal normativo aplicável
sobre o tema. A partir dessa data, entrou em vigor o Decreto 6.170/2007, regulamentado

Tribunal de Contas da União


19
Tribunal de Contas da União

posteriormente pela Portaria Interministerial MP/MF/MCT 127/2008, trazendo novas dispo-


sições sobre os convênios e os contratos de repasse.

Até dezembro de 2016, a Portaria Interministerial CGU/MF/MP 507/2011 constituiu, jun-


tamente com Decreto citado, a principal legislação reguladora das transferências de recursos da
União firmadas a partir de 1/1/2012. Em 30/12/2016, foi editada a Portaria Interministerial 424,
a qual revogou a Portaria 507/2011 e trouxe novos comandos sobre as normas relativas às trans-
ferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse.

Cabe registrar que alguns órgãos editam seus próprios atos normativos internos para dis-
ciplinar pontos específicos da celebração, acompanhamento, fiscalização e prestação de contas
de convênios e contratos de repasse. O Ministério da Justiça, por exemplo, possui a Portaria
458/2011. O município ou estado convenente deve verificar essas normas.

Como fonte de pesquisa adicional, indicamos:

• Os manuais e a página na internet de perguntas e respostas do Portal dos convênios:


http://www.convenios.gov.br/portal/manuais.html;

A cartilha da Controladoria Geral da União (CGU): Transferências de Recursos da União,


Perguntas e Repostas, que pode ser encontrada no seguinte endereço da internet: http://portal.
convenios.gov.br/noticias/transferencias-de-recursos-da-uniao-perguntas-e-respostas-controla-
doria-geral-da-uniao-2013.pdf

1.5 Principais falhas

As principais falhas e irregularidades apuradas pelo Tribunal de Contas da União em con-


vênios e contratos de repasse são:

Nas fases de proposição, celebração e formalização

• Apresentação de plano de trabalho sem o devido detalhamento: ausência de justificativas


que comprovem a necessidade de se realizar o contrato; descrição incompleta do objeto
a ser executado; ausência ou insuficiência na descrição das metas, em qualidade e
quantidade; ausência ou incompletude do projeto básico.

• Ausência de comprovação de contrapartida: deixar de depositar o valor relativo à


contrapartida.

Para saber mais...


ÂÂ Na biblioteca do curso está disponível um modelo de plano de trabalho, para que os alunos possam
verificar todos esses detalhes.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


20

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Na fase de execução financeira

• Desvio de finalidade na aplicação dos recursos transferidos: aplicar os recursos financeiros


do convênio em outras despesas que não as do plano de trabalho.

• Transferir os recursos da conta específica do convênio para outra conta qualquer,


perdendo-se a possibilidade de estabelecer o nexo causal entre os recursos transferidos
pelo concedente e as despesas incorridas pelo convenente.

• Realizar pagamentos em espécie à empresa contratada, sem que haja a identificação


de sua destinação, perdendo-se a possibilidade de estabelecer o nexo causal entre os
recursos transferidos pelo concedente e as despesas incorridas pelo convenente.

• Realização de despesas antes ou após a vigência do convênio.

• Alteração no objeto do convênio: realizar qualquer alteração no objeto do convênio


sem autorização do órgão concedente.

• Falhas na licitação e na execução dos contratos: não observar os procedimentos legais


necessários para a licitação e para os contratos, nos termos das Leis 8.666/1993 e
12.462/2011.

• Utilizar licitação pretérita sem que esta tenha observado os dispositivos da Lei
8.666/1993, da respectiva Lei de Diretrizes Orçamentárias e dos demais dispositivos
que regem a aplicação de recursos públicos federais.

• Pagamento sem comprovação do recebimento do objeto: realizar os pagamentos sem


que haja a respectiva medição e comprovação da conclusão dos serviços;

• Inexecução parcial ou total do objeto: deixar de executar o objeto parcialmente ou em


sua totalidade.

Na fase de prestação de contas

• Ausência de comprovação de nexo causal: não comprovar que os recursos financeiros do


convênio foram aplicados regularmente nas despesas relacionadas ao objeto pactuado.

• Omissão na apresentação da prestação de contas final: deixar de apresentar a prestação


de contas final do convênio.

• Apresentação da prestação de contas final incompleta ou com documentos inidôneos.

Tribunal de Contas da União


21

2. Programa de Necessidades
Tribunal de Contas da União

2.1 Definição

É comum imaginar que o planejamento da obra se inicia com o projeto básico. No entanto,
esse não é o pensamento adequado. De acordo com a Lei de Licitações, o projeto básico deve
ser elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares15. Dessa forma, esses
estudos preliminares é que compõem a primeira etapa do planejamento da obra.

A Lei não apresenta detalhes de como eles devem ser elaborados, no entanto podemos ob-
ter essas informações em normas técnicas da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas16.
Com base nisso, dividiremos os estudos preliminares em três grandes fases: a) o programa de
necessidades; b) os estudos de viabilidade; e c) o anteprojeto (este último será visto na próxima
aula).

Com a figura a seguir, ilustramos as principais etapas a serem percorridas para se realizar
uma obra pública. Todas elas serão estudadas nesta e nas próximas aulas deste curso.

Programa de Necessidades

Escolha do Terreno

Estudo de Viabilidade

Estudo Preliminar ou Anteprojeto

Projeto Básico

Projeto Executivo

Licitação

Contrato

Fiscalização da Obra
15 - Lei 8.666/1993, art. 6º, inciso IX.
16 - ABNT NBR 13531/1995 – Elaboração
de Projetos de Edificações – Atividades Técnicas.
Recebimentoda Obra

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


22

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


O programa de necessidades é o estudo no qual o órgão deve levantar suas principais
demandas e prioridades, definindo o universo de empreendimentos que são de seu interesse.
Em seguida, devem ser elaboradas as primeiras avaliações para apontar as características funda-
mentais da obra. Não é uma etapa expressamente exigida por lei, mas é recomendável que seja
realizada.

Segundo a Norma ABNT 13531/1995, o programa de necessidades é: a etapa


destinada à determinação das exigências de caráter prescritivo ou de desempenho
(necessidades e expectativas dos usuários) a serem satisfeitas pela edificação a
ser concebida.

Imagine, por exemplo, que o município possua recursos para construir somente uma esco-
la e um hospital, ao passo que a demanda da população seja por três escolas e dois hospitais. A
escolha dos locais em que as unidades serão implantadas e a definição de suas principais carac-
terísticas, com base na melhor relação entre custos e benefícios, poderão ser determinadas com
o programa de necessidades.

Assim, primeiramente deverá ser elaborado o programa de necessidades geral do ór-


gão. Esse é o documento que tem por objetivo fundamentar a escolha de como bem utilizar os
recursos públicos, de acordo com as decisões tomadas pelo formulador das políticas locais.

Para isso, é recomendável que o gestor tenha em mãos o conjunto de obras que necessita
construir, acompanhado da estimativa do custo e do benefício esperado de cada uma. Com essas
informações, será definida a ordem de prioridades para construção, levando em consideração as
maiores demandas e os maiores benefícios. O resultado será uma lista como a exemplificada na
tabela a seguir:

ORDEM DE PRIORIDADE OBJETO LOCAL


1º Unidade de Pronto Atendimento Bairro A
2º Escola Infantil Bairro B
Estação de Tratamento de Água
3º Bairro C
(ETA)
4º ... ...

Dessa lista, serão eleitas as obras efetivamente necessárias para atender ao interesse da
população. Com a escolha do empreendimento que se deseja construir, deverá ser elaborado o
programa de necessidades específico da obra.

Tribunal de Contas da União


23
Tribunal de Contas da União

O Programa de Necessidades é composto por duas etapas: a) a geral, na qual se


avaliam as obras prioritárias; b) a específica, na qual se estudam as características
necessárias para a obra.

Essa será a etapa destinada a determinar o local de sua construção, as exigências, neces-
sidades e expectativas dos futuros usuários do empreendimento, assim como as características
básicas necessárias para a construção.

2.2 Elementos Mínimos

Para construção do programa de necessidades deverão ser respondidas ao menos as se-


guintes questões: a) quem e quantos serão os usuários do empreendimento? b) qual o melhor
local (bairro, região) para sua instalação? c) há terrenos disponíveis com as características neces-
sárias para a construção? d) há disponibilidade de recursos financeiros para construir a obra?

O objetivo é que se obtenham informações essenciais para caracterizar a construção e


definir o montante de recursos orçamentários a serem obtidos. Assim, recomenda-se que os
elementos mínimos a serem apresentados no programa são:

• tipo da obra (hospital, escola, rede de abastecimento de água etc.);

• população a ser atendida (número de famílias, condição social, região do município em


que se encontram etc.);

• local em que será construído o empreendimento;

• principais características (número de leitos em um hospital, números de salas de aula


em uma escola etc.);

• dimensionamento simplificado da obra:

• estimativa da área total de construção (por exemplo: quantos metros quadrados terá o
edifício ou quantos quilômetros terá a rede de esgoto);

• estimativa do custo total para a construção da obra;

• possibilidade de construção em etapas, módulos, ou blocos, caso haja restrição


orçamentária para a construção total;

• origem dos recursos para construção e manutenção.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


24

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Para saber mais...
ÂÂ Na biblioteca do curso está disponível exemplo de programa de necessidades, que pode servir de
inspiração para a elaboração de outros estudos. Além disso, na biblioteca do curso há exemplos de
tabelas CUB e do Índice do Sinapi

Na aula 3, veremos com mais detalhes como elaborar o orçamento da obra. Nesta
fase de definição do Programa de Necessidades, no entanto, para estimar de maneira simplifica-
da os custos do empreendimento, o gestor pode utilizar valores de custo do m2 de construção
como o Custo Unitário Básico (CUB), disponibilizado nos sites na internet dos sindicatos da cons-
trução civil dos estados (Sinduscon), ou ainda o Índice Nacional da Construção Civil do Sinapi
(encontrado no site: http://www1.caixa.gov.br/gov/gov_social/municipal/programa_des_urbano/
SINAPI/index.asp).

Aqui cabe um alerta. Esses índices de custos não consideram várias despesas envolvidas em
uma construção, tais como fundações, equipamentos ou instalações especiais. Por isso, uma dica
prática para estimar de maneira simplificada e expedita o custo da obra nesta etapa: o gestor
pode somar 30% ao custo do m2 apresentado pelo CUB ou pelo índice do Sinapi. Repare que
isso é apenas uma estimativa, fundamentada em dados ainda pouco detalhados sobre as ca-
racterísticas da obra. Na fase de projeto básico, deverá ser elaborado um orçamento detalhado.

Vejamos um exemplo de como estimar preliminarmente os custos de construção. Suponha


que um município do Piauí deseja construir a sede de sua prefeitura. De acordo com o programa
de necessidades, o prédio possuirá 1.000 m2 de área construída. O CUB do estado, no mês de
janeiro de 2014 é de R$ 1.137,23/m2. Já o índice do Sinapi, para a mesma região e data, é de
R$ 905,29/m2. Quanto seria o custo estimado da construção? A tabela a seguir detalha essa
resposta.

A B = (A x 0,3) C = (A + B) D E = (C x D)
Área de
Custos extras Custo total Custo total
Custo do m2 Construção
(30%) do m2 estimado
(m2)
CUB 1.137,23 341,169 1.478,40 1.000,00 1.478.399,00
Índice Sinapi 905,29 271,587 1.176,88 1.000,00 1.176.877,00

Assim, segundo os cálculos, os custos para construção da sede dessa prefeitura seriam
estimados entre R$ 1,2 milhão e R$ 1,5 milhão.

Por fim, além dos custos, é desejável verificar desde logo as eventuais restrições legais
quanto ao terreno, quanto aos órgãos ambientais e quanto ao Código de Obras Municipal.

Tribunal de Contas da União


25
Tribunal de Contas da União

Cabe ainda avaliar a possibilidade de a localidade (bairro, região) ser atendida por serviços como
água, luz, esgoto, coleta de lixo e telefonia.

2.3 Possibilidade de Construção em Etapas ou Módulos

Vejamos agora uma situação com a qual o gestor pode se deparar.

Suponha que o município necessite construir uma escola com 12 salas de aula, porém só
tenha recursos para construir uma com 6 salas. Em outra situação, imagine que, atualmente, a
escola necessária para o município seja uma com 6 salas, no entanto os estudos mostram que
em 5 anos serão necessárias 12 salas.

Como proceder nessas situações?

Uma possível solução para esses problemas é projetar a obra para que seja construída em
diferentes etapas ou ainda em módulos separados.

Na construção em etapas, a escola do exemplo pode ser dividida em dois blocos. Cada
bloco poderia conter 6 salas de aula. Assim, o município poderia construir em uma primeira eta-
pa somente um bloco, e o restante em momento posterior, de acordo com a disponibilidade de
recursos e com a sua necessidade.

Além da construção em etapas, há no mercado diversas novas tecnologias que permitem


a construção em módulos, o que também pode ser uma solução para os problemas relatados
acima. Os módulos são cômodos pré-fabricados - de materiais como concreto, chapas de aço ou
até plástico reforçado - que permitem uma grande flexibilidade na construção, com ampliações
e mudanças de layout.

As construções modulares possuem a vantagem de uma rápida execução quando compa-


radas a edificações convencionais de concreto e alvenaria.

Para saber mais...


ÂÂ Na biblioteca do curso estão disponíveis modelos desses projetos.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


26

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


As figuras abaixo mostram exemplos de algumas construções modulares em PVC.

A possibilidade de construção em etapas ou módulos é outro aspecto a ser observado no


programa de necessidades e pode ser melhor aprofundada nos estudos de viabilidade.

Atenção, não se deve confundir a construção em módulos com a construção parcelada. O


parcelamento da contratação de serviços interdependentes (como fundações, estruturas, insta-
lações elétrica e hidráulica etc.) deve ser evitado, pois geram riscos quanto às responsabilidades
técnicas por vícios construtivos, além de não possibilitar a funcionalidade do empreendimento
caso não haja recursos suficientes para executar alguma parte restante.

Fonte: http://www.modularis.com.br/ Fonte: http://www.embraloc.com.br/

salas-de-aula-modularis.asp produtos/modulos-pre-fabricados/

Tribunal de Contas da União


27
3. Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental
Tribunal de Contas da União

(EVTEA)
No tópico anterior estudamos os requisitos desejáveis para o Programa de Necessidades.
Vimos que esse programa contempla a definição de prioridades pelos gestores. Superada a defi-
nição sobre em qual obra investir, é hora de escolher a melhor alternativa para a sua construção,
dessa vez sob os aspectos técnico, econômico e socioambiental.

O EVTEA parte do programa de necessidades e contempla a análise de viabilidade do em-


preendimento. Por meio dele, elabora-se o anteprojeto de engenharia para o desenvolvimento
da melhor solução técnica da alternativa selecionada, bem como para a definição dos principais
componentes da obra.

Avançar para as demais fases da obra sem a sinalização positiva da sua viabilidade pode
trazer riscos e complicações para sua execução e conclusão.

Para saber mais...


ÂÂ Na biblioteca do curso estão disponíveis materiais complementares com exemplo de relatórios de
EVTE e de fontes de consulta para apoiar o acompanhamento dos estudos.

Ao avaliar se uma obra é viável, o gestor público age de acordo com a técnica de engenha-
ria e cumpre a exigência legal quanto aos estudos preliminares. Tais exigências são previstas tanto
na Lei Geral de Licitações quanto no Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC)17.

É importante registrar que o município poderá contratar uma empresa projetista para re-
alizar esses estudos, caso não possua pessoal suficiente e qualificado para fazer essa tarefa. Os
detalhes sobre como realizar essa contratação serão estudados na Aula 2.

3.1 Objetivos do EVTEA

A norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 13531/1995 estabelece


que o EVTEA de uma edificação tem como objetivo a “elaboração de análises e avaliações para
seleção e recomendação de alternativas para a concepção da edificação e de seus elementos,
instalações e componentes”18.

17 - Exigências de estudos preliminares para as obras públicas:


a) Lei 8.666/1993: art. 6º, inciso IX, e art. 12; b) RDC, Lei 12.462/2011: art. 2º, inciso IV, ou art. 9º, §2º, inciso I e art. 74, §1º, do Decreto
Federal 7581/2011.
18 - A Lei 4.150/1962 indica a observância das normas técnicas da ABNT nos contratos de obras públicas, inclusive por Estados e Municí-
pios.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


28

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Dessa forma, veremos nos tópicos a seguir, passo a passo, os conceitos relevantes para
atingir o objetivo dessa norma.

3.2 Conteúdo de um EVTEA

Primeiramente, o gestor deve saber qual é o conteúdo mínimo dos trabalhos de EVTEA.

Sob o aspecto técnico, é desejável que se avaliem as alternativas possíveis para a cons-
trução da obra, selecionando a mais viável. Já a avaliação ambiental dessas alternativas envol-
verá o exame preliminar dos impactos do empreendimento sobre o meio ambiente em que se
encontra.

A análise econômica, por sua vez, inclui o exame das melhorias que a construção da obra
trará para a região, confrontando-as com os gastos necessários para sua realização. O resultado
será uma análise de custo/benefício para cada uma das alternativas identificadas.

Essa avaliação de custo/benefício não se limita a calcular números, mas também deve levar
em conta questões como aquelas ligadas à qualidade de vida da população, à saúde, à educação
e a outros aspectos relevantes. Por isso, a experiência e a formação da equipe técnica que elabo-
ra o EVTEA e os demais estudos de projeto são de grande importância.

Passamos então a discriminar as principais etapas esperadas do EVTEA, que auxiliarão o


gestor a tomar a melhor decisão sobre os próximos passos da obra.

3.3 Escolha do terreno e análises de legalidade

Antes mesmo de iniciar qualquer outra atividade do EVTEA, é necessário selecionar o ter-
reno para a construção. Aqui podemos separar nossa explicação em dois tipos de obras distintas:
as de edificações e as de saneamento.

Iniciemos pelas edificações.

As alternativas de terrenos disponíveis devem ser comparadas, por meio de uma tabela
simples, que indique as vantagens e desvantagens de cada um. Nessa comparação, os estudos
devem levar em conta a população e a região a serem beneficiadas. Do mesmo modo, precisam
ser observadas quaisquer restrições relacionadas com o empreendimento, isto é, deve ser consul-
tado o Código de Obras Municipal e outras normas que possam interferir no projeto a ser desen-
volvido posteriormente. Ou seja, a busca pela melhor localização do terreno passa pela avaliação
do problema a ser resolvido em um determinado local/bairro/região do município.

Tribunal de Contas da União


29
Tribunal de Contas da União

É importante que o gestor busque ajuda da assessoria jurídica do órgão para verificar toda
a documentação do terreno.

Deve ser verificado se o terreno é de propriedade do ente responsável pela obra (estado ou
município). Não sendo, deve ser regularizada tal situação ou estudada a possibilidade de realizar
o empreendimento em outro local. É importante o gestor verificar todas as possibilidades, pois a
compra de um terreno pode envolver elevados custos.

É necessário verificar ainda a acessibilidade – ou seja, os meios para que a população


chegue ao local, a pé ou por outros meios de transporte.

Tratemos agora das obras de saneamento. Ao contrário das edificações, que se concen-
tram em terrenos de áreas delimitadas, murados e isolados de outras edificações, as obras de
saneamento costumam ser executadas de forma dispersa, espalhadas por grandes áreas. É o
caso dos sistemas de distribuição de água tratada e dos sistemas de coleta de esgotos sanitários,
que entram em várias ruas de um bairro, ou vários bairros de uma cidade.

Enquanto o assentamento de tubos costuma ser embaixo de ruas e avenidas, as outras


estruturas necessárias à operação do sistema precisam ser colocadas em terrenos, impedindo
outros usos da propriedade. Como exemplo, podemos citar as estações elevatórias para bom-
beamento de esgoto; os reservatórios intermediários de água tratada (caixas d’água, com
bombas); as estações de tratamento de água (ETA); ou as estações de tratamento de esgoto
(ETE). Por esse motivo é importante que o EVTEA avalie a disponibilidade dos terrenos para im-
plantação dessas obras.

Além disso, é importante que o EVTEA analise, além do já mencionado Código de Obras
Municipal, se está sendo cumprido o Plano Diretor e o Código de Posturas Municipal. Por
exemplo, não é recomendado instalar uma estação de tratamento de esgoto (ETE) bem ao lado
de uma escola. Alguns estados possuem um Conselho de Desenvolvimento Regional, que deve
ser consultado, particularmente no caso de obras de redes de saneamento.

Plano Diretor
É instrumento de planejamento para implantação da política de desenvolvimento
e de ordenamento da expansão urbana do município, orientando a prioridade de
investimentos, conforme Lei Federal 10.257/2001 – Estatuto das Cidades.

Código de Posturas Municipal


É conjunto de normas que regulam o uso do espaço urbano pelos cidadãos,
regulamentando a melhor convivência entre as pessoas; a utilização de passeios
públicos, a instalação de mobiliário urbano, o exercício de atividades profissionais
ao ar livre e a instalação de faixas e cartazes de publicidade em locais públicos,
por exemplo.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


30

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Vale destacar que uma cidade sustentável, voltada para equidade e qualidade de vida de
seus cidadãos, passa necessariamente por um bom planejamento urbano e implantação do res-
pectivo Plano Diretor.

3.4 Levantamentos de informações para caracterizar o local

Escolhido o terreno, é hora de conhecê-lo melhor. Uma obra pode ser entendida como
uma intervenção humana sobre a natureza, por isso é necessário conhecimento sobre o
ambiente no qual ela se insere.

Por exemplo, para a construção de uma creche utilizando recursos do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), é necessário que o município tenha disponibilidade de
terreno em localização, condições de acesso e características geotécnicas e topográficas adequa-
das para a implantação das unidades19. Mas o que significa isso?

Vejamos agora essas definições e o que esperar dos principais tipos de levantamentos ne-
cessários para a realização de uma obra pública.

3.4.1 Levantamento topográfico e cadastral

Os levantamentos topográficos definem a forma da superfície do terreno, ou seja, o estu-


do deve dizer se a superfície é relativamente plana, ou se é acidentada, com declividades suaves
ou acentuadas, e que tipo de interferências existem nela.

Em um desenho de projeto, esse levantamento é representado pelas curvas de nível do


terreno20. Veja o exemplo da figura abaixo:

Fonte: http://noticias.r7.com/
blogs/nicolau-marmo/2012/08/14/
o-nivelamento-do-ensino/curvas-
de-nivel/

19 - Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/proinfancia/proinfancia-perguntas-frequentes
20 - As normas da ABNT sobre o levantamento topográfico são: NBR 12.722/1992 - Discriminação de serviços para
construção de edifícios; e NBR 13.133/1994 - Execução de levantamento topográfico.

Tribunal de Contas da União


31
Tribunal de Contas da União

Na construção de uma creche para 120 crianças do Programa Proinfância do FNDE, por
exemplo, é necessário que o terreno para a obra tenha no mínimo as dimensões de 45 metros
por 35 metros, e inclinação máxima de 3% (nesse caso, considerando a maior dimensão, de 45
metros, a diferença de nível entre os extremos do terreno deverá ser no máximo 1,35 metro)21.

Já o levantamento cadastral define interferências visíveis existente na superfície do ter-


reno, como: a) postes de energia, b) árvores de maior porte, c) rochas na superfície; além de
interferências enterradas, como tubulações e bueiros.

A documentação fotográfica do terreno também é muito importante, e é desejável que


conste no processo de estudo da obra.

Esses levantamentos têm como objetivo verificar se a construção no terreno não será muita
cara, com gastos excessivos em terraplenagem, remanejamento ou ampliação da rede de ener-
gia, telefone, água e esgoto. Assim, pode se verificar se a construção no local é viável.

3.4.2 Levantamento Geológico-Geotécnico

Para avaliar a viabilidade de uma obra é importante ter um conhecimento inicial sobre as
condições do solo do local – as chamadas condições geológico-geotécnicas.

No caso de obras de edificações de pequeno porte, para a fase de EVTEA, o processo de


conhecimento do solo pode ser simplificado, a critério do profissional de engenharia responsável
pelos estudos.

Uma técnica para avaliações rápidas é a exploração do solo por meio de poços. São esca-
vações manuais, com diâmetro em torno de 60 cm, que avançam até que se encontre o nível de
água ou um solo muito rígido (impenetrável). Esses poços permitem o exame do tipo de material
nas paredes e no fundo da escavação (se argila, silte, areia etc.).

Outra técnica simplificada seria o uso de trados, que são instrumentos manuais, em for-
mato de cavadeira, que agem como uma espécie de “saca-rolhas”, retirando amostras do solo.
Assim como os poços, são limitados pelo nível d’água ou por solo impenetrável.

21 - [Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/proinfancia/proinfancia-perguntas-frequentes]

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


32

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Exemplo de poço: Exemplo de trado:

Fonte: http://media.unitins.br/unitinsnuta/ Fonte: http://www.ccpassianoto.com.br/

GaleriaFotosSaltfens3.aspx servicos/sondagem

Para o caso de obras de edificações maiores, as quais podem exigir estudos de viabilidade
mais acurados para a escolha do tipo de fundação, podem ser realizadas sondagens de simples
reconhecimento, conforme recomendação das Normas da ABNT22. Essas sondagens consistem
na exploração do solo com o uso de aparelhos denominados de sondas. As mais comuns são as
sondagens à percussão (por pancadas para cravar a sonda no solo), capazes de ultrapassar o nível
d’água e atravessar solos mais duros.

As sondagens que forem realizadas na fase de EVTEA são consideradas uma investigação
preliminar. Uma investigação complementar deve ser solicitada na etapa de Projeto Básico.

As normas da ABNT definem a quantidade de furos necessária, bem como seu espaça-
mento de acordo com a área de projeção em planta do edifício23. Por exemplo, o engenheiro
responsável pode seguir a norma, que recomenda a quantidade de dois furos para áreas de até
200 m2. Para edificações maiores, a indicação é acrescentar um furo a cada 200 m2 de área de
projeção em planta.

Para saber mais...


ÂÂ A área de projeção em planta representa a área do terreno que será ocupada pela edificação.
Assim, o desenho que representa essa área, chamado de planta, apresenta uma vista de cima para
baixo (projeção) desse edifício.

22 - NBR 12.722/1992, NBR 8.036/1983 e NBR 13.531/1995.


23 - NBR 12.722/1992, NBR 8.036/1983 e NBR 13.531/1995.

Tribunal de Contas da União


33
Tribunal de Contas da União

Vejamos dois exemplos práticos:

a. em uma escola de ensino fundamental de uma sala de aula, o FNDE informa que a área
de projeção em planta é de 111,03 m². Nesse caso, optando o engenheiro por seguir a
NBR 8.036/1995 já na etapa de EVTEA, deverão ser realizados ao menos dois furos de
sondagem.

b. em uma creche do Tipo “C” do Programa Proinfância, o FNDE informa que a área
construída será de 781,26 m². De acordo com a NBR 8036/1983 é indicado realizar
três furos de sondagem (um para cada 200 m²). Caso a área fosse de 800 m2, seriam
necessário quatros furos.

Como produtos esperados do levantamento geotécnico, para obras maiores, tem-se:

• relatório de apresentação e descrição dos serviços com: perfil geotécnico do solo, tipos
de solos e resistências encontradas; e

• desenho de localização das sondagens no terreno;

No caso das obras de saneamento, por serem muito espalhadas, seria difícil e oneroso
realizar sondagens em toda a região por onde passará a obra já na fase de EVTEA. Assim, é inte-
ressante que o gestor faça uma pesquisa nos arquivos dos órgãos locais para ver se há resultados
de sondagens de outras obras recentes nas proximidades do terreno. Essa informação pode aju-
dar a ter um bom conhecimento do solo local.

Na prática, o conhecimento do solo para os serviços de assentamento de tubos não preci-


sa determinar a capacidade de resistência do terreno quando dos estudos do EVTEA. Contudo,
nessa etapa, ter uma boa ideia da resistência do solo e do nível d’água certamente contribuirá
para o levantamento dos custos de escavação.

3.4.3 Levantamento climatológico e hidrológico

Esses levantamentos levam em consideração a influência das águas no terreno. Essas águas
podem ser tanto das chuvas quanto de rios e córregos próximos. Assim, é importante avaliar: se
o terreno pode sofrer alguma inundação ou alagamento, ou se há algum córrego ou nascente
que poderá ser afetada pela construção. Nesses casos é recomendável que esse lote não seja
utilizado.

Outros pontos a serem lembrados são a temperatura e a umidade no local da obra, para
que o projeto básico apresente soluções adequadas de ventilação, proporcionando conforto aos
usuários do edifício.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


34

3.4.4 Levantamentos ambientais

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Nem todas as obras necessitam da realização de estudos ambientais. Nas obras de edifi-
cações, são pouco comuns, mas nas obras de saneamento podem ser necessários. Por isso, a
primeira providência a ser tomada pelos gestores é consultar o órgão ambiental da região, que
pode ser a secretaria estadual de meio ambiente, o conselho municipal de meio ambiente ou
outro.

Dessa forma, o conteúdo desses levantamentos vai depender das exigências desses órgãos.

Para se aprofundar mais sobre esse tema, o gestor pode consultar o portal na internet do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), além de verificar as Resoluções 1/86 e 237/97
desse órgão. Na Aula 2, esse tema será tratado com mais detalhes.

3.5 Análise da Viabilidade Técnica

Vimos que o EVTEA tem por objetivo avaliar e selecionar alternativas para a construção de
uma obra. Para isso, é desejável que a análise técnica desses estudos apresente:

• conclusão sobre a possibilidade de executar ou não a obra, de acordo com as diretrizes


estabelecidas no programa de necessidades;

• verificação quanto à segurança, o conforto e o acesso dos usuários;

• necessidades de desempenho (durabilidade e manutenção) e de sustentabilidade


(redução no consumo de água e energia e impacto ambiental);

• verificação das possibilidades de materiais, tecnologias, métodos construtivos e da


melhor época para início da obra.

Todos esses estudos servirão para auxiliar a contratação e a execução do Projeto Básico.

Passaremos a detalhar os estudos de engenharia no âmbito do EVTEA, que conduzirão a


uma concepção mais avançada da obra desejada.

3.5.1 Análises de alternativas de engenharia

Nessa fase, deverão ser elencadas as alternativas técnicas possíveis para execução da obra,
dentre elas as soluções de estruturas e de materiais de construção. Ao final dos estudos, deverá
ser escolhida a proposta mais promissora, que será explorada em maior detalhe no anteprojeto
e no projeto básico.

Tribunal de Contas da União


35
Tribunal de Contas da União

O processo das análises técnicas do EVTEA pode ser resumido nos passos:

• analisar as soluções possíveis: nessa etapa, a equipe pode elaborar cálculos simples para
caracterizar cada alternativa;

• documentar as soluções: o relatório final deverá descrever a obra e os critérios utilizados


na escolha da solução de engenharia;

• indicar a solução que se mostra mais viável, para ser estudada e detalhada nas fase de
anteprojeto e projeto básico;

A solução escolhida deve observar sempre a realidade local, identificando o padrão cons-
trutivo da vizinhança e a situação socioeconômica da localidade. A análise também deve avaliar
a possibilidade de utilização de novas tecnologias, os espaços destinados ao canteiro de obras e
a disponibilidade local de materiais e da mão de obra necessários à construção.

Não menos importante, deve ser levado em consideração na tomada de decisão as condi-
ções climáticas da região, a fim de propiciar soluções técnicas adequadas, as quais poderão ser
melhor detalhadas na fase de anteprojeto e projeto básico.

Na sequência, apresentamos alguns exemplos de decisões técnicas que podem ser toma-
das na fase de EVTEA.

3.5.1.1 Possibilidade de utilização de projetos padronizados

Nas análises técnicas, boa parte do trabalho de estudo das alternativas pode ser economi-
zado se considerarmos que algumas obras podem ser padronizadas.

Os Ministérios da Saúde e da Educação, por exemplo, possuem projetos e normas padro-


nizadas que podem ser usadas como parâmetros de arquitetura para obras municipais similares.
São exemplos postos de saúde, escolas infantis e de ensino fundamental:

• os projetos arquitetônicos para construção de creches do Programa Proinfancia


podem ser encontrados no portal: http://www.fnde.gov.br/programas/proinfancia/
proinfancia-projetos-arquitetonicos-para-construcao;

• já os projetos padronizados para construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS) pode


ser localizados no site: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_requalifica_ubs.php.

Na etapa de estudos de viabilidade, os projetos padrão de arquitetura podem ser quase


integralmente aproveitados, mas os projetos complementares serão indicativos, e deverão ser
apreciados por um profissional de engenharia para ver se são adequados às características parti-
culares do terreno, em especial no caso das fundações.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


36

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


3.5.1.2 Materiais e métodos executivos para estruturas

O EVTEA deve comparar alternativas e, para tanto, é importante destacar as vantagens e


desvantagens de cada um dos principais materiais usados em estruturas, conforme exemplifica-
do a seguir.

Estrutura de Concreto Armado (concreto + aço)

É uma das formas de estrutura mais conhecida e mais fácil de executar. Em relação ao aço
é mais barata. É resistente ao choque mecânico e sua resistência aumenta com o passar do tem-
po. É também muito segura contra incêndio e altas temperaturas.

O concreto armado, quando executado de forma correta, exige pouco cuidado após con-
cluída a execução, isto é, a manutenção das peças é pequena e seu custo é baixo.

A principal desvantagem em relação às demais estruturas é que as de concreto não po-


dem ser modificadas depois de prontas e o aproveitamento do material é muito pequeno na
demolição.

Estrutura de Aço

As estruturas de aço são montadas rapidamente, podendo ser indicadas para obras com
prazo de construção curto.

São mais leves que as estruturas de concreto, as peças são mais finas, possibilitando eco-
nomia de espaço no prédio. Podem ser padronizadas e, assim, fabricadas em outro local e trans-
portadas para o canteiro da obra. São mais fáceis de modificar, consertar ou reforçar, e podem
ser desmontadas e reutilizadas.

Como principais desvantagens, destaca-se que elas são mais frágeis à ação do tempo e do
fogo, além de exigirem pessoal especializado para montagem.

Estrutura de Madeira

São as mais fáceis de montar. Assim como as estruturas de aço, as de madeira não exigem
tempo de endurecimento (que é o caso das de concreto armado). Podem ser desmontadas com
o reaproveitamento de material.

Como principais desvantagens, registra-se que são combustíveis e, portanto, muito sujei-
tas a incêndio; exigem manutenção maior que as de aço e de concreto; e podem sofrer ataques
de fungos e insetos, caso não sejam adequadamente tratadas.

Tribunal de Contas da União


37
Tribunal de Contas da União

3.5.1.2.1 Estruturas de concreto pré-moldado ou moldado no local

As estruturas de concreto armado podem ser construídas de duas maneiras:

• moldadas no local da obra: método tradicional em que são construídas fôrmas na obra
e o concreto é lançado já no local em que ficará; ou

• pré-moldadas: método em que as estruturas são criadas em um local fora do canteiro


de obras (um fábrica de peças de concreto) e posteriormente levadas para obra para
montagem.

Atualmente, as estruturas em concreto pré-moldado têm se mostrado bastante vantajosas.


Elas tendem a ser mais econômicas que as moldadas no local, proporcionam canteiros mais lim-
pos, menor necessidade de retrabalho na instalação de sistemas elétrico e hidráulico e redução
das infiltrações24.

3.5.2 Análise da viabilidade econômica

A análise econômica é muito importante dentro do EVTEA. É nela que são estimados os
custos de cada possível alternativa, para escolha da mais vantajosa. Nesta etapa, a estimativa de
custos ainda é uma avaliação simplificada. Pode ser realizada nos mesmos moldes daquela ela-
borada na fase do programa de necessidades, ou ainda com comparações entre outras obras. O
objetivo é ter uma noção da ordem de grandeza do custo do empreendimento.

Para saber mais...


ÂÂ A Nota Técnica SNSA 492/2010 está disponível na biblioteca do curso.

Assim, pode-se verificar a relação custo/benefício de cada alternativa, levando em consi-


deração os recursos disponíveis e as necessidades da população a ser beneficiada.

Na análise dos custos do empreendimento, deve ser levada em conta, para fins de escolha
da alternativa, a durabilidade e os custos de manutenção da respectiva solução.

No caso de obras de saneamento, o Ministério das Cidades possui a Nota Técnica SNSA
492/2010, que contém indicadores de custos globais para obras de abastecimento de água e de
esgotamento sanitário.

24 Fontes: http://compactapremoldados.com.br/vantagens/, http://www.leonardi.com.br/aspectos-pre-moldado.html e


http://www.matpar.com.br/vantagens-dos-pre-fabricados/.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


38

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Veja um caso interessante,
A construção de mais de 3 mil edificações residenciais para cerca de 12 mil
famílias desabrigadas em Barreiros-PE. O exemplo demonstra como os cálculos
econômicos viabilizam soluções criativas, reduzindo custos de obras.
Sob dois grandes balões de lona plástica branca, com 3.000 m² e 18 m de altura
cada um, os trabalhadores erguem até 20 casas simultaneamente, para não
interromper os trabalhos no período de chuva na região. A análise de viabilidade
econômica indicou que os galpões alugados custam R$ 87 mil por mês. Se a
obra fosse paralisada, a empreiteira, que é responsável pelo custo extra, gastaria
cerca de R$ 1,2 milhão somente com a folha de pagamento dos 750 empregados.
Fontes:http://www.cimentoitambe.com.br/
galpoes-inflaveis-otimizam-cronograma-de-obras
http://blogdopetcivil.com/tag/tendas/.

No caso de edificações, conforme já destacado nesta aula, o valor do Custo Unitário


Básico (CUB) é uma das maneiras para cálculos simplificados de orçamentos. Contudo, há que se
lembrar que nem todos os serviços necessários a uma obra estão inclusos no CUB, especialmente
se a obra for de maior porte, a exemplo da terraplanagem, das fundações, eventuais muros de
contenção, instalações de climatização, urbanização, recreação e ajardinamento, dentre outros.
Caso aplicáveis à obra em estudo, esses serviços deverão ter seu preço estimado no EVTEA por
alguma metodologia paramétrica, mas ainda assim expedita, evoluindo em relação à estimativa
de custos realizada na etapa de Programa de Necessidades.

Por exemplo, imaginemos uma escola em uma localidade muito quente, o que exige a ins-
talação de um ar condicionado ao menos em uma das salas. As estimativas na etapa de EVTEA
podem partir da área a ser refrigerada (ex: 50 m²), a qual irá indicar o aparelho adequado (ca-
pacidade de refrigeração de 30.000 BTUs, conforme tabelas estimativas) e o custo adicional que
essa refrigeração custará (ex: R$ 4.000, sendo R$ 3.800 de aquisição e R$ 200 de instalação,
conforme pesquisa em lojas online, na internet).

Lembramos que a avaliação econômica não deve se restringir aos custos. Cabe considerar
também questões como a melhoria na qualidade de vida da população, a melhoria nos indica-
dores de saúde, de educação, a preservação do meio ambiente, além da valorização cultural e
turística da localidade.

Devemos refletir: qual é o valor de uma vida saudável proporcionada pela implantação de
uma rede de esgoto sanitário, que substitui uma vala a céu aberto? Qual é o valor da educação
na vida de uma pessoa?

Tribunal de Contas da União


39

3.6 Produtos esperados do EVTEA


Tribunal de Contas da União

Concluídos os estudos e indicada a alternativa mais viável, é hora de preparar o relatório


final com a descrição e a avaliação da opção selecionada, suas características principais, os cri-
térios e os parâmetros utilizados para sua definição. É desejável que o relatório contenha ainda
uma estimativa das principais dimensões da obra, assim como de seus custos.

Em síntese, pode ser elaborado um memorial descritivo preliminar da obra com:

• Informações sobre o terreno escolhido;

• Projeto de arquitetura preliminar, com desenhos esquemáticos, como na figura (esboço


da planta baixa, com indicação da posição da edificação no terreno, das áreas de cada
cômodo, em m², e dos ambientes climatizados);

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


40

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


• Estimativa de dimensões da edificação ou da rede de saneamento;

• Tipos de estruturas e de instalações a serem construídas; e

• Estimativa do custo da obra.

Alertamos que apenas ter o EVTEA não é suficiente para licitar a obra. Ele apenas fun-
damentará a concepção do empreendimento e estabelecerá as diretrizes a serem seguidas no
anteprojeto e no projeto básico.

Apesar disso, a documentação gerada nesta etapa deve fazer parte do processo licitatório
da obra, para proporcionar o melhor conhecimento possível do empreendimento.

3.7 Contratação do EVTEA

A execução dos estudos de viabilidade técnica econômica e ambiental pode ser contratada
com uma empresa privada, por meio de uma licitação própria. Isso deve ocorrer principalmen-
te quando o município não possuir equipe técnica suficiente para realizar diretamente esses
estudos.

O tema de contratação de serviços de engenharia (consultorias, estudos e projetos) será


estudado na próxima aula e as informações apresentadas podem ser aplicadas à contratação
do EVTEA.

Tribunal de Contas da União


41 Síntese
Tribunal de Contas da União

Na aula de hoje estudamos as etapas inicias para a execução de uma


obra pública, relacionadas à captação de recursos e ao planejamento.

Vimos aspectos sobre os principais meio de transferências voluntárias


de verbas federais para os municípios: os convênios e os contratos de repasse.
Verificamos a importância desses instrumentos, que possibilitam a construção de obras que o
município muitas vezes não conseguiria financiar por conta própria, em função de dificuldades
financeiras.

Assim, destacamos as principais etapas do andamento dessas transferências: a proposição,


a formalização, a execução e a prestação de contas.

Iniciando o planejamento e o projeto da obra, verificamos as fases de Programa de


Necessidades e de Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA).

Aprendemos que o Programa de Necessidades destina-se à verificação das prioridades do


município e das principais características da obra: tipologia, população a ser atendida, local em
que será construída; dimensionamento simplificado, além da possibilidade de construção em
etapas ou módulos.

Quanto ao EVTEA, observamos que ele é a etapa de estudo da melhor alternativa para o
projeto, na qual serão realizadas as definições iniciais relacionadas às características do terreno,
do solo e das estruturas. Além disso, deverá ser estimado o custo de construção.

Na próxima aula veremos a etapa de elaboração de projetos, que corresponde ao passo


seguinte para a concretização de uma obra pública. Veremos de que forma a alternativa esco-
lhida a partir dos estudos iniciais será desenvolvida e detalhada, mostrando os principais pontos
que devem ser observados para garantir uma boa execução dos projetos.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


Bibliografia 42

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Obras Públicas, Licitação, Contratação, Fiscalização e Utilização. Cláudio Sarian Altounian. 3ª
Edição. Editora Fórum. Belo Horizonte, 2012.

Obras Públicas, Recomendações Básicas para a Contratação Fiscalização de Obras de Edificações


Públicas. Tribunal de Contas da União. 3ª Edição. Brasília, 2013. P. 12-14.

Manual de Orientação para Execução e Fiscalização de Obras Públicas. Controladoria-Geral do


Estado do Piauí. Teresina, 2011. P. 15-17.

Planejamento de Obras Públicas, Orientações. Alberto de Barros Moraes Sayão. Secretaria de


Aviação Civil da Presidência da República. Palmas, 2012. P. 3-3.

Artigo “Estrutura pronta reduz impactos”, publicado na edição de set/2011 da Revista “Valor
Setorial – Construção Civil”, publicação setorial da revista “Valor Econômico”.

BAETA, André Pachioni, Auditoria de obras públicas / Tribunal de Contas da União; Brasília :
TCU, Instituto Serzedello Corrêa, 2011. Módulo 1: Orçamento de obras; e Módulo 2: Auditoria
do Orçamento de obras.

Orçamento e Controle de Preços de Obras Públicas – André Pachioni Baeta (Editora Pini,
junho/2012).

Planejamento, Orçamentação e Controle de Projetos e Obras – Limmer, Carl (LTC Editora).

Introdução à Engenharia (Concepts in engineering) – Holtzapple, M. T; Reece, W.D. – LTC, 2011.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – NBR 12721 (critérios para avaliação de custos
de construção para incorporação imobiliária e outras disposições para condomínios edilícios –
procedimento); NBR 12.722/1992 (discriminação de serviços para construção de edifícios – pro-
cedimento); NBR 8.036/1983 (programação de sondagens de simples reconhecimento do solo
para fundações de edifícios – procedimento); NBR 8.044/1983 (projeto geotécnico – procedi-
mento); NBR 13133 (execução de levantamento topográfico); e NBR 13.531/1995 (elaboração
de projetos de edificações – atividades técnicas).

Enquadramento dos Corpos de Água através de Metas Progressivas: Probabilidade de Ocorrência


e Custos de Despoluição Hídrica – Ana Paula Zubiaurre Brites, Tese de Doutorado em Engª, USP,
2010

Ministério das Cidades – Nota Técnica da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental - NT


SNSA nº 492/2010: Indicadores de Custos de Referência e de Eficiência Técnica para análise téc-

Tribunal de Contas da União


43
Tribunal de Contas da União

nica de engenharia de infraestrutura de saneamento nas modalidades abastecimento de água e


esgotamento sanitário.

Ministério das Cidades, SNSA (2011) Elaboração de Projetos de Engenharia, Estudos e Planos de
Saneamento Básico. Em: www.cidades.gov.br/

Convênios e outros repasses, 4ª edição, Tribunal de Contas da União. Brasília: Secretaria geral de
controle externo, 2013.

Favero, Eduardo. Análise dos controles dos repasses fundo a fundo na saúde Monografia
do Curso de Especialização em Auditoria Interna e controle Governamental, 2009.

Gestão de recursos federais - Manual para os agentes municipais, Controladoria Geral da União.
Secretaria de Controle Interno. Brasília-DF. 2005

Transferências de recursos da união – Perguntas e Respostas, Controladoria Geral da União.


Secretaria de Controle Interno. Brasília-DF. 2013

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


Glossário 44

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Acessibilidade: diz respeito àquilo que é acessível, de fácil aproximação. Significa ainda permitir
que todas as pessoas, inclusive as com necessidades especiais ou mobilidade reduzida, utilizem
produtos e serviços, sem quaisquer barreiras. Nas obras, significa prever rampas de acesso a ca-
deirantes, elevadores em edificações de mais de um pavimento, piso podo-tátil, indicativo para
deficientes visuais, dentre outras soluções técnicas para permitir o acesso de todos.

Área de projeção em planta: representa a área do terreno que será ocupada pela edificação.
Assim, o desenho que indica essa área, chamado de planta-baixa, apresenta uma vista de cima
para baixo (projeção horizontal) desse edifício, como um corte realizado a 1,5 metros do piso.

Argila: tipo de solo constituído por grãos do menor diâmetro possível, abaixo de 0,005mm.
Popularmente conhecida como “barro”. Pode ser amassada com água e modelada, sendo usada
por escultores e ceramistas. Um solo argiloso é aquele cuja maior proporção é composto por
argila.

A classificação dos solos é feita de acordo com o diâmetro máximo dos “grãos”. Como se pode
deduzir da tabela abaixo, uma argila é formada por grãos extremamente pequenos, invisíveis a
olho nu. As areias, por sua vez, têm grãos facilmente visíveis, separáveis e individualizáveis, o
mesmo acontecendo com o pedregulho.

Como consequência do tamanho dos grãos, as argilas têm dificuldade de desagregação (formam
barro plástico e viscoso quando úmido) e, por isso, permitem taludes (planos inclinados) com
ângulos praticamente na vertical.

Em termos de comportamento, a argila é o oposto da areia. Devido à sua plasticidade e capaci-


dade de aglutinação, o solo argiloso é usado há milhares de anos como argamassa de assenta-
mento, argamassa de revestimento e na preparação de tijolos.

Os solos argilosos distinguem-se pela alta impermeabilidade, por isso são o material preferido
para a construção de barragens de terra, devidamente compactadas.

O reconhecimento do tipo de solo pode ser complicado. Em geral, os solos estão misturados,
sendo difícil achar um solo que seja 100% argila ou 100% areia. Por isso, há denominações
como “argila silto-arenosa”, “silte argiloso”, “areia argilosa” e similares. A argila pode ser mis-
turada a materiais orgânicos, prejudicando sua resistência.

A determinação do tipo de solo é fundamental para o cálculo da movimentação de terra e para


a escolha das fundações. Um problema bastante comum é a presença de “solos moles”, normal-
mente argilosos e com matéria orgânica.

Tribunal de Contas da União


45
Tribunal de Contas da União

Justamente pela dificuldade em determinar o tipo de solo e em determinar suas características


para a escolha de fundações é que se faz o denominado “ensaio à percussão”, mais conhecido
como “ensaio SPT” (do inglês “standard penetration test”). Com os parâmetros do SPT é possí-
vel escolher a fundação com maior segurança ou, caso o projetista ainda sinta falta de alguma
informação, poderá solicitar um teste mais específico.

Fração Limites (ABNT)


Matação De 25 cm a 1 m
Pedra De 7,6 cm a 25 cm
Pedregulho De 4,8 mm a 7,6 cm
Areia Grossa De 2,0 mm a 4.8 mm
Areia Média De 0,42 mm a 2,0 mm
Areia Fina De 0,05 mm a 0,42 mm
Silte De 0,005 mm a 0,05 mm
Argila Inferior a 0,005 mm

Bombeamento de esgoto: nas redes de coleta de esgoto, muitas vezes a rede fica profunda
demais por conta da declividade para escoamento do esgoto (por gravidade), de forma que é ne-
cessário levar os dejetos para um local mais alto em relação ao que ele é recolhido. Nesses caso,
o esgoto não pode ser transportado somente pela ação da gravidade, devendo ser bombeado de
um ponto mais baixo para um ponto mais alto. As estações de bombeamento são estrategica-
mente posicionadas, de acordo com as particularidades do local, objetivando reduzir ao máximo
o consumo de energia elétrica para a operação das bombas.

BTU (unidade inglesa de temperatura): é a sigla para “British Thermal Unit”, expressão em
inglês que significa Unidade Térmica Britânica. É uma unidade que serve para determinar a po-
tência de refrigeração de vários aparelhos, como o ar-condicionado. BTU é uma unidade que não
tem medida, porém equivale a outras unidades, como 1BTU = 252,2 calorias. Para refrigerar, 1
BTU é a quantidade de frio necessária para reduzir a temperatura de meio litro de água em 0,56
ºC. Para calcular o BTU de um aparelho, é necessário saber o número de pessoas que ficarão no
ambiente, a área em m², outros aparelhos que possam irradiar calor, como computador, refrige-
rador, as paredes e vidros, para então saber qual deve ser a potência, em BTU do aparelho. A es-
colha correta da capacidade do condicionador de ar garante diminuição no consumo de energia
e diminui a vida útil do compressor. Como referência, para um cômodo de 9m², recebendo sol o
dia inteiro, é indicado um ar condicionado de 9.000 BTUs. Já se o cômodo for de 50m², indica-se
um aparelho de 30.000 BTUs.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


46

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Código de obras municipal: norma editada pelos municípios, na qual se dispõe sobre as regras
gerais e específicas a serem obedecidas no projeto, licenciamento, execução, manutenção e uti-
lização das obras e edificações, dentro dos limites do município.

Código de posturas municipal: norma municipal destinada a instituir regras disciplinadoras da


higiene pública, do bem estar público da localização e do funcionamento de estabelecimentos
comerciais, industriais e prestadores de serviços, bem como as correspondentes relações entre o
Poder Público Municipal e a população. Concedente: é o órgão público federal que concede os
recursos financeiros para os estados ou municípios, mediante um convênio.

Concepção da edificação: diz respeito ao processo de estudo e criação do projeto de um edifí-


cio, sobretudo no aspecto de arquitetura.

Condições geológico-geotécnicas: a geologia é o estudo processo de formação dos solos e


das rochas (a “escala geológica” considera milhares de anos). Na origem da palavra (significado
etimológico), temos, do grego: Geo = Terra + Logos = Ciência. Já a geotecnia é a aplicação des-
ses conhecimentos à engenharia, ou, também do grego: Geo = Terra + Tékhne = Arte. Assim,
as condições geológico-geotécnicas dizem respeito as característica do solo em um local (como
dureza, resistência e capacidade de suporte), o que permitirá projetar a estrutura de uma deter-
minada obra.

Contrapartida: é o dinheiro disponibilizado pelo convenente/contratado (município ou estado)


que, somado aos recursos federais, comporá o valor total do acordo para a execução completa
do objeto.

Contratado: Em um contrato, é a parte que tem a obrigação de realizar algum serviço. Em um


contrato de repasse, é o órgão da administração estadual ou municipal que receberá os recursos
federais para a execução do objeto.

Contratante: Em um contrato, é a parte que contrata outra com o objetivo de receber um servi-
ço. Em um contrato de repasse, é o órgão público federal que fornecerá os recursos financeiros.

Contrato de repasse: instrumento de transferência voluntária similar ao convênio. Com ele,


transfere-se recursos financeiros de um órgão público federal para um órgão público estadual ou
municipal com a participação de uma instituição financeira pública federal.

Convenente: é o órgão público estadual ou municipal que recebe os recursos federais para a
execução do projeto previsto no convênio.

Tribunal de Contas da União


47
Tribunal de Contas da União

Convênio: instrumento de transferência voluntária de recursos por meio do qual um órgão


público federal repassa valores para um órgão público estadual ou municipal, com o objetivo de
atender a um interesse público em comum.

Crédito: é a confiança de atributos positivos (dinheiro, valor moral, conhecimentos humanos,


etc.) de uma pessoa por outra pessoa ou grupo de pessoas. Demonstra a confiabilidade que uma
pessoa tem por outra, em um determinado assunto. Em finanças, crédito é a capacidade pre-
vista que uma pessoa tem de retornar um investimento (empréstimo, financiamento) sobre ele.
Aquele que empresta dinheiro a um indivíduo ou a uma instituição se chama credor.

Débitos: (ou dívida) é o que se deve.

Declividade: é a inclinação em relação ao plano horizontal de um terreno, telhado, estrada, rio


etc. É calculada pela divisão entre a diferença de altura entre dois pontos e a distância horizontal
entre esses pontos.

Empenho: segundo o art. 58 da Lei nº 4.320/1964, empenho é o ato emanado de autoridade


competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento
de condição. Consiste na reserva de dotação orçamentária para um fim específico; na garantia
de que existe o crédito necessário para a liquidação de um compromisso assumido; é o primeiro
estágio da despesa pública.

Empreendimento: constitui um conjunto de atividades e obrigações a serem implementados


pela organização, que exigem o estabelecimento de um modelo de gerenciamento capaz de
promover a identificação, priorização, autorização, gerenciamento e controle de projetos, pro-
gramas e outros trabalhos relacionados. Pode significar ainda uma obra ou um serviço.

Entes da federação: o Estado brasileiro adota como forma a Federação, que é compostas por
entes autônomos. Esses entres são a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Erário: é um termo que indica genericamente as finanças do Estado. Os recursos que constituem
o erário são provenientes em sua maioria dos impostos recolhidos da população. É toda e qual-
quer contribuição do cidadão para o Estado e, portanto, dinheiro arrecadado pela União.

Estação elevatória: também chamada de estação de bombeamento, é usada em ETA e ETE


quando as águas têm que ser deslocadas de um nível baixo para um mais elevado, para que
possam fluir pela tubulação do sistema, pois a topografia não permite a ação da gravidade. É
composta por bombas, válvulas e equipamentos elétricos.

ETA: sigla que significa estação de tratamento de água.

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


48

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


ETE: sigla que significa estação de tratamento de esgoto.

Fatura: é um documento comercial que representa uma venda. Pode representar ainda um do-
cumento fiscal. Em geral, a fatura só é emitida para pagamentos ainda não efetuados. Nela são
discriminados todos os itens comprados na operação, e por isso, a fatura também é usada como
controle.

Layout: é uma palavra inglesa, muitas vezes usada na forma portuguesa “leiaute”, que significa
plano, arranjo, esquema, design, projeto. No âmbito da engenharia, o layout pode ser sinônimo
de “arranjo físico”, ou seja, o modo como estão organizados os equipamentos, os cômodos e os
demais elementos de uma obra.

Mandatário: é a instituição financeira federal responsável pela transferência dos recursos


financeiros.

Medição: ato de medir. É a atividade de comparar uma quantidade com um padrão pré-defini-
do. Em uma obra, representa a atividade de determinar as quantidades dos serviços realizados
para o seu posterior pagamento.

Memorial descritivo: é um dos documentos que compõem um projeto de engenharia. Nele,


podem ser apresentados: a conceituação do projeto, as normas adotadas para a realização dos
cálculos, as premissas básicas adotadas durante o projeto, os objetivos do projeto, o detalha-
mento de materiais empregados na obra ou no produto, além de outros detalhes que pode ser
importantes para o entendimento completo do projeto.

Nexo de causalidade: é a relação existente entre uma ação e sua consequência. É a ligação
entre a causa e o efeito. É a maneira pela qual os eventos se relacionam e surgem. É o vínculo
existente entre a conduta e o resultado por ela produzido. Examinar o nexo de causalidade é
descobrir quais condutas deram causa ao resultado.

Nomenclatura: indica um vocabulário próprio de uma determinada área de saber. Pode indicar
a lista dos nomes dos verbetes de uma enciclopédia, glossário, dicionário ou outro material de
consulta semelhante.

Objeto: em um contrato, convênio ou contrato de repasse, é o produto previsto, seria a cons-


trução de um posto de saúde ou elaboração de um projeto para construção de uma escola, por
exemplo.

Tribunal de Contas da União


49
Tribunal de Contas da União

Plano de trabalho: em um contrato, convênio ou contrato de repasse, é o documento que ser-


virá de base para sua assinatura. Deverá ser elaborado pelo estado ou município e apresentado
ao órgão federal.

Plano diretor: é um instrumento de planejamento para implantação da política de desenvolvi-


mento e de ordenamento da expansão urbana de um município ou estado, orientando a priori-
dade de investimentos, conforme a Lei Federal 10.257/2001 – Estatuto das Cidades.

Política pública: é a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de
delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos. É o que o governo escolhe fazer ou não fazer.
É o conjunto de sucessivas iniciativas, decisões e ações do regime político frente a situações so-
cialmente problemáticas e que buscam sua resolução.

Proponente: é o órgão público estadual ou municipal que propõe a realização de um convênio


com um órgão federal.

Siconv: é o sistema de acompanhamento de convênios do Governo Federal, que funciona no


Portal dos Convênios do Governo Federal (www.convenios.gov.br).

Silte: tipo de solo formado por partículas com diâmetro entre 0,005mm e 0,05mm, conforme
tabela abaixo. O Silte está entre a areia e a argila: é um pó como a argila, mas não tem coesão
apreciável. Também não tem plasticidade digna de nota quando molhado. É também denomi-
nado de “poeira da pedra”. O silte pode ocorrer como um depósito ou como o material trans-
portado por um córrego ou por uma corrente de oceano. O silte é facilmente transportado pela
água e pode ser carregado a longas distâncias pelo ar como poeira.

Caminhos de terra com solo siltoso formam barro na época de chuva e muito pó quando na seca.
Cortes feitos em terreno siltoso não têm estabilidade prolongada, sendo vítima fácil da erosão e
da desagregação natural, precisando de mais manutenção para não desmoronar.

Fração Limites (ABNT)


Matação De 25 cm a 1 m
Pedra De 7,6 cm a 25 cm
Pedregulho De 4,8 mm a 7,6 cm
Areia Grossa De 2,0 mm a 4.8 mm
Areia Média De 0,42 mm a 2,0 mm
Areia Fina De 0,05 mm a 0,42 mm
Silte De 0,005 mm a 0,05 mm
Argila Inferior a 0,005 mm

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


50

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Site: termo utilizado para identificar uma página na internet. Local ou endereço eletrônico. Pode
ser acessado mediante um computador ou outro meio comunicacional.

Terraplenagem: é uma técnica construtiva que visa não apenas aplainar (por isso alguns deno-
minam “terraplanagem”, de “tornar plano”), mas também preencher um terreno, por meio de
cortes e aterros, para que suporte as construções, deixando todos os espaços “plenos” (inteira-
mente ocupados) de terra, daí o nome. Geralmente esta movimentação de solo tem o objetivo
de atender a um projeto topográfico, como barragens, edifícios, aeroportos, açudes, entre ou-
tros projetos.

Tomada de Contas Especial (TCE): processo devidamente formalizado, com rito próprio, para
apurar responsabilidade por ocorrência de dano à administração pública federal e obtenção do
respectivo ressarcimento. (fonte: Glossário de Termos do Controle Externo – Segecex/Adsup/
Adplan - TCU, setembro/2012)

Tributos: é toda prestação compulsória, em moeda, que não constitua sanção de ato ilícito, ins-
tituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa. É a obrigação imposta as pessoas físi-
cas e jurídicas de recolher valores ao Estado, ou entidades equivalentes. É comumente chamado
por imposto, embora tecnicamente este seja somente uma das espécies dentre as modalidades
de tributos. As outras espécies de tributos são as taxas, as contribuições de melhoria, as contri-
buições especiais e os empréstimos compulsórios.

Tribunal de Contas da União


51
Anexo - Decisões importante do TCU sobre instrumentos de
Anexo 1
Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários

repasses de recursos federais

Alteração unilateral do objeto de convênio

Acórdão 1.063/2012-1ªCâmara – Alteração do local da realização das obras pelo conve-


nente, sem comunicação prévia à concedente. Caracterização de inexecução total do objeto pre-
visto no convênio. Impossibilidade de considerar desvio de objeto, pois não restou comprovado
que as obras beneficiaram a população.

Outros acórdãos: 9.173/2011-2ªCâmara, 9.145/2011-2ªCâmara, 5.483/2011-2ªCâmara,


1.404/2011-1ªCâmara.
MÓDULO 1

Saque em espécie e não comprovação de nexo causal

Acórdão 6.788/2011-2ªCâmara - Convênio para construção de sistemas de abastecimento


de água em município. Execução parcial do objeto do convênio. Gravidade da conduta do gestor,
no saque dos recursos federais “na boca do caixa”, em sua totalidade, e seu pagamento ante-
cipado à contratada. Impossibilidade de estabelecer qualquer nexo causal entre a aplicação dos
recursos transferidos e as despesas supostamente relacionadas à execução do convênio. Contas
irregulares. Débito solidário do gestor e da empresa contratada.

Outros acórdãos: 2.913/2011, 6.794-/2011-2ªCâmara.

Inexecução total ou parcial de objeto de convênio

Acórdão 5.927/2011-1ªCâmara - Convênio firmado entre o Município de São João de


Meriti - RJ e o Ibama em 2000, com a finalidade de implantação de sistemas de redução de
resíduos sólidos e remediação de aterro controlado. Inexecução parcial do objeto. Débito no
valor original de R$ 555.752,30. Aplicação da multa do art. 57 da Lei 8443/92 no valor de R$
80.000,00.

Outros acórdãos: 6.774/2011-2ªCâmara, 6.779/2011-2ªCâmara, 6.794/2011-2ªCâmara,


6.467/2011-1ªCâmara.

Desvio de finalidade ou de objeto de convênio

Acórdão 2.189/2012-2ªCâmara - Irregularidades detectadas na aplicação de recursos do


Programa de Atenção Básica - PAB e do Programa do Teto Financeiro de Epidemiologia e Controle

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento


52
de Doenças - TFECD repassados ao Município. Despesas não identificadas e não comprovadas.

Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários


Anexo 1
Desvio de finalidade em benefício do município. Contas irregulares. Débito aos gestores e ao
município. Multa aos gestores.

Outros acórdãos: 11.472/2011-2ªCâmara, 10.551/2011-2ªCâmara, 437/2012-1ªCâmara,


6.835/2011-1ªCâmara.

Ausência de aplicação dos recursos no mercado financeiro e falta de devo-


lução de saldo ao concedente

Acórdão 11.463/2011-2ªCâmara - Convênio para a construção de módulos sanitários do-


miciliares. Ausência de aplicação dos recursos no mercado financeiro. É irregular a não aplicação
dos saldos existentes em aplicação financeira, conforme obrigava a norma vigente à época da
avença. Inexecução parcial do objeto. Contas irregulares. Débito. Multa.

MÓDULO 1
Outros acórdãos: 3.764/2011-1ªCâmara, 5.289/2010-1ªCâmara, 3.039/2007-1ªCâmara,
2.659/2007-1ªCâmara.

Despesas fora da vigência do convênio

Acórdão 6.051/2012-1ªCâmara - Convênio com entidade para realização de evento. É


irregular a realização despesas antes do ajuste entrar em vigor. Contas irregulares do gestor e da
entidade convenente. Débito e multa.

Outros acórdãos: 3.488/2012-2ªCâmara, 5.165/2011-2ªCâmara, 1.934/2009,


1.381/2008-1ªCâmara.

Pagamento de servidor ou empregado públicos

Acórdão 6.729 - Convênio para construção de barragens de terra. Contrapartida em bens


e serviços economicamente mensuráveis. É irregular o pagamento de pessoal com recursos de
convênio, ainda que seja da contrapartida do convenente, pois descaracteriza a mútua coopera-
ção para atingir interesses recíprocos. Novo prazo para município recolher o débito.

Outros acórdãos: 3.294/2011, 2.161/2007-1ªCâmara, 4.990/2011-2ªCâmara,


372/2009-2ªCâmara.

Tribunal de Contas da União


53
Caracterização de fraude
Anexo 1
Módulo 1 - Aula 1 - Planejamento e Recursos Orçamentários

Acórdão 2.405/2012-Plenário - Convênio com município para financiar o Plano de


Erradicação do Aedes Aegypti. Constitui-se desvio de recursos o pagamento a terceiros não
relacionados ao convênio ou a empresas inidôneas. Outras despesas foram glosadas por não
estarem previstas no plano de trabalho. Fraude ao convênio com a montagem de prestação de
contas falsa. Responsabilidade do ex-prefeito, contador e tesoureiro. Contas irregulares. Débito
solidário. Multa individual aos responsáveis. Inabilitação para o exercício de cargo em comissão
ou função de confiança no âmbito da Administração Pública Federal.

Outros acórdãos: 2.912/2012-Plenário, 2.676/2011-Plenário, 7.731/2011-2ªCâmara,


5.794/2011-2ªCâmara.

Omissão no dever de prestar contas


MÓDULO 1

Acórdão 1.792/2009-Plenário Tomada de Contas Especial. Convênio. Omissão no dever de


prestar contas. Considerações sobre a omissão e a intempestividade nas contas. Intempestividade
é omissão. A comprovação tardia da aplicação dos recursos pode afastar o débito, mas não a
irregularidade da omissão não justificada. Na citação de gestor omisso deve-se informar da ne-
cessidade de justificar o descumprimento do prazo de prestação de contas.

Outros acórdãos: 863/2012-1ªCâmara, 1.349/2006-2ªCâmara, 1.100/2012-2ªCâmara,


7.402/2011-1ªCâmara

Execução de convênio em mais de uma gestão

Acórdão 7.888/2011-1ªCâmara - Tomada de contas especial instaurada pela Coordenação-


Geral de Orçamento, Finanças e Contabilidade da Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e
Administração do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome contra ex-prefeito
do Município de Formosa do Rio Preto/BA (gestão 2001/2004), e, solidariamente, seu sucessor
(gestão 2005/2008), em decorrência da não comprovação da aplicação dos recursos federais
transferidos para a execução do Programa de Apoio à Criança em Creche - PAC, nos exercícios
de 2003 e 2004, naquele município. A adoção de medidas judiciais para apuração das pretensas
irregularidades praticadas pelo prefeito antecessor não exime o sucessor da responsabilidade de
prestar contas dos recursos que ele efetivamente geriu. Contas irregulares. Débito. Multa.

Outros acórdãos: 802/2008-2ªCâmara, 5.975/2012-2ªCâmara, 6.572/2009-2ªCâmara,


1.110/2008-1ªCâmara

Obras Públicas de Edificação e de Saneamento

Você também pode gostar