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MANIFESTAÇÕES CULTURAIS: MODOS DE VIDA E MEMÓRIA

Maria Aparecida Silva1

Resumo: Este trabalho traz uma reflexão da pesquisa intitulada Memórias das
manifestações culturais no sertão alagoano. Essa investigação tem uma abordagem, a
partir da disciplina Seminário Integrador, na qual analisamos as manifestações culturais:
danças, cordéis, reisado, procissão e pega de boi no mato dos povoados e cidades
situadas no sertão alagoano. O nosso objetivo foi perceber o diálogo envolto entre
tradição e modernidade tendo a memória como demarcador da continuidade das
tradições. Traremos as falas de algumas entrevistas nas quais revelam os motivos de
prepararem as danças, cordéis, reisado, procissão e pega de boi no mato e como se dá a
preservação de tais tradições. Utilizaremos da história oral como procedimento
metodológico para apropriarmos das narrativas de cada manifestação de forma a
traçarmos a trajetória de surgimento, modificação e permanência de tais manifestações
culturais. Realizo esta pesquisa por dois motivos: primeiramente por acreditar que a
construção do modo de vida aqui pensado como uma construção coletiva que perpassa o
reconhecimento das formas de existir das pessoas, em especial aquelas que têm como
meta sustentar a união do grupo que vai além das questões individuais e em segundo
lugar visibilizar essas manifestações culturais e relevantes, pois, as mesmas, permitem
outro olhar sobre a região nordeste, e em especial, o sertão alagoano.

Palavras chave: Manifestação cultural, Modos de vida , Memória

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Profª Drª Maria Aparecida Silva da Universidade Federal de Alagoas- Campus do Sertão
Introdução

Este trabalho é resultado do tema norteador Memória das manifestações culturais do


sertão alagoano proposto por mim professora da disciplina Seminário Integrador na
Universidade Federal de Alagoas- Campus do Sertão. O nosso objetivo foi perceber o
diálogo envolto entre tradição e modernidade tendo a memória como demarcador da
continuidade das tradições, uma forma de reafirmar os valores culturais nas localidades
pesquisadas e a contribuição desta memória na construção de histórias individuais e
coletivas. A pesquisa utilizou da metodologia da história oral com abordagem
qualitativa. Para a realização da pesquisa os alunos foram organizados em grupos e cada
grupo a partir do tema norteador ficou responsável de investigar em sua cidade uma
manifestação cultural. As cidades de origem das manifestações culturais investigadas
foram as seguintes: Delmiro Gouveia ( Cordel: o repente está na alma, Quadrilha Junina
em Delmiro Gouveia), Água Branca (Dança de São Gonçalo -Serra Ouricuri, Dança do
Coco- Povoado de Tabuleiro, Os Guerreiros-Distrito do Cal e Lagoa das Pedras e
Procissão de velas de Santa Ana- Sítio Estreito), São José da Tapera( Reisado) e Mata
Grande (Pega de boi no mato- Povoado de Faveira).

O nosso despertar para este estudo é a memória das manifestações culturais na


observação da relação tradição e modernidade.

Pensar sobre memoria é compreender a importância da mesma no processo de


socialização, sociabilidade, lugares e pessoas sujeitos históricos, que traçam um modo
de vida na perspectivada de manter vivo uma tradição. É assim que visualizamos as
manifestações culturais aqui apresentadas. Enquanto convidada tive a oportunidade de
participar de algumas destas manifestações culturais e perceber o esforço de seus
membros ao se debruçarem para organizar da melhor forma possível para fazer jus a
tradição, já que de certa maneira sentem ameaçados por uma cultura universalizante
que questiona a tradição em detrimento de uma modernidade.

Mas é bem verdade que as culturas apresentam suas singularidades que serão tecidas
muitas vezes através da oralidade para a constituição de uma memória e por isso, o
empenho em resistência diante desta universalização cultural proposta pela
globalização que traz mudanças no entendimento de pertencimento identitários e
cultural.

Nosso entendimento para compreensão destas manifestações culturais enquanto tradição


é a história oral, com o suporte da memória das/dos informantes, foi o recurso
escolhido para mostrar esse objeto de pesquisa, pois dá voz à subjetividade (Queiroz,
1988), contida nas narrativas por expressa num modo de vida próprio, específico e
singular . Assim, falo de narrativas contidas num ambiente de familiaridade,
sociabilidade integrada com formas de expressões de cultura. Trata-se de uma vivência.
E utilizar a história oral privilegiada pela entrevista foi oportuno para compreender suas
experiências no contexto das manifestações culturais. Conforme Queiroz (1988) as
experiências podem ser individuais ou de diversos indivíduos de uma mesma
coletividade.

Para Delgado (2006), a importância da história oral está no fato desta ser um
procedimento integrado a uma metodologia que privilegia a realização de entrevistas e
depoimentos com pessoas que participaram de processos históricos ou testemunharam
acontecimentos no âmbito da vida privada e coletiva. Dessa forma, inscreve-se entre os
diferentes procedimentos do método qualitativo.

Ao discutir sobre história oral, Alberti (2004) afirma que se trata de um estudo de
acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias profissionais,
movimentos, conjunturas entre outros, à luz de depoimentos de pessoas que deles
participaram ou os testemunharam.

E vale ressaltar o trabalho de Bosi (1994) que entende a memória como o refazer,
reconstruir as experiências do passado. Para Bosi (1994, p. 55):

Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer,


reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do
passado. A memória não é sonho, é trabalho. Se assim é, deve-se
duvidar da sobrevivência do passado, “tal como foi”, e que se daria no
inconsciente de cada sujeito. A lembrança é uma imagem construída
pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de
representações que povoam nossa consciência atual. (BOSI,1994)

De acordo com Pollak (1989), a história oral ressalta a importância de memórias


subterrâneas. Do ponto de vista deste autor, percebemos que a memória é concebida em
oposição, memória oficial versus memória subterrânea; por isso que ao visibilizar as
histórias de vários sujeitos presentes nestas manifestações culturais trazemos a tona
outras releituras do experimentado e vivido que permanece guardado pelos indivíduos e
ou familiares. A memória da possibilidade da narrativa de acontecimentos vivenciados
pessoalmente ou da possibilidade da pessoa fazer parte das lembranças pela vivencia
com os verdadeiros participantes ou outros narradores.

Em outra direção, Halbwachs (2006) discute memória enquanto sendo individual e


coletiva. Acrescento a concepção de memória deste autor, entendida como a memória
coletiva, uma junção de elementos considerados como uma memória emprestada, ou
seja, lembranças não limitadas à nossa vivência, que viriam de outros tempos, dos
livros, das histórias ouvidas dos avós. À medida que trazem as lembranças dos
acontecimentos vividos, os participantes das manifestações culturais abrem um leque de
situações, lugares e pessoas que são referência em sua trajetória.
A técnica de pesquisa utilizada para obter os depoimentos foi através das entrevistas
gravadas com o auxílio do gravador (Queiroz, 1998), para não se perder nenhum
vestígio do ato de lembrar:

Ao colher um depoimento, o colóquio é dirigido diretamente pelo


pesquisador; pode fazê-lo com maior ou menor sutileza, mas na
verdade tem nas mãos o fio da meada e conduz a entrevista. Da “vida”
de seu informante só lhe interessam os acontecimentos que venham se
inserir diretamente no trabalho, e a escolha é unicamente efetuada
com este critério. Se o narrador se afasta em digressões, o pesquisador
corta-as para trazê-lo de novo ao assunto. (QUEIROZ, 1988, p. 21).

Quando nos apropriamos da história oral temos a oportunidade de perceber o quanto


acontecimentos, lugares, pessoas ou ações apresentam significados e símbolos
construídos de representação na trajetória de tempo vivido de sujeitos históricos.

Ao apresentarmos as manifestações culturais estaremos mostrando as mais variadas


formas que as pessoas envolvidas encontraram para constituir-se no seu lugar de
moradia criando condições para um espaço de sociabilidade como interpreta Maria
Ângela D'Incao (1999), de diferentes grupos sociais, com diferentes modos de viver e
de se relacionar.
Um olhar sobre as narrativas das manifestações culturais.

Delmiro Gouveia- Alagoas

Quadrilha junina em Delmiro Gouveia

A quadrilha é originária das áreas rurais da Francesa e Inglesa. E introduzida no Brasil


na cidade do Rio de Janeiro no período imperial como quadrilha caipira. É uma dança
que ocorre nos festejos juninos principalmente na região nordeste, seguido de música
própria, coreografia e movimentação tradicional ao dançar. Ao retratar a quadrilha
junina em Delmiro Gouveia vamos saber que a primeira quadrilha no município se
chamava Unidos da Pedra Velha, idealizada por Nenê Brasileiro e Zé mulher. Com o
passar do tempo outras surgiram como: Quadrilha Luar do Sertão no ano de 1996, na
atualidade conhecida como Raiz do Sertão, considerada patrimônio Delmirense,
participavam cerca de quarenta dançarinos e um marcador, em doze anos conseguiram
três vitórias. Em Maceió, 2002, 2003 em Caruaru e última vitória no ano de 2009, na
cidade de Paulo Afonso/ BA; Nascente da Pedra e Chica Rosa.

No início, a manifestação cultural quadrilha na cidade de Delmiro Gouveia/AL contava


com a disposição dos seus moradores em organizar a mesma para os festejos de São
João. Hoje contam com quadrilhas escolares e as chamadas quadrilhas estilizadas,
moderna, formada por um grupo de dança que constroem uma coreografia para dançar
uma música escolhida, é uma releitura da quadrilha tradicional, isso significa que esta
manifestação cultural também esta acompanhada de saberes, representações e valores
agregados ao novo contexto social político vigente.

É interessante observar que com modernidade a tradição da quadrilha caipira é


reinventada e reformulada e permanece na cultura local nordestina.

Cordel: o repente está na alma- Povoado Salgado

O Cordel são poemas em forma de rima e ilustrado que traduz a vida cotidiana,
divulgando o modo de viver, a arte e a tradição cultual de uma localidade, afirma a
identidade e o pertencimento local. O Cordel é parte da vida do sertanejo presente nas
diferentes classes sociais e hoje é visto em outras regiões do Brasil. Em Delmiro
Gouveia/AL, localizamos dois cordelistas conhecidos o Senhor José Terto de Araújo e o
Senhor Joel Hipólito de Oliveira da Silva, do Povoado Salgado. Não identificamos
nenhuma mulher cordelista.

Segundo o Senhor Joel Hipólito, os homens mais velos viajavam muito e traziam o
cordel, porque gostavam de suas rimas, não havia tema específico, que gostassem:

“Tinha um senhor lá chamado de seu Mário, ele comprava os livros de


cordel e levava pra ler assim na praça para todo mundo. Reunia o
pessoal, muitas mulheres as vezes vinha assistir também, mais o mais
era homem. Aí a gente sentava na calçada assim e ficava e ele
começava a le e também ele gostava de tomar uma pinguinha e por
conta do cordel que ele lia e a pinga nós pagava para ele” (Joel
Hipólito).

Hoje em Delmiro Gouveia/AL, a comercialização do cordel é na Casa da Arte


diretamente com o cordelista ou em alguns espaços indicados por ele para
comercializar. Isto é sinal de que não encontramos mais nas feiras, nos bares ou bodega.
Segundo os cordelistas:

“a desvalorização do conhecimento e desinteresse por histórias


cotidianas que vem desaparecendo ao longo do tempo, essa cultura
popular esta dispersa, deixando os protagonistas dessa cultura
adquirirem outra identidade se esquecimento de suas origens”.

Podemos analisar que mudanças vem acorrendo com esta tradição e que precisa ser
resgatada e preservada para continuar sendo referencia do lugar e reconhecimento de
seus criadores.

Água Branca- Alagoas

Dança de São Gonçalo- Serra Ouricuri

A Dança de São Gonçalo, tal como a tradição é seguida pelo povo da Serra do Oricuri,
zona rural do município de Água Branca/AL. Trata-se de uma manifestação religiosa
que durante algumas décadas vem sendo realizada por trabalhadores rurais e conta com
presença de várias pessoas que gostam e ou tem fé. A dança foi introduzida por
portugueses no Brasil, período colonial. A dança ocorria na igreja, esta associada as
moças que desejavam casar e utilizada por São Gonçalo para resgatar as moças da
prostituição.

Para a dança são formados os pares, instrumentos são tocados por mestres, as músicas
remetem a história de São Gonçalo e a vestimenta é simples com o emblema D.S.G-
Dança de São Gonçalo, que no passado era um requisito mas, hoje não mais, segundo
os participantes está perdendo o significado. Assim as únicas exigências é que os
homens devem trajar calça e as mulheres saia longos. Os organizadores da Dança de
São Gonçalo sentem a falta de incentivo da comunidade local e do órgão responsável
pela cultura na cidade, já que poderiam resgatar a cultura local e a tradição do povo da
Serra do Ouricuri. Aos olhos dos organizadores os Mestres Zé Filho e Rico comentam:

“ A tradição de executar a Dança de São Gonçalo tem aos poucos


caminhado em um processo de esquecimento, pois não existem
membros de novas gerações com interesse em aprender a dança e
desenvolve-la cada vez mais para prosseguir com a tradição”

É nítido perceber a presença de um sentimento de ressentimento, de perda e de ajuda.

A Dança do Coco como identidade local- Comunidade Tabuleiro

A Dança do Coco de influencia indígena e africana possui uma identidade própria


dependendo do lugar de origem. A Dança do Coco, é um manifestação cultural
tradicional passada de geração à geração que era dançada em festa de casamentos e para
aterrar ou apilar o chão das casas quando estavam em construção, uma forma de
fazerem o piso e ao mesmo tempo um divertimento.

No Povoado Tabuleiro, município de Água Branca em entrevista com a líder, ela diz: “a
dança é um meio de reunir jovens para discutirem sobre o papel social, visto que a
cultura da Dança do Coco anda se enfraquecendo na localidade, que advém da falta de
valorização e apoio”. Os líderes enfrentam as dificuldades, mas não desistem por
acreditarem que as crianças e jovens por meio da cultura podem fazer a diferença e
melhorar o lugar em que vivem.

Os Guerreiros- Lagoas das Pedras e Cal

Os Guerreiros é uma manifestação cultural presente no município de Água Branca/AL,


no Distrito Lagoas das Pedras e Cal. Atuando a 15 anos nestas localidades é uma dança
cultural religiosa que homenageiam Santa Joana e São Jorge, trazida por Dona
Brandinha da cidade de Santa Brígida estado da Bahia e que foi acolhida pela população
local que se juntaram e formaram um grupo de mais de 30 participantes. O mesmo é
formado por homens, mulheres e crianças por meio de um trabalho voluntário, sendo
que os homens podem ser solteiros ou casados, enquanto a mulheres tem que ser
solteiras e virgens.

É importante ressaltar que essa manifestação cultural faz parte da identidade da cidade
de Água Branca/AL e memória de duas comunidades e dois estados, mas, tem sofrido
como o desinteresse das pessoas pela mesma.

Procissão de velas de Santa Ana- Povoado Sítio Estreito

Santa Ana, é considerada a protetora das lagoas e padroeira do povoado Sítio Estreito. A
Procissão de velas de Santa Ana é uma manifestação religiosa que ocorre no mês de
outubro no Povoado Sítio Estreito, município de Água Branca. Esta é uma tradição
contada e recriada por seus moradores. Surgiu através dos bisavós de Dona Decília a de
Dona Antonia, primeiros moradores do Povoado Sítio Estreito e hoje são elas as
responsáveis pelo evento. Inicialmente, a festa era realizada no mês de junho, porém,
devido ao clima frio predominante neste período mudou para o mês de outubro. O
novenário começou a existir a partir do momento que a imagem da Santa Ana apareceu
no povoado. A festa acontece durante 9 (nove) noites e cada noite uma família fica
encarregada dos preparativos.

Desde ainda moça Dona Antônia ficou responsável por cada noite e de zelar pelas
“noiteiras” – meninas que realizam o andar das velas- em volta da igreja e do cruzeiro.
São três voltas na igreja e três voltas no cruzeiro. As organizadoras contam com a
presença de crianças como forma de continuidade da tradição e também porque as
moças não querem usar as roupas da festividade. As “noiteiras” vestem roupa branca
estilo vestido de noiva para simbolizar a religião católica, usam coroas e carregam as
velas, acessórios usados para abrilhantar a festa e iluminar a igreja. Atualmente não há
idade para ser uma “noiteiras”, são cerca de 60 (sessenta) crianças e 80 (oitenta )
“noiteiras”. No final de cada noite as “noiteiras” fazem uso de fogos de artifício.

Nesta manifestação cultural não é permitido à participação de homens, pois para esta
comunidade as mulheres são símbolo de pureza e embora de cunho religioso não são os
padres que dão continuidade a procissão e sim as famílias que vem passando de geração
a geração.

São José da Tapera- Alagoas

Reisado de São Vicente

Não se sabe ao certo o inicio do reisado em São Jose da Tapera. Mas o primeiro a trazer
e formar um grupo na cidade foi o Mestre André da Costa, como o nome de Reisado de
São Vicente marcado pela fé.

O Reisado teve inicio na região no sítio Bananeiras, comandado pelo mestre André da
Costa e após a sua morte o seu filho Edson Costa Nunes, mais conhecido como “Edson
som” que assume o grupo e torna-se mestre. Com o passar dos anos o mestre Edson, sai
do sítio Bananeiras e vai morar na cidade, onde cria um grupo e começa fazer
apresentações no bairro dez, localização da igreja de São Vicente.

Após a morte do mestre Edson, um de seus alunos o Oscar José Vieira assume o grupo.
Hoje o senhor Oscar tem um grupo composto por 20(vinte ) pessoas dentre essas 12
(doze) são crianças que representam as figuras, 1(um) mestre, 3(três) tocadores, 1(um)
embaixador, 1(um) rei e 2(dois) mateus. Os instrumentos tocados são: sanfona,
pandeiro e zabumba. Segundo o senhor Oscar, o grupo tem enfrentado dificuldades pela
falta de apoio do município, pois o grupo ainda não tem as roupas apenas os chapéus e
sapatos, comprados como o dinheiro da venda de uma casa dele.

Mata Grande- Alagoas

Pega de boi no mato- Povoado Faveira

O Pega de Boi no Mato, é um manifestação cultural realizada no Povoado Faveira


localizado na zona rural do município de Mata Grande/AL, que vem sofrendo
modificações. Hoje o vaqueiro encontra dificuldade para continuar realizando esta festa,
devido o impedimento das cercas de arame farpado que estão cercando os
terrenos/matas que antes tinha livre acesso além da escassez da vegetação para
alimentar o gado. O Pega de Boi no Mato, é preservado por pessoas simples que vivem
no campo e esta prática tem uma representação muito importante no seu modo de existir
e viver. .
É muito importante perceber que cada uma destas manifestações culturais se
entrelaçam num maranhado de significados e símbolos ligados a identidade, cultura,
tradição religiosidade, sentidos e sentimentos que desenha modos de vida, aqui
entendido como estratégias elaboradas como jeito próprio e singular de conduzir a vida
para o bem estar em sociedade. E a presença da memória que nos permitiu
compreender o fortalecimento de laços de cumplicidade, solidariedade, resistência,
visibilidade, marcando lugares, pessoas e momentos contidos no tempo e espaço de
vivencias e experiências. As manifestações culturais apresentada aqui são festas e como
tal “uma tradição na medida em que o passado estrutura o presente através de crenças e
sentimentos coletivos e compartilhados” Giddens (2000)

Considerações finais

As manifestações culturais exibida das várias localizações do sertão alagoano


confirmam que a tradição presente nas comunidades é uma manutenção de uma
identidade cultural e de resistência no sentido de manter as raízes culturais mesmo com
as dificuldades apresentadas. A dimensão simbólica presente confirma o sentido de ser,
permeado pelas histórias de vidas das pessoas que organizam ou participam destas
manifestações culturais.

Estas manifestações culturais em sua maioria acorrem nas comunidades de zona rural
mais que estabelecem uma relação também com a zona urbana, possibilitando assim
uma relação de vizinhança entre pessoas e lugares elemento relevante para o mundo
rural.

Nesse sentido, cria-se nessas localidades um espaço de sociabilidade permeado pelo


sentimento de pertencimento territorial demarcador de modos de vida particulares e
coletivos. É importante e significativo ressaltar que esta investigação oportunizou aos
discentes o contato mais de perto com sua cultura local.
Referencias:

ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2004.

BOSI, Ecléia. Memória e sociedade: lembranças de velhos, 3. Ed. São Paulo:


Companhia da Letras, 1994-

DELGADO, Lucilia de A. N. História oral: memória, tempo, identidade. Belo


Horizonte: Autêntica, 2006.

D'INCAO, Maria Angela. Sociabilidade: espaço e sociedade. São Paulo: Grupo


Editores, 1999.

GIDEDNS, A. Mundo em descontrole o que a globalização está fazendo de nós. Rio


de Janeiro: Record, 2000.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

POLLAK, Michel. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de


Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.

QUEIROZ, Maria Isaura. Relatos orais: do “indizível” ao “dizível” In: SIMSON, Olga
de Morais von (Org.). Experimentos com histórias de vida: Itália-Brasil. São Paulo:
Vérice, Editora Revista dos Tribunais, 1988.

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