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Crucifixo barroco venerado na sede do Conselho Nacional da TFP, em São Paulo ( a imagem de N. S. mede 32 cm
de altura ). Estudo de 32 fotos pelo Studio F. Albuquerque, de São Paulo.
No alto da Cruz, nosso Senhor Jesus Cristo não sofreu apenas em razão
dos ultrajes morais e físicos que Lhe foram infligidos por seus algozes.
Padeceu também na previsão de todos os pecados que se cometeriam até
a consumação dos tempos. Entre eles a trama secreta feita em poderosos
meios católicos para “reformar” a Igreja – transformando-A em uma Igre-
ja-Nova panteísta, desmitificada, dessacralizada, desalienada, igualitária,
e posta a serviço do comunismo – constituiu por certo um dos mais atro-
zes tormentos de nosso Divino Redentor. Sim, d’Ele que ensinou por sua
Vida, Paixão e Morte o contrário de todos esses erros clamorosos.
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 2
Freiras como a
Igre
Igreja-
ja-Nova as
quer – e co
como
não as quer
Em ascensão triunfal
A Heresia Modernista
O cardeal Ruffini, sem favor, uma das advertências contra o modernismo. Isso até
figuras mais expressivas do Concílio Vaticano Paulo VI, que o fez na sua primeira Encíclica,
II, pela solidez da argumentação e pela ele- “Ecclesiam Suam”.
gância da linguagem, dizia, em uma dessas
Por isso mesmo, e como eco aos ensi-
conversas de corredor, que o modernismo está
namentos do Magistério, surgiram entre os fi-
hoje entronizado na Igreja.
éis resistências ao espírito inovador de sabor
O eminente Purpurado conheceu de modernista que, aqui e acolá, por toda parte ia
perto a pessoa e a obra do maior Pontífice infeccionando as almas. Neste número deve
deste século. Sabia, portanto, bem o que afir- colocar-se a inestimável obra do Prof. Plinio
mava. Corrêa de Oliveira “Em Defesa da Ação Cató-
lica”, que outra coisa não colimava senão
E, realmente, apesar de esmagado pelo premunir os núcleos de apostolado leigo ofi-
vigor apostólico de São Pio X, o modernismo cial contra uma modernização que, no fundo,
jamais deixou de prosseguir sua empresa ne- constituía uma nova igreja.
fasta. Condenado, refugiou-se em sociedades
secretas, segundo Nós mes-
o testemunho do mo, no governo de
mesmo São Pio X Nossa Diocese,
( Motu Proprio sentimos a obriga-
“Sacrorum Antis- ção de alertar
titum”, de 1º de Nossas ovelhas
setembro de 1910 contra uma série
), e de seus antros de teses que, na
continuou a dis- expressão da Sa-
seminar nos meios grada Congrega-
católicos, cautelo- ção dos Seminá-
sa e perseveran- rios, serpeavam
temente, o veneno entre os fiéis, e
de seu espírito que em si conden-
destrutivo. savam todo o espí-
rito modernista.
Assim to-
dos os Sucessores Atualmen-
Numa casa de família em Houilles, na periferia de Paris, o Sacer-
de São Pio X tive- dote, em trajes civis, consagra pão e vinho comuns junto à mesa
te, abusando da
ram que renovar em que, logo após, será servida uma refeição. Essa é a maneira longanimidade do
dessacralizada de celebrar a Missa, propugnada pelos “grupos Santo Padre, a
junto aos fiéis as proféticos” da Igreja-Nova.
empresa de conci-
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liação da Igreja com o mundo moderno, evo- Como na guerra é de suma importân-
lucionista e sensual, deixou os esconderijos cia conhecer os planos do inimigo, “Catoli-
das seitas secretas e aparece à luz do dia, en- cismo” presta imenso serviço à salvação das
carnada na que chamam de Igreja “pós- almas, publicando as intenções e indicando os
conciliar”. órgãos de propaganda daqueles que, numa
tentativa ousada, mas destinada ao fracasso,
Os dois documentos que “Catolicis- intencionam construir uma nova religião so-
mo” oferece aos seus leitores neste número bre os escombros da Igreja tradicional, dA-
duplo atestam o que acabamos de afirmar. E- quela que Jesus Cristo legou aos homens por
les mostram em que sentido os inovadores en- meio de honrar a Deus e salvar a alma.
tendem o múnus profético que, segundo o
Concílio, compete ao povo de Deus. Na reali- Julgamos obra benemérita de aposto-
dade, como os modernistas, os grupos proféti- lado divulgar o mais amplamente possível os
cos que pululam por toda a Igreja o que pre- estudos que “Catolicismo” agora apresenta ao
tendem é a constituição de uma nova religião, público brasileiro. Por isso recomendamos ca-
a religião do homem que se endeusa e pres- lorosamente sua leitura.
cinde do Criador. Como infra-estrutura, para
sustentar e disseminar pelo mundo todo as i-
déias dos “grupos proféticos”, o IDO-C, como
imenso polvo, estende seus tentáculos sobre
os cinco continentes.
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 5
mais ou menos veladamente, através da im- um sistema ideológico que, como no caso do
prensa, do rádio, da televisão, e de conferên- IDO-C, representa o contrário da Religião Ca-
cias em auditórios públicos, uma doutrina que tólica. Não só por seu grande número, mas
é o oposto da Religião Católica. O documento pelas subtilíssimas técnicas de iniciação de
faz ver que essa máquina forma um imenso membros, pressão sobre a opinião pública e
polvo, cujos tentáculos se estendem larga- agitação que usam, os “grupos proféticos” são
mente pela Europa e Estados Unidos, além de uma verdadeira potência. Eles formam dentro
deitar ramificações pela América do Sul e ou- da Igreja uma imensa rede semi-secreta de
tras regiões da terra. A ele está sujeito o gros- propaganda anticatólica, feita sobretudo ver-
so dos instrumentos de publicidade católicos balmente de pessoa a pessoa.
da Europa e da América do Norte, e assim o
seu poder dentro da Igreja parece – humana- Dedos de uma mesma mão
mente, é claro – incontrastável.
Tendo diante dos olhos ambos estes
Tal fato cria para a Igreja uma situa- documentos estarrecedores, é natural que o
ção muito semelhante à de um país em guerra leitor se pergunte que pontos de semelhança e
no qual a grande maioria das emissoras de te- de contraste existem entre o IDO-C e os “gru-
levisão e rádio e dos órgãos de imprensa esti- pos proféticos”. A isto respondemos:
vessem a soldo do adversário. E não de um
adversário qualquer, mas, como verão os lei- 1. Os pontos de semelhança são antes
tores, de um adversário com intuitos de des- de tudo doutrinários. O que o arti-
truição radicais e implacáveis, exímio no uso go de “Approaches” diz das dou-
de meios de ação sumamente subtis e eficien-
tes, e dotado de recursos materiais pratica-
mente inesgotáveis.
Os “grupos proféticos”
O artigo publicado em “Ecclesia” re-
força vigorosamente a trágica impressão de
que a Igreja é, hoje em dia, como um país so-
lapado pelo adversário. Ele nos põe ao corren-
te do esforço sistemático de um movimento
que se generaliza cada vez mais nos meios ca-
tólicos de numerosos países, o dos “grupos
proféticos”.
No mesmo sentido, é de real valia a Carta de 7 de março de 1950, na qual a Sagrada Con-
inevitavelmente sobre si uma outra pergunta:
gregação dos Seminários e Universidades, ainda ao tempo de Pio XII, pôs de sobreaviso o
Episcopado Brasileiro contra opiniões errôneas veladamente em curso nos Seminários de
não tem tal pessoa em vista evitar que o pro-
nosso País (“Acta Apostolicae Sedis”, vol. 42, p. 836 e ss.). blema desperte a atenção geral, e seja objeto
Releva ainda mencionar a Carta Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno (Boa
Imprensa Ltda., Campos, 1953) em que o Sr. Bispo D. Antônio de Castro Mayer descreve e
de incômodas investigações? Neste caso, não
analisa múltiplos erros infiltrados em meios católicos, erros esses que a um tempo sabem a
progressismo, e às doutrinas do IDO-C e dos “grupos proféticos”. Pela repercussão que te-
será ela um comparsa no jogo subversivo?
ve no Exterior – com edições na França (“La Cité Catholique”, Paris, 1953), na Itália (“Is-
tituto Editoriale Bartolo Longo”, Pompei, 1954, e “Edizioni dell’Albero”, Torino, 1964), na
Espanha (“Coleción Fe Integra”, dos Padres C.P.C.R., Madrid, 1955), na Argentina (“Li-
breria Católica Acción”, Buenos Aires, 1959) e no Canadá (“La Cité Catholique”, Québec,
1962) – se vê que o documento episcopal apresentava interesse concreto para diversos ou-
tros países.
nationales”, e outro do grupo “católico”- ro”, em Paris, e o “New York Times”, nos
comunista “Znak”, da Polônia. Faz parte, a- EUA, sem falar de sua influência em centros
inda, do Comitê Executivo Internacional do católicos de informação importantes como a
IDO-C o diretor da revista “Slant”, da Ingla- “Catholic Press Union”, a NCWC, o “Nati-
terra, a qual mantém boas relações com outro onal Catholic Comunications Centre”, a
conhecido movimento “católico”-comunista “Religious Newswriters Association”, etc.
polonês, “Pax”. Ao IDO-C inglês não repug- acrescenta, enfim, “Approaches” que as notí-
na incluir no seu máximo órgão diretivo o lí- cias do IDO-C e seus pontos de vista são di-
der comunista Jack Dunman, várias vezes fundidos, através de pessoas-chave, na própria
candidato a deputado pelo PC britânico, dire- Rádio Vaticana e na Rádio Canadá.
tor da revista agrária do partido e especialista
no diálogo entre católicos e comunistas. Assim, proclamando-se embora uma
entidade acatólica, o IDO-C dispõe efetiva-
mente de imensos meios para, como é seu ob-
Dinossauro publicitário
jetivo declarado, dirigir a opinião católica em
Comentando na imprensa diária de matéria genuinamente religiosa.
São Paulo o trabalho de “Approaches”, o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira classificou o Ligações com o comunismo na In-
IDO-C, muito sugestivamente, de “dinossauro glaterra e além cortina de ferro
publicitário”. Com efeito, esse estranho orga-
nismo tem à sua disposição editoras católicas É muito significativo que o funciona-
das maiores do mundo, como a conhecidíssi- mento do IDO-C seja aceito sem a menor
ma “Herder” internacional, a “Paulist preocupação em países dominados por gover-
Press”, que é a mais importante editora cató- nos comunistas, tais como a Hungria, a Polô-
lica dos EUA, a “Burns and Oates”, da In- nia, a Checoslováquia e a Iugoslávia.
glaterra, que se jacta do título de “Editores da
Santa Sé”, etc. Por outro lado, mesmo sem considerar
o serviço que o IDO-C presta à causa comu-
Quanto aos jornais e revistas direta- nista, ou o proveito que o comunismo tira do
mente representados no IDO-C, contam-se, IDO-C – conforme salienta o artigo de apre-
entre os principais, “The Guardian”, “S- sentação deste número (pág. T) – não deixa
lant”, “The Tablet”, na Inglaterra; na França de estarrecer, como observa “Approaches”, a
“Informations Catholiques Internationa- simples constatação de que a Secção do IDO-
les” (cuja identidade ideológica com o IDO-C C da Inglaterra, totalmente composta de pro-
francês é tal, que se pode dizer que este últi- gressistas, é internamente controlada por um
mo vem a ser a expressão internacional dos núcleo marxista que atua sob a direção de um
pontos de vista de I.C.I.); “St. Louis Revi- dos líderes mais experimentados do PC da
ew”, nos EUA; “Criterio”, de Buenos Aires, Grã-Bretanha, o já citado Jack Dunman.
etc.
“International Catholic Establish-
Entre os jornais não diretamente re- ment”
presentados no IDO-C mas nos quais a influ-
ência deste se faz sentir, destacam-se o “Na- No inglês o termo “establishment” é
tional Catholic Reporter” e o “Long Island freqüentemente empregado em sentido pejo-
Catholic” (diários ditos católicos), o “Time”, rativo para designar uma camarilha influente
o “New York Times” e o “Chicago Sunday que impõem a sua ideologia, suas formas e
Times” (periódicos leigos de repercussão in- sobretudo sua vontade, a uma sociedade de-
ternacional), nos EUA e Canadá; “La Croix” terminada. A Editora “CIO”, ao verter para o
e “Témoignage Chrétien”, na França; etc. espanhol o artigo de “Approaches”, traduz
“establishment” por “grupo de influência ou
Cumpre destacar que o IDO-C contro- pressão”.
la as secções religiosas de jornais de repercus-
são mundial como “Le Monde” e “Le Figa-
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 14
ta) que ele deve o fato de que seus pontos de leigo, cujas tendências esquerdizantes já a-
vista sejam espelhados fielmente em “Le pontamos.
Monde” (por Henri Fesquet), em “Le Figa-
ro” (pelo Pe. Laurentin), e até em Ramificações do IDO-C pelo mun-
“L’Humanité” (órgão do Partido Comunista do inteiro
francês).
“Approaches” termina seu dossier so-
Onde entra o IDO-C bre o IDO-C apresentando uma lista de mem-
bros do Comitê Internacional para o De-
A ligação entre o IDO-C e o “Catholic senvolvimento da Informação e Documen-
Establishment” fica suficientemente visível tação Religiosa, pertencente ao IDO-C. Nes-
quando se considera que cinco pessoas dentre sa relação – procedente do próprio IDO-C –
as 21 que compõem o Comitê Internacional constam nomes do Brasil, Argentina, Chile,
para o Desenvolvimento da Documentação Colômbia, México, Peru, Uruguai, além de
e Informação Religiosa (do IDO-C) são figu- países de outros continentes. É interessante
ras-chave do “Establishment”. Na Inglaterra percorrer essa lista para se ter uma idéia da
essa vinculação se manifesta, sobretudo, atra- extensão, no mundo inteiro, da conjuração
vés do certamente pró-comunista Neil Mid- progressista a cargo do IDO-C.
dleton, de “Slant”, o qual é, ao mesmo tempo,
do “Establishment” inglês e do Comitê Exe- Ressalva
cutivo Internacional do IDO-C. “Approaches”
cita outros exemplos de ligações desse gêne- É bem evidente que, dado o caráter
ro. sub-reptício da atuação do IDO-C, não se po-
de afirmar que cada uma das pessoas que a ele
Tendo seu centro em Roma e esten- se filiaram sirva consciente e intencionalmen-
dendo suas ramificações pelo mundo inteiro, te à causa dele. É uma ressalva de “Approa-
o IDO-C vem a ser para o “Catholic Establi- ches” que parece até desnecessária à vista da
shment” uma organização inapreciável para própria índole do IDO-C...
reforçar suas pretensões de se substituir ao
Magistério da Igreja. Por outro lado, o IDO-C Doutrina integral
pode “mostrar a sua face”, enquanto o grupo
de pressão internacional fica na sombra. Qual será o “credo integral” que o
IDO-C infiltra assim nos meios católicos?
Graças ao IDO-C, tornou-se possível a
infiltração da ideologia do “Catholic Establi- As informações de “Approaches” não
shment” em certas zonas da comunidade cató- fornecem maiores dados a respeito. Para se ter
lica que até então se haviam mostrado imper- uma resposta completa é preciso ler o artigo
meáveis a ele. de “Ecclesia” que “Catolicismo” reproduz
nesta mesma edição.
Foi também através do IDO-C que,
nos EUA, o “Catholic Establishment” conse- De qualquer modo, é incontestável a
guiu estabelecer relações diretas e quase insti- enorme importância das revelações de “Ap-
tucionais com o poderoso “Establishment” proaches”, que registramos para a análise de
todos os interessados.
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b . É porque não aceita essa nova figu- o profano. É uma Igreja dessacralizada. Daí
ra de Deus, e se obstina em manter a velha fi- múltiplas conseqüências:
gura do Deus pessoal, transcendente e alie-
nante, que a Igreja “constantiniana” gera o a- a . É óbvio, antes de tudo, que a Igre-
teísmo. Pois o homem adulto de hoje, não po- ja-Nova está toda posta na ordem natural. Sua
dendo aceitar essa imagem infantil da divin- missão salvífica, ela a exerce induzindo os fi-
dade, se afirma ateu. Se a Igreja lhe apresen- éis a se engajarem, a se comprometerem na
tasse um Deus atualizado, imanente e não ali- propulsão do bem-estar terreno.
enante, ele o aceitaria. E deixaria de ser ateu.
b . A noção da Igreja como Sociedade
c . É bem verdade que a afirmação de distinta do Estado e soberana na esfera espiri-
um Deus transcendente e alienante tem seu tual perde, pois, toda a sua razão de ser. A I-
fundamento em numerosas narrações dos Li- greja dessacralizada é, dentro da sociedade
vros Sagrados. Essas narrações, entretanto, temporal, um grupo privado como outro qual-
não são realidades históricas precisas. Elas quer, cuja missão é de estar na vanguarda das
são mitos elaborados pelo homem não adulto, forças que promovem a evolução da humani-
alienado e sequioso de alienação. Hoje, elas dade.
devem ser reinterpretadas segundo uma con-
cepção não alienante mas adulta. Ou até recu- c . A vida sacramental também muda
sadas. Com isto, se purifica a Religião de seus de conteúdo. Os Sacramentos têm um sentido
mitos. É o que se chama desmitificação. simbólico meramente natural. A Eucaristia,
por exemplo, é um ágape em que confraterni-
d . É, por exemplo, o que cumpre fazer zam irmãos em torno de uma mesma mesa. E
quanto à explicação da infeliz condição do por isto deve ser recebida como um alimento
homem, sujeito ao erro, à dor e à morte. O qualquer, no decurso de uma refeição comum.
remédio dessa situação não pode vir, para o
homem adulto, de uma Redenção operada pe- d . A condição sacerdotal não mais se
lo sacrifício do Deus transcendente encarna- deve considerar sagrada, já que a sacralidade
do, e completada pelos padecimentos dos fi- morre com a morte de todas as alienações.
éis. Tal remédio vem da evolução, da técnica
e do progresso. Na concepção do homem de- No modo de se apresentarem, de se
salienado, não há mais razão de ser para as trajarem e viverem, os Sacerdotes devem ser
mortificações, algum tanto masoquistas, que a como quaisquer leigos, já que a esfera do sa-
Igreja “constantiniana” promovia. A Igreja- grado, a que pertenciam, desapareceu, e eles
Nova convida a uma vida voltada inteiramen- se devem integrar sem reservas na esfera tem-
te para a felicidade terrena. A Redenção- poral. Analogamente se devem portar os Reli-
progresso não tem como objetivo levar os giosos, se ainda houver os três votos de obe-
homens para um céu extraterreno, mas trans- diência, pobreza e castidade na Igreja desalie-
formar a terra em um céu. nante e desalienada.
quais cada qual é, na respectiva Diocese, co- Esta forma de desalienação já está in-
mo que um monarca sujeito ao Papa – não é cluída, a títulos diferentes, nos itens anterio-
compatível com a Igreja-Nova. Como tam- res. A Igreja “constantiniana”, que tem um
bém não podem subsistir os Párocos, que re- governo próprio e soberano em sua esfera, de-
gem, sob as ordens do Bispo, porções do re- seja a união e a colaboração com o Poder
banho diocesano. Temporal. Nisto, de algum modo Se alienaria
a ele, e de algum modo o alienaria a Si.
Cumpre, para desaliená-la inteiramen-
te da Hierarquia, democratizar a Igreja. É A Igreja-Nova, por todos os motivos
preciso constituir, nEla um órgão representa- expostos, declara não precisar do Poder Pú-
tivo dos fiéis que exprima o que os carismas blico, nem desejar com ele relações de Poder
dizem no íntimo da consciência destes. Órgão a Poder. A mútua alienação terá, deste modo,
eletivo, é claro, e que represente a multidão. cessado.
Órgão que faça pesar decisivamente sua von-
tade sobre os Hierarcas da Igreja, os quais, Em conclusão
também é claro, deverão, daqui por diante, ser
eletivos. Em nosso entender, em rigor de lógi- Assim em conclusão, a Igreja-Nova
ca, esta reforma da estrutura da Igreja pleitea- será inteiramente desalienada, e deixará intei-
da pelo “movimento profético” só pode ser ramente de ser alienante.
vista como uma etapa da realização cabal dos
objetivos dele. Pois a desalienação completa III – Só a luta de classes consegui-
envolveria, em estágio ulterior, a abolição de rá a desalienação dentro da Igreja
toda a Hierarquia.
1 . a Hierarquia ajudou a execução
Considerando, entretanto, tão somente do programa “profético” de desalienação;
a reforma que os “grupos proféticos” agora porém, não pode dar o passo final
explicitamente pleiteiam, podemos dizer que
ela transformaria a Igreja numa monarquia A desalienação total, pela qual a Igreja
como a da Inglaterra, isto é, um regime efeti- “constantiniana” Se deve metamorfosear em
vamente democrático, dirigido fundamental- Igreja-Nova, poderão os “grupos proféticos”
mente por uma Câmara popular eletiva, oni- esperá-la da Hierarquia?
potente, no qual se conserva pró-forma um
Tendo em vista que membros desta
Rei decorativo (no caso da Igreja-Nova, o Pa-
têm apoiado muitas medidas desalienantes,
pa), Lords sem poder efetivo (os Bispos e Pá-
dir-se-ia que sim. Tanto mais quanto os
rocos), e uma Câmara alta de aparato (o Colé-
gio Episcopal). E ainda, para que a analogia “grupos proféticos” afirmam que a obra do
entre o regime da Inglaterra e a Igreja-Nova Concílio Vaticano II teve um caráter desa-
fosse completa, seria preciso figurar um Rei e lienante, isto é, dessacralizante e igualitá-
Lords eletivos (isto é, Papa e Bispos eleitos rio, que representa um primeiro passo – se
pelo povo). bem que tímido – no caminho de mais radi-
cais transformações.
Para completar o quadro da democra-
tização, cumpre acrescentar que, na Igreja- Entretanto, sem desdenhar o proveito
que asseveram auferir da exploração de atitu-
Nova, as paróquias seriam grupos fluidos e
des de certos Hierarcas e das decisões do II
instáveis, e não circunscrições territoriais de-
Concílio Vaticano, os “grupos proféticos”
finidas como soem ser hoje. Esta fluidez, pen-
julgam que a desalienação completa só poderá
samos, também se estenderia, em rigor de ló-
vir de uma luta de classes entre o Episcopado
gica, às Dioceses. A Hierarquia já não seria
e o Clero de um lado, e os leigos de outro.
na Igreja senão um nome vão.
A razão disto, alegam eles, está em
5ª desalienação da Igreja: em rela-
que de um Hierarca simpático à desalienação
ção ao Poder Público
se podem esperar concessões que lhe reduzam
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os poderes; mas, por mais simpático que seja, recrutar a Câmara popular dentro da Igreja-
não há como esperar dele uma renúncia com- Nova.
pleta, que eqüivaleria a um suicídio.
Quais são os meios de que dispõe o
2 . O meio para chegar à vitória da “movimento profético” para promover a sub-
revolução desalienante na Igreja: a insur- versão reformista na Igreja?
reição do laicato
1 . A extensão do “movimento profé-
Assim, cumpre conscientizar o laicato tico”
para que, em luta com os Hierarcas, exija as
reformas de estrutura na Igreja, que A de- Os “grupos proféticos” são em grande
mocratizem. Em suma, o remédio está na lu- número. Existem em muitos países. Eles cor-
ta de classes dentro da Igreja. respondem – pelo convívio íntimo que pro-
porcionam – a anseios de sociabilidade pro-
Essa luta deve ser feita por etapas: fundos, do homem contemporâneo perdido e
isolado no anonimato das grandes multidões.
a – campanha de descrédito contra a Por este e outros motivos, seu número tende a
Igreja “constantiniana”; multiplicar-se indefinidamente.
b – insuflação do desejo das reformas 2 . A estrutura secreta do “movi-
de estrutura da Igreja; mento profético”
c – agitações, greves; Essa estrutura é flexível e muito ade-
quada para promover a subversão na Igreja.
d – capitulação da Hierarquia e im-
plantação das reformas. Os “grupos proféticos” são verdadei-
ras células, de número variável de pessoas.
IV – Os “grupos proféticos”, artífi- Em todo caso, tal número nunca chega a ser
ces da luta de classes pela desalienação grande. Dessas pessoas, nem todas se põem
da Igreja ao corrente, com a mesma profundidade, dos
fins, dos métodos e das conexões do grupo.
Os novos carismas de cuja vida a Igre- Cada uma das células é assim uma minúscula
ja-Nova viverá, recebe-os hoje não mais a Hi- sociedade secreta.
erarquia, mas o povo fiel. Cabe pois à Hierar-
quia, como vimos, obedecer ao povo. Cada célula tem contato habitual com
outras do mesmo gênero, o que faz do movi-
A todo o povo? Este deve ser, se não mento uma imensa engrenagem de uma mirí-
governado, pelo menos iluminado e liderado ade de pequenas peças.
pelos grupos carismáticos e proféticos que o
Espírito suscita na Igreja para darem teste- A essa unidade funcional se soma ou-
munho. tra, mais preciosa: todas visam o mesmo fim,
ou seja, a luta de classes para impor na Igreja
O conjunto desses grupos formará, uma reforma desalienante.
pois, dentro da Igreja invertebrada com que
sonham, uma rede de influências à qual tocará Há que mencionar ainda a uniformi-
o verdadeiro poder. dade com que empregam, quer para o recru-
tamento, quer para a subversão, os mesmos
Isto aumenta o interesse do estudo so- métodos complicados e subtis. Destes méto-
bre a estrutura e os métodos dos “grupos pro- dos falaremos adiante.
féticos”, que adiante faremos.
Todos estes fatores fazem dos “grupos
É aliás entre os seus membros, repre- proféticos”, vistos em seu conjunto, um mo-
sentantes naturais do laicato, que se deverá vimento impressionantemente uno.
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e desse modo reduz ao mutismo quase todos transformações e tumultos que caracterizam,
os que estariam dispostos a reagir. na ordem do pensamento e da ação, o chama-
do progressismo católico. E tal é a afinidade
Esse terror – nos lugares onde há dos “grupos proféticos” – como aliás também
“grupos proféticos” – é preparado com longa do IDO-C – com o progressismo, que nossos
antecedência por estatísticas e inquéritos soci- leitores se terão perguntado a todo momento
ais tendenciosos, elaborados e divulgados pe- qual a relação entre este e aqueles.
los “grupos proféticos”. Estes conseguem, as-
sim, fazer crer que a imensa massa dos fiéis A pergunta é das mais procedentes,
deseja as reformas na Igreja, que tal é o espí- pois não há um só traço característico do pro-
rito irrefragável dos tempos, e que opor-se às gressismo que não esteja explícita ou implíci-
reformas é o mesmo que querer deter com as ta, próxima ou remotamente relacionado com
mãos a maré montante. Os sintomas, reais ou os “grupos proféticos”.
forjados, das tendências revolucionárias das
multidões são os “sinais dos tempos”. Cap- A ação do progressismo é tão ampla, e
tam-nos com perspicácia especial os que pos- tão variada a gama de seus matizes – que vão
suem “carismas proféticos”. Graças ao alarido desde o “moderado” e “conservador” até o re-
dos “grupos proféticos”, a subversão eclesiás- volucionário comunista – que nos parece exa-
tica, obra de uma minoria, parece correspon- gerado atribuir ao “movimento profético” e ao
der assim aos anseios mal contidos de multi- IDO-C a causalidade da corrente progressista
dões inteiras enfurecidas por se julgarem alie- em todo o mundo. É certo, entretanto, que as
nadas. “minorias proféticas” merecem ser qualifica-
das de progressistas.
O espírito da época, percebido “profe-
ticamente” nos “sinais dos tempos”, é a nor- Esta observação alerta o espírito para
ma suprema, ensinam os “grupos proféticos”. outro problema. Se, ao contrário do que à
Não há maior loucura do que tentar resistir- primeira vista se pode supor, o “movimento
lhe: é ser anacrônico, ridículo, desprezível. A profético” tem sua causa em uma organização
Igreja “constantiniana” tinha a pretensão de semiclandestina definidamente estruturada,
modelar os tempos: a Igreja-Nova sabe que, também não haverá uma entidade mais vasta,
pelo contrário, deve deixar-se modelar por e- que seja a causadora do progressismo em toda
les. a Igreja? A resposta a esta importante pergun-
ta transborda dos limites do presente comen-
Assim, ou a Igreja aceita as reformas tário.
impostas pela evolução e Se transforma em
Igreja-Nova, ou morre. VII – Os “grupos proféticos” estão
a serviço do comunismo
A esta pressão, feita no interior mes-
mo da Igreja, em tantos países, pela boca de Pelo que até aqui ficou exposto, con-
todos os membros dos “grupos proféticos” e sideramos que é gravemente de se suspeitar
pelas grandes tubas publicitárias do IDO-C, é que os “grupos proféticos” estejam a serviço
dificílimo resistir. do comunismo. Para tal, basta ponderar que:
criados pelos comunistas e sejam por estes di- Também em face dos aspectos sociais
rigidos; e econômicos do marxismo, a atitude da Igre-
ja-Nova difere da posição tradicional da Igre-
d – é tática marxista habitual infiltrar- ja “constantiniana”. Com efeito, esta última –
se nos grupos afins para os pôr a serviço da com base no 7º. e 10º. Mandamentos – conde-
causa comunista; nestas condições, mesmo no na o regime social e econômico comunista
caso de os “grupos proféticos” não terem sido como imoral, e afirma a legitimidade da pro-
criados pelos comunistas, é pelo menos alta- priedade individual, do capitalismo e do sala-
mente provável que sejam dirigidos por estes, riado, de sorte que, ainda se um regime ver-
para a infiltração vermelha na Igreja; melho reconhecesse à Igreja existência legal e
liberdade de culto, Ela seria irredutivelmente
e – fatos expressivos adiante indicados anticomunista. Pelo contrário, a Igreja-Nova,
corroboram fortemente estas suspeitas. infensa a todas as alienações, só tem motivos
para ver com bons olhos a supressão de situa-
Detenhamo-nos um pouco no assunto. ções patrimoniais e relações de trabalho que o
comunismo tacha de alienantes.
As afinidades entre os objetivos dos
“grupos proféticos” e os do comunismo são Assim, a vitória da Igreja-Nova te-
evidentes: os primeiros visam desalienar, e ria como conseqüência fatal a transforma-
portanto dessacralizar e tornar rigorosamente ção da Religião Católica – também em ma-
igualitária a Sociedade espiritual, que é a I- téria social – de força irredutivelmente
greja, e incitam os católicos em favor das de- contrária ao comunismo, em força auxiliar
salienações na sociedade temporal; o comu- ou até propulsora deste.
nismo visa desalienar e tornar rigorosamente
igualitária a mesma sociedade temporal. Po- Qual o alcance concreto dessa eventu-
de-se dizer, assim, que os “grupos proféticos” al transformação?
fazem a revolução comunista dentro da Igreja.
Há no mundo cerca de 500 milhões de
Que vantagem tem nisto o comunis- católicos; transformá-los de inimigos inflexí-
mo? A Igreja-Nova, resultante da ação do veis em auxiliares ou militantes do comunis-
“movimento profético”, não crê num Deus mo, que estupenda conquista seria para este!
pessoal, mas num Deus difuso e impessoal,
que é imanente e onipresente na natureza. Ela O que o comunismo até aqui não con-
crê na evolução, no progresso e na técnica seguiu, e jamais conseguiria pelas persegui-
como as grandes forças inelutáveis que ani- ções mais atrozes, ele o alcançaria, sem ne-
mam o movimento universal, remedeiam a nhuma violência e nenhum risco de suscitar
desdita do homem e dão rumo à História. perigosas reações, pela simples metamorfose
Num lance de olhos é fácil ver que essa dou- incruenta da Igreja Católica em Igreja-Nova.
trina importa em afirmar a divinização da
evolução, do progresso e da técnica. O que é Diante desta perspectiva, as graves
extraordinariamente parecido, se não idêntico, suspeitas que, baseados no estudo de “Ec-
com o conceito evolucionista e materialista de clesia”, levantamos inicialmente sobre a
Marx. A Igreja-Nova não tem, para se opor ao posição do movimento comunista perante o
comunismo, os mesmos motivos religiosos “movimento profético”, mudam de colori-
invencíveis que tem levado a Igreja “constan- do. Elas se transformam em certeza moral.
tiniana” a Se opor a este como a seu pior ad- Quem conheça a suma habilidade do comu-
versário. Pelo contrário, a teologia da Igreja- nismo internacional em infiltrar e neutralizar
Nova prepara os espíritos a aderir a ele. as forças adversárias, e em apoiar todos os
movimentos subversivos favoráveis, não pode
Em outros termos, à medida que faz admitir que os dirigentes comunistas estejam
adeptos, a Igreja-Nova forma simpatizan- indiferentes, inertes e alheios em face do êxito
tes do comunismo, ou até comunistas mili- tático incomparável que lhes poderá advir da
tantes. infiltração dos “grupos proféticos” entre os
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2
Sobre essas complexas matérias, é interessante estudar, por exemplo: Papa Adriano II
(All. 3 Conc. VIII act. 7); Papa Inocêncio III (sermo IV in cons. Pont.); S. Antonino (S.
Th., III, 23-24); S. Roberto Bellarmino (De R. Pont. 2, 30; 4, 6 ss.); Suárez (De Fide, X, 6;
De Leg., IV, 7); S. Afonso (Th. Mor., I, nn. 121-135); Bouix (Tr. De Papa, II, p. 635-673);
Wernz-Vidal (I. Can, II, pp. 517 ss.); Card. Billot (De Eccl. Chr. Pp. 609 ss.); Vermeersh-
Creusen (Ep. J. Can., I, n. 340); Card. Journet (L’Egl. Du Verbe Inc., I, pp. 625 ss.; II, pp.
821, 1063 ss.). Ver também Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira, artigos “Qual a autorid.
doutr. dos Doc. Pont. e concil.?” , “Não só a heresia pode ser condenada pela Autorid. E-
cl.”, “Atos, gestos, atitudes e omissões podem caracterizar o herege”, “Respondendo a ob-
jeções de um imaginário leitor progressista”, em “Catolicismo” , n.os 202, 203, 204 e 206,
de out., nov. e dez. 1967 e fev. 1968.
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O texto de “Approaches”
Este “Dossier a respeito do IDO-C” foi publicado pelo boletim britânico “Approaches”,
em seu número 10-11, de janeiro de 1968, pp. 30-95. Reproduzido em vários outros órgãos ca-
tólicos da Europa e da América, o “Centro de Información y Orientación”, de Madrid, o editou
em forma de folheto (Editorial CIO, S/A, “Colección Documentos para la Historia”, no. 3, Madrid,
1968).
A tradução que apresentamos aos nossos leitores foi feita a partir da versão espanhola
da Editora CIO; tendo recebido à última hora o original inglês, procedemos a uma rápida revi-
são do nosso texto, emendando as imprecisões que assim pudemos encontrar.
Suprimimos alguns tópicos que não se referem diretamente ao IDO-C e nos pareceram
de menor interesse para o público brasileiro; essa supressão é indicada por reticências entre
colchetes [...]. Inserimos uma ou outra palavra no texto, para maior clareza; esses acréscimos
aparecem sempre entre colchetes [ ]. Compusemos em negrito as passagens ou expressões
que se nos afigurou oportuno destacar. As notas de rodapé são de “Approaches”, como tam-
bém o são quase todos os subtítulos, sendo os outros da CIO.
ativos dirigentes (Mrs. Pauline Clough). En- Isto será negado calorosamente, sem
tretanto, ainda mais signficativo, como vere- dúvida, pelos “slantistas”, que provavelmente
mos, é o fato de que o presidente da Secção se dirão a si mesmos (e quiçá acreditem nisso)
do IDO-C do Reino-Unido não é outro que o que eles se submetem à experiência de Dun-
Padre Laurence Bright, O.P. man apenas em assuntos de organização e tá-
tica. Mas poderiam Dunman e o Partido Co-
Para bem apreciar o significado da munista britânico desejar mais do que isso?
grande influência de “Slant” na Secção do
IDO-C no Reino-Unido (quatro membros em Para que não se pense que Dunman
quinze), é necessário relacioná-la com os se- não é um comunista tão importante como o
guintes fatos: apresentamos, convém oferecer um rápído es-
boço de sua carreira dentro do Partido. Este
1 . que na conferência de Edimburgo, resumo revelará, fora de qualquer dúvida, que
a 26 de novembro de 1966, Terry Eagleton ele é algo mais do que um soldado raso, um
admitiu que “Slant” estava nas melhores rela- intelectual comum, que foi parar no IDO-C à
ções com a agência de polícia secreta polone- falta de algo melhor para fazer.
sa “Pax”;
Dunman foi um dos organizadores do
2 . que em qualquer comissão de um Partido Comunista inglês já em 1939. Dez
organismo de “fachada”, um núcleo-chave anos mais tarde encontramo-lo candidato co-
compacto de quatro pessoas é mais do que su- munista por Berkshire, para voltar a sê-lo em
ficiente para, em um conjunto de quinze, con- 1950, desta vez por Abingdon; dois anos de-
seguir com toda a segurança manter na linha pois representa novamente a mesma agremia-
os demais. ção como candidato por Harwell. Tudo isto é,
contudo, puramente acidental em relação ao
Isto seria verdade mesmo se Jack trabalho regular de Dunman para o Partido,
Dunman não fosse igualmente membro do pois em 1950 passou a secretário da Comis-
grupo. No entanto, como ele o é, a “fração” são Agrícola deste, e desde então é considera-
“Slant” pode, dentro da Secção do IDO-C no do o dirigente comunista perito no setor agrí-
Reino-Unido, contar com ele não apenas co- cola. É também o diretor do “Country Stan-
mo um voto a mais, mas também para se be- dard”, órgão do Partido Comunista para ques-
neficiar de sua considerável experiência neste tões agrícolas. Um aspecto de seu trabalho
gênero de trabalhos, com o que aumenta i- neste terreno é o interesse que tem dedicado,
mensamente a influência efetiva de “Slant” no desde há muitos anos, aos assuntos da União
seio do IDO-C. Nacional de Trabalhadores do Campo. O
“Daily Worker” de 10 de janeiro de 1948 in-
Em conseqüência, a presença de formava que ele era, naquela época, membro
Dunman nesse grupo não deve ser estimada da Comissão do Condado de Berkshire da ci-
ou avaliada simplesmente em função da cir- tada União Nacional.
cunstância de que ela significa que nada me-
nos de um terço do pessoal dirigente do IDO- Como sua especialidade é inapreciável
C é declaradamente comunista ou é “católi- para o Partido, pertenceu também à Comissão
co”-marxista. Seu significado autêntico só Executiva Nacional e em 1965 dirigiu o Con-
pode ser completamente apreciado quando se gresso Nacional do Partido Comunista para
tem diante dos olhos o que quer dizer o fato problemas agrícolas (com particular referên-
de que a “fração” marxista da Secção do IDO- cia aos despejos de arrendatários e às proprie-
C no Reino-Unido, composta de cinco pesso- dades rurais não cultivadas). E, naturalmente,
as, é orientada por um dos “cadres” dirigentes é ainda diretor de “The Country Standard”,
do Partido Comunista da Grã-Bretanha. que – diga-se de passagem – é anunciado em
“Slant”.
3 . Quem é Dunman?
Ultimamente, contudo, Dunman deu
mostras de uma versatilidade tardia e se con-
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verteu em especialista no diálogo com os cris- bém um ardente teilhardista e, como tal, diri-
tãos. E assim encontramo-lo como membro da giu em 1967 a conferência da Associação Tei-
equipe comunista de quinze “ecumenistas” lhar de Chardin. A julgar pela notícia de seu
que recentemente dialogaram com uma curio- discurso publicada em “The Tablet”, parece
sa mistura de cristãos3, sob os auspícios de ter ele aproveitado a ocasião para manifestar
“Marxism Today” (órgão do Partido Comu- publicamente sua calorosa admiração por
nista) e do departamento internacional do Martin Luther King e pelo ultra-progressista
Conselho Britânico de Igrejas, cujo secretá- Jesuíta Daniel Berrigan, cujo extremismo o
rio-adjunto, o rev. Paul Oestreicher, é tam- levou a sofrer sanções temporárias até na lati-
bém, curiosamente, dirigente da Secção do tudinária América do Norte de nossos dias.
IDO-C no Reino-Unido. Em conseqüência, parece sumamente impro-
vável que o rev. Paul Oestreicher deseje seri-
É verdade que Dunman é classificado amente fazer frente ao estilo da “fração” mar-
tão somente como membro da equipe “ecu- xista e guiada pelo comunismo, da equipe do
mênica” comunistas. Este auto-eclipsar-se de IDO-C no Reino-Unido.
sua parte não nos deve desnortear. O fato de
que ele seja o único dirigente comunista co- Restam-nos nove. Dois deles, pelo
nhecido como membro de um suposto orga- menos, são conhecidos como pertencentes ao
nismo “católico” (o IDO-C), e diretor do úni- que, no caraterístico vezo inglês de subesti-
co órgão comunista que publica anúncios em mar as coisas, poderia ser considerado como
“Slant”, basta para nos indicar que ele é agora bem à esquerda do centro. São eles: Anthony
a figura-chave nas atividades “ecumênicas” Spencer e a Dra. Monica Lawlor.
empreendidas pelo Partido. Em suma, Dun-
man se apresentaria como a réplica, deste lado Foi a Dra. Monica Lawlor quem, co-
do Canal, do celebrado e talentoso Roger Ga- mo secretária da “Newman Association”,
raudy. montou a defesa do Pe. Herbert McCabe,
O.P., quando este foi justificadamente depos-
4 . Outros dirigentes do IDO-C bri- to de seu cargo como editor da revista “New
tânico Blackfriars” (a qual ele admitiu – na confe-
rência de Edimburgo, acima mencionada –
O que consta a respeito dos outros dez que, como “Slant”, estava nas melhores rela-
membros da equipe britânica do IDO-C? ções com a agência de polícia secreta polone-
sa “Pax”.
Como já vimos, o rev. Paul Oestrei-
cher é especialista em organizar, de modo pe- Esta ação defensiva complementava
culiar, agradáveis diálogos com o Partido uma petição dirigida a Roma (sob o patrocí-
Comunista. Ele o faz graças à sua condição de nio, entre outros, de Anthony Spencer) duran-
secretário internacional adjunto do Conselho te a celebração de uma “sessão de doutrinação
Britânico de Igrejas, com responsabilidade interna” [“Teache-in”] (na qual um dos prin-
especial no que diz respeito às relações Leste- cipais oradores foi o mesmo Anthony Spen-
Oeste e ao diálogo da igreja anglicana com o cer) – precedida por uma “oração interna”
comunismo. Parece considerar também de seu [“Pray-in”] – a favor dos que, como Charles
dever manter relações íntimas com o grupo Davis e o Pe. McCabe, haviam sido “perse-
“Slant”, pois encontramo-lo como orador guido” pela Autoridade Eclesiástica. Poder-
(juntamente com o Dominicano “slantista” se-ia considerar mais caridosamente essa “o-
Pe. Boxer) na conferência anual do Grupo ração interna” se os “newmanistas” que a or-
(“Slant”) em Spode House em 1966. É tam- ganizaram tivessem mostrado pelo menos i-
gual indignação para com a perseguição real
de nossos irmãos em Cristo atrás das cortinas
3
Pode-se ter uma idéia da espécie de “defesa” da posição cristã que terá sido apresentada
de ferro e de bambu. Nem se pode alegar em
nesse “diálogo” se se levar em conta que a equipe cristã incluía dois elementos-chave do
quadro redatorial de “Slant” (Neil Middleton e Adrian Cunningham, já citados como mem-
favor da Dra. Monica Lawlor que, como se-
bros do IDO-C do Reino-Unido), além de duas outras figuras da equipe inglesa do IDO-C
(Theo Westow e o rev. Oestricher) e o Dr. Oliver Pratt, um dos que patrocinaram a petição
cretária da “Newman Association”, tenha sido
em favor do Pe. Herbert MaCabe. Exceção feita destes, nenhum dos restantes leigos católi-
cos era até então conhecido.
arrastada a lançar essa campanha, pois é ela
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co-autora de “O Caso McCabe”, livro recen- de fazer com que seus passageiros se sintam
temente publicado (desnecessário dizer que felizes).
por “Sheed and Ward”), obviamente com o
propósito de faze-lo servir de testemunho Portanto, não há exagero em dizer que
permanente da “injustiça” eclesiástica na Grã- a Secção do IDO-C do Reino-Unido é to-
Bretanha pós-consiliar. talmente composta de progressistas e que o
grupo é controlado internamente por uma
Sobram sete. Destes, o Rev. John “fração” marxista que atua sob a direção
Weller não parece ser católico, pois é certo de um dos líderes mais experimentados do
que não existe nenhum Sacerdote com esse PC da Grã-Bretanha.
nome no “Catholic Directory” de 1967.
Nada disto impede o IDO-C de se jac-
Ficamos assim com seis. Apenas dois tar – em um boletim em nosso poder – de ser
quintos do IDO-C do Reino-Unido. Destes, “um centro a serviço da Igreja”.
não se sabe quantos serão passageiros de dis-
tinção que, provavelmente, não seriam capa- IV . O IDO-C na França
zes de fazer balançar a nave do IDO-C. Nesta
categoria entra quase com certeza Paul 1 . I.C.I. e o IDO-C
Burns, de “Burns and Oates” (ou melhor, de
Herder e Herder). Uma vez que cederam ao A lista do Comitê Executivo Interna-
IDO-C o prestigioso endereço de “Editores da cional do IDO-C inclui J.P. Dubois-Dumée
Santa Sé”, têm os Srs. Herder e Herder claros como representante de “Informations Catho-
títulos para fazer jus à representação. E como liques Internationales”. Contudo, Dubois-
Burns é empregado deles, pode-se presumi- Dumée é muito mais do que um mero repre-
velmente confiar nele como eco fiel dos pon- sentante de I.C.I.; é ele figura-chave no pro-
tos de vista de seus patrões. gressista “Catholic Establishment” francês.
Representa este uma potência digna de nota.
Dos cinco restantes, é possível que al- Através do completo domínio que exerce so-
guns não passem de uns “joões-ninguém” do bre as diversas publicações “católicas” que
campo progressista, que hajam sido chamados controla direta ou indiretamente, tem sido ca-
a colaborar precisamente porque ninguém sa- paz de reduzir ao completo silêncio qualquer
be nada a seu respeito4.(2) oposição a seus desígnios, não só nos diferen-
tes setores de Ação Católica, mas até dentro
Não obstante seu anonimato, aqui está, das igrejas, nas quais só por exceção se en-
em falta de melhor, o que sabemos a respeito contra à venda algum periódico que seja irre-
deles: o próprio fato de que o Pe. Laurence dutivelmente leal ao ao Magistériio. Jornais
Bright, O.P., seja o presidente do grupo nos como “L’Homme Nouveau”, “France Catho-
autoriza a deduzir que nenhum deles se mos- lique” e “Itinéraires” estão colocados no “In-
tra excessivamente oposto ao ponto de vista dez Librorum Prohibitorum” do “Establish-
da “fração marxista”. Porque é completamen- ment”, enquanto que órgão dele como “In-
te impensável que esta última, que tem à sua formations Catholiques Internationales” e
disposição o “savoir faire” político de um dos “Témoignage Chrétien” parecem ter o “im-
dirigentes do Partido Comunista da Grã- primatur” oficial.
Bretanha, tivesse sido tão tola a ponto de fa-
zer presidente o Pe. Bright se ocorresse a me- O “Catholic Establishment” francês
nor possibilidade de sua designação ser ina- não depende apenas de sua influência sobre as
ceitável para qualquer dos outros (pois não há publicações que controla diretamente. Graças
nada que o Partido ignore quanto à maneira às suas ligações com o “Establishment” laico
(maçônico e comunista) – que, nem é neces-
sário dizê-lo, nunca foi por ele combatido ati-
4
Obtivemos, depois, alguns dados sobre dois deles: Theo Westow e o Pe. Nicholas Lash. vamente – seu ponto de vista está espelhado
Este último parece ter sido o autor da introdução a um livro progressista do primeiro, cuja
resenha foi feita no “Tablet” de 11 de novembro pelo progressista Pe. Henry St. John, O.P.. fielmente em “Le Monde” (por Henri Fes-
Mais recentemente ainda, o Pe. Lash fez a resenha de “A Question of Conscience”, de
Charles Davis, em “The Universe” (17 de novembro de 1967), dizendo entre outras coisas: quete), em “Le Figaro” (pelo Pe. Lauren-
“... lucidez e candura... Charles Davis nos teria feito a todos, seus devedores”.
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tin), e até em “L’Humanité” (órgão do Parti- sacrifício de pelo menos 20 libras, assim co-
do Comunista francês). mo de três dias de férias, com o fim de mani-
festar sua fidelidade à doutrina social do Ma-
2 . A ação do IDO-C na imprensa gistério Romano. Se um congresso semelhan-
francesa te houvesse sido organizado por “Informati-
ons Catholiques Internationales”, “Témoigna-
Do mesmo modo que “The Guardian” ge Chrétien” ou IDO-C, para dar testemunho
veio a ser o voluntário porta-voz da opinião da determinação progressista de desafiar o
de “Slant” – “Newman” quando do caso Mc- Magistério Pontifício, teria recebido a mais
Cabe na Inglaterra, assim a imprensa leiga generosa publicidade, não somente em “Le
francesa (e até, ai!, mais vezes sim do que Monde” e “Le Figaro”, mas também em “La
não, “La Croix”) tende a amplificar a voz do Croix”, e quiçá com algum editorial sobre o
progressismo católico, ao mesmo tempo que assunto. E dado que Roger Garaudy, o teori-
silencia a oposição, leal ao Magistério. E isto zante líder do Partido Comunista francês, teria
apesar do fato de que os católicos leais ao estado presente com toda a certeza (pois ra-
Magistério da Santa Igreja na França contem- ramente está ausente de qualquer reunião re-
porânea são capazes de organizar reuniões e almente importante dos católicos progressis-
congressos que atraem público maior do que o tas, onde quer que se realize, hoje em dia),
que a esquerda, com todo o poder da imprensa pode-se estar seguro de que um congresso
à sua disposição, consegue atrair. progressista que tivesse o porte do de Lausan-
ne teria recebido uma publicidade igualmente
Estes atos, entretanto, não são notícia. generosa em “L’Humanité”.
Notícias são, por definição, os acontecimentos
que vão ao encontro do desejo dos poderes Na realidade, porém, o Congresso de
ocultos que controlam a “mass media”. No Lausanne não teve praticamente publicidade
mundo real, a sombra não é senão a prova da alguma na imprensa francesa. Uma vez que os
existência de uma substância, cuja verdadeira congressistas eram católicos leais a Roma, fo-
natureza ela pode alterar além de toda medi- ram automaticamente transformados em não-
da; mas no mundo do “faz-de-conta” da notí- pessoas e o Congresso em não-acontecimento.
cia impressa e da televisão, onde não se vêem
senão as sombras, e onde as sombras podem O poder de que os modernos meios de
ser livremente manipuladas de acordo com a comunicação dispõem para condicionar open-
fantasia e o capricho do autor, as realidades samento humano nunca se manifesta melhor
de carne e osso ficam quase invariavelmente do que quando aqueles que os controlam de-
transformadas em caricaturas. Enquanto no cidem que não haja comunicação. Em compa-
mundo real dizemos que não há fumaça sem ração com o lápis vermelho do diretor, a vari-
fogo, sabemos muito bem que é perfeitamente nha mágica era um instrumento absurdamente
possível haver fogo sem fumaça. No mundo rudimentar. A grande importância do desen-
dos jornais diários e das telas de televisão, po- volvimento tecnológico dos meios de comu-
rém, os homens foram cuidadosamente condi- nicação só pode ser bem entendida quando se
cionados para acreditar somente no que vêem verifica que hoje é possível, não fazendo sim-
e no que ouvem. Em suma, a menos que apa- plesmente nada, formular um conjuro que
reça na televisão ou nas manchetes dos jor- deixe sem existência realidades de carne e os-
nais, nada aconteceu. so. Considerado nesta perspectiva, o existen-
cialismo oferece pontos de vista não sonhados
Exemplo de como isso funciona na sequer pela nova Teologia, com exceção, tal-
prática temos na maneira como foi tratado o vez, daqueles de seus expoentes que já te-
Congresso de Lausanne, de 1967, organizado nham decretado que a transubstanciação so-
pelo Ofício Internacional de Associações para mente pode ter sentido para o homem moder-
a Educação Cívica e a Ação Cultural segundo no quando apresentada como uma ficção de
os Princípios Cristãos e a Lei Natural. Reuni- sua própria imaginação.
ram-se nele umas 2200 pessoas, na maioria
jovens, cada uma das quais teve que fazer o
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 35
Uma vez que já vimos a imprensa ca- tintos: representante plenipotenciário do “Es-
tólica de língua inglesa dominada quase com- tablishment” católico francês do IDO-C, e re-
pletamente pelo progressismo em ambos os presentante plenipotenciário do IDO-C na
lados do Atlântico, e a maneira como a im- França (este papel é simbolizado pelo fato de
prensa católica progressista é amplificada mi- que o primitivo endereço do IDO-C na França
lhões e milhões de vezes pelos meios leigos foi “a/c Informations Catholiques Internatio-
de comunicação de massas, fica fácil para nós nales”). So recentemente se decidiu (em bene-
entender o que se passa de semelhante na fício, sem dúvida, das aparências do IDO-C)
França. Antes, porém, do Vaticano II a situa- nomear o Sr. Galviati para atuar como repre-
ção naquele país teria parecido incompreen- sentante do IDO-C na França, dando-lhe po-
sível para os católicos ingleses e norte- deres (segundo palavras da I.C.I.) para “asse-
americanos. Acreditariam eles, então, estar gurar a ligação entre Roma e o público fran-
vivendo em um mundo totalmente diferente cês”, a partir de seu escritório à Rua Anatole
do de nossos correligionários franceses. E France, 23, 92 – Chaville.
verdadeiramente assim era. Pois mesmo no
tempo de Pio XII existia já na França – como 3. O IDO-C e o movimento “Pax” da
hoje existe quase no mundo inteiro – o mes- polícia comunista
mo estado de coisas que prevalece atualmente
na Inglaterra e, em grau ainda mais acentua- Não há exagero, portanto, em identifi-
do, nos Estados Unidos. car a ideologia do IDO-C francês com a de
“Informations Catholiques Internationales”,
Em meados da década de 1950 era ou, inversamente, dizer que o IDO-C vem a
quase impossível para um católico inglês ou ser a expressão internacional dos pontos de
norte-americano comum dar crédito inteiro às vista de I.C.I. E o sejam esta publicação e
revelações de Jean Madiran (em “Ils ne savent seus pontos de vista, pode-se deduzir e extrair
pas ce qu’ils font” e “Ils ne savent pas de do Documento “Pax”, que foi enviado pela
qu’ils disent”), relativas às ramificações da Secretaria de Estado do Vaticano ao Secreta-
conspiração progressista na França. Teria pa- riado do Episcopado Francês, e que este dis-
recido para eles que o pobre homem estava tribuiu a todos os Bispos e Superiores Religi-
tendo um pesadelo. A verdade é, infelizmente, osos Maiores da França (acompanhado de
que estava apenas descrevendo um pesadelo. uma carta datada de 6 de junho de 1963).
A verdade é que o que ele estava descrevendo Nesse documento se apresenta com as seguin-
em um informe objetivo sobre a França, era tes palavras a influência que tem na França a
simplesmente o pesadelo da subversão pro- agência de polícia secreta polonesa “Pax”:
gressista, que depois se tornou universal.
“Os agentes de Pax estão na França
Isso nos leva novamente a J.-P. Du- em permanente contato com determinados
bois-Dumée, porque ele foi um dos autores grupos católicos “progressistas”, que se u-
principais do pesadelo progressista tão bem nem para defendê-los sempre que suspeitam
retratado por Jean Madiran. ou acreditam que algo os ameaça. Pax con-
duziu-se, sobretudo, de modo a implantar em
Como já fizemos notar, o papel de determinados círculos católicos franceses a
Dubois-Dumée no Comitê Executivo Interna- crença de que sofre perseguição por parte do
cional do IDO-C é representar “Informations Cardeal Wyszynski e do Episcopado Polonês
Catholiques Internationales”. Mas ele ali está por causa das tendências “progressistas” que
igualmente em representação do totalmente tem.
progressista “Catholic Establishment” da
França, incluindo o Apostolado Leigo Fran- Esta atitude manifestou-se de modo
cês, do qual foi um dos principais oradores no surpreendente quando uma série de artigos
III Congresso Mundial do Apostolado Leigo sobre a posição da Igreja na Polônia apare-
(cujos “carrefours” dirigiu). Como membro ceu em “La Croix” em fevereiro de 1962. O
do Comitê Executivo Internacional do IDO-C, Revmo. Pe. Wenger, redator-chefe, foi refuta-
Dubois-Dumée tem, portanto, dois papéis dis- do imediatamente por Sacerdotes e leigos que
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 36
Nem um só fato foi desmentido. Pax Em outras palavras, “Znak” rejeita ca-
admitiu que o livro de Lenert havia “circula- tegoricamente a doutrina social do Magistério
do” durante a primeira sessão do Concílio, da Santa Igreja.
mas esqueceu-se de dizer que os Bispos polo-
neses, consultados sobre o assunto, tinham 3 – “Znak” aceita também o apoio
sido unânimes em reconhecer a exatidão dos geral da Polônia à política exterior da Rús-
fatos descritos. É óbvio que Pax teia ver-se sia.
desmascarado na França.
E como a política exterior russa não é
Sim, sua própria existência está com- mais nem menos do que um instrumento da
prometida. Se Pax fosse reconhecido, e uma influência subversiva de Moscou pelo mundo
vez por todas, pelos católicos do Ocidente, inteiro, é de se presumir que “Znak” aceita
como nada mais do que uma agência da rede igualmente isso.
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 37
Catholic Reporter” e a “St. Louis Review”, Mas não foi simplesmente o dinamis-
e também na influente editora “Paulista mo e a experiência norte-americana (pode-se
Press”, em centros de informação como a supor que também os dólares) que levaram o
“Catholic Press Union”, a NCWC, o “Nati- Dr. McEoin a Roma. Sua presença ali confir-
onal Catholic Communications Centre”, de ma a importância crescente do papel que o
Toronto, e dois outros centros similaresde Ot- “American Catholique Establishment” de-
tawa e Montreal, na “Religious News-writers sempenha agora no “International Catholic
Association”, e por último, mas de modo al- Establishment”. Antes de nos aprofundarmos
gum de menor importância, na Rádio Vati- nesse ponto, é necessário deixar claramente
cana e na Rádio Canadá. exposto o significado do termo “Catholic
Establishment” e pedir escusas por haver a-
Isto, entretanto, não foi senão a orga- plicado tal denominação à conspiração pro-
nização inicial. Mais tarde o IDO-C-America gressista, em outro lugar deste trabalho, sem
(como se chama a si mesmo) abriu um centro antes haver explicado nem a origem do termo
de promoção e distribuição em Nova York nem seu significado preciso.
(endereço: Box 265, Baldwin, NY) que forne-
ce regularmente documentação e informações É preciso, primeiramente, deixar bem
às chancelarias, centros de informação religi- assentado que o termo não é nosso. “The Ca-
osa e empresas editoriais, por todo o subcon- tholic Establishment” é como a conspira-
tinente. ção progressista norte-amercana se chama
a si mesma.
Além de organizar-se perfeitamente
nos Estados Unidos, o IDO-C-America deu O termo “Establishment” tem sido
também os passos necessários, para colocar o empregado desde há longo tempo como sinô-
“know-how” e o dinamismo norte-americano nimo de camarilha influente que impões sua
à disposição do centro do IDO-C, em Roma. ideologia, suas formas e, sobretudo, sua von-
Assim, depois de estabelecer o IDO-C- tade, a uma sociedade determinada. Assim,
America em bases firmes, o antigo colunista por exemplo, enquanto o antigo “British Es-
do “Pittsburgh Catholic”, Dr. Gary McEoin, tablishment” representava uma expressão pro-
foi para Roma a fim de ocupar o posto de di- testante de ambições maçônicas, o novo “Bri-
retor-executivo do escritório central do IDO- tish Establishment”, que dá forma a todas as
C, e de reorganizá-lo, segundo fazia constar instituições e partidos políticos do Reino-
um boletim do IDO-C-America, “em prepara- Unido, é uma expressão, em termos de huma-
ção para o Sínodo dos Bispos”. nismo laico e progressista, do ecumenismo
maçônico do século XX (de maneira seme-
À vista do modo eficaz com que foi lhante o novo “American Establishment” in-
violada a reserva do Sínodo e difundidos seus forma a “american way of life”).
segredos (depois de previamente distorcidos)
antes de que ele mesmo fosse apresentado ao Se até o momento não era costume fa-
público e remanejado pelos dóceis “mestres lar de um “Catholic Establishment”, isto se
em Teologia” do IDO-C, não se pode dizer, devia à excelente razão de que até há relati-
certamente, que a “preparação” do Dr. McEo- vamente pouco tempo, apesar de a moral ca-
in tenha deixado algo a desejar. Isto não signi- tólica vir sendo condicionada consideravel-
fica, contudo, que ele tenha desalojado de seu mente pela influência do mundo exterior, no
posto o primitivo chefe do IDO-C, o Pe. Leo seio da comunidade católica como tal não ha-
Alting von Geusau, que continua como secre- via concorrente para a influência da Hierar-
tário-geral. Agora que o Dr. McEoin retirou quia Eclesiástica (que era o único “Catholic
dos ombros do Pe. Leo um trabalho “adminis- Establishment”, o único “grupo de influên-
trativo” tão delicado (como, por exemplo, dar cia”, concebível pelos fiéis) e não tinha senti-
cabo de tarefas tais como a do Sínodo), o in- do inventar algo que representasse uma alter-
fatigável secretário-geral poderá, sem dúvida, nativa em face da Igreja institucional.
dedicar uma parte maior de seu tempo a suas
atividades missionárias.
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 40
Antes do Vaticano II, a única exceção ram-se antes de estabelecer sua influência do
notável a esta regra era a França, onde a Igre- que de vangloriar-se dela. E embora seja certo
ja se encontrava há quase um século em esta- que o “Catholic Establishment” dos Estados
do de guerra civil latente, mas mesmo ali – Unidos tem muito de que se orgulhar, também
até que a influência progressista começasse de o é que o fértil cérebro francês continua sendo
fato a constituir um “Establishment” rival da a verdadeira mola intelectual do “Establish-
Hierarquia Eclesiástica – o termo “Establish- ment” internacional católico [...]. Por todas
ment” foi empregado apenas por aqueles que estas razões devemos ser gratos ao IDO-C dos
buscavam com esta designação indicar que tal Estados Unidos pela sua tolice infantil de des-
desenvolvimento representava de fato o apa- cobrir abertamente não só seus objetivos, mas
recimento de uma “Hierarquia paralela” e era, também sua maneira de atuar, e até seus per-
em conseqüência, totalmente intolerável. sonagens-chefe, permitindo que não nos en-
ganemos a respeito das pretensões norte-
Foi somente nos Estados Unidos – e americanas. [...].
mesmo ali, muito recentemente: em dezembro
de 1966, para sermos mais exatos – que a
VII . Anatomia do “Catholic Esta-
conspiração progressista se intitulou descara-
blishment”
damente a si mesma “The Catholic Establi-
shment”. Isso posto, voltemos ao exame do
“Catholic Establishment” dos Estados Unidos
Não há medida mais assustadora das e vejamos o que ele diz de si mesmo.
dimensões da crise no seio da Igreja em nos-
sos dias, do que o reconhecimento, às escân- É característico que ele nunca discute
caras, de algo que, até ontem, teria parecido explicitamente o Magistério da Igreja. Para
um estado de coisas incrível: a afirmação ex- liquidar a influência efetiva deste, prefere
plícita, pela conspiração progressista, de am- simplesmente ignora-lo, determinando por si
bições que, anteriormente, tinham sido ao mesmo o que a Igreja e os fiéis devem pensar
menos negadas calorosamente, mesmo pelos e fazer.
mais subversivos liberais, sempre que se a-
firmava terem eles tais pretensões. Entretanto, Como diz John Leo – jactando-se
como veremos, o que se auto-intitula “Catho- descaradamente, não apenas da existência do
lic Establishment” nos Estados Unidos jacta- “Catholic Establishment”, mas também de seu
se abertamente de que quem governa hoje em poder, em famoso artigo intitulado “The Ca-
dia o pensamento da comunidade católica é tholic Establishment” (“The Critic”, dezem-
ele mais que o Magistério Eclesiástico. bro de 1966-janeiro de 1967): “O “Establish-
ment” é que decide o que os católicos devem
Precisamente porque o emprego do discutir, não somente por meio das publica-
termo “Catholic Establishment” põe em evi- ções que lhe pertencem, mas, de certo tempo
dência quais são, por toda parte, as últimas para cá, por meio de quase todos os jornais e
ambições do progressismo, é que nós o esco- círculos de estudo católicos, de uma a outra
lhemos – a bem da clareza – para designar a costa”. Depois de acrescentar significativa-
conspiração progressista espalhada por toda a mente: “A discussão nos Estados Unidos so-
terra. Mas é ele particularmente apropriado bre o controle da natalidade, por exemplo, foi
para descrever o progressismo europeu, uma inteiramente uma produção do “Establish-
vez que o “Catholic Establishment” nos Esta- ment”, passa John Leo a explicar pormenori-
dos Unidos não é mais do que a extensão para zadamente como isso foi feito entre 1963 e
o outro lado do Oceano, da conspiração pro- fins de 1964, pela utilização do que se cha-
gressista européia, cuja vanguarda francesa mou na Holanda de “terrorismo progressista
foi desmascarada com tanta precisão por Jean sobre a opinião pública católica”.
Madiran, em meados da década de 1950.
Como este “redator do Establish-
Desnecessário é dizer que os progres- ment”, segundo ele se chama a si mesmo,
sistas franceses, por serem franceses, ocupa- também reconhece, não hesitando em citar o
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 41
Pe. John Hugo no mesmo artigo de “The Cri- Leo oferece-nos então numerosos e-
tic”, revista sabidamente do “Establishment”: xemplos de como essa “diretoria coesa e bem
este último “é uma pequena camarilha de elo- sincronizada” opera para impor sua vontade à
gios mútuos, ainda que às vezes pareçamos opinião pública católica e, por meio dela, à
em desacordo cortês no primeiro momento”, a Igreja. Faz-nos saber, por exemplo, que os di-
qual “apoderou-se de todos os microfones em retores de “Cross Currents” e The Critic” (Jo-
sua determinação de falar pela Igreja...”. E seph Cuneen e Dan Herr, respectivamente)
põe-se então a dizer-nos quem são estes “rap- pertencem ambos ao quadro de direção do
tores de microfones”: “National Catholic Reporter”; que outro dos
diretores de “Cross Currents” (William Bir-
“os raptores de microfones constituem mingham) dirige “Mentor-Omega”, que pu-
uma fraternidade não rígida, mas exclusiva, blica livros de bolso, ao mesmo tempo que
de várias dúzias de eruditos, jornalistas, ati- trabalha durante meio expediente em “Com-
vistas e editores. Escrevem para os periódi- monweal”; que Justus George Lawlor, redator
cos católicos mais influentes e editam... Pu- de “Continuum”, que escreve igualmente para
blicam os manuscritos uns dos outros, fazem “Commonweal”, é redator-chefe da editora
recíprocas e calorosas recensões de seus res- partidária do “Establishment”, Herder e Her-
pectivos livros, citam-se mutuamente nas con- der, e escreve ainda para “New Blackfriars”;
ferências que se convidam uns aos outros a que a editora americana “Sheed and Ward” é
dar, reúnem essas conferências e artigos em dirigida pelo antigo redator de “Commonwe-
livros para um novo turno de discussões favo- al” e colunista de “Critic”, Philip Sharper; que
ráveis”. o mesmo Wilfried Sheed que está agora em
“Commonweal” estava anteriormente em
O “Establishment” é liberal, progres- “Jubelee”; e que a figura-chave do “Establi-
sista, muito polido, desconfia das instituições, shment”, Michael Novak, tem acesso a todos
é antibelicista (mas em grande parte não pa- os periódicos e editoras do “Establishment”.
cifista), semi-clerical e semi-laico; dedica-se
principalmente aos problemas internos do Oferece-nos ainda Leo diversos exem-
Catolicismo. Seus membros não são necessa- plos de como os membros do “Establishment”
riamente os católicos mais brilhantes ou mais se elogiam mutuamente, fabricando para si
conhecidos de sua terra, e muitos poucos o- mesmos reputações “sintéticas” (menciona
cupam posições oficiais na Igreja. Isso não em particular o caso do teólogo canadense
lhes interessa, eles são o “Establishment”. Bernard Lonergan, transformado em um co-
losso mediante uma operação combinada de
O trabalho principal do “Establish- Justus George Lawlor e Michael Novak, apear
ment” é a preparação e edição das publica- do fato de que praticamente ninguém leu Lo-
ções que deverão dominar a vida católica nergan); e de como o “Establishment” se lan-
norte-americana. Isto se obtém principalmen- ça em defesa dos “perseguidos” (por exemplo,
te por meio dos seis periódicos do “Establi- heróis do “Establishment” que incorreram em
shment”, todos eles, editados por leigos: “Na- penas eclesiásticas, como o extremista jesuíta
tional Catholic Reporter”, “Cross Currents”, Pe. Daniel Berrigan), da mesma maneira que
“Jubilee”, “Commonweal”, “Continuum” e se montou a operação inglesa “Slant” –
“The Critic”. Fornecem eles contatos com as “Newman” para defender o Pe. Herbet Mc-
editoras, os ambientes universitários, os jor- Cabe, O.P., na primavera de 1967.
nais leigos e o mundo protestante, assim co-
mo com publicistas e publicações periódicas Entretanto, até o próprio Leo admite
de níveis mais modestos, que aceitam as su- que as operações do “Establishment” são difí-
gestões do “Establishment” e funcionam co- ceis de precisar, e isso porque, “como a maio-
mo correias de transmissão de suas idéias. ria dos grupos congêneres”, o “Catholic Esta-
blishment” “progride imperceptivelmente pela
No papel, o “Establishment” asseme- atuação pessoal de seus membros que com-
lha-se a uma diretoria coesa e bem sincroni- partilham aspirações comuns”. E acrescenta
zada...”. significativamente: “Embora seja difícil inti-
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 42
em grande parte graças aos contatos deste tem podido explorar em benefício de sua cau-
com jornais leigos, com o mundo protestante sa o oportunismo, a indiscrição e o insensato
e com os setores mais “progressistas” (leia-se desejo de aventuras dos oportunistas de es-
sionistas) da comunidade judaica. Como con- querda e de direita do progressismo, os quais,
seqüência de tais ligações, o “Catholic Esta- abandonados a seus próprios impulsos, não
blishment” pode atrelar a seu carro a força in- teriam conseguido senão destruir-se mutua-
crivelmente persuasiva da “mass media” leiga mente e desacreditar o progressismo como tal.
da América do Norte contemporânea. Do modo como estão as coisas, no entanto,
ambas as alas levam água para o moinho do
A seu tempo examinaremos os conta- “Establishment”: os irresponsáveis com sin-
tos e as ligações do “Catholic Establishment” tomas de lunáticos, fazendo com que, compa-
em todo o mundo. Antes de o fazer, contudo, rativamente, o “Establishment” pareça sensato
convém deixar perfeitamente esclarecido o e quase como um bastião da ortodoxia ante os
que o “Catholic Establishment” é e o que não olhos da Autoridade (particularmente se se
é. leva em conta a completa insensatez de alguns
ultra-“tradicionalistas”); enquanto os que es-
IX – A verdadeira natureza do “Ca- tão comprometidos dentro do campo progres-
tholic Establishment” sista permitem ao “Establishment” mostrar até
que ponto é substancial a diferença entre um
Digamos em primeiro lugar o que ele flexível serviço à causa e a traição à mesma.
não é. Ainda que, com toda a certeza, se trate
de uma liga de díspares (John Leo não vacila Em suma, o “Establishment” se com-
em descrevê-la como um tipo de “conspira- põe dos iniciados, os iluminados, os “illumi-
ção”), combativos sem dúvida, e que não são nati” do campo progressista, e é o núcleo que
senão progressistas, descrever o “Establish- orienta a este tanto dentro da Igreja quanto em
ment” simplesmente como uma liga de mili- suas relações com o mundo exterior.
tantes progressistas seria falhar por completo
na hora de indicar sua natureza essencial. O X . “Catholic Establishment” e
“Establishment” é essencialmente exclusivis- “Secular Establishment”
ta. Exclui sem hesitação pessoas como Mons.
Higgins e o Pe. Greeley apesar do prestígio No que concerne às relações do “Esta-
que possam ter, pelo fato de estarem com- blishment” católico com o mundo exterior,
prometidos com a “burocracia” eclesiástica existem cinco nomes de significação especial:
“não iluminada”, e também se dissocia do ul- Richard Horchler, que é o representante do
tra-progressista Pe. Dubay e do ultravanguar- “Establishment” na Conferência Nacional de
dista “Ramparts” (admirando embora a am- Cristãos e Judeus; John Cogly, anteriormente
bos, de certa maneira). Faz isto assim como o em “Commonweal” e agora no “New York
Partido Comunista expulsa os “revisionistas” Times”; o falecido Pe. John Courtney-
da ala direita e os intransigentes da esquerda, Murray, S.J., arquiperito do Vaticano II;
e no fundo pela mesma razão: a necessidade Donald McDonald, que escreve em numero-
de conservar intato um rijo núcleo de inicia- sas publicações diocesanas e foi decano da
dos, com cuja absoluta fidelidade à causa se Escola de Jornalismo da “Marquette Univer-
possa contar, e que ao mesmo tempo saiba ser sity”; e George N. Shuster, que também per-
infinitamente flexível. tencia anteriormente a “Commonweal” e é a-
tualmente presidente-adjunto da “Notre Dame
O “Establishment” é exclusivista não University”. Cogley, Murray, McDonald e
somente porque sabe avaliar a imensa dife- Shuster estão envolvidos ativamente nos as-
rença que há entre ser progressista e ser efi- suntos do Centro de Estudo das Intituições
cazmente progressista, mas sobretudo por que Democráticas, que melhor se pode descrever
está decidido a ser eficaz ou não ser nada. como sendo o máximo pilar do “Secular Es-
Precisamente mediante esse exclusivismo, e tablishment”.
insistindo em determinado tipo de disciplina
para os iniciados, é que o “Establishment”
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 45
O “Centre for the Study of Democratic Esta ligação com o “Secular Establi-
Institutions” é um rebento do Fund for the shment” lhe é totalmente indispensável para
Republic, e o presidente de ambos é o pole- alcançar os objetivos propostos. Porque, em
mista Robert M. Hutchins. O Centro é, sob virtude dessa ligação com o Centro – auxilia-
as ordens de Hutchins, um claro exemplo do da, naturalmente, pelo posto-chave que John
que às vezes se chama de “sinarquismo”; re- Cogley ocupa no “New York Times”, para o
presenta um amontoado de humanistas laicos qual atuou como redator religioso durante o
de todos os matizes (incluindo representantes- período crítico do Vaticano II – o “Catholic
chave do Partido Comunista), católicos pro- Establishment” conseguiu que sua voz ecoas-
gressistas, protestantes modernistas, maçons, se e fosse difundida por meio da atualmente
judeus, tecnólogos liberais, angustiados peri- quase onipotente “mass media” leiga. E, em
tos em demografia, ardorosos planificadores conseqüência, foi-lhe possível criar a impres-
da família, senhores ultra-humanitários, paci- são de que, enquanto a Igreja “pré-conciliar”
fistas irredutíveis (cuja ênfase, não é preciso era um “ghetto”, fechado, afastado por com-
dizer está toda posta sobre o Vietnã), coexis- pleto dos assuntos da sociedade humana, a
tencialistas frenéticos – todos sumamente “in- nova, a que olha para o amanhã, a Igreja en-
telectuais”, e dados a olhar para o amanhã – e cabeçada e dirigida pelo “Establishment”, é
todos eles apresentando o denominador co- capaz de dizer uma palavra decisiva nos con-
mum de uma perspectiva que de um lado con- selhos e assembléias da sociedade humana, e
sidera a paz de nosso planeta com indepen- quem quer que se interponha no caminho da
dência de Deus, e de outro, com generosa sua marcha para a frente não pode ser amigo
condescendência, aprova sem a religião na de Deus.
medida em que (segundo palavras de uma pu-
blicação do Centro) ela é concebida como al- Naturalmente, se a imprensa católica
go “útil” e “para o serviço da comunidade”. O tivesse conservado incorrupto seu sal, teria
Centro aceita, sem discussão e como um ine- destruído com suma facilidade tais preten-
vitável fato da vida, o que seu presidente des- sões; bastaria fazer ver que, longe de ser o eco
creve como uma existência – a nossa – “inte- da voz da Igreja no seio da sociedade leiga, o
grada no sistema técnico como as engrena- “Establishment” é simplesmente o prestativo
gens na máquina e como uma claque automá- porta-voz do mundo no seio da Igreja. Assim
tica”. O Centro deplora a educação religiosa se configurava a situação, até que a imprensa
na escola 9embora magnanimamente a tolere católica foi amplamente colonizada pelo “Es-
nas paróquias), e assim, por exemplo, diz que tablishment”, até que o conformismo mais
as escolas católicas “podem ser toleradas en- uma vez mostrou ser a primeira lei da famosa
quanto não cheguem a constituir uma amea- “american way of life”, e muito antes que e-
ça” para o bem estar comum; procura eventu- clesiásticos e editores diocesanos, sôfregos de
almente promover uma fusão do comunismo e publicidade, se encarapitassem uns sobre os
do capitalismo sob os auspícios de “algum outros para ver quem conseguia trepar mais
sistema de governo mundial”, mas no mo- espetacularmente na carroça da banda que
mento se contenta em apoiar objetivos “práti- lhes parecia tão atraente.
cos”, - tais como o ingresso da China Verme-
lha na ONU, o afastamento dos Estados Uni- Dada esta atmosfera, que condicionou
dos do Sudeste asiático, e, naturalmente, a re- desde então, e durante estes últimos anos, a
visão, em todos seus aspectos, da política ex- vida católica dos Estados Unidos, dada i-
terior do Ocidente, que parece muito recalci- gualmente a repugnância da Igreja institucio-
trantemente anticomunista. Tal é o fundamen- nal a ver-Se envolvida em assuntos políticos,
to do “Secular Establishment” com o qual o o “Establishment” tem dado prosseguimento à
“Catholic Establishment” procura estabelecer sujeição da Hierarquia Eclesiástica ao que é
ligação por meio de quatro – nada menos do virtualmente uma chantagem. Assim, enquan-
que quatro! – de seus mais expressivos repre- to qualquer Bispo que ouse mostrar-se aber-
sentantes. tamente oposto a qualquer dos objetivos dele
– como sucedeu com o Cardeal Spellman na
questão do Vietnã – logo é atacado e perde
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 46
Pe. Seibel, S.J. – “Stimmen der Zeit” – Cônego François Houtart – FERES –
Munique – Succalistrasse, 16. 116, rue de Flamands – Louvain.
Brasil
Estados Unidos
Colômbia John Cogley – “New York Times” –
Times Square – Nova York.
L. Revollo Bravo – ULAPC – Apto.
Aereo 12333 – Bogotá. Mons. D. Hanley – “Long Island
Catholic” – 53 N. Park Ave. – Rockville Cen-
Pe. Gustavo Pérez – ICODES – Apto. tre, NY.
Aereo 11966 – Bogotá.
R.G. Hoyt – “National Catholic Re-
porter” – P.O.Box 281 – Kansas City (Miss.
64141).
Escandinávia
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 50
Pe. E. Lynch, S.J. – Radio Vaticana – Pe. Ch. Ehlinger – Editions du Centu-
Via Carmeluccie 180 - Roma. rion – 17, rue Babylone – Paris – VIIe.
Gary McEoin – “Catholic Press Union Henri Fesquet – “Le Monde” – 5, rue
– 17 Dodd Street – Nutley NJ (atualmente em des Italiens – Paris.
Roma, a/c IDO-C).
Pe. E. Gabel – “Le Jounaliste Ca-
David Meade – “Chicago Sunday tholique” – 43, rue Sait-Augustin – Paris.
Times” – 401 N. Wabash Ave. – Chicago
111.60611. Pe. René Laurentin – “Le Figaro” –
Grand Bourg, Evry-Petit-Bourg (Seine-et-
R. Kaiser – 19906 Pacific Coast Oise).
Highway – Malibu (Califórnia).
Pe. Rouquette, S.J. – “Etudes” – 15,
Pe. R. Quinn, C.S.P. – 5, Park St. – rue Monsieur – Paris – VIIe.
Boston (mass).
Harold Schackern – Religious News- Pe. Dr. L. Alting von Geusau - IDO-C
writers Association – Detroit Free Press – De- – 30, Via S. Maria Dell’Anima – Roma.
troit (Mich. 48231).
L. Baas – EUROS – Kon. Wilhelmi-
Pe. Sheerin, C.S.P. – Paulist Press, nalaan, 17 – Amersfoort.
Editor, “The Catholic World” – 304, West
58th. Street – Nova York (NY). Pe. Dr. W Goddijn, O.F.M. – Pastoraal
Instituut – ‘s-Gravendijkawal, 61 – Rotter-
Israel Shenker – “Time” – Via dam.
Sardegna, 14 – Roma.
Prof. Dr. J. C. Groot – Willibrord-
Mons. V. Yzermans – NCWC – 1512, Verg – Den Eikenhorst, Esch, post Boxtel.
Massachusetts Ave. NW Washington (DC).
Pe. Dr. E. van Montfoort, A.A. – By-
Martin Work – National Council of santijns Instituut – Sofialaan, 4 – Nimega.
Catholic Men – 1312, Massachusetts Ave.
NW Washington (DC). Dr. H. J. van Santvoort – “Katholiek
Archief” – Kon. Wilhelminalaan, 17 – Am-
Pe. Prof. D. O’Hanlon, S.J. – Alma ersfoort.
College – Los Gatos (Califórnia).
Mej. A.E. van Tol - IDO-C – Pomp-
weg, 22 – Ubbergen.
Itália
Peru
Uruguai
Pe. G. Gutiérrez Merino – Universida-
de de Lima – Apto. 3234 – Lima. L. A. Verissimo – Pedro F. Berreo 871
– Montividéo.
Polônia
Como se vê nesta lista, poucos lugares
Julius Eska – “Wiez” – U. Kopernika, restam no globo terrestre em que o IDO-C
34 – Varsóvia não exerça, neste momento, uma poderosa in-
fluência sobre os meios de comunicação. Esta
Jerzy Turowica – Znak – Lenartowiz- imensamente poderosa “Congregação de Pro-
ca, 3/10 – Cracóvia. paganda Fide” paralela, à disposição da “Hie-
rarquia paralela”, conta com meios os mais
formidáveis para a “lavagem cerebral” dos fi-
Portugal éis e para conformá-los com a vontade do
“Establishment”. Os poucos lugares ainda não
atingidos, sem dúvida receberão em breve a
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 53
visita do peripatético secretário-geral do IDO- poucos dentre eles não são, pelo menos, anti-
C, Pe. Leo Alting von Geusau, uma vez que, anticomunistas; que o IDO-C procura dialeti-
segundo nos informa o boletim do IDO-C in- zar a Igreja tal como o fazem os comunistas;
glês, “desejaríamos acrescentar à nossa lista que há comunistas (como por exemplo Roger
de boletins, ao menos publicações em portu- Garaudy) que encontram no IDO-C o ambien-
guês, árabe, hindi, chinês e japonês, para a- te mais favorável para seus desígnios; que, se
barcar desta maneira as maiores culturas do pudessem, tratariam de o “noyauter” [“nu-
mundo”. cleate”] e fazer dele um instrumento de seus
propósitos (o que provavelmente não está
Ao publicar a lista de nomes que se vê longe de ocorrer na Grã-Bretanha e na Polô-
acima – a qual não é nossa, mas do IDO-C – nia). Mas isso tudo, que é perfeitamente ine-
não queremos insinuar que todas as pesso- gável, não faz do IDO-C uma organização
as que nela figuram procurem consciente- comunista de fachada mais do que influências
mente subverter a Santa Igreja. Como tam- análogas no seio dos sindicatos e das associa-
pouco poderia talvez ajustar-se à verdade a a- ções profissionais fazem do comum delas or-
firmação de que todos aqueles que permitem ganizações de fachada do comunismo.
que seus nomes sejam utilizados pelas organi-
zações comunistas de fachada sejam comunis- O IDO-C é uma fachada, não para o
tas ou, ao menos, e por esta razão, pró- comunismo, mas para o neomodernismo. E as
comunistas. pessoas-chave que manipulam esta máquina
de propaganda tremendamente poderosa e
O objetivo fundamental de qualquer bem lubrificada, não são comunistas, mas
organização de fachada é criar uma aparência simplesmente neomodernistas obcecados e
de respeitabilidade que permita ao núcleo dos contumazes, implacavelmente hostis à autori-
ativistas iniciados introduzir-se em círculos de dade docente da Igreja. São isto, e nada mais
onde teriam sido, de outro modo, escorraça- que isto.
dos. O fato positivo de ser o IDO-C uma or-
ganização de fachada (entre outras coisas) Isto, porém, é, em si mesmo, suficien-
quer dizer que algumas das pessoa acima re- temente alarmante. Se em 1910, três anos de-
lacionadas podem, ainda que sejam de certa pois do anátema lançado contra o modernis-
forma progressistas, ignorar completamente mo na Encíclica “Pascendi”, julgou São Pio X
os fins para os quais estão sendo utilizadas. necessário pôr de sobreaviso contra a existên-
cia de uma sociedade secreta modernista na
Não queremos insinuar tampouco que Igreja, hoje os neomodernistas não têm mais
o IDO-C, pelo fato de lembrar de certo modo necessidade de segredo. O que foi naquela
uma organização comunista de fachada, seja ocasião uma mera sociedade secreta, tornou-
em todos os sentidos uma organização tal. É se desde há algum tempo um escândalo públi-
absolutamente inegável que ele envolve um co, uma pedra de tropeço para todo o povo de
número considerável de pró-comunistas; que Deus. [...].
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 54
O texto de “Ecclesia”
que fosse só isto, já seria merecedor do nosso É bem de ver que esta estrutura tem
mais sincero reconhecimento. também seus riscos, que podem ser, entre ou-
tros:
Conteúdo, estrutura e manifestações
- desmembrar-se horizontalmente da
comunidade e transformar-se num
I . Introdução “ghetto” com complexo de elite;
1 . Os pequenos grupos - viver e atuar à margem das neces-
sidades da comunidade eclesial,
Ao observar o panorama do apostola- constituindo um fator de desagre-
do leigo encontramos um fenômeno: o apare- gação na unidade da Igreja;
cimento e proliferação de pequenos grupos - desvinvular-se da Hierarquia, de
independentes, desligados de toda organiza- uma forma mais ou menos consci-
ção apostólica concreta 6. ente.
Se estes riscos forem superados – a-
Este fato pode obedecer, entre outras
través de uma conexão com as comunidades
causas, à aspiração natural do homem moder-
básicas da Igreja (paróquia, etc.), e de uma
no – inserto em uma sociedade de massas, em
vigilante atenção e docilidade às orientações
que amiúde e de infinitas formas se sente des-
do Magistério (Papa, Bispos) – a fórmula será
personalizado, diluído – de integrar-se em pe-
perfeitamente válida e enriquecedora, e não
quenas comunidades onde, em um clima de
cremos que ofereça motivo algum de inquie-
cálida amizade, sua individualidade, sua per-
tação. Simplesmente coincide com tendências
sonalidade, seja reconhecida e valorizada, e
naturais que se inserem nos novos caminhos
encontre um meio de expressão através de
abertos pelo Vaticano II: o apostolado leigo.
uma participação responsável.
Contudo, esta nova forma de inserção
Junto a esta aspiração, é preciso assi-
do apostolado leigo na Igreja apresenta – em
nalar também a tendência – bastante saliente
um número crescente de casos – certas carac-
em alguns setores – a repelir toda estrutura
terísticas realmente alarmantes, que merecem
que implique numa organização complexa.
séria reflexão e estudo.
Deste ponto de vista, trata-se de ten-
Com efeito, dentro da estrutura flexí-
dências legítimas e respeitáveis, próprias de
vel dos pequenos grupos há alguns que se ca-
nossa época, que têm sua repercussão dentro
racterizam por determinadas constantes, que
da Igreja. Nela, e concretamente no campo do
os tornam inconfundíveis e os situam na órbi-
apostolado leigo, há uma multiplicidade de
ta de uma “corrente”, que corresponde a um
vocações, de opções, de formas, que são per-
sistema de pensamento e a certas atitudes
feitamente legítimas.
concretas. Esta corrente se autodefine como
Por isso, os pequenos grupos podem “corrente profética” 7.
ter sua razão de ser hoje em dia, e sua dinâmi-
Dela – tanto em suas idéias, como em
ca pode até oferecer um meio de canalizar se-
suas atitudes – participam, em maior ou me-
tores da Igreja até agora passivos, que não
nor grau e de maneira mais ou menos consci-
participariam de outro modo nas tarefas da
ente, todos os membros destes grupos.
evangelização.
Isto se deve a que – apesar de sua apa-
rente dispersão e variada fisionomia no âmbi-
to da Igreja Universal – os grupos estão liga-
6
I.C.I., no. 303, p 6, François Houtart: “É necessário descobrir, como fenômeno recente e dos entre si, tanto através de pessoas como de
em vias de aceleração, o aparecimento de pequenos grupos de leigos que às vezes tomam
verdadeira importância, e se estabelecem fora dos quadros oficiais, sem vínculo orgânico
com a Hierarquia, se bem que permanecendo dentro da Igreja”.
Episcopado e os dirigentes mais “dinâmicos” Para descobrir “os sinais dos tempos”
a respeito da forma concreta de adaptação dos utilizam as modernas técnicas de investigação
princípios fundamentais do apostolado leigo, social: sociologia e estatística. Esta utiliza-
formulados pelo Concílio, a diversas situa- ção, que é necessária, padece, neste caso, de
ções e países. alguns vícios fundamentais:
“ressacralizar o mundo”, mas “dessacralizar a A figura do ateu adquire aos olhos de-
religião”9. les uma nova dimensão. Não se trata de uma
pessoa diminuída e incompleta, como se nos
O ateísmo e secularização fez crer repetidamente. Pelo contrário, apare-
ce amiúde como um homem “de elevada esta-
Como resultado deste estudo do mun- tura” que “caminha na vanguarda”, que tem a
do, encontram-se eles diante de um fato evi- coragem de viver encarando seus problemas e
dente: o fenômeno maciço do ateísmo. Esta os do mundo, sem a ajuda de “Um Deus su-
realidade inegável se generaliza e radicaliza porte” ou “um Deus explicação”.
de tal forma, que chegam à conclusão de que
o homem é hoje essencialmente ateu, repele Esta admiração leva-os a se pergunta-
toda religião e só admite ajuda para promo- rem em que se diferencia um cristão de um
ver-se cultural e socialmente. Aprofundando ateu. Sua resposta é desconcertante: - “Várias
as causas do ateísmo, resumem-nas dizendo vezes temos tocado neste ponto, nas discus-
que se trata de um fenômeno coerente e lógi- sões, sem haver obtido respostas satisfatórias”
co e que corresponde em sua totalidade ao 11
.
“contra-testemunho” dado pelos cristãos, tan-
to individual, como comunitariamente. A valorização do ateu estende-se tam-
bém ao ideal moderno e ateu do mundo; um
- “O mundo não é ateu por sua cul- ideal que consideram ter alcançado metas di-
pa, mas por nossa culpa”. ante das quais os cristão temos fracassado es-
- “Fizemos de nosso Deus e de nos- trepitosamente, e que cedo ou tarde acabará
sa Igreja um espantalho, o qual é por se impor.
lógico que desprezem aqueles que
amam a sinceridade, a liberdade, a Essa sensação de frustração, junto com
responsabilidade, e ao qual contu- a valorização da eficácia imediata, é a causa
dopermanecemos fiéis, para ver- do deslumbramento deles diante do marxis-
gonha nossa”. mo, que os leva a aceitar uma colaboração es-
- “Desfiguramos de tal modo a face tável nas tarefas de transformação da socieda-
da Igreja, que Ela não pode ser a- de, especialmente no campo sindical e políti-
ceita pelos homens”. co.
- “Em lugar de apresentar um Deus A conclusão desta análise é que o ate-
vivo, encarnado, realista, nós cris- ísmo não é, afinal, senão um processo de se-
tãos alimentamos com tanta fre- cularização.
qüência de lendas e mitos religio-
sos, que temos sido incapazes de Seu conceito de secularização não se
convencer” 10. limita a:
Por outro lado, afirmam que o ateísmo
- reconhecimento da autonomia das
pode tornar-se um fato positivo: mais do que
leis naturais;
de “perda de fé”, dever-se-ia falar de um pro-
cesso de purificação e de maturidade. O - valorização, em justa medida, das
homem de hoje, liberado pelo progresso cien- realidades temporais, sem referên-
tífico de um estado ancestral de mitificação, cias ou explicações pseudo-
substitui os mitos religiosos por algo mais ra- sagradas ou pseudo-religiosas;
cional, portanto mais em consonância com - supressão dos abusos em que o
sua natureza. homem e o cristão tenham podido
cair em determinadas épocas ou si-
tuações; mas entendem a secula-
rização como uma supressão radi-
9
O Pe. Congar assinalou e refutou esta idéia em sua conferência “O apelo de Deus” diri-
gida ao III Congresso Mundial do Apostolado Leigo, celebrado em Roma em outubro de
1967. O texto integral desta conferência foi transcrito na obra de Congar “A mês frères”,
Editions du Cerf, 1968, capítulo III, pp. 77-104.
10 11
L. Evely : “Uma religião para nosso tempo”, pp. 27-28. L. Evely: obra cit., p. 31.
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Alceu Amoroso [Lima], membro da Comissão Pontifícia Justiça e Paz, escreve em um arti-
go intitulado “A propósito das vítimas da violência: Camilo Torres, Che Guevara e Régis
Debray (I.C.I., no. 301, p. 21): “Posso louvar sem receio o heroísmo destes três homens
pouco comuns: um Sacerdote, um filósofo e um médico... Não posso negar que estas três ví-
15
timas da violência representam, em nossa época de pragmatismo tecnológico, não somente I.C.I., no. 319, p. 1, editorial: “A autoridade do Magistério pontifício é hoje objeto de ve-
um exemplo do que há de mais puro na natureza humana, a saber: a capacidade de sacrifí- ementes debates. Em vários países ouve-se falar de “crise de autoridade”. Nós não somos
cio por uma causa justa, mas também um protesto desesperado da dignidade humana con- indiferentes nem alheios a esse debate. Parece-nos inevitável e sadio em uma Igreja viva”.
tra o pessimismo, a falsa felicidade e a injustiça da civilização; contra a prosperidade fun-
16
dada sobre a justiça”. I.C.I., n0. 313-314, p. 15: “Vêem-se até grupos destes cristãos que abandonam a Igreja,
separam-se praticamente dela. Há movimentos de jovens cristãos comprometidos, nos quais
13
J. Grotaers: conf. Cit., pp. 14-16. já não se fala da Igreja, nos quais não se sente nenhuma angústia ante a situação da Igreja:
estes cristãos se mantém fora dela; conservando ainda a fé cristã, não vêem nenhuma razão
14
I.C.I., no. 321, pp. 11, 12, 13: “Os jovens irrompem no Katholikentag”. Ibid., no. 321, p. para permanecer nas comunidades cristãs”.
13: “Ocupação da Catedral de Parma”, Ibid., no. 319, p. 7: “Ocupação da Catedral do
17
Chile”. Ibid., no. 315, pp. 36 e ss.: “Les agitations de l’Eglise “contestatrice” à Lille”. Tex- G. Casallis, em I.C.I., no. 303, p. 8, cita a teoria de Robinson segundo a qual a Igreja de-
tos transcritos na Parte III – 4, deste estudo, “Desenvolvimento e manifestações concretas”. ve aceitar a morte como realidade social “para participar do aniquilamento de Cristo”.
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 60
18
Nicolás Boulte, presidente da JUC francesa, em “Le Monde”, 3 de novembro de 1965
19
(ver anexo nos. 1-2) L. Evely: obra cit. Pp. 27-29.
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 61
Ver também Parte III – 3, deste estudo, “Manifestações concretas”: “França: A Igreja e a
revolução. A revolução na Igreja”.
21
J. Grotaers: conf. Cit., pp. 8, 11, 13.
22
Exemplo disso é o caso da JEC/F francesa na crise de 1965. Os dirigentes que se demiti-
ram para manter seus compromissos com a UNEF (União Nacional de Estudantes France-
23
ses, integrada na Internacional marxista UIE) fundaram um movimento – a JUC – que se I.C.I., no. 315, pp. 36 e ss. (transcrito na Parte III – 3). O movimento “Bíblia e Revolu-
autodefiniu como “profético”. (Ver anexo no. 1). ção” pede que “um próximo Concílio se efetue contando com a base”.
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 62
24 26
J. Grotaers: conf. Cit. Pp. 13 e ss. L. Evely: obra cit., p. 28.
25 27
J. Grotaers: conf. Cit., p. 9. L. Evely: obra cit., p. 28.
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 63
29
“Fêtes et Saison”, agôsto-setembro de 1967, no. 217 (dedicado integralmente à prepara-
ção do III Congresso Mundial do Apostolado Leigo), p. 9.
30
28
J. Grotaers: conf. Cit., pp. 14-16.
I.C.I., no. 321, pp. 31-32. I.C.I., no. 319, p. 18. “La Vie Catholique Illustrée”, no. 1156,
pp. 34 e ss.: “Ponho meu filho na escola leiga para que sua fé seja mais verdadeira. A cons- 31
J. Grotaers: conf. Cit., pp. 14-16.
tatação de outras confissões religiosas e do ateísmo em professores e alunos obriga-o cons-
tantemente a pensar na sua fé e depurá-la, reduzindo-a ao essencial”.
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resposta aos problemas da fome, da justiça, do Somente depois de quatro séculos, no Vatica-
desenvolvimento. no II, a Igreja reconheceu seu erro.
Em apoio desta teoria um dos textos mais utilizados é a recente obra de Hans Kung, “A I-
greja”, especialmente o capítulo dedicado ao estudo da “Igreja carismática”.
34
“Fêtes et Saisons”, agosto-setembro de 1967, no. 217, pp. 12 e ss.: “O essencial é amar,
e ordenar o comportamento do amor. A moral conjugal não tem sentido para um casal que
32
Ver parte III – 3, “Manifestações concretas”: “Alemanha Federal. Alemanha Oriental”. se ame verdadeiramente... O pecado é não amar”. I.C.I., no. 319, p. 25.
“Catolicismo” n.o 220-221 – Abril/Maio de 1969 – Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja 65
tão capacitados a enfrentar algumas das ques- ção e discussão dos leigos, todos os proble-
tões mais candentes. mas que atualmente se suscitam no mundo e
na Igreja (doutrinários, teológicos, políticos,
Os sacramentos sociais, etc.)37 .
A paróquia deve prescindir de todas as O único meio para que a Igreja adqui-
atividades organizadas sob sua tutela: escola, ra esta “nova face” é “a democratização radi-
patronatos, obras de caridade, bibliotecas, cal”, já que, diante de uma Hierarquia sempre
clubes esportivos, etc. remissa, só a pressão dos leigos pode tornar
realidade as mudanças necessárias.
Isto não quer dizer que os cristãos de-
vam desinteressar-se de todas estas atividades Esta democratização da Igreja supõe:
e formas de ação. O que antes faziam como
membros da paróquia, eles o farão depois em 1 – que o “sensus fidelium” condicio-
instituições estatais, em colaboração com os ne de maneira efetiva as decisões da Hierar-
não crentes. quia;
- não aceitamos que um Sacerdote seja - as boas palavras a que não se seguem
transferido sem consulta aos fiéis diretamente efeitos positivos,
afetados;
- a convivência da Igreja institucional
- denunciamos o desequilíbrio existen- com os poderosos,
te nas situações econômicas respectivas dos
- a opressão da Igreja sobre as consci-
Sacerdotes da Diocese;
ências,
- opomo-nos a que se continue a gastar
- a condição do Sacerdote.
dinheiro na manutenção do semanário católi-
co diocesano, subproduto do clericalismo “Como não acreditamos nas possibili-
burguês; dades de diálogo na Igreja, recorremos a um
gesto violento: a ocupação da Catedral”.
- consideramos urgente reformar os
seminários para que deixem de produzir Sa-
cerdotes subcultos; México
- constatamos com dor que estas situa- Quarenta e oito organizações de leigos
ções intoleráveis são a conseqüência lógica da mexicanos pedem a reforma das estruturas e
Igreja entendida como autoritarismo e apoio da autoridade da Igreja. “O estilo da vida ca-
do poder constituído. tólica não dá lugar à honestidade, à crítica, à
discussão aberta e pública” ( I.C.I., 1º de se-
tembro de 1968, p. 7 ).
Chile
Ocupação da Catedral de Santiago Uma formação estudantil em
do Chile ( 2 de agosto de 1968 ):
escala mundial
Uns duzentos cristãos, que se declara-
ram membros do movimento “Jovem Igreja”, ( I.C.I., nº 313-314, junho de 1968, pp.
celebraram a Eucaristia entre si e depois pro- 14-15 ).
moveram uma entrevista coletiva à imprensa. Pequenas minorias de caráter “caris-
No dia 13 de agosto os ocupantes ex- mático” e “profético” arrastaram à agitação as
plicaram o sentido de seu gesto, em um mani- massas de estudantes em todo o mundo.
festo publicado no jornal comunista “El Si- Os diferentes pretextos de ordem ma-
glo”, sob o título: “As estruturas da Igreja im- terial ou moral, que constituíam o ponto de
pedem o compromisso com o povo e com sua partida desta agitação – falta de locais, falta
luta”. de liberdade acadêmica, escassez de professo-
O manifesto é um requisitório “contra res, protestos contra o racismo, a guerra do
a estrutura do poder de dominação e de rique- Vietnã, o autoritarismo do Estado, etc. - fo-
za, na qual se exerce freqüentemente a ação ram constituídos por um sentimento revolu-
da Igreja, e contra a mentalidade das organi- cionários mais geral: a “contestação” global
zações que condicionam e adulteram o traba- da sociedade.
lho da Hierarquia Eclesiástica”. Esta “contestação” da sociedade civil
É ao mesmo tempo um arrazoado: inclui também a “contestação” das estruturas
atuais da comunidade eclesial.
- em prol de uma estrutura evangélica,
E isto ocorre também tanto nas Uni-
- de uma igreja pobre, livre, aberta ao
versidades católicas como nas Faculdades de
homem.
Teologia católica e protestante.
Tudo é objeto de crítica e “contesta-
Por toda parte, mas sobretudo na A-
ção” ( protesto global ):
mérica Latina, os estudantes revolucionários
- o Congresso Eucarístico, adotam “uma forma de renovação marxista”.
- a viagem do Papa, Sem excluir os estudantes cristãos, que, como
todos, chegaram a ver num marxismo renova-
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do ( científico, mas recusando a ortodoxia de se fala da Igreja, porque a Igreja não importa.
Moscou ) a única força viril capaz de afrontar Ainda que digam conservar a sua fé, não vê-
a revolução. em já razão para permanecer nas comunida-
Os cristãos, partindo da mesma análise des cristãs.
da situação e das mesmas reflexões que os Ante a recusa da Igreja de autorizar o
marxistas, passam a tomar parte nos mesmos compromisso político dos movimentos de es-
compromissos. tudantes cristãos como tais, os elementos
Não crêem que seja preciso assumir mais dinâmicos destes movimentos saem da
“uma atitude cristã específica” perante os a- Igreja.
contecimentos. Na Europa as juventudes estudantis
Não vêem contradição entre o mar- cristãs estão ainda absorvidas por suas rela-
xismo científico e sua fé cristã. Pelo contrário, ções jurídicas com a Hierarquia Eclesiástica,
pensam que sua fé tomará neste combate re- mas em alguns países ( entre os quais a Espa-
volucionário uma nova forma de expressão. nha ) começam já a refletir séria e abertamen-
te sobre os problemas atuais de nossa socie-
Entre eles há grupos que se separam dade.
praticamente da Igreja. Há movimentos de jo-
vens cristãos comprometidos, nos quais já não
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ÍNDICE
EM ASCENSÃO TRIUNFAL........................................................................................................................... 3