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NOTA DO FÓRUM MINEIRO DE COMBATE AOS

AGROTÓXICOS (FMCA) AOS CONSELHEIROS DE


SAÚDE DE MINAS GERAIS

Tendo em vista que o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos no mundo e que o
estado de Minas Gerais é o 4° estado que mais consome agrotóxicos no país e 3° no
ranking nacional de intoxicações por agrotóxicos, produtos sabidamente causadores
de graves danos à saúde da população, nós, organizações abaixo subscritas,
convocamos esta municipalidade a tomar conhecimento do que está sendo proposto
sobre o uso de agrotóxicos na agricultura brasileira, assunto que influenciará
fortemente as condições de vida das futuras gerações e a preservação da nossa
biodiversidade, bem como a participar dos debates.

Encontram-se em curso duas propostas de modificação da legislação brasileira


relacionada aos agrotóxicos. A primeira delas, que está contida no Projeto de Lei (PL)
nº. 6.299/2002, propõe a retirada da autonomia da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) do controle sobre o registro de agrotóxicos no país e transfere a
competência exclusivamente ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa). Dessa maneira, a proposta restringe a atuação dos órgãos de saúde e meio
ambiente em todo o processo de liberação e controle desses produtos, concentrando
as competências no órgão da agricultura, que não possui a competência técnica
necessária para as análises e estudos que precisam ser feitos, em especial os que
prejudicam a saúde das pessoas e o meio ambiente. Além de facilitar a entrada de
agrotóxicos proibidos em outros países no Brasil, essa proposta também facilitará o
processo de registro desses produtos. Observe-se que a redução do tempo de
aprovação de uma nova substância pelos órgãos competentes não precisa de mais
uma lei no país, apenas de medidas administrativas que possibilitem a melhoria da
tramitação dos processos.

Este PL n.º 6.299/02, aprovado Comissão Especial da Câmara dos Deputados em


25/06/2018, corresponde a uma série de modificações no sistema de regulação de
agrotóxicos, seus componentes e afins, em nome de uma suposta desburocratização e
modernização legislativa, sem considerar os incalculáveis riscos à saúde e ao meio
ambiente associados ao uso destes compostos. Entre os riscos a saúde, a exposição e o
consumo de agrotóxicos podem provocar sintomas de intoxicação agudos e crônicos,
bem como efeitos neurotóxicos, teratogênicos, lesões hepáticas, arritmias cardíacas,
alergias, asma brônquica, cânceres, fibrose pulmonar, entre outros. Entre os riscos
ambientais está à redução da biodiversidade pela eliminação de diversos seres vivos e
a contaminação da água e dos alimentos.

Assim, diversas entidades já se posicionaram contrariamente a sua aprovação, tais


como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Associação Brasileira de
Agroecologia (ABA), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Anvisa, a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia (SBEM), o Instituto Nacional de Câncer (Inca); Conselho Nacional dos
Direitos Humanos, Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), o Ibama,
Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e a Organização das Nações Unidas (ONU),
dentre outras.

Em outra direção, está a outra proposta contida no PL nº. 6.670/2016, que institui a
Política Nacional de Redução de Agrotóxicos – PNARA, aprovada na Comissão
especial da Câmara dos Deputados no último dia 04/12/2018. A política possui o
objetivo de implementar ações que contribuam para a redução progressiva do uso de
agrotóxicos na produção agrícola, pecuária, extrativista e nas práticas de manejo dos
recursos naturais, com ampliação da oferta de insumos de origens biológicas e
naturais, contribuindo para a promoção da saúde e sustentabilidade ambiental, com a
produção de alimentos saudáveis. Dentre os propósitos do PNARA está o de garantir o
acesso à informação, à participação e o controle social quanto aos riscos e impactos
dos agrotóxicos à saúde e ao meio ambiente, incluindo dados de monitoramento de
resíduos de agrotóxicos e a promoção da produção orgânica e de base agroecológica e
o de aprimorar o controle, o monitoramento e a responsabilização, no que tange à
produção, comercialização e uso dos agrotóxicos.

Entendemos que qualquer ação que leve à alteração dos mecanismos legais de
proteção à saúde e ao meio ambiente quanto ao uso de agrotóxicos precisa ser
amplamente debatida com a sociedade brasileira, numa campanha de esclarecimentos
básicos sobre o tema, o que jamais ocorreu em relação ao texto do Projeto de Lei
6299/02.

Assim, este é um momento crucial para a mobilização de todos os núcleos vivos da


sociedade e composição de um movimento de resistência às mudanças na legislação
de agrotóxicos. Ambos os projetos de lei serão, em breve, colocados em pauta no
Congresso Nacional e somente uma mobilização maciça da sociedade pode fortalecer
o controle do uso de agrotóxicos no Brasil, que é o desejável para a sociedade.

Desta forma, esperamos que os responsáveis pelo Controle Social possam estar
profundamente envolvidos nessa Campanha e possam divulgar e debater, no âmbito
de seus territórios, quais serão os impactos dessas mudanças. Devemos, contudo,
esclarecer que não se trata de uma guerra ou luta política, mas de um movimento
consciente cujo foco deve ser sempre a saúde da população, tanto no presente como
no futuro, e a preservação de meio ambiente.

Assinam essa NOTA:

Fórum Mineiro de Combate aos Agrotóxicos, representando as seguintes instituições:

- Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana (AMAU)


- Articulação Mineira de Agroecologia - (AMA)
- Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) - Grupo Temático de Saúde do
Trabalhador (GT ST
– ABRASCO)
- Central Única dos Trabalhadores/CUT-MG
- Comissão Pastoral da Terra - (CPT)
- Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais
(CONSEA-MG)
- CRBio-04 - Conselho Regional de Biologia da 4ª Região.
- Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais
(EMATER)
- Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)
- Federação Dos Trabalhadores Na Agricultura Do Estado De Minas Gerais (FETAEMG)
- Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança do Trabalhador (FPSST)
- Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho -
FUNDACENTRO
- Grupo de Estudos de Saúde e Trabalho Rural-Universidade Federal de Minas Gerais
(GESTRU-UFMG)
- Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA)
- Ministério Público do Trabalho - MPT 3 ª Região
- Ministério Público Estadual de Minas Gerais
- Ministério Público Federal
- OBSERVATÓRIO Lei.A
- SEAPA MG
- Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SESMG)
- Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais
SEAPA-MG
- Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário - Conselho Estadual de
Desenvolvimento Rural
Sustentável –(SEDA-CEDRAF-MG)
Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional - SUSAN/SMASAC/PBH

Para maiores esclarecimentos e informações, deixamos o endereço e os contatos do


FMCA:

Rua Guajajaras, 40 - 13º e 14º andar- Centro - CEP: 30180-100


Belo Horizonte - MG
Fone: 55 (31) 3273-3766
Email: forum.mg.de.combate.aos.agrotoxicos@gmail.com
Site: http://www.fundacentro.gov.br/observatorio-do-uso-de-agrotoxicos-em-
mi/pagina-inicial

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