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USO DE REDES DE PRECEDÊNCIA PARA PLANEJAMENTO DA

PRODUÇÃO DE EDIFÍCIOS

ASSUMPÇÃO, José Francisco P. (1); FUGAZZA, Antônio Emílio C. (2)


(1) Eng. Civil, Doutor em Engenharia, professor da UFSCar
Rod. Washington Luís, Km 230 - São Carlos - SP. E-mail assumpção@analisys.eng.br
(2) Eng. Civil, mestrando do PCC-GER / EPUSP, E-mail emilio@analisys.eng.br.

RESUMO

Este trabalho apresenta um sistema para programação de obras de edifícios de múltiplos


pavimentos, estruturado através de modelo que utiliza a técnica de redes de precedência
para representar a lógica da produção. O sistema é operado através de aplicativos
bastante conhecidos do meio técnico, mais especificamente, a planilha eletrônica
Microsoft Excel e o Gerenciador de Projetos Microsoft Project , integrados através da
linguagem de programação Visual Basic.

1. INTRODUÇÃO

O trabalho apresenta-se como um desdobramento da pesquisa apresentada por


Assumpção (1996), que desenvolveu sistema para planejamento estratégico da
produção de edifícios, capaz de operar com cenário de poucas variáveis, aproveitando-
se, para tanto, das características particulares da obra do edifício e de seu sistema de
produção (mesmas seqüências de serviços e repetitividade de atividades nos vários
pavimentos e trechos da edificação).
Neste trabalho, o modelo utilizado abre a informação, gerando redes de precedência
detalhadas, considerando como atividade básica da rede, o serviço desenvolvido em
cada pavimento da edificação ou trecho de sua periferia (Região de obra fora da
projeção da torre do edifício).
Como conseqüência, os relatórios gerados pelo sistema são voltados para as
necessidades do dia-a-dia da produção, onde as informações de planejamento são
manipuladas e emitidas no nível de detalhe compatível com as decisões tomadas nesta
hierarquia da produção.
Consegue-se através do sistema gerar informações sobre custos, prazos e recursos
utilizados na obra, para os diferentes serviços executados em cada pavimento da
edificação ou trecho na sua região de periferia.
Uso de redes de precedência para planejamento da produção de edifícios

Embora o modelo em rede que possibilita esta situação seja bastante detalhado, com um
grande número de atividades interrelacionadas1, a utilização integrada de dois
aplicativos para operar o sistema, proporciona grandes facilidades na manipulação das
informações, tanto na entrada de dados para a geração da rede para a obra, quanto na
emissão de relatórios.
Além disso, o fato destes aplicativos serem abertos e conhecidos no meio técnico (pelos
profissionais que operam sistemas de planejamento e mesmo aos responsáveis por
administrar as obras), o sistema apresenta a possibilidade de responder diretamente ao
usuário, o qual pode ajustar a rede gerada pelo sistema às suas necessidades.

2. PROGRAMAÇÃO DA OBRA DE EDIFICAÇÕES

São inúmeros os estudos desenvolvidos sobre programação de obras de edificações,


destacando-se os que propõem modelos desenvolvidos através da técnica de Linha de
Balanço, aproveitando-se das características de repetitividade das atividades deste tipo
de obra. (O’Brien, 1984; Thabet e Beliveau, 1993; Heineck, 1996).
As Linhas de Balanceamento ou Diagramas Tempo-Espaço, são próprias para a
modelagem das obras com atividades repetitivas - como é o caso do edifício vertical,
tendo como vantagem o fato de induzir situações de nivelamento de recursos, utilizando
modelos relativamente simples em relação aos que utilizam as técnicas de rede.
Por outro lado, as simulações são feitas em ambientes gráficos, apresentando maiores
dificuldades quando se tem necessidade de gerar informações mais detalhadas para os
níveis de produção, levando a que se utilize a técnica com maior freqüência para o
planejamento estratégico, e não para se gerar informações nos níveis operacionais.
Outros modelos, baseados no uso de redes de precedência - mais especificamente o
CPM - combinadas ou não com as Linhas de Balanceamento têm sido propostos (Russel
e Wang, 1993; Suhail,1994); porém, estes modelos, embora conhecidos e estudados por
pesquisadores nacionais não conseguiram chegar às empresas construtoras de forma a
serem utilizados como uma ferramenta efetiva de planejamento na produção.
Inúmera são as razões para este fato, podendo-se destacar a falta de cultura do setor, o
desconhecimento e até mesmo o despreparo do meio empresarial, a pouca
disponibilidade de aplicativos em português que operam com redes de precedência e que
são dirigidos para esta área, e as dificuldades em se construir e atualizar redes com
grande número de atividades, como resultam as obras de edifícios quando se necessita
gerar informações para a programação de sua produção.
Dentro deste quadro, este trabalho apresenta uma alternativa que procura viabilizar o
uso da técnica de redes de precedência para a programação de obras de edifícios de
múltiplos pavimentos, através de sistema estruturado para este tipo de obra, que opera
por meio de aplicativos abertos facilitando a sua implantação e adaptação à realidade e
cultura das empresas do setor.

1
Para um edifício com 15 pavimentos, caso se relacione os 18 principais serviços executados no
pavimento, teríamos uma rede com 15 x 18 = 270 atividades, sem contar as atividades executadas na
periferia da obra e aquelas não repetitivas tais como terraplanagem, fundações, instalações do canteiro,
locação de obras, e outras.
Uso de redes de precedência para planejamento da produção de edifícios

3. CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SISTEMA

O sistema está estruturado para gerar informações no âmbito do planejamento


operacional, mais especificamente para o ambiente da produção, de forma a poder
auxiliar na administração do dia-a-dia da obra.
Pelas características do sistema estas informações podem ser consolidadas para os níveis
de decisão tático e estratégico, embora este não seja o objetivo principal do sistema, o
que significa que as informações podem ser geradas com densidades diferentes, no que
se refere a abrangência, periodicidade e grau de detalhamento.
Para que o modelo opere dentro desta lógica, são considerados os seguintes aspectos:
1. O planejamento é gerado a partir de informações básicas que caracterizam
fisicamente o empreendimento (número de pavimentos de subsolo, tipo, mezzaninos,
garagens elevadas, cobertura, trechos de periferia e áreas de construção) e de
características de sua produção (ritmo ou velocidade dos serviços, caracterizando
ciclos de produção - número de lajes ou pavimentos executados por unidade tempo)
2. Estas informações são introduzidas na Planilha Excel, através de quadros de diálogos
orientados para facilitar a interação com o usuário. As informações são processadas,
gerando a relação das atividades da obra, suas durações, custos e recursos associados,
e as vinculações lógicas entre as atividades (tipos de ligações entre atividades e
defasagens entre as ligações)
3. Através de rotina automatizada, a planilha exporta os dados para o aplicativo MS
Project, onde a rede é consolidada e processada, abrindo-se possibilidades de geração
de informações que caracterizam a programação da obra; estas informações mostram
a seqüência de execução das atividades, e também os recursos envolvidos na
produção, ou seja:
• O cronograma de execução dos principais serviços (Figura 01), caracterizando a
estratégia de produção, e a programação das atividades no seu nível operacional;

Figura 01 - Cronograma de execução dos serviços


Uso de redes de precedência para planejamento da produção de edifícios

• O calendário de atividades diárias na obra (Figura 02), em nível de detalhe que


permite organizar as equipes de produção e programar as ordens de serviços;

Figura 02 - Calendário de atividades da obra

• O programa de desembolso para custeio da produção (Figura 03), possibilitando


análises para ajustes no fluxo de caixa da obra;

Figura 03 - Cronograma de desembolso mensal

• O histograma de utilização da mão de obra (Figura 04), que resulta do programa


de execução proposto e permite análises para nivelamento de recursos objetivando
adequar o volume de produção requerido à disponibilidade de recursos para sua
execução.
Uso de redes de precedência para planejamento da produção de edifícios

Figura 04 - Histograma de utilização de mão de obra

• Indicadores de controle do andamento físico da obra, expresso em percentuais


executados por período de programação, gerados a partir de parâmetros de custo e
homens-hora utilizados.
O sistema caracteriza-se como modelo para simulação. Para tanto, o ambiente
computacional é fundamental no sentido de gerar um grande número de informações,
em um curto espaço de tempo, permitindo ajustar a programação da obra aos objetivos
do empreendimento.
A estrutura do sistema no que se refere à relação dos serviços cadastrados, dados
inferidos e lógica da rede são baseados na observação e acumulação de experiências
com obras de edificações e na repetitividade de suas operações - que é característica
para este tipo de obra. Pelo fato de se operar com sistemas abertos estes dados podem
ser ajustados conforme seja a tecnologia utilizada pela empresa usuária do sistema.

4. DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA DO SISTEMA

Conforme já descrito o sistema está estruturado para trabalhar compatibilizando 2


aplicativos abertos, disponíveis para compra em mercado aberto. Estes aplicativos são
responsáveis por operar os dois módulos em que o sistema é estruturado:
a) Módulo de entrada de dados e geração das informações para a rede da obra:
Desenvolvido através do MS Excel com utilização da linguagem Visual Basic e
aproveitando as rotinas e funções disponíveis na planilha eletrônica.
b) Módulo de processamento da rede e geração das informações: Desenvolvido através
do MS Project.
Estes módulos são integrados através da linguagem de programação Visual Basic
contida nestes aplicativos. Através desta linguagem, foi possível criar uma interface
para entrada de dados, caracterizada por quadros de diálogos de fácil compreensão para
o usuário.
Algumas premissas importantes foram adotadas quando da concepção do sistema:
[i] facilidade operacional caracterizada por uma pequena quantidade de dados de
entrada;
Uso de redes de precedência para planejamento da produção de edifícios

[ii] uma relação amigável com o operador, no sentido de direcionar os passos, fornecer
valores aproximados como parâmetros para serem analisados, refletindo-se em
linguagem próxima ao dia-a-dia do operador e;
[iii] agilidade no processamento das informações;
[iv] possibilidade de ajustar o sistema às necessidades de cultura do usuário.
Para operar com o sistema, o planejador percorre 5 etapas principais:
1. Caracterizar fisicamente o empreendimento (Figura 05) e sua estratégia de
produção (Figura 06): o operador percorre quadros de diálogo disponíveis na planilha
Excel, informando as características físicas do empreendimento e particularidades de
seus projetos e de sua produção.

Figura 05 - Quadro para caracterização geral do empreendimento

Na figura 06, observa-se o quadro para entrada das informações a respeito da estratégia
de produção que será utilizada na obra. Duas estratégias básicas estão cadastradas:
[1] alternativa que propõe a execução da obra em maior prazo, portanto com um
fluxo de desembolso moderado; [2] alternativa que prioriza o prazo de execução,
buscando agilidade operacional, no limite das restrições tecnológicas.
Como dado fundamental, deve ser informado a duração dos ciclos dos serviços de
estrutura, obra bruta e obra fina, caracterizando o ritmo com que estes serviços serão
executados. Estes ciclos serão utilizados para o cálculo das durações das atividades
da rede.

Figura 06 - Quadro de características específicas e estratégias de produção


Uso de redes de precedência para planejamento da produção de edifícios

O sistema infere durações para algumas atividades da obra bastando caracterizar, no


quadro de diálogo, a complexidade ou não destes serviços, como por exemplo a
complexidade das fundações, a forma de execução da fachada, ou o momento da
realização de contenções nas escavações.

2. Caracterizar as atividades da obra: o operador verifica e altera os parâmetros para


os serviços que irão constar da programação da obra, tais como a descrição do
serviço, as durações e espera entre atividades.
Esta etapa relaciona 40 serviços, com suas durações e defasagens em relação à sua
antecessora natural. Desta forma, é possível escolher o momento de início da
atividade, através da indicação das frentes entre serviços, caracterizada pelo número
de pavimentos que deve ser feito de um serviço para que possa ser iniciado seu
sucessor, como pode ser observado na figura 07.

Figura 07 - Entrada de Dados para Serviços de Obra Bruta

3. Caracterização de custos para os serviços: etapa em que o operador analisa e


compatibiliza os valores de orçamento para a obra, vinculando-o a percentuais, que
serão utilizados para a agregar custos aos serviços.

4. Caracterização de Homens-hora por serviços: onde o operador indica os


percentuais de homens-hora por serviço, que serão utilizados para gerar a distribuição
de homens-hora no tempo.

5. Simulação e análise de resultados: O sistema gera a programação da obra, dando


condições para que o planejador analise a consistência dos dados e compatibilize as
metas de prazo, desembolso e necessidade de mão de obra. Para tanto são
disponibilizados inúmeros relatórios gerados através do MS Project, conforme
exemplos mostrados nas figuras 01, 02, 03 e 04.

5. EVOLUÇÕES ESPERADAS

O sistema encontra-se desenvolvido e em fase de operação, entretanto para que o


mesmo possa acompanhar o desenvolvimento do setor da construção civil e o avanço da
micro-informática, é necessário uma evolução constante na sua estrutura e concepção.
Neste sentido acredita-se que evoluções irão ocorrer pelo menos nas seguintes direções:
Uso de redes de precedência para planejamento da produção de edifícios

1. Flexibilização das rotinas de formação da seqüência lógica da rede, possibilitando


maior interação do usuário durante o fornecimento de dados, para que ele possa
adequar o sistema aos processos construtivos e estágio tecnológico da empresa.
Desta forma será possível ajustar o sistema para uso em outros tipos de obra, não
somente as de construção de edifícios, mas também as de construção de estradas,
adutoras, túneis, conjuntos habitacionais, e outras, caracterizadas por atividades
cíclicas e repetitivas.
2. Manipulação de dados com integração dinâmica entre os aplicativos (DDE -
Dynamic Data Exchange), possibilitando obter os resultados das simulações de forma
instantânea.

6. CONCLUSÕES

A programação de obras através de modelos mais sofisticados e eficientes, vem


deixando de ser uma proposta acadêmica, para transformar-se em necessidade para as
empresa, como forma de contribuir para melhorar a qualidade de seus produtos, e a sua
competitividade frente ao mercado onde atua.
O sistema apresentado, caracteriza-se como uma ferramenta de trabalho que dispõe de
recursos para auxiliar no processo de planejamento da produção de edifícios de
múltiplos pavimentos, apresentado-se como alternativa para os processos atuais não
informatizados, ou aqueles que, embora informatizados, não utilizam modelos
adequados de planejamento.
Desta maneira, o objetivo deste texto foi o de discorrer sobre um sistema de
planejamento voltado para a produção de edifícios, que possa contribuir para a melhoria
do quadro atual das empresas do setor, ao se apresentar como um sistema de concepção
fundamentada em redes de precedência, porém de fácil implantação e operação.

7. BIBLIOGRAFIA

ASSUMPÇÃO, José Francisco P. Gerenciamento de empreendimentos na


construção civil: Modelo para planejamento estratégico da produção de
edifícios. São Paulo, 1.996. 207p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo.
HEINECK, Luiz Fernando Malhmann. Dados básicos para programação de edifícios
altos por linha de balanço. Congresso Técnico Científico de Engenharia Civil.
Florianópolis, UFSC, 1.996, Vol.2 p. 167-173.
RUSSEL, Alan D.; WONG, Willian C.M. New generation of Planning Structures.
Journal of Construction Engineering and Management ASCE, vol. 19, n° 2,
p. 196 - 214, June 1.993.
O’BRIEN, J.J. (1.984), VPM scheduling for high-rise buildings. Journal of
Construction Division, ASCE, Vol. 101(4), 895-905
THABET, Walid Y.; BELIVEAU, Yvan J. HVLS: Horizontal and Vertical Logic:
Scheduling for Multistory Projects. Journal of Construction Engineering and
Management ASCE, vol. 19, n° 2, p. 875 - 892, June 1.993.

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